Bastardos 1° capítulo

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Bastardos Lali Nascimento

Ryan de Murray é encarregado pelo senhor de Murray e também seu pai de criação a investigar constantes roubos que vem acontecendo na região, ele não imaginava que além de lidar com um vilarejo recentemente incendiado encontraria uma fêmea que gostava de se vestir de homem e que foi capaz de desembainhar a espada para ele. Ryan estava acostumado a mulheres chorosas ou até mesmo fogosas, mas não impetuosas como Chloe. Ele não entendia o porquê de ela prender cabelos tão bonitos e esconder suas formas debaixo de túnicas, nem o desejo incontrolável que sentia quando estava perto dela, mas não iria se deixar levar por uma fêmea, pois aprendeu desde cedo, com a mulher que te deu a vida, que não deveria confiar em nenhuma delas. Chloe não iria abaixar a cabeça para um homem, já havia sofrido muito nas mãos de um para deixar que a história se repetisse, mesmo que esse homem fosse tão atraente como Ryan de Murray.

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BASTARDOS Lali Nascimento CAPÍTULO I

Londres, 1086. _

Não temos que ir, isso é ridículo. Temos pessoas inferiores para fazerem isso. As terras de Sir. George de Murray estavam sendo atacadas por ladrões

e ele encarregou seu filho de criação, Ryan, de resolver a situação. _

Não são pessoas inferiores, são nossos amigos. Ryan respondeu olhando para Harry, que se encontrava no canto da

porta. Sempre fiel, Jack sabia muito bem magoar, mas, para Ryan, ele era um bom amigo desde os tempos de infância. Ryan mirou Jack nos olhos

_

verdes

como os do homem que considerava seu pai _, mas não encontrou a mesma sinceridade. _

Se não dão o exemplo, como vou confiar em deixar minhas terras para meus

filhos quando me for? George, um senhor de meia idade, mas ainda bastante forte, cabelos grisalhos mesclando com os loiros e profundos olhos verdes, desceu as escadas e se juntou aos seus filhos que estavam no centro do salão. O solar estava vazio, sem nenhum criado, pois mal havia amanhecido.


_

Harry. _ George o cumprimentou. Harry respondeu ao cumprimento de seu senhor apenas com um aceno

de cabeça. _

Então eu acordo e, para variar, meus queridos filhos estão brigando…

_

Não há mais briga. Se não quer vir, não venha, Jack. Chamei-o para não

dizer que faço tudo pelas suas costas, como costuma dizer a todos. _

É o responsável por acabar com tudo isso. Eu não sirvo para nada, não é Sir.

George de Murray? Ama-o como se fosse seu sangue e não ama a mim? Jack não esperou a resposta, saindo a passos largos da porta onde Harry estava parado, quase o derrubando. _

Não ligue. Para mim é tão meu filho quanto ele. Isso não tem a ver com

ciúmes, Ryan, mas com a frustração que ele sente em saber que você é muito mais competente do que ele. Agora vá, temos que pegar logo esses ladrões. Ryan, Harry e mais quatro homens montaram em seus cavalos. Tinham que se apressar antes de o sol ficar alto, pois os ladrões costumavam atacar o povoado no início da manhã. _

Acha mesmo que vamos conseguir? Já tentamos tanto e eles são muito

espertos, estão sempre um passo a frente de nós...

_

Harry tinha cabelos e

olhos escuros como o amigo, mas o físico não tinha comparação. Enquanto Ryan era alto, com músculos bem definidos, Harry era baixo e robusto, porém dificilmente perdia uma briga. _

Shiii. _ Ryan interrompeu Harry. _ Escute.


_

Hahaha… Para Chloe. Nenhuma palavra precisou ser dita, todos os seis, imediatamente,

desceram dos seus cavalos e apenas um ficou tomando conta dos animais. Ryan foi na frente e desembainhou a espada, mas não havia ladrões, apenas uma senhora e um jovem sorrindo, provavelmente de alguma brincadeira. O jovem imitou o gesto de Ryan desembainhando a sua própria espada. _

Calma, calma, sem briga.

_

Harry falou colocando as mãos para cima em um

gesto brincalhão. _ Nós não batemos em crianças. _

Não sou criança.

_

O jovem falou se lançando para frente, mas a senhora o

deteve. _

Homem que não é com essa voz…

_

Sem brincadeiras agora, Harry.

_

Ryan interrompeu.

_

O que estão fazendo

aqui? Muito provavelmente os ladrões já tinham passado e tocaram fogo em muitas casas, não havia sinal dos moradores, que, com certeza, correram, preferindo perder seus bens em vez das próprias vidas. _

Estávamos de passagem e já estamos indo. _ A senhora respondeu com uma

voz menos vacilante que o primeiro. _

Estão de passagem em um lugar como esse?

onde todos estavam.

_

Ryan apontou ao redor de


_

Estamos pendendo tempo aqui, Ryan. São apenas uma velha e uma criança.

_

Ou talvez estejam aqui de propósito para nos distrair.

_

Se era para isso, já conseguiram. Vamos logo.

_

Eu não penso assim.

_

Ryan deu uma pausa e quando voltou a falar foi

exclusivamente para o jovem.

_

O que traz debaixo disso? Não está fazendo

tanto frio assim. O jovem estava envolto em um grande pedaço de tecido que improvisadamente se amarrava em seu pescoço, e ainda havia um capuz cobrindo-lhe toda a cabeça. _

Não somos ladrões, só estamos de passagem. Já não lhe disse? A senhora pareceu nervosa, o que só serviu para aumentar a

desconfiança de Ryan. Em um gesto rápido, Ryan se lançou em direção ao jovem, o desarmando. Agora com duas espadas na mão, Ryan deu a ordem. _

Tire já isso.

_

Você não me dá ordens. Devolva já a minha espada, ela não lhe pertence.

_

Chloe… _ A senhora começou a dizer.

_

Chloe?

_

Novamente Ryan não esperou, se lançou sobre o jovem e tentou

tirar à força sua vestimenta. _

Aiiii.


De jeito nenhum aquele grito era de um homem, por mais jovem que ele fosse. Ryan rasgou a vestimenta, arrancou-a e a arremessou longe. E o que viu o deixou paralisado. Apesar de estar usando túnica e calção folgado, dava para ver perfeitamente as curvas bem feitas e uma longa cabeleira enrolada e presa no alto da cabeça com o que deveria ser um cordão. _

Solte os cabelos, e, antes que diga que não lhe dou ordens, seja um pouco

inteligente. Veja que tenho duas espadas. _

Por favor, meu senhor… _ A senhora começou a dizer.

_

Não se meta, velha. _ Um dos homens falou.

_

Não fale assim com ela! Não tem respeito? _ Chloe respondeu.

_

E quem você é para dizer o que devo fazer?

_

Ela está certa, Albert. Essa senhora não fez nada para ser desrespeitada. Ouvindo isso, Chloe amoleceu o olhar reconhecendo que, talvez, aquele

homem não fosse estúpido como alguns que já conhecera. _

Meu nome é Chloe. _ Ela falou retirando o cordão que estava em seu cabelo,

que caiu pesado em suas costas até a altura da sua cintura como uma cascata loira.

_

E esta é Mirela. Como pode ver, não tenho nada de roubado conosco.

Então, nos deixe ir. Ryan demorou de responder, estava paralisado com a visão que teve. Chloe era muito bonita, com olhos azuis claros.


_

Ryan…

_

Eu sei o que estou fazendo, Harry.

_

Não. Vão continuar aqui conosco. Albert e Jefferson ficam olhando elas e os

cavalos, e nós vamos em frente para ver se encontramos os ladrões. Falando isso, Ryan se virou para buscar seu cavalo, passando pela cara de desgosto de Albert. Harry percebeu que o mau humor repentino de seu amigo se chamava Chloe. Desde que sua mãe o abandonou quando Ryan ainda era pequeno, este adquiriu certa desconfiança por todas as mulheres e não costumava dar credibilidade nem perder muito tempo com elas. Por isso, Harry não conseguia entender porque tanta atenção repentina por Chloe, mas mais tarde teriam tempo de conversar sobre isso. Agora, tinham ladrões para apanhar. *** _

Claro que não íamos encontrá-los, com tanto tempo que perdemos com essas

duas.

_

Harry estava falando aos berros com Ryan no caminho de volta onde

deixaram Albert e Jefferson. _

Certo, Harry, eu errei. Mas vamos acampar aqui e procurarmos amanhã. Eles

não estão contando com isso, vai ser uma grande chance de pegá-los. Harry ia responder algo, mas se depararam com um Albert sorridente, bem diferente de antes. Jefferson e as mulheres também pareciam estar felizes.


Quando se aproximaram perceberam que Chloe estava contando uma história que, pelo visto, deveria ser bem engraçada. _

Pelo menos teve boa companhia, Albert, diferente de mim.

_

Harry falou.

_

É

muito bonita, Chloe. Por que se veste como homem? _

Porque não é de sua conta.

_

Tem língua afiada também. Além de se vestir como homem, sabe fazer coisas

que homem faz? Sabe caçar? Ryan decidiu acampar e vamos precisar de algo para comer. _

Claro que sim, aposto que ganho de todos.

_

Claro que não vai, é só uma fêmea.

_

Então vamos fazer um trato, Ryan. Ryan estava sem ação, parte pela forma como aquela fêmea falava,

como nunca tinha visto antes, e parte por ele perceber que ela falara pela primeira vez o seu nome. _

Se eu conseguir caçar primeiro ainda faço um ótimo assado, e em troca você

me dá a minha liberdade e a de Mirela. Chloe estendeu a mão para Ryan e ele a apertou tendo duas certezas. A primeira, que Chloe perderia a disputa, pois Harry era um ótimo caçador. E a segunda, que tão cedo deixaria Chloe partir, e ele ainda não sabia muito bem o porquê. Todos saíram sem os cavalos para que Chloe não ficasse em desvantagem e Jefferson se sentiu mais uma vez injustiçado por ter ficado de


fora da diversão, tomando conta dos animais. Mirela ficou lhe fazendo companhia, pois, ao contrário de sua menina, não apreciava nem um pouco a caça. Ryan também devolveu a espada para Chloe e todos passaram boa parte do tempo procurando javalis, muito comuns naquelas terras. Aos poucos eles foram aparecendo, mas, a qualquer investida dos homens, os animais fugiam pela mata de uma maneira que dificultava a sua captura. Foi quando Chloe decidiu subir numa grande árvore e Ryan acreditou que ela havia se cansado de tantas tentativas. No entanto, mais uma vez, foi surpreendido, pois quando um enorme javali apareceu e todos os homens se preparavam para apanhá-lo, Chloe, com uma pontaria perfeita, lançou uma adaga na altura do pescoço do animal, matando-o imediatamente. Ryan ficou paralisado percebendo que essa seria uma reação comum de seu corpo quando o assunto era Chloe. Ele fez menção de abrir a boca, mas logo foi interrompido. _

Não precisa dizer nada, ainda não terminei o meu trabalho. Tenho um assado

para fazer. Dizendo isso, ela envolveu o animal nos restos da vestimenta que, mais cedo, Ryan rasgara e saiu puxando o javali, passando na frente dos homens, que só fizeram se entreolhar e segui-la, como se ela fosse o seu líder e não Ryan.


_

Sabe, Jefferson. _ Harry começou a dizer quando chegaram ao local onde iam

passar a noite, que, por sinal, já estava se aproximando.

_

Não pensou que ia

ficar aqui sem fazer nada enquanto fazíamos todo o trabalho. _

O que quer?

_

Temos um grande javali e precisamos de lenha para a fogueira.

_

Chloe falou

sorridente, mostrando o animal morto que trazia consigo. Ryan não pôde deixar de notar o quanto ela parecia ainda mais jovem sorrindo. Com certeza tinha pouca idade, mas teria tempo para lhe perguntar e saber ao certo. Quando Jefferson trouxe a lenha, Chloe e Mirela já haviam retirado o couro do javali e o preparado para o fogo. Ryan não deixou de notar que Chloe, apesar de se vestir e caçar como um homem, também possuía muita habilidade no preparo de alimentos. _

Eu não sei se é a minha fome, mas esse assado está muito bom, Chloe. Não

acha Ryan? _ Harry perguntou. _

Sim, está muito bom. _ Ryan falou sem olhar para Chloe.

_

Então, eu e Mirela podemos ir?

_

Já conversamos sobre isso, criança.

_

Eu não sou criança, o meu nome é Chloe. E, sim, nós já conversamos sobre

isso e eu pensei ter escutado concordarmos que eu e Mirela teríamos liberdade caso eu caçasse e preparasse a ceia.


_

Mas não explicaram o que estavam fazendo aqui sozinhas antes de o sol

nascer, correndo risco de serem atacadas pelos ladrões. A voz de Ryan parecia um trovão de tão alta e Harry pensou o quanto era difícil ver o seu amigo assim. _

A não ser que sejam companheiras dele.

_

As últimas palavras foram quase

cuspidas de nojo e Ryan não sabia por que se sentia assim ao pensar em Chloe com outro homem. Ryan se afastou de todos, indo para dentro da mata. A princípio, Harry pensou que era por necessidades, mas, como ele demorou, Harry decidiu ir atrás e encontrou Ryan sozinho olhando o luar. _

Pensando em sua mãe de novo?

_

Pensei ter o ouvido dizer para não pensar mais nesse assunto. Apesar de não falar muito sobre o assunto, Harry sabia que Ryan nunca

superou o fato de sua mãe o ter entregado para um desconhecido e sumido no mundo. _

Não é nela que estou pensando, ela não merece o meu tempo.

_

Mas Chloe merece. Percebendo o tom com que Harry falou, Ryan desviou sua atenção da

lua para olhar o seu amigo. _

O que quer dizer com isso?


_

Sabe, pode enganar a todos, inclusive a si mesmo, com essa história de

manter Chloe e Mirela aqui por pensarem que elas são ladras. _

Não se trata de enganar ninguém, elas são suspeitas.

_

Mas elas não estavam com nenhum furto e, além do mais, se Chloe fosse

realmente mulher de um dos ladrões, do jeito que é bonita, ele não a deixaria para trás. Pelo menos eu não deixaria.


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