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o açã ulg

: Div Foto

O bulliyng é presenciado além dos muros da escola. A internet se tornou um meio onde tal prática, conhecida como ciberbullying, é difundida. A mídia eletrônica também apresenta casos de assédio moral em certos programas e amplia a discussão entre os especialistas. Sobpressão Páginas 10 e 11

SOBPRESSÃO ANo 8

N° 24

É proibido fumar!

O Ceará está fechando o cerco em torno dos fumantes. Assim como em outros estados, uma lei aprovada na Assembléia Lagislativa cearense visa restringir o consumo do tabaco em ambientes coletivos. Bares e restaurantes estão tendo que se adequar à nova lei criando espaços destinados especialmente aos fumantes. Eleições 2010

Para as últimas eleições, novas regras foram implantadas pelo TRE buscando um equilíbrio e uma redução na poluição visual que invade as cidades brasileiras todos os anos neste período. Porém, o que foi visto na prática foi

um desrespeito à lei. Muitos candidatos burlaram regras e saíram impunes. Mas, até onde vai a f iscalização e a punição? Confira o que aconteceu nesta última eleição. Sobpressão Páginas 3

Conectividade

Hotspots proliferam-se em Fortaleza Cada vez mais, as pessoas têm a necessidade de estarem conectadas. Estabelecimentos privados e ambientes públicos oferecem o serviço de Internet sem f io gratuitamente aos seus frequentadores, o que ajuda a fazer um marketing do local e também é uma forma de gentileza. Em algumas cidades do In-

Mesmo com tanta restrição ao consumo e informação disponível em torno dos malefícios do fumo, ainda há quem cultive sem medo este velho e nocivo hábito. Nesta edição fomos saber a quantas anda o cumprimento da lei. Sobpressão Páginas 6 e 7

ABN

Novas leis e punição são suficientes?

terior, as Prefeituras instalaram torres que oferecem o sinal por toda a região. Conheça mais sobre o funcionamento das redes wi-f i e sobre os estabelecimentos que as oferecem, bem como sobre os locais onde podem ser encontradas. Sobpressão Páginas 8 e 9

Foto: haNNah moreira

Agosto / setembro de 2010

Promovendo a cultura de paz Com o aumento da veiculação de noticias violentas na mídia, um grupo de amigos resolveu descruzar os braços e partir para a ação. Mas, ao invés de agir da mesma forma, eles criaram uma organização não governamental na qual o foco principal é trabalhar qualquer tipo de noticia de uma maneira positiva, respeitando os critérios de noticiabilidade e contrapondose ao que é visto diariamente na imprensa. Sobpressão Páginas 4 e 5

Novo Estatuto

tranquilidade para o torcedor Com o objetivo de aumentar a segurança em torno dos estádios e promover a volta das famílias aos recintos esportivos, o Estatuto de Defesa do Torcedor foi modif icado. Saiba a opinião de torcedores e especialistas so-

bre as novidades relacionadas à legislação esportiva, que tem como um dos pontos principais a proibição da atividade do cambista e a inclusão de ouvidorias nos estádios. Sobpressão Página 12 Foto: iNterNet

JorNAL- LAborAtÓrIo Do CUrso De JorNALIsmo DA UNIVersIDADe De FortALeZA

O HOP Br é a nova modalidade das academias. A atividade utiliza botas que são capazes de amortecer até 80% do impacto dos saltos. Capacidade que nenhum tenis convencional possui. Conheça o equipamento e as curiosidades do treinamento recente no nosso Estado. Fôlego Página 1


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Nº 24 - Agosto / setembro DE 2010

Editorial

Artigo

Passado presente Gentileza e poesia parecem palavras que ficaram no passado. O homem gentil f icou no século XIX, derramando-se de amores em textos açucarados. Os valores defendidos naquela época são considerados ultrapassados, frutos de uma cultura que não é mais apreciada. Hoje, ninguém liga mais para a gentileza. Ser esperto e saber tirar o máximo proveito das situações, sem se importar se vai ou não atingir alguém, é o esperado de cada um. O problema não está apenas naqueles que burlam as regras e procuram obter vantagem em todas as situações. Está, também, na aceitação e apatia das pessoas diante dessa situação. Criou-se uma cultura de conivência com esse comportamento. Muitos deixam de brigar pelo que acreditam ser certo e se acomodam assistindo àqueles que se utilizam de todos os subterfúgios para levar vantagem. Esse comportamento está presente em todas as áreas de nossa vida. No trabalho, quando um colega passa por cima de outro para se promover; na política, com a corrupção; nos esportes e até nos programas de fins de semana.

Gabriela Ribeiro

Gentileza, assim, deixa de ser um termo que parece estar longe de nós. O que importa é procurar seguir uma atitude ética até nos pequenos atos, pois eles podem fazer toda a diferença. Aluna do 7º semestre de Jornalismo

Entretanto, nem todos os cidadãos se conformam com o mundo do jeito que está e tentam promover ações para mudá-lo. A gentileza - ou a falta dela - está presente em todos os campos da nossa vida. Não é algo que f icou no passado. O Sobpressão traz como macrotema a gentileza. Nas matérias, procura-se denunciar a falta dela em diversas situações cotidianas. Entretanto, o jornal traz, também, exemplos de gentileza. A mídia raramente mostra situações em que algo de

Renan de Andrade

Uma lei que pegou. Infelizmente...

bom acontece, exemplos de boa vontade da população. Pequenas atitudes, como o oferecimento de Internet sem fio, denotam a presença de gentileza na sociedade. O jornal também traz grandes exemplos, como a Agência da Boa Notícia (ABN), que procura mudar a forma com a qual o jornalismo trata seus assuntos, enfatizando o que há de bom em diversas situações. Nas matérias deste Sobpressão, também são tratadas as eleições, a forma com que a propaganda eleitoral desrespeita o eleitor. São mostradas atitudes, como o Estatuto do Torcedor e a lei antifumo, que partiram de autoridades legislativas, buscando mudar a cultura nos estádios e nos ambientes de convívio social. Gentileza, assim, deixa de ser um termo que parece estar longe de nós. Na verdade, o jornal mostra que ela está presente em todos os momentos da vida, privada e pública. O que importa é procurar seguir uma atitude ética até nos pequenos atos, pois eles podem fazer toda a diferença.

A Copa de 1970 deixou marcas naqueles que presenciaram a atuação magnífica da seleção canarinha tricampeã mundial. Um dos destaques daquele time, o meia armador Gérson, se consagrou pelas jogadas de efeito, marcadas geralmente pelos lançamentos que fazia para colocar a bola na cara do gol e surpreender os adversários. Após seis anos da consagração, uma propaganda para a marca de cigarros Vila Rica contou com a presença do craque, um gol de placa para a empresa contratante. Contudo, Gérson não esperava ser surpreendido pela marcação forte da crítica, que não recebeu de maneira amistosa a frase que ele proferiu no comercial: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!” Grande parte da imprensa e do público que viu a propaganda considerou Gérson um malandro e aproveitador, adjetivos que, dentro de campo, talvez não causassem tanto prejuízo à sua reputação. Porém, uma simples frase em um comercial fez um estrago na imagem do atleta, e o “Vila Rica Futebol Clube” perdeu o jogo, Gérson fez um gol contra e até quem torcia para esse time vaiou! Gérson ainda tentou corrigir o erro, vestiu novamente a camisa do time e fez um segundo comercial para empresa, uma espécie de retratação, mas parece que não surtiu muito efeito. A “Lei de Gérson” já estava na boca da galera! O jogador é conhecido, até hoje, por essa “pérola” da publicidade. O interessante é que, antes mesmo desse comercial, o nosso povo já era conhecido pelo “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas. Deixando de lado as caneladas, a capacidade de superação das adverversidades é o jeito como muitos personagens anônimos do cotidiano driblam as dificuldades e alcançam a vitória no jogo da vida. Quantas “Marias”e “Josés” usam diariamente a criatividade para vencer os desafios, exercendo atividades que exigem o talento de um gênio do futebol! Sem necessariamente ter que apelar para a baixaria. Da mesma forma que o “jeitinho brasileiro”, a Lei de Gérson pode ser adaptada ao gosto de cada um. No futebol, a malandragem é uma arte. Na vida também pode ser? O Brasil é o país da bola e do samba no pé... Porém, não dá para levar tudo ao “pé da letra”, certo?

Gabriela Ribeiro Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Estudante do 6º semestre de Jornalismo

Registro fotográfico

Artigo

Bruno Barbosa

A cordialidade do brasileiro

Onde está a gentileza? Nas pequenas coisas? No cotidiano? No detalhe? Nem sempre é algo explícito, direto e palpável. As vezes não a percebemos no primeiro olhar. É preciso ter um pouco mais de atenção, ultrapassar o instante e a obviedade, parar e sentir. Perceber o clima, as cores, a composição e a intenção. Deixar-se levar pela sensação, pelo prazer estético e pela intuição. Neste caso, um detalhe: umidificadores públicos, dispostos ao longo das vias para circulação de pedestres no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Uma gentileza! Foto: Otávio Nogueira

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2010.2) - Reportagem: Aline de Noroes, Amanda Alencar, Antonio Oanes, Bruno Barbosa, Deborah Milhome, Jader de Oliveira, João José Quixadá, Mhahyara Valente e Renan de Andrade - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Arte f inal: Aldeci Tomaz - Professor orientador: Eduardo Freire - Coordenação de Fotograf ia - Júlio Alcântara Revisão: Profª. Solange Maria Morais Teles - Conselho Editorial: Wagner Borges, Eduardo Freire, Alejandro

Sepúlveda - Supervisão gráf ica: Francisco Roberto - Impressão: Gráf ica Unifor - Tiragem: 750 exemplares - Equipe do Laboratório de Jornalismo (Labjor) - Estagiário de Fotograf ia: Otávio Nogueira - Estagiário de Produção Gráfi-ca: Bruno Araújo - Estagiários de Redação: Ariel Sudário, João Paulo de Freitas, Julie Scott, Raynna Benevides, Suiani Sales, Wolney Batista.

Sugestões, comentários e críticas: labjorunifor@gmail.com

O historiador Sérgio Buarque de Holanda, no livro “Raízes do Brasil”, diz que uma das principais características apresentada pelo povo brasileiro é a cordialidade. Admirada aos olhos estrangeiros, a contribuição que daremos ao mundo é o homem cordial. Se recorrermos à etimologia do vocábulo cordial, descobriremos que seu significado refere-se a cordis, que em português é traduzido por coração. O homem cordial é aquele que age movido pelos sentimentos, pelos instintos do coração, diferindo assim do homem polido, que adapta o uso de suas máscaras a determinadas situações. O brasileiro cordial é aquele que não suporta formalidades e vive em busca de dar um jeitinho. É aquele que adora levar vantagem em tudo; que prioriza o afetivo e parece desconhecer o que significa intimidade; que aceita ser amado, que se vangloria se é odiado, mas que não suporta ser esquecido. Como diz um antigo ditado vigente por aqui: “falem mal, mas falem de mim”. Este homem admirado e que deveria ter atitudes generosas, agir com bondade e praticar a caridade, precisaria primeiramente respeitar a legislação vigente. Prova disso, por exemplo, é a lei nacional 10.741/2003 que garante a reserva de dez por cento dos assentos em veículos de transporte coletivo para os idosos. Mas o que normalmente se vê são jovens e adultos ignorando o espaço destinado aos mais velhos. Poucos são os que cedem tais lugares. Algumas pessoas ainda acham que estão fazendo um favor ao senhor ou a senhora que apenas busca o cumprimento de seus direitos e esquecem que aquele lugar é garantido a eles. O trânsito é outra fonte de exemplos. O que se vê todos os dias pelas ruas da cidade são acidentes decorrentes do avanço de preferencial, avanço de sinal e desrespeito dos maiores (os carros) em relação aos menores (as bicicletas). Mas também o ciclista deve respeitar pedestre, assim como o motorista deve respeitar o ciclista e pedestre. E o pedestre deve atravessar na faixa, ou atravessar pela passarela, que são os lugares que lhe garantem segurança diante dos mais fortes (automóveis e bicicletas). Será que queremos realmente contribuir com as gerações futuras deixando um legado no qual o homem necessita de uma lei para por em prática atos simples como respeitar o próximo? Estudante do 6º semestre de Jornalismo


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Lei Ambiental Nova legislação x Lei Eleitoral tenta barrar velhas práticas eleitorais A gentileza parece ser encontrada no sorriso e na disponibilidade de cada eleitor ao falar de seu candidato preferido. Esse é o lado da multidão, da maioria. E quem está do outro lado? Será que os candidatos de Fortaleza carregam em seu discurso a cortesia da gentileza? Para responder a essa questão, entrevistamos o candidato ao governo do Estado do Ceará, Marcelo Silva, do Partido Verde (PV). Marcelo retrata que um dos princípios do PV é a solidariedade. O partido defende que a união entre as pessoas é o melhor caminho para o desenvolvimento social. “A gentileza faz parte desse processo”, afirma. Segundo ele, o PV, nesta eleição, não provocou nenhum tipo de poluição na cidade, nem sonora e nem visual. A campanha foi realizada com o mínimo de material gráf ico e sem nenhum carro de som. O candidato explica que essa postura adotada é em respeito e solidariedade aos eleitores e diz que seria incoerente caso adotassem uma postura contrária, uma vez que o Partido Verde combate a poluição. Essa é a defesa mais forte. Em relação às novas proibições contidas na legislação

Conforme a Lei nº 9.504/97, alterada pela Reforma Eleitoral – Lei nº 12. 034/09 e regulamentada pela Res. TSE nº 23. 191/09, veja o que é permitido ou não Aline Norões e Nathiane Capibaribe

O período de eleições chegou ao fim. Desde o último dia 06 de junho fomos bombardeados com diversas propagandas políticas, inúmeros candidatos e partidos. Junto a todo este espetáculo eleitoral, vimos também as movimentações nas ruas, com bandeiradas, panfletos, carreatas e af ins. Porém, nestas últimas eleições, alguns recursos já conhecidos pelos eleitores em eleições anteriores foram vetados. A partir deste ano, só foi permitido divulgar propagandas até uma metragem específ ica, que não pode ultrapassar 4 metros quadrados. Isso deixa de fora outdoors e busdoors. Porém, muros de residencias e comerciais ainda estariam liberados para divulgação de propagandas de candidatos a cargos políticos. Além da metragem, outdoors remetem a elevados custos e, em sua grande maioria, eram utilizados por partidos maiores e com melhores condições financeiras, havendo uma certa discriminação quanto aos partidos menores que não poderiam dispor dos mesmos recursos. É importante salientar que os meios de propagandas políticas devem ser, em princípio, justos e igualitários. Sendo assim, pinturas em muros, bandeiras, carreatas, panfletos e carros de som ainda estão permitidos, obedecendo sempre a suas especif icações. As pequenas, porém significativas, mudanças na lei da propaganda eleitoral buscaram trazer também benefícios à população, pois, embora os candidatos tenham buscado outros meios de propaganda, a cidade não está mais pintada por todos os lados com propagandas gigantes por onde se ande ou para onde se olhe. Outro fator relevante que foi expressamente proibido a partir de 2010 foram os populares “showmícios”, que f izeram grande sucesso nas eleições anteriores, sempre arrastando multidões com bandas famosas, patrocinadas por partidos

Marcelo Silva, candidato a governador pelo Partido Verde Foto: Arquivo pessoal

eleitoral, como showmícios e out-doors, Marcelo ratifica que a defesa do PV é pela campanha limpa. “Se dependesse da gente, seria proibido de vez qualquer artifício que gere poluição”. Marcelo diz que já houve um grande avanço com essas mudanças, mas a sujeirada que se faz nas cidades ainda precisa ser proibida. O candidato acredita que uma mudança radical só pode ocorrer com uma reforma política, na qual se determine o f inanciamento público de campanha e tratamento igual a todos os candidatos. Com isso, garantiríamos campanhas limpas e mais honestas com o cidadão.

Av. Washington Soares: ciclovia obstruída pela propaganda irregular Foto: Otávio Nogueira

Dr. Cleber de Castro Cruz

As punições vão desde pagamento de multas que variam de 5 mil a 30 mil reais, até a retirada total da propaganda do ar. Juiz Auxiliar do TRE-CE

políticos. Durante os shows, era citado diversas vezes o nome do candidato ou partido e, ao final, sempre havia um caloroso discurso do político em questão para que “em retribuição” ao maravilhoso show, tecnicamente sem nenhuma segunda intenção, os eleitores não esquecessem de passar na urna e deixar seu voto de apoio ao concorrente a cargo político. De acordo com a nova lei, comícios só seriam permitidos entre 8h e 24h, sendo possível a utilização de caixas de som e até mesmo trio elétrico, porém, sem apresentações musicais. Alto falantes e amplif icadores em carros de som estão permitidos, desde que respeitando o horário entre 8h e 22h. A imprensa também teve que se adequar às novas normas. No caso de jornais e revistas, até a antevéspera das eleições só serão permitidas dez propagandas pagas de cada candidato, em datas diversas, e com metragem de 1/8

(um oitavos) de página para jornais e ¼ (um quarto) de página para revistas e tablóides. No rádio e televisão, apenas propagandas eleitorais gratuitas estão permitidas, sendo penalizada a empresa que descumprir tais normas. Na Internet, após o dia 5 de julho do ano da eleição, a campanha poderia ser realizada nas seguintes formas: I – em sítio do candidato, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado no País; II – em sítio do partido ou da coligação, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de Internet estabelecido no País; III – por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente pelo candidato, partido ou coligação; IV – por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas e assemelhados, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos, partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural . Permaneceu expressamente proibida a divulgação de qualquer tipo de propaganda política em bens cujo uso dependa da autorização do poder público, como o caso de viadutos, postes de iluminação, paradas de ônibus, pontes e afins. A doação de cestas básicas, bonés, camisetas e af ins também foi vetada.

TRE fiscalizou eleições com mais rigor A competência de f iscalização coube aos juízes eleitorais. Aqui no Ceará, foram três os juízes responsáveis pelas propagandas eleitorais. A nossa equipe chegou a registrar um certo incômodo da população que passava na Av. 13 de Maio no último dia 13, data que reúne diversos fiéis na Igreja de Fátima. Eram faixas por todos os lados, em todos os horários, de todos os partidos, o que dificultou a passagem de pedestres e também atrapalhou o trânsito local. Em relação às bandeiras, há coerência por não ser propaganda fixa. Mas realmente dificultou a passagem de pedestres e atrapalhou o trânsito, havendo, assim, uma afronta à lei, uma vez que é proibido dificultar o acesso a vias públicas. Por outro lado, devemos lembrar que o Brasil é um país democrático de direito. Todos os partidos estão aptos a levar à população suas propostas e apresentar seus candidatos. O número do candidato também deve ser colocado para a população. A eleição é um conjunto. O povo precisa decorar número de presidente, governa-

dor, senadores, deputado estadual, federal... Sem a propaganda, esses números não chegam à população. A forma de divulgação é através das bandeiras, carro de som, rádio e TV. As punições para partidos e candidatos que descumpram a lei vão desde o pagamento de multas (que variam de 5 mil a 30 mil reais) até a retirada total da propaganda. Nas eleições de 2010 foram convocados 13 juízes em todo o Estado do Ceará, com poder de polícia e auxiliares para a fiscalização. Os próprios partidos fiscalizaram por interesses próprios e a população também pôde utilizar o disque denúncia para informar as irregularidades, pois o órgão também funcionou no dia das eleições. Muitas mudanças ainda podem ser feitas nas próximas eleições, sempre com o intuito da democratização das eleições, acima de tudo. As fiscalizações também tendem a melhorar com as experiências que vivenciamos nesta última eleição, que mostraram de maneira positiva que a lei vem sendo cumprida, pois essa é uma das mudanças contidas na nova lei, afirmou o Dr. Cleber de Castro Cruz, Juiz Auxiliar do TRE-CE.


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A equipe que integra a Agência da Boa Noticia é formada por jornalistas, advogados e empresários que dedicam parte de seu tempo livre ao serviço voluntário. Foto: Otávio Nogueira

Em prol do jornalismo humanizado Amigos criam ONG que pauta fatos locais e nacionais para os veículos midiáticos, a fim de formar uma sociedade mais justa e difundir a cultura de paz Bruno Barbosa e Mhahyara Valente

A Agência da Boa Notícia (ABN), uma organização não governamental, surgiu a partir da inquietação de um grupo de amigos diante da espetacularização da violência na grande mídia. Com sede em Fortaleza, seu foco é desenvolver uma cultura de paz nos meios de comunicação. Na ABN, as notícias produzidas têm um caráter social, sempre buscando gerar circunstâncias favoráveis para a sociedade. A sua principal característica é não vender suas matérias, e sim, distribuí-las gratuitamente em sua página na Internet. Todos os dias, são emitidas duas matérias

novas para o site e às segundas e quintas são mandados boletins informativos para os sete mil emails cadastrados. Em 2007, foi decidido que a Agência não poderia ser só mais um meio de comunicação usual. Então, nesse sentido, surgiu a ideia de trabalhar com a notícia na Internet. Decidida a temática da ONG, o próximo passo seria delimitar o campo de atuação. Sendo assim, foram estabelecidos três passos. O primeiro, trabalhar notícias que tivessem peso e que pudessem ser veiculadas na mídia. O segundo, deixar claro que o jornalista deveria estar no local em que aconteceu o fato, pois caso contrário a matéria não traria nada de diferente dos outros veículos de comunicação. O terceiro passo era contribuir com as faculdades de comunicação, acrescentando disciplinas mais humanizadas. Todos os anos, a Agência da Boa Notícia realiza seminários com temas relacionados com a propos-

ta da agência. O primeiro foi realizado em 2007 e tinha como tema “Comunicação e Espiritualidade”. Já no ano seguinte, abordou-se o tema “Comunicação e boa notícia” e realizou-se um workshop, que girava em torno de uma pergunta: “Comunicação da violência? Ou violência da comunicação?”. Juntamente com o evento, houve o lançamento da Agência da Boa Notícia. No ano de 2009, o seminário “Comunicação é a arte de fazer o bem” discutiu como os jornalistas podem fazer o bem utilizando os meios de comunicação. O quarto seminário, que aconteceu nesse ano, trouxe a temática “Comunicação e a notícia da vida”, na qual tentou-se mostrar aos jornalistas que tudo que é escrito vai, de alguma forma, interferir na vida das pessoas, de forma positiva negativa. A visão de futuro da ONG é que em pouco tempo, não só a ABN, mas também outras instituições e pessoas, façam algo relevan-

Enquete

te para que a sociedade melhore cada vez mais. De acordo com Souto Paulino, presidente da Agência, jornalista e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará, “se verificarmos que nós temos três milhões de pessoas em Fortaleza e região metropolitana, vocês avaliam quantas pessoas poderiam estar fazendo mal? Nem 1% da população é violento. Então, nós somos reféns desse pequeno percentual. Martin Luther King dizia assim: ‘eu não tenho medo do grupo grande que faz violência. Eu tenho medo do grupo maior que não se manifesta contra isso’. Quer dizer, não é você combater a violência com a violência. E isso é um dos princípios que nós defendemos”.

em rede. No próximo ano, está prevista uma expansão para todo o Nordeste e, posteriormente, para todo o território nacional. As notícias sobre violência, na maioria das vezes, se resumem em mostrar apenas o lado sombrio das coisas, mas na Agência é mostrado que é possível tirar desse fato violento algo positivo, diferindo da maioria dos meios de comunicação e transformando as notícias pautadas em serviço para a sociedade. Prova disso é a notícia sobre a casa feminina da Toca de Assis. As mulheres da Toca estavam correndo risco de serem despejadas e, após a divulgação de uma notícia produzida pela Agência, ganharam um terreno e puderam construir uma casa de missão aqui em Fortaleza.

Passos futuros A Agência da Boa Notícia só existe no Estado do Ceará, porém os diretores pensam em expandir essa ideia para que possam trabalhar

Serviço Agência da Boa Notícia: Avenida Desembargador Moreira, 2120, sala 1307 - Bairro Aldeota Fortaleza - CE / tel: (85) 3224.5509

ABN na Internet

Como você analisa o trabalho da Agência da Boa Notícia? A proposta da ONG de promover um jornalismo mais humanizado é uma iniciativa pioneira do Estado do Ceará. “Achei muito interessante essa forma singular de dar notícias sobre cultura e paz. É uma ideia genial, criativa e dinâmica, que traz à nossa sociedade um novo olhar sobre as notícias. Pois o que se vê hoje são apenas más notícias que só nos tiram a paz e nada nos acrescentam. Eu mesma não assisto mais a noticiários. Mas pelo site [da Agência] vou procurar esse novo olhar.”

“Ela tem um papel social importante, inclusíve para os alunos de Jornalismo, que é criar um parâmetro diferente do que foi construído ao longo dos anos pela empresa jornalística: que é centrado na espetacularização. A Agência da Boa Notícia cumpre o importante papel de ajudar as pessoas a perceberem que existem outras formas de ver o mundo e noticiar a vida. “

“As notícias ruins são tão fáceis de ser vendidas que acho super positivo o trabalho da Agência. Acesso muito o site, recebo e-mails e sou seguidor no Twitter por conta desse intuito de passar algo positivo que a mídia geralmente não consegue. Ela promove noticias boas de forma que não vemos nos meios de comunicação.”

Cleoneide Rodrigues Estudante de Psicologia

Alberto Perdigão Professor de Jornalismo

Michel Queiroz Estudante de Jornalismo

Site O site traz um breve histórico da agência, notícias, artigos, agenda cultural. Além disso, há também um espaço destinado a legislações, cidadania e galeria de fotos Comunidade do Orkut Criada em abril de 2008, é uma comunidade virtual pública, com o seu conteúdo disponível para não membros, e conta com mais de 200 participantes Twitter Criada há pouco tempo, a conta no microblog, o @boanoticia, tem mais de mil seguidores e segue 605 pessoas


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Prêmio de comunicação bate recorde de inscrições Promovido pela Agência da Boa Notícia (ABN), o Prêmio Gandhi de Comunicação tem como objetivo estimular a cultura de paz nos meios de comunicação. O concurso visa a disseminar a paz na sociedade veiculando matérias e reportagens positivas, levando, assim, ações de paz e harmonia para as pessoas. Esse projeto existe desde 2008 e prestigia autores que, pelos seus trabalhos, divulgam essa cultura de paz. O prêmio divide-se em sete categorias, sendo elas: Jornalismo Impresso, Telejornalismo, Radiojornalismo, Fotojornalismo – Ensaio, Publicidade & Propaganda, Trabalho Universitário de Jornalismo e Trabalho Universitário de Publicidade & Propaganda. O valor total da premiação é de R$ 30 mil, sendo R$ 5 mil para os prof issionais de Jornalismo e Publicidade e R$ 2.500,00 para os estudantes (também de Jornalismo e Publicidade). Desde o começo, no dia da premiação do evento, ocorre um workshop para debater assuntos sobre como incluir a cultura de paz nos meios de comunicação. O tema abordado nesse ano foi “Comunicação e a Notícia da Vida”, promovendo, assim, uma reflexão sobre a responsabilidade dos meios e dos prof issionais na pauta positiva da mídia. Tratrou-se justamente da tenta-

Renan de Andrade

A mensagem do Profeta gentileza José Datrino, chamado Profeta Gentileza, tornou-se conhecido a partir da década de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba. Durante sua vida artística, propôs uma crítica ao mundo e uma alternativa às incoerências da civilização, utilizando inscrições em verde-amarelo, uma clara referência ao seu patriotismo. Profeta Gentileza dizia que o mundo era regido pelo “capeta capital”, que vende tudo e destrói tudo. Para ele, a melhor forma de combater esse sistema brutal de relações era sermos todos gentis e agradecidos, pois a gentileza é o remédio para todos os males. Durante suas pregações nas praças cariocas, anunciava, como um grito de protesto: “Gentileza gera Gentileza!”. Quase quinze anos após a sua morte, muitos de seus ensinamentos continuam sendo de grande valia, principalmente para aqueles que acreditam que ser gentil não é um favor, e sim, uma obrigação. Ceder lugar a gestantes e idosos em transporte coletivo, segurar a porta do elevador para dar passagem a outras pessoas, são exemplos simples de como podemos ser amáveis e cordiais no nosso dia-a-dia. Em nossa capital, existem iniciativas que buscam melhorar a convivência entre as pessoas por meio da gentileza. Uma delas, o Prêmio Gentileza Urbana, destaca pessoas e instituições nãogovernamentais que praticam ações que incentivem a cordialidade, usando apenas a criatividade. Um dos projetos incentiva as crianças a produzirem artes e frases de reflexão, como fazia o Profeta Gentileza. Além das atitudes cordiais, palavras e expressões também podem representar atos de generosidade ao próximo. Enquanto pesquisas científicas anunciam a depressão como o “mal do século”, um simples “obrigado” torna-se uma forma de agradecimento essencial nos dias atuais. Palavras de gratidão podem melhorar o humor das pessoas, trazer ânimo à vida delas. Parabenizar alguém pelas suas conquistas também é um santo remédio! Em homenagem ao profeta, o dia 29 de maio (data em que José Datrino faleceu) f icou denominado o “Dia da Gentileza”. Devemos praticar não só nesse dia, mas durante nossas vidas, o exercício de nos colocarmos no lugar do outro, de aprender a escutar, ter paciência, pedir desculpas e respeitar as pessoas, para que a mensagem do Profeta Gentileza não se perca no tempo.

tiva de mostrar que, querendo ou não, tudo que um jornalista produz ou escreve vai sempre impactar na vida de outros. O reconhecimento dos seminários é percebido pela influência nas pautas jornalísticas, nas quais notícias mais humanizadas ganham destaque e mudam a visão do profissional e do estudante de comunicação. A cada ano, o Prêmio Gandhi de Comunicação vem ganhando mais visibilidade. Só nesse ano, a Agência recebeu 90 inscrições, sendo 53 de prof issionais de rádio, TV, jornal impresso e publicidade e 37 de estudantes de jornalismo e publicidade. Como a intenção da Agência é procurar um olhar positivo, uma das grandes dimensões do prêmio é que não envolve apenas os participantes que estão concorrendo, e, sim, a sociedade como um todo, pois eles estão lendo esses trabalhos e discutindo a respeito. Dentre os premiados na edição deste ano, destaca-se a aluna da Unifor, Isabel Mayara, que venceu na categoria Estudante Universitário de Jornalismo. A sua reportagem foi exibida na TV Unifor e abordava o cotidiano das “Mulheres da Paz”, um projeto desenvolvido pela professora Lilia Sales, coordenadora do programa de Pós-graduação em Direito Constitucional.

Estudante do 6º semestre de Jornalismo

Com a palavra...

Vencedores da categoria jornalismo impresso 2010 A dupla Bruno de Castro e Ivna Girão foram os ganhadores na categoria de jornal impresso, com uma série de reportagens sobre Consciência Negra, que foi veiculada no jornal O Estado nos dia 17 a 20 de novembro do ano passado, no mesmo período que ocorre a Semana Nacional da Consciência Negra. “Não pensamos na série visualizando o Gandhi. Só vislumbramos a possibilidade de concorrer quando uma amiga leu o material e deu a ideia. Isso foi em novembro. Mas só fizemos a inscrição em maio, uma semana antes do prazo final. Sabe por quê? Porque não acreditávamos que podíamos ganhar. Você pode imaginar a felicidade que foi pra gente ganhar esse prêmio. Para mim, foi o máximo. Afinal, sou negro e ganhei um prêmio de repercussão nacional falando da história de negros. E o melhor: o cara que leva o nome do concurso é um dos maiores negros da história da humanidade e sempre foi um referencial pra mim. Ver um material como o nosso levar o primeiro lugar não tem preço. E a receptividade dos jurados, dos leitores e de quem estava no auditório da Fiec no dia da premiação foi algo que me surpreendeu. Nunca esperei isso... Especialmente pelo fato de O Estado ser um jornal pequeno, sem

Artigo

tanta repercussão quanto O Povo ou o Diário do Nordeste. O nosso material denunciou o descaso com políticas específicas. Mas, no geral, preferimos mostrar o lado alegre... a importância do negro para a formação do nosso povo. Com a produção da série, diagnosticamos o quanto é difícil conseguir emplacar algo de bom sobre as tais “pessoas de cor”. Mas, aos poucos, vamos mudar esse perfil. Acredito muito nisso. E é como eu disse pro pessoal da Agência: se tivéssemos, pelo menos, mais dois prêmios como o Gandhi por aqui, nossos jornais publicariam menos notícias sanguinárias e levantariam mais a bandeira branca, hoje tão em falta, não só nas mídias... mas no dia a dia da gente. Se nossa premiada série colaborou para uma Fortaleza (um Ceará, um Brasil e um mundo) melhor, mesmo que minimamente, me dou por satisfeito. O troféu e o prêmio em dinheiro são meros coadjuvantes.”

“Quando participamos de um prêmio, nos forçamos a produzir bons trabalhos e escutamos muitas críticas também. Isso é um aprendizado. A criatividade na escolha dos temas, a superação dos estigmas, o estranhamento com aquilo que possa parecer natural e a fé de que podemos mudar o mundo. Com o prêmio comecei a pensar que podemos, mesmo em uma lógica de jornalismo comercial, superar barreiras e fazer um jornalismo ético e responsável. O tema da matéria - sobre o racismo - foi algo muito instigante. Eu sigo a paz de quem se inquieta, de quem não se acomoda com o “tal” jornalismo que já está ai: o do sensacionalismo policialesco, o do preconceito social e o da farsa política. Pref iro o jornalismo que denuncia, de forma responsável e compromissado com a mudança social e os direitos humanos.”

Bruno de Castro Jornalista

Ivna Girão Jornalista

O revolucionário da não-violência Você com certeza já ouviu falar em Mahatma Gandhi. Mas você conhece a sua história? Não?! Pois vai conhecer agora. Mohandas Karamchand Gandhi foi um líder espiritual, político e pacif ista da Índia. Nasceu em 1869, na cidade de Bombaim, onde morou até sua adolescência. Quando adulto, foi estudar em Londres, Inglaterra, onde se formou em Direito. Já formado, voltou para sua terra de origem e se tornou membro do Supremo Tribunal de Bombaim. No ano de 1893, mudou-se para a África do Sul e atuou em defesa dos menos favorecidos que viviam no país, lutando por igualdade. Em 1914, retornou para a Índia, onde começou uma campanha pela paz entre hindus e muçulmanos, quando obteve bons resultados. Gandhi foi um dos idealizadores e fundadores do moderno Estado indiano e um influente defensor dos Satyagraha, que é um princípio que defende a nãoagressão e a forma não-violenta de protesto, como greves, passeatas e jejuns. Atuou também

contra o domínio britânico na Índia e defendeu a criação de um Estado autônomo e, em função disso, foi preso diversas vezes, tornando-se uma das principais figuras no processo de independência da Índia. Sua trajetória acabou no ano de 1948, quando foi assassinado em Nova Délhi por um extremista hindu e foi a partir desse episódio que passou a ser chamado de Mahatma, que significa “grande alma”. O corpo de Mahatma Gandhi foi cremado e suas cinzas, jogadas no rio Ganges. Um fato interessante é que, mesmo lutando pela paz até seu último dia de vida, Gandhi nunca recebeu o prêmio Nobel da Paz, mas chegou a ser indicado cinco vezes entre 1937 e 1948. Décadas depois, esse erro foi reconhecido pelo comitê organizador do prêmio. Isso aconteceu quando Dalai Lama Tenzin Gyatso recebeu o prêmio em 1989, e o presidente do comitê disse que aquele prêmio era, em parte, um tributo à memória de Mahatma Gandhi.


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O fumo na mira da legisla O combate ao fumo tem ganhado reforços em vários estados do Brasil com leis que restringem o fumo em espaços públicos. O Ceará segue a mesma tendência Jáder de Oliveira e Amanda Carvalho

Ambientes de trabalho, estudo, culto religioso, cinemas, restaurantes, bares, áreas comuns de condomínio e praças de alimentação. Esses são alguns lugares em Fortaleza nos quais hoje é proibido o consumo de produtos derivados do tabaco. Desde 1996, uma lei federal determina que o fumo é proibido em todos os recintos coletivos, privados ou públicos, a não ser em áreas especialmente destinadas a fumantes, devidamente isoladas e com arejamento conveniente. Estes locais ficaram conhecidos popularmente como fumódromos. No entanto, os estados de Rondônia e São Paulo serviram de ponto de partida para que outras unidades da federação adotassem leis que restringissem ainda mais o fumo, que passa a ser proibido mesmo em fumódromos, limitando o hábito a espaços ao ar livre (veja em http://migre.me/1rVsL a lei antifumo de São Paulo na íntegra). Em 7 de maio de 2009, o governador do Estado de São Paulo, José Serra, sancionou a lei estadual 13.541 – antifumo - que proíbe o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco. O governador do Ceará, Cid Gomes, sancionou a lei antifumo, de autoria do deputado Dedé Teixeira, em setembro do ano passado. A lei em vigor no Ceará se diferencia em alguns aspectos das leis antifumo de outros estados: “A nossa lei, entretanto, difere da deste ente federativo pelo fato de prever a possibilidade de fumódromo, enquanto a de São Paulo, não”. É o que explica Sidney Filho,

professor do curso de Direito da Universidade de Fortaleza. No caso da legislação cearense, qualquer espaço destinado ao fumo deve dispor de barreiras físicas que a separem de outros ambientes. Deve também contar com sistemas de exaustão ou solução semelhante que permita a circulação do ar do espaço reservado aos fumantes para ambiente externo. Sobre o propósito de uma lei antifumo no Ceará, o professor Sidney af irma que “a lei surgiu pela constatação dos milhões de reais que são gastos pelo Estado em saúde, recuperando ou tratando as mazelas de fumantes, associado a pressões da população e de associações por um ar mais limpo”. No entanto, o cumprimento da lei antifumo em ambientes coletivos, públicos e privados ainda esbarra em uma questão que aguarda ser respondida: qual seria o órgão responsável pela fiscalização dos bares e restaurantes, quanto ao cumprimento da lei antifumo? A opção mais natural seria a Vigilância Sanitária de cada município. Mas para que os orgãos de Vigilância Sanitária possam fiscalizar sistematicamente o cumprimento da lei antifumo, ainda é necessário um decreto do governador do Estado. Somente a partir desta regulamentação, serão def inidas quais as responsabilidades de cada órgão público, no que se refere à f iscalização do cumprimento da lei antifumo. Por enquanto, as vigilâncias sanitárias mantêm cautela, limitando-se a fiscalizar bares, restaurantes e outros locais privados de acesso público, no que se refere às outras demandas da legislação, às quais a vigilância já está habituada. No caso de áreas comuns de condomínios, a Vigilância Sanitária só pode atuar em caso de denúncia. Apesar de bem intencionada, por enquanto, a lei antifumo não tem como ser aplicada com todo o rigor pela fiscalização. Não se sabe ainda até quando os órgãos permanecerão de mãos atadas.

Tá na lei. Bares, restaurantes e espaços coletivos terão que restringir o fumo a locais adequados Foto: Otávio Nogueira

Área restrita: agora os fumantes terão que se limitar às áreas separadas de ambientes coletivos comuns Foto: Raphael Villar

Bares e restaurantes buscam se adequar à lei A reação dos donos de bares e restaurantes de Fortaleza foram as mais diversas. Muitos temeram a queda da clientela com a lei antifumo, outros gostaram da novidade e aproveitaram para, além de adaptarem o fumódromo, reformarem o ambiente. Alguns ambientes da Cidade contam com o espaço destinado aos fumantes, como o bar-boate Órbita, o restaurante Las Marias e o shopping Aldeota. A multa para os estabelecimentos que descumprirem a regra vai de 1.300 a 1.700 reais. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Augusto Mesquita, a lei que está em vigor no Estado do Ceará está de acordo com a legislação federal e diz que não há necessidade de ônus aos donos de bares e restaurantes. A reportagem do Sobpressão conversou com Hélio Callyfat, que é proprietário do bar Os Mosqueteiros, em Fortaleza. “Quando fui informado que essa lei ia valer aqui na Cidade, tratei logo de me adequar à ela. Não queria problemas futuros, sabe? Eu sou o responsável de um bar, que é um ambiente público, você sabe”, nos contou Hélio. O empresá-

Malandragem, dá um tempo. Será cada vez menos comum ver bares cheios de fumantes Foto: Google

rio conta que seus colegas do ramo em São Paulo sofreram muito com a lei antifumo de lá, que não permitia a criação de fumódromos e provocou uma evasão da clientela. Já Hélio Callyfat, com seu bar em Fortaleza, seguiu à risca o que manda a legislação. Além de criar um espaço para os fumantes frequentadores de seu bar, aproveitou pra fazer

uma pequena reforma em todo o ambiente. Agora, mais tranquilo por atuar dentro da lei, Hélio conta o quanto seu investimento valeu a pena. “Criei um fumódromo com todas as exigências da lei, e pronto. Sem problemas, graças a Deus. A fiscalização já bateu aqui umas duas vezes e me deram foi os parabéns”, conta, empolgado, o proprietário do bar.


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ação cearense

Saiba mais...

Leis antifumo no Brasil A lei antifumo não é igual em todo o País. A fiscalização e as restrições divergem em cada estado. Veja abaixo a situação da lei em alguns pontos do Brasil. Rio Grande do Sul É opcional a criação de áreas para fumantes. Ficam de fora da proibição: os ambientes ao ar livre como calçadas, escadas, rampas, pátios, varandas, terraços e similares; as residências e os locais de culto religioso em que o uso de produtos fumígenos faça parte do ritual. Rio de Janeiro A lei proíbe o fumo em qualquer ambiente coletivo, público ou privado e prevê multas de até R$ 30 mil para donos de estabelecimentos. Goiânia O projeto de lei proíbe o uso de qualquer produto fumígeno em ambientes, total ou parcialmente fechados, coletivos, públicos ou privados. Paraná É proibido o consumo destes produtos em ambientes de trabalho, estudo, cultura, lazer, esporte ou entretenimento e não é permitido o estabelecimento de fumódromos. Teresina A lei antifumo foi aprovada pela Câmara com proibição do fumo em ambientes fechados, públicos e privados em 30 de junho deste ano. Recife Foi o primeiro município do país a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e fazer uma campanha para que a população aderisse à proibição do cigarro.

Enquete

Cultura do fumo nas palavras de um fumante convicto Muitos devem se perguntar: com tantas políticas de restrição ao fumo e alertas quanto aos malefícios provocados pelo hábito de fumar, por que muitas pessoas mantêm um hábito tão nocivo? Segundo o professor de fotograf ia Júlio Alcântara, não se trata de um hábito tão nocivo quanto as pessoas dizem. Júlio conta que até teve problemas de saúde, mas não relacionados ao cigarro. “Eu parei por dois anos e meio porque fui internado em um hospital lá em São Paulo com pneumonia. Fiquei um mês no hospital sem fumar. E quando saí, resolvi que não ia fumar”, conta Júlio. “Mas comecei a engordar assustadoramente. Eu estava com noventa e tantos quilos. Ia morrer de outra coisa”. Após os seus problemas com excesso de peso, Júlio voltou a fumar e diz não ter nenhum problema de saúde com isso. “Eu nunca tive falta de ar. Eu vivo melhor com o cigarro do que sem ele ”. Existem casos de pessoas que sofrem de hipertensão, mas que a controlam com o fumo. Usuários apontam melhoras na capacidade de concentração e raciocínio como benefícios do

Dualidade: fumante e não fumante A questão do fumo é um assunto polêmico e gera diferentes opiniões. Na área da Medicina, dois estudantes do curso se dividem entre contra e a favor do tema. A lei antifumo já virou hábito saudável. É uma lei que gerou, e ainda gera, em menor escala, muita confusão, mas que hoje em dia está sendo muito bem acatada. Aqui em Fortaleza, há a possibilidade de ter o fumódromo nos ambientes, mas em outros estados, como São Paulo, não. Os malefícios causados pelo cigarro são vastos, causando problemas tanto no fumante ativo quanto no passivo. Então, essa lei visa o bem estar social geral, nos aspectos sociais, financeiros e de saúde mesmo. Eu sou totalmente contra o cigarro. Essa história de fumar e não tragar não adianta, porque uma parcela da fumaça vai, sim, ao pulmão. Isso é desculpa dos fumantes e dos fabricantes da droga. Acho que o mal deve ser cortado pela raiz mesmo... não fumar, e pronto. Você estará fazendo bem à sua saúde e à do seu vizinho. Complicado é, porque a indústria do fumo é muito forte, ela vende por si só. Então, vai da consciência da própria pessoa. O livre arbítrio está aí para isso. Cada um faz o que quer, sabendo das consequências de cada ato. Ricky Godeiro Estudante do 5º semestre de Medicina

40 anos. É o tempo em que o hábito de fumar acompanhou Júlio Alcântara até agora. E por enquanto, sem a pretensão de parar. Foto: arquivo pessoal

hábito de fumar, além do controle da ansiedade. Mas não se pode ignorar que o cigarro causa cânceres de pulmão e boca, enfisema pulmonar, impotência sexual, necrose de tecidos, dentre outros. Mas o que faria a diferença entre quem tem problemas com o fumo e quem não tem? Uma possível explicação para esse mistério poderia estar no modo de fumar, como relata o professor Júlio. “Eu não trago. Não boto (fumaça) pro pulmão. Comecei a fu-

mar por curiosidade. Geralmente as pessoas fumam quando estão em grupo, adolescente e tal. E eu não. Comecei sozinho. E quando fumei, não traguei. E até hoje não trago”. Mas mesmo af irmando que não tem problemas com o fumo, o professor Júlio Alcântara faz um alerta. “A pessoa que tem, realmente, problemas com cigarro deve parar de fumar. Se eu tiver problemas de verdade com o cigarro, eu paro, como já parei uma vez”.

Acredito que essa lei surgiu apenas para tirar de foco o descaso do governo com o que realmente está prejudicando a população. Fome, pobreza, anafalbetismo são alguns exemplos dos inf indáveis problemas realmente sérios que assolam o nosso País. Estão dando uma grande importância a um fato simples de ser resolvido. Acho que todo fumante, como eu, deve ter bom senso. Todo usuário do cigarro é consciente, sabe que está consumindo uma droga, assim como o álcool também é. Os males causados pelos produtos derivados do tabaco são vários e muitas vezes desastrosos, mas é aqui que entra a conscientização de cada um. Eu fumo em média três cigarros por dia e nunca tive nenhum problema relacionado a esse hábito. Ao contrário, o cigarro me traz benefícios, como a tranquilidade e a agilidade de raciocínio. Sou estudante da área da saúde e muitas pessoas me condenam por essa atitude. Mas, para mim, o cigarro é libertador e essa lei é uma furada, já que a proibição no Estado do Ceará é parcial. Ou seja, as pessoas fumam do mesmo jeito. Marina Ribeiro Estudante do 1º semestre de Medicina


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Fortaleza oferece pontos de Internet wifi gratuita Do centro de Nova Iorque ao de Sobral, a Internet sem fio está presente, tanto em espaços públicos quanto em ambientes comerciais privados Gabriela Ribeiro e Deborah Milhome

A cada dia, aumenta o número dos lugares que oferecem Internet sem fio ou wifi. O serviço está presente em bares, livrarias, shoppings e no aeroporto (veja mapa na página ao lado). Desde o mês de agosto, a Prefeitura disponibilizou Internet na Praça dos Mártires, conhecida como Passeio Público. Um dos bares que oferecem o serviço é a Zug Choperia, localizada no bairro Meireles. De acordo com o gerente do local, Valdenir Ferreira, eles decidiram oferecer o serviço porque várias pessoas saíam do trabalho para aproveitar o happy hour no local e necessitavam, algumas vezes, de Internet, para mandar um e-mail ou resolver algum assunto pendente. Ferreira estima que cerca de 10% da clientela faça uso do serviço e que a maioria o utilize por meio do celular. Roberto Curchatuz, Oficial de Justiça, é um dos entusiastas da conectividade. Ele afirma que o fato de um bar oferecer Internet sem fio é um diferencial e que ele dá preferência a locais que possuam wifi. “Uma vez eu estava comemorando meu aniversário em um barzinho e pude acessar o skype durante a festa e conversar com meu irmão, que estava na Europa”.

No Passeio Público, é possível acessar a Internet, pois a Prefeitura disponibiliza sinal de wifi Foto: Otávio Nogueira

Espaços públicos A Praça dos Mártires oferece Internet sem fio. De acordo com Allan Montenegro, da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), a iniciativa teve como objetivo “agregar valores nas atividades culturais desenvolvidas pela Secultfor, como objeto de socialização e revitalização do espaço”. Montenegro disse que além da Internet wifi, há sempre uma programação cultural no Passeio Público e que, ao longo da implantação desses programas, a assiduidade das pessoas foi aumentando no local. Uma das razões da escolha da praça foi dar à população a oportunidade de navegar na Internet, ao ar livre, em um local que faz parte da história da Cidade. Um usuário desse serviço é William Cardoso, 31. O empresário disse que o serviço é

ótimo para navegação simples, como ver e-mails e utilizar o MSN. Ele considera locais que oferecem Internet sem fio bem mais atraentes. “No caso do Passeio [Público], o lugar é ótimo para um happy hour e, com a Internet, pode-se até adiantar a chegada e terminar de ler e responder os e-mails do trabalho embaixo das árvores centenárias”, diz. No entanto, ainda há muita preocupação com relação à segurança no local. O estudante de jornalismo Filipe Dias tem receio de usar seu notebook e celular em um espaço como o Passeio Público. “É complicado você andar com um notebook, ou um celular compatível com rede wireless, e usar a Internet tendo que estar atento ao redor. Acessar à Internet é como ler um livro: quando não se está tranquilo o suficiente para usar, torna-se algo

desgastante e desconfortável. Então eu não usaria, não [wifi no Passeio Público]”, afirma. Ele avalia que seria positiva a possibilidade de a Prefeitura estender o sinal para que ele possa ser captado em residências, de forma que as pessoas possam utilizar gratuitamente em suas casas. Com relação à segurança, Montenegro disse que há preocupação, mas que a Prefeitura disponibilizou guardas municipais que ficam durante 24 horas no local. Cardoso confirma a sensação de segurança no Passeio Público: “Se vê em constatemente guardas PM transitando por lá e permanentemente a Guarda Municipal está no local. Com isso, dificilmente se vê em pessoas que poderiam ser uma ameaça à alguém, diferente do estigma que a praça adquiriu por conta dos anos de abandono”.

Cidades inteiramente conectadas Gabriela Ribeiro

Quando se chega em Sobral, é possível, de qualquer lugar da cidade, ter sinal de Internet sem fio. De acordo com o site da Prefeitura de Sobral, há 12 torres de distribuição do sinal espalhadas pela Cidade. Para usufruir do serviço, o usuário tem que se cadastrar no site da Prefeitura e estar a, no mínimo, 100 metros de distância de uma das torres. Uma das moradoras do local, a f isioterapeuta Magda Borges, ainda não se cadastrou no site para poder utilizar wif i. Mas ela diz que, em qualquer local a que se chega na Cidade, é possível encontrar a rede gratuita e se conectar. A fisioterapeuta não considera

Danças, canções e oralidades foram conservadas entre as tribos, apesar do mito do desaparecimento Foto: Raphael Villar

Em Sobral, não é preciso pagar para se conectar, pois o sinal é gratuito

a falta de segurança um problema e diz que a Cidade é tranquila, o que torna possível a utilização de dispositivos móveis nos ambientes públicos. Ela avalia como positiva a atitude da Prefeitura.

Foto: Divulgação

As pessoas que não têm notebooks ou celulares e que queiram acessar redes sem fio podem comprar um kit de conexão sem fio e o ligar ao computador de mesa, em sua residência.

Essa é uma forma de incluir digitalmente as pessoas que não têm condições de arcar com as despesas de um serviço de Internet. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), o Ceará conta com 35 programas e 1051 pontos de inclusão digital. O maior deles é o GESAC, do Governo Federal, que disponibiliza a infraestrutura fundamental, com equipamentos e acesso à Internet. Outras cidades já oferecem o serviço, como Pedreira, no interior de São Paulo. Por meio de uma parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp), a Prefeitura hoje oferece o sinal de Internet sem fio aos 45 mil habitantes do local.

50 municípios terão Internet com 10 Gbps Deborah Milhome

O Cinturão Digital (CDC) é um projeto do Governo do Estado do Ceará que prevê a implantação de 2.250 km de f ibra óptica pelo Estado, fazendo com que o transporte de dados passe a ser em alta velocidade. A intenção é ter, no Interior, um anel óptico redundante “iluminado” a 10 Gigabit por segundo (Gbps), com o qual 50 municípios terão acesso na “última milha”, por meio da instalação de antenas de rádio no padrão wimax (rede sem f io). Os órgãos do Governo na capital cearense já estão conectados a 1 Gbps, e, até o f inal de 2010, as 900 escolas de Fortaleza também estarão conectadas. A Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), responsável pelo projeto, garante que a implantação do CDC criará uma infraestrutura de comunicação. Fases do projeto A primeira parte da iniciativa serve para interligar os estados e países, por meio do chamados backbones de longa distância. Segundo a Etice, o Ceará é um local privilegiado no que diz respeito a esta infraestrutura, pois os cabos submarinos que conectam a América Latina aos outros continentes passam por Fortaleza. O segundo item do projeto é a distribuição regional dos dados. O órgão responsável informou que os estados brasileiros necessitam deste tipo de compartilhamento, por isso os custos são altos. Com esse serviço nas escolas no Interior, o Governo gasta R$ 800 por mês. A terceira ação é conhecida como “última milha”, que é a infraestrutura que permite que os órgãos do governo, escolas, hospitais e os cidadãos acessem os serviços digitais, Internet, entre outros. Pode-se usar a própria linha telefônica, mas alguns usam os cabos da TV por assinatura, outros já tem o acesso sem fio etc. Existe uma tecnologia chamada wimax, que permite a propagação do sinal de rádio para Internet por até 30 km. Um projeto que usa essa tecnologia já começou a ser implantado e estima-se que, ao final, o sinal estará disponível a 82 % da população do Ceará. Os custos serão de R$ 65 milhões e o Governo do Estado vai arcar com R$ 35 milhões.

No Ceará, o Governo do Estado e as prefeituras se reuniram para oferecer Internet a comunidades carentes Imagem: Divulgação


http://maps.google.com.br/maps/ms?hl=pt-BR&ie=UTF8&msa=0&msid=11150557480349949249 SOBPRESSÃO

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Mapa de hotspots de Fortaleza (http://maps.google.com.br/maps?tab=ml) Biblioteca Pública do Estado do Ceará Ela é integrada ao Centro Dragão do Mar de Cultura e oferece, além de títulos de diversas áreas e um acervo dos jornais locais, internet wifi. Aberta também nos domingos, das 14h às 18h.

Livraria Cultura Fica no shopping Varanda, na esquina da av. Senador Virgílio Távora, com Dom Luis. O acesso pode ser feito principalmente do Café Três Corações e é preciso pedir senha.

Zug Choperia Na Zug, R. Professor Dias da Rocha, 579 - Meireles -, é possível ouvir música ao vivo e ter conexão wifi gratuita. No entanto, é preciso pedir senha ao garçom.

Praça dos Mártires Conhecida como Passeio Público, a praça tem Internet wifi. Resta saber se há segurança para usar seu computador no Centro da cidade, em um local público.

Boteco do Arlindo O bar oferece Internet, mas é preciso pedir senha aos garçons. O Boteco fica na Rua Carlos Gomes, nº 83, Bairro de Fátima. É uma ótima pedida para o happy hour.

Shopping Del Paseo

Estação Dominique

A conexão de Internet é liberada no shopping. Fica na Av. Santos Dumont, nº 3131. O local tem inspiração espanhola e os andares têm nome de cidades da Espanha.

Complexo que reúne o restaurante Le Diner, uma livraria Siciliano e um posto de gasolina. A Internet é liberada. Fica na Santos Dumont, nº 3636.

Aeroporto Pinto Martins É possível aproveitar a Internet wifi no aeroporto. Os problemas são a falta de segurança no local e ter de pagar. Isso que é falta de gentileza.

Shopping Center Iguatemi

Restaurante Spettus

O shopping fica na Av. Washington Soares, nº 85, e tem Internet liberada. É um dos maiores shoppings de Fortaleza e possui franquias em outros estados.

No restaurante, além do rodízio de carnes, também é possível ficar conectado. Mas é preciso pedir senha. Fica na Av. Washington Soares, 909 - Edson Queiroz.

Artigo

Gabriela Ribeiro

Promover conectividade é gentileza Hoje é possível andar em uma praça no centro de uma cidade e, ao mesmo tempo, pesquisar na Internet informações sobre o local, interagir com uma pessoa em outro continente e responder emails de trabalho. Tudo isso por meio de um telefone e com o sinal sem fio. A tecnologia trabalha em favor do conforto e da eficiência no trabalho. Também contribui para deixar o mundo mais conectado, aproximando as pessoas por interesses em comum. A proximidade regional deixou de ser um fator determinante nas relações interpessoais. Hoje, posso morar no Norte do Brasil e me relacionar com pessoas no Japão que se interessam por mangá, por exemplo. A Internet também facilitou o ramo das pesquisas. Hoje, diversos trabalhos científicos, do mundo inteiro, podem ser acessados. O pesquisador pode partir da descoberta que outros países fizeram. Pode continuar a pesquisa, no lugar de ter de começar tudo do zero. A Internet muda a forma de acumular conhecimento – o importante não é decorar, e sim, saber utilizar o conhecimento disponível de forma eficiente.

André Lemos, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, chama essa cultura de copyleft, em contraposição ao que antes era copyright, que diz respeito aos direitos autorais sobre qualquer ideia ou criação. Na cultura copyleft, todo o conhecimento parte de ideias e informações que já existiam antes. Na realidade, esse movimento entre culturas sempre existiu, mas foi potencializado pela Internet. A nossa cultura brasileira, por exemplo, não surgiu do nada. Ela tem aspectos da cultura indígena, da portuguesa, da africana, da alemã e de outros povos que realizaram a colonização do País. No entanto, o acesso ao mundo da conectividade ainda é restrito aos poucos que podem pagar. Nem todos têm condições financeiras de comprar equipamentos eletrônicos, como computadores e celulares, nem de pagar um serviço de fornecimento de sinal de Internet.

Alternativas Sabendo disso, alguns entes do governo e da sociedade civil têm se organizado para oferecer meios de inclusão digital. Por parte do

Governo, além de promover a instalação de pontos de wifi gratuita espalhados por algumas cidades, têm surgido centros em que são oferecidos equipamentos para que seja criada uma rede, com computadores e acesso à Internet. A tecnologia é a mesma que se utiliza em casa, conhecida como Small Office and Home Office (SOHO). Ela só tem alcance de 100 metros e o sinal pode sofrer interferência de obstáculos físicos como paredes e espelhos. Por isso, para conectar toda uma cidade, é preciso instalar vários hotspots.

Na sociedade civil, têm aparecido ONGs que fazem o mesmo trabalho do Governo e empresas particulares que promovem a inclusão digital por meio de programas sociais. Até pequenos negócios, como bares e restaurantes, têm oferecido Internet gratuita como estratégia de marketing. Oferecer wif i gratuita em uma cidade como Sobral é uma forma de marketing turístico também. Além de promover inclusão digital daqueles que não podem arcar com os custos de pagar pelo sinal, dá ao turista a possibilidade de se

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conectar por meio de seu equipamento móvel ou computador de mesa, sem ter maiores gastos. Ao disponibilizar sinal de internet gratuito para uma cidade inteira, promove-se a imagem do local, que fica conhecido como uma cidade digital, reforçando a estratégia de marketing e o retorno do investimento em melhoria da imagem. Ao mesmo tempo, a Internet gratuita é uma forma de gentileza. Promove conforto para as pessoas que não têm tempo de se desvincular do trabalho e acessibilidade àqueles que não têm renda suficiente para pagar pelo acesso. A inclusão digital é apenas um passo para que as pessoas marginalizadas dessa realidade possam usufruir dos benefícios da conectividade. Ao estarem conectadas, elas estão incluídas em algo, fazem parte de uma comunidade, o que lhes dá sentimento de pertença. A Internet também lhes possibilita conhecer culturas diferentes, apreciar um mundo diferente do seu, gerando, assim, conhecimento. Estudante do 7º semestre de Jornalismo


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O fenômeno bullying: da ficção dos jogos à realidade das escolas A temática vem ganhando espaço nos jogos virtuais, na mídia eletrônica, nas redes sociais e nas escolas, o que preocupa os especialistas no assunto

que o formato do jogo seja um dos responsáveis pelo aumento dos casos de bullying. “Não acho que os jogos sejam responsáveis pelo bullying. Acho que a fonte do problema está na base familar (filhos que acompanham pais brigando constantemente), descaso na educação dos filhos e demais excessos que incentivem práticas violentas. O bullying está presente nos games da mesma forma que nos filmes, em letras de música, séries de TV etc.” Para Luiz Adolfo, caracterizar a violência nos games como uma questão social não é a melhor solução: “Não podemos culpar um formato expressivo pelo aumento de um problema social. Acho que devemos evitar excessos.”

Renan Silva e Antônio Oanes

Jimmy está deitado no carro, discutindo com sua mãe e seu padrasto. A mãe do garoto resolve interná-lo na Bullworth Academy, uma escola norte-americana. Jimmy é um rapaz muito mau, o pior que a escola já recebeu. Em outros internatos, Jimmy já praticou bullying, vandalismo e falou em linguagem imprópria. Parece um fato da vida real, mas não é. Jimmy, na verdade, é o personagem principal do game Bully, lançado pela Rockstar Vancouver, para o Playstation 2, em outubro de 2006. Bullying é um termo em inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos. No Brasil, o jogo foi banido em abril de 2008, com base em um estudo psicológico feito pelo Estatuto da Psicologia, que afirma que o jogo pode ser potencialmente prejudicial para adolescentes e adultos. Já nos Estados Unidos, o jogo foi liberado pela Justiça americana para ser comercializado no estado da Flórida. Não é de hoje que existem jogos com temáticas violentas, mas Bully é um dos que tem gerado maior controvérsia, principalmente pela forma

Bully, game da empresa Rockstar Vancouver, lançado em 2006. Jogo vem causando polêmica em muitos países

como apresenta a temática do bullying. No game, a facção dos bullies, formada pelos valentões da escola, adora agredir crianças, meninas e, principalmente, nerds. Para isso, usam golpes simples, como chutes, socos e empurrões, como forma de demonstrarem a sua superioridade em relação aos demais. A ideia da Rockstar foi aproximar a experiência do jogo à realidade. “A escola pode ser dura às vezes, nem sempre se

trata de notas A”, disse Rodney Walker, porta-voz da Rockstar Games, em entrevista ao jornal USA Today. A evolução dos games Os avanços tecnológicos estão posssibilitando que os programadores de jogos consigam mesclar a ficção com a realidade, por meio de ferramentas avançadas e formas tridimensionais. O formato dos jogos tende a f icar cada vez melhor, e

Foto: Internet

a percepção dos usuários de games sobre eles será semelhante à de um filme, em que as cenas e a vivência dos personagens navegarão entre o f ictício e o real. Juntamente com essa evolução, também houve a proliferação de jogos com temática violenta, como o Bully. Apesar disso, segundo Luiz Adolfo de Andrade, doutorando em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia, não é possível af irmar

Alerta aos usuários Uma das preocupações dos sociólogos em relação a esse assunto é tentar comprovar que os jogos influenciam na educação e no comportamento infanto-juvenil. Segundo o Doutor em Sociologia, Valmor Bolan, em artigo publicado na Internet, as crianças e os jovens usuários de games supostamente dão asas a desejos, geralmente relacionados à transgressão e à crueldade, que não podem se manifestar no mundo real. Sobre isso, Valmor Bolan faz um alerta aos pais: “Devemos ter um discernimento que permita fazer prevalecer uma ética da vida, que seja capaz de erradicar o joio da violência e desabrochar o respeito à vida humana em todos os aspectos”.

O assédio moral na TV e nas redes sociais Dizer que a televisão ressalta estereótipos não é exagero. Basta observar, por exemplo, a forma como os seriados norteamericanos “Os Simpsons” e “Glee” apresentam alguns de seus personagens. Geralmente, são caracterizados como nerds ou patricinhas e, por isso, humilhados, maltratados e expostos a diversos tipos de situações embaraçosas. No Brasil, esse “fenômeno da ridicularização” está presente, principalmente, nos programas humorísticos. Os alvos podem ser famosos ou anônimos, como faz o programa “Pânico na TV”. E o que dizer das tradicionais pegadinhas, que ficaram famosas no Programa Sérgio Mallandro e no Programa João Kléber? Casos de bullying em programas de TV são mais comuns do que se imagina. O que muda é a forma como o tema é apresenta-

do. Existe uma preocupação em relação à forma como as pessoas, principalmente as crianças, assimilam esse conteúdo. A professora de Psicologia da Unifor, Letícia Bessa, acredita que é importante a apresentação de casos de bullying na TV. Mas alerta: “apesar de a sociedade ter conhecimento sobre esse tipo de violência, há um comodismo amparado numa visão fatalista (que pensa que não se tem o que fazer quanto a esse comportamento), e naturalista (que acredita que isso é normal e que, por exemplo, os casos vividos por adolescentes fazem parte do tornar-se adulto).” Outra maneira de praticar o bullying é pelas redes sociais. O cyberbullying é praticado quase sempre por jovens e adolescentes que se escondem por meio de identidades falsas. A perseguição é feita com a utilização de celular, dos sites de relacio-

Glee, seriado norte-americano que tem como símbolo a letra “L” , referente a palavra Loser (perdedor, em inglês) Foto: Internet

namento e dos sites de vídeos. No Brasil, ainda não há uma lei específ ica para punir o cyberbullying. Sobre o bullying nas redes sociais, a psicóloga Letícia Bessa esclarece que são vários os fatores que podem ocasionar essa prática: “As pessoas não são apenas receptoras de influências externas, mas dialogam com essas vozes sociais, apropriando-se das mensagens ouvidas e construindo sentidos particulares.” É possível identif icar os autores por meio de rastreamentos realizados por prof issionais capacitados. É importante que as vítimas procurem as Delegacias Especializadas em Crimes Cibernéticos. As denúncias de cyberbullying também podem ser feitas pelo SaferNet Brasil, associação que é referência no combate aos crimes que são cometidos pela Internet.


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Brincadeiras de criança são coisas do passado Não faz muito tempo. As tradicionais “brincadeiras de criança” f izeram parte de muitas gerações, que hoje se lembram com saudade daquela época. As fantasias criadas pela imaginação fértil dos pequeninos dependiam apenas de sua criatividade de produzir o seu mundo particular. Os adultos, principalmente os que passaram a sua infância no Interior, sabem de cor uma dezena de brincadeiras que, infelizmente, muitas crianças hoje desconhecem. Um passado marcante, que f icou na memória de muitas pessoas. José Batista de Lima, professor de Semiótica do Curso de Comunicação Social da Unifor, relembra a sua infância e faz uma comparação entre a vida no campo e na cidade: “O universo sertanejo tinha uma mitologia lúdica bem diferente da que existia na cidade. Brincávamos de montar animais bravios, disputávamos corridas, nadávamos o açude inteiro e jogávamos bola.” O “universo lá fora” era só uma utopia na vida das crianças do Interior. A ausência dos meios de comunicação dava um tom de ingenuidade às brincadeiras infantis. Batista de Lima conta que, durante a sua infância, as brincadeiras eram mais ingênuas: “Não tenho dúvidas que eram mais inocentes, pois não havia a influência externa no nosso universo. Não havia televisão e o rádio era muito local. O mundo ia até à próxima serra que encostava no céu. Não só as crianças respeitavam os

Entrevista

Solange Teles

É preciso uma campanha de conscientização Especialista em Literatura Estrangeira pela UFC e em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa pela Faculdade Farias Brito e Graduada em Letras (italiano) pela UFC, Solange Teles é professora de Língua Portuguesa da Unifor e da E.E.F.M. Deputado Paulino Rocha. Com o seu trabalho educacional junto aos jovens , ela acompanha de perto a realidade das escolas. Sobpressão - Como combater o bullying nas escolas? Solange Teles - Para evitar o bullying, deve ser feita uma campanha de conscientização nas escolas para que os alunos possam perceber o grau de gravidade que isso pode ocasionar para o aluno que sofre o bullying, assim como o(s) colega(s) que desencadeiam esse tipo de agressão. Sobpressão - De que forma a participação dos pais na vida escolar dos filhos pode ajudar no combate a essa prática? Solange Teles - A presença dos pais é sempre muito importante na vida escolar dos filhos, pois são eles que devem ser os primeiros a perceber a possível mudança no comportamento do filho e informar à escola o que pode estar acontecendo intramuros. Sobpressão - Quais atitudes preventivas devem ser tomadas pelos professores? Solange Teles - O professor deve utilizar vídeos, músicas e elaborar trabalhos com aspecto social em equipe para desenvolver uma atitude ética e humana e proporcionar um clima de amizade.

Brincadeiras como “pega-pega” , “pula-corda” e “cirandinha”, estão cada vez menos presentes na infância de hoje Foto: Internet

mais velhos, mas principalmente os mais velhos respeitavam as crianças.” Com a presença cada vez maior da mídia eletrônica e dos meios digitais na vida do homem do campo, a infância sertaneja se modif icou. A vida ao ar livre deu lugar à realidade on-line. Agora, as pessoas se aproximam à distância. O que era brincadeira, hoje não é mais. “As tradicionais brincadeiras de criança já acabaram. Eram brincadeiras em que se davam as mãos. Hoje se dão os dedos on line. O toque das mãos instala afeto. O calor humano tem algo de fático. Hoje até para dançar os adultos não tocam as mãos nem colam os rostos. Isto

é um péssimo ensinamento”, afirma Batista de Lima. Hoje, o mundo das crianças não é mais tão particular. Cada vez mais precoces, elas aprendem na escola muito mais do que ler e escrever. Batista de Lima acredita que a infância de hoje pertence à escola, e não aos pais: “Antes os pais criavam os filhos, conviviam com eles. Agora pai e mãe estão no trabalho e o f ilho na escola. A casa está fechada e o fogo está apagado. Simbolicamente uma casa sem fogo não é lar. Lar vem de lareira, fogo. Na minha infância, ficávamos em torno do fogo do afeto e do fogão digerindo tapiocas, conselhos e cafunés. Escola não dá cafuné nem balança rede”.

Saiba mais...

Tipos de bullying e locais onde são praticados O termo bullying é qualificado como um tipo de assédio moral praticado por alguém que se coloca em condições de exercer o poder sobre pessoa/grupo que julga ser mais fraco. Geralmente os praticantes do bullying apresentam um comportamento agressivo e negativo. Tipos de bullying Existe o bullying direto, a forma mais praticada entre os agressores (bullies) do sexo masculino, e o bullying indireto, mais comum entre bullies do sexo feminino. Ambos são caracterizados por forçar a vítima ao isolamento social. Algumas técnicas são bastante usaFoto: Internet das no bullying, entre elas: - espalhar comentários; - recusar-se a socializar com a vítima; - intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima; - criticar o modo de vestir ou outros aspectos sociais (etnia, religião etc);

- Praticar agressões físicas contra vítima. Locais de bullying Escolas: nelas, o bullying geralmente ocorre em áreas com supervisão adulta mínima ou inexistente. Ele pode acontecer em praticamente qualquer parte, dentro ou fora do prédio da escola. Uma das práticas mais comuns é colocar apelido nas vítimas. Trabalho: conhecido como assédio moral, é uma ação agressiva, permeada por uma relação de poder que envolve gestos, palavras, comportamentos e atitudes que se repetem, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa. Geralmente, é praticado pelo chefe ou supervisor. Entre vizinhos: o bullying normalmente toma a forma de intimidação por comportamento inconveniente, tais como barulho excessivo para perturbar o sono e os padrões de vida normais ou fazer queixa às autoridades (tais como a polícia) por incidentes menores ou forjados, com o objetivo de constranger a vítima.

Sobpressão - E quando o Bullying parte da própria instituição de ensino, o que se deve fazer? Solange Teles - Denunciar, para que atitudes desse tipo não sejam padrão. Sobpressão - É importante que a escola preserve a identidade do aluno vítima de bullying? Solange Teles - É importante preservar para que não ressalte o(s) ponto(s) que serviram para bullying, evitando, assim, a superexposição, ou então potencializar a baixa autoestima. Sobpressão - Como os psicólogos realizam o trabalho de acompanhamento das vítimas do bullying dentro das escolas públicas? Solange Teles - Infelizmente, escolas públicas não dispõem desse serviço. Se houvesse um serviço de acompanhamento aos alunos, teriam ações de prevenção ao bullying e conscientização do mal que pode causar à vítima por um tempo longo na vida ou, às vezes, insuperável. Artigo

Terezinha Joca

A dor de pertencer Com o fenômeno da globalização e os ditames de modos de comportamentos e formas de relacionamentos, onde o sujeito para poder ser aceito tem que seguir um modelo criado e imposto, a pessoa que não se sente segura diante de si e que, por algum motivo, não acredita em suas potencialidades diante dos demais, busca de forma desmedida um grupo de iguais. Procura participar de grupos, de tribos, com suas organizações internas e exigências para que possa atender a sua carência de pertencimento a uma dessas tribos e desse modo, muitas vezes, violenta-se e permite ser intimidado por aquele que exerce o poder. Somado a tudo isso, temos um mundo individualista e de estruturas familiares que deixam o sujeito com uma sensação de não pertencimento. Daí porque muita criança, jovem e adulto, fugindo da possibilidade de se sentir o diferente, o excluído, passa a acatar os abusos físicos ou morais exercidos pelo agressor praticante do bullying, que se trata de uma prática agressiva repetitiva e de intimidação ao outro, bastante difundida, nos dias atuais, pela mídia e conhecida por muitos no meio acadêmico. Mas não é algo exclusivo da escola. Encontra-se em vários ambientes sociais e no mundo do trabalho é conhecido como assédio moral. Diante desse fenômeno psicossocial que pode gerar sérios problemas à saúde física e mental da vítima e do agressor, em geral, a vítima omite o que vem ocorrendo, por medo extremo da represália do intimidador e por receio de ser excluído do grupo, da rede social, pelos seguidores desse líder. Já no meio laboral, a submissão pode vir pela necessidade de se manter na empresa, seja pelo status que ela representa, seja por necessidade f inanceira ou por medo de arriscar trocar de emprego. Dessa forma, o sujeito gera um sofrimento maior e silencioso para si, em troca do pertencimento a esse grupo, a essa tribo, a essa rede, a essa empresa. Psicóloga Clínica e Professora da Universidade de Fortaleza


SOBPRESSÃO

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Mais rigor no Estatuto do Torcedor Com o objetivo de combater principalmente a violência nos estádios e visando a Copa de 2014, a lei foi sancionada em julho deste ano e já está em vigor João José Quixadá

O estádio como um lugar seguro. Assim deverá ser com as alterações feitas no Estatuto do Torcedor. Se antes não havia punições pesadas para os baderneiros em estádios, a tendência é que as confusões diminuam com as modificações implementadas na lei. Os torcedores que promoverem badernas em um raio de cinco quilômetros dos estádios poderão sofrer punições severas, com multa e dois anos de reclusão. As torcidas organizadas passaram a ser reconhecidas, mas terão que cadastrar todos os seus membros e estão sujeitas a punições em caso de descumprimento à Lei do Torcedor. O cadastramento das torcidas organizadas será feito junto às federações locais, que enviarão os dados para o Ministério Público. Essas alterações na Lei do Torcedor, segundo o Ministro do Esporte, Orlando Silva, em entrevista ao site da Uol, foram feitas visando uma maior segurança para todos. “O estádio é para ir criança, família, queremos criar um ambiente melhor para os torcedores” dise o Ministro. Porém, Orlando Silva afirma que punir apenas os torcedores que criarem confusões não é su-

Cenas como esta nas arquibancadas, com sinalizadores e bandeiras com mastros de bambu, não devem ser mais vistas nos estádios Foto: Internet

ficiente. Para ele, é preciso que a polícia esteja mais preparada. “A polícia tem de passar a utilizar nos estádios armas não letais. Também precisa ter prof issionais preparados, treinados para lidar com multidão”, completou. Uma medida adicionada ao estatuto que chama atenção foi a proibição da atividade do chamado “cambista”. A partir de agora, a atuação deste é considerada ilegal e também passível de punição, podendo chegar a até dois anos de reclusão e multa. Quem facilitar, desviar ou distribuir o ingresso por um preço superior ao que está estampado no bilhete, também será alvo de penalidades severas de acordo com as mudanças feitas no estatuto do torcedor. Os estádios com capacidade mínima de 10.000 pessoas

passarão obrigatoriamente a ter monitoramento por câmeras e centrais técnicas de informações. Essa medida visa facilitar as orientações ao torcedor. As centrais técnicas são como espécies de ouvidorias dentro dos estádios, onde o torcedor pode tirar dúvidas, pegar informações sobre o estatuto e fazer denúncias sobre irregularidades vistas em dia de jogos. Os cânticos e cartazes considerados racistas, xenófobos ou discriminatórios também estão expressamente proibidos a partir de agora. As festas nas arquibancadas durante os jogos poderão ficar menos atraentes, isso porque está proibida a utilização de fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos, de acordo com os aditivos inseridos no Estatuto.

Legislação esportiva em pauta As alterações feitas no Estatuto do Torcedor repercutiram entre pessoas que trabalham diretamente com a área esportiva. Elas mostraram suas visões sobre as mudanças no Estatuto. O advogado especializado na área desportiva, Rafael Ramos Teixeira, af irma que as mudanças no Estatuto poderão ter efeito positivo principalmente na parte de segurança, porque as leis estão mais rigorosas. No entanto, ele diz que ainda existem falhas nas redações de alguns artigos. Ele cita o exemplo dos cambistas: “A criminalização do cambismo vai ser de pouca aplicação prática, devido má redação que a lei trouxe, de não identif icar bem quem são os sujeitos que estão praticando.” Mas de acordo com o capitão Souza, da Polícia Militar do Ceará, responsável pela parte de estatística da Companhia de Eventos em todo o Estado, a atividade do cambista é de ação pública incondicionada (não depende da representação da vítima), mas

Foto: Internet

Rafael Ramos Teixeira

A criminalização do cambismo vai ser de pouca aplicação prática, devido má redação que a lei trouxe. Advogado, especialista em desporto

pode ser denunciado. “É importante que o torcedor que se sinta lesado denuncie a polícia”, afirma o comandante. A violação de objetos considerados perigosos provocou opiniões parecidas para Rafael Ramos e o capitão Souza. “A proibição foi feita para evitar que os instrumentos

e objetos não possam ser usados para agressão”, diz Rafael. Já o comandante da Polícia Militar do Ceará afirma que “nós já tivemos vários incidentes por causa de alguns produtos que causam lesões, como fogos de artifício, mastros de bambu entre outros objetos. Tivemos até confrontos entre policiais e torcedores organizados, onde os dois saíram feridos, então acredito que foi uma medida de conduta acertada”. Outra decisão unânime entre eles foi a de proibir gritos discriminatórios e racistas. De acordo com o capitão Souza, o torcedor tem que mudar sua concepção quando vai aos estádios: “O torcedor tem que ir para o estádio somente com o intuito de torcer e apoiar o clube, e não para xingar e ofender alguém”, conclui ele. Rafael Ramos afirma que essas medidas são bastante salutares para combater este tipo de comportamento questionável do torcedor nos estádios.

Saiba mais...

As novidades na Lei do Torcedor Art. 2º Torcidas organizadas É definida como pessoa jurídica de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva. O cadastramento de membros obrigatoriamente terá que ser feito. Art.13-A Acesso aos estádios I - Portar ingresso válido II - Não portar objetos perigosos IV - Não estar com cartazes, bandeiras, símbolos com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;

Art.41-B Violência Promover, incitar ou praticar violência num raio de 5km dos estádios: pena de 1 a 2 anos de reclusão e multa. Art.41-F Ingressos Vender ingresso por preço acima do estipulado no bilhete : reclusão de 1 a 2 anos e multa. Serviço Texto na íntegra O Estatuto completo no site do Governo: www.planalto.gov.br/ccivil/ leis/2003/L10.671.htm

Alterações na lei dividem torcedores As mudanças feitas na lei do torcedor parece ter dividido opiniões dos adeptos do futebol em seus diversos aspectos. Com a proibição de fogos de artifício e instrumentos considerados perigosos, torcedores divergem em suas colocações. Na visão de Ranieri Barreto, torcedor do Ceará, a proibição de certos objetos nos estádios é injusta: “O que deveria haver era uma punição para quem ferisse alguém ou usasse dos engenhos pirotécnicos ou instrumentos de forma errada, mas se formos analisar friamente, pode ser considerada correta”, diz o torcedor alvinegro. Mas na concepção do torcedor do Fortaleza, Arthur Adnam, a proibição de sinalizadores e derivados é motivo de crítica. “Estão tirando a beleza dos estádios de futebol que as torcidas organizadas fazem, por causa do dinheiro da Copa do Mundo ”, diz ele.

Em relação a gritos discriminatórios, os torcedores têm a mesma opinião. Para Ranieri Barreto, a punição é compreensível, pois consta até na Constituição Federal. Já para o também tricolor, Luca Laprovitera, o torcedor tem o direito de apoiar o clube e reclamar, mas jamais discriminar, seja em qualquer ocasião. No tocante a punições, quem parece não ter gostado foram membros de torcidas organizadas. Para o diretor de comunicação da Cearamor, Felipe Aires, a torcida não pode ser responsabilizada por um ato de um membro isolado. “Possuímos diretores e colaboradores que ficam encarregados de coibir qualquer ação que venha tumultuar ou atrapalhar o espetáculo, mas é papel das autoridades coibirem qualquer baderna”, complementa o membro da torcida organizada.


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