A dramaturgia do corpo foge do tradicional e procura trabalhar com a ausência quase total da fala. O Sobpressão acompanhou o espetáculo de teatro físico “Mulieres” criada pelo grupo MIMO. Sobpressão Pág. 8
FoTo: liMa FilHo/diVulGação
FoTo: HannaH Moreira
Em locais simples ou mais elitizados, as mesas de sinuca são uma opção de donos de bares em Fortaleza para atrair ou manter clientes. Entenda mais sobre essa atração, saiba a diferença entre bilhar e sinuca e descubra onde alugar, comprar ou jogar. Classificado da Notícia Páginas 4 e 5
SOBPRESSÃO
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
MAIO/JUNHO DE 2010
ANO 7
N° 23
Bons ventos levam a Paracuru
de vários lugares do mundo. Embora essas mudanças tenham gerado emprego e renda, com benefícios para a economia local, a nova realidade do município divide opiniões entre os nativos. Paralelo a essas transformações, atividades artesanais tradicionais como o labirinto e renda de bilros estão desaparecendo. Sobpressão Páginas 4 e 5
Defesa do Consumidor
Código faz 20 anos de idade FoTo: raYla Vidal
FoTo: roland ZGraGGen/arQuiVo Pessoal
A ocupação do litoral cearense por estrangeiros tem transformado não só a paisagem como também a cultura local. Em Paracuru, a presença estrangeira é mais intensa por conta da localização geográfica favorável à prática do kitesurf. O número de estabelecimentos na cidade como hotéis e restaurantes, por exemplo, cresceu nos últimos anos em função dos kitesurfistas, que vêm
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) completa duas décadas em setembro e ainda é desconhecido pela maior parte da população. Anteriormente, as relações entre vendedores ou fornecedores e clientes era regulada pelo Código Civil e o consumidor ficava desprotegido de abusos. Com as Delegacias do Consumidor (Decons) e as Promotorias do Consumidor (Procons), tornou-se mais fácil e rápido a defesa dos direitos. Coletivo Página 8
Campeonato
Mundial de skate Fortaleza foi palco da primeira etapa do World Cup Skateboarding (WCS), nos dias 13 a 16 de maio. A premiação foi de US$25 mil. Fique por dentro do que aconteceu no evento, das premiações, das oficinas e conheça mais sobre o esporte no Ceará. Fôlego Página 1
Fotolegenda
FoTo: MaYra de araÚJo
Sobpressão: o melhor do Nordeste
Eleições Em junho aconteceu em Campina Grande (PB), o XII Congresso de Ciências da Comunicação - etapa regional da Intercom, maior congresso de Comunicação do país. A comitiva da Universidade de Fortaleza retornou com sete prêmios na Expocom, destinado à exposição de trabalhos de projeto experimental em Publicidade/Propaganda e Jornalismo. Entre eles, o Sobpressão, premiado como melhor jornallaboratório impresso. O destino agora é a etapa nacional, em Caxias do Sul (RS). Sobpressão Página 2
Futebol
O que cobrar?
Elas em campo
Com a proximidade das eleições, há a preocupação com a escolha dos candidatos. Muitos políticos fazem promessas que não estão dentro de suas competências, como os candidatos a prefeito que prometem melhorar a segurança pública. Essa função é da esfera executiva federal e estadual. Entenda as funções de cada cargo eletivo e saiba o que exigir de cada candidato. Coletivo Página 1
O esporte mais popular do Brasil está, cada vez mais, atraindo o público feminino. O Fôlego entrevistou mulheres que participam da atividade, exercendo funções dentro e fora de campo. Conheça o cotidiano de uma jogadora, uma jornalista esportiva, uma torcedora e uma árbitra de futebol e o preconceito que elas ainda enfrentam. Fôlego Páginas 4 e 5
SOBPRESSÃO
2
MAIO/ JUNHO DE 2010
Editorial
Crônica
Qualidade reconhecida na Expocom Em meio ao “maior São João do mundo”, em Campina Grande, na Paraíba, os cursos de Publicidade/Propaganda e Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) tiveram algo a mais para celebrar: os prêmios conquistados na etapa regional da XVII Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), realizada entre os dias 9 e 11 de junho. Na categoria Jornalismo, três produtos foram eleitos os melhores da região Nordeste nessa edição. O Sobpressão, composto por todos os cadernos (Classificado dá Notícia, Coletivo, Fôlego, além do primeiro caderno) venceu na modalidade Jornal - Laboratório Impresso (conjunto/série). A Ponte foi premiada como melhor Revista - Laboratório Impressa (conjunto/série). O Projeto de Assessoria de Imprensa da Organização Educacional Farias Brito, fruto de uma atividade desenvolvida na disciplina Assessoria de Comunicação, ganhou na modalidade Projeto de Assessoria de Imprensa. Na categoria Publicidade, a Universidade mais uma vez foi
campeã em Agência Junior de Publicidade e Propaganda, pelo Portfólio da Agência NIC - Laboratório de Gênios. Premiada também na modalidade Cartaz (Consultec - tire seus sonhos do papel). Na categoria Produção Editorial e Produção Transdisciplinar foram dois prêmios arrematados nas modalidades Design Gráfico (Kit Laboratório de Gênios) e Blog (Muvic). A Expocom é um dos eventos promovidos no Congresso de Ciências da Comunicação (Intercom), dedicado à exposição de trabalhos resultantes da pesquisa experimental realizada nos laboratórios e oficinas dos cursos de graduação em Comunicação Social. Segundo a comissão organizadora, são considerados critérios como criatividade, originalidade, inovação tecnológica e qualidade técnica. Os alunos-líderes de cada modalidade, além de enviar o produto, produzem um artigo científico para fundamentar o trabalho prático em conceitos teóricos e comparecem ao congresso para apresentar o conjunto perante uma banca avaliadora.
Vencida a etapa regional, o próximo passo será a Expocom Nacional, em setembro, na cidade de Caxias do Sul, nas serras gaúchas. A expectativa aumenta com a responsabilidade em representar o Nordeste e disputar com as outras regiões. Trata-se de uma experiência enriquecedora para os alunoslíderes que terão a oportunidade de conhecer o que está sendo produzido em todo o país, proporcionando uma significativa troca de experiências. O Sobpressão, como finalista, tem seu diferencial na experiência inovadora em trabalhar com cadernos, uma tendência reconhecida inclusive pela banca avaliadora da Expocom, o que resulta em uma produção mais completa e variada. O projeto gráfico, destaque nas produções do curso, também garantiu elogios nas considerações dos avaliadores. Esses e outros cuidados nos trabalhos desenvolvidos nos cursos de Comunicação Social sustentam a confiança de que estamos no caminho correto por uma formação mais completa e diferenciada.
De repente, a vida pode ser uma viagem Tudo começou quando ela ainda era uma adolescente. Ou criança, talvez. Os pais programavam as viagens de verão (aliás, de férias, porque no Nordeste sempre é verão) e ela curtia todos os momentos. Pesquisava na Internet sobre o lugar e criava roteiros junto com o pai, que também curtia a atividade de ser guia turístico de fim de semana. Os destinos foram muitos, desde cedo. Nacionais, internacionais... Tinha de tudo. A menina aproveitava cada momento das viagens. Descobria coisas novas como parquinhos que nenhuma criança de fora como ela sabia ou a lojinha onde vendia o melhor chocolate. Quando ela foi crescendo, começou a prestar atenção aos restaurantes, lugares de compras ou onde serviam os melhores drinks. Se tranformava aos poucos numa especialista do lugar e fazia de tudo para não ser confundida com mais uma turista. Quando a viagem acabava, sempre batia uma tristeza. No começo era normal, afinal, quem gosta de voltar para a rotina? Assistir às aulas, acordar cedo e ter a chata obrigação de arrumar um trabalho não estavam na lista das coisas preferidas da garota. As tristezas esporádicas logo viraram depressão profunda e os tempos que ela passava fora começaram a aumentar. A vida em sua cidade natal não tinha mais graça e adorava maldizer tudo quando voltava – as comidas, as pessoas, as festas, as roupas. Viajar, de repente, virou um vício, que se não fosse alimentado, gerava sérias crises de abstinência. Os pais não aguentavam mais a ausência da filha e resolveram tornar as coisas mais difíceis dentro de casa. Verba cortada, cartão de milhas escondido. Um belo dia acordaram e encontraram o seu guarda-roupa fashionista vazio. Apenas um bilhete em cima da cama: - Tive que ir. “Navegar é preciso, viver não é preciso”. O poeta português me entende. Um beijo da sua filha nômade. Estudante do 7º semestre de Jornalismo
Crônica
Fotolegenda
Pela primeira vez, o mar
Dona Silvia nasceu no interior do Piauí, em uma cidade chamada Mulato. Minha vó e ela mantiveram uma amizade, iniciada na infância, à distância por cartas e telefonemas. Um dia, a convite da minha avó, Dona Silvia veio a Fortaleza visitar a velha amiga e alguns parentes, e logo descobrimos que ela nunca tinha visto o mar. Todos da família nos reunimos e a levamos para a Beira-Mar. Dona Silvia se emocionou ao pisar na areia. Surpresa, comentava que nunca tinha visto nada tão bonito Texto e Foto: Taís Monteiro
Mariana Penaforte
Raone Saraiva
A última carta Era 1940. O dia da viagem de Antônio chegou. Sua esposa, Lúcia, já morrendo de saudades, arruma as malas do seu amor. Os dois jovens, recém-casados, se despedem, trocam abraços e já pensam no reencontro. Junto de amigos, Antônio segue sua jornada até outro estado para trabalhar. O carro parte e ele deixa um presente com sua esposa. O tempo passava e a vida seguia, mas Lúcia não percebia isso. Para ela, parecia que Antônio nunca mais iria voltar. As cartas trocadas pelo casal não eram suficientes para matar a saudade. Já faziam cinco meses que Antônio havia viajado. Seu amor por Lúcia só aumentava, mas o dela, agora, estava dividido. Lúcia estava varrendo a casa quando um garoto entregou uma carta. Depois de lê-la, ela parecia não sentir o chão, a ansiedade só aumentou. Em um trecho estava escrito:“Breve chegarei, meu amor. Estou morrendo de saudades, te amo.” Lúcia, às vezes, nas cartas que enviava ao marido, sentia um desconforto, pois omitia um grande fato que só queria revelar pessoalmente. 2010. Lúcia não sabe, mas é exatamente a centésima vez que relê aquela carta do marido, a última antes dele retornar. Toda vez que coloca os olhos no papel, já desgastado pelo tempo, escuta a voz de Antônio, cenas vêm à sua mente precedidas da mesma frase: parece que foi ontem. Isso porque Antônio nunca mais retornou. Sentada na cama, Lúcia escuta a porta de seu quarto bater. Com dificuldade, ela levanta. Aos 90 anos, seu vigor já não é o mesmo. Abre a porta. É Antônio. Os dois não falam nada, só se abraçam. Antônio beija a cabeça branca de sua mãe. Todos os dias, ele a visita naquele asilo. O amor de Lúcia ainda está dividido entre o esposo e o filho, o presente que Antônio, o pai, deixou sem saber, quando partiu e não voltou por causa de um acidente de carro. Estudante do 7º semestre de Jornalismo
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Eduardo Freire - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2010.1) - Reportagem: Aline Veras, Allan Diniz, Celma Prata, Edilene Castelo Branco, Mariana Penaforte, Raone Saraiva, Samuell Monteiro, Thereza Cristina - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Arte final: Aldeci Tomaz - Professores orientadores: Antonio Simões, Eduardo Freire - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Revisão: Profa. Solange Maria Morais Teles - Conselho Editorial: Antonio Simões, Eduardo Freire, Alejandro Sepulveda - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 500 exemplares - Equipe do Laboratório de Jornalismo (Labjor) - Estagiário de Produção Gráfica: Luiza Machado - Estagiários de Redação: Camila Marcelo, Gabriela Ribeiro, Geovana Rodrigues, João Paulo Freitas, Maria Falcão, Suiani Sales, Thamyres Heros, Viviane Sobral, Wolney Batista.
Sugestões, comentários e críticas: labjorunifor@gmail.com
SOBPRESSÃO
3
MAIO / JUNHO DE 2010
Os atuais desafios do movimento feminista Militantes afirmam que o movimento não morreu e que a desigualdade salarial e a liberdade de ambos os gêneros são os principais focos da luta na atualidade Aline Veras
Depois da Revolução Francesa, foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, que afirmava que “os homens nascem livres e permanecem livres e iguais em direitos”. Literalmente, os homens são livres e iguais em direitos. Mas onde as mulheres se encaixam nessa história? A verdade é que as mulheres não tinham espaço, direitos, liberdade, vontades, sonhos, enfim, não tinham vida. Ao longo dos anos posteriores (em meados do século 19 e início do século 20), é que o movimento feminista ganhou força em diversos países. Nos Estados Unidos, as feministas Lucretia Mott e Elizabeth Cady Stanton apresentaram uma declaração que exigia o sufrágio feminino, assim como educação superior e melhores oportunidades de emprego para todas as mulheres. Em 1920, afinal, as mulheres puderam votar pela primeira vez nos Estados Unidos e esse direito só foi conquistado pelas brasileiras em 1932. A partir do direito ao voto, a luta se encaminhou para o direito ao trabalho, à educação, liberdade e igualdade.
Conquistas: Desde o século 18, as mulheres vêm lutando e, aos poucos, conquistando seu espaço
Direitos iguais A pergunta hoje é: as mulheres conquistaram tudo o que queriam e o movimento feminista está na fase da autojustificação ou elas ainda nem chegaram perto da conquista que sonharam? Para Ozaneide de Paula, secretária de Políticas de Gênero da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado do Ceará (Fetamce), os movimentos e associações feministas ainda são importantes não apenas para as mulheres, mas também para a sociedade. “Agora a luta ampliou, não lutamos só pelos direitos sociais das mulheres, lutamos pelo direito à liberdade, por uma sociedade livre, justa e igualitária, onde homens e mulheres tenham os mesmos
direitos, humanos e sociais”, afirma Ozaneide. A igualdade salarial é, para Maria Hermenegilda Silva, presidente do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher, a principal luta dos movimentos feministas nos dias atuais. “Hoje nós precisamos da continuidade do movimento feminista porque ainda convivemos numa sociedade patriarcal. Conquistamos muitos direitos, mas, a meu ver, nós ainda não somos consideradas cidadãs. E uma questão ainda muito importante é que as mulheres ganham 30% a menos que os homens exercendo uma mesma função”, explica. Maria Hermenegilda ainda diz que a igualdade entre homens e mulheres na sociedade é ilusória, inexisten-
Feminismo, filosof ia e paradoxos Desde o século 18, mulheres como as escritoras Olympe de Gouges e Mary Wollstonecraft tentaram desconstruir a ideia de uma “natureza menor” intelectual e física das mulheres proposta por filósofos como Kant, Platão, Nietzsche e outros. A filosofia feminina ganhou força, principalmente, depois do sufrágio universal feminino, quando surgiram inúmeras teóricas e teorias abordando questões como a possível necessidade de uma “fala feminina” e a crise da identidade feminina. Desde então o feminismo influenciou a filosofia no século 20 e transformou a história cultural de maneira radical. De acordo com a professora de filosofia Sandra Helena, os grandes filósofos do Ocidente criticaram as mulheres porque não sabiam lidar com a questão feminina. Mas ela também nos lembra que o grego Platão escreveu em um dos seus mais célebres livros, “A República”, que as mulheres possuem uma força significativa: “Há uma dificuldade, mas quando ele enfrenta é surpreendente. Platão diz ‘nós não temos como estabelecer uma diferença de natureza, então tudo
Sandra Helena recorda a “força significativa” das mulheres dita por Platão Foto: Fabiane de Paula
o que o homem pode, a mulher também pode’. E ele chega a estabelecer que numa cidade ideal as mulheres podem ser guerreiras e que eventualmente as mulheres também chegarão a ser rainhas. Porque ele defende uma aristocracia do saber”, afirma. Outra corrente filosófica é a construção da “fala feminina”. Para a socióloga Ângela Julita, essa “fala” é possível e necessária: “O conhecimento sempre foi apropriado pelos homens. E sempre se atribuiu ao homem o comportamento racional e à mulher o comportamento emotivo, como se isso fosse separa-
do. Essas duas dimensões estão relacionadas. Então, a mulher também tem condições e deve se apropriar do conhecimento”. Já Sandra Helena diz que existe uma “fala feminina” mas que essa questão não deve ser tão importante para as mulheres: “Você não vê a Hannah Arendt reivindicando uma fala feminina. Ela fala. Ela fala sobre o mal, a violência. Quer dizer, fale! Diga! Eu não gosto muito disso, da defesa de uma fala feminina. Quando leio Hannah Arendt eu não estou preocupada se ela é mulher, acho que a fala é humana”, defende Sandra Helena.
Ilustração: Itamar Nunes Foto: Ziraldo.com
te: “Precisamos vivenciar essa igualdade no nosso cotidiano, não apenas estar assegurada na nossa Constituição”. Respeito Professora de Sociologia na Universidade de Fortaleza (Unifor), Ângela Julita Carvalho, diz que o movimento feminista ainda tem razão de existir porque há situações vivenciadas pelas mulheres que merecem reflexão. “A violência contra a mulher, por exemplo, ainda é enorme. Não só fisicamente mas também moralmente. O homem não aceita que a mulher tenha sua liberdade, que seja alguém que está no mundo”, argumenta. Ela também aponta que não podemos esquecer as mulhe-
res de diferentes classes sociais na análise do impacto do movimento feminista. “Nem todas as classes sociais vivenciaram as ideias expostas pelo movimento feminista de forma igual. As mulheres das classes sociais mais baixas sempre trabalharam nas suas próprias casas, nas casas dos outros, nas praças públicas, vendendo nas feiras. Mas a mulher da classe média, nos anos 60, vai exigir a inserção no mercado de trabalho, o acesso ao conhecimento e a liberdade sexual”, explica. Analisando o papel das mulheres e suas conquistas depois do sufrágio feminino, conseguimos enxergar muitas mudanças significativas, não apenas nos direitos a uma vida social fora de casa, mas mudanças nas sociedades e no universo masculino, como nos afirma Ângela Julita: “A inserção da mulher no mercado de trabalho, nas universidades, a liberdade sexual, a autonomia da mulher de ir e vir e as suas manifestações. Esse é o legado do movimento feminista que vai se realizar e se expressar de forma contraditória e diferente dependendo das regiões, países e culturas”. Para a socióloga, o movimento não foi homogêneo, mas trouxe avanços para a sociedade, principalmente por causa da maior participação da mulher. “Um respeito que vai além de dona de casa e ‘rainha do lar’. Vai ser agora no espaço público”, finaliza. Será a grande conquista do movimento feminista.
Saiba mais
As pioneiras do movimento Olympe de Gouges (1748-1793) Foi uma feminista, revolutionária, jornalista, escritora e autora de peças de teatro francês. Foi uma defensora da democracia e dos direitos das mulheres. Na sua Declaração dos direitos das mulheres e da cidadã de 1791, desafiou a conduta injusta da autoridade masculina e da relação homem-mulher . Devido aos escritos e atitudes pioneiras, foi guilhotinada na praça da Revolução, em Paris.
clarava que homens e mulheres eram criados iguais.
Mary Wollstonecraft (1759-1797) Foi uma escritora britânica e é considerada como pioneira do moderno feminismo com a publicação da obra “Uma Defesa dos Direitos da Mulher”, em 1790. No livro “Reflexões sobre Educação de Filhas” (1786), Mary analisou as restrições educacionais impostas às jovens, assim mantidas em um estado de “ignorância e dependência”. Mary via a educação como um caminho para as mulheres conquistarem um melhor “status” econômico, político e social.
Betty Friedan (1921-2006) Ela foi a precursora na luta pelos direitos das mulheres. Escritora de manifestos e livros que acabaram consagrados como “bíblias” feministas, Betty Friedan ousou e conseguiu mudar o papel a que estavam limitadas as mulheres. Fundou a Organização Nacional das Mulheres, em 1966.
Elizabeth Cady Staton (1815-1902)Representou papel essencial numa das primeiras conquistas femininas dos Estados Unidos, o direito à propriedade. Foi ela quem organizou a lendária Convenção pelos Direitos das Mulheres em Nova York, em 1848, e redigiu a Declaração dos Sentimentos, baseada na Declaração de Independência americana, que de-
Simone de Beauvoir (1908-1986) A parisiense foi mais do que a companheira de Jean-Paul Sartre. Integrante do movimento que trouxe aos livros os temas do existencialismo, ficou conhecida por ter escrito “O Segundo Sexo”, de 1949, sua obra mais famosa, que a tornou ícone do movimento feminista nas décadas de 1960 e 1970.
Luce Irigaray (1932) É uma filósofa e feminista belga. Destaca-se no estudo do feminismo francês contemporâneo. Depois de escrever como tese de doutorado “Espelho da Outra Mulher”, Luce foi demitida da Universidade de Vincennes, devido às idéias que professava acerca das diferenças sexuais e de sua crença na existência de uma diferente subjetividade feminina. Fontes: Revista Grandes Líderes da História; revista Filosofia; revista Cult; revista Aventuras na História.
SOBPRESSÃO
4
MAIO/ JUNHO DE 2010
E o vento trouxe... O kitesurf é o principal responsável, hoje, pela ida de estrangeiros a Paracuru. Essa realidade divide opiniões entre os moradores da cidade Raone Saraiva
O francês Michel Gerard descobriu a praia de Paracuru quando fazia uma viagem pelo litoral do Nordeste brasileiro, em 1987. Na época, com 30 anos, decidiu morar naquela cidade pacata, com casa de frente para o mar. A receptividade do povo e as belezas naturais foram as principais razões de sua permanência no lugar que, até então, era desconhecido no exterior. Com todo esse tempo morando na cidade, Michel viu muita coisa mudar, inclusive o crescimento da economia, em função da presença estrangeira e da exploração do petróleo na região. Mas foi nos últimos seis anos, como afirma Davi Nunes, secretário do Turismo, Cultura e Meio Ambiente do município, que Paracuru passou a ser visitada por vários estrangeiros, uma média de 2 mil por ano. Alguns já fizeram do lugar uma morada. Entretanto, não são as belezas naturais e nem a receptividade dos nativos o principal fator da presença estrangeira em Paracuru. Os ventos das praias, favoráveis à prática do kitesurf e outros esportes náuticos, são responsáveis por trazer esses turistas que lotam o município
de agosto a janeiro. Hotéis e restaurantes foram criados para atender essa demanda. O francês Michel, que também possui um restaurante e uma pousada no local, afirma: “O kitesurf é o motor econômico da cidade e, sem ele, Paracuru seria uma cidade falida”. Davi Nunes reconhece a importância do esporte para a economia da cidade, mas explica que o kitesurf não é o fator principal e que o município se mantém com outras atividades como, por exemplo, a pesca e a agropecuária. “Paracuru é também um lugar de grandes eventos e já existe como município há quase 60 anos. O kitesurf, como fator econômico, existe há pouco tempo. Por isso, a cidade sobreviveria sem ele”, afirma. Dados da Secretaria do Turismo de Paracuru revelam que dos quase 50 estrangeiros que moram na cidade, cerca de 30 deles são donos de algum tipo de estabelecimento. “Esse número representa algo em torno de 35% dos proprietários”, afirma Davi Nunes. Os estabelecimentos foram criados, principalmente, para atender à demanda de estrangeiros praticantes de kitesurf. Fabíola Lima, recepcionista do hotel de um polonês, afirma que os empreendimentos estrangeiros em Paracuru são importantes porque geram empregos. Mas esses trabalhos, de acordo com ela, são voltados apenas para pessoas capacitadas para atuar na área de hotelaria. Por
conta disso, a Secretaria do Turismo da cidade promove, em parceria com órgãos como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), cursos de línguas estrangeiras e empreendedorismo para os nativos de Paracuru. A respeito de conviver com pessoas que falam diferentes idiomas, Fabíola ressalta: “Pela vivência eu entendo algumas coisas, a gente tem que se acostumar com a cultura deles e eles com a nossa”. Divergências “Uma cidade pequena, simples, familiar, pouco explorada pelo turista”. Essa frase é do suíço Roland Zgraggen, morador de Paracuru desde 2004. Ele soube da existência do lugar por meio de um amigo que visitou a cidade. A boa fama dos ventos logo fez Roland arrumar as malas, em busca do lugar ideal para praticar o kitesurf. Roland ainda pensa em voltar à Suíça, mas pretende ficar por mais um tempo na “cidade mundial do kitesurf”, como é definida por ele. “É a cidade do kitesurf porque tem um período com vento superior a seis meses, sem fatores ou variáveis que possam causar riscos para os kitesurfistas”, ressalta. Para ele, a adaptação foi fácil, pois já falava espanhol e a convivência com a esposa, nativa de Paracuru, o ajudou a aprender a lín-
gua portuguesa. Atualmente, ele é proprietário de um dos hotéis da cidade que começou como uma casa para hospedar amigos, também adeptos do esporte. O hotel, na alta estação, fica lotado de hóspedes estrangeiros. Apesar de reconhecer as vantagens do lugar, ele faz ressalvas. “Paracuru pode ser boa quando se procura apenas a oportunidade de praticar o esporte, mas quando se procura diversão não existem muitas opções”. Os bons ventos estão fazendo Paracuru ser divulgada no exterior. A publicidade que se faz da cidade fora do Brasil é muito consistente, segundo Davi Nunes. Isso tem favorecido não só a presença, mas a habitação estrangeira na cidade, algo questionado por alguns nativos. “Os estrangeiros acabam tirando a privacidade e a liberdade do povo local, influenciando na mudança cultural da população”, declara a empresária Francilda Barroso. Por mais que existam divergências entre estrangeiros e nativos que vivem em Paracuru, a cidade já está conhecida internacionalmente como um dos melhores lugares do mundo para a prática do kitesurf.
SOBPRESSÃO
5
MAIO / JUNHO DE 2010
Artesãs sobrevivem ao tempo Além de jangadas e pescadores, a imagem do Ceará sempre esteve ligada à figura da mulher rendeira. O labirinto e a renda de bilros ou de almofada são exemplos de arte popular trazidos pela colonização portuguesa. As rendeiras cearenses eram encontradas facilmente em várias regiões do estado, e mais ainda nas comunidades litorâneas. A renda estava para as mulheres, assim como a pesca estava para os homens. Foi dessa forma durante muitos anos. Nos últimos tempos, no entanto, essas artesãs vêm desaparecendo. Muitos atribuem a mudança ao surgimento de alternativas de trabalho geradas principalmente pelo turismo, aquecido com a vinda de estrangeiros, na maioria europeus, que decidiram se estabelecer nessas localidades. Tudo isso, somado à falta de apoio do poder público, faz com que a herança cultural dependa exclusivamente da transmissão de mães para filhas, que agora preferem outras atividades. Paracuru é um dos municípios que enfrenta essa realidade. A coordenadora dos grupos de artesãos ligados aos projetos sociais da Secretaria do Desenvolvimento Social, Vanda Alcântara, comenta aspectos dessa nova comunidade: “O nosso fluxo de turismo é muito voltado para a prática do esporte, como o kitesurf”. Ela afirma, contudo, que o município procura incentivar a arte popular como forma de atrair outro tipo de visitante: “Fazemos um trabalho junto à
Maria complementa o salário familiar com a renda de bilros.
Secretaria do Turismo para a apresentação de nossos atrativos em feiras que ocorrem no Brasil. Esperamos com isto diversificar e fidelizar o turismo em nossa costa, e assim escoar a nossa produção de artesanato”. Ao ser indagada sobre o número de rendeiras nos projetos sociais da Prefeitura, Vanda faz um alerta quanto ao futuro da atividade: “Aqui não existem mais rendeiras, as antigas, que são uma ou duas, não têm mais condição de trabalho e as jovens não têm interesse em aprender”. Quanto à propalada influência dos estrangeiros como fator desencadeador do desinteresse da população, a coordenadora foi enfática:
Artigo
FoTo: celMa PraTa
“Não creio que a vinda de estrangeiros tenha influenciado nesse campo”. Ela atribui a atual falta de interesse à ausência de apoio das administrações públicas anteriores, além dos benefícios trazidos pelo “Bolsa Família”. O programa do governo federal, que deveria ser um incentivo para as famílias lutarem por um futuro melhor para crianças e jovens, tem sido, segundo ela, “infelizmente, motivo para a acomodação dessas pessoas, pois a arte popular só traz retorno a longo prazo”. As poucas rendeiras de Paracuru que ainda insistem em preservar essa arte têm histórias semelhantes quanto à origem do seu aprendizado.
Jeovah Meireles
Mercantilização do litoral e danos socioambientais
Condições climáticas de Paracuru favorecem a manobras dos kitesurfistas FoTos: roland ZGraGGen (arQuiVo Pessoal)
A planície costeira cearense é constituída por sistemas ambientais – manguezais, dunas, falésias, lagoas, lagunas, deltas de maré, bancos de algas e praias - repletos de funções que amortecem as consequências previstas pelo aquecimento global. Atuam como suporte para a qualidade de vida e segurança alimentar das comunidades tradicionais e indígenas. Componentes da natureza que figuram entre os mais produtivos da Terra. Suas características resguardam a diversidade de espécies, paisagens e formas ancestrais de uso sustentável. Entretanto, estão em acelerado processo de ocupação e profundamente transformados, fragmentados ou extintos - desmatamento do manguezal, impermeabilização das dunas, contaminação das lagoas e ocupação das praias e falésias -, por meio da carcinicultura (criação de camarão), resorts, campos de golfe e, num futuro próximo, indústrias movidas a carvão mineral. Por originarem as reações ambientais que sustentam a biodiversidade, conservar suas funções é fundamental para enfrentar o incremento dos extremos climáticos e a erosão costeira previstos pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). As políticas de incentivos à privatização e a
especulação imobiliária (extremamente atrativas para corporações financeiras internacionais) desta diversidade de ecossistemas estão transformando o litoral em objeto de consumo. O rastro de destruição – erosão das praias, artificialização e fragmentação das paisagens, perda da produtividade marinha, contaminação da água, solo e ar, salinização do lençol freático, riscos à segurança alimentar - é acompanhado pelo aumento da pobreza e migração das comunidades tradicionais e indígenas para os grandes centros urbanos. O que está ocorrendo na zona costeira do Ceará é prenúncio de uma catástrofe anunciada. Alternativas locacionais e aplicação dos princípios da prevenção e da equidade socioambiental representam as ações efetivas para a sustentabilidade. Os sistemas ambientais, que promovem o bem-estar das populações humanas, não podem mais ser degradados ou perdidos irreparavelmente por atividades insustentáveis, promotoras da concentração de riquezas e potencializadoras dos efeitos negativos do aquecimento climático global. Prof. Dr. do Depto. de Geografia da UFC Programa de Pós-graduação em Geografia/UFC
Edinilza Silva, 48, e Maria Carneiro, 50, foram iniciadas no ofício ainda crianças. Uma no labirinto, a outra na renda de bilros. “Aprendi com a minha mãe, aos 10 anos de idade”, conta Edinilza com orgulho. “Minha mãe pagou a uma senhora para que me ensinasse”, recorda Maria. Edinilza ensinou para uma das filhas, a outra não se interessou. “As jovens de hoje não querem mais fazer labirinto”, constata. Das quatro filhas de Maria, nenhuma seguiu o ofício da mãe. A arte de fazer renda sobrevive da persistência de pessoas como Edinilza e Maria. Elas não acreditam que a influência estrangeira seja a responsável pelas mudanças na cultura local: “O interesse das jovens depende muito de como foram criadas em casa”, afirma Maria. Ambas confessam que, apesar das dificuldades em obter o retorno financeiro desejado, permanecem na profissão porque gostam do que fazem. (por Celma Prata)
Glossário Labirinto - utiliza uma grade de madeira que fixa o tecido para ser desfiado, seguindo o desenho criado pela artesã. Renda de bilros - usa uma almofada com recheio de palha de bananeira e bilros (caroços de macaúba), amarrados a fios que se entrelaçam e são presos com espinhos de mandacaru em um papelão, contendo o desenho.
Enquete
A favor ou contra? A ocupação estrangeira no litoral cearense vem alterando os hábitos e cultura locais. Em Paracuru, a população se divide entre contra e a favor. “Sou contra porque os estrangeiros, quando vêm para a cidade, não gastam dinheiro em todos os comércios e geram lucro para apenas uma parte da população.” Francisco Paes Comerciante
“Sou a favor porque traz bastante lucro e muitos benefícios para a cidade, através da implantação de empreendimentos que geram mais renda e melhoram a condição social do povo.” Aline Teixeira Vendedora
SOBPRESSÃO
6
MAIO/ JUNHO DE 2010
Dificuldades para cegos na web Descubra quais os maiores empecilhos do mundo virtual enfrentados pelos 148 mil deficientes visuais existentes nos País, segundo censo 2000 do IBGE Samuell Monteiro
Na Internet, é fácil encontrar sites funcionais e com belos designs para quem pode enxergar, mas que não adequam essa mesma funcionalidade aos deficientes visuais, causando assim a exclusão virtual destes. Os deficientes visuais acessam à Internet com programas chamados “Ledores de Tela” ou screanreaders. O deficiente visual e ex-presidente da Associação de Cegos do Estado do Ceará (ACEC), Josué Felício Oliveira, cita que existem programas que facilitam seu acesso à Internet, mas que não conseguem resolver todos os problemas. “Têm softwares que ajudam na nossa leitura, o Dosvox é um deles, mas ainda encontramos dificuldades em sites que possuem gráficos ou fotos sem legendas”. Por meio destes softwares, o deficiente escuta o que o programa lê e, pelo teclado, pode subir e descer pela página, acessar links, pular partes do conteúdo etc. De acordo com a World Wide Web Consortium (W3C), associação internacional de companhias cuja meta é esta-
Internet é um dos meios que possibilita ao deficiente visual o acesso à informação Foto: Fabiane de Paula
“Ledores” de tela DosVOX Software de leitura de tela desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O software tem o intuito de auxiliar pessoas com deficiências visuais a operar de forma independente um computador. O programa realiza a comunicação com o deficiente visual pela síntese de voz em Português.
Jaws É o leitor de tela mais popular do mundo. Produzido pela norte-americana Freedom Scientific, possui um software de sintetizador de voz que utiliza a própria placa de som do computador. O Jaws roda em diversos idiomas, inclusive em português. O programa tem a capacidade de ler certos recursos de páginas de Internet que outros programas do gênero não têm.
belecer normas para a Web, alguns desses padrões são: todo o conteúdo do site deve estar escrito claramente e ser de fácil leitura. Os links, por exemplo, precisam fazer sentido para o
contexto, além disso deve ser permitido ao usuário pular elementos repetitivos na página - isso é fornecido por meio de links como “Voltar”, “Anterior”, ou “Seguinte”. Aliado a
tudo isso, o site deve fornecer textos alternativos a imagens. O deficiente visual Josué Henrique Ferreira cita um problema comum enfrentado por ele: “Navegar em sites com conteúdos mal distribuídos na página me deixa bem confuso. Ainda há alguns que fornecem legendas que não correspondem com as fotos. A grande maioria dos sites não adotam os padrões internacionais”, conclui Josué. Apesar das dificuldades, Paulo Sérgio de Souza, deficiente visual, já navega na Internet há dois anos e ocupa, em média, duas horas por dia no computador. “Sem dúvidas, a Internet é uma excelente ferramenta para as pessoas portadoras de alguma incapacidade física”, afirma. Antes dessa ferramenta, como pessoas cegas poderiam ler revistas e jornais impressos? Nem todos tinham e ainda não têm acesso as impressões em braile. Atualmente, a maioria desses meios disponibiliza seus conteúdos em sites, em formato PDF (Portable Document Format) que pode ser lido por programas específicos como os já mencionados Dosvox e Jaws. O atual presidente da ACEC, Antônio Mota Teixeira, sobre as possibilidades que a Internet oferece, cita que é imprescindível dominar essa ferramenta. “A partir do momento que temos todo esse aparato, nós não nos tornamos mais deficientes com tantas dificuldades”.
ONG estimula esporte e leitura Por meio de uma proposta inovadora, o Projeto Revarte tenta educar crianças em Fortaleza e mostrar a importância das artes e da prática de esportes Thereza Cristina
Ajudar as pessoas e não ganhar nada material em troca. Parece uma ideia rara, mas para muitos é uma missão. Em Fortaleza, há mais de 280 instituições ou ONGs que ajudam a população. No Conjunto Alvorada, existe um projeto que beneficia crianças e adolescentes através do esporte e das artes: a Resgate dos Valores pela Arte - Revarte. A leitura, o maior pilar do projeto, é estimulada graças à Biblioteca Monteiro Lobato, com 8 mil publicações. Com atividades como a contação de história, o projeto atende, em média, 100 crianças por dia. Apenas com a frequência na biblioteca, os jovens poderão se inscrever em alguma oficina da Revarte. “Todas as crianças têm que alugar um livro por semana da nossa biblioteca, caso isso não
O livro é passe para as crianças participarem das oficinas da Revarte Foto: Fabiane de Paula
ocorra, ela não poderá participar das oficinas. Acho que é esse é o nosso maior diferencial, o incentivo à leitura”, conta Lúcia Martins, uma das organizadoras do projeto. Atualmente, a Revarte atende cerca 1.700 crianças e oferece aulas de flauta, teatro, crochê, bordado, violão , literatura e judô. Os alunos das oficinas se esforçam bastante durante as aulas, principalmente em relação ao judô. É comum a Revarte mandar alunos dessa modali-
dade marcial para campeonatos nacionais e internacionais. “Nós só conseguimos mandar algumas crianças para os campeonatos graças ao ‘Sua nota vale dinheiro’ (programa da Secretaria da Fazenda de troca de cupons fiscais por bônus para a entidade), pois nós não temos nenhum tipo de patrocínio”, desabafa Lúcia Martins. História Alice Domenech, conhecida por todos como Dona Alice, foi
quem idealizou a Revarte. Mãe de sete filhos, trabalhou durante toda a vida como professora. Depois de aposentada, sentiu a necessidade de trabalhar com as crianças e beneficiar as mais carentes. Em 1992, começou seu trabalho na favela do Alecrim. Dois anos mais tarde, conheceu Lúcia Martins e juntas montaram a Revarte. “Nós nos conhecemos num açougue e puxamos assunto. Toda a idealização do projeto é da Dona Alice”, conta Lúcia. Existe um fato muito curioso em relação ao trabalho de Dona Alice: uma matéria foi realizada sobre ela e saiu em um jornal holandês. Um projeto da Holanda, chamado Brasil Live , ajudou a Revarte doando cerca de 2.000 euros. Com esse dinheiro, Dona Alice comprou o tatami para as aulas de Judô, ventilador para as salas e os kimonos para as crianças. No entanto, ninguém soube traduzir o conteúdo do jornal. Hoje, a Revarte sobrevive com menos de 3.000 reais por mês para atender as 1.700 crianças. Poucas empresas ajudam na alimentação das crianças.
Saiba mais...
Apoio sem distinção A Associação de Cegos do Estado do Ceará (ACEC) oferece auxílio para aqueles que perderam a visão. A ACEC dispõe de cursos profissionalizantes, como massoterapia, radiologia. Há ainda cursos de informática, com uma sala equipada para esse fim. Também já realizaram um projeto de webativismo, quando foram apresentados os benefícios da Internet para ações ativistas, como aponta a coordenadora Elinalva Oliveira. Embora o público-alvo seja de adolescentes e adultos, as crianças também são atendidas: há diversas literaturas infantis em braile. Sobre a associação, o atual presidente Antônio Mota Teixeira destaca: “Aqui nós oferecemos todo apoio ao deficiente visual. Temos uma profissional que dá um curso de estimulação para aquele que perdeu a visão há pouco tempo começar a se preparar novamente para a vida”. A ACEC existe desde 1985, possui mais de duzentos sócios e todos têm o direito de votar e ser votado nas eleições que ocorrem a cada quatro anos. A Associação de Cegos do Estado do Ceará é mantida por meio de projetos da Prefeitura e do Estado.
Serviço Associação de Cegos do Estado do Ceará (ACEC) Rua Odilon Soares, 39, Otávio Bonfim. Fone: (85) 3281-6182
Entrevista
Superação de obstáculos Érika Helen, 14 anos, está na seleção brasileira de judô e irá participar do campeonato Sul Americano na Argentina. Sobpressão – Em relação ao judô, qual foi o momento mais especial? Érika Helen – No início do ano, o João Derly veio até aqui (bicampeão mundial de judô), e nos deu várias dicas sobre judô. Tirei fotos e ganhei uma blusa com o autógrafo dele. Sobpressão – Como está sua preparação para Argentina? Érika Helen – Vou ter que treinar bastante para a competição. Não sei como vai estar o clima, mas me falaram que vai estar bastante frio. Eu nunca vi neve, vai ser bem legal. Mas não posso me desfocar dos treinos.
SOBPRESSÃO
7
MAIO / JUNHO DE 2010
Fortaleza: uma cidade inacessível Portadores de deficiência motora reivindicam o cumprimento de seus direitos de acessibilidade na capital cearense e buscam melhorias na qualidade de vida Edilene Castelo Branco
No Centro da capital, o registro de um cadeirante que transita pelo asfalto por não poder seguir pela calçada Foto: Fabiane de Paula
são unânimes em reclamações, é a falta de conservação das vias e calçadas da nossa cidade, que não possuem rampas de acesso, são estreitas, com árvores e desniveladas. Existem vários lugares em Fortaleza que ainda não atentaram para os usuários de cadeiras de rodas como clientes em potencial, como bares, restaurantes, casas de shows, cinemas, teatros. Os deficientes entrevistados para essa reportagem apontaram que a maioria desses ambientes não possuem rampas de acesso, elevadores apropriados, banheiros adaptados, portas largas, acentos específicos, balcão baixo, mesas na altura correta, corredores largos, entre outros. Henrique Samuel Gurgel,
Vice-Presidente da Associação dos Deficientes Motores do Ceará (ADM-CE) e Supervisor Paraolímpico da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Fortaleza, também critica a falta de condições da cidade. Segundo ele, que sofreu uma tentativa de assalto no qual levou dois tiros e ficou paraplégico, existem poucas rampas funcionais. A maioria não atende à necessidade de uso dos cadeirantes, sendo íngremes, dificultando assim o acesso. Outro problema citado por ele é a falta de ônibus adaptados, que ainda são poucos e não atendem a todas as linhas da capital. Para completar, aqueles com o equipamento estão com o elevador quebrado ou o motorista não sabe operar.
Um novo conceito de tratamento A fisioterapeuta com formação em pilates, Rinna Rocha, afirma que o método pilates traz um conjunto de exercícios controlados e fluidos que atuam no aumento da flexibilidade, melhoria da estabilidade pélvica e lombar, aumenta o autoconhecimento, diminui o estresse, melhora a força muscular e estimula a circulação. A fisioterapeuta Isabel Neves destaca a importância da fisioterapia no fortalecimento muscular, na coordenação motora, no equilíbrio e na conscientização corporal dos portadores de tetraplegia e paraplegia. A Terapia Ocupacional também tem importância no processo de recuperação, como defende a terapeuta ocupacional Rosana Campos. Ela aponta que essa área da saúde busca maximizar a funcionalidade e a independência do indivíduo nas atividades da vida diária, como atividades de autocuidado (higiene, vestuário e cuidados pessoais),
locomoção (deslocamento), social e de lazer, utilizando a tecnologia assistiva (órtese, adaptações) e mobiliários de acordo com a necessidade de cada um, como nos exemplos no quadro ao lado. Equipamentos Para quem tem condições de pagar mais, o mercado tecnológico disponibiliza cadeiras de rodas motorizadas com design moderno. Uma cadeira que é destaque no mercado deixa pessoas tetraplégicas ou paraplégicas em pé. Ela, que chega a custar R$ 13mil, é acionada de forma vagarosa saindo da posição sentada para bípede. Existem as scooters que custam R$ 5 mil. São um tipo de triciclo movido a bateria com cesto na parte dianteira e são utilizados principalmente em supermercados. A comodidade não foi pensada apenas na hora de se locomover. Preocupado em oferecer conforto em todos os momentos, o mercado
disponibiliza camas motorizadas com alturas e posições comandadas por controle remoto (preço médio de R$ 6 mil).
Projetos Segundo a assessoria de comunicação da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), a cidade conta com 380 ônibus, 31 vans e 40 táxis adaptados para atender a deficientes motores. A assessoria da Etufor informou ainda que coloca ônibus com elevadores conforme solicitação da comunidade, que pode ser feita através de telefone, ofício ou e-mail à ouvidoria da empresa. Segundo o órgão, até 2014 todos os ônibus estarão adaptados com elevadores. O táxi adaptado passa pela vistoria da Etufor para verificar se obedece a todos os padrões de segurança. Todo o investimento para a adaptação do táxi é paga pelo taxista que viu
Saiba mais...
Adaptações ajudam a vida diária do tetraplégico Fotos: Edilene Castelo Branco
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou no último censo de 2000 que o Brasil possui 14,5% da população com algum tipo de deficiência, ou seja, são 24,5 milhões de brasileiros. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no planeta essa estatística seria de 10% da população mundial, aproximadamente 600 milhões de pessoas. Os portadores de deficiência motora, como os paraplégicos e os tetraplégicos que utilizam a cadeira de rodas para deslocamento, encontram maior dificuldade de acesso a determinados ambientes sociais, profissionais, sejam públicos ou privados. Isso porque a nossa cidade não tem estrutura para oferecer um deslocamento satisfatório ou pelo menos desejável aos nossos cadeirantes. Igor de Arruda Machado, 27 anos, engenheiro civil, caiu de um trio elétrico e ficou tetraplégico. Ele lembra que a palavra “acessibilidade” está na moda, mas na prática não existe. Critica as poucas vagas de estacionamento para deficientes e a estrutura da cidade, que deixa muito a desejar aos cadeirantes. Um grande desafio para a locomoção dos cadeirantes, que
nesse público a chance de prestar um serviço diferenciado e de qualidade. O taxista Eliseu Silveira do Nascimento afirma que investiu cerca de R$ 28 mil na adaptação do veículo e que fez um treinamento na Etufor para aprender a como transportar e tratar portadores de deficiência motora. Segundo João Monteiro, Coordenador do Laboratório de Inclusão da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Governo do Estado do Ceará, existe um Projeto de Geração de Emprego e Renda para Tetraplégicos e Paraplégicos, sendo que o maior problema para viabilizar a inserção no mercado de trabalho dessas pessoas é a falta de condição no acesso de casa para o trabalho. Ele afirma: “O ônibus adaptado não resolve o problema dos portadores de tetraplegias e paraplegias, pois o deslocamento dos cadeirantes até a parada dos ônibus é inviável por conta das calçadas e vias desniveladas”. E vai além ao sugerir uma nova alternativa de transporte público exclusivo para cadeirantes subsidiado pela Prefeitura ou pelo Governo do Estado, que pegaria o paraplégico ou tetraplégico na porta de casa e o deixaria em frente ao seu local de destino (estudo ou trabalho). Os deficientes que se deslocam com seus veículos particulares podem desfrutar de algumas vagas exclusivas, apesar de que muitas vezes essas vagas são utilizadas indevidamente, pois falta principalmente educação, bom senso e respeito aos direitos do próximo.
Glossário Tetraplegia é uma lesão medular alta, que compromete os membros inferiores e superiores e a musculatura do tronco. Causa perda de movimento e perda da sensibilidade. Outro problema enfrentado é a incontinência urinária ou retenção de urina e fezes. Paraplegia é a perda de movimentos dos membros inferiores, que pode acompanhar a perda da sensibilidade e incontinência urinária. As lesões que resultam em paraplegia situam-se ao nível da coluna dorsal ou lombar. As maiores causas de paraplegia e tetraplegia são os traumatismos (acidente de trânsito, armas de fogo e mergulhos em águas rasas).
Copo Copo com alça e curvatura para facilitar o manuseio.
Computador Colméia em acrilico para facilitar a digitação.
Prato e talheres A adaptação no prato possibilita a retenção do alimento. Cabos dos talheres alargados para uma melhor empunhadura.
Cadeira de rodas Pinos de impulsão adaptados para facilitar o manuseio da cadeira para tetraplégicos.
SOBPRESSÃO
8
MAIO/ JUNHO DE 2010
Entrevista
O corpo em foco no teatro cearense
Equilíbrio, força e concentração foram elementos trabalhados e desenvolvidos nos palcos do espetáculo “Mulieres”
Imagine um espetáculo em que atores quase não utilizam o diálogo tradicional e se comunicam com o corpo. Fazer o público entender isso é o desafio do teatro físico Allan Diniz e Mariana Penaforte
Antes de trabalhar principalmente com expressões corporais em seus espetáculos, o diretor Tomaz Aquino imaginava o mesmo que a maioria das pessoas ao ouvir a palavra mímica: um homem de camisa listrada, com o rosto e as mãos brancas criando ilusões no ar. A mímica de Marcel Marceau, o francês que imortalizou essa imagem que descrevemos, não é mais a única que existe. O teatro físico é assim denominado para se diferenciar da relação direta que se fazia com a imagem de mímica tradicional popularizada por Marceau. O teatro convencional, ou naturalista, utiliza o corpo em junção com a fala e também tem expressões corporais, como a dança, o circo, ou o canto. A diferença, para Aquino, é que no teatro físico “a luz, o cenário e o figurino devem estar à disposição do ator, todas essas coisas entram para somar e não para aparecer mais que ele”, indica. Essa vertente do teatro deve ter como foco principal o corpo e o ator, ele é “a grande vedete”. As primeiras experimenta-
Serviço Oficina de mímica Ministada por tomaz Aquino (Grupo MIMO). Em agosto, no Teatro José de Alencar. Informações: (85)3101 2567
Ficha Técnica Argumento e Direção :Tomaz de Aquino Elenco: Ana Bárbara Leite, Bruno Lobo, Felipe Abreu, Jonathan Pessoa, Rafaela Diógenes, Marisa Carvajo Direção Musical: Simon Sousa Coreografia: Andréa Pires Figurino: Gil Braga Iluminação: Walter Façanha Realização: Teatro Mimo
ções da “dramaturgia do corpo” foram feitas na Inglaterra. Esse estilo específico, no Brasil, começou a aparecer no início dos anos 90, sendo em 1994 realizado o primeiro Festival de Teatro Físico no Brasil, organizado pela Cultura Inglesa de São Paulo. Em Fortaleza, o estilo é ainda pouco conhecido mas aos poucos vem ganhando a atenção e despertando interesse de professores, grupos e amantes do teatro na capital cearense. “O trabalho do corpo físico está sendo investigado no teatro, como em outras modalidades das artes cênicas daqui do Ceará. Estamos vivendo um momento muito positivo para o ator”, argumenta Paulo Ess,
O criador do teatro radical, Ricardo Guilherme, que também é dramaturgo, ator e professor, fala sobre a situação atual do teatro cearense.
FoTo: liMa FilHo (diVulGação)
ator e professor de teatro. Nessa vertente contemporânea, a atividade de resistência física e mental dos atores é extremamente importante para uma boa performance, já que o corpo está sempre em destaque e o diálogo nem tanto. O diretor acredita que “para falar é preciso silenciar, porque suprimindo a fala convencional você é obrigado a treinar o corpo para que ele possa estar em situação de troca e assim se comunicar”. Mulieres Para ir além da teoria, o Sobpressão acompanhou uma apresentação do espetáculo “Mulieres”, do grupo MIMO, fundado em 2008 e dirigido
Inspiração oriental e horas de ensaio para treinar os atores
Propostas do teatro no Estado do Ceará
FoTo: liMa FilHo (diVulGação)
por Tomaz Aquino (veja quadro com impressões do público sobre o espetáculo). A peça conta a história de mulheres fortes. São amazonas dentro de uma tribo, que vão tentando passar para o público seus rituais ao longo de várias fases como infância e juventude. Fica claro para a plateia momentos como o nascimento de crianças e a morte de uma das personagens, mesmo sem nenhuma fala. A força e a delicadeza no corpo dos atores é muito evidenciada em cena. Uma das atrizes do espetáculo, Rafaela Diógenes, diz que “é interessante perceber como o diálogo verbal em alguns casos é desnecessário. As coisas podem ser ditas da forma como queremos dizê-las sem palavras”. Para ela, o processo de criação da peça também foi emocional e de amadurecimento, e confessa que às vezes ficava fisicamente exausta após os ensaios. Apesar de árduo, a atriz se diz “apaixonada pelo processo”. Sobre esse desafio, o ator e mímico francês Etienne Decroux certa vez disse: “Se alguém pedisse a um ator que lhe mostrasse a alegria, este logo abriria os braços e alargaria o sorriso. Mas, se amarrassem seus braços, e colocassem um pano em seu rosto, ele iria precisar de anos de estudo para conseguir mostrar essa alegria”. Esse é a provocação do teatro físico.
Enquete
O que você achou do espetáculo? Durante o espetáculo, vamos assimilando aos poucos a ideia que eles tentam passar. Inicialmente achei a linguagem confusa. Em alguns momentos, eles utilizam falas e percebi isso como uma forma de aproximação com o público. Esse tipo de espetáculo causa reações bem diferentes em quem não está acostumado a ver este tipo de linguagem. João Paulo, 29 anos Bibliotecário
Esse tipo de peça ainda é pouco vista. Me surpreendi, porque normalmente tratamos o teatro com interpretação, falas e muitas cenas. Esse tem muitas cenas, poucas falas, mas muita informação. É a segunda vez que eu vejo o espetáculo. Identifiquei situações de romance, de iniciação do crescimento. Senti uma aproximação com o que vivemos hoje.
Não li antes sobre a obra e esperei por uma surpresa. Gostei de como eles contam uma história simples, mas com uma estética diferente. O começo da história parecia confuso. Eu acho que utilizaram essa linguagem para prestarmos mais atenção na estética e no movimento do corpo. O final foi o que mais me chamou atenção.
Camila Amaral, 20 anos Estudante de Educação Física
Gabriel Ruic, 40 anos Professor de língua estrangeira
Sobpressão - Como você vê o teatro físico hoje em Fortaleza? Ricardo - O Teatro, em Fortaleza, chega ao século XXI com núcleos de criação que por suas específicas linhas de trabalho vêm consolidando identidades temáticas, estéticas e metodológicas. São diversas e diversificadas as propostas. Sobpressão - O que você acha da formação teatral no Brasil? Ricardo - A universidade brasileira, por seus rígidos enquadramentos, não tem correspondido à complexidade do ensino das artes e sobretudo do teatro. O meio universitário só fomenta alguns processos de criação relevantes quando consegue driblar essas amarras acadêmicas. Sobpressão - Para você, o que precisa ser mudado? Ricardo - Precisam ser criados, no âmbito universitário, espaços geridos como centros de excelência, com uma maior liberdade de articulação entre equipes transdisciplinares. Apenas o repasse de técnicas, sem dialogar com outros pesquisadores das ciências humanas, a pedagogia do teatro na Universidade vai ser sempre deficitária e aquém dos processos criativos. Sobpressão - Nos últimos anos, quais são as novidades nos estudos e nessas propostas de teatro no Ceará? Ricardo - A recriação cênica da plasticidade dos gibis, por Yuri Yamamoto; a molecagem baseada na sátira, de Carri Costa; as pesquisas de Oswald Barroso, Fran Teixeira e Francinice Campos; as manifestações teatrais de rua, com a Cia. Pã, de Karlo Kardozo; a interação boneco/ator dos Grupos Formosura; a literatura dramatizada de Herê Aquino, Nazaré Fontenele, Jadeilson Feitosa, Ceronha Pontes e Lucas Sancho; a dança/teatro, de Sílvia Moura, Valéria Pinheiro e Andréa Bardawil; e o meu Teatro Radical que teatraliza a dialética da cena.
Ricardo Guilherme