Wink 05

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R$ 10,00

#5

Moda

Tudo sobre o VerĂŁo 2011 ClĂĄssicos masculinos na pele dela

Inhotim O novo tesouro de Minas Gerais

O cafezinho virou bebida gourmet






editorial

mag

#5 | JUNHO / JULHO 2010

Expediente

m az, u rdo P erna , durante B e tim paio Sam s de Inho ho in ando re Fern ealizado a Brumad dos id a revista d visita

CONQUISTAS Às vésperas de completar um ano de vida, a Winkmag comemora a ótima receptividade do mercado aumentando a tiragem e ampliando a distribuição. A partir deste número, a revista passa a circular também nas cidades da região, chegando até Maringá. Para marcar a nossa estreia por lá, elegemos uma das mais belas residências da Cidade-Canção. Assinado pelo arquiteto Nei Vecchi, o projeto que você confere na seção de arquitetura e decoração traduz com maestria a integração entre moradia e natureza. Deleite-se. Também achamos que esse tempo que passamos juntos – você, leitor e nós, editores – já criou intimidade suficiente para justificar que mostremos um pouco dos bastidores da revista. Como um amigo querido que entra na nossa casa pelas portas do fundo, você vê aqui algumas cenas que rolaram durante a produção desta edição: a ida a Brumadinho (MG) para registrar as maravilhas de Inhotim, misto de museu de arte contemporânea e jardim botânico; a pausa técnica para medir a luz no cenário de papelão, criado exclusivamente para o editorial de moda; e o flagrante na plateia da São Paulo Fashion Week, onde acompanhamos presencialmente (como sempre fazemos, aliás), os desfiles primavera-verão 2011.

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Além da capital paulista, estivemos em Fortaleza e em Belo Horizonte para fazer um raio-x fashion das apostas para a próxima estação. Mas os destaques não param por aí. O jornalista Carlos Eduardo Lourenço Jorge nos presenteia com uma entrevista exclusiva: ele conversou com o diretor Ridley Scott durante a sua cobertura do Festival de Cannes, e o resultado você confere na seção de cinema. E já que estamos entre amigos – e é sempre para os amigos que gostamos de dar boas notícias em primeira mão – é com orgulho que comunicamos uma conquista de gostinho todo especial. A Winkmag foi uma das vencedoras do 8°Prêmio Paranaense de Excelência Gráfica Oscar Schrappe Sobrinho, organizado pela Abigraf-PR (Associação Brasileira da Indústria Gráfica – Regional Paraná). O evento premia as gráficas responsáveis pelas publicações. Foi a primeira vez que a Idealiza Gráfica e Editora, que imprime a nossa revista, se inscreveu no evento. Pontaria mais que certeira, não? Os editores

Publisher Fernando Sampaio Editoras de texto Karla Matida e Rosângela Vale Fotografia Fábio Pitrez Editor de arte Celso Marsola Colaboradores Carlos Eduardo Lourenço Jorge, Carolina Avansini, Janaína Ávila, João Batista, Monique Bordin, Paulo Briguet e Ranulfo Pedreiro Revisor Paulo Briguet Representante comercial Cristiana Oliveira Marcondes 43. 9161-8632 Winkmag é uma publicação bimestral da 1200th Editora Tiragem desta edição 7 mil exemplares Avenida Harry Prochet, 1200 43 3324-1200 Londrina – Paraná 86047-040 Cartas, críticas e sugestões para redacao@winkmag.com.br Leia as edições anteriores no site

www.winkmag.com.br

CAPA Foto Fábio Pitrez Modelo Isabela Surian (WA Models) Beleza Caio Mattos



índice Arquitetura e decoração 10 Equilíbrio | Arquitetura e natureza se encontram no projeto de Nei Vecchi 18 Garimpo | O talento de três artistas plásticos londrinenses na galeria Winkmag 20 Reinvenção | Peroba-rosa ganha vida nova nas mãos do marceneiro Poka Marques 24 Versátil | O arquiteto Fernando Tinoco circula com desenvoltura por todas as etapas da construção 26 Casa Cor | Ideias inspiradoras nas edições de São Paulo e Paraná 32 Garimpo | Além de aliados do bolso, cofrinhos ganham versões fofas para decorar a casa

Moda e beleza 34 Aliada poderosa | Luz intensa pulsada no combate aos pelos inconvenientes e ao envelhecimento 36 Foco no autoral | 11ª edição do Dragão Fashion mostra o talento de criadores nordestinos 40 Brilho, cores e flores | Minas Trend Preview abre a temporada Verão 2011 44 Invasão fashion | Ela veste as roupas dele 56 Garimpo | Para combater o frio, peças inspiradas nos uniformes militares 58 Caminho suave | Coleções apresentadas na SPFW propõem um verão em tons pastel 62 Vai pegar | O que vai ser moda quando o verão chegar 64 Tempero | As novidades para o guarda-roupa deles 66 Garimpo | Em casacos e na lingerie, o veludo é o queridinho da hora 68 Garimpo | Hit deste inverno, sapato Oxford caminha a passos largos para o próximo verão


E mais... 78 Eu e meu carro | O Chevrolet Sedanete acompanha a família Brunelli há quase meio século 83 Winknet | Da leitura à hora da papinha, a coluna indica sites saborosos para deliciar internautas interessados em design ou ciência 88 Gastronomia | O cafezinho de todas as horas virou bebida gourmet 94 Garimpo | Acessórios para servir café em casa no maior capricho

Gente 70 Social | Cenas de palco e plateia do Filo; o coquetel da Vectra Store e a ampliação da Basic 76 Universo particular | minuciosa e detalhista, Ana Paola Consalter levou suas qualidades de advogada para a seara fashion 110 Do bem | Léo Pires Ferreira defende o valor das obras de Monteiro Lobato para a formação das crianças

Cultura 80 Cinema | Em entrevista exclusiva, Ridley Scott fala sobre Robin Hood, Russel Crowe e Alien em 3D 84 Música | O exílio francês dos Rolling Stones em som e imagens 86 Literatura | José Saramago deixa uma obra irregular com momentos luminosos

96 Turismo | Inhotim, na pequena Brumadinho, é o novo tesouro que Minas Gerais oferece para o mundo 108 Drops | Nos pés, nas unhas, a tiracolo e para sonhar, os lançamentos que você vai querer já 114 Frente&Verso | Isabela Surian trocou a carreira profissional de modelo pelo curso de Direito


arquitetura Com amplo pĂŠ direito, o living recebeu sofĂĄ de seda pura, mesa Saarinen preta e mesas de centro italianas

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Integração perfeita POR ROSÂNGELA VALE FOTOS FÁBIO PITREZ

Linhas retas e leves para unir natureza, arquitetura e gente: na residência de 850 metros quadrados, em Maringá, o arquiteto Nei Vecchi deixa a sua inconfundível assinatura

A fachada de linhas retas privilegia a vista espetacular da cidade

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arquitetura A lareira em mårmore travertino romano divide a cena com a chaise Le Corbusier em pele natural e a luminåria contemporânea

No hall, a parede em seda pura recebe o aparador 14 bis de Jacqueline Terpins e o abajur da Kartell

Vista do mezanino para a sala principal e a sala da lareira 12 WINK mag


Na sala de jantar, mesas e aparador SĂ­lvio Romero, cadeiras Louis Ghost by Philippe Starck para Kartell e lustre de cristal

No home theater de cores quentes, destaque para a poltrona Charles Eames

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arquitetura

O arquiteto Claudinei Vecchi é paranaense de Marialva, mas suas referências carregam a brasilidade de cariocas consagrados na área, como Lúcio Costa e Zanine. O Rio de Janeiro, aliás, está no seu DNA criativo. Foi lá que a arquitetura entrou para valer na sua vida. Formado pela Universidade Gama Filho nos anos 1970, teve o grande paisagista Burle Marx como paraninfo e inesgotável fonte de inspiração. Não por acaso, a integração absoluta entre moradia e natureza é a característica mais marcante no trabalho de Nei Vecchi, como é conhecido em Maringá, cidade que adotou para viver e trabalhar.

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No projeto que mostramos aqui, o estilo do arquiteto é traduzido com perfeição: a casa de aproximadamente 850 metros quadrados, em um condomínio da Cidade Canção, ganhou linhas retas e leves a fim de unir horizonte, arquitetura e gente em uma harmonia perfeita. Tanto que a área de lazer está voltada para todos os ambientes da casa. Solução ideal para os moradores, um jovem casal com três filhos adolescentes, que queriam um espaço para conviver com música e muitos amigos. >>

Vista de todo o ambiente de estar integrado à área de lazer, numa simbiose perfeita: transparência e equilíbrio

Na lateral da varanda, bicas d’água alimentam o aquário de carpas

O piso branco italiano contrasta com as carpas sob o vidro

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arquitetura

Aproveitando as características do terreno, o arquiteto criou um jardim suspenso que se projeta sobre a paisagem, ampliando a vista da cidade coberta pelo verde. Vidros, mármore e madeira se unem para criar uma atmosfera imponente, dentro de uma linguagem totalmente contemporânea. “A transparência, a integração do externo com o interno, isso é que mais me agrada no projeto”, observa Nei. Já o projeto de interiores, assinado pela arquiteta Fernanda Marcato, prioriza a sofisticação nos mínimos detalhes. Para isso, ela optou por peças de designers renomados como Philippe Starck, Sérgio Romero e Jacqueline Terpins. O resultado é um presente para os olhos, como mostram as imagens nestas páginas. w.

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O casal ganhou terraço integrado à suíte principal e uma belíssima vista WINK mag 17


garimpo João Batista

Nestas páginas, nove trabalhos de três artistas plásticos londrinenses ganham destaque absoluto. Em exposição, o talento criativo de João Batista Júnior, José Gonçalves e Olavo Gomes. A pedido da Winkmag, cada um escolheu três obras para serem retratadas nesta galeria.

Parede esplêndida José Gonçalves

Olavo Gomes

José Gonçalves 18 WINK mag


João Batista

Olavo Gomes

José Gonçalves

João Batista

Olavo Gomes WINK mag 19


arquitetura&decoração

Quando as perobas

voltam à vida POR PAULO BRIGUET FOTOS FÁBIO PITREZ

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Trabalhando com madeira de demolição, o marceneiro Poka Marques faz a rainha da floresta renascer em móveis, peças, ambientes e casas No princípio, ela era a rainha da floresta, mais alta e majestosa do que todas as outras árvores. Estava aqui bem antes que o sertão passasse a ser conhecido como Norte do Paraná. Aspidosperma polyneuron foi o nome que os botânicos lhe deram. Chegava a 50 metros de altura. Apesar do tamanho gigantesco, carregava uma fragilidade em seu coração de lenho: só conseguia sobreviver quando rodeada por outras plantas. Para ser rainha, a peroba-rosa precisava de um reino.

Há dez anos, o ator e produtor Poka Marques decidiu reinventar a própria vida. Tudo começou quando ele resolveu fazer um simples banco de madeira para uso doméstico. Comprou uma serra tico-tico, uma lixadeira, algumas tábuas – e pôs-se a trabalhar. “O banco ficou meio tosco, mas atendeu às necessidades. E os amigos gostaram: ‘Foi você mesmo que fez?’ Nesse momento eu pensei que poderia fazer algo diferente para ganhar a vida.”

O reino era um grande perobal, tão grande que os colonizadores jamais imaginariam que as perobas pudessem acabar um dia. Mas acabaram. Hoje, a peroba-rosa sobrevive apenas na memória – e no trabalho dos marceneiros. Graças a eles, que dão vida nova à madeira de demolição, a peroba ressurge em forma de móveis, objetos de decoração e casas. Antes, ela vivia entre as árvores. Hoje, mora perto das pessoas.

No romance O Evangelho Segundo o Filho, Norman Mailer fala sobre os 14 anos em que Jesus foi aprendiz na carpintaria de José, seu pai adotivo. “E era preciso ser bom, para guiar a pesada peça de ferro e depois aplainar as tábuas, até que ganhassem a forma adequada. Comungar com a madeira – eis a parte mais difícil da tarefa.” >>

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arquitetura&decoração

Poka Marques, que passou a infância em Arapongas, não nasceu numa família de carpinteiros. Sua ligação com a madeira foi indireta. “Meu pai dirigia um caminhão de toras. Ajudou a transportar muita madeira no Paraná.” Para aprender os segredos do ofício, Poka recorreu aos velhos marceneiros, hoje uma categoria em extinção. “Os marceneiros são detentores de um saber artesanal muito importante que está se perdendo. E esses mestres tiveram o maior prazer em transmitir o que sabem.” Não por acaso, a madeira é um tradicional símbolo de sabedoria, de experiência, de conhecimento.

Em seu trabalho, Poka praticamente só utiliza peroba-rosa de demolição. Faz mesas, bancos, armários, aparadores, revestimentos de paredes e peças de madeira para projetos arquitetônicos. “Atualmente tenho trabalho com veios em forma de S, bastante característicos da peroba.” Só não faz armários embutidos, e por um motivo simples: a peroba trabalha. “Você precisa considerar que esta é uma madeira viva. Com as mudanças de tempo, ela vai se movimentar, e o cliente deve saber disso.”

O escritor Domingos Pellegrini, velho amigo, também incentivou Poka a trabalhar com marcenaria. Pellegrini é autor do romance No Coração das Perobas (2002), em que a rainha da floresta surge como metáfora da vida humana. Juntos, os amigos trabalharam na construção da Sala Londrina da Biblioteca Municipal, um local dedicado à história da colonização da cidade, com móveis e decoração em perobarosa. “O Dinho [Pellegrini] foi muito generoso comigo, e eu passei a ver a marcenaria como um projeto de vida, uma forma de envelhecer com dignidade. Ao mesmo tempo, a madeira começou a suprir minha necessidade de criar e inventar coisas.”

Dino Buzatti, em seu livro O Deserto dos Tártaros, menciona a paradoxal mobilidade da madeira: “De noite, nos dormitórios, as traves que sustentam as mochilas, as grades para os fuzis, as próprias portas, até os bonitos móveis de nogueira maciça do senhor coronel, todas as madeiras do forte, inclusive as mais velhas, estalavam no escuro”. Para o escritor italiano, a madeira expressa a relação entre a matéria e a memória: “É o tempo em que nas velhas tábuas ressuscita uma obstinada saudade da vida”.

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Em 2002, o entusiasmo pela marcenaria levou Poka Marques a construir sua própria casa de peroba-rosa. A história começou quase por acaso. Na época, um cidadão telefonou para Poka e perguntou se ele não tinha interesse em comprar a madeira de uma antiga tulha de café, no distrito rural de Irerê. “Eu fui. Quando cheguei à fazenda e vi a tulha, que estava no tempo desde 1934, não conseguia parar de tremer. Eram 200 metros quadrados em perobarosa, com paredes duplas, tábuas externas com mais de três centímetros de espessura. Chamei um marceneiro conhecido, o seu Demerval, para ver a tulha, e ele também não conseguia parar de tremer.” Poka vendeu o carro e comprou a tulha. “Trouxemos oito caminhões trucados de madeira. É muita madeira!” Em dois anos, Poka Marques utilizou a peroba da tulha para construir a casa, que tem um pé-direito de 12 metros e segue um padrão de loft. Lá, Poka vive com a mulher e os dois filhos pequenos, trabalha na marcenaria e tem por vizinhos os macacos e pássaros do Parque Arthur Thomas – a mata faz fronteira com o quintal. “Aqui eu quero envelhecer e ver meus filhos crescendo.”

Avenida Bandeirantes para remontá-la, com as mesmas características, na Avenida Faria Lima. O resultado foi impressionante, quase inacreditável. Houve quem lembrasse o “teletransporte” da série Jornada nas Estrelas. Tábua por tábua, a transposição foi feita em 90 dias. Prestes a completar 50 anos, Poka Marques pretende seguir sua trajetória na marcenaria. “Quando decidi me reinventar, na crise dos 40 anos, não tinha nenhuma intimidade com a madeira, com o trabalho manual. Hoje este é meu projeto de vida.” Poka Marques aprendeu a comungar com a madeira. Assim, o reino do perobal continua existindo – agora sob outras formas. Derrubadas pela mão do colonizador, as velhas árvores voltam à vida pela mão do marceneiro. w.

Poka vive numa casa-conceito – com captação de água da chuva, compostagem de lixo e aquecimento solar. “A casa de madeira é muito confortável. Não é muito fria no inverno, nem muito quente no verão. E é uma casa viva: eu identifico as pessoas só pelo barulho dos passos.” Há quatro anos, o artesão foi responsável por salvar um patrimônio muito querido pelos londrinenses: a velha casa de madeira do Bar Valentino. Atuando em parceria com o arquiteto Antônio Carlos Zani, Poka fez o traslado de sítio – desmontou a casa do bar Valentino na WINK mag 23


arquiteturaperfil

Ao contrário de muitos colegas que buscam experiência em escritórios de arquitetos renomados, Fernando Tinoco deu início à sua carreira em uma construtora especializada em obras públicas. E esse começo diferenciado – trabalhando nas ampliações da Embrapa e da UEL – serviu para moldar um profissional ainda mais versátil, numa ótima parceria com o departamento de engenharia. “Meus clientes sabem que estou presente do projeto à execução e com isso conquisto a confiança deles”, explica Tinoco, que frequenta as obras com a mesma naturalidade que cria ambientes comerciais e residenciais. Antes mesmo de entrar na faculdade, o arquiteto visitava obras e se inteirava dos problemas e soluções. “Faço isso desde os 16 anos”, conta. Formado há quatro anos, o jovem arquiteto montou o próprio escritório dois anos e meio atrás e, desde então, vem colecionando uma cartela diversificada de clientes. Está finalizando uma clínica de estética,

para a qual teve carta branca ao reformar uma casa antiga na Avenida Higienópolis. Referências nova-iorquinas serviram de inspiração para Tinoco, que costuma olhar com muita atenção a tudo que o rodeia onde quer que vá. A recente viagem à Alemanha resultou em um repleto álbum de fotos de grandes construções nos mínimos detalhes. “Nas minhas pesquisas procuro sempre ver como tornar interessantes as misturas do novo com o antigo, do clássico com o contemporâneo”, diz. Prestes a dar início à primeira grande residência “começada do zero”, o arquiteto conta que sonha em ver seu trabalho de conclusão de curso ganhar formas concretas. Ainda estudante, ele desenvolveu o projeto de um crematório para Londrina. “Seria muito viável para a cidade e para a região”, observa, “só falta aparecer um empreendedor”, completa. “Quem sabe eu mesmo?”, planeja Tinoco, mais uma vez mostrando sua versatilidade. w.

Currículo turbinado Os primeiros anos de carreira foram cruciais para ampliar os horizontes do arquiteto Fernando Tinoco

POR KARLA MATIDA FOTO FÁBIO PITREZ

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arquitetura&decoração

O tom e as boas ideias da edição 2010 do evento com 50 ambientes criados sob a temática da sustentabilidade

Uma visita à

CasaCor POR ROSÂNGELA VALE FOTOS DIVULGAÇÃO

Poltronas vintage e revestimentos incomuns se destacam no ambiente de Fabio Galeazzo. A parede de bambu autoclavado com nichos de madeira de demolição divide a cena com a lareira de pedra-sabão à frente da moldura de mosaico de ouro

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Invasão rosa Uma das tendências da recente edição do Salão do Móvel de Milão, o rosa também deu o tom à edição 2010 da Casa Cor. Em revestimentos, peças de mobiliário ou objetos decorativos, a cor apareceu em vários ambientes da mostra: seja para sugerir uma atmosfera vintage, como na Sala de Jantar do Gourmand (por Gustavo Jansen) e no Quarto da Jovem Senhora (por Antonio Ferreira Jr e Mario Bernardes), ou intensificar a cena, como em um dos nichos do Porão criado por João Armentano. O rosa também confere o ar de elegância à Biblioteca de Ana Marta Bogar e Ricardo Caminada, surgindo em tons diferentes na estante e na poltrona

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arquitetura&decoração

Boas ideias 1. Um olhar mais desavisado diria que se trata de algum revestimento em pedra. Mas basta fixar os olhos mais alguns segundos para logo notar a peculiaridade no ambiente criado por Carlos Lima: o efeito de brilho dourado na parede é proporcionado por três mil folhas de papel reciclado, fixados com grampos em placas de MDF.

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2. O patchwork com retalhos de jeans transformou o banheiro criado por Carla Dichy em um lugar moderno e aconchegante. Costurados, os pedaços de tecido originaram um painel, preso numa espuma e depois fixado na parede. Uma prova de que é possível juntar bons resultados estéticos e atitudes sustentáveis 3. Na cozinha idealizada por Cynthia Pimentel Duarte em homenagem ao chef Claude Troisgros, o destaque é a coifa dupla, de origem italiana, importada pela Kitchens. Uma placa oval de vidro envolve os dois cilindros de aço inox, transformando-a em peça única

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4. Clima futurista na cozinha da Casa Sustentável, ambiente assinado por Fernanda Marques. Tudo por conta da especial geometria das chapas de aço, que ganham incrível efeito de volume e se transformam em nichos para acomodar objetos 5. O piso de ladrilho hidráulico com grafismos em preto e branco dá o ar modernista ao loft garagem, uma homenagem do designer de interiores Francisco Calio aos 50 anos de Brasília

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6. A cama é o centro das atenções da Suíte do Casal Apaixonado: desenhada pela arquiteta e designer de interiores Sueli Adorni e executada pela L’Vitrier, tem base de vidro laminado e, segundo a profissional, tem resistência garantida por vários testes >>

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arquitetura&decoração

1 Na Casa Cor Paraná também não faltaram ideias inspiradoras. Confira 1. Um lugar para a criançada tomar gosto pela arte de comer bem. No ambiente de Renata Rosa Sguario, uma linha de eletrodomésticos foi desenvolvida especialmente para os pequenos, incluindo um fogão eletrostático que funciona por indução. Para completar a atmosfera lúdica, a arquiteta criou uma despensa com miniverduras, geleias, grãos e uma hortinha com temperos 2. Paredes com painéis de madeira, tecidos e vidro conferiram um clima intimista à Sala Vip e Piano Bar da arquiteta Karen Camilotti, que se inspirou na variedade cultural com que Curitiba recebe seus visitantes. Destaque para o forro com efeito de camurça, novidade da Suvinil 3. O “morar verde”, temática desta edição do evento, teve tradução literal no Solarium Sustentável, espaço dos arquitetos e urbanistas Tetê Gomes e Tobias Bonk, que, além de usar tinta à base de terra nas paredes, criaram o Ecotelhado, uma cobertura modular com mudas de aspargos. A horta suspensa ganhou irrigação por gotejamento proveniente de garrafas pet

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4. Trabalhar a brasilidade de forma simples, com elementos que valorizam a memória coletiva, foi o objetivo do arquiteto André Largura e da designer de interiores Giovana Kimak. No Bistrot, o destaque fica por conta dos efeitos cênicos de luz: o conjunto de cúpulas de abajur (sem tecido) remete às gaiolas de passarinhos, comuns nas varandas das casas do interior w.

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Nas

alturas

Levar a natureza para dentro de casa ficou mais fácil: basta colocar o jardim na parede

POR ROSÂNGELA VALE FOTOS DIVULGAÇÃO

Com a atual onda dos jardins verticais, não há desculpa para não ter verde por perto, deixar a casa mais bonita e melhorar a qualidade do ar. Basta uma parede com boa iluminação e orientação de especialistas para ajudar na escolha e na manutenção das plantas adequadas. A tendência apareceu com destaque na recente edição da Casa Cor Paraná, realizada no novo bairro Ecoville, e que teve como foco o conceito de morar verde. No Terraço das Araucárias e Palmeiras, o arquiteto Wolfgang Schlogel cobriu com folhagens duas paredes de sete metros de altura, criando um grande impacto visual. E no Empório Orgânico de Ana Paula Zordan uma horta vertical de temperos foi montada em uma área de apenas 17 metros quadrados. Uma prova de que alimentação saudável – assim como o contato com a natureza – cabe em qualquer espaço. De acordo com Wolfgang, as espécies indicadas dependem do tipo de luminosidade de cada local, mas é possível até mesmo criar condições artificiais de luz. Nesse caso, a durabilidade das plantas é menor e é preciso replantá-las com mais frequência. De forma geral, folhagens como tostão, véu de noiva e samambaia respondem melhor em ambientes com sombra e sol indireto. A rega pode ser automatizada ou feita manualmente. “É possível criar um sistema próprio para cada projeto”, explica o arquiteto. Segundo ele, um receio comum dos clientes – a presença de insetos – é facilmente resolvido com a aplicação de produtos 100% naturais. w.

Casa Cor Paraná: Paredes de sete metros de altura receberam folhagens no ambiente de Wolfgang Schlogel; já Ana Paula Zordan criou uma horta vertical de temperos

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garimpo Laço Presentes

Imaginarium

Mihouse

Mihouse

FOTOS FÁBIO PITREZ PRODUÇÃO MONIQUE BORDIN

Imaginarium

Com a recorrente falta de moedas no mercado, os cofrinhos viraram vilões para muitos comerciantes. Mas como resistir a essas fofuras? Mesmo que eles se transformem em enfeites, vão sempre lembrar quem faz planos de economizar Laço Presentes

Imaginarium

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beleza

Luz a serviço da beleza POR KARLA MATIDA FOTO FÁBIO PITREZ

Depois de uma temporada morando na Europa, Virginia Becker se surpreendeu ao voltar para o Brasil e ver que a tecnologia da luz intensa pulsada (LIP) ainda não era amplamente divulgada e utilizada como no hemisfério norte. Ao lado da irmã Camila Vezozzo descobriu que, coincidentemente, a espanhola D'pil estava se instalando no País. Em março deste ano inauguraram uma franquia em Londrina.

Na batalha contra o envelhecimento e os pelos inconvenientes, a luz intensa pulsada surge como um aliado forte, mas nada dolorido

“A luz intensa pulsada existe há mais de 10 anos, mas somente cerca de dois anos atrás aconteceu uma evolução tecnológica com o resfriamento do cristal tornando o método indolor”, explica Camila.

Livrar-se de pelos inconvenientes sem passar por métodos dolorosos é um dos grandes atrativos da LIP. “É um método duradouro e não definitivo”, ensina o dermatologista Andrei Nonino. “A manutenção periódica é necessária”, explica, “mas a tendência é que os pelos nasçam com espessuras mais finas”, completa. Segundo Nonino, a diferença entre a LIP e o laser é que enquanto a primeira consiste em um feixe de luz sem uma cor, o segundo é uma luz específica e mais concentrada. “Os métodos são muito parecidos, e se a LIP causa menos dor também exige mais sessões”, avisa o dermatologista. De acordo com a Virgínia Becker, são necessárias entre quatro a oito sessões para a depilação e de seis a 12 sessões para a barba. Conduzida pela melanina, a luz intensa atinge o pelo. A necessidade de novas sessões acontece justamente porque nem todos os pelos estão na fase anágena (crescimento), onde a LIP tem o seu efeito.

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As restrições são para o nariz, orelhas e região dos olhos e também para gestantes e pele bronzeada. Como a luz age na melanina, as peles mais escuras não devem receber o tratamento. “Não se deve tomar sol dias antes nem dias depois”, lembra Nonino. Não por acaso, a procura pelo procedimento aumenta consideravelmente nesta época do ano.

Com a troca dos cristais, a LIP passa de exterminadora de pelos a aliada na batalha contra o envelhecimento. “Ela serve como coadjuvante no tratamento”, define o dermatologista. Utilizada contra manchas escuras e vasculares, a luz intensa pulsada mira como alvo principal o colágeno. “O método é seguro e os efeitos são comprovados”, conta Nonino. Mas ele adverte que, ao contrário da depilação, antes do procedimento de fotorejuvenescimento é preciso procurar um especialista. “Nós nunca colocamos luz em uma mancha mais duvidosa e sempre encaminhamos para um dermatologista antes”, confirma Camila. A LIP age na melanina, aquecendo e explodindo a mancha, e também no colágeno, “que quando aquecido, se remodela e melhora sua estrutura”, explica a empresária. “O aquecimento também estimula a formação de colágeno novo, que dá mais firmeza à pele, que ainda fica mais fina”, completa. “Com isso, marcas de expressões são suavizadas e o tom da pele também fica mais claro”, diz Virgínia. Como em um peeling, depois da sessão de LIP a pele tende a ficar um pouco avermelhada por um ou dois dias. O intervalo entre uma sessão e outra varia entre 20 e 30 dias. w.



modaDragão Fashion

Criações Marcos Soon

Piorski

Lindebergue Fernandes

Kalil Nepomuceno

Tarcisio Almeida

Mar del Castro 36 WINK mag


à beira-mar POR KARLA MATIDA FOTOS ROBERTA BRAGA/DIVULGAÇÃO

Em sua 11ª edição, Dragão Fashion segue apontando os holofotes para os criadores do Nordeste e incentivando novos talentos da moda brasileira Na luta contra a escravidão no Brasil, o jangadeiro Chico da Matilde virou herói ao liderar seus colegas contra o transporte de escravos entre o porto e os navios negreiros. Por tal bravura ficou conhecido como o Dragão do Mar e seu espírito guerreiro serve de inspiração até hoje. No caso do Dragão Fashion Brasil, o evento de moda cearense faz jus ao nome ao seguir com fôlego incentivador da moda brasileira e apontar os holofotes para jovens talentos. Referência muito além das fronteiras nordestinas, o evento tem também um grande lutador nos bastidores, o diretor Claudio Silveira. Como idealizador do Dragão Fashion, Silveira une forças para fazer um intercâmbio de informações de moda entre os quatro cantos do País. Sendo assim, apresenta os criadores locais para convidados e imprensa especializada e também traz nomes importantes da moda nacional para as passarelas de Fortaleza. O evento ainda tem espaço para pensar moda nas palestras direcionadas >>

Handara

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modaDragão Fashion principalmente a estudantes e empresários do setor têxtil e na descoberta de novos talentos. O desfile do Conexão Solidária – projeto da Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS) que proporciona posicionamento fashion ao trabalho artesanal de comunidades carentes – abriu a edição 2010 do Dragão Fashion. Durante quatro dias, 33 grifes e estilistas se revezaram nas três passarelas montadas no Centro de Convenções de Fortaleza. Os números são grandiosos e a estrutura impressiona mais ainda. Nesta edição, o evento ainda contou com a estreia do Ceará Business, salão de negócios com as 17 Weider Silverio

maiores grifes do Estado. Este ano, o DFB ainda firmou parceria com o The British Fashion Council e estará na London Fashion Week em setembro para lançar o Dragão Fashion Brasil 2011 com o tema Eco Design. Paraense radicado em Fortaleza, Lino Villaventura fez sua estreia na passarela do DFB este ano como convidado especial, assim como João Pimenta, Thais Gusmão, Gustavo Silvestre, Mario Queiroz, Melk Z-Da e Walério Araújo, que mostraram suas coleções outono-inverno antes apresentadas em eventos como São Paulo Fashion Week, Fashion Rio e Casa de Criadores. E mesmo em companhias ilustres os criadores locais não decepcionaram. O baiano Vitorino Campos reafirma o talento que chamou a atenção de Donata Meirelles, da Daslu, em uma coleção refinada tanto nos materiais nobres quanto na modelagem elegante. Além de estilistas da Conexão Solidária, os irmãos André e Raphaella Castro também são responsáveis pela criação da Mar Del Castro. O apelo artesanal do projeto solidário também inspirou a coleção da grife de moda praia cearense, que vai além dos biquínis e maiôs. Como em outros eventos de moda, a moda feminina também predomina em Fortaleza, mas o DFB abre espaço para a moda infantil com a Jolie!Jolie! por Andrea Cerqueira em coleção inspirada em Frida Kahlo para as pequenas. Na moda masculina, a Skyler olhou para a Escócia na última coleção. Talvez o nome regional mais conhecido além das fronteiras cearenses, Lindebergue Fernandes trouxe cores encardidas para um cenário pós-apocalíptico. Mais suave, a Piorski faz graça nos tons pastel para as meninas com guarda-roupas bem-humorados. Bem longe de casa, o mineiro com fortes ligações com o Paraná e principalmente Londrina, Ronaldo Silvestre se apresentou em Fortaleza com a coleção Perfume 1876 inspirada na espiã Mata Hari. Com o foco no autoral, como bem lembra Cláudio Silveira, o DFB também destaca o trabalho de Tarcisio Almeida, na pitada surreal de Mark Greiner, no luxo & riqueza de Kalil Nepomuceno e na homenagem apaixonada a Michael Jackson de Weider Silvério. Bem pertinho do mar, a moda não tem mesmo fronteiras.

A jornalista Karla Matida viajou a Fortaleza a convite da organização do evento w. 38 WINK mag


Vitorino Campos

Skyler

Ronaldo Silvestre

Ronaldo Silvestre

Mark Greiner

Madame Surt么 WINK mag 39


modaMinas Trend

Preview Kaleidoscope

Pontapé

inicial

POR KARLA MATIDA FOTOS MARCIO MADEIRA/DIVULGAÇÃO

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Sob nova direção, Minas Trend Preview antecipa as apostas da próxima estação nas passarelas e no salão de negócios Chicletes com Guaraná

Patachou

Chouchou

Chouchou

Apartamento 03

Na dança das cadeiras que vem movimentando os bastidores da moda brasileira nos últimos meses, o Minas Trend Preview também trocou de comando, mas ainda se mantém como uma realização da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Evento de pré-lançamentos, a atual comandante B/Ferraz convocou Carlos Pazetto para ser diretor de moda, Felipe Veloso como stylist e Ricardo dos Anjos para cuidar da beleza nos bastidores dos 30 desfiles que deram o tom da primavera-verão 2010/2011. Além das passarelas, o MTP também é Mary Design

Graça Ottoni

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modaMinas Trend

conhecido pelo seu salão de negócios que vem crescendo cerca de 30% a cada edição. No início de maio, o balanço apontou negócios dos 192 expositores no valor de R$ 400 milhões. E pela terceira vez consecutiva, o estilista Ronaldo Fraga foi o curador do evento de abertura – que teve show emocionante de Maria Bethânia e desfile coletivo – e também sugeriu o tema da edição: água. "É um tema conveniente ao nosso tempo, além de a água ser, assim como a moda, um elemento transformador", justificou.

Victor Dzenk

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Entre as três dezenas de desfiles, seis foram coletivos e reuniram os participantes do salão de negócios em temas eleitos como apostas prévias para as próximas estações. Luxury (brilho e moda festa), Kaleidoscope (estampas coloridíssimas), Vector (modelagem monocromática), Resort (moda praia), Moon Dark (preto-e-branco e efeitos óticos) e Urban (urbano chique). Os desfiles coletivos servem principalmente aos compradores nacionais e internacionais que visitam o evento (em quatro dias, 15 mil pessoas passaram pelo

Preview Vector

MTP) e antecipam seus negócios. Como nas edições anteriores, os destaques do evento têm sido a moda festa e os acessórios, mostrando a preocupação com os detalhes dos mineiros. Brilho, cores e flores marcaram presença forte nas passarelas mineiras que serviram até como prévia de outros eventos. É que grifes como Patachou, Graça Ottoni, Alessa e Victor Dzenk deram aperitivos do que seriam seus desfiles no Fashion Rio e Fashion Business. Já a Cavalera preferiu mostrar coleção bem diferente da apresentada

Preview Resort

Preview Moon Dark


Rogério Lima

semanas depois na São Paulo Fashion Week, assim como a Iódice, que apostou na linha Denim no MTP. Ricardo Almeida, que há tempos não desfilava em eventos de moda – fechou a temporada mineira em participação especial. As próximas edições terão sempre um convidado de honra. Fazendo as honras da casa, o estilista Luiz Claudio segue encantando com as criações da grife Apartamento 03, desta vez inspirada em antigos cartões postais da cidade. Mary Arantes,

Preview Urban

da Mary Design, também olhou para o passado e encontrou simpáticos Gabinetes de Curiosidades, que deram origem aos museus de história natural e galerias de arte. Destaque ainda para as fofuras da Chouchou, irmã mais nova e divertida da Patachou, o couro diferenciado de Patrícia Motta e a virada de estilo das bolsas de Rogério Lima, conhecido pelos acessórios com sacos de cimento.

A jornalista Karla Matida viajou a Belo Horizonte a convite da organização do evento w.

Patrícia Motta

Iódice Denim

Preview Luxury

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modaeditorial

x

Feminino 44 WINK mag


Na brincadeira fashion da vez, invadimos o guarda-roupa dele para provar que, quando o assunto é estilo, o gênero é apenas um detalhe. Deslizando sobre as curvas dela, na companhia de acessórios poderosos, clássicos masculinos ganham personalidade extra e um apelo para lá de sensual

x

Masculino Casaco tipo smoking Carlos Miele; calça e camisa Renner; cinto e sutiã Forum

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modaeditorial

Terno Brooksfield; lenรงos Renner e sandรกlias Capodarte

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Casaco Crossville; camisa Carlos Miele; cal莽a Basic e suspens贸rio Brooksfield

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modaeditorial

Casaco e calรงa Brooksfield; blusa Ellus; cinto Triton 48 WINK mag


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modaeditorial

Casaco Crossville; camisa Lacoste; saruel Triton; bolsa e bota Datelli; rel贸gio Chilli Beans; e luvas acervo Winkmag

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Cardigã de moletom cinza Rockstter para Concept Store; cardigã de listras Reserva para Concept Store; calça alfaiataria Ellus; bota e pasta Datelli; óculos acervo Winkmag

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modaeditorial

Camisa Brooksfield; calรงa Crawford; cinto Forum e peep toe Santa Lolla

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Blusa Brooksfield; vestido Totem para Soul; bolsa Soul

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modaeditorial

Camiseta Carlos Miele; colete Brooksfield; bermuda Renner; bolsa Datelli

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FOTOS Fábio Pitrez

MODELO Isabela Surian (WA Models)

STYLING João Batista

PRODUÇÃO Monique Bordin

BELEZA Caio Mattos

ACESSÓRIOS Renner

Camisa acervo Winkmag; calça Soul; sutiã Forum; coturno Opera Rock para Soul

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garimpo

Reinaldo Lourenço Farm para Concept Store

Le Lis Blanc

Foto: Divulgação

Iódice

Manu

Forum

A onda militar que desembarca nestes dias frios deixou o camuflado de lado e se inspirou no rigor dos uniformes dos soldados, mas em versão bem mais glamourosa. O verde é um hit obrigatório em suas diversas nuances.

Inverno, volver FOTOS FÁBIO PITREZ PRODUÇÃO MONIQUE BORDIN

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Farm para Concept Store



modaSPFW

O prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, nunca esteve tão colorido como na última São Paulo Fashion Week. Na edição Verão 2011, além das paredes pintadas por artistas plásticos, uma roda gigante e um tobogã foram a diversão entre um desfile e outro. Houve 39 ao todo durante seis dias de maratona. Antecipada por causa da Copa do Mundo, a semana paulistana entrou empolgada no clima pra frente, Brasil. As homenagens ao País se revezaram entre o explícito, no caso das bandeiras estampadas de Jefferson Kulig, e a sutileza da Maria Bonita. Inspirada no trabalho da fotógrafa Anna Mariani, a estilista Danielle Jensen fez poesia com as cores e geometrias das casas do interior nordestino. Quem também passeou por lá foi Ronaldo Fraga, que, embalado pelas histórias de Mario de Andrade em O Turista Aprendiz, foi descobrir em Pernambuco belíssimas rendas e muitas histórias para compor a nova coleção. A suavidade do trabalho artesanal de rendeiras e bordadeiras se revelou na leveza dos vestidos, saias e também na cartela de cores do mineiro. Do branco total aos tons pastel, passando e passeando por um azul de encher os olhos.

André Lima

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Triton

Depois da temporada dos tons acesos e do inverno de cartela austera, eis que o Verão 2011 aposta na tranquilidade dos tons pastel. Na trilha que leva à próxima estação ainda estão as referências geométricas e os anos 1960 E foi o azul e suas nuances conquistadas durante semanas de tingimentos naturais que surgiram na passarela da Osklen. Oskar Metsavaht contou que usou lembranças de um mergulho anos atrás para dar forma ao verão. "A poesia do meu mergulho começa naquele azul clarinho e vai ficando azul profundo", explica Oskar, que nesta temporada usou a malha de algodão na sequência das suas experimentações. "Já trabalhei com moletom e no inverno utilizei o feltro como base", completa.

Samuel Cirnansck


POR KARLA MATIDA FOTOS AGÊNCIA FOTOSITE /DIVULGAÇÃO

Aquarela do Brasil

spfw Fernanda Yamamoto

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modaSPFW

"Como todo designer, sempre pensei em fazer uma coleção monocromática. O desafio foi não deixar chato e que mesmo monocromática ela tivesse um colorido", explica. Grande vedete da SPFW, a cartela de cores vem suavizada para o Verão 2011, depois de uma temporada acesa com o neon e os fluorescentes e de um inverno austero. Os tons pastel encabeçam a lista, mas há espaço para todas as cores. Que o diga Alexandre Herchcovitch e sua encantadora coleção feminina toda trabalhada em cores e formas. À primeira vista, de uma simplicidade ímpar, se mostra genial ao mesmo tempo. Em sua segunda coleção para a Rosa Chá, Herchcovitch foi claro na guinada da grife que se transformou em referência para a moda praia internacional. Biquínis e maiôs já não são mais o carro-chefe da marca criada por Amir Slama. Tanto que a Rosa Chá deverá ser a única a não migrar para o Fashion Rio na próxima edição de verão. Não é nada oficial ainda, mas fala-se em concentrar as grifes de moda praia no evento carioca. Tanto Fashion Rio como SPFW são dirigidos por Paulo Borges, que anunciou um novo evento para junho de 2011, o Un des Cents (1 de 100 em francês). Com exposições e desfiles, o showroom em parceria com o empresário francês Armand Hadida vai contar com a participação de 100 estilistas brasileiros e será na Oca, também localizada no Parque do Ibirapuera. Mas antes do evento franco-brasileiro, ainda teremos as edições Inverno 2011, acontecendo em janeiro do ano que vem.

Movimento

Gisele e cia. Bem antes de Gisele Bündchen se tornar a modelo mais bem paga do mundo, a gaúcha Shirley Mallmann já tinha colocado o Brasil na lista dos top exportadores de modelos. Ela ganhou status de diva fashion ao servir de inspiração para a embalagem de um perfume icônico de Jean Paul Gaultier. Mas eis, que depois de alguns anos longe, Shirley voltou a desfilar no País em grande estilo. Fez aparições para Adriana Degreas (que em sua estreia na SPFW convocou com exclusividade a top checa Eva Herzigova), Colcci e uma inusitada participação no desfile masculino de Alexandre Herchcovitch.

Cia. Maritima 60 WINK mag

Tufi Duek

Outras duas beldades também ressurgiram lindíssimas na passarela, a londrinense Michelle Alves e a potiguar Fernanda Tavares. Ainda entre as participações especiais, o ator Reynaldo Gianecchini arrancou tantos suspiros quanto Gisele conquistou aplausos. Já Paris Hilton mostrou que não leva o mínimo jeito para modelo, mas mesmo assim transbordou simpatia e conquistou a plateia. Anima que o verão está logo aí.


ร gua de Coco

Alexandre Herchcovitch

Cavalera

Reinaldo Lourenรงo Rosa Chรก

spfw Alexandre Herchcovitch Iรณdice

Osklen

Priscilla Darolt

Animale


moda

Anos 60 Tufi Duek

tel s a p Tons metria e geo Bonita Maria

ncia ĂŞ r a p s n Tra a veloalcd ci C

Lingeri e na moda praia Adrian a Degre as

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Top hits

Tons pastel e geometria na trilha do Verão 2011. Na curta-metragem que impera entre vestidos e saias, a barra da calça também sobe na próxima estação. Sorte dos sapatos Oxford, que vão ganhar ainda mais destaque nos pés. A influência da lingerie e do surfwear inspira não só a moda praia como todo o guarda-roupa, que vai ter muita pegada dos anos 60 também. w. POR KARLA MATIDA FOTOS AGÊNCIA FOTOSITE /DIVULGAÇÃO

Camadas Cori

Calças curtas e sapatos Oxford Neo n

as e d n e R os d a z a v onaldo Fraga R

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moda POR KARLA MATIDA FOTOS AGÊNCIA FOTOSITE /DIVULGAÇÃO

Para

eles,

com muito estilo Os desfiles de moda masculina foram algumas das ótimas surpresas na São Paulo Fashion Week. Da estreia emocionada de João Pimenta ao sempre instigante Alexandre Herchcovitch, os homens cada vez mais encontram quem olha com carinho para seus guarda-roupas. “No feminino tudo já foi feito; no masculino, qualquer movimento que caia na roupa do homem já faz diferença, como uma prega em outro lugar. É mais

Ronaldo Fraga

fácil", explica João Pimenta. "O homem brasileiro não é rígido, o que falta é quem apresente novas experimentações e alternativas para ele. O homem está disponível", garante. Tanto que pode muito bem adotar as estampas de bicho da Reserva e as rendas venezianas de Pimenta. Mas, se preferir, pode ir aos poucos com as simpáticas transgressões na alfaiataria tradicional propostas pela V.Rom e por Mario Queiroz. w.

Osklen

João Pimenta

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Mario Queiroz


V.Rom

Amap么

Reserva

Colcci Alexandre Herchcovitch

Lino Villaventura

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garimpo Red Collection

No vaivém da moda, o veludo molhado volta à cena com o aval das passarelas e das ruas, que já incorporam o brilho e a maciez do tecido. Vale para os casacos – perfeitos para o inverno tropicaliente – e também para os detalhes da lingerie.

Red Collection

Iódice

Suavidade

sexy

Chá com Lingerie

FOTOS FÁBIO PITREZ PRODUÇÃO MONIQUE BORDIN

Maria Bonita Extra

Monica Negreiros

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Foto: Divulgação

Forum



garimpo Luiza Barcelos para Queen Shoes London London

Colcci Ferri para Onná

Ferri para Onná

Masculino na essência, o sapato Oxford sobe no salto para conquistar espaço no guarda-roupa feminino. O flerte vem acontecendo há algumas temporadas, mas neste inverno o relacionamento é sério. Aposte agora e garanta desde já o calçado-febre do Verão 2011. FOTOS FÁBIO PITREZ PRODUÇÃO MONIQUE BORDIN

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Ronaldo Fraga



social

Aplausos merecidos Reconhecido nacional e internacionalmente, o Filo – o mais antigo festival de teatro do País – movimentou a cidade durante duas semanas com 53 espetáculos e mais de 120 apresentações. Onze países se revezaram nos palcos, como no tradicional Teatro Ouro Verde ou em outros pontos inesperados, como o Zerão. E os números não param por aí. Cerca de 90 mil pessoas aplaudiram a 42ª do festival.

Karla Bortoleto

Vitória Andrade

Norma Gardemann e Vitória Sahão

Mariana Martelli, Erica Ruiz e Zeca Repette

Mariana Fuziy

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Eduardo Faria

João Darwin Rodrigues

Leticia Nascimento e Fernanda Tardin

Paulo Braz


FOTOS FABIO PITREZ

Flavia Paes

Celia Musilli Guto Rocha

Priscila Buiar

Marta Carrasco

Ana Carolina de Paula e Altair de Sousa Júnior

Angela Maria Fregoneze

Adriano Gouvella e Daniele Pezenti Dias

Diâner Felipe Queiroz

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social

No Palco

FOTOS FÁBIO PITREZ

Sucesso de crítica e público – até mesmo em dia de jogo da Seleção Brasileira -, Dies Irae; En El Réquiem de Mozart , da espanhola Companhia Marta Carrasco, mostrou no palco do Ouro Verde uma versão do juízo final com atores, bailarinos e cantores.

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Novidade básica

FOTOS ANA FLÁVIA NEGRO/DIVULGAÇÃO

Para celebrar o novo e generoso espaço da Basic no Catuaí Shopping, os empresários fashion Soraya e José Carlos Martins ofereceram um coquetel para a clientela amiga. Três vezes maior que a anterior, a nova loja conta com mezanino e tem ainda duas vitrines para exibir as criações da estilista Nina Graça.

Alex Contato e José Carlos Martins

Karina Correa e Vinícius Ramos

Ricardo Dorê, Ricardo Mello e Laercio Rockenbach

Samira Calif, Hian Remontti e Guilherme Martins

Fernanda Morena, Ana Paula Guergoleto e Nina Graça

Soraya Martins e Fernanda Pires

Marcos Lima e Ana Lúcia Abdalla

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social

De portas abertas Para celebrar em grande estilo a chegada da Vectra Store, a central de apartamentos decorados da construtora Vectra, um coquetel pra lá de concorrido movimentou as margens do Lago Igapó. Delícias do Buffet Planalto e som saboroso de Fernanda Porto foram alguns dos ingredientes para noite impecável, que teve o casal Regina e Manoel Nunes como anfitriões.

Elizabete e Álvaro Côrtes

Susi Rotondo e Marcelo Melhado

Rosane Rotondo e Sandra Fuganti

Fernando Sampaio

Fabiana Pimpão

Vanessa Kemmer e Oscar Aoki Júnior

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Luiz e Luisa Sarzedas

Regina e Manoel Alves


FOTOS ANA FLÁVIA NEGRO/DIVULGAÇÃO

Marisa Braga, Renata Chineze, Marilze Fleury e Adélia Meda

Betinho Baccette e Leila Moreno

Fábio e Roberta Mansano

Gabriela Franco

Keila Zanetti e Gustavo Galego

Otavio Gomes e Marcia Castro

Janete El Haouli e Patrícia Zanin

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genteuniverso particular

Nos mínimos

detalhes Advogada por formação, Ana Paola Consalter encontrou na moda uma paixão que a faz ser uma pessoa melhor para seus filhos POR KARLA MATIDA FOTOS FÁBIO PITREZ

O filho mais velho ainda era um bebê quando Ana Paola Consalter resolveu trocar de profissão. “Foi por ele que fui buscar algo novo, queria ser melhor para o meu filho”, conta. Advogada com uma promissora carreira, ela surpreendeu a todos quando decidiu enveredar pela moda. “Em geral as pessoas resolvem mudar quando percebem que a carreira não vai bem ou que não têm futuro, mas não era o meu caso”, explica Ana Paola, que esteve prestes a assumir um renomado escritório da cidade. “Só que não era o que eu queria. Sabia que se era pra deixar meu filho para trabalhar, tinha que ser em algo que gostasse muito”, lembra. Foi quando ela decidiu cursar uma pósgraduação em moda, assunto que até então era visto como um hobby, por conta das visitas descompromissadas à fábrica de tricô da mãe. O relacionamento fashion ficou sério com o convite da cunhada para a criação de uma nova grife. Nasceu então a Fuzzy, direcionada para préadolescentes e da qual Ana Paola é a estilista. “É um desafio diário criar para eles, que assimilam tudo muito rápido e sabem bem o que querem.” O caráter minucioso e detalhista que a fizeram uma advogada respeitada também é essencial na moda. “Observo muito o que está ao meu redor”, explica sobre suas inspirações. “Viagens são sempre muito produtivas e estou sempre de olho na internet”, completa. w.

Compra a dois: Esse quadro do José Gonçalves é especial porque foi o primeiro que eu e meu marido compramos para nossa casa

Estou numa fase de colarzão, mas amo também usar várias pulseiras. Gosto muito do trabalho do Fabrizio Giannone

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Marca registrada: Estou sempre de esmalte vermelho e também nunca fico sem este perfume, que adoro

ida: color to o ã ç je p Rece i cada ob as m h l , Esco de tudo ho in o r t a e gos ho um c opos n c e s t go r esse ial po e ficam lo da c e p es qu tra idos na en color

Pedro e Antônio: Eu e meu marido nos preocupamos em sermos bons exemplos para nossos filhos, para que eles sejam amigos e honestos. É o que sempre peço

o s e ach as veze eriam ri á v li Já li e re s os pais dev gião. o li que tod endente da re filhos p r ler, inde ípios para cria c n ri s p o o ã Sã ad ons cid como b

Um lenço sempre ajuda a levantar o visual e este forma um laço bonito

Sempre gostei de poás. Uma roupa que me marcou muito foi o vestido que usei no meu primeiro baile no Country e que era preto de bolinhas brancas

Assistir aos episódios de Sex and the City sempre me relaxa depois de um dia cansativo

Adoro verniz e essas sandálias são muito confortáveis. Mas durante o dia não costumo usar salto alto

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eu e meu carro

o ã r r a C o d a i r A histó

POR PAULO BRIGUET FOTOS FÁBIO PITREZ

Há meio século, o Chevrolet Sedanete 1951 está presente em todos os momentos felizes da família Brunelli 78 WINK mag

Na língua portuguesa, o uso do aumentativo pode significar tamanho maior, admiração, familiaridade e carinho. É por tudo isso que a família Brunelli chama até hoje o Chevrolet Sedanete pelo apelido de Carrão. O automóvel, modelo 1951, com duas portas e motor de seis cilindros, vem acompanhando a história dos Brunelli há quase meio século. Importado dos Estados Unidos, o Sedanete era de fato um carrão quando foi comprado. Principalmente em Londrina, onde as carroças ainda rivalizavam com os automóveis nas ruas de terra vermelha.


Era um carro tão luxuoso que precisava ser comprado em parceria. Os amigos Nelson Brunelli e Francisco Teixeira Ribas, pioneiros da cidade, compraram juntos o carro da Chevrolet na Sociedade Auto-Comercial de Londrina, que ficava na Rua Minas Gerais, número 783, no legendário Edifício Autolon, projetado pelo arquiteto Villanova Artigas, e atendia pelos fones 789 e 799 (isso mesmo: os telefones tinham só três dígitos). Todas essas informações constam na nota fiscal de compra do veículo, conservada até hoje pelos irmãos Brunelli. O manual do carro também foi guardado e contém informações técnicas como a capacidade do tanque de gasolina (60,56 litros), a força efetiva máxima e a ordem das explosões. Em valores da época, o carro custou Cr$ 104.684,00 (centro e quatro mil seiscentos e oitenta e quatro cruzeiros). Não perguntem o quanto isso seria em valores atuais – só sabemos que é bastante. Tempos depois, seu Nelson compraria a parte de Chico Ribas. Nelson se casaria com Maria Alice – e é claro que a noiva chegou de Carrão. O Sedanete passou a fazer parte da história da família. Todos os seis filhos do casal Brunelli foram buscados na maternidade com o Carrão: Luciana (1959), Henrique (1960), Nelsinho (1962), Ricardo (1965), Kika (1968) e Fernanda (1975). Em casamentos e formaturas, a família sempre quer ir de Carrão. E adivinhe quem levou Maria Alice Brunelli para a sua festa de 70 anos. Com três marchas e câmbio acoplado ao volante, o Chevrolet Sedanete andou muito, não só por Londrina, mas por várias estradas e cidades brasileiras. O arquiteto Henrique Brunelli conta: “Na infância, era comum viajarmos para a praia com o Carrão. Ele também foi muitas vezes para o Rio e Campinas. E naquela época as estradas eram bem piores.” Henrique se lembra da festa de aniversário numa cidade da região, quando Maria Alice colocou as crianças no banco de trás e as cobriu com um lençol – para que não sujassem a roupa de festa com o pó vermelho das estradas. “Aonde nós íamos, as pessoas admiravam o Carrão.”

O Chevrolet 1951 foi o único carro da família até meados dos anos 70, quando Nelson Brunelli comprou uma Variant. Mas o Carrão nunca deixou de ser utilizado – até hoje. Todas as semanas, ele é colocado em movimento por Henrique ou por Nelsinho. A família pensa em fazer uma restauração geral no carro, preservando as características originais. “Há vários sites americanos especializados em recuperar esses modelos mais antigos da Chevrolet.” A história do Carrão, portanto, está longe muito longe do fim. Ele continua andando – não apenas na memória, mas nas ruas de asfalto. w.

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culturacinema

O viajante no

tempo

Embora previsto como uma das maiores atrações num evento que este ano não foi lá muito pródigo em celebridades mundanas, ele não apareceu logo de cara no Festival de Cannes, realizado em maio. Um boato de joelho machucado, depois alguns compromissos oficiais mundo afora com o lançamento de Robin Hood o teriam impedido de comparecer. Mas, quando não se esperava mais, ele afinal chegou, dias depois de seu filme ter desfilado na abertura de gala da mostra francesa com seus dois astros, Russel Crowe e Cate Blanchett. Foi bem melhor assim, porque sua agenda ficou mais flexível às entrevistas. No encontro, o inglês Ridley Scott estava mais relaxado, mais conversador e mais simpático do que da última vez em que estivemos juntos, no Festival de Veneza de 2005, embora às vezes continue cultivando seu ego com excessivo carinho. 80 WINK mag

POR CARLOS EDUARDO LOURENÇO JORGE FOTOS DIVULGAÇÃO

Diretor do recente Robin Hood e de clássicos premiados em 30 anos de carreira, Ridley Scott fala com exclusividade à Winkmag sobre a amizade com Russel Crowe, a Hollywood obcecada por remakes e sua volta à ficção científica com Alien em 3D


Em mais de 30 anos de carreira, Ridley Scott alternou clássicos e/ou cults sempre premiados (Os Duelistas, Alien, Blade Runner, Gladiador), entretenimentos sólidos e vistosos (Chuva Negra, Thelma e Louise, Falcão Negro em Perigo, Hannibal), alguns filmes estranhos, embora fascinantes (1492 - A Conquista do Paraíso, Cruzada), e material mais leve e despretensioso, ainda que não desprovido de charme (Os Vigaristas, Um Bom Ano, Rede de Mentiras e O Gangster). Este efervescente caleidoscópio de gêneros pode ser uma boa justificativa para os 72 anos de Scott parecerem 60, quando muito. A seguir, alguns trechos da entrevista em que o diretor falou, também como produtor, sobre como ele vê esta lenda histórica que o encantou, sobre a relação de respeito e amizade com Russel Crowe, a Hollywood obcecada por remakes e sua volta à ficção científica em 3D: vem aí a “prequela” de Alien, o mais famoso terror espacial da história do cinema.

WINK: O Robin Hood que o sr. concebeu pouco tem a ver com os filmes sobre aquele arqueiro que o cinema popularizou... RIDLEY: Minha preocupação foi de não reciclar os ingredientes mais conhecidos. Quis dar um tempero novo, mas sem perder de vista a ideia que o público tinha forjado do herói. Era difícil fazer abstração de uma imagem folclórica. Sobre isto penso particularmente na luta de Robin com Little John. E também em Marian. Teria sido conveniente e certamente maçante fazê-la outra vez uma mulher angustiada esperando passivamente por socorro. Isso não me interessava mesmo. Meu o‑bjetivo era mostrar como este homem tinha se transformado em Robin das florestas. É por isso que meu filme termina com as palavras “assim começa a lenda”. Resumindo: eu queria ao mesmo tempo aderir ao mito e prender o espectador ao fator surpresa, injetando humor, romance, ação e um pouco de violência.

WINK: Para o sr., Robin Hood realmente existiu? RIDLEY: Um homem com certas semelhanças sem dúvida existiu, mas antes do reinado de João Sem Terra, em princípio do século 13. Encontramos fortes pistas em escritos da época, dando conta de um temível bandido chamado Robin o Decapitador e de um outro personagem de igual reputação, conhecido como The Green Man. WINK: Seu filme se apoia em contexto histórico mais autêntico... RIDLEY: Quando morre Ricardo Coração de Leão, pouco depois de sua volta da cruzada, seu sucessor João Sem Terra herda um reino falido onde reina a fome. Ele aumenta os impostos, se afasta do povo, cria restrições drásticas sobre o direito de caça e impede a extração de madeira das florestas para o aquecimento das casas. Qual melhor momento do que este para introduzir Robin e vê-lo tomar seu destino nas mãos, ao lado dos oprimidos? >> WINK mag 81


culturacinema

WINK: Depois de Gladiador, foram dez anos e outros cinco filmes com Russel Crowe. Como o sr. define sua parceria com ele? RIDLEY: Há entre nós respeito e admiração recíprocos. O que não quer dizer que estejamos todo o tempo de acordo. Ao longo destes anos, ficamos mesmo amigos. O prazer de trabalharmos juntos aumenta a cada novo projeto. Outro fator importante: dividimos uma tolerância mínima diante dos imbecis, correndo o risco de passarmos por irritados e excêntricos. WINK: O que distingue Russel Crowe de outros atores? RIDLEY: Russel é único, por seu físico, seu talento, sua ética e seu trabalho de ator. É um homem tenaz, duro mesmo, mas dotado de grande inteligência, o que é uma mistura pouco comum. Ele me faz pensar em alguns gigantes fora dos padrões, como Spencer Tracy e Geroge C. Scott. WINK: Como o sr. filmou aquele desembarque espetacular em Robin Hood, e que ilustra bem o seu estilo? RIDLEY: Eu me inspirei na batalha de Hastings, vencida por Guilherme, o Conquistador em 1066. Esta sequência foi nosso maior desafio logístico. O mar nunca estava como eu queria, por causa das marés. Um autêntico quebra-cabeças. Eram necessários 350 navios, mas eu tinha somente oito. O restante foi acrescentado na mesa de montagem. Pode acreditar, não é nada fácil coreografar 800 figurantes e mais de 200 cavalos. Para ganhar tempo, eu mesmo desenhei o storyboard (roteiro desenhado e pré-visualizado em quadrinhos). Sou produtor, conheço bem meu trabalho. Nunca estourei meus roteiros. Rodei toda a sequência em nove dias, o que teria levado pelo menos um mês se filmada por alguém menos experiente.

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WINK: Hollywood parece obcecada por remakes e continuações. O que pensa a respeito? RIDLEY: Deploro esta tendência. Todas as continuações de meu Alien me deixaram desolado. Como reação, disse a mim mesmo que uma “prequela” seria uma boa ideia. Já estou no meu quarto tratamento de roteiro. A ação se passará em 2085, cinco anos antes da história original. E infelizmente antes chegada de Sigourney Weaver, já que os personagens irão de encontro do planeta Zeta Reticuli e de uma guerra biológica espacial. WINK: O sr. não voltou mais à ficção-científica depois de Blade Runner em 1982. Neste meio tempo, Avatar revolucionou o gênero. RIDLEY: James Cameron elevou a barreira, agora cabe a mim ultrapassá-la. É simples assim. Meu projeto sobre Alien será em 3D e em grande escala, excessivo, terrificante e violento. WINK: Que lembrança o sr. guarda de sua primeira participação no Festival de Cannes, em 1977 com Os Duelistas? RIDLEY: Foi meu longa metragem de estreia depois de anos construindo uma carreira na publicidade inglesa com meus compatriotas Adrian Lyne e Alan Parker. Sinceramente não pensei em sair daqui com um prêmio, e nem que o filme estreasse logo em seguida nos Estados Unidos. Apesar de todas as críticas, Cannes continua a ser o festival mais importante do mundo. É claro que há também um mercado, e este mercado não se ilude: nós fazemos filmes para que ele venda. w.


Já nas

bancas! LONDRINA

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internet

wwwinknet Ciência para leigos

Notícias sobre o mundo científico, escritas por gente especializada, em linguagem perfeitamente compreensível, estão nos blogs do site www.scienceblogs.com.br. As publicações tratam de descobertas nas áreas de astronomia, ecologia, medicina, biologia, psicologia, química, física quântica e várias outras ciências. Os assuntos, que a princípio fariam parte de um universo paralelo composto por cientistas malucos, aproximam-se das “pessoas comuns” pela clareza dos textos e atualidade das informações. Afinal, onde encontrar informações confiáveis sobre os riscos de ingerir bebida alcoólica depois de se vacinar contra a gripe H1N1, discutir os efeitos das palmadas na educação infantil, entender como o vírus da gripe infecta humanos ou esmiuçar as falhas do evolucionismo e as descobertas que tornam a validar a teoria? A página inicial organiza o acesso aos vários blogs especializados, destacando as atualizações mais recentes. Para completar, o sistema de buscas permite fazer pesquisas sobre temas específicos, facilitando a navegação.

POR CAROL AVANSINI

Design criativo

Boas ideias e outras nem tanto, mas sempre inusitadas. No site www.toxel.com , as exclamações são inevitáveis diante dos posts que divulgam criações em design de artistas do mundo todo. De produtos tecnológicos a inspirados anúncios de pizza, as dicas sempre levam a pensar sobre as infinitas possibilidades das construções humanas. Na coluna à direita, os posts são divididos por categorias, convidando a uma visita sem fim por novos links.

Para gostar de ler O site Releituras (www.releituras.com) não é novidade na rede, mas vale a recomendação pela utilidade. Afinal, encontrar na internet um extenso arquivo com os textos mais significativos dos grandes escritores brasileiros não tem preço. Os autores estão organizados em ordem alfabética pelo primeiro nome. O link para novos escritores traz surpresas, como um miniconto do professor Rogério Ivano, de Londrina. O site tem ainda biografias, links para curtas baseados em obras literárias e divertidos textos ilustrados por artistas brasileiros.

Hora da papinha Crianças que devoram felizes um grande prato de salada existem. Para formar o paladar dos pequenos e transformá-los em saudáveis “gourmands”, entretanto, é preciso dar o exemplo. Certas de que é possível ensinar os filhos a se alimentarem bem, as jornalistas Patrícia Cerqueira e Mônica Brandão narram, no site Comer para Crescer (www.comerparacrescer.com), as próprias experiências como mães. Divulgam também resultados de pesquisas sobre o tema, entrevistas com especialistas, ideias saudáveis e receitas para todas as idades. Militantes da boa alimentação, mas sem radicalismos, as moças também surpreendem com dicas de compras e mil maneiras para fugir da mesmice, seja no almoço de todo dia ou nas festinhas de aniversário.

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culturamúsica

Muita gente estava morrendo naquele final de anos 60 e a mão do destino apontava para Keith Richards, o lendário guitarrista dos Rolling Stones, então consumido pela heroína. Richards percebeu que a morte o rondava. E tratou de se cuidar. Após uma severa desintoxicação, livrou-se das drogas. Como um urubu, aquela que sempre ri, de alforje nas mãos, sentou-se a esperar. Foi quando a banda caiu em si: o fisco inglês estava faminto. A fortuna devida era tamanha que não poderia ser paga. Logo, veio a ideia caótica do exílio. Keith Richards alugou uma mansão na Riviera francesa, em Villa Nellcôte, e lá chegou sem qualquer entorpecente. Mas um rolling stone não anda sem seu staff – que pode ser muito útil, ou se tornar uma maldição. Os Rolling Stones não tinham dez anos de carreira e, por algum tempo, tentaram seguir os passos dos Beatles. Mas, em 1970, já não existiam Beatles. A utopia dos anos 60 se evaporava em overdoses, casamentos, filhos, obrigações empresariais e um dolorido auto-exílio. Sobre Nellcôte pairava, então, a conhecida sombra com dentes sempre à vista. Eis que a casa caiu. Os Rolling Stones viveram uma confusão promíscua de negócios, trabalho, família, sexo, drogas e rock’n’roll. Richards fez seu mergulho mais profundo na heroína, enquanto ouvia o gargalhar da tentação. Cabos, instrumentos e caixas de som misturavam-se a copos, bitucas de cigarro, groupies seminuas, crianças, produtores e esposas. Cabeludos andavam de cuecas entre móveis clássicos. No porão, a banda gravava um disco ao sabor de humores contraditórios. Não havia dia ou noite. Nellcôte era uma festa – ou um pesadelo – sem fim. Este é o clima de Exile on Main St. (1972), mal recebido pela crítica e sucessor de um grande álbum: Sticky Fingers (1971). Exile é irregular, tem clima de jam session e som sujo, às vezes confuso, de uma obra quase artesanal. Mais do que hits como Shine a light, Happy e Tumbling Dice, Exile on Main St. trouxe o clima transparente da confecção caótica, ao mesmo tempo em que a banda, afiadíssima pelo convívio, vivia um surto produtivo. Sua qualidade é retratar os Stones tocando como se não gravassem um disco, apesar de todos os percalços – casamentos foram rompidos e músicos internados.

Aos poucos, o LP tornou-se um clássico do rock. Como uma banda de bar, os Stones misturam blues, gospel e country com a sonoridade rústica do skiffle inglês, apoiando-se em temas históricos como Stop breaking down (Robert Johnson) e Shake your hips (Slim Harpo). Quarenta anos se passaram até que os velhinhos resolvessem abrir o baú daquela época. “Não foi bem assim”, dizem eles. Pois Exile ainda tinha tesouros perdidos. O CD foi relançado pela Universal com dez faixas bônus. Não são meros apêndices, mas oito inéditas – que andam com as próprias pernas e poderiam estender o disco original – mais duas versões. Pass the wine, com slide guitar e riff cru, tem clima honky tonky, com sopros crescendo e a segunda voz inconstante de Richards. E ainda traz a harmônica de Jagger, que semitona sem dó, como nos antigos blues rurais. Os sentimentos superam os deslizes, e uma balada como Plundered my soul perderia a força se fosse gravada sem o crítico estado de espírito dos orgulhosos, mas proscritos ingleses. Exile on Main St. não representa um lugar, mas um momento. Paralelo ao CD, chega ao mercado brasileiro o DVD Stones in Exile (ST2 Records), de Stephen Kijar, que utiliza imagens de outro documentário, Cocksucker blues, de Robert Frank – inicialmente banido pelos Stones por explicitar o consumo interminável de drogas. Sim, havia câmeras durante o delírio de Nellcôte. “Eu teria raiva da heroína se não aprendesse a lidar com ela”, disse Richards anos depois. A frase tem endereço: uma figura esquelética de manto negro, com a qual o guitarrista aprendeu a envelhecer. w.

Sharon Jones & The Dap-Kings Learned the hard way (Daptone)

Para quem gosta de soul com pegada anos 1960, entre o gospel e o R&B, Sharon Jones é a pedida perfeita. Acompanhada por músicos tarimbados, esta ex-carcereira de presídio feminino canta com alma. Aos 52 anos, Sharon Jones despeja suas experiências em uma voz que pode explodir sentimentos represados ou afagar o ouvido com suavidade de travesseiro, sempre apoiada por sopros efervescentes. I learned the hard way (2010) é uma porrada no R&B de isopor protagonizado pelas Beyoncés da vida. 86 WINK mag


do CD o t n e m a ç n Rela o DVD e . t S in a M Exile on retratam a e il x E in s e Ston sa dos e c n a r f a d a r tempo es Rolling Ston

O exílio das pedras rolantes POR RANULFO PEDREIRO FOTO DOMINIQUE TARLÉ /DIVULGAÇÃO

Laura Marling I speak because I can (Astrawerks/EMD)

Com 16 anos, Laura Marling surgiu tocando um folk inglês à moda antiga e, de cara, ganhou indicação ao Mercury Prize pelo primeiro disco, Alas I cannot swing. Agora, aos 20, ela encara a vida adulta com I speak because I can (2010), um repertório próprio de canções tristes, falando de amor impossível, sexo e morte. Há um cuidado literário com as letras, que retratam errantes em paisagens desoladas, gente marcada pela vida. A bela Devil’s Spoke abre o disco de apenas dez faixas, mas densas como se carregassem o mundo nas costas. WINK mag 87


culturaliteratura

O escritor português José Saramago, morto aos 87 anos, deixa uma legião de admiradores e uma obra irregular, embora com momentos luminosos Não é tarefa simples enfrentar a legião de adoradores de José Saramago, que se tornaram ainda mais fervorosos após a morte do escritor português, aos 87 anos, em junho último. Saramago, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, tornou-se tão sagrado para seus defensores que a gente acaba perguntando se eles de fato leram os livros do homem. Eis aí mais uma tarefa difícil, embora cumprida por este resenhista – com algumas lacunas, que ninguém é de ferro. Saramago era um sucesso brasileiro. Acontecia com ele mais ou menos o mesmo fenômeno que beneficiou o grupo sueco Abba e o historiador inglês Eric Hobsbawm, mais amados no Brasil do que em suas terras natais. Toda a prosa ficcional de Saramago, com a exceção de Terra do Pecado (1947), foi publicada pela Companhia das Letras. Em Portugal, era menos querido. Comunista de casa não faz milagre. Quando menciono a prosa de Saramago, alguns podem estranhar, mas até 1980 ele era mais conhecido em Portugal como poeta e jornalista. Há um poema de Saramago, em homenagem a Camões, que assim começa: “Meu amigo, meu espanto, meu convívio,/ Quem pudera dizer-te estas grandezas, / Que eu não falo do mar, e o céu é nada / Se nos olhos me cabe. / A terra basta onde o caminho pára, / Na figura do corpo está a escala do mundo.” Os dois gigantes da poesia portuguesa – Camões e Fernando Pessoa – são as matrizes estilísticas dos romances de Saramago, ao lado das crônicas históricas de Fernão Lopes e dos sermões de Padre Antônio Vieira. O resultado dessa combinação é um estilo caudaloso, barroco, exuberante, um rio heraclíteo pelo qual navegam as consciências dos personagens e a ironia de um narrador onisciente. Não há dúvida de que Saramago 88 WINK mag

realizou uma das mais importantes conquistas para um escritor: ele possuía uma voz. Uma voz inconfundível. E é tal voz que podemos ouvir nos melhores momentos do autor. No romance O ano da morte de Ricardo Reis (1984), Saramago imagina o encontro do poeta Fernando Pessoa com um de seus heterônimos, talvez o mais brilhante. O médico e latinista Ricardo Reis, exilado no Brasil, decide voltar a Portugal em 1936, após a morte de Pessoa, e lá tem conversas com o fantasma do seu próprio criador, enquanto a Europa antevê os sinais da Segunda Grande Guerra. Portugal – “onde o mar acaba e a terra principia” – é o lugar mítico em que Saramago ambienta suas parábolas e símbolos: o convento, a caverna, a cegueira, a jangada, o voto em branco, os alfarrábios. Na prosa de Saramago, com resultados desiguais, Vieira e Fernão Lopes encontram Kafka e os realistas mágicos latinoamericanos. Em A jangada de pedra (1986), a península ibérica se desprende da Europa e vira uma ilha móvel a navegar pelo Atlântico, essa vastidão de água que os antigos batizaram Mar Tenebroso. O livro desenvolve a tese de que os ibéricos seriam uma civilização à parte no contexto europeu, primos pobres de um continente que não lhes pertence. Não por acaso, a jangada de Saramago se move em direção à América e à África. O próprio autor se auto-exilou numa ilha das Canárias: sua jangada particular, embora imóvel. Ensaio sobre a cegueira (1995) é uma fábula apocalíptica sobre a cegueira da humanidade. A tese central de Saramago, no livro, é a de que o homem, entregue a si mesmo, promoverá a barbárie. Apesar do final esperançoso, o romance deixa um gosto amargo na boca, se atentarmos para o fato de que a solução defendida pelo autor é a engenharia social do comunismo, que tantas vítimas causou. Não houve cegueira coletiva mais grave no século XX - e Saramago permaneceu fiel a ela até o fim. A obra de Saramago impõe uma questão relevante: é possível a um escritor fazer grande literatura e ao mesmo tempo professar uma ideologia odiosa? O exemplo de Céline nos autoriza a dizer que sim. Mas é importante que o autor consiga manter a sua produção artística suficientemente livre da contaminação política. Nem sempre Saramago conseguiu essa façanha. O Evangelho segundo Jesus Cristo (romance) e os Cadernos de Lanzarote (diários) estão repletos de tolices ideológicas disfarçadas de cacoetes literários. Com a morte de Saramago, teremos tempo suficiente para dizer o que permanecerá de sua vasta literatura. “Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera.” w.


O Evangelho segundo POR PAULO BRIGUET FOTOS RENATO PARADA E DIVULGAÇÃO

Criador e criatura

José

Olham-se ambos com simpatia, vê-se que estão contentes por se terem reencontrado depois da longa ausência, e é Fernando Pessoa quem primeiro fala, Soube que me foi visitar, eu não estava, mas disseram-me quando cheguei, E Ricardo Reis respondeu assim, Pensei que estivesse, pensei que nunca de lá saísse, Por enquanto saio, ainda tenho uns oito meses para circular à vontade, explicou Fernando Pessoa, Oito meses porquê, perguntou Ricardo Reis, e Fernando Pessoa esclareceu a informação, Contas certas, no geral e em média, são nove meses, tantos quantos os que andámos na barriga das nossas mães, acho que é por uma questão de equilíbrio, antes de nascermos ainda não nos podem ver mas todos os dias pensam em nós, depois de morrermos deixam de poder ver-nos e todos os dias nos vão esquecendo um pouco, salvo casos excepcionais nove meses é quanto basta para o total olvido. (Trecho de O ano da morte de Ricardo Reis)

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gastronomia

Um planeta chamado POR PAULO BRIGUET FOTOS FÁBIO PITREZ

Profundamente ligado à história do País e de Londrina, o café não é mais o mesmo. Deixou de ser cafezinho e virou bebida gourmet 90 WINK mag


Há mais de mil anos, na Abissínia, um pastor chamado Kaldi percebeu que as cabras de seu rebanho ficavam animadas e cheias de energia depois de mordiscar os pequenos frutos avermelhados de um arbusto. Depois, esses frutos – e a bebida que deles se extrai – foram descobertos pelos povos árabes. A palavra café vem do árabe “qahwa” (vinho). A bebida chegou à Europa no século XVII, trazida pelos mercadores do Oriente Médio. Por muito tempo, o café era conhecido como o “vinho da Arábia” e, a exemplo do vinho, associado aos sabores e prazeres da vida. Trazido ao Brasil em 1727, o café se tornaria, no final do século seguinte, o principal produto de exportação do País. A febre da cafeicultura impulsionou a colonização do Norte do Paraná, a partir de 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova York decretou a decadência dos cafezais no interior paulista. O café está profundamente ligado à identidade de Londrina. O ouro verde simbolizou e sustentou o desenvolvimento da Terra Vermelha. Após a geada negra de 1975, o café entrou em declínio no Norte do Paraná. Mas agora ele está de volta, tanto na produção (com o plantio de café adensado) quanto no consumo de cafés especiais. O café está deixando de ser o mero cafezinho para se tornar uma bebida sofisticada e agradar paladares exigentes. O consumo de cafés especiais, feitos com grãos de qualidade, tem crescido em todas as classes sociais. De 2003 a 2009, também houve um espetacular aumento de 170% no consumo de café fora de casa. E essas pessoas querem um café melhor, mais saboroso. Acabou aquela história de que café é sempre a mesma coisa. Hoje, café virou item de gastronomia.

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gastronomia Espresso e expresso “Eu me apaixonei pela história do café”, diz o barista Denilson Guimarães. Com a esposa Melissa, ele abriu no começo deste ano o Café en Scene, uma casa especializada em servir cafés de grãos selecionados em receitas originais. “Londrina foi a capital mundial do café em quantidade. Agora os tomadores de café daqui estão procurando qualidade.” Para Denilson, preparar o café na máquina de espresso é um ritual. “É preciso moer o grão na hora, tirar a quantidade exata, compactar para que ele fique no ponto ideal solicitado pelo cliente”, descreve o barista. Muita gente ainda usa a grafia café expresso. Denilson prefere o termo italiano original: “O café espresso não tem nada de expresso. Expresso é o da garrafa, do coador.” O espresso é tirado sob pressão de 9 atmosferas, a 90 graus de temperatura, resultando numa bebida cremosa e aromática. É essa bebida que você encontra no Café en Scene e em outras cafeterias que vem surgindo na cidade. A cultura do café espresso (e não expresso), segundo ele, tem no máximo dez anos no Brasil – e muito espaço para crescer.

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Entusiasta dos cafés do Norte do Paraná – um pouco mais amargos, porém saborosos – Denilson preparou um cardápio com vários itens à base de café. Um dos mais procurados é o café Nutella, de chocolate com gianduia, mais um pouquinho de leite condensado e chantilly. Entre os drinks gelados, destacase o café Cookie, espresso com bolacha Negresco, sorvete de creme e chantilly.

Orfeu e Eurídice Heloise Mesquita, proprietária da Chocolataria, em Londrina, diz que já ficou para trás a ideia de que o público brasileiro aceita café de má qualidade. “Antes dizia-se que todo o melhor café ia para exportação. Hoje, isso não é mais verdade. As grandes fazendas brasileiras estão tratando o café como um produto de primeira qualidade. As pessoas estão dando o real valor ao café.” Em sua loja, Heloise promove um rodízio semanal de cafés com qualidade gourmet. Serve, por exemplo, os cafés Eurídice e Orfeu, produzidos na Fazenda Sertãozinho, de Botelhos, no Sul de Minas Gerais. O blend Orfeu – nome do músico e poeta da mitologia grega – é um café mais forte, encorpado, com acidez média. Eurídice – nome da amada de Orfeu – é mais suave, uma torra mais clara, apreciado por quem gosta de tomar o espresso à moda carioca.

Espresso (ao lado), Café Nutella (acima) e capuccino italiano (abaixo): no cardápio do Café en Scene

Heloise também serve o Café Pessegueiro, da Alta Mogiana, produzido no município de Mococa (SP) e vencedor de um prêmio da Associação Europeia de Cafés Especiais. Foi um grão considerado “hidden treasure” (tesouro escondido) por especialistas internacionais reunidos em Atenas. “É um café naturalmente adocicado”, observa Heloise Mesquita. O capuccino especial da casa, servido com minitrufas, está entre os carros-chefes da Chocolataria. Mas Heloise também ouve muitos elogios ao african coffee (sorvete de creme, amarula, espresso e chantilly) e ao mocaccino (com pedaços de chocolate tradicional, belga ou diet, à escolha do cliente).

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gastronomia

Clima de fazenda Marlene Serafim Moreno, do Café do Feirante, franquia que abriu as portas em Londrina no final de 2009, utiliza dois grãos de café arábica para fazer o espresso em sua loja: Oeste Paulista e Mogiana. O Oeste é mais encorpado; o Mogiana, mais suave. “Morei na zona rural até os 18 anos. A ideia de abrir um café está ligada às minhas memórias de infância”, diz Marlene. Ela optou por abrir uma franquia do Café do Feirante ao conhecer

a história de Alex Siqueira Souza, filho de seu Sebastião, um feirante de Marília, interior de São Paulo, que de repente começou a servir café em plena feira de rua. Da barraquinha da feira, Alex abriu uma pequena loja. Da pequena loja, evoluiu para uma rede de lojas conhecidas pelo café de qualidade. O ambiente das lojas é simples e faz lembrar o clima das velhas fazendas de café. Entre as especialidades da casa, está o Feirantino, uma bebida gelada à base de café criada pelo próprio Alex – e deliciosa.

Café conceito O Café do Turco abriu as portas há poucas semanas com o objetivo de servir cafés do mundo inteiro. Os proprietários da casa, Solaima e Fernando Janene, mãe e filho, já encomendaram grãos do Brasil inteiro e de países como Quênia, Colômbia e Índia. “Pretendo aqui ofertar cafés do mundo todo, sem deixar de valorizar os grãos paranaenses de qualidade”, diz Fernando Janene. Solaima, criada na cultura libanesa, também serve o café árabe – aquele que não passa pelo coador. É uma bebida forte, que remete à própria história do produto, e está ligado a tradições como a leitura da borra no fundo da xícara. No Café do Turco, os clientes podem dar uma volta ao mundo nos sabores do café Nespresso – que tem 16 grandes blends em cápsulas importadas da Nestlé Suíça. Entre os destaques, estão o Indryia (com grãos indianos), o Arpeggio (forte, com acidez baixa) e o Dulsão (com grãos especiais brasileiros). “A cultura do café gourmet está crescendo no Brasil”, comenta Fernando Janene. “O café é um mundo. A pessoa que entende de vinhos pode até se perder na riqueza de aromas e sabores do café.” w.

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Café Mochas da Chocolataria (barra de chocolate opcional)



garimpo Cafeteira, Ibrahim Presentes

Jogo de café, Mi House, colherzinhas, Ibrahim Presentes, lata e jogo americano, Bazar Shagri-lá

Canecas, Laço Presentes

Cafeteira francesa, Paracatu Presentes

Garrafa térmica, Paracatu Presentes

Cafeteira Saeco Odea, Polishop 96 WINK mag

Xícaras, Ibrahim Presentes


Canecas, Mihouse

Na terra do Ouro Verde, o café faz parte da história da cidade, das conversas entre amigos e do intervalo saboroso. Para servir uma bebida caprichada em casa, não faltam opções tecnológicas e charmosas.

Pausa para o

cafezinho FOTOS FÁBIO PITREZ PRODUÇÃO MONIQUE BORDIN

Garrafa térmica, Ibrahim Presentes

Cafeteira e xícaras, Ibrahim Presentes Jogo americano, latas e jogo de café, Bazar Shangri-lá

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POR KARLA MATIDA FOTOS FÁBIO PITREZ

Nos jardins encantados

de Brumadinho

Misto de museu de arte contemporânea e jardim botânico, o Inhotim é mais um tesouro nas terras preciosas de Minas Gerais. A 60 quilômetros de Belo Horizonte, atrai atenções e visitantes de todos os cantos

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De Lama Lâmina Matthew Barney

Sem nome Edgard de Souza

As terras preciosas de Minas Gerais ajudaram a batizar o Estado, que ganhou o nome graças à riqueza em ouro e pedras – para a alegria dos nossos descobridores. Pouco mais de 300 anos depois, coincidentemente, é um minerador o responsável pelo mais novo tesouro mineiro. Há anos o empresário do ramo da mineração Bernardo Paz vem lapidando o que era apenas uma grande fazenda e transformando o generoso espaço em um misto de museu de arte contemporânea e jardim botânico. O resultado é o Inhotim, que colocou a pequena Brumadinho no mapa turístico internacional. A cerca de 60 quilômetros da capital Belo Horizonte, Brumadinho é a porta de entrada para Inhotim (diz a lenda regional que o simpático nome surgiu com primeiro proprietário, o inglês Tim, que no linguajar local se transformou no Nhô Tim). São 97 hectares – quase 100 campos de futebol – destinados à visitação pública desde outubro de 2006. Reserve no mínimo um dia inteiro para a visita. E não se espante se mesmo assim você sair de lá com vontade de quero mais. Em constantes mudanças, o Inhotim tem mostras temporárias bienalmente. Só no ano passado, ganhou nove trabalhos em grande escala com a assinatura de Chris Burden, Doug Aitken, Edgard de Souza, Janet Cardiff & George Bures Miller, Jorge Macchi, Matthew Barney, Rivane Neuenschwander, Valeska Soares e Yayoi Kusama. Os artistas se uniram a outros nomes conceituados do portfólio do Inhotim como Cildo Meireles, Tunga e Adriana Varejão, que foram agraciados com galerias permanentes para receberem suas obras. É o conceito de site-specific, em que os artistas projetam as obras de acordo com as possibilidades do lugar que serão montadas. >> 100 WINK mag


Inmensa Cildo Meireles

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Galeria Adriana Varej達o

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Narcissus Garden - Yayoi Kusama

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Beam Drop Inhotim – Chris Burden


A grande delícia do Inhotim é justamente descobrir tais galerias entre tanto verde e paisagens deslumbrantes. São mais de 4.000 espécies de plantas, com uma impressionante coleção de 1.300 espécies de palmeiras e outras 333 de orquídeas, que crescem entre viveiros e jardins. São ainda cinco grandes lagos ornamentais somando cerca de 3,5 hectares. O passeio – que se reveza entre pura contemplação e curiosas descobertas – pode ser feito tanto a pé quanto de carrinhos com paradas em pontos estratégicos. Um aliado importante para dar conta – ou pelo menos tentar – de conhecer todos os cantos com fôlego. Mas deixe para utilizar o recurso motorizado apenas para visitar as obras e galerias que ficam mais distantes, caso do Sonic Pavillion, de Doug Aitken, e do Beam Drop Inhotim, de Chris Burden. Enquanto a primeira obra traz o “som da terra” com a ajuda de microfones de alta frequência instalados em um buraco de 200 metros de profundidade, a segunda é uma escultura ao ar livre com 71 vigas. Foram necessárias 12 horas de trabalho e um guindaste para jogar as vigas de uma altura de 45 metros em uma piscina de concreto. O percurso – a pé – no meio da floresta de eucaliptos já faz parte da instalação de Matthew Barney. A construção espelhada tem no seu interior um trator que ergue uma árvore em resina. Um protesto, um alerta? Mais uma reflexão para o visitante anotar entre as tantas que vão surgindo pelo passeio. Não por acaso, o Inhotim também oferece dois programas para os visitantes. A visita temática – um encontro entre o educador e o visitante para discussão sobre artistas e obras de arte do acervo – e a visita panorâmica, com ênfase no projeto paisagístico nas obras dispostas nos jardins de Inhotim. >> Celacanto Provoca Maremoto Adriana Varejão

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True Rouge, Tunga vista de dentro e de fora

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Sonic Pavillion – Doug Aitken

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Viewing Machine: o caleidoscópio de Olafur Eliasson oferece uma vista diferenciada de Inhotim

Além de colocar Brumadinho no mapa, o Instituto Inhotim também se preocupa com a cidade-sede. De acordo com o museu, “cerca de 1.500 alunos das redes particular e pública de ensino de Brumadinho e da Grande Belo Horizonte visitam o museu toda semana. Os programas educativos promovem uma série de ações para aproximar a sociedade dos valores da arte, do meio ambiente, da cidadania e da diversidade cultural, atuando em duas frentes - Arte Educação e Educação Ambiental”. Sem contar a geração de empregos para manutenção do Inhotim. Dos jardins às instalações para o público, tudo está sempre impecável. E é possível almoçar às 15h30 como se o bufê do self-service estivesse apenas começando o expediente. O restaurante também trabalha com o sistema à la carte. Para quem tem pressa – ou fome fora de hora – as lanchonetes espalhadas pelos jardins servem omeletes, sanduíches e salgados. Na chegada ou na saída, a loja do Inhotim é parada obrigatória e vai muito além dos souvenirs tradicionais. A renda obtida com joias, objetos de decoração e livros é revertida para programas de ação social do Instituto. “Depois de um tempo, percebi que, apenas como museu e jardim botânico, o Inhotim era um lugar muito elitista. Então constatei que precisava introduzir conhecimento e fui buscar pessoas para ampliar as ações do Inhotim nas áreas de artes, meio ambiente, inclusão e cidadania e produção de conhecimento”, define Bernardo Paz. E ele mesmo completa: “Não sei qual vai ser o próximo passo. Isto aqui não se acaba. Aqui sempre será”. w.

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PA SS AP OR TE

Serviço Horário de visitação Quartas, quintas e sextas-feiras, das 9h30 às 16h30 Sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30

Entrada R$ 16 (Meia entrada para estudantes identificados e maiores de 60 anos). Crianças de até cinco anos não pagam.

Como chegar De ônibus Saída da rodoviária de Belo Horizonte às 9 horas (plataforma F2) e retorno às 16 horas, aos sábados e domingos.

De carro Acesso pelo km 500 da BR-381 (sentido BH/SP), aproximadamente 1h15 de viagem de Belo Horizonte. Pela BR-040 (aproximadamente 1h30 de viagem). Acesso (sentido BH-Rio) na altura da entrada para o Retiro do Chalé.

Informações www.inhotim.org.br info@inhotim.org.br 31 3227 0001 / 31 3571 6638 / 31 3223 8224

Bisected triangle, Dan Graham

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drops Arco-íris POR KARLA MATIDA FOTOS DIVULGAÇÃO

Irmã mais nova da Arezzo, a Schutz – criada por Alexandre Birman – propõe um verão bem colorido. Mas, como pede a estação, os tons pastel também vão invadir os calçados e bolsas. Até mesmo os acesos fluorescentes vão se suavizar com as peças em neon lavado. As sandálias em multi-tiras seguem com fôlego para mais uma temporada, mas os saltos vão da modernizada anabela ao tamanho médio, promessa de hit.

Na telinha Que as novelas são grandes difusoras de tendências bem antes das fashion weeks não há dúvidas. Das meias de lurex de Dancin’Days aos vestidos longos de Belíssima, as novelas também já trataram do tema moda com muita graça, caso de Ti ti ti, de Cassiano Gabus Mendes (1985). Pois as aventuras dos estilistas Jacques Leclair e Victor Valentim voltam à cena em julho em um remake global com Alexandre Borges e Murilo Benicio nos papéis principais. O desfile Verão 2011 de Alexandre Herchcovitch serviu de palco para uma das cenas. É esperar para conferir.

Parceria a tiracolo As bolsas e mochilas da grife de bolsas paranaense Delatia marcaram presença na São Paulo Fashion Week no elogiado desfile de Mario Queiroz. O estilista assina a linha masculina da marca com sete modelos diferentes em couro. São mochilas, pastas e bolsas que podem ser usadas na mão, nas costas ou a tiracolo.

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Tudo azul Em tempos ecologicamente corretos, a coleção Winter da Trisoft traz jogos de cama confeccionados sem a utilização de água na fabricação. Os tons de azul e branco foram eleitos para embalar o sono e também decorar o quarto com aconchego 100% algodão.

Melissa para customizar Até parece uma ankle boot, mas a Melissa criada pelo arquiteto e designer italiano Gaetano Pesce vai além da irreverência das bolas. O modelo é customizável e cada cliente pode transformar o sapato no que quiser, de uma sapatilha até uma rasteirinha. Basta usar a tesoura e a criatividade para ir cortando os círculos. Pesce esteve no Fashion Rio para o lançamento da sua parceria com a Melissa, que chega às lojas em agosto. Com obras espalhadas pelas coleções permanentes de museus como MoMA, em Nova York (onde reside desde os anos 1980), Georges Pompidou, em Paris, e Museu de Arte Moderna de Turim.

Visita agendada A Haus Innen 2010 – Exposição de Interiores, Paisagismo e Decoração de Londrina acontece de 7 a 30 de agosto na Avenida Santos Dumont, 1.565. A casa, em estilo colonial, tem 750 metros e foi construída num terreno de 1600 metros quadrados. Por ser térrea, a construção combina com o tema da mostra desta edição, a Acessibilidade na Arquitetura. No comando do evento estão Jacqueline Luz e Andreia Hovgesen.

Unhas com grife Em parceria com a estilista Simone Nunes, a Dote está lançando seis novas cores de esmaltes. De dar água na boca, a linha tem nomes de sobremesas: Sorbet Goiaba, Bala de Leite, Creme Holandês, Frapê de Amêndoas, Frapê de Uva e Frozen Papaia. Os tons doces destacam variações do nude com variações para o rosa e laranja. WINK mag 111


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O

semeador

do Sítio POR PAULO BRIGUET FOTOS FÁBIO PITREZ

Léo Pires Ferreira dedica a vida a divulgar obra de Monteiro Lobato. Para o doutor em plantas e letras, o maior inimigo é a ignorância

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Não existem histórias infantis sem herói e vilão. Sempre haverá um Lobo Mau para Chapeuzinho Vermelho; um Capitão Gancho para Peter Pan; uma Bruxa para Branca de Neve. O caso de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), mestre brasileiro da literatura para crianças, é um pouco diferente. Nos 23 livros do Sítio do Picapau Amarelo, encontramos vários heróis (Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa e, acima de todos, a boneca Emília), mas nenhum personagem que simbolize a totalidade do mal. “O grande vilão na obra de Lobato é a ignorância”, diz Léo Pires Ferreira. Pesquisador aposentado da Embrapa, doutor Léo dedicou sua carreira científica à fitopatologia. Em mais de 40 anos de laboratório, combateu as doenças das plantas. Em mais de 60 anos de biblioteca (o primeiro livro foi Os doze trabalhos de Hércules), combate a doença do intelecto. E seu principal aliado na guerra da ignorância contra o conhecimento é Monteiro Lobato. Gaúcho de Rio Grande, londrinense por adoção, barba e cabelos brancos, tipo franzino, morador do Parque Guanabara, proprietário de um Fusca 1967, marido de dona Marinês, pai de duas filhas, com sorriso generoso e uma passagem de Lobato sempre na ponta da língua, ele é um dos mais respeitados especialistas no Sítio do Picapau Amarelo. E as histórias do Sítio, observa, são a porta de entrada para a história, a ciência, as artes, a mitologia, o raciocínio, o folclore, a moral e a linguagem. Certo dia, numa festa de família, ao saber que os funcionários de uma cooperativa agrícola paranaense estavam presenteando crianças pobres com brinquedos no dia 12 de outubro, ele lançou uma pergunta que ao mesmo tempo era uma proposta: “Vocês não pensaram em dar um brinquedo chamado livro?” Em setembro de 2009, doutor Léo iniciou sua jornada lobatiana pelo Paraná. Com apoio da Cooperativa Integrada, já percorreu 21 municípios e falou a mais de mil professores de escolas públicas. Em palestras de uma hora e meia, ele defende o valor da obras de Monteiro Lobato para a formação das crianças. Ao final das visitas, as escolas recebem a doação de pacotes com seis livros de Lobato relançados pela Editora Globo: Reinações de Narizinho (1º e 2º volumes), A Reforma da Natureza, O Picapau Amarelo, Caçadas de Pedrinho e A Chave do Tamanho. “Em maio, fomos para Goioerê e falamos para 90 professoras. Levamos 40 pacotes de livros – são 240 volumes. É a multiplicação dos livros!” >> WINK mag 113


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A compra dos livros é financiada pela cooperativa, mas o trabalho de doutor Léo é totalmente voluntário, sem remuneração. “Faço as palestras com um prazer imenso. Depois de visitar as escolas, eu sinto aquele cansaço bom, aquele cansaço do dever cumprido.” Nas palestras, conta com a ajuda da esposa, que lhe ajuda a retomar o fio da meada durante as conversas sobre Lobato e a turma do Sítio. Há alguns anos, doutor Léo se locomove numa cadeira de rodas, mas as principais barreiras que enfrenta não são arquitetônicas. Muito piores são os obstáculos do sistema educacional brasileiro, onde a ignorância apronta mil vilanias. “Agora tem um grupo pensando em transformar os três primeiros anos do ensino fundamental em ‘período de alfabetização’. E pensar que eu li Os Doze Trabalhos de Hércules quando terminei o primeiro ano do primário! Pensar que aprendi latim, inglês, francês, espanhol, canto, teoremas matemáticos... As crianças – há pelo menos 40 anos – não são estimuladas a raciocinar. Temos que sair deste buraco!” Como se nota, doutor Léo vê algo de muito errado na educação brasileira. Ele acredita, porém, que as obras de Monteiro Lobato podem acender luzes nesse panorama sombrio. Além do embate conhecimento versus ignorância, o especialista ressalta que as histórias do Sítio valorizam a liberdade e a imaginação. “A ausência de figuras paternas tem um motivo: em suas obras, Lobato quis trabalhar a liberdade de criação e pensamento. Talvez por isso as histórias do Sítio também não tenham a figura da fada, que é substituída pelo faz-de-conta da Emília. E o faz-de-conta é a imaginação do leitor.” Há três anos, pouco antes de se aposentar, Léo Pires Ferreira visitou Taubaté, cidade natal de Monteiro Lobato. A Embrapa realizou um documentário sobre o dia em que o lobatiano foi ao Sítio. Lá, encontrou mais uma vez o corajoso Pedrinho, a meiga Narizinho, as sábias Dona Benta e Tia Nastácia, o erudito Visconde, a atrevida Emília – velhos conhecidos de uma vida inteira. E é na companhia deles, e de um senhor de sobrancelhas grossas e olhar implacável, e também de dona Marinês, que o doutor de plantas continua semeando as letras do Sítio por onde passa, na esperança de que um dia a maior vilã seja finalmente derrotada. 114 WINK mag

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Isabela Surian trocou a carreira de modelo profissional pelo curso de Direito e hoje sonha com um mestrado na França

POR ROSÂNGELA VALE FOTO FÁBIO PITREZ BELEZA CAIO MATTOS Jaqueta Brooksfield; shorts e tênis Stella McCartney para Adidas; relógio Chilli Beans

Rumo ao futuro Isabela Surian é a modelo que mais vezes deu o ar da graça por aqui. Das seis edições da Winkmag, ela esteve presente em três. Nas primeiras vezes, seu rosto foi o foco das atenções. Agora ela aparece de corpo inteiro, traduzindo com competência – e do alto de seu 1.78 metro – o crossover entre os guarda-roupas masculino e feminino.

Essa curitibana de 20 anos mora há quatro em Londrina, é fã de baladas alternativas, shows de rock e livros policiais. É também apaixonada por golfe. Quando morava na capital paranaense era atleta profissional e viajava pelo Brasil disputando campeonatos. Chegou a ganhar o título de campeã brasileira juvenil. “Gosto do esporte porque você não compete com outra pessoa, mas com o campo. É preciso analisar a direção do vento, as condições da grama. É um jogo que exige bastante concentração, mas, ao mesmo tempo, dá uma grande sensação de liberdade”, descreve. Descoberta por um olheiro da Ford Models aos 12 anos de forma “clássica”, ou seja, na saída do colégio, Isabela mudou-se para São Paulo depois de terminar o Colegial. Ficou lá por um ano, fez campanhas e desfiles na SPFW, e concluiu que aquele não era o seu lugar.

“Antes, ser modelo era tudo o que eu queria na vida; mas vi que não era para mim. Para ter sucesso, você precisa cair nas graças de alguém”, lamenta.

Seu biotipo, ela relata, também não ajudou. “Tenho ossos largos no quadril e, mesmo estando muito magra – eu pesava 49 quilos na época - reclamavam que a roupa não ficava reta em mim”, lembra. Para piorar a situação, as amizades foram difíceis. “As meninas não sabiam conversar sobre outros assuntos; não tinham conteúdo por falta de estudos”, observa. Isabela estava de viagem marcada para Milão quando desistiu da carreira, voltou para Londrina e deu novo rumo à vida. Com ajuda da mãe, decidiu-se pelo curso de Direito e hoje, já no terceiro ano, ama a escolha que fez. Seu tempo é tomado pelas aulas na UEL, o estágio no Fórum e o curso de francês. “Quero fazer Mestrado em Direito Ambiental na França”, planeja. Com o futuro alinhavado, modelar virou um hobby praticado em condições cada vez mais selecionadas. Sorte nossa que estamos entre os seus eleitos. w.

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