Estereogramas

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”Nas imagens estereoscópicas a profundidade é essencialmente diferente de tudo o que há na pintura ou na fotografia. Deparamo-nos com uma sensação incessante de “em frente a” e “ao fundo de”, que parece organizar a imagem como uma sequência de planos recuados. De fato, a organização da imagem estereoscópica é fundamentalmente plana. Percebemos elementos individuais como formas planas, recortadas, dispostas próximo ou distante de nós. Mas a experiência do espaço entre esses objetos (planos) não é de recuo gradual e previsível; há uma incerteza vertiginosa da distância que separa as formas. Comparado à estranha insubstancialidade dos objetos e figuras localizados a meia distância, o espaço absolutamente sufocante que os cerca possui uma tatibilidade inquietante... Na imagem estereoscópica ocorre uma perturbação do funcionamento convencional dos estímulos ópticos. Certos planos ou superficies, embora compostos de indicações de luz e sombra que normalmente designam volume, são percebidos como bidimensionais; outros planos, que normalmente seriam interpretados como bidimensionais, como uma cerca em primeiro plano, parecem ocupar o espaço de maneira agressiva. Logo, a profundidade ou o relevo estereoscópico não tem uma lógica ou ordem unificadora. Se a perspectiva implicava um espaço homogêneo e potencialmente mensurável, o estereoscópio revela um campo fundamentalmente desunificado e agregado de elementos separados. Nossos olhos nunca percorrem a imagem com plena apreensão da tridimensionalidade de todo o campo, mas o fazem em termos de uma experiência localizada de áreas separadas. Quando olhamos de frente uma fotografia ou pintura, nossos olhos permanecem em um único ângulo de convergência, conferindo unidade óptica à superficie da imagem. Contudo, a interpretação ou análise da imagem estereoscópica consiste em um acúmulo de diferenças no grau da convergência óptica, produzindo, com isso, um efeito perceptivo de um misto [patchwork] de diferentes intensidades de relevo em uma única imagem. Nossos olhos seguem um caminho sinuoso e errático para dentro da profundidade da imagem: Trata-se de um agenciamento de zonas locais de tridimensionalidade, zonas impregnadas de uma claridade alucinante, mas que, quando consideradas em conjunto, nunca se confundem em um campo homogêneo. [...] Parte do fascínio dessas imagens deve-se a essa desordem imanente, às fissuras que interrompem sua coerência.” Jonathan Crary, em Técnicas do observador

















































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