Revista Global Forum America Latina Curitiba

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Por um mundo sustentável Global Forum América Latina reúne em Curitiba 1.300 pessoas para debater como aproximar negócios, educação e sustentabilidade


índice Um pacto e muitos frutos: a origem do GFAL

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Call for Action – um passo adiante

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Com 1.300 participantes, Global Forum supera expectativas

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Um grande painel de idéias e experiências

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Notas

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Ram Charam e o poder da mente

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Empresas que aliam sustentabilidade e negócios

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Uma mostra de ações concretas

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Pós-conferência mostra o poder das redes

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Encontro de Curitiba gera 80 proposições

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Segunda etapa: transformar sonhos em projetos

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Demandas e expectativas para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável

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a o l eit o r

Não é tarde demais Quando centenas de pessoas deixam seus afazeres profissionais rotineiros para participar durante três dias de um debate sobre determinado assunto, é possível dizer sem medo de errar que esse tema tem relevância e preocupa os segmentos que essas pessoas representam. Nesse sentido, o Global Forum América Latina, realizado em Curitiba de 18 a 20 de junho, deixou, antes de tudo, uma mensagem de esperança. Afinal, em última análise, o que estava em pauta era o futuro do planeta e a possibilidade de deixarmos um mundo melhor para as gerações que ainda virão.

Esse debate atraiu 1.300 pessoas, de diferentes países, formações, trajetórias, idades e segmentos. Foi um passo inicial, mas animador. Entre os participantes estavam representantes de empresas, universidades, organizações da sociedade civil e governos. Em salões e auditórios lotados, eles ouviram palestrantes reconhecidos em suas áreas de atuação, trocaram idéias, conheceram experiências diversas e elaboraram propostas para enfrentar o desafio de conciliar sustentabilidade e negócios.

Esta publicação é um registro do que ocorreu durante os três dias desse encontro e também no primeiro Call for Action (chamada para a ação), que aconteceu em Curitiba e terá nova edição ainda este ano, em São Paulo. Ela resume o pensamento dos profissionais convidados para expor seu pensamento, com o propósito de provocar a reflexão nos demais participantes. Traz uma amostra dos trabalhos apresentados durante o Global Forum por acadêmicos, executivos e empresários já envolvidos em ações relacionadas à sustentabilidade. E apresenta as proposições provocativas que resultaram disso tudo.

Ao final do encontro, era fácil encontrar fisionomias cansadas pelos três dias de atividades. Mas havia no ar uma certeza, que o representante da organização Brahma Kumaris no Brasil, Ken O’Donnel, resumiu bem no encerramento do Global Forum: “O mundo está dizendo ‘é tarde’, mas a placa ‘tarde demais’ não foi colocada ainda”.

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h ist ó ria

Um pacto e muitos frutos

Ao estabelecer os princípios do Pacto Global, a ONU deu o passo inicial de um processo de mobilização do empresariado para a sustentabilidade No ano 2000, o secretário-geral da Organização

em Vitória. Este ano ainda vai acontecer outra em

das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, propôs à

Manaus. A CNI (Confederação Nacional da Indústria)

comunidade empresarial internacional a adesão

e o Sesi (Serviço Social da Indústria) patrocinam

a nove princípios nas áreas de direitos humanos,

esses encontros no Brasil.

trabalho e meio ambiente. Batizado de Pacto Global, esse conjunto de princípios foi o embrião de um

Em junho deste ano, num novo desdobramento do

movimento que desde então vem ganhando corpo

processo iniciado há oito anos, Curitiba sediou a

em vários países e que tem como premissa o fato

primeira edição do Global Forum na América Latina.

de que atualmente as empresas são protagonistas

Durante três dias, mais de 1.300 pessoas reuniram-

fundamentais no desenvolvimento social das nações

se no Cietep, centro de eventos do Sistema Fiep, para

e devem agir com responsabilidade na sociedade

debater o avanço da educação e da formação de novos

com a qual interagem.

líderes e gestores, com foco na sustentabilidade. O evento foi realizado pelo Sistema Federação das

Quatro anos depois, 500 líderes empresariais reunidos

Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em parceria

em Nova York definiram estratégias para nortear as

com o Sesi, Unindus – universidade corporativa do

empresas na implementação dos princípios do Pacto

Sistema Fiep, Case Western Reserve University (EUA),

Global. Entre elas, a construção de um programa de

Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação

revisão no ensino superior de Administração.

Getulio Vargas (FGV-EAESP) e Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD).

Uma das grandes contribuições para isso foi o movimento BAWB – Business as an Agent of Word

O encontro reuniu participantes de 14 estados

Benefit, criado pela Escola de Negócios da Case

brasileiros e de mais de cinco países. O resultado

Western University, em 2002. O BAWB, que pode ser traduzido como Negócios como Agentes em Benefício do Mundo, propõe uma profunda revisão na educação superior de gestão de negócios, visando o desenvolvimento sustentável. As duas idéias se uniram em 2006 no primeiro BAWB-Global Forum, realizado em Cleveland (EUA). O encontro contou com 400 líderes empresariais e representantes do mundo acadêmico de 40 países, além de mil participantes via internet. Foi o início de uma cooperação entre o mundo empresarial e o acadêmico com o objetivo de criar ações efetivas para o desenvolvimento sustentável global. No Brasil, já houve cinco conferências BAWB, sendo três em Curitiba, uma em Fortaleza e uma

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Kofi Annan


h ist ó ria

foi um debate intenso e enriquecedor, que se

na Universidade Estadual de Ponta Grossa; Unibrasil,

estendeu por três dias em palestras, workshops,

em Curitiba; Unopar, em Londrina; Fundação Getúlio

sessões temáticas e muita troca de informações e

Vargas, no Rio de Janeiro e Banco Real, em São Paulo.

experiências entre todos os participantes. Nomes de peso, como o indiano Ram Charan, Oscar Motomura,

Além das palestras, o público pôde assistir a dois

da organização Amana-Key, e o presidente do

telejornais diários, com os principais acontecimentos

Instituto Ethos, Ricardo Young, compartilharam suas

do dia.

experiências e deram contribuição fundamental ao trabalho dos participantes.

Dimensão local

Estrutura

Para o presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, a realização de edições locais de eventos como

Um ampla estrutura foi montada para receber os

o Global Forum é uma tendência natural e necessária

participantes do Global Forum América Latina. O

para dar dimensão concreta à preocupação crescente

evento foi realizado numa área de 3,3 mil metros

com a sustentabilidade. “Estamos em um estágio

quadrados. No espaço de trabalho, foram colocadas

no qual é necessário construir uma visão global,

125 mesas equipadas com laptops interligados

de conjunto. Mas para que ela seja implementada,

em rede. Um lounge montado no piso superior

certamente é preciso que aconteçam ações em

funcionou como espaço para troca de experiências

planos mais específicos e que mantenham objetivos

e networking.

e princípios comuns”, afirma.

Complementram a estrutura uma lan house, espaço para

Rocha Loures diz que, encerrado o evento de

massagem e 15 estandes de empresas e instituições

Curitiba, não restaram dúvidas de que o tema da

parceiras, com serviços e informações variados.

sustentabilidade ganhou corpo na agenda das organizações representadas. As propostas reunidas

Todas as palestras foram transmitidas ao vivo via

durante o evento serão levadas para a próxima edição

internet no site do evento e por teleconferência para

mundial do Global Forum, que acontecerá no ano que

23 pontos do Sistema Fiep no interior, além de pontos

vem em Cleveland (EUA).

Conheça os nove princípios que regem o Pacto Global Direitos Humanos Princípio 1: Apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos internacionais dentro de seu âmbito de influência; Princípio 2: Certificar-se de que suas corporações não sejam cúmplices de abusos em direitos humanos.

Trabalho Princípio 3: Apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; Princípio 4: Apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado e compulsório; Princípio 5: Apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil; Princípio 6: Apoiar o fim da discriminação relacionada a emprego e cargo.

Meio Ambiente Princípio 7: Adotar uma abordagem preventiva para os desafios ambientais; Princípio 8: Tomar iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; Princípio 9: Incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente sustentáveis.

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c a l l f o r a c ti o n

Um passo adiante

Global Forum tem continuidade em três encontros que visam transformar em ações práticas a reflexão iniciada em Curitiba Reunir 1.300 pessoas para refletir sobre o futuro do planeta e a necessidade de incluir a sustentabilidade entre as preocupações de empresas e universidades – como aconteceu em Curitiba no mês de junho – foi, sem dúvida, um grande avanço. Mas os próprios participantes do Global Forum América Latina perceberam, durante os debates, que é preciso ir além, transformando em ações práticas a reflexão inicial sobre educação, negócios e sustentabilidade. Este é o objetivo do Call for Action (chamada para a ação), uma sucessão de encontros que começou em julho, em Curitiba (ver página 35), e prossegue ao longo do ano, com mais duas reuniões em São Paulo. Trata-se de workshops em que os participantes elaboram estratégias e projetos a partir das proposições provocativas sobre educação e sustentabilidade apresentadas durante o Global Forum. Os participantes serão responsáveis pela continuidade e aplicação dos projetos, com o apoio da Unindus, universidade corporativa do Sistema Fiep. Durante o Call for Action será feita a validação das proposições em categorias, como inovação, formulação de políticas públicas, produção de conhecimento sobre sustentabilidade e formação de redes A idéia é debater a sustentabilidade de forma sistêmica e continuada, envolvendo líderes de empresas, de academias, do governo e da sociedade civil para fomentar e implementar iniciativas relacionadas à sustentabilidade. “Construímos no encontro de Curitiba a visão que queremos, a estratégica que nos anima e nos une. No segundo momento, vamos transformar essas proposições em propostas de ação efetiva”, disse o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures. Nos dias 20 e 21 de agosto, acontece na Fecomércio, em São Paulo, um encontro preparatório para o segundo Call for Action, que acontecerá nos dias 20 e 21 de novembro, também em São Paulo. O resultado de todos esses debates será levado ao Global Forum de Cleveland, nos Estados Unidos, em junho de 2009.

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mobilização

Além das expectativas Global Forum America Latina reuniu em Curitiba 1.300 participantes, de seis países, para debater as relações entre educação, negócios e sustentabilidade

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mobilização

O Global Forum América Latina superou as expectativas

empresas. Aos poucos, as companhias perceberam

já na abertura. O auditório Mario de Mari, do Cietep, ficou

a importância de participar do Pacto Global e foram

lotado e surpreendeu os organizadores pelo número e

aderindo aos princípios. Nossa meta é que as 75 mil

pela diversidade de pessoas interessadas em debater as

companhias transnacionais façam parte do Pacto”,

relações entre educação, negócios e sustentabilidade.

disse. “Para as empresas, é uma boa oportunidade

Participaram mais de 1.300 pessoas, de 14 estados

para fazer negócios e trocar experiências no mundo

brasileiros e de mais cinco países: Argentina, Venezuela,

globalizado, visto que todas seguem os mesmos

Paraguai, Uruguai e Estados Unidos.

princípios”, afirmou.

Na abertura, todos os palestrantes destacaram a busca

Para Haertle, não importa a maneira como as

da sustentabilidade como um dos principais desafios

companhias aplicam os princípios, mas sim os

a serem enfrentados a partir de agora por empresas

resultados. “Não existe uma regra, mas todas

e pela sociedade em geral. “É necessário garantir a

incorporam os princípios na estratégia, nos diferentes

sustentabilidade dos negócios, dos valores humanos,

programas e também na comunicação das ações.”

dos arranjos e valores sociais que construímos”, disse o presidente do Sistema Federação das Indústrias do

Modelo inviável

Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, ressaltando que as empresas têm papel dominante

O

no mundo e, dependendo de como funcionam, podem

Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Israel Klabin,

presidente

da

Fundação

Brasileira

para

o

colocar em risco o futuro da civilização.

falou sobre a fragilidade do atual modelo de sustentação no qual o planeta tem sido conduzido.

Rocha Loures fez um relato dos estudos sobre o

Ele atribui a fragilidade a três inviabilidades:

assunto e as inúmeras conferências realizadas a partir

a

da criação, pela ONU, do Pacto Global – compromisso

baseada em combustível fóssil e que provoca as

dirigido às empresas, com uma série de itens relativos

mudanças climáticas); a econômica (reflexo do

a desenvolvimento e sustentabilidade.

modelo macroeconômico, que pauta o crescimento

ambiental

(relacionada

à

matriz

energética,

pelo aumento do consumo, limitado à existência de “Em todas essas conferências, apontou-se como

recursos naturais renováveis) e a social (injustiça

imperativo repensar a formação de executivos. A

social gerada pela distribuição desigual dos benefícios

educação é a questão central. Esse encontro de

que a sociedade produz de forma globalizada).

Curitiba segue o planejamento da série de conferências que deverão ocorrer em outras partes do mundo, com

“O principal desafio para o mundo empresarial e

o objetivo de proporcionar aos estudantes de cursos

acadêmico é incluir no modelo de governança os

superiores, notadamente na área de administração

vetores socioambientais”, disse o empresário. “Essa

de

os

conscientização vem da necessidade de transparência

tornem aptos a agir de acordo com os requisitos da

da empresa perante a opinião pública e da própria

sustentabilidade”, afirmou.

necessidade de eficiência do negócio”, declarou.

empresas,

valores

e

instrumentos

que

Segundo Jonas Haertle, coordenador da área de

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academia e negócios do Pacto Global da ONU, existem

Além dos participantes inscritos e das instituições

hoje quatro mil empresas no mundo signatárias

parceiras, também estiveram presentes representantes

do Pacto Global, sendo mais de 200 no Brasil.

dos governos federal, estadual e municipal e do

“Quando começamos, no ano 2000, havia apenas 20

Tribunal Regional do Trabalho.

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Um grande painel de idéias e experiências Palestras e workshops reuniram representantes de empresas, universidades, governo e sociedade civil

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Mudanças são feitas por pessoas. Por isso, a difusão do conceito de sustentabilidade no mundo dos negócios e na academia passa por transformações no plano individual. Esta idéia foi a tônica do diálogo Alianças Estratégicas entre Empresas, Universidades e Sociedade, que mobilizou os participantes do Global Forum América Latina na manhã do segundo dia do evento. Os palestrantes concordaram que nos últimos anos ocorreu no Brasil uma mudança de paradigma no que diz respeito à consciência socioambiental, mas observaram que em geral ela ficou restrita a uma elite mais informada e consciente. O desafio agora é fazer migrar o conceito de sustentabilidade para as demais camadas da sociedade. “Precisamos expandir a consciência sustentável para todas as faixas sociais e etárias da nossa sociedade. Esta transformação tem que ser individual”, defendeu Christina Carvalho Pinto, diretora geral e apresentadora do programa de televisão Mercado Ético. “É preciso fazer perguntas a si mesmo: o que eu gostaria de ser e fazer neste processo? Onde estão os meus valores?” “Houve uma mudança completa de paradigma no nível mais alto da intelectualidade brasileira. Agora esse mudança tem que chegar mais abaixo”, concordou o economista e educador Cláudio de Moura Castro, presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras. Para Oscar Motomura, fundador e principal executivo do Grupo Amaná-Key (centro de excelência em gestão), “não existe nada mais poderoso do que a iniciativa das pessoas”. São elas, destacou, as responsáveis por acelerar as mudanças e é preciso que cada um faça a sua parte. “As pessoas devem subir no helicóptero e ver a conexão de seu departamento com a empresa, de sua empresa com a sociedade e, numa perspectiva mais ampla, ver a empresa sob o prisma do planeta”, disse. O presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, disse que a sociedade clama por lideranças com capacidade de olhar acima e além do interesse pessoal, da sua organização ou do seu setor. “Está decretada a falência do líder herói, especialista, setorial”, afirmou. A necessidade de avançar de uma visão individualista para outra centrada no coletivo também foi ressaltada pelo coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, Mario Monzoni. “A mudança de foco da educação, no sentido da sustentabilidade, pode ser feita com a introdução de uma nova metolodogia, baseada não mais na arrogância ou na sabedoria de um só”, afirmou. “É preciso proporcionar que a academia forme gestores com a percepção de que se pode formar algo mais valioso no futuro, repensando o coletivo.” Organizado em formato de talk show, o diálogo Alianças Estratégicas foi apenas um entre muitos momentos enriquecedores vividos durante o Global Forum América Latina. Durante três dias, os participantes do evento ouviram uma série de palestrantes convidados para compartilhar idéias e experiências, resumidas nas páginas a seguir.

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REPENSAR OS VALORES DA EDUCAÇÃO Mário Monzoni, administrador de empresas e doutor em Administração Pública e Governo, é coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas – EAESP Produzir esse aprendizado é muito difícil. É preciso trabalhar com uma sociedade que tem uma visão muito instrumental, técnico-científica do ensino e que vai colocar o tom para o desenvolvimento. Hoje em dia, existe uma tirania de que vai se conseguir resolver o desenvolvimento por meio da ciência e tecnologia, quando há um caminho que investe muito mais em valores e nas instituições. No campo microeconômico, nós somos criados e educados para ter uma visão de plano de negócios, A academia pode, pelo lado da oferta, produzir

de cronograma, não uma visão de diálogo, de

inovação, conhecimento e começar a questionar

participação.

valores. Mas enquanto o setor privado e a indústria não começarem a demandar que a

Aqui nós podemos fazer esse exercício de

academia produza esse tipo de solução, vai ser

participação, de respeito, de diversidade, de

um trabalho muito mais difícil, árduo e de longo

diálogo, que investe muito mais no processo.

prazo. Então, é importante que o setor privado

Talvez isso possa ser aproveitado na academia,

demande dos reitores, dos currículos, que esse

para que os seus métodos levam à formação de

tipo de abordagem seja incorporada, para que

gestores com a percepção de que podemos gerar

possamos avançar rápido nessa agenda.

desenvolvimento não só por meio de instrumentos, mas por meio de valores, de instituições, de

Quando

começamos,

recentemente,

essa

diálogo e de processos.

jornada na FGV, não imaginávamos o alcance e

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a repercussão que viriam. Mas eu não posso

A boa notícia é que nós estamos vendo, na

imaginar que estejamos com o serviço feito. A

graduação da FGV, uma demanda de meninos e

gente precisa de muito trabalho, principalmente

meninas que estão começando a repensar valores

na questão da transversalidade, para que todos

e visões de mundo cada vez mais cedo. Cada vez

os departamentos percebam a importância dessa

mais a gente tem visto os jovens repensando e

incorporação.

revisitando esses valores mais cedo.

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A CONTAMINAÇÃO POSITIVA Oscar Motomura, graduado em Administração e Psicologia Social, é fundador e principal executivo do Grupo Amaná-Key Para nós, da Amaná-Key, a idéia de sustentabilidade

que atuam em instituições, mas também são

começou há 20, 30 anos, com uma definição do

cidadãos,

papel da liderança. Todo líder deve olhar as coisas

As interconexões que acontecem, inclusive em

a partir da perspectiva de um estadista. A pergunta

eventos como este, vão gerar uma quantidade

que fica é: “Qual o meu papel e o que eu estou

enorme de ações e iniciativas, num processo

fazendo para melhorar o estado do mundo?”.

altamente biológico.

A primeira noção importante refere-se a um olhar

Posso ser alguém de governo que fica aberto

que muda tudo o que a gente faz. A segunda são

a ouvir propostas diferentes numa nova ética,

as relações entre as pessoas. Imagina-se que a

numa nova forma de ver as coisas. Eu posso ser

parceria entre a universidade, o mundo empresarial

um empresário que, sensibilizado pelos próprios

e os próprios governos seja uma coisa deliberada

filhos, que fazem perguntas instigantes, muda seu

das instituições, mas na prática não é. Ela é

comportamento no dia seguinte. E aí está o poder

produto da iniciativa de pessoas que trabalham

da comunicação.

amigos,

professores,

estudantes...

nessas instituições. Muitas pessoas agem contra a sustentabilidade Então, se olharmos as coisas que estão acontecendo,

não por mal, mas simplesmente porque não

todo

sustentabilidade,

sabem, por analfabetismo ecológico. É preciso

especialmente nos últimos dois anos, perceberemos

reinventar o negócio, reinventar o curso que se

que ele é produto da interconexão de indivíduos,

dá na universidade, reinventar governos. O centro

esse

movimento

da

destas mudanças está nas pessoas. Um indivíduo nessas instituições pode ser o catalisador de uma mudança impressionante, se contar com a parceria da própria vida, em que um contamina positivamente o outro.

Hoje nós estamos com um problema de escala e complexidade no mundo e, se queremos realmente fazer diferença, temos de contar com o biológico e promover esta contaminação positiva.

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NOVAS LIDERANÇAS PARA UMA NOVA CIVILIZAÇÃO Ricardo Young, empresário, administrador de empresas e representante do Instituto Ethos de Responsabilidade Social no United Nations Global Compact A primeira coisa que me intriga muito é ver que as organizações estão entendendo que precisam ser espaços de aprendizado permanente; portanto, espaços produtores de saberes e inteligência. Aí elas criam as suas universidades corporativas. Hoje, temos mais de cem universidades corporativas no Brasil. Do outro lado, as universidades fazem uma reflexão profunda sobre o seu papel na sociedade e chegam à conclusão de que precisam formar pessoas para o mercado. Então, “tecnizam” a educação, banalizam a educação e rebaixam a alma para a segunda ou terceira prioridade no processo educacional. Isso significa que nós temos um belo diálogo entre surdos e mudos. Empresas que querem aprender, buscando emular o papel da universidade, e universidades que querem servir o mercado, emulando empresas e se despindo da sua função tradicional de educar. O desafio mais importante dos processos de ensino-aprendizagem é o combate à fragmentação do conhecimento e a reintegração do conhecimento em espaços criativos, onde a conexão entre as pessoas precisa ser poderosa. Olhando os princípios da educação dos líderes responsáveis, nós podemos dizer que está decretada a falência do líder herói, do líder especialista, do líder setorial. A sociedade clama por lideranças que tenham a capacidade de olhar acima e além da sua experiência setorial, dos seus interesses pessoais, dos seus interesses corporativos ou organizacionais e que consigam ser catalisadores de uma corrente que tenha a ousadia da inovação, que tenha a ousadia de criar o novo, porque sem o novo não haverá sobrevivência possível no planeta. Esse tipo de liderança é urgente e é o desafio que todos nós temos. Estamos discutindo aqui como vamos colaborar para dar poder e capacitar lideranças cujos princípios, valores e olhar diferenciado sejam catalisadores daquelas forças que tenham profundo poder de mudar efetivamente. Nós precisamos de lideranças que ousem mudar nosso padrão civilizatório.

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VALORES PARA A SUSTENTABILIDADE Cláudio de Moura Castro, doutor em Economia pela Universidade de Vanderbilt. Foi diretor da Capes e atuou em órgãos internacionais, como a OIT e Banco Mundial. Atualmente, é presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras com um tíquete e dois números. Enchia o saco de lixo e colocava na beira da estrada com um número. No fim da tarde o carro de lixo passava e recolhia, pegava os números, sorteava alguns e os sorteados ganhavam um prêmio.

Lições:

no

caso

de

Ouro

Branco,

nós

vemos total ignorância e total ausência de ganância. Professores, diretores, secretários de educação, prefeito, secretário de obras, Eu quero contar dois casos que permitem ilustrar

ninguém se deu conta de que qualidade de

alguns princípios importantes. Eu fui visitar uma

água é muito mais importante que hospital.

escola rural em Ouro Branco, Minas Gerais. Cheia

Simplesmente

de computadores, uma escola para não passar

percepção, não há informação. Sem isso não

vergonha em lugar nenhum do mundo. Atrás dela

se dá um passo à frente.

desconheciam.

Não

tem um córrego. Eu perguntei à diretora: “A escola tem fossa séptica?”. Ela disse que não. Eu disse:

O outro extremo: primeiro, a complexidade do

“Quer dizer que vocês vão ensinar conservação,

processo. O clube é binacional, porque a gente

sustentabilidade,

joga

decola da França e pousa na Suíça. Então, tem

excrementos no rio?”. Numa reunião na semana

duas contabilidades, dois presidentes. Em

seguinte, o prefeito mandou colocar fossa séptica

segundo lugar, tem que coordenar com o jornal,

em todas as escolas.

para dar a notícia, com todos os donos de

numa

escola

que

restaurantes da região, que dão o prêmio, com

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Segundo caso: eu mudei para Genebra em 1986 e

o lixo, porque o lixo é binacional. Um esforço

a primeira coisa que eu fiz foi ir para o Salève, que

enorme de coordenação, para um objetivo que

é um morro maravilhoso para vôo livre. Entrei para

não é do interesse direto do clube. Ou seja, a

sócio do clube e comprei uma asa-delta. Comecei

ação é uma percepção de que aquilo deve ser

a voar ali. Tempos depois foi anunciado um dia

feito. Então, existe capital social, solidariedade,

de limpeza do Salève, promovido pelo clube. De

cooperação e coordenação. Nós temos um

manhã cedo, todo mundo recebia um saco plástico

percurso a trilhar.

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CONEXÃO COM O “EU” E COM O “NÓS” Christina Carvalho Pinto, publicitária, diretora-geral e apresentadora do programa de TV Mercado Ético Eu gostaria de homenagear um mestre, o Ken O’Donnel, coordenador e líder da organização Brahma Kumaris, com quem eu aprendi algumas coisas. Uma delas é que, se hoje a comunicação não está reverberando no coração das pessoas, é porque aqueles que fazem comunicação – nós, os especialistas – estamos descolados de nós mesmos.

Vivemos numa sociedade onde a tônica se encaminha muito para o “ter”, pouco para o “ser”. Pergunta-se muito “o que você faz?”, “qual o seu currículo?”, “me dê o seu cartão” e a gente pouco olha para o ser humano, para a grande mãe, Gaia; pouco a gente se conecta a si mesmo.

No meu caso, sustentabilidade começou – e está em processo – aprendendo a me comunicar com o meu próprio ser. Especialmente no meio da comunicação publicitária, a vertente que hoje prevalece ainda é a do descolamento do ser humano dele próprio. Quando eu me descolo de mim, eu me sinto frágil e, portanto, preciso de coisas para expressar a minha identidade.

Eu acredito que a sustentablidade começa com um sentimento profundo de estar conectada comigo, com a minha essência, o que não tem nada a ver com aquilo que eu tenho ou que eu represento socialmente. À medida que eu me conecto comigo, eu percebo que posso me comunicar cada vez mais com a vida. E isso me faz sentir parte de uma mega-teia de vida.

Quando eu percebo que eu sou o “Um”, que eu sou todos vocês e todos vocês “me são”, eu começo a entender o que é dentro do meu coração “sustentabilidade”. Isso gerou dentro de mim um desejo muito grande de propiciar cada vez mais, através do meu trabalho, essa conexão.

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A RESPONSABILIDADE SOCIAL COMO DISCIPLINA Antônio de Araújo Freitas Júnior, diretor executivo da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas e presidente da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (Angrad) O diálogo promovido pelo Global Forum é

chegando à pós-graduação, onde poderiam ser

necessário, mas é preciso também tomar decisões

desenvolvidas pesquisas sobre o assunto.

concretas, como a definição das diretrizes curriculares. Vamos propor ao Conselho Nacional

O Enade (Exame Nacional de Desempenho

de Educação (CNE) a obrigatoriedade do ensino

dos Estudantes), promovido pelo Ministério

de responsabilidade social em todos os cursos de

da Educação, poderia, ao avaliar os cursos

graduação em Administração do Brasil.

de graduação, inserir questões que envolvam responsabilidade social. A universidade brasileira

Podemos inserir o ensino da responsabilidade

tem um poder de adaptação muito rápido, mas

social nas diretrizes curriculares, tornando-o

ela precisa ser direcionada.

obrigatório. Cada escola poderá escolher o seu programa. O objetivo é sinalizar, de alguma forma,

Como todas as escolas querem ser bem

o ensino deste tema no nível de graduação.

avaliadas no Enade, elas adequarão suas grades curriculares. O Enade virou uma espécie de

A

responsabilidade

social

deveria

permear

diretriz curricular. Basta colocar duas questões

todo o ensino, desde o seu nível mais básico,

de responsabilidade social na prova para que todas as escolas comecem a se movimentar para incluir a disciplina em seus currículos. É possível inserir o tema, também, no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Cada vez mais os alunos buscam esta disciplina nos

cursos

de

Administração.

Empresas

exportadoras exigem responsabilidade social, como também as listadas em bolsas de valores. Responsabilidade social é um bom investimento. Acaba

sendo

extremamente

lucrativo.

Basicamente significa ser eficiente, não destruir o meio ambiente e respeitar a individualidade das pessoas. Isso é bom para a empresa.

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UM PACTO MUNDIAL PELA SUSTENTABILIDADE Jonas Heartle, mestre em Global Affairs pela Rutgers University e em Estudos Europeus pela Universidade de Hamburgo, Alemanha. Coordena o trabalho das redes do Pacto Global entre países da América Latina e Caribe As empresas, no mundo todo, estão cada vez mais abraçando os valores da responsabilidade corporativa e do desenvolvimento sustentável. Ao lançar o programa Pacto Global, a ONU reconheceu a necessidade de montar uma parceria múltipla com o empresariado, ONGs e organizações do trabalho. O secretário-geral da ONU, Ban Kin Moon, abraçou a causa. As Nações Unidas lançaram o Pacto Global como um conceito para estender as suas mãos ao mundo dos negócios. No último ano, em Genebra, houve um primeiro encontro deste movimento, no qual conseguimos reunir mil CEOs de companhias. É

A necessidade de cooperação para lutar contra

um bom sinal.

desafios coletivos como corrupção e mudanças climáticas fez com que competidores se unissem

Na base do Pacto Global há dez princípios que vão

de maneira nunca antes imaginada. E a cooperação

de direitos humanos a temas relativos ao local de

entre ONGs e companhias não tem precedentes.

trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

É um testemunho da nova habilidade e desejo dos

Em sua essência, este programa é uma convocação

negócios de tratar desafios sociais e ambientais de

para que o mundo dos negócios se comprometa com

maneira pró-ativa.

esses princípios e realize ações tangíveis para atingilos, em consonância com os Objetivos do Milênio.

Outro parceiro estratégico neste processo é o setor universitário. Instituições acadêmicas e, em particular,

18

O Pacto Global, desde que foi lançado, tornou-se

as escolas de Administração têm um papel-chave a

a maior e mais global iniciativa da cidadania do

desempenhar. Por meio da educação, a academia

mundo, reunindo hoje cerca de 4 mil companhias e

modela habilidades, competências e a capacidade

mil participantes da sociedade civil e outros grupos

de tomar decisões dos futuros líderes do mundo

não-econômicos. Seus integrantes estão baseados

dos negócios. Assim, eles estarão comprometidos

em 120 países. Em muitos casos eles se uniram

a

localmente para desenvolver redes de Pacto Global,

responsabilidade corporativa no centro das decisões

que podem ser encontradas em mais de 70 países.

estratégicas e operações das companhias para as

Entre elas, a rede brasileira é uma das mais fortes.

quais eles vão trabalhar.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es

colocar

os

valores

da

sustentabilidade

e


ref l e x õ es

R$ 41 BILHÕES PARA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Luiz Antônio Rodrigues Elias, secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia definição de áreas estratégicas; e promoção do desenvolvimento social, com ênfase no saneamento básico, construção civil, implantação de centros vocacionais e tecnológicos, pesca e popularização da ciência entre os jovens. A dotação orçamentária para estes investimentos totaliza R$ 41,2 bilhões. Com vistas à sustentabilidade, o governo federal também estruturou um conjunto de 13 segmentos prioritários. Eles vão desde as áreas portadoras de futuro, como biotecnologia e nanotecnologia, aos setores espacial e nuclear, passando pela defesa nacional e segurança pública. Quanto ao aproveitamento da biodiversidade, querde

se apoiar o desenvolvimento de fito-fármacos

recursos humanos e inovação. Neste quesito,

e fito-cosméticos, sem perder a atenção às

o país avançou. O Brasil responde hoje por 2%

comunidades tradicionais.

A

sustentabilidade

pressupõe

formação

da publicação de artigos científicos no mundo, o que é bastante elevado. Entre 2006 e 2007, a

Outro foco do MCT é o estímulo a fontes de

formação de doutores no país passou de 9,6 mil

energia renováveis, como eólica e fotovoltaica. Por

para 10,6 mil.

isso, apóia a Embrapa Agro-Energia, com ênfase às plantas oleaginosas e cana-de-açúcar. Quanto

Para acelerar e apoiar este processo, o governo

a esta cultura, o Ministério realiza o zoneamento

federal lançou o Plano Nacional de Ciência e

agroecológico, com o objetivo de delimitar as

Tecnologia, formado por quatro eixos básicos:

áreas de plantio e melhorar a produtividade.

consolidação do Sistema Nacional de Ciência

19

e Tecnologia, com o incremento de verba para

Com estas iniciativas, o governo federal, por meio

a formação de recursos humanos e infra-

do MCT, busca um novo paradigma tecnológico

estrutura laboratorial; promoção da inovação nas

e econômico, que dê ao país sustentabilidade

empresas, com o projeto de um Sistema Nacional

a partir da utilização dos recursos naturais

de Tecnologia, voltado para atender centros de

existentes, mas com um grau de crescimento,

inovação, serviços tecnológicos e extensionismo;

cidadania e igualdade efetivo.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


ref l e x õ es

ANTECIPAR AS CRISES Israel Klabin, fundador e presidente da FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável São vários os fatores sobre os quais a nossa vida

A humanidade tem hoje melhor qualidade de vida

cotidiana está fundamentada. Estes fatores estão

do que jamais teve. A expectativa de vida aumentou

sendo questionados. Alguns deles começam a

substancialmente e, como conseqüência, aumentou

corroer o frágil tecido da civilização atual.

também a pressão sobre os recursos naturais. As pressões demográficas estão se tornando críticas.

As mudanças climáticas são o fator mais importante.

Por tudo isso, a importância de uma educação que

A economia mundial deverá dobrar de tamanho e

crie uma consciência antecipatória das crises é

a sua população deverá crescer de 6,5 bilhões de

primordial. As ferramentas para a implementação

pessoas hoje para mais de 8,2 bilhões em 2030.

desse conceito são a substituição da matriz

A demanda por energia primária deverá ser 62%

energética, reforço dos parâmetros éticos da

maior em 2030 do que foi em 2005.

sociedade, estruturação do modelo de governança democrática e estratégias para a modernização do

Neste contexto, a perspectiva econômica dos países

modelo educacional.

pobres está ameaçada pelo uso não sustentável dos recursos naturais. A poluição urbana deverá

A sustentabilidade não se refere exclusivamente

se tornar incontrolável. As mudanças de clima

ao setor privado. Ela se refere, sobretudo, aos

deverão provocar migrações internas e impacto

poderes do governo. Com a sua participação, a

sobre a agricultura. Em outras palavras: nós temos

sustentabilidade da comunidade, do país e do

um estoque de recursos naturais que não poderá

próprio planeta será efetivada.

sustentar as taxas de crescimento, especialmente dos países em desenvolvimento.

Finalmente, as crises urbanas originadas pelas migrações internas terão como conseqüência a formação de aglomerados residenciais de baixa renda e bolsões urbanos de pobreza. A mais importante

conseqüência

dessa

deterioração

gradativa do clima será representada pela escassez de água em alguns pontos críticos do planeta.

20

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


ref l e x õ es

MUDANÇA PARA ATENDER A UM NOVO PARADIGMA Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) De 1951, quando foi fundada, até dezembro de 2007, a Capes dedicou-se exclusivamente à formação de pessoal de nível superior para as universidades, centros de pesquisas, empresas e para o segmento científico e tecnológico. A Capes tem 123 funcionários e opera este ano um orçamento de R$ 1,3 bilhão. Preza por três coisas: agilidade, flexibilidade e qualidade. Atualmente, produz 10 mil doutores por ano e 35 mil mestres. Embora isso esteja longe de possibilitar o enfrentamento dos inúmeros desafios

de projetos e a formação de recursos humanos,

e, sobretudo, das inúmeras oportunidades que o

sobretudo mestres e doutores.

Brasil oferece, nós já temos massa crítica para dar um próximo passo.

A Capes vai lançar um programa específico para o desenvolvimento da sustentabilidade. Como a

21

Até agora a Capes funcionou como um grande

prioridade é a área tecnológica, são os parceiros

balcão, atendendo às propostas de cursos novos,

acadêmicos dos cursos de pós-graduação que

de bolsas no país e no exterior. A partir de 2004,

estarão envolvidos nele. Afinal, eles constituem

começou com ações induzidas e descobriu um

a matéria-prima que a Capes possui: são

nicho espetacular de atuação. Assim, a Capes

orientadores dentro dos cursos de pós-graduação.

lançou o Plano Nacional de Pós-Graduação, que vai

Buscará, igualmente, o apoio das empresas, para

até 2011 e cuja prioridade é a área tecnológica.

definir o modelo desse edital.

Descobrimos parcerias importantes, como a que

Na segunda metade de julho, estarei me

foi celebrada com a Anpad – Associação Nacional

encontrando com Jonas Heartle, da United Nations

de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração.

Global Compact, em Nova Iorque, para firmarmos

O convênio está pronto e operando por meio de

um acordo de cooperação internacional que vai

editais e chamadas públicas para apresentação

beneficiar todas as instituições e empresas

de projetos. Essa parceria inclui o financiamento

brasileiras que tenham foco na sustentabilidade.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


n o tas

Selo comemorativo A realização do Global Forum América Latina ficou marcada num selo comemorativo, lançado durante a abertura do evento. A cerimônia contou com a presença do diretor adjunto dos Correios do Paraná, Areovaldo Figueiredo.

Para reforçar o Pacto

GFAL na blogosfera

Duzentas pessoas participaram, durante o Global Forum América Latina, da Oficina de COP (Comunicação de Progresso), realizada com o objetivo de ampliar o número de empresas brasileiras signatárias do Pacto Global – iniciativa da ONU destinada a promover a cidadania corporativa responsável. Empresários, representantes de organizações não-governamentais e membros da academia conheceram os princípios do pacto a partir de experiências relatadas por empresas que já aderiram. Atualmente, são signatárias do Pacto Global 227 empresas brasileiras e 75 mil em todo o mundo.

Os debates do Global Forum América Latina estão na internet. Além do site oficial do evento (www.globalforum. com.br),

está

no

ar

o

http://gfal.blogspot.com,

ambiente ambiente virtual criado para agregar blogs, formando uma rede social de agentes dedicados ao tema da sustentabilidade. Nesse espaço você encontra artigos, notícias e análises sobre negócios, educação e sustentabilidade. E pode adicionar seu próprio blog, além de enviar comentários sobre todo o conteúdo.

No México O presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, apresentará as proposições e resultados do Global Forum América Latina no México, durante a Assembléia Anual de Decanos das Escolas de Negócio Cladea 2008 (Consejo Latinoamericano de las Escuelas de Administración). Rocha Loures foi convidado pelo

De bem com o meio ambiente

representante do Cladea e decano da Faculdade de

O gás carbônico emitido durante o Global Forum América

do Uruguai, Gaston J. Labadie, para participar de uma

Latina foi neutralizado por uma área reflorestada localizada no

mesa sobre educação e sustentabilidade. O encontro

município de Porto Rico, no Noroeste do Paraná. O certificado

acontece de 22 a 25 de outubro em Puebla e reunirá

de neutralização de carbono foi emitido pela Cooperativa de

120 decanos das principais universidades e escolas de

Produtores Familiares de Carbono do Paraná.

administração da América Latina.

Avanços e desafios A trajetória do movimento de responsabilidade social

Diagnóstico

corporativa nos últimos 10 anos, suas tendências

Outro evento paralelo ao Global Forum foi o Seminário

e desafios foram temas do evento paralelo que o

de

Instituto Ethos realizou parelelamente ao Global

Sustentabilidade Corporativa/Paraná, uma pesquisa-piloto

Forum. Segundo o presidente do instituto, Ricardo

feita em cinco empresas, sob a coordenação da Fundação

Young, o movimento registrou notável avanço no

Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS), em

Brasil, “mas ainda há muitos desafios, inclusive criar

parceria com Unindus, Sesi e Senai. Clarissa Lins, diretora

massa crítica que permita a formação de uma cultura

da FBDS, revelou que “as empresas estão mais atentas e

de responsabilidade social”.

22

Administração e Ciências Sociais da Universidade ORT,

Apresentação

de

Resultados

do

Diagnóstico

de

sabem que precisam adotar indicadores de ecoeficiência”.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


R a m C h ara n

O poder da mente

O Global Forum América Latina trouxe a Curitiba

pessoas, pois a nossa missão é elevar o espírito

um dos mais influentes consultores de negócios

do ser humano”, destacou.

do mundo: o indiano Ram Charan, que falou para 1,3 mil pessoas sobre os desafios estratégicos da

Para o consultor, a chave é ajudar as pessoas a usar

cooperação para a sustentabilidade, destacando

o cérebro, desenvolvendo a mente e o raciocínio

10 princípios que considera essenciais para a

lógico. “Trabalhar com o cérebro das pessoas é

inovação social e a formação de redes sociais.

uma colaboração que não exige dinheiro, mas tempo, dedicação, paixão e, também, ferramentas

Ram Charan – que é doutor pela Harvard

especificas. Pensamento é mais importante do

Business School e tem trabalhado para grandes

que dinheiro e é importante não confundir o poder

companhias, como GE, DuPont e Ford – defende

de raciocinar com alfabetização ou analfabetos.

a idéia de que todos devem colaborar para a

Todo ser humano tem um cérebro. Seja rica ou

melhoria das condições de vida das pessoas,

pobre, toda pessoa tem poder para desenvolver

seja na Índia, na África, no Leste Europeu ou

talentos a partir da ampliação do conhecimento”,

nos Estados Unidos. “Estamos caminhando para

afirmou Charan.

um total de 2 bilhões de pessoas no planeta, sendo que 5 milhões vivem abaixo da linha da

Por uma causa

pobreza, sem esperança alguma. Nós temos

23

a responsabilidade de tornar este ambiente

Para atuar na área de responsabilidade social

sustentável. Cada um de nós deve se perguntar

sustentável,

o que pode fazer para melhorar a vida de outras

fundamental ter uma causa. Ele citou exemplos

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es

Ram

Charan

acredita

que

é


R a m C h ara n

de iniciativas de inovação social bem-sucedidas em

índices elevados de mortalidade por malária. Naquele

diversos locais do mundo, como a de uma assistente

país, um líder de uma cooperativa de leite, interessado em

social que ajudou uma menina indiana surda e muda a

melhorar as condições de saúde da comunidade, buscou

criar uma linguagem baseada em toques nas mãos, o que

informações junto a outros cooperativistas e teve resposta

a retirou do isolamento e a conduziu ao desenvolvimento;

de um médico norte-americano.

a do empresário árabe que criou um produto com preço acessível para pessoas pobres; a da banda musical de

“O médico, da Califórnia, foi para Uganda, conversou com

rapazes negros dos Estados Unidos, organizada a partir

a comunidade, criou uma rede social, projetou um sistema

da liderança de um deles, que ultrapassou a barreira da

que permitia às pessoas pagarem um dólar pela assistência

pobreza com a dança e a música.

medica. Esse preço, perfeitamente acessível às pessoas, deu condições para custear os serviços médicos locais. Assim,

Para falar sobre os seus dez princípios para as iniciativas

as condições de saúde da comunidade melhoraram. O que

sociais e criação de redes sociais, Ram Charan baseou-

se fez em Uganda é resultado da disposição em colaborar,

se em uma experiência de Uganda, na África, onde há

com a aplicação de ferramentas corretas”, explicou.

Os dez princípios

6 – Identifique líderes na comunidade. Pessoas

1 – Defina a causa, a missão, quais os resultados que

grupo de pessoas ou comunidade alcança a

de paixão e confiáveis. Segundo Charan, nenhum

se pretende e como dimensionar esses resultados.

sustentabilidade sem um líder, seja ele eleito,

“É preciso usar a mente e buscar resultados

indicado informalmente ou escolhido.

mensuráveis”, explicou Charan. 7- Não busque a publicidade e o elogio pelo sucesso 2 – Busque o comprometimento local. Identifique

alcançado. “A satisfação pessoal não é medida pela

quem são as pessoas que podem se comprometer

publicidade da sua iniciativa”, disse.

localmente com a causa. 8- Mantenha reuniões periódicas com pessoas de 3 – Converse com essas pessoas, dialogue com elas

empresas, universidades, autoridades públicas.

até alcançar o consenso. A partir do consenso, o

Estabeleça prioridades, mas não queira nunca

interesse se intensifica.

abraçar o mundo. Escolha três prioridades, com base na sua causa, nos resultados e mensuração

4 – Neste ponto entram as empresas. As empresas

dos resultados. Use palavras exatas, evitando

podem usar a mente, o raciocínio para projetar

conceitos e definições genéricas.

sistemas que permitam tornar um produto ou serviço acessível, na base, por exemplo, de 1

9 – Busque a criatividade do grupo envolvido no

dólar. “Não ter dinheiro é uma situação que força a

trabalho. É preciso identificar quais os recursos,

inovação”, disse Charan.

em termos de criatividade, com que se pode contar para o desenvolvimento das ações.

5 – Projete um sistema. Mas é preciso ter em

24

mente que o sistema só vai funcionar se as pessoas

10 – Tenha em mente que a vida é a felicidade.

executoras concordarem com esse sistema. Caso

Seja feliz e, mais importante, faça outras pessoas

contrário, é preciso voltar ao diálogo.

felizes.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


Cases d e s u ste n ta b i l i d a d e

Sustentabilidade e negócios: isso dá liga 25

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


Cases d e s u ste n ta b i l i d a d e

O desafio de disseminar o conceito de sustentabilidade pode muitas vezes ser enfrentado com iniciativas simples, capazes de mobilizar muitas pessoas. gerando resultados concretos e impacto positivo sobre os negócios. Essa possibilidade ficou clara durante o painel O sonho é possível: a sustentabilidade como oportunidade de negócios do século XXI, realizado no Global Forum América Latina, em Curitiba.

26

Executivos do Wal-Mart, da Editora Abril e do Banco Bilbao Vizcaya (BBVA) mostraram ao público casos de práticas sustentáveis adotadas em suas empresas e os resultados até agora alcançados – comprovando que boas idéias podem surgir em qualquer setor das organizações. Cabe aos dirigentes estarem abertos à inovação, à quebra de paradigmas, para que iniciativas sustentáveis se consolidem em ações reais.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


Cases d e s u ste n ta b i l i d a d e

Wal-Mart: envolvendo todos os atores destacou a criação de escritórios sustentáveis; o Lixo Zero, para estímulo à reciclagem; lojas e CDs sustentáveis; venda de sacolas retornáveis; e o projeto Clube de Produtores, que cria a oportunidade para que pequenos produtores se tornem fornecedores da rede.

“A visão de futuro do Wal-Mart é ser a melhor rede varejista do Brasil, na mente e no coração dos consumidores. Temos que ser o que a sociedade demanda atualmente: uma organização sustentável.” Assim a diretora de assuntos corporativos do Wal-Mart Brasil, Maria Cláudia de Souza, resumiu o esforço da empresa para inserir a sustentabilidade em sua estratégia e suas práticas. O grupo varejista norte-americano, que iniciou o processo de expansão no Brasil em 1995, conta com 317 lojas nas regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Tem 70 mil funcionários e realiza operações em multiformato, utilizando 10 bandeiras. O Wal-Mart é signatário do Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), e tem entre seus objetivos estratégicos as ações sustentáveis. Com base nas metas globais estabelecidas pela rede – gerenciamento de resíduos, uso consciente de recursos naturais e comercialização de produtos sustentáveis –, a corporação definiu dez plataformas de sustentabilidade para serem trabalhadas no Brasil. “As ações são desenvolvidas e direcionadas a todos os atores envolvidos no negócio: fornecedores, consumidores e colaboradores”, explicou Maria Cláudia. Entre os projetos apresentados, ela

27

Sobre a comercialização das sacolas retornáveis, confeccionadas em algodão cru orgânico, Maria Cláudia destacou que em apenas três dias foram vendidas 35 mil unidades, a dois reais cada. “Todas as sacolas disponíveis nas nossas lojas foram vendidas neste prazo. Se tivéssemos mais unidades, também teriam sido comercializadas. Isso denota o quanto o consumidor está sensibilizado para as questões de sustentabilidade”, afirma. “O nosso grande desafio, no entanto, é a mudança do paradigma: fazer com que o consumidor traga a sacola na próxima compra. Para isso, os nossos associados tornam-se disseminadores em potencial da sustentabilidade, sugerindo ações e dando boas idéias, para que mais mudanças sejam feitas”, esclareceu Maria Cláudia de Souza. A executiva do Wal-Mart Brasil também disse que a rede vai implantar Lojas Verdes. A construção da primeira unidade, que contará com uso de energia eólica, será anunciada em breve. “Por meio de parcerias com universidades e incubadoras de tecnologias, desenvolvemos 58 soluções de tecnologia sustentável para construções mais amigáveis ao meio ambiente. Hoje, temos lojas com 40% a 50% destas iniciativas aplicadas. Mas queremos implantar o conceito de Lojas Verdes em todas as nossas unidades no Brasil”, informou.

Planeta Sustentável: uma plataforma para a conscientização A sustentabilidade é a grande questão do momento que vivemos, disse o jornalista Matthews Shirts ao público do Global Forum América Latina, ao expor o empenho da Editora Abril na difusão do tema.

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Cases d e s u ste n ta b i l i d a d e

Editor da revista National Geographic, Shirts é também curador de conteúdo do Planeta Sustentável, plataforma da Editora Abril de referência para o debate sobre sustentabilidade. Fundada em 1950, a Abril é a maior editora de revistas e internet da América Latina. Publica sete das maiores revistas brasileiras, conta com 22 milhões de leitores e teve 314 títulos publicados em 2007. “Discutir, informar e produzir conhecimento sobre sustentabilidade é essencial para informar e qualificar as ações que levarão à construção de um mundo melhor. É preciso convencer as pessoas disto”, disse Shirts. Segundo ele, foi com base nessa convicção que, em 2007, a Editora Abril criou o projeto Planeta Sustentável. O tema envolve 36 títulos da editora, com a missão de conscientizar seus milhões de leitores, além dos patrocinadores do projeto, que podem publicar as informações nas suas mídias. “No Planeta Sustentável é possível encontrar manifestos, reportagens sobre sustentabilidade e o primeiro Manual de Etiqueta Sustentável, que traz dicas de como enfrentar o aquecimento global, reduzir o consumo de água, de energia elétrica e de combustível”, destacou Matthews Shirts. A primeira edição do guia teve tiragem de 2,5 milhões de exemplares. Para este ano, a Abril já está planejando a segunda edição. Para conhecer o Planeta Sustentável, acesse www.planetasustentavel.com.br.

Blogsfera do BBVA: um novo mapa de valores O Banco Bilbao Vizcaya (BBVA), sediado em Madri, na Espanha, é o 10º maior banco privado do mundo. Tem 150 anos de história, 40 milhões de clientes e opera em 30 países, nos quatro continentes. Em janeiro deste ano, o banco criou uma rede social de blogs, mantida pelos seus 120 mil funcionários. É a Blogsfera BBVA. O projeto foi apresentado no Global Fórum por Carlos Cilveti e Fernando Summets, executivos do BBVA. Segundo eles, a empresa tem a cultura de provocar mobilização de baixo para cima e com a rede social de blogs, promove a democratização do fluxo de informações e de processos criativos da organização. Calcado na inovação, o projeto da rede é nomeado Planta 29, em referência ao edifício-sede do banco, que tem 28 andares, em Madri. A 29ª planta (andar, em espanhol) representa, então, o espaço de criação e de inovação, por estar acima do terreno físico e ser imaginário. “A Blogsfera nos permite explorar novas formas de relação. Queremos a inovação, queremos nos comportar como grandes comunidades”, afirmou Cilveti. Com o projeto, contou o executivo, os funcionários não separam mais tempo de ócio do tempo de trabalho. “Estamos descobrindo um novo mapa de valores”, definiu.

28

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res u m o s

Uma mostra de ações concretas Resumos científicos e relatos empresariais mostram o que empresas, universidades e outras organizações estão fazendo com vistas à sustentabilidade O segmento corporativo foi representado por empresas como a Volkswagen Caminhões e Ônibus, que busca desenvolver produtos de menor impacto ambiental, ou ecoeficientes. Para isso, integrou o conceito da Análise do Ciclo de Vida (ACV) no desenvolvimento de veículos comerciais. Os representantes da companhia, Gian Gomes Marques e Manuela Fontana Alves, explicaram que estudos de ACV ainda não são uma prática comum na indústria automobilística brasileira, mas na Europa são realizados há pelo menos Gian Marques, da Volkswagen, detalhou a busca por caminhões

15 anos. “Com a utilização dessa ferramenta

com menor impacto ambiental

é possível conhecer os aspectos ambientais e

A abrangência e a diversidade dos estudos

impactos potenciais associados a um produto”,

apresentados nas sessões temáticas do Global

informaram.

Forum América Latina demonstraram a crescente preocupação dos diversos setores da sociedade

A Volkswagen iniciou os estudos com um caminhão

brasileira e mundial com as questões de

de 45 toneladas e, devido à inexistência de leis

sustentabilidade.

sobre reciclagem de veículos no Brasil, optou por começar a análise apenas nas fases de produção

Entre resumos científicos e relatos empresariais,

e uso, entre um modelo novo e seu antecessor.

foram inscritos 120 trabalhos, dos quais 86 foram

“Os resultados mostraram que a ótica ambiental

selecionados para apresentação no primeiro dia do

afetou visivelmente o desenvolvimento do novo

evento. As sessões contaram com a participação

veículo”, afirmaram. Segundo os representantes

de representantes de empresas, universidades e

da empresa, é possível afirmar que o novo projeto

da sociedade civil, abordando a sustentabilidade

tem um maior desempenho ambiental durante

em 12 áreas temáticas: empreendedorismo e

todo o seu ciclo de vida. A taxa de reciclabilidade

tecnologias sociais; ecoeficiência e produção mais

da cabine, por exemplo, aumentou de 91,4%

limpa; gestão do relacionamento; políticas públicas

para 94,2%.

e sustentabilidade; base da pirâmide; tecnologias limpas; governança corporativa; transformação

Carbono Neutro

organizacional; finanças sustentáveis; ética na

29

comunicação e marketing; agronegócio sustentável

Outra grande empresa, a Natura Cosméticos,

e mudanças climáticas.

adotou, em 2007, o compromisso de neutralizar

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res u m o s

todas as emissões de gases do efeito estufa nas suas atividades e produtos. Segundo os representantes da empresa no GFAL, Fabien Albert Brones e Karina Aguilar Baratela, depois de realizar um levantamento da quantidade de gases emitidos, a empresa identificou um potencial de redução de 33% nas emissões, ao longo dos cinco anos seguintes. Entre as ações que já estão em andamento na Natura, com esse objetivo, estão: redução de materiais de

A Natura implantou ações para reduzir em 33% as emissões de gases do efeito estufa, relatou Karina Baratela

embalagem nos produtos; uso de materiais reciclados

capacidades para engajamento; desenhar o processo

nas embalagens; melhoria de matriz energética

de engajamento; e agir, rever e reportar.

da produção, incluindo a cadeia de fornecedores; incentivo ao uso de biocombustíveis; substituição

Segundo Andréia Marques Postal, Adenir Mendes

de matérias-primas de origem mineral/animal por

Fonseca e Juliana Puggina, representantes da Medley

origem vegetal, renovável; e ampliação de cadeias de

no GFAL, a partir da publicação do relatório de

reciclagem das embalagens pós-consumo.

sustentabilidade, a empresa apresentou algumas questões para discussão com seus públicos estratégicos.

A Natura pretende compensar as emissões que não

“Cada mesa discutia um tema diferente e um facilitador

puderem ser reduzidas apoiando projetos que evitem

registrava os diversos pontos de vista apresentados. Os

a emissão de gases do efeito estufa ou sejam capazes

resultados preliminares apontam oportunidades para

de reduzir ou seqüestrar o equivalente de CO2 emitido

ações nos diferentes eixos da Gestão Responsável para

para a atmosfera. As premissas, porém, são de que

Sustentabilidade e prepara o terreno para um novo tipo

tenham grande ênfase na solução de problemas

de relacionamento”, afirmaram.

socioambientais e sejam, também, consistentes e monitoráveis, além de geograficamente próximos das áreas de operação da empresa, contribuindo assim

Empreendedorismo no campo

para o desenvolvimento sustentável local. O Instituto Souza Cruz, uma Organização da Sociedade

Por uma sociedade mais saudável

Civil de Interesse Público (OSCIP) fundada em 2000, apresentou no GFAL o programa de empreendedorismo

A Medley SA Indústria Farmacêutica implantou a

do jovem rural que desenvolve desde 2001, nos três

Gestão Responsável para Sustentabilidade, a partir

estados do Sul do país. O programa é voltado para a

do diálogo com públicos estratégicos de interesse da

juventude do campo, na busca de formas sustentáveis

empresa, incluindo stakeholders e a classe médica, com

de geração de renda para a melhoria da qualidade de

o objetivo de identificar formas de atuação conjunta

vida das comunidades rurais.

para o desenvolvimento sustentável das regiões onde

30

atua. No processo foi utilizada metodologia proposta

Marcos Marques de Oliveira e Rodolfo Lobato da Costa,

pela Norma AA1000, que sugere cinco etapas:

do Instituto Souza Cruz, explicaram que o programa

pensar estrategicamente; analisar e planejar; reforçar

entrou em uma nova fase, passando a abranger um

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


res u m o s

maior número de famílias e territórios, pois chegou

Para os pesquisadores, “a aplicação desta ferramenta

ao Oeste de Santa Catarina, onde é realizado em

na fase de projeto ou de desenvolvimento de qualquer

parceira com organizações não-governamentais e

novo processo, produto ou sistema na indústria da

com uma empresa pública de pesquisa agropecuária.

construção civil é fundamental para que se cumpra

“As organizações parceiras que implementam o

o objetivo de determinar a categoria dos riscos e

programa recebem apoio técnico, pedagógico e

as medidas preventivas antes da fase operacional,

financeiro de nossa entidade, oferecendo formação e

permitindo revisões de projeto em tempo hábil no sentido

oportunidades para que os jovens rurais se preparem

de promover maior segurança para o trabalhador, o meio

para criar e desenvolver seus negócios de maneira

ambiente e o patrimônio da organização”, destacaram.

competitiva e cooperativa, sustentada e responsável socialmente. Essas organizações compartilham a nossa missão de desenvolver o espírito empreendedor

Embalagens de mandioca

na juventude, para que ela se torne, efetivamente, protagonista do processo de transformação de suas

Na área de tecnologias limpas, um dos relatos que

realidades”, destacaram.

mais chamou a atenção foi o de uma indústria de São Carlos, no interior de São Paulo, que está

Segurança e saúde na construção civil

utilizando fécula e farelo de mandioca como matéria-prima para a produção de embalagens para os setores de alimentos e de reflorestamento. É a

Gerenciar com sucesso os riscos na construção

CBPAK Tecnologia S/A, fundada em 2002 por um

civil, um dos setores que apresenta os maiores

engenheiro industrial e mecânico e que hoje tem

índices de acidentes de trabalho no Brasil, foi objeto

35% das ações nas mãos da BNDESPar, companhia

de estudo de dois pesquisadores da Universidade

de investimentos subsidiária do Banco Nacional de

Federal Fluminense, apresentado no GFAL. Sérgio

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Luiz Braga França e Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas defenderam a importância da Análise Preliminar de

O relato da CBPAK, apresentado por seu fundador

Risco (APR) na indústria da construção civil, como

e diretor-presidente, Cláudio Rocha Bastos, informa

ferramenta para gerenciamento de risco neste setor.

que a proposta da empresa era desenvolver uma

Os autores elaboraram a análise preliminar de risco

tecnologia limpa, em que a fonte de matéria-prima

das atividades mais significantes, considerando

fosse renovável (mandioca), e que no ato do descarte

a classificação dos riscos e dados estatísticos de

do produto a matéria gerada fosse totalmente

acidentes de trabalho, com base nas informações da

orgânica, permitindo o seqüestro de CO2 pela planta,

DRT-RJ e Fundacentro.

em seu crescimento – ou seja, fechando o ciclo da eco-sustentabilidade.

A relevância da construção civil na dimensão

31

econômica e social do país, segundo eles, implica

Hoje, a empresa fornece para o mercado de

na necessidade do desenvolvimento de práticas de

alimentos bandejas de espuma de amido (produzidas

gestão que busquem minimizar os riscos relacionados

a partir de fécula de mandioca, pelo processo de

à segurança e à saúde do trabalhador, evidenciando

termo-expansão). Biodegradáveis, elas substituem

a

alta

as bandejas convencionais de isopor, que geram

administração frente aos problemas de segurança e

poluição ao serem descartadas. Para o mercado

saúde do trabalho.

de reflorestamento, a CBPSK desenvolveu uma

necessidade

do

comprometimento

da

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


res u m o s

tecnologia que utiliza farelo de mandioca prensado

resultado dessa pressão, nasceu em 2003 o tratado

como matéria-prima para a produção de tubetes,

“Princípios do Equador”, que preconiza uma minuciosa

pequenos vasos utilizados para o plantio de sementes

análise socioambiental, seguindo parâmetros do IFC

e tradicionalmente feitos de plástico.

(International Finance Corporation membro do Banco Mundial), para operações de Project Finance. Quatro

“Estes dois mercados apresentam demandas enormes

bancos brasileiros já aderiram ao acordo, que é um

de consumo e a conquista de uma pequena fatia deles

código de conduta de adesão voluntária.

justifica justifica o investimento no empreendimento, com atrativos retornos financeiros”, afirma Bastos.

“O que terá mudado desde adoção dos Princípios do Equador, quantos financiamentos foram negados são

Sustentabilidade em bancos

as perguntas ainda sem resposta para a maior parte dos bancos”, observa a pesquisadora. “

Nas sessões temáticas sobre finanças sustentáveis, foram apresentados três trabalhos que investigaram

O estudo do pesquisador Daniel Wajnberg, da Fundação

até que ponto as instituições financeiras estão

Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, do

preocupadas com a sustentabilidade, tanto nas suas

Rio de Janeiro, foi baseado em 67 entrevistas com

ações internas quanto no relacionamento com clientes.

altos executivos dos 10 maiores bancos brasileiros,

Eles abordam as práticas socioambientais dos bancos

juntamente com a aplicação de 126 questionários

e concluem que o conceito de sustentabilidade vem

direcionados aos entrevistados e ao nível gerencial

se disseminando nas instituições financeiras, mas

médio. Wajnberg conclui que “os responsáveis pelo

ainda há um longo caminho a percorrer.

pensamento estratégico já reconhecem a importância da questão e já estão promovendo mudanças em suas

“Os

bancos

avançaram

muito

no

sentido

de

estratégias, modificando suas visões de longo prazo,

permear a sustentabilidade na gestão, mas existe

estruturas organizacionais e práticas de negócios,

uma disparidade entre as práticas e o resultado

com o objetivo de melhor incorporar o tema da

efetivo”, conclui o estudo do professor Marisalvo

sustentabilidade corporativa”.

da Silva, da Associação Internacional de Educação Continuada (AIEC), de Brasília. De acordo com ele,

No entanto, afirma, “para que o setor possa

“um dos principais entraves nesse sentido é a falta

efetivamente exercer seu papel de catalisador de

de ferramentas para mensurar o desempenho das

mudanças, ainda deverá superar alguns desafios”,

instituições nessa área”.

entre os quais destaca a maior conscientização dos colaboradores quanto ao tema da sustentabilidade

Outro trabalho, da pesquisadora Renata Peregrino

e o aprimoramento do ferramental utilizado pelas

de Brito, da GVCES – EAESP (SP), também aponta a

instituições, incorporando mais efetivamente critérios

dificuldade de medir as ações concretas do sistema

socioambientais em avaliações de desempenho,

financeiro. Ela lembra que no final da década de 90 a

avaliações de crédito ou decisões de investimento.

sociedade civil aumentou a pressão sobre os bancos na Europa e nos Estados Unidos, com campanhas que chamavam os depositantes a questionar seus bancos sobre a forma de aplicação dos recursos e a fechar a conta bancária ou cortar o cartão de crédito em repúdio à forma de gestão dos bancos. Como

32

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es

Para conhecer todos os relatos científicos e resumos empresariais apresentados durante o Global Forum, acesse www.globalforum.com. br/conteudos.asp


R e d es e s u ste n ta b i l i d a d e

O papel das redes Importância da organização em rede foi tema de pós-conferência com Augusto de Franco e David de Ugarte Tudo que é sustentável tem a estrutura

David de Ugarte lembrou que um dos fatores

de rede. Foi o que disse o analista político

que contribuíram para o atual estágio de

Augusto de Franco na abertura da conferência

desenvolvimento e evolução foi o surgimento

Redes Sociais e Sustentabilidade, realizada

do telégrafo, que ajudou a quebrar as barreiras

no dia 20 de junho, logo após o encerramento

das redes centralizadas, provocando uma

do Global Forum América Latina, em Curitiba.

mudança de época e acabando com o domínio

Além de Franco, o estudioso de redes David

a partir de um ponto central, radical e na

de Ugarte, da Espanha, explorou o tema que

contramão da sustentabilidade. O telégrafo,

neste século 21 tornou-se um dos grandes

segundo Ugarte, deu forma à democracia,

desafios do setor empresarial.

aos movimentos sociais, a partir de uma rede integrada e distribuída.

“Sustentabilidade

é

o

novo

nome

do

desenvolvimento”, diz Franco. De acordo com

Hoje, a internet é o maior exemplo desse tipo de

ele, qualquer meio só pode ser sustentável se

sistema. O mundo da blogosfera e das energias

a estrutura de redes estiver presente: “Não é

renováveis. “É o mundo do desenvolvimento

por acaso que o conceito de sustentabilidade

local, da democracia através da vivência, da

ficou intimamente ligado ao ambientalismo.

plutarquia das redes sociais. Neste contexto, a

Foi observando o meio ambiente natural que

sustentabilidade é redefinida e compreendida

nós conseguimos entender um processo que é

como uma propriedade da rede que depende

basicamente conservar a adaptação no mesmo

do seu grau de instrução. Se falarmos de redes

ato em que se conserva a organização”.

de pessoas isso faz referência ao seu grau de desenvolvimento democrático. Uma empresa sustentável atualmente é aquela que é capaz de abrir um âmbito democrático deliberativo no seu interior”, define Ugarte. A democratização do acesso ao conhecimento só pode ser viabilizada, segundo ele, a partir de dois processos: a internet e as novas democracias – as revoluções democráticas. “Uma série de estudos demonstram que há dois eixos fundamentais no desenvolvimento. Um deles é a mulher – os estados que integraram a mulher ao nível de igualdade são aqueles que

33

Ugarte: a democracia e a mulher são os eixos

se desenvolveram mais rápido. Tem relação,

fundamentais do desenvolvimento

portanto, com capital social. O outro é a

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


R e d es e s u ste n ta b i l i d a d e

democracia – os estados que têm processos deliberativos mais profundos desenvolvem-se antes. A democracia é uma pré-condição para o desenvolvimento”, afirmou Ugarte. O presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, viu como muito oportuno o encontro para a discussão das relações entre responsabilidade social e a sustentabilidade. Rocha Loures classificou a organização em rede como uma necessidade para o meio social e empresarial. “O grande desafio que nós temos pela frente é o desafio da inovação”,

“Sustentabilidade é o novo nome do desenvolvimento”, diz Augusto de Franco

diz. “Se nós estamos interessados em mudar

discussões, desenvolver conhecimento sobre

a cultura de gestão no mundo, nós só vamos

articulação e animação de redes, denominada

conseguir fazer isso se houver uma comunidade

também de Rede Netweaving – construção e

que alcance uma massa crítica, não só de

animação de redes sociais distribuídas.

conhecimento, mas também de força social.” “Isso exige uma certa metodologia, tecnologia Em abril de 2006, a Fiep lançou a Rede

e investigação. Estamos procurando juntar

de Participação Política do Empresariado,

pessoas que estão pensando e trabalhando

iniciativa

que

sobre isso, na academia ou fora”, diz Augusto

incentiva seus membros a exercer o papel de

de Franco. Ele ressalta que a experimentação

protagonistas do processo de desenvolvimento

é indispensável para um ambiente de

sustentável. O principal instrumento é o site

discussão como esse: “Não só para aqueles

www.redeempresarial.org.br, que é um grande

que estão estudando, investigando, mas

fórum virtual e serve de espaço democrático

também aqueles que estão experimentando

para discussões e proposições de mudanças

isso na sua prática social”.

propositiva

e

apartidária,

entre a sociedade e o Estado. Na escola de redes será possível constituir

Escola de Redes

nódulos locais, de acordo com as expectativas dos participantes, abrindo janelas, por

A

34

e

exemplo, para encontros e cursos. Até o

Sustentabilidade marcou o lançamento de

Pós-Conferência

Redes

Sociais

final do ano será promovido o 1º Encontro

uma ferramenta inédita no Brasil: a Escola de

Internacional sobre Redes Sociais. A idéia

Redes. A iniciativa pioneira, lançada em Madrid

é trazer a Curitiba diversos especialistas

(Espanha), e agora em Curitiba pode ser conferida

do

através do site www.escoladeredes.org.br. Nele

experiências e integrar pessoas que estão

será possível conectar-se, interagir, promover

trabalhando com o assunto.

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es

mundo

para

compartilharem

suas


res u l ta d o s

Encontro de Curitiba gera 80 proposições

Distribuídos em 110 grupos, participantes do Global Forum chegaram às propostas utilizando a Investigação Apreciativa Essas proposições são a base dos trabalhos das etapas seguintes do Global Forum, começando pelo encontro de julho em Curitiba. O objetivo é transformar em ações práticas a reflexão inicial sobre educação, negócios e sustentabilidade.

Metodologia aplicada durante o Global Forum promoveu reflexões em grupo e construção coletiva de propostas

Criar uma legislação tributária para produtos sustentáveis, com certificação; promover investimentos em educação e reformulação dos currículos escolares, privilegiando sustentabilidade, empreendedorismo e responsabilidade social; disseminar o consumo consciente nos pontos de venda; criar programas de alfabetização sobre sustentabilidade, além de uma agenda permanente de diálogo entre governo, academia, empresas e sociedade civil, estabelecendo ambiente de confiança em torno do tema sustentabilidade.

35

“A idéia é promover, a partir de agora, uma chamada coletiva para que os participantes do Global Forum e outras pessoas que desejem se agregar ao movimento se convertam em agentes de iniciativas concretas em favor da sustentabilidade”, afirma o presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures.

Metodologia As proposições surgidas no Global Forum América Latina resultam de um trabalho compartilhado por todos os participantes. A metodologia aplicada reuniu o público em 110 grupos, cada um deles formado por representantes de empresas, de instituição de ensino superior e de entidades da sociedade civil.

Estas são algumas das 80 proposições provocativas elaboradas por empresários, representantes da academia, setor público e privado durante o Global Forum América Latina, para que o Brasil e os países latino-americanos promovam o avanço da educação e a formação de novos líderes e gestores, com foco na sustentabilidade.

Para chegar às cerca de 80 proposições foi aplicada durante o Global Forum a metodologia da Investigação Apreciativa. Desenvolvida em meados da década de 1980 pelo Dr. David L. Cooperrider, durante estudo de Comportamento Organizacional na Case Western Reserve University, em Cleveland (Estados Unidos), a metodologia é uma abordagem inovadora que, se opondo ao modelo tradicional de pesquisa voltado para a resolução dos problemas, propõe o gerenciamento de mudanças através da busca do que

Ronald Fry, da Case Western Reserve University, foi um dos condutores

Ante Glavas usou sua experiência de diretor executivo do BAWB para

dos trabalhos

motivar os participantes

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


res u l ta d o s

Conheça as principais proposições formuladas durante o Global Forum • Criar legislação tributária para produtos sustentáveis com certificação Ken O’Donnel: “É tarde, mas não tarde demais”

há de melhor, do que “dá vida” a um sistema quando ele está em seu estado mais eficaz e capaz, em termos econômicos, sociais, ecológicos e humanos. É uma abordagem para a mudança, com a busca pelo melhor das pessoas, das organizações e do mundo ao seu entorno. A Investigação Apreciativa catalisa as novas formas de pensar sobre metas, estratégias e resultados. Durante o trabalho no Global Forum, os participantes reuniram as reflexões do grupo para criar uma visão compartilhada, com foco na mobilização social através da comunicação dos indivíduos, do diálogo e do relacionamento entre as pessoas. É um método que possibilita a construção coletiva de sonhos e impulsiona ações na busca de um ideal comum. Os trabalhos foram conduzidos por Ronald Fry, coordenador do departamento de Desenvolvimento Organizacional da Weatherhead School of Management (Case Western Reserve University), e Ante Glavas, consultor organizacional e diretor executivo do BAWB (Business as an Agent of World Benefit). “O Global Forum foi uma grande oportunidade para discutir o desenvolvimento da sociedade e buscar uma consciência coletiva. A própria metodologia aplicada já é um bom exercício, pois, ao colocar na mesma mesa representantes de diferentes segmentos, abriu caminho para o debate e para a busca do consenso. Foi fantástico”, diz o administrador, professor de graduação e pósgraduação da Unifae, Antoninho Caron. O consultor em desenvolvimento organizacional e representante da organização Brahma Kumaris no Brasil, Ken O’Donnel, proferiu o depoimento de encerramento do evento chamando os participantes para uma ação coletiva em benefício do planeta. “O mundo está dizendo ‘é tarde’, mas a placa ‘tarde demais’ não foi colocada ainda”, disse. Para O’Donnel, as dificuldades que o mundo vive exigem ações rápidas. “É muito difícil, do ponto de vista individual, achar que conseguimos mudar isso. Mas, na caminhada, a força do seu propósito é o que vai fazer você romper o obstáculo. Salvar o planeta de si mesmo e a raça humana de sua ignorância é um propósito relevante”, afirmou.

36

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es

• Investir em educação e reformular o currículo privilegiando sustentabilidade, empreendedorismo e responsabilidade social • Criar um parlamento sul-americano multisetorial de educação para a sustentabilidade • Alterar a Lei 8666 (Lei das Licitações), de forma a exigir que fornecedores do setor público obedeçam a critérios relacionados à sustentabilidade • Criar programa de alfabetização sobre sustentabilidade • Recuperar espaços urbanos degradados • Implantar o SEST Brasil de Educação, com todos os setores da sociedade; • Disseminar a importância do consumo consciente nos pontos de vendas • Inserir no currículo das escolas disciplinas de sustentabilidade • Criar uma agenda permanente de diálogo entre governo, academia, empresas e sociedade civil sobre sustentabilidade, estabelecendo ambiente de confiança • Criar fóruns locais permanentes, destacando a importância das características regionais • Obrigar signatários do Pacto Global a disponibilizar profissional para educar na rede pública. Pacto brasileiro para educação • Formar educadores para a sustentabilidade em todos os níveis de ensino • Criar conselhos regionais e locais voltados para o desenvolvimento sustentável da sociedade • Criar leis que garantam a continuidade de projetos pós-mandato


Ca l l f o r a c ti o n

CALL FOR ACTION GERA 20 INICIATIVAS DE AÇÃO CONCRETA Encontro foi o primeiro desdobramento do Global Forum América Latina Vinte iniciativas de ação concreta que aliam educação, negócios e sustentabilidade surgiram como resultado do Call for Action (chamada para ação), encontro realizado nos dias 29 e 30 de julho, no Cietep, em Curitiba, com organização da Unindus, universidade corporativa do Sistema Fiep, com apoio do Sesi e em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas, Case Western Reserve University (EUA) e Instituto Ethos. O presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures, abre os

“O Call for Action superou as expectativas. É um grande

trabalhos do Calll for Action

desafio formular uma plataforma para introduzir

inserção da sustentabilidade nos currículos dos

e desenvolver o conceito de sustentabilidade em

ensinos fundamental e médio, entre outros.

dois dias. Cumprimos nossa missão e saímos do encontro com uma visão clara do que fazer”, disse o

Os projetos foram formatados com base em cinco

presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures,

áreas principais: Formulação e implantação de

no encerramento.

políticas públicas; Geração e gestão do conhecimento da sustentabilidade; Reformulação da educação de

Entre as iniciativas que surgiram no encontro

forma transversal; Articulação de parcerias em redes;

destacam-se: resgate dos valores morais e cívicos

Nova Ética - Valores e protagonismo individual.

com e

a

participação

sociedade

civil;

engajada

gestão

da

academia

compartilhada

da

Continuidade

sociedade civil e governo; fórum pré-eleitoral pela sustentabilidade; criação de um centro de

O próximo passo é dar corpo às iniciativas geradas.

planejamento e execução de projetos estratégicos

Os grupos que apresentaram os projetos ficaram

sustentáveis em rede distribuída; criação de

responsáveis pela articulação e andamento dessas

um

iniciativas. Nos próximos três meses serão buscados

centro

de

capacitação

intersetorial

de

formação;

transdisciplinar estruturação

de

agenda de diálogos entre os múltiplos setores;

os apoios externos necessários para que os projetos se concretizem.

criação de uma rede virtual Global Fórum;

37

criação de subsídios para formação acadêmica

De acordo com o consultor em desenvolvimento

transversal para a sustentabilidade; formação

organizacional

para

Brahma Kumaris no Brasil, Ken O’Donnel, os grupos

educadores;

revitalização

dos

currículos;

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es

e

representante

da

organização


Ca l l f o r a c ti o n

farão sua autogestão e seu próprio monitoramento “Esse desenrolar ficará por conta de cada grupo; a Fiep acompanhará esses passos”, diz O’Donnel. Na avaliação de Rocha Loures, o Call for Action dará uma contribuição significativa para os próximos passos. “Proporcionamos uma plataforma para que outros grupos partam de uma base mais avançada e que resulte em uma contribuição mais apurada”.

Ações em todo mundo Estados do Norte e Nordeste do Brasil também estão se mobilizando para refletir sobre educação e sustentabilidade, tomando como base o Global Forum, realizado em Curitiba. Além dos dois encontros agendados para São Paulo (um preparatório, nos dias 20 e 21 de agosto, e outro nos dias 20 e 21 de novembro), o Banco Bilbao Viscaya decidiu apoiar um evento nesses moldes na Espanha. Na América Latina, o tema será foco de discussão no encontro do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), de 11 a 13 de setembro, em Santa Cruz de La Sierra; e na Assembléia Anual de Decanos das Escolas de Negócio Cladea 2008 (Consejo Latinoamericano de las Escuelas de Administración), em Puebla, no México, de 22 a 25 de outubro, onde o presidente da Fiep será um dos palestrantes convidados. “O que se espera é a continuidade do movimento e que ele se multiplique em todas as regiões do Brasil, América Latina e planeta, num processo contínuo e permanente nesse crescente desafio da aprendizagem da sustentabilidade”, conclui Rocha Loures.

Os grupos ficarão responsáveis por dar efetividade aos projetos que elaboraram

38

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


balanço

O difícil diálogo entre os setores público, privado e de ensino: demandas e expectativas para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável

Marcos M. Schlemm, doutor em Administração e assessor da presidência da Federação das Indústrias do Estado do Paraná

Uma análise das expectativas manifestadas de parte a parte pelas comunidades convidadas a estabelecer diálogos positivos durante o Global Fórum em Curitiba revela uma curiosa convergência de proposições e demandas em termos de conhecimentos, serviços e papéis esperados, bem como de papéis atribuídos. Particularmente o exercício proposto por Ram Charan, onde cada uma das comunidades – Indústria, Academia, Sociedade Civil e Governo – foi solicitada a explicitar o que espera e o que sugere como ação desejável. Este exercício gerou um número expressivo de idéias e propostas de ação que merece uma atenção especial, por tratar-se de um sinalizador de possíveis caminhos e soluções que podem promover a necessária convergência de interesses no contexto maior da sustentabilidade do planeta. O que emerge dos diálogos é uma desconcertante semelhança entre o que a indústria expressa como necessário ou desejável para a academia colocar em prática e, por outro lado, o que a academia expressa como expectativa e iniciativas desejáveis por parte da indústria. Os diálogos que se estabeleceram entre os representantes destas duas comunidades, mais representantes do governo e da sociedade civil, revelam a dificuldade existente que é, justamente, a proposta central do GFAL: o diálogo construtivo e produtivo em torno de questões concernentes a todos os atores envolvidos. Por sua vez, governo e sociedade civil igualmente indicam uma convivência de baixa interação e articulação para atender aos requisitos de um modo de vida sustentável. As questões que receberam maior atenção e interesse por parte dos representantes destas duas instituições revolvem em torno da dificuldade de diálogos produtivos e de instrumentos de articulação e acompanhamento dos programas e iniciativas dos

39

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


balanço

seus agentes. A ação ética, responsável por parte do

conhecimento acumulado nos laboratórios e centros

setor produtivo, e a investigação científica, direcionada

de pesquisa universitários, com rápido

para as questões ambientais e sociais, são exigências

comunidades locais e regionais.

coerentes com o viver sustentável.

retorno às

São, portanto,

ações imperativas na definição e implementação

As expectativas e proposições da comunidade

de políticas e programas que mobilizem pessoas e

acadêmica não conflitam com a maioria das

recursos para a conscientização,

sugestões

científico e tecnológico,

desenvolvimento

produção e

vindas

da

indústria,

reforçando,

ao

fomento de

contrário, o desejo de maior cooperação na definição

empreendimentos e iniciativas que visem negócios

de prioridades e no apoio a pesquisa e formação. A

sustentáveis. Também neste âmbito, percebe-se mais

natureza e propósitos da cooperação podem estar

convergência de perspectivas e interesses do que

na origem do aparente desacordo entre expectativas.

antagonismos. As divergências eventuais acontecem

Enquanto a indústria parece estar mais interessada

muito mais no que diz respeito aos métodos e à

na capacitação pragmática e utilitária, visando a

linguagem do que a desacordos substantivos quanto

busca de soluções que dizem respeito aos propósitos

à relevância e premência do assunto.

de produção e comercialização de bens e serviços, agora numa perspectiva ecologicamente consistente, o meio acadêmico espera maior cooperação no

Cooperação e interação – No debate e

apoio e financiamento de pesquisa e infra-estrutura,

nas proposições que envolveram as comunidades

nem sempre ligados diretamente aos interesses da

industrial e acadêmica houve um tema recorrente.

indústria.

Trata-se da dificuldade em estabelecer um diálogo efetivo que faça convergir o entendimento de

Educação e profissionalização – A

conceitos e a definição de uma agenda de cooperação

demanda por profissionais melhor equipados com

para a busca de soluções que atendam a curto e

os conceitos e instrumentos vistos como necessários

longo prazo as demandas que hoje recaem sobre

para a prática do dia-a-dia no âmbito empresarial foi,

toda a sociedade, em particular sobre estas duas

no contexto do GFAL, ampliada para incorporar os

comunidades. Estas demandas dizem respeito ao

valores da conduta ética coerente com uma indústria

imperativo da continuidade da vida humana e suas

ambiental e socialmente responsável.

formas de organização da produção e do consumo Esta proposição pede a formação de indivíduos

dos meios de sobrevivência.

dotados da capacidade de compreender temas

40

A indústria pede mecanismos de governança que

substantivos

permitam

biologia,

uma

participação

mais

efetiva

nas

de

outros

engenharias

e

domínios,

como

física,

ciência

política.

Além

definições e desenhos curriculares, visando maior

disso, é importante considerar habilidades como

convergência de interesses e utilização dos recursos

liderança e a capacidade de mobilização de equipes

humanos e tecnológicos. Neste sentido, sugere-se a

e comunidades, a capacidade de empreender e de

criação de câmaras de integração e cooperação que

interpretar tendências, a atitude positiva perante a

permitam maior acesso ao que é produzido no meio

adversidade e a resistência a mudanças. É igualmente

acadêmico, garantindo, uma aplicação mais efetiva do

essencial contar com indivíduos melhor capacitados

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


balanço

para analisar e compreender as alternativas de ação e aptos a decidir seguindo critérios e valores consistentes com a prática responsável. Foi explicitada a expectativa de receber, do meio acadêmico universitário, profissionais melhor equipados no uso de instrumentos e ferramentas que auxiliem a indústria a obter maior produtividade e eficiência energética na produção de bens e serviços. Da mesma forma, espera-se profissionais capacitados para a inovação de processos e produtos que cumpram com os imperativos ambientais e da energia limpa. Do ponto de vista das IES, o ensino e a pesquisa têm propósitos mais amplos e universais, não devendo ser atrelados aos requisitos da indústria, sob pena de perda da liberdade e neutralidade intelectual, assim como da objetividade na explicação dos fenômenos, de suas causas e conseqüências.

Conhecimento e práticas de sustentabilidade – Nesta dimensão, tanto a indústria quanto o governo e a sociedade civil clamam por maior compromisso da comunidade acadêmica na produção e difusão de conhecimentos que esclareçam e contribuam para a conscientização da população em geral, assim como dos agentes de produção e consumo. Incluem-se neste âmbito o uso eficiente de energias não-renováveis, assim como o esclarecimento quanto às possibilidades e a viabilidade de energias alternativas e de práticas que visem o bem comum e ambiental. A demanda da academia nesta questão concentra-se na disponibilidade de recursos para a pesquisa e cooperação, na validação teórica e no desenvolvimento de aplicações tecnológicas. A importância da incorporação transversal dos conceitos inerentes aos sistemas sustentáveis na sua acepção mais abrangente é reconhecida por todos os agentes representantes das comunidades imbricadas neste desfio. A sustentabilidade não pode ser vista simplesmente como uma prática de responsabilidade social e ambiental, mas como um critério de seleção e construção epistemológica do conhecimento e sua metodologia. Busca-se recuperar no ontos a verdadeira natureza dos sistemas e processos de constitutivos de sua operação.

Tecnologias aplicadas – O diálogo em torno da dimensão tecnológica e de sua aplicação no contexto produtivo é o que apresenta a coincidência nas perspectivas de todos os agentes envolvidos. Parece haver um consenso em torno da importância de transformar conhecimento fruto da pesquisa básica em

41

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


balanço

aplicações tecnológicas que venham a colaborar na

formadores, assim como contradições inerentes à

solução de questões de natureza ecológica.

formação política da sociedade brasileira desde os primórdios de sua constituição, fizeram com que a

As ciências sociais aplicadas recebem incumbência

instrução universitária assumisse posições ideológicas

especial no desenvolvimento de inovações sociais que

nem sempre representativas do pensamento da

favoreçam a inclusão social e o desenvolvimento de

grande classe média, principal demandante e usuária

comunidades carentes com pouco acesso aos produtos

da diplomação superior.

e serviços disponibilizados pelo mercado formal. As escolas de economia e gestão são solicitadas

Por outro lado, a burocratização do ensino, com a

a contribuir com a formação de profissionais

excessiva centralização do processo decisório e das

equipados com os conhecimentos tecnológicos e

diretrizes programáticas, promoveu a elitização e o

instrumentos necessários para a decisão de questões

distanciamento das instituições federais, e mesmo

complexas e sistêmicas inerentes ao imperativo da

das confessionais e privadas, das características

sustentabilidade.

e

necessidades

regionais.

A

necessidade

do

enquadramento com as diretrizes e metas da A premência do imperativo da sustentabilidade

educação de modo geral, e da superior em particular,

ecológica faz realçar a dificuldade maior por parte

direcionou o foco das preocupações acadêmicas ao

da comunidade acadêmica de encontrar acolhida

cumprimento das diretrizes e exigências do MEC e

no meio empresarial para o apoio e financiamento

suas agências reguladoras. Este compromisso para

da pesquisa e o desenvolvimento de conhecimentos

com o agente financiador oficial desobrigou, ao

necessários ao domínio da sustentabilidade – tema

mesmo tempo, a universidade brasileira a buscar a

complexo e transversal por natureza.

necessária integração e cooperação com a sociedade a quem deveria servir e ao setor produtivo que, ao

Por sua vez, a indústria acusa o desinteresse por

não ver suas necessidades atendidas, negligenciou

parte da academia que, ao priorizar seu esforço de

seu papel de provedor de recursos e de parceria nos

pesquisa, dá preferência a questões muitas vezes

projetos de pesquisa e extensão.

distantes das necessidades regionais ou comunidades mais próximas. A indústria pede maior atenção para a

A

solução de questões operacionais do seu cotidiano e

e priorização reflete a ausência de um diálogo

que requerem ferramentas e instrumentos de rápida

sistemático e efetivo entre estes agentes para que

aplicação e garantia de resultados.

agendas verdadeiras e consistentes com a realidade

proposição

de

instrumentos

de

governança

nacional e global sejam contempladas e os recursos

Comprometimento Dificuldades

42

históricas

e nas

parceria experiências

sejam assegurados.

de

alinhamento e cooperação com o meio universitário

Mudança e inovação – A necessidade

fizeram

pouco

de promover mudanças e incentivar empresas e

satisfatória para o setor produtivo. Objetivos muitas

universidades a inovar tendo a sustentabilidade

vezes conflitantes e expectativas equivocadas quanto

como tema de fundo é uma demanda que encontra

aos papéis a serem desempenhados pelos agentes

eco entre os representantes das quatro comunidades

desta

interação

uma

parceria

R E V I S T A G l o b a l F o r u m – Ba l a n ç o d e ativi d a d es


balanço

presentes ao GFAL. A demanda vinda dos diálogos identifica como necessária não apenas a mudança dos conteúdos programáticos dos cursos e disciplinas que hoje integram a grade curricular das instituições de ensino, mas também a forma como o ensino e a pesquisa deveriam ser conduzidos. Uma maior interação com as questões regionais e locais por parte da academia, participando do esforço de pesquisa e do desenvolvimento tecnológico, visando soluções eficientes para o trato das questões ambientais, energéticas e sociais. Metodologias apropriadas e mudança de postura na relação com a indústria por parte dos pesquisadores, assim como maior cooperação e abertura por parte da empresa são solicitações que confirmam a dificuldade histórica neste processo.

Capacitação profissional – Talvez seja este o aspecto de menor convergência e entendimento entre as comunidades envolvidas. Enquanto a instituição de ensino superior no Brasil assumiu como seu principal papel a formação de indivíduos especializados em domínios específicos e comprometidas com o progresso científico, a sociedade, indústria e governo esperam poder contar com profissionais capacitados em diversas competências de domínio prático nem sempre acessíveis pelos modelos formais de ensino e pesquisa. A aprendizagem em torno de questões e problemas do cotidiano pede abordagens de construção do conhecimento e da aplicação prática mais próximas de instituições tecnológicas. As demandas nesta área expõem a preferência dada ao ensino teórico e formal na maioria dos cursos universitários. Talvez resida nesta questão a maior oportunidade de mudança e proposição de ação que envolva o conhecimento prático e as competências necessárias para levar à indústria e à comunidade as práticas e técnicas necessárias para lidar com as questões mais prementes do desenvolvimento sustentável.

Políticas públicas e incentivos – A discussão neste âmbito não avançou como em outras questões, propondo soluções pouco inovadoras. A proposição de ampliação das medidas governamentais visando o apoio e incentivos fiscais a empresas que voluntariamente adotarem práticas e produtos seguindo princípios e requisitos da sustentabilidade, seria a mais provável e esperada entre as possíveis formas de lidar com o tema. Impostos regressivos em vista da adoção destas práticas seriam medidas possíveis de incorporação pelo poder público e perfeitamente compensadas pela redução dos gastos públicos na correção dos danos e recuperação do recursos naturais ou ambientais. O financiamento de pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologias limpas, energias renováveis, inclusão social, produtos e insumos recicláveis, entre muitas outras sugestões, são parte constante das agendas de todas as comunidades presentes.

Conclusão – Os grandes grupos temáticos agrupam no seu bojo uma quantidade expressiva de idéias e sugestões que merecem uma avaliação mais cuidadosa e detalhada para que seu potencial possa ser apreciado e estruturado na forma de projetos e propostas de ação. As categorias criadas refletem a incidência de temas e sugestões que surgiram dos diálogos e pedem agora a liderança de pessoas e instituições que transformem em realidade os sonhos e descobertas feitas ao longo dos três dias que reuniram mais de 1300 pessoas em Curitiba.

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