Sobpressão # 22

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No Centro de Fortaleza, é possível encontrar grandes quantidades de lixo acumulado nas ruas e calçadas. São, ao todo, 140 toneladas diárias. Saiba quais ações estão sendo propostas para solucionar esse problema. Sobpressão Página 4

A partir de junho, 350 mil crianças de todo o Estadoo serão imunizadas gratuitamente com a vacina Pneumocócica ca 10-valente, quee combate meningit meningites ingites e pneumonias. Sobpressão pressão Páginaa 3

FOTO:

SOBPRESSÃO JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

MARÇO/ABRIL DE 2010 010

ANO 7

ÉRIKA

NEVES

Aeromod Aeromodelismo modelismo parece brincadeira, cadeira deira, mas é um hobby levado a sério por seus praticantes, que investem tempo e dinheiro na modalidade. Fôlego Página 1

N° 22

Consciência sobre duas rodas Deixar o carro em casa e pegar a bicicleta para se locomover por Fortaleza é uma iniciativa que muitas pessoas da cidade decidiram incorporar. Elas são integrantes do grupo “Bicicletada”, movimento que apóia a cultura da bicicleta como meio de transporte preferencial. Todos os meses, com saída da Praça da Gentilândia, no bairro Benfica, elas ganham as ruas divulgando o movimento e chamando

Irregularidades

atenção por onde passam. Essa prática, que começou nos EUA, em 1990, com o nome de Critical Mass, já sensibilizou várias pessoas no Brasil e no mundo. Os participantes reivindicam, por meio de uma política de conscientização, melhores condições de mobilidade para os ciclistas e veem a bicicleta como algo que pode trazer benefícios para a saúde, trânsito e meio ambiente. Sobpressão Páginas 6 e 7

Novas mídias ILUSTRAÇÃO: ITAMAR NUNES

Combate à poluição visual

A praça da Gentilândia é onde se concentram os integrantes do “Bicicletada” , em Fortaleza. No local, a marca do movimento foi estampada na areia, para conscientizar sobre a importância da bicicleta como meio de transporte preferencial FOTO: WALESKA SANTIAGO

Novos serviços aos animais Acupuntura, homeopatia e exame de catarata, que antes eram tratamentos exclusivos da saúde humana, são hoje oferecidos para os animais de estimação. Com cirurgias que custam até R$ 1.200, o cuidado com os bichinhos ficou mais especializado, trazendo benefícios inéditos. Mesmo assim, profissionais da saúde animal atentam para as diferenças entre zelo e exagero. Sobpressão Página 5

Defesa pessoal

Muay Thai atrai homens e mulheres A arte marcial é uma modalidaidade de luta proveniente da Tailândia e muito utilizada para a defesa pessoal. Os adeptos têm como omo objetivo o nocaute e não a obtenção tenção de pontos. Utilizam-se, além dos membros do corpo, as articulações, ções, como joelhos e cotovelos, para aplicar icar golpes. Conheça mais sobre a arte marcial que invadiu as academias. Fôlego Páginas 4 e 5

E Escritores

Bandas independentes ganham a web O contato direto com o público, por meio da internet, e o download de músicas gratuitas garantem popularidade às bandas independentes. O Sobpressão conversou com músicos que apresentam seus trabalhos por meio de redes sociais, como o MySpace, com o objetivo de entender esse processo de divulgação. Para os menos modernos, a “novidade” é a volta do vinil. Sobpressão Páginas 10 e 11

Ciberativismo

A re renovação da Manifestações literatura cearense em um click liter FOTO: FABIANE DE PAULA

Veterinária

Você já se distraiu com o excesso de placas nas ruas? A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) começou a remoção daquelas que estão em situação irregular e causam poluição visual. Apesar de a ação ter começado em 2009, ainda é possível encontrar práticas em desacordo com as normas ÇÃO FOTO: DIVULGA municipais ais nos princincitos pais pontos cio de comércio de. da cidade. ais Saiba quais nasão as penaplilidades apliueles que cáveis àqueles irem a descumprirem ranstorlei e os transtordos à nos causados o. população. Sobpressão Página gina 5

Uma nova geração de escritores cearenses ce se destaca com autenticidade e traços variaauten dos. C Conheça os autores que representam esse momento, repres como está a cena literária do Ceará e o diferencial do estilo de escrita es local. Veja também as dicas dic do escritor Pedro Salgueiro para começar a vida literária, além de sua crônica, literár produzida especialmente para produ esta edição. e Sobpressão Páginas 8 e 9

O ciberativismo, hoje, possibilita a mobilização de milhares de pessoas pela internet. Do computador, utilizando redes sociais, é possível divulgar manifestações e causas políticas e sociais. Esse meio permite a quebra de barreiras geográficas e torna viáveis movimentações de caráter mundial. Com o aumento do uso da internet, a prática vem ganhando força no Brasil. Sobpressão Páginas 12


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Editorial

Crônica

Seremos os próximos dinossauros Qualidade de vida é o “sonho de consumo” da atualidade. Isso envolve, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), aspectos como saúde física e mental, independência econômica, relacionamentos afetivos, crenças e meio ambiente. É do equilíbrio deste último – meio ambiente – que vai depender todo o resto. A relação do homem com o meio ambiente tem sido tema de estudos e de reflexão em todo o mundo. Estamos diante de sérios problemas causados pelo desequilíbrio ambiental, como a intensificação do efeito estufa, responsável pelo aquecimento global e por catástrofes como enchentes, terremotos etc. O único acordo internacional para a redução de emissões de gases do efeito estufa – Protocolo de Kyoto, de 1997 – e as convenções como o Acordo de Copenhague, de dezembro de 2009, têm encontrado dificuldades em avançar nas negociações, devido ao desacordo entre países pobres e ricos. Estes últimos alegam que o atendimento às exigências atrapa-

lharia o seu desenvolvimento econômico. A quem responsabilizar pelo excesso de gases, como o dióxido de carbono, o óxido de nitrogênio ou os hidrocarbonetos (usados para a produção de plásticos e combustíveis), lançados na atmosfera e causadores do efeito estufa? Os setores industriais e de transportes lideram esse ranking, de onde se pode concluir que as nações mais desenvolvidas do planeta, a exemplo dos EUA, são as que mais poluem, embora países em desenvolvimento, como o Brasil, também tenham sua responsabilidade no processo. A reflexão sobre essas questões está levando pessoas comuns, no mundo inteiro, a adotar medidas simples, mas que podem ser bastante eficazes. Elas estão se mobilizando, por exemplo, para incentivar o retorno aos “veículos de propulsão humana”, uma denominação complexa para a nossa descomplicada bicicleta. Tentam conscientizar os motoristas de carros de que as ruas foram feitas para todos.

O movimento começou nos anos 1990, na Califórnia, EUA, e ficou conhecido mundialmente como Critical Mass (Massa Crítica). Aqui no Brasil, chegou em 2002 com o nome de Bicicletada. Ele não tem líderes e seus integrantes se reúnem uma vez por mês para pedalar pelas vias urbanas, fazendo manifestações, cujo slogan é: “Um carro a menos”. O Bicicletada se espalhou rapidamente por várias cidades do País, entre as quais Fortaleza. Através desses movimentos civis, percebemos que é possível, sim, fazermos a nossa parte para controlar e limitar, por exemplo, a contaminação do ar resultante das emissões dos “automotores” (carros, ônibus, caminhões, tratores, motocicletas, entre outros). Ações coletivas como a “Bicicletada” podem ajudar a salvar o planeta e seus habitantes, entre eles os seres humanos. Há milhões de anos, fenômenos climáticos levaram à extinção dos dinossauros. Se não tomarmos medidas severas agora, poderemos ser os próximos da fila.

Fotolegenda

Raone Saraiva

Amor de mãe A manhã daquele domingo era chuvosa. A jovem, de cabelos lisos e pele morena, saiu de casa, correndo, à procura de ajuda para a filha de seis meses. Ao passo que gritava por socorro, alguns vizinhos riam, como uma plateia de circo. Outros ficavam perplexos, parecendo não acreditar no que viam. Todos estavam acostumados com algumas atitudes estranhas da pobre mãe, mas, agora, achavam que ela estava indo longe demais. — Nossa... Uma moça tão linda, agindo assim? — Pois é. E o pior é que a mãe dela nem está em casa... A mulher olhava forte nos olhos de cada um, esperando que alguém socorresse Marina, como era o nome da menina. Era inútil. Nenhuma comoção. Enfim, uma ambulância chegou. Não se sabe quem pegou o telefone para pedir ajuda. Os enfermeiros a colocaram dentro do veículo. Eles não entraram na casa da mulher, nem olharam. Certamente, quem chamou a ambulância aproveitou para explicar aos enfermeiros o estado da jovem, que foi levada ao hospital. No hospital, mais calma, ela ouvia palavras de um médico. Só ouvia, não escutava. A mãe dela, que já estava no hospital, disse: — Alice, aceite. Ela morreu. Não há o que fazer. Com lágrimas nos olhos, ela respondeu: — Mamãe... ela morreu porque ninguém ajudou. Me trouxeram, mas deixaram minha filha em casa. — Pelo amor de Deus! Até quando você vai viver iludida? Marina já está morta há seis meses e... você sabe disso. Alice ouvia a mãe, mas não aceitava a morte da filha. No dia seguinte, elas pegaram um táxi e foram para casa. Aparentemente tudo estava bem. O dia era de sol e cheio de vida. No portão, Alice ainda pensava na filha. Em sua frente, viu uma garotinha passar na calçada. Não resistiu. Quis trazer a filha de volta, tirá-la de seu pensamento e torná-la real de novo. De repente, pegou o objeto que estava na mão da menina e deu um sorriso de felicidade. Daquele dia em diante, aquela boneca seria a filha de Alice. Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Artigo

Aline Veras

O coração da cidade

(In) Coerências

Mais peças e menos espaço livre no tabuleiro de xadrez do Centro de Fortaleza. Dezenas de carros enfileirados congestionam o trânsito. Centenas de pessoas trafegam rua abaixo, rua acima. Em meio ao caos, o lixo, presente entre e em quase todas as esquinas. Na agitação, uma voz anuncia: “denuncia, moça! É pra fotografar e denunciar”. São vozes, pessoas, retratos, vidas, realidades, movimento. É o Centro. Pulsante. Que tal o coração da cidade? FOTO: WALESKA SANTIAGO

Chamado de “profeta do diálogo” pelo jornal israelense Haaretz, o presidente Lula vem tentando manter relações com líderes de diversos países, inclusive de opiniões políticas geralmente divergentes. Na primeira viagem oficial de um chefe de Estado brasileiro ao Oriente Médio (Israel, Territórios Palestinos e Jordânia), nosso presidente quer realizar um milagre que nem Bill Clinton, George Bush e Nicolas Sarkozy (os mais recentes) conseguiram fazer: uma negociação concreta entre palestinos e israelenses, e posteriormente o Irã. Deste modo, o presidente Lula começa a entrar num jogo perigoso em que relacionamentos diplomáticos são marcados por incoerências e apoios à ditaduras e regimes assassinos em nome do diálogo. Sendo assim, vamos comemorar com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a inexistência do Holocausto. Com o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, em homenagem às 300 mil pessoas que foram assassinadas em Darfur. Também com Than Shwe, número um no regime militar da Bismânia, instaurado no poder desde 1962 desempenhando um excelente trabalho no projeto de abusos contra os direitos humanos. Organizemos a campanha “Soltem Radovan Karadzic!” . O ex-líder sérvio que, de tão generoso, passou boa parte da vida se dedicando às pessoas, tirando 8 mil vidas na Bósnia. Presidente Lula, sejamos coerentes com o que falamos pelo mundo afora. O senhor se orgulha dizendo que o Brasil é um país democrático, onde pode-se ser o que quiser. Então, não sejamos pragmáticos, sejamos corretos com as pessoas, respeitando os direitos humanos e sendo intransigentes com regimes autoritários e assassinos. Deve-se exigir justiça e mudança que beneficie todos os povos. Não vamos mais ser cúmplices e condescendentes com os inimigos da liberdade e da democracia. Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Eduardo Freire - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2010.1) - Reportagem: Aline Veras, Antero Neto, Celma Prata, Edilene Castelo Branco, Fernanda Feitosa, Leonardo Capibaribe, Renata Wirtzbiki, Raone Saraiva, Samuell Monteiro, Thays Lavor, Thereza Cristina - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Arte final: Aldeci Tomaz - Professores orientadores: Antonio Simões, Eduardo Freire - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Revisão: Profa. Solange Maria Morais Teles - Conselho Editorial: Antonio Simões, Eduardo Freire, Alejandro Sepulveda, Jocélio Leal - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Equipe do Laboratório de Jornalismo (Labjor) - Estagiário de Produção Gráfica: Luiza Machado Estagiários de Redação: Camila Marcelo, Gabriela Ribeiro, Geovana Rodrigues, João Paulo Freitas, Maria Falcão, Suiani Sales, Thamyres Heros, Viviane Sobral, Wolney Batista.

Sugestões, comentários e críticas: jornalsobpressao@gmail.com


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MARÇO / ABRIL DE 2010

Vacina beneficiará 350 mil no CE Entrará oficialmente no programa de imunização a Pneumocócica 10-valente, que protege contra a bactéria pneumococo, causadora de meningites e pneumonias Thays Lavor

No Ceará, as imunizações da Pneumocócica 10-valente estão previstas para o mês de junho, juntamente com a 1ª Etapa da Campanha de Vacinação contra Poliomielite. Aproximadamente 350 mil crianças serão beneficiadas com essa introdução na rotina de imunizações do Governo. O Estado espera diminuir as internações e a mortalidade por meningite e pneumonia. De acordo com a coordenadora das campanhas de vacinação da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), Mércia Jucá, a vacina “já está disponível, também, no Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais, situado no Albert Sabin, para pacientes especiais, de qualquer idade, portadores de patologias, como cardiopatias, pneumopatias, nefropatias, hepatopatias graves, entre outras”. Mércia Jucá explicou que a vacina será inicialmente destinada a crianças de até dois anos. Em 2011, a vacina permanecerá no Calendário Básico Brasileiro para as crianças menores de um ano. Elas serão atendidas aos dois, quatro e seis meses, e receberão um reforço preferencialmente entre 12 e 15 meses, após a última vacinação. Já os de sete a 11 meses irão receber duas doses da vacina, com um espaço de dois meses entre elas. “Somente as crianças de um a dois anos é que receberão a dose única e sem necessidade de um reforço posterior”, explicou a médica. Economia Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças pneumocócicas têm causado mais de um milhão de óbitos por ano em todo o mundo, e as crianças com menos de cinco anos são as maiores vítimas. Em Fortaleza, segundo dados da Secretaria de Saúde do Município, só no ano passado foram registrados 306 casos de meningite e 1.529 de pneumonia. De acordo com dados

A imunização, que antes só era encontrada no setor privado por R$ 210, representa economia superior a cem mil reais por internações

da Coordenadoria de Controle, Avaliação e Auditoria da Sesa, somente com internações por pneumonia em 2009, o Estado gastou R$ 129.399,11. O infectologista e diretor do Hospital São José (HSJ), Anastácio Queiroz, informou que pelo menos um paciente por semana chega ao local com meningite.

Mércia Jucá

A vacina já está disponível no Albert Sabin para pacientes portadores de patologias, como cardiopatias, entre outras Médica da Secretaria de Saúde do Estado

“Esta é uma doença que tem que ser combatida, pois apresenta um alto grau de complicação. A pneumonia também deve ser tratada com atenção, apesar de ser mais comum”, esclareceu. Para a população mais carente, a chegada da vacina também é bastante representativa, pois só era encontrada no setor privado e cada dose custava em

média R$ 210,00. A doméstica Marlyneide Alves, 43, recebeu com bastante alegria a notícia da introdução da 10-valente no Programa Nacional de Imunizações (PNI). “Tenho três filhos. Se não fosse a ajuda da minha patroa, não teria condições de dar a vacina a eles. Não pretendo engravidar novamente, porém minha sobrinha está gestante, sei a importância dessa vacina na vida dela e do bebê”, declarou. Anastácio Queiroz destacou também que “a vacina só é colocada para a população após serem testadas de uma maneira eficiente. Também é pensado se não produz tantos efeitos colaterais e a relação custobenefício”. O diretor do HSJ informa que o governo deve conscientizar as famílias para se vacinarem. “Uma sociedade esclarecida, onde a medicina é preventiva, é resultado de um imunização completa”. (Colaborou Thamyres Heros)

Serviço Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) Hospital Albert Sabin Rua Tertuliano Sales, 544 Vila União - Tel: 3488.9662

Saiba mais

Despesas individuais chegam a R$ 9,5 mil 9,5 mil reais é o valor do tratamento de meningite em hospitais particulares. 8 mil reais cada caso de meningite pneumocócica com sequelas ao paciente na rede pública. 1.219 reais são gastos para cada episódio registrado de pneumonia no setor privado. 603 reais é o custo de internação por pneumonia no SUS. 55% dos pacientes acometidos por meningite correm risco de ter sequelas graves. Fonte: PAE Brasil (Pneumococo - Avaliação Econômica)

FOTO: FABIIANE DE PAULA

Rede Pública

Vacinas inclusas no Programa Nacional de Imunizações (PNI) Antimeningocócica - Me-

Influenza - Gripe

ningite e pneumonia

Pneumocócica - Meningi-

BCG - Tuberculose DT - Difteria e Tétano DTP - Difteria, Tétano e Co-

tes bacterianas, Pneumonias,

queluche

Coqueluche e infecções por

Poliomielite Rotavírus Tríplice viral - Caxumba,

Haemophilus influenzae tipoB

rubéola e sarampo

Febre amarela Hepatite B

Vacina HIB - Infecções por

DTP+HIB - Difteria, Tétano,

Sinusite, inflamação no ouvido e bacteremia

Haemophilus influenzae tipo B Fonte: Site do Ministério da Saúde

Opinião

João Claudio Jacó

Prevenção é focada nas doenças invasivas As doenças pneumocócicas invasivas causam uma alta morbi-mortalidade (impacto das doenças e dos óbitos que incidem em uma população) em crianças, principalmente em menores de 5 anos. Por este fato, a referida vacina foi escolhida entre tantas outras para ser implementada dentro no Programa Nacional de Imunizações – PNI. Espera-se que sejam evitadas muitas mortes em crianças por doenças como meningite, sepse entre outras. Além disso, espera-se que sejam também reduzidos os números gerais de casos dessas doenças, assim como os atendimentos médicos e as hospitalizações. A prevalência destas doenças é muito semelhante em todas as áreas geográficas do planeta, e aqui no Ceará também se espera uma grande redução no impacto das infecções pneumocócicas, como aconteceu em todos os outros locais em que uma vacina semelhante foi introduzida na vacinação universal da população. É importante salientar que Inicialmente não existem contra-indicações à vacina, e que todas as crianças devem receber estas dosagens. A prevenção é primordialmente contra doenças invasivas (meningite, sepse, etc.). Porém, não sabemos ainda qual o impacto que a vacina vai ter sobre as doenças não invasivas como pneumonia, otite, amigdalite, etc. Médico e integrante da Sociedade Brasileira de Imunizações


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MARÇO/ ABRIL DE 2010

Por que tanto lixo no Centro? Todos os dias, 140 toneladas de lixo são retiradas e todo mês R$ 400 mil investidos em limpeza. Mas por que a presença do lixo no Centro de Fortaleza é tão alarmante? Antero Neto e Fernanda Feitosa

Fortaleza é a quinta maior cidade do Brasil e, como todo grande centro urbano, produz uma grande quantidade de lixo. Cerca de três mil toneladas são geradas por dia, de acordo com a Ecofor, concessionária responsável pela Gestão de Resíduos Sólidos. Um dos locais que mais apresentam esse problema é o Centro. Nem é preciso andar muito, basta mesmo dar uma “voltinha” pelo bairro para constatar que a maior presença é do lixo. E ele está, infelizmente, por todo lado. A quantidade recolhida diariamente no Centro da capital assusta: são 140 toneladas. Mas por quê? E de quem é a culpa por tanto lixo? Para conhecer a situação e tentar solucionar essas questões, a Secretaria Executiva Regional do Centro de Fortaleza (Sercefor), a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) e a Ecofor elaboraram um diagnóstico sobre o lixo recolhido do Centro. Para facilitar a organização das equipes de varrição e também o deslocamento dos caminhões coletores, o Centro da cidade é divido em dois pó-

los, segundo a Secretaria e os órgãos responsáveis pela limpeza. A coleta é realizada em todos os estabelecimentos, independentemente do volume a ser coletado. É preciso lembrar que o Centro de Fortaleza é um bairro domiciliar. E que a coleta de lixo das casas também entra na conta de tudo que é recolhido todos os dias. A coleta domiciliar é realizada com uma estratégia diferente: ocorre à noite, começa às 19h e só para às 3 da madrugada, vai de segundafeira à sábado. Mesmo com o uso de caminhões para o lixo dito mais pesado, os garis atuam intensamente: são quase 24 horas nas ruas. Ao todo, 115 trabalham de segunda a sábado. E só na área do Centrão ainda existem 680 lixeiras e 120 papeleiras fixadas nos passeios e nas praças. Os números chamam realmente atenção, seja pela quantidade de lixo ou pelo aparato que é usado para a retirada da sujeira das ruas. Mesmo assim, o estudo apontou falhas em vários setores. Não há cadastro dos grandes geradores de resíduo no Município, como estabelecimentos comerciais e indústrias. A partir do diagnóstico realizado, a administração municipal compôs um plano de ações para solucionar as diversas problemáticas. O documento foi disponibilizado pela titular da Sercefor, Luiza Perdigão, ao

“Rebolar no mato”: em meio aos pedestres, a sujeira compõe o cenário no Centro da cidade FOTO: WALESKA SANTIAGO

Sobpressão. O plano aponta os objetivos e metas gerais, além de propostas com vertentes institucionais, operacionais e de educação ambiental. Com prazos intitulados como “urgentes” estão, por exemplo, a ação de disciplinar a comercialização do coco e do milho verde. O plano indica, ainda, que orçamentos e índices serão construídos no decorrer da definição das ações prioritárias, “em consenso com os agentes executores”. Cid Alves, presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sin-

Opções alternativas em prática Uma maneira encontrada para resolver a problemática do lixo é a reciclagem. O reaproveitamento de materiais orgânicos e inorgânicos ajuda ao meio ambiente. Afinal, muitos deles levam anos para se decompor. Algumas empresas tentam conscientizar a população para os benefícios da reciclagem. A Coelce, há três anos, possui o projeto Ecoelce, em que a população, ao se cadastrar, pode trocar seu lixo reciclável por bônus na conta de energia. Esse projeto abrange todo o estado do Ceará e possui pontos de arrecadação disponíveis na capital e no interior. A dona de casa Maria Gorete Costa é uma das adeptas desse projeto desde o início. Hoje, ela quita a fatura de luz todo mês só com as arrecadações de lixo. César Marques, diretor da Emlurb, reforça a importância em se investir em campanhas para a reciclagem, projetos de incentivo para o economizar, reutilizar e reciclar. “Esses projetos acabam influindo, nem que seja uma influência mínima, na educação das pessoas, e isso já é bom passo”, afirma.

dilojas), aponta que é função do Poder Executivo organizar ações mais efetivas no intuito de reduzir o acúmulo de lixo no Centro. “A prefeitura deveria buscar parcerias com sindicatos e lojistas e fazer uma fiscalização mais intensa”. Conscientização O diretor do Departamento de Limpeza Urbana da Emlurb, César Marques, indica o descaso da população com a cidade como um dos fatores principais para a realidade decorrente não só no Centro. “É

o antigo e famoso ‘rebolar no mato’. As pessoas precisam de consciência. Não percebem que jogar lixo nas ruas só prejudica a elas próprias. O alto preço é a própria população quem paga”, alerta. Para a dona de casa Maria do Socorro, a população reclama, mas não faz nada para cooperar. “É comum ver pessoas jogarem papéis e resto de comida no chão. Isso é uma grande falta de educação”, adverte. Colaboraram João Paulo Freitas, Maria Falcão, Thamyres Heros

Saiba mais...

14 pontos mais sujos Conheça as principais ruas onde esse acúmulo de sujeira é gritante:

Catadores coletam para própria sobrevivência FOTO: WALESKA SANTIAGO

Mas no Centro, as lixeiras separadoras de resíduos ainda são pouco comuns. O que é facilmente perceptível são os catadores, pessoas que acham no lixo a oportunidade de garantir uma renda familiar. Maria Iraci Teixeira, 50 anos, é coordenadora e representante da Associação de Catadores Solidários do Jangurussu (Ascajan). Lá, são 70 cadastrados que atuam em várias área da cidade, como Messejana, Parangaba, Aldeota e também no Centro. Maria Iraci informa que, diariamente, são acumuladas entre três ou quatro toneladas, entre coletas e doações.

O presidente do Sindlojas, Cid Alves, aponta uma questão negativa referente aos catadores: “Eles abrem sacos à procura de material reciclável e acabam deixando pelo chão o restante do material que não é aproveitado por eles”. A Prefeitura, no seu plano de ações para solucionar questões sobre o lixo, pretende convidar entidades, como os catadores, para apresentação do Plano, coleta de sugestões e esclarecimentos sobre a necessidade de parceria do poder público com a sociedade civil. Colaborou Suiani Sales

Rua Senador Pompeu - Galeria Pedro Jorge Rua Senador Pompeu - Galeria Professor Brandão Av. Tristão Gonçalves - Beco da Poeira Rua Senador Pompeu - Shopping Camelo Rua 24 de Maio - Shopping Center Maio Av. Tristão Gonçalves - Igreja Universal Av. Tristão Gonçalves - Fórum Rua Manuelito Moreira - Celigráfica Rua General Sampaio - Shopping Central Av. Alberto Nepomuceno - Mercado Central Rua Gen. Clarindo de Queiroz - Mercado São Sebastião Rua José Avelino - Feirão Toda a área de Concentração - Comércio ambulante Àrea do Centrão - Restaurantes e lanchonetes Fonte: Estudo realizado pela Sercefor, Emlurb e Ecofor

Também existem resíduos na rua Padre Mororó, perto do Mercado São Sebastião FOTO: WALESKA SANTIAGO


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MARÇO / ABRIL DE 2010

Semam combate a poluição visual Em 2009, o órgão municipal retirou 541 placas publicitárias irregulares em Fortaleza, 72 delas somente na Avenida Bezerra de Menezes. Em 2010, a ação na cidade continua Samuell Monteiro

Dá-se o nome de poluição visual ao excesso de elementos ligados à comunicação visual (cartazes, banners, totens, placas, etc) colocados em ambientes urbanos, especialmente em centros comerciais e de serviços. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), desde abril de 2009, realiza diversas operações especiais nos principais bairros de Fortaleza. Todos os dias, equipes da Semam retiram engenhos publicitários irregulares. A poluição visual se encaixa na Lei 6.938/81, como a “degradação da qualidade ambiental, resultante de atividades que, direta ou indiretamente, [...] afetam as condições estéticas e/ou sanitárias do meio ambiente”. Paulo César Moraes, analista dos processos de licenciamento da Semam, cita que a cidade possui diversos pontos críticos, como por exemplo: as vias comerciais da Aldeota,

Antes e depois: placas retiradas na Washington Soares facilitaram a passagem de pedestres FOTOS: DIVULGAÇÃO

Remoção de placa publicitária na avenida Bezerra de Menezes por uma equipe da Semam FOTO: SAMUELL MONTEIRO

Avenida Bezerra de Menezes, Montese, Messejana e outros. “Onde existem núcleos comerciais, há uma grande geração de poluição visual”, aponta. O que também se observa na cidade é a transformação da paisagem urbana, como pontua o engenheiro civil Hermínio França Júnior: “Talvez a consequência mais funesta da poluição visual seja a descaracterização do conjunto e valor arquitetônico, especialmente observada no Centro e nos bairros históricos”. A Semam disponibilizou imagens registrando a mudança da via pública com a retirada de placas, como mostradas acima. Entramos em contato com o estabelecimento Dário Cabeleireiros, mas a funcionária que nos atendeu negou qualquer tipo de irregularidade. Para esse tipo de ação, a Semam se

baseia no Código de Obras e Posturas do Município. “Nosso princípio é mais educacional. Fazemos uma comunicação preliminar com o dono do estabelecimento e damos um prazo dentro dos princípios legais, que varia de 15 a 30 dias, dependendo do tamanho do equipamento. Caso não tire, nós vamos lá e fazemos a remoção. Aí são cobrados os custos da remoção, que gira em torno de R$ 1.500 ou até mais, dependendo do tipo de engenho retirado”, destaca Paulo César. O comerciante Raimundo Neto de Souza cita que, em alguns momentos, se vê obriga-

do a sair da calçada para desviar de propagandas gigantes. “Não moro perto da Bezerra de Menezes, mas costumo andar bastante por essa região. Essas placas não incomodavam tanto, mas agora vejo placas enormes, uma atrás da outra, que, além de ocupar o espaço da gente, poluem nossa cidade”. “A poluição visual degrada os centros urbanos pela falta de harmonia de anúncios, logotipos e propagandas que concorrem pela atenção do espectador”, observa a coordenadora da Comissão de Combate à Poluição Visual da Semam, Maria Luiza Távora de Holanda.

Serviço DENUNCIE! É possível denunciar as placas irregulares ligando para o Fala Fortaleza - 0800.285.0880

Os avanços da medicina veterinária A Veterinária vem acompanhando os avanços da medicina tradicional humana. Com novos tratamentos e exames, os animais possuem uma qualidade de vida melhor Thereza Cristina

Ter um animal de estimação é o sonho de muitas pessoas, mas essa iniciativa requer zelo e responsabilidade. Levá-lo todo ano para ser vacinado não é o bastante. Desde o nascimento até a velhice do animal é preciso um acompanhamento rigoroso. Por isso a medicina veterinária vem se especializando para proporcionar uma melhor qualidade de vida. Várias especialidades, como pediatria, geriatria, oftalmologia, fisioterapia e odontologia, são oferecidas aos bichos de estimação. Ao adquirir um filhote, ele deve ser acompanhado rigorosamente. O objetivo é detectar alguma doença genética e observar as fases do desenvolvimento motor do animal. O mesmo acontece com a velhice. O cachorro, depois dos dez anos, e o gato, depois dos doze anos, devem ser acompanhados com maior frequência. Vários exa-

mes são realizados para garantir uma melhor qualidade de vida, como raio x, eletrocardiograma e hemograma. Exames sofisticados Pode até parecer que todos esses cuidados não passem de um exagero. “Existe uma linha muito tênue entre o zelo e o exagero. Nós estamos preocupados com a saúde do animal. Não é adequado levar um animal a um clínico geral. O ideal é levá-lo a um especialista específico para o tipo de problema apresentado”, explica a médica veterinária Andrea Melo, que cuida de animais há doze anos e possui uma clínica em Fortaleza. Atualmente, o animal pode realizar exames como o ultrassom, seja para uma gravidez de uma gata ou cadela, seja para diagnosticar algum tipo de doença em machos ou fêmeas. Mas o procedimento mais sofisticado atualmente é a cirurgia de catarata. Com equipamentos avançados e de última geração, a cirurgia tem um custo de R$1.200. O valor elevado se deve ao fato do tipo de aparelhagem usado, que custa cerca de R$ 250.000. Acupuntura Outra opção existente no

Reabilitação: a cadela Vida experimenta sua cadeira de rodas FOTO: THEREZA CRISTINA

tratamento animal é a acupuntura. Na busca por um equilíbrio da energia vital do animal (QI), essa técnica influencia no cérebro, sistema nervoso, locomotor, cardiovascular e na bioquímica do corpo. O médico veterinário Vicente Menezes atua nesta área há quinze anos e conta que a maioria dos seus pacientes são animais que realmente possuem algum problema músculo-esquelético. “Não

atendo animais que não estejam com problema. Se algum dono trouxer um cão ou gato somente por vaidade ou porque a acupuntura está na moda, não irei atender”, afirma. O tratamento é recomendado para animais que sofreram quedas, atropelamentos ou nasceram com problemas na coordenação motora. Geralmente os gatos são mais trabalhosos de lidar, para aplicar as agulhas do tratamento. Já os cachorros são mais fáceis, pois alguns dormem na sessão que dura em média trinta minutos. É necessário no mínimo dez aplicações para que o animal responda ao tratamento. Se o animal apresentar qualquer dor novamente, ele terá que fazer novas sessões para que a dor não volte. “Quando uma pessoa tem problema de hérnia de disco, às vezes as dores voltam, às vezes não. Com o animal é o mesmo”, aponta Vicente Menezes. Porém, não há tratamento

quando o animal sofre alguma fratura da coluna esquelética.

Andrea Melo

Existe uma linha muito tênue entre o zelo e o exagero. Nós estamos preocupados com a saúde do animal. Médica Veterinária

Pacientes que sofreram algum dano irreversível terão que usar uma cadeira de rodas feita sob medida. A cadelinha Vida tem um problema na coluna devido a um atropelamento. Sua proprietária já a havia levado para a acupuntura, mas não obteve o resultado esperado. “Agora estou feliz. Ela terá uma ótima qualidade de vida”, acredita a proprietária Alice Soares.

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Integrantes do movimento “Bicicletada” em mais uma manifestação em prol do uso desse veículo como meio preferencial de transporte. O encontro acontece na Praça da Gentilândia, em Fortaleza

FOTOS: WALESKA SANTIAGO

Eles trocaram o carro pela bicicleta Movimentos civis de ciclistas contribuem para a melhoria do trânsito nas cidades . Preocupação com o meio ambiente e busca pela qualidade de vida são prioridades Celma Prata

Em tempos de preocupação com o meio ambiente – só se fala atualmente em gases poluentes e efeito estufa –, a solução para esses males, pelo menos no que diz respeito ao trânsito, parece caminhar a favor de um veículo de duas rodas, a nossa velha e conhecida bicicleta. Não polui, não ocupa muito espaço no trânsito caótico dos grandes centros urbanos como Fortaleza e, como se não bastasse, ainda mantém a

veículo como meio principal de transporte. A versão brasileira da iniciativa norte-americana é a “Bicicletada”, iniciada em 2002 e logo se espalhando por várias cidades do país, entre as quais Fortaleza. Aqui os ativistas se reúnem mensalmente, no final do dia, na Praça da Gentilândia, no bairro Benfica, para percorrer a cidade com suas faixas e reivindicações, chamando a atenção por onde passam.

boa forma física do ciclista. Esse retorno aos hábitos do passado vem se fortalecendo aos poucos, apesar da farra da indústria automobilística com seus recordes crescentes de vendas. Movimentos mundiais fazem o contraponto e procuram incentivar o uso do veículo não motorizado de duas rodas. A ideia surgiu nos anos 1990, na Califórnia, Estados Unidos, e ficou conhecida mundialmente como Critical Mass (Massa Crítica). Trata-se de um movimento sem líderes, cujos integrantes se reúnem na última sexta-feira de cada mês para uma manifestação pelas ruas, com o objetivo de sensibilizar e conscientizar a população para o respeito aos usuários de bicicletas, assim como para a aceitação desse

Consciência cidadã Um de seus mais ativos participantes, Thiago Holanda, 26, engenheiro de pesca, fala com entusiasmo sobre as mudanças em sua vida após a adesão ao movimento. “A Bicicletada me motiva a lutar

Um caminho a ser construído FOTO: FABIANE DE PAULA

Raone Saraiva

As obras do Plano de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), lançadas em maio de 2008 pela prefeita Luizianne Lins, têm o objetivo de aperfeiçoar o tráfego de veículos na Capital e reduzir os congestionamentos em diversos pontos da cidade. Uma das obras é a interligação de ciclovias aos terminais de ônibus, com a construção de estacionamentos de bicicletas (bicicletários), algo que promete revolucionar a vida de quem utiliza a bicicleta como meio de transporte. Segundo a assessoria de imprensa do Transfor, 2 km de ciclovias já foram entregues na Avenida Mister Hull. Outras estão em execução nas avenidas Bezerra de Menezes e Humberto Monte. Ainda de acordo com a assessoria, serão implantados, ao todo, 30 km de ciclovias na Capital. Os locais que serão dotados

Obras do Transfor na Bezerra de Menezes

de ciclovias foram selecionados a partir de pesquisas, com o objetivo de construir uma rede integrada de mobilidade. A infraestrutura a ser construída irá interligar as ciclovias que já existem e dar acesso aos terminais do Antônio Bezerra, Papicu, Siqueira e Parangaba (terminais integrantes dos projetos de implantação dos corredores de transporte público do Transfor). O programa pretende, ain-

da, incentivar o uso das ciclovias. Para Daniel Lustosa, engenheiro civil e coordenador do Transfor, o sistema cicloviário de Fortaleza será um passo para uma melhor qualidade de vida dos cidadãos. “A ciclovia é importante, pois atende um antigo pleito da população e estimula a prática segura desse meio de transporte, não poluente, saudável e econômico”, explica. De acordo com a assessoria, as obras do Plano Cicloviário serão precedidas de um Programa de Educação Ambiental. “As obras do Transfor contam com um conjunto de ações e instrumentos que vêm convergir para uma mobilidade equilibrada e sustentável em nosso município, explorando nossos potenciais climáticos, geográficos, dentre outras caracterizações”, ressalta. A previsão do Transfor é de que 40% das novas ciclovias sejam entreguem até o final de 2010.

pela melhoria do trânsito não só para mim, mas para tantas outras pessoas que utilizam a bicicleta diariamente como único meio de transporte”. E complementa: “Usar bicicleta é uma ação sustentável, ecológica e saudável”. Mas será que Fortaleza está preparada para receber, com segurança, essa “massa crítica” em suas ruas? Segundo os dados do site da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC), a quinta maior cidade do país em população possui a maior extensão em ciclovias do Nordeste, cerca de 70 km. O ativista Thiago, porém, faz um alerta: “Infelizmente, as nossas ciclovias e ciclofaixas não são adequadas para que os ciclistas se sintam seguros.

Isso faz aumentar o número de acidentes”. O desafogamento do trânsito na capital cearense e sua consequente melhoria ambiental passam por providências que visem à segurança dos ciclistas. A solução pode estar no Plano de Transporte Urbano da Prefeitura de Fortaleza (Transfor), que prevê a construção de ciclovias interligadas aos terminais de ônibus e de estacionamentos de bicicletas, obras em andamento desde 2008.

Serviço Bicicletada Fortaleza (CE) Toda última sexta-feira do mês Concentração: 18h, na Praça da Gentilândia, Benfica Saída às ruas: 19h

Enquete

Você deixaria o automóvel pela bike? Não. Porque não temos uma malha viária que viabilize o trânsito de bicicletas com segurança. O risco de assalto é grande, o clima da cidade é muito quente e seria muito desconfortável para transportar tudo que preciso. Patrícia Colares, executiva

Não. Pela falta de segurança e infraestrutura da cidade, por não termos ciclovias, e pela cultura do povo, que não respeita ainda este meio de transporte não poluente. Telmária Sampaio, gerente financeira

Sim e não. Pensando em saúde, sim. Mas na falta de estrutura na cidade, como segurança e ciclovias, prefiro andar no meu carro. Infelizmente a realidade é esta. Adilene Domingues, supervisora de marketing

Sim. Se tivéssemos ciclovias, educação de trânsito, segurança, clima favorável... Rodrigo Bitar, empresário


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Entrevista

Saiba mais...

Massa crítica

“Ela é divertida, barata e não polui” A professora de Jornalismo da Unifor Janayde Gonçalves decidiu deixar o carro na garagem e usa a bicicleta para se locomover. Aqui ela explica porque tomou essa decisão Sobpressão: Na condição de ciclista, como define o trânsito de Fortaleza? Janayde Gonçalves: Nervoso, quente, frenético, como em todo grande centro urbano. Mas o pior de tudo é que prioriza os veículos automotores, desde a sinalização à delimitação de espaços. SP: Por que prefere usar a bicicleta em vez de um carro confortável e seguro? JG: A bicicleta é um meio de transporte ecológico, não polui e utiliza muito menos matéria-prima que o carro; é perfeitamente condicionada a transportar uma pessoa, ou até duas, é barata, logo, acessível a todos; e não ocupa muito espaço, acabando com engarrafamentos; além de ser divertida e não agressiva. SP: Fortaleza é uma cidade adequada para esse meio de transporte?

JG: Sim, pois é uma cidade plana, com vias organizadas e de fácil entrada e retorno. Porém, ainda faltam programas de educação para o trânsito, com foco no respeito aos pedestres e ciclistas. Faltam ciclofaixas, ciclovias, sinalização. Não se prioriza ou incentiva a bicicleta porque os carros geram lucro, com estacionamentos, por exemplo. SP: A partir da sua experiência, quando o motorista do carro assume o papel de ciclista, ele toma consciência dos riscos que impõe às pessoas? JG: Depois de viver a experiência de pedalar nas ruas da cidade, o motorista não é mais o mesmo. Ele percebe as diferenças e fragilidades e preserva a vida. Principalmente se pensar que aquela pessoa sobre duas rodas poderia ser um filho, um amigo, um parente. Celma Prata

(Critical Mass) O nome “massa crítica” surgiu a partir do documentário “Return of the Scorcher” (1992), do norte-americano Ted White, sobre os movimentos que utilizam a bicicleta ao redor do mundo. “Scorchers” (gíria inglesa para “velozes”) era como os ciclistas eram chamados nos anos 1890, antes de os automóveis tomarem as ruas. Uma das cenas do documentário filmadas na China mostra como os ciclistas daquele país se organizam para atravessar ruas sem sinais de trânsito: um ciclista espera outros chegarem até formarem um número suficiente, como uma barreira, para forçar os carros a pararem. Fonte: Site Planeta Sustentável

Objetivos

“Bicicletada” 1. Pedalar; 2. Divulgar, estimular, promover e criar condições favoráveis para o uso da bicicleta como meio de transporte; 3. Integrar os ciclistas da cidade e valorizar a cultura da bicicleta; 4. Conscientizar os usuários dos meios de transporte motorizados da importância da bicicleta para aliviar os congestionamentos. Fonte: http://www.bicicletada.org/

Janayde adotou o veículo como meio de locomoção em seu cotidiano FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Artigo

Liberdade é poder decidir Pedalar em Fortaleza, e acredito que na maioria das capitais brasileiras, pode significar voltar para casa sem seus pertences, incluída a própria bike, ou nem mesmo voltar. Felizmente não é assim em todos os lugares do mundo. Estava em Paris e resolvi encarar um passeio de bicicleta pela “Cidade Cidade Luz”. A prefeitura disponibiliza, para moradores e turistas, bicicletas que podem ser alugadas (grátis na primeira meia hora; 1

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

euro na segunda) em vários pontos da cidade e devolvidas em outros tantos, de acordo com a sua conveniência. Você só precisa de um cartão de crédito. Vesti o uniforme de ciclista em férias: bermuda, camiseta, tênis e boné e parti para a estação mais próxima do meu hotel. Caminhei somente uma quadra e me deparei com um u monte de vélos (bicicletas) – d daí o nome do projeto “Vélib”, o ou seja, vélo + liberté – novinhas em folha me esperando. Tudo parecia simples. Após algumas algum tentativas na máquina, conseg consegui destravar a “minha bike”. Agora Agor era por minha própria conta cont e risco. Risco, que risco? Logo entendi que o perigo de ser s atropelada era inexistente. Ped Pedalei pelo percorr as largas bairro, percorri c avenidas com ciclofaixas. Ônib Ônibus e carros guardava uma guardavam distância segura. Basta manter-se próximo ao meio fio e obedeao sinais de cer aos trân trânsito. Estava me sentindo a p própria ativista a ambiental,

dando a minha contribuição cidadã para melhorar a atmosfera do planeta. Resolvi entrar nas ruazinhas secundárias para acessar o cais do Rio Sena. E agora? Como vai caber um carro e uma bicicleta numa via tão estreita e sem ciclofaixas? Nem precisa delas! Em Paris as ciclofaixas são imaginárias, estão na consciência dos motoristas. Eu achava que estava “atrapalhando o trânsito”, como se diz aqui no Brasil, e fiquei um pouco nervosa, mas não teve nenhuma buzina ou xingamento de motoristas que vinham atrás de mim. Cruzei por vários ciclistas, caras de terno, meninas de saia, pessoas indo e voltando do trabalho ou passeio. Pensei comigo: liberdade é isso, é poder decidir a melhor forma de ir e vir, sem prejudicar ninguém. Espero um dia poder fazer o mesmo na minha bela Fortaleza. Ao final de uma hora, devolvi a bicicleta em outra estação, dei baixa no meu cartão, e fui visitar um museu ali pertinho.

Opinião

Gustavo Pinheiro Lessa Parente

Mobilidade urbana versus automotores Trânsito engarrafado, ar poluído, demonstrações de estresse e barulho por todo lado. Esse é o cenário das grandes cidades brasileiras nos horários mais concorridos. O tema mobilidade urbana – termo em moda nos últimos anos – figura entre as principais pautas das grandes cidades: não faltam matérias na imprensa que abordem o assunto, nem promessas milagrosas de candidatos às prefeituras. A tecla “investimento em transporte público” é sempre batida por especialistas da área. O que por vezes não é mencionado – ou se o é, não se faz com a contundência necessária – é a necessidade da dura restrição ao uso do carro. Um simples exercício demonstra o porquê dessa necessidade: peguemos 120 pessoas e transportemo-las em maneiras distintas: carros e ônibus. Segundo pesquisas, a ocupação média de um carro em dias úteis é de 1,5 pessoas por veículo, ou seja, são necessários 80 carros, ou mais de dois quarteirões de congestionamento e poluição. Enquanto isso, apenas dois ônibus, lado a lado, transportam essa mesma quantidade de pessoas. Isso sem mencionar que os 80 carros precisam ser estacionados, o que resulta na ocupação de boa parte do escasso espaço público da cidade, para bens particulares. Não fica difícil notar que é preciso parar de utilizar dinheiro público para obras que beneficiem apenas o transporte particular. Para exemplificar, não é preciso ir muito longe: no cruzamento da Av. José Bastos com Rua Pe. Cícero, no bairro Benfica, está sendo construído um viaduto que liga um semáforo a outro – ou seja, já irá nascer congestionado - pelo custo de R$11 milhões, mesmo dinheiro necessário para fazer 2 km de via exclusiva para transporte público, incluindo os custos com os ônibus. Para uma mobilidade humana, portanto, a necessidade de incisivas políticas de restrição ao uso do automóvel é um imperativo. Mestrando em Engenharia de Transporte, utiliza a bicicleta como meio de locomoção e participa ativamente da Bicicletada. Contato: gustavoplp@yahoo.com.br

Tem gente na contramão Em meio ao trânsito caótico da nossa capital, não é preciso ser nenhum especialista para perceber que, além de carros, o número de motos que circulam pelas ruas é bastante significativo. Se em Fortaleza é assim, esse número é muito maior no interior do Estado. Muita gente, que antes tinha a bicicleta como principal meio de transporte, decidiu trocá-la pela moto. Os últimos dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) mostram que, do total de 1.392.788 de veículos motorizados no Estado, mais da metade são motos (53,95%). O que há é um crescimento desproporcional da frota. Segundo o Detran, das 87.368 novas motos implantadas no Estado em 2009, 66.535 circulam no interior. Se comparado a 2008 (69.178), houve um aumento de 26,29%. Em Itapipoca, por exemplo, para cada carro existem cerca de três motos. Segundo Pacielly Teixeira, gerente administrativo de uma concessionária de motos da cidade, as pessoas optam por esse tipo de transporte por causa da relação

custo-benefício. “Com um valor que a pessoa compraria um carro usado, ela compra uma moto nova, e a economia em relação à manutenção é muito maior”, explica. No município de Paracuru, muitas pessoas já trocaram a bicicleta pela moto. “Números eu não tenho, falo pelo que vejo. Nos feriadões, por exemplo, a gente percebe claramente que o número de motos aumentou muito nas estradas”, indica Luciano Ferreira, soldado da Polícia Rodoviária Estadual na cidade. Entre os moradores que fizeram essa troca está Raimundo Nonato Feijó, trabalhador rural. Ele afirma que a moto é um meio de ganhar tempo no seu dia-a-dia. “A moto é mais ligeira. Agora vou mais rápido lá de casa pro meu emprego e posso também viajar pra longe”. Vários fatores levam alguém a possuir uma moto. Um deles é a facilidade na hora da compra, pois o financiamento em várias parcelas é um atrativo. Raone Saraiva

Celma Prata Estudante de Jornalismo da Unifor (7o semestre) O número de motos nas ruas é crescente em todo o Estado FOTO: FABIANE DE PAULA


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Literatura cearense é composta por movimentos pioneiros e escritores consagrados. Manter a qualidade e inovar são os maiores desafios da nova safra de autores

FOTO: FABIANE DE PAULA

A atual cena literária no Ceará Nova geração de escritores cearenses surge com temas, estilos e linguagens universais mostrando que é possível manter uma literatura de qualidade no Ceará Aline Veras e Edilene Castelo Branco

Ser escritor em começo de carreira não é nada fácil e tudo se torna mais complicado quando se quer exercer a profissão no Ceará. Sabe por quê? Não, não é por ser difícil publicar ou haver ausência de incentivos. O motivo é que muita gente fica intimidada com a qualidade da literatura cearense, com seus grandes escritores, grupos literários e pioneirismos. Para a nova geração de escritores do Estado, manter a qualidade não é uma missão simples. Tércia Montenegro, Pedro Salgueiro, Raimundo Netto, Ruy Vasconcelos e Carmélia Aragão são exemplos que podem se orgulhar por fazerem parte dessa nova geração que está cumprindo bem essa tarefa. A professora de Língua Portuguesa da Universidade de Fortaleza (Unifor) e mestre em Literatura pela Universida-

de Federal do Ceará (UFC), Aíla Sampaio, aponta que os escritores cearenses da atualidade retratam temas mais universais do que regionalistas e que essa tendência deve ficar por muitas gerações. “A literatura cearense hoje é muito efervescente, mas desligada de raízes. Não é uma literatura que se diga propriamente cearense por ter características do Ceará. É cearense porque foi produzida aqui e por gente nascida aqui, mas os traços são todos nacionais e universais de um modo geral”, explica a professora, que também não vê influência marcante dos mais antigos escritores na geração atual. Porém, dos novos escritores, Aíla Sampaio, que mantém um blog exclusivamente sobre literatura cearense, percebe com mais traços regionalistas o contista e cronista Pedro Salgueiro, devido ao forte tom crítico semelhante ao Adolfo Caminha. Ela reforça que Fortaleza está muito diferente, mas que Adolfo Caminha já trazia a cidade em “A Normalista” com uma crítica à sociedade cearense do final do século 19. “E isso tem muito a ver, por exemplo, com a crítica que o Pedro Salgueiro faz hoje

da ‘loirinha desmiolada’, como ele chama Fortaleza. Mas não acho que seja uma influência proposital, direta”, afirma. Aíla reconhece o talento e originalidade desses escritores. Para ela, acharam seu próprio jeito de dizer o que pensam, sonham e querem. Qualidade Com três livros de contos já publicados e partindo para o terceiro livro infantil, Tércia Montenegro destaca a admiração e companheirismo que existe entre os autores já consagrados e a nova safra de escritores que ainda lutam para publicar seus primeiros livros. Para Tércia, essa boa relação só é possível por um motivo: “O pré-requisito é a qualidade. Se fossem medíocres, triviais, não haveria como ignorar isso, então, naturalmente, nós não teríamos tanta simpatia e acolhimento”, ressalta. Para Tércia, o artista, não apenas o escritor, não pode ficar esperando incentivos de instituições como o governo e entidades literárias - deve criar em qualquer circunstância. A divulgação do trabalho e o apoio servem para facilitar esse

uma organização dos trabalhos e uma maior acuidade nas correções”, relembra o escritor de “Dos valores do inimigo”. Ratificando a opinião da colega Tércia Montenegro, Pedro Salgueiro considera sua geração muito talentosa, trabalhadora, inquieta, desejosa em manter diálogo com os que já escreviam e com os que começam agora. Não seria uma geração fechada e nem arrogante em relação às outras. Para os que estão se aventurando no mundo das palavras e da imaginação, Pedro Salgueiro aconselha: “os escritores devem fazer literatura, divulgar suas obras, editar seus sites, suas revistas literárias, independentemente de ter apoio ou não. Só o fato de eles continuarem, feito Quixotes contra os moinhos de vento, remando contra as marés, já demonstra suas forças”. Particularmente, não acha que o Estado deva subsidiar escritores e obras, pois deveria, na verdade, oferecer uma educação boa para formar leitores, cidadãos cultos. “Se o Estado conseguisse ao menos dar uma educação digna, já estaria ajudando por demais a literatura e os escritores”.

processo, mas não são as únicas possibilidades de viabilização da obra. A escritora também critica os que ficam propagando notícias de que o povo brasileiro é alienado, não lê e não compra livros. “Eu não sou pessimista em relação ao futuro dos livros no Brasil porque eu consigo enxergar os pontos positivos, consigo ver um público leitor e incentivos do Governo”. Geração inquieta Outro grande representante da nova literatura cearense é Pedro Salgueiro. Autor de uma vasta produção literária, que inclui contos e crônicas (algumas publicadas semanalmente no jornal O Povo), conta que se tornou escritor quase sem querer. “Fui sentindo vontade de escrever umas bobagens e sempre mostrava para alguns amigos, que quase sempre gostavam e incentivavam a continuar. Com o tempo, me vi com um calhamaço de contos escritos à mão”, recorda. Sob a orientação de um amigo, submeteu uma produção a um concurso de literatura na cidade. “Fui participando e ganhando alguns. Os concursos me ajudaram muito, pois me levaram a

Professores explicam as peculiaridades da nossa literatura o leitor, diante do texto, possa afirmar que se trata de um autor cearense, mas que existe uma maneira peculiar de trabalhar a ideia. “Não vou dizer uma palavra ou uma frase, há uma ideia que deixa transparecer essa ligação muito profunda com as coisas da nossa terra, como o problema climático, a aridez. Isso se reflete nos textos e é recorrente”, explica. Quanto ao futuro da literatura, professor Luciano o considera incerto. “No Brasil, os escritores são rapidamente esquecidos, poucos se salvaram do esquecimento. Sou da geração de 1982,

uma turma grande que começou a publicar nos anos 80. Alguns conseguiram publicar no exterior, mas só o tempo irá dizer se algum de nós ficará na memória das pessoas”, reflete. Membro da Academia Cearense de Letras e mestre em Literatura pela UFC, Batista de Lima considera difícil pensar em uma literatura eminentemente local, pois esta sofre com os processos de globalização, das novas tecnologias e das facilidades da edição. Outra preocupação do professor é em relação a criarmos o hábito da leitura nas crianças, pois, segundo ele, se quisermos leitores

FOTO: FABIANE DE PAULA

O escritor e professor de História da Arte Luciano Maia, mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará (UFC), publicou seu primeiro livro em 1982. Sete anos depois, entrou para a Academia Cearense de Letras. Sobre a literatura cearense, o acadêmico afirma que ela apresenta componentes bastante especiais, “pois haveria uma maneira de abordar a realidade e de transfigurá-la. Podemos observar um pouco de cearensidade, como existe a mineiridade ou mineirice, ou as poesias gauchescas”, afirma. Ele explica que não significa que

Batista de Lima acredita ser difícil pensar em uma literatura eminentemente local

no futuro, temos que começar a produzi-los agora. Outro aspecto lembrado pelo acadêmico é que alguns professores de nossas escolas têm mais aproximação com autores de fora do que com escritores locais. Disse ainda que a literatura cearense precisa de leitores com fome de leitura, pois livros já temos. Luciano Maia, por exemplo, que escreve desde menino, já contava entre 1982 e 1999 com mais de doze livros publicados e traduzidos em alguns países como Estados Unidos, Argentina e Romênia.


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Crônica

Principais movimentos e grupos literários do Ceará: Os Oiteiros: O início da literatura cearense ocorre com Os Oiteiros, grupo atuante na segunda década do século 19. Principais representantes são Costa Barros e Pacheco Espinosa. Clube Literário: Teve início em 1886 e não durou mais de dois anos. O jornal que servia como veículo de publicação de obras do grupo era A Quinzena. O clube não teve tanta repercussão no Brasil, mas foi importante por ter sido pioneiro na tentativa de acabar com os padrões românticos na literatura cearense, além de ter sido o primeiro grupo a tentar introduzir o Realismo no Ceará, o que só acontecerá com a Padaria Espiritual em 1892. Foram membros do clube os escritores Antônio Sales, Juvenal Galeno, Oliveira Paiva, Farias Brito, Rodolfo Teófilo, entre outros. Alguns membros, posteriormente, fundariam a Padaria Espiritual.

Assaré é um dos maiores destaques nesse tipo de literatura. Grupo Clã: Idealizado por Fran Martins, o grupo surgiu em 1943. Reuniu, no Ceará, os escritores da chamada Geração 45 do Modernismo. Inicialmente, o grupo chamava-se Clube de Literatura e Arte. Só depois veio a denominação de Clube de Literatura e Arte Moderna (CLAM, hoje Clã). Vários livros, realizados individualmente ou em conjunto, foram publicados, assim como a revista do Grupo que pode ter todos os seus números encontrados na biblioteca da Academia Cearense de Letras. Pelo número de publicações da revista (29), podemos afirmar que este foi o grupo de maior produção literária do Ceará.. Seus fundadores e principais representantes foram: Aluísio Medeiros, Antônio Girão Barroso, Antônio Martins Filho, Artur Eduardo Benevides, Braga Montenegro, Eduardo Campos, Fran Martins e outros.

Padaria Espiritual: Teve início em maio de 1892 e seu principal fundador foi Antônio Sales. Participaram também Adolfo Caminha, Rodolfo Teófilo, Lívio Barreto, entre outros. Foi a mais original agremiação literária do Ceará. O deboche, a ironia e a defesa da cultura regional eram característicos do grupo. Criou um Programa de Instalação com 48 “leis” que são marcadas pelo humor, originalidade e irreverência de seus autores. A Padaria significou o rompimento da dependência da cultura estrangeira e da superficialidade na literatura. Ela serve como introdução definitiva do Realismo no Ceará e também do Simbolismo. Divergências internas impediram a continuação do grupo, que durou seis anos. Academia Cearense de Letras: É a entidade literária máxima do Estado do Ceará. A ACL é a mais antiga das Academias de Letras existentes no Brasil, fundada em 15 de agosto de 1894 por 28 intelectuais cearenses, três anos antes da Academia Brasileira de Letras. O Ceará ocupava então importante papel dentro do movimento literário nacional. Ao contrário do que dizem, a entidade não tinha inspiração nas academias francesas. O modelo tomado foi o da Academia das Ciências de Lisboa, fundada à época do Iluminismo. Foi só em 1922, com uma reorganização promovida por Justiniano de Serpa, que a entidade passou a ter 40 lugares e que foram instituídos os patronos.

Literatura de Cordel Literatura de Cordel: Tem destaque nas letras cearenses desenvolvendo-se expressivamente em Juazeiro do Norte, desde as primeiras décadas do século XX. Em Fortaleza, a Literatura de Cordel surgiu no período da Oligarquia de Nogueira Accioly, período esse em que circularam alguns folhetos destratando a figura do governador cearense. Patativa do

Pedro Salgueiro

I – ARACELI SEM AMOR Que chance terá Araceli de ser feliz nascendo no Barroso II?, ínfima, quase nenhuma, sem escola, sem pais (ou país) presentes, será devorada inevitavelmente por algum vizinho, irmão, tio ou primo... Que chance terá Araceli de atravessar impunemente a BR-116 sem ser atropelada?, pouca, praticamente zero, encontrará um motorista zeloso que a deixará no segundo posto de Horizonte, devidamente paga... Que chance terá Araceli de pegar onda na Iracema de todos os sóis?, alguma se conseguir deslumbrar a Avenida Raimundo Girão sentido Mucuripe-Centro, onde avistará a sombra alta do moço de dedos verdes que apenas seguiu o aceno do taxista solícito... Que medo terá a Araceli de ficar sozinha em plena Zé Bastos bem quase duas da madruga?, apenas de perder o último trem pra Vila das Flores... Que chance terá Araceli de voltar da Europa?, de ser somente a menina meio distraída com sua bela e fina voz. “Que Deus guarde todos nós!!” *** Céus, Araceli!, o que viram em ti, pequenina, que nem te deixaram brincar?! *** Vixe, Araceli!, o que tiraram de ti, meninota, que nem te deixaram vencer?!

Exemplar da revista O Saco Revista O Saco: Em 1976, um grupo de escritores, entre eles Manoel Raposo, Jackson Sampaio, Nilton Maciel e Carlos Emílio Correia Lima, criou O Saco, “revista mensal de cultura”. A partir do número 5 tornou-se “uma revista nordestina de cultura”. A revista apareceu como novidade, não somente no Ceará, mas no Brasil. O nome Saco tinha um sentido amplo ou um sentido de amplitude. No entanto, não se tratava de um movimento ou de um grupo com ideias de movimento literário. A pretensão era uma só: editar uma revista. Nada de bairrismos, regionalismo, nacionalismo. Um saco onde coubesse tudo ou quase tudo, todas as manifestações culturais e artísticas. Apesar do sucesso que a revista fez, não durou muito tempo. Grupo Siriará de Literatura: Dois anos depois do fechamento de O Saco surgiu o “Grupo Siriará”. No dia 14 de julho de 1979 publicou-se o “Manifesto Siriará”. Siriará foi um grito contra muita coisa. Era um grito a favor da democracia, entendendo-se como tal a prática dos direitos nacionais e regionais, individuais e de classe. Assinaram o Manifesto os seguintes escritores: Adriano Spínola, Airton Monte, Floriano Martins, Lydia Teles e vários outros autores cearenses. Fontes: Professor Luiz Danilo Rodrigues, graduado do curso de Letras Português – Inglês na UFC; A Padaria Espiritual no Ceará e sua contribuição à Literatura Cearense, Márcia Oliveira (Blog Letras e Arte); Jornal de Poesia; Blog Literatura Cearense de Gustavo César Cabral; Blog Literatura sem Fronteiras de Nilto Maciel; Rascunho, O jornal de literatura do Brasil.

*** Ah, Araceli!, o que fizeram contigo, menina, que nem te deixaram crescer?! II – SEM CHANCE Um dia desses do ano da graça de 2009 um belo e jovem italiano desceu do hotel em direção à praia, já vinha muito bem informado de local e hora em que deveria agir, quem procurar, que táxi pegar, a que motel se dirigir; já fizera isso em outras ocasiões, seu primo - colega de fábrica - vizinho de prédio lhe passara a dica. Rápido passou no caixa-rápido. Rápido se dirigiu às meninas, seis magricelas que desde criança esperavam por ele. Rápido deu o sinal combinado pro taxista solícito. Rápido, seis menininhas entraram no táxi. Só não contavam (todos eles, SIM, TODOS ELES) que desta vez alguns repórteres da maior rede de televisão do país, escondidos, filmavam tudo. Só não contavam que apareceriam educados guardiões da lei pra tirar das garras do jovem gringo as nossas (nossas, SIM, NOSSAS!) sonsas meninas. Só não contavam que aquele dia era um (sim, UM, SÓ UM!) mísero dia em que todo o país fingia se importar com todas (todas, SIM, TODAS!) nossas filhas. III – Ah, Araceli, o que fizeram de ti? Ah, Araceli, meu amor... Pedro Salgueiro escreveu essa crônica especialmente para o Sobpressão. O autor publicou O Peso do Morto, O Espantalho, Brincar com Armas e Inimigos, todos de contos; além de Fortaleza Voadora, de crônicas. Edita, em parceria com Jorge Pieiro, a revista Caos Portátil: Um Almanaque de Contos.

Estudantes desconhecem autores locais No passado, muitos dos movimentos e grupos literários surgidos no Ceará produziam revistas para a divulgação dos trabalhos de escritores cearenses. Na atualidade, já existem editoras cearenses. A Fundação Demócrito Rocha, do Grupo de Comunicação O Povo, atualmente publica apenas obras de autores do Estado. Para Regina Fiúza, coordenadora de Marketing da Fundação, a dificuldade em promover os livros no Ceará é grande porque o público em geral desconhece os nossos

autores. Nossa equipe entrevistou alguns alunos do curso de Letras da UFC, e a maioria desconhecia a nova geração de escritores cearenses. Eles alegam que as publicações desses autores não são acessíveis. Segundo Regina, não existe uma política para expansão e acesso às publicações. “Existe uma expansão na prática da leitura, mas não se pode dizer que há um boom de leitura. Aqui no Ceará, os livros circulam pouco, o mercado é mínimo. Existe um grande trabalho para se fazer ainda”, explica.

A Fundação pretende expandir o catálogo (possui 300 títulos) para publicar escritores de todo o país. “É claro que vamos continuar dando oportunidade para os nossos autores. Mas não existe esse negócio de literatura cearense como se fosse um marco. O que existe é literatura e texto bom, não importa se é pernambucano, brasiliense”. Para alavancar o mercado de publicações e a prática da leitura, Regina indica que a leitura precisa ser encarada como um prazer, como uma prática social transformado-

ra. “Existem coisas simples que podem ser feitas, como ler bons livros de autores cearenses na escola. Fora do Estado, existem forças de mercado que são imperiosas, mas nós temos algumas referências nacionais: José de Alencar, Rachel de Queiroz, Ana Miranda, Patativa do Assaré”. Ela aponta os concursos literários promovidos anualmente pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult) e pela Academia Cearense de Letras como importantes para a literatura, incentivo e surgimento de novos escritores.

Fundação Demócrito Rocha gera oportunidades aos escritores cearenses FOTO: WALESKA SANTIAGO


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Sucesso musical sem “jabá” Graças à web, um meio de fácil, rápida e barata divulgação, bandas independentes estão conseguindo ganhar espaço junto ao público sem o apoio de grandes gravadoras Leonardo Capibaribe e Renata Wirtzbiki

Não se assuste se um dia você for dormir como um anônimo e acordar sendo um pop star da música. O grande avanço das novas mídias sociais, como Orkut, Facebook, Twitter, Youtube e Myspace, está proporcionando aos artistas ferramentas rápidas e viáveis de divulgação de seus trabalhos. Quem possui o sonho de ter sua música “na boca do povo” não precisa mais recorrer ao famoso “jabá” – aquele dinheiro pago às rádios e TVs para a transmissão de músicas – ou mesmo depender de um contrato com uma grande gravadora. É o caso da Arsenic. Surgida em 2009, em Fortaleza, a banda já nasceu no cenário musical utilizando as redes sociais para a divulgação dos trabalhos. Com o lançamento do EP (extended play) “Vá Bem Mais Além”, a Arsenic já tem a satisfação de ver o público cantando suas músicas nos shows. O vocalista Gui Ferreira dá dicas de como fazer sucesso na Internet. “É tudo um conjunto. Pra conseguir destaque, é importante você criar ‘uma rede de redes sociais’. Não adianta nada você ter um Myspace muito bom se não tem o poder da comunicação direta com o fã que o Twitter possibilita. Como também digo que não adianta nada ter um Twitter super atualizado se você não tem um bom Myspace com fotos, release e suas músicas no ar”, indica. A interação direta com os fãs é outra vantagem. Essa relação se dá por meio dos fóruns e de sites como o Twitter, o Orkut e o Facebook. Os dois últimos contam ainda com a possibilidade de criação de comunidades virtuais, que ajudam na divulgação. “Após os shows, sempre vem gente no Orkut da banda e no Twitter comentar sobre as apresentações, ou nos perguntar quando tocaremos de novo. Sempre que possível, nós respondemos”, assegura Gui Ferreira. A banda de metal Clamus, que está completando 10 anos na cena musical underground cearense, acaba de lançar seu mais novo álbum “Frontiére”. Para o grupo, a internet é um dos principais meios para divulgação dos shows e nas vendagens de CDs. Na prática Para o baterista da Clamus, Clerton Holanda, a Internet otimiza todo o processo. “Foi gra-

Banda Arsenic aposta nas redes sociais para manter contato com os fãs, disponibilizar músicas gratuitamente e divulgar os trabalhos

Saiba mais...

Números da Indústria Fonográfica 79,1% Crescimento de venda de música digital

4,9%

Aumento da venda de Cds, após três anos de retração

359,8 milhões de reais Faturamento do Mercado Fonográfico

80% do mercado é controlado por gravadoras que integram a Associação Brasileira dos Produtores de Discos Fonte: Associação Brasileira dos Produtores de Discos

ças à Internet que nós conseguimos divulgar nosso material nacionalmente e tocar desde o Norte do Brasil até São Paulo com o nosso primeiro álbum, passando por oito estados e 14 cidades. Como poderíamos agilizar isso por telefone ou cartas? O custo financeiro e de tempo seria altíssimo”, analisa. Segundo Holanda, o mundo virtual é um local democrático, “meio sem regras”. Então, há espaços para todos que queiram usufruir dele e, assim, encontrase materiais bons e ruins. O vocalista da Arsenic ressalta que a Internet é o meio mais viável para as bandas independentes. “Antigamente, era bem mais difícil pra uma banda se destacar rapidamente sem ajuda das grandes mídias como TV ou Rádio, mas hoje em dia as coisas mudaram”, acredita. Os

contatos para os shows da Arsenic acontecem, na maioria das vezes, por e-mail. E a vantagem não está só na facilidade de poder divulgar suas músicas pela web: os artistas da nova geração também contam com a ajuda de programas que aperfeiçoam as gravações e fazem um trabalho quase profissional de mixagem e edição das faixas gravadas em seus CDs. Após a conclusão da produção, a Arsenic disponibiliza gratuitamente na Internet todas as músicas gravadas. As gravadoras Para amenizar os impactos financeiros dos downloads gratuitos, as principais gravadoras do país resolveram investir também na venda de música digital. No entanto, a compra desse formato ainda é tímida se comparada aos demais, como CD e DVD. Enquanto a venda de música digital representa 12%, as de CD e DVD contam com 61% e 27%, respectivamente. Apesar disso, vem apresentando maior crescimento nos últimos anos. De acordo com relatório da Associação Brasileira dos Produtores de Disco (ABPD), em 2008 a venda de música no mercado digital cresceu 79,1%; enquanto que a de CDs teve um aumento de apenas 4,9% em relação ao ano de 2007. Conforme a ABPD, o faturamento do Mercado Fonográfico Brasileiro em 2008 foi de R$ 359,8 milhões, sendo R$ 43,5 milhões oriundos do mercado digital.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

MySpace é o favorito na internet No quesito divulgação, o MySpace é o eleito pelas bandas como o site mais completo: por meio dele, os fãs têm contato com os artistas e conhecem pessoas que curtem o mesmo estilo musical. Existem ainda recursos para comentar e ouvir música. Criado em 2003, o MySpace é a segunda maior rede social do mundo, perdendo apenas para o Facebook. Devido a sua popularidade e variedade de serviços ofertados, muitas bandas utilizam o MySpace como site oficial na Internet. Seguindo a onda de se atingir lugares cada vez mais longínquos por intermédio da web, a banda cearense de power pop Joseph K, formada em 2004, teve a prova de que seu trabalho está sendo reconhecido não só na cena regional, mas também internacionalmente. O grupo teve a oportunidade de tocar no maior evento anual de desfiles de carros antigos chamado Woodward Dream Cruise, em Detroit, Estados Unidos. Em maio de 2009, pelo selo independente Panela Discos, foi lançado o disco intitulado “The Full Time Rockers Club”, o primeiro álbum com letras em inglês da banda cearense.

Banda Josep k trilha carreira internacional graças ao site FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Para o baterista da banda, Ryldney Cavalcante, a dificuldade que se tem em se estabelecer num mercado musical autoral e independente é enorme e sem essa “mãozinha” da web as coisas não sairiam do lugar. “No começo, esses tipos de mídia ajudavam mais do que hoje, pois o número de bandas usando desse meio era menor”, explica o baterista. Ele afirma que a internet tem total importância no trabalho e que as músicas são todas disponibilizadas lá: desde exibição de videoclipes até downloads livres dos materiais. “Foi com a Internet que, quando começamos a fazer um trabalho de um nível mais intermediário, conseguimos nosso público”, explica o baterista.


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Entrevista

Do MP3 ao... vinil? Que música digital, que nada! Muitos amantes da música estão entusiasmados com a volta do vinil ao mercado fonográfico. Em 2009, uma das maiores gravadoras do mercado, a Sony, anunciou a volta de vendas de vinis, com o lançamento da série “Meu Primeiro Disco”. A gravadora pretende alcançar um público nostálgico pelo som puro do vinil e as capas e encartes que fizeram história no mundo da música, como o álbum Da Lama ao Caos, de Chico Sciense & Nação Zumbi, que completou 15 anos. Além disso, a gravadora aponta para mais uma vantagem do vinil: ele não pode ser pirateado. Mas não são apenas os artistas antigos que estão voltando às suas raízes. Músicos da nova geração, que já nasceram artisticamente na era da música digital, também estão optando por versões em vinil de seus álbuns, como Pitty, Fernanda Takai e a banda Cachorro Grande. A última fábrica de vinis da América Latina, a Polysom Brasil (localizada em Belford Roxo, no Rio de Janeiro), que estava desativada desde 2007, reabriu suas portas em 2010 para atender à demanda das gravadoras. No Brasil, quando o velho bolachão parou de ser produzido, deixou saudade para muitos. É o caso do publicitário Felipe Portela, que possui uma coleção de 180 vinis. Segundo ele, o preço de uma raridade pode ultrapassar R$ 800. “Todos os CDs que

Banda independente em alta no cenário nacional Surgida em 1998, em Brasília (DF), a banda de rock independente Móveis Coloniais de Acaju vem se destacando no cenário musical brasileiro, com sua mistura de ritmos como samba, ska, salsa e funk. O segundo álbum lançado, C_mpl_te, em 2009, foi bem recebido pela crítica e está disponível para download gratuito. Em entrevista por e-mail para o Sobpressão, a banda fala sobre a divulgação de seu trabalho. Sobpressão – A banda teve início em 1998, quando a Internet ainda não era tão utilizada no Brasil como hoje. Como acontecia a divulgação do trabalho de vocês naquela época?

Felipe Portela é assumidamente um fã do som dos bolachões

eu tenho, procuro em vinil. Já consegui boa parte. Além do som do vinil ser melhor, ainda tem a interação, como levantar para virar o disco”, relembra Felipe. O também publicitário Márcio Holanda é outro que sente falta da época em que o CD e a música digital não existiam. Em sua coleção, Márcio tem desde discos do Iron Maden a um exemplar de “A Hora do Capeta”, LP de Sérgio Mallandro que fez sucesso nos anos 80. “Quando o cara comprava um disco, todo mundo se reunia para ouvir. Hoje em dia não acontece mais isso. Hoje está tudo acabado, tudo é download”, reclama. Uma boa opção de procura por discos antigos é o site Mer-

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

cado Livre. Lá, pode-se encontrar discos de bandas internacionais como The Beatles, Pink Floyd e Kiss, passando por clássicos da MPB como Chico Buarque, Cartola, Belchior e Jorge Ben (quando ainda não tinha o “Jor”), chegando às músicas infantis de Xuxa, Angélica e Balão Mágico. Para os ainda mais tradicionais, que preferem comprar o disco “pessoalmente”, em Fortaleza há lojas que vendem apenas LPs, como a Botija Discos. Além de comprar, o cliente ainda pode vender exemplares.

Serviço Botija Discos Rua Ana Cartaxo, 45, Bairro de Fátima - 3277.0990

Conheça mais sobre selo musical O termo “selo musical” antigamente fazia menção às divisões internas das grandes gravadoras. Ao longo do tempo, foram nascendo selos musicais responsáveis pela produção de todo o material, livres de vínculo com essas gravadoras. Eles não são gravadoras de fato, em geral não possuem a estrutura completa de produção, como contratação, gravação e divulgação de artistas no mercado. Em termos de equipe de trabalho, possuem um número menor, contando com outras empresas fonográficas para o processo de gravação e distribuição. Uma definição que é usada pelas entidades que representam os pequenos selos e gravadoras é que “Independentes” são as empresas - selos e gravadoras - que detém seu controle, ou seja, não estão vinculadas aos grandes grupos multinacionais da música. A Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) define seus sócios como “empresas brasileiras, dirigidas por brasileiros ou estrangeiros residentes no

Banda Móveis Coloniais de Acaju

Móveis – O boca a boca sempre é o principal meio de divulgação. A gente sempre panfletou os shows em Brasília. A banda cresceu em paralelo ao desenvolvimento da net, e sempre fomos muito ligados nisso. Desde 2003, temos todo nosso material lançado na net de graça para quem quiser baixar. Sobpressão – E atualmente divulgação de shows e trabalhos novos acontece exclusivamente pela Internet, ou há a utilização de outros meios de comunicação? Móveis – Procuramos usar sempre as redes sociais, nosso site, mas também usamos rádios, TVs. Tudo se soma. Sobpressão – Quando vocês perceberam que o Móveis Coloniais de Acaju estava se tornando conhecido no cenário musical nacional? Móveis – No primeiro show em Belém, no Festival Se Ras-

gum, todo mundo cantando as músicas, que estavam de graça no nosso site. Sobpressão – A venda de CDs no país, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), apresentou, em 2008, um crescimento de apenas 4,9% em relação a 2007, após três anos de retração. Em compensação, a venda de música online atingiu um aumento de 79,1%. Como vocês avaliam os rumos que o mercado fonográfico vem tomando? Móveis – É um período de mudanças, mas, como já disse antes, tudo se soma. É importante ter material em vinil, cd, DVD, online... Tivemos já mais de meio milhão de músicas do C_mpl_te baixadas na net, pelo projeto Álbum Virtual da Trama. Continuamos vendendo bem os discos, principalmente nos shows. Vamos lançar um DVD em abril e estamos sempre produzindo vídeos para a Internet. Hoje o mercado é muito dinâmico e exige inovação, o que a maior parte das grandes gravadoras ainda não aplicaram aos seus artistas. Talvez por isso culpem o mercado e falem de crise com tanta motivação.

Enquete

Você faz download de música?

Para abrir uma empresa fonográfica, deve-se consultar um advogado

Brasil” – basicamente, isto exclui as empresas multinacionais da música. Como e quais são os procedimentos para abrir um selo musical? Primeiramente, deve-se consultar um advogado e um contador especializado para que se abra uma empresa fonográfica. Segundo passo é no item referente ao “Objetivo Social” do contrato: deverá ser marcada a opção “Produção Fonográfica”. O terceiro passo, caso você optar por vender diretamente seus discos: deverá constar no

FOTO: DIVULGAÇÃO

mesmo contrato a opção “Venda de discos, fitas e similares”. Inscreva-se em uma Sociedade de Autores para fins de recolhimento de seus Direitos de execução pública. No site do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD (www.ecad.org.br), existe uma relação dessas sociedades para consulta. Após estar filiado, solicite à sua sociedade o software do ISRC (Internacional Standard Recording Code) que deverá ser inserido, obrigatoriamente, nas suas gravações.

“Só compro original. Não baixo música pela Internet, nunca baixei. Sei que o preço do CD é alto às vezes mas, ainda assim, prefiro comprá-lo a fazer download. Para mim, é uma questão de valorização do trabalho do artista. Já trabalhei com música durante quase dez anos e componho até hoje. Então, sei o quanto é complicado fazer uma canção de qualidade. Por isso, valorizo tanto o CD. E também tem todo o charme do encarte. Adoro sentir o cheiro de CD novo. Sou um viciado em música, por isso fico sempre ligado nos lançamentos. Nomes como Norah Jones e Alicia Keys, por exemplo, são duas ótimas opções. “

“Atualmente eu adquiro música sempre pela internet, em sites de compartilhamento de arquivos. A Internet é importante, porque é por meio dela que acompanho novidades, via rádios online, clipes no YouTube e em blogs de jornalistas especializados em música. Há ainda a vantagem de poder vasculhar a discografia de bandas de rock clássicas. Claro que dá nostalgia daquele romantismo de juntar a mesada para comprar CD, de ler a resenha no jornal ansioso pelo lançamento do disco na loja e correr para comprar. Mas esse universo virtual permite ampliar bastante o conhecimento sobre música.”

Bruno de Castro Jornalista

Adilson Nóbrega Jornalista e professor de Administração


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Ciberativismo democrático

do agitação on line”, comenta. Castilho reflete que o ativismo presencial e o ciberativismo não dependem mais necessariamente um do outro para existir, pois diferem em métodos e objetivos. “O fato de reunirem multidões é politicamente muito mais convincente do que o teor dos slogans do ativismo clássico. Além disso, os ciberativismos são muito mais flexíveis, o que faz com que os protestos sejam possíveis mesmo em regimes altamente repressivos, porque a polícia não pode estar em to-

dos os lugares, mas a internet sim”, completa. Para o advogado Omar Kaminski, que atua na área de Direito Digital e é criador do site www.internetlegal.com.br, estamos em uma época de maturidade da internet no Brasil. “Iniciativas como a do ciberativismo, que trazem discussões sobre o marco legal, sobre a reforma dos direitos autorais, apenas reforçam a importância da mobilização popular, no caso pela internet”, diz. O advogado reflete que do ponto de vista legal, o ciberativismo contribui ao reforçar a interpretação de direitos e garantias fundamentais dos cidadãos e comenta sobre algumas mudanças que podem ocorrer no país com o avanço da internet. Para oficializar um partido no Brasil hoje, são necessárias cerca de 400 mil assinaturas, e se a certificação digital da ICP-Brasil (espécie de “carteira de identidade” no mundo virtual, que permite a emissão de certificados digitais e também garantem que informações transitem pela internet com mais segurança) funcionar como se pretende, para Kaminski logo poderemos executar tais ações e até mesmo votar on line. “Na Câmara dos Deputados já é possível apresentar projetos de lei de iniciativa popular por meio do site [Comissão de Legislação Participativa]”, afirma. Neste ano, acontecerão as eleições presidenciais no Brasil. O ciberativismo será importante ferramenta de comunicação entre eleitores e candidatos. Atente para este fenômeno.

O @LeiSecaFortal é um perfil do Twitter inspirado no perfil carioca @LeiSecaRJ, que tinha a intenção inicial de, através de colaborações de seguidores, localizar blitz da cidade. A ação não tem como propósito o incentivo à fuga de blitz e sim o aviso prévio para quem está bebendo ir de táxi ou carona para o seu destino. Hoje o perfil denuncia infrações de trânsito, congestionamentos, buracos e colabora com o trânsito da cidade de Fortaleza.

A experiência com o #buracosfortaleza foi muito válida porque conseguimos articular uma rede de pessoas indignadas com a situação do asfalto da cidade naquele ano de inverno rigoroso. Além disso, pudemos utilizar os recursos tecnológicos disponíveis - Twitter, e-mail, Google maps, Orkut, SMS para questionar o poder público. Particularmente fiquei muito feliz de ser um dos atores envolvidos naquela mobilização.

O ativismo na Internet ganha força como forma de protesto e manifestação popular no Brasil. Internautas se mobilizam através de redes sociais e até mensagens de texto Allan Diniz e Mariana Penaforte

Artigo

As iniciativas envolvem um grande número de pessoas, já que não existem fronteiras geográficas FOTOMONTAGEM: WALESKA SANTIAGO

ferramentas utilizadas pelos ciberativistas para atrair colaboradores são muitas: Orkut, blogs, twitter, fóruns, SMS e outras inúmeras. Jornalista há mais de 40 anos e colaborador do Observatório da Imprensa, Carlos Castilho pensa que o ciberativismo ainda é incipiente no Brasil, mas acredita que o crescimento acelerado do uso da internet no país abre perspectivas muito amplas para iniciativas de promoção de causas sociais. “O ciberativismo é eficaz na medida em que

Geovana Cartaxo

Ciberativismo e Manifestações Mundiais As novas tecnologias propiciam ações coletivas e formas de agir que não seriam possíveis antes, amplificando os talentos humanos para cooperação. Com isso, atinge-se um maior número de pessoas que, em geral, não se conhecem, mas têm alguma causa em comum. As novas formas de agregação e manifestação social descritas por Rheingold (escritor e crítico da sociedade moderna) podem ser de dois tipos: as smart mobs, que têm caráter político e são manifestações que utilizam a internet, por meio de blogs ou Twitter, ou as tecnologias do celular, principalmente o SMS (short message system) como forma de comunicação e mobilização. E as flash mobs que têm caráter lúdico, performático, artístico e não político. Kissel, presidente da WWF, afirma que o sucesso da Hora do Planeta foi possível devido ao forte apoio da internet, dos celulares e das mídias sociais: “O uso de novas tecnologias foi fundamental para a mobilização. A resposta da comunidade pode ser medida principalmente pelas visitas no sitio do WWF-Brasil no período da campanha, o aumento de acessos no mês de março foi de 250%, em relação ao mês anterior, atingindo 58.883 visitas somente no dia 28 de março, sendo o terceiro sitio mais visitado do mundo, dentre os sítios do WWF, neste dia. Estes dados traduzem a importância das novas tecnologias como engendradoras de um manifesto planetário e indutoras de mobilizações em tempo real. O uso da internet pelos movimentos sociais contemporâneos, como o ambientalismo e os movimentos de gênero, tem longa caminhada”. Advogada, ambientalista e professora da Universidade de Fortaleza

pode mobilizar um número muito grande de pessoas, já que não é limitado por fronteiras geográficas”, reflete. Caribé rebate algumas críticas que os ciberativistas recebem, em expressões como “ativistas de sofá” ou “ativistas preguiçosos”, por não necessariamente estarem nas ruas ao protestarem. Ele diz que “ser ciberativista dá muito mais trabalho do que se imagina. É um trabalho de convencimento, de explicar a cada um o que você quer dizer. Já fiquei duas semanas sem trabalhar só fazen-

Ações A Hora do Planeta ocorre desde 2007 e se caracteriza por ser uma mobilização planetária, liderada pela ONG WWF, divulgada e organizada, principalmente, pela internet. A mobilização consiste em apagar as luzes por uma hora em protesto contra o aquecimento global, pressionando os países a assumirem compromissos concretos para diminuir os gases do efeito estufa. Em 2009, tive o prazer de participar. Tainah Sales Estudante de Direito

Carlos Nóbrega Universitário e ciberativista

Emílio Moreno Estudante de Jornalismo e articulador da ação Buracos Fortaleza

Movimento envolve mais de 150 mil pessoas O movimento Mega Não (2009) protestou contra o Projeto de Lei do Senador Eduardo Azeredo (PSDB), cuja proposta incluía a identificação dos usuários de internet antes de iniciarem qualquer operação que envolvesse interatividade, como envio de e-mails, con-

versas em salas de bate-papo, criação de blogs, captura de dados (como baixar músicas, filmes, imagens), entre outros. Mais de 150 mil pessoas assinaram a petição on-line contra o projeto, que ganhou visibilidade, teve o apoio de outros deputados e foi arquivado.

IMAGEM: DIVULGAÇÃO

Como uma alternativa aos meios de comunicação de massa tradicionais, em busca de liberdade, impacto em suas ações e em defesa de seus ideais, a prática do ativismo através da web se tornou frequente entre os usurários da internet no Brasil. O ciberativismo, como é conhecido esse tipo de manifestação, já não é mais um termo tão incomum para os 44,5 milhões de brasileiros que o Ibope em 2008 revelou terem acesso à internet de casa ou do trabalho. Defensores de causas políticas e ambientais já utilizam constantemente essa ferramenta para reunir colaboradores. Inúmeras ações ganharam destaque aqui mesmo, no Ceará, como a “Buracos Fortaleza” e “A Hora do Planeta” (ver quadro de ações e artigo). Para João Carlos Caribé, ciberativista e fundador da rede social ciberativismo.ning.com, as pessoas estão começando a acreditar mais nesse ativismo da internet. Autor e colaborador de mais de oito blogs, para ele as pessoas começam a ver resultados práticos e estão se engajando mais nesse tipo de movimento. “Está havendo um crescimento intenso de colaboradores, que estão aprendendo a se defender e se reunir através de causas”, diz. As


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