“tridi1”
Lara ezos 2021
Intro Olá, este memorial é um relato sobre a matéria de expressão tridimensional 1, aqui terá os meus processos e aprendizados dessa matéria, nas dimensões concepcional, procedimental e atitudinal, COMO UM DIÁRIO DE ARTISTA . Me chamo Lara, sou multiartista cursando artes plásticas na universidade federal da bahia, orientada pelo docente wagner lacerda de oliveira. aqui mostrarei minhas inspirações, meus processos e o resultado final. Será mostrado e descrito o passo a passo do meu trabalho com relevo, desde a primeira etapa da concepção das ideias e croquis até a finalização.
Dimensão concepcional.
“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.” - eduardo galeano
NOTAS INTRODUTÓRIAS Terra/barro, jaca, ancestralidade
há elementos simples que estiveram anos na minha vivência. De certo, permearam meu imaginário e até hoje me inspiram, transitam nas minhas criações. A primeira modelagem, teve como pauta um elemento da natureza, foi a fruta jaca que sempre odiei o gosto quando criança, mas hoje em dia amo a fruta in natura e processada. Ainda sobre a jaca, seu nome científico é artocarpus heterophyllus, ela é nativa do sul e sudoeste Ásia. seu nome "jaca" origina-se do termo malaialo “ chakha”. idioma do estado de kerala, no sul da Índia. Atualmente está presente em diversos países tropicais do mundo.
As loiceras de tacaratu. Este livro foi feito na minha Terra e mostra mulheres forte, artistas ancestrais de tradição indígena do sertão pernambucano. FEITO POR ANA ARAÚJO
CROQUI
Palavras soltas Transbordar Transformar Transmutar Espinho Rosa Flor
fruta jaca é espinhenta por fora e macia por dentro. Primeira ideia figura esférica com corte horizontal, formas irregulares na casca e no topo, mimetismo dos espinhos e da carne de jaca. ideia: figura da jaca como uma flor. marcações da casca ao redor
Materiais
Esta foi a lista de materiais para a disciplina proposta pelo professor: 20 kg de ArgilA, Arame flexível alicate, prego, tela de metal, bandeja e madeira, Jogo de estecas (ferramentas para modelagem), Pano para limpeza, Borrifador, Saco plástico para cobrir a argila, Gesso 10kg, Pigmento , Vaselina, papel metro ,ou revista ou jornal, Cola branca cascorez, vinagre ou formol, Outras opções : Biscuit porcelana fria e massa de modelagem,ou clay, plastilina (materiais mais caros que é opcional).
MEU MATERIAL Inicialmente fiz minhas ferramentas com gravetos, arame, cola, fitas, linhas e durepoxi. Depois consegui comprar - las pela internet. O barro ou argila foi complicado de conseguir, por estar no interior de pernambuco, para comprar pela internet teria um custo muito maior, principalmente pelo peso. Então minha cabeça se iluminou com uma ideia. No ano passado (2020), eu conheci um livro maravilhoso “As loiceras de tacaratu”, que é um livro de fotografia que mostrava os trabalhos feitos com barro. Entrei em contato com a autora do livro que me orientou pra achar as loiceras que poderiam me ajudar E ASSIM CONSEGUI A ARGILA PARA MODELAR.
Dimensão procedimental
“Vida é o desejo de continuar vivendo e viva é aquela coisa que vai morrer. A vida serve é para se morrer dela.” - Clarice Lispector
Primeira modelagem
Modelagem com barro
O professor nos orientou a fazer uma modelagem baseada num modelo real, naturalista, no meu caso foi a jaca. Inicialmente fiz uma modelagem simples, mas que rachou completamente, eu já não estava gostando e isso também me fez recomeçar. Outro fator foi o barro ,que tinha muitas pedras e isso restringia o acabamento ,principalmente nas partes que deveriam ficar lisas.
recomecei a modelagem da forma naturalista dei bastante atenção as texturas. Os bagos da jaca, fiz a textura com um pincel úmido, a casca com as estecas fiz os espinhos em formato cônicos. Quando finalizei a parte de esculpir e adicionar massa e aplicar texturas, deixei a peça dentro de uma sacola para evitar rachaduras.
segunda modelagem
Nesta o professor nos orientou para criação a partir do primeiro modelo e inspirações escolhidas. Utilizei de procedimentos como repetição e abstração das formas e elementos que são vistos na jaca e na jaqueira, me guiei na composição pelo equilíbrio no relevo, observando as alturas e tamanho dos elementos. Fiz uma cama de gato com pregos e arames, em uma forma de isopor ( não tinha de madeira).
Apesar das rachaduras, consegui passar um pincel com argila mais amolecida preenchendo as rachaduras pouco antes de fazer de colocar na caixa, para fazer o molde em gesso. Enquanto fazia a segunda modelagem, separei parte do barro que comprei para passar por um processo de filtragem que explicarei melhor ao final.
Filtrando o barro Se parei um saco de pano e um bastidor, coloquei parte do barro dentro de um balde grande 15L aproximadamente) preenchi com água o suficiente para que deixasse numa consistência de mingau. Em seguida utilizando a “peneira” fiz a filtragem.
Terceira modelagem
A orientação foi fazer uma modelagem em relevo que tivesse elementos humanos e da natureza, num formato de medalhão (circular). Entretanto, durante as aulas o professor deixou claro que as escolhas seriam livres,ou seja, ao critério do aluno, composição do medalhão e que aceitaria todos os trabalhos, mesmo que não tivesse o formato de medalhão. Desde que utilizasse os elementos humanos e da natureza.
Minha escolha principal foi algo complexo, que mais tarde fez eu me arrepender, pois subestimei o tempo e o trabalho de fazer uma peça grande com muitos elementos. Uma das obras que me inspiraram foi mostrada em aula pelo professor Wagner, a Madonna da Escada, um relevo feito por Michelangelo em mármore, esculpido entre os anos 1490 a 1492. A Outra obra é uma fotografia do livro as loiceras de tacaratu, que uso o fundo e as duas figuras de destaque, a mãe e sua filha ambas com potes de barro na cabeça. Junto com os elementos da fotografia,que no caso seriam os elementos humanos, modelei galhos, folhas e uma flor da planta beldroega, cientificamente Portulaca oleracea.
Quando retirei o molde de gesso da 3ª modelagem e comecei o processo de papietagem percebi que o prazo de entrega já estava muito apertado, então paralelamente comecei uma 4ª modelagem em argila. A composição mais simples e baixa, somente com uma face humana e dois galhos da beldroega, cada um com apenas uma folha, assim haveria um equilíbrio entre os elementos. (infelizmente perdi a foto da modelagem dessa peça em argila)
Forma negativa - Molde em gesso Esse processo de fazer um molde em negativo da peça com gesso nos foi orientado a fazer, já que a argila seria o meio transitório, para do negativo ser retirada uma peça em papel. No geral o procedimento para fazer o molde em gesso é colocar a peça em uma caixa, que não tenha buracos por onde o gesso possa escapar, em seguida colocar o gesso diluído em água cuidadosamente, também é importante colocar vaselina na peça em argila para aproveitá-la. O professor também nos orientou a fazer o molde somente da segunda modelagem, a primeira teria um caráter de inspiração e experiência com trabalho naturalista.
1º molde Apesar do nervosismo, já que era o primeiro molde que estava fazendo na vida, deu tudo certo. Utilizei aproximadamente 6 kg de gesso, alguns pedaços de papelão e bastante fita. Primeiro com o papelão e a fita, fiz uma caixa do tamanho adequado para a 2ª modelagem, usando a fita para unir os pedaços de papelão e também selar impedindo a umidade do gesso passar para o papelão. Untei a peça com óleo de linhaça (não tinha vaselina disponível,que seria o correto) e derramei o gesso em 6 camadas, delicadamente, para que o gesso não criasse bolhas. Quando o gesso secou retirei o papelão, cortei com estilete, em seguida separei parte da modelagem do molde e as outras partes que grudam na forma, retirei utilizando as estecas e água.
2º molde Basicamente o mesmo processo de retirada do primeiro molde, mas por ser uma modelagem grande e redonda, o papelão foi recortado de maneira diferente e tive que deixar a caixa sobre um suporte plano que aguentasse o peso do gesso e do barro. Com a modelagem dentro da caixa,coloquei uns ramos de beldorega, untei tudo de vaselina líquida e derramei aos poucos o gesso. quando secou retirei o papelão com estilete, em seguida separei a modelagem do molde,mas havia partes que grudaram na forma, que retirei utilizando as estecas. Quando finalizei a retirada da argila percebi que haviam buracos, mas como já estava sem gesso, preenchi com argila mesmo e parti para o próximo processo.
3º molde No processo de papietagem do segundo molde , percebi que já estava muito perto da data de entrega do trabalho, então resolvi iniciar o plano” B”. após fazer a modelagem com o tamanho bem menor, repeti o processo de fazer a caixa de papelão circular com fita, numa altura e largura adequada para a peça. Untei a modelagem e derramei o gesso, secou, já retirei o papelão com estilete, separei a modelagem do molde e iniciei a papietagem.
Forma positiva - molde em papietagem A Papietagem é similar com a técnica do papel machê, mas a diferença é que a papietagem geralmente usa papel rasgado imerso em cola e água, já o papel machê é feito de papel triturado com cola e água.
1ª papietagem Na primeira papietagem ainda estava sem vaselina, então utilizei óleo de linhaça para untar o primeiro molde negativo,coloquei o papel de molho no dia anterior somente com água. Uma técnica que preferi usar na primeira camada foi segurar o papel inteiro e com a ponta de um pincel apertar para rasgar o papel, direto na forma, formando uma trama mais rígida. Depois que preenchi a forma com uma camada apliquei cola pura, as camadas seguintes usei cola diluída, até as camadas preencherem a forma por completo.
2ªpapietagem Repeti o processo da primeira papietagem, no primeiro molde, mas no meio utilizei papel marchê para preencher a forma por completo, finalizando com uma camada de papietagem por cima e com papel craft nas primeiras camadas. Em uma bacia com desinfetante, diversos papéis e água aos poucos, para que não houvesse excesso de água e a cura da peça fosse demasiadamente demorada. Piquei o papel com as mãos e depois “desfiei” o papel com uma esteca, deixando perto da consistência de mingau. Deixei descansar e no dia seguinte apliquei o marchê em 3 camadas no molde que já tinha algumas camadas de papietagem, por conta da ansiedade para ver o resultado, tentei retirar prematuramente o positivo, mas o centro das camadas de papel marchê ainda estavam úmidas. Deixei as bordas para permitir uma melhor ventilação e no dia 27/ 4 /21 consegui finalmente tirar do molde a forma totalmente curada.
3ªpapietagem Comecei repetindo o mesmo processo da primeira e segunda papietagem, mas secando com um secador cada camada, fiz aproximadamente 20 camadas de papietagem e deixei secando. minha forma tem espaços mais profundos e outros mais rasos, o que me fazia ter que picar o papel já picado para que se fixasse nos formatos menores, mas nos platôs acabava perdendo tempo ao colocar pedaços pequenos em uma área maior e plana, além do entrelaçamento de camadas de papel ser mais fácil, me pareceu que processo que cria mais resistência. Então, por conta disso, continuei usando a técnica de rasgar o papel com o pincel.
4ªpapietagem e 5ªpapietagem Basicamente o mesmo processo das outras peças , mas feito no terceiro molde.
Forma positiva - molde em massa de cimento Por questões financeiras e de tempo, fiz somente uma peça de cimento. Usei um pacotinho de 2kg de massa pronta, misturei pigmento azul com água e derramei na forma já untada. Quando secou completamente, retirei da forma de gesso quebrando-a. O ACABAMENTO FOI FEITO COM TINTA VERMELHA.
PinturaS e finalizaçÕES 1ª peça Assim que retirei a peça do molde, fiz uma camada de cola pura, para assim selar o papel e unir as pontas soltas. A segunda camada foi de tinta de parede branca, a seguinte de verniz cor “mogno colonial”, por cima coloquei nanquim preto e com um pano úmido retirei a tinta das partes altas. Por cima dessa base fiz algumas listras vermelhas que são características dos Prayas, entidade ritualística da tribo pankararu.
2ª peça Quando tirei esta peça do molde haviam muitas pontas soltas, então fiz 2 camadas de cola com pigmento preto. Por cima da cola com pigmento, apliquei listras inspiradas nos prayas, mas dessa vez listras mais grossas,depois finalizei com a técnica de satiné com tinta bege clara, citada nas aulas. Outras técnicas de pintura faladas foram o douramento, marmorização (por imersão e normal), patina e provençal.
3ª peça AINDA ESTÁ SECANDO NO MOMENTO EM QUE ESTOU FINALIZANDO ESTE RELATÓRIO.
4ª peça
Quando retirei do molde percebi que na face, por ser muito pequena e o papel muito grosso, não apareceu todos os detalhes. Então pintei com várias cores, sugerindo os limites e volumes dos elementos. As primeiras camadas foram de tinta bege clara com cola, depois as outras cores, pois assim teria uma base para fixar melhor a cor.
5ª peça Utilizei papeis com uma gramatura menor ( mais fino ), Então, apareceu mais detalhes que na primeira peça do terceiro molde. Fiz uma primeira camada com cola e tinta turquesa.
DIMENSÃO ATITUDINAL
“Irmão, você não percebeu Que você é o único representante Do seu sonho na face da terra ? Se isso não fizer você correr, chapa Eu não sei o que vai.” - EMICIDA
PONTOS PRINCIPAIS Livros HAVIAM OS LIVROS DA BIBLIOGRAFIA, O Guia completa de escultura, modelado y ceramica: tecnicas y materiales (Barry Midgley ). E Arte e Percepção Visual ( Rudolf Arnheim) , MAS TAMBÉM ÁGUA VIVA (CLARICE LISPECTOR) E MAIS OUTROS FORAM RECOMENDADOS.
AULAS AS síncronas HOUVERAM EXERCÍCIOS PROPOSTOS PELO PROFESSOR, ALÉM DOS RELEVOS, FIZEMOS UM GLOSSÁRIOS E DUAS ATIVIDADES PARA RECONHECER OS TIPOS DE RELEVOS.
-diário O DIÁRIO DO ALUNO, É O ESPAÇO CRIADO PARA O ALUNO COMPARTILHAR CRIAÇÕES E DESCOBERTAS E QUE SOMENTE O PROFESSOR TEM ACESSO DIRETO PARA VISUALIZAR O CONTEÚDO.
-aulas síncronas MUITAS CONVERSAR E TROCAS ENTRE OS ALUNOS ACONTECERAM PELO WHATSAPP E DURANTE AS AULAS ONLINE, MAS O PRINCIPAL DESSAS AULAS ERA A ORIENTAÇÃO E CONTAMINAÇÃO ARTÍSTICA PARA A NOSSA PRODUÇÃO.
Conclusão
Me arriscando ser sincera demais, quero concluir dizendo que por muitas vezes desisti de fazer os processos, de ler os livros e de participar ativamente da aula. Acho que a principal dificuldade foi acompanhar diariamente os absurdos que nasceram durante a pandemia, isso tira motivação e suga a alegria de qualquer um, não importa quanto é grande o seu amor pela arte. Só agradeço profundamente pelas aulas, pelo conteúdo e aprendizados, porque mesmo dentro de um poço de frustração por não saber esculpir, nem conhecer a técnica inicialmente, essas coisas me fizeram seguir em frente, me ajudavam a recomeçar e passar a madrugada limpando sujeira que fazia, na mente e no quarto com o barro. Na terceira modelagem, percebi que enquanto limpava o barro de madrugada, naquele silêncio e cansaço do dia inteiro, minha mente repassava tudo que tinha dado certo e o que era preciso melhorar. Sempre tive um processo de aprendizado mais voltado para a prática, então entre as modelagens que o professor pedia eu fazia outras peças junto com minha irmã, inclusive uma das que ela fez se transformou em desenho. Dessa forma, posso constatar que foi uma experiência única, de muito aprendizado e persistência. Escrevendo este memorial vejo o quanto caminhei, o quanto li e conheci sobre um universo totalmente novo. Além de ter vivências com pessoas excepcionais, muito competentes e talentosíssimas . ARTE É TRANSBORDAR.