Sobpressao 19

Page 1

Saiba por que os cães não devem ser humanizados no adestramento. Classificado dá Notícia P. 1

O comportamento compulsivo pode ser uma resposta aos excessos de nossa sociedade. Entenda porque ele surge, como identificá-lo e quais os principais tratamentos. Página 4

O Brasil está mudando com a crescente população de idosos. O Caderno das Organizações revelaa os dados e conta histórias de vidas das experientes. Caderno das Organizações

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

MAIO/JUNHO DE 2009

ANO 6

FOTO: OTÁVIO NOGUEIRA

SOBPRESSÃO N° 19

Número de leitores cresce 155% no Brasil, diz pesquisa

Ceará

3º em produção nacional de mel Em 2008, foram produzidas 116 toneladas de mel no Estado, ficando atrás, apenas, de Santa Catarina e São Paulo. Este ano a produção pode quadruplicar, ficando em segundo lugar. O Ceará tem tudo favorável à apicultura e, mesmo com os ótimos resultados, ainda não explorou nem metade do seu potencial, pois ainda há falta de incentivo aos pequenos produtores. Apesar disso, nosso mel, livre de impurezas, contribui para a posição de destaque do Brasil no ranking mundial de exportação do produto. Página 2

Saiba

Como evitar os distúrbios do sono

Hábito: o contato com os livros desde a infância, seja por meio do incentivo dos pais ou do professor, permite um futuro com mais leitores FOTO: CAMILA MARCELO

atividade deve começar desde os primeiros anos da criança, e os meios para criar o hábito são dos mais diversos. O clube de leitura é uma maneira lúdica e afetuosa de agregar pessoas e estimular a prática da leitura em grupo ou individualmente. Página 10 e 11

Na rede

Brésil

Montanhismo ismo

Experiências Hobby e esporte novas no Labjor nas alturas ras

Este é o ano da França no Brasil. Como retribuição à homenagem francesa aos brasileiros em 2005, e para reforçar os laços entre os dois países, foram programados eventos das mais diversas naturezas, celebrando influências que a cultura daquele país semeou em muitas de nossas cidades. Apesar de termos sido colonizados por portugueses, a França deixou marcas evidentes no Ceará, que estão presentes, principalmente, na arquitetura, na gastronomia e na educação. Páginas 6 e 7

As novas tecnologias de informação estão mudando a realidade dos meios de comunicação. Pensando nisso, o Laboratório de Jornalismo da Unifor criou o Blog do Labjor, no qual os estagiários e alunos de Jornalismo produzem matérias para diversos suportes de mídia. Eles são responsáveis por mais dois blogs, em parceria entre a coordenação de Jornalismo com os cursos de Turismo e Hotelaria e de Arquitetura e Urbanismo. As viagens técnicas são cobertas e relatadas nos blogs pelos estagiários do Labjor. Página 12

FOTO: WALESKA SANTIAGO

Ano de comemoração à França nas cidades brasileiras

Apesar de ter nascido no Ceará, onde as praias são referência nos esportes ao ar livre, Rosier Alexandre se destacou em um esporte gelado, o montanhismo. O primeiro nordestino a chegar ao pico do Aconcágua usa seus conhecimentos como empresário para administrar suas aventuras. Em entrevista ao Fôlego, ele fala de seu fascínio pela atividade, de suas conquistas e dos desafios que lhe são propostos na prática do alpinismo. Fôlego Página 1

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Segundo pesquisa do Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope, o cenário da leitura no País vem melhorando nos últimos anos. Mais de 65 milhões de brasileiros fazem algum tipo de leitura. E, independente do material, dos livros à internet, o estímulo a essa

Insônia, sonambulismo e ronco são alguns dos distúrbios mais comuns que atingem quase metade da população brasileira, segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira do Sono. Conhecer o tratamento desses problemas, além de identificar as suas causas, pode resolver alguns percalços que o ritmo acelerado do cotidiano e os efeitos maléficos das noites mal dormidas costumam causar. Página 5


2

Opinião

SOBPRESSÃO MAIO/JUNHO DE 2009

Editorial

Artigo

Acreditar nos primeiros passos Em certas coisas da vida podemos realmente depositar nossas esperanças e devemos nos apropriar delas. Isso porque, ultimamente, nossas crescentes desilusões têm se agravado com a dissolução de nossas crenças, e os pequenos fatos ocorridos no dia se transformam em verdadeiros atos heróicos de pessoas que têm fé num mundo diferente. Exemplos como de gente que vê na leitura uma forma de conhecer o mundo que nos cerca, de participar dele como cidadãos e de, por meio da sensibilização, reconhecer as emoções, identificar e expressar tudo que sentimos. Ainda podemos ver em uma matéria desta edição o testemunho apaixonado de um defensor dessa prática tão rica e, comprovadamente, imprescindível para a formação e o futuro de qualquer ser humano. O ato de ler não se resume somente ao plano subjetivo, no contato com as letras e no envolvimento com as palavras. Sua importância também é reconhecida, ou ao menos deveria ser, no campo da educação, como forte estimuladora do crescimento intelectual da

criança, que vai refletir em toda sua vida escolar, acadêmica e profissional. Ainda falta muito para se atingir um patamar de respeito nas políticas públicas voltadas para a educação, mas algumas ações pontuais existem e podem fazer um bem enorme. Uma delas foi recentemente implementada pelo governo do Estado do Ceará, o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC). O programa oferece material didático específico, formação de professores e apoio ao desenvolvimento da gestão das políticas municipais de educação. Além disso, realiza a cada ano a avaliação dos resultados de todos os alunos matriculados no segundo ano do ensino fundamental regular. Só faltava o estímulo às escolas e aos gestores para garantirem o bom desempenho dos alunos e professores. A partir dessa demanda, foi criado o Prêmio Escola Nota 10, que consiste em premiar escolas que atigem a nota máxima no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece). As 150 melhores escolas de

todo o Estado recebem uma verba de R$ 2.500 por cada aluno matriculado. Em contrapartida, as instituições devem ajudar as que tiveram desempenho inferior naquele ano. A primeira premiação, ocorrida em junho deste ano, revelou bons resultados comparando os anos anteriores ao da avaliação. Um deles mostrou que as ações de incentivo à leitura promovidas pelo PAIC surtiram efeito tanto ao elevar o índice de leitores na escola, quanto, e principalmente, ao fazer com que os professores lessem e praticassem com os alunos em sala de aula. Isso mostra que com um pouco de boa vontade e investimento, os anseios, a necessidade de mudanças e as coisas que antes desacreditávamos podem ir, lentamente, transformandose. São ações de longo prazo que, aos poucos, se densenrolam em bons resultados, estimulando outras ações e assim por diante, em efeito dominó. Faz sentido pensar que, respeitando cada passo de uma longa caminhada, a leitura de um bom texto pode ser o primeiro de uma grande revolução.

Lucas Moura

Copa 2014: e depois? Enfim, o sonho de ver a capital cearense sendo uma das sub-sedes da Copa de 2014 se tornou realidade no último 31 de maio em coletiva nas Bahamas, onde, na ocasião, a comissão da Fifa apresentou as 12 capitais brasileiras que receberão os jogos. Projetos não faltam para preparar Fortaleza para um evento desse porte. O Estádio Castelão, por exemplo, vai ser reformado e se tornará um complexo esportivo com um novo Centro Olímpico. A Copa promete, também, trazer uma série de benefícios para a capital cearense em termos de mobilidade urbana, como a construção de uma terceira linha do Metrofor, além das duas primeiras que finalmente devem sair do papel. O Aeroporto Pinto Martins será ampliado, passará a receber oito milhões de passageiros por ano em vez dos atuais 2,5 milhões. O Transfor, projeto da Prefeitura que consiste em melhorias no sistema viário e transporte público, prevê o alargamento de avenidas e criação de corredores exclusivos para circulação de ônibus. Certamente, Fortaleza terá uma nova cara, mas, e quando o toda a agitação da Copa terminar e os turistas forem embora? Que medidas de controle à degradação serão aplicadas nesses novos empreendimentos após o fim do evento? Tão importante quanto pensar em projetos e melhorias é elaborar também medidas que preservem as novas aquisições pelos anos seguintes, tendo em vista a constante deterioração que os estádios fortalezenses sofrem não só por causa da falta de manutenção como também devido ao vandalismo das torcidas organizadas. Condições adversas, falta de manutenção e de consciência são fatores que devem ser levados em consideração e devem ser discutidos a fim de que essas novas estruturas não enfrentem o mesmo problema. Tendo todas estas questões expostas, fica um simples alerta, para as autoridades e principalmente para a população da capital do Estado do Ceará: preservemos nossos patrimônios. Estudante do 5º semestre de Jornalismo

Crônica

Ivana Moreira

Infância roubada

Seu Alves é um personagem conhecido para quem passa pela avenida Engenheiro Santana Junior, perto do terminal do Papicu. Honorato Alves Pereira, de batismo, tem 79 anos e desde os 12 é sapateiro. Sua assinatura estava na arte que faz com as palavras e as cores pintadas num muro da avenida. São frases que arrancam risos e reflexões dos traseuntes, mas só depois vão descobrir que o bom samaritano é um sapateiro de carreira. Há 27 anos ele mantém um pequeno ponto, ao lado de uma parada de ônibus, para receber as encomendas e fazer seu serviço. Só que seu espaço agora está ameaçado, e o muro colorido com seus aforismos deu lugar à propaganda de uma rede internacional de supermercados que vai ser construída no local. FOTO: WALESKA SANTIAGO

Todos os dias Sarah passa pela Av. Washington Soares a caminho da universidade na qual estuda pela manhã. Por volta das onze e meia, ela parou em um sinal e pôde perceber um menino que não lhe pareceu muito bem.De pele morena e corpo pequeno, ele aparentava ter seus doze anos. Estava com o semblante assustado e sua boca sangrava. Preocupada, ela passou pelo sinal e fez um retorno, parando o carro ao lado do menino. Perguntou o que tinha lhe acontecido e ele contou a sua história.Filho mais novo de uma faxineira, ele e o irmão saíam às ruas diariamente para vender doces. Cada um carregava consigo um carrinho com chicletes, pipocas, chocolates, biscoitos e pirulitos. Percorriam em média oito sinais por dia. E ficavam cerca de uma hora em cada um. Comiam na hora do almoço qualquer coisa, uma espécie de lanche. Pão com um suco de caixinha, por exemplo. Momentos antes de ser abordado por Sarah, ele fora assaltado. Surpreendido por um rapaz acompanhado de uma menina, ele teve seu carrinho de doces roubado e acabou tendo sua boca esmurrada. O carrinho custava à sua mãe aproximadamente 135 reais. Ele estava ali sem pedir ajuda com a inocente intenção de conseguir arrecadar essa quantia até o final do dia. Não queria ir para casa por medo do castigo que receberia da mãe. Em um episódio semelhante, já vira seu irmão ficar em delicada situação para aprender a ter mais “responsabilidade”. Imediatamente, Sarah ligou para o Órgão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Disseram-lhe que não podiam fazer quase nada. Até hoje Sarah não sabe o desfecho dessa história. Sempre que vejo jovens nos sinais da minha cidade, me recordo daquele menino, que “conheci” através da narrativa emocionada da amiga Sarah. Lembro-me da minha infância tranquila. Como eu gostaria que aquele menino vivesse um dia de criança. Estudante do 5º semestre de Jornalismo

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Eduardo Freire - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2009.1) - Reportagem: Arituza Timbó, Camila Marcelo, Elisiany Leite, Felipe Goes, Igor Medeiros, Ivna Girão, Katryne Rabelo, Liana Sampaio, Lucas Moura, Monique Linhares, Nina Giordana, Richell Martins, Roberto Ranulfo, Sara Rebeca Aguiar, Tatiana Rosas e Viviane Sobral - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Diagramação: Aldeci Tomaz - Professores orientadores: Antonio Simões e Eduardo Freire - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Supervisão gráfica: Francisco Roberto Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Estagiários de Produção Gráfica: Felipe Goes - Estagiários de Redação: Camila Marcelo, Ivana Moreira, Lucas Moura, Monique Linhares e Viviane Sobral - Revisão: Solange Maria Morais Teles

Sugestões, comentários e críticas: jornalsobpressão@gmail.com


SOBPRESSÃO

3

MAIO/JUNHO DE 2009

Ceará é líder na exportação de mel no Norte e Nordeste O clima cearense, o potencial da flora local e a abelha africana fazem deste Estado um dos melhores lugares do país para a produção do mel de abelha Igor Medeiros Roberto Ranulfo

A agricultura e a pecuária são os principais trabalhos do homem do campo. Porém, uma atividade vem se destacando nesse cenário. A criação de abelhas para a produção de mel, pouco a pouco, vem ganhando espaço, gerando emprego e renda nas zonas rurais. O comércio do mel de abelha cearense já ultrapassou as fronteiras nacionais e é vendido também para países como Canadá, Alemanha e Estados Unidos. No ranking mundial, o Brasil é o sexto em exportação, chegando a vender para o exterior mais de mil toneladas. O Ceará é o maior exportador de mel do Norte-Nordeste e o terceiro do Brasil. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), no ano passado este estado exportou 116 toneladas de mel de abelha, ficando atrás de Santa Catarina com 245 toneladas e São Paulo com 429, o que gerou mais que meio milhão de reais para os apicul-

tores cearenses. A expectativa para 2009 é que o Ceará exporte quase o quádruplo de mel do ano passado e ultrapasse Santa Catarina, ficando na segunda posição e fature cerca de R$ 3 milhões. Mesmo com o grande abalo da crise financeira mundial, a apicultura não foi afetada. Pelo contrário, em 2007 1kg de mel para exportação custava US$ 1,86, em 2008 o quilo foi para US$2,06 e em 2009 o preço do quilo subiu e está sendo vendido para o exterior por US$ 2,35. Propício à apicultura Esses ótimos resultados na produção de mel cearense, se devem ao potencial florístico, ao clima favorável e à qualidade do enxame. No Ceará, a abelha utilizada é de origem africana e foi introduzida na década de 1950, por um pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). Ela, diferente da européia, é bem menos propícia a pegar doenças, tem maior reprodução e por consequência tem uma produção maior. Por ter dificuldade de se adaptar a tempos frios e chuvosos, a abelha africana se adapta muito bem com o clima cearense. “O potencial florístico também é muito bom. Existem flores que não atraem a abelha africana, diferente da flora cearense”,

comentou Marcelo Leopoldino, supervisor de apicultura do grupo Edson Queiroz. Um outro motivo importante para a força da exportação desse produto, em nosso Estado, é a necessidade de exportar por falta de mercado interno. O mel, no Brasil, é utilizado de forma bem diferente do que no exterior. Enquanto aqui é usado mais como auxílio medicinal, em países europeus, o produto faz parte do cardápio cotidiano. “O consumo per cápito do mel no Brasil é muito baixo, as pessoas o usam como remédio e não como alimento. Na mesa do europeu é mais fácil faltar açúcar do que faltar mel”, diz Marcelo. Se o consumo de mel brasileiro dobrasse, o Brasil não precisaria exportar. Enquanto aqui o consumo per capto é de 200 gramas por ano, na suíça, por exemplo, são dois quilos por ano. Além da necessidade de exportar motivado pelo baixo mercado consumidor no país, a procura do mel cearense no exterior é muito grande, principalmente pela qualidade. Os países europeus e norte-americanos importam centenas de toneladas do produto cearense todos os anos. “O nosso mel é ‘limpo’, livre de resíduos químicos e biológicos ”, fala Paulo Miranda, responsável pela

Ingrediente da beleza e da saúde A cosmética já descobriu as maravilhas que esse líquido açucarado pode fazer à pele e ao cabelo. Atualmente, não é difícil encontrar produtos de beleza que levam mel. Em qualquer supermercado é possível encontrar shampoos, sabonetes, cremes e hidratantes que contenham mel em sua composição. Nas clínicas de estética, além dos mais conhecidos banhos de ervas e dos mais extravagantes como o banho de chocolate existe também o banho de mel que nutri, hidrata e revitaliza a pele. Luana Freitas fez o tratamento em casa e disse que ficou supersatisfeita com o resultado. “O mel faz milagre”, comentou Luana. Outros benefícios Tradicionalmente o mel no Brasil é mais utilizado como remédio na cura e prevenção de gripes, resfriados, tosse ou dor de garganta. Devido as suas propriedades medicinais, a população chega ao ponto de

preferir esse produto aos medicamentos tradicionais. Ele contém 40% de frutose, 35% de glicose e 2% de sacarose, além de conter vitaminas do complexo B e ferro.Propriedades antissépticas e antibacterianas também são atribuídas ao mel. Ele

O comércio do produto cearense gera emprego e renda na zona rural

exportação de mel do grupo Edson Queiroz. Para que o produto seja comercializado no mercado exterior é necessário uma taxa mínima de impurezas que sempre é ultrapassada pelo produzido na Europa. Buscando diminuir essas taxas, os europeus procuram o mel cearense para misturarem ao seu e se igualarem aos níveis mínimos de impurezas. O que falta? O investimento na apicultura é muito baixo em relação ao seu retorno financeiro. “Os pequenos produtores estão vendo que essa atividade é uma fonte de renda mais confiável que outras no campo, como ovino e caprino. Eles utilizam mão de obra familiar e se juntam

FOTO: DIVULGAÇÃO

em associações e o retorno é melhor”, comentou Henrique Gomes, superintendente da agropecuária do Grupo Edson Queiroz. Mesmo com tudo favorável ao crescimento da atividade no estado, os produtores ainda sofrem muito com a falta de incentivo: “o que falta para o Ceará chegar em primeiro é só aumentar o número de produtores”. De acordo com os apicultores a expectavia é que o Ceará se torne o maior exportador do Brasil. “Nosso estado tem tudo para ser o maior produtor e exportador de mel de todo o Brasil, é o único que produz mel de janeiro a janeiro. O estado não explorou nem metade do seu potencial para produção, só 30 a 40%, está longe de explorar tudo”, comentou Marcelo.

Culinária

Sobremesa fácil de preparar

auxilia no tratamento de doenças do coração, problemas pulmonares, de visão e até em tratamento de anemias. De acordo com a nutricionista Fatima Antunes, o mel também funciona como regulador intestinal e facilitador da digestão.

Ingredientes 2 latas de leite condensado 1 xícara de café de leite em pó 1 colher bem cheia de manteiga 1 colher bem cheia de mel 4 gemas passadas na peneira

O tratamento à base de mel revitaliza e hidrata a pele

Como fazer o Pudim de Mel Leve o leite condensado juntamente com o leite em pó ao fogo. Não se esqueça de mexer sempre, para não pregar no fundo da panela. Espere até os FOTO: WALESKA SANTIAGO

ingredientes ganharem consistência e retire do fogo. Adicione o mel e os outros ingredientes e deixe esfriar um pouco o leite para juntar as gemas, a fim de que elas não cozinhem. Logo depois leve a mistura ao fogo em banho-maria, com a forma untada de manteiga. Espere aproximadamente uma hora e retire do fogo. Agora leve ao refrigerador, deixe esfriar e o pudim de mel estará pronto para ser servido.


SOBPRESSÃO

4

MAIO/JUNHO DE 2009

A compulsão por trás dos hábitos comuns Curiosidade

Os excessos de nossa sociedade podem causar um comportamento estranho nas pessoas. Saiba a diferença entre um hábito do cotidiano e uma compulsividade

O TOC não é compulsividade O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um distúrbio de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos e facilmente confundido com a compulsividade moderna. Apesar de apresentarem algumas semelhanças, são síndromes diferentes. O portador de TOC, que tenta eliminar seus pensamentos através de ações intencionais e repetitivas, não sente prazer na realização de seus atos. O contrário do que acontece no início da compulsão moderna. Outra diferença é que, como vimos na matéria, a compulsividade moderna é difícil de ser detectada, característica que não é encontrada no TOC.

Liana Sampaio e Tatiana Rosas

Comida, exercício físico, compras, sexo e trabalho. Todos são elementos essenciais à nossa vida, mas quando consumidos ou feitos de forma exagerada, podem se tornar uma compulsão, ou seja, uma necessidade de agir por impulso. As ações compulsivas são tidas como uma fuga das tensões rotineiras e servem para aliviar alguma pressão. Apesar de não serem consideradas doenças podem comprometer a saúde e precisam ser tratadas e curadas. Vários motivos podem causar um comportamento compulsivo. A psicóloga Eloísa Gréggio atribui à sociedade atual o papel de principal causadora das compulsões. “As pessoas estão extremamente mal trabalhadas interiormente e transferem as necessidades para algum comportamento em especial. É como se fosse uma bengala psíquica”, explica. Eloísa acrescenta que a formação na infância também pode influenciar em uma futura atitude compulsiva e o jeito que ele absorveu os ensinamentos dos pais vai ser decisivo na vida adulta. As compulsões por bebida alcoólica, cigarro e outras drogas ilícitas são antigas, mas continuam existindo. Entretanto, o comportamento compulsivo moderno se dife-

Comer exageradamente, seja qual for a causa, pode provocar doenças perigosas como a bulimia e a obsidade

rencia porque, nesse caso, as pessoas se tornam dependentes sem o uso de substâncias psicoactivas, que são elementos químicos capazes alterar o funcionamento da mente. Essa dependência ocorre pela prática exagerada de costumes que já estão inseridos na rotina do indivíduo. Isso gera uma dificuldade em detectar a dependência comportamental, pois não se sabe delimitar quando os atos deixam de ser apenas hábitos normais e começam dominar a vida da pessoa. O professor Henrique Carneiro, doutor em psicologia, explica que, quando o comportamento assume repetidas vezes o papel de cura para uma

Saiba Mais

Outras formas da dependência A mania por fazer dieta, tomar café, jogar, navegar na internet e a obsessão por tecnologia estão entre os muitos tipos de transtornos compulsivos. Veja outras atitudes que podem se tornar dependência: Ninfomania (para mulheres); Satiríase (para homens): quando o desejo e as fantasias sexuais apresentam um nível elevado. Há uma compulsividade pelo ato sexual. Tanorexia: a obsessão por estar bronzeado e afeta, principalmente, mulheres entre 20 e 30 anos. Chocolatria: pessoa que possui uma compulsão por comer chocolate.

Tricotilomania: é o comportamento repetitivo de arrancar cabelos ou pelos do corpo.

Hipocondria: é a preocupação em demasia com a saúde. O hipocondríaco toma uma série de remédios para se dopar, achando que assim está livre das supostas doenças.

Workaholism: a dependência pelo trabalho, sempre em busca de ótimos resultados. Fonte: Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti).

angústia, se trata de uma dependência. “Analisar se a compulsão causa um sofrimento, uma infelicidade ou conturba o relacionamento com as pessoas, é outra forma de averiguar a suposta existência de uma dependência”, frisa Carneiro. A frequência do comportamento, ou seja, quando o impulso se sobrepõe a todas as outras atividades e o indivíduo passa a viver quase exclusivamente para isso, também pode ser um alerta do problema. Em geral, as compulsões causam um empobrecimento dos laços sociais, uma perda de valores e falta de respeito entres os indivíduos. Esse é o caso de M. C., uma comedora compulsiva. Ela diz

FOTO: WALESKA SANTIAGO

que todos os sentimentos a levam para a comida: “se estou feliz, como para comemorar. Se estou triste, como para passar a tristeza. Tudo o que sinto me dá vontade de comer”, revela. Segundo L. D., coordenadora do grupo Comedores Compulsivos Anônimos Só Por Hoje, “as consequências desse tipo de dependência são a anorexia, a bulimia e a obesidade”, afirma. Ao contrário do que muitos pensam, a dependência comportamental tem cura. “A partir do momento em que a pessoa se conhece mais e entende de onde vem a compulsão, fica mais fácil lidar com ela. O auxílio de um psicólogo e dos gru-

pos anônimos, junto a um trabalho integrado com a família e os amigos, vai ajudá-la na recuperação. Mas para que tudo isso funcione, ela deve querer se curar”, esclarece Eloísa. Um dos problemas do dependente moderno é que na medida em que o comportamento compulsivo se repete, o desejo vai crescendo e a intensidade do prazer vai diminuindo. Na tentativa de recuperar a satisfação que existia no começo da experiência, o indivíduo aumenta a frequência do comportamento e, assim, deseja algo que não consegue mais desfrutar. A essa altura, o que antes era regido por algo agradável se torna uma obrigação.

O perigo da vaidade excessiva A vigorexia, compulsão o por exercícios físicos, atinge, principalmente, pessoas de 18 a 30 anos. É o que afirma o educador cador físico Vladimir Vilas Boas. “Além Além de causar danos ao corpo, como lesões em músculos e articulaculações, esse comportamento também afeta a saúde mental, pois os vigoréxicos se olham no espeagras lho e enxergam pessoas magras e sem músculo”, explica. O músico Valdir da Silva malha todos os dias e não falta nem quando ando está doente. Ele não se consionsidera um vigoréxico, mas recebe ecebe alertas e muitas reclamações es da esposa. “Um dia eu precisava va de ajuda em casa e pedi para a que ele não fosse à academia. Ele disse que não iria, mas teria que sair um pouco mais tarde do trabalho. Entendi tendi e não questionei, mas dias depois descobri que ele mentiu tiu e tinha ido”, conta Cláudia, esposa de Valdir.

Roberto injetou 600ml de óleo de cozinha nas duas pernas FOTO: WALESKA SANTIAGO

Em 2004, o então instrutor de academia Roberto Medeiros injetou nas pernas 600ml de óleo de cozinha. Influenciado por um colega, Roberto não pensou duas vezes quando soube que poderia obter um aumento instantâneo dos músculos e, com isso, ganhar campeonatos de fisiculturismo. “Eu tive uma perda de todo o músculo da minha perna esquerda, que já não consigo mais dobrá-la. Hoje eu ando com uma ajuda de muleta”, conta. Os médicos disseram que ele só voltaria a andar normalmente se fizesse uma cirurgia no tendão de Aquiles, mas Roberto preferiu fazer só a fisioterapia, que deixou há dois anos. Roberto, que se considerava vigoréxico, correu risco de morte, passou por três cirurgias e se arrepende do que fez. “Quando se quer uma coisa devemos medir as consequências dos atos”.


SOBPRESSÃO

5

MAIO/JUNHO DE 2009

43% dos brasileiros dormem mal Saiba mais...

Os distúrbios do sono afetam a vida de muitos brasileiros. Conhecer as causas e procurar orientação médica é o primeiro passo para o tratamento

Distúrbios mais comuns Insônia Reconhece-se pela falta ou baixa qualidade do sono, apresentando dificuldades de iniciar ou manter o sono. Pode ser classificada como transiente (curto-prazo), intermitente (de tempos em tempos), e crônica (constante). Relacionase, comumente, ao estresse, à ansiedade, a problemas médicos ou a efeitos colaterais pelo uso de algum medicamento. Faz-se indispensável uma avaliação profissional a partir da identificação das causas, já que o quadro afeta a saúde física e mental dos indivíduos.

Felipe Goes e Sara Rebeca Aguiar

Uma boa noite de sono é um hábito cada vez mais comprometido pelas atividades do dia a dia e pelo ritmo acelerado em que vivemos. Segundo a Sociedade Brasileira do Sono, em pesquisa divulgada em janeiro deste ano, 43% dos brasileiros sofrem com algum tipo de distúrbio do sono e apresentam sinais de cansaço no decorrer no dia. Em 1990, médicos americanos, europeus, japonenes e latinos, especialistas em distúrbios do sono, publicaram a primeira pesquisa a respeito. O documento, intitulado International Classification of Sleep Disorders (ICSD), elencou mais de 70 distúrbios já conhecidos e com tratamentos específicos. A fisioterapeuta Vera Lacerda, do Centro de Estudos do Sono de Fortaleza (CESF), afirma que entre os problemas mais frequentes estão as insônias circunstanciais ou crônicas, o ronco e a apnéia (ver quadro). Ela alerta para a necessidade de buscar explicações para a má qualidade dos períodos de descanso noturno. “Quando a vontade de dormir interfere nos afazeres diários de uma pessoa, as causas devem ser investigadas”, ressalta. O médico anestesiologista Oziel de Souza Lima Filho há cinco anos dedica-se aos estudos do sono. Chefe da equipe médica do CESF, ele explica que quase todas as pessoas, atualmente, sofrem com al-

Polissonografia: paciente é monitorada enquanto dorme para averiguar qualquer tipo de anormalidade FOTO: SARA REBECA AGUIAR

gum distúrbio do sono. “Hoje, praticamente, estamos todos comprometendo a qualidade do descanso já que é impossível você não dormir preocupado, estressado, acordar atrasado, querendo dormir mais. O medo da violência, a insegurança de um trabalho instável, a própria competitividade no emprego, além dos problemas particulares, todos são causas para uma noite mal dormida. As consequências ruins começam a partir do momento que você fica nessa correria”. Tratamento O primeiro passo para identificar os problemas é a observação dos sintomas através de uma avaliação médica. Para o fechamento de um diagnóstico mais detalhado, em alguns casos, é necessário o exame de observação do sono, também

chamado de polissonografia. Para realização desse exame, o paciente dorme uma ou duas noites na clínica, onde fica sob monitoramento constante, conectado a aparelhos computadorizados que fornecem dados sobre a movimentação corpórea, a respiração e as atividades cerebrais. Os distúrbios do sono, quando não tratados adequadamente, afetam o equilíbrio de todo o organismo a curto, médio e longo prazo. Para o anestesiologista Oziel, dormir não é apenas uma necessidade de descanso mental e físico: “durante o sono ocorrem vários processos metabólicos que, se alterados, podem afetar o equilíbrio de todo o organismo”. Pessoas que dormem menos que o necessário têm menos vigor físico, dificuldade de memorização, envelhecem

Teste

Descubra se você está em dia com o seu sono Este é um teste utilizado por profissionais da saúde do mundo inteiro que tratam de distúrbios do sono. Preencha o questionário abaixo, faça a soma e verifique o resultado. Marque a opção que melhor descreve sua chance de cochilar ou adormecer nas seguintes situações. Ainda que você não tenha passado por essas situações, tente imaginar como poderiam tê-lo afetado. Utilize a escala abaixo:

0 – Nenhuma chance de cochilar 2 – Moderada chance de cochilar

1 – Pequena chance de cochilar 3 – Alta chance de cochilar

Situação • Sentado e lendo ( ) • Assistindo à TV ( ) • Sentado em lugares públicos ( ) • Como passageiro de carro por horas ( )

• Deitado para descansar à tarde ( ) • Sentado conversando com alguém ( ) • Sentado após o almoço sem tomar álcool ( ) • No carro parado por algum tempo no trânsito ( )

Resultado Se o valor for igual ou superior a 10 pontos é sinal de que você está com sonolência excessiva. Hora de procurar um médico especializado! Fonte: adaptado da Escala de Sonolência de Epworth

mais precocemente, estão mais propensas a infecções, à obesidade, diminuição da libido e irritabilidade. “Em casos mais graves, o paciente pode apresentar depressão profunda e alteração hormonal”, diz a fisioterapeuta Vera. O automedicamento farmacológico pode ser prejudicial, mas o uso de calmantes naturais, como chás, é aconselhado por médicos da área. Vera explica que pessoas que tomam comprimidos para dormir não recuperam as energias da mesma forma. Uma boa noite de sono natural e com qualidade é o melhor remédio para recuperar as energias.

Serviço Cesf - Centro de Estudos do Sono de Fortaleza R Carolina Sucupira, 1151 - 2º Piso Tel.: (85) 3261-1887

Ronco A causa pode estar relacionada simplesmente à posição da pessoa ao dormir ou a influência de fatores como tumores e rinites, além do consumo de álcool, medicamentos calmantes ou excesso de peso. Caracteriza-se por obstruções no fundo da garganta, em que o ar produz uma forte vibração no palato (céu da boca) e na faringe, provocando o som. O ronco pode ser ruim para a saúde, pois causa interrupções na respiração, sonolência durante o dia, baixo rendimento intelectual, cansaço e irritabilidade persistente. Apnéia Parada respiratória provocada pela obstrução da faringe em estágios avançados do ronco. O CPAP (aparelho utilizado durante o sono para evitar a parada respiratória) e a cirurgia são as únicas formas de tratamento. Fonte: Associação Brasileira do Sono

Problema sob controle Sonolência durante o dia, falta de disposição, mal-humor, esquecimentos, dormência nas pernas, ronco alto. Essa era a realidade do contador Luis Ricardo de Sales Meneses (46) antes de buscar auxílio médico e descobrir que sofria de apnéia. “Só fui levar a sério quando comecei a ouvir muitas reclamações, até mesmo de amigos. Há uns oitos anos eu tive uma crise muito forte, acordei no meio da noite sem conseguir respirar, foi desesperador”, revela. A busca por uma explicação levou Ricardo a um cardiologista e depois a um otorrinolaringologista. Foi então que ele encontrou um médico especializado em distúrbios do sono. A polissonografia detectou que Ricardo acordava cerca de 300 vezes por noite. Com o uso do

Ricardo, ao lado do CPAP: preconceito inicial e alívio depois do uso FOTO: FELIPE GOES

CPAP, aparelho que gera presão contínua nas vias aéreas para desobstruí-las, o ronco e as noites mal-dormidas terminaram. “No começo eu rejeitei a idéia de usar o aparelho, mas percebi que não era incômodo, era apenas preconceito”.


SOBPRESSÃO

6

MAIO/JUNHO DE 2009

Agora é a vez do Brasil dizer “b Este é o ano da França no Brasil. Apesar de termos sido colonizados por portugueses, nosso país recebeu intervenções da cultura francesa. Em Fortaleza, não poderia ser diferente Elisiany Leite e Richell Martins

Nesta terra que tudo dá, desembarcaram muitos povos à procura da selva de riquezas ainda intocável, floresta a dentro. Inclusive os franceses calvinistas, que vieram montar aqui uma colônia de subsistência. Mal a Ilha de Vera Cruz foi descoberta e os francos planejaram domínio sobre três estratégicos pontos do litoral brasileiro: Rio de Janeiro (1555), Ceará (1590) e Maranhão (1612). Mas, acabaram sendo expulsos pelos colonizadores lusitanos. Mais de dois séculos depois, a Revolução Francesa e seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade inspiraram muitos movimentos sociais no Brasil, gerando forte mobilização civil contra o governo imperial. Desde então, as influências francesas foram sendo estabelecidas em nossa arquitetura, na culinária e até mesmo na língua. Em nosso Estado, as referências parisienses no campo das artes plásticas, por exemplo, foram fundamentais para a construção da identidade visual de artistas da terra, como Antônio Bandeira (1922 – 1967). O pintor cearense morou por muitos anos na capital francesa, até a sua morte, tendo estudado na Escola Superior de Belas Artes e, em seguida, na Académie de

la Grande Chaumière (por onde passaram grandes nomes como Amedeo Modigliani e Alberto Giacometti). Outras intervenções diretas da cultura francesa no Ceará estão nos campos da arquitetura, da gastronomia, e da educação. Essas marcas, a princípio, chegaram ao país com a própria corte portuguesa, que trouxe moda e hábitos de inspiração francesa, no século XIX. Em Fortaleza, houve um período em que a urbe aderiu fortemente ao estilo europeu: é a conhecida ‘Belle Époque’. “A abolição formal da escravidão, a imigração e emergência do trabalho assalariado e a implantação da República foram transformações relevantes experimentadas pela sociedade brasileira e cearense, em particular, ocorridas entre a segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX. No rastro dessas mudanças vertiginosas, as cidades brasileiras vivenciaram inúmeras reformas urbanas tendentes a ordenação do espaço, produtos dos anseios dominantes de modernização, processo civilizatório e progresso inspirados nas metrópoles européias, notadamente Paris”, explica o historiador Evaldo Lima. França cearense Nossa cidade respirava ares cosmopolitas. As lojas de Fortaleza tinham nomes franceses – Louvre, Au Phare de La Bastille, Grande Nouveante de Paris, Bon Marche – e vendiam roupas e objetos de luxo importados de Paris. O plano urbanístico da época também recebeu requintes europeus. Aprovei-

Passeio Público: restaurado minunciosamente no final de 2007, o projeto em moldes neoclássicos reforça influências francesas na arquitet

tando os traços dados pelo engenheiro militar português de ascendência francesa, Antônio José da Silva Paulet (que planejou obras como o Forte de Nossa Senhora da Assunção e o Passeio Público), o engenheiro pernambucano Adolfo Herbster inspirou-se em Paris para criar três boulevards, com o intuito de facilitar o fluxo de pessoas e produtos. Hoje, essas vias correspondem às avenidas Imperador, Duque de Caxias e Dom Manuel. Além do Passeio Público, com sua praça projetada nos moldes neoclássicos, outra edificação de marcante influência francesa é a Igreja Pequeno Grande, loca-

lizada na Av. Santos Dumont. Inaugurada em 1903, sua planta consta de uma arquitetura muito incomum no Ceará do início do século XX, mas muito recorrente na Europa, com o teto pontiagudo precedido pelo telhado acentuadamente inclinado, formando um ângulo obtuso. Idioma Outra inserção francesa que se dá em nossa cultura é feita através do idioma. A língua francesa ocupa, hoje, ao lado da língua espanhola, a segunda posição no ranking de cursos de idioma mais procurados em Fortaleza, sendo superada apenas pelo inglês. Só no ano passado, 1.032

alunos estavam matriculados no curso de idioma da Aliança Francesa por ser o mais tradicional da capital. “Temos 49 cursos funcionando em vários níveis, do iniciante ao mais avançado. E trabalhamos com a filosofia de intercâmbio. São mais de duzentos milhões de francófonos no mundo inteiro, e as pessoas procuram a língua para poder viajar e se comunicar. Quem mais fala línguas diferentes tem maior abertura de espírito”, diz Alain Didier, diretor da Aliança Francesa no Ceará. A professora Mônica Tassigny sempre foi interessada nas diversas áreas da cultura francesa.

Exposição percorre o País com a história da fotografia

100 x France: a mostra trouxe um acervo de imagens que simbolizam as diversas fases da fotografia francesa FOTO: LUCAS MENEZES

Fotografias: à esquerda: “Casal de namorados em um pequeno café parisiense” (1932) Copyright: © Estale Brassaï/dist-RMN); à direita: “O general de Gaulle chega no Hotel de Ville” (Anônimo) Paris, 26.08.1944 - Copyright: © Colection Gabriel Auboin, Paris/DR

Em retribuição ao “Ano do Brasil na França”, ocorrido em 2005, os governos de ambos os países entraram em acordo, no final de 2008, para realizar o França.Br 2009. De abril a novembro, nosso país celebra a cultura francesa através de eventos das mais diversas naturezas, para promover a aproximação entre essas nações. A abertura das comemorações aconteceu em Fortaleza, com a exposição “100 x France” (cem vezes França), no Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza – Unifor - trazendo a história da fotografia por meio de cem imagens de autores renomados e anônimos. “Um momento privilegiado entre os dois países. A decisão veio em nível da delegação geral da Aliança Francesa no Brasil, com sede no Rio de Janeiro, que apoiou o pedido de Fortaleza para sermos os primeiros a receber esta exposição, em parceria com a Unifor”, afirma Alain Didier, diretor da

Aliança Francesa em Fortaleza. Para o estudante Lucas Benedecti, a exposição foi algo raro de se ver. “Ela conseguiu reunir os fotógrafos mais antigos da França até os modernos. Fez um resumo muito bom do que é a fotografia francesa e como retratou o país de diversas formas: expressionista, sutil e intensa”. A estudante de Jornalismo Viviane Sobral afirma que essa diversidade de expositores traz uma variedade maior para a mostra. “Ter uma gama de fotógrafos, inclusive anônimos, diversifica a exposição e retrata diferentes olhares sobre o país e a história da sua fotografia”. A exposição já esteve em países como Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Tailândia, em 2008. De Fortaleza, “100 x France” passa ainda pelas capitais Manaus (AM), Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB), Brasília (DF), Belém (PA) e São Luiz (MA), até o fim de novembro.


SOBPRESSÃO

7

MAIO/JUNHO DE 2009

bonjour”

ura da Fortaleza do início do século XX FOTO: WALESKA SANTIAGO

Admiradora de pintores como Lautrec, Renoir e Monet, resolveu inscrever-se nos cursos da Aliança Francesa da capital cearense. Em seguida, surgiu a oportunidade de estudar na própria Cultura Francesa em Paris, onde teve contato direto com a origem do idioma. “Acho linda a língua. É romântica e filosófica. Mas o grande incentivo só veio após conhecer amigos franceses, entre eles, aquele que hoje é meu marido”, diz ela. Casada com Hervé Tassigny, chefe do restaurante Piaf, na Aldeota, Mônica chegou ainda a fazer doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Escola de Estudos Avançados

em Ciências Sociais). “Minha segunda pátria é lá, onde casei, fiz doutorado e morei. Além de ter a cidadania francesa, carteira de identidade, vou lá pelo menos uma vez por ano. Assim, meu contato com o país, com a língua e com os franceses é muito próximo”. O ano da França no Brasil deve destacar ainda mais cada uma das convergências culturais e dar força aos vínculos diplomáticos entre ambos os países. Afinal, foi no Brasil que os franceses escolheram instalar sua primeira associação internacional, a Aliança Francesa, há 124 anos, depois de instaurar a primeira sede em Paris, em 1883.

Não é preciso atravessar o Atlântico para degustar iguarias tipicamente francesas. Com a migração de europeus ao Brasil, os sabores franceses não demoraram a se espalhar por aqui. Em Fortaleza, a variedade de restaurantes franco-brasileiros é evidente. Hervé Tassigny, chefe pela Le Cordon Bleu de Paris, é um dos empreendedores do círculo de restaurantes na capital. Natural da França, é inevitável associar sua cozinha a costumes extraídos de sua cultura familiar, em sua terra natal. “Reuníamos horas à mesa apreciando a comida. Cada qual apresentando o prato mais surpreendente, a combinação mais perfeita com o vinho e, desde muito pequeno, minhas melhores lembranças estão todas ligadas à mesa, à cozinha da casa de minha mãe e de minhas avós. Não deu outra. Mais tarde me formei Chefe de cozinha e até hoje fazemos o mesmo ritual em família”, diz Tassigny. Seu primeiro restaurante em Fortaleza foi o Taco Loco, na Praia de Iracema, uma espécie de franco-mexicano. Não deixava de ser uma adaptação dos ingredientes da cozinha mexicana, muito próximos da cozinha brasileira: feijão, milho, abacate, pimenta etc. “Foi um sucesso, embora não tenha ganhado dinheiro”, afirma o chefe de cozinha. Depois, comandou restaurantes como o La Nuit, o Lautrec e o Le Parisien. Hoje, com o PIAF, após uma década de experiência no mercado gastronômico local, Tassigny aprendeu a mesclar a cozinha francesa ao paladar cearense, fazendo releituras de pratos tí-

Tassigny trouxe a tradição gastronômica da própria família FOTOS: WALESKA SANTIAGO

picos da nossa culinária. A influência francesa na cozinha brasileira está no uso ingredientes, nas técnicas de preparo e no manejo de frutos do mar. O gosto apurado dos franceses pela boa mesa vem desde que a França ainda era a Gália, nos tempos do Império Romano. Mas, a alta culinária daquele país só se popularizou depois da grande Revolução de 1789. A mudança de regime e a queda da velha aristocracia obrigaram os chefs de cuisine a deixar

os castelos e palácios e sair em busca de clientes entre a gente comum. Atualmente a obediência aos princípios da culinária clássica se mescla à sedução pela ousadia e modernidade: é um traço tipicamente francês e uma das marcas desta gastronomia contemporânea.

Serviço Restaurante PIAF Rua Silva Jatahy, 942 - Meireles. Fone: 3242.507

Receita

Perfume de mulher A França também é conhecida como uma verdadeira fábrica de perfumes. De lá saíram muitas das maiores e mais raras fragrâncias já conhecidas. Um delas é o perfume Chanel Nº5. Em 1920, a estilista francesa Coco Chanel encomendou ao perfumista Ernest Beaux um aroma que fugisse à mera reprodução de essências naturais (como cheiro de lírios do campo, por exemplo). Seu desejo era de que o perfume que levasse seu nome fosse uma composição de fragrâncias, uma nova invenção. Depois de provar seis amostras diferentes, Chanel escolheu a quinta para ser o cheiro de sua marca. O nome do perfume tem ligação direta com a sua crença na numerologia - o número cinco dava-lhe sorte.

Um chef francês na terra do sol

Marquise de Chocolate A influência francesa sobre nossa arquitetura, guardadas as metáforas, não está só nos cenários urbanos. Até mesmo na culinária, o visual é levado em conta e pensado sob medida. Exemplo disso é a receita abaixo, que, apesar de levar o nome de uma estrutura de concreto, é carregada de sabor. Ingredientes 250 g de Chocolate para Culinária 250 g de margarina de mesa 4 ovos 4 colheres de sopa de açúcar 2 colheres de chá de café solúvel el 1 pitada de sal Chanel revolucionou o séc. XX com a fragrância que captou a alma feminina FOTOMONTAGEM: RICHELL MARTINS

Quase noventa anos após sua criação, o Chanel Nº5 continua sendo um dos perfumes mais caros do mundo e nunca teve sua embalagem e composição alteradas. Em 1951, numa entrevista concedida num aeroporto do Japão, a atriz norte-americana Marilyn Monroe chegou a declarar: “tudo o que uso para dormir são duas gotas de Chanel Nº. 5”.

Para o molho 1 colher de chá de maisena 2 colheres de (sopa) bem cheias de açúcar 3 gemas 1 xícara de leite 1/2 xícara de café forte Modo de preparo Num tacho, leve a derreter em banho-maria o chocolate partido em pedacinhos e, quando estiver quase mole, junte a margarina e deixe derreter completamente. Retire do fogo e passe para uma tigela, mexendo constantemente. Junte, então, as gemas e bata muito bem. Dissolva o café com 50ml de leite quente e derrame sobre a massa que está na tigela, ainda mexendo para

manter a consistência. Bata as claras em castelo com a pitada de sal, e misture aos poucos. Adicione as 4 colheres de açúcar sem parar de bater; quando as claras estiverem bem d firmes, misture-as ao preparado com cuidado, sem bater, até tudo estar bem ligado. Deite numa forma previamente molhada e guarde no congelador de um dia para o outro. Prepare o molho no mesmo dia Num tacho, misture o açúcar com a maisena. Junte depois as gemas, mexendo muito bem e adicione o leite aos poucos e o café; leve ao fogo sem parar de mexer com a colher de pau e, quando levantar fervura ou borbulhar, retire imediatamente do lume. Mude-o de recipiente e deixe esfriar. Quando a mousse estiver rija, aqueça a forma mergulhando-a rapidamente em água quente, desenforme e guarde no congelador até ao momento de servir. Depois, regue com o molho e decore com raspas de chocolate. Então, sirva. Fonte: http://pt.petitchef.com/receitas/marquise-de-chocolate-fid142827


SOBPRESSÃO

8

MAIO/JUNHO DE 2009

Uma história de cinema e paixão A vida de seu Vavá se entrelaça com a trajetória do cinema em Fortaleza. Hoje, ele recebe cinéfilos de toda a cidade em seu Cineclube, no bairro Otávio Bonfim Ivna Girão e Nina Giordana

Realizador e proprietário do Cine Nazaré em Fortaleza, o aposentado Raimundo Aguiar, 78, conhecido como Seu Vavá, é apaixonado pela magia da sétima arte. Sua história parece filme, inspirado no enredo do clássico Cine Paradiso, de Giuseppe Tonartore. “Desde a primeira vez que vi uma cena movida, me encantei. Eu sempre me lembro do fascínio que tive na primeira vez que fui ao cinema ver um filme de faroeste no Cine-teatro São José, no ano de 1937. Nunca me esqueço dessa emoção”, disse, com um sorriso no rosto. Com uma vida entregue ao prazer pelas ‘telonas’, Seu Vavá apresenta filmes raros e antigos nas sessões de cineclube, no bairro Otávio Bonfim. “Eu sigo uma linha de exibição para o público que gosta de seriados, faroestes e filmes clássicos que estão fora do circuito comercial”, salientou o proprietário. As sessões são gratuitas e acontecem às quintas-feiras, aos sábados e domingos, às 19h. Há um ano em funcionamento, O Cine Nazaré traz cinéfilos de todas as partes da cidade.

“Não é só o pessoal do bairro Antônio Bonfim que vem. Tem muitos estudantes de arte, gente nova e gente velha. Aqui não tem idade”, afirmou seu Vavá. Com uma boa risada, ele brincou: “essa moçada não sabe o prazer de ver um filme em preto-e-branco e sem os efeitos especiais de hoje em dia”. Seu Vavá conta sobre a sua paixão: “eu não faço nada disso por interesses comerciais, mas sim por amor à arte cinematográfica. Eu cresci dentro de uma sala de cinema e quero morrer nela”, explicou. “Eu penso, vivo e respiro cinema”, completou. Fotogramas Em suas primeiras aventuras cinematográficas, Seu Vavá realizava grandes façanhas para poder assistir aos filmes, ainda criança. Aos seis anos de idade, sempre dava um jeito de burlar a segurança e entrar de graça nas sessões. “Eu e meus amigos pulávamos muros e subíamos nas grades para tentar entrar de graça. As sessões não custavam muito caro, mas as crianças nunca tinham trocados para entrar. O valor era o equivalente a R$ 0,30. Hoje em dia, esses cinemas de Shopping cobram um absurdo para exibir filmes que logo depois passam na televisão”, salientou. Ele lembra dos filmes de ‘mocinho e bandido’ que tanto gostava de assistir. Relatando o dia que andou a cavalo pela

primeira vez, ele falou da emoção de correr contra o vento: “menino, foi tanta emoção que eu me senti em um filme de faroeste sempre perseguido pelo bandido”, riu. Aos 15 anos, ele começou a trabalhar no Cine Familiar, organizado por religiosos. “Em 1970, eu resolvi tocar meu próprio negócio. Aluguei o prédio do antigo Cine Nazaré, que funcionou de 1945 a 1952, e transformei o espaço em uma sala de cineclube, que recebeu o nome do antigo cinema”, narrou. Seu Vavá disse que filme bom é aquele que traz lembranças da infância. “Cada vez que vejo as cenas do Casablanca eu me emociono e me remeto aos tempos antigos, do mundo em preto-branco”, concluiu o apaixonado.

Coincidência: inspiração para seu Vavá, as películas fazem parte da sua vida e constróem até o enredo dela, como no inesquecível clássico Cine Paradiso. FOTO: MILLENE HAEER

Saiba mais...

Encontros para ver e discutir sétima arte Inaugurado em 1949 em Fortaleza, o Clube de Cinema foi o primeiro cineclube da capital. “Fortaleza foi a segunda cidade a ter cineclube no Brasil”, afirmou Firmino Holanda, professor de cinema da Casa Amarela da UFC. O primeiro cineclube do Brasil surgiu em 1928, no Rio de Janeiro. Espaço de sociabilidade urbana, o Clube de Cinema de Fortaleza fez história e virou referência para outras gerações: “Era um momento de lazer em que se debatia muitas temáticas presentes nos enredos”, salientou o pesquisador. Com a característica de oferecer ao público opções de assistir a obras de valor histórico e artístico, os cineclubes tiveram sua época de ouro na década de 70. Segundo Firmino Holanda, o Cine de Arte Universitário, ligado à Casa Amarela, era espaço de interação e de troca de ideias de amantes e produtores de cinema. “Assistíamos filmes soviéticos em plena ditadura militar. Não chegamos a sofrer censuras graves, mas tínhamos medo”. Segundo Firmino Holanda,

Oficial Vila das artes, Sobremesa, Cine Paromotoquinha, Acartes, Cineclube Unifor, Vila das artes, Farol e Piro Cine Se. Há atualmente sete cineclubes cearenses afiliados ao Conselho Nacional de Cineclubes (CNC), todos localizados em Fortaleza. Para os amantes de cinema, vale tudo para reunir o grupo na frente da ‘telona’ e apreciar o momento mágico em que a vida se resume aos ‘24 quadros por segundo’, expressão que define a quantidade de fotografias que, em sequência, dão a ideia de movimento no cinema.

Cineclubismo Cine Sobremesa – Desde outubro de 2008 • Rua Major Macundo, 154, Centro • 31018826/ 31018827/ 87079763 • Quarta -12 às 14h. Cineclube Acartes – Desde outubro de 2002 • Rua Nossa Senhora das Graças, 994, Pirambu • 32362884/ 88461959 • Sextas, sábados e domingos às 19h. Cineclube Unifor - Funciona há cinco anos • Sala A da videoteca • Quintas • 13h30 • Vila das Artes - Ligado a Escola de Audiovisual de Fortaleza • Rua 24 de Maio, 1221, Centro • Quarta - 18h30.

Cineclube Unifor acontece às quintas com a presença de convidados para debater temáticas dos filmes exibidos

um dos diferenciais do cineclube é a possibilidade do debate. “O cineclube não atrai apenas os cinéfilos, mas também aqueles que gostam de se sociabilizar e de vivenciar o mundo a partir do âmbito da cultura”, frisou Holanda. Como já dizia Márcio Acselrad, coordenador

do Cineclube Unifor, cineclubismo é um clube de pessoas que se reunem para ver e discutir cinema. Já segundo o coordenador da Escola de Audiovisual da Vila das Artes, Lenildo Gomes, “um cineclube consiste na organização coletiva de ações voltadas para a

FOTO: NATÁLIA GUERRA

democratização de espaços de exibição de produtos de cinema e vídeo. O seu papel social é o da promoção de opções alternativas de acesso à cultura tendo o audiovisual como eixo principal”, explica ele. Fortaleza já chegou a ter 22 cinemas na década de 50.

Cineclube Farol – Rua Primavera, 68, Conjunto São Pedro • 32480677 • Quartas-feiras às 19h Piro Cine Se – Fundado em janeiro de 2005 • Rua Clarindo de Queiroz, 1740 • 32260853 • Sábados pela manhã, das 9h às 12h.


SOBPRESSÃO

9

MAIO/JUNHO DE 2009

Quem faz a noite de Fortaleza Entre os bares e botecos de Fortaleza, tradição e originalidade são os pontos fortes dos estabelecimentos que atraem público e fidelizam clientes Arituza Timbó e Katryne Rabelo

“Eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo”. A música Eu Bebo Sim, do sambista carioca Luís Antônio, é mais uma das várias canções que representam o prazer da boemia. Em Fortaleza, vários bares já se tornaram símbolos de encontro de tribos, uns mais tradicionais, outros “da moda”. Porém, mais do que representar o bel-prazer de beber e se divertir, essa estrofe pode simbolizar também a longa data de existência de alguns bares, que se mantêm sempre no gosto dos seus frequentadores. Não importa o lugar, seja no Parque Araxá ou na Aldeota, um bom boteco que retrata bem suas raízes e se propõe a agradar seu público-alvo das mais variadas formas será sempre frequentado. Quais os segredos do sucesso? Para descobrir isso, fomos em três bares que representam o samba e o rock’n roll da noite fortalezense: o Bar do Arlindo, o Zé Bezerra e o Fafi Bar. Bar do Arlindo E como “quem não gosta de samba bom sujeito não é”, no Bar do Arlindo quem não gosta de samba só poderia estar perdido na noite. A casa é referência na noite do samba de raiz de Fortaleza há 11 anos, tendo sido frequentada desde então por um público essencialmente de clientes fidelizados. Hoje, o bar é visitado também pela segunda geração dos primeiros frequentadores do local, ou seja, os filhos dos primeiros clientes – que já eram fiéis. “Eu venho para cá por causa da música”. É assim que a estudante de jornalismo Munique Freitas justifica sua frequência semanal no Arlindo. De acordo com a caixa do bar, Elite Araújo da Fonseca, o “segredo” do sucesso está em fechar o bar por algum tempo. Neste período, conforme ela, os funcionários descansam. “O bar para durante um mês, geralmente em dezembro e julho pra dar um tempo no agito”, explica Elite. Ela não considera o Arlindo um bar “da moda” e ressalta que o público fiel frequenta a casa cerca de três vezes por semana, diferente do que surgiu quando o bar se popularizou, que marcava presença aos finais de semana. Deixar que o Arlindo não caia na rotina e sim no gosto dos seus frequentadores é, de fato, a explicação de tanto sucesso e tradicionalismo.

Descontração: muito samba e chorinho num ambiente marcado por caricaturas de artistas famosos e dos que frequentam o Bar do Zé Bezerra

Serviço

Para todos os gostos Samba, Rock, Mpb. O ritmo varia e os gostos também. E para quem curte cada estilo musical vai aí uma lista de sugestões de bares. Buoni Amici’s Sport Bar Rua Dragão do Mar, 80, Centro Cultural Dragão do Mar - Praia de Iracema; Tel. 3219-5454 - Samba. Bar do Arlindo Rua Joaqim Nabuco, 2186 - Aldeota ; Tel. 3268-1436 - Samba.

Bar do Papai

Bar do Papai Rua Monsenhor Bruno, 1386 - Dionísio Torres; Tel. 3264-3495 - Samba. Bar do Zé Bezerra Rua Dom Manuel de Medeiros, 71 - Parque Araxá - Samba Sambrasil Bar e Restaurante Rua Tabajaras, 374 - Centro; Tel. 3219-0695 - Samba. Bebedouro Rua Norvinda Pires, 22 - Aldeota; Tel. 3224-4759 - MPB. Chopp do Bixiga Rua Dragão do Mar, 108 - Praia de Iracema; Tel. 3219-7690 - MPB.

Dragão do Mar

Zé Bezerra O Bar do Zé Bezerra funciona há mais de 35 anos no Parque Araxá, e sempre aos sábados e domingos oferece samba. “O som do local é sem amplificador, é tudo no ‘gogó”’, explica o estudante Hygor Gouveia, frequentador do bar, inaugurado em 1970. Para ele, o que justifica o sucesso permanente do local é a tradição. “É essa tradição que convida mais pessoas a conhecer o bar”, diz. O “Zé” era um típico sujeito do interior, com resposta para tudo na ponta da língua. E não é a toa que o bar que leva seu nome já está na terceira geração de frequentadores e hoje funciona primando pela tradição. Fafi Bar “E amigos antigos/ Pra temperar vodka/ Gargalhadas gostosas”, nessas palavras Cazuza transmite bem o que de bom se pode passar na mesa de um bar. Porém, não é só com vodka que um boêmio se diverte. No Fafi Bar, além dos drinks “orgasmo selvagem” e “êxtase”, a cozinha com in-

FOTOS: ARQUIVO DO BAR

fluência espanhola adaptada à culinária regional ‘segura’ seus clientes e os fideliza cada vez mais. Já Fafi, como prefere ser chamada a proprietária do Fafi Bar – que existe há quatro anos - justifica a fidelidade da sua clientela com os bons serviços ofertados pelo estabelecimento. “O Fafi já foi um bar da moda, hoje é frequentado pelo público fiel”, avalia. O músico Bruno Gondim acredita que o sucesso do bar se deve à localização, que apesar de ser numa área nobre da cidade fica numa rua pequena. “E você acaba não ficando só dentro do bar, mas a rua toda fica cheia, e ao clima alternativo do bar também, que tem boa música, pintura, poesia, etc.”, argumenta. Nas mais variadas localidades, a graça de um bar está na alegria de quem o frequenta. O espírito de descontração está presente em todos esses locais e “de bar em bar, de mesa, em mesa, bebendo cachaça, tomando cerveja”, a animação é uma característica permanente, que garante o sucesso desses bares.

Cantinho Acadêmico Avenida 13 de Maio, 2370 - Benfica; Tel. 3281-8857 - MPB.

Música: inovar é preciso

Fafi Bar Galeria Rua Norvinda Pires, 55 - Aldeota; Tel. 3261-3049 - Rock. Hey Ho Rock Bar Rua José Avelino, 604 - Praia de Iracema; Tel. 3219-3931 – Rock.

Hey Ho Rock Barr

Rota 66 Travessa Manoel Maia, 120 - Joaquim Távora - Rock. Hits Brasil – Pizzaria, Restaurante e Music Bar Av. Jovita Feitosa, 170 - Parquelândia; Tel. 32438331 – MPB ao forró. Zug Chopperia Rua Professor Dias da Rocha, 579 - Meireles; Tel. 32244193 - Happy Hour Bar da Esquina Rua Dragão do Mar, 2 - Praia de Iracema; Tel. 253-3402 - Dance/Disco/Pop

Todo segundo sábado do mês, no bar Rota 66, o ‘rock-blues’ da banda Smoke entra em cena. O público, que curte o gênero, é formado por jovens amantes do rock e pessoas mais velhas que apreciam o blues. O baterista da banda, Leonardo Capibaribe, relaciona o sucesso de um bar a oferta de boa música. “A música que é ofertada pelo bar é o que define o estilo musical do local, é a sua identidade”, garante. Porém, o músico ressalta a importância de que um bar diversifique sua oferta de bandas, para que as músicas não caiam na mesmice e, por consequência, os clientes fiquem saturados.

Leonardo, banda Smoke. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Leonardo acredita que os bares da Capital deveriam inovar com a oferta de gêneros musicais. Ele destaca que não há em Fortaleza bares que toquem música eletrônica. “Aqui, existe este gênero em boate, mas em bar não”, pontua.


SOBPRESSÃO

10

MAIO/JUNHO DE 2009

A leitura que educa e inspira Cerca de 12% dos brasileiros ainda são analfabetos e 30% não sabem interpretar um texto. Porém, clubes de leitura podem ajudar a reverter parte deste quadro Monique Linhares e Camila Marcelo

“Um país é feito de homens e livros”, dizia Monteiro Lobato, um dos mais queridos escritores brasileiros. A leitura é instrumento básico para a educação, essencial para a formação cidadã e o desenvolvimento de uma nação. Aparentemente, é uma prática comum para a maioria dos brasileiros, mas, segundo pesquisa realizada em 2007 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), no Brasil ainda há cerca de 12% de analfabetos e 30% de analfabetos funcionais, pessoas que sabem ler, mas não conseguem interpretar o texto. Essa estatística coloca o Brasil numa posição embaraçosa. O analfabetismo aqui é quatro vezes maior que na Argentina, por exemplo. Entretanto, mesmo com esses números e resultados, ainda há esperanças de que o cenário da leitura no país progrida, pois já se transforma lentamente. O Instituto PróLivro (IPL) em parceria com o Ibope Inteligência, realizou a 2ª edição da pesquisa Retratos da leitura no Brasil, em 2007, no intervalo de sete anos desde a primeira, e os estudos revelaram dados otimistas. Neste tempo, o número de leitores aumentou, de 26 milhões no ano 2000, para 66,5 milhões em 2007. Os dados apresentados não são apenas números que podem aumentar ou diminuir ao sabor do tempo e dos segmentos estudados, eles dão base para ações efetivas de políticas públicas e de iniciativas particulares. A leitura pode ser um ato simples, sem muitas pretensões e de livre iniciativa, ou prática obrigatória, técnica, de escola e academia. Mas, para educadores não é algo tão sintético assim, ela é o princípio do aprendizado, um costume que deve ser incentivado desde a infância. Questão de cultura No Brasil, o hábito da leitura e os frutos que se colhem dessa cultura, não é tão forte quanto deveria ser, o que aponta muitas das falhas no sistema educacional público e privado. O processo de alfabetização e formação do leitor perpassa pelo bom desempenho da escola e, principalmente, do professor em sala de aula, que vai ter um papel crucial no incentivo a essa prática. Quando o escritor e educa-

Livros: na busca por um que se goste, as dicas são mais que bem-vindas. Segundo pesquisa, mais pessoas leem por influência de parentes, amigos e professor

Rodas: encontros de amantes e curiosos pela leitura. Reunidos para debater, sugerir e compartilhar as mais diversas interpretações da palavra.

dor Rubem Alves fala da leitura, explana sobre os passos que a criança percorre ao ter o prazer em ler. Começa com os pais, apenas ao ouvi-los contar histórias, depois entra em cena o professor, que pode ou não instigar o interesse do aluno pelas letras. Os amigos também são importantes nesse processo. Em sua crônica “O prazer da leitura”, Rubem Alves utiliza um velho ditado para traduzir o cerne da questão da aprendizagem: “é fácil levar a égua até ao meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber”. O desafio para o professor é despertar no estudante o verdadeiro gosto pela literatura sem relacioná-la somente ao estudo. Ainda falta muito para que esse hábito ultrapasse os muros das escolas e conquiste o tempo de prazer das pessoas. O que se vê no Brasil, atualmente, são crianças, jovens e adultos ocuparem os momentos livres assistindo televisão e ouvindo música, como aponta a pesquisa do IPL. Além das redes de ensino, existem espaços dedicados a uma leitura despretensiosa, que despertam um interesse diferente pelos livros. Seja em instituições, livrarias, cafés, bibliotecas, casa de amigos ou até mesmo em praças públicas, os clubes de leitura têm o poder de aguçar a sensibilida-

de humana e de convergir diversas maneiras de interpretar o mundo. São encontros que criam laços de afeto e agregam amigos e conhecidos para debater, re-

Alessandro Pascal

Aqui a gente se propõe a ser um mosaico de ideias e de palavras, a ser um espaço cultural. Colaborador do Templo da Poesia

citar, ler e compartilhar textos próprios e de outras autorias. Participando ativamente ou não, as pessoas acabam se envolvendo no ambiente cativante das palavras lidas. “A leitura insere o cidadão no mundo cultural de forma mais consistente, ativa, autônoma. Em se tratando de literatura (arte), ela organiza as emoções das pessoas, as torna mais maduras, críticas e exigentes, fomenta nelas desejos de mudança para melhor”, ressalta o escritor e educador Kelsen Bravos, que coordena a ONG Casa do Conto, que há seis anos atua com clubes de leitura para crianças e adolescentes de baixa renda de Fortaleza e de mais seis cidades do Ceará.

Poesia no casarão Reunir pessoas para declamar, debater e observar o mundo através do verso. Este é o objetivo do Templo da Poesia, aberto em abril deste ano, no Centro de Fortaleza, e um sonho antigo do escritor Ítalo Rovere. O espaço foi cedido por sua família. Agora, juntamente com os seus amigos e também poetas Reginaldo Figueredo e Nilze Costa e Silva, Rovere reforma aos poucos o ambiente e organiza encontros e oficinas voltados para os amantes da arte e da palavra. “A nossa construção é da liberdade. Esse trabalho a gente vai se envolvendo e as coisas vão acontecendo”, explica Reginaldo. Paredes repletas de frases poéticas, um palco para performances e recitações e a aparência estética ainda simples. “Aqui a gente se propõe a ser um mosaico de ideias e de palavras, a ser um espaço cultural”, comenta Alessandro Pascal, ilustrador e também colaborador do local. Os encontros contemplam aqueles que desejam dividir textos, contribuir com pensamentos ou apenas presenciar as reuniões. “As pessoas se sentem acolhidas. Aqui é um lugar aberto para a gente sonhar junto. A gente está aberto para qualquer pessoa, para conversar, para aprender”, afirma Rovere.

FOTO: WALESKA SANTIAGO

FOTOS: WALESKA SANTIAGO

Encontro de amigos No burburinho cultural da cidade existe uma livraria alojada num antigo casarão do Benfica. Há nove anos, a Lua Nova recebe acadêmicos e estudantes de toda a cidade atraídos pelo seleto acervo, escolhido à dedo por Eliza Mariano e Fernanda Marques. O ambiente inspira a leitura e exala um cheirinho gostoso de café, que vem do segundo andar da casa. O Café Lua, aberto há dois anos, acolhe dois encontros periódicos, o Literatura de Lua, coordenado pela escritora Fernanda Meireles, e o sarau da Confraria Café com arte, idealizado pela jornalista Klycia Fontenele, a historiadora Cláudia Freitas e a poeta Eveltana Freitas. Toda semana, há um ano e meio, o Literatura de Lua reúne gente para discutir temas, bater papo com convidados especiais, além da feira de trocas, o escambo. Levam livros, textos próprios, revistas, cartas. Tudo que pode render uma boa conversa vale. “O foco é contar histórias, trocar experiências”, diz Fernanda Meireles, famosa por seus fanzines e cartões-postais. Os temas escolhidos transcendem à literatura, apesar de ser a paixão de quem participa do clube. Não se trata de um espaço de declamação de poesia. O fato é que “o Literatura virou hábito”, comenta Farad Roservad, frequentador e amigo da escritora.


SOBPRESSÃO

11

MAIO/JUNHO DE 2009

Crianças: sentem, que lá vem a história

Performances, leituras e um universo de imaginação ao alcance das crianças nas rodas de contação de história

quedos, tapetes e um aparelho de som. “A música dá o ritmo para a contação, e os fantoches e tecidos se transformam em personagens e lugares”, afirma ela. Mas Ana não trabalha sozinha. Junto com ela, Jacinto Monteiro também conta histórias e tem sempre a tira-colo seu violão, para tornar o momento ainda mais encantador. Segundo ele, as histórias resgatam o prazer da imaginação

e a criatividade: “através das histórias, conseguimos afastar um pouco as crianças do computador e damos a elas um momento diferente, onde a imaginação é a ferramenta principal”. Entre uma história e outra, Jacinto e Ana Maria cantam músicas infantis e tem a Hora da Ciranda, onde convidam as crianças da platéia para formarem uma ciranda ao som de cantigas de roda.

Opinião

Kelsen Bravos

Solidariedade: diálogos e trocas por meio da literatura A leitura chegou a mim feito bóia a um náufrago. Menino tímido, fotofóbico, brincar à luz e correr de lá pra cá me dava canseira. Quando o fazia, era um ato meio solitário. Meio, porque comigo estavam os personagens e cenas das Vinte mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, do Tarzan dos Macacos, Os contos de Tarzan e toda a coleção de Burroughs. Inicialmente em livros, depois em quadrinhos os mais diversos, que, aliás, me levaram a uma intensa paixão às clássicas séries de HQ de aventuras e super-heróis, que lia a reboque da excelente coleção constituída por meu irmão, Kelson. Daí foi natural chegar aos livros da diversa e bem seleta biblioteca de meu pai. O acervo ia da filosofia, antropologia, geografia, direito, história, política e literatura à matemática, física e ciências naturais. Aquela canseira e a aparente solidão me davam uma seriedade incomum a uma criança de minha idade e me isolava mais da minha geração. Esse isolamento me aguçou o olhar para dentro de mim e para dentro das pessoas a meu redor. Tornei-me cronista e de certa forma “bibliotecário”, pois as pessoas do bairro tinham o acervo literário de minha casa como referência de pesquisa. Atendia, orientava pesquisa ao acervo, sugeria e até discutia a leitura dos livros de tal forma que os estudantes sempre contavam com minha colaboração. Virei um leitor solidário. Vi nessa solidariedade uma razão de ser. Sou professor por profissão; educador, por convicção; escritor, por afã de diálogo; editor e difusor da leitura, por solidariedade. Busquei fundir tudo isso, surgiu a leitura como inclusão social. Encontrei pessoas com pensamentos afins e fundamos a Casa do Conto, uma instituição que leva a

leitura para perto das pessoas em seus municípios, bairros, escolas e lares envolvendo todos os familiares. A emoção predomina nesse contato. O cansaço de tantas viagens se esvai ao encontrar o olhar cheio de esperança de uma criança ao despertar para a leitura. Crianças feito Maírla, lá no isolado distrito de Açudinho, a 50km da sede do município de Tamboril, que elegeu Manuel Bandeira seu poeta amado. Ela tem o olhar mais intenso, ela tem poesia no olhar — e são tantas Maírlas! Em Boqueirão dos Cunhas, um lugar de Caucaia (município da região Metropolitana de Fortaleza), tão apartado da cidade que parece o mais profundo e remoto sertão, encontramos pessoas imersas nos seus afazeres cotidianos. Acordam com o cantar dos galos, tangem seus bois, cabras, alimentam as galinhas e capotes, vão para o roçado, no açude pescam tucunaré. Ao cair do dia, se recolhem com o canto dos passarinhos. À noite rezam e dormem. Chegamos lá com mais de mil livros e perguntamos por seus sonhos, não tinham planos para depois de amanhã, senão fazer o que fizeram ontem. Há alguns meses estamos indo por lá. Hoje continuam fazendo o que faziam em seu isolamento. Fundaram, no entanto, um clube de leitura também, contam histórias ao redor de fogueira, e, de casa em casa, fazem rodas de leitura. Em cada criança, em cada pessoa do lugar, surpreendo um olhar para dentro de si mesma e um brilho intenso mirando o futuro... Kelsen Bravos é professor, educador social, escritor e um dos fundadores da Ong Casa do Conto, que atua com crianças e adolescentes em clubes de leitura espalhados pelo Ceará.

FOTO: MILLENE HAEER

Para Jacinto, é um dos momentos mais importantes da apresentação: ”é muito bom poder resgatar boas músicas e usá-las para educar”. Também nos intervalos, são indicados livros e autores infantis, para que as crianças se interessem mais pela leitura. Autores como Ana Maria Machado, Mônica Gutman, Ruth Rocha, Câmara Cascudo e Monteiro Lobato são sempre lembrados. “É importante

mostrar às crianças onde elas podem encontrar as melhores histórias, pois assim criam o hábito da leitura desde cedo”, afirma Ana. Enquanto Ana e Jacinto contam as histórias, o que se percebe são olhos atentos, curiosos, alguns até fechados, buscando a maior aproximação possível com o lugar e o personagem. “Sinto que elas ficam mais alegres, viajam a esse mundo lúdico, criam uma maior percepção de espaço e desenvolvem mais sua coordenação motora, porque a gente faz eles se movimentarem mesmo” observa ela. O trabalho de um contador de histórias não é fácil e nem sempre bem remunerado, mas seus profissionais acabam nos mostrando que o grande pagamento está no brilho dos olhos e no sorriso de cada criança. “Vejo que ajudamos as crianças a lidarem com suas emoções, porque os contos infantis têm essa simplicidade e falam direto ao sentimento. Sinto que posso transformar situações através do meu trabalho”, finaliza Ana Maria. E como todo Era uma Vez tem seu fim, esse não podia ser diferente: acabou-se o que era doce! Luciana Meneses

Serviço • CAFÉ LUA Literatura de Lua Rodas de leitura, debates, convidados, feira de trocas. Terças às 18h30 Coordenadora: Fernanda Meireles Confraria Café com arte Recitais, música, dança, performances e literatura. Quintas às 18h Os encontros acontecem no segundo andar da Livraria Lua Nova. Av. 13 de Maio, 2861 - Benfica Tel: (85) 3243. 4161

• ONG CASA DO CONTO Realiza, entre outras ações, rodas de leituras, oficinas de criação e ilustração de histórias, narração de contos, lançamento de livros e conversas com autores Coordenador: Kelsen Bravos Contato: contato@casadoconto.org.br

• TEMPLO DA POESIA Além da programação de rodas de leitura e reflexão marcada na segunda quinta-feira de cada mês às 17h, há outros eventos esporádicos divulgados no blog do Templo: http://espacoartetemplodapoesia. blogspot.com/

Chá com poesia Recital de poesias, música, chá, lanche fraterno, bate-papo e literatura. Primeiro sábado de cada mês às 16h. Rua Barão de Aratanha, 201 Centro Tel: (85) 8855.4289

FOTO: WALESKA SANTIAGO

Era uma vez uma menina que não gostava de ler e achava que livros não tinham a menor graça. Essa menina cresceu, e aos 29 anos começou a frequentar uma biblioteca, descobrindo a paixão pela leitura. Essa é a história de Ana Maria Bezerra, que há dois anos realiza contações de histórias infantis nas tardes de sábado, na livraria Siciliano, no shopping Del Paseo, aqui em Fortaleza. “Depois que comecei a frequentar a biblioteca, desejei que o mundo todo gostasse de ler, depois veio a contação”, revela. Os contadores de histórias geralmente são formados por grupos ou duplas, que se apresentam em teatros, espaços infantis, hospitais, escolas, livrarias, entre outros lugares, levando um pouco do mundo da imaginação, que por muitos já foi perdido. Se caracterizam, usam música, cenários, fantoches e o que mais for preciso para fazer aquelas crianças viajarem para o mundo da fantasia. Antes de começar a apresentação, Ana Maria se prepara com figurinos pensados e trabalhados para a história daquele dia. Separa os objetos necessários para o momento, como tecidos, fantoches, brin-


SOBPRESSÃO

12

MAIO/JUNHO DE 2009

Convergência.com: a era do jornalismo online

Convergência midiática: criado no segundo semestre de 2008, o blog do Labjor traz matérias relacionadas às atividades que acontecem dentro e fora da Unifor

Os estudantes de Jornalismo e estagiários do Laboratório de Jornalismo da Unifor experimentam de forma enriquecedora a produção e troca de informações pelo blog Lucas Moura

Já não há mais dúvidas de que a convergência midiática trouxe, na atualidade, uma nova roupagem à comunicação. O contínuo aprimoramento das novas tecnologias permite que cada vez mais pessoas possam aderir ao universo da internet e das novas mídias. Os blogs, termo decorrente da simplificação da palavra weblog, tornaram-se, para muitos profissionais da comunicação, uma ferramenta de trabalho assaz presente no cotidiano. Eles surgiram em meados de 1997, sendo criados por John Barger, autor de um dos primeiros FAQ (Frequently Asked Questions) sobre a história da internet. Os blogs se popularizaram somente a partir de 1999, quando houve realmente um uso em massa pelas pessoas como diário virtual ou página onde pudessem tratar sobre os mais diversos assuntos. Trata-se de um espaço que permite ao usuário escrever textos e, junto a este, inserir ima-

gens, vídeos e hiperlinks, que ligam determinadas palavras a outras páginas web. Vários jornalistas conhecidos, como Ricardo Noblat, Miriam Leitão e Patrícia Kogut, já possuem os seus, em que compartilham informações com os leitores sobre vários assuntos. O Laboratório de Jornalismo (Labjor) da Universidade de Fortaleza passou por ampliações no ano passado. Neste período, além do ingresso de novos estagiários, o Labjor passou por um processo de convergência midiática e, em decorrência disso, foi criado o Blog do Labjor. Além de novo instrumento de comunicação para o laboratório e seus estagiários, o blog permite aos alunos produzirem mais, mostrarem matérias completas, na íntegra. Embora pouco divulgado num primeiro momento, hoje o blog mantém um ritmo de produção bem rico e acelerado em termos de conteúdo, que vai desde matérias institucionais sobre a Universidade, entrevistas e bastidores das reportagens produzidas para os jornais-laboratórios e a revista A Ponte, até coberturas do Cineclube Unifor e de eventos dentro e fora da universidade. “Não foi idéia de uma única pessoa, mas uma demanda coletiva: dos alunos, dos professores,

do coordenador Eduardo Freire. O resultado é animador até agora. É possível ler entrevistas e matérias de qualidade.Registros que só foram possíveis por meio do blog.”, afirma Ricardo Sabóia , professor e atual gerente do Labjor. “Constantemente, a nossa universidade oferece seminários, exposições e palestras aos alunos da Unifor. O Blog funciona, então, como um mecanismo de informação e incentivo aos universitários, independente do curso, para eles usurfruirem tudo o que o Campus proporciona e não é aproveitado”, comenta Camila Marcelo estagiária do Labjor. O laboratório ainda está com planos de lançar uma página com domínio próprio. O site pode englobar outras ferramentas virtuais com o propósito de incrementar a produção da redação, trazendo mais possibilidades de conteúdo, fortalecimento e atualização dos produtos que já existem, além de ser mais um meio do âmbito das novas tecnologias com o qual alunos e estagiários poderão trabalhar. Ainda não há uma previsão de lançamento, já que o serviço depende de ações externas não ligadas diretamente ao Labjor, mas estima-se que a página vá ao ar no segundo semestre de 2009.

FOTO: WALESKA SANTIAGO

Blogs ampliam experiências Pegando carona na onda de blogs e com o intuito de enriquecer as experiências do estágio no Labjor, o coordenador de Jornalismo, Eduardo Freire, iniciou uma parceria especial com outros dois cursos da Unifor, Turismo e Hotelaria e Arquitetura e Urbanismo. Duas vezes por ano, os estagiários do Labjor acompaham, desde 2008, as viagens que ambos os cursos realizam como atividade prática de algumas disciplinas. Foram criados dois blogs para ilustrar, com conteúdos variados, essas viagens. O primeiro blog foi o Turista Acidental, na rede desde outubro de 2008, com postagens do então estudante de Jornalismo Diego Benevides sobre algumas maravilhas do litoral nordestino. Os alunos da cadeira Agência de Turismo e Transporte, do curso de Turismo, fazem todo o planejamento e execução da viagem técnica. Em junho deste ano, a estagiária Mara Rebouças embarcou na rota “Vale do Vinho 2009.1”. O outro blog, Espaços e Pers-

pectivas, é o diário jornalístico das visitas técnicas de alunos do curso de Arquitetura. As viagens são promovidas pelo professor Euler Muniz, coordenador do Curso; planejadas com o apoio de estagiários da Agência Junior de Turismo da Unifor e acompanhadas por um estudante de Jornalismo. Já aconteceram duas viagens desde o ano passado A experiência dessa atividade para os alunos dos três cursos envolvidos é única. Além do estudo prático para os estudantes de Turismo e Arquitetura, é uma vivência múltipla para os alunos de Jornalismo ao fazer a cobertura para um meio tão amplo como a Internet.

Serviço Visite nossos blogs: • blogdolabjor.wordpress.com • turistaacidental.wordpress.com as.word• espacoseperspectivas.wordpress.com


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.