Livro Plantas Brasileiras

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Plantas BrasileiraS a ilustração botânica de



Plantas BrasileiraS a ilustração botânica de



Plantas BrasileiraS a ilustração botânica de



“Com minha mão desenho flores e folhas. Com minha alma pinto a alma delas.”

“With my hand I draw flowers and leaves. With my soul I paint their spirit.”



A Eletrobras trabalha com a visão de se tornar, até 2020, o maior sistema empresarial global de energia limpa. Nesse sentido, os investimentos em fontes renováveis de geração desempenham um duplo papel no percurso para um futuro sustentável. Além de alicerce na transição para uma economia ambientalmente responsável no Brasil, novos empreendimentos em geração limpa são baluartes na defesa dos ecossistemas que os abrigam. O posicionamento estratégico em locais como a região amazônica não apenas proporciona uma alternativa ao extrativismo, como garante recursos sem precedentes para a pesquisa e a preservação da biodiversidade nacional. Por isso, temos o prazer de patrocinar a presente obra da ilustradora Dulce Nascimento. Discípula direta de Maria Werneck de Castro, ela é uma das maiores especialistas mundiais no registro de plantas em aquarela. Trata-se de uma arte tão bela quanto imprescindível para a ciência, pois garante um registro botânico tão fiel e pormenorizado que chega a permitir o estudo de plantas raras ou ameaçadas mesmo que não se tenha um espécime à mão. Esperamos que o trabalho da artista, reunido em livro, possa servir não só à comunidade científica, mas dissemine também entre o público geral a satisfação de apreciar a beleza da flora nativa. Pois o conhecimento da riqueza natural do Brasil é parte constituinte da visão que a Eletrobras idealiza para o país.

Eletrobras pursues the vision of becoming the largest global clean energy corporation by 2020. Thus, investments in renewable sources of power generation play a dual role on the path towards a sustainable future. In addition to laying down the foundations for the transition towards an environmentally responsible economy in Brazil, new investments in clean generation create the backbone for protecting the very ecosystems that will host new projects. The choice of strategic locations such as the Amazon region provides an alternative to extractivism while guaranteeing unparalleled resources for biodiversity research and conservation. For this reason, we have the pleasure of sponsoring the current work of illustrator Dulce Nascimento. Direct apprentice of Maria Werneck de Castro, she is one of the world leading specialists in the area of watercolor plants. This art is both beautiful and essencial to science, as it ensures such accurate and detailed botanical records that it allows rare or endangered plants to be studied even without the specimen at hand. We hope that the work of the artist, assembled in this book, will not only be relevant to the scientific community but will also offer to the general public the pleasure of enjoying the beauty of the native flora. Enhancing the knowledge on Brazil’s natural resources is an important part of the vision upheld by Eletrobras for the country.



SUMÁRIO

Apresentação

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

Presentation

Capítulo I – Plantas Brasileiras . . . . . . . . . . . . . . .15 Chapter I – Brazilian Plants

Capítulo II – Primeiros Traços . . . . . . . . . . . . . . . .35 Chapter II – First Steps

Capítulo III – Kew Gardens . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 Chapter III – Kew Gardens

Capítulo IV – Expedições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 Chapter IV – Expeditions

Capítulo V – Orquídeas e Bromélias . . . . . . . . . . .81 Chapter V – Orchids and Bromeliads

Capítulo VI – Na Mata Atlântica . . . . . . . . . . . . .125 Chapter VI – Atlantic Forest



A P R E S E N TA Ç Ã O

Durante os últimos trezentos anos, cientistas e naturalistas vêm explorando a floresta amazônica e descrevendo sua beleza, exuberância e mistério. Entre eles podemos citar Alexander von Humboldt, Alfred Russel Wallace, Richard Evans Schultes e Margaret Mee. Apesar de as anotações e espécimes coletados formarem a base da documentação das expedições, as pinturas de arte também são importantes. Todos esses naturalistas utilizaram desenhos de uma forma ou de outra, mas foi Margaret Mee a primeira a usá-los como veículo de informações sobre as regiões visitadas. Por intermédio das pinturas de Margaret, podemos apreciar a diversidade de plantas da Amazônia e compreender o que perderemos se as florestas forem destruídas. Margaret Mee morreu em 1988. Graças porém ao apoio da Fundação Margaret Mee, outros naturalistas/artistas puderam e podem seguir seus passos. Um desses artistas é Dulce Nascimento. Conheci Dulce em Évora, Portugal, onde ela me incentivou a participar de suas aulas de pintura em aquarela no Brasil, nas viagens pelo rio Amazonas e alguns de seus afluentes. Isso me permitiu conhecer as maravilhas da Amazônia. Apesar de originalmente treinado como um ilustrador científico, eu ainda tinha muito a aprender sobre a técnica de aquarela, e Dulce foi uma excelente professora – estruturada, paciente e gentil. Minhas pinturas em aquarela definitivamente melhoraram depois do tempo que passei como um dos alunos de Dulce! Talvez mais importante do que aprender como pintar plantas da floresta tropical seja continuar o legado de Margaret Mee, especificamente levando as pessoas a valorizar a necessidade de proteger e conservar a Amazônia brasileira. Esse foi um dos presentes que Dulce também me deu. Graças a ela, tenho hoje informações em primeira mão sobre a ecologia da floresta amazônica brasileira, o que me permite divulgar esse material a meus próprios alunos. Agora algumas das pinturas de Dulce foram reunidas neste livro – Plantas brasileiras – A ilustração botânica de Dulce Nascimento. Estas pinturas são verdadeiramente inspiradoras. Elas instilam no espectador o respeito pelas plantas e seu ambiente, além de nos estimular a garantir que elas sobrevivam de forma que as próximas gerações possam apreciá-las também.

S C O T T R AW L I N S , Professor de ilustração científica Arcadia University, Glenside, PA, EUA Presidente da Guild of Natural Science Illustrators - GNSI Novembro de 2011



P R E S E N TAT I O N

During the past three hundred years a number of scientists and naturalists have explored the Amazon rainforest and have described its beauty, exuberance and mystery. Among these were Alexander von Humboldt, Alfred Russel Wallace, Richard Evans Schultes and Margaret Mee. Though notes and collected specimens form the basis of most expedition documentation, artwork is also important. All of these noted naturalists employed drawings to one degree or another, but only Margaret Mee used them as a primary means of communicating information about the regions she visited. It is through Margaret’s paintings that we can appreciate the diversity of plant life present in Amazonia, and understand what will be lost if the forests are destroyed. Margaret Mee died in 1988. However, through the support of the Margaret Mee Foundation, other naturalist/artists have been able to follow in her footsteps. One such artist is Dulce Nascimento. I met Dulce in Evora, Portugal, where she encouraged me to take her watercolor class in Brazil while traveling on the Amazon River and some of its tributaries. This I did, and it introduced me to the wonders of Amazonia. Though formally trained as a scientific illustrator, I still had much to learn about watercolor technique, and Dulce was an excellent teacher – structured, patient and kind. My watercolor paintings definitely improved after time spent as one of Dulce’s students! Perhaps more important than learning how to paint rainforest plants is continuing Margaret Mee’s legacy, specifically, helping people to appreciate the need to protect and conserve the Brazilian Amazon. This was one of Dulce’s gifts to me as well. It is because of Dulce that I now have firsthand information about the ecology of the Brazilian rainforest, and can share this material with my own students. And now some of Dulce’s paintings have been collected in Brazilian Plants – The Botanical Illustration of Dulce Nascimento. These paintings are truly inspirational. They instill in the viewer a respect for the plants and their environment, and encourage us to insure that they will remain for future generations to appreciate.

S C O T T R AW L I N S , Professor of Scientific Illustration Arcadia University, Glenside, PA, U.S.A. President, Guild of Natural Science Illustrators - GNSI November 2011



CAPÍTULO I

Brasil é um dos países mais ricos em florestas do planeta, e são elas que conservam os solos, preservam a água e mantêm o clima. Além disso, são as mais importantes repositoras da biodiversidade. Dá para imaginar como seria a vida no planeta sem as florestas, ou mesmo como seria a natureza, a vida, se perdêssemos todas as florestas nativas? O Programa de Meio Ambiente da ONU divulgou que o mundo perde milhões de hectares de florestas primárias por ano, somente por desmatamento, sem considerar outras formas de ameaça às florestas, como queimadas e a falência genética por perda das espécies polinizadoras e dos dispersores de sementes.

BRAZILIAN PLANTS

razil is one of the most forest-rich countries on the planet, falling only behind Russia. We know that these forests are singularly capable of conserving soil, preserving water, and safeguarding the climate, in addition to being fundamental repositories of biodiversity. Is it possible to imagine how life on this planet would be without forests, or actually how nature and life would be if we were to lose all native forests? The Environmental program of the UN has disclosed that yearly the world looses an average of 6 million hectares of primary forests by deforestation. This is without considering other forms of threats against forests, such as fire or genetic failure due to the loss of pollinating species and the dispersers of seeds.


Aechmea setigera


Quando uma árvore é tirada da floresta,

1 | Preface of the book Plantas Raras Brasileiras,

junto com ela vão inúmeros seres que

research done by The

participam da regulação dos sistemas vivos,

University of State Fair of

gases como o dióxido de carbono deixam de ser

Santana, Bahia and edited

captados da atmosfera e acontece o fenômeno

by Conservation International.

do desprendimento de CO2 dos troncos e folhas, que provoca o efeito estufa na atmosfera. Para a manutenção de vida com qualidade no planeta, é necessário que haja uma interação de tudo e todos que fazem parte dos sistemas naturais. Sabemos que os pesquisadores botânicos continuam encontrando novas espécies. Por isso, dizer que muitas das espécies dos nossos biomas são desconhecidas e que guardam o futuro da humanidade é, hoje, uma informação

When a tree is taken from a forest it is

que precisa ser mais esclarecida. A comunidade científica reconheceu 2.291

accompanied by countless organisms, which aid in the regulation of the living system. Gases like

4% a 6% de todas as espécies do país, muitas

carbon dioxide are trapped in the atmosphere and

das quais já se encontram à beira da extinção.

a phenomenon occurs where CO2 is released from

Plantas consideradas raras são aquelas que

the trunk and leaves, accounting for the 1

possuem distribuição menor do que 10.000 km2.

greenhouse effect in the atmosphere. For the maintenance of an adequate quality life on the planet, it is necessary for all aspects of the natural system to work together. We all know that botanical studies continue to find new species, for this reason they say there are many species in our biomes that are unknown and which protect the future of humanity. This knowledge needs to be thoroughly investigated and illustrated.

1 | Prefácio do livro

The scientific community recognizes 2,291

Plantas Raras Brasileiras,

species of rare Brazilian plants – which account for

pesquisa realizada com a

only 4 to 6% of all species found in the country,

Universidade Estadual de

and many of these are already on the brink of

Feira de Santana, Bahia e editada pela Conservação

extinction. Rare plants are those that have a

Internacional

distribution of less than 10,000km2.

1

17 Capítulo I: Plantas Brasileiras

espécies de plantas raras brasileiras – cerca de


Em 2010 os cientistas conseguiram

Plantas Brasileiras: A Ilustração Botânica de Dulce Nascimento

18

In 2010 scientists managed to catalog and

catalogar e divulgar 41.023 espécies da flora.

reveal 41,023 species of flora. This information is

Essas informações estão atualmente

available on the Institute of the Botanical Gardens

disponíveis no site do Instituto Jardim

of Rio de Janeiro’s site. It was a pioneering

Botânico do Rio de Janeiro. Foi um projeto

project that involved close to 400 specialized

pioneiro, que envolveu cerca de 400

researchers in botany, along with the combined

pesquisadores especialistas em botânica, num

effort of scientists and research institutions of the

esforço de cientistas e instituições de pesquisa

countries who signed the Convention of

dos países que assinaram a Convenção da

Biodiversity in the Rio 92 Earth Summit for the

Biodiversidade na Rio-92 para pesquisar e

research and conservation of the largest possible

conservar o maior número possível de

number of ecosystems around the world. Other

ecossistemas ao redor do mundo. Ao mesmo

groups of researchers, and research institutes, are

tempo, outros grupos desenvolvem estudos

developing studies to understand the interactions

para entender as interações entre os elementos

between the elements of nature with the objective

da natureza, com o objetivo de conservar as

of assertively and comprehensively conserving

formas de vida existentes. Porém, também é

our current way of life. However, it should not be

preciso não esquecer que países em

forgotten that developing countries, those that

desenvolvimento, que são os que detêm as

have the largest areas of tropical forests, need

maiores áreas de florestas tropicais, precisam

models and limits established in order for the

estabelecer modelos e limites para que o setor

productive sector to arrange the country’s

produtivo consiga conciliar o desenvolvimento

development in accordance with the conservation

com a conservação do meio ambiente e

of the environment, and the guaranteed

garantir a manutenção dos recursos naturais

maintenance of natural resources for future

para as futuras gerações.

generations.


Anacardium giganteum


Tabebuia ochracea


Eugenia uniflora


Currently there are many communities that

Atualmente são muitas as comunidades que vivem diretamente da extração de flores,

derive a living from the extraction of flowers,

frutos, resinas, cascas, folhas ou outros

fruits, resins, shells, leaves and other elements of

elementos das plantas, como sua sombra.

plants. Economic areas such as food industries,

Segmentos econômicos, como as indústrias

pharmaceuticals, cosmetics, and chemicals

alimentícia, farmacêutica, cosmética e química,

discover their active ingredients within Brazilian

buscam seus princípios ativos diretamente das

plants and use them for the development and

plantas brasileiras para o desenvolvimento e a

production of their products. The luxuriance

manufatura de seus

of tropical forests with

produtos.

all their species has

A exuberância

Plantas Brasileiras: A Ilustração Botânica de Dulce Nascimento

22

das florestas tropicais,

always touched artists

com suas espécies,

who register not only

sempre sensibilizou

the beauty but also the

artistas, que registram

deforestation, fires, and

não só a beleza mas

other forms of

também

carelessness that trace

desmatamentos,

the history of our

queimadas e outras

country from

formas de descuido

colonization to today.

que acompanham a

That history continues

história do nosso país

to present itself in

desde a colonização

collections at art

até os dias hoje,

museums, and the

memória que esta

absence of our species of Brazilwood, or

presente nos acervos dos museus de artes.

Ipomoea cairica

Caesalpinia echinata,

A ausência das nossas espécies – e o pau-brasil,

is symbolized in the displays, and is a

Caesalpinia echinata, bem simboliza essa

representation of the tension within our modern

situação – representa a tensão na construção da

consciences.

nossa memória contemporânea. Dulce Nascimento é uma artista que tem a

Dulce Nascimento is an artist who has an appreciation of this delicate nature, which is

sensibilidade ligada nessa natureza que

vanishing every day. In honor of these plants she

desaparece todos os dias; é para as plantas que

has decided to fully dedicate her entire vocation

decidiu dedicar integralmente toda a sua

to this pursuit, fueled by her passion in design,

vocação e tentar abastecer a sua paixão no

painting and botanical illustration.

desenho, na pintura e na ilustração botânicos.



Machaerium jobimianum


Estudou paisagismo na Escola de Belas

She studied landscaping at the School of

Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Fine Arts of the Federal University of Rio de

Seu primeiro estágio foi na Feema – Fundação

Janeiro. Her first internship was at the State

Estadual de Engenharia do Meio Ambiente do

Foundation of Environment of Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, com Vania Aida Viana de Paula.

(Feema), with Vania Aida Viana de Paula. There

Lá aprendeu o ofício de ilustradora científica. O

she was taught the skill of scientific illustrating.

trabalho no herbário para uma estudante de

The focus of interns at the herbarium is to draw the plants that are stored in exsicatas, a

guardadas em exsicatas, material de estudos

material used in botanical studies that consists of

dos botânicos, peça de cartolina que guarda

a piece of cardboard that holds a sample of a

uma amostra da planta, como folhas, caules,

plant: such as leaves, stems and fruit and flowers,

frutos e flores, descrição do local e data da

as well as a description of the location where it

coleta. A técnica utilizada é o bico de pena com

was collected and date of collection. The technique

nanquim preto no papel branco. O desenho a

calls for a graphic pen and black nankeen on

nanquim é apreciado pelos pesquisadores de

white paper. The drawings on nankeen are valued

botânica dada a precisão que o traço fino

by botanical researchers because of the accuracy

consegue alcançar no detalhamento de uma

of the details of the plant that the fine traces

planta, muitas vezes percebido somente com

manage to achieve, details that are frequently only

lentes de aumento. Em outras palavras, o

perceivable by using a magnifying glass. In other

desenho botânico traduz e ressalta os detalhes

words, the botanical drawing translates and

necessários para identificar uma espécie e que a

highlights the details necessary to identify a

um olhar destreinado seriam difíceis de

species, and those that would be difficult for an

perceber. Por isso é importante que o

untrained eye to perceive. For this reason it is

desenhista botânico seja orientado pelo

important that botanical illustrators are oriented

botânico pesquisador.

by botanical researchers.

Capítulo I: Plantas Brasileiras

paisagismo era desenhar as plantas que são

25




Passiflora edulis


Paullinia cupana


Caesalpinia echinata


Tabebuia ochracea


Desmoncus sp.




CAPÍTULO II

oi no estágio da Feema que Dulce conheceu Maria Werneck de Castro, ilustradora voluntária naquela instituição e veterana na profissão. Nessa época, a ilustração botânica era uma atividade mais restrita à pesquisa. Considerada pelos botânicos um ícone da ilustração científica botânica brasileira, as pranchas de Maria Werneck de Castro eram feitas com o acompanhamento de pesquisadores para que se aproximassem o máximo possível das cores e formas das plantas. Conseguir chegar ao tom das cores de uma planta não é tarefa fácil. É preciso primeiro aprender a observar todos os detalhes, ver as cores e experimentar as misturas dos pigmentos das aquarelas, e então, de pincelada em pincelada, lograr transportar para o papel as cores e as formas que representam o que o ilustrador vê.

FIRST STEPS

I

t was at her internship at Feema where Dulce met Maria Werneck de Castro, a volunteer illustrator at the institution and a veteran of the profession. At that time botanical illustration

was an activity limited to research. Considered by botanists as an icon of Brazilian scientific botanical illustrations, the boards of Maria Werneck de Castro were created hand and hand with researchers, to ensure the depiction of the most accurate plant colors and form. Achieving the color tone of a plant is not an easy task. First, one needs to learn to observe all the details, visualize the colors and experiment with watercolor pigment mixtures, master the brush strokes, successfully transport the colors to the paper, along with the forms that represent what the illustrator sees.


É um trabalho que exige também precisão, firmeza com os pincéis e experiência. Estar acompanhada por um botânico no trabalho de ilustração foi fundamental para Maria Werneck de Castro, que contou com Jorge Pedro Carauta, botânico do Museu Nacional, para desenhar e pintar as plantas do gênero Dorstenia, conhecida como caiapiá, da família das moráceas. Muitas das espécies conhecidas foram descritas por ele, e algumas figuram na lista das espécies raras. As moráceas são uma família que tem muitas espécies. Uma bem conhecida é a amoreira, que dá o fruto da amora. A identificação da família é feita pelas flores. A amora que comemos, por exemplo, é uma Dorstenia amazonica Maria Werneck de Castro

inflorescência.


It is a job that also demands precision, experience, and consistency with the brushes. Being accompanied by a botanist during the illustration process was fundamental for Maria Werneck de Castro, who had the tutelage of botanist Jorge Pedro Carauta, of the National Museum, in order to draw and paint the plants of the genus Dorstenia, known as cayapia, a genus from the Moraceae family. Many known species were described by him, and some are included on the rare species list. Moraceae is a family that has many species. One of the best known is the mulberry

identification of the family is determined by the flowers. The berry we eat, for example, is an inflorescence. The Dorstenia are not decorative. They live in the primary Atlantic forest, in other words, forests that have not undergone any anthropogenic modification. Normally around 15 centimeters tall, they are delicate and break easily.

As plantas do gênero Dorstenias não são ornamentais. Vivem nos bosques de Mata Atlântica primária, isto é, em matas que não sofreram nenhum tipo de modificação antrópica. Normalmente com cerca de 15 centímetros de altura, são delicadas e se quebram com facilidade.

Capítulo II: Pr imeiros Traços

tree, which bears the mulberry fruit. The

37


As pesquisas do botânico Jorge Pedro Carauta, somadas às pinturas de Maria Werneck

Carauta, combined with the paintings of Maria

de Castro, tiraram algumas espécies do

Werneck de Castro, have taken some species

anonimato e as trouxeram ao conhecimento do

from anonymity and brought them to the attention

público. As pinturas revelaram a fragilidade e a

of the public. The paintings reveal fragility, a

delicadeza das formas e a certeza de que muitas

delicacy of forms, and a certainty that many

espécies podem ter desaparecido sem que nunca

species could have disappeared if they had never

a ciência as tenha descrito.

been illustrated and documented by science.

Maria Werneck de Castro organizava

Plantas Brasileiras: A Ilustração Botânica de Dulce Nascimento

38

The research of botanist Jorge Pedro

Maria Werneck de Castro organized

encontros com jovens ilustradores para

meetings with young illustrators to pass along the

transmitir a técnica da ilustração botânica com

technique of watercolor botanical illustrations.

aquarelas. Foi assim que Dulce Nascimento

This was how Dulce Nascimento began to utilize

começou a utilizar aquarelas para colorir as

watercolors for painting illustrations of plants.

ilustrações das plantas. Sua primeira aquarela

Her first watercolors were of the Pink Ipê, a

colorida foi do ipê-rosa, uma espécie de árvore

species of tree that occurs in the Cerrado of

que ocorre no cerrado, no Pantanal e na Mata

Pantanal and the Atlantic Forest. After the

Atlântica. Depois registrou a Couroupita

registration of the Couroupita guianensis, an

guianensis, uma espécie amazônica que se

Amazonia species that adapted well to the

adaptou muito bem na região Sudeste e que no

southeast and Rio de Janeiro, it became widely

Rio de Janeiro é bastante utilizada em

used in landscaping. Furthermore, the fruit of

paisagismo. Além disso, registrou também um

Aspidosperma macrocarpum, a plant from

fruto da Aspidosperma macrocarpum, uma planta

Cerrado that Maria Werneck de Castro had

do cerrado que Maria Werneck de Castro trouxe

brought from the time she lived in Brasilia, was

consigo do tempo em que morou em Brasilia.

also registered.


Aspidosperma macrocarpon



Mico-leão e demais desenhos Maria Werneck de Castro e Dulce Nascimento

41

These rendezvous happened

durante anos. Juntas pintaram o

throughout years. Together they painted

mico-leão-dourado no pau-d’alho -

the Golden Lion Tamarin in a pau-d’alho,

espécie que ocorre na Mata Atlântica.

a species from the Atlantic forest.

Observando o quadro, parece que foi

Looking at the painting it seemed as if it

uma brincadeira: enquanto uma pinta

were a game: as one would paint the

o gafanhoto, alimento predileto do

grasshopper, the favorite food of the

mico-leão, a outra pinta detalhes de

Golden Lion, the other would paint the

uma folha de helicônia, alimento do

details of the heliconia leaf, which is the

gafanhoto. Assim, a quatro mãos,

grasshopper’s food. This was how, in a

pintaram a cadeia alimentar do

four-hand approach, they painted the

primata mais famoso do estado do

food chain of the most famous primate of

Rio de Janeiro.

the State of Rio de Janeiro.

Capítulo II: Pr imeiros Traços

Esses encontros aconteceram


Brauna, Angico, Jacarandá e outras Leguminosas de Mata Atlântica - Estação Biológica de Caratinga Minas Gerais; Pag.75; Carlos Victor Mendonça Filho – Fig.7, todas x 2/3. A: Vatairea heteroptera (C.V. Mendonça 230) B: Dalbergia nigra (C.V. Mendonça & H.C. de Lima 171); C: Swartzia acutifólia, i. semente, ii, fruto (C.V. Mendonça 266); D: Vataireopsis araroba (M.A. Lopes & P.M. Andrade s.nº); E: Machaerium condensatum (C.V. Mendonça et al.263); F: Machaerium floridum var.parviflorum (T.C. Sposito 34); G: Machaerium brasiliense (E. Tameirao & G.S. França 82); H: Platypodium elegans (C.V. Mendonça 259); I: Andira fraxinifolia (P.M. Andrade & M.A. Lopes s.n.º); J: Centrolobium tomentosum (P.M. Andrade & M.A. Lopes s.nº); K: Swartzia flaemingii (C.V. Mendonça & J.V. Gomes 323); L: Amburana cearencis, i, semente alada, ii, fruto, vista externa (C.V. Mendonça & J.V. Gomes 285).


Revista Brasil. Bot., São Paulo. 21(2):125-134, ago. 1998, pág. 132. M.I.M.N. Oliveira e Silva & Yano: Briófitas novas para o Brasil. FIGURAS 31-36. Br yum renauldii. 31. Aspecto geral do gametófito; 32-33. Filidios; 34. Células das regiões mediana e marginal do filidio; 35. Células da região basal do filidio; 36. Células da região apical do filidio. FIGURAS 37-42. Pireella cymbifolia. 37. Aspecto geral do gametófito; 38-39. Filidios; 40. Células da região apical do filidio; 41. Células da região mediana do filidio; 42. Células da região basal do filidio.


Revista Brasil. Bot., São Paulo. 21(2):125-134, ago. 1998, pág. 131. M.I.M.N. Oliveira e Silva & Yano: Briófitas novas para o Brasil. FIGURAS 22.30 Macrocoma frigidum. 22. Aspecto geral do gametófito; 23. Ápice de ramo jovem seco; 24. Cápsula seca; 25. Cápsula; 26. Filidio; 27. Secção transversal do filidio; 28. Células da região apical do filidio; 29. Células das regiões mediana e marginal do filidio; 30. Células da região basal do filidio.


Tecoma heptaphyla, hoje conhecida como Tabebuia heptaphyla



CAPÍTULO III

m 1990, Dulce ganhou bolsa da Fundação Botânica Margaret Mee para se aperfeiçoar na ilustração botânica. A Fundação foi criada em 1989 com o objetivo de formar e aprimorar os ilustradores botânicos em prol da conservação dos ecossistemas brasileiros. Margaret Mee, uma ilustradora botânica inglesa que pintou muitas espécies raras, foi uma apaixonada pela flora do Brasil.

KE W GARDENS

I

n 1990 Dulce received a scholarship from the Botanical Foundation of Margaret Mee to perfect her botanical illustrations. The foundation was created in 1989 with the objective

of educating and refining botanical illustrators as a means of conserving Brazilian ecosystems. Margaret Mee, a British botanical illustrator who painted many rare species, fell in love with Brazilian flora.


No curso de aperfeiçoamento, Dulce ficou de dezembro de 1990 a maio de 1991 no Jardim Botânico de Kew Gardens, na Inglaterra, onde aprendeu outras técnicas de desenho e pintura em aquarela. Instituição de pesquisa declarada patrimônio mundial, Kew Gardens tem uma coleção de plantas considerada uma das mais

the period from December of 1990 to May of

diversas do planeta, formada ao longo de seus

1991 at the Kew Botanical Gardens of England

250 anos. Sua principal finalidade é ajudar a

where she learned new watercolor techniques.

garantir a conservação de espécies e hábitats

A research institution that was declared a

ameaçados. Dessa forma, a ilustração botânica

World Heritage site, Kew has a collection of

em Kew Gardens faz parte dos estudos

plants that is considered one of the most

científicos para a conservação das plantas de

diverse of the planet, assembled during its 250

todo o mundo.

year of existence. Its main purpose is to help

A ilustração científica – aí incluída a

Plantas Brasileiras: A Ilustração Botânica de Dulce Nascimento

48

During a refresher course, Dulce spent

ensure the conservation of species and

botânica – vem desde o tempo dos egípcios,

threatened habitats. Therefore, a botanical

mas foi na Renascença, juntamente com o

illustrator at Kew Gardens has a part in the

pensamento científico, que se tornou uma

scientific studies of conservation of plants from

categoria de desenho, fundamental para o

around the world.

esclarecimento do homem pela sua capacidade

Scientific illustrators, including those

de detalhamento. É esse detalhamento que faz

from botany, come from the time of the

da ilustração científica um dos principais

Egyptians, but it was during the Renaissance,

instrumentos para a difusão do conhecimento

combined with scientific thinking, where it

científico. Mesmo o surgimento de novas

became a category of design fundamental for

tecnologias da imagem não tirou seu lugar e

enlightening men of their capacity for detail. It

importância.

is this attention to detail that makes scientific

Não obstante, alguns ilustradores

illustration one of the principal instruments for

ultrapassaram o campo da técnica,

the distribution of scientific knowledge. Even

transformando a ilustração em arte. Com

the emergence of new image technology has

rigor, objetividade e exatidão, trouxeram, além

not taken their place of importance.

de imagens como representação do universo

Notwithstanding, some illustrators

físico, a viabilização da comunicação poética

surpass the technical field, transforming the

das coisas da natureza.

illustration into art. With austerity, objectivity and accuracy, along with the images as a representation of the physical universe, these illustrations are a verbalization of a poetic communication of things of nature.


Em Kew Gardens, sob a orientação da professora e ilustradora Christabel King, Dulce desenhou e pintou espécies da coleção local. Algumas são conhecidas, como Anthurium, aqui conhecida como antúrio. De origem grega, a palavra vem de ánthos, flor, e oura, cauda. A “flor” do antúrio é na verdade uma inflorescência, um conjunto de florezinhas bem pequenas, envolvida por uma espata, que é a parte colorida. Há muitas espécies

At Kew, under the guidance of professor and illustrator Christable King, Dulce designed and painted species from the local collection. Some like the Anthurium, referred to as antúrio in Brazil, are known. Of Greek origin, the word comes from anthos, flower, and oura, tail. The “flower” of the anthurium is actually an inflorescence, a cluster of little flowers, surrounded by a spathe, which is the colored portion. There are

Anthurium sp.


nativas no Brasil, e algumas foram descritas recentemente e desenhadas por Dulce. Outra espécie pintada em Kew foi a azaleia de flor branca, uma espécie asiática. Do gênero do rododendro, é da família das ericáceas, e foi descrita por Lineu. O nome azaleia tem origem no grego, azaléã, a forma feminina de azaléos, que significa seco, árido. Trata-se de uma planta ornamental que floresce nos meses da primavera, de setembro a dezembro, e é muito utilizada em paisagismo. A escolha dessa planta foi para pintar o branco no papel branco, técnica muito utilizada na ilustração botânica, mas que requer um aprimoramento técnico extraordinário, para conseguir ilustrar o movimento da planta sem alterar a cor.

Plantas Brasileiras: A Ilustração Botânica de Dulce Nascimento

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many native species in Brazil, and some have been recently described and illustrated by Dulce. Another species painted at Kew was the white blossom azalea, an Asian species. Of the genus Rhododendron, it is from the Ericaceous family and was described by Linnaeus. The name azalea has a greek origin, azalea, a feminine form of azaleos, which means dry or barren. It is an ornamental plant that blooms in the spring months of September to December, and is often used in landscaping. This plant was chosen for practicing painting white on white paper, a technique commonly used in botanical illustration. It is one that requires extraordinary technical skill in order to manage to illustrate the movement of the plant without altering the color.


Rhododendron sp.


Streptocarpus x kewensis


A Streptocarpus x kewensis, híbrida que resulta de um cruzamento entre duas espécies, pertence à família das gesneriáceas, que são as violetas. Esta pintura serviu para aprimorar a técnica de representação da folha aveludada, conhecida entre os ilustradores como a técnica do pincel seco. Somente depois de finalizada a ilustração é que o artista, com a pontinha do pincel seco, pega o pigmento quase seco do godê e pinta cada pelinho do aveludado. The Strepocarpus x kewensis, a resulting hybrid from the crossing of two species, belongs to the Gesneriaceae family, and are violets. This painting served to improve the technique of representing the velvetleaf, known among illustrators as the dry brush technique. Only after the completion of the illustration can the artist, with the tip of a dry brush, take an almost dry pigment and paint each of the velvety hairs.


Outras espécies do jardim inglês que não são comuns no Brasil, como a Dionysia mira x aretioides e a Erica versicolor, foram retratadas para estudos e aperfeiçoamento técnico para ilustrar plantas pequenas com folhagem densa em forma de tufo e plantas de folhas minúsculas, como a da Erica, representada aqui na escala 1x1, em seu tamanho natural, em que se podem observar o tamanho e a disposição das pequenas folhas.

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O tempo que ficou na Inglaterra sob a orientação de especialistas lhe deu não somente prática e flexibilidade, mas também a coragem para que pudesse olhar qualquer planta e não ter nenhum receio de, ao pintá-las, se perder no caminho de uma folha em branco. Terminados os meses de estudo, Dulce voltou para o Brasil, e, ainda sob orientação da Fundação Margaret Mee, participou de uma expedição ao Pará.

Dionysia mira x aretioides


Other species of British plants that are not common in Brazil, like the Dionysia mira x aretioides and the Erica versicolor, were reproduced for the study and improvement of the technique of illustrating small plants with dense foliage in a tuft shape, and plants with tiny leaves, like the Erica. They are represented in this book on a scale of 1x1, in other words in its natural size, so that the size and disposition of leaves can be observed. The months she spent in

specialists not only gave her experience and flexibility, but also the courage that she could look at any plant and not feel apprehensive while painting, fearing that she would lose a white leaf during the process. Ending months of study Dulce returned to Brazil and, still under the guidance of the Margaret Mee Foundation, participated in an expedition to ParĂĄ.

CapĂ­tulo III: Kew Gardens

England under the guidance of

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Erica versicolor




AGRADECIMEN TOS Acknowledgments

Atalia Stein Arthur e Brenda King-Powers Brazilian American Cultural Institute Carlos M. Horcades Carmosina de Araújo Carolyn e Joseph Lopez Cecília Beatriz da Veiga Soares Claire e Dieter Papenfuss

Luiz Roberto Zamith Manoela e João Batista F. da Silva Maria Carmosina de Araújo Maria Célia G. Mitri Maria Gracimar Pacheco Maria Isabel e Paulo Sérgio de Oliveira e Silva Maria Isabel Coutinho Maria do Rosário de Almeida Braga

Delfina de Araújo

Marina Crocetti

Elizabeth Rocha

Márcia Botelho

Heny Amaral Werner da Serra Costa Inês Corrêa de Souza Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, INPA Janete e Sérgio Waldrich Jorge Pedro Carauta

Marlene Troisgros Murilo Fiuza de Melo Museu Paraense Emilio Goeldi Palacio Itamaraty Pauline e Paul Stone

José Manuel Diaz Francisco

Paula Hokkanen

José Neistein

Rachel Rosadas

Julio Bozano

Reserva Florestal de Linhares

Lea Contier de Freitas Leyla Leong Lib Chapman Lília Coelho Liliana Marinas Linda Leigh Lorraine Kaminsky Martins Lucia Beatriz e John Anderson Luciana Mautone

Reynaldo Orsi Ruth Stiff Salete Pena Secretaria de Cultura de Manaus Susan Fisher Vale Vânia Aida Viana de Paula Vera Bastos Zöe e David Pirret Zohra Benesch

E principalmente ao meu amado marido, minha família querida e meus importantes alunos, que em todas as aulas me ensinam como aprender.



Ilustrações © 2011, Dulce Nascimento Direitos de edição em língua portuguesa pertencentes a Editora Batel, marca de fantasia de Trombone Editoração Eletrônica Ltda. Rua Santa Clara, 50 – sala 609 – Rio de Janeiro – RJ – CEP 22041-012 www.editorabatel.com.br Direitos reservados 1ª Edição - 1ª Impressão Dezembro 2011 Organização e texto Elza Savaget Coordenação editorial Carlos Barbosa Projeto gráfico Julio Lapenne Tratamento de imagens Solange Trevisan zc Edição e revisão de originais Clara Diament Versão para o inglês: Rachel Loerch

Patrocínio

TEXTO ESTABELECIDO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990, EM VIGOR NO BRASIL DESDE 2009.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N194p Nascimento, Dulce Plantas brasileiras : a ilustração botânica de Dulce Nascimento / Dulce Nascimento. - Rio de Janeiro : Batel, 2011. 180p. : il. ISBN 978-85-99508-38-1 1. Nascimento, Dulce. 2. Ilustrações botânicas - Brasil. 2. Aquarela brasileira. 3. Plantas - Brasil - Obras ilustradas. I. Título. 11-7546.

08.11.11

CDD: 581.981 CDU: 580.822 18.11.11

031314


Impresso na Grรกfica Santa Marta www.graficasantamarta.com.br



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