Sobpressao 02

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JUNHO / 2004

Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza

ANO I - Nº 02

O que pensam os jovens

Adictos assumem que tratamento só depende deles (páginas 4 e 5)

Religiões substituem ideal político

(páginas 6 e 7)

Pesquisa indica preferência por relação estável (páginas 8 e 9)


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Editorial

Juventude fala de si mesma Na tentativa de construir um mundo melhor, vão buscando estilos próprios por meio de caminhos diferentes. Filhos de uma sociedade rodeada de preconceitos e tabus, é necessário quebrar os vínculos. Internet, drogas, sexo, religião, política, profissão: rodeados de uma infinidade de assuntos, chegou a hora de tomar decisões e assumir as responsabilidades. Afinal, eles já são jovens. O que pensar? Qual posicionamento ter diante de tantos questionamentos? Poucas pessoas param em busca de respostas, as dúvidas vão desaparecendo no fluxo normal da vida. E cada um lida com elas de forma diferente. Mas sem perceber, os jovens criam suas identidades e plantam uma nova geração. Talvez ainda presa às raízes do passado, mas cheia de conquistas e decepções a acrescentar. Jovens buscam auto-afirmação. A juventude, ou pelo menos parte dela, tenta colocar os pés no chão de forma firme para ter segurança sobre o caminho a seguir. Estejam eles expostos na internet, seguindo os dogmas das religiões ou presos às drogas. No fundo, os jovens do século XXI temem o futuro e sonham com dias melhores. Assunto abordado com freqüência pela mídia, buscamos dar fala aos jovens, observando a visão deles. Também somos jovens, cheios de medos e expectativas. Não é nossa tentativa entender ou conceituar a juventude. A segunda edição do SobPressão quer, na verdade, informar e debater sobre o que pensam os jovens.

Opinião

O que é ser jovem? Ser jovem é quebrar a cara mas ter a facilidade de se reerguer e nunca desistir. Ele tem uma força na veia. Clarissa Melo, 20, universitária

É se divertir, enfrentar a realidade e ganhar experiência na vida.Haroldo Adjafre, 17, estudante Ser jovem é ser dinâmico, inovador, é questionar. Tainá Almeida, 20, universitária

Explicar o que é ser jovem é difícil. É a fase do sim e do não, uma fase de dúvidas. Pedro César, 17, estudante

Ser jovem Ser moderno, ser vivido, ser crítico, ser contestador e ser transformador. A juventude é uma mescla de impulsos e inocência, sentimentos estes atrelados à rejeição e à curiosidade. Emoções à prova diariamente, do acordar ao crepúsculo, vidas que seguem com intensidade, num ritmo frenético, alicerçado pela falsa e bela impressão de eternidade. Esses tipos de sentimentos podem ser associados a qualquer época do mundo onde existiu um jovem. Eles são seres únicos, seres que hoje se relacionam carnalmente mais cedo, usam drogas mais pesadas, seres com mais autonomia, seres que dão seu grito de liberdade precocemente, porém a essência desses seres sempre será a mesma, a pureza e a avidez são elementos compostos do seu sangue e isso os torna diferentes. Dúvidas e provações são infinitas, fantasmas de escolhas os seguem como sombras, as atitudes conflitantes recheadas de medo turvam a luz concreta do fim e assim eles seguem. Ser jovem no fundo é muito simples, ser jovem é ser imprevisível, ser jovem é sentir medo, ser jovem é sentir calafrios, ser jovem é sentir, sentir em tudo e apenas sentir.

Ser jovem é encarar novos desafios, ser ousado, ter atitude, formar personalidade tendo caráter. É viver moral em um mundo sem moral. Ser jovem é muito complexo. Gabriel Avelar, 22, universitário É ir atrás dos seus direitos, protestar, mesmo que aquilo que você fale não seja aceito. E nunca desistir. Yany Porto, 17, estudante

Matheus Velasco Salvany (4 sem/ jornalismo)

Expediente Jornal Laboratorio do Curso de Jornalismo - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso - Fundação Edson Queiroz - Universidade de Fortaleza (Unifor) - Centro de Ciências Humanas - Chanceler: Airton Queiroz - Reitor: Carlos Alberto Batista - Vice-Reitor de Ensino de Graduação: Wilhelmus Jacobus Absil - ViceReitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Antônio Carlos Morano - Vice-Reitor de Extensão e Comunidade Universitária: Randal Martins Pompeu - Diretor do Centro de Ciências Humanas: José Batista de Lima - Coordenadora do Curso de Jornalismo: Erotilde Honório - Reportagem e Edição: Emanuela França, João Henrique, Helenira Cartaxo, Manuela Barroso e Sheila Raquel - Fotógrafos: Emanuela França, João Henrique e Helenira Cartaxo - Projeto Gráfico: Aldeci Tomaz - Diagramação: Aldeci Tomaz e Eduardo Freire - Fotos da capa: João Henrique - Professor orientador: Nilton Melo Almeida - Conselho Editorial: Eduardo Freire,Geísa Matos, Jocélio Leal, Marcelo Raulino, Nilton Almeida e Paulo Ernesto Serpa - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 1000 exemplares - Colaboraram nesta edição: Silvia Maria Alves e Sheila Vidal.

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Internet

‘Narcisos’ invadem a grande rede Jovens expõem suas vidas na Internet por meio de blogs e fotologs, fazem relacionamentos virtuais e preferem ficar online a sair de casa para se divertir. por Manuela Barroso

Vício Os atrativos da Internet são tantos que muitas vezes os jovens deixam de sair de casa e ter uma vida social para ficar no computador. “Há alguns anos eu passava noites em claro jogando ou acessando chat. Fui ao médico e fiz exames, pois não me alimentava legal, o social estava ficando prejudicado e passei mal algumas vezes”, confessa Kerginaldo. Para Nabirra Acário, 23, estudante de Arquitetura, isso ainda é bastante comum. Ela também já preferiu passar horas online a sair. “É viciante! Nada melhor do que estar no conforto da sua casa se divertindo no computador”, afirma.

Na era da Internet os jovens estão cada vez mais apegados à tecnologia e suas formas de expressão. Muitos deles chegam a passar horas em frente ao computador navegando pela grande rede. Seja de casa, da escola, da faculdade ou de cyber cafés, eles estão constantemente à procura de novos relacionamentos, conhecimento e até uma certa auto-afirmação e exposição, que é o caso dos blogs e fotologs. Diários e álbuns de fotografias, respectivamente, onde os internautas escrevem sobre diversos assuntos e publicam fotos pessoais. O analista de sistemas Kerginaldo Neto, 24, passa cerca de duas horas por dia acessando a Internet durante a semana. Aos sábados e domingos, o tempo varia, porém seu computador permanece ligado 24 horas. “Normalmente, em casa fico no computador e como tenho internet a cabo, estou sempre online, mesmo que esteja fazendo outra coisa como estudando ou pesquisando”, diz. Passar o tempo tornou-se o principal objetivo de Kerginaldo ao acessar a grande rede. “Para os hiperativos é uma maneira de se manter ocupado e evitar o estresse. Sempre tem alguém online para puxar uma conversa, dá pra saber os locais para sair no final de semana, buscar músicas novas, comprar algo e jogar com outras pessoas”, assume o analista de sistemas. Para ele, é possível fazer tudo pela Internet, compras, baixar músicas, programas, livros, bate-papo, blogs, fotologs, notícias e até conhecer pretendentes. Banco de Idéias Segundo Kerginaldo, a grande rede é excelente fonte de pesquisa para a sua profissão. “Existem diversos sítios, fóruns e livros sobre Informática, computadores, desenvolvimento de jogos e afins. E sempre que você precisa de alguma solução mais trabalhosa encontra uma idéia para o problema”, conta. O analista de sistemas também possui um blog há nove meses. O Blog dos Gadolas surgiu com a idéia de ser um ponto central para ele e mais cinco amigos (que moram em cidades diferen-

sar ou o que vão comentar, você simplesmente joga lá o que vem na cabeça, já que quem vai ler, teoricamente, são seus amigos”.

tes) trocarem idéias e se manterem atualizados sobre o que estão fazendo. “Começou assim e a princípio o blog não tinha a intenção de levar isso a outras pessoas que não ‘os gadolas’”, mas atualmente muitas outras pessoas têm acesso ao que eles escrevem e também participam dos temas abordados no diário. Para quem não conhece, os blogs possuem três espaços: O principal é o post, onde o dono do diário escreve o que quer todos os dias. Em outro, ele faz seu perfil, põe nome, idade, assuntos de que gosta e sobre o que trata o blog. E por último vêm os comentários,

onde os visitantes opinam sobre o que foi postado. É aí que começam os contatos com outros internautas e “blogueiros”. “O que tenho achado mais interessante, são as novas amizades que a gente vem fazendo, muitas delas ainda virtuais. A cada dia são novas pessoas que aparecem, pessoas com quem nunca trocaríamos uma idéia acabam dando opinião e discutindo sobre temas que de alguma forma nos afetam”, diz Kerginaldo. Quanto aos resultados que o diário lhe trouxe, ele garante ter encontrado um lugar para descarregar o que está passando. “Não importa o que vão pen-

Nabirra, que possui um fotolog na grande rede, acha que isso é uma forma de narcisismo. “É legal saber que tem alguém vendo as coisas que você faz”, confessa. A estudante passa de quatro a cinco horas online e não costuma entrar em salas de bate-papo, mantendo contato apenas com amigos e familiares. “Não tenho interesse em conversar com pessoas que não conheço. Muitas vezes falo com a minha mãe que mora fora do país e ela sempre me ver pela webcam. Isso é demais!”, comemora Nabirra. Kerginaldo entra em chats freqüentemente para fazer novas amizades. Segundo ele, as conversas são superficiais em um primeiro contato, sempre se identifica mas tem o cuidado de não dar endereço, telefone ou algum dado pessoal logo de cara. “Mas muita gente é desconfiada a ponto de inventar nomes ou histórias e de evitar passar um e-mail ou uma foto”, diz. Ele teve várias oportunidades de conhecer pessoalmente os amigos que fez pela Internet e, nesse caso, mantém a precaução de trocar e-mails e telefonar antes. Em um desses relacionamentos virtuais está um namoro de três anos. “A menina com quem namorei foi a segunda pessoa que conheci pessoalmente. Passamos quase um mês conversando por telefone, nos encontramos outras vezes até que namoramos”, conta. É muito simples ter um blog ou um fotolog. Os grandes portais nacionais possuem esse tipo de serviço para seus assinantes e alguns são gratuitos. A Internet é um meio de comunicação de grande alcance, chega aos olhos e aos ouvidos de pessoas do mundo inteiro. É uma junção de jornal impresso, livro, televisão, rádio e telefone. É impossível não se encantar e não querer fazer parte deste universo, principalmente com a facilidade que a tecnologia permite. Basta um clique! Junho/2004

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Drogas

“Só por hoje, não se deve usar nunca mais” Mais do que necessidade, admitir a dependência química como doença é a ponte para a recuperação das drogas. Agora, em recuperação ou tratamento, jovens se assumem como adictos e sabem que possuem uma doença incurável, cujo tratamento só depende deles. por Emanuela França

Sete tentativas de suicídio e dois começos de overdose. Dos 23 anos de vida, seis foram inteiramente dedicados às drogas, chegando ao fundo do poço com o crack. O uso compulsivo dos químicos acarretou muitas perdas, desde o emprego até a casa onde morava. De repente, ela se viu sem nada, o descontrole a fazia querer usar sempre mais. E pelas drogas valia qualquer coisa, começaram então os assaltos, envolvendo muito dinheiro. Em um mundo anti-social, só existiam as drogas e ela. Uma semana sem comer, quinze dias sem dormir, o dia foi trocado pela noite, a vida trilhava um caminho destrutivo. O corpo já se encontrava em completa falência física, espiritual, mental e emocional. Com problemas cardíaco e digestivo, além de dificuldades no raciocínio, Márcia Leite se rendeu. “Se eu não tivesse vindo para uma instituição, provavelmente estaria presa ou teria morrido de overdose”, diz. Hoje, consciente das perdas e dos danos causados pelas drogas, Márcia sabe que é vítima de uma doença incurável, cujo tratamento só depende dela. O primeiro passo foi admitir a impotência perante sua adicção. “A ilusão é achar que a gente pode usar só a primeira”, alerta. A incapacidade de encarar a vida como ela é faz com que o adicto, mesmo sabendo da “roubada” que são as drogas, tenha sua vida controlada pelos químicos. “A droga te completa em tudo. Não vou mentir, não, a droga é boa”. Tanto quanto qualquer outro adicto, Márcia conhece os prazeres que as drogas proporcionam. Existem pessoas que experimentam a droga e, insatisfeitas, com sensação de mal-estar, nunca mais usam. Os adictos, só com o cheiro, já têm vontade de usar hoje,

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amanhã e depois. São donos de reação alérgica aos químicos. Em sua primeira internação, Márcia quer fazer diferente. O tratamento de quatro meses de duração, oferecido pelo Instituto Volta a Vida (IVV), na Lagoa Redonda, em Fortaleza, adota uma programação que busca resgatar os valores do adicto. Nesse período, o interno tem direito a receber visitas de quinze em quinze dias e um telefonema por semana, com duração de dez minutos. Após três meses, ele deve sair de visita, passando cinco dias em casa. Volta para o Instituto e conclui o tratamento em mais um mês. A doença é uma só, mas são muitos e diferentes os casos que chegam às clínicas de tratamento. Segundo os próprios adictos em recuperação, somente dois tipos de pessoas não se recuperam, o louco e o desonesto. Ainda assim, o louco tem 30% de chances. Mas o desonesto não, pois o primeiro passo para a recuperação reside no ato

de admitir a impotência perante as drogas e ele não é honesto o suficiente para assumir tal carência.

Uma nova vida em Doze Passos “O fundo do poço de cada um tem diferenças. O meu foi muito horrível, eu cavei até a pedra, perdi muita coisa. Eu perdi tudo que um homem pode perder. Só não perdi a vida”. Aos 13 anos, a curiosidade levou Ney Alexandre, hoje com 34, a experimentar as drogas. Nesse tempo ele ainda não sabia, mas possuía a adicção. Com dificuldades de se relacionar com outras pessoas e de encarar os problemas rotineiros da vida, ele precisava de uma solução, que a princípio veio com a droga, pois “tapava tudo isso”. Com os químicos, Ney conseguia superar a vergonha, ficava mais fácil se adequar em turmas de jovens, enfrentar situações ou encarar uma

menina. O que ele não compreendia é que estava colocando uma barreira no seu desenvolvimento natural. De repente, a droga tinha tomado todo o espaço da sua vida, não restou lugar para a família, amigos, estudo e trabalho. “A minha mente doentia ia sempre criando motivos para eu permanecer no mundo das drogas, no mundo do vício”, comenta sobre seus 20 anos de adicção ativa. O programa de Doze Passos dos Narcóticos Anônimos (N.A.) deu a Ney uma nova maneira de viver. Dentro da instituição, ele via, em cada companheiro, o seu espelho 24 horas atrás. Com o fim do tratamento, sentiu a necessidade de ir além, se parasse naquele momento saberia apenas uma única verdade, a dele próprio. Ser conselheiro do IVV tornou-se uma troca de experiências, um aprendizado a mais. E ver outros adictos se recuperando foi para Ney uma grande alegria, “um salário muito bem pago”. “Acreditamos que todo adicto, incluindo o adicto em potencial, sofre de uma doença incurável de corpo, mente e espírito”. Baseada nisso, a filosofia da Irmandade de Narcóticos Anônimos não procura, em momento algum, a cura para adicção. Objetiva um plano comprovado para recuperação diária, que segue o programa de Doze Passos, adaptado dos Alcoólicos Anônimos. “Só por hoje, você não tem que usar nunca mais”. Ninguém é capaz de convencer um dependente a largar as drogas. No auge da sua adicção ele se dá conta do labirinto em que se meteu, no fundo sabe que não pode ganhar, que é integrante de um jogo onde não existe vencedor. Só a identificação como adicto torna a ajuda possível. Na recuperação, “através da abstinência e da prática dos Doze Passos de Narcóticos Anônimos, nossas vidas tornaram-se úteis”, descreve o livro de N.A.


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“A conseqüência do nosso comportamento nos leva ao uso de drogas”. Neimar Bueno, 33, há sete anos limpo, coordena o Instituto Volta a Vida (IVV) há dois anos e quatro meses. Convive com adictos em recuperação diariamente, homens e mulheres, acima dos 13 anos. O tratamento do IVV é baseado na certeza de que a dependência química se caracteriza pelo comportamento. O uso das drogas faz com que os valores do dependente fiquem omissos. Transformando-se em pessoas cheias de defeitos de caráter. O tratamento oferecido pelo IVV procura resgatar esses valores por meio de princí-

pios espirituais, como eles denominam. A prática desses princípios vai ser adquirida no dia-a-dia, não se aprende da noite para o dia.

Diferentes filosofias, um só objetivo Outras instituições, em Fortaleza e regiões próximas, seguem sua própria filosofia. Em Pacatuba, existe a Fazenda Esperança, mantida pela Canção Nova. O Volta Israel, localizado em Itapipoca e no Eusébio, é uma realização do Shalom. Com vínculos religiosos, há também a Vila Serena. Dois hospitais também atendem esse tipo de caso em Fortaleza, o São Gerardo e o

Depois de chegar ao fundo do poço, a recuperação O depoimento abaixo é de Celso Eduardo, 19, adicto em recuperação. Limpo a seis meses, Celso fez seu tratamento no Instituto Volta a Vida (IVV) e freqüenta, cerca de três vezes por semana, a sala dos Narcóticos Anônimos. Tenho 19 anos e durante sete anos da minha vida todos os meus pensamentos estavam nas drogas, conseguindo e sempre querendo mais. Sem as drogas não vivia, tinha que usar para viver. Eu sou um adicto. No início pensava em parar na semana e usar no fim-de-semana, com o tempo não conseguia pensar em viver sem a droga. Adquiri uma doença anti-social e não sabia, pensava sempre que estava certo. Quando era tratado como devia, como doente, me rebelava e me isolava cada vez mais. Tentava controlar tudo a minha volta mentindo, roubando, trapaceando e me vendendo. Já não sentia bem-estar em ser drogado. No início justificava em tudo meu uso, mas com a progressão da minha doença não precisava mais justificar, e sim usar. Sentia orgulho de ser “malandro famoso” no bairro e esquecia dos momentos em que me isolava chorando e me consumindo em medo e auto-piedade. Meus sentimentos foram totalmente afetados pelo uso, meu coração ficou pedrado, não expressava mais sentimentos e coloquei em

risco o grande amor da minha família. Me perguntava constantemente por que, se e quando aquele pesadelo iria terminar, não tinha mais sentido de vida. Minha experiência mostrava que não estava certo aquela maneira de viver, queria uma saída fácil, tentando algumas vezes suicídio. Sabia que estava totalmente incontrolável, mas não assumia para os outros. Vivia em outro mundo nunca limpo. Tive que ser preso algumas vezes e chegar ao fundo-do-poço, mas mesmo assim não pedi ajuda. A ajuda veio pela minha família, no início não aceitei, mas com o tempo pude enxergar com meus olhos o estado em que tinha chegado. Era preso aos problemas do passado, no presente só pensava em usar e o futuro para mim era morrer usando drogas. Era escravo da droga e já não tinha mais esperança de parar de usar e nem de viver. Não sou responsável pela minha doença, mas sim pela minha recuperação. Compreendi que nunca estarei curado, mas que posso me recuperar a cada dia. Estou convencido que para mim só existe uma maneira de viver bem, é em N.A.

Mental de Messejana. Ressalte-se que cada instituição ou hospital adota um tipo de tratamento, com suas regras e filosofias, só o objetivo é único. O tratamento do IVV, com base na prática dos Doze Passos, trabalha com algumas literaturas de apoio. Como, por exemplo, a que trata do sentimento da raiva, comum em qualquer ser humano, mas prejudicial ao dependente químico, que transforma a raiva em algo derrotista. O objetivo da literatura pretende fazê-lo ficcionar este sentimento, ao ponto de deixá-lo controlar seu comportamento. “É preciso falar sobre a raiva, questioná-la, descobrir o seu porquê, para que esse sentimento se amenize, explica Neimar Bueno. Outra literatura, que trabalha diretamente com o comportamento, é o que os adictos chamam de Rei Bebê. O uso dos químicos estaciona a idade emocional, ou seja, o adicto usa drogas dos 13 aos 20 anos, a idade emocional não o acompanha. Com 20 anos vou ele tem as mesmas reações e emoções de um adolescente de 15, no máximo. A literatura busca fazer com que a pessoa crie certa maturidade diante da vida e de seus próprios comportamentos. “Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis”. Este é o primeiro passo do N.A. Quando o adicto utiliza a expressão fundo de poço ele quer dizer que não possui nada, daí o segundo passo: “acreditamos que um poder maior que nós poderia devolver-nos à sanidade”. No terceiro passo o adicto entrega sua vida aos cuidados de Deus, da maneira como ele O compreende. Como todo o passado reflete nos dias de hoje dentro da adicção, o quarto passo pede ao dependente um inventário da vida dele, uma descoberta de quem realmente ele é. Com o inventário nas mãos, cabe ao adicto, no quinto passo, decidir o que fazer com tudo que ele representa. A chave para a liberdade está nas mãos dele. “Mesmo permanecendo sem usar, continuamos compulsivos, obsessivos e egocêntricos”, complementa Neimar. Sem cura, a doença deve ser tratada diariamente. O tratamento do IVV acaba ao fim do

quinto passo, mas a recuperação do adicto continua. Aqui fora, na sua rotina, um dia por vez, ele vai basear a sua recuperação nos Doze Passos. Recomenda-se que o adicto freqüente as salas do N.A., estando em contato direto com a programação e com outros adictos em recuperação. Os passos devem conduzir a uma mudança de vida, como diz o décimo segundo, “tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”. A quantidade usada não importa, o que faz uma pessoa ser adicta é a sua reação perante as drogas. Enquadrando aí qualquer tipo de substância que altere o ânimo ou a mente, provocando problemas em qualquer área da vida. Muitos adictos recaíram por achar que com o álcool seria diferente, mas não é, o álcool também é uma droga. Pensar o contrário é como acreditar no “e se”, “se apenas” e “só mais uma vez”. Preso a ilusões o adicto vive sempre propenso a recair. A cada dia surge nova oportunidade para o adicto, esteja ele na ativa ou em recuperação. Mas para os que assumem sua impotência, um novo caminho se abre. Nessa caminhada, cada passo deve ser dado com a certeza de que “só por hoje, não se deve usar nunca mais”. Na impossibilidade de modificar a natureza do adicto ou da adicção, deve haver uma busca constante pela modificação da velha mentira de que, “uma vez adicto, sempre adicto”, como tenta a Irmandade de Narcóticos Anônimos, esforçando-se para tornar a recuperação cada dia mais acessível.

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Religião

por Sheila Raquel

Eles estão na contramão do “protótipo” de juventude pintado pela sociedade. Não são rebeldes, individualistas ou liberais. Buscam ser diferentes e originais, assumindo postura que, a princípio, pode-se dizer que vai de encontro ao comportamento dos “jovens do mundo”, como eles mesmo classificam. São os jovens que se dedicam a religião, e encontram seu mundo na igreja. Freqüentar cultos e missas já não é considerado “chatice”. Integrar grupo de oração é um momento de encontro, com Deus e os amigos. E assim as experiências se multiplicam, com a participação de jovens entre 13 e 30 anos de idade. Nos segmentos católico e

evangélico, eles se reúnem por semana para louvar a Deus, cantar e orar. Fora encontros rotineiros, costumam se encontrar extra-grupo para fazer trabalhos voluntários, voltados à comunidade da qual participam, ou mesmo aos segmentos carentes da sociedade. Realizam shows e outros eventos para a juventude, onde dizem que a diversão ultrapassa um simples momento. “É a festa que não passa”, define a estudante Andréia Moreira, 17, que deixou de brincar o Fortal, carnaval fora de época de Fortaleza, para ir ao Halleluya, promovido pela Comunidade Católica Shalom. Para Andréia, que foi ao Halleluya pelo segundo ano consecutivo, o evento representa uma oportunidade não só de se divertir, mas de encontrar pessoas em que se pode confiar, compartilhar experiências e até mesmo namorar. “Sim, porque onde tem jovem sempre pinta um clima. A diferença é que uma pessoa que vai a um show da igreja está buscando o mesmo que você. Então não vai querer se aproveitar. Não é assim, chegar e ‘ficar’, como acontece por aí. Há toda uma preparação com maior probabilidade de existir algo mais sério. Quem tem Deus não brinca com os sentimentos de ninguém”, explica a garota.

Manoel e Renato: Casados há quatro meses

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E é justamente visando um relacionamento “aprovado por Deus”,

que os participantes de grupos de oração seguem orientações de pastores e coordenadores. No Shalom, por exemplo, os pretensos namorados procuram o pastor do grupo para orar junto com eles e pedir a Deus discernimento sobre a viabilidade da união. Andréia garante que não há interferência. “O pastor pode até dizer: nas minhas orações essa pessoa não é para você, porém a decisão quem toma é a gente. Muitas vezes ele está certo, porque pela fé é possível enxergar além. Por isso é sempre bom seguir a orientação, mas isso é livre”. União pela fé A coordenadora do grupo de oração Novo Caminho, no bairro Dionísio Torres, Lídia Castelo Branco Oliveira, 22, conta que entre as lideranças do grupo a tendência é uma aproximação. Ela se apaixonou pelo Ministro da Eucaristia Marcos César, 34, e em um ano e dez meses de namoro eles estavam casados. Lídia diz que, por serem exemplos para o grupo, o namoro dos dois tinha realmente que “ser fruto da vontade de Deus” e, portanto, uma decisão muito séria a ser tomada. “Como pastora, tenho meu coordenador. Conversei com ele, rezei muito por esse momento. Passamos um mês para começar a namorar, mas tem gente que passa um ano”. A identificação religiosa foi fundamental para o namoro de Lídia e César, segundo ela mesma diz: “Minha vida é o grupo. Não são todas as pessoas que iriam aceitar. É preciso participar para entender meus pensamentos, minhas posições”. A jovem coordenadora começou a freqüentar grupos de renovação carismática com 13 anos, e sempre pensou em ter uma família

estruturada como a sua. “Claro que só por ser um relacionamento de Deus, foi possível saber que o Marcos era a pessoa certa para mim, num espaço tão curto de tempo. Se ele não fosse do grupo, não teria confiança para tanto, aliás, não teria nem namorado com ele”, ressalta. Igreja é opção A obreira - auxiliar da cerimônia evangélica - Renata Olímpio, 24, da igreja evangélica Deus é Amor, é casada com o pastor Manoel Olímpio Teixeira, 21. Os dois se conheceram durante o culto dos domingos, porque as reuniões diárias de jovens são separadas. Homens e mulheres ficam em grupos diferentes para não desviar a atenção, mas ainda assim, a orientação é para que eles namorem entre si. “A igreja não aceita que a gente vá a clubes, discotecas e praias, para não dar brechas ao pecado. Por isso, não podemos namorar com jovens de outra congregação, senão dá problema e a gente fica indisciplinado”, conta Renata.


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Adolescentes buscam auto-afirmação em Deus Situação sócio-econômica influênciam atitudes

O casal namora durante um ano, sempre acompanhado dos pais, da conselheira, ou de um adulto casado e de “bom testemunho”. Se não casarem nesse período, têm mais dois anos, caso também não resolvam nada, se separam. “O crente é decidido. Não é de ‘ficar’, enrolar ninguém. Fazemos isso para nos diferenciar sempre da realidade do mundo”, justifica a obreira, lembrando ainda que a moça que não for mais virgem não pode casar de branco.

dos anticoncepcionais, inclusive preservativos. A orientação é que o casal aguarde a vontade de Deus, e faça uso apenas da tabela-método contraceptivo sugerido pela igreja católica. A relação sexual também não pode fugir aos padrões tradicionais. “Porque se passar disso, abomina os olhos de Deus”, alerta Renata.

Por que os jovens procuram a religião e aceitam seguir suas regras de conduta? Para especialistas, a resposta a esse questionamento passa pela situação sócio-econômica do país hoje. Num futuro incerto, quando a competitividade no mercado de trabalho exige capacitação, a dificuldade em ter acesso a essa preparação leva a outros fatores como fome, violência e desemprego. A tendência dos adolescentes, que se firmam como cidadãos, é reagir de alguma forma. A socióloga Celecina Maria Veras, coordenadora do grupo de pesquisa sobre juventude da UFC, diz que os jovens encontram na religião uma forma de rebeldia que supera a tradicional. Eles interagem com colegas que têm a mesma necessidade de auto-afirmação, e se sentem úteis ao realizar trabalhos voluntários. Por meio da fé, se submetem a regras, mas segundo Veras, tais regras se vinculam a uma causa, como os movimentos estudantis da década de 60. “Todo grupo cerceia um pouco de liberdade em nome de um objetivo. No caso dos religiosos, ‘salvar’ outras pessoas é transformar a sociedade”, afirma ela. A psicóloga social Isolda Castelo Branco, professora do mestrado em Administração da Unifor, acrescenta que na busca dessa auto-afirmação, os jovens não encontram, como no pas-

Tanto Renata como Lídia mantiveram a castidade até o casamento por opção própria. Elas dizem que em momento algum isso prejudicou a relação na época de namoro e noivado. As duas não fazem uso de contraceptivo, a não ser a tabela. “A igreja defende que o relacionamento tem que ser unitivo, antes de ser procriativo. Então, o sexo não é para procriar, mas também para unir o casal. Não engravidei porque não é o momento”, conta Lídia. A igreja que Renata freqüenta também não aconselha o uso de méto-

Domingo à tarde - Grupo de oração Emanuel, do Conjunto José Walter, encontra na religião a diversão do fim de semana

sado, motivo para lutar por um ideal político. Estão céticos com a possibilidade de participar e se engajar no governo atual, e assim, procuram um sentimento de pertença, “um lugar que lhes dê algum tipo de segurança e estabilidade para enfrentar as turbulências interna e externa que estão vivendo”. Mas a atitude da juventude em se engajar nos movimentos religiosos, é, para a psicóloga, Verônica Salgueiro, professora do curso de Psicologia da Unifor, reflexo da realidade ampla e complexa que faz a adolescência. Salgueiro diz que jovem não é tudo igual, rebelde ou liberal. “Vamos encontrar jovens com comportamentos diversos, pois tais atitudes sofrem várias influências do meio ambiente físico e social”, comenta. Isolda concorda que as “turmas” seguem diversos caminhos. Uns se embriagam ou usam drogas para fugir da realidade, outros passam o tempo diante do computador em busca de comunicação e sexo, há ainda os que se engajam em movimentos políticos, e os que participam de grupos religiosos. Defende Isolda, que na religião, os jovens esperam encontrar a ordem de que tanto necessitam, para que tais regras, ausentes em suas famílias, possam ajudá-los num processo de organização interior. “Diante da banalização do sexo, drogas, falta de diálogo com os pais e sem perspectiva de um futuro melhor, eles ainda estão indo para outro extremo, radicalizando suas atitudes de outra maneira, até como forma de protestar”. Isolda analisa a influência do grupo nas atitudes dos jovens religiosos. “O adolescente não se sentirá estranho ao agir da mesma forma que os outros agem. O grupo serve de espaço de ressonância para suas dúvidas e angústias”. Isolda destaca que os jovens são, por excelência, gregários, necessitam de um útero social. “Nesses movimentos, eles encontram pessoas com os mesmos objetivos, buscando as mesmas respostas para suas questões existenciais”, conclui. Junho/2004

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Sexo

Pesquisas revelam caretismo e vida sexual mais cedo Foto: João Herinque

por João Herinque

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exo. Este é um tema que ainda causa desconforto a vários adolescentes. Muitos se negam a comentar ou têm receio de se identificar, devido à timidez. A sociedade, apesar de toda sua evolução e de lutas pela conquista de direitos, ainda pensa de forma arcaica: a temática da sexualidade é pouco discutida, mas explorada pela mídia. Durante as entrevistas para esta matéria vários jovens afirmaram que o assunto está em todo lugar e hora, seja em propagandas, principalmente as de bebida alcoólica que mostram lindas modelos bebendo ou nos folhetins diários televisivos, com cenas de nudez e eróticas que passam em horários não aconselháveis. Mas com tanta difusão e pouca discussão, o que pensa o adolescente? A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) divulgou este ano o resultado de uma pesquisa realizada em 2001, em 14 capitais do país, com 16 mil estudantes de escolas públicas e particulares, da quinta série do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio. Os alunos tinham entre dez a 24 anos e, além deles, pais e educadores também foram ouvidos. O estudo revela que os jovens estão começando a sua vida sexual cada vez mais cedo, entre dez e 14 anos para os homens, que são muitas vezes pressionados pelos amigos, enquanto as mulheres, a partir dos 15. A maioria deles (55%), incluídos homens e mulheres não dá tanta importância à virgindade. Mais bem informados do que as gerações passadas, por meio principalmente da mídia, os adolescentes de hoje alimentam dúvidas, que ficam quase sempre sem respostas, por não haver a quem perguntar. Nos colégios

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as aulas de educação sexual estão presentes, fazendo parte do cotidiano dos alunos, apesar disso, segundo a pesquisa da Unesco, 27% dos professores não adquiriram informações suficientes sobre o tema. Este número aumenta para 40%, quando se trata dos pais. Marília Miguel, 14, classe média, diz que o seu colégio não tem aulas sobre sexualidade, contudo o assunto é visto na disciplina de Sociologia. Suas outras fontes de informação são revistas, a televisão e o ginecologista. “Não tenho facilidade de falar com meus pais sobre este assunto. Eles são caretas”. O “caretismo” também é evidente entre os jovens, segundo pesquisa do Instituto da Cidadania, em parceria com o Sebrae e Instituto Hospitalidade e divulgada pela revista Isto É na edição do dia cinco de maio. O levantamento, realizado em áreas urbanas e rurais, com mais de 3.500 adolescentes, evidencia que a maioria prefere relações estáveis a “ficar”, uma relação sem compromisso que ganhou adeptos nas décadas de oitenta e noventa. E quanto ao namoro, oito em cada dez jovens insistem na fidelidade. Eles acreditam que sem ela não há amor. O desejo de relacionamentos estáveis é contestado por Thais Leo N. Paula, 14, que ainda acredita no amor romântico, embora prefira experimentar. “Não sou de esperar a pessoa ideal, ela não existe.” Já seus amigos, Marianna Fonteles M. Barroso, 15, e Matheus Barros Rodrigues, 19, pensam diferente. “Eu acredito em romance e amor, apesar de recentemente ter sofrido uma decepção amorosa”, afirma Matheus. Marianna concorda com o amigo e defende que o romance e o início da vida sexual devem ser feitos com responsabilidade, sem levar em consideração a idade. Ela acha correto que as

Marília: “Meus pais são caretas” mulheres levem camisinhas em suas bolsas. “ O preconceito é grande, quando se vê uma menina com camisinha acham logo que ela sai ‘dando’ para qualquer um, sem pensar que ela pode estar querendo apenas se prevenir quando e acaso ocorra. Elas devem carregar, sim” Deste preconceito a maioria dos homens está livre. Os amigos Ulisses Teixeira Silva, 16, Brenno Goyanna, 15, e Renato Barreto, 15, declaram que possuem um bom conhecimento sobre sexua1idade e que conversam constantemente com os pais, principalmente

sobre a utilização da camisinha e DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), com destaque para AIDS. Brenno e Renato acreditam que a iniciação dos jovens cada vez mais cedo na vida sexual se dá pelo grande número de informações. “Na época dos meus pais ninguém comentava sobre isso, hoje você vê em todo canto”, afirma Renato. Apesar do conhecimento, nenhum deles tinha uma camisinha na hora da entrevista (a utilizada na foto é do fotógrafo).

A pesquisa da Unesco revela que 63% dos jovens utilizam preservativos


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em suas relações sexuais, mas não todas as vezes. O descaso ocorre sobretudo com casais que estão há mais tempo juntos e possuem maior confiança um no outro. Algumas mulheres também sentem vergonha e temem a reação do parceiro, por isso evitam pedir que eles coloquem a camisinha e, desta forma, aceitam o risco de contrair doenças ou de engravidar. O medo de gerar filhos é considerado por eles o principal motivo para utilização de métodos preventivos Desde a década de 70 a média de filhos por mulher no Brasil diminui, caindo de 5,76 para 2,38 em 2000. Mas o número de mulheres grávidas, com idade de 15 a 19, só fez subir durante o mesmo período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, os jovens brasileiros são mais bem informados sobre métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis, mas não se cuidam. A mesma pesquisa revela que a cada dez estudantes no Brasil, uma

se torna mãe antes dos 15, ficando claro que é mais difícil uma adolescente entrar numa universidade - só 7% conseguem - do que engravidar -14%. Os jovens de hoje não percebem mais uma distinção clara do que é correto ou errado. Nos dias atuais tudo está mais complexo e não há um exemplo claro a ser seguido. Quem são os heróis desta geração? Em quem se espelhar, quando observamos pessoas se humilhando para conseguir fama e dinheiro na televisão? Belas mulheres que utilizam seus corpos para conseguirem o que querem, isto é certo? De quem é a culpa? Dos pais, que deixaram a sociedade ficar desta forma para os filhos? Ou os próprios filhos que a modificaram? Para estas perguntas sugiro o conselho do grande escritor brasileiro, um mestre da temática da sexualidade, Nelson Rodrigues: “Envelheçam, meus jovens. Envelheçam rápido”.

Matheus, Thais e Mariana , amigos mas com idéias diferentes

Fotos:João Herinque

Ulisses, Brenno e Renato: os pais falam com eles

A educação sexual de nossos pais “Amar, ser amada, viver em companhia de outro para ajuda mútua, foi sempre o sonho das moças e é, ainda, de modo especial, o sonho das jovens operárias de vida trabalhosa e rude.” É assim que começa o livro educativo “A serviço do amor”. A matéria sobre sexualidade na adolescência evidencia que os jovens de hoje possuem um conhecimento maior do que os da gerações passadas, devido principalmente a maior liberdade sexual e grande exploração do tema pela mídia . Mas e nossos pais? Como eles adquiriam orientação sobre o assunto? “A serviço do amor” “livro asseado, claro, decente” é na verdade, dois livros, uma edição feminina (do qual o texto acima foi retirado) e uma masculina, criada em 1939 pelos franceses J. Carnot e sua filha Edith Carnot, que eram entregues às pessoas quando iam casar. Por serem obras antigas, elas reve-

lam o pensamento de uma época em que o feminismo ainda “engatinhava” e as liberdades sexuais eram mínimas. “ O autor recomenda não se deixar esta brochura ao alcance dos jovens adolescentes que não estão em idade de a ler com proveito”, avisa a edição masculina. A versão feminina começa falando sobre a melhor forma de compreender o amor (sempre pregando a decência e o pudor), a grande função de ser mãe ( alertando as jovens casadas dos riscos que correm as mulheres que não querem ter filhos, “ Enfim, recusar a ter filhos é arriscar a matar o amor”), ser a “guardiam do lar” (como tomar conta da casa e cuidar de forma correta dos filhos). A edição masculina parece um livro de biologia, começa com a descrição do aparelho genital masculino e feminino, alertando sobre os perigos das “falsas manobras” (masturbação; o “pulo do carneiro”, ou coito interrompido; “o

jogo do Bidé”, ou lavagens e injeções ácidas aplicadas na vagina após o ato sexual; e o “pot de colle”, a camisinha da época, usada pela mulher e feita de metal ou celulóide). Fala sobre a fecundação e a gravidez, sobre os perigos das DST mais comuns da época, como a sífilis, e a importância sobre a castidade antes do casamento, afirmando que ela não faz mal a saúde. Depois o livro começa a tratar a respeito do amor. É desta forma, em ordem inversa, a da versão feminina, onde a orientação a respeito do corpo humano fica para o segundo momento. Em um ponto as duas versões convergem: são os inimigos externos do amor, como as revistas pornográficas, as prostitutas e as leis que facilitam e autorizam o divórcio. Em relação aos magazines, segundo os autores, elas não atentam apenas ao amor verdadeiro, mas prejudicam a saúde física e mental dos

adolescentes e eles afirmam que “ Só há um remédio, e um remédio que é mais do que tempo de empregar-se: é a supressão radical de tôdas essas publicações pornográficas.” Já as prostitutas e, desta forma, a devassidão, mata a energia, faz perder o senso de responsabilidade, estraga o coração e muitas vêzes arruínam o corpo. O pior inimigo de todos é o divorcio “...é um terrível êrro, que faz à família um mal incalculável”, para esta afirmação os autores colocam várias cifras do aumento do número de divórcios com a aprovação das leis. Livros como estes, com pensamentos conservadores, educaram durante muito tempo os adolescentes do Brasil. As mulheres deveriam se preparar para ser mãe e dona do lar, e os homens serem castos ou conhecerem os riscos que corriam. por João Herinque

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Trabalho

Incertezas do século XXI geram angústias Tanto os jovens quanto os adultos sentem incertezas em relação ao futuro. Os fantasmas do desemprego, da frustração e da angústia perseguem a juventude de hoje. por Helenira Cartaxo

Foto: Helenira Cartaxo

A primeira geração de jovens do século XXI está amadurecendo num país muito diferente daquele das gerações anteriores. Eles estão inteiramente à vontade no mundo tecnológico. São os brasileiros mais bem informados de todos os tempos, e sua maneira de pensar e agir foi influenciada desde o “jardim de infância” pela velocidade da tecnologia. Essa vantagem não impede que os jovens se sintam assustados, confusos e indecisos quando se trata do futuro. Eles se sentem assim desde a escolha de sua profissão até o dia da formatura, em que finalmente entrarão para o mercado de trabalho. E a angústia aperta mais, diante de uma conjuntura social tão conturbado, onde o número de desempregados aumenta a cada

dia e há uma grande dificuldade em conseguir se manter financeiramente estável. “Quando o jovem pensa o lugar dele no futuro é uma inquietação que está no presente, porque o próprio presente é um processo em gestação que causa várias angústias sobre o próprio presente, porque vivemos hoje uma sociedade em que todos os dias ocorrem mudanças, há fatos novos, impactos novos”, afirma a socióloga e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) Simone Oliveira. Para Juliano Cordeiro, universitário, 22, as expectativas em relação ao futuro são pessimistas. “O futuro é o pior possível. Não falo por mim, pois é da visão capitalista essa felicidade individual e material. Eu posso me dar bem, trabalhar no que gosto, mas e o restante da humanidade?”, pergunta ele. A insegurança quanto à escolha profissional é um sintoma saudável e esperado, afinal trata-se de uma opção importante na vida. Mesmo que dentro da universidade eles descubram novos caminhos, os jovens não querem passar por mais uma frustração. É comum profissionais que se formam em uma área mas que se sentem realizados em outra. Engenheiros trabalhando Juliana Alves: estudante e monitora do curso de jornalismo da Unifor

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com finanças, arquitetos se defende que para ser um bom dedicando a um comércio próprio, profissional basta apenas se dedicar economistas transformados em e aproveitar oportunidades. “Isso marqueteiros. Por isso, é importante vem muito de você, do que você que essa fase da vida seja enfrentada acredita e faz em busca disso”, com tranqüilidade pelo jovem e sua afirma Juliana. Ao mesmo tempo, o jovem família. Toda decisão pressupõe incertezas e uma dose de risco, o que já definiu sua profissão não que torna este o primeiro grande deve desistir dela por causa do desafio do jovem diante do novo e temor do desemprego – fantasma desconhecido. “É normal essa que ronda todas as profissões. angústia dos jovens, pois você pode “Quem faz a escolha certa e muito bem ser formado, ter mes- aproveita a universidade, vivencia trado, doutorado e estar desem- e aprende. Estabelece a troca entre pregado. Isso é muito comum no teoria e prática, se sobressai e Brasil, vivemos um momento em alcança o sucesso”, diz Roberta . A que é muito mais importante o ter estudante Juliana, diferente da maioria de seus colegas, espera que do que ser”, afirma Juliano. Em meio a tantas opções, o não terá dificuldades em arranjar um bom emprego. estudante deve ficar “Eu confio que vai atento a algumas ter alguma coisa armadilhas. A pri“Vivemos hoje para eu fazer. Confio meira delas é acreuma sociedade em mim. Estou estuditar que cursar uma em que todos dando, aproveitando boa faculdade vai os dias livrálo do desempreoportunidades”. Já ocorrem para Juliano Cordeigo e assegurar sucesmudanças, há so profissional, ou ro, “a maior mentira fatos novos, que existe é dizer até mesmo o contráimpactos rio, que partir para a que o bom consegue, novos” pois vivemos numa prática sem se dedicar a um conhesociedade injusta, Simone Oliveira cheia de puxa-sacos. cimento teórico vai fazer dele um “exQuem se dá bem no pert”. Para os especialistas em sistema é quem se submete a ele. recursos humanos, o sucesso numa Por isso a perspectiva do futuro é profissão depende de 50% de ruim.” conhecimento e 50% de atitude. A Cabe à sociedade do presegunda, decidir-se por uma carreira sente mudar o futuro. “O homem é “da moda” apenas porque ela está responsável por suas ações, quer em alta no mercado, um dos fatores dizer, o futuro depende dos sujeitos que levam a um rápido abandono sociais atuais. Paralelo a essas angústias, a sociedade civil deve profissional. “O jovem tem que levar em pensar como resolver a questão de conta suas afinidades pessoais. É o jovem não ver o futuro com uma importante que a identidade pessoal visão tão negativa. A política deve esteja ligada ao profissional”, ter ações pensadas em conjunto, e afirma Roberta Cavalcante, psicó- voltadas para o futuro tentando loga e professora da Unifor. A mudar o presente”, defende a universitária Juliana de Fátima, 21, professora Simone Oliveira.


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“Estou formada, e agora?”

Foto: Helenira Cartaxo

Rafaela Veras, 22, cursa Jornalismo na Universidade de Fortaleza (Unifor) e pretende alcançar sucesso profissional montando sua própria editora. Leia abaixo o depoimento de Rafaela

por Helenira Cartaxo

Quando penso no meu futuro só lembro dessa palavra: realização. Só me importa se que o vou estar fazendo amanhã ou daqui a dez anos irá me deixar feliz. Mas sei que essa realização é uma construção, eu estou plantando, correndo atrás para que depois eu consiga me estabilizar. Hoje não é possível a realização do meu sonho dourado, quando penso no meu futuro eu penso o meu futuro quando isso acontecer. A situação do “estou formada, e agora?” me amedronta, me angustia. Porque o estar formado é entrar numa nova fase, sair da faculdade e entrar no mercado de trabalho. Gostando ou não, na faculdade você têm esse objetivo, você acorda, vem para cá, estuda. Mas e depois? As pessoas que têm pressa em se formar, ou que não temem esse momento, normalmente já têm um destino certo e quer investir nisso. Os outros, pelo contrário, adiam, temem a formatura.

Os jovens ainda querem mudar o mundo. Mas essa revolução vem sendo feita de forma pacífica. Assim como seus pais que nas décadas de 60 e 70 sonhavam com direitos iguais para todos, a juventude do século XXI também esta disposta a mudar essa situação. A diferença é que eles não fazem política, e sim trabalho voluntário.

Rafaela Veras

Otakus crescem no Ceará por João Herinque

Otakus são fãs de quadrinhos e de desenhos animados japoneses (animes), que organizam eventos e deles participam. Devido à crescente popularização da animação japonesa e do advento da Internet, pequenos grupos se formaram em todo o Brasil, e o Ceará não podia ser diferente. Em fevereiro de 1999, os dois maiores grupos de Fortaleza - Anime Utopia e CaC - Ceará Anime Club - se uniram, formando o Anime No Kuni(Nação do Anime). O Anime No Kuni nasceu com a finalidade de divulgar com mais freqüência a cultura japonesa no Ceará, com encontros semanais na Praça Portugal, próximo ao Shoping Aldeota, e a elaboração de exibições, que até então não ocorriam por aqui. As reuniões daquela época eram pequenas, de até seis pessoas às vezes, mas o número de integrantes foi crescendo e, em certos finais de semana, chegou a ter mais de cem num só dia. “Eu vim através de indicações de amigos e não me arrependo até hoje”, afirma Humberto “LeChuck” - Meireles, freqüentador desde o início. A média fica em torno de 60 pessoas que se reúnem todos os sábados, para conversar falar

de animes, trocar fitas e cds e, principalmente, se divertir. O grupo cresceu rapidamente e em menos de um ano surgiu a primeira grande exibição de Fortaleza, o PERO (Principal Encontro Regional de Otakus), realizado pelos mais antigos membros do Anime No Kuni, que ganhou fama e deu origem a muitos outros como o PEACE e o Tsunanime. Em dezembro de

A fila de Otakus para o PERO4

2002, o PERO se tornou grande demais e, por este motivo, a sua quarta edição foi realizada no Centro de Convenções Edson Queiroz, consolidando-se então como o maior evento de animação japonesa da região Nordeste, atraindo pessoas de vários outros estados. “Eu não acreditava que em Fortaleza havia tantos fãs de animes, e o melhor é que hoje as pessoas vêm para os encontros com outras coisas na cabeça,

Os jovens só querem ajudar

além de desenhos. Nós somos hoje um dos maiores grupos do Brasil e, diferente dos outros, nos reunimos toda semana.” afirma Daniel “ Batata” Souza Amorim, de 20 anos. Aqueles que se interessam e desejam freqüentar os encontros e eventos não precisam ter vergonha. Eles proporcionam muito divertimento e a capacidade de fazer muitas amizades com jovens de todos os cantos de Fortaleza e de alguns outros estados. O primeiro passo para quem quer ir e não tem coragem e conhecer alguém no canal do IRC #animece ou pelo fórum do canal wwww.anime-ce.com.br, onde será muito bem recebido por todo mundo. Fato curioso sobre os freqüentadores é que eles são mais conhecidos pelos apelidos do que seus nomes de batismo. Este reporte é conhecido pelos amigos por “JH” ou “O Fotógrafo”. Isso ocorre porque a maioria dos membros se conheceu pela Internet e não pessoalmente e quase todos foram levados a este “mundo” através de amigos que indicaram para outros amigos e assim por diante. Um grupo de cerca de 20 adolescentes viajara em julho para São Paulo, onde participará dos maiores eventos do gênero no Brasil, Anime Friends e Anime Com, constiruindo a maior caravana já enviada do Ceará.

O Brasil é uma democracia estável desde que estes jovens nasceram. A visão ideológica de um mundo dividido em dois pólos (capitalismo e socialismo) desabou diante dos seus olhos com a queda do muro de Berlim. E o que vem sendo visto desde então é decepção com os políticos e com a política. Por outro lado, eles descobriram o caminho do trabalho voluntário. Nos últimos cinco anos, a participação dos jovens em filantropia pulou de 7% para 34% em 400 entidades brasileiras. Mais de oito milhões de jovens com idade entre 15 e 24 anos realizam alguma atividade voluntária, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E estima–se que muitos outros estão interessados em contribuir com o voluntariado e não sabem como começar. Esse tipo de serviço é importante em países como o Brasil, com tantos contrastes sociais. Os jovens brasileiros são motivados pela vontade de ajudar a resolver os problemas e as desigualdades sociais do país. Um outro estímulo é o de se sentir útil e valorizado. E, por fim, o desejo de fazer algo diferente no dia-a-dia. Os projetos mais procurados pelos voluntários são os que envolvem crianças carentes, os educacionais, como dar aulas de reforço, e os de meioambiente. O caminho mais fácil para quem quer começar um trabalho voluntário pode estar dentro da escola ou na universidade. Muitas dessas entidades já incentivam os alunos a participarem desse trabalho. É possível também se inscrever em ONG‘s especializadas em encaminhar voluntários para entidades. Ou procurar igrejas e paróquias que desenvolvem algum trabalho filantrópico . Jovem, vá a luta!

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Curso de Jornalismo lança primeira edição do jornal laboratório SobPressão: uma vitória alcançada. O Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) lançou, no dia 11 de maio, seu primeiro Jornal Laboratório, fruto da disciplina Projeto Experimental em Jornalismo Experimental, orientada pelo professor Nilton Almeida. O lançamento contou com a presença do Vice-Reitor de Ensino, Wilhelmus Jacobus Absil, do Diretor do Centro de Ciências Humanas, José Batista de Lima, e da coordenadora do Curso de Jornalismo, Erotilde Honório, professores, alunos e representantes do D.A. Patativa do Assaré. A coordenadora Erotilde explicou a importância do jornal para o curso e a universidade e disse que o jornal laboratório é uma exigência do MEC.

Emanuela França, João Henrique, Helenira Cartaxo, Manuela Barroso e Sheila Raquel, alunos da disciplina, falaram sobre a experiência. Definição das pautas, reportagens, fotografias, edição, diagramação, fechamento do jornal e até a impressão, todo o processo acompanhado pelos alunos. O que no início parecia impossível de ser realizado, pelo pequeno número de alunos, agora é motivo de orgulho. O SobPressão é a confirmação oficial do aprendizado dentro da Universidade. Duas realidades, uma só Fortaleza, primeiro número do Sob Pressão aborda a realidade dos bairros Aldeota

e Parque Genibaú, diante das fortes chuvas que caíram na cidade nos primeiros meses do ano. Até o final do semestre mais duas edições serão lançadas, com diferentes temas e abordagens. Uma conquista triplicada para os alunos da disciplina, que lêem nos jornais o resultado das experiências vividas. Na correria contra o tempo, na dificuldade com poucos alunos, na responsabilidade de editar o primeiro jornal do Curso de Jornalismo, nasceu o SobPressão. E como todo nascimento é motivo de alegria, o lançamento

do SobPressão teve direito a bolo, salgados e refrigerantes. Uma oportunidade de apresentar aos alunos, que ainda não conheciam, os novos laboratórios de jornalismo montados pela Universidade. por Emanuela França


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