IPOM, além de ser a sigla do Instituto Povo do Mar, é também um golpe do judô considerado perfeito. Engajados neste projeto, jovens surfistas tentam mudar a realidade da comunidade da Praia do Titanzinho. Coletivo Página 1
Andar na corda bamba já foi uma metáfora usada para designar uma situação inconstante,mas hoje esse é um esporte que se populariza na capital cearense. Fôlego Página 1
JORNAL- LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Abril DE 2012
ANO 11
Comer com as mãos parece um ato mal educado para você? Esta e outras tendências estão modificando o mercado de trabalho atual. Sobpressão Páginas 6 e 7
N° 30
Jovens desconhecem como funciona o sistema eleitoral Jovens atingem idade adulta desconhecendo qual o trabalho de um vereador, senador ou deputado. A distinção entre os poderes executivos, legislativos e judiciários não é ensinada na escola, tampouco em casa. Sobpressão Páginas 12 e 13 Transparência
Governo a um clique de distância Coletivo Página 3 Calvície
A diferença de implante e transplante Classificado Página 3 Festas
A praça da Gentilândia a conscientizar sobre a importância da bicicleta como meio de transporte preferencial Foto:
Rabeca
Música artesã A rabeca, bem conhecida entre os cearenses, é uma herança dos árabes e, quando trazida para cá, era conhecida por kebab. Ela foi o primeiro instrumento usado para tocar o forró. Sobpressão Páginas 20
Jornalismo
Mercado do Ceará exige diploma Mesmo com a queda da exigência do diploma, o mercado de trabalho cearense ainda prefere jornalistas que tenham graduação em Jornalismo. Confira o que realmente mudou. Sobpressão Página 3 Oportunidade?
Compras coletivas nem tão baratas
Opções
Dica de como preparar sua formatura Sobpressão Páginas 4 e 5 Educação
Afinal, tablets substituem os livros? Com o avanço da tecnologia, cada vez mais jovens optam pela leitura de livros na Internet. Para eles, livros online trazem facilidades de acesso que não se encontra nas livrarias da vida real. Veja os benefícios e malefícios de quem é adepto dos e-books. Sobpressão Página 14 Futebol americano
Quarterback: no Ceará tem disso sim senhor! Fôlego Página 4 Inusitado
Além de bolo e bandas, chame um palhaço
Árbitra Laleska Valéria apita jogos em Beberibe
Classificado Página 2
Fôlego Página 4
Novo NIC
Integração e dinamismo são a nova rotina do Nic Profissionais de Jornalismo, Publicidade & Propaganda, Audiovisual e Engenharia da Computação trabalhando juntos em um mesmo local? Sim, essa é a realidade do novo Núcleo Integrado de Comunicação (Nic) da Unifor. No novo espaço, todos esses jovens-futuros-profissionais podem aprender juntos e contribuir uns com os outros para a realização de produtos de mais qualidade. Aprendizado, trabalho e diversão em um só lugar. Sobpressão Páginas 10 e 11
Sobpressão Páginas 18
Foto: patrÍCia Mendes
SOBPRESSÃO
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FEVEREIRO/ABRIL DE 2012
Opinião
Colagem: Lucas Marinho
Luz, câmera, interrogação
Um abrigo onde se colecionam experiências e olhares diferentes Unir conhecimento, vontade de arriscar e experimentação. É assim que um grande projeto pode sair da cabeça, do papel do imaginário e ser colocado em ação. Assim aconteceu e deu certo. Foram muitas ideias, palpites e “carões”. Até mesmo porque, bem sabemos, uma boa dose de cobrança nos faz cada vez mais caprichosos, cada vez mais ansiosos por aquilo que queremos que seja: um trabalho baseado na busca inconstante do querer aprender mais. Ousadia. Talvez seja isso mesmo o que tenha nos motivado a sair a campo, tentar, agir. A vontade de querer mais e enxergar o extraordinário naquilo que poderia passar despercebido para muitos, e por outro lado, interessante aos curiososos. Foi às ruas, buscar a pauta, buscar o personagem, uma história. Todos movidos pela curiosidade e pela vontade de mostrar um pouquinho de cada mundo, um bocado de cada canto, a imensidão de um detalhe. Na busca por novidades, o time - sim, porque nós somos um time - encontrou pessoas que estão criando novos rumos, que estão construindo novas paredes em cima do que já existia ou do que parecia provável. Plantamos a coerência e estamos colhendo a sintonia de um jornal completo. Falamos de política, música, mercado, solidariedade e muito mais do que pode te trazer brilho aos olhos. Mais do que um jornal laboratorial, o Sobpressão se faz um abrigo, onde se colecionam diferentes experiências e olhares de quem tem muito ainda o que ver por aí. Em suas páginas, antes em branco, mundos se encontraram. Foram fatos, gestos e iniciativas que passaram despercebidas pela maioria, mas que os nossos “olheiros” apontaram com fé, crentes de que renderiam uma boa história para contar. E assim, contamos. Kamyla Lima
Teste seu conhecimento sobre Cinema 1.Clássicos O diretor francês Jean-Pierre Jeunet ficou conhecido no mundo todo pelo seu filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Entretanto, nos anos 90, ele realizou uma ficção científica pós-apocalíptica com humor negro e uma pitada de romance, em que um açougueiro vende aos seus clientes carne humana. Qual é o nome desse excêntrico filme?
Para a selvageria, a verdade Mariana Parente
A Comissão da Verdade é uma lei criada com a finalidade de examinar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas no período que abrange também a ditadura militar, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional. É composta por sete membros, que serão escolhidos pela presidente Dilma Rousseff entre brasileiros de reconhecida idoneidade e conduta ética. Ora, se por um lado está tentando garantir os direitos àqueles que foram separados de tais no período demarcado, por outro, a lei da comissão da
verdade abrange um período maior que o da ditadura, além de estabelecer um prazo de apenas dois anos para a emissão do relatório final e não disponibilizou orçamento próprio, o que dificulta o trabalho a ser realizado. Para ativistas de direitos humanos e familiares de vítimas da ditadura militar, a lei deveria ser baseada também na justiça. É válida a intenção de criar um instrumento com o qual familiares e vítimas dos crimes cometidos pela ditadura tenham mais informações sobre o que aconteceu no período. O sentimento motivador da Comissão da Verdade, a meu ver,
não deve ser de revanche, mas de memória e verdade, apesar de ser difícil a apuração de tudo que aconteceu na época com as condições concedidas. O que resta é esperar que seja feito o melhor possível para o conforto de quem tanto sofreu pelos anos que se passaram de lá para cá, sem terem sequer acesso a restos mortais de parentes desaparecidos no período. É bem mais fácil para mim pensar em conforto, já que não vivi uma época de tamanha selvageria do poder público, porém tento confiar nos representantes eleitos para que faça o seu melhor, em favor da sociedade e da democracia.
a) Cidade das Crianças Perdidas b) Alien 3 c) Alien: A ressurreição d) O juízo Final e) Delicatessen 2. Cinema Cult Qual dos filmes abaixo não ganhou o Oscar de melhor filme, e fato pelo qual até hoje a Academia se arrepende, já que o filme foi taxado como o melhor de todos os tempos em vários rankings? a) O poderoso chefão b) A lista de Schindler c) Cidadão Kane d) Casablanca e) E o vento levou 3. Animação Que filme se tornou o primeiro de animação a concorrer ao Oscar principal? a) Toy Store b) A Bela e a Fera c) O rei leão d) Up – Altas Aventuras e) Procurando Nemo
Registro fotográfico
4. Diretores e Atores Qual diretor americano é conhecido por seus filmes violentos com diálogos marcantes e referências pop? a) Martin Scorsese b) Brian de Palma c) Quentin Tarantino d) Stanley Kubrick
EQUILÍBRIO: “Através de um trabalho que o professor de fotojornalismo pediu, escolhi o tema ‘Dança’ . Com a idéia desse tema, procurei uma amiga (Marina Bernardino Papadakis, aluna de arquitetura da UNIFOR e de Dança da UFC) para realizar o ensaio. Essa foto foi tirada em uma ponte que está de frente ao Boteco da Beira-Mar.Foto: Capucine Isabelle Anhalt
5. Vilões da Disney A Disney criou um filme que reúne todos os seus vilões. Qual é o nome do filme? a) A vingança dos vilões da Disney b) Vilões contra-atacam c) Os vilões da Disney d) Dia das bruxas
1.e) 2.c) 3. b) 4. c) 5. c)
Editorial
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2012.1) - Reportagem: Ana Carolina Cunha, Augusta Henz,Camila Marcelo, Camila Silveira, Caio Pinheiro, Erika Neves, Ivana Moreira, Jáder Santana, Kamyla Lima, Karen Oliveira, Leiliane Marques, Millene Haeer, Rafayelle Rodrigues, Márcia Brito e Manoela Cavalcanti - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Arte final: Aldeci Tomaz - Professores orientadores: Eduardo Freire e Janayde Gonçalves - Coordenação de Fotografia - Júlio Alcântara - Revisão: Profª. Solange Maria Morais Teles e Celiomar Lima - Conselho Editorial: Wagner Borges, Adriana Santiago - Supervisão gráfica: Francisco Roberto - Impressão: Gráfica Unifor - Tiragem: 750 exemplares - Equipe do Laboratório de Jornalismo (Labjor) - Estagiário de Fotografia: Marina Duarte - Estagiário de Produção Gráfica: Fernanda Carneiro - Edição: Giselle Nuaz e Hyana Rocha - Estagiários de Redação: Hyana Rocha, Lise Ane Alves, Lorena Cardoso, Marília Pedroza, Renata Frota
Sugestões, comentários e críticas: jornalsobpressao@gmail.com
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Mercado do Ceará prefere jornalistas com diploma Mesmo sem a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, jornalistas por formação ainda são os preferidos pela imprensa local Melina Menezes
Ao contrário do que muitos pensam, o mercado de trabalho para profissionais formados em jornalismo ainda é favorável no Ceará. Mesmo após a extinção pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão, em 2009, os grandes veículos de comunicação do Estado continuam a considerar o diploma como fator imprescindível para a contratação de profissionais de jornalismo. Embora tal contexto seja realidade no Ceará, muitos estudantes de jornalismo e jornalistas diplomados sentem-se desmotivados em relação ao mercado de trabalho, em decorrência da decisão do STF de permitir o exercício da
Redação do Diário do Nordeste, um dos veículos de comunicação mais renomados do ceará, e que exige o diploma de jornalista para o exercício da profissão. Foto: Melina Menezes
profissão de jornalista mesmo sem formação acadêmica específica. “Às vezes, fico me perguntando se vale a pena continuar o curso de Jornalismo, já que meu diploma não tem valor algum para o mercado de trabalho”, disse Larissa Barreto, estudante do 5º semestre de jornalismo na Universidade de Fortaleza. Assim como Larissa, muitos outros estudantes de jornalismo do Ceará sentem-se desestimulados em continuar o curso de graduação, por o considerarem “desnecessário”.
Mas, não é bem assim. Diferentemente do que acontece em muitos veículos de comunicação do Sul e Sudeste do Brasil, no Ceará jornalista por formação é sinônimo de qualificação. Os diretores de jornalismo dos dois maiores jornais impressos do Ceará foram bastante claros com relação à contratação de seus profissionais. “Aqui não discutimos ser contra ou a favor do diploma por entendermos que essa discussão é simplista. Mas posso afirmar que o jornal O POVO apenas con-
O diploma na opinião de jornalistas
trata jornalistas formados em jornalismo”, diz Arlen Medina, diretor geral de jornalismo do Grupo de Comunicação O Povo. “Entendemos que instituições de ensino superior são nossas grandes aliadas”, disse Medina sobre a importância da formação acadêmica para o exercício da profissão de jornalista. Assim como o O Povo, o Diário do Nordeste também adota a mesma política de contratação, aceitando apenas jornalistas por formação. Ildefonso Rodrigues, diretor de jornalismo do Diário, acredita
que a exigência do diploma é indispensável para qualquer empresa que prima por um jornalismo de qualidade. “Temos cartazes da Fenaj em toda redação, apoiando a medida que vai garantir a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Nossa posição é clara: no Diário, só com diploma. Jornalismo é prática e técnica caminhando juntas. Separar uma da outra é suicídio”, disse o diretor. Tanto o Diário do Nordeste quanto O Povo afirmam que, mesmo no caso de a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que busca a aprovação da exigência do diploma perda a votação, eles vão continuar firmes na posição de só contratarem profissionais graduados de jornalismo. “Mesmo que a relevância do curso de graduação em Jornalismo nunca seja reconhecida pelo Supremo, nós do Diário do Nordeste não vamos voltar atrás na decisão de só contratar quem tem diploma. É uma questão de qualidade”, reforçou Ildefonso. O Ceará é, e pelo visto continuará sendo, um mercado favorável a jornalistas por formação, em veículos de comunicação impresso. A medida anulando a exigência do diploma não foi bem aceita por aqui, e estudantes que querem ser jornalistas em veículos impressos cearenses, precisam possuir a graduação para exercerem a profissão.
Saiba mais
O que é mesmo a PEC?
“O diploma de jornalista é fundamental”, disse Wagner Gondim, coordenador do curso de Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade de Fortaleza (Unifor). Wagner também é empresário da área de comunicação e não alterou sua postura com a queda da obrigatoriedade do diploma, contratando apenas jornalistas graduados na área. “Eu não posso contratar para fazer jornalismo um profissional que é formado em medicina holística. Assim como eu não vou inventar de fazer um prédio de duzentos andares sem ter feito engenharia”, disse o coordenador. Segundo Wagner, o curso profissional purifica o mercado. “Quando o STF aprovou a medida anulando a obrigatoriedade do diploma, muitos veículos de comunicação saudaram a decisão. Porém, esses próprios veículos, após algum tempo,
voltaram atrás na decisão, passando a exigir o diploma para contratação”. Ângela Marinho, da Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Ceará e Diretora de Cultura e Eventos da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), comemora ao dizer que a inserção de “falsos jornalistas” no mercado ainda
não causou muito impacto no Ceará, já que muitos órgãos de imprensa ainda exigem profissionais por formação. Porém, revolta-se ao constatar que, no Sul e Sudeste do País, a situação é outra. No Sul do Brasil, muitas pessoas exercem a profissão de jornalista, mesmo sem formação. “Não é justo que a gente perca espaço no mercado por conta de falsos jornalistas. Jornalista de verdade é aquele que tem formação acadêmica, que entende os conceitos éticos e técnicos da profissão, bem como o compromisso do jornalista com a sociedade. Qual é a empresa que vai querer contratar um profissional que nem sequer sabe como atuar na área? Não tem lógica”, disse a sindicalista. Atualmente, sindicatos de jornalistas de todo o Brasil e a Fenaj lutam para que o diploma de jornalista volte a ser obrigatório por lei.
Em maio de 1943, o Decreto-Lei 5.480 finalmente cria o ensino de Comunicação Social em nível superior.
Em 1948, surge, na Faculdade Nacional de Filosofia, a formação superior para a área jornalística
É baixado o decreto-lei que exige o diploma de graduação em Comunicação Social - Jornalismo para o exercício da profissão
O Supremo Tribunal Federal (STF) decide que ninguém precisa ter diploma para exercer a profissão de jornalista
Aprovada, em primeiro turno, a PEC para retorno da exigência de graduação em Jornalismo para a prática da profissão
1943
1948
1969
2009
2011
Ângela Marinho, jornalista, membro do Sindicato dos Jornalistas do Ceará e da Fenaj. Foto: Site SindijorCE
A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 33/09 dos Jornalistas, como ficou conhecida, é de autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e acrescenta à Constituição um novo artigo, o 220-A, estabelecendo que o exercício da profissão de jornalista seja privativo ao portador do diploma Jornalismo, expedido por um curso reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). A proposta prevê, porém, a manutenção da tradicional figura do colaborador, sem vínculo empregatício, e torna válidos registros obtidos por profissionais sem diploma, no período anterior à mudança na Constituição. A PEC 33/09 tenta neutralizar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de junho de 2009, que revogou a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Na ocasião, os ministros entenderam que o Decreto-lei 972 de 1969, que exige o documento, é incompatível com a Constituição, que garante liberdade de expressão e comunicação. A interpretação do Supremo foi de que a exigência do diploma seria um resquício da ditadura militar, cujo objetivo na época era afastar dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que eram contra o regime. Entretanto, jornalistas por formação de todo País discordam que o diploma seja um empecilho à liberdade de expressão e acreditam na aprovação da PEC 33/09. A votação do segundo turno está prevista para o segundo semestre de 2012.
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Quanto maior a adesão, tanto menor é o preço da festa de formatura Nada de uma festa simbólica para marcar a conclusão de curso. Grande parte dos formandos querem ir além do básico da colação e extravasar em luxo nas festas
do tudo está pronto, há ônus pesadíssimos que desgastam muito a pessoa”, lembra.
Camila Marcelo
A cada semestre, milhares de pessoas conquistam o seu diploma. Após longos anos de estudo e dedicação à faculdade, a colação de grau torna-se insuficiente para celebrar o marco, levando alguns a festejar com tudo a que têm direito. Apesar de o processo da organização exigir uma orientação e forte participação dos profissionais, o primeiro passo, no entanto, deve ser dado pelos próprios estudantes. Os mais interessados e ávidos são levados a criar a comissão de formatura, tornando-se, dessa forma, intermediários consentidos das exigências dos graduandos às possibilidades de mercado. Não há formação taxada em livros. O ideal, em primeira instância, é reunir pessoas que queiram envolver-se inteiramente na organização, além de, após determinado o grupo, reconhecê-lo em cartório, para que haja uma maior credibilidade e também para que não sejam colocadas as decisões e, principalmente, a conta bancária na responsabilidade de um nome e, sim, no da equipe. Com relação à quantidade, o indicado, segundo a sócia-diretora da assessoria de eventos Realize, Juliana Queiroz, é serem quatro integrantes por 25 formandos. “Quanto menos membros na Comissão
Comemoração: o dinheiro investido nas formalidades do ritual da formatura para muitos é um investimento. Foto: Camila Marcelo
comissão, melhor. A comunicação é mais rápida e prática. Costumeiramente esse número é maior que quatro e, geralmente, a comunicação entre os membros se torna mais difícil e os desentendimentos são mais frequentes”, afirma. Mesmo essa proporção sendo respeitada, nem sempre isto significa sucesso no diálogo. Matematicamente falando, em um grupo de 600 formandos, o ideal seria 96 representantes. No caso da comissão de Direito 2008.1 da Universidade de Fortaleza (Unifor), foram inicialmente cinquenta pessoas. Depois de desistências e alguns desentendimentos, o número reduziu-se para trinta, com apenas vinte participando ativamente, e, mesmo assim, foi tido como um sucesso.
Foram dois anos de planejamento lidando com muitos interesses individuais envolvidos e pressão constante dos demais universitários. Porém, para a tesoureira dessa organização, Renata Pinto, essa foi uma oportunidade única e enriquecedora. “Foi importante participar porque a gente aprendeu a lidar tanto com os profissionais quanto com os formandos. Também aprendemos a prestar mais atenção ao contrato, a lidar com dinheiro, a ter mais paciência no dia-a-dia nas negociações. Eu não me arrependo de ter participado. Isso trouxe um crescimento pessoal e profissional também”, explica. Todavia, esse pensamento não é unânime. Diante dos contratempos com os alunos,
Eventos para arrecadar fundos
Aula da saudade
os problemas inesperados e as horas de dedicação em reuniões e pesquisas, muitos não fariam novamente. A advogada Janaína de Deus também participou da comissão de sua formatura do semestre de 2011.2. Mas, se pudesse retroceder no tempo, ela teria ocupado apenas o cargo de formanda. “É muito trabalho para pouco reconhecimento dos formandos. Todos pensam que podem nos destratar, porque não pagávamos a festa. Contudo, pagamos a festa tanto quanto os demais formandos, e ainda mais, se considerarmos o que gastamos com finais de semanas discutindo coisas para formatura, gasolina despendida, reuniões com os profissionais. Apesar de ser maravilhosa a sensação quan-
Com o pé atrás O tempo médio de antecedência do planejamento das celebrações é de dois anos, mas há quem queira mais tempo para organizar e parcelar. Na verdade, esse é um dos itens mais significantes que permitem novos agregados às festas. “Há muitas facilidades de pagamento, permitindo a mais pessoas realizarem seus sonhos. Fazer festas não é mais um privilégio de poucos”, pontifica a cerimonialista da Páh Comunicações, Liduína Figueiredo. Os formandos de Medicina UFC 2012.1, por exemplo, começaram a reunir-se seis anos antes do período de sua colação. Com isso, tiveram um período mais do que suficiente para decidir quais eventos queriam, além de qual seria o melhor local e empresa de eventos para eles. A ordem de fechamento de contrato também não é definida. O indicado é ordenar as prioridades dos formandos e segui-las em pesquisa e pagamento. Normalmente, inicia-se com a escolha do cerimonialista. Por ter maior experiência no mercado, ele é capaz de mostrar mais objetividade na organização. Após confirmada essa etapa, passa-se geralmente para marcar o buffet, devido a restrição das datas que são agendadas com muita antecedência. Então, para conseguir o dia desejado, às vezes um ano antes ainda não é suficiente. Essa dificuldade na agenda é constante também com relação à banda e decoração, por
Enquete
O gasto para celebrar compensa? Enquanto alguns formandos se planejam financeiramente para concluir a faculdade, outros acreditam que o alto investimento não vale tanto.
Primeira decisão dos formandos, que deve ser tomada , no mínimo um ano antes da colação Fotos: Arquivo pessoal
Patrocínio e eventos, como festas e palestras, são organizadas para diminuir os custos da celebração da formatura
Encontro entre formandos e professores convidados, no qual um educador irá proferir a última aula do curso
Colação
Missa, ato ecumênico ou culto
Baile de Formatura
O nome do aluno estará na lista se ele tiver concluído os créditos mínimos exigidos e feito Enade se convocado
Dependendo do número de alunos e da opção religiosa, é decidido mesclar ou oferecer ambos os eventos no contrato
Maior o número de convidados e a antecedência da organização, melhor o preço, as parcelas e o resultado do evento
“Eu quis fazer,pois queria uma festa do jeito que eu realmente gosto, o que significa uma questão de vitória e um novo passo para minha vida. O ritual de formautra significa mudança, vida nova e mais responsabilidades. Eu acredito que as que não quiseram são pessoas que não ligam para certos tipos de coisa, como festas; preferem investir em outras coisas a ter que pagar caro para apenas uma noite”.
“A formatura representa um momento importante, mas não é essencial. Eu não concordo com a maneira é realizada a sua comemoração. Acho que inventam muito para as pessoas gastarem dinheiro. Deveriam subtrair. Eu penso que compensa mais usar o dinheiro em outras coisas, como viagem ou casamento, porém minha mãe reclama, porque acha essencial celebrar e ter tudo o que se tem direito” .
Isadora Lopes Estudante de Fisioterapia
Flávia Grams Estudante de Nutrição
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terem o correto hábito de assumir apenas um ou, no máximo, dois eventos por noite. A ênfase no tempo não se deve apenas a este aspecto, mas também ao fato de se poder conferir pequenas amostras antes de tomar a decisão final. Ou seja, mais do que conversar com antigos formandos, o ideal é frequentar as festas organizadas ou que são palcos do trabalho dos profissionais que estão na lista de contratação da comissão. Ainda há o fato de se poder contar com margem para negociação dos valores. Quando se tem um período restrito de planejamento, o foco, uma maior organização e a busca por referências devem ser os pontos-chaves de uma boa comissão. É preciso perguntar, investigar e ler todas as letras miúdas dos contratos. Afinal, não adianta fechar o melhor “custo e benefício”, deve-se estar confiante e seguro com as escolhas antes de assinar por definitivo os papéis. Não é suficiente conseguir a opção mais barata, se a empresa não tem renome, credibilidade no mercado ou, pior, falta de qualidade no serviço. Além de arrependimentos, o investimento terá sido em vão. Os iniciantes não são os únicos do segmento que devem receber uma dupla atenção, as consolidadas também. Enquanto organizava a sua formatura, Renata escapou de um grande golpe. Dentre as suas opções de cerimonialistas estava a Academia de Formatura, empresa reconhecida por portfólio rico e que em janeiro de 2008 deixou, sem explicações ou alternativas, centenas de outras festas de conclusão de curso que já haviam quitado o contrato. Além de estragos financeiros, vários sonhos foram desfeitos. Também é indicado optar por uma empresa de convites de Fortaleza, para se ter um maior controle e acompanhamento das impressões, e um fotógrafo já consagrado no ramo para facilitar a decisão.
Renata Pinto
Por estar na comissão, fiz ao máximo para diminuir os custos para mim como aos demais formandos. Eu acho que não é um dinheiro gasto só numa noite, como muitos dizem, pois há as fotos e a filmagem, que vão acompanhar pelo resto da vida. Advogada
Outra dica é conscientizar os formandos de que quanto maior o número de adesões, menor o valor pago. Além disso, é importante saber quais são os pontos cruciais a serem investidos. “Eu acho que o mais importante da festa, qualquer que seja ela, é a comida, bebida e banda. Eu não sou muito fã de decoração. Ela deve ter, mas não deve ser priorizada, é melhor gastar mais dinheiro com a comida”, afirma Renata. Crescimento de mercado O mercado de trabalho é como a bolsa de valores. Há décadas de ouro para determinadas profissões, grandes apostas em novos segmentos e também existem aqueles investimentos tidos estáveis, aqueles empregos reconhecidos e que já tem um público consolidado. Diante desse meio, encontram-se os pré-universitários e os que já estão imersos no mundo profissional à procura de novas qualificações. Para atender e acompanhar a demanda, novos cursos e faculdades surgem e se consolidam em grandes e pequenas cidades. Só em Fortaleza, por exemplo, são 36 instituições de ensino superior, todas reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC),
contemplando ao todo 215 opções de cursos presenciais. É nessa realidade de formandos de primeira e outras viagens que o campo de festas investe. Pelo maior número de concludentes, há também mais interessados em adotar ao menos parte do pacote da celebração, que geralmente são os registros fotográficos. Se tomarmos a Unifor como parâmetro, a Engenharia Ambiental não existia em seu vestibular no ano de 2007. Mas, de 2008 a 2011, não somente apareceu o curso, como já apresentou crescimento de ingressantes. Já se somam mais de 300 alunos nesses quatro anos de ensino. Outra novidade foi Belas Artes, que teve a sua primeira conclusão no final do ano passado. De acordo com Juliana, é devido principalmente a esses novos campos acadêmicos que o segmento de eventos está aumentando no setor de formaturas, deixando-o até mais competitivo. “Aqui em Fortaleza, o mercado tem crescido muito. Eu tiro pela formatura da minha irmã. Ela se formou em 2002, com um dia de festa e 60 formandos. Na minha, em 2008, foram dois dias com 70 formandos em cada um. Disso, você vê o aumento de interessados. Além disso, o evento tem se tornado grandioso, com megaproduções, e uma disputa muito grande entre os profissionais para saber quem é que vai participar da formatura. E, depois do problema da empresa de cerimonial que faliu, os formandos estão ficando mais espertos na hora de contratar. Então, o mercado está crescendo e de forma positiva”, pontifica a ex-formanda Renata. Centros como Medicina e Direito também são responsáveis por grandes festas desse segmento. Só na Unifor, foram 5601 bacharéis diplomados de 2007 a 2011. Então, não há previsões de declínio, por enquanto, da área.
A estudante de Direito, Lilian Fontenele, colou grau em regime especial por ter tido gêmeas no período em que deveria ser a defesa de sua monografia Foto: vanessa Figueiredo
Perdeu o prazo, mas não a colação de grau Mais de quinze mil universitários graduaram-se de forma convencional nos últimos cinco anos na Universidade de Fortaleza (Unifor). Eles vestiram a sua beca, ficaram envoltos pela faixa com a cor de seu curso e fizeram o juramento em noite solene em frente ao Centro de Convivência do Campus. No entanto, os concludentes contabilizados nesse período não se resumem exatamente a esse número. Segundo a chefe da Divisão de Assuntos Estudantis, Nise Sanford Fraga, os pré-requisitos para ser considerado um formando é ter cursado todas as disciplinas obrigatórias, atingir o mínimo de créditos exigidos e feito o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) quando convocado. Todavia, se os itens foram preenchidos fora do prazo, como atraso da entrega da monografia ou de uma outra disciplina por motivos de saúde ou força maior, nesses casos a colação de grau especial entra como solução para oficializar o término de uma etapa acadêmica da vida. É importante lembrar que, para o nome constar na lista de concludentes, o estudante deve fazer uma solicitação junto à
Divisão de Assuntos Estudantis (DAE) com no mínimo 48h antes da realização do evento. Para receber o diploma, independente do evento participado, é feito o requerimento depois da solenidade, portando a cédula de identidade. A entrega é feita 20 dias depois. De 2007 a 2011, 623 estudantes foram contemplados com essa alternativa de celebração. Para a ocasião, não há necessidade de muita formalidade. Nem mesmo a beca é exigida ou usada como referência para identificar quem são as estrelas da ocasião. No entanto, não são poupadas as palavras de incentivo ao ritual de passagem da universidade ao meio profissional. O vice-reitor de graduação, Henrique Sá, acredita que, assim como há a necessidade de dizer o “sim” no casamento, os formandos devem passar pela colação e fazer o juramento, mesmo que sendo a parte do evento convencional.
Confira entrevista com o Vice- Reitor de Graduação da Unifor Henrique Sá
Novas finalidades com o dinheiro da celebração Baile, missa e outros eventos de despedidas não são sonhos de todos. Para completar, há ainda dois fatores que pesam na balança ao decidir festejar: o alto investimento e o fato de, na maioria das situações, o formando concluir o curso com completos desconhecidos. Diante disso, alguns formandos destinam o dinheiro que seria para a conclusão de curso para uma forma alternativa de comemoração ou propósito maior. A concludente de Jornalismo Thamyres Heros, por exemplo, decidiu-se apenas pelo pacote de fotos e missa. Depois, seguiu, após a colação,
rumo ao seu desejo antigo de fazer um cruzeiro. Ela chegou a ir como convidada ao baile que seria seu e, ao final, sentiu um pouco de arrependimento, apesar de ter divertido-se da mesma forma como se tivesse dançado a valsa de formatura. “Depois que vi a festa fiquei com vontade de ter feito para poder compartilhá-la com amigos mais íntimos e familiares, mas a viagem era um sonho que tinha havia muito tempo e não deixou nada a desejar. Foi tudo que eu esperava e um pouco mais. Realmente, foi um sonho que se realizou, mas como na vida temos que sempre optar por uma
coisa ou outra acho que fiz uma boa escolha”, recorda. O advogado Rodrigo Ribeiro também preferiu ir somente como convidado. Ele, por outro lado, não se arrepende da decisão, apesar de os pais terem insistido pela celebração. Até mesmo brinca que se divertiu tanto quanto os outros e ainda com o dinheiro não gasto no bolso. Na verdade, a economia não foi o fator preponderante para a sua decisão. Transferir o custo da festa para o pagamento de cursos para concursos e uma pós-graduação foi, para ele, a decisão mais sensata. “Eu não quis o pacote, primeiramente, porque o seu pre-
Um cruzeiro pelo Brasil foi a maneira escolhida, por Thamyres Heros, para celebrar a conclusão do seu curso de Jornalismo. Foto: arquivo pessoal
ço seria elevado e, com esse valor, eu poderia investir no meu desenvolvimento profissional. Além disso, na Unifor, não se constitui uma turma, logo não se tem afinidade com outros formandos. Então, não havia nada de tão especial para se comemorar”, explica. Com o ex-formando Rafael Castelo, que concluiu Publicidade e Propaganda no início de 2012, a decisão está no fato de que não irá seguir a profissão vinculada ao seu diploma. Ele estuda agora para ingressar em Medicina e, ao seu final, espera dessa vez participar do ritual completo das comemorações de formatura.
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Novas especialidades atraem Quatro jovens, quatro perspectivas. Eles entraram na Universidade em busca da realização profissional e descobriram a necessidade de desbravar novos mercados Erika Neves e Ivana Moreira
O avanço das tecnologias, trouxe, além da agilidade nas comunicações, o surgimento de novas profissões. E outras, que já existiam, disparam entre o ranking das profissões mais procuradas. Jovens recém-formados precisam, mais do que nunca, estar preparados para funções e cargos que demandam qualificação inovadora. Entretanto, é possível observar que ainda há limitações por parte das universidades em preparar seus estudantes para atuar no mercado atual. Esta é uma constatação que parte tanto de estudantes como de coordenadores de graduação Graduação dispensável, mas faz diferença Estudante de arquitetura, Herman Dantas, 26, trabalha com maquetes eletrônicas 3D há cinco anos e há dois tem sua própria empresa (H3D Mídia). O interesse por desenho e computação gráfica é antigo e cursar arquitetura lhe fez conhecer outras áreas de atuação. Herman descobriu a maquete 3D quando estagiava no ramo. “Certa vez me foi exigido conhecimentos para fazer maquete 3D de um projeto e foi então que decidi me especializar nisso”, conta. Seu trabalho consiste em executar quatro etapas. São elas: modelagem, texturização, iluminação e renderização. Quando necessária, há ainda a fase de edição de imagem ou de animação. Segundo Herman, que buscou uma formação técnica no Centro Educacional Professor Estevão Pinto (Cepep), a graduação em arquitetura não é indispensável, mas faz diferença: “Quem a tem apresenta um diferencial no mercado de trabalho. Ao estudar arquitetura, hoje tenho
Bruschetta com tomate seco e manjericão é uma das especialidades do chef Felipe Vitoriano. Foto: ÉriKa neves
Finger food é sucesso na capital cearense. O profissional Felipe Vitoriano é profissional da gastronomia e prepara deliciosos pratos. Foto: eriKa neves
Farmacêutico bioquímico acredita que o futuro para profissionais de farmácia é investir em pesquisas genéticas. Foto: arquivo pessoal
mais segurança, conhecimentos para entender um projeto, questionar um cliente, dialogar com um arquiteto e trabalhar com agilidade”. Sobre o fututo, Herman afirma que o mercado precisa, cada vez mais, de profissionais que saibam fazer maquetes eletrônicas e que a tendência é a computação gráfica evoluir. “Em um futuro próximo, poderemos ter um cliente que compre um game cujo cenário será o próprio projeto. Há sensação melhor do que poder ‘passear’ por dentro do projeto que você pretende comprar? A maquete, principalmente quando animada, dá credibilidade ao projeto arquitetônico, o que resulta diretamente na venda do mesmo e é mais barata do que as maquetes físicas”, conta o arquiteto, cuja meta é fazer especialização em Animação e Games.
porque uma das especificidades do serviço é que ele tem que ser bonito para se ver e gostoso para se comer. Caso o profissional queira, é possível se qualificar através de cursos livres ou graduação. Segundo Felipe, a gastronomia vive um bom momento no Brasil e as faculdades estão bem atualizadas quanto a estrutura e matriz curricular. “Finger food é um dos serviços ascenção pois é possível variar grandes pratos em pequenas porções. O produto é sempre fresco, de qualidade, harmonia e de uma bela apresentação”. Felipe Vitoriano também atende a coquetéis, festas de 15 anos e casamentos.
Talento nato Diferente de Herman, Felipe Vitoriano, 28, é um rapaz manual. Graduado em gastronomia pela Universidade Anhambi Morumbi, em São Paulo, buscou realização profissional em alguns outros cursos antes de se aventurar no mundo da culinária. Passou três anos na faculdade de administração e largou tudo para passar um mês estudando inglês nos Estados Unidos. Acabou ficando um ano. Aprimorou o idioma e trabalhou em restaurantes brasileiros. Foi tomando gosto pelo serviço a partir daí. Quando voltou a Fortaleza, decidiu começar faculdade de Publicidade, mas largou logo no primeiro semestre. “Não me identifiquei. Eu gostava mesmo
era de gastronomia, mas ainda não existia o curso em Fortaleza. Tive que ir para São Paulo atrás dessa oportunidade”, diz. Felipe não só descobriu seu talento para cozinha como também percebeu que nesse ramo poderia crescer com o serviço de finger food, que são aquelas entradas e petiscos que se comem com a mão, sem perder a sofisticação. O gastrônomo diz que trabalha com a culinária de vários países “No entanto, tenho procurado reproduzi-la em pequenas porções, oferecendo ao comensal uma maior oportunidade de sentir diversos sabores, aromas e texturas”. Para realizar o serviço de finger food não é preciso nenhuma formação profissional. Basta ter talento para saber harmonizar os ingredientes e, lógico, saber montar o prato,
Interligada em redes O interesse da designer gráfica Alyne Castro, 28, por mídias
sociais surgiu há dois anos, quando ela fazia parte de um projeto de pesquisa do Governo sobre Software Livre e estudava formas de compartilhar os resultados do projeto para comunidade. Desde então não largou o computador. Segundo Alyne, para ser social media o profissional deve ser curioso, ler bastante e adorar escrever. “A leitura e estudo são necessários porque todos os dias temos novidades e precisamos ficar atentos ao que veio para ficar e ao que é passageiro. Ter foco, principalmente para saber a melhor rede para o produto que represente, o melhor meio de alcançar objetivos. E, lógico, escrever bem. Não existe nada pior do que erros gramaticais.” Mas afinal, o que é social media? O trabalho consiste
Saiba mais
Dicas de cursos profissionalizantes no Senac Com a escassez de mão de obra especializada, os cursos profissionalizantes se tornaram aliados das empresas e a qualidade e a credibilidade do Senac são referenciais que impulsionam cada vez mais buscas pela capacitação profissional.
Design Maquete Eletrônica Aperfeiçoa o profissional na produção de maquetes eletrônicas de edificações e ambientes internos utilizando os softwares AutoCAD, 3ds Max e Photoshop.
Gastronomia Pizzas Desenvolve conhecimentos no preparo de massas, molhos e recheios para a fabricação de pizzas, em conformidade com as normas de higiene. Saúde Shiatsu Aperfeiçoamento de processos teórico-práticos que resultam na aplicação adequada de técnicas da terapia corporal Shiatsu.
Beleza Maquiador Capacita o participante para atuar como maquiador, utilizando técnicas e produtos adequados aos tons de pele, correção das linhas do rosto e realce fisionômico nas diversas ocasiões. Informática Editor de vídeo Aperfeiçoa o profissional nos fundamentos do Adobe Première, por meio de técnicas para criação, edição e gravação de vídeo.
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m jovens profissionais
Entrevista Xênia Diógenes
A necessidade de formação contínua A pedagoga e pesquisadora em formação docente Xênia Diógenes fala a respeito da realidade de ensino no país e sobre a importância de o profissional, seja de que área for, passar por diferentes níveis de ensino. Não parar em uma única formação, em função das novas exigências do mercado de trabalho, é o diferencial do novos profissionais.
Tecnologia 3D proporciona a projetos arquitetônicos maior credibilidade. A maquete eletrônica é mais viável que a maquete física Foto: Arquivo Pessoal
em conhecer a marca que vai representar para a partir disso criar um plano de ação, no qual serão escolhidas as redes de atuação. “Por exemplo, criar um roteiro de postagem, com textos e imagens para ver as novidades e o que se fala sobre a marca, responder as dúvidas e contatos e estar sempre preparada para críticas e elogios”. Alguém duvida que estamos na era da revolução tecnológica? O presente se faz na Internet. “Muito jovens já não assistem mais a TV, eles assistem ao YouTube ou TV online, isso é fato. Onde você vai anunciar o produto para alcançar os novos consumidores? Na web! Muitas empresas querem conhecer e entrar nesse novo mercado promissor. Temos que pensar que nosso mercado são e serão pessoas que têm uma vida online constante e que na Internet tudo se espalha com uma velocidade incrível. Por esse motivo a personalização do serviço e a velocidade de resposta têm que ser prioritárias. Todo mundo gosta de ser ouvido”, avalia a social media. Para realizar o serviço de social media, o profissional
pode ser graduado em Comunicação, Marketing, Relações Públicas, Design Gráfico, ou até mesmo nenhuma delas, apenas gostar de produzir conteúdo e divulgá-lo em redes. “Existem cursos técnicos e de extensão (Quartel Digital e a Unifor), mas a área de graduação específica ainda não temos aqui no Ceará. Considero importante a pessoa se especializar e buscar formação. Assim pode organizar as ideias, ações e aprofundar seu conhecimento. Todos os cursos que envolvem comunicação têm que passar por modernização da matriz curricular, senão daqui para frente teremos profissionais defasados.” O coordenador do curso de Jornalismo da Unifor, Wagner Borges, comentou a respeito da atualização da matriz curricular dos cursos de comunicação. “O curso de jornalismo da Unifor completou dez anos e se faz necessário uma mudança. É preciso mudar, pois o campo da comunicação é bastante dinâmico e volátil. A atualização da matriz é uma necessidade de mercado. O profissional que estiver se formando na matriz anterior deve
Maquete 3D de uma loja de móveis para escritório, localizada na Av. Virgílio Távora, no Meireles. Foto: Divulgação
Social Media é o profissional que monitora as empresas na Internet criando um roteiro de postagens e verificando o que se fala da marca. Foto: Arquivo Pessoal
Alyne Castro
Temos que pensar que nosso mercado são e serão pessoas que têm uma vida online constante e que na Internet tudo se espalha com uma velocidade incrível. (...) A personalização do serviço e a velocidade de resposta tem que ser prioritárias Profissional de Social Media
buscar uma especialização, pós graduação e/ou mestrado.” Inúmeras possibilidades Para Diego Lima, farmacêutico bioquímico que trabalha com citogenética e biologia molecular, há uma infinidade de áreas nas quais o profissional de farmácia pode atuar. Atenção farmacêutica, análises clínicas e toxicológicas, farmácia comercial, hospitalar e magistral (de manipulação) são algumas delas. Na opinião do farmacêutico formado desde 2006, o preparo das universidades deixa muito a desejar para aqueles que querem trabalhar com genética. “A graduação em farmácia é fundamental por conta do embasamento teórico, mas para trabalhar com genética, que considero ser o futuro para farmacêuticos, você precisa procurar uma especialização”.
Suas motivações em ir para essa área, que estuda a constituição genética das células, foram tanto financeiras quanto pessoais: “Decidi trabalhar com isso por constatar que na época, e até hoje, poucas pessoas atuam nisso no Brasil. Também por desejar contribuir com pesquisas e diagnósticos de doenças”. Além da genética, Diego cita uma ciência que irá beneficiar bastante a comunidade: a Farmacogenômica: “É uma parte da farmacologia que se preocupa em pesquisar a variabilidade genética dos indivíduos a fim de conseguir produzir a resposta farmacológica de uma droga e sua toxidade. Com isso, poderemos propor um tratamento individualizado. É o futuro”. Para o coordenador do curso de farmácia da Universidade de Fortaleza, Expedito Cordeiro, o curso de farmácia de fato não consegue dar conta de todas as demandas. “Há mais de 70 áreas em que o farmacêutico pode atuar. Até 2002 havia uma formação básica de quatro anos e mais um ano de habilitação. Com a reforma implantada em 2005, a carga horária do curso aumentou, assim como as disciplinas de estágio, e o foco principal do curso passou a ser a fabricação de medicamentos, área exclusiva desse profissional. Ou seja, já houve progressos”. Com a constatação da necessidade de adequação frente às novidades do mercado, está prevista, segundo o coordenador, outra reforma para 2013. “ Visamos a oferecer uma formação mais prática e organizar debates com pesquisadores.”
Sobrepressão - Qual sua opinião sobre a realidade do ensino, do médio ao superior? Xênia - Cada nível de ensino tem um grau de complexidade. A formação no ensino médio não substitui a formação técnica nem esta substitui a de nível superior. Todas são complementares. Temos uma política nacional, desde o governo Lula, de que o ensino médio deve ultrapassar o ensino propedêutico, ou seja, o ensino do conteúdo em sí, com a finalidade de aprovar os estudantes no vestibular. Há um esforço em preparar os jovens para saberem aplicar esse conteúdo, saberem fazer relações do que aprendem com o seu cotidiano. Sobrepressão - Geralmente, entre os jovens aparece a dúvida sobre o futuro profissional, se vão para uma universidade ou para escolas profissionalizantes. Na sua opinião, para ingressarem no atual mercado de trabalho, qual seria a melhor opção? Xênia - O mercado, mais do que nunca, precisa de pessoas que tenham formação contínua. Não é bom parar em uma única formação. Quanto mais ele passar por todos os níveis de ensino, como graduação, especialização, por exemplo, mais ele estará capacitado a atuar no mercado de trabalho. E só formando pessoas bem preparadas é que conseguimos nos desenvolver social e economicamente. Sobrepressão - É notável que alguns cursos não acompanham as demandas do mercado e que reformulações nas matrizes curriculares são necessárias. Como se dá a reforma curricular de um curso? Xênia - Diante de um mercado tão dinâmico, o colegiado de um curso costuma perceber a necessidade de avaliação e essa distância do que se dá em sala de aula da realidade lá fora. Geralmente, são feitas pesquisas junto a profissionais da área que já estão atuando e são discutidas as atividades que podem ser implementadas para, pelo menos, amenizar essa defasagem.
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Voluntários que ganham muito O que leva alguém a ajudar um desconhecido? Em 101º lugar no ranking mundial de generosidade, o Brasil tem pessoas dispostas a melhorar essa colocação
as pessoas no corredor, escondendo-se por trás dos lençóis; e uma mãe que chora recostada à janela do quarto com papel de parede de bichinhos, enquanto a filha de dois anos tem seus cabelos cortados. Aos poucos, a tristeza com a realidade do local parece ir se equilibrando com o que a voluntária recebe em troca. “No primeiro dia saí sufocada. A vontade de chorar é tão grande”. Ela explica que ainda se emociona, porém, já está mais habituada, o que ajuda nas atividades na instituição. “E eles são uma benção. O sofrimento maior é dos pais”, comenta, após fazer um desenho no braço da menininha que teve seu cabelo cortado. Passando em frente a um quarto, em direção ao elevador, a despedida do dia é feita por um bebê de menos de um ano, que faz pequenos intervalos no choro, provocado pela dor de uma injeção, e sorri com leveza para as pessoas no corredor.
Rebeca Nolêto e Sabryna Esmeraldo
Segundo pesquisa realizada pela Charities Aid Foundation (CAF), no ano de 2011, o Brasil passou a ocupar o 85º lugar no ranking que classifica os países pelo nível de generosidade de seus cidadãos, caindo nove posições em relação ao ano de 2010. Ao falar sobre trabalho voluntário, a pesquisa feita pela entidade revela que o Brasil caiu um ponto percentual comparado ao resultado de 2010, o que levou o País ao 101º lugar no ranking mundial, empatado com África do Sul, Bangladesh, Camarões, Itália, Mali, Marrocos, Moçambique e República Democrática do Congo. Mesmo com essa realidade, existem pessoas que ainda doam um pouco de seu tempo para ajudar o próximo. Se, inicialmente, o trabalho voluntário é visto como algo em que não se ganha nada, as experiências vão mostrando que, mesmo sem remuneração, quem realiza esse tipo de atividade ganha algo muito maior. Joaninhas pelo hospital Era como entrar em um mundo diferente, bem diferente do imaginado, pelo menos. A expectativa de ser um lugar triste parecia se refletir no rosto de alguns adultos, mas não no de todos. Ao redor dos sofás, sob os enfeites coloridos no teto, crianças iam chegando e a seriedade encontrada nos mais velhos não parecia atingir a maioria delas. No andar de cima, muitas seguem em direção a uma sala colorida, com carrinhos, quebra-cabeças espalhados nas pequenas mesas de várias cores e outros brinquedos. Entre as crianças, uma menininha loira brinca perto da mãe, que a observa atenta. Tímida, Joana troca os brinquedos por um desenho para pintar. “Ela tem um tumor no cérebro. Já fez três cirurgias”, conta a mãe. A menina, de três anos, permanece rabiscando o papel enquanto Carla explica a história da filha. Após a terceira cirurgia, o tumor de Joana foi retirado, mas está voltando. Além disso, foi colocada uma válvula para solucionar uma hidrocefalia. “Não tem explicação. O pai dela veio sozinho pegar o exame. Ele chegou transtornado. Foi horrível para toda família”, explica emocionada, lembrando o momento em que soube da doença da filha, que agora está em tratamento de
A voluntária Eloísa Abreu faz pinturas nas crianças da Associação Peter Pan Foto: Rebeca Nolêto
Eloísa Abreu Marques
A gente tem todo dia que agradecer por nossa saúde, principalmente dos filhos”.
Luana Carolina
“Não é mais uma visita de caridade, nem sei se algum dia foi, ali é um encontro de amigos”
Voluntária do Peter Pan
Voluntária do RiSonhos
quimioterapia. Do outro lado da sala, em uma pequena fila, crianças esperam ansiosas a hora de receberem pinturas em seus braços. Em poucos minutos, borboletas, flores e super-heróis vão aparecendo. O crachá da voluntária, sobre o avental azul da Associação Peter Pan, mostra o nome da autora dos desenhos: Eloísa Abreu. Em outro momento, Eloísa fala sobre Joana. “Ela adora pintar joaninhas nos braços. Toda vida ela diz ‘Duas, tia, duas’, ela quer sempre ser a primeira”, conta. Sobre o que passa na cabeça nesses momentos, ela afirma: “Nossa, a
gente tem todo dia que agradecer por nossa saúde, principalmente dos filhos”. Para a mãe de Joana, a filha é um exemplo. “Aprendo principalmente a ter força, a levantar a cabeça. Cada dia que passa, a força dela é demais”, explica, contando que a filha sai do local alegre. Mudança de planos O 3º andar do prédio é bem iluminado. Pelos corredores coloridos é possível perceber árvores, cogumelos, animais, balões e outras figuras que enfeitam as paredes e parecem dar leveza ao ambiente composto por tubos e aparelhos hospitalares.
Eloísa se dirige a um dos últimos quartos para cortar o cabelo de um jovem de 14 anos. Cabeleireira profissional, a voluntária faz parte do projeto Oficina das Mães, oferecendo cortes de cabelo para as mães todas as quartas-feiras. Entretanto, desde o começo de seu trabalho no Peter Pan, em agosto de 2011, Eloísa se reveza entre os cortes de cabelo das mães, os cortes de cabelos de algumas crianças e, quando há tempo, as pinturas na brinquedoteca. Outro pedido de corte de cabelo aparece para Eloísa. Agora para uma garotinha. Caminhando mais uma vez entre os quartos, a maioria deles claros, com janelas abertas, é possível observar alguns pertences pessoais que transformam as enfermarias em um novo lar temporário. Vê-se ainda um pai que dorme com o filho pequeno em uma cadeira ao lado da cama; duas meninas de aproximadamente cinco anos que brincam com
Sorriso não tem idade Muito ranzinza, um pouco enjoado, não costumava do quarto e ficava sempre em sua cama. Estas características que inicialmente marcaram seu Carneiro para a voluntária Luana Carolina mudaram com um pouco de paciência. “Fui chegando aos poucos, por intermédio de outro senhor do quarto. Gradativamente ganhei sorriso, depois aperto de mão, cheguei a ganhar até um ‘senti sua falta’”. Luana ressalta que o mais importante e especial é que, com um pouco de carinho e conversas, hoje, seu Carneiro não fica mais no quarto o tempo todo, sendo presença certa na pracinha do lar de idosos, pelos corredores e banquinhos. Ele agora carrega um sorriso nos lábios. A atenção dos olhares no momento em que os voluntários chegam ao Lar de Idoso e durante cada conversa, o esforço de um sorriso e o jeito como os idosos levam a vida, mesmo com as limitações impostas pela idade, chamam a atenção de Luana, que diz levar muito de cada ato. Sobre o voluntariado, a jovem indica a todos. “Precisamos de atividades de movimentação diária do mundo, por achar que nem tudo tem que ser feito esperando um resultado unicamente para si, pensar em como isso vai transformar o todo”, afirma. Para a jovem, o que mais encanta no contato com os idosos é o ato do encontro. “Depois de dois anos que visitamos o lar de idosos, não é mais uma visita de caridade, nem sei se algum dia foi. Ali é um encontro de amigos”, conta feliz.
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ONGs capacitam voluntários previamente O choque da primeira visita de Eloísa Abreu Marques à Associação Peter Pan foi substituído por amizades e admiração pelas crianças. “Lá eles fazem como se não fosse uma doença. Mesmo com aquelas máscaras, as meninas com toquinhas na cabeça, não parecem que estão em um hospital. Até porque lá é muito lindo”, conta Eloísa. Há três anos e dois meses participando da ONG RiSonhos, Luana Carolina já trabalhava com idosos antes, quando participava da Pastoral do Idoso em seu bairro. Há mais de um ano, a estudante de Ciências Sociais integra o Núcleo de Atos, responsável pela organização das visitas dos voluntários. “Quanto ao lar de idosos, nosso trabalho no núcleo é a melhora do ato”. Luana explica que o planejamento é feito em encontros mensais, onde decidem, por exemplo, levar música para alegrar o São João do abrigo, uma flor no dia das mães, panetone no natal, além de discutir a forma que cada membro se dispõe durante o ato. A preparação dos voluntários é fundamental. Para capacitar quem deseja trabalhar no Peter Pan, a Instituição realiza dois cursos por semestre, número que pode variar devido à grande procura. A apresentação dos projetos sociais e o treinamento adequado compõem este momento e para participar é preciso se cadastrar previamente. O RiSonhos também promove seu processo de admissão de novos membros por meio de uma capacitação. Segundo Guilherme Muchale, presidente da ONG, “o objetivo é repassar o conhecimento necessário para fazer com que os voluntários não conheçam apenas sobre humanização de instituições hospitalares e de abrigo, mas também se tornem cidadãos proativos”, explica o analista econômico, de 27 anos. Mas o necessário para se tornar um voluntário vai além. O compromisso de manter a frequência das visitas é de ex-
Entrevista
Rosa Brito
A certeza da motivação correta Psicóloga com formação na teoria psicológica “Abordagem centrada na pessoa”, a professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) Rosa Brito já realizou trabalho voluntário durante oito meses e, atualmente, dedica-se à psicologia clínica e à docência.
Emoção e muita alegria no momento em que o projeto social RiSonhos oficializou o processo para se tornar ONG Foto: Arquivo Pessoal
Sobpressão - O que motiva uma pessoa a realizar um trabalho voluntário? Rosa Brito - A gente pode pensar em opiniões das mais diversas. Como eu já fui voluntária, o que me motivava era o trabalho com as crianças. São experiências das mais diversas. Sobpressão - Quais os benefícios emocionais para um voluntário? Rosa Brito - A gente tem uma construção social de que o trabalho voluntário traz benefícios pelo fato de não estar sendo um trabalho remunerado. É uma coisa que parte da vontade pessoal, não de uma vontade ligada a algo que se ganhe materialmente. Talvez um ganho de ordem existencial, ou seja, estou aqui cumprindo algo que me motiva pessoalmente.
Eloísa, em frente ao local da campanha “Tijolinho do Bem”, um dos projetos da Associação Peter Pan para arrecadação de fundos para a instituição Foto: Sabryna Esmeraldo
Sobpressão - Para quem recebe, quais os benefícios? Rosa Brito - Não sei se as crianças, por exemplo,entendem que é um trabalho voluntário, elas entendem como uma ajuda. Em um momento de adoecimento é fundamental você se sentir amparado, seja por um voluntário ou não. O importante é ser apoiado e acolhido em seu sofrimento. Sobpressão - O que a pessoa precisa trabalhar em si para iniciar um trabalho voluntário? Rosa Brito - Nessa história da construção social do que é o voluntário, se não é uma vontade da pessoa, se é uma coisa de querer ser visto como alguém bom, vai chegar uma hora em que o trabalho, que não é remunerado, que não é pago de alguma maneira, vai pesar para ela. Não é uma coisa que ela está com vontade de fazer, mas que acaba fazendo para obter algum tipo de reconhecimento outro que não é o ganho material. É preciso ter a certeza do que você está querendo ali, o porquê de você estar querendo investir no trabalho voluntário. É uma fantasia que, às vezes, se contrói e que, depois de um tempo, eu vou ganhar algo com isso. Isso não vai acontecer. Você não vai receber nada. O trabalho não pode ser vinculado a isso.
Carla e Joana, mãe e filha dirigem-se ao Peter Pan para tratamento de quimioterapia há dois meses Foto: Sabryna Esmeraldo
trema importância. A responsabilidade com os cuidados indicados pela Instituição ou projeto é fundamental. Segundo Vânia Maria Assis Ribeiro, responsável pela gestão do voluntariado do Peter Pan, a motivação deve partir do voluntário. “Para ser voluntário, primeiro precisa dispor de tempo e o tempo a gente faz; segundo, precisa abraçar a causa”, explica. Aos poucos, voluntários como Eloísa percebem o quanto o resultado do traba-
lho e o que recebem com ele é maior do que a pequena doação de tempo. Mesmo quando tem problemas, a cabeleireira não desanima. “A vontade de ir é ainda maior, como se lá não fosse problema”. Já Luana, conta que o voluntário precisa ter vontade, comprometimento e motivação. “Aqui, no RiSonhos, se seu coração pulsa mais rápido em ver o sorriso de um idoso, você consegue encaixar esse trabalho na sua vida”, afirma.
Saiba mais
Peter Pan
A Associação Peter Pan (APP) é uma entidade sem fins lucrativos, sem caráter religioso ou partidário. Assiste 2.019 crianças e adolescentes com câncer e seus familiares. Os pilares e ações da APP são: tratamento especializado por meio do Centro Pediátrico do Câncer (CPC) - trabalho realizado em parceria com o Hospital Infantil Albert Sabin - atendimento humanizado com 22 projetos sociais voltados para as crianças e os adolescentes atendidos pela Associação e diagnóstico precoce através do Núcleo Mais Vida, que desenvolve ações de diagnóstico precoce e de cuidados biopsicológicos. Doações: (85) 4008.4109 Como ser um voluntário: (85) 8713.0703
Conversas, paciência e muito carinho compõem o ato dos voluntários do RiSonhos no Lar de Idosos (18 de setembro de 2011)
Foto: Arquivo Pessoal
RiSonhos
A RiSonhos é uma organização não-governamental voluntária que tem como membros palhaços amadores. A ONG atua a mais de quatro anos em instituições de longa permanência voltadas para idosos e em instituições hospitalares que prestam atendimento de crianças e adolescentes na cidade de Fortaleza. Atualmente, os voluntários visitam, com a figura do palhaço, o Hospital Infantil Albert Sabin e a ala infantil do Instituto José Frota (IJF), e também o Abrigo de Idosos. Para mais informações: www.risonhos.org Guilherme Muchale 8618.5532 Rebeca de Castro 8858.7658
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NIC volta a funcionar Central de Fotografia
Coordenação d
G1000 Central de Rádio Redação Labjor
Pesquisa
Secretaria do NIC
Coordenação do NIC
Central de Fotografia
Quem cruzar a porta do novo Núcleo Integrado de Comunicação da Unifor (Nic) vai encontrar pela frente mais de mil metros quadrados da mais pura rotina profissional. Afinal, não é todo dia que assistimos ao funcionamento unificado de uma redação jornalística, agência de publicidade, web-rádio e TV. E se apenas a rotina de um desses ambientes é capaz de deixar seus integrantes elétricos, o que dizer de um espaço em que tudo funciona de modo agregado? Mas não é nisso que os estudantes dos cursos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Unifor levam em conta quando disputam uma vaga para a equipe do Núcleo. Aqui, a prioridade é garantir uma boa preparação para o mercado de trabalho. “O Labjor me ensinou muito. Desdedetalhes da escrita até um olhar mais crítico em relação ao texto, imagem e diagramação dos produtos. Conheci pessoas muito boas em suas áreas, que me ensinaram muito também”, avalia a atual assessora de imprensa do Banco do Nordeste no Ceará, Gabriela Ribeiro, que estagiou
Redação Labjor
Jáder Santana
WebTV
Central de Rádio
O Núcleo Integrado de Comunicação da Unifor foi reaberto com nova proposta que privilegia a construção coletiva de ideias e produtos
G1000
no Nic/Labjor entre os anos de 2009 e 2010. O espaço ainda reúne alguns alunos de informática e audiovisual que já estagiavam em células específicas do Núcleo. Outras células que exerciam trabalhos semelhantes, mas de forma separada, também foram unificados. Este é o caso das equipes de fotografia dos cursos de Publicidade & Propaganda e Jornalismo. Agora, todos os fotógrafos irão atuar juntos tendo em vista uma troca substancial de informações e ideias. A integração é total! Carne e Unha A disputa de egos entre jornalistas e publicitários é coisa do passado. Quando a palavra de ordem é “integração”, não há espaço para rivalidades sem fundamentos. “A publicidade e o jornalismo eram bem separados, quase uma concorrência. Agora, com todos trabalhando praticamente no mesmo ambiente, a convivência vai ser facilitada”, conta Ariel Sudário, atual estagiária do Jornal O Povo que enfrentou a rotina do Labjor por seis meses em 2010. Quem já tem experiência no mercado que vai além dos muros da Universidade também vê como valioso o processo de integração das células e a gradativa conexão entre os estudantes dos dois cursos. “Ao compartilhar suas experiências, os alunos poderão ter uma ideia melhor do processo produtivo de outras áreas que não as suas e sairão
Turma integrada e boas ideias em profusão: a cara do novo Nic Foto: Raphael Villar
mais capacitados para o mercado de trabalho”, acrescenta Gabriela, que ainda aponta a necessidade de que o futuro profissional tenha noções de diversas áreas e assuma seu lado de “homem-mídia”. Outro ponto importante que veio com a junção física das células foi o modo integrado de produção dos conteúdos. O que já era praticado pelos alunos que fazem parte do Núcleo, agora ganhou força. Aturma da publicidade vai
dar mais vida aos anúncios da revista A Ponte, o pessoal da TV vai produzir vídeos para o blog, a equipe de fotografia vai melhorar a qualidade das imagens dos outros grupos e assim por diante. Tudo com o objeti-
vo de aumentar a qualidade do conteúdo que é produzido. Entre tantas novidades, fica a certeza de que, mais do que nunca, o Núcleo Integrado de Comunicação se consolida como espaço de aprendizado.
Serviço Para receber informações sobre estágios e bolsas, entre em contato com o Núcleo Integrado de Comunicação (NIC): Universidade de Fortaleza (Unifor), Bloco Q, Sala 21 Tel: (85) 3477.3105 ou (85) 3477.3238 Blog do Labjor: www.blogdolabjor.wordpress.com
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com integração total Agência
do NIC
Produção Gráfica
Atendimento Agência Secretaria do NIC
Ilha de Edição
Sala de Estar
Atendimento Agência
Agência
Produção Gráfica
Boas lembranças e horas de distração Não é só de trabalho que vive o Nic. Além de oferecer aos seus estagiários uma ampla área em que possam exercer e experimentar de forma plena a atividade profissional que escolheram, o Núcleo possui um Espaço de Descontração. Nos intervalos entre as horas de trabalho, os estudantes poderão aliviar as ideias, descontrair os humores e fortalecer laços de amizade e coleguismo. Para a ex-estagiária Ariel Sudário, as amizades que cultivou são as melhores lembranças daquele período: “é um trabalho leve e que te permite conviver com os outros estagiários”, relembra. Também rendem boas lembranças as intermináveis reuniões de pauta e criação – muitas vezes recheadas de mo-
mentos de ânimos alterados – e os preparativos para concursos que não cansam de premiar os produtos do Núcleo, como conta Gabriela: “tenho várias recordações boas. Adorava as discussões que tínhamos sobre as pautas da A Ponte e as votações para escolher as fotografias de capa. Mas acho que a melhor parte foi escrever o paper da Intercom 2010. Foi o primeiro trabalho que eu fiz para um evento desse porte e um desafio muito grande”. Para os atuais integrantes das células que formam o Núcleo - e também para seus futuros membros - fica a certeza de que boas experiências são tão importantes quanto um currículo cheio e de que, de vez em quando, uma partida de xadrez pode melhorar os humores.
Confraternização de abertura do novo Núcleo Integrado de Comunicação (Nic) Foto: Raphael Villar
Enquete
Qual sua melhor lembrança dos tempos de estágiono Nic? “No Labjor, além de poder me aperfeiçoar na reportagem, pude ter uma ótima noção de edição e, principalmente, de planejamento. Isso me ajudou muito no momento de colocar a técnica em prática.”
“O Nic é o primeiro contato que o estudante tem com as noções de mercado, cliente, prazos e métodos aplicados. Você trabalhar com os seus colegas de faculdade torna tudo mais prazeroso e divertido.”
“Participei da produção e gravação do programa Rádio em Destaque. Foi uma época de muito crescimento. A experiência é extremamente válida, é um novo aprendizado e a gente conta com muita assistência.”
“Foi uma das melhores coisas que já fiz na vida. O ‘tio’ Júlio realmente compartilhou um terço da experiência dele com os estagiários, ele foi e é o melhor ‘patrão’ que alguém pode ter.”
“Foi uma ótima experiência! Eu estava querendo estagiar em alguma redação para saber como é a dinâmica de reunião de pautas e correr atrás de sua matéria. Foi um grande aprendizado.”
Pery Negreiros Editor do Jogada no Diário do Nordeste
Acauan Sanders Ex-estagiário da Agência de Publicidade
Sabryna Esmeraldo Ex-estagiária da Rádio Unifor
Clara Magalhães Ex-estagiária da Central de Fotografias
Erika Neves Ex-estagiária do Labjor
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Cidadãos não conhecem sistema eleitoral brasileiro Com uma educação política inexistente e programas falhos, brasileiro vota mal e desperdiça chances de mudanças no cenário político e social do País
Augusta Henz e Kamyla Lima
Como funcionam as eleições no Brasil? O que é coligação? Como votar consciente? Essas são apenas algumas das muitas dúvidas que os cidadãos possuem sobre as eleições. São muitos os termos, os detalhes e as informações que passam despercebidos pelos eleitores, fazendo com que o conteúdo eleitoral de cada um se limite somente a decidir em quem votar. O sistema eleitoral brasileiro pode ser confuso. Por exemplo, nem sempre o candidato mais votado é o que ganha. “A Constituição adota sistema proporcional. A maioria dos eleitores não entende como funciona esse sistema. A vaga de uma casa legislativa é distribuída proporcionalmente aos votos do partido”, explica o professor de Direito Eleitoral, Emmanuel Girão. Isso quer dizer que o partido político do candidato precisa receber uma quantidade mínima de votos para ocupar uma vaga no poder. “No sistema proporcional, se um partido obtém uma certa porcentagem de votos, ele recebe um número correspondente em vagas”, completa o professor. Essa minoria de votos gera outra característica do nosso sistema eleitoral, as coligações. “Dentro da lei, o que limita as coligações no aspecto prático é o interesse”, enfatiza Girão. O que acontece é que partidos pequenos percebem que não vão obter votos necessários para ocupar uma vaga sequer. A solução é apoiar partidos maiores e ser
recompensado com uma secretaria, por exemplo. As coligações oferecem vantagens também para partidos médios e grandes. “A propaganda na televisão e no rádio é proporcional ao número de deputados federais”, comenta Girão. Logo, se dois partidos de maior representação se unem, conseguem mais tempo dentro dos principais veículos de comunicação. É válido enfatizar que votos proporcionais são utilizados para preencher as casas legislativas. Na hora de definir o
Josênio Parente
Nós temos um presidencialismo tendendo para uma estrutura parlamentarista. Professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará
presidente, o governador ou o prefeito, o que conta é o voto majoritário. Ou seja, quem receber mais de metade dos votos (50%) assumirá o cargo. Além disso, muitas pessoas não sabem para que servem os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Segundo o professor Girão, “o Legislativo cria as leis e fiscaliza o poder executivo. O Judiciário julga os conflitos de interesses aplicando as leis elaboradas pelo Legislativo. Já o Executivo administra de acordo com as leis, inclusive a lei orçamentária, que diz como os recursos públicos devem ser aplicados”. Ana Carolina Maciel vai completar 18 anos este ano e é uma estudante como qualquer outra. Tem seus deveres estudantis e
familiares, mas, neste ano, recebeu ainda mais uma obrigação: pela primeira vez, ela terá que votar em uma eleição. No entanto, vê-se diante de um dilema: como escolher um candidato adequado? Ana é apenas uma entre milhares de jovens que, ao se tornarem maiores de idade, deparam-se com a responsabilidade de votar e tentar mudar o rumo do seu país, estado ou cidade. A maioria dos eleitores não recebeu qualquer tipo de informação sobre candidatos, eleições e há muito não ouvem falar do histórico brasileiro na democracia. Não raro, percebe-se uma grande quantidade de dúvidas. Ao ser questionada sobre as funções eleitorais, Ana Carolina responde com sinceridade: “conheço sim, mas superficialmente”. O posicionamento dos jovens em relação ao modelo eleitoral brasileiro e quanto ao que se deve levar, ou não, em consideração nas propostas dos candidatos ainda é muito fraco. Segundo Vicente Aragão, chefe da Seção de Planejamento de Programas do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), muitos eleitores ainda estão apegados às opiniões familiares sobre em que partido ou em qual candidato votar. Essa falta de conhecimento se deve, talvez, ao fato de que a educação eleitoral não é vista como disciplina obrigatória nas escolas, fazendo com que seja cada vez mais difícil receber-se uma informação política adequada. O sistema de educação ainda é falho, mas não é de todo negligenciado. No Estado, o TRE possui um programa especializado para promover a educação política dos jovens na faixa etária de 12 a 17 anos de idade, o chamado Programa Eleitor do Futuro.
Título de eleitor, um pequeno passo para grandes mudanças Foto: Augusta Henz
Embora esse seja um programa só para jovens, qualquer pessoa pode ir até o TRE para buscar informações. Além disso, com o avanço da Internet, fica mais fácil realizar pesquisas sobre partidos, candidatos e o sistema político brasileiro. Um assunto que passa despercebido pela maior parte dos jovens é a Reforma Política. Poucos entendem como serão afetados se houver mudanças no sistema eleitoral. Emmanuel Girão esclarece que não há chance de qualquer mudança ser efetivada este ano, mas não exclui a possibilidade de que em 2014 já possamos contar com algumas mudanças. Candidato x Partido “Nós temos um presidencialismo tendendo para uma es-
trutura parlamentarista. E o parlamentarismo pressupõe um processo de representação e fortalecimento de partido político. O Brasil nunca teve partidos políticos fortes. A nossa democracia é personalista”, argumenta o professor de Ciências Sociais Josênio Parente. Ou seja, é comum o eleitor se identificar com o candidato e não com a bandeira que o partido defende. Ao ser instigado a aconselhar os eleitores de todas as idades, Girão sorri e brinca, “Nós deveríamos atuar nas eleições como atuamos no futebol. Se você torce por um determinado time, vai torcer independente de quem estiver jogando lá. Nós deveríamos escolher e cobrar dos partidos, e, assim, o partido cobraria de seus candidatos”.
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Entrevista Humberto Dantas
Por um voto consciente O Movimento Voto Consciente foi criado em 1987 por um grupo de pessoas insatisfeitas com o rumo da política brasileira, grupo esse que decidiu trocar a indignação e angústia pela ação efetiva. Sobpressão - Qual o objetivo do movimento? Humberto - São dois: fiscalizar o poder legislativo local (cidade ou estado) e educar politicamente a sociedade. Entendo que sejam os principais. Sobpressão - De que forma vocês atuam na sociedade? Humberto - Por meio de voluntários que acompanham e divulgam os trabalhos do poder legislativo, sempre sob viés de avaliação e por meio de cursos e palestras sobre a importância da participação política consciente. Tudo isso sob viés suprapartidário. Sobpressão - Como vocês fazem para que a ideia do movimento chegue às pessoas e faça diferença? Humberto - Temos uma credibilidade imensa junto à mídia e isso faz muita diferença. ALém disso, estamos presentes nas redes sociais. Caminhamos devagar, mas conscientes!
TRE-CE incentiva jovens eleitores O Programa Eleitor do Futuro vem sendo desenvolvido desde 2003 por meio da Escola Judiciária Eleitoral (EJE) do Ceará e atua, principalmente, nas redes públicas de ensino fundamental e médio, visando estimulá-los a exercer o voto com consciência. O programa tem duas vertentes. Uma delas baseia-se em orientar os professores para que eles possam fazer palestras e atividades que fomentem a educação eleitoral. É ministrado um curso pelos funcionários da EJE, visando preparar os professores, de maneira que eles levem as informações da forma mais didática possível para os alunos. Já a segunda vertente baseia-se em incentivar os alunos a votar a partir dos 16 anos. O alistamento, que os leva a tirar o título de eleitor, acontece nos anos não eleitorais. De acordo com os dados fornecidos pela EJE, no ano seguinte à inauguração do programa, o número de eleitores entre 16 e 17 anos cresceu cerca de 74%. O programa funciona com o apoio da Secretaria de Educação (SEDUC), e tem como um
Vicente Aragão, responsável pela Escola Judicial Eleitoral do Ceará e um dos incentivadores do programa Eleitor do Futuro. Foto: KaMyla liMa
de seus realizadores o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Segundo Vicente Aragão, chefe da Seção de Planejamento e Programas do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, a intenção é trabalhar a consciência política dos jovens. “Esse trabalho que a gente faz transforma o jovem em um formador de opinião. Ele começa a ter um senso crítico”, argumenta. Além dos professores, juízes e servidores também passam por constantes reciclagens para atualizar seu conteúdo eleitoral.
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Entenda os cargos políticos Neste ano de 2012, os cidadãos terão que escolher os candidatos que ocuparão os cargos de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador. Para isso, precisarão analisar as propostas de cada um deles referentes às atividades que deverão ser executadas durante o mandato. No entanto, para melhor fazer essa escolha, o eleitor precisa conhecer quais as funções de cada cargo político. Vereador O Vereador é o representante do povo na Câmara Municipal. Ele possui duas funções principais: fiscalizar as ações da Prefeitura e legislar, ao criar ou aprovar projetos de leis que afetam a vida dos moradores do município, apresentados pelos parlamentares ou pela sociedade civil. Prefeito O Prefeito é o administrador do município. Ele possui a função de ouvir as reivindicações, assim como buscar suporte financeiro nos governos Estadual e Federal para realizar melhorias no município. Esse representante necessita do suporte dos seus secretários, como também do apoio dos vereadores da Câmara Municipal.
Deputado Estadual O Deputado Estadual representa o povo na esfera estadual, desempenhando suas funções na Assembléia Legistaltiva Estadual. Entre suas principais atividades estão legislar, propor, emendar, alterar, revogar e derrogar leis estaduais. Deputado Federal O Deputado Federal é o representante do povo no Congresso Nacional. Ele faz as leis que afetam a vida de todos num país, também aprovam, ou não, o orçamento federal. Governador do Estado O Governador é o administrador do Estado. Ele nomeia os secretários estaduais e decide como utilizar os recursos arrecadados com os impostos que paga-
mos para realizar melhorias no Estado. Senador da República É o representante do Estado no Congres- so Nacional. Entre as suas atribuições, o senador tem a responsabilidade de zelar pelos direitos constitucionais do povo, de analisar e de aprovar, ou não, projetos de leis, assim como de fiscalizar a atuação do presidente da república, entre outras atividades. Presidente da República O Presidente é o administrador do País. Nomeia os ministros que o auxiliam e decide como usar os recursos arrecadados com os impostos que pagamos.
Um pouco das eleições no Brasil Embora nem todos, atualmente, concordem com a obrigatoriedade do voto, é válido lembrar que ao longo da história muitas repressões, lutas e protestos foram realizados para que o direito de escolher o representante do país, província, estado ou cidade fosse concedido ao povo. Foram passos pequenos, mas que nos trouxeram o direito do voto e o poder de contribuir com possíveis mudanças do ambiente no qual vivemos.
1932
As mulheres conquistam o direito do voto. O voto passa a ser secreto
1937
Getúlio Vargas instituiu o Estado Novo e o Congresso foi fechado, não tendo mais eleições no Brasil.
1945
Houve a reorganização partidária e convocação das eleições
1955
A Justiça Eleitoral produziu as cédulas de voto e o título eleitoral passou a exigir a foto para evitar fraudes
1964
Foi proibido o voto direto para presidente da República e representantes de outros cargos majoritários, como governador, prefeito e senador
1968
O Congresso foi fechado e diversos parlamentares tiveram seus direitos cassados. O bipartidarismo foi adotado no País.
1984
Milhares de pessoas foram às ruas exigir a volta das eleições diretas para presidente.
1988
A nova Constituição estabeleceu eleições diretas com dois turnos para a presidência, governos estaduais e prefeituras. Analfabetos e maiores de 16 anos conquistam o direito do voto
1993
Levou mais de 67 milhões de eleitores às urnas para decidir a forma e o sistema de governo. O povo decidiu manter a República e o presidencialismo, ao invés da monarquia e do parlamentarismo
1996
As urnas eletrônicas foram utilizadas pela primeira vez nas eleições municipais
2000
As urnas eletrônicas foram introduzidas em todo o País
Saiba quanto vale o seu voto Ao longo da história, o voto foi visto como um direito a ser conquistado. Mulheres e analfabetos passaram muito tempo sem poder expressar sua opinião. Depois de muitas reivindicações esse direito foi conquistado e hoje em dia ele é um dever. Embora nem todos concordem com a obrigatoriedade do voto, aos 18 anos todo cidadão brasileiro e alfabetizado deve ir à urna eletrônica e votar. Uma das principais dúvidas é o que aconteceria ao eleitor que não vota, nem justifica o voto. Emmanuel Girão, professor de direito eleitoral explica que, para se obter a quitação eleitoral, seria necessário pagar uma multa de R$3,00. “Não tendo quitação eleitoral, ele sofrerá algumas consequências mais graves que a multa. Quais são essas consequências? Não pode tirar passaporte, ou obter empréstimos de instituições públicas, não pode participar de licitação, ou passar em concurso público, e ser nomeado”. Segundo o professor, não importa quantas vezes a pessoa deixe de votar, contanto que apresente justificativa à Justiça Eleitoral, “Não há limites para o número de vezes que o eleitor pode justificar o voto ou pagar a multa. Fazendo isso, estará em dia, ainda que justifique ou pague a multa cinco, dez ou mais vezes. O que não pode é não votar, não justificar e não pagar a multa”, enfatiza. Nem branco, nem nulo. Na legislação brasileira, tanto o voto em branco quanto o voto nulo só contam para fins estatísticos. Ao contrário do que muitos pensam, o voto em branco não é computado para o candidato mais votado. Ele é anulado. Existe, sim, uma diferença interpretativa entre os dois. O voto em branco pode representar, muitas vezes, um eleitor indeciso ou que não sente necessidade de escolher um candidato para o cargo. Enquanto o voto nulo pode significar um protesto contra o modelo de eleição do Brasil, contra a corrupção, ou outra causa eleitoral a qual dê importância.
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e-Books ganham espaço no mercado editorial digital No mundo cresce cada vez mais o número de pessoas adeptas à leitura por telas. Tablets, leitores eletrônicos, smartphones. Bem vindo a era dos livros digitais. Ana Carolina Cunha e Caio Pinheiro
Há bem pouco tempo não podíamos imaginar que seria possível a leitura de um livro inteiro através de uma tela de cristal líquido. Segundo a empresa de pesquisas em telecomunicações Juniper Research, as vendas mundiais de e-readers (leitores eletrônicos) devem saltar de 25 milhões de aparelhos em 2011, para 67 milhões em 2016 no Brasil e no mundo, apesar do número ainda ser menor que o dos tablets. Criam-se aplicativos, programas, tudo relacionado à leitura online. Só a Apple, empresa norte-americana, uma das mais conhecidas no mundo, divulga em seu site a produção de mais de 140 mil aplicativos somente para o Ipad. Hoje a facilidade para baixar livros pela web permite o acesso a variados conteúdos. Após o lançamento do Kindle, o e-reader mais conhecido do mercado, ler um livro por uma tela já não é mais tão incomum. Para quem não quer comprar um Kindle, a leitura também pode ser feita de outras formas, como por exemplo, por tela de computador e pelos smartphones – Android, Blackberry, Iphones. Estes, no entanto, possuem uma tela menor, o que pode ser um incomodo para algumas pessoas. Para cada aparelho existem diversos tipos de aplicativo de
Papel x Tela Quem podia imaginar que existiriam maneiras diferentes de folhear as páginas de um livro? Foto: Ana Carolina Cunha
leitura, alguns de graça e outros pagos. Só para se ter noção, a primeira versão do Kindle surgiu em 2007 e no ano passado, a empresa Amazon divulgou que seu site está vendendo mais e-books do que livros de papel nos Estados Unidos, segundo o blogueiro Carlo Carrenho. E-readers x Tablets Os e-readers são feitos especialmente para a leitura de livros. Os tablets também podem ter essa função, mas eles são mais multifuncionais. O Ipad é um exemplo. Você desembolsa um pouco mais, para ter mais funções como: suporte de áudio e vídeo, câmera e navegador de Internet. Como o Kindle não tem um display de cristal líquido (LCD
Saiba mais
Nook Color Americana Barnes and Nobles: Tela de LED, tem mais capacidade de armazenamento que o Kindle, mas sua bateria dura em torno de 8h apenas.
Mas você trocaria o papelpela tela? O estudante Davi Pinheiro, que possui o aparelho Kindle desde o final de 2009, diz que sua motivação principal ao adquirir o leitor foi a preocupação ambiental, a diminuição do consumo de papel e também o conforto em vários sentidos. “Primeiro o dos olhos, já que a tela é projetada para não cansar a vista. Segundo o de comprar livros sem sair de casa. Para quem lê em outros idiomas há a vantagem de ter um acervo vasto . Eu sempre sofri para achar livros em francês, inglês e espanhol.” As livrarias que não querem ficar para trás na área da evolução tecnológica de livros pela Internet oferecem a compara de livros pelos seus sites, onde o tipo de arquivo disponibilizado é em formato PDF (Portable Document Format). Geralmente é mais em conta que o livro convencional, pois não necessita dos mesmos custos de produção de um livro impresso. A livraria Saraiva possui um aplicativo desenvolvido por seus próprios técnicos e o disponibiliza gratuitamente, em seu site, para qualquer usuário. Conta com seis mil exemplares de livros à venda no site. Com o cadastro que é realizado pelo consumidor na hora da compra, o relacionamento entre empresa e cliente se torna mais fácil, pois é através desse cadastro que a empresa consegue estreitar a relação e assim permitir futuros contatos, abrindo a possibilidade para novas compras. O leque de possibilidades para o mercado de download de livros não se restringe apenas aos que são pagos. Existe nas livrarias virtuais um grande acervo disponível de livros que não são encontrados facilmente nas lojas, incluindo obras em outras línguas e obras específicas para áreas da saúde, humanas entre outras. Alguns aplicativos que disponibilizam esse tipo de serviço gratuito são: Free eBooks, Amazon Kindle, 4shared.
Enquete
Três sugestões de aparelhos Aqui vão alguns tipos de leitores eletrônicos que estão disponíveis no mercado.
– que emite luz), e usa a tecnologia e-ink (papel eletrônico em que incide a luz), pode ser usado em qualquer lugar, até em praias. A vantagem do Kindle é que sua bateria dura muito. Ligado à rede wireless, dura em torno de três semanas e, sem ser ligado à rede sem fio, dois meses. Já o Ipad 2 dura em torno de 10 horas dependendo da forma como é usado. Quanto a capacidade de armazenamento, tratando-se apenas de livros, o Kindle pode armazenar até 3500 (3GB) e o Ipad vai de 19 a 38 mil livros (16 e 32GB). Em termos financeiros, os tablets podem sair um pouco mais caros que os leitores específicos de livros. Mas antes de adquirir qualquer um desses aparelhos é interessante
saber por onde começar e para qual finalidade ele será usado.
Motorola Xoom Diferente do Ipad 2, tem maior capacidade de armazenamento, a tela é maior e pesa mais. Sony Reader Tela de 6 polegadas, memória interna de 2GB e a bateria dura em torno de 107h.
Você prefere Tela ou Livro de Papel? Há quem não troque o cheiro e a textura do papel por nada. Já outras pessoas aderiram aos leitores eletrônicos como ferramentas do dia a dia. “As vantagens são enormes: menos papel, menos peso, possibilidade de aumentar ou diminuir o brilho da tela de acordo com a luminosidade e variedade de conteúdo gratuito, de fácil acesso na Internet.”
“Não tenho vontade de ter um tablet. Prefiro ler no papel. Embora inovador, os tablets, na minha opinião, não irão substituir os livros. Apenas irão trazer uma nova forma de leitura. A gente soma e não diminui.”
Maria Falcão Estudante de Jornalismo
Carolina Benevides Jornalista
Entrevista Tácito Soares
Esquecer de piscar pode irritar os olhos Surgem diversas dúvidas sobre o tempo de exposição dos olhos às telas, tanto de computador, quanto de tablets. O residente em oftalmologia Dr. Tácito Tavares diz que essa questão de fazer mal ler muito em telas não passa de um mito Sobpressão - Existe algum mal causado pela leitura em tela? Tácito Tavares - O uso da leitura por tela não vai prejudicar em nada a visão da pessoa. A questão em relação aos tablets, às telas de computadores e até mesmo à folha de papel é você diminuir o ato do piscar. Você vai ter uma sensação do olho um pouco mais seco, e isso, dependendo do ambiente em que você se encontra, pode causar um leve aumento de irritação e do incômodo. Principalmente em computadores e tablets, que aumentam mais a exposição da luz, você acaba piscando menos e o olho resseca mais, por essa razão, fazendo com que sinta essa irritação. Sobpressão - Pode acontecer a mesma coisa lendo um livro? Tácito Tavares - Sim. A questão é que o uso da leitura antigamente acontecia desde muito cedo. As crianças, geralmente a partir dos seus 12 anos, já procuravam muito a leitura de livros e o ato de não piscar pode acontecer da mesma forma com livros também. Sobpressão - Você acha que ler durante muito tempo, agora que começou essa febre de tablets, vai prejudicar a visão? Existe um limite de tempo que possa ser considerado prejudicial? Tácito Tavares - Não há nenhum estudo que diga que o uso prolongado de aparelhos de e-readers, tanto em smartphones, quanto em telas, poderá causar qualquer prejuízo. Então não há nada que indique isso. Sobpressão - Que dicas você poderia dar para as pessoas que leem muito em telas, para não prejudicar a visão, ou previnir uma possível irritação? Tácito Tavares - Em ambientes que são muito secos, fazer o uso de um lubrificante ocular, ou de algum produto que melhore a lubrificação do seu olho que impede que você tenha aquelas queixas. Se houver queixas persistentes, é interessante que você procure seu oftalmologista, porque pode existir alguma necessidade de correção visual que não está sendo feita e pode estar causando mal a você. É importante também não se automedicar. Procure um médico para se consultar e tirar dúvidas.
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Será que eles ainda sabem escrever corretamente? Os jovens estão cada vez mais inseridos na Internet e consequentemente em chats. Assim eles podem acabar levando o “internetês” para as salas de aula
Entrevista
Pela leitura o internetês sumirá Webster Lima, professor de português, acredita que o internetês influência na escrita dos alunos. Como a leitura desses alunos é somente os chats em que se encontram inseridos, a escrita deles acaba sendo prejudicada. Ele também acredita que esse caso pode ser revertido com o incentivo maior à leitura não somente por parte da escola, mas também dos pais.
Karen Limeira de Oliveira
A net troxe gndes mudancas p/ a xcritra. Mts palavrs q c/ o tmp já aviam sfrid gds mundncas, foram sndo adptds dvido ao rduzido n. d carctrs q eh dmanddo p/ envia 1 msg ou noticia. Ou melhor: a Internet trouxe grandes mudanças para a escrita. Muitas palavras, que com o tempo já haviam sofrido grandes mudanças, foram sendo adaptadas devido ao reduzido número de caracteres que é demandado para enviar uma mensagem ou notícia. Os maiores usuários da Internet e, consequentemente das redes sociais e sites de comunicação, são adolescentes e jovens que, com o passar dos anos, vão cada vez mais aproximando a escrita da oralidade, ou seja, cada dia que passa eles escrevem mais parecido com o que falam. E para que a mensagem escrita se torne cada vez mais fácil, rápida e compreensível, eles recorrem a artifícios como imagens, símbolos, siglas, smiles e emoticons. A grande questão é: essa escrita oralizada atrapalha nos estudos desses adolescentes, principalmente daqueles que prestarão vestibular? Segundo o professor de redação Alex Cruz, esse internetês não influencia em nada na escrita desses vestibulandos. “A Internet trouxe a esses adolescentes benefícios e malefícios, por exemplo: eles estão lendo mais, escrevendo mais, porém estão produzindo e se ‘alimentando’ de fontes com qualidades duvidosas”. Solange Teles, professora de português, afirma que a influência do internetês na escrita desses alunos fora do âmbito Internet é um mito. “Quando estou corrigindo as redações de vestibulares, o que percebo não são erros gerados pela influência da Internet e sim a dificuldade em expressar o pensamento e os erros ortográficos”. A professora também falou que esses alunos conseguem separar a escrita informal na Internet, por meio das redes sociais, da escrita formal. “A forma como eles escrevem nas redes sociais como MSN, Facebook ou Twitter e ainda por
Webster Lima
Pergunta - Professor, em sua opinião, o que seria o intenetês? Resposta - É a junção da linguagem na Internet com o português. Porém o internetês não forma uma língua, pois expressões consonantais como as que encontramos em chats e que esses alunos trazem para dentro da sala de aula, como por exemplo “beleza” que eles escrevem “blz” ou “cadê” que eles escrevem “kd” não formam palavras, pois é preciso a junção de consoantes com vogais. Pergunta - Existem categorias de alunos que usam o internetês? Resposta - Muitos alunos usam o internetês na redação e podemos dividir esses alunos, que usam o internetês em grupos que usam mais que usam menos e que quase não usam e eu parto para a questão que venho debatendo com meus alunos em sala de aula que é a questão da leitura. Quando os alunos se limitam a ler o que eles escrevem nos sites de comunicação, nas redes sociais e no texto a que eles têm acesso diariamente só existem diálogos a partir do intenetês a influência é inegável, porque eles só vão utilizar aquilo ali. Agora, quando o aluno tem o hábito de ler e conhecer vários textos, o internetês não influenciará tanto. Pergunta - A Internet influenciou muito a nossa língua? Resposta - Bem, além das abreviações que encontramos, podemos encontrar também os estrangeirismos, textos formados por clichês. Tudo isso faz a nossa língua sofrer. A Internet é um fenômeno social que vai interferir com certeza na divulgação, no trabalho. Eu acho que muito do que a língua vem sofrendo é consequência desse processo. Pergunta - Em sua opinião o que pode ser feito para que se reverta esse quadro? Danças, canções e oralidades foram conservadas entre as tribos, apesar do mito do desaparecimento Foto: Raphael Villar
SMS não influência em nada na escrita formal deles”. Já a professora Congetta Claudino afirma que a Internet influencia, sim, na hora da Glossário
Vc = Você Pq = Porque Naum; n; nom = Não Xim; s = Sim Intaum = Então Pokinho = Pouquinho Sb = Sabe Lhienda = Linda Fds = Final de semana Rs; kkk = Risos Axo = Acho Blz = Beleza Kd = Cadê Nois = Nós Nd = Nada Cum = Com Td = Tudo Q = Que Fiko = ficou Porfa = Por favor Vdd = Verdade Cmg = Comigo Kda = Cada
escrita desses adolescentes. Afinal, o tipo de leitura que eles fazem é somente os chats que eles mesmos alimentam. “Você escreve o que você lê. Há realmente alunos que trazem para dentro de sala de aula o internetês. Já vi muitos alunos escreverem palavras abreviadas, como se estivessem em chats ou redes sociais. Por exemplo, o ‘você’ que eles escrevem ‘vc’, entre outros”. A professora ainda apresentou outro problema que também atrapalha a escrita desses alunos que é o estrangeirismo. “A valorização do estrangeirismo chega a empobrecer a nossa língua, porque o estrangeirismo tem que vir para agregar o domínio sobre outras línguas, porém o que está acontecendo é a permutação.” Pode-se ver claramente a valorização do estrangeirismo nos letreiros das lojas. “Elas já surgem com nomes estrangeiros e isso acaba desvalorizando o nosso português, a nossa língua mãe.”
Resposta - Para a reversão desse quadro, a iniciativa não deve partir só da escola. Também não conseguiremos mudar o adulto, pois ele já está cheio de vícios de linguagem. É difícil mudar quanso se cria certos hábitos. O que devemos fazer é incentivar essa nova geração que, ainda está em fase de formação, a ler livros e textos que venham ajudá-las em sua escrita. Pois a partir do momento em que você conseguir educar uma geração, você vai promover um português melhor e uma educação melhor, digamos assim. Pergunta - Como podemos garantir a sobrevivência da língua portuguesa? Resposta - Por meio de textos. Eu preciso registrar textos, eu preciso fazer com que as pessoas leiam cada vez mais textos. Se os textos forem escritos e forem guardados, forem arquivados e virarem peças de bibliotecas, a língua não vai morrer, não vai acabar e vai melhorar a pática do idioma. E sabemos que a prática da leitura é fundamental para um português saudável. Pergunta - O senhor falou que o incentivo não deve vir somente da escola não é... Resposta - É. Os pais também têm que incentivar seus filhos a lerem, não para lerem o que eles produzem na Internet, mas sim textos que venham acrescentar. Hoje temos a facilidade de encontrar livros disponíveis gratuitamente para fazermos downloads. Eu enviei por e-mail para a minha filha um site onde existem mais de 400 obras arquivadas. É só ela clicar e ele faz o download automaticamente, ou seja, ela tem uma biblioteca virtual com livros maravilhosos da literatura portuguesa, da literatura brasileira, da literatura universal de autores ingleses, espanhois, franceses, que ela vai poder desfrutar. Isso é fundamental, combater com bons textos. Eu até posso usar o internetês por uma questão de praticidade, mas a minha língua é a língua portuguesa.
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Transporte público ou privado?
Caos na Monsenhor Tabosa, local de muito acesso onde motoristas são obrigados a enfrentar filas e a falta de estrutura. Foto: Lucas
O caos no trânsito se agravou nos últimos cinco anos, pois a frota de veículos cresce a cada dia, mas as ruas e avenidas de Fortaleza continuam as mesmas. Leiliane Marques
O caos no trânsito não é mais novidade para os cidadãos fortalezenses. Nos últimos anos, as vias estão impossibilitadas de trafegar com fluidez. Recentemente, o jornal Diário do Nordeste informou que Fortaleza recebe um incremento de 6 mil automóveis por mês, e até 2015 a frota deve ultrapassar a média de um milhão. Em números relativos, até junho de 2011, segundo o Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE), a cidade contava 772.170 veículos circulando. De dezembro de 2010 a junho de 2011, houve um aumento de 4,8%. O governo criou a Lei da Mobilidade Urbana para acabar com o problema que vem se agravando nos últimos anos. Essa lei tenta conscientizar o cidadão a usar mais o transporte público e deixar seu transporte particular somente para finais de semana e passeio familiar. Mas, nem todos aprovaram essa Lei. Uma parte da sociedade acredita que não terá efeito. Segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a mobilidade urbana no Brasil, 41% da população bra-
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Conheça as ações da Prefeitura para o tranporte público Saiba quais são os incentivos que a Prefeitura de Fortaleza e a Etufor realizaram para a utilização dos transportes públicos: • Tarifa Social (aniversário da cidade, último domingo do mês e no 1º de janeiro); • Hora Social (passagem reduzida de segunda a sexta, das 9h às 10h e das 15h às 16h); • Meia ilimitada; • Integração Temporal (utilizando uma passagem em combinações de ônibus); • Gratuidade para pessoas com deficiência e idosas; • Linha Central (com tarifas reduzidas em dias úteis); • Linhas Expressas; • Travessia Cidadã (travessia das plataformas de forma mais segura).
sileira acha que o serviço de transporte público é ruim no País. A pesquisa apontou que os ônibus são, em geral, mal conservados e impontuais. Incentivos A Prefeitura de Fortaleza, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) e os Transportes de Fortaleza (Transfor) sabem que para mudar o pensamento dos cidadãos e convencê-los a usarem mais os transportes urbanos é preciso trabalhar para melhoria da qualidade e agilidade dos mesmos, além da infraestrutura da cidade. De acordo com a Etufor já foram providenciados, pelas
empresas dos ônibus, novos transportes para melhorar o serviço. Uma parceria entre a Prefeitura de Fortaleza e as empresas foi firmada para realizar campanhas de incentivo ao uso deste tipo de transporte. Redução de tarifas, integração temporal e melhorias em todos os terminais e praças de estação da cidade buscam convencer o cidadão a deixar o carro em casa. O Metrô de Fortaleza (Metrofor) foi criado para amenizar a superlotação nos transporte públicos. O projeto já está pronto, mas não há previsão para a inauguração. Segundo a Prefeitura, para resolver inicialmente esse pro-
blema no trânsito ela irá destinar faixas prioritárias para o transporte público. Trata-se da implantação de um novo sistema de tráfego - Serviço Rápido de Ônibus (BRS), corredor expresso somente para a circulação de coletivos, diminuindo o tempo de espera dos passageiros. Segundo estudos elaborados pela Etufor, existem cinco opções de trechos que aumentarão a velocidade operacional dos ônibus, possibilitando maior fluidez no deslocamento, além da redução de emissões de poluentes nos corredores. Seriam: Antônio Bezerra/Centro Antônio Bezerra/ Messejana, Lagoa/Centro, Messejana/ Centro e Leste-Oeste/Centro. O primeiro trecho a ser implantado será o Antônio Bezerra/Centro, já em junho deste de 2012. Segundo Raimundo Rodrigues, chefe da Divisão de Operações da Etufor, já existem projetos para implantação dos ônibus articulados e bi-articulados com capacidade de 260 a 280 passageiros. Esses modelos já são utilizados no sul e sudeste do País, mas só poderão ser utilizados em Fortaleza quando a cidade apresentar condições de infraestrutura suficientes nas vias exclusivas para o uso do serviço. Serviço Etufor: (85) 3452-9205 www.fortaleza.ce.gov.br/etufor Transfor: (85) 3276.5315 www.transfor.pt/
Projeto obriga o uso do transporte escolar Tramita na Câmara o Projeto de Lei 2628/11, do deputado Jilmar Tatto (PT-SP), que torna obrigatório o uso de transporte escolar coletivo, público ou privado, por todos os alunos do ensino fundamental e médio. O objetivo é impedir que os pais levem os filhos e, dessa forma, evitar o congestionamento de veículos particulares nas proximidades das escolas, nos horários de entrada e de saída dos estudantes. O autor afirma que es-
ses congestionamentos causam “inúmeros problemas”, como estresse e acidentes. Para o parlamentar, a medida provocaria o crescimento do serviço de transporte em vans, ônibus e micro-ônibus, gerando emprego e renda no País. Além disso, defende Tatto, o fato de todos os alunos usarem transporte coletivo seria “uma atitude pedagógica”, porque não haveria distinção entre eles “do ponto de vista econômico”.
Transporte escolar, aumento da frota para desafogar e transformar o trânsito mais pacífico. Foto: Arquivo de Internet.
O traçado viário pode influenciar os congestionamentos Fortaleza sofre atualmente um legado de descontinuidades físicas de sua malha viária, que reflete uma descontinuidade administrativa de seu uso e ocupação, desenho e planejamento urbano. Esta é a opinião do professor Antônio Paulo Cavalcante, arquiteto, urbanista e especialista em trânsito. Segundo Antônio Paulo, a cidade herdou um desenho de malha viária do tipo radiocêntrico, que conduz os fluxos a ocorrerem segundo grupos de vias com características similares e que induzem os fluxos a convergirem para o Centro da Cidade, o qual definiu como Área Crítica de Congestionamentos. “Atualmente vejo grande esforço positivo do Transfor e da Ettufor em tentar minimizar estas questões que, a meu ver, esbarram na difícil viabilidade legal para desapropriações, remanejo de grandes comunidades afetadas. Ainda não foram recuperadas as antigas ações de grandes planejamentos a longo prazo, de forma técnica e participativa, com centralização em um órgão acima dos gestores, que independa de questões políticas e que pense a cidade a longo prazo, além dos mandatos”, destaca o professor. Antônio Paulo também comenta sobre o grande esforço e valor que acena para um ajuste na impossibilidade legal de operações urbanas consorciadas ou outorgas onerosas que efetivamente possam existir na Cidade, a exemplo de São Paulo e Porto Alegre. “Assim, os novos bi-articulados do tipo BRS, ou sistema Bus Rapid Transit, são uma alternativa que, caso sofra um acompanhamento de fiscalização digital (via câmeras), talvez tenha sucesso”, confirma. Antônio Paulo também ressalta que esta área diz respeito a sua pesquisa de doutorado, a influência do traçado viário sobre os congestionamentos.
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Fortaleza se prepara para a Copa de 2014 com limpeza urbana Apesar das propostas feitas pelo Governo, as famílias não querem a desapropriação de seus imóveis e protestam contra o início das obras do VLT Millene Haeer
O Ramal do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) irá passar pela Cidade desde o bairro Parangaba indo até o bairro Mucuripe. A extensão está prevista para ser 12,7 quilômetros, o que afetará 22 comunidades que precisam ser removidas para dar espaço ao novo empreendimento para a Copa. Mesmo com as mudanças positivas que o VLT prevê, existe desacordo para o começo das obras. O Governo do Estado do Ceará afirma que dará toda a assistência necessária para as comunidades removidas, não havendo real razão que impeça a saída dos moradores. Por outro lado, as famílias residentes da Comunidade do Trilho alegam que o valor das indenizações oferecidas é inferior ao valor real e que o novo local de moradia não possui a estrutura adequada para receber tantas famílias. Legalmente falando É necessário fazer intervenções para viabilizar um evento de grande escala como o da Copa, mas a própria Lei Orgânica do Município de Fortaleza prevê a consulta obrigatória e acordo de pelo menos dois terços da população atingida, assegurando o reassentamento no mesmo bairro (art. 149, inc. I, b). Além de não haver diálogo direto com a Prefeitura, que situa o novo local de moradia no bairro José Walter, a 14km de sua moradia atual, onde famílias ligadas ao Movimento Sem Terra (MST) já residem, a sociedade, no geral, parece dormente diante desse impasse. “Mas quem irá questionar uma oportunidade, ou a capacidade de investimento que a visibilidade de um evento internacional pode trazer?”, pergunta a professora Carla Camila Girão, mestre em Urbanismo e professora de Arquitetura da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). A Lei Estadual nº 15.056 de 06 de dezembro de 2011 referente à remoção comunitária foi aprovada em regime de urgência na Assembleia Legislativa do Estado. Tal providência resultou em quase nenhuma divulgação sobre o
caso e pouco tempo para discussão. Ela estipula que, caso os moradores não concordem com os termos propostos, somente receberão o baixo valor da indenização, o que tira a possibilidade deles de escolher onde morar. Já a Lei Estadual nº 15.056 de 12 de dezembro de 2011, garante que os proprietários dos imóveis residenciais ou mistos avaliados em até R$ 40 mil e que morem no local, além da indenização correspondente, receberão uma unidade residencial dentro do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), da Caixa Econômica Federal (CEF), com prestações custeadas pelo Estado. Já os proprietários de imóveis avaliados acima de R$ 40 mil receberão o valor correspondente à desapropriação em dinheiro. Sem conversa Apesar das notícias sobre a remoção, as famílias continuam sem, de fato, saber o que acontece. “Podem construir, não me tirando do meu lugar. Ainda tem faixas, principalmente, na Via Expressa e a gente não sabe de nada. Ninguém chamou a gente para nada e é só o comentário”, declara Gerarda Victorino, comerciante dona de um mercadinho na comunidade Trilho do Senhor. No dia 2 de agosto de 2011, o Governador Cid Gomes visitou a comunidade Aldaci Barbosa, durante a noite, e acabou gerando protestos por parte dos moradores. De acordo com eles, o Governador queria convencê-los em aceitar a proposta de desapropriação dos imóveis e, junto dele, haviam diversos seguranças intimidando as famílias. “Desde que houve a confusão do Cid, eles (moradores) estão mais quietos. A Prefeitura não resolve nada, não chama para conversar, o pessoal já foi para reunião lá, mas não resolveram nada. Tem 10 anos que falam disso”, alega Gerarda. O que parece não estar sendo levado em conta é a região central em que essas famílias se localizam. Ainda que seja um assentamento irregular, eles tem o direito de permanecer, visto que aquela área é uma zona especial de interesse social (ZEIS). A única opção para essas famílias são os movimentos populares organizado por elas. Claro que o espectro Copa do Mundo se sobrepõe à voz de uma comunidade que está sendo diretamente atingida. E, com o sentimento de patriotismo e fanismo pelo even-
Comunidade Trilho do Senhor faz parte da ZEIS, mas ainda pode ser removida em prol das obras para o VLT Foto: Millene Haeer
Enquete
A favor ou contra? A ocupação das áreas próximas ao trilho começou há muito tempo. Com as obras para a Copa, projetos como o do VLT saem da inércia e passam a ser prioridade. ““Eu acho o deslocamento bom se as pessoas que moram lá fossem transferidas para uma região digna, e não para barracos. Até porque a prefeitura não ia ter tamanha ousadia.” Natércia Pequeno Estudante de Direito do 9o semestre
“A favor, pois viver próximo aos trilhos põe em risco a vida. E com o apoio do governo, seja em dinheiro ou nova moradia, essas pessoas terão melhores condições.” Maria Eduarda Menescal Estudante Contabilidade do 2o semestre
“Acho esse deslocamento necessário para melhorar a infraestrutura da cidade. Entretanto, deve ser feito com cautela: ressarcimento proporcional, assistência, aviso prévio etc.” Raíssa Lima Melo Estudante de Direito do 6o semestre
to e uma campanha política ampla visando de gerar consensos para apoiar o evento, apesar de muita gente contra, não se vê essa opinião sendo expressada de uma forma organizada socialmente. Alternativas questionadas Com a obra do VLT, Fortaleza passa a ser reorganizada, mas aparentando sobrepor-se a uma lógica de organização turística. Ou seja, mudando a Cidade sem que se entenda sua dinâmica e, para que quem vem de fora, possa usufruir melhor do que é ofertado aqui. Quando se pensa em fazer o VLT que completará o recurso de acesso ao Castelão, pensa-se um projeto que seja de menor custo possível: usar uma linha rodoviária já existente e adaptá-la a uma linha de um meio de transporte mais confortável e tecnologicamente atual. Talvez não se gaste tanto na implantação física, mas há um gasto na limpeza da paisagem. Porém, é possível construir a linha tirando o mínimo de pessoas de seus lares. Opções técnicas não faltam. Um exemplo é a obra ser feita ao longo das avenidas que possuem o espaço necessário. “A própria Via Expressa poderia continuar pela Rui Barbosa, pelo Lagamar e chegar ao Castelão pela via, não por dentro das comunidades”, afirma Carla Camila. O benefício econômico que tal projeto traz é inegável, mas não há garantia das
Gerarda Victorino
Podem construir, não me tirando do meu lugar. Ainda tem faixas, principalmente, na Via Expressa e a gente não sabe de nada. Ninguém chamou a gente para nada e é só o comentário. Comerciante
mesmas vantagens no setor sócio-espacial. E quem ganha Após o programa PMCMV, o fluxo de investimentos transferiu-se para terrenos maiores, mais baratos e mais distantes do centro, com imóveis propostos a serem entregues à população carente. Próximo ao estádio Castelão, o preço do metro quadrado chegou a ser 200% mais valorizado. Os donos desses terrenos, que já estão revendendo essa terra, também já elevam os valores. “Não vai ter nenhuma repercussão posterior. Não acredito nisso. Estão perdendo a oportunidade de realmente transformar a Cidade numa coisa melhor, infelizmente”, afirma Carla Camila.
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O barato que pode sair caro Os sites de compras coletivas vêm se tornando um investimento lucrativo para as empresas. Atualmente no Brasil temos 1.200 sites. Camila Silveira
O serviço chegou ao Brasil em 2011, porém não demorou a se popularizar entre os usuários do País. O site Peixe Urbano é considerado o pioneiro no ramo, inaugurado em março de 2010 no Rio de Janeiro e um mês depois em São Paulo. Com a repercussão do Peixe Urbano, começaram a aparecer no mercado como: ClickOn, Imperdível, Oferta Única, Groupon. O sucesso dos sites no Rio e em São Paulo fez com que a demanda aumentasse entre as demais cidades brasileiras, ocasionando o aparecimento de sites regionais. Em Fortaleza, por exemplo, temos os sites Fortaleza de Ofertas, Barato Coletivo, Ceará Barato, Ceará Oferta e vários outros. A proposta central dos sites de compras coletivas é atrair a atenção do consumidor com ofertas de descontos, que chegam até 90% do preço normal. São serviços como hotelaria, restaurantes, cosméticos, teatros. Entretanto, um serviço que pretende facilitar a vida das pessoas pode trazer uma dor de cabeça enorme. Tal aconteceu com a estudante de jornalismo Geovana Rodrigues, que, Saiba mais
Fique atento Segundo os dados do Procon Fortaleza, durante o período de 1º de janeiro de 2011 a 23 de março de 2012, tivemos as seguintes ocorrências: Números de atendimentos: Peixe Urbano - 08 Groupon - 20 Barato Coletivo - 01 Principais problemas: Peixe Urbano - Serviço não concluído/ Fornecimento parcial Groupon - Não entrega/ Demora na entrega do produto Barato Coletivo - Serviço não fornecido/ Dano material/ pessoal decorrente do serviço
ao ver a oferta de uma câmera filmadora no ClickOn por apenas R$99,00 , não resistiu e acabou comprando. Mais tarde aquela compra se tornaria um problema. “Quando comprei, a empresa mandou um e-mail avisando que a câmera iria chegar em até 90 dias. Eles até perguntaram em que a cor eu gostaria de receber, como forma de confirmar o pedido” , relembra a estudante. Passado noventa dias, Geovana ficou aflita porque percebeu que estava sendo enganada. Mandou um e-mail para o ClickOn cobrando o produto e a empresa respondia dizendo que a culpa era da loja em que a compra tinha sido feita. “Hoje eles nem respondem mais”, afirma Geovana Rodrigues. Alguns consumidores buscam seus direitos e outros simplesmente deixam de lado a situação. Os motivos são variados, desde o descaso com seus próprios direitos até a falta de tempo de ir ao Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon) para pedir ajuda. É o exemplo de Geovana: “tenho todos os comprovantes guardados. Não fui atrás por questão de tempo. Mas, como a minha mãe é advogada, sempre soube dos meus direitos e pretendo resolver a situação”, ressalta a estudante. Geovana não compra mais no ClickOn e aconselha aos amigos a não comprarem lá. A estudante continua de olho nas ofertas dos sites de compras coletivas, só que hoje em dia seleciona e
Precavida , a estudante Geovana Rodrigues guardou os comprovantes da oferta para eventual ação contra o site. FOTO: ARQUIVO PESSOAL
opta por lugares de confiança, como algo relacionado à comida em Fortaleza. Outra história parecida com essa é o caso da estudante de odontologia Marcela Rodrigues, que comprou três escovas progressivas no site Peixe Urbano. “Comprei a oferta e quando fui até o salão para fazer a minha
A compra não deu certo. E agora ? O coordenador da Comissão de Procedimento à Defesa do Consumidor, Airton Melo, explica que a primeira ação a ser tomada é a tentativa de uma negociação amigável com a empresa. O consumidor irá buscar o Procon para protocolar uma reclamação, de modo que o órgão possa notificar os fornecedores. Em seguida é aberto um canal de negociação entre as partes, para chegarem a uma solução. Se não for possível a conciliação, o Procon de Fortaleza possui uma parceira com a Defensoria Pública. Dependendo do perfil do consumidor o Procon irá encaminhar para algum defensor, para uma eventual representação em ação judicial, ou seja, “ buscar no poder judiciário a efetivação ao seu direito e a reparação do eventual dano
sofrido”, destaca Melo. Na esfera administrativa, o processo é encaminhado a uma Comissão de Procedimento Administrativa de Julgamento, para analisar se houve infração em relação de consumo de acordo com o contrato estabelecido. A comissão deve aplicar ao fornecedor uma das sanções do artigo 56 do Código do Direito do Consumidor, que prevê pena de multa, apreensão do produto, interdição ou suspensão do site e cassação do registro da empresa. “As punições têm o sentido de alcançar algo mais coletivo, ou seja, uma gama significativa de consumidores. Até porque quando um consumidor reclama, é provável que outros que tiveram o mesmo problemas mas que por algum motivo não vieram reclamar”, fala Melo.
escova, o lugar estava fechado e em reforma. Tomei um susto”, conta Marcela. Para não perder dinheiro, a estudante tratou de entrar em contato com o site pedindo seu dinheiro de volta. “Eles tinham que devolver meu dinheiro. Eu sei dos meus direitos e fui atrás disso”, fala a estudante. A soluEntrevista
ção encontrada foi enviar um e-mail para o site justificando o motivo de não querer mais a compra e, em seguida, aguardar o retorno. Depois da espera, o ressarcimento foi feito e uma lição foi aprendida: a estudante nunca mais iria comprar nada relacionado a estética. Danilo Dantas
Os sites de compras coletivas se defendem O site Ceará Barato que atua no mercado cearense desde 2010. “O consumidor precisa lembrar que o site funciona como um intermediário e a culpa nem sempre é nossa” , argumenta o sócio gerente do Ceará Barato, Danilo Dantas. SB - Com que frequência a empresa recebe reclamação de compras que não foram efetuadas de maneira correta? Danilo - Menos de 5% SB - Como vocês aconselham o cliente quando há alguma eventualidade na compra? Danilo - A solução sempre é a satisfação do cliente. O cliente deve se basear no regulamento da oferta, nos termos de uso do site e no Código do Consumidor. SB- Qual o procedimento que o cliente deve fazer para exigir seus direitos? Danilo - Incialmente conferir o regulamento da oferta, os termos de uso do site e registrar o que foi descumprido. Depois disso, entrar em contato com o responsável, dependendo do caso, o site ou estabelecimento. SB- Qual a dica para fazer uma compra segura? Danilo - Verificar a existência e a credibilidade da empresa e observar se o site disponibiliza o CNPJ; fazer o mesmo com o anunciante e, principalmente, ler o regulamento da oferta.
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A música alternativa cearense é reconhecida primeiro fora daqui As casas de shows pagam pouco e não suprem o que o artista gasta. Daí que muitos músicos talentosos desistem por não terem condições de se manter Rafayelle Rodrigues
Essa é a realidade para muitos músicos cearenses, mas felizmente esse não foi o caso de Felipe Lima Couto. Ele começou a estudar música aos 8 anos de idade e aos 19 montou seu primeiro projeto chamado Café Colômbia. Por um tempo, a banda conseguiu tocar e fazer um público principalmente por existirem casas como Noise 3D e Hey Ho que davam espaço para projetos autorais existirem e se manterem. Gravaram seu primeiro disco captado pela Lei Rouanet, porém, após o lançamento ainda não tinham maturidade para poder fazer a sua autopromoção e as principais casas que existiam para tocar fecharam. Felipe começou a estudar produção musical. Ele sempre se interessou por gravação e produção. Inclusive trabalha com isso atualmente compondo trilhas para diversos trabalhos. Hoje ele tem um projeto chamado Astronauta Marinho, numa pegada mais alternativa/ instrumental, ainda no Comel. Felipe, sempre otimista, afirma que “Gravar um Cd não é a maior dificuldade pela qual o artista cearense passa”. Ele acredita que a maior dificuldade (mesmo) é em relação a masterizar um disco, pois é muito caro, e distribuir o disco. Hoje em dia, cada vez mais músicos aprendem a produzir suas próprias musicas sem a necessidade de uma gravadora ou selo, porém os selos são uma
boa forma de distribuição e divulgação. Para ele, a Internet faclita muito em relação a custos de divulgação e distribuição. Hoje é mais fácil alcançar um publico em potencial por meio de redes sociais não só facebook e twitter, mas redes especializadas em música como soundcloud, myspace e TNB (toque no Brasil). Que há falta de incentivo para os músicos cearenses não há como discordar, mas para Felipe “Não tem como achar um culpado pela falta de incentivo. Existe incentivo, o problema é que é pouco”. São vários fatores além disso. O primeiro é o fato de as bandas não correrem atrás de produzir shows e não se juntarem para poder fazer acontecer, não adianta só reclamar e não tomar nenhuma iniciativa para as coisas mudarem. Para ele um segundo fator é o público, que do tempo que ele tocava com a Café Colômbia para cá, tem valorizado muito mais bandas que fazem cover do que as de produções locais. Genuinamente cearense Do outro lado dessa história, entram as gravadoras de CD, como é o caso da Empire Records. A Empresa é uma produtora de bandas alternativas, que já está há dez anos no mercado. A empresa investe em bandas locais e procura trazer para Fortaleza shows internacionais, para pode fazer um intercâmbio com eles e conseguir que a sua música chegue lá fora também. As bandas que chegam na Empire já vêm com o seu material gravado. A produtora paga a prensagem e dá uma parte do percentual para as bandas. Maurílio Fernandes, um dos donos da Empire, afirma que “O CD é o cartão de visitas das bandas. Muitas bandas
Maurílio Fernandes
“Isso aconteceu com o Cidadão Estigado aí quando eles saíram na Rolling Stones entre os cinco melhores discos do Brasil, todo mundo ficou: wow. Claro meu irmão, tava do teu lado e você não conseguiu enxergar”. Fundador da Empire Records.
que chegam para me mandar o material, pedem para que eu veja links. Por mim, eles podem até mandar, que eu não vou olhar! Você pega o material pega o CD gravado e você sente o carinho”. A Empire procura investir mais nas bandas locais, pois como Maurílio mesmo fala que está investindo mais no mercado nacional, principalmente nas novas bandas. “Eu acho que é uma geração que está vindo e que é bacana estar trabalhando com isso entendeu?” O produtor da Empire também explica a dificuldade que o Nordeste tem para se destacar. “É meio que um monopólio. As bandas só conseguiram ser alguma coisa quando se destacaram fora. Isso aconteceu com o Cidadão Estigado, aí quando eles saíram na Rolling Stones entre os cinco melhores discos do Brasil, todo mundo ficou: Wow. Claro, meu irmão, tava do teu lado e você não conseguiu enxergar” afirma Maurílio. Apesar do esforço da produtora em trazer bandas internacionais para Fortaleza, Maurílio Fernandes
“Isso aconteceu com o Cidadão Estigado aí quando eles saíram na Rolling Stones entre os cinco melhores discos do Brasil, todo mundo ficou: wow. Claro meu irmão, tava do teu lado e você não conseguiu enxergar”. Fundador da Empire Records.
Empreendedor e visionário, Maurílio Fernandes, fundou, há dez anos a primeira e até agora única, gravadora e produtora exclusiva de música alternativa Foto: Divulgação
a própia empresa reconhece que alguns shows internacionais não conseguem vender todos os ingressos, não porque Fortaleza não tenha público, mas devido à necessidade que o fortalezense tem de ir para as festas acompanhado por amigos ou pela namorada. Para finalizar, Maurílio toca em um assunto polêmico: PreOpinião
conceito contra os músicos nordestinos. “Tinha mais, agora nem tanto, mas tinha. Eu me lembro... Eu cheguei lá e a galera pensava que só tinha vaca no meio da rua. Mas aí de uns cinco anos para cá, a galera deu uma acordada com o próprio Ceara Music, com os festivais, com os shows que estão vindo” afirmou. Marta de Carvalho
De repente, a vida pode ser uma viagem A questão da música alternativa é que há um certo clamor do público por algo novo, mas a verdade é que o novo não existe, os gêneros musicais que surgem são uma mistura ou uma decantação de vários outros gêneros, mas a música é feita assim mesmo, um ritmo prepara o outro e a evolução acontece As pessoas devem ter uma visão mais crítica sobre a música, visto que o cenário atual é composto de hits descartáveis. Uma produtora investe em um nome desconhecido, cria uma música puramente comercial, sem conteúdo algum, apenas para entreter as pessoas e, com o apoio da mídia, logo ela vira um hit. Passados um ou dois anos, ninguém lembra desses cantores. A maior renda dos músicos alternativos no Ceará é dos shows e dos projetos de incentivo à música cultural feitos pela Prefeitura e por projetos privados também como é o caso do BNB, que todo ano dá um espaço para que eles mostrem sua música. Entre eles estão o Rock Cordel, que chega a reunir mais de 150 músicos em três semanas. Atualmente, estou produzindo um cantor estrangeiro chamado Ba Freire. Ele é de Israel, passa metade do ano aqui em Fortaleza. Aproveitando o fato de ele ser estrangeiro, sugeri que ele começasse os shows não aqui, mas no Japão e outros países, depois no eixo Rio - São Paulo para depois vir tocar aqui. Inclusive, o último show da turnê dele será justamente em Fortaleza. E o porquê dessa escolha? É simples. O artista que faz sucesso lá fora é mais valorizado quando chega aqui. Estou muito bem acompanhada nessa empreitada. Ninguém menos que Roberto Menescal está me ajudando a produzir o Ba Freire. Roberto Menescal foi o responsável por lançar vários nomes da música brasileira, como Elis Regina, Roberto Carlos e etc. A música de Ba precisa ser ouvida, é uma música que o mundo precisa ouvir. Professora do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno
Felipe Lima Couto, durante ensaio do projeto Astronauta Marinho Foto: Arquivo Pessoal
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“Quem toca rabeca vai pro céu” O instrumento artesanal, parecido com o violino, vem atraindo novos admiradores e resgatando seu espaço como som característico da cultura nordestina. Márcia Feitosa e Manoela Cavalcanti
A frase é de Joaquim Mouriço, um dos mestres rabequeiros premiados no festival II Ceará das Rabecas. Perguntado sobre o porquê do privilégio de não passar sequer por um purgatório, ele explica, entre risonho e acanhado: “Vai pro céu porque tocador de rabeca toca em cruz”. Do alto de seus 74 anos – 50 deles passados com a mesma mulher –, Mouriço diz só ter três atividades diárias. “Comer, dormir e tocar. Para quê mais?”. O instrumento, de nome diferente, teve origem na cultura árabe e aportou no Brasil junto com os colonizadores portugueses. Quando chegou por aqui, a rabeca parecia com um instrumento medieval chamado kebab. Posteriormente, a rabeca foi evoluindo e adaptando-se aos estilos musicais dos países que a incorporavam. Hoje, é vista como instrumento folclórico parecido com um violino, só que voltada para manifestações da cultura popular. “Eu sou de Tauá e na minha cidade tem festa de rabeca toda sexta-feira”, conta Nel Lopes, um dos mestres rabequeiros. Apesar da aparência na estrutura, a
rabeca e o violino têm timbres bastante diferentes. Ao contrário do violino, o instrumento, tocado quase sempre por sertanejos, tem um timbre fanhoso e percebido, geralmente, como tristonho. “A diferença da rabeca é que é artesanal, não é industrializada. Por isto, cada rabeca tem um som único, diferente”, explica o luthier Francisco Benedito. Existem rabecas de três, quatro e, mais raramente de cinco cordas. As afinações variam de acordo com o instrumentista. Ao contrário do que a maioria das pessoas pode pensar, a rabeca tem grande importância na formação da musicalidade nordestina, já que foi o primeiro instrumento melódico utilizado no forró. Posteriormente, com a imigração dos alemães, é que a sanfona foi difundida por todo o Brasil e introduzida na nossa música. Além disso, ela era o som mais marcante – aproveitando-se de sua facilidade de ser ligada aos dramas – das apresentações e festividades que incluíam manifestações genuinamente sertanejas como reisados e dança de São Gonçalo. As rabecas estavam presentes também, aqui no Estado, em festas finas, onde os convidados escutavam valsas e choros. A rabeca do Ceará está nas mãos de velhos mestres que, apesar do anonimato e do não reconhecimento de seu
Francisco Benedito
“Aprendi a construir rabeca mais na base da vontade mesmo, sozinho. Ninguem me ensinou. Vi alguem fazendo e comecei a tentar. Quando fiz quatro, vendi em Itapajé, onde moro’’ Luthier expositor do II Ceará das Rabecas
trabalho, mantêm a tradição de tocar e construir este instrumento. Pequenas cidades do Interior do Estado que ainda têm o costume de reunir grupos para ouvir seu som começam a perceber a necessidade de encorajá-los a não deixar morrer o saber musical. Em Tauá, na Região dos Inhamuns, a Fundação Bernardo Feitosa organiza semestralmente saraus que reúnem e premiam os melhores músicos. O evento ocorre nas dependências do Museu Regional dos Inhamuns e da Biblioteca Joaquim de Castro Feitosa, ambas instituições mantidas pela fundação já citada. Uma das responsáveis pela realização do ‘Sarau das Rabecas’, Fátima Feitosa fala da intenção do grupo: “Tentamos com o evento fazê-los se sentirem reconhecidos e importanAutodidata, o mestre rabequeiro Joaquim Mouriço, recebe premiação no II Ceará das Rabecas. Foto: Manoela CavalCanti
Serviço Fundação Bernardo Feitosa, sede do Sarau de Rabecas: Praça José Gonçalves Oliveira S/N Tauá - CE, 63660-000
tes, como deveriam ser todos os dias. São músicos exímios, geralmente autodidatas, que nos impressionam pela simplicidade com que tocam e com a genialidade que constroem seus instrumentos. O prêmio que eles levam não é nada, se comparado com o espetáculo impagável que nos oferecem”. As rabecas são, em sua maioria, de quatro cordas, afinadas como violino, embora possam ter a afinação do bandolim. Há uma diversidade de materiais usados na sua construção, que vão desde cabaça, bambu, latase cano de PVC, além de madeira como a imburana, o cedro e o pinho. “Aprendi a fazer o instrumento com o tempo. Primeiro de madeira, depois de lata”, conta Nel Lopes. O sistema de confecção normalmente é o de cocho (cavadas) ou com o uso de formas, utilizando ferramentas manuais simples ou as mais criativas possíveis, adaptando utensílios como tesouras velhas e facas. Para o instrumentista e rabequeiro Pedro Lô, “a distinção entre a rabeca e o violino não é, entretanto, tão evidente. Suas características são determinadas por aspectos sócio-culturais. A rabeca esteve sempre naturalmente associada às comunidades que permaneceram por longo tempo isoladas, e de colonização mais antiga, ocupando um espaço imaginário”, observa. E a maioria dos mestres rabequeiros começa o ofício espontaneamente, sem uma instrução formal. “Deu na cabeça. Aprendi quando era desse tamanho, com uns seis anos. Toco e faço. Ninguém ensinou, nasci ‘aprendido’”, afirma o mestre Júlio Inácio. Nas graças do gosto popular O prestígio atual, desfrutado pela rabeca, é recente. Antônio Nóbrega, entusiasta pelo reconhecimento do instrumento, é uma figura central nesse universo, atuando como um “embaixador” da rabeca. O incentivo das organizações que oferecem cursos e oficinas, que ensinam a tocar e produzir rabecas, lembra que elas mantêm em seu cerne, inventividade do artesão, a não padronização e, consequentemente, uma grande variedade em seu formato, no número de cordas, nas madeiras utilizadas e na sonoridade. “Aprendi a construir rabeca mais na base da vontade mesmo, sozinho. Fiz quatro e vendi em Itapajé”, conta o luthier, Francisco Benedito. Os professores alertam para algumas dificuldades, advindas das peculiaridades do instrumento que permite que o rabequeiro toque praticamente o tempo todo com duas ou mais cordas, sendo acrescida ainda de ruídos percussivos que produzem uma sonoridade mais robusta, forte, cheia e também como recurso rítmico.
Influenciado pela sonoridade nordestina, o instrumentista Antônio Nóbrega incentiva a conservação da rabeca na música brasileira Foto: divulgação
Um salve a Antônio Nóbrega
Antônio Carlos Nóbrega nasceu no dia 02 de maio de 1952, em Pernambuco. Aos 12 anos ele ingressou na Escola de Belas Artes do Recife, onde estudou violino e canto lírico. Sua formação erudita, que lhe conferia um espaço de solista na Orquestra Filarmônica de Recife, era permeada por apresentações populares que fazia junto com suas irmãs, em um trio. O gosto e a total entrega à cultura popular só aconteceu na década de 70, depois de um convite feito por Ariano Suassuna para que ele integrasse o grupo “Quinteto Armorial”. Antônio Nóbrega, que toca sete instrumentos, canta e dança é um dos principais expoentes da disseminação da cultura nordestina contemporânea. Durante a carreira ele já gravou cinco discos: ‘Lunário perpétuo’, ‘O marco do meio-dia’, ‘Pernambuco falando para o mundo’, ‘Madeira que cupim não rói’ e ‘Na pancada do ganzá’. Em todos, os sons marcantes e cheios de estilo das rabecas se fazem presentes e se tornam um diferencial.