IOGA E MEDITAÇÃO
centro de ioga e meditação em Bauru/SP
Lais Fonseca Nogueira 1
UNIVERSIDADE ESTADUAL JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
IOGA E MEDITAÇÃO
centro de ioga e meditação em Bauru/SP
Autora: Lais Fonseca Nogueira Orientadora: Maria Solange Gurgel de Castro Fontes 2
3
AGRADECIMENTOS É difícil demonstrar apenas com palavras toda a minha gratidão às pessoas que estiveram comigo e me apoiaram durante essa jornada que não é apenas o Trabalho Final de Graduação, mas também toda a minha trajetória no curso de Arquitetura e Urbanismo. Agradeço primeiramente meus professores com destaque especial à minha professora e orientadora Solange, que entendeu todas as minhas dificuldades e me mostrou diferentes maneiras de superá-las. Sem ela, esse trabalho não teria se tornado realidade. Agradeço minha família por sempre me dar liberdade de explorar todas as minhas possibilidades mesmo nos momentos de dúvida, por me darem suporte em minhas decisões e por terem me sustentado em casa durante esse ano de dedicação ao trabalho final. Agradeço os amigos que Bauru me deu: Jadson, Paçoca, Zazu, Fajita, Gonza, Bárbara, Nan e todos os outros que passaram junto comigo todos os desafios da vida universitária. Nesse momento de distância do meu local de nascimento, vocês foram a minha família. Um agradecimento especial à todos que contribuiram de maneira direta e indireta para a realização deste trabalho, desde opiniões sobre a paleta de cores até ao apoio às minhas crises de ansiedade e sentimentos de insuficiência. Vocês sabem que são e estarão para sempre guardados na minha lembrança como as pessoas que estavam lá quando precisei.
RESUMO Este trabalho argumenta a relação da prática da ioga (hatha yoga) adaptada à realidade do século XXI como forma de terapia e auxílio à saúde tanto física quanto mental. Tendo isso em vista, justifica um projeto de um centro de ioga e meditação na cidade de Bauru, SP como uma forma de dar à população acesso a um espaço arquitetônico adequado à prática, visando as características de conforto térmico, acústico e visual que melhoram a experiência do praticante.
Palavras chave: ioga, saúde mental, projeto, conforto
4
5
SUMÁRIO introdução
8
estudo de formas
46
Estudo preliminar
desenvolvimento
11
Estudo estrutural Materiais e métodos construtivos
O hatha yoga e seus benefícios A arquitetura da ioga
o projeto referências projetuais
19
Paisagismo e área externa
Jetavana
Desenhos técnicos
LT House
Ambientes internos Área administrativa Salão de prática coletiva Vestiários Terraço de relaxamento e contemplação
The house of silence
método projetual Local de implantação Conceito: equilíbrio, flexibilidade e conexão
61
35
Cabanas de meditação individual
considerações finais
118
referências bibliográficas
120
Programa de necessidades Distribuição no espaço 6
7
INTRODUÇÃO
A palavra “ioga” desperta diversas ideias diferentes no imaginário de cada pessoa: muitos conceitos são superficialmente associados à esta palavra milenar tão carregada de significados. Para alguns ela representa uma forma de exercício físico, enquanto para outros, uma terapia. É um fato que a aparição da prática em seriados de televisão e filmes ajudou a popularizá-la ao redor do mundo. Apesar de ser benéfico divulgar o conhecimento de forma horizontal e ampliar o contato da Ioga com diversos grupos de pessoas, perdeu-se a profundidade da essência da prática ao se resumir a atividade em apenas parte de seu conteúdo. A ioga vai muito além das tão difundidas posições: de acordo com Takakura (2007) em seu “Introdução ao yoga”, ela é uma filosofia indiana cuja definição literal da palavra, em sânscrito, significa união. O praticante procura não só a harmonização do corpo com a mente, mas a conexão com a consciência universal e o autoconhecimento profundo do verdadeiro eu. É, além de uma filosofia, um modo de viver: o que se aprende através dos ensinamentos seculares deve se estender para além da prática diária e refletir em todos os aspectos da vida do indivíduo. Os sutras da ioga foram escritos pelo sábio indiano Patanjali e não se é sabido a data exata, mas aproxima-se que foi entre os séculos III e V d.C.. O compilado desses escritos é considerado a principal obra que codificou a espiritualidade da ioga que, anteriormente, era apenas debatida e ensinada oralmente. A existência de um manual escrito
8
possibilitou a difusão da prática do ashtangayoga, hoje conhecido popularmente como raja yoga. Apesar de não ser, atualmente, a forma mais praticada da Ioga, pode-se considerar que é a original na qual todas as correntes que surgiram posteriormente se basearam para criar as suas próprias fundamentações. O raja yoga apresenta oito componentes (yama, niyama, asanas, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi) e, segundo os próprios escritos de Patanjali (2015), foca no desenvolvimento individual da mente e da espiritualidade, colocando o corpo físico como uma mera ferramenta da prática. Portanto, o aperfeiçoamento corporal não é o seu objetivo maior. A meta é entrar em conexão com o verdadeiro eu interior através de disciplina e do desapego: aprender a isolar o indivíduo das interferências exteriores a ele. É neste estado de iluminação que se é possível tornar-se um observador da verdade, ou seja, alcançar o Samadhi, o estágio final dos oito componentes da ioga. Este trabalho tem intenção de focar na linhagem do hatha yoga, a corrente de ioga mais popular no mundo ocidental atualmente, segundo Correia (2010). Ela ensina um método da libertação da mente através do esforço e é considerado como um meio para se alcançar o caminho Samadhi do raja yoga. O livro que carrega os fundamentos dessa linhagem é o Hatha yoga pradipika (estima-se que foi composto no século XV) e ele foi escrito pensando no yogins e yoginis, ou seja, praticantes da ioga que dedicariam suas vidas à pratica, afastando-se da família e da sociedade.
Entende-se, entretanto, que esse nível de dedicação é alheio à realidade de uma pessoa comum do mundo contemporâneo. Requer-se, portanto, uma ponte que traga a essência dessa linhagem da Ioga de forma aplicável ao cotidiano das pessoas, fazendo uso dos conceitos de flexibilidade e adaptabilidade difundidos pela própria prática. A noção hoje comumente propagada sobre o que é a ioga apresenta um distanciamento da prática original idealizada na cultura indiana. O mundo pós moderno olha para o ioga como um exercício físico, associando a prática apenas às poses calistênicas. Estas posições, também conhecidas como asanas no meio do hatha yoga, apesar de serem partes integrantes da ioga, não são o objetivo único e nem o seu componente principal, como muitas vezes são classificados. Os locais de prática da ioga, atualmente, são, em sua maioria, pequenos estúdios localizados em partes centrais e convenientes da cidade para atrair um público. Blankenberger (2016) visitou alguns para a elaboração de sua tese e observou que esses estúdios frequentemente se resumiam em grandes espaços abertos para a prática coletiva munidos de banheiros e uma recepção. Segundo observância própria, na cidade de Bauru, muitos desses estúdios são espaços compartilhados com outras atividades como academias. Quando é um espaço reservado unicamente para a ioga, é em partes extremamente movimentadas tal qual avenidas da parte central da cidade. O Hatha-yoga-pradipika indica que o local
ideal de desempenho da ioga deve ser silencioso, isolado e que o contato com outras pessoas deve ser evitado. O praticante [YOGIN] deve se estabelecer em uma região bem governada, onde as leis [DHARMA] sejam respeitadas e as doações de alimentos sejam abundantes, em um lugar solitário, protegido contra toda a perturbação, e praticar dentro de uma pequena cabana com a dimensão de um arco, livre de pedras, de fogo e de água. (SVATMARAMA, 2017) Este trabalho tem, portanto, a intenção de justificar o projeto de um centro de ioga e meditação na cidade de Bauru no interior do estado de São Paulo. A ideia é a criação de um espaço que, através da arquitetura bioclimática, possibilite a aproximação das condições ideais de concentração para a prática de uma ioga que se assemelha à filosofia original. Entende-se que o mundo de hoje não é o mesmo que era quando estes textos fundamentais da ioga foram escritos e que as pessoas, na maioria dos casos, têm famílias, responsabilidades e carreiras que exigem dedicação e atenção. Tendo isso em vista, o projeto irá servir como um oásis temporário para os praticantes. Dessa forma, o momento dedicado à prática da ioga será inteiramente devotado ao melhor aproveitamento da mesma sem a interferência do mundo externo.
9
DESENVOLVIMENTO
10
11
o hatha yoga e seus benefícios O hatha-yoga, como já citado, é a corrente mais praticada no mundo ocidental atualmente. Sua base é o Hatha-yoga-pradipika escrito por Svamin Svatmarama, estima-se, a 500 anos atrás. Neste mesmo livro têm-se que a palavra hatha significa esforço, violência e força e pradipika quer dizer pequena lâmpada ou luz. Essa linhagem da ioga, portanto, é o alcance da liberdade da mente, ou iluminação, através do esforço. “(...) é como uma escada para quem deseja atingir o cume do RAJA-YOGA”. (SVATMARAMA, 2017) O próprio autor no livro recomenda que iniciantes não sigam seus ensinamentos à risca pois eles são voltados àqueles que já são experientes na prática. Esta, porém, não é uma preocupação comum aos dias atuais pois o que se pratica é uma ioga que, apesar de baseada nos ensinamentos do hatha-yoga-pradipika, é adaptada à a realidade contemporânea, ou seja, os princípios já não são seguidos tão rigorosamente como eram outrora. A Ioga muito se é usada como forma de terapia alternativa ou até mesmo como uma válvula de escape para o indivíduo comum, que a utiliza como ferramenta de alívio para as pressões cotidianas. Um dos maiores problemas encarados pelas diversas gerações que vivem no século XXI é o da saúde mental. As pessoas estão expostas à constante pressão para obter sucesso na carreira, constituir família, engajar em causas socioambientais, cuidar da saúde e ter relacionamentos saudáveis ao mesmo tempo. A excessiva exposição às mídias sociais só agrava a ansiedade pessoal de estar falhando enquanto todos aqueles desconhecidos online aparentam estar experienciando um eterno crescente de triunfos e conquistas. Não é surpreendente que essas condições geram um contexto de pessoas ansiosas, depressivas e an12
gustiadas que, muitas vezes, procuram auxílio externos para poder lidar com os desapontamentos da própria realidade. Faz parte da natureza humana procurar amparo para suportar os problemas: esse apoio pode ser representado na forma da religião, da terapia e de grupos de apoio. É possível, entretanto, que esse apoio se disfarce em forma dos vícios como o álcool, as drogas ilícitas e até mesmo a comida pois são formas rápidas de escapismo e de atingir prazer instantâneo. (...) os transtornos e problemas relacionados com a saúde mental têm, de forma silenciosa, se tornado a principal causa de incapacitação, morbidade e morte prematura, indistintamente, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Segundo estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde e por pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (WHO; Murray & Lopez, 1996), usando como medida o número de anos vividos com uma deterioração da qualidade de vida e morte prematura, doenças como transtornos depressivos e transtornos cardiovasculares estão rapidamente substituindo a desnutrição e as doenças infecto-contagiosas em países do Terceiro Mundo, onde estão localizados quatro quintos da população humana. (ANDRADE, 1999) Segundo o artigo “Yoga e a promoção da saúde” (BARROS, SIEGEL, MOURA, CAVALARI, SILVA, FURLANETTI e GONÇALVES, 2013), a ioga, além de ser recomendada pela Organização Mundial da Saúde como uma prática psicofísica, foi incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil como parte do Programa da Academia de Saúde.
O modo de vida promovido pelo hatha yoga conflui em um indivíduo que consegue se concentrar e evitar que os estresses alheios a ele atrapalhem o seu equilíbrio pessoal. Isso significa que os benefícios da prática regular da Ioga extrapolam os limites da aula: ela impacta todos os aspectos da vida do indivíduo, que aprende, nas ditas aulas, ferramentas de autocontrole e autoconhecimento para lidar com os desafios que cruzam o seu caminho com calma e temperança. O manual Hatha-yoga-pradipika (SVATMARAMA, 2017) divide a prática nas seguintes técnicas: posturas (asanas); purificação (nadisodhana, satkarmani); controle da respiração e sua retenção (pranayama); amarra (bandha); poderes (siddhi); tampamentos (mudras); vazios (sunya); som sutil (nada) e samadhi, libertação (moksa). Essa divisão, portanto, seria a ideal segundo a concepção do sábio ao escrever o seu manual. A realidade atual, porém, moldou os mesmos ideais sob as próprias configurações de estrutura de aula. Hoje em dia a prática da ioga tem foco maior nas posturas, na respiração, nos poderes e nos tampamentos. Também é comum ver a aplicação das técnicas de purificação através dos kryias, que são métodos de limpeza dos olhos e dos sistemas respiratório e digestivo. Ainda que, atualmente, uma versão reduzida da proposta original do hatha yoga seja difundida, a prática ainda apresenta benefícios consideráveis para a saúde do indivíduo. Quase todos os estudos que examinaram os efeitos do yoga na ansiedade relataram que tal intervenção diminui consideravelmente os níveis de ansiedade e estresse, quando comparado ao grupo-controle. Além disso, quando o yoga é confrontado com outras intervenções como o
relaxamento, observa-se que ambas as técnicas produzem reduções na ansiedade, mas só yoga é capaz de melhorar significativamente diferentes domínios do estado de saúde, como a saúde mental e a função do papel emocional. (VORKAPIC e RANGÉ, 2011) Além dos resultados positivos em transtornos mentais como a ansiedade citada acima, a filosofia da ioga prega que os excessos devem ser evitados e seu corpo deve ser respeitado. Dessa forma, busca-se pelo equilíbrio do físico para que a mente tenha um ambiente próspero e balanceado para meditar. Segundo os ensinamentos do Hatha-yoga-pradipika, “a ioga tem seis obstáculos: excesso de alimento, esforço excessivo, ficar conversando, observância de votos especiais, companhia de pessoas e instabilidade. ” (SVATMARAMA, 2017). Entende-se, portanto, que a terapia através da ioga obtém resultados vantajosos para os praticantes. A palavra terapia, porém, em seu sentido literal, significa um tratamento de um transtorno qualquer. A ioga transborda esse significado, pois pode ser, além de uma maneira de lidar com as ansiedades cotidianas, uma maneira de se prevenir contra os desequilíbrios da mente ou até mesmo como uma filosofia de vida que guia o seu seguidor através dos desafios tal qual se faz uma religião em relação ao seu fiel. Esse trabalho, portanto, intende estudar como um projeto arquitetônico pode amplificar o efeito da ioga no indivíduo ao inseri-lo em um ambiente desenhado especialmente para engrandecer os benefícios da prática, levando em consideração os ensinamentos do hatha yoga.
13
a arquitetura da ioga Levando em consideração as características de introspecção, silêncio, conforto e isolamento que definem uma boa prática da ioga, pensa-se, então, como a arquitetura pode influenciar positivamente a imersão da pessoa na prática e na meditação, potencializando o efeito dessas atividades. Segundo Correia (2010), um dos requerimentos para uma total imersão na prática da ioga e da meditação, seja ela individual ou coletiva, é o silêncio. Ruídos do mundo exterior tal qual trânsito de veículos, conversas e até mesmo barulhos de construção devem ser de mínimos a inexistentes. Para isso, um local de prática afastado da alta movimentação da cidade seria o ideal. Para o indivíduo se concentrar na prática, ele deve esquecer qualquer tipo de perturbação tanto externa quanto no próprio corpo. Para isso, o recomendado por Svatmarama (2017) é que o indivíduo esteja limpo, confortável e em jejum de algumas horas. Dessa forma, sua energia é direcionada unicamente para a mentalização da prática, e não para fazer digestão de alimentos ou para amenizar algum incômodo causado por quaisquer desconfortos. The body and the mind are interwoven and interdependent. If there is any disturbance in the body the mind is disturbed and vice versa. In Yoga the body and the mind are cultivated by a steady process of asana practice to prevent any impediment in their functioning. This practice gives health, poise, mobility, and immunity from disease. O corpo e a mente são entrelaçados e interdependentes. Se há alguma inquietação no corpo, a mente é perturbada e vice versa. Na Ioga, para prevenir qualquer impedimento no seu funcionamento, o corpo e a mente são cultivados por um firme processo de prática de Asana. Essa prática provê saúde, equilíbrio, mobilidade e imunidade a doenças. (IYENGAR, 1983, tradução nossa)
14
O espaço, portanto, deve anular a sensação do praticante de ser estar inserido na realidade exterior à própria mente. Distrações como ruídos, luzes oscilantes e temperaturas desagradáveis devem ser inexistentes, para que seja possível atingir a concentração exigida para uma boa meditação. Ainda segundo Svatmarama (2017), o exterior do local de prática deve ser agradável: o contato com a natureza deve ser feito através de uma varanda aberta, com uma plataforma suspensa e um poço de água e esse conjunto deve estar cercado por um muro, isolado do mundo exterior. Dessa forma, há um local de contemplação protegido das intempéries como sol, chuva e vento. Deve-se ter em mente, entretanto, que o manual de Svatmarama propõe uma cabana individual para àqueles que dedicariam sua vida à prática da ioga, descolando-se completamente da sociedade e que esta não é a intenção deste trabalho e nem a realidade das pessoas atualmente. Procura-se, aqui, traduzir a cabana para uma versão acessível, coletiva e atualizada. Segundo Blankenberger (2016), a maioria dos estúdios de ioga que ela visitou para estudar a configuração espacial apresentam uma entrada aonde os usuários podem deixar seus sapatos. Em seguida, tem-se uma recepção com finalidade administrativa e unidades de armazenamento de objetos de uso geral no edifício. Ao se adentrar no espaço, encontra-se o estúdio onde a prática será realizada e banheiros com chuveiros e armários onde as pessoas podem colocar seus pertences pessoais. Os estúdios, em geral, apresentam tetos altos, espelhos e uma capacidade de abrigar 40 pessoas simultaneamente. Com a intenção de seguir os passos de Blankenberger, a autora deste trabalho visitou alguns estúdios de Ioga de Bauru com a finalidade de analisar como são os espaços disponíveis para a realização da prática nessa cidade. Muitos dos espaços visitados eram implantados em edifícios comerciais ou espaços improvisados em locais movimentados da cidade. O que foi mais observado
é que a ventilação e iluminação natural eram valorizadas pelos usuários do espaço, mas muitas vezes limitadas pela própria estrutura do local. Além disso, raramente os espaços eram amplos o suficiente para acomodar confortavelmente uma turma de mais de dez pessoas simultaneamente. O Espaço Kali Botânica (figura 2), por exemplo, é uma sala comercial em um edifício de coworking localizado no centro da cidade. Apesar de ter bastante infiltração de luz natural através da janela, o ambiente é limitado. Tem capacidade de comportar, concomitantemente, três pessoas no total: a instrutora e mais dois aprendizes. O estúdio Satya Yoga (figuras 1 e 3), por sua vez, é um edifício inteiramente dedicado à prática: tem um salão de treino coletivo que comporta nove alunos e totaliza dez pessoas ao considerar a instrutora. Amplas portas de vidro permitem a incidência de luz natural no espaço. O estúdio é localizado em uma área altamente urbanizada da cidade e tem uma grande proximidade com a Avenida Rodrigues Alves. Por conta disso, a conexão com a natureza foi simulada pela proprietária do espaço com a implementação de vasos de plantas no ambiente. É possível notar na imagem que o local conta com o auxílio de um aparelho de ar condicionado para ameni-
zar a temperatura quando necessário. A escola de Ioga conhecida como Maha é um caso diferente: a proprietária transformou a parte térrea da própria residência em um espaço dedicado ao seu trabalho com o ensinamento da Ioga. Apesar de ser em uma parte da cidade menos movimentada e ruidosa do que os outros dois exemplos anteriores, ainda é em uma parte altamente urbanizada e, consequentemente, sem nenhum contato com a natureza. O cômodo reservado para a prática coletiva (figura 4) não possui aberturas para o exterior do edifício. Devido a isso, foi-se necessário recorrer a métodos artificiais para auxiliar tanto a iluminação quanto a climatização do ambiente. Apesar de conseguir manter uma temperatura constante e regulável, o emprego de controladores artificiais como o ar condicionado deve ser evitado. O equipamento além de gerar barulho quando em funcionamento, afasta a proposta de um espaço arquitetonicamente planejado para cumprir as funções de conforto termo acústico e de conexão com a natureza. Além disso, o uso desses climatizadores exige um espaço fechado, o que entra em conflito com a proposta de se ter um projeto tanto iluminado quanto ventilado naturalmente.
Figura 1: Estúdio Satya Yoga – Bauru SP. Fonte: foto por Sheyla Christina Morales Senatore, proprietária do espaço
15
Figura 4: Maha Bauru – escola de yoga. Fonte: foto por Amanda Carvalho, proprietária do espaço
Figura 2: Espaço Kali Botânica, Bauru - SP. Fonte: Foto por Jéssica Frabetti de Figueiredo, proprietária do espaço
Figura 3: Estúdio Satya Yoga, Bauru - SP. Fonte: foto por Sheyla Christina Morales Senatore, proprietária do espaço
Figura 5: Recepção Maha Bauru. Fonte: foto por Amanda Carvalho, proprietária do espaço
16
17
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
18
19
Jetavana
Sameep Padora & Associates Este projeto é um mosteiro localizado na Índia com a finalidade de ser um centro de aprendizado budista. Segundo a própria mitologia, Jetavana significa “o bosque de Jeta”, um dos edifícios mais importantes de Buda. O destino de Jetavana é proporcionar uma âncora espiritual para a prática do pensamento budista através da meditação e o ioga, ao mesmo tempo que comporta a formação e o desenvolvimento de habilidades para os membros da comunidade. (DELAQUA, 2019) Segundo a descrição enviada pela própria equipe do projeto, este divide-se em seis edifícios envoltos por um denso bosque e procurou-se não danificar nenhuma árvore na execução da obra. Nessa intenção, usaram-se as clareiras para construir, o que gerou, consequentemente, pátios internos.
Ainda de acordo com a mesma fonte, o projeto procurou uma abordagem de contextualização local para as técnicas construtivas: o piso, por exemplo, é um composto de barro e esterco que já é de tradição usado pela comunidade local. No hatha-yoga-pradipika de Svatmarama (2017) há menção a essa técnica e ela é recomendada para a forragem não só do piso, mas também das paredes da cabana, pois o esterco apresenta propriedades antissépticas. O perfil do telhado foi invertido, o que transfere o sistema de drenagem para o seu centro. Dessa forma, elevou-se o pé direito do interior dos edifícios, possibilitando maior incidência de iluminação natural e ventilação cruzada. A equipe do projeto também afirmou que para o telhado utilizou-se telhas de argila e restos de edifícios demolidos.
Figura 6: Visão exterior do ambiente de culto a Buda. Fonte: fotos por Edmund Summer (disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/791927/jetavana-sameep-padora-and-associates)
20
21
Figura 8: Planta de Jetavana. Fonte: fotos por Edmund Summer (disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/791927/ jetavana-sameep-padora-and-associates)
Figura 7: Pessoas cultuando Buda. Fonte: fotos por Edmund Summer (disponível em: https://www.archdaily.com.br/ br/791927/jetavana-sameep-padora-and-associates)
22
23
Figura 9: Interior do ambiente de culto a Buda. Fonte: fotos por Edmund Summer (disponível em: https://www.archdaily. com.br/br/791927/jetavana-sameep-padora-and-associates) Figura 10: Pessoas andando pelo pátio interno. Fonte: fotos por Edmund Summer (disponível em: https://www.archdaily. com.br/br/791927/jetavana-sameep-padora-and-associates)
24
25
LT House
Tropical Space Este projeto é uma residência localizada em Long Thàn District no Vietnam. Ela foi pensada para amenizar as altas temperaturas características do local usando o tijolo e as paredes vazadas para proporcionar isto. Segundo o texto providenciado pelos arquitetos, o espaço era limitado, portanto o que seria classificado como área privada é incluída no espaço compartilhado da casa através de um mezanino. Além disso, o térreo é um ambiente multifuncional: é um local para reunir
amigos e no futuro será utilizado como uma cafeteria gerenciada pela própria família. Foram inclusos um quintal tanto na parte da frente quanto nos fundos. Segundo a mesma fonte, eles servem como um intermédio entre o clima quente externo e o fresco interno. Segundo o artigo acessado pelo site Archdaily, é o local onde o sol, o vento e a sombra da parede de tijolos se encontram. Inclui-se, também, varandas como estratégia de proteção e conforto térmico.
Figura 11: Exterior da residência Fonte: fotos por Trieu Chien (disponível em: https://www.archdaily.com/789533/lt-house-tropical-space/)
26
27
Figura 12: Corredor com parede vazada. Fonte: fotos por Trieu Chien (disponível em: https://www.archdaily.com/789533/ lt-house-tropical-space/)
28
Figura 13: Varanda e quintal. Fonte: fotos por Trieu Chien (disponível em: https://www.archdaily.com/789533/lt-house-tropical-space/
29
The House Of Silence Natura Futura Arquitectura Este é um projeto residencial localizado na cidade de Quevedo no Equador. O projeto, a pedido do cliente, foi pensado como uma floresta na cidade: um refúgio dos ruídos externos, servindo como um lugar para contemplação silenciosa. O projeto, segundo os arquitetos, dividiu-se em dois retângulos ligados por uma área central aberta, que é, além de uma área de contemplação e meditação, um local para os netos do proprietário brincarem. Empregou-se uma clarabóia diretamente acima do jardim central, o que dá destaque à árvore que ali
se encontra, tornando-se o ponto focal da área de meditação. A água é utilizada no projeto, segundo a mesma fonte, como um elemento gerador de paz para o ambiente e também como uma estratégia bioclimática, pois resfria o ar que circula a casa. Nota-se que além da vegetação, da ventilação e da água, usa-se outras estratégias bioclimáticas como o tijolo e a madeira sendo os materiais principais da construção e varandas.
Figura 14: Salão de meditação Fonte: fotos por Lorena Darquea (disponível em: https://www.archdaily.com/922656/the-house-of-silence-natura-futura-arquitectura)
30
31
Figura 15: Salão de meditação Fonte: fotos por Lorena Darquea (disponível em: https://www.archdaily.com/922656/the-house-of-silence-natura-futura-arquitectura)
Figura 16: Visão frontal. Fonte: fotos por Lorena Darquea (disponível em: https://www.archdaily.com/922656/the-house-of-silence-natura-futura-arquitectura)
Figura 17: Elemento da água. Fonte: fotos por Lorena Darquea (disponível em: https://www.archdaily.com/922656/the-house-of-silence-natura-futura-arquitectura)
32
33
MÉTODO PROJETUAL
34
35
local de implantação Para definir o local de implantação do projeto do centro de ioga e meditação na cidade de Bauru (SP) foram consideradas as seguintes características: um local afastado do centro da cidade e das avenidas movimentadas, para conservar ao máximo o ideal de silêncio exigido pela prática, porém não afastado das infraestruturas de transporte público para não elitizar o seu acesso; um local espaçoso que permite a implantação do projeto e de todas as suas infraestruturas, tal qual um estacionamento, com abundância de espaço livre e de conexões com a vegetação local; uma região onde os edifícios do entorno, se houver, sejam preferencialmente residenciais ou de baixa frequência de público. Antes de definir uma localidade para projetar, é necessário estabelecer o tipo de obra que se tem intenção de realizar. A lei 2339/82, dentre outras funções, categoriza o tipo de uso que um projeto ou uma obra já concluída possa ter de acordo com o tipo de atividade realizada no perímetro e o nível de impacto consequente na vizinhança. Não há um uso que determine especificamente um centro de Ioga e meditação, como é a proposta deste trabalho. A partir das opções existentes, chega-se à conclusão de que o uso mais adequado à proposta é o S2.02 (figura 18) por contemplar tanto academias de ginástica e associações esportivas quanto edifícios de fisioterapia. Este uso prevê atividades mais intensas e ruidosas do que o centro projetado se propõe a ser, o que garante que a inserção desse projeto esteja dentro dos padrões de geração de incômodo aceitos pela norma. Ainda na mesma lei são elencadas as zonas da cidade e os usos que nelas são permitidos. Tem-se que em locais demarcados como ZR3 o uso S2.02 é permissível, porém faz-se uma observação que essa condição pode gerar a necessidade de uma área reservada para estacionamento de veículos, como se pode averiguar na figura 19.
Figura 20: Zoneamento de Bauru - ZR3. Fonte: imagem retirada da lei 2339/82
Figura 18: Uso S2.02. Fonte: imagem retirada da lei 2339/82 Figura 19: Zoneamento de Bauru - ZR3. Fonte: imagem retirada da lei 2339/82
36
37
Ao observar o mapa de zoneamento de Bauru (figura 20) disponibilizado pela Prefeitura Municipal, nota-se que o território ao redor da UNESP (Universidade Estadual Paulista) possui vários bairros demarcados como ZR3. O bairro Jardim Mary, uma área pouco habitada localizada entre o salão de festas Sagae eventos e a moradia estudantil da UNESP foi o selecionado para a implantação do projeto. Além de ser classificado como ZR3, há poucas construções ao seu redor e, consequentemente, grande parte da vegetação nativa do cerrado encontra-se preservada. Ao se adentrar no bairro, vê-se que a área se-
lecionada para projetar foi a destacada na cor rosa na figura 21. Está localizada na rua Antoniêta Melges Camargo e tem um total de 7.106m² de área. Apesar do arruamento, as vias até o presente momento (abril de 2020), não são asfaltadas. Quando medido em linha reta, o local selecionado está a aproximadamente 350m de distância da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, e o ruído dessa rodovia não afeta a região escolhida, em função da direção predominante dos ventos, que em Bauru é sudeste, e da diferença de relevo. É importante ressaltar que o ruído da rodovia não é inexistente, mas ao se visitar o local, percebe-se que ele é irrisório.
Jd Colonial Jd Marimbá Jd Nicéia Vila Aviação
Figuras 22 e 23: Imagens do local. Fonte: A autora
Local do projeto Unesp Moradia Estudantil IPMET Sagae Eventos Rua Antonieta Melges Camargo Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros Área verde Área impermeabilizada Lote Sagae Moradia estudantil
Figura 21: Mapa do entorno
38
39
conceito: equilíbrio, flexibilidade e conexão Como já explorado, Ioga traduz literalmente do sânscrito o significado de união. Esse significado não apenas se aplica às fases da prática, mas remete à conciliação de seus próprios conceitos. Resume-se, para esse trabalho, a prática milenar em três essências fundamentais: equilíbrio, flexibilidade e conexão. Essas três concepções são tomadas, portanto, como guias básicos para a idealização do projeto. Os conceitos, apesar de terem suas traduções individuais e suas próprias especificidades, não podem ser analisados individualmente, pois a aplicação de um exige o apoio de outro, reforçando a conectividade propagada pela Ioga. O próprio corpo do praticante no momento da Ioga pode servir de alusão ao edifício ao seu entorno. Para que o aprendiz sinta as condições ideais para sua concentração, a própria obra arquitetônica deve ser a representação concreta de tais condições. The mind wanders in different directions due to the influences of the five subtle qualities (pañcha tanmåtra) of smell, taste, vision, touch, and sound. These subtle qualities are felt through the sense organs of nose, tongue, eye, skin, and ear. The sādhaka has to learn to restrain the mind from wandering and to turn it inwards towards the Self. When the mind, the intellect, and the ego are totally focused on the Self, that is dhāranā. When the sādhaka obtains mastery over this practice, the way is open for the next stage, dhyāna or meditation. A mente vagueia em diferentes direções devido às influências das cinco qualidades sutis (pañcha tanmåtra): olfato, paladar, visão, tato e audição. Essas qualidades são sentidas através dos órgãos sensoriais nariz, língua, olho, pele e orelha. O praticante tem que aprender a restringir o vagueio da mente e a direcioná-la ao interior do próprio ser, isso é dhāranā. Quando o praticante consegue dominar esta prática, o caminho é aberto
40
para o próximo estágio, dhyāna ou meditação. (IYENGAR, 1983, tradução nossa) Para obter equilíbrio, o indivíduo deve aplicar proporcionalmente tanto sua energia física quanto a mental. Além disso, deve, simultaneamente, tentar equilibrar sua própria energia com a exterior, para que o ambiente seja inspiração e não distração. O ato de se equilibrar e de sentir o que está alheio ao corpo requer conexão: conexão do ser consigo mesmo, conexão do indivíduo com o ambiente e, como recomendado pelos manuais de Ioga, conexão com a natureza. A arquitetura ideal que esse trabalho procura atingir, portanto, deve servir como uma ponte facilitadora de tais conexões e não uma barreira. A flexibilidade, por outro lado, é quase uma ferramenta necessária para atingir o objetivo dos outros dois conceitos. A Ioga trabalha as duas facetas dessa ideia: a flexibilidade do corpo para se ter mais facilidade para fazer as poses e a flexibilidade da mente. O ser flexível se adapta, enquanto o ser rijo se quebra. A Ioga é sobre uma constante elevação do próprio ser, da contínua releitura do seu eu interior para o engrandecimento do espírito. É nesse pensamento que se traz para o projeto o elemento mais flexível de todos: o ar. O ar circula, adentra e purifica. Além de trabalhar com espaços ventilados, o projeto bebe da inspiração da leveza do ar para flexibilizar o espaço: para evitar o engessamento e a dureza de uma grande construção única, explora-se a ideia de volumes separados, porém conectados entre si. Além da circulação do ar, provoca também a circulação das pessoas e permite que a arquitetura se conecte mais intimamente com a natureza. Além dos espaços promovidos pelas próprias volumetrias, cria-se um novo espaço em seus negativos que pode servir como uma conexão direta do usuário do tanto com o interior quanto com o exterior.
Figura 24: Asanas de equilíbrio, flexibilidade e conexão
41
programa de necessidades
distribuição no espaço
O programa de necessidades deste Centro de Ioga e meditação visa atender à demanda de um espaço que comporte as necessidades do usuário para uma prática adequada e completa. Isso quer dizer que, além de se considerar um local afastado do desassossego da cidade e em contato com a natureza, deve-se pensar na estrutura de cada ambiente e sua respectiva função. Categorizou-se, portanto, dois tipos de ambiente: aqueles que o público vai frequentar, ou seja, espaços que vão dar suporte direto ao aluno e à sua prática, e aqueles que são de acesso restrito aos funcionários e administradores do Centro. A categoria de ambientes de usufruto dos alunos engloba os seguintes espaços: uma sala ampla para a prática coletiva da Ioga; banheiros e vestiários; espaços de meditação individual semelhantes ao conceito da cabana do Hatha-yoga-pradipika; espaços de contemplação e permanência e um estacionamento, que também será utilizado pelo corpo administrativo do Centro.
O ser tenta se conectar com o universo, com o seu eu interior e com a verdade universal através da Ioga e da meditação. A intenção desse projeto é servir como um meio viável para essa conexão, uma ponte entre a mente e o espaço. A arquitetura aqui deve, portanto, ser uma metáfora para o próprio ser que a usufrui. Muito se pode abstrair dos ensinamentos da Ioga para o projeto arquitetônico. Conceitos como equilíbrio, flexibilidade e conexão, tão presentes na prática, também são aplicáveis no espaço construído. Pensa-se, então, em formas de distribuir as edificações que foram concebidas no programa de necessidades desse projeto de forma equilibrada e harmônica, tal qual o indivíduo tenta estar em seu estado meditativo. Todos os ambientes do projeto são igualmente importantes para o desenvolvimento do praticante em sua jornada de autoconhecimento. É interessante, portanto, que não haja uma hierarquização dos ambientes que vão compor o centro de Ioga e meditação. O corpo humano pode ser dividido em eixos principais e, dependendo da forma de divisão, pode-se encontrar simetria, a forma mais literal de se demonstrar equilíbrio: duas metades iguais. O autor Francis D. K. Ching (2015) em seu livro Arquitetura: forma, espaço e ordem explora diferentes formas de organizar o espaço. Segundo ele, uma disposição em torno de um eixo é uma forma que além de implicar simetria, exige equilíbrio.
Os banheiros e vestiários serão equipados com chuveiros para permitir que os frequentadores possam se banhar antes ou depois da prática, conforme a necessidade. A sala ampla permitirá a prática e o aprendizado coletivo sob tutela de um professor experiente para introduzir os iniciantes ao caminho da ioga. Já as pequenas salas individuais, semelhantes à cabana ideal proposta no hatha-yoga-pradipika, permitirão uma meditação pessoal, intensa e isolada da interferência de outras pessoas para aqueles que desejam se aprofundar sozinhos no caminho da Ioga. Os espaços de contemplação e permanência, porém, são pensados de forma que não incentive aglomeração de grandes grupos de pessoas, pois pode gerar conversas e ruídos que são inconvenientes àqueles que estão tentando se concentrar. São pensados como espaços no exterior dos edifícios que permitem a contemplação da natureza que circunda o projeto. A categoria de ambientes restritos aos funcionários e administradores do espaço apresenta as seguintes separações: uma recepção para informar e cadastrar os alunos e usuários do espaço; copa e cozinha para os
42
funcionários poderem fazer suas refeições; banheiros separados dos vestiários de uso comum; uma área de depósito e armazenamento de materiais diversos e uma sala de reuniões. A distinção da área de acesso aos frequentadores do espaço e da área administrativa restrita aos funcionários será também feita através da divisão entre os diferentes volumes de edifícios. Dessa forma, a distância entre os volumes evita que um ruído gerado em qualquer uma das partes interfira com as atividades que possam estar em andamento na outra. Como indicado pelo manual hatha-yoga-pradipika de Svatmarama (2017), serão também incorporadas varandas em torno dos edifícios, que, além de permitir a contemplação a partir delas, age como uma estratégia de conforto térmico ao evitar a insolação direta nos ambientes.
An axis is established by two points; a symmetrical condition requires the balanced arrangement of equivalent patterns of form and space on opposite sides of a dividing line or plane, or about a center or axis. (...) Bilateral symmetry refers to the balanced arrangement of similar or equivalent elements on opposite sides of a median axis so that only one plane can divide the whole into essentially identical halves. Um eixo é estabelecido por dois pontos; uma condição simétrica requer o arranjo equilibrado de padrões equivalentes de forma e espaço em lados opostos de uma linha ou plano divisor, ou em torno de um centro ou eixo. (...) Simetria bilateral refere-se ao arranjo equilibrado de elementos similares ou equivalentes em lados opostos de
um eixo mediano, assim apenas um plano pode dividir o todo em, essencialmente, duas metades idênticas. (CHING, 2015, tradução nossa) O local selecionado para a implantação do projeto na cidade de Bauru, devido à sua forma alongada, traz uma tendência natural à organização axial, como demonstrado na figura 27. Considera-se, portanto, uma organização dos elementos de forma equilibrada ao longo do eixo transpassado no local de implantação como representado no plano de massas (figura 26). É interessante que cada bloco seja cercado por vegetação e conectados entre si por um caminho que cria um circuito dentro de todo o espaço. As cabanas de meditação individual seriam as mais distantes e isoladas devido à sua característica instrospectiva, porém organizadas de forma que sua entrada esteja voltada para o cenário circundante, o que permite a conexão do usuário com a natureza através da contemplação, assim como sugerido no Hatha-yoga-pradipika.
Figura 25: Eixos do corpo humano
43
Figura 26: Plano de massas
44
Figura 27: Eixo do local de implantação
45
ESTUDO DE FORMAS
Considera-se diversos tipos diferentes de asanas, ou seja, de posições da Ioga para abstrair de sua essência formas que podem influenciar na configuração projetual do espaço. Foram feitas maquetes de papel inspiradas no estudo das figuras de algumas posições de ioga, como demonstrado na tabela 1. As formas abstratas retiradas deste estudo influenciam a configuração projetual do centro de Ioga e meditação. Nessa etapa, não se especifica a função de cada forma e sim tira-se formas das poses – ou asanas – para dar início ao fluxo de criatividade ao se pensar o projeto. Essas maquetes podem ser vistas como aberturas, caminhos, coberturas e até mesmo formato de alguma edificação. Cria-se, portanto, um método de concepção projetual que une conceitos arquitetônicos com conceitos da prática milenar da ioga. Parighasana, o primeiro asana representado na tabela é uma pose de flexão lateral que transmite a sensação de flexibilidade e fluidez à primeira vista. Faz com que o corpo humano tenha, simultaneamente, uma aparência sinuosa e alongada. Em um projeto, uma pose com essas características traduz-se em formas menos engessadas: caminhos, fluxos, sensações, elementos fluidos. Ela pode inspirar formas de distribuir elementos fixos no espaço de maneira que se tornem menos rígidos e mais convidativos. No caso da segunda pose, a Uttanasana, há uma mistura de exigências do corpo: além do equilíbrio
46
requerido por ser uma posição em pé, ela requer um alongamento constante da parte superior do corpo para que as mãos alcancem o chão enquanto a coluna se mantém alinhada. Para que a permanência dessa pose seja possível, há necessidade de constância e uniformidade das forças. Na arquitetura, ela pode se traduzir como elementos estruturais cuja resistência garantem a estabilidade da edificação. Posições realizadas em pé como é o caso da Vrkasasana e da Ardha candrasana requerem equilíbrio, elasticidade e estabilidade. São consideradas recomendáveis aos que estão iniciando o caminho da ioga, ou seja, são bases para os desafios mais complexos que outras poses podem apresentar ao corpo do praticante. Por ter essa característica fundamental, elas traduzem para a arquitetura elementos com menos detalhes e rebuscamentos, mas que são alicerces para o conjunto da obra. Por fim, a Paripurna navasana é, além de uma pose de força, focada em uma região específica do corpo: ela trabalha especialmente o abdômen e a lombar. Sua característica pontual pode traduzir pontos focais em um projeto ou até mesmo detalhes que fazem com que ele tenha uma identidade própria.
Tabela 1: Estudo dos asanas
47
estudo preliminar O início do desenvolvimento projetual buscou incorporar a filosofia da Ioga no espaço, no sentido de deixá-lo adequado para a prática. A partir do estudo das formas, buscou transformar a linguagem corporal das poses (asanas) em formas abstratas para uso na concepção projetual, a figura 28 ilustra as poses escolhidas como inspiração principal e sua abstração em maquetes físicas de papel craft. Esse exercício preliminar possibilitou transformar os contornos das asanas em uma interpretação lúdica para uso em coberturas de abrigo dos ambientes para o desenvolvimento das funções do centro. As funções coletivas foram acomodadas sob a maior cobertura e as cabanas individuais nas coberturas menores. Como a aplicação de varandas foi uma medida reforçada pela proposta desse trabalho, essas grandes coberturas possibilitam ainda a função de uma grande varanda. Além da funcionalidade prática de melhoria do conforto térmico e proteção contra as intempéries, a aplicação das coberturas/varandas garante uma iden-
Figura 28: Estudo de formas. Fonte: A autora
48
tidade visual ao projeto. As figuras 29 e 30 ilustram a as coberturas/varandas resultantes desse processo. Na figura 31, verifica-se que os volumes, que agrupam diferentes funções, foram deslocados da cobertura. Na maior cobertura, agrupou-se os vestiários, a área administrativa e o salão de prática coletiva, ou seja, as áreas de livre acesso aos usuários e de acesso restrito aos funcionários. Toda a área livre no entorno dessas funções constitui espaços de circulação. A figura 32 mostra o pátio interno que vai servir de ligação entre as áreas coletivas e as de meditação individual. Esse espaço gerado pela separação entre as coberturas além de permitir a prática da ioga ao ar livre, proporciona um local de conexão e de integração com a natureza através de um projeto paisagístico. As cabanas de meditação individual (figura 33), devido a condição isolada de sua funcionalidade, foram alocadas distantes das áreas de maior circulação de pessoas, o que evita a interferência de ruídos externos no momento de meditação do usuário.
Figura 29: Cobertura principal. Fonte: A autora
Figura 30: Coberturas menores. Fonte: A autora
Figura 31: Maquete preliminar – vista frontal. Fonte: A autora
49
Figura 32: Maquete preliminar - pátio interno
Figura 33: Maquete preliminar - vista dos fundos
50
51
estudo estrutural Para o estudo estrutural, também foram desenvolvidas maquetes físicas, porém foram usados MDF, papelão, canudos de papel e palitos de madeira, para a definição de pilares, vigas e cobertura. A essência das formas exploradas na maquete preliminar foi mantida na inclinação das coberturas e na configuração espacial.
A figura 35 mostra imagens da maquete que evidencia as principais áreas do projeto conectadas por caminhos protegidos por pergolados. Esses caminhos constituem os eixos (figura 34) de projeto que conectam os espaços coletivos e os de meditação.
Figura 35: Imagens da maquete estrutural. Fonte: A autora
Figura 35.a: Maquete estrutural – vista frontal. Fonte: A autora
Figura 34: Eixos principais do projeto. Fonte: A autora
52
Figura 35.b: Maquete estrutural – vista lateral. Fonte: A autora
53
As figuras 36 e 37 mostram a configuração entre os espaços construídos (espaços coletivos, cabanas individuais e área de circulação coberta) e livres (estacionamento, espaço circundante à edificação, pátio interno). A solução encontrada para o sistema estrutural foi de pilares de concreto armado, vigas de madeira laminada colada (MLC) e uma cobertura do sistema fast roof (figura 38), que são peças pré-moldadas de aço galvanizado, portanto, mais leves que uma estrutura de madeira. O sistema estrutural foi definido para suportar a cobertura e não poluir visualmente o projeto com quan-
tidade excessiva de pilares. Assim, a concepção projetual resultou em uma estrutura aberta e espaçada o que permite uma boa ventilação, iluminação natural, além de uma maior integração com o espaço natural circundante. Uma estrutura desse porte necessita de contraventamento para combater a ação dos ventos. Essa necessidade criou uma oportunidade de usar o método de estudo das poses da Ioga para definir o desenho, conforme mostram as figuras 39 e 40.
Figura 39: Desenhando o contraventamento. Fonte: A autora
Figura 36: Identificação dos espaços externos. Fonte: A autora
Figura 37: Identificação dos espaços internos. Fonte: A autora
54
Figura 40: Desenhando o contraventamento. Fonte: A autora
55
Figura 38: Esquema da cobertura na maquete. Fonte: A autora
Figura 41: Componentes da cobertura. Fonte: a autora
Tabela 2: Sistema fast roof. Fonte: Santo André Construção Civil (disponível em: https://www.sandre.com.br/sistemas_ construtivos.php)
Figura 42: Detalhamento telha termoacústica. Fonte: A autora
56
57
materiais e métodos construtivos Para decidir os principais materiais a serem aplicados nesse projeto, leva-se em consideração os seguintes direcionamentos: sustentabilidade, conforto térmico e acústico, conexão com a natureza e estética. Pensa-se portanto, em vista os itens citados, três principais materiais aparentes: madeira, barro e concreto. Justifica-se a escolha da madeira e do barro em decorrência da alta eficiência de ambos materiais no quesito conforto termoacústico e por aproximar a
estética projetual ao ambiente natural circundante. Já o concreto foi escolhido devido à sua resistência estrutural para sustentar a carga das coberturas e também por ser um material que tem concordância estética com os demais. A estrutura do telhado é o sistema fast roof cujas peças são de aço galvanizado. Esse material, porém, não é aparente ao usuário do espaço pois há forros e platibandas de madeira.
barro Em relação à vedação da obra proposta por esse trabalho, considera-se o tijolo de adobe como constituinte principal. É um material eficiente e barato e, por utilizar o solo local, garante a característica de conexão com o ambiente circundante. Dependendo da qualidade do solo, há a possibilidade de adicionar cimento à mistura caso seja necessário maior resistência, estabilidade e duração. Além dos tijolos estruturais, o barro também será aplicado na construção de blocos de cobogó que permitem a ventilação dos ambientes (figura 43). Segundo Pereira et al. (2014), por se tratar de um material poroso, o adobe tende a absorver água. Sob o ponto de vista do conforto térmico, é uma ótima característica do material. Isso, porém, significa que tomar certos tipos
de cuidado com o tijolo se faz necessário. A construção deve ser feita em cima de uma fundação de pedra, evitando o contato direto do adobe com o solo. No caso desse projeto, a fundação foi elevada a 25cm do solo e é feita de concreto. Ainda segundo o mesmo autor, varandas, coberturas e beirais grandes também são recomendados, pois protegem esse tipo de vedação do contato direto com a chuva. Nesse projeto, os edifícios estão defendidos das intempéries por amplas coberturas/varandas. O barro também é aplicado no piso das áreas de prática ao ar livre e no caminho de entrada do projeto.
Figura 43: Cobogó de barro. Fonte: a autora
madeira Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura (2005), o estado de São Paulo é o segundo do Brasil com a área total de Pinus e Eucalipto plantados no território, sendo ultrapassado apenas por Minas Gerais. A área totaliza 776.160 hectares, somando os dois tipos de madeira. Ou seja, há abundância desse recurso nos arredores da cidade de Bauru e, consequentemente, fácil acesso ao material. Atualmente os reflorestamentos são grandes fontes de abastecimento de madeiras para fins industriais sendo o gênero Eucalyptus o mais plantado pelo seu grande potencial de adaptação em distintas regiões apresentando alta produtividade de madeira de qualidade satisfatória, que
58
por estes motivos está tendo uma grande participação no mercado de madeira sólida (RODRIGUES, 2002) Considera-se o uso dessa madeira de reflorestamento em forma laminada colada (MLC) para as vigas, para os batentes e esquadrias das aberturas e para o pergolado entre as coberturas das cabanas de meditação individual. Além disso, tábuas dessa madeira são utilizadas para fazer os forros de madeira, as platibandas e o fechamento superior dos ambientes. Para fazer a ligação das vigas aos pilares de concreto usa-se um conector de aço que é concretado junto ao pilar e, posteriormente, encaixa-se a viga e ela é parafusada na peça (figura 44).
Figura 44: Conexão viga-pilar. Fonte: a autora
59
O PROJETO
60
61
paisagismo e área externa
Após as etapas de estudo das formas e das estruturas, chega-se, portanto, no resultado final do projeto. A figura 45 ilustra a implantação do Centro de Ioga e meditação no local escolhido. Nota-se que a diretriz de distribuição equilibrada ao longo do eixo causado pelo formato alongado da quadra foi mantida. Como a conexão com a natureza é essencial, procurou-se trabalhar com um paisagismo do cerrado, condizente com a vegetação local da cidade de Bauru. Cercar o edifício com vegetação, além de promover essa conexão, também é uma estratégia de conforto térmico.
62
Figura 45: Implantação
63
Como forma de equilibrar os ângulos severos que compõem grande parte da área construída do projeto, procurou-se trabalhar os elementos paisagísticos externos ao edifício com formas sinuosas e menos rígidas. Para o paisagismo planejado, escolheu-se 5 principais árvores típicas do cerrado para circundar o centro de ioga e 4 espécies arbustivas para compor os canteiros em volta dos lagos de carpas (figura 46). Ao plantar essas espécies em torno dos estacionamentos, gera-se, além de sombreamento para os veículos, uma separação entre a rua e o edifício. Seixos brancos foram incorporados como forma de desenhar o paisagismo dos canteiros e do pá-
tio interno. Essas pedras também foram distribuídas ao longo dos limites externos do Centro como uma forma de cobrir a entrada das calhas, que saem das coberturas ao longos dos pilares e são enterradas no solo, onde se conectam ao sistema de escoamento pluvial. O estacionamento foi revestido com piso intertravado de concreto e grama, como se pode observar na planta de paginação (figura 47). Esse revestimento permite alta resistência para a passagem de veículos e também evita a impermeabilidade, que além de prejudicar a drenagem de água, promove desconforto térmico.
Grama
Seixos brancos
Porcelanato Munari Grafiti, Estampa Cimento 60x60
Tijolo de barro em formato escama de peixe
Piso intertravado com grama
Cimento queimado dia de chuva, Suvinil
Figura 46: Identificação das espécies vegetais. Fonte: A autora
64
Figura 47: Planta de piso. Fonte: A autora
65
Figura 48: Render - canteiro esquerdo e lago de carpas. Fonte: A autora
66
Figura 49: Render - Caminho principal e estacionamentos. Fonte: A autora
67
desenhos técnicos Para sustentar as coberturas, foram escolhidos pilares de concreto e vigas de madeira como materiais principais, como já explorado no tópico de materiais e métodos construtivos. Esses pilares foram colocados, aproximadamente, de 6 em 6 metros (figura 50). Segundo o cálculo de pré-dimensionamento de vigas, a altura de uma viga de madeira equivale a 10% do vão, ou seja, uma viga de 60cm sustenta um vão de 6m.
Para que não haja problemas estruturais com os vãos superiores a 6m no sentido perpendicular ao das vigas, houve a colocação de pilares de reforço, indicados também na figura 50. É importante ressaltar que os valores resultantes do pré dimensionamento foram aplicados no projeto (vigas de 60cm de altura e pilares de 50cm de diâmetro) e que esses valores são superdimensionados, ou seja, a estrutura é capaz de se sustentar.
Figura 50: locação de ambientes e pilares em uma grade. Fonte: a autora
68
Figura 51: Implantação dos ambientes. fonte: a autora
69
E2
N
E3
E1
Figura 52: Planta geral. fonte: a autora E4
70
71
tabela de esquadrias
Tabela 3: Esquadrias
72
Tabela 3: Esquadrias
73
Figura 53: Isométrica. Fonte: a autora
Figura 55: Axonométrica. Fonte: a autora
Figura 54: Identificação dos ambientes por cor. Fonte: a autora
74
75
Figura 58: Elevação 3 Figura 56: Elevação 1
Figura 57: Elevação 2
76
Figura 59: Elevação 4
77
Figura 60: Render - Área de prática ao ar livre. Fonte: A autora
Figura 62: Render - Vista frontal. Fonte: A autora
Figura 61: Render - Pátio interno. Fonte: A autora
Figura 63: Render - Pergolado e lagos de carpas. Fonte: A autora
78
79
caixa d’água e reservatório de água pluvial Há uma grande queda d’água decorrente do fato da cobertura do bloco principal ser de apenas uma água. Cobrindo uma área de 39m de comprimento, o telhado tem resultante inclinação de 11%, valor permitido pela telha sanduíche, cuja inclinação mínima é de 5%. Para comportar o volume de água, foram implantadas calhas de 25cm de diâmetro com quedas ao longo dos 4 pilares (observar figura 65). Para captar a água da chuva e reutilizá-la no edifício, coloca-se um reservatório subterrâneo de 5.000L munido de filtro e uma bomba para levar essa água à caixa d’água, localiza-
da acima dos vestiários (figura 64). Para dimensionar a caixa d’água, considera-se esse projeto como um edifício público/comercial, que, segundo os valores determinados pela NBR 5626, tem a demanda de 50L/pessoa/dia. Ao considerar a capacidade de uso simultâneo máximo do espaço como 30 pessoas, tem-se que há a necessidade de 1500L. Para deixar uma margem de segurança e reserva de água, implantou-se no projeto, portanto, uma caixa d’água de 2500L (acqualev).
área administrativa A área administrativa engloba a recepção, a copa e banheiro dos funcionários, o escritório e sala de reuniões e também a despensa de materiais. A recepção é o único local que permite a circulação dos usuários do espaço que não compõem o corpo de funcionários do local. Nesse ambiente são realizadas as inscrições dos alunos que desejam aprender a Ioga,
também são dadas as informações sobre o funcionamento do espaço e é onde são feitas as reservas de uso das cabanas de meditação. Nota-se na planta que a despensa possui duas entradas. Foi planejada assim para que o instrutor de ioga tenha fácil acesso aos materiais sem precisar passar por dentro da área administrativa.
Figura 64: Localização caixa d’água e reservatório de captação de água da chuva. Fonte: A autora
Figura 65: Captação de água da chuva: reservatório subterrâneo - vista lateral. Fonte: A autora
80
81
Figura 66: Render - copa dos funcionários. Fonte: A autora
Figura 67: Isométrica interna. Fonte: A autora
82
83
Figura 67: Render - administração. Fonte: A autora
84
85
Vigas de madeira (seção: 0,10m x 0,05m) Forro de madeira (seção da tábua: 0,20m x 0,02m)
Figura 69: Camadas do forro. Fonte: a autora
Figura 68: Identificação de vigas em planta. Fonte: a autora
86
87
salão de prática coletiva O Salão de prática coletiva é o ambiente previsto para ter o maior fluxo de pessoas do centro. Foi planejado para comportar confortavelmente 20 pessoas simultâneamente com um espaçamento de 1m entre cada tapete de ioga . Há um palco elevado para que o instrutor possa ser visto por todos os alunos ao fazer suas demonstrações (figura 71).
Foi colocado um nicho na lateral para que os praticantes possam deixar seus sapatos, bolsas e agasalhos de forma organizada, evitando que os objetos possam interferir na prática de outros alunos.
Figura 70: Render - Salão de prática coletiva. Fonte: a autora
Figura 71: Render - Salão de prática coletiva. Fonte: a autora
88
89
90
91
Vigas de madeira (seção: 0,10m x 0,05m) Forro de madeira (seção da tábua: 0,20m x 0,02m)
Figura 72: Camadas do forro. Fonte: a autora
Figura 74: Isométrica interna. Fonte: a autora
Figura 73: Identificação de vigas em planta. Fonte: a autora
92
93
vestiários Os vestiários são equipados com chuveiros, o que oferece aos usuários do espaço a infraestrutura para higienização pré ou pós prática. Há também, nesse ambiente, armários individuais com chave para o armazenamento dos pertences pessoais com segurança tanto durante o banho quanto durante a prática da ioga.
Figura 76: Render - vestiários. Fonte: a autora
Figura 77: Render - vestiário masculino. Fonte: a autora
Figura 75: Isométrica interna. Fonte: a autora
94
95
96
97
98
99
Vigas de madeira (seção: 0,10m x 0,05m) Forro de madeira (tábua 0,20m x 0,02m) Laje de concreto (0,12m de espessura)
Figura 78: Identificação das vigas em planta. Fonte: a autora
100
Figura 79: Camadas: vigas, forro e laje. Fonte: a autora
101
terraço de relaxamento e contemplação O terraço de relaxamento e contemplação está localizado acima dos vestiários. O seu acesso é feito por uma escada na lateral do bloco, como se pode observar na figura 81. Por ser um ambiente elevado, ele permite que o usuário tenha uma visão de todo o entorno, que é coberto por vegetação típica do cerrado. Como é um espaço aberto e coberto, ele
é um local de transição entre o natural e o construído. Para manter essa conexão, foram colocadas, portanto, jardineiras com plantas ao seu redor. Para o relaxamento, foram colocadas redes acopladas nessas jardineiras. Já para a contemplação, foram colocados bancos de madeira (figuras 82 e 83).
Figura 80: Isométrica. Fonte: a autora
102
103
Figura 81: Acesso ao terraço. Fonte: a autora
104
105
106
107
Figura 82: Render - terraço de relaxamento e contemplação. Fonte: a autora
108
Figura 83: Render - terraço de relaxamento e contemplação. Fonte: a autora
109
cabanas de meditação individual As cabanas de meditação individual foram pensadas para funcionar de maneira independente: o usuário não precisa de um instrutor, e sim de um espaço isolado para a sua meditação. Inspiradas pela cabana do hatha-yoga-pradipika, elas têm bastante espaço de varanda e suas entradas são voltadas para o fundo do local de implantação do projeto, ou seja, tem visão para a mata nativa do cerrado encontrada no local. Portanto, janelas
de vidro foram colocadas na entrada da cabana, permitindo assim, que o usuário consiga enxergar a natureza do interior da cabana. Nas outras três paredes da cabana são colocadas duas fileiras de cobogós no alto, o que permite a constante ventilação mas ainda garante a privacidade e o isolamento de quem está ocupando o interior.
Figura 84: Perspectiva interna. Fonte: a autora
110
111
112
113
Figura 85: Identificação das vigas em planta
Vigas de madeira (seção: 0,10m x 0,05m)
Forro de madeira (tábua 0,20m x 0,02m x 1,00m)
Figura 86: Camadas do forro. Fonte: a autora
114
115
Figura 87: Render - cabanas de meditação individual. Fonte: a autora
116
117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
118
Um espaço arquitetônico pensado especialmente para um certo uso, para um certo lugar e para certas pessoas potencializa os efeitos positivos da prática ao criar uma boa relação do ambiente com a sua proposta de ocupação. Alcançar essa especificidade foi o objetivo deste trabalho, ou seja, propor projetualmente uma solução arquitetônica à falta de um espaço adequado para a prática da Ioga na cidade de Bauru. Estudando os mais antigos escritos sobre a ioga, concluiu-se que são necessários o silêncio, o conforto, o equilíbrio e a natureza para ser possível a meditação em sua forma mais profunda. Para determinar o que seria o apropriado para cumprir essa função foi necessário um estudo de base dos espaços existentes no local, de outros projetos com propostas semelhantes e de o que os especialistas da Ioga consideram um espaço ideal.
Além da forma, foi levado em consideração o impacto da ventilação e da iluminação natural e também dos materiais no usuário do espaço. Após construir uma base teórica sólida, foi possível, portanto, a aplicação da visão e criatividade individual da autora para conceber um projeto. Através de um conciliamento entre as filosofias da prática e as técnicas de projeto aprendidas durante a graduação, chegou-se então no resultado aqui apresentado. A Ioga foi incorporada não apenas na função do edifício, mas também inspirou diretamente as formas utilizadas e os conceitos aplicados. A técnica de desconstruir os asanas (poses) gerou um método de projetar que pode ser utilizado como base para outros arquitetos que procuram referências sobre o mesmo tema.
119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEUERSTEIN, G. As virtudes do Yoga: antigos ensinamentos para esta época de crise global. São Paulo: Pensamento, 2009
se-tropical-space/> ISSN 0719-8884
CORREIA, Abel et al (Ed.). Manual de Yoga. Lisboa: Mh Edições, 2010.
“The House of Silence / Natura Futura Arquitectura” [La casa del silencio / Natura Futura Arquitectura] 09 Aug 2019. ArchDaily. (Trans. Johansson, Emma) Accessed 11 Nov 2019. <https://www.archdaily.com/922656/the-house-of-silence-natura-futura-arquitectura/> ISSN 0719-8884
ANDRADE, Laura Helena Silveira Guerra de. Epidemiologia psiquiátrica: Novos desafios para o século XXI. Revista Usp, São Paulo, v. 1, n. 43, p.84-89, nov. 1999. VORKAPIC, Camila Ferreira; RANGÉ, Bernard. Os benefícios do yoga nos transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Rio de Janeiro, v. 1, n. 7, p.50-54, out. 2011. BARROS, Nelson Filice de et al. Yoga e promoção da saúde. 2013. Disponível em: <https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232014000401305&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 12 jun. 2013. PATANJALI. Os yoga sutras de Patanjali. São Paulo: Mantra, 2015. Tradução por Carlos Eduardo G. Barbosa. SVATMARAMA, Svamin. Hatha-yoga-pradipika: uma luz sobre o hatha-yoga. São Paulo: Mantra, 2017. Tradução comentada por Roberto de A. Martins. BLANKENBERGER, Denise. Yoga and architecture: a philosophical design approach. 2016. 58 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura, Ball State University, Muncie, Indiana, 2016 PEREIRA, Daniel Augusto de Moura et al. PROJETO DE UMA BIOALVENARIA DE VEDAÇÃO A PARTIR DE TERRA CRUA: O CASO DO TIJOLO DE ADOBE. Revista Saúde e Ciência, Campina Grande, v. 3, n. 3, p.64-75, dezembro 2014. Disponível em: <http://www.ufcg.edu.br/revistasaudeeciencia/index.php/RSC-UFCG>. Acesso em: 06 dez. 2014
BAURU. Lei nº 2339, de 15 de fevereiro de 1982. Estabelece normas para parcelamento, uso e ocupação do solo no Município de Bauru. Bauru: Câmara Municipal, p. 1-69, [1982]. BAURU. Decreto nº 13.711, de 28 de março de 2018. Regulamenta a Lei Municipal nº 7.028, de 21 de dezembro de 2017, que dispõe sobre o licenciamento de Obras e Edificações no Município de Bauru. Bauru: Prefeitura municipal de Bauru. RODRIGUES, Rodrigo Augusto Dias. Variabilidade de propriedades físico-mecânicas em lotes de madeira serrada de eucalipto para a construção civil. 2002. 75 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Florestal, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. BRITO, Leandro Dussarrat. Recomendações para o projeto e construção de estruturas com peças roliças de madeira de reflorestamento. 2010. 339 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia de Estruturas, Departamento de Engenharia de Estruturas, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010. “Casa da Mata Azul / Studio Carlito e Renata Pascucci” 14 Mai 2020. ArchDaily Brasil. Acessado 19 Mai 2020. <https:// www.archdaily.com.br/br/939494/casa-da-mata-azul-studio-carlito-e-renata-pascucci> ISSN 0719-8906 SILVA, Fabio Henrique Mazzoni de Oliveira. O caminho da arquitetura saudável. Campinas, 2014. Apostila de arquitetura e permacultura.
IYENGAR, Geeta S.. Yoga: a gem for women. Nova Delhi: Allied Publishers, 1983. CHING, Francis D. K.. Achitecture, Form, Space and Order. 4. ed. New Jersey: Wiley, 2015 BARTHOLOMEI, Carolina Lotufo Bueno. Influência da vegetação no conforto térmico urbano e no ambiente construído. 2003. 189p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/258588>. Acesso em: 3 ago. 2018. “Jetavana / Sameep Padora & Associates” [Jetavan / Sameep Padora & Associates] 24 Jul 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Delaqua, Victor) Acessado 11 Nov 2019. <https://www.archdaily.com.br/br/791927/jetavana-sameep-padora-and-associates> ISSN 0719-8906
“Moradias Infantis / Rosenbaum® + Aleph Zero” [Children Village / Rosenbaum + Aleph Zero] 20 Set 2017. ArchDaily Brasil. Acessado 19 Mai 2020. <https://www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero> ISSN 0719-8906 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626: instalação predial de água fria. Rio de Janeiro, set/1998 DURINGAN, Giselda et al. Plantas pequenas do cerrado: biodiversidade negligenciada. São Paulo, 2018. Disponível em: http://arquivo.ambiente.sp.gov.br/publicacoes/2018/12/plantaspequenasdocerrado.pdf
“LT House / Tropical Space” 15 Jun 2016. ArchDaily. Accessed 11 Nov 2019. <https://www.archdaily.com/789533/lt-hou-
120
121
122
123