Artigo
Dahiana Araújo
O blog surgiu na década de 90 como uma ferramenta de socialização e ganhou popularidade pelo grau de interação que propõe aos internautas. Esse caráter foi atribuído ao blog por representar uma forma de manifestação íntima na rede, tendo, assim, um papel na Cibercultura definida por Pierre Lévy. Quando a burguesia toma as rédeas da sociedade patriarcal, entre os séculos XVIII e XIX, novos conceitos e valores são embutidos. Um dos valores defendidos pela burguesia era individualidade dos membros da família. O espaço íntimo passa a ser valorizado como uma forma de auto-conhecimento. Com isso, era possível encontrar caminhos de aceitação dentro de um universo pessoal. O diário íntimo é um desses caminhos e sua produção sempre teve o caráter real de narrar algumas experiências vividas e identificar características do eu. Isso acontecia durante a produção do diário escrito. Quando o diário é digitalizado, sua estrutura muda e novas funções são atribuídas. Além disso, o diarista (blogueiro) também assume novas posições e se enquadra em definições e aspectos sociais e psicológicos diferenciados. Paula Jung Rocha, doutora em comunicação social, define os blogs como “diários virtuais que se proliferam na Internet como ferramentas de uma narrativa híbrida (mistos de diários, crônicas jornalísticas e correspondência), que representa, simultaneamente, a individualidade e a coletividade, dimensões presentes no imaginário da sociedade pós-moderna”. No momento em que as pessoas gastam seu tempo e atuam na rede produzindo um diário íntimo, elas estão certamente representando papéis: de autoconhecimento e aceitação. E, quando essas mesmas pes-
24
Abr/Mai - 2007
soas atuam na rede como expectadores de outros blogs, elas agem como voyeurs. No primeiro momento, o de auto-conhecimento e aceitação, os blogueiros criam seus diários para serem lidos, para atrair pessoas com as quais se identificam. Durante a postagem do dia, os textos íntimos refletem o eu do indivíduo que está se conhecendo ao passo que produz. No cenário virtual, o conteúdo do diário assume formas diversas. Em forma de poesia, crônica, músicas e até fotografia, as pessoas expõem seus sentimentos e opiniões no ambiente livre da Internet. Os assuntos partilhados no blog não são mais o “conteúdo que deve ser guardado”, como afirmava o historiador francês, Gerard Vincent, sobre o segredo. Em sua dissertação de mestrado em comunicação, Denise Schittine afirma que o conteúdo do blog é, na maioria das vezes, explícito e chamativo. Esse conteúdo remete à idéia de exposição, legitimação e aceitação. Isso porque os diaristas partilham agora coisas
em comum de cotidianos muitas vezes distantes. Finais de semana inesquecíveis, notas de provas, brigas entre familiares e descrições de momentos íntimos. O diário íntimo virtual é uma projeção do diário íntimo que outrora era secreto e se apresentava somente para o próprio autor. Mas essa projeção adquire agora características peculiares que puderam ser construídas a partir das transformações tecnológicas, ocasionando, assim, uma mudança cultural: a criação do diário íntimo virtual construindo uma intimidade assistida. A atuação do voyeur acontece de forma mais gradativa. As pessoas espiam e atribuem juízos de valor às publicações diárias, ou posts, com os quais se identifi-
cam ou não. O prazer do voyeur é espiar o que acontece na intimidade de terceiros. Os blogs, diferentes dos diários secretos, não partilham mais segredos, partilham convívios, experiências de momentos marcantes ou de dias comuns. O que não deixa de ser íntimo e, portanto, interessante para o voyeur. Inserido na rede como uma forma de aceitação pessoal e voyeurismo, o blog tem ganhado notoriedade, espaço na mídia e estruturas diversificadas no ciberespaço. Isso ocorre porque o blog representa uma forma de revelar anseios, opiniões e até segredos numa linguagem acessível e num ambiente onde várias identidades se cruzam, se aceitam e se espiam: a Internet.
ANO 4 - Nº 12
Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza
Bailarinos de Paracuru Projeto social leva o ensino do balé clássico para meninos e meninas do litoral do Estado em uma das escolas no País com o maior número de garotos dançando. Veja como este trabalho é desenvolvido e como a Companhia de Dança de Paracuru se mantém na ativa no Ceará (páginas 12 e 13)
Sentimentais e unidos Conheça a tribo dos emos, que vem cada vez mais se fortalecendo e saiba qual o real motivo dos jovens de hoje participarem dela (páginas 22 e 23)
Jogos eletrônicos Diversão levada a sério: como ganhar dinheiro real ao brincar nos games online (páginas 6, 7, 8 e 9)
Divulgação
Blog: voyeurismo na rede mundial de computadores
Abr/Mai - 2007
HQs alternativas As histórias em quadrinhos vão muito além dos mangás e superheróis. Confira as publicações produzidas no Ceará (páginaS 10 e 11)