Jornal nic reporter 03

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JORNAL DO NÚCLEO INTEGRADO DE COMUNICAÇÃO / EDIÇÃO 3 / novEMBRO DE 2016 Foto: Thais Mesquita

Batista de Lima, o poeta de Lavras O professor conta histórias da infância e da trajetória na literatura. Páginas 12 e 13

Pau de Arara no Cariri O perigo da rende encontro com tradição automedicação Saúde

Teatro

TJA completa 290 anos Página 18

Tomar remédios sem prescrição médica está cada vez mais comum. É importante alertar que até mesmo os medicamentos mais comuns podem prejudicar a saúde. Página 5

Ensaio

Cidade

Caminhada pela história O projeto visa a proporcionar aos estudantes de comunicação uma visão peculiar da cultura e da rotina no interior do Ceará. Páginas 10 e 11

Foto: Gisele Nuaz

O projeto de fotografia realizado pelos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza promoveu uma excursão ao Cariri. Os alunos puderam, por meio de suas lentes fotográficas, documentar um pouco da tradição, rotina e vida da população da região de Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha). Os festejos do Pau da Bandeira, o Marco Zero de Juazeiro e a estátua do Padre Cícero foram alguns dos lugares visitados pelos estudantes. O Projeto Pau de Arara leva alunos e professores para diversos locais do interior do Ceará, a fim de revelar a cultura e costumes do povo de cada cidade. Páginas 8 a 9

O Projeto Fortaleza a Pé existe desde 1995 e oferece uma visão rica em detalhes do patrimônio histórico da Capital. Página 14

Ventos fortes do Ceará radicalizam a prática do Kitesurf Página 17

Cultura

Leitura para viver melhor É importante incentivar o público infantil à prática da leitura com vista a um saudável desenvolvimento cognitivo das crianças. Página 19


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Opinião Editorial

Impresso sim, porque sim!

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lguns já ousaram decretar a data de “morte” do jornal impresso. Para eles, seria um movimento natural do papel ser “engolido” pelo avanço acelerado das tecnologias. A maioria das pessoas “não tem tempo” para realizar o delicioso ritual que o impresso pede. E as novas gerações 1990/2000, então, mal conhecem a experiência de receber as notícias todos os dias na porta, de visitar uma banca de jornal no seu bairro em busca de informação e, quem sabe, receber junto a isso o sorriso dessas pessoas que entregam a notícia. O mais “eficiente” parece ser, agora, não perder tempo tomando um café enquanto suja as mãos, folheando o jornal. Não parece prático ter que utilizar mais que um dedo para encontrar “tudo” o de que precisa, ou acha que precisa, para estar bem informado. O hábito matinal da informação, a experiência sensorial que a prática da leitura do impresso nos permite ter através do tato, dos encontros com quem vemos pelo caminho, da busca, do cheiro e, muitas vezes, da partilha que o jornal causa entre os seus portadores — eis uma das mais deliciosas experiências. Quem nunca revezou os cadernos de um jornal com alguém não conhece a sensação que é ter com quem debater sobre os assuntos, ali, de corpo presente, sem precisar “gritar” nas redes sociais para ter sua visão percebida por alguém. O jornal impresso aproxima. Traz o leitor para perto de outras pessoas e o avizinha também de sua realidade mais genuína. É, sem dúvida, excelente ter a possibilidade de visitar as notícias de qualquer lugar no mundo com alguns cliques, mas não deveríamos perder de vista o que nos está mais próximo. O Jornalismo NIC procura não deixar perder-se a prática da leitura sensorial. Ele aponta para o futuro, com a convergência de mídias, sem esquecer os bons hábitos do passado. Com nada mais a dizer, lhe desejamos uma ótima experiência.

por Wanessa Lugoe

NIC REPÓRTER – Fundação Edson Queiroz – Universidade de Fortaleza – Centro de Comunicação e Gestão – Diretora do CCG: Candice Nóbrega Graziani Vieira Lima – Coordenador do Curso de Jornalismo: Wagner Borges – Coordenação pedagógica: Adriana Santiago – Equipe Jornalismo NIC: Profs Adriana Santiago, Alejandro Sepúlveda, Eduardo Freire, Janayde Gonçalves – Redatores: Cláudia Riello e Wanessa Lugoe (bolsistas seniors), Alessandra Castro, Carol de Faria, Davi Piancó, Edson Baima, Emanuel de Macêdo, Gustavo Machado, Isabelli Fernandes, Lia Rodrigues, Mirelly Oliveira, Sarah Castro – Projeto gráfico e diagramação: Aldeci Tomaz – Estagiários diagramação: Ravelle Gadelha e Vinicius Rodrigues – Revisão: Antônio Celiomar – Supervisão gráfica: Francisco Roberto – Impressão: Gráfica Unifor – Tiragem: 500 exemplares. Equipe células colaboradoras – Foto NIC: Prof. Jari Vieira – Rádio NIC: Profª Kátia Patrocínio – Webtv NIC: Profª Janayde Gonçalves – Equipe Células Integradas – Assessoria NIC: Wagner Borges – Mídia Interativa NIC: Aderson Sampaio – Agência NIC: Alessandra Bouty e Tarcísio Bezerra – Eventos NIC: Adriane Hortêncio e Adriana Helena Santos.

Av. Washington Soares, 1321, Bairro Edson Queiroz Fortaleza/CE - Cep: 60.811-905, Fortaleza/CE

CLAUDIA RIELLO, estudante de Jornalismo

E a seca só se resolve com milagres? “[...] Hoje longe muitas léguas Numa triste solidão Espero a chuva cair de novo Pra mim voltar pro meu sertão [...]” Quase 70 anos depois da composição “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, o tema ‘seca’ continua a ser muito vivo no dia a dia do nordestino. A canção, clássica, faz farte do imaginário popular sobre as pessoas que vivem em ambiente rural, no Nordeste do Brasil, ainda que já exista tecnologia de sobra para combater seus efeitos e o Brasil seja considerado mundialmente como uma nação em desenvolvimento. Estamos há já bastante tempo na mesma situação, e a impressão é de que estamos sempre à espera de alguma outra supercatástrofe acontecer para tomarmos providências. Ou espera-se algum “milagre”? 2016 é o quinto ano consecutivo de seca no Ceará e, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), ficou entre os dez piores índices pluviométricos desde 1951. Mas a seca não é algo novo por estas bandas. O fato é que vivemos em uma região predominantemente de baixa umidade, de clima semi-árido e solo, em grande parte, seco, além de um baixo índice pluviométrico anual — ou seja, pouca chuva mesmo. Isso é o que somos, nossa região é assim! E, sem água, o Ceará sofre com as dificuldades climáticas, mas, principalmente, com a situação social dos seus habitantes.

O transtorno é sazonal e continuamos nos perguntando sobre quais medidas estão sendo tomadas para mudar esse quadro

O transtorno é sazonal e continuamos nos perguntando sobre quais medidas estão sendo tomadas para mudar esse quadro. O Governo Federal está em processo de implantação da transposição do rio São Francisco, que promete trazer (e solucionar o problema da) água para as regiões nordestinas, mas, como quase tudo no Brasil chega atrasado, essa obra não está sendo muito diferente. A conclusão é estimada para 2017, mas já anunciam a possibilidade de mais um atraso. A solução (ou não) para essa situação, poderá vir mais uma vez do céu ou do acaso. O fenômeno La Niña, previsto para acontecer em 2017, mas que já está dando seus primeiros sinais nesse mês, é caracterizado por um resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial, ou seja, é oposto ao El Niño, que aquece essas águas. De acordo com o Climatempo, teremos no Ceará um bom período chuvoso no próximo ano, ainda que eventualmente não tenhamos um bom inverno. Como as soluções definitivas nunca chegam, será necessário esperar o fenômeno La Niña para mais uma vez resolver temporariamente essa questão, que vem de tempos imemoriais. Pelo visto, vamos ter, finalmente, a chuva retornando ao Nordeste após cinco anos consecutivos de seca. E o Governo, quem sabe, retarde ainda mais a conclusão das obras pelas quais tanto esperamos. Infelizmente, teremos que aguardar cenas dos próximos capítulos dessa novela sem fim, cujo personagem principal é a seca.


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Gestos que incluem Alternativa. “A surdez não impede a constituição do aparelho psíquico, mas convoca outros meios para que isso se dê” (Lúcia Maria Nunes). Foto Alessandra Castro

Integração. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem proporcionado inclusão e colaborado para a fluidez na comunicação entre surdos e ouvintes Alessandra Castro Repórter

A

comunicação é algo essencial para a vida em sociedade. Interagir, partilhar informações e disseminar conhecimento é natural ao indivíduo. O idioma é o segmento principal para desenvolver a comunicação. No Brasil, o português. Entretanto, também existe outra língua oficial pouco utilizada, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que possui estrutura gramatical própria e utiliza a linguagem gesto-visual. Aprender Libras faz com que os surdos se reconheçam como cidadãos. Assegurada pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, a Libras deve ser inserida como disciplina obrigatória em todos os cursos de licenciatura e como disciplina optativa nos demais cursos de graduação e na educação profissional, pois é uma forma de inclusão. No Ceará, o Instituto Cearense de Educação de Surdos (Ices) é a escola referência na área, tendo turmas de todas as séries dos ensinos fundamental e médio. Os professores dão aulas em Libras, sendo ela uma disciplina obrigatória, assim como o espanhol, português e inglês. Atualmente, o Ices possui uma média de 270 alunos matriculados. A instituição oferece ainda cursos periódicos aos pais em três turnos: manhã, tarde e noite. A diretora do Instituto, Carla Alves, fala da importância de ter uma escola

especializada para o desenvolvimento do aluno surdo, mas não desconsidera a necessidade do ensino da língua em todas as escolas. “A gente percebe melhor esse desenvolvimento quando o aluno chega mais tardiamente na escola, já vindo de outros colégios de ouvintes. Ele não sabe a Libras e nem sabe o português escrito. É uma melhora a olhos vistos!”, completa. Weverson Martins, aluno do Ices, expressa a inconveniência de ser introduzido na oralidade antes de aprender Libras, o que provocou muitas dificuldades. O estudante usava a leitura labial para compreender as palavras. O diálogo era tão limitado que o impossibilitava até de conversar com sua própria mãe, que, muitas vezes, utilizava mímicas. “A minha família não me ensinava, só meus amigos que me ensinavam um pouco a oralizar. Eu falava tudo errado porque eu não tinha uma comunicação perfeita, fluente”, relata Weverson.

Weverson também ressalta a mudança em sua vida a partir do momento em que passou a aprender Libras. O maior desejo dele agora é que a sociedade veja a língua como outra qualquer e pare de ter “pena” do surdo. “Eu posso dizer hoje que a Libras é a minha primeira língua e a minha segunda é o português. Eu tenho um sonho de que todas as pessoas possam se comunicar em Libras, seja num banco, num hospital, em qualquer lugar”, finaliza o estudante.

“Eu tenho um sonho de que todas as pessoas possam se comunicar em Libras, seja num banco, num hospital, em qualquer lugar” Weverson Martins

Germana Maria Araújo Lima, professora do Ices, que também é surda e estudou no Instituto, ressalta algumas dificuldades encontradas no dia a dia para a realização de tarefas simples, como a falta de conhecimento das pessoas para se comunicar. “Há alguns anos, essas barreiras eram piores, mas, atualmente, há mais pessoas que saibam o básico de Libras. Seria bom que eu pudesse ir a vários lugares e que as pessoas deixassem de ter preconceito com o surdo, mas a sociedade não [nos] conhece. Era bom que eles tivessem curiosidade para aprender mais sobre a gente”, destaca. Conta, quando ainda era aluna, ter se inspirado em um professor da Instituição pela maneira como se comunicava. Por ele, teve motivação para estudar e ser um exemplo para os surdos. “Eu sentia vontade de ser professora. Fiz a faculdade de Letras-Libras e passei no concurso. Eu quero ajudar essas pessoas e ser um modelo para elas”, finaliza. Libras na Unifor

A Universidade de Fortaleza (Unifor) disponibiliza o Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP) para atender aos alunos surdos. Oferta a disciplina de Libras como opcional em todos os cursos e nos de Educação Física e Fonoaudiologia como obrigatória, além de oferecer cursos sequenciais para funcionários e professores. A coordenadora do PAP, Terezinha Joca, comenta que o surdo se sente acolhido e compreendido quando encontra alguém capaz de compreender sua língua, mas ressalta alguns preconceitos a serem desmistificados. “O surdo se percebe a partir de uma diferença linguística, enquanto a comunidade ouvinte o percebe como deficiente. E, com isso, não se acredita no potencial do surdo”, completa.


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Informação. O perigo não está apenas nos remédios, mas também na falta de conhecimento dos usuários. Foto: Khalil Sobreira

Automedicação: um perigo cotidiano que pode afetar todos Riscos. O uso indevido de medicamentos pode causar danos à saúde. Os efeitos podem ser diversos e piorar o quadro do enfermo Edson Baima Repórter

P

or não terem os conhecimentos clínicos necessários para diagnosticar doenças, muitas pessoas confundem os sintomas e erram ao se automedicarem. Querer assumir o papel que é de um profissional de saúde pode gerar consequências sérias para a saúde. Um grande problema que precisa ser esclarecido é que o medicamento é o mesmo para todos, mas os organismos respondem de formas diferentes. Ou seja, remédios ingeridos sem prescrição e indiscriminadamente agem muitas vezes de maneira distinta nas pessoas. Diante dis-

Morte. Segundo a Abifarma, a automedicação mata cerca de 20 mil por ano. Foto: reprodução

so, é fundamental que o enfermo consulte o médico para saber qual medicação tomar, além das dosagens e seus riscos. Resistência e riscos

Se uma pessoa escolher fazer o uso aleatório de uma medicação, no caso de antibióticos, não se sabe se o medicamento

conseguirá atingir o micro-organismo que está causando a doença. Quando o micro-organismo não é atingido corretamente, ele ganha cada vez mais resistência, agravando o estado de saúde do paciente. Segundo Lúcia Santos, enfermeira do Instituto do Câncer do Ceará, “os riscos podem variar entre alergia, urticária, pa-

rada respiratória e até a morte”, por exemplo. Isso acontece devido à resistência do micro-organismo causada pelo uso indevido do medicamento. “Toda medicação, por aparentemente simples que seja, nenhuma é inócua [que não causa efeito colateral] ao organismo” explica a enfermeira sobre a ingestão de remédios comuns no dia a dia das pessoas, como o Paracetamol. Esta é uma medicação que prejudica o fígado — conhecida clinicamente como hepatotóxica. “As pessoas que possuem o fígado danificado, como as que possuem hepatite e cirrose, não podem tomar Paracetamol. Quem toma o medicamento frequentemente expõe o órgão ao risco de reduzir sua função”, completa Lúcia. Orientação ao paciente

O Ministério da Saúde orienta para sempre procurar um médico ao desconfiar de qualquer problema de saúde antes de ingerir qualquer fármaco e não aceitar recomendações de amigos, parentes etc.


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ção genética ou a desenvolvem ao longo de suas vidas por diversos motivos. Um estilo de vida estressante é considerado um dos principais fatores do desenvolvimento de transtornos. No Brasil, foram criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com o objetivo de reduzir a quantidade de instituições como manicômios e hospícios. Esses centros oferecem tratamento com psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, clínicos gerais e terapeutas ocupacionais. Fortaleza possui 14 CAPS. O paciente passa por uma triagem para identificar os focos do seu tratamento. “É um universo muito estranho, mas é uma coisa muito comum e muito presente, a gente apenas desconhece. Poder entrar em contato e ajudar o outro dentro da sua dificuldade para que se possa superar, ter um entendimento em relação a esse adoecimento e procurar saídas juntamente com um apoio e com trabalho quanto a esse transtorno que ele apresenta” — eis o objetivo desses centros, segundo Cláudia Guerra, ex-psicóloga do CAPS. Terapia na Unifor

Mentalmente saudável é o que importa Transtornos. Doenças mentais têm grande impacto na sociedade. É importante conhecer e compreender suas causas.

A Universidade de Fortaleza, em parceria com o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), conta com programas de reabilitação nas áreas de psicologia, fonoaudiologia e fisioterapia. O núcleo atende a comunidade e os alunos da Universidade. O processo é semelhante ao do CAPS. O paciente precisa vir encaminhado por um posto de saúde, de acordo com a área em que necessite de acompanhamento. A coordenadora da Terapia Ocupacional, Leiliane Gomes, destaca que o programa de terapia ocupacional progrediu nos últimos anos. “A gente faz uma avaliação

A sociedade tem o costume de subestimar estas enfermidades

de acordo com o programa terapêutico singular. É um programa do Ministério da Saúde. Assim, nós preparamos um plano de atendimento com objetivos de curto, médio e longo prazo”, explica. “Geralmente, os pacientes que vêm pra cá precisam de uma reabilitação, que é por tempo indeterminado”, comenta Leiliane. Após alguma melhora, o paciente começa a frequentar a terapia em grupo, que ajuda a se desligar aos poucos do projeto, porém, no caso de três faltas consecutivas, o paciente é desligado do programa.

Sinais de transtorno de ansiedade SINTOMAS PSÍQUICOS Preocupação excessiva Problemas de sono

Mirelly Oliveira

Medos irracionais

Repórter

Medo de falar em público

M

ilhares de pessoas sofrem dia após dia com doenças mentais como depressão, transtorno bipolar e de ansiedade. Alimentam a enfermidade em silêncio, às vezes por falta de condições de tratamento ou por vergonha da situação. A sociedade tem o costume de subestimar estas enfermidades, o que faz com que os doentes não recebam o devido tratamento. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) prevê que cerca de 30% dos brasileiros irão desenvolver algum transtorno mental ao longo de sua vida. Uma parte das pessoas já nasceram com esta condi-

Pânico Perfeccionismo Comportamento compulsivo

SINTOMAS FÍSICOS Taquicardia Falta de ar Tremores Dor no peito Tensão muscular Dor de estômago

Terapia. Coordenadora da terapia ocupacional do NAMI, Leiliane Gomes. Fotos: Pedro Vidal


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Manda pra

gente! O Jornalismo NIC é um laboratório de prática jornalística do Núcleo Integrado de Comunicação, ligado ao Curso de Jornalismo. Aqui produzimos um noticiário diário online e publicações impressas. Nossa produção é voltada para o público jovem e a comunidade da Unifor. Se você sabe de algum fato interessante que esteja acontecendo, ou vá acontecer, Manda pra gente! Passamos aí ou te ligamos para conversar melhor e, com isso, fazer o fato virar notícia.

jornalismonic@gmail.com

facebook.com/labjor.unifor

3477.3314


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Amor que supera preconceitos Comportamento. A violência e o preconceito contra pessoas não-heterossexuais é, infelizmente, uma realidade. Alessandra Castro e Lia Rodrigues Repórteres

O

preconceito contra a comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais) é tão expressivo que, de acordo com o Grupo Gay da Bahia, 318 pessoas foram assassinadas no Brasil em 2015, vítimas de crimes com motivações homofóbicas ou transfóbicas. O mesmo relatório estima que apenas 25% dos homicídios contra a classe LGBTI tiveram seus autores identificados, com menos de 10% dos responsáveis punidos. Segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, intitulada “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil. Intolerância e respeito às diferenças sexuais”, divulgada em 2009, 93% dos entrevistados afirmaram que existe preconceito contra travestis, 91% contra transexuais, 92% contra lésbicas e 90% contra bissexuais. Para discutir temas relacionados à comunidade LGBTI, bem como à violência e ao preconceito sofrido por ela, foi instituído, em 1996, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica e Bissexual — 29 de agosto. Independentemente do gênero sexual, é comum termos notícias relacionadas à violência contra pessoas que não são heterossexuais. O Jornalismo NIC entrevistou três mulheres, jovens e universitárias, que afirmam já terem sofrido, em algum momento, preconceito por conta da orientação sexual, dentro ou fora de suas próprias casas. Muitos desses casos derivam de um pensamento arcaico estabelecido dentro da sociedade brasileira: o de que a mulher deve ser submissa ao homem.

Histórias

Marília Brizeno, 20, percebeu, com cerca de onze anos, que olhava para outras meninas de forma diferente. “Eu percebi que eu via as mulheres de uma maneira que minhas amigas não viam. E, para mim, isso era questionável. Eu não achava normal”, conta. Ao se assumir, percebeu, de fato, como é forte o preconceito na sociedade. A universitária chegou a sofrer

Paixão. Maria Júlia (à direita) e sua namorada, Thais. Foto: Débora Tomasi

“ A autoaceitação só é necessária por causa da sociedade, que se pauta num padrão patriarcal e oprime os que não seguem esse padrão. Em meio a esse paradoxo que é fazer parte de um sistema que nos mata simbólica e fisicamente, afirmar-se como não-heterossexual é um ato de resistência...”

“Eu percebi que eu via as mulheres de uma maneira que minhas amigas não viam. E, para mim, isso era questionável. Eu não achava normal. (...) A gente vê mais gays e mais lésbicas hoje, mas isso não faz com que a gente sofra menos preconceito. Existem pessoas contra, que disseminam o ódio.”

“Hoje o conforto que eu tenho, tanto em casa, quanto na casa dela [namorada] e também com outras pessoas da minha família, é sem palavras. (...) Mas na rua, não tem uma vez que a gente saia que a gente não seja observada ou que as pessoas que cruzam com a gente não fiquem encarando...”

Jâmia Figueiredo

Marília Brizeno

Maria Júlia Giffoni

desaprovação por parte de sua família. “A gente vê mais gays e mais lésbicas hoje, mas isso não faz com que a gente sofra menos preconceito. Existem pessoas contra, que disseminam o ódio”, completa. Foi no atual namoro que Maria Júlia Giffoni, 22, teve a certeza de que gostava de mulheres. A aceitação da família foi muito importante. “Hoje o conforto que tenho, tanto em casa quanto na casa dela [namorada] e também com outras pessoas

da minha família, é sem palavras. Eu sei que poucas pessoas têm, então eu digo que somos sortudas”, conta. No entanto, assim como outros homossexuais, Maria Júlia conta que também sofre preconceitos. “... na rua, não tem uma vez que a gente saia que a gente não seja observada ou que as pessoas que cruzam com a gente não fiquem encarando...”. Para Jâmia Figueiredo, 21, “A autoaceitação só é necessária por causa da socie-

dade, que se pauta num padrão patriarcal e oprime os que não seguem esse padrão”. Para ela, afirmar-se não-heterossexual é um ato de resistência, pois “até nos lugares onde eu deveria me sentir à vontade, onde supostamente estão as pessoas ditas desconstruídas, há opressão”. Além do preconceito, Jâmia afirma que, quando está acompanhada de outra mulher, o assédio por parte de homens aumenta, com piadas, comentários e “cantadas” de cunho machista.


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Pau de Arara: Oxente, chegamos ao Cariri Fotografia. Em mais uma edição do projeto fotográfico e documentário Pau de Arara, os alunos visitaram lugares históricos do Cariri, como o Marco Zero, a Associação dos Artesãos e o festejo do Pau da Bandeira.

Claudia Riello e Mirelly Oliveira Repórter

O

s destinos foram Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Mais conhecida como Crajubar, a região foi focada pelos olhares atentos dos alunos e professores que participaram de mais uma edição do Projeto Pau de Arara, de 10 a 13 de junho. A iniciativa é organizada pelos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza (Unifor), e o Jornalismo NIC acompanhou toda a viagem. O roteiro intenso percorreu a famosa Festa do Pau da Bandeira em Barbalha e, claro, subimos o horto para conhecer a estátua do Padre Cícero e o Museu Vivo, além da visita à Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte. Andamos mais um pouquinho e visitamos a comunidade Belmonte (Crato), que organizou uma festa de São João com direito a quadrilha improvisada pelos estudantes. Ao pisar nessas terras, não podíamos perder a oportunidade de respirar o “arzinho” da Chapada do Araripe, onde passeamos na Trilha do Belmonte. Para o professor e idealizador do projeto Pau de Arara, Jari Vieira, a cada edição a percepção dos alunos é modificada e atraída pela cultura e encanto particular do lugar visitado. “A cada nova edição os alunos demonstram emoções e percepções diferentes, se emocionam de formas diferentes. (...) Para mim é

muito gratificante. Meu objetivo é valorizar por meio da fotografia a cultura local, regional. Eu uso a fotografia como meio, instrumento de percepção social.” A primeira parada, no sábado (11), foi no Marco Zero de Juazeiro do Norte, na Praça Almirante. Mais popularmente conhecida como Praça Padre Cícero, a praça de localiza no centro da Cidade e, ao chegar, encontramos algumas pessoas espalhadas pelos bancos, “embaladas” em um boa prosa e um jogo de baralho. Ao centro da praça, a estátua do “Padim”, inaugurada em 1925. Além do monumento, chamam a atenção as numerosas árvores que rodeiam a praça. Mas uma, em especial, guarda um pouco da história do local. O enorme Juazeiro marca o início do desenvolvimento da cidade que começou a ser construída em torno da praça.

União. Equipe Pau de Arara em visita ao Mestre Noza - Associação dos Artesãos de Juazeiro do Nort

Produção. Manuel Costa Filho, “Bigodão”, fornecedor de madeira do Centro. Foto: Cláudia Riello

Mestre Noza recebe Pau de Arara

A visita seguinte foi a um dos pontos culturais mais populares do centro da Cidade: Mestre Noza — Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte. O centro cultural foi fundado em 1983, no Encontro de Produção de Artesanato Popular e Identidade Cultural. Foi uma iniciativa do Instituto Nacional de Folclore (INF), promovida pela Fundação Nacional de Arte (Funarte). “Na época havia centenas de artesãos dispersos. O objetivo era congregar os artesãos em um espaço cultural onde eles pudessem

Artesanato. Uma das figuras do centro, Mestre Noza. Foto: Francisco Daniel


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Relatos de um mercado Edson Baima Repórter

confessa: “Eu gosto muito de dar entrevista, gosto de desdobrar um pouco do que eu era”. Para Amanda Murray, estudante de

Considerado uma espécie de shopping

Publicidade e Propaganda, participan-

na terra do Padre Cícero, o Mercado

do pela primeira vez no Projeto Pau de

Central Governador Adauto Bezerra é

Arara, “foi muito bom conhecer real-

o maior e mais completo do Interior

mente a raiz da cultura do Interior nor-

nordestino, com cerca de 800 boxes

destino. Visitando o Mercado, deu para

em funcionamento. O local tem 5.000

sentir o real espírito do que é ser jua-

m² distribuídos em quatro pavilhões de

zeirense”. E não ficou só no sentimento.

vendas de baixo custo, onde é possível

A universitária comprou uma sandália,

encontrar bordados, bijuterias, artigos

que foi “útil não só durante o projeto,

religiosos, calçados, dentre diversos

mas também fora, pois é uma forma de

outros produtos.

mostrar a cultura e o estilo nordestino

O mercado de Juazeiro do Norte so-

por onde eu for”, completa.

freu em 1974 um incêndio que destruiu todas as lojas, tendo sido reconstruído em 1975. Celso Pereira Rocha é vendedor de ervas do atual mercado e trabalha lá desde a inauguração e conta um pouco da sua vivência no lugar: “O governador daquele tempo, Adauto Bezerra, construiu esse mercado pra gente trabalhar nele, né? Acho que já tá interando uns 40 anos. Desse tempo até

“Eu gosto muito de dar entrevista, gosto de desdobrar um pouco do que eu era” Luís Santana Lima

agora eu tô aqui, trabalhando, e não saí mais não. Tem esse pontinho aqui pra

te. Foto: Luiz Arruda

você trabalhar, pra ganhar a vida e, até hoje, graças a Deus, eu tô por aqui, né? Com 74 anos e na luta, batalhando”. Luís Santana Lima, supervisor de vendas de calçados, é mais um exemplo de vendedor pioneiro do famoso “Mercado Central de Juazeiro”. Sua história com as vendas começa ainda criança: “Com dez, doze anos de idade, (já) pegava o carrêgo e vendia bolo na rua”. Estudou e teve outras profissões, como torneiro mecânico, relojoeiro e bombeiro hidráulico. Hoje não trabalha mais como vendedor. Apenas supervisiona seus funcionários. Falante, Luís

Comércio. Luís em meios aos produtos de sua loja. Foto: Jari Vieira

Tradição. O Pau da Bandeira, em Barbalha. Foto: Jari Vieira

expor as obras e comercializar”, relata Amurabi Batista, 45, filho do professor Abraão Batista, um dos idealizadores do projeto. A Associação é uma organização sem fins lucrativos, e apoia o artesanato e a arte popular como uma fonte de renda para os artistas. O prédio da Associação era, anteriormente, um quartel de polícia e cadeia pública. Ainda é possível ver algumas grades que permaneceram ao longo do tempo. O centro é composto por artesãos, escultores e colaboradores. Um dos fornecedores de madeira

é um senhor conhecido como Bigodão. O pernambucano Manuel Costa Filho, 56, ressalta que se sente em casa quando chega a Juazeiro e à Associação. “Eles são todos meus amigos. Tando aqui, tô em casa”, comenta Manuel sobre sua relação com os membros da Associação, para a qual ele leva, em média, 3 mil quilos de madeira por semana. Para participar do Centro, o artista precisa ter sua obra inserida na cultura regional. O conselho da Associação e os membros efetivos se reúnem e avaliam a particularidade da obra e sua relevância.

Fé. Artigos religiosos predominam em muitas lojas do Mercado. Foto Beatriz Brito


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“Ir perto para ver longe” Nayara Monteiro, aluna do curso de Jornalismo da Unifor

FOTO: CELINA DIÓGENES FOTO: IARA PEREIRA

FOTO: ALANA PEREIRA

O Projeto Pau de Arara, promovido pela Universidade de Fortaleza, foi criado em 2004 e realizou em junho de 2016 a sua oitava edição. Ela levou estudantes e professores para Juazeiro do Norte com o intuito de explorar as riquezas do Interior do Ceará, destacando a cultura e a beleza do nosso Estado. Conhecer a cultura do Interior traz um novo olhar e nos acrescenta novos pontos de vista. Trouxemos um pouco da magia do Cariri através da documentação fotográfica.


FOTO: THAIS MESQUITA

FOTO: KHALIL SOBREIRA

FOTO: JARI VIEIRA

FOTO: BEATRIZ BRITO

FOTO: NEYARA MONTEIRO

FOTO: PEDRO VIDAL

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Entrevista > Batista de Lima

Batista de Lima: sensibilidade construída na infância

Alessandra Castro e Lia Rodrigues Repórteres

Jornalismo NIC: O senhor nasceu em um sítio, no Interior. Quais lembranças guarda da sua infância? Eu nasci no Sítio Taquari, em Lavras da Mangabeira. Era o sítio do meu avô materno, que tinha um engenho de rapadura. Eu ficava ali com meus primos, em contato com a natureza. Meu pai e minha mãe sempre se deram muito bem, eram o casal perfeito. Isso fez com que minha infância fosse feliz. É tanto que na minha poesia eu estou sempre retornando à infância. Quando eu tinha 12, 13 anos, eu fui colocado no seminário dos padres alemães, que ficava no Crato. Ali, houve aquele choque, porque próximo ao seminário, havia um engenho. Quando esse

“Tornar-me um cidadão fortalezense é um sonho, contribuir para a melhoria dessa cidade, para a defesa do patrimônio histórico que é destruído a cada dia”

leitor”, ensina. Batista de Lima recebeu, em setembro de 2016, o título de Cidadão Fortalezense. Ingressou na Academia Cearense de Letras em 1998, onde ocupa a cadeira de número 2. É integrante também de outras Academias, como a Cearense da Língua Portuguesa e a Fortalezense de Letras. Seu livro de maior sucesso é “O Pescador de Tabocal”. Em 2001 e 2015, Batista de Lima ganhou o Prêmio Osmundo Pontes, com “Janeiro é um mês que não sossega” e “Concerto para Espantos”, respectivamente.

Fotos: Beatriz Brito

Em Lavras da Mangabeira nascia, em 1949, o poeta. Anos depois, em Fortaleza, nasce o professor. Com uma sensibilidade para as letras, que define como um dom vindo da infância, Batista de Lima fala que escrever “é uma questão nata, nasce com a pessoa. Acho que eu nasci com esse dom”. Ele ainda destaca a importância da leitura nesse processo. “Eu acho que, para escrever um poema, você precisa ler mil poemas. Para escrever um livro, você precisa ler mil livros. Antes de tudo, eu sou um

engenho começou a funcionar, que aquele cheiro de mel chegou no meu nariz no seminário, eu fugi de lá e voltei pra casa. Meu pai me colocou pra trabalhar no engenho, na fornalha e em uma moagem. Depois, resolvi voltar para o seminário. Jornalismo NIC: Como foi que o senhor se tornou escritor?

uns poemas, levei e foram aprovados.

Jornalismo NIC: “Engenho”, seu tercei-

caldeireiros. Cada trabalhador e cada

Depois do seminário, fui fazer ensino

Assim, eu entrei para a vida literária. Lá,

ro livro publicado, guarda semelhan-

objeto do engenho ganhou um poema.

médio no Liceu do Ceará, à noite. Che-

eu tive contato com muitos escritores,

ças com sua história de vida. O livro

Eu queria fazer um poema sobre a ra-

guei em Fortaleza em 1967 e assinei

comecei a ler poesias, romances, contos.

foi escrito a partir das memórias da

padura. Passei um ano tentando fazer

minha carteira como professor com 17,

Depois, fui para o Grupo Siriará de Lite-

sua infância?

esse poema, porém nunca me agradou

18 anos. Eu dava aulas durante o dia e,

ratura. Era um grupo de 22 escritores,

Publiquei meu primeiro livro, “Miran-

nenhum que eu fiz. Então, eu tive uma

à noite, eu era aluno. No Liceu, conheci

que tanto escreviam como se divertiam.

ças”, em 1977. Depois vieram livros de

ideia. Publiquei o livro, lancei no BNB

Carneiro Portela, fundador do Clube dos

Era um grupo também da boemia. Nós

poemas, de contos. “Engenho” é um li-

Clube de Fortaleza e coloquei ao lado

Poetas Cearenses. Ele viu que eu gosta-

frequentávamos o Estoril, que era o

vro sobre o engenho de minha origem,

dos livros um monte de rapaduras.

va de literatura e pensou que eu fosse

nosso quartel-general, o nosso “point”, e

sobre as gamelas, as caldeiras, o parol,

Quem comprasse o livro, tinha que le-

poeta. Ele me chamou para o Clube. Fiz

o bar Quina Azul.

as moendas, os cortadores de cana, os

var a rapadura, porque era um poema.


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Às vezes não queria levar a rapadura, aí não podia levar o livro. Jornalismo NIC: Na sua opinião, de onde nasce essa sensibilidade para escrever? Eu acho que vem de uma infância sadia, sem nenhum trauma, brincando e nadando no açude. Também acredito que a sensibilidade é uma questão nata, nasce com a pessoa. Acho que eu nasci com esse dom de sofrer muito com o mundo, sofrer com o que eu vejo em torno de mim e ao mesmo tempo captar essas imagens, o que é bonito, o que é

“O que me torna feliz é saber que se eu tivesse que começar hoje uma profissão, eu ia ser professor.”

bom. O principal para escrever é o hábito da leitura. Eu acho que para você escrever um poema, você precisa ler mil poemas. Para escrever um livro, você precisa ler mil livros. Jornalismo NIC: Quando o senhor se tornou professor universitário? É a profissão que sempre quis exercer? Fiz Letras e Pedagogia, na [Universidade] Estadual. Depois fui fazer mestrado em Literatura, na UFC. Estou completando, este ano, 50 anos de magistério e 40 anos de Unifor. Minha história maior de magistério é aqui. O que me torna feliz é saber que se eu tivesse que começar hoje uma profissão, eu ia ser professor. Eu voltaria àquele dia de 4 de fevereiro de 1967 e começaria naquela turminha de 13 alunos do Educandário Casimiro de Abreu. Para mim, não há uma profissão melhor. Não tem rotina, você está em contato o tempo todo com a juventude. Eu estou contribuindo para formar pessoas que vão me suceder, que vão ficar com essa bandeira que eu levo em defesa da cultura, da literatura e do que é da nossa terra. Jornalismo NIC: O senhor se tornou Cidadão Fortalezense recentemente. O que esse título representa na sua vida? Eu estou me tornando cidadão fortalezense por ter 50 anos de sala de aula em Fortaleza. Eu adoro essa cidade, ela é inspiradora, ela é uma cidade lírica. Conheço muitas cidades, mas nenhuma é como Fortaleza. Aqui foi onde eu passei a maior parte de minha vida. Para mim, é um sonho me tornar um cidadão fortalezense, contribuir para a melhoria dessa cidade, para a defesa do patrimônio histórico que é destruído a cada dia. É com muito orgulho que eu recebo esse título. Estou me sentindo mais compromissado com a cidade, com seus proble-

Eu acho que a infância emociona, a

conheço um campus no país tão bonito

mas. Não são apenas estruturais mas

arte, um bom filme, o nascer do sol.

e rico quanto esse. Tem árvores aqui

também problemas de memórias, de

Eu assisto diariamente ao nascer do

que você não encontra no Brasil, foi

falta de valorização da nossa história.

sol. É uma coisa que emociona tanto

trazido pra cá. Eu acho que essa preo-

e que as pessoas não estão prestan-

cupação com o nosso ambiente, com o

Jornalismo NIC: Depois de passar por

do atenção. Os pássaros, a natureza,

nosso habitat traz a felicidade. Felici-

uma trajetória de conquistas e realiza-

a floresta… O campus da Unifor, para

dade é valorizar coisas que ninguém

ções, o que o emociona?

mim, é uma tela impressionista. Eu não

está valorizando.


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Caminhada pela história de Fortaleza História. Cearense, insatisfeito com a mesmice das agências de turismo, propõe um passeio diferente: uma caminhada repleta de conhecimento pelas ruas da Cidade

Emanuel de Macêdo Repórter

O

que boa parte dos turistas buscam, ao viajarem para uma nova cidade, é um bom pacote de passeios, que passe pelos principais “cartões-postais” do lugar. É exatamente esta experiência o que oferece um grupo cearense, porém, de uma forma bem diferente: a pé. A proposta é levar o turista para percorrer a pé os principais pontos de algumas das regiões históricas da Capital. “Eles [turistas] saem com uma nova visão sobre a cultura da Cidade. Descobrem que Fortaleza tem seus belos museus, teatros, praças antigas e monumentos”, afirma o idealizador do projeto, Gerson Linhares. O “Fortaleza a Pé” existe desde 1995 e mantém-se sem recursos públicos. Surgiu justamente com o intuito de mostrar para a própria população, bem como para os turistas, quão rica é a história da Cidade. “A prática do turismo cultural, para a gente, é um lema. Os moradores e visitantes desejam, sim, saber da história do nosso povo e conhecer as nossas tradições e patrimônio cultural”, explica Gerson. De acordo com os próprios organizadores, mais de 120 mil pessoas já fizeram o trajeto. O programa de caminhada é uma viagem pela história e cultura da cidade de Fortaleza, que são, por muitas vezes, deixadas em segundo plano por agências de turismo e, até mesmo, pela própria população. O idealizador do projeto diz que muitos moradores da Cidade se impressionam com a riqueza em detalhes dos lugares que, em muitas ocasiões, passam despercebidos.

O trajeto

O passeio cobre mais de 50 pontos históricos da Cidade entre 15 bairros da Capital. É gratuito para deficientes físicos, alunos de escolas e universidades públicas, idosos e funcionários públicos. Para os demais, é cobrada uma taxa de R$ 5,00. O tour mais procurado é o do Centro, mas há também outros roteiros, como Benfica, Mucuripe, Jacarecanga e Messejana. “O que nos motiva é o amor pela Cidade e pelo nosso patrimônio”, conta. A rota pelo Centro inicia-se na Praça do Ferreira e segue pela Praça dos

Centro. Grupo de entusiastas acompanha e escuta com atenção algumas histórias sobre o centro da cidade. Foto: acervo pessoal/Gerson Linhares

Paixão. Gerson compartilha com acompanhantes o seu conhecimento e amor pelo patrimônio histórico da Cidade. Foto: acervo pessoal/Gerson Linhares

“Eles [turistas] saem com uma nova visão sobre a cultura da Cidade. Descobrem que Fortaleza tem seus belos museus, teatros, praças antigas e monumentos” Gerson Linhares

Leões, indo até a Praça da Sé, onde está a Catedral Metropolitana de Fortaleza. O passeio continua, passando pelo Mercado Central, Forte de Nossa Senhora da Assunção, Passeio Público, Santa Casa de Misericórdia, Emcetur, e finaliza no prédio da antiga Estação Ferroviária João Felipe. No total, o participante do passeio percorre uma média de 2 a 3 km, num trajeto estimado em três horas, contando-se o deslocamento e as paradas. Além da Capital, mensalmente, o grupo organiza viagens para cidades históricas do interior do Ceará, sempre com suas caminhadas pelos centros culturais. “Claro que existem taxas de deslocamento,

“O que nos motiva é o amor pela Cidade e pelo nosso patrimônio”

mas uma vez por mês organizamos uma viagem para o interior do Estado”, explica Gerson, que ainda luta para que seu já histórico projeto consiga ter mais reconhecimento, principalmente do poder público.

Gerson Linhares

Desde o início da caminhada, os organizadores do programa também criam guias, mapas culturais e álbuns de figurinhas. Recentemente, surgiu uma nova proposta: a cada cinco álbuns vendidos, um é doado para um estudante de escola pública. Segundo Gerson, já foram doados mais de mil exemplares, desde a criação da “promoção”.

Projetos culturais


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Um mergulho no rádio cearense

História. Avenida João Pessoa, bairro Damas. Esse era o endereço da antiga sede da Ceará Rádio Clube. Foto Reprodução

Ceará. A história do rádio cearense não é só marcante musicalmente. Seu envolvimento político fez a rádio sofrer com a censura

Isabelli Fernandes Repórter

O

legado do rádio perpassa a história da capital cearense de diversas maneiras. Ao caminhar pelas ruas da Barra do Ceará, a população e os visitantes da cidade podem chegar à Av. Radialista José Lima Verde. A paisagem vista por quem passa na Avenida pode até ofuscar os elementos da Cidade e, mesmo, esconder as placas que a indicam. Mas, não reduz a importância do personagem que deu nome à via. José Lima Verde começou na Ceará Rádio Clube ao lado de João Dummar, iniciativa que marcou a história do rádio na “Terra da Luz”. No Ceará, o rádio foi inaugurado oficialmente em 1934, por João Dummar, com a Ceará Rádio Clube. A emissora trazia vários cantores de sucesso na época, como Francisco Alves, o que mobilizava os ouvintes em Fortaleza. A Ceará Rádio Clube não viveu só de música. A emissora se engajou na política e sofreu com os artifícios da censura. Em um dos episódios foram injustamente proibidos de realizar uma matéria na Assembleia Legislativa, fato que mobilizou a população na intenção de garantir a liberdade de noticiar os acontecimentos, como conta a professora de Comunicação Social Kátia Patrocínio.

Precursor. Roquette-Pinto, criador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Foto Reprodução

Sobre momentos importantes na história do rádio no Estado, a docente destaca um traço importante. “Um momento que eu considero mágico no rádio é o momento da solidariedade. A história do rádio cearense é muito pautada por ajudar em determinados momentos críticos da nossa história, como em épocas de enchentes ou épocas de seca, onde você tem uma campanha para ajudar quem está passando necessidade.” A época de ouro do rádio cearense também foi marcada pelas radionovelas, que tinham atores como João Ramos. Amado pelos ouvintes, muitas vezes era seguido por fãs que buscavam autógrafos. Infelizmente, não há registro das famosas radionovelas da Ceará Rádio Clube, pois essas relíquias não foram gravadas na época e o que se sabe são relatos dos atores que faziam parte do elenco de ouro.

Há quem afirme que o rádio entrou em decadência por volta dos anos 1950, quando a televisão começou a ser implantada no Brasil, por Assis Chateaubriand. Muitos estudiosos do rádio, como a professora Katia, discordam dessa dita decadência do meio de comunicação. “Bem, como eu gosto muito de rádio, não ouso dizer que em algum momento perdeu público. Sempre teve ouvintes. A gente sempre teve pessoas que escutam rádio. Até hoje mesmo você tem um público que está se renovando. Quem achava que o rádio estava morrendo se enganou”. Em tempos de acelerado avanço tecnológico, sintonizar na emissora de preferência é mais uma possibilidade. A conexão da Internet é o diferencial e a programação inclui, dentre outros recursos, os podcasts, por exemplo. O formato permite buscar informação ou entreteni-

mento em qualquer lugar com possibilidade de baixar os programas e compartilhá-los em rede, possibilidade que chama a atenção dos jovens. A professora acredita que o significado dos podcasts foi muito deturpado, mas é algo interessante, pois oportuniza um novo formato, uma nova linguagem de rádio. A origem do rádio no Brasil

O rádio chegou ao Brasil após a Primeira Guerra Mundial. A primeira demonstração pública do meio aconteceu ao longo da Exposição Internacional do Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1922. Essa demonstração provocou o interesse de Edgard Roquette-Pinto, hoje conhecido como o pai do rádio brasileiro, que viria a criar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira emissora a ter uma transmissão regular.


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A cara da Unifor

por Sarah Castro e Claudia Riello Repórteres

Alunos que fazem a diferença

FOTO: JARI VIEIRA

Passar no vestibular, estudar, ser aprovado nas disciplinas parece ser o mínimo que um estudante precisa fazer para fazer a diferença. Além disso, requer-se muito mais. O mercado de trabalho está cada vez mais disputado e por isso os alunos precisam se destacar a cada dia. Conheça as histórias de dois alunos do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza que saíram da “zona de conforto” e alcançaram sucesso. Rodolfo Lima participou do programa televisivo Profissão Repórter e Renata Monte foi premiada na Expocom do Congresso Intercom 2016 na categoria Documentário.

Em busca de um jornalismo diferente

Documentário “E tu, Tens Medo de Mim?”

Graças ao sonho de sua tia de ter um sobrinho que trabalhas-

Renata Monte, 23, graduada em Jornalismo pela Universidade

se usando paletó, Rodolfo de Freitas Lima, 22, encantou-se

de Fortaleza (Unifor), decidiu em 2015 realizar o documen-

pelo universo do telejornalismo. Apesar da pouca idade, ele

tário “E tu, Tens Medo de Mim?” como Trabalho de Conclusão

já trilha um caminho consistente, tendo no seu currículo a

de Curso (TCC) para expor seu tema de forma mais expressi-

participação em programa da Rede Globo, o “Profissão Re-

va. Com apoio de amigos e parceiros, a jornalista realizou um

pórter”, dirigido pelo jornalista Caco Barcellos. Desde o iní-

filme que conta a história do coletivo artístico “As Travesti-

cio, Lima sempre quis trabalhar em telejornalismo. No quarto

das”, além do processo de produção do espetáculo “Quem Tem

semestre da faculdade, ao participar

Medo de Travesti”. “O filme traz entrevistas com

de uma palestra de Luiz Esteves [âncora do CETV 1ª edição] uma fala do jornalista chamou a sua atenção: “Não basta vocês terem vários cursos, se vocês não têm prática. Se você não tiver prática, o que você sabe se neutraliza”. Depois dessa palestra, ele começou a enviar o currículo para vários veículos em busca desta prática. Atualmente, Rodolfo trabalha na

“Minha experiência foi fantástica, pois aprendi como é fazer um jornalismo de forma diferenciada.”

os membros do grupo, histórias de infância, de descoberta da sexualidade, a relação entre eles, a relação com travestis e quem são e qual o motivo para que as pessoas tenham medo dessas figuras”, afirma. Com um tema tão cheio de cor, de vida e sentimentos, Renata preferiu documentar em áudio e vídeo, em vez de apenas escrever uma monografia. E essa, pelo visto, foi a melhor decisão que a jornalista tomou. Com seu trabalho, ela

“Eu toco em um assunto muito delicado ainda. Eu falo de pessoas que são marginalizadas, excluídas por nós mesmos”

produção da TV Verdes Mares, o que

ganhou dois prêmios na Expocom 2016: o de

lhe proporciona contato direto com as

Melhor Documentário Jornalístico regional em

outras filiais da Rede Globo. Quando Caco Barcellos veio a

Caruaru (PE) e nacional em São Paulo. Renata

Fortaleza para fazer a reportagem “Violência no Brasil”, o jo-

resume seu trabalho em apenas uma frase: “é um bordado bo-

vem estudante o acompanhou. Ainda no mesmo ano, durante

nito feito por muitas mãos amigas”.

seu mês de férias, Rodolfo foi a São Paulo, onde passou o

“Eu toco em um assunto muito delicado ainda. Eu falo de

período trabalhando em dois programas do canal. Quando já

pessoas que são marginalizadas, excluídas por nós mesmos.

estava perto de terminar o estágio, o estudante foi convida-

Eu questiono o espectador se ele tem medo de travesti”, afir-

do por Barcellos para participar de uma matéria com ele em

ma. Para Renata, a experiência de estar com outros alunos

Maceió (AL). “Minha experiência foi fantástica, pois aprendi

da comunicação, conhecer pessoas de todo o Brasil, poder

como é fazer um jornalismo de forma diferenciada. É essa a

conviver com os professores fora do ambiente acadêmico é

essência do programa.” Mesmo sendo tão jovem, mas com

muito gratificante, além de ter a possibilidade de viajar e

essa vivência particular, Lima considera que, quando há de-

visitar locais novos.

dicação e força de vontade, o trabalho será recompensado.


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Kitesurfe: o esporte que domina as praias do Ceará Radical. O kitesurfe atrai visitantes e turistas na Praia do Cumbuco. Foto: Gigele Nuaz

Esporte. Com raízes estrangeiras, a modalidade consolida-se cada vez mais nas praias cearenses

Gustavo Machado Repórter

M

uitos esportes com raízes estrangeiras estão se consolidando no Brasil. Um deles é o kitesurfe, que chegou há apenas 16 anos e já atrai praticantes de todo o mundo para o Ceará. Não só por ser relativamente simples de aprender e pela emoção do contato com o mar, mas porque o Estado está em uma área que propicia ventos fortes com ondas na medida certa aos aficionados. Em tradução livre para o português, kite significa pipa. Já surf, segundo o site Léxico, compreende-se como deslizar nas ondas com prancha. Existem muitas explicações para a origem do desporto. Em meados do século XIX, George Pocock, um inventor inglês, usava um sistema de controle com pipas para impulsionar o rendimento de carros e navios. A intenção era criar uma kitepower (potência através do kite). Em 1903, Samuel Cody, um aviador norte-americano, conseguiu navegar em um canal inglês em um barco puxado por pipas. Segundo o site Rancho do Kite, a modalidade surgiu em 1982. Um projetista

de aeronaves chamado Bill Roeseler e seu filho Cory Roeseler usaram uma asa-delta puxando-os sobre esquis aquáticos. Mas a hipótese mais aceita é a dos irmãos franceses Bruno e Dominique Legaignoux, que, em 1985, desenvolveram pipas infladas a ar, posteriormente patenteando-as. Desta forma, o esporte se aproximou mais de como conhecemos o kitesurfe atualmente. Independente de quem tenha realizado a proeza, o esporte decolou no mundo todo. Primeiras competições

Em 1998, foi realizada a 1ª Copa do Mundo de Kitesurfe com a coroação de Robby Naish como o primeiro campeão. Naish, também, é conhecido como um dos incentivadores do esporte nos Estados Unidos e pelo mundo. O ano de 2000 foi histórico para o esporte no território nacional com a realização do Kitesurf Pro World Tour, o primeiro circuito mundial de kitesurfe, com uma de suas etapas na Praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A partir desse momento, a modalidade ganhou adeptos de todas as regiões do País. “Aqui, no Ceará, é um dos melhores locais do mundo para a prática do esporte, o que atrai a vinda dos estrangeiros”, diz Gilberto Gouveia, 53, advogado, mas há onze anos professor de kitesurfe na Praia do Cumbuco, no município de Caucaia. Por ter uma boa localização geográfica, uma grande faixa litorânea e boas condições climáticas, o Estado se

caracteriza por ter bons ventos, propiciando a prática de esportes a vela e com pranchas, como surfe e o windsurfe. “São ventos constantes e fortes do mar para a areia, o que ajuda a prática de esportes. Dentro dos 563 quilômetros de litoral do Estado, todas as praias têm este vento”, ressalta ele. Da teoria para a prática

Com 42 anos de experiência de surfe e 11 no kitesurfe, Gilberto Gouveia conta que, depois de vários anos sendo aluno, é muito prazeroso repassar o seu conhecimento para alguém, agora, na posição de professor. Atualmente, ensina o esporte em uma escola na praia do Cumbuco,

alertando sempre seus alunos para os perigos da prática do kitesurf. Já para o aluno Joerg Artur Amman, 52, empresário na área de engenharia, a procura pela categoria se deu por uma prática anterior do windglider (que também utiliza os ventos, só que, neste esporte, o atleta se apóia sobre um bote inflável) e pela vontade de sentir o prazer de estar sempre ligado ao mar. “Eu tenho certeza que é um esporte que vai me agradar muito e eu irei à frente. E também é um esporte muito bom para crianças carentes”, declara o praticante ao se referir à grande quantidade de jovens de baixa renda moradores das praias que viram instrutores deste esporte.

Equipamentos essenciais para a prática do esporte Pipa (Kite): A pipa é presa em um cinto, na cintura do esportista, e ele se coloca em cima da prancha sobre a água.

Barra: O esportista tem uma barra de controle, com a qual pode escolher seu trajeto e realizar saltos incríveis.

Linha: São as linhas usadas para ligar o kite à barra. E servem para conectar e controlar a direção e movimentação do kite.

Trapézio: Espécie de cinto com gancho frontal que o kitesurfista veste. Serve para deixar as mãos livres para pegar a prancha e realizar manobras.

Prancha: As pranchas são parecidas com as pranchas de surfe, porém as pranchas de kitesurf são mais resistentes e servem para direcionar o kitesurfista.


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Theatro completa 106 anos (IPHAN) em 1987, a sua capacidade é de mais de 800 pessoas, mas, para manter a sua conservação, preferem receber cerca de 750. A pintura artística do saguão foi feita por cinco brasileiros. Cada camarote possui gravado o nome de uma obra de José de Alencar e, em cada coluna, nomes de dramaturgos e músicos mundiais. O nome do patrimônio, as obras e o quadro acima da boca de cena, em que Lucíola coroa o busto de José de Alencar, são homenagens ao escritor, que fazia uma literatura genuinamente cearense.

Cultura. Uma das principais construções arquitetônicas da Capital do início do século passado, o TJA ainda preserva o ar da “Belle Époque” Alessandra Castro e Davi Piancó Repórteres

R

eferência artística, turística e arquitetônica no País, o Theatro José de Alencar (TJA) proporciona momentos singulares de compreensão e aceitação, como descreve Erick Barbosa, ator e frequentador assíduo. “Quando estou lá, sinto sensações de liberdade. É um lugar que me leva para onde minha imaginação desejar”. Inaugurado em 17 de junho de 1910, o Theatro é “a mais bela e mais importante Casa das Artes Cênicas do Ceará”, expressa Fernando Piancó, ator e ex-diretor do TJA. O teatro possui quatro espaços de espetáculos: o palco principal; um anfiteatro nos jardins do Theatro; o Morro do Ouro, um anexo do Theatro, com capacidade para até 90 pessoas; por fim, o espaço Boca Rica, com capacidade para 350 pessoas. Dotado de uma arquitetura eclética, o primeiro bloco possui formato de palácio civil, em estilo neoclássico, mas sua fachada também apresenta outros estilos. Na sala de espetáculo, a influência é do Art Nouveau e toda a sua estrutura é em ferro fundido com travejamento em aço importado de Glasgow, Escócia. Segundo Maria Luíza Silva, guia do Theatro, o TJA foi projetado para ser um teatro jardim. O pátio que divide os dois blocos foi uma solução encontrada para se adequar ao clima da capital cearense. “É um teatro de ferro, mas totalmente vazado. O artista que se apresenta no palco consegue ver a praça na frente. É bom tanto para o artista quanto para a público”, explica a guia. Rico em história em todos os aspectos, cada detalhe do Theatro conta um pouco de sua essência. Ele começou a ser erguido no final do século XIX, quando se vivia a “Belle Époque” (expressão francesa que significa “bela época”). Muitos patrimônios na Cidade tinham inspiração francesa. Com o TJA não poderia ser diferente. “Ter um teatro [ao estilo] francês era glamouroso, o maior status que uma província poderia ter”, lembra Maria Luíza. Segundo o ator Erick Barroso, o Theatro sempre foi um portal mágico “onde tudo pode acontecer, e as histórias lá vividas podem ser sentidas”. Quando criança, ele sonhava em conhecê-lo, mas só aos 15 anos de idade pisou no TJA pela pri-

Antigos funcionário

Arte. Patrimônio cultural de Fortaleza, o Theatro José de Alencar é a principal referência de arte na cidade. Foto: Khalil Sobreira

meira vez. Hoje em dia, frequenta-o assiduamente, seja para encontrar os amigos, ensaiar ou ver espetáculos. “Há uma vida mágica, real, palpável nas paredes, no chão, em cada pedacinho daquele lugar. É isso que torna aquele teatro tão encantador”, revela o ator. Patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Mauro, ou, como é mais conhecido, Maestro Mauro Coutinho, é o sonoplasta do Theatro desde de 1956, quando trabalhava nos eventos e shows. O operador de áudio é funcionário de carteira assinada há mais de 22 anos. No TJA, trabalhou em vários projetos, entre os quais o “Pixinguinha”, que trazia os maiores artistas do Brasil, em turnês, a preço acessível. Para ele, o Theatro José de Alencar é algo muito marcante em sua vida. Lá fez muitos amigos, dos quais alguns já partiram, como o conhecido Muriçoca, funcionário também antigo do TJA, que tinha a função de recepcionista na entrada da plateia. “Ele era uma maravilha. Você ficava conversando e ele contando sempre uma boa piada. Era um negão legal, um cara bacana”, diz, emocionado, o sonoplasta. Atualmente, a função de Mauro no Teatro é repassar o seu vasto conhecimento em sonoplastia para os colegas novos. Emociona-se e sente muito orgulho quando alguns colegas chegam para dizer que estão tendo sucesso por ter aprendido com o sonoplasta. “Eu acho um absurdo você saber de uma coisa e não querer repassar a outro que queira aprender”, afirma. Com as mudanças que ocorreram no Theatro ao longo dos anos, o TJA modificou algumas de suas características. Sua importância como sala de espetáculo é inquestionável. Não é apenas um centro de criação e propagação cultural, mas um equipamento histórico de Fortaleza.

“O Theatro José de Alencar, templo das artes cênicas cearenses, reserva uma singularidade: é o guardião da praça, onde as pessoas trabalham, comem, rezam, dançam, bebem, recitam, contracenam com a vida. Torna-a espaço de convivência privilegiado, sem disfarces, descortinando dramas, embalando comédias. Ao mesmo tempo imponente e singelo, o Theatro perscruta as angústias, alegrias e sonhos do povo — e os reproduz no palco para invadir consciências”

Nilton Melo Almeida, ex-Secretário da Experiência. Mauro Coutinho, uma das referencias do Teatro. Foto: Khalil Sobreira

Cultura e Desporto do Estado do Ceará


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Estimulo. As “Costureiras de Histórias” em uma de suas apresentações. Foto: Divulgação

Os prazeres da literatura infantil Literatura. Professoras e uma psicopedagoga comentam a importância do hábito da leitura na infância

Carolina de Faria Repórter

O

s benefícios da leitura para o desenvolvimento infantil são reconhecidos no mundo inteiro. O estímulo à criatividade, imaginação, inteligência, capacidade verbal e de concentração de crianças e adolescentes que têm acesso à literatura é de uma importância inquestionável. De acordo com o site Brasil Escola, no dia 2 de abril é comemorado o Dia Internacional do Livro Infantil. A data especial tem motivo: coincide com o aniversário do dinamarquês Hans Christian Andersen, consagrado autor de contos inesquecíveis, como “A pequena Sereia” e “O soldadinho de chumbo”. A contribuição do autor para a literatura infantil é tanta que seu nome batiza o principal prêmio internacional do gênero. Ana Paula de Medeiros Ribeiro, professora de pedagogia da Universidade Federal do Ceará e responsável pela disciplina de ensino da língua portuguesa, analisa o aspecto histórico da relação entre crianças e livros no Brasil. “Com o passar

do tempo, a literatura infantil ficou muito atrelada a essa questão da obrigação na escola, tanto que a forma que ela era oferecida ao aluno muitas vezes causava uma certa resistência.” O prazer de leitura era deixado de lado, pois, segundo Ana Paula, “eram histórias que não faziam parte do universo deles”. A professora lembra do velho hábito de ler como forma de punição tradicionalmente praticada em algumas instituições de ensino. “Se o aluno agia de forma indisciplinada, então o castigo era ir à biblioteca.” O ensino da literatura nas escolas brasileiras parece estar mudando progressivamente. Ana Paula aposta no projeto “As Costureiras de Histórias”, criado por ela e pela professora Cristina Façanha Soares e vinculado à Universidade Federal do Ceará. A proposta é atrair as crianças para o “fantástico universo” dos livros por meio da contação de histórias. “Você não precisa se fantasiar para encantar. É o que a Regina Machado [contadora de histórias e pesquisadora do assunto] diz. É a arte da palavra e da escuta”, ensina a professora Cristina, que define sua sala de aula como um “piquenique literário” por valorizar a literatura enquanto “alimento da alma”. Os membros do projeto chegaram a organizar uma maratona literária à luz de velas no estacionamento da Faculdade de Educação — “um encantamento”, diz a professora.

Leitura. Criança descobre a fantasia proporcionada pela literatura. Foto: Tatiana Soares

Autonomia intelectual

O Programa Nacional do Livro Didático é outro exemplo de iniciativa e incentivo e tem o intuito de distribuir exemplares nas escolas públicas do País. A proposta pedagógica de atividades envolvendo esses livros também inova pelo chamado “Cantinho da Leitura”, que deve estar presente em salas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental. A iniciativa aposta na autonomia intelectual das crianças, que poderão fazer suas próprias escolhas literárias de acordo com suas inclinações. Em Fortaleza, estabelecimentos privados também se empenham em estimular as crianças para a leitura. Fernanda Maciel, que atua

como psicopedagoga de uma rede de livrarias, destaca a importância de levar crianças de todas as idades a ter intimidade com o livro. “Essa questão de pegar no livro faz parte do processo de prazer pela leitura. Então consideramos que a criança tem que ter esse tipo de liberdade dentro do nosso espaço”. Algumas livrarias costumam oferecer sessões infantis, lançamentos de autores infantis e contações de história. Fernanda e seus colegas, por exemplo, passam por orientações no intuito de tornar o ambiente o mais lúdico e permissivo possível, além de oferecer confiança aos pais, que podem tomar um café sossegados ou procurar seus próprios livros.


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Comunic

Notas PicNIC

Integração. Estagiários do núcleo participam de PicNIC no bosque do Ginásio. Foto: Khalil Sobreira São Paulo. Alunos de comunicação da Unifor marcam presença no Intercom. Foto: Jari Vieira

Estagiários do NIC participam da 39ª edição do INTERCOM Maurílio Moreira Assessoria Nic

E

m setembro, alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, bem como estagiários do Núcleo Integrado de Comunicação (NIC), participaram da etapa nacional do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), realizado este ano na ECA (Escola de Comunicação e Artes), da Universidade de São Paulo, com o tema “Comunicação e educação: caminhos integrados para um mundo em transformação”. O Intercom, maior evento de comunicação da América Latina, tem como um dos seus momentos a Expocom, que, anualmente, reconhece a qualidade de trabalhos desenvolvidos por alunos do ensino superior de todo o Brasil no campo da comunicação. Tem como objetivo estimular a produção acadêmica nas diversas áreas, como livro-reportagem, fotojornalismo, animação, filme de ficção e peças publicitárias. A Expocom acontece em duas etapas. Os vencedores da etapa regional são chamados a concorrer na etapa final, que reúne trabalhos de todo o País. Wanessa Lugoe, aluna do curso de Jornalismo da Unifor e também bolsista da célula do Jornalismo NIC, participou pela primeira vez do Congresso com um artigo que analisa o processo de adaptação e convergência do antigo blog do laboratório para

o que hoje é o Portal do NIC. Ela gostou da experiência. “As oficinas oferecidas foram maravilhosas e indispensáveis para completar esse intercâmbio acadêmico”. Para ela, apenas o fato de ter apresentado o artigo em um evento de caráter nacional já é muito relevante. Essa experiência, segundo Wanessa, “torna-se cada vez mais valorizada com a oportunidade de conviver com universitários de todo o País”. Dois alunos da Unifor foram premiados. Renata Monte Carneiro, aluna do curso de Jornalismo, foi a vencedora da categoria Documentário Jornalístico e Grande Reportagem em Vídeo e Televisão, com o trabalho “E tu, tens medo de mim?”. Felipy Procópio Chaves, aluno do curso de Publicidade e Propaganda, venceu na categoria Publicidade em Outros Meios (avulso), com o trabalho “Isso é Fortaleza”. O Intercom também tem uma etapa regional, que, em 2017, acontecerá em Fortaleza. O ano também marcará os 40 anos do Congresso.

Novos estagiários são recebidos com PicNIC temático Em setembro, as células ‘Assessoria NIC’

Núcleo, música ao vivo, brindes e petiscos.

e ‘Eventos NIC’ se mobilizaram mais

Com um clima descontraído e muita

uma vez para dar as boas-vindas aos

animação, o objetivo foi proporcionar

novos integrantes do NIC. Dessa vez, a

uma tarde lúdica, longe do espaço de

ideia foi organizar o PicNIC no Bosque.

trabalho, onde os novos alunos pudes-

A ação de integração aconteceu no

sem conhecer melhor os companheiros

bosque do Ginásio Poliesportivo da Uni-

de estágio, gerando assim um semestre

for, com a participação dos gestores do

produtivo e integrador entre as células.

Destaque

Assessoria NIC elabora plano de comunicação para Construtiva Jr. Com o objetivo de atrair novos alunos

para o crescimento da empresa júnior.

e gerar visibilidade interna e externa

O plano deve ser implementado já no

para a concepção de novos projetos,

primeiro semestre de 2017.

a Construtiva JR, empresa júnior dos

A Construtiva Jr. é uma associa-

alunos de Arquitetura e Engenharia

ção sem fins lucrativos, composta por

Civil da Unifor, entrou em contato

alunos de graduação, com o objetivo

com a Assessoria NIC para a criação

de elaborar projetos voltados para

de um plano de comunicação.

públicos com menor poder aquisitivo,

O projeto vem sendo executado pelos monitores da célula e as propostas estão sendo questionadas e discutidas ao longo da execução do plano. Dentre as propostas previstas no plano estão a criação de um calendário anual para direcionar as atividades internas e externas, criação de uma nova identidade visual para a empresa e cam-

Exposição. Claudia Riello e Wanessa Lugoe apresentam artigo no Intercom. Foto: Divulgação

panhas de divulgação, que devem contribuir

com valores mais acessíveis que os de mercado.


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