Amos e masmorras parte l

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Amos e Masmorras Primeira Parte Lena Valenti

PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES Revisão Inicial/Formatação: Lucilene Revisão Final: Sandra Maia


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Resumo: Cleo Connelly sempre quis ser como sua irmã Leslie. Por isso, quando decidiu trabalhar para a lei, Cleo a seguiu e se esforçou sempre para chegar ao seu nível. Mas só Leslie foi aceita no FBI, enquanto Cleo teve que se conformar em patrulhar sua cidade natal: Nova Orleans. Agora, Leslie desapareceu. O subdiretor do departamento do FBI visitou Cleo para pedir que os ajude e colabore em sua missão resgate, já que necessitam de um perfil parecido ao de sua irmã. A jovem policial, levada pelo medo e desespero, aceitará fazê-lo antes de entender em que tipo de missão estava Leslie envolvida: Um jogo chamado Dragões e masmorras DS? Drogas sintéticas afordisíacas? BDSM? Rede de tráfico de pessoas? BDSM?!! Se antes explicassem que teriam que instrui-la para fazê-la passar por submissa, talvez a resposta fosse outra… Submissa? Ela?! Mas se sua resistência à dor era nula e até as manicures a machucavam! Como se passaria por…? Maldição. É óbvio que sim. Por sua irmã faria qualquer coisa. Um momento… O inspetor disse que seu “master” seria Lion? Lion Romano??!! Vamos voltar atrás! O atrativo e arisco Lion Romano está devastado pela morte de seu melhor amigo Clint, encontrado morto enquanto trabalhava disfarçado na missão de tráfico de mulheres em que se achava envolvido junto com Leslie Connelly, uma das melhores agentes do FBI, cujo paradeiro se achava desconhecido. Lion fará o possível para recuperar Leslie, e se para isso precisar se infiltrar no jogo de BDSM com sua sexy, impetuosa e descarada irmã Cleo, o sacrifício valerá a pena. O que ninguém sabia era que submeter e instruir Cleo na arte da dominação e da submissão era algo que desejava fazer desde que a jovem completou sua maioridade. Ambos se engajarão numa aventura cheia de perigo e sensualidade, inclemência e crueldade, em que os chicotes e castigos marcam a realidade e o dia a dia. Uma policial com vocação de agente especial que não se acha submissa está a ponto de conhecer o amo que está destinado a submetê-la. Conseguirão salvar Leslie antes que se matem entre eles? O trabalho pode se misturar com o prazer? Os jogos terão início: os dragões saem de suas masmorras. Esta história se divide em duas partes. A Domesticação de Cleo pelas mãos de Lion, que se localiza na grande e escura Nova Orleans e em que descobrem um ao outro em seus papéis, e depois, o intenso e apaixonante torneio de dominação e submissão de Dragões e Masmorras DS. Não há margem para o aborrecimento. Nunca leu nada igual. Preparados? Prontos? JÁ!

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Inicie-se Faça a domesticação Prepare-se

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Capítulo 1

Um ano atrás Edifício J. Edgar Hoover. Washington D.C

Ninguém nunca sabe quando seu telefone vai soar, não é mesmo? O dia tem vinte e quatro horas, é longo para muitos e curto para outros... por que seu telefone decidiu soar como um histérico descontrolado justo naquele preciso momento? Estava a ponto de responder a pergunta número quinze da sua transcendente entrevista psicotécnica: “Como agiria se tivesse o assassino da sua ‘hipotética’ filha na sua frente?, perguntou o psicanalista. Até então, tudo estava saindo muito bem. Controlava o tic do seu pé, tinha as mãos cruzadas sobre o ventre, e escutava com porte sereno o interrogatório daquele especialista em controle mental. Cleo havia cuidado da sua aparência; informal, mas ao mesmo tempo sério. Jeans justos, sapatos negros de salto não muito altos, um blazer curto da mesma cor e, embaixo, uma camiseta sem estampas e ligeiramente colada ao peito. Prendeu o cabelo vermelho num coque alto, estético e respeitável; os óculos de armações negras, que a propósito não precisava, outorgavam um toque mais interessante e menos infantil aos seus olhos amendoados e felinos de cor verde muito claro. Só havia uma mesa que se interpunha entre seu futuro mais estimado e sua intranscedente realidade como policial da cidade de Nova Orleans. A sala onde acontecia a entrevista era espartana, não tinha móveis. Do teto pendurava uma lâmpada que iluminava diretamente seus rostos. As paredes eram brancas e nem sequer tinha cortinas na solitária janela. Quanto menos objetos houvesse que distraíssem a atenção dos interrogados, mais fácil seria ler suas mentes. — Senhorita Connely? — arqueou as sobrancelhas com expressão contrariada. Naziiistaaaaaaa! Naziiistaaa!, repetia o celular. — Não tenho filha, senhor. — contestou com cara de “não-está-soando-nenhum-celularque-chame-o-Hitler” Cleo lambeu os lábios. Suas mãos se umedeceram e, sem querer, seus olhos se desviaram à sua bolsa, justo na cadeira que havia ao lado do senhor Stewart, colada à parede. Se tão somente pudesse pegá-la e... —Estamos aqui para analisar suas reações diante de cenas de alto risco emocional, senhorita Connely. Ponha-se na situação, por favor. A empatia é um dos traços característicos dos agentes. 4 | PRT


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—Me perguntou no caso de eu ter uma filha? — pigarreou, desejando dar uma pedrada no celular. Naziiistaaaaaaa! Naziiistaaa!, agarre-o ou receberá um golpe de mangueira!, cantava o tom de chamada que personalizava sua mãe, Darcy. Que conste que a amava muito, mas era uma dessas mulheres que quando não atendiam seu telefonema de primeira, no espaço de umas horas aparecia na porta de sua casa com dois policiais para comprovar se tudo estava bem. Sim. Darcy era um pouco hipocondríaca. Naziiistaaaaaaa!, Atenda, esta mulher espirra dizendo: Auschwitz! Não baixaria o olhar. Não o faria. Aguentaria estóica os óculos brilhantes do psicólogo que devia avaliar suas aptidões psíquicas e emocionais, e faria como se não houvesse um tom polifônico a alertando sobre os riscos de não atender a chamada de uma possível ultradireitista. Esperava que o senhor Stewart também tivesse a mesma facilidade de abstração que ela. O homem, que rondava os sessenta anos, subiu com o polegar as lentes de metal. —E bem? —Sinceramente, é difícil me colocar nesse papel… — Levantou a mão e afastou umas das mechas de sua franja vermelha que lhe roçava a pálpebra esquerda. Usava-o muito comprido, dizia sempre Leslie. Mas gostava assim e, se o colocasse todo de um lado, penteado no estilo Kennedy, a favorecia muito e parava de incomodá-la. “Concentre-se, por Deus”— Suponho que uma mãe faria qualquer coisa para vingar a morte de seu filho. Todos somos Sally Field em Olho por olho —Merda. De verdade disse isso? O velho a olhou carrancudo, sem compreender sua resposta. Um tic começou no olho esquerdo de Cleo. Naziiistaaaaaaa! Atenda-o antes que corte a barba e o cabelo! —Sabe —continuou Cleo. É óbvio que não sabia. Esse homem tinha aparência de continuar vendo filmes do oeste. Talvez desconhecesse quem eram Sally Field e Kiefer Sutherland. —Não. Não sei. —Entrelaçou os dedos sobre a mesa, inclinando-se para frente com interesse—Explique-me isso. —No filme, Sally Field não descansa até ver morto o assassino de sua filha. —Isso quer dizer que faria justiça com suas próprias mãos? Que, se tivesse diante se si o homem que arrancou o último suspiro de vida de sua filha, o mataria? 5 | PRT


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Engoliu saliva audivelmente. —Às vezes a lei não pode compreender a dor de uma pessoa ao perder aquilo que mais ama. —Não confia no sistema, senhorita Connelly? —Sim, é óbvio que sim. —A coisa começava a ficar feia— Mas os impulsos dos humanos não são racionais quando se trata daquilo que devemos proteger. Posso entender a ira. —Você o mataria? Apertou os dentes e ficou no lugar de Sally. Matá-lo ou não matá-lo, essa era a questão. —Não estou segura. Mas, se sem ser a mãe dessa menina já sinto vontade de esquartejá-lo; imagine o que faria se o fosse. —Não é a resposta mais adequada para alguém que deseja trabalhar para o principal ramo de investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Para que serve o sistema então? —Em minha defesa direi que está me descrevendo casos extremos. E acredito que qualquer pessoa com coração e vísceras responderia como eu. E, se disserem o contrário: mentem. —OH, que bom. Por fim utilizou essa frase com convicção e sentido contextual. —Insinua que todos os agentes do FBI mentiram. —Sentenciou com voz monótona— Que passaram nos testes psicotécnicos e nas entrevistas psicológicas com base em falsidades. Insinua isso? —Não insinuo nada. —Desviou os olhos verdes para a janela daquele consultório num dos escritórios centrais de Washington. O sol penetrava pelas persianas metálicas e iluminava o lado esquerdo do superalimentado rosto do senhor Stewart— Só digo que, dependendo do momento, as pessoas não têm nem o temperamento nem a paciência para esperar que outros vinguem seus direitos. Adoraria quebrar os braços e pernas desse mal caráter e logo o entregaria ao Estado, desejando que o enviassem a um cárcere só para homens e sem um grama de vaselina. Mas Sally, a mãe em questão, o esfolaria e logo o queimaria vivo. —Fala sério? —estava escandalizado. —Você tem família, senhor Stewart? —As pessoas que trabalhavam no FBI não eram robôs. Não acreditava que alguém não tivesse respondido o mesmo que ela. A empatia era sentir a dor do outro; e ela se pôs no lugar de uma mãe desgraçada, morta de raiva e dor porque um sacana sádico decidiu acabar com a vida de sua filha. E todos outros que passaram por essa mesa responderam que avisariam a polícia para que outros se encarregassem disso? Não acreditava. —Sim, senhorita. Mas isso não vem ao caso. De verdade agiria desse modo tão…? 6 | PRT


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—Impulsivo? —Vingativo —corrigiu desaprovador — Tem alma de vingadora. —Não! —exclamou frustrada— Eu… Naziiistaaaa! Está irritado! Este celular vai explodir em três… E dois… Um! Boom! O tom de chamada cessou. Cleo podia imaginar sua mãe, Darcy, deixando uma mensagem. Um dos típicos: “Alô? Cleo? Querida? Está aí?” Não entendia como podia deixar sempre essa mensagem quando de sobra sabia que estava falando com a secretária eletrônica… —Você tem outra irmã trabalhando no FBI. A senhorita… — O doutor Stewart inclinou a cabeça e recolocou os óculos para rebuscar no relatório. —Leslie. Ah, sim. Uma agente brilhante. —reconheceu com orgulho. Depois de enumerar todos os êxitos em missão de Leslie, perguntou: — Quer seguir seus passos? Cleo entrecerrou os olhos. Leslie era sua irmã, um exemplo a seguir para ela. Era três anos mais velha e a adorava. Quando crianças fizeram a promessa que sempre estariam juntas e que limpariam as ruas de toda a podridão e delinquência. Tinham vocação de super heróinas e nenhuma das duas podia evitar. Era o que acontecia quando crescia numa família cheia de policiais: ou fugia das armas durante toda sua vida, ou se afeiçoava a esse ambiente. E elas se tornaram fãs. É óbvio que gostaria de trabalhar com Leslie. O que tinha de mau em querer conseguir os mesmos louros? Em ficar com sua irmã? Mas não estava ali só por isso. O FBI englobava aquilo que mais gostava: as investigações sobre violações dos crimes federais. Agarrar os mais malvados, os mais perigosos, a imundície humana. Bom, bem cuidadosa, talvez sim, tivesse alma de vingadora. —A questão, senhorita Connelly, é que se entrar no sistema, é para respeitá-lo. —As mechas de cabelo branco que iam do lado esquerdo ao direito para dissimular sua calvície, se deslocaram ao selar com resolução as folhas de seu relatório geral, dando-lhe um aspecto de Gollum desalinhado. O homem estampou em seu relatório duas palavras que a afundaram na miséria e na indignação— Não apta. —Não apta?! —exclamou se levantando, plantando as mãos sobre a mesa— Mas… por que? Por ser honesta?! Tenho qualificações que não podem ser melhores em todos os demais ramos. Sou uma atleta e falo quatro malditos idiomas… Tenho a melhor nota em Investigação Criminal e… E só porque reconheci que adoraria dar uma lição a…?

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—Senhorita Connelly —o psicólogo levantou a mão para deter seu falatório. — O cárcere, infelizmente, está cheio de pessoas que pretendiam dar lições a outros. Você deveria proteger e se assegurar que esse tipo de comportamento vingativo não se repita. Para isso existe a lei e os estatutos federais. Acabamos. Agora, se me desculpar. Se o desculpava? Não! Não o desculpava! A estava julgando erroneamente! —Deveria trabalhar seu irascibilidade e essas inclinações homicidas que tem. — acrescentou o senhor Stewart antes de fechar a porta— E também deveria mudar o tom de chamada de seu telefone. Continua sendo policial em Nova Orleans e essas mensagens incitam à violência. —E você deveria comprar um maldito aplique! O psicólogo deu uma portada ao fechar. Com a vista fixa na porta, Cleo agarrou sua bolsa e se deixou cair na cadeira. Não podia ser. Acreditava que tinha tudo controlado, mas estava muito equivocada. Um suco de laranja de caixinha, um sanduiche e uma frasqueira de maquiagem depois, encontrou seu iPhone estilizado com uma capa negra que tinha uma placa de xerife estampada na parte traseira. Uma chamada perdida. Uma mensagem na secretária eletrônica. —Ai, mamãe. —Apoiou a mão sobre a testa enquanto fazia negações com a cabeça— Que oportuna —embora fosse sua culpa por não pôr o telefone no silencioso. Ligou sua secretária eletrônica e escutou com um triste sorriso as palavras e a voz reconfortante de sua mãe. —Olá? Cleo? Querida? Está aí?

***** —Gritou que ele comprasse um aplique?! —Leslie Connelly lutou sem êxito para não começar a rir diante de sua irmãzinha. Cleo parecia muito aborrecida, e nem sequer o Frappuccino de café que lhe trouxe assim que saiu de sua entrevista psicotécnica levantou sua moral. —Não grite comigo você também —respondeu angustiada— Esse homem foi odioso. Estavam sobre a divisão do mirante do monumento a Washington. Ao lado, estava Abraham Lincoln, como observador de seu fracasso, e mais afastados se estendiam o Capitólio e o Obelisco, 8 | PRT


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no mini conversível negro de Cleo. Sentadas no capô, meio recostadas nos vidros dianteiros, admirando a vista que havia do estacionamento localizado na frente do Instituto Smithsonian. Cleo deu um longo gole em seu Frappuccino e olhou sua irmã de soslaio. Era mais alta, quatro dedos pelo menos. As duas tinham compleições parecidas, esbeltas e acentuadas, embora, certamente, das duas, Leslie era a que entesourava formas mais exuberantes. Seus traços faciais eram similares. Mas onde Cleo era ruiva mogno, Leslie era morena. Ambas de cabelo liso e comprido. Sua irmã mais velha tinha olhos cinzas, diferente dela, que os tinha verdes claros. E enquanto que em Cleo saíam covinhas no queixo quando ria, as de Leslie se manifestavam nas bochechas. Mas, embora houvessem diferenças, havia essa herança irlandesa que as fazia muito parecidas. —Isto é uma merda. Fiz o curso no Quântico e tudo estava como deve ser, com aproveitamentos excelentes. Mamãe me liga, e o celular começa a cuspir: Naziiistaaa! Naziiistaaa! Leslie negou com a cabeça. —Deveria mudar o tom de chamada. —Sei… Queria trabalhar aqui, com você —choramingou como uma menina pequena, se apoiando no ombro de sua irmã— Adoro o FBI. —Não tem importância, C —a tranquilizou sua irmã— No próximo ano pode tentar de novo; e eu poderia falar com meu chefe para que a recomendassem e… —Não. Nada de recomendações. — sorveu seu café frio do Starbucks. — Não ao empreguismo — elevou seu copo brindando com um amigo imaginário—Embora vá se danar por não me aproveitar. Leslie começou a rir. —C, é feliz em Nova Orleans. A delegacia de polícia inteira a respeita muitíssimo. —Porque sou a filha do herói da cidade, L. —Porque sozinha afastou a máfia do Bairro Francês, irmãzinha. E também — deu de ombros, — porque é uma Connelly. Além disso, esta foi sua primeira tentativa. No final, conseguirá. No final. Quando? —É feliz aqui, L? 9 | PRT


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—Em Washington? Sim — sorriu e apareceram suas covinhas nas bochechas—Mas é duro. Este é um trabalho complicado — seu olhar escureceu. — Agora mesmo estamos nos preparando para uma missão de alto risco. E estou no caso. Cleo se ergueu sobre os cotovelos e abriu a boca, impressionada. —De verdade, L? —perguntou emocionada— Pode me dizer do que se trata? —É óbvio… —respondeu olhando-a com carinho— que não. Sou uma agente especial. —Mas isso é muito emocionante! — exclamou com olhos sonhadores— Está bem, respeito sua privacidade. —Emocionante? —repetiu olhando o horizonte— Pode ser, mas corre o perigo de mudar, porque também é absorvente. Cleo bufou e observou os sapatos de salto que repousavam no chão. Nunca arranharia a carroceria de seu Mini. —Absorvente é escutar a senhora Macyntire todos os dias dizendo que seu cão desapareceu. Esse cão é um garanhão e está deixando prenhas às cadelas da cidade. Disse-lhe que se o castrasse não escaparia de casa para se atirar em qualquer cadela que cheirasse a vinte quilômetros pela redondeza… Sua irmã soltou uma gargalhada e a abraçou com força. —Ai, sinto tanto sua falta, C. Cleo se admirou ao ouvir aquele tom lastimoso em Leslie. Ela também sentia saudades dela. —E eu a sua. Mas, acha que deveriam castrá-lo ou não? —A quem deveriam castrar? Votarei contra. A voz masculina e penetrante do companheiro de Leslie fez o cabelo da nuca de Cleo se arrepiar. Lion Romano. O melhor amigo de infância de Leslie, porque seu amigo não foi nunca, claro. Os três cresceram juntos. Ambos queriam ser policiais; brincavam de polícia e ladrão, de detetives particulares… E agora a dupla L trabalhava junto. E C não entrou na equipe. Cleo se sentiu mal ao perceber que só ela ficou para trás. Minha mãe, fazia anos que não via Lion. Leslie explicou que ele foi promovido e que agora estava no comando de várias operações, entre as quais destacava a dela, da qual não queria falar. Quando anunciou pela primeira vez que ele era seu superior, não podia acreditar. Alegrou-se por ele, porque tinham uma amizade passada. Muito passada… 10 | PRT


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Na realidade, foram amigos alguma vez? Não. Lion a aguentava porque era o modo de continuar com Leslie, e Cleo era muito consciente disso. Para ele, era a menina chata que os seguia por todos os lados e não os deixava em paz. Certo… Ruborizou ao pensar que fazia o mesmo agora: queria chegar até onde eles chegaram. Mas se imaginasse ter o arisco Lion como chefe, saíriam hematomas em seu rosto. Cleo se virou para olhar por cima do ombro o indivíduo que a fez passar o pior quando eram pirralhos, e, ao fazê-lo, algo em seu interior parecido a um alarme de incêndios se ativou. Engoliu saliva. Menos mal que tirou os falsos óculos de grau; agora usava óculos escuros Carreira e não se notava que tinha os olhos abertos como pratos. Lion era um homem sexy até o impossível, rígido até dizer basta, e estava bom daqui até a lua. Os anos o alargaram, e embora sempre fosse esbelto, mas musculoso, agora defendiam seus ossos quilogramas de músculos perfeitamente delineados. Diziam que os homens cresciam até os vinte. Lion era o exemplo perfeito que se podia estar em permanente crescimento. Tinha a cabeça com corte militar e, sob os óculos de aviador da Gucci, Cleo sabia que continuava conservando aquele olhar de olhos azuis escuros que a deixava nervosa e hipertensa sempre que a atenção recaía nela, o que ocorreu muitas vezes, e sempre de mau humor. Além disso, era uma das pessoas com cílios mais longos, curvos e espessos que viu em sua vida, e possuía um queixo tipo Kirk Douglas que despertava sua luxúria mais pervertida. —E bem? —perguntou Lion apoiando as mãos em sua cintura, como se estivesse preparado para passar uma reprimenda. Tinha um capacete negro pendurando no antebraço e usava camisa preta, calça de pinça bege e botas de cano longo marrons escuras. — Pequena Cleo — enfatizou com sarcasmo—, conseguiu? Cleo umedeceu os lábios. —Quem o convidou? —perguntou a Leslie o assinalando com o polegar. Sua irmã levantou seu Frappuccino e sorriu, fingindo muito mal uma desculpa. —Culpa minha. —Não conseguiu, verdade? — perguntou ele, arrebatando o copo das suas mãos e o girando para beber por onde ela estava exatamente bebendo. 11 | PRT


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“Toma beijo indireto”, pensou Cleo. —Ei! Isso é meu! Compre um! — reclamou descendo do capô e ficando nas pontas dos pés. Lion arqueou as sobrancelhas e levantou o copo por cima de sua cabeça. —Pegue-o, hobbit. —Oh, será…! —Saltou acima e abaixo, tentou tirar o copo da Starbucks. Mas não houve como. —Vejamos, por que não a aceitaram? —perguntou Lion bebendo de seu novo refresco — Tinha tudo ao seu favor! Vi os resultados de seus exames e eram todos perfeitos. —Investigou meus exames? — perguntou irritada. —Mmm… Que gostoso isso! — murmurou bebendo seu café. — O que aconteceu? Abriu muito a boca? Leslie girou os olhos e disse: —O que respondeu quando perguntaram sobre o que faria se pusessem à sua frente o assassino de alguém muito ligado a você? Lion sorriu incrédulo. O que teria respondido a ingênua Cleo? —É óbvio —respondeu ele, —avisaria às autoridades e, caso a situação o permitisse, o dominaria, leria seus direitos e eu mesmo o processaria. —Mente! — Cleo o assinalou com o dedo, ofendida por sua hipocrisia— Tem que se pôr na mente dessa pessoa e não pensar como um agente federal! Não acredito que faça isso. —Disse que se encarregaria disso, verdade? —perguntou Lion sabendo a resposta— É justamente o que não querem ouvir. Deixou muito fácil. —Foi uma cilada. —Se desculpou, apoiando o traseiro no capô, junto de sua irmã— Além disso, me disse que me colocasse na pele da mãe da menina. É óbvio que disse que “se fosse ela” provavelmente o mataria. —Sei. Mas a lei e a correção começa pelo cidadão, ruiva — emitiu uma gargalhada. — Um agente do FBI não é o pato justiceiro. Cleo apertou os lábios e olhou para o outro lado. Odiava que agisse assim com ela. Sempre a provocando, sempre a corrigindo e aporrinhando. Passavam os anos e não mudava. Tinha vontade de chutar seu perfeito traseiro.

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—Não seja tão duro com ela. — o repreendeu Leslie — Minha irmãzinha é honesta e simplesmente disse o que todos pensávamos. Mas faltou malandragem e reagir rápido. Lion sorriu com mais ternura e deu de ombros. Aproximou-se dela, oferecendo o Frappuccino que roubou. —Conseguirá no ano que vem. Se quiser posso falar com… —O que o faz pensar que precisarei de sua ajuda, Lion? Conseguirei; embora talvez volte a pensar nisso, se conseguir significa ter um superior tão metido a besta e ególatra como você. Não sei como minha irmã o suporta. Lion sorriu abertamente e mostrou sua perfeita e branca dentadura. —Touché. Adoro que me trate mau, neném. Leslie pigarreou enquanto os olhava divertida. —Não pode ser que já estejam assim. Passam anos sem se ver, e continuam se tratando como cão e o gato. —É ele! —queixou-se Cleo jogando o Frappuccino vazio no lixo— Tenho que ir. Na delegacia de polícia só me deram um dia de licença para assuntos pessoais e tenho que retornar amanhã. —Venha jantar conosco —a convidou sua irmã. — É muito cedo... Está indo muito cedo — a abraçou. — Não é suficiente. —Sei, irmãzinha. —respondeu ela dando um olhar assassino para Lion —Mas virei visitá-la. —Estarei muito ocupada —esclareceu Leslie sobre seu ombro. — Entrarei em contato com você, certo? —De acordo —se beijaram na bochecha, — agente especial. —Ossos do ofício, querida—pôs voz cômica e a apertou pela última vez. — Logo será sua vez. Lion se colocou na frente dela e baixou a cabeça, pondo a bochecha morena perto da boca de Cleo. —Não vai me dar um beijo de despedida? Cleo ficou vermelha como um tomate e franziu o cenho. Se desse demonstraria que não se importava. E se não o desse refletiria o muito que a afetava o que ele dizia. Sempre igual. Está bem, o faria. Que sacrifício tão grande beijar esse gigante Adônis do sexo e da lascívia!

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Cleo foi dar um beijo na bochecha e, de repente, o malvado Lion girou o rosto e plantou um beijo direto nos lábios. Um beijo com um pouco de ponta de língua. Cleo deu um salto atrás, se afastando dele. Esse homem tinha eletricidade na boca? Lion se ergueu pouco a pouco e sorriu como só um homem com um pacto com o diabo podia fazer. —Lion! —exclamou Leslie, divertida. — Não a incomode! —Sua irmã me persegue. —respondeu ele sem lhe dar importância. —Vou embora — respondeu Cleo, limpando os lábios com a manga do blazer negro. Entrou no carro como um foguete e ligou o motor. —Está muito bonita! Foi um prazer vê-la, Cleo! —gritou Lion levantando a mão, se despedindo dela e rodeando o ombro de sua irmã Leslie como se representasse uma cena feliz e caseira da casa da pradaria. Cleo deu a volta com o carro, levantou a mão ao passar diante dele e mostrou o dedo do meio. —O mesmo digo, cretino —respondeu entre dentes, observando como sua irmã e seu chefe ficavam menores quanto mais se afastava. O pior de sua visita à Washington não foi sua monumental cagada com o doutor Stewart. O pior foi deixar que Lion a beijasse. Por favor, ia sonhar com esse beijo todas as noites. Que patética era.

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Capítulo 2 Um ano depois — Por que não olha no jardim do vizinho? Aposto que Sansão estará montando a Chihuahua do senhor Spencer. Senhora Macyntire, pelo amor de Deus… —Cleo apoiou a testa sobre a mesa de seu escritório de Nova Orleans enquanto escutava o discurso diária da anciã. — A população mundial de cães de rua cresceu graças ao seu querido bulldog. —Não diga baixarias, jovenzinha. —Não o faço, senhora — esfregou o rosto com a mão livre. — Mas todo dia me liga dizendo que Sansão não está e que desapareceu. E a cada noite Sansão retorna à sua casa para que o alimente e o coloque para dormir na cama. —Sim, mas um dia te ligarei, e Sansão terá desaparecido de verdade. É um cão muito velho e algo pode acontecer com ele. —Senhora, acredite: enquanto houver cadelas no mundo, Sansão será imortal. Toc toc . Bateram na porta de seu escritório. —Tenente Connelly. —O oficial Tim Buron elevou a mão para se despedir de sua superior. Já tinha acabado seu turno diário. Cleo girou os olhos e soletrou com os lábios: “Atire em mim. Atire em mim!” O rosto ruborizado do loiríssimo e bom Tim se iluminou com um sorriso. —É a senhora Macyntire? —sussurrou assinalando o telefone. Cleo assentiu cansada. Tim soltou uma risadinha e disse: —Sorte. Cleo o dispensou com um gesto de seu queixo. Manteve a conversa com a anciã cinco minutos mais, até que localizou o cão através do chip e disse em que esquina estava: na rua Perdida com a União. —OH, ali fica a poodle de Margaret. — conveio a mulher emocionada. —Não me diga? —perguntou fingindo assombro— Pois, então! Está mais tranquila? —Sim, bonita, obrigada. Que Deus a abençoe… — A você, senhora Macyntire. E ao Sansão. 15 | PRT


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—E aos Estados Uni… —Amém —entortou os olhos. Depois de desligar o telefone, levantou e analisou os informes de denúncia por maus tratos que recaía sobre Ben Fleur, e a pequena rede de traficantes adolescentes que assediavam as escolas de A Salle, Cabrini e Ben Franklin. Cleo e o chefe de polícia, Magnus, já tinham repassado as áreas de ação dos grupos. E amanhã previam encontrar o facilitador das pastilhas de ecstâse: o chefe. E, finalmente, cravou a vista com tristeza na nota que Magnus deixou na tela de seu computador: “Billy Bob está fora”. —Porra… Como pode ser, Martha? —se perguntou, sem poder acreditar que esse espancador estivesse livre de novo porque sua mulher retirou as queixas. Havia coisas que não podia controlar; e o medo e a estupidez das pessoas, eram duas delas. Saiu de seu escritório e dirigiu seu Mini até sua casa, na rua Tchoupitoulas. Não podia dizer esse nome sem cair na risada e pensar que quem pôs o nome adorava os “Tchoupitos”. Nova Orleans era uma cidade muito tranquila. Depois de ser parcialmente destruída pelo Katrina, responsável pela morte de mais da metade da população, os cidadãos tomaram consciência de tudo aquilo que os rodeava, e desde que se levantaram da tragédia, a cidade vivia numa relativa e saudável paz. Obviamente, não queria dizer que fosse uma cidade de santos, tampouco. Menos mal que estava no Bairro Francês, uma linda área e muito popular, repleta de casas de todas as cores e ambiente muito noturno, onde havia clubes e restaurantes onde sempre soava no fundo o imortal jazz… E onde a cada três passos também se encontrava um clube de striptease ou um bordel camuflado. Ela, sempre que passava por ali, dizia a si mesma: “Bem-vinda ao Bairro Francês, onde podem tocar o que quiser: o saxe ou o sexo”. Continuava havendo vício e álcool, jovens se encarregando de alimentar as brigas de bairros e cometer um ou outro roubo ocasional… Mas não. Nova Orleans não era o Bronx. Sim, não faltava trabalho. Não obstante, sentia falta dessas emoções fortes que sonhava experimentar desde pequena. As mesmas que a recordavam que estava viva. E perseguir Sansão ou vigiar um grupo de garotos em fase de experimentação não era nada arriscado, nem nada pelo que pudessem lhe dar uma medalha à honra. A Leslie sim, a dariam a qualquer momento; e Cleo se emocionava somente em pensar. 16 | PRT


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Seis meses atrás a promoveram, isso sim. Magnus, o atual capitão de polícia, a promoveu de sargento a tenente. Por que? Porque deteve Billy Bob a ponto de matar sua mulher, Martha, a golpes. Seus pais estavam tão orgulhosos dela que não cabiam em si de emoção. Mas para Cleo era difícil fingir que se sentia bem e feliz. Para que a entendam: adorava seu povo, sua cidade. Mas ansiava estar em Washington, onde se geravam a maior parte das decisões estatais. Talvez pecasse por ambição, mas essa era sua natureza de super heroína. E fazer o procedimento de Heimlich com o velho Luke porque pela enésima vez engoliu a ponta de seu cachimbo de madeira não era nada pelo que se podia soltar foguetes. Sim. Salvou uma vida. Mas… não havia nada mais? Pois sim! Por isso, em uma semana, realizaria de novo a seleção para entrar no FBI. Faria tudo maravilhosamente e não se deixaria enganar pelo maldito Stewart. Não. Desta vez diria aquilo que o velho Gollum desejava ouvir. Tchoupitoulas Street Sua casa era um lindo chalé de quatro cômodos com jardim traseiro e alpendre dianteiro. As casas em Nova Orleans são as típicas casinhas que se vêem nos filmes: de madeira, grandes, amplas, e com muitas cores; complexos residenciais onde quase todo mundo se conhece. Cleo morava numa dessas. A chamavam de mista, de madeira e tijolo, e estava envernizada de cores brancas e azuis, com vasos de madeira cheios de flores com muitas tonalidades. O chão do interior era de parqué claro, e as paredes pintadas de cores neutras. Cleo vivia sozinha, acompanhada de um pequeno camaleão que chamava Ringo, como o do filme. O deixava sair pelo terrário e o soltava pelo alpendre, entre as plantas e os canos de bambu. Assim dizia que o pobre animal fazia um pouco de exercício. O alpendre era decorado por um conjunto de cadeiras e poltronas de vime de cor marrom escura, com almofadas brancas e vermelhas. No jardim tinha uma pequena jacuzzi bi termal. Quando queria, e suas necessidades solicitavam, era água fria ou quente, e a usava tanto no verão como no inverno. Cleo adorava tomar banhos noturnos entre borbulhas, ao som da música de Enya e o som dos grilos durante algumas dessas poucas noites de sábado que estava livre. Magnus, seu muito bonito capitão de polícia, sempre insistia em se auto convidar quando ela tinha festa. E quando dizia muito bonito, referia-se a um mulato muito alto de olhos turquesa e costas de aço. 17 | PRT


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Mas Cleo consideraria um muito grave erro manter mais que uma estrita relação profissional com seu chefe. Por esse motivo, e muito educadamente, sempre o rejeitava. Mesmo assim, se havia uma palavra que definia Magnus, essa era perseverança; portanto, o homem não parava de tentar uma e outra vez. O que via nela? Só ele sabia. Subiu para seu quarto e tirou a roupa de rua para vestir seu shorts, seu top e luvas Adidas rosa e preta de boxe. Prendeu seu cabelo num rabo de cavalo alto e vermelho. Depois de sua jornada trabalhista gostava de espairecer com o saco de pé Lonsdale que tinha no jardim. Um murro acima, dois seguidos no centro…, chute! E voltava a repetir. Executava seus movimentos no ritmo de Something For The Pain de Bon Jovi, quando a música de seus fones parou e deu lugar à chamada de sua mãe, Darcy. —Mamãe. —Olá, céu. Como está? —Igual ao meio-dia, quando me perguntou o que comia — deu um salto e chutou o saco com a perna direita. —Querida…, sabe alguma coisa de Leslie? — perguntou com voz trêmula. — Nunca passou tantos dias sem nos dizer nada. Ela sempre fala conosco, de um modo ou de outro, e seu pai e eu estamos preocupados. Cleo parou e ficou com a vista fixa no saco vermelho. Fazia três dias que sua irmã não entrava em contato com ela para nada. Seu telefone estava desligado e não o podiam rastrear. Não havia como localizá-la, e a verdade era que Cleo estava tão preocupada com ela que não queria pensar muito. Leslie apareceria. Ligaria. Como sempre acabava fazendo. Entretanto, entre as irmãs havia uma espécie de conexão especial. Sempre a tiveram. E Cleo sentia um buraco no estômago enquanto essa intuição negativa sobre a saúde e o bem-estar de sua irmã sacudia todas as suas sinapses. Não queria pensar negativo, mas Leslie nem sequer mandou um mail com a conta falsa que criou. —Não, mamãe. Não sei de nada. Mas não se preocupe. Leslie é muito inteligente e sempre sai de todas as confusões nas quais se mete. —Sua irmã é uma agente infiltrada do FBI, Cleo. Suas confusões não são quaisquer confusões — respondeu mais dura que pretendia soar. —E as minhas sim? 18 | PRT


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—Oh, senhor, Cleo… Sabe que não é isso o que quis dizer —se desculpou sua mãe. — Não poderia estar mais orgulhosa das duas. Cleo exalou o ar e apertou a ponte do nariz. —Sei, mamãe. Também estou nervosa por esta ausência muito longa da tola da Leslie. Mas tenho certeza que nada aconteceu com ela. Já sabe como são as missões secretas. —Não, querida, não tenho nem uma chata ideia. Começa a falar comigo como seu papai. Acredita que sou uma eminência em categorias policiais e estatais, mas sou uma humilde ignorante. Sei que você e ela se põem em perigo porque puxaram o mesmo cérebro de seu pai e sua mesma inconsciência. Mas não me fale de missões secretas porque a visualizo vestida de camuflagem e não me sinto nada bem. Não. L não estaria assim. Mas, dado que desconhecia a natureza da missão que estava envolvida, não sabia que tipo de vestimenta usava. Cleo sorriu e tirou as luvas. —Olhe, mamãe. Assim que souber algo dela te aviso, certo? —Certo, céu. Já paquerou com o grandalhão moreno com nome de sorvete? Subiu os degraus do jardim e entrou na sala. —Meu chefe se chama Magnus, mamãe. O sorvete se chama Magnum. —Sim, Tom Selleck, que bonito era… Oh Por Deus, Bill! —O que foi esse ruído? —perguntou subindo a escada de dois em dois degraus. Entrou em seu quarto para ligar a água da ducha. —Esqueci de fechar a porta do forno… —A mesma que papai repete uma e outra vez que feche quando acabar de usar? —Mas que merda, o que…! —ouvia seu pai dizer ao fundo— Minhas costas! —Sim, acredito que sim —respondeu Darcy com voz contrita. — Vou indo, céu. Me ligue assim que souber de algo. —Sim, mamãe. —Amo você. —Amo você.

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Despiu-se e se meteu sob o jato da ducha, que destilava jorros constantes de água quente. Mmm… Seu xampu cheirava a morango e era tão brega que adorava. Onde já se viu uma tenente apreciando essas quinquilharias de mulheres? Onde? Na ducha de Cleo. Rápida e veloz, meio que secou o cabelo e cobriu seu corpo com sua calça azul curta e a camiseta que usava para dormir em que dizia: “O corpo da polícia está bom assim”. Com uma salada e um par de peitos grelhados, sentou sobre seu velho sofá chaise longue e pôs um de seus filmes favoritos: mas mal o olhava porque não parava de verificar seu telefone. Três dias era muito para Leslie. No que estaria metida? Por que não entrava em contato com ela? Se tivesse o telefone de Lion talvez pudesse falar com ele e perguntar, embora ouvir sua voz a levasse a momentos de frappuccinos e beijos roubados. —Não vá por aí, amigo. — disse ao seu cérebro. Não tinha pilhas para seu pequeno Dom Consuelo. E se não havia pilhas, não havia pensamentos febris. Lion Romano… “Basta. Basta. Não vá para a luz, Cleo”. Deu um gole em seu chá de pêssego gelado e com o notebook sobre as pernas verificou os e-mails. Nem rastro de sua irmã. Estava tentadíssima a ligar para sua amiga Margaret, a Hacker que trabalhava para a polícia de New Orleans, e pedir que localizasse o último IP de onde Leslie se conectou e enviou o último mail.

De: L Para: C Louquinha, estou bem. Não tenho muito tempo para escrever, mas me alegra comunicar que estamos a ponto de fechar o caso. Logo entrarei em contato. Um beijo muito forte, querida. L

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Isso queria dizer que, fosse o caso que fosse, já estava quase resolvido, não? O certo era que agir como um infiltrado do FBI tinha muitos riscos e, também, semeava insegurança nas pessoas mais próximas ao seu círculo. Olhou para Ringo. Fazia meia hora que o camaleão tentava se camuflar com a almofada verde onde estava brincando. Ringo sofreria por ela quando entrasse no FBI? Ao ver que começava a ter paranóia ao imaginar L em situações delicadas, agarrou Ringo entre suas mãos e o elevou até a altura de seus olhos. —Ei, Ringo —sussurrou, acariciando sua cauda— Ringo, me olhe… me olhe —por uma estranha razão que não se atrevia a analisar, Cleo se acreditava capaz de fazer um camaleão, que movia seus olhos de forma independente, quer dizer o esquerdo para o Canadá e o direito para o México, sincronizar suas pupilas e as dirigir para ela ao mesmo tempo— À frente, Ringo, à frente… —estalou os dedos da mão livre diante da cômica carinha do réptil. — Não pode? Ai, que bonito… O som da campainha da porta fez que ficasse tensa. Eram dez e meia da noite e não tinha visitas a essa hora. Com o cenho franzido e Ringo na mão, pôs o filme de Willow em pausa e levantou para abrir a porta. Atrás da mosqueteira que cobria a moldura da entrada se refletia a sólida figura de um homem alto e magro, muito bem trajado. Cleo ativou a tela ótica que identificava seus visitantes. O monitor mostrava um homem calvo de olhos azuis que olhava diretamente à pequena câmara à esquerda da campainha. Não o conhecia. Não sabia quem era esse indivíduo. —Senhorita Connelly? —perguntou olhando fixamente pelo visor informativo. Cleo abriu a porta e deixou Ringo sobre o ficus da entrada. —Boa noite, senhorita Connelly — identificação. — FBI. Posso entrar?

levou a mão ao bolso traseiro e levantou sua placa de

Elias Montgomery: subdiretor do FBI. Más notícias. Quando o FBI chamava em sua porta só podia significar duas coisas. Ou que a acreditavam indiretamente envolvida num delito federal, ou que podia contribuir com pistas para

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resolver um. Ou isso, ou sua mãe, Darcy, foi acusada por seu pai, Charles, de tentativa de homicídio. Mas Cleo entendeu que o subdiretor do FBI não estava ali por esse motivo. Três dias era muito tempo para Leslie. E esse homem estava ali por algo relacionado com sua irmã. Sua intuição inata assim o dizia. Os olhos se encheram de lágrimas e engoliu compulsivamente. —É Leslie, verdade? —Me deixe entrar, por favor? Este não é lugar para falar —respondeu o agente com educação. —Claro. Desculpe. O subdiretor Elias parou na entrada. —Depois de você, senhorita Connelly. Precisamos conversar longa e extensivamente sobre algo, e é estritamente confidencial. Cleo assentiu firmemente. O queixo tremia e os lábios faziam biquinhos. “Por favor, por favor… Que não me dê más notícias”. —Sente-se. —Chegaram à sala e apontou o sofá— Deseja tomar algo? —Não, estou bem obrigado. —respondeu sentando na poltrona solitária— Sinto tê-la importunado. Estava jantando, verdade? —Oh, não se preocupe —retirou a mesa auxiliar e a deixou na cozinha— Já não tenho fome. —Sua tela plana Sony tinha a imagem congelada de Willow jogando uma bola ao céu. Entrecerrou os olhos e desligou a televisão com o controle remoto. Nervosa como jamais esteve, sentou no sofá, ao lado do senhor Elias. — Qual o motivo de sua visita? E deve ser algo importante para que venha um alto cargo do FBI à minha casa. Minha irmã está bem? Ele entrelaçou as mãos e apoiou os cotovelos em seus joelhos. —Sua irmã Leslie disse no que estava trabalhando? —Além de que era agente especial? Não. Continua viva, verdade? —perguntou impaciente. —Não sabemos. Acreditamos que sim, mas… Não podemos assegurar com certeza. Cleo mordeu o lábio inferior e fechou os olhos. Era assim que se sentiam quando lhes dava notícias desse tipo? Por Deus, queria morrer. Chorar e morrer. —O que se sabe? O que aconteceu? Como… Como desapareceu? 22 | PRT


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—Senhorita Connelly, antes que eu explique mais, me deixe adverti-la que, se em algum momento sair de sua boca algo que falamos aqui, será considerado como um delito e uma traição ao Governo dos Estados Unidos da América. Entendido? Cleo não pôde analisar se o que mais a enfureceu nesse comentário foi seu tom ou o que dava a entender com suas palavras. —Sou policial de Nova Orleans, senhor. Trabalho para meu país, para seu bem-estar. Acredito que sua advertência é exagerada. — disse desafiante. Algo como um sorriso cruzou os olhos azuis de Elias. —Me disseram que tinha um problema em controlar sua língua. Excelentes nota na preparação cadete do Quântico —estalou com a boca, — mas um desastre na entrevista pessoal. Não obstante, não acredito que seja um caso perdido. —Assim falaram de mim? —Sim, é óbvio. Leslie é um diamante como agente especial, e tem os mesmos genes, assim esperávamos que nos desse os mesmos excelentes resultados… Ela é muito disciplinada e você é mais… impulsiva. Mas nada que não se possa limar, não acha? Assim falaram dela? Isso já não importava. Leslie sim. —Sou uma tumba, senhor. Sei onde e para quem trabalho. E L é uma excelente profissional. Espero ser como ela algum dia. —Alegra-me saber disso. —E agora, por favor, pode me explicar o motivo de sua visita? —Sabe? Mudei de ideia. Pode me oferecer um café com gelo? O subdiretor dava voltas em seu café puro e depois o verteu todo no copo com cubinhos de gelo. —Leslie trabalhava como agente especial infiltrada num caso de tráfico de mulheres. Cleo abriu os olhos, e as palmas das mãos esfriaram. —Depois do narcotráfico, o tráfico de pessoas é o delito mais rentável. Sabia? —Sim, senhor. —Estava a par dos índices de delitos federais. Na maioria das vezes, o tráfico de mulheres brancas se relacionava com escravidão, abuso sexual e trabalhos forçados. Por Deus, tinha vontade de vomitar, e um feixe de nervos muito instáveis oprimia a boca do seu estômago. —Todas as nações sofrem com tráfico de humanos e, como com todos os delitos, tentamos erradicá-lo, mas não é fácil. Faz quinze meses foi encontrado o cadáver de Irina Lewska. Uma 23 | PRT


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mulher russa de vinte anos achada morta por overdose no deserto de Las Vegas, perto da interestadual 215. Irina usava um colar de cão na garganta com um medalhão onde se dizia: “pertence aos homens lagarto”. —Um colar? —Sim. Um colar de submissa. Quanto sabe sobre DS, Cleo? —Perdão? DS? Mmm… Que é o sobrenome da Nintendo. Elias entrecerrou os olhos e franziu os lábios. O silêncio se tornou espesso e pesado entre eles. —Dominação e submissão. —Ah, BDSM —respondeu como se essas siglas não lhe dessem um terrível temor— Bondage e sadomasoquismo? —Bom, agora o chamam somente DS, porque querem aproximá-lo um pouco ao populismo. Como dizia, Irina usava um colar de submissa e aparentemente tinha um amo ou, neste caso, vários amos. Até aí, tudo indicava que podia ser um crime passional sexual e que não estava associado com as drogas, verdade? —Sim, continue. —De Las Vegas entraram em contato com Washington, e depois levaram o caso para nós. Investigando, nos demos conta que Irina desapareceu de seu país dois meses atrás —tomou um gole de café gelado. — Era praticante principiante no mundo DS. Em seus extratos bancários descobrimos compras pela Internet em várias lojas de fetiches e submissão, portanto, a mulher sabia o que fazia. —E como foi parar em Las Vegas? —Irina comprou duas passagens com destino a Miami, em resposta, possivelmente, a um convite. —Que tipo de convite? —Um encontro de DS. Cleo se remexeu no sofá. Aquilo era incômodo. —Um encontro de sado, de acordo. Como sabiam que sua visita a Miami respondia a esse tipo de convite? —Isso averiguamos logo graças a Leslie e Clint, que depois explicarei. —Deus… — Apoiou os cotovelos nos joelhos e cobriu o rosto com as mãos. 24 | PRT


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—Uma vez a jovem chegando a Miami, perdeu-se sua pista totalmente. Nenhuma atividade bancária, nenhuma conexão com a internet, nenhuma chamada telefônica… Zero. —Até que a encontraram morta, com o colar que a identificava como propriedade dos homens lagarto. —Sim. O corpo de Irina não nos dizia muito mais. Não havia rastro de sêmen nem de agressão física, exceto o excesso de um tipo de droga que se achou em seu corpo, conhecida como popper, misturada com cocaína. Cleo sabia o que era popper. Era uma droga afrodisíaca que se servia em forma de inalador, e quando se abusava, podia causar graves danos cerebrais, inclusive a morte. —Irina morreu por overdose e por uma reação asmática ao inalador; mas seu achado propiciou que entrássemos num dos casos de tráfico de mulheres mais importantes e melhor camuflados dos últimos tempos. Depois de Irina, vieram Katia, Roxana, e Marru… As três num espaço de diferença de três semanas. —Também perto de Las Vegas? —Não. Desta vez em Phoenix, Arizona; em Albuquerque, Novo México e em Sacramento, na Califórnia. As relacionamos com o mesmo caso sobretudo porque também morreram por overdose. —Também por popper. —Sim. Todas tinham a mesma droga em seu sangue. Denunciou-se o desaparecimento de uma delas, Marru, dois meses atrás na Noruega. Estudamos seus movimentos bancários e descobrimos semelhanças com Irina: adorava fetiche e chicotes; e a última coisa que o sistema tem certeza é que veio a Albuquerque para algo, e aí se perdeu seu rastro. A acharam morta na fronteira entre o Novo México e Juárez. As outras duas vítimas, Katia e Roxana, não apresentavam nenhuma denúncia por desaparecimento e eram originárias de Phoenix e Sacramento, respectivamente. Ambas adoravam sado, e uma delas tinha uma tatuagem que dizia: “Os macacos cuidarão de Dorothy”. Cleo sacudiu a cabeça. Não podia deduzir quase nada. Nenhuma só vez mencionou Leslie ainda. —Dorothy? O Mago de Oz? — perguntou confusa — Não consigo entender… —Até então, tínhamos um quebra-cabeças onde somente havia quatro garotas mortas: duas ruivas e duas morenas, de rosto pálido e olhos claros, esbeltas — enumerou. — Tinham em comum suas inclinações pelo sado e dominação. Duas delas estavam declaradas desaparecidas em seus respectivos países. E as quatro morreram por uma variante de popper com cocaína. A única coisa clara que tínhamos era que o cenário no qual devíamos trabalhar era o DS. 25 | PRT


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—Minha irmã se encaixava no perfil —entendeu com voz monótona e olhar perdido— Morena, pele clara e olhos claros. Esbelta. —Sim. Decidimos trabalhar com ela por muitas razões. A agente Connelly ingressou no mundo do DS como praticante: infiltrou-se. Sua irmã? Não… Leslie fazia isso? Estava metida nisso? Deus… sua pela arrepiou. —O colar de submissa de Irina e a mensagem tatuada de Roxana nos levou a procurar em todos os lugares o significado de homens lagarto e a relação que podiam ter com Dorothy e os macacos. A agente Leslie e o agente Clint fizeram um trabalho de investigação sublime. Ingressar no DS, conhecer seu mundo e se fazer passar por praticantes os levou a um jogo de personagens muito popular no ambiente: Dragões e Masmorras DS. “Dragões e masmorras, um mundo infernal, esconde-se entre as sombras as forças do Mal”, cantarolou Cleo mentalmente. Incrível: havia um jogo de personagens inspirado em Dragões e Masmorras, que, por sua vez, era o primeiro jogo de personagens da história. E tudo misturado com um ambiente BDSM. —O medalhão de Irina falava de homens lagarto e a tatuagem de Roxana insinuava que os macacos cuidariam de Dorothy. No jogo de personagens de Dragões e Masmorras, na realidade, existem os homens lagarto: são seres sombrios que escravizam os fracos. E também existem os macacos voadores. Os viciados no jogo afirmam que incluíram estes personagens em honra ao Mágico de Oz de Judy Garland. Tudo apontava o jogo de personagens de Dragões e Masmorras DS, cujas iniciais D&M são conhecidas no ambiente como Domines e Mistresses: amos e amas. Mas, como deve ter deduzido, não é somente um jogo de personagens. Há uma organização que está usando este jogo BDSM como cobertura para traficar mulheres e homens. Procuram escravas e escravos sexuais com um determinado perfil. Pele clara, olhos claros e cabelo comprido e liso. —Demônios… Onde está Leslie? —perguntou esfregando as mãos, se levantando com energia — Continua viva? —Isto foi tudo que Leslie nos informou. Em uma semana se celebram os jogos de Dragões e Masmorras DS; um encontro no ambiente que se realiza a cada quinze meses. Desta vez serão somente quatro dias de jogos eróticos, dominação e submissão. Uma espécie de torneio, como olimpíadas, onde aparentemente é a única vez que se mostram os três cabeças mais poderosos dos personagens, conhecidos como os Vilões. Alguns membros do jogo que ficaram íntimos de Clint e Leslie afirmam que a conclusão final vem quando apresentam um grupo de escravas e escravos neófitos e os dão como isca aos Vilões. Primeiro jogam com eles publicamente, mas logo os levam e ninguém sabe o que é que fazem com eles… —Pensam que se trata de gente que não consentiu? 26 | PRT


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—A última vez que se realizaram esses jogos foi numa rota pelo sul dos Estados Unidos. Uma rota que passou pelo Novo México, Las Vegas, Califórnia e Arizona. —Coincide com os pontos onde apareceram os corpos das vítimas. —E, pelo menos, duas dessas mulheres estavam desaparecidas. Leslie está há três dias sem dar notícia. Ela e Clint estavam a um passo de descobrir os membros que formam a estrutura piramidal dessa organização. Dragões e Masmorras DS move muitíssimo dinheiro, e para elaborar os cenários onde encenam os jogos é necessário uma grande infraestrutura econômica. Há gente importante por trás. Nossos agentes estavam a ponto de descobri-los; esperavam o torneio com ansiedade. Os jogos iam ser a conclusão do ano de investigação. Os Vilões são invisíveis, embora todo mundo fale deles. Mas neste ano não chegaram a averiguar nada sobre sua identidade e seu paradeiro. O BDSM que se pratica fora do jogo de personagens é extremamente limpo e são — disse contrariado. — Não acharam rastro de popper, nem escravidão forçada, nem nada minimamente denunciável. As pessoas que conheceram no sado está à margem dos homicídios que conhecemos, e o pratica de maneira consentida. Mas no torneio se reúnem os membros mais seletos e aí é onde acontece tudo. Os Vilões e aqueles a quem servem, são os que movem o tráfico de pessoas e facilitam o popper. São eles quem devemos capturar. Entretanto — seu rosto endureceu e os olhos azuis ficaram opacos, — perdemos o agente Clint, senhorita Connelly. Ele era o companheiro de sua irmã. O acharam morto nos fundos de uns dos clubes de DS de Nova Iorque. Leslie estava com ele, mas não voltamos a contatar com ela. Está… desaparecida. —Como morreu o agente? —O asfixiaram. Não tinha sinais de agressão física no corpo, mas a necropsia refletia a presença de sangue desoxigenado nos tecidos, protrusão dos globos oculares, dentadas na língua e edemas no pulmão. Horrível. Uma morte horrível e muito violenta. —Sinto muito por Clint, de verdade… Mas, minha irmã… —lamentou com voz trêmula, — acredita que está…? —Clint nos disse que a agente Leslie chamava muita atenção da Rainha das aranhas: a líder das dominantes do jogo de personagens. De fato, graças a ela, tinham o convite pessoal para o torneio de Dragões e Masmorras DS. Acreditavam que a rainha fazia o papel de informante dos Vilões, que lhes dizia se havia pedaços suculentos entre os novos membros do jogo. Confio que sua irmã continua viva, mas agora mesmo desconhecemos nas mãos de quem está. —E se tiver fugido? E se tiver escapado? Olhou-a com abatimento e sorriu compreensivo. —A agente está capacitada para contatar conosco em qualquer situação. Inclusive com você. 27 | PRT


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Claro. E não o fez. —Como sabia que Leslie estava com Clint? —Porque nosso infiltrado no comando nos disse isso. O fórum Jogo de personagens tem uma vida muito rica e estruturada e, embora tudo seja controlado pelos Vilões, encontraram um modo de se comunicar e deixar mensagens cifradas através dos avisos privados do fórum. Havia outro agente mais? Quem era? —Entendo… veio só para me dizer que Leslie desapareceu? —retirou o copo vazio de café: — Gostaria de outro? —Não, obrigado. E não, não vim somente para anunciar o desaparecimento de sua irmã. —Então? Diga de uma vez. O subdiretor Elias exalou. —Necessitamos de outra isca —Cleo parou de costas para ele— E você e Leslie se parecem muito. A agente Connelly não deixava ninguém indiferente, e Clint se encontrava em sérias dificuldades para afastá-la dos outros amos. Você tem sua mesma estrutura facial, se parecem muito, embora sejam inquietantemente diferentes e, definitivamente, encaixa no tipo de perfil que, aparentemente, os atrai, aos Vilões ou a quem seja que está por trás deles. Se a infiltrarmos com nosso terceiro agente e a Rainha a vir, é possível que a atraia do mesmo modo que fez sua irmã; e, se for assim, tanto seu amo como você poderiam ser apresentados ante a cúpula. Cleo continuava imóvel com as mãos ocupadas pelos copos. Amo? Teria um amo? —Precisamos de sua colaboração. Queremos encontrar a agente Connelly e seguir adiante com este ano de dura e sacrificada investigação que realizamos. Estamos a um passo de descobrir tudo. Não queremos que a morte de Clint seja em vão e… —Querem que me infiltre como agente especial? —O faria. O faria por sua irmã e, além disso, às cegas. Mas se o FBI reclamava sua ajuda, esta seria sua oportunidade de reclamar algo em troca também. —Temos pouco tempo para reagir. Perdemos dois agentes e não me ocorre ninguém melhor que você para assumir este cargo. —Sério? —se virou e deixou os dois copos de novo sobre a mesa— Tem milhares de agentes melhor preparadas que eu, que sou uma policial com instintos homicidas de Nova Orleans, lembra? Já leu meu histórico e o senhor Stewart o alertou sobre meus toques polifônicos. —Me recomendaram que fosse você, senhorita Connelly. Não vou enganá-la: não é uma missão fácil. Tem que entrar muito no papel, e sei que não deve ser agradável se expor desse 28 | PRT


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modo diante de ninguém. Mas, se for tão obstinada e profissional como ele diz que é, estou convencido que pode funcionar. —Quem me recomendou? — perguntou curiosa. —É confidencial. Nós a determinamos e ele decidiu ser seu companheiro nisto. Escute: você e sua irmã Leslie se parecem muito. E, além disso, é policial, já trabalha para a lei. Falta uma semana para os jogos do D&M. Entendo que isto é muito inesperado, assim lhe darei esta noite para que pense… Mas, se no final aceitar, sua instrução começará imediatamente. —De que tipo de instrução está falando? —Explicaremos como funciona o jogo de personagens e terá todos os arquivos do caso. E a ensinarão a exercitar seu papel e a entender o mundo da dominação e submissão. Terá que sentila em sua própria carne, senhorita Connelly. Compreende o que digo? Cleo sabia que estava complicando desnecessariamente sua vida. Nem sequer confiava que fosse capaz de relaxar diante de um homem com um chicote, um homem que, certamente, não conhecia antes. Mas também tinha consciência do que supunha exercer seu trabalho. Agente especial, agente dupla… A ação que desejava estava ali, os sacrifícios deviam ser assumidos e, sobretudo, sua irmã a necessitava. Aquela era a única razão pela qual aceitava. —Não tenho que pensar em nada. Aceito, é óbvio —levantou o queixo. —Leslie teve três meses de preparação para assumir seu papel como submissa —explicou Elias. —Três meses?! —Imaginar L treinando sem roupa com um potro não era uma imagem agradável— E eu somente vou ter uma semana? Isto não vai funcionar —negou com a cabeça. — É muito precipitado… —Sei. Mas não há tempo. Clint e ela treinaram juntos para estar plenamente sincronizados como casal. Não podemos despertar suspeitas e têm que se misturar com o ambiente. Você o fará estes dias com seu companheiro, que ainda continua em missão; de fato é o agente especial no comando. Entrarão juntos, como amo e submissa. Ele precisará de alguém que não levante suspeitas. Pode assumir esse papel ou é muito? Cleo arqueou uma sobrancelha e o olhou como se fosse uma barata. —Aceito por minha irmã, subdiretor Elias. Penso encontrá-la. —Bem —sorriu mais relaxado. —Mas se me infiltro, os ajudo e tiro minha irmã do buraco onde estiver metida, vocês me aceitarão no FBI.

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Elias aceitou sem hesitar. Cleo era sua única esperança, e se o agente especial Romano se ofereceu para instruí-la e a entrar no torneio com ela, era por uma razão: a garota ajudaria na missão e se adaptaria bem. Além disso, Lion não se equivocou. Tinha assegurado que Cleo não perderia a oportunidade de exigir seu lugar no FBI, e assim foi. Aparentemente, conhecia essa impetuosa jovem muito bem. Mas não se surpreendeu muito. Lion era especializado em perfis. Abriu sua pasta negra e extraiu as folhas de seu pré-contrato com a segurança Estatal. —Aqui tem seu contrato como agente especial do Escritório Federal de Investigação. De agora em diante, trabalhará para nós. Ele nos disse que pediria justamente esta gratificação. Caramba, que eficácia… Cleo imaginou esse momento de mil formas diferentes, e nelas sempre o estava celebrando com sua irmã. Mas Leslie se encontrava em paradeiro desconhecido, sozinha, e talvez ferida e vulnerável… E ela foi pré-contratada pelo FBI para encontrá-la. Não havia nenhum pingo de felicidade em sua alma. —Assine aqui. Cleo, aturdida, assinou onde assinalava o indicador do subdiretor. —Se tudo se desenvolver com êxito, quando retornarem, oficializaremos sua entrada no corpo. Enquanto isso, em algumas horas, nosso agente no comando entrará em contato com você e a informará sobre como vão desenvolver esta missão. —Pegou sua pasta e levantou do sofá. Com gesto automático ofereceu a mão— Foi um prazer. —Sei… Obrigada — aceitou sua mão. Retirou a franja vermelha de seus olhos verdes e se abraçou pela cintura enquanto acompanhava o subdiretor à porta. Estava desnorteada. — Senhor Montgomery? —Sim? —perguntou enquanto desprendia seu blazer escuro do cabide de madeira da entrada. —Não se mova — se aproximou dele e sorriu, embora o gesto não chegou aos olhos. — Ringo está em seu ombro. —Ringo? —perguntou inclinando o olhar. Seus olhos azuis se depararam com os olhos loucos de um inseto que mudava de cor, de verde a vermelho— É uma iguana? —Seu rosto manifestava repulsão. —É um camaleão. — O agarrou apressadamente e o cobriu com suas mãos, deixando somente sua cabeça descoberta. — Tem mania de se camuflar com os convidados. Mas acredito que é daltônico… Seu blazer é preto — começou a rir, desta vez com mais vontade. 30 | PRT


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O homem olhou a jovem de cima abaixo. Com essa camiseta, o cabelo vermelho, os olhos tão verdes que tinha e tão miúda como era, teve a sensação que era uma espécie de ninfa inocente a quem ia enfiar num mundo de escuridão e sombras. Ele não tinha nem ideia do que era estar nesse ambiente. Dominação e submissão eram palavras consideráveis. Intimidavam muito, e admirava seus agentes por se infiltrar nesse reino proibido para muitos. Cleo era valente como sua irmã. Não havia dúvida. —Dê o melhor de si, senhorita Cleo. Acaba de entrar na missão Amos e Masmorras. —O farei, senhor —assentiu com o queixo— Posso fazer uma pergunta? —Diga. —Quem é ele? —Só havia uma pessoa que pudesse conhecê-la desse modo, que soubesse sua ansiedade por entrar no FBI, e que entendesse sua imprudência e impulsividade na hora de aceitar uma missão como essa. —O agente Lion Romano. Ele está no comando. Se o subdiretor viu a surpresa e o impacto que provocou aquela revelação soube dissimular muito bem. Montgomery abandonou sua casa com o pré-contrato assinado e com a esperança que ela pudesse ajudá-los. Mas Cleo estava em meio a um ataque de insegurança. Lion Romano. Sem pensar duas vezes, subiu para seu quarto e deixou Ringo em seu espetacular terrário. Voltou a vestir a roupa de boxe e desceu ao jardim. Sua irmã Leslie estava em perigo. Dois murros acima! Um abaixo! Chute voador! Lion era o agente no comando de sua missão. Era o superior de Leslie, mas nunca pensou que trabalhariam juntos naquele caso. Lion num caso de amos e submissas… Infiltrado. Deus… Chute! Chute! Leslie sempre foi uma mulher muito íntegra e honesta, mas muito menos flexível que ela. Era elegante e serena, e tinha uma aura especial que inspirava respeito nos outros. 31 | PRT


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Murro! Chute! O que sentiu quando começou a se instruir no DS? Uma mulher como ela aceitaria esse papel? Teve que fazê-lo para interpretar tão bem seu papel, não? Mas imaginá-la nas mãos dos Vilões ou da maldita Rainha das Aranhas revolvia seu estômago. Tantas perguntas sem resposta… Chute! Murro à frente! Esquerda, direita! Esquerda, direita! Uma bola de angústia obstruiu sua garganta e, de repente, se dobrou sobre si mesma e vomitou. Com os olhos vermelhos fixos na grama, não parava de pensar que L estava em perigo. E se a estavam machucando? E se abusavam dela? E se…? —Leslie… —choramingou entre lágrimas. Levantou e, dando um passo derrotado, deu um último murro ao saco para logo se abraçar a ele e chorar. Chorava como nunca fez. Por nervosismo, por medo, por raiva… Porque L nunca explicou o que fazia; porque, como irmãs, nunca se justificou com ela nem disse como se sentia com o papel que estava desempenhando… Porque não a pôde ajudar; e porque quando a pegaram, não estava lá para detê-los. Os soluços de Cleo foram sufocados pelo Mr. Lonsdale, mas a dor que sentia sua alma só seria sufocada pela ânsia de vingança. E seu arqui-inimigo, Lion Romano, por muito odioso e prepotente que fosse, tinha que dar o melhor dele para ajudá-la. Seria seu superior. Seu instrutor… Apoiou a testa no saco e sorveu as lágrimas. —Grande merda… Nessa missão não importavam nem seu orgulho nem a aversão que tinham. Só importava Leslie e as outras pessoas que estivessem na mesma situação. Deviam libertá-las.

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Capítulo 3

Lion observava de seu Jipe Wrangler preto o subdiretor Montgomery sair do alpendre da adorável casinha da pequena Cleo. Certamente a jovem policial reagiu tal e como disse ao seu superior. Escutaria cada palavra com atenção, faria algumas perguntas, não se deixaria levar pelo pânico e aceitaria às cegas a missão, até sabendo dos riscos que suportava, porque não media nunca onde estava o perigo. Por isso era tão boa policial; e por esse mesmo motivo seria uma excelente agente. Esse fato de não analisar os riscos a fazia a companheira perfeita para o desenlace do caso Amos e Masmorras. Necessitava de uma parceira digna de sua ousadia, que pudesse competir com ele de igual para igual para chamar a atenção da Rainha e dos Vilões. E sabia que Cleo chamava atenção tanto quanto sua irmã, mas de um modo adoravelmente diferente. Durante doze meses levaram o caso com a máxima disciplina. Não foi tão difícil assumir seu papel, como foi para seus melhores amigos, Clint e Leslie, porque ele, Lion, já brincava na liga do DS fazia anos, e o fazia por prazer. O fazia desde que descobriu que o sexo convencional o aborrecia. Era um agente do FBI, é óbvio, mas seus gostos sexuais, nada que tivesse que explicar publicamente, eram especiais. Suas preferências não eram nem melhores nem piores que as da maioria das pessoas, simplesmente, diferentes. Para ele, a dominação, o bondage, o sado e a submissão eram um jogo para praticar entre casais. Um jogo de consentimento mútuo onde se trabalhavam a disciplina, o desafio, o atrevimento, os limites de cada um e, acima de tudo, a confiança. Por isso, saber que o escolheram para dirigir o caso não lhe pareceu tão escandaloso como para a boa Les. Duvidava que os do FBI soubessem que era praticante e que em seus momentos livres, para descontrair e desestressar, gostava de jogar forte. Leslie e Clint se surpreenderam muitíssimo quando ele explicou que era um Amo. Mas por outro lado, isso serviu para relaxá-los e se darem conta que, se seu amigo praticava o BDSM e era uma pessoa normal e comum, não deviam temer esses exercícios. Não queria dizer que estava desequilibrado, nem traumatizado, nem louco… Esses estigmas deviam ser erradicados da consciência popular. Para ele, o BDSM não era uma separação, era um modo de sentir e experimentar. 33 | PRT


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Não obstante, o problema era que o caso que trabalhavam estava relacionado com o tráfico de mulheres, e tinha como fundo o universo dos dominantes e submissos. Um mundo que ele não ia permitir que alguns sádicos de merda manchassem. Amos e Masmorras se converteu numa missão pessoal que tirou a vida de Clint, um homem leal e maravilhoso, um grande amigo. E também levou Leslie, a melhor amiga que jamais teve. Por isso, confiava que Leslie continuava viva, porque perdê-la significaria sua destruição. Apertou o volante com os dedos e franziu os lábios numa fina linha. Tomava em cima de seus ombros a morte do agente Clint e o sequestro da irmã de Cleo. Não deveria fazê-lo, porque as pessoas eram imprevisíveis e não se podia controlar tudo; mas ele se atormentava muitas vezes pelo que não pôde fazer e deveria ter feito. O que aconteceu essa noite para que assassinassem Clint? Por que? Lion estava em outro local de Nova Iorque, com uma escrava do jogo, e não uma qualquer. Tratava-se de Claudia, uma mistress, uma ama reconhecida no jogo de BDSM, a qual adorava jogar com ele. Claudia era valorizada no mundo DS com a categoria de acrobata, como a protagonista Diana de Dragões e Masmorras. Não era a primeira vez que jogavam juntos. Mas Lion o fazia porque sabia que Claudia tinha, de forma indireta, possível acesso aos participantes do torneio. Para entrar no torneio e jogar, todos os membros deviam superar as análises de sangue pertinentes. Queriam gente sadia, pois iam se manter relações sexuais, muitas vezes sem camisinha, e necessitavam análise atualizadas de todos os amos, submissas e praticantes que entrariam para jogar. A mulher revelou que cada participante, dependendo do país ou da cidade que fosse, tinha uma clínica agenciada particular para realizar as análises. Depois, enviavam todos os relatórios com as pessoas aceitas e as que não, e um e-mail com o convite correspondente. Precisava averiguar quem recebia os resultados e levar esses mesmos testes a um laboratório de identificação de DNA. Assim saberiam os nomes de todos os assistentes dos jogos. Mas Claudia sabia pouco mais sobre isso e não serviu de muita ajuda; embora ele a ela sim, de acordo com os gritos de satisfação que emitiu durante a sessão. Lion fixou seus olhos azuis na porta da casa de Cleo. A verdade era que estava ansioso por vê-la. Sempre acontecia o mesmo com ele. Além disso, apostava que agora estava chorando em seu quarto, tentando assimilar o golpe do desaparecimento de Leslie e se conscientizando que ia ter que trabalhar com ele. 34 | PRT


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Sorriu com cansaço. Se ela soubesse que a desejou desde que completou quatorze anos e a viu na praia com aquele traje de banho azul escuro com furinhos nos quadris, o que faria? Então ele tinha dezoito anos, e sua irmã, Leslie, dezessete. O acusaria de pervertido? Quando eram pequenos, Cleo os perseguia em todos os lugares. Queria participar de suas brincadeiras, seguir suas piadas e brincar do que brincavam. E a pequena se zangava quando Lion a deixava de lado ou a aporrinhava para que os deixasse em paz. A ruiva se ofendia, mas ele adorava ver como suas bochechas ficavam vermelhas de impotência e seu olhar se tornava verde escuro. O fascinava e incomodava que uma pirralha de quatorze anos o abduzisse desse modo. Assim Cleo parou de sair com eles e formou seu próprio grupo de amigos, mais de acordo com sua idade. Mas Cleo cresceu e eles também, e perderam o contato. Ele e Les se mudaram para Washington, e a jovem ficou em Nova Orleans como policial. E o que? A distância fez que a esquecesse? Nada. Não podia esquecer alguém que se gravou em sua alma. No ano passado, quando a viu diante do Smithsonian, com aquela roupa, os óculos que cobriam seus expressivos olhos, os pés descalços com manicure francesa sobre o capô, e seu abundante cabelo vermelho preso daquele modo, por pouco não gozou nas calças, e teve que fazer um esforço excepcional para manter o mesmo tom enfadonho e a mesma normalidade de antigamente, quando o que realmente desejava era ficar de joelhos no chão e beijar seus tornozelos. Desde aquele dia, sonhava frequentemente com ela. E se sentia inclusive mesquinho; porque L era sua melhor amiga, ele seu superior, e tinha sonhos tórridos e úmidos com sua irmãzinha, a quem protegia como uma loba. Em que lugar o deixava isso? Entretanto, Cleo tinha vinte e sete anos. Já não era uma menina. E ele tampouco. Ambos eram profissionais e deviam trabalhar juntos na missão. Se aproveitaria disso? É óbvio que sim. A ensinaria e a prepararia para a missão, e de passagem arranharia a coceira que tinha nos ovos fazia, pelo menos, vinte e dois anos; desde que uma garotinha de quatro aninhos, com olhos verdes e um vestidinho de flores, lhe deu seu próprio coelho de pelúcia desmantelado para o consolar e que parasse de chorar. Aquele dia ele parecia pó, seu avô Timothy tinha morrido e não sabia aceitar sua perda. Estava nas escadas do alpendre da casa de seu pai, com o rosto afundado entre os joelhos, e os vizinhos entravam e vinham em sua casa para dar os pêsames. Ele não queria falar com ninguém. 35 | PRT


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Mas então, alguém colou em seu nariz um coelho rosa com a barriga cheia de estrelinhas. E quando levantou o olhar se encontrou pela primeira vez com Cleo e seu imperturbável sorriso. Leslie saiu atrás dela para repreendê-la, mas sua irmã também o olhou e, em vez de partirem, sentaram as duas para lhe fazer companhia. Aí começou sua amizade. Essa foi a primeira vez que viu Cleo e conheceu sua bondade. Estava desejando ver sua reação quando o encontrasse do outro lado da porta. Não o esperava essa noite. Mas quanto antes se acostumasse à sua presença e ao seu papel, mais seu papel seria viável nos Dragões e Masmorras DS. Mas isso, afinal, era o mais importante. Não o que ele pudesse sentir por Cleo; e era melhor que gravasse isso na cabeça. Abriu a porta do Jipe, e pegou as duas bolsas militares pretas de viagem, uma em cada mão. O lar e a cama de sua nova e desejada companheira o esperavam. Uma antiga amiga. Uma futura agente. E sua atual escrava. Embora, por agora, só o fosse para prepará-la no jogo.

***** Fazia vinte minutos que o senhor Montgomery saiu de sua casa. Dez minutos que vomitou, dois que recolheu tudo e um que começou a tomar uma ducha. Mas continuava chorando, sem soluços, sem gemidos, só chorava. Seus olhos pareciam uma destilaria. Sua casa estava em silêncio, vazia, ou a vazia era ela? Que importância tinha… se sentia sozinha como nunca. Quando a campainha de sua porta soou pela segunda vez, esperava encontrar de novo o subdiretor do FBI. Talvez tenha esquecido algo. Mas quando abriu a porta sem nem sequer olhar pela tela de identificação e se encontrou com o corpo enorme e alto de Lion, por pouco não teve um ataque. Carregava duas bolsas de viagem na mão, e a olhava com preocupação. Vestia jeans largos, uma Adidas casual branca e uma camiseta preta marca Bendito Seja, muito ajustada, que pronunciava seu excelente estado físico. Sob seus olhos azuis escuros apareciam olheiras, e a barba de três dias obscurecia tenuemente seu queixo, ocultando sua pessoal covinha.

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Ela sentiu raiva ao vê-lo. Estava numa situação bastante incômoda. Supunha-se que devia chegar amanhã, e aparecia agora, às doze da noite, na entrada de seu pequeno mundo. Tinha os olhos inchados de chorar e se sentia muito frágil, e Lion tinha que vê-la assim? —Olá, Cleo. Abra a porta. —Pediu com tom terno. As lágrimas brotaram de novo e começou a fazer biquinhos humilhantes. Não podia permitir o luxo de desmoronar diante dele. —Maldita seja, Cleo. Não… Não chore. Abre a porta. —Lion sabia que a veria assim; mas as lágrimas de Cleo quando era menina não eram nada comparadas com as da mulher que tinha diante dele tentando manter a pose diante de seu superior. Estava exausta. Ela abriu a porta. Nunca teria imaginado o que ia acontecer a seguir. Encontrou-se com o rosto sepultado no peito de Lion e os braços dele a aprisionando e a cobrindo como se quisesse protegê-la de tudo e de todos. Sem saber como reagir, ficou imóvel, recebendo os cuidados do agente no comando, Lion. Por que era tudo tão estranho e, em troca, sentia-se mais calma agora que fazia uns minutos? —Está bem? —Não. —Sei — murmurou ele, pondo sua mão sobre a parte posterior de sua cabeça. —Então, por que pergunta? —Por educação — deu de ombros e sorriu sobre seu cabelo. Cheirava a morango. Essa garota cheirava a morango… Encantador. Cleo se afastou, o empurrando um pouco pelo peito. Deu um passo atrás e o olhou diretamente nos olhos. —O esperava amanhã. —Decidi vir antes. —Não diria que precisava mais ficar com alguém, talvez com ela, do que permanecer sozinho em seu apartamento assumindo a culpa de tudo que aconteceu nos últimos dias. — Quanto antes começarmos, melhor, Cleo. Faltam somente cinco dias, seis no máximo — murmurou brandamente. —Podemos aproveitar esta noite para que se acostume um pouco comigo. Podemos falar tudo que quiser… Não temos por que fazer nada. Pode me perguntar tudo que a incomoda e poderei explicar o que vamos fazer e no que consiste sua instrução. Cleo o escutou em silêncio. E quando acabou de falar, o olhou fixamente e disse: —Não vai tocar um fio do meu cabelo, Lion. 37 | PRT


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—Esta noite não —concedeu ele. — Mas amanhã começarei a te ensinar; e lamento te dizer que sim, que vou tocá-la. E muito. Aceitou sua formação. Em sete dias começam os jogos… estamos com pouco tempo e precisa se familiarizar com o DS. Entende? Diga-me que entende o que vai acontecer entre nós a partir de agora. Entender? Não entendia uma merda! Lion ia apalpá-la e exercitá-la para a dominação e submissão porque se supunha que no Dragões e Masmorras DS deviam fazer umas performances sublimes e viáveis. Mas se tratava de Lion. O menino que fizera sua vida impossível e que ria dela sempre que podia. —Sim, entendo. Mas é que apenas esperava que me dessem um pouco de espaço antes de começar com… — fez dramalhões com as mãos — com… isto! Com você! —O assinalou e dirigiu um olhar raivoso às duas bolsas que deixou no chão da entrada— O que há nessas bolsas? —Amanhã verá. Vai me deixar entrar? Ou vai me deixar eternamente ao lado do ficus de sua linda e acolhedora recepção? Cleo entrecerrou os olhos até que só eram uma linha verde. —Relaxe, agente — Lion levantou as mãos em sinal de paz. — Vamos trabalhar juntos e devemos nos relacionar o melhor possível para que isto funcione. Sou seu superior em comando, assim deveria me mostrar um pouco de hospitalidade. Cleo girou os olhos e olhou o teto. —Muito bem, entre. —Virou-se, e enquanto caminhava para a sala disse: — À esquerda o banheiro de baixo, ao lado a cozinha. A sala — assinalou a vidraça, — o jardim, e acima estão os quartos. O seu é onde estão os chicotes e as correntes. Lion a olhou de esguelha e começou a rir. Melhor isso que continuar se embebendo do tão bem que se ajustava essa calça ao seu delicioso traseiro. —Um comentário desse tipo durante a instrução será penalizado — assegurou sem dissimular sua diversão. — E não vamos ter quartos separados. Dormiremos juntos. — Jogou a norma que inventou. —Não. Nem pensar. Ouça, está indo muito rápido. —Digo que não há tempo. —Estou me estressando — respondeu ela com as mãos apoiadas nos quadris. — Isso é extrapolar. Não temos por que… 38 | PRT


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—Vamos interpretar os papéis de amo e submissa, agente Connelly. Quero que nos vinculemos tanto que ninguém duvide de que estamos terrivelmente sincronizados. É muito importante que vejam que respiramos juntos. Agente Connelly? Era estranho ouvir isso da boca dele. —Muita informação. —Levantou a mão e virou para olhar o jardim— Isto me consome — cobriu os olhos com os dedos, exasperada. — Devo avisar à delegacia de polícia e dizer que não poderei ir… —Disso se encarregará Montgomery. Amanhã seu chefe de polícia terá a notificação privada do FBI. Não se preocupe por isso… —Mas é que… Não pode aparecer aqui de noite, na minha casa, me dizendo que vai ser meu amo e que…! —Pois já fiz isso, Cleo. O caso, a missão e sua irmã — enumerou — são importantes para mim e não podemos cometer nenhum engano, estamos a ponto de… —Minha irmã é importante para você?! Pois a pegaram! E seu companheiro morreu!—gritou se virando como um vendaval, com os olhos cheios de lágrimas. — Você devia cuidar deles e não fez isso! Que tipo de agente no comando é?! Suas palavras o machucaram e se cravaram como adagas em seu peito. Sim. Isso era algo que também recriminava em si mesmo. Devia cuidar de Leslie e de Clint. E fracassou… Cleo se calou de repente, e entendeu que ultrapassou os limites. Mas tudo se converteu em muito; e vê-lo ali, em seu território, sabendo que no dia seguinte iria despi-la para fazer com ela sabe-se lá o quê, a deixava nervosa. Onde se meteu? —Seu companheiro se chamava Clint e era um de meus melhores amigos. Ainda posso falar com Montgomery e dizer que não está preparada para isto. —A voz de Lion alagou a sala de gelo e congelante— Entenderiam. O caso a toca muito de perto e está emocionalmente relacionada, Cleo. Talvez me precipitei ao sugerir que… —Do que fala? —perguntou assombrada. Secou as lágrimas com as mãos. Por que o acusou de algo tão horrível? Devia se desculpar imediatamente— Quero fazer isso. E estou disposta a tudo para resgatar minha irmã. Lion assentiu seriamente. —Tem certeza? Posso retificar e…

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—Lion! —gritou apertando os punhos a cada lado de suas pernas. — Para! —Cravou os olhos nos nus dedos de seus pés. Era injusto que usassse aquela carta contra ela; mas também foi injusto o que disse a ele. Deus, deveria aprender a morder sua língua— Eu… Está bem. —Não está —a repreendeu. — A partir de agora deixe de me ver como Lion, Cleo, ou isto não irá bem. Deve me respeitar, sou seu superior. E sim, escolheram você pela proximidade e semelhança que tem com Leslie e eu dei minha aprovação. —Não foi por minhas aptidões acadêmicas? —perguntou ferida. — Grande decepção —disse sarcástica. Ele apertou os dentes e marcou a mandíbula. —Estamos juntos nesta missão. É uma situação um tanto peculiar, sei. Mas deve me obedecer. De nós depende a vida de muitas pessoas; e não penso me arriscar levando ao torneio alguém que pode jogar tudo por terra. —Entendi, Lion —expressou sem saber aonde olhar. —Senhor. Cleo se sobressaltou e mordeu o lábio inferior. A que tipo de senhor se referia? A senhor como superior na hierarquia de agentes ou senhor como uma submissa chamaria seu amo? —Sim, senhor. Amanhã começará minha instrução. Deverei acatar suas ordens. E hoje… Se deve ser assim, podemos dormir juntos —cedia porque não queria que a tirassem do caso. —Não. Está bem. Esta noite dormirei sozinho. Foi uma viagem longa até Nova Orleans e preciso descansar. Não quero te pressionar. Inclusive, poderia ir para o meu Jipe e dormir lá; e amanhã voltaria a bater em sua porta como se esta noite não tivesse irrompido em sua reserva particular. —Fala sério? —Não —sorriu malignamente— Meu quarto é o dos chicotes, então? —Sim. Fica ao lado do meu. —respondeu contrariada. —O da Cinderela? —Humph… Que engraçado. —Por certo, a segurança de sua casa é uma merda. Amanhã solucionarei isso. —Além de agente é do Fire and Burglar Alarm? Lion sorriu e a olhou por cima do ombro. 40 | PRT


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—Boa noite, Cleo. Durma bem. —Você também. —Obrigado por me deixar ficar em sua casa. —Hã… por nada. —Se precisar falar de algo ou não puder dormir, pode conversar comigo sobre o que quiser. —Não acredito —arqueou uma sobrancelha vermelha. —Ou… —abriu uma de suas bolsas e tirou uma pasta marrom— Poderia ler isto e ir se adiantando — ofereceu e esperou que ela pegasse. — É toda a informação que recolhemos sobre o caso Amos e masmorras. Categoria dos membros, cenários que mais gostam, áreas de ação, jogadores DS assíduos… Amanhã te perguntarei. O que não entender resolveremos juntos. Vemonos amanhã. —Sim. Vemo-nos. Mas que demônios aconteceu com sua vida num abrir e fechar de olhos? Assim, sem mais. Cleo ocultou um sorriso incrédulo enquanto observava como seu superior subia as escadas até seu novo quarto. Lion Romano estava em sua casa. Bonito e sexy como só Satanás podia ser. Mas havia mudanças nele. Tinha uma cicatriz que partia horizontalmente sua sobrancelha direita e, desta vez, sob sua orelha esquerda havia uma tatuagem com letra japonesa. O que quereria dizer? De repente, a ideia de dormir sozinha lhe pareceu atroz. Parecia exausta, essa era a verdade, e necessitava de companhia. Mas não a dele. Certamente não dormiria nem um minuto com ele ao lado. Sua presença a alterava em muitos sentidos, alguns que não estava disposta a reconhecer. Ficaria no sofá e tentaria dormir vendo um de seus filmes. Melhor se distrair, pensar que uma versão mais morena de Stephen Amell estava no quarto de hóspedes.

***** As vozes o despertaram. —Espera, espera, quem você disse que canta essa canção? —dizia uma mulher. 41 | PRT


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—Quem canta é Earth, Wind and Fire… —Então deixe que eles a cantem. O que era isso? Quem estava abaixo? —Os príncipes azuis sempre acabam desbotando… Lion cobriu os olhos com o antebraço e bocejou. O quarto ofertado por Cleo era cômodo e tinha de tudo. A garota sabia como ser hospitaleira. Desde televisão, computador, iPod com música… Até uma varanda coberta de madeira, com um par de espreguiçadeiras e uma mesa de vime. O que ouvia era um filme? Ligou o relógio digital. Duas da madrugada. Amanhã deviam madrugar para começar com o treinamento, e Cleo ainda não se deitou. Porra, sabia que ia incomodá-la, mas a imaginou o recebendo de outro modo. Menos hostil. Foi um desastre. Levantou da cama e saiu do quarto. Certamente a garota não podia dormir pensando em tudo que chegou. “Pobrezinha”, pensou com ternura. Desceu as escadas com cuidado. A luz da tela plana iluminava a acolhedora sala. A casa era como ela. Especial e cálida. Ele não era assim. Não era dessas pessoas que faziam seu aquilo que os rodeava. Seu apartamento em Washington era de tons cinza e negro. Ordenado e funcional. Tinha alguns porta-retratos com fotos de sua família, de sua irmã e seu sobrinho; uma biblioteca e equipamentos multimídia de última geração. Mas onde Cleo tinha plantas e flores, ele tinha cantos vazios; onde Cleo colocava cabides de formas imaginativas, ele somente colocava uma prateleira cinza com ganchos vazios na parede; onde Cleo situava figuras enormes como o gato dos sonhos de Alice, que estava na recepção e tinha entre suas garras um portaguardachuvas, ele tinha um de metal, liso e funcional. Cleo era única, e ele, um insípido. Luz e escuridão. Por isso se deu tão bem com Leslie. Porque L e ele eram parecidos; e o mundo de Cleo lhes parecia um caos encantador e enigmático que deixava os deles de pernas para o ar. Cleo era explosiva. L e ele eram comedidos e sérios. 42 | PRT


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Cleo era um terremoto. Eles eram um pequeno sismo. Colocou-se na frente dela. Estava adormecida no sofá, abraçada à almofada em forma de coração com dois braços que rodeavam sua cabeça. Merda, continuava tendo essa sensação de estar em terreno puro e ser um semeador de corrupção. A garota parecia uma maldita fada. O cabelo vermelho desordenado, o nariz insolente aparecendo entre uma mecha… E aquela boca rosada e grande. —Bom — grunhiu, esfregando o rosto com as mãos— Vamos lá. Hitch. Adormeceu vendo Hitch. — Desligou o DVD e a televisão. Com cuidado, enfiou as mãos sob seu corpo e a carregou nos braços. Não pesava nada, mas era compacta e macia ao mesmo tempo. —Agente Connelly… Hoje foi um dia duro para você, não foi, preciosa? Cleo se remexeu em seus braços e abriu os olhos pouco a pouco. —Vou deitá-la. —explicou num sussurro. Ela assentiu enquanto lutava para manter os olhos abertos. —Lion? —Sim? Cleo, entre o sonho e a vigília, apoiou a cabeça sobre seu peito e fechou os olhos. —Não veste camiseta. Ele sufocou um sorriso. —Shiiii… dorme. —Me deixa em meu quarto? —Sim. Não quer dormir comigo, assim… —Chegou ao patamar do segundo andar e se dirigiu ao que supunha, fosse o quarto de Cleo. Mas ela negou com a cabeça e mostrou o que ele ocupava. —Esse. —Está segura? —perguntou surpreso. Estava apontando o quarto em que ele descansava. Mudou de opinião? Queria dormir com ele? 43 | PRT


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Ela sorriu como se houvesse dito uma estupidez. —Sim, claro que sim. —Bem —respondeu feliz. Entrou com ela no quarto e a deixou ao lado esquerdo da cama. Ele ficou no direito e cobriu a ambos com a colcha roxa. A lua iluminava o rosto etéreo de Cleo, e Lion a olhou atentamente. —Sinto muito ter falhado com sua irmã —confessou em voz baixa. — E sinto constrangê-la assim… Mas você e eu faremos uma boa equipe. —Retirou-lhe o cabelo da bochecha e aproveitou para acariciá-la com os dedos… Por favor. Queria tocá-la. Queria tirar sua camiseta e a calça e vêla completamente nua— Não vou te decepcionar. Deu-lhe um beijo na testa e se aproximou dela até rodeá-la com um braço. Apoiou o queixo sobre sua cabeça e fechou os olhos. —Cheira malditamente bem. ***** O nariz picava e tinha algo duro e musculoso entre as pernas. Abriu os olhos e se deparou com o pomo de Adão de um homem. Lion. Franziu o cenho e olhou abaixo. A enorme perna de seu superior penetrava entre as dela. Mas que fazia ele aí? Esse era seu modo de respeitá-la? Disse que não iam dormir juntos. Olhou ao seu redor. Era seu quarto. Recordava ter adormecido e, depois, que alguém a levantava e a levava para a cama. Lion se incomodou em carregá-la até o andar de cima, mas, com o favor, permitiu-se a licença de se meter em sua cama. Confie nos bonitões morenos com olhos azuis. Há! O coração pulsava desmedido sob seu peito. O sol penetrava entre as persianas de seu balcão, e um de seus raios iluminava o rosto viril daquele homem. Lion sempre pareceu muito bonito. Insuportável, mas lindo. Não se podia ter tudo na vida, verdade? Agora estava dormindo e seu rosto era… enternecedor. Como o de um menino grande e bom. Mas não se enganava. Lion já não tinha nada de menino, e menos de bom. Os anos o endureceram e marcaram. 44 | PRT


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Hoje começava seu treinamento. Não conhecia Lion como Leslie. Não sabia se era muito estrito ou muito duro. Mas a Cleo lembrava uma pantera negra. Sempre à espreita nas sombras. Tomou ar e aceitou o que vinha. Havia dormido bem e estava descansada. Seriam os efeitos placebo de ter dormido com companhia? Sem ser consciente do que fazia, sua mão tomou vida própria e se levantou até tocar delicadamente seu lábio inferior. A boca desse agente deveria ser multada por promover o pecado. Sem perder nem um minuto, estendeu o outro braço até alcançar o iPhone que havia em sua mesinha, pôs o silenciador e tirou uma foto dele. Com uma estúpida risadinha, levantou pouco a pouco da cama e o deixou descansar. Quando descesse para tomar o café da manhã, o repreenderia por se atrever a se meter em sua cama e em seu quarto. Mas enquanto ele descansava, ela tinha trabalho a fazer. Leria os relatórios do caso que deixou sobre a mesa da sala.

Capítulo 4 Duas horas depois, Cleo estava imersa no relatório do caso mais interessante que leu em sua vida. Claro, seus anteriores casos como policial da cidade de Nova Orleans não tinham nada a ver com delitos federais nem violações aos direitos humanos, mas o resumo ofertado por Lion, que ainda continuava deitado, mal deixava cabos soltos. Existiam, é óbvio; por isso iam se infiltrar em Dragões e Masmorras DS. O objetivo era revelar a identidade dos Vilões e daqueles para quem trabalhavam. Em Dragões e Masmorras DS era onde tudo acontecia, tal e como se demonstrou quinze meses atrás. Aos cadáveres das quatro mulheres mortas se acrescentaram mais tarde os corpos sem identificar de dois homens brancos, achados entre Albuquerque West e Sunset Ranch, uma área meramente desértica por onde passava a Rota 66. A informação desses dois cadáveres foi apagada do sistema. Não havia nada sobre eles. Nem sequer mediante a identificação do DNA. Todos os seus históricos foram eliminados, e os agentes federais e analistas de sistema ficaram loucos para averiguar de quem se tratava. No final, não conseguiram.

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Por que envolviam a esses dois sujeitos no caso? Porque foram achados mais tarde que os corpos das quatro mulheres, mas estavam em avançado estado de decomposição, e os testes forenses coincidiram que morreram mais ou menos nas mesmas datas; pela área comum, dividada entre Arizona e Albuquerque, conclaves onde foram encontradas duas das vítimas principais; e, principalmente, porque ambos os sujeitos mostravam pequenos buracos no períneo, sinal de que usaram piercings naquela área tão sensível. No BDSM os chamavam guiches, piercings perpendiculares à direção do pênis; e significavam que eram posse de uma ama ou um amo. Se tivessem tido o objeto metálico em seu corpo, poderiam ter investigado quem era o suposto proprietário ou proprietária dos sujeitos. Mas já não o tinham; o tiraram recentemente. —Nossa… —sussurrou comendo o sanduiche de presunto e queijo que preparou— Que dano… Guiche — repetiu para comprovar como soava a palavra em seus lábios. E isso era o que tinham: seis vítimas nas datas onde supostamente se celebrou o torneio quinze meses atrás; duas delas homens não identificados, pessoas invisíveis que pareciam não existir para o sistema; corpos relacionados com o BDSM e achados na rota, conforme descobriu Leslie, que seguiam naquela edição de Dragões e Masmorras DS. Enquanto bebia seu café, repassou os nomes dos participantes do jogo e qual era sua hierarquia dentro dele. Devia memorizar tudo para não cometer nenhum engano e evitar chamar a atenção como ignorante, já que era sabido que, se estava no jogo e no torneio, conhecia todo aquele mundo à perfeição. Os participantes do torneio se dividiam em dois grupos: os protagonistas, que eram os convidados no jogo formado por casais e grupos de amos e submissos, cada qual com sua categoria pertinente; e as criaturas, grupos estritos de amos e amas, encarregados de pô-los a prova mediante seus jogos de dominação.

DRAGÕES E MASMORRAS DS 2012 REPARTIÇÃO DOS JOGADORES PARTICIPANTES PARTICIPANTES 1.1 - PROTAGONISTAS CONVIDADOS Os protagonistas optarão entre seis qualificações ou hierarquias diferentes que se anexam SOMENTE aos Amos. Os submissos não podem ser qualificados, à exceção de como submissos. São os brinquedos pessoais dos amos e, ao mesmo tempo, seus tesouros mais apreciados. Classificação por hierarquia: 46 | PRT


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Amo Hank. O Arqueiro. Protagonista Categoria 6. Pontuação + 11. Caracteriza-se por ser o grau mais alto entre os protagonistas convidados no jogo. Hank, no jogo original, era o arqueiro, o líder do grupo. É um amo inteligente e forte. Um líder por natureza. Conhece e controla todos os tipos de castigo e é o máster a ser seguido em jogos de sexo em grupo. Seu objeto: chicote em forma de flecha. Ama Shelly. A Bruxa. Protagonista categoria 5. Pontuação + 9. Ama que costuma ser a mão direita de Hank. Quando um protagonista de Categoria 6 e outro de categoria 5 se unem, podem se originar mediante meta de consenso, situações do Bukkake ou Gang Bang. Cleo franziu o cenho. Bukkake e Gang Bang? Meta de consenso? No relatório que Lion entregou não se falava dos termos e o vocabulário do BDSM. Precisaria ficar em dia sobre isso e aprender todos esses vocábulos especializados. Continuou com a categoria 5. As protagonistas de perfil Ama Shelly são carinhosas e controladoras. Protetoras. Shelly poderá fazer pactos com o Amo do Calabouço quando a situação o requeira. Seu objeto: Chicote. Amo Bobby. O Bárbaro. Protagonista Categoria 4. Pontuação + 8. São amos de feições joviais que adoram brincar. Mas sob essa afabilidade, há crueldade e dureza, embora sempre para o bem e prazer de seus submissos. São amos desafiadores que confiam muito em sua fortaleza e na de seu sumisso/a. No jogo pode se aliar facilmente com Uni. Quando Uni e Bobby coincidem num mesmo cenário, poderá resultar um quarteto. Objeto: Potro. Ama Diana. A acrobata. Protagonista categoria 3. Pontuação + 9. Amas muito disciplinadoras e habilidosas, dotadas de uma grande beleza. Gosta de pendurar seus submissos/as. Quando um Amo Hank e uma Ama Diana se encontram e se desafiam, Diana deverá assumir a dominação de Hank sobre ela, como sobre a de seu submisso/a. Objeto: Cordas. Amo Erik. O cavalheiro. Categoria 2. Pontuação + 8. Amo muito dominante e resmungão, mas devoto ao seu submisso/a. Sempre que Erik se encontra com um Amo do Calabouço, poderá desafiar sua ordem. Se vencer o Amo, seu submisso/a passará a ser de sua propriedade. Objeto: A cruz. 47 | PRT


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Amo Disposto. O feiticeiro. Categoria 1. Pontuação + 10. Amo original em seus jogos, adora a eletricidade, pois é um modo de tocar o submisso/a sem tocá-lo de verdade. É magia. Pode não ser muito versado em outros objetos e castigos, mas é muito respeitado pelos demais amos. Objeto: Eletroestimuladores.

Mãe de Deus, pensou. E onde se supunha que usavam a eletricidade? De verdade jogavam com isso? Mas, como? Cordas, varas, chicotes, cruzes, potros e eletroestimuladores. Mmm… Estava apavorada. CÚMPLICES DOS PROTAGONISTAS Durante o jogo e em todos os cenários, os amos protagonistas podem contar com a colaboração ou ajuda de dois personagens que estão ali para ajudá-los ao seu modo. Amo do Calabouço: Amo dominante por excelência. É o Máster do cenário onde se ambienta o jogo de dominação. Ele controlará aos protagonistas e vigiará para que respeitem as regras. Sua principal missão é facilitar aos participantes qualquer instrumento que necessitem para as provas e ser juiz (inclusive participante nas provocações, se o protagonista assim o pedir) nos duelos. O Amo do Calabouço poderá ficar com as submissas dos protagonistas vencidos nos duelos, se desafiar às criaturas que querem levá-las para seu uso, ou por pedido direto dos Vilões. Dependerá do gosto que tenha desenvolvido o Amo do Calabouço pela submissa em questão. Nesse caso, as criaturas desafiarão o amo mediante um jogo; Se o amo vencer as criaturas, ficará com a submissa. Será a submissa desta vez quem deve resgatar seu Amo original, submetendo-se ao Amo do Calabouço e realizando com precisão e êxito o jogo que pedir. Se o fizer, retornará com seu Amo original sem penalização. O Amo do Calabouço é na realidade um mestre versado no BDSM, e sua missão, embora às vezes não pareça, é ajudar os protagonistas para que continuem avançando no jogo. Objeto: todos. Uni. O Amo Unicórnio. Se Uni aparecer em cenas onde criaturas estão sendo muito cruéis com as submissas, o Amo Unicórnio pode libertá-las e perdoar o castigo, em troca de um favor (entende-se que a submissa deverá obedecer Uni em todos os sentidos, embora seu amo se negue.) Logo será devolvida a ele COM penalização. Uni pode aparecer em cena de duas maneiras: quando coincidirem no mesmo lugar uma série de protagonistas mágicos que são: o mago, o arqueiro e a bruxa. Ou, através das cartas que se achem durante o jogo (Ver COFRES SECRETOS). NOTA GERAL: 48 | PRT


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Amo. (De ama). 1. M. Cabeça ou senhor da casa ou família. 2. M. Dono ou possuidor de algo. 3. M. Homem que tem um ou mais criados, o respeito deles. 4. M. Pessoa que tem predomínio ou ascendente decisivo sobre outra ou outras. 5. M. U. Às vezes como tratamento dirigido ao senhor ou a alguém a quem se deseja manifestar respeito ou submissão. Dominante. (Do ant. part. act. de dominar; lat. dominans, -antis). 1. adj. Que domina. 2. adj. Dito de uma pessoa: Que quer avassalar a outras. 4. adj. diz-se do gênio ou caráter destas pessoas. 5. adj. Que sobressai, prevalece ou é superior entre outras coisas de sua ordem e classe. PERFIS Todos os Amos imersos neste papel hierárquico, protagonista e dominante respondem a um perfil comum que poderá ser alterado segundo a personalidade individual de cada um. Mas basicamente estes traços respondem a: 1.2.1.1 Perfil dos Amos Protagonistas: Amos ideais. Entendem que seu autocontrole é fundamental para dominar sua submissa. São severos e não fraquejam em seus castigos, até o ponto de sentir prazer como amos quando veem suas submissas chorando. Não obstante, como amante, a consolará e a acalmará. Deixa-se venerar, e é igualmente terno e recíproco com ela ou com ele. O amo ideal sente amor e a mesma veneração por sua submissa. Mas deixa os personagens e os jogos de lado na vida diária para se comportar como amante, amigo ou companheiro. Não tem necessidade de controlá-la fora do quarto. Este tipo de amo corteja, e aprecia ganhar o coração e a confiança daqueles sob seus cuidados. São extremamente passionais, mas essa doçura não impedirá que exijam a rendição de sua submissa mediante a determinação de um bom castigo. O corpo de sua submissa deve ceder a ele. Querem tudo. São protetores, seguem um código de honra e defendem sempre suas submissas. Se algum castigo não funcionar, não só culpam à submissa, culpam a si mesmos também. Para eles, o fato de ser Amo e Submissa e jogar desse modo não significa que um seja superior ao outro. Há igualdade dentro deles, e equanimidade fora da cama. 49 | PRT


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1.2.1.2 Perfil dos Amos do Calabouço: amos dominantes em todos os sentidos, que dão um significado total e absoluto à palavra propriedade. Desfrutam com a dominação, mas amam e se preocupam com seu submisso/a. Cuidar deles e mimá-los está em seu código moral. São amos tão fora como dentro da cama. Querem que aquela pessoa que se entregou a eles evolua como amante e também como pessoa; que aprendam a se submeter e a confiar que o amo sempre dará aquilo que necessite o submisso. Este tipo de amos chegam a controlar dietas, estética e modo de vida dos submissos/as: os dirigem. Precisam controlar tudo; e se não o fazem se encontram mal e se frustram; o BDSM cobre esse desejo. Confia em sua submissa e pode ter inclusive mais de uma. Sabe o que causa tristeza, a alegra, enfurece, excita … Conhece tudo dela e, graças a isso pode cobrir suas necessidades. São amos que demonstram grande naturalidade, não têm que marcar território adotando posturas agressivas ou de superioridade; são passionais e podem conhecer muitos modos de castigo, mas no fim só utilizam o que satisfaz a ele e sua submissa. É um amo honesto, expressa seus sentimentos e não se envergonha disso. São pessoas muito seguras de si mesmas e querem que seus submissos se sintam igualmente seguros com eles, ao mesmo tempo que sem eles. Procuram, acima de tudo, contribuir com o crescimento pessoal de seu submisso/a, e crescer, aprender e desfrutar com ela ou ele. 1.2.1.3 Perfil Uni: Amos que são um compêndio entre Amo do Calabouço e protagonistas. São muito brincalhões e provocadores. Agem de um modo ou de outro dependendo das necessidades da submissa. São volúveis e não têm uma personalidade definida. Amoldam-se e não impõem, exceto quando entendem que a submissa necessita mais mão firme e menos flexibilidade. São amos muito empáticos, que não se importam em dobrar-se, às vezes, às necessidades da submissa. Não aguentam rogos e súplicas. Apreciam ver a fidelidade real entre amos e submissas e não hesitam em testá-las. Havia um mundo cheio de psicologia dentro do BDSM. E pelo visto também diferentes tipos de Amos. Cleo não sabia nada absolutamente de DS. O pouco que sabia era o que a maioria das pessoas acreditava saber: que se tratava de uma prática sádica em que se submetia sexualmente às pessoas de um modo que beirava a humilhação. Amos, escravas, submissos, dominantes…? No século vinte e um? Não entendia. Mesmo assim, embora fosse um universo escuro e, certamente, cheio de lendas urbanas, não podia negar que sentia um leve comichão e uma sã curiosidade por aqueles temas. Mas sua pele arrepiava ao saber que sua irmã se submeteu voluntariamente à alguém. Não imaginava Leslie o fazendo. Embora tampouco se imaginava o fazendo ela mesma. E muito menos com Lion… Além disso, qual seria exatamente sua instrução? 1.3 CRIATURAS

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Dentro dos jogos haverá um grupo de inimigos dos convidados protagonistas. Este grupo trabalha para os Vilões e se encarrega de submeter aqueles casais protagonistas que perderam nos desafios apresentados pelo ORÁCULO (Ver Figuras chave no cenário) em cada cenário do jogo de personagens. Aparecem quatro clãs de Amos, alguns convidados e outros não, que se subdividem em: Rainha das Aranhas, Orcs, Macacos voadores e Homens lagarto. Todos têm seus cenários de ação e seus territórios, e podem atuar livremente neles. Sua função principal é a de incomodar e dificultar a conquista nas provas dos participantes. Estes quatro clãs utilizarão todo tipo de brinquedos e suportes para fazer os submissos estremecerem, às vezes pondo a prova sua resistência à dor, e outras vezes os provocando até conseguir que cheguem ao orsm. Se o submisso disser a codeword (Ver 3.4) nos castigos, ou não contiver seu próprio orgasmo, perde o amo durante todo o jogo, e pode ver como ele encontra outra submissa. Essa seria uma prova definitiva para sua fidelidade. As criaturas utilizarão os objetos mais rudes e conhecidos no BDSM. Pinças, piercings, chicotes com pregos, eletrodos, cinturões pênis, arnês, consoladores extragrandes, cera, fio, esporas… E um longo etc. Rainha das Aranhas: Especialista em torturas e mão direita dos Vilões. Avaliará os submissos, se unirá aos castigos mais especiais sempre que a agrade e fornecerá os nomes daqueles escolhidos dignos de acompanhar os Vilões na final. Orcs: Adoram a dor e, como consequência, ver os submissos/as chorando lhes provoca prazer. Trabalham em casais e submetem em casal. Macacos voadores: Costumam roubar os materiais de castigo dos Amos protagonistas. Se chegado o momento das provas que ordena O Oráculo, os Amos não têm seu objeto em mão, a submissa ou o submisso sob os cuidados do amo irresponsável será castigado pelo macaco com inclemência. O submisso/a não poderá chegar ao orgasmo. Se o fizer, os macacos poderão levá-lo como escravo. A submissa poderá então dizer sua palavra de segurança (codeword) para não submeter-se aos macacos, mas se o fizer, ela e seu amo protagonista serão eliminados do jogo. Homens lagarto: Os mais violentos dos clãs. Adoram escravizar. São rudes fisicamente, de aspecto musculoso. Fanáticos do sexo em grupo, o fisting, o creampie e o DP. Severos. Não dão perdão. E não se importam em submeter até a extenuação. NOTA sobre as CRIATURAS: As criaturas são desejosas que os casais protagonistas percam em seus duelos. O que querem é carne fresca para torturar e atormentar a seu desejo. 51 | PRT


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Mas os casais não estão obrigados a jogar com eles, por isso têm a arma de poder mais importante, a codeword (ver 3.4). A palavra de segurança salvará os amos e as submissas de serem submetidos pelas criaturas e, como acontece no jogo de dominação e submissão entre casais, a palavra de segurança fará que finalize o jogo no torneio para ambos. Certo. OK. Então, não se obrigava ninguém a ficar com as criaturas. Respirou mais tranquila e soprou. Menos mal… Viva a palavra segura! Fisting, creampie e DP? Deus… Orsm? Ia apontando todas as palavras que logo devia procurar pela Internet e também as perguntas que surgiam numa caderneta. Quando Lion descesse para tomar o café da manhã exporia todas suas dúvidas. Com letra maiúscula, a modo de pós-escrito escreveu: AS CRIATURAS SÃO NOMEADAS A ABANDONAR A CASA. 1.3.1 PERFIS Perfil dos Amos Criaturas e dos Vilões: Dominam no aspecto sexual, não os interessa a emotividade nem as necessidades de suas submissas. Só os interessa o prazer que possam obter delas e, quando já as submeteram, as relegam ou se desfazem delas. Podem explorar à submissa em muitos sentidos e não só nos sexuais. É um amo altivo que se acha superior aos outros. Abusa de sua submissa e a controla. Não gosta que possa relacionar-se com o exterior nem que tenha contato com ninguém mais. Adoram a debilidade de outros porque assim se sentem mais fortes. Finge ser bom amo diante dos outros. Vende sua falsa imagem para atrair possíveis submissas, mas é um sádico que se enfurece com elas e as submete. Jamais mostra seus sentimentos porque não sente nada com a entrega de sua submissa. É um especialista em todas as técnicas BDSM. Cleo soprou e estremeceu. Como uma mulher ou homem, sendo submisso, ficava nas mãos de um amo com perfil vilão ou criatura? Bom, claro, ali dizia que esses amos ordinários tendiam a se disfarçar sob uma atitude que não era real. E logo… zás! A traça se eletrocutou com a lâmpada. CENÁRIOS ONDE SE DESENVOLVERÁ O TORNEIO DRAGÕES & MASMORRAS DS Desenvolver-se-á a ação no mundo de Toril, num continente chamado Faerûn, em honra ao cenário mais popular entre os jogadores do jogo original de Dragões & Masmorras. 52 | PRT


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Cleo apontou: perguntar a Lion onde se presume estar o mundo bizarro de Toril… Fez um garrancho ao lado, e depois acrescentou: ao lado de Grayskull, com He-Man e Esqueleto? Cada cenário terá um Amo do Calabouço encarregado e um grupo de criaturas dispostas a perturbar e desafiar os protagonistas. O Amo do Calabouço decidirá, segundo as provas e os desafios completados, se os casais de amos e submissas protagonistas devem se submeter à lei do Oráculo. O Oráculo exporá uma prova do DS para os que fracassaram na missão; se conseguirem completá-la como pediram, o casal protagonista poderá ser libertado pelo Amo do Calabouço. Se não conseguirem, as criaturas os levarão e os desafiarão a aguentar seu castigo. Se suportarem, poderão retornar ao jogo de personagens, mas ainda sim, penalizados. FIGURAS CHAVE NOS CENÁRIOS O Oráculo: É o personagem que divide o jogo em cada cenário. Repete as ordens diretas dos Vilões, e carrega um baralho de cartas. As cartas se dividem em três pilhas para representar uma cena ou um desafio. Uma pilha de objetos (que servirão para jogar com o/a submissa/a), outra da modalidade ou jogo (cruz, potro, algemas, cordas, cadeira de bondage, mesa de tortura-exploração, chão e cama), e outra carta de duração da prova e número de orgasmos a alcançar pela submissa. O casal que fracassar no duelo será castigado pelas criaturas, mas, se dispuserem de uma carta Oráculo (Ver Cartas) sempre poderão acudir uma última vez ao Oráculo para jogar duas cartas transcendentais, em vez de utilizar o codeword definitivo. Se o amo e a submissa não estão de acordo em jogar com as criaturas, poderão jogar sua permanência no tudo ou nada com o Oráculo. Se sair a carta da liberação, o Amo do Calabouço os ajudará a fugir das criaturas; mas, em caso contrário, se sair a carta do castigador, o casal fica definitivamente eliminado do jogo e voltarão para casa, sem ter oportunidade de ver sequer a final. Tela união de personagens: Em cada cenário é inevitável a reunião de vários protagonistas para realizar os desafios. Pode chegar o momento que se estudará quem presenciará os desafios num mesmo cenário e quais se desafiam, sirva para liberar do castigo das criaturas, inclusive de uma eliminação fulminante sob as cartas do Oráculo ou sob a rendição de uma submissa. Por isso, em cada cenário haverá um monitor com um número indicado pelos Vilões. Os afetados por perder os duelos poderão ir ao Amo do Calabouço com aqueles protagonistas que tenham decidido colaborar para conseguir sua salvação e oferecer um desempenho em grupo. Deverão saber convencer os demais amos protagonistas para que os ajudem. Se entre eles somam mais da pontuação máxima que indicaram os Vilões, serão salvos; do contrário, serão eliminados. Cofres secretos: São caixas que durante cada dia os protagonistas devem achar em suas missões, o objetivo principal do jogo. Só haverá cinco cofres por dia. Assim que os mais espertos e chicoteados serão os afortunados em possuí-los. Em cada caixa haverá sempre uma chave, além de cartas de liberação gratuitas, passes vips e exclusivos com os Vilões; também objetos que valem 53 | PRT


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por um personagem ou cartas que somem nas telas de união; assim como objetos de dominação e cartas que valem para eliminar competidores; e, por último, passe para festas exclusivas realizadas pelos organizadores do torneio. Em nenhum dos cofres diários haverá o mesmo. Codeword (palavra de segurança): A palavra de segurança é uma palavra salvadora pactuada entre amos e submissas que detém os castigos durante seus jogos de dominação. A poderão empregar também os amos e submissas que tenham perdido nos duelos e que estejam a ponto de enfrentar às criaturas. É uma palavra de poder, e cada casal tem a sua. Se a pronunciarem, são liberados das masmorras definitivamente e poderão voltar para sua casa, fora do torneio. OBJETOS Figuras protagonistas: podem-se achar nos cofres ou escondidas pela rota do torneio. São úteis para utilizá-las em caso de União de personagens ou em caso de invocar o Uni. CARTAS Encontram-se no interior dos cofres. Cartas quantidade: utilizam-se para superar a cifra que indicam os Vilões em cada cena. Cartas mudança de casal: durante o torneio podem surgir rixas entre os casais. Esta carta habilita a trocar de companheiro, sempre e quando houver um duelo organizado pelo Amo do Calabouço. Cartas switch: O Amo cede seu papel dominante à submissa. Cartas capa invisibilidade: esta carta te faz invulnerável durante a jornada e acessa automaticamente a seguinte etapa. Cartas de eliminação: pode eliminar da competição um competidor, ficar com seu companheiro e com toda a recompensa. O Amo afetado pode solicitar um duelo de cavalheiros para impedi-lo. Se não o fizer, o novo casal deverá pôr a prova sua compatibilidade frente ao Amo do Calabouço. Carta Uni: invoca Uni automaticamente. Carta Oráculo: Dá sempre uma segunda oportunidade diante do Oráculo se for eliminado ou fracassar na prova. Carta vida extra: se o eliminaram, não tem importância. Guarde esta carta e reviva. Mas só a pode utilizar numa margem de dois dias de torneio. Carta pergunta ao Amo: te dará uma pista sobre onde se esconde o cofre da próxima jornada. 54 | PRT


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Carta Criaturas: se tiver sorte que nessa cena esteja o tipo de criatura que mostra a carta, o libera de seu castigo no caso de ter perdido o duelo. NOTA: Os participantes protaginistas poderão trocar cartas entre eles quando acharem que é necessário. Guarde seus objetos e suas cartas, e se cuidem dos Macacos voadores! Eles não dormem! REGRAS DO JOGO O objetivo principal do torneio é erigir-se como melhor amo e submissa do jogo de personagens Dragões & Masmorras DS (serão permiadas as melhores cenas bukkake, gang bangs, felação, bondage, creampie e todas as categorias BDSM assim como as parafilias mais atrevidas. Para isso, jogar-se-á com o controle dos orgasmos, o tempo, as quantidades e a capacidade da dor-prazer de cada amo/a com seu submisso/a. Cleo parou e fez uma careta com a boca. —Devo ser uma ignorante… Parafilia… seja lá o que significa — murmurou enquanto mordia o sanduiche e continuava com as regras do jogo. Para erigir-se como melhor ama/amo e submissa/submisso, os participantes têm que completar as missões diárias (todas relacionadas com o achado dos cofres). O formato da busca dos cofres é estilo gincana. Os protagonistas e seus submissos deverão passar por provas de velocidade, de inteligência, de confiança e de sincronia em jogos onde os sentidos devem estar completamente atentos. Dentro dos cofres há sempre uma chave. O amo deverá as colecionar até conseguir, no mínimo, três chaves que os liberem a ele e a seu submisso/a das masmorras para chegar a final e apresentar-se diante dos Vilões, os quais os desafiarão publicamente e os empurrarão até alcançar seus limites. O último duelo será entre Vilões e protagonistas. Só pode ganhar um casal. Durante o torneio diário, aqueles que não consigam os cofres deverão se enfrentar entre eles no cenário. O Amo do Calabouço será o juiz dos duelos, e o Oráculo dividirá o jogo. As criaturas esperarão a derrota dos casais para impor sua lei. NOTA: Fica reservado o direito do duelo à honra (duelo de cavalheiros), tanto entre amos como entre submissas. Para isso, poderão se desafiar publicamente e combater corpo a corpo à moda antiga. Luvas e boxe. 55 | PRT


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NOTA 2: Para evitar que os orgasmos se finjam, todos os participantes carregarão um medidor de frequência cardíaca que controlará seu ritmo e seu ponto culminante. Duração do torneio: 5 dias Máximo de penalizações: 2 Lema do torneio: Consenso, Sanidade e Segurança. Comunicado dos organizadores: Os amos e suas submissas poderão circular livremente pelas instalações do torneio uma vez que se finalize a jornada de papéis e todos tenham concluído seus castigos. Os participantes deverão ir com o bracelete, inclusive tudo incluído que os fornecem quando se confirmar sua presença. Normas morais: Os jogadores se prestarão às pertinentes análises de sangue e testes físicos de resistência para demonstrar que gozam de uma boa saúde. Todas as relações sexuais se realizarão com camisinha, a não ser que ambas as partes envoltas decidam não fazê-lo. O torneio é para diversão e entretenimento daqueles que amam e respeitam o BDSM: não aceitaremos comportamentos violentos se as submissas não aceitarem isso nem o amo deu consentimento, nem permitiremos a presença de sádicos que não mostrem autocontrole. Se em algum momento um submisso/a receber um castigo no qual se faça uma ferida ou haja derramamento de sangue, o casal protagonista será expulso do torneio. O mesmo acontecerá se for uma criatura quem infligir a dor. Qualquer jogo a realizar estará sob o controle da organização. Garantimos a segurança de todos os participantes e asseguramos que todos os objetos que forneceremos são totalmente novos. Em Dragões e Masmorras DS não aceitaremos comentários xenófobos e eliminaremos da competição qualquer amo ou submissa que mostre algum tipo de comportamento pedófilo. A organização denunciará tais devios de conduta taxativamente. Quando as masmorras se abrem, os dragões vão à caça! Que comece o torneio! NOTA: O BDSM pode ser um jogo sexual ou um modo de vida, mas sempre se deve praticar com respeito e o consentimento do amo e da submissa. A devoção, o amor e a entrega da submissa pelo amo, deve ser igual a devoção, o amor e a entrega do amo por sua submissa. Cleo piscou e assentiu com a cabeça. 56 | PRT


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—Porra… Que confusão. Não sabia de nada… Grande jogo montaram. Ela não era viciada em jogos de personagens, mas havia membros da polícia que jogavam WarCraft e explicavam suas aventuras em seus reino virtuais e ela se assombrava ao ver que o viviam com tanta intensidade. Os organizadores de Dragões e Masmorras edição DS —se permitiu rebatizá-lo—, eram muito claros e acreditavam no jogo como algo de mero entretenimento. Mas havia alguns membros que não eram tão claros e estavam fazendo de um jogo sexual formado, certamente, por pessoas equilibradas e sãs, embora com atípicos gostos sexuais, uma espécie de canteiro para traficar pessoas. Não obstante, isso não acontecia só no BDSM: acontecia em todas as partes. Uns utilizavam disfarces como anúncios para procurar novas modelos publicitárias; outros asseguravam ter trabalho de au pair em algum país estrangeiro… Desta vez escolheram um jogo de dominação e submissão; mas como nem todos os que ofereciam trabalhos de au pair ou as webs que procuravam o novo rosto do verão eram ninhos de tráfico de mulheres, os fóruns do BDSM, sua gente, tampouco eram. Mesmo assim, a merda salpicava em todo mundo, verdade? —Bom dia, agente. Cleo levantou a cabeça de repente, e se deparou com o hercúleo corpo de Lion, seu adorável rosto recém-despertado e um sorriso de pecador indomável em sua boca. A jovem por pouco se engasga com o café ao vê-lo. Merda, inclusive com remelas estava bom. —Bom dia. —Se colocando em dia? Cleo olhou as folhas do relatório esparramadas sobre a mesa e começou a ordená-las. —Sim. —Garota aplicada. Ela o olhou de esguelha. Estava de cueca. Uma cueca negra ajustada que marcava toda sua mercadoria… E o pequeno amontoado… Que de pequeno não tinha nada. Aparentemente Lion não importava em se expor diante dela desse modo; e Cleo se sentiu secretamente fascinada por esse detalhe. Eles dois iam viver emoções fortes a partir de agora. Mas a realidade era que Lion sempre foi o amigo de Leslie e não o dela, por muito que tentasse.

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—Tem café, pão-doce, suco de laranja… —ela enumerou agarrando a caderneta com as perguntas e a colocando sobre as pernas. —Desde quando está acordada? —Desde às cinco e meia —respondeu, aproveitando para observar sua parte traseira agora que ele tinha a cabeça metida na geladeira. —Não pôde dormir? —Se enfiou em meu quarto. Se enganou. Lion a olhou por cima de seu ombro e sorriu arqueando as sobrancelhas. —Sério? Me disse que esse era o meu. —Não, se equivocou. Disse que o do lado era seu. —Não percebi. Entendi o contrário… Pois gosto de seu quarto — pegou a garrafa de leite gelado, a abriu e começou a beber da garrafa diante dela. Lembrou do anúncio da Coca-cola, onde um trabalhador saía de uma obra, o peito descoberto, bebendo da lata, e os empregados do escritório ficavam colados à janela, passando por voyeurs. Pois bem, Lion era um atleta e não havia nem rastro de gordura em seu corpo. E ela era uma voyeur. —Não usa copos, homem bonito? —perguntou estupefata. Lion parou de beber e limpou a boca da garrafa com a mão. —Vamos compartilhar mais que nossas salivas, agente. Não fique suscetível. —Ouça, veja —Cleo levantou da barra americana da cozinha e se plantou diante dele— Quer me deixar nervosa? Não tem que me soltar esse tipo de comentários a cada momento. Hoje já sou mais consciente do que devo fazer e estou disposta a tudo. —Tem certeza? Lion duvidava. Não era fácil para uma mulher descobrir o BDSM desse modo. Mas confiava em Cleo, em sua coragem e sua honestidade. E ansiava por ensiná-la e jogar com ela. Faria isso porque a desejava desde sempre, mas, acima de tudo, por sua segurança. Quanto mais Cleo soubesse sobre dominação, mais curiosidade despertaria no jogo e mais a salvo estaria ao seu lado.

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—Sim. Quero fazer isso. —levantou o queixo e jogou a cabeça atrás. — Isso não quer dizer que não vá me acovardar. O farei. E provavelmente chorarei como uma criança, mas não leve isso em conta. Suponho que será inevitável, porque… não tenho resistência à dor. Mas tampouco tenho alternativa. Lion cobriu sua bochecha com a mão e sorriu meigamente. Cleo era resistente. Mas se sentia insegura com a ideia de obedecer e se submeter a um homem; e não a um qualquer. A ele, e no plano sexual. —Por Leslie. —Sobretudo por ela, sim. —Seu olhar verde se tornou dúbio e olhou admirada a mão de Lion, que ardia sobre seu rosto. — Está errado? Lion arqueou sua sobrancelha partida e negou com a cabeça. —Não. Não está errado. Também estou preocupado com Leslie e preciso tirá-la dali seja como for. E gosto que seja franca comigo. Precisaremos ser muito honestos um com o outro. De acordo? —De acordo. —E… agente? —Sim? Lion se inclinou sobre ela e lhe disse ao ouvido. —Quando chorar, lamberei suas lágrimas. Cleo engoliu saliva e sentiu que os joelhos se tornaram gelatina. Se caísse ali, sem nenhum motivo, ficaria muito mal? Envergonhou-se ao se sentir atraída por ele quando sua irmã estava sequestrada e desaparecida; por isso deu um passo atrás e com voz trêmula perguntou: —Acha que…? —Não, agente. Não o fizeram —a cortou com contundência. —Por que está tão seguro? —Porque Leslie é muito valiosa para eles. Não farão nada com ela até o final. Cleo pensou em sua resposta. Até o final… —Do torneio. Até a final do torneio —compreendeu. 59 | PRT


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—Sim. Não sabemos quem são os Vilões. Não sabemos onde vivem, como vivem, qual é seu objetivo… Há tráfico de mulheres atrás deles, mas com que objetivo? E a droga? A variação do popper? De onde a tiram? Quem são seus traficantes? São como putos fanstasmas—grunhiu frustrado, — e ninguém viu seus rostos jamais. A Rainha das Aranhas convidou Clint e Leslie para o torneio, e o fez porque sua irmã despertou o interesse dos Vilões, e talvez também o dela. Se a tiverem, não a mostrarão até a final. É um petisco que eles gostam. —E se a drogam? E se a estupram? E se… Lion lambeu os lábios com nervosismo. —Leslie é uma excelente agente do FBI. Não sei o que estão fazendo com ela nem sei quem a tem, mas sua irmã sobreviverá e brigará. A única coisa que você e eu podemos fazer por ela agora mesmo é começar a trabalhar e te preparar para sua nova identidade. Não vamos nos torturar pensando no que poderiam estar fazendo com ela. Vamos resolver isso, dando o melhor de nós para chegar até ela. Está claro, agente? Cleo assentiu e sentou de novo na poltrona. —Está claro, senhor. —Lion tinha o dom de comando e era autoritário. Passando por amo, era excelente. —Bem —sentou na poltrona ao lado; e enquanto pegava um sanduiche dos que Cleo preparou e bebia um copo de suco, olhou a caderneta que usava com interesse — Este é o plano de hoje. Me prgunte as dúvidas que tiver sobre o que leu no relatório e depois começamos a trabalhar em seu treinamento. —Sim, senhor! —Fez a saudação militar. —Agente Cleo, não se exceda comigo… —murmurou a olhando com olhos ardentes por sob seus cílios. —Não o farei, a Virgem dos açoites me livre —murmurou entre dentes. Lion reprimiu uma gargalhada. —Isto vai ser muito duro… Adiante, me pergunte o que quiser.

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Capítulo 5

“Tem namorada?” pensou, surpreendida pela livre separação de seu cérebro. Mmm, bom, não deveria importar se ele tinha namorada… Em todo caso uma noiva sim. Mas seu código moral não permitia toques com alguém que já estivesse caçado. Seus grossos e longos dedos não levavam nenhuma aliança, assim… —Tem namorado, Cleo? —Eu? —perguntou estupefata. Ele a olhava com olhos azuis obscurecidos, misteriosos e… desafiantes. Por que o desafio diante de uma pergunta desse tipo? —Sim, você. —Hã… não. Não… oficialmente —mas, o que estava fazendo? Claro que não tinha namorado. Aborrecia-se com os homens logo e sexo não parecia nada do outro mundo… Mas reconhecer que nesse momento tinha menos vida sexual que seu camaleão a envergonhava. Queria demonstrar para Lion que não era uma solteirona dissimulada. Lion fixou seus olhos na xícara vermelha de café que agora bebia, e começou a girá-la entre as mãos. Cleo precebeu que fazia força com os dedos, como se quisesse arrebentar a xícara vermelha. —Me esclareça isso de “não oficialmente”. —Bom… É um amigo da delegacia de polícia. É… — Quem seria? O bom Timi? Não, nem pensar. Precisava de alguém que pudesse competir com Lion… Que o irritasse se alguma vez o visse. Ah… Magnus— Se chama Magnus. Não estamos saindo… Não de maneira… —Sei, oficial. E isso o que quer dizer? Que não podem dizer que fodem de vez em quando? Cleo se inclinou atrás e levantou as sobrancelhas até quase juntar-se com o nascimento do cabelo. —Uau… —murmurou— esse comentário está fora de sua jurisdição, senhor. O que eu faça com Magnus não deve te importar. —Equivoca-se — levantou o olhar e a transpassou com ele— Durante sua instrução e enquanto resolver durar esta missão, agente Connelly, estarei no controle de tudo. Não penso deixar nenhum cabo solto. Desde hoje, não se encontrará mais com Magnus —proibiu taxativamente— Não precisa de distrações. 61 | PRT


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—Pode me ordenar isso? —Seus olhos verdes lançavam chamas. —Há jogadores de BDSM em todo lugar. O mundo é pequeno e não penso me arriscar a que alguém a veja com outro cara que não seja eu. Devemos começar já com nossos papéis. —Leslie passou pelo mesmo? —Sim. —Estava saindo com alguém? —perguntou interessada. —Não —olhou seu relógio de pulso. — Tenho todo o dia organizado, então, por favor, use este tempo para resolver dúvidas. Deve ter muitas… —Algumas, sim. Por exemplo, sobre Leslie. Se a sequestraram e tirarem seu sangue podem averiguar que é agente federal e poderiam matá-la. Lion negou com a cabeça. —Não é possível. Quando Leslie entrou na missão, todos os dados reais sobre Leslie Connelly foram anulados da base de dados. Criou-se para ela uma nova identidade em todos os sentidos. Inclusive mudamos seus testes de DNA. Tentamos proteger nossos infiltrados. —Sei… Comigo fizeram o mesmo? —Sim. Por agora Cleo Connelly não é filha de pais irlandeses, mas sim filha adotada de uma família texana. Trabalha numa galeria de arte em Chicago e é uma garota deliciosa e… muito tímida. Não deve falar muito. Não falar muito? Mas se não se calava nem debaixo da água. —A missão vai ser um fracasso. — Bufou ela retirando a franja longa dos olhos. Fazia pouco tempo que cortou o cabelo e tinha um cabelo da cor vinho tinto, bonito e cheio de volume. Mas embora o cabeleireiro tentasse recortar a franja, ela se negou. O penteava um pouco para um lado e resolvia. — Se não puder falar, sufocarei. —Todos os gastos da missão estão a cargo do FBI. Tudo. De hotéis, até viagens, dietas e compras pessoais… ele nos financia tudo isso. —Viva o FBI! No corpo de Polícia só pagam o café do escritório. —Ora, sinto… —disse com um sorriso. —Sim, estou vendo como sente… Certo, entendo que ao me infiltrar me protegem com uma nova identidade. —Próxima pergunta. —Levantou e recolheu os pratos vazios do café da manhã e as xícaras que já usaram. Abriu o lava-louça e colocou as coisas em seu lugar. 62 | PRT


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Cleo não podia acreditar e estava tentada a correr atrás do seu iPhone e tirar uma foto do cara gostoso que estava enchendo sua lava-louça, de cuecas. Ah, seria a inveja do Facebook. Mas não o faria, óbvio. —Bem… O que motiva os participantes a se inscrever num torneio dessa índole? —Diversão. Só diversão. Eles não o vêem como você. Você se sente bem tendo sexo baunilha com Magnus — murmurou. — Eles gostam de praticar sexo mais picante. —Baunilha? —Com Magnus? Estava louco. Mas ele acreditou na mentira. —É como se chamam a maioria das pessoas que fazem amor clássico. —Oh, por Deus… Lion, não se mova agora. Cleo levantou e agarrou Ringo, que estava imóvel e camuflado na cueca de Lion. O tirou do terrário assim que levantou e, enquanto ela lia, Ringo pululava pela cozinha. Roçou suas rígidas nádegas com os dedos e uma corrente életrica percorreu sua mão até seu ombro. Lion girou e franziu o cenho. —Está passando a mão em mim? Cleo, vermelha como um tomate, mostrou Ringo, que desfrutava coberto entre as palmas quentes de sua proprietária. —Gosta muito de se misturar com as pessoas… É uma mania. Como um pequeno transtorno. Lion estudou o inseto verde que a jovem tratava com tanto carinho. —Você também tem lagarto? —É um camaleão. —O que seja. Porra, olhe como é feio. —Não diga isso diante dele. Entende tudo — o repreendeu. Lion começou a rir. —Leslie também tem. Agora uma companheira do FBI cuida deles… Nota-se que são irmãs. —Nós adoramos. Temos um pequeno camaleão tatuado em nosso corpo, sabe? Ela tem no interior da coxa esquerda, e eu… —Na direita? —fixou seu olhar em suas coxas. 63 | PRT


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—Sim. Gostamos desde pequenas. E são seres muito sensíveis e divertidos… —É um réptil —respondeu incrédulo. — É de sangue-frio. —Como você. — Espetou se virando e deixando Ringo em seu adorado ficus. Quando o enfrentou de novo, limpou a garganta e cruzando os braços perguntou: —Nas regras do torneio não indicam se os ganhadores recebem algum tipo de remuneração por ser melhor amo e melhor submissa. —Há um prêmio. Dois milhões de dólares. —Doi… — engasgou. — Dois milhões de dólares?! —gritou com voz estridente. —Sim. —Certo, agora sim, entendo por que participam. —O prêmio é muito atrativo. Mas as pessoas do BDSM, os que de verdade o amam e entendem o que é, não estão lá pelo dinheiro. Para eles já é um prêmio poder participar e jogar seus jogos favoritos. Erigir-se como Amo e submissa ganhadores, à margem dos milhões, dá-lhes uma satisfação quase espiritual. É uma honra para eles. Lion falava com respeito sobre os praticantes do BDSM. Ela não sabia nada sobre eles, mas ele, aparentemente, entendia o que os movia. Teria se infiltrado além da conta? —Já se sabe qual será a rota deste novo torneio? —Aos selecionados enviarão um convite privado com o lugar de início dos jogos. Isto é como uma gincana. Sabemos onde começa, mas não saberemos onde acabará. —Nas regras do jogo li que se imporão castigos àqueles casais que perdem nos duelos. Os Homens lagarto, os Macacos e todos outros… jogarão com o amo ou a submissa do casal… Isso não os obrigará a fazer algo que não querem? Isso não é um abuso? O agente se apoiou na bancada e sorriu compreensivo. —Não obriga ninguém a fazer nada contra sua vontade. Essa é a realidade de Dragões & Masmorras DS. O jogo é sadio, justo e muito respeitoso. As Criaturas são amos, que desta vez, jogarão nesse papel, mas não quer dizer que sejam malvados. Se prestar atenção, os casais protagonistas sempre podem escolher o que fazer. O jogo sempre dá segundas escolhas, inclusive quando já perderam. Um casal pode aceitar o castigo das Criaturas se decidiu por consenso entre ambos. Se não for assim, o casal sempre pode abandonar e finalizar sua participação antes de cair em gang bangs ou em outro tipo de atividades mais multitudinárias e duras. Mas a surpreenderá ver que muitos quererão jogar com as Criaturas, porque para eles se trata de um jogo sexual onde 64 | PRT


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não há pecado, exceto o de não apreciar. Tudo dependerá da personalidade do amo e da submissa. —Mas li que os Amos criaturas são muito cruéis. Como um homem ou uma mulher submisso se entrega a alguém que a machucará? —Imangine que caso se entreguem a isso, é porque o desejam. Poderá ver pessoas gritando, e parecerá que estão passando verdadeiramente mal. Mas na realidade gostam disso. Estão em sua própria fantasia. A submissão e a dominação são papéis sexuais e espirituais, e Dragões & Masmorras DS é um filme. E todos os participantes estão em seu ambiente. —Entendo… Acredito. Tenho a ideia do BDSM como algo mau e escuro. É normal que tenha reservas, não? —Ela mesma estava se defendendo das nulas críticas de Lion. Ele cruzou de braços e colocou sua perna direita diante da esquerda. —Tem mais perguntas, senhorita? —O que é Toril? Lion sorriu abertamente e Cleo teve que piscar para parar de olhá-lo. Rodeava-o um halo de luz? —Toril é um planeta fictício dos cenários dos Reino Esquecidos. Os jogos de personagens de Dragões e Masmorras se encenam em planetas e terras dos Reino Esquecidos e do WarCraft. Seja qual for a rota que sigamos, os cenários que nos preparam serão inspirados neles. Toril significa o berço da vida. —Há palavras do relatório e do dossiê que não entendo. —Resolveremos isso. Trouxe para você um par de coisinhas para que se informe. —Poderia pedir a Marisa que me empreste esses livros eróticos que estão tão em moda agora… Lion soprou e cravou os olhos no teto. —Não vai ler isso. —Mas fala de BDSM, não? Todo mundo lê. —Querida… O BDSM autêntico é outra coisa. Esses são jogos de amos e escravas baunilha. Cleo piscou. Querida? A chamou de querida… Ok. O agente estava perdendo sua postura; e Lion saía à superfície. —Pois é um bestseller. 65 | PRT


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—Os li, acha que não? Mas são livros que podem confundir as pessoas. O protagonista estava louco e traumatizado porque sua mãe apagava as bitucas de cigarro no seu peito e decidiu meter-se no BDSM. E ela pretende salvá-lo e tirá-lo daí. Pois adivinhe. —O que? —Os amos e as submissas não querem que ninguém os salve. Gostam do que fazem, gostam de seu mundo. E não responde a nenhum tipo de psicopatia, nem paranoia, nem transtorno obsessivo compulsivo… Por eliminação e por maioria, há muitos mais desequilibrados baunilhas que membros do BDSM. Há muitos mais loucos que fazem amor clássico e com ternura, que amos e submissas. Há gente que se excita se lambe seus mamilos e gente que goza se os morde. Mas uns e outros sentem prazer. A dor pode ser prazer, e isso os DS sabem. —Fala como se fosse um deles. Os olhos de Lion escureceram, os cantos de seus deliciosos lábios se elevaram, e seu rosto mostrou um mundo cheio de pecado e luxúria. —Sou um deles, Cleo. Sou Amo desde que fiz vinte anos e me dei conta que gostava mais do sexo mais duro e de controle que o convencional. Que me dessem esta missão foi mera casualidade. Cleo abriu a boca de repente. —O que?! —Vai jogar comigo, assim é melhor dizer já quais são meus gostos sexuais, não acha? — Tentou pôr um tom cômico ao assunto, mas Cleo não ria. Lion era um amo? Um amo de verdade? A cabeça pensante da jovem começou a carburar e a fiar ideias e suspeitas que não gostou em nada. —Vejamos... —fixou os olhos verdes no desenho impresso no pescoço de seu superior — O que significa a tatuagem que usa no pescoço? —Estava assustada e ao mesmo tempo, sentia-se feminina diante dele. Como se ele pudesse avaliá-la e ela seduzi-lo. Que sensação mais estranha… —Significa “amo”. Cleo abraçou a si mesma e começou a caminhar de um lado ao outro. —Por que sinto como se isto fosse uma cilada, Romano? Ele deu de ombros e seus olhos se cobriram de humor. Cleo o chamava Romano quando estava nervosa e irritada. 66 | PRT


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—Não é. —Quem introduziu Leslie e Clint nas artes da dominação? —Um dominante que dá aulas de BDSM em Nova Iorque. Eu o recomendei. Cleo apertou os lábios. —E por que deve ser você quem me inicie? Por que devo acatar esta decisão? Não somos os melhores amigos, embora nos conheçamos há anos. Por que me escolheu como sua submissa? Poderia entrar com outra. Desta vez foi Lion quem desenhou uma linha de frustração com sua boca. —Prefere que seja um dominante quem tem que tocá-la e fazer que se excite? Que tenha que te açoitar e…? Cleo se estremeceu. —É igualmente incômodo que você faça comigo. Inclusive talvez mais. — protestou ela. —Leslie usou uma dominante mulher. Clint aceitou porque preferia que fosse uma mulher quem o açoitasse. Sua irmã não queria que fosse um desconhecido quem a tocasse. Assim tentou sentir-se mais cômoda com uma mulher. E Susi fez um trabalho excelente com ambos. Preparouos à perfeição. Cleo olhou para o outro lado. Susi? —Cleo, me olhe. —Ela não o fez. Rebelde e desafiante, sim senhor. — Decidi assim porque Leslie não ia querer que você se pusesse nas mãos de um amo que não conhecesse. Ela sabe que eu cuidarei de você. E eu, de algum modo, sinto-me responsável pelo que te aconteça. —Vá à merda, Lion. Não é meu irmão mais velho, sabe? Se quiser que outro amo me ensine o que é BDSM, estou em meu direito de escolhê-lo. Mas você decidiu por mim e me obrigou a acatar sua decisão. —Insinua que me rejeita? —E está me dizendo que é um amo de verdade? Amo e agente especial do FBI? —Sim. Uma coisa não é incompatível com a outra—grunhiu entre dentes. —O subdiretor sabe? Seus superiores sabem? —Não. —Por que não disse a eles?

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—Porque não importa a ninguém. Aos outros só deve importar minha competência como agente federal. Meus gostos sexuais não devem ser da conta de ninguém além da minha. —E da minha… Agora também sei. —Quero que seja minha parceira nesta missão. Muito para você, agente? Cleo entreabriu os lábios sem saber o que dizer. Lion era um provocador, mas sabia perfeitamente que, por mais que a pressionasse, ela não voltaria atrás em sua determinação de continuar com o caso. Não era somente as drogas e o tráfico de pessoas. Tratava-se de sua irmã. —Mas está em um caso de BDSM… E escolheram você como agente no comando. —Mera casualidade. Me escolheram por meu perfil, não porque saibam que gosto de dar palmadas. Cleo apertou os lábios e baixou o olhar. “Quer me intimidar, o grande cretino”. —Então… Esta missão cai como anel no dedo, verdade, Lion? —perguntou com aversão. —Sim. —Minha irmã sabia? —Tanto Clint quanto ela. —Como receberam? —Surpresos no início. Mas logo agradeceram, porque pude ajudá-los em muitas coisas. “Muitas coisas”. O que envolvia essas palavras seria material de estudo. Agora devia decidir se queria Lion como amo e chefe ou só como chefe. —Continua pensando se me quer ou não? —Claro! —murmurou raivosa. —Isto não é fácil para mim… É… É Lion. O menino que puxava meu cabelo, tirava minhas bonecas, me expulsava dos jogos e ria de mim porque não tinha seios. E agora quer que… —Cleo. —Cortou-a com frieza. Seus olhos azuis destilavam ressentimento— Se for muito para você, resolveremos isso. Mas isso não muda o fato que entre no torneio como minha companheira. Será minha companheira sim ou sim, não há debate nisto. Mesmo assim, é um ato de irresponsabilidade não aceitar trabalhar comigo em sua instrução. Devemos ser um casal perfeito; e se não conhecer meus gostos e minha forma de ser, não poderá aceitar meu 68 | PRT


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comportamento como amo no jogo de personagens e podemos confundir às pessoas. Mas é sua decisão, e não gosto de impor minha presença a ninguém. — Deu de ombros, passando a mão pela cabeça— Vá se trocar. A levarei a um lugar onde possa começar seu treinamento. Cleo deu um pulo e jogou os ombros atrás. —Agora mesmo? —Agora. —Ordenou com dureza. — Vamos procurar para você um amo. Tem que se familiarizar já com o ambiente. Suba e vista algo com capuz, que cubra parte de seu rosto. Cleo o obedeceu e passou ao seu lado, o olhando de soslaio. Lion estava muito zangado. Notava na pose: os músculos tensos, os ombros elevados, a mandíbula apertada… Um ponto a seu favor. Lion, como agente no comando, podia ordenar que acatasse sua lei, do contrário se consideraria um ato de rebeldia e a retirariam imediatamente do caso. Mas não o fazia. Estava lhe dando a possibilidade de escolher; à sua maneira, claro. Não tinha a menor ideia de amos e dominantes. Do BDSM só conhecia o que a cultura popular dizia: que era sombrio e pervertido. E agora, Lion ia levá-la a um lugar onde começaria sua instrução. Estava aterrorizada. Quem presumia que ia ensiná-la?

Da rua Tchoupitoulas, margearam o rio e passaram ao longo da Irish Channel. Lion dirigia em silêncio. Era a primeira vez que Cleo subia em seu carro, e se maravilhou de como estava limpo e tão bem cheirava… Os assentos eram de couro preto; o console tinha aparelhos cheios de luzes de última geração e o interior era amplo e muito cômodo. Não havia nenhum adesivo, nem bichinho de pelúcia, nem ambientador em forma de desenho animado à vista. Seu Jipe era exclusivo, sério e imparcial como ele. Mas, ao mesmo tempo, era cômodo e seguro. —Está zangado — disse Cleo olhando pela janela opaca a balsa que chegava até Gretna. Lion a observou com os olhos azuis escuros entrecerrados. Sua cabeça estava coberta por um moletom violeta, e o contraste com as mechas de cabelo vermelho que acariciavam suas bochechas e os olhos verdes claros e amendoados era cativante. Não usava nada de maquiagem e, mesmo assim, sua beleza natural era sexy e felina.

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Zangado? Não tinha nem ideia. Lion tinha tanta frustração nesse momento que não sabia como dizer a essa garota que era tola por não escolhê-lo. Não ia permitir, sob nenhuma circunstância, que outro além dele ensinasse o que era BDSM. Ele queria fazê-lo. Por isso mesmo, assim que o subdiretor disse que estavam pensando em Cleo Connelly para infiltrá-la, ele se ofereceu imediatamente para ser seu parceiro. Não se sentia bem imaginando outro a atando, ou fustigando a pequena Cleo… Essa garota devia entrar amavelmente no mundo da submissão e da dominação. E para isso, o melhor era ficar nas mãos de alguém em quem pudesse confiar. Leslie não o perdoaria que tivesse deixado sua irmã nas mãos de outro. Por isso ele se encarregaria. Mas agora, a fada teimosa tinha medo dele e se sentia insegura, o que propiciava sua necessidade de estar com outro e não ter intimidade com ele. Não obstante, o êxito da missão dependia, entre outras coisas, do papel que desempenhasse Cleo, e embora a jovem estivesse sendo irresponsável, ele não seria; o melhor amo para Cleo se chamava Lion Romano. E acabou. Ela se daria conta imediatamente. Passaram ao longo da vizinhança de Saint Thomas e se meteram submissamente no Bairro Francês, ou French Quarter, como ali se conhecia. Sempre que patrulhava essa átea, Cleo imaginava Nova Orleans no passado. Suas ruas ainda tinham esse espírito que falava de homens ricos e crioulos, de escravidão e prostituição, do mistério da bruxaria e do vodu. Por algum motivo foi considerada a cidade do pecado na antiga América, não? Bourbon, Ursulines, Charles… eram alguns dos nomes de suas ruas, as quais evocavam o clássico e o poético de antigamente. Pequenos caminhos por onde antes as prostitutas não eram tão jovenzinhas como agora, ao contrário: eram mulheres experientes, não como as meninas que trabalhavam de forma áspera nas esquinas na atualidade. E mesmo assim, embora o Bairro Francês ainda pecasse, as pessoas não deixavam de admirá-lo e se verem abduzidas pelo aroma das azaléas de seus pátios, pelos balcões de ferro forjado de suas antigas casas; pelas cores das fachadas e a música do saxo no ritmo do jazz. O Bairro Francês tinha algo mágico que gritava pela sobrevivência. —Não. Não estou —respondeu Lion finalmente. —Não está o que? —Sua pergunta… 70 | PRT


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—Ah, sei… —Fingiu que se assombrava. —Responde depois de dez minutos? —perguntou aborrecida— Nem sequer me lembro do que perguntei. —Perguntou se estou zangado. Minha resposta é não — falou como se fosse uma menina pequena. —Ah, claro… Entende pelo menos minha reação? —Continuava olhando através da janela. O sol fazia o rio Misisipi brilhar como se estivesse coberto por diamantes. —Entendo que seus novos superiores lhe deram diretrizes e que você as quer infringir descaradamente. Logo: terei que passar uma avaliação ao FBI de seu trabalho e até o momento não está facilitando as coisas. Sinto-me um pouco decepcionado. Leslie nunca… Cleo o encarou ofendida. —Leslie não está aqui, verdade? —A intenção com que disse isso não era a de ofendê-lo, mas pela forma como Lion agarrou o volante se deu conta que voltou a fazê-lo. Entretanto, ele a ofendia a comparando com sua irmã. E todo mundo sabia que as comparações eram odiosas. — Posso aprender o mesmo com outro amo. Não é o melhor do mundo, Lion. —Isso é algo que não saberá até que prove outro antes de mim e veja as diferenças. —Talvez eu goste mais do que imagino. Talvez —entrecerrou os olhos verdes e estudou seu perfil, elegante como o de uma pantera…, — eu goste tanto que não precise provar nada mais. Poderia inclusive entrar no jogo sem que tenha que ser você meu acompanhante. O olhar de Lion estava cheio de sarcasmo. Parou o carro na famosa rua dos piratas, Bourbon Street, onde os irmãos Lafitte celebravam a conquista das pilhagens roubadas e faziam sexo até ficarem inconscientes. Lion apoiou o braço sobre o respaldo do assento de Cleo e aproximou seu nariz do dela para dizer: —Talvez seja loira, meça um metro oitenta e seja um tesão… Mas ambos sabemos que não é assim. Ela piscou. —Voltou a fazer. Essa é Leslie, não sou eu. — Disse em voz baixa e séria. Lion a olhou fixamente, analisando seu traje e admirando as maçãs do rosto altas e a boca rosada daquela valente mulher impetuosa que não sabia que ele cuidaria dela melhor que ninguém; que não sabia que ela era muitíssimo mais bonita e especial que sua espetacular irmã. Pelo menos, para ele. —Desça do carro — ordenou. 71 | PRT


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Cleo não demorou nem um segundo para obedecer. Ou saía daí… Ou… Não sabia o que ia acontecer, mas de repente ficou difícil respirar ali dentro. Como o fogo que consome o oxigênio, assim era Lion. —O que fazemos em Bourbon? —Vou apresentá-la a uns amigos. No fundo se escutava um cortejo fúnebre, a morte de um ser querido. Logo desfilariam por ali todos seus familiares, com o féretro nos ombros, enquanto caminhavam ao ritmo de um melancólico trompetista; e logo retornariam ao ritmo alegre do jazz. Cleo não estava de humor para parar e sentir respeito e tristeza por eles. Lion se aproximou de uma antiga casa que estava franqueada por dois pubs de taças, um deles era o Lafitte’s Blacksmith shop. Pela manhã, sob a luz do sol, todos os pubs, clubes, restaurantes e locais que invadiam as quatorze ruas do French Quarter, pareciam inocentes: lugares onde pessoas de todas as idades podiam tomar algo em seus terraços e ver as crianças brincando de correr ao redor. Mas Cleo e Lion, nativos dessa terra e filhos dessa cidade, sabiam que de noite tudo se transformava. Cleo observou a campainha de botões metálicos e prateados. O que faziam aí? —Sim? —Trago um troféu. —disse Lion. Houve um silêncio curto no interfone e depois a porta da entrada se abriu. —O que significa isso? “Trago um troféu”? —repetiu Cleo assombrada. —Não penso em te expor nos clubes noturnos populares do bairro. Este é um local secreto onde se pratica o BDSM; e só alguns sabem sua senha. “Trago um troféu” é a contra-senha. Ela abriu a boca enquanto Lion subia as escadas até o primeiro andar. Um clube clandestino? Por que estava tão emocionada? —Este clube existe há pelo menos um século. Foi fundando por uma família crioula de Nova Orleans e passou de geração em geração. —Pararam na frente de uma porta de madeira vermelha. —Uma família de amos? —Não —Lion sorriu como um pirata—Uma família de amas. —São mulheres? As proprietárias são mulheres?

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—É possível que as conheça —a advertiu. — Cubra o rosto com o capuz e ponha isto —tirou a boina Billabong preta que usava e a colocou por baixo do capuz, colocando parte das mechas vermelhas por dentro e atrás das orelhas. Lion se deteve em seus lóbulos e os acariciou com calma. — Tem as orelhas muito pequeninhas… —Agente Romano… —murmurou Cleo com as bochechas vermelhas, imóvel, recebendo a gostosa carícia. —Hum? —O que está fazendo? Lion sorriu e tirou as mãos. —Cuido para que ninguém a reconheça. Sim. E também acariciava suas orelhas. Coisa que a deixava a mil. Argh, tinha os mamilos pontudos. Desviou o olhar para ver se marcavam através o moletom. Mas não. Menos mal. —Quando olhar, não eleve muito a cabeça, de acordo? A porta se abriu, e diante deles apareceu uma mulher de cor que Cleo custou a reconhecer. Vestia calça cigarrete vermelha, um top preto e sapatos de salto da mesma cor, e tão altos que davam vertigem. Seus olhos eram azuis, efeito das lentes de contato coloridas que usava. —Olhe o que trouxe a maré… —disse com um enorme sorriso, os convidando a entrar. —Nina —a saudou Lion. Pôs a mão na parte baixa da cintura de Cleo e a precedeu até o interior do local. —Passou muito tempo, King. Ele assentiu de acordo a sua afirmação e Cleo levantou as orelhas como um felino que captasse a ameaça ao redor. Por que se sentia ameaçada por essa mulher? —O que o traz por aqui? —perguntou Nina. —O de sempre —respondeu direto. — Me traga três. A mulher piscou com surpresa, assentiu e pareceu compreender sua pressa. Caminhou através do corredor branco decorado com quadros de antigos fundadores, meneando os quadris de um lado ao outro e sapateando com graça. Parou diante de uma caixa presa à parede. A abriu, e entre vinte chaves diferentes escolheu uma dourada com uma fita negra pendurada. 73 | PRT


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—Toda sua. —Nina entregou a chave e olhou com curiosidade para Cleo. Lion a afastou de seu escrutínio e se dirigiram de novo à porta da rua. O clube era no subterrâneo e num lugar que todo mundo desconhecia. —Já vamos? —perguntou Cleo descendo as escadas. — Essa mulher o chamou de King — zombou como se fosse ridículo. —É meu Nick. O nome que uso no fórum. —Como um pseudônimo? —Sim. Ela desceu as escadas de dois em dois. King… —Nina conhece o fórum do jogo de personagens de Dragões e Masmorras DS? —Não acredito. O fórum de personagens e o torneio são recentes. Não mais de dois anos. Além disso, é um fórum muito seletivo. Mas se sua pergunta se refere a se a veremos no torneio… A resposta é não. Nina e suas irmãs só dirigem este clube. Não as interessa nada mais. Certo… Enquanto desciam ao que parecia ser um porão, Cleo se perguntou até que ponto Lion conhecia a família de amas. E como a curiosidade matou o gato, deixou de pensar nisso. Lion a levava a um reino escondido entre as sombras, um submundo que ela ignorava. E a sensação era parecida com a que teve quando era criança e descobriu seu pai disfarçado de rena, deixando presentes sob a árvore de Natal. Conclusão: Papai Noel é óbvio que existia, mas as renas era uma montagem. Talvez, nesse momento descobrisse que não só existiam sexo e amor convencional; poderia haver algo mais por trás da porta que estavam abrindo. Gostaria do que ia encontrar?

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Capítulo 6

Se pedirem para escolher entre quatro demônios, o feio, o mau, o bom e o cara bom, a quem escolheria? No final agarraria o cara bom… Não? Pois o mesmo com os amos. Não havia iluminação muito boa. Não se ouvia nada; mas, para Cleo, inclusive o silêncio era mais inquietante que qualquer som que pudesse soar nas salas desse clube. Porra, estava disfarçada. Nunca teria imaginado que em Nova Orleans pudesse haver algo assim; embora, por outro lado, onde haveria algo assim a não ser em Nova Orleans? —Estão isoladas de som? —perguntou enquanto roçava com os dedos numa das portas metálicas. —Sim. É o único modo de manter o que se faz aqui em segredo. Todas tinham cores diferentes. No final, se divisava uma porta preta e grande com um leão dourado que servia de trinco. Lion. Leão. King. Rei. Cleo atou os fios e chegou à conclusão que Lion era o Rei Leão dentro do mundo do BDSM. Ele tirou a chave e abriu a porta. Pressionou o interruptor e a espartana sala se iluminou com uma luz azulada e tênue. —Neste local há muitas salas diferentemente ambientadas. Têm salas vermelhas, medievais, salas dungeons, sala fetiche e salas nuas, como esta. Todas estão equipadas com todos os brinquedos necessários. As vermelhas dispõem de completo material para as práticas SM: cama de tortura, trono, cruz de Santo André, armadilhas, jaulas, potros, varas e chicotes de diferentes extremidades… As medievais contam com sua própria prisão, cama de estiramentos, pontos de suspensão, cadeiras de tortura… E a sala fetiche dispõe de roupa de couro, látex, pvc, botas, sapatos, anteface, máscaras… Cleo escutava e não escutava. Estava consternada pela crueldade daquela sala, e isso por que não tinha nada. Só duas vigas de madeira ancoradas ao chão com duas correntes penduradas na parte superior. Nada mais. A parede estava descascada e o chão era de cimento. A sala cheirava a algo menos forte que amônia, como se a tivessem limpado e desinfetado. Nesses lugares haveria lágrimas, suor e muitos fluidos que depois deviam desaparecer daí por questão de higiene. 75 | PRT


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Cleo não queria nem imaginar o que acontecia entre essas paredes. Uma vez, na universidade, sua amiga Marisa, que trabalhava em Nova Orleans como assistente jurídica, disse que as mulheres deviam ter em seu interior um anjo e um demônio, uma Santa e uma vadia. Pois bem, diante daquela situação, a Santa Cleo fazia cruzes. Mas “a vadia” Cleo arqueava uma sobrancelha espectadora e curiosa. —O que fazemos aqui? —embora soubesse muito bem. —Vai fazer uma escolha. É sua vez. Três homens entraram na sala. Vestiam-se com calças de couro e estavam descalços. Um deles era calvo e robusto, de olhos claros; o outro era alto, muito musculoso, bonito, com longo cabelo negro e olhos escuros, mas de aspecto um tanto gótico; e o terceiro era… um homem mais velho, muito atrativo, mas lembrava seu pai. Ela ficou na defensiva quando os três invadiram seu espaço e, inconscientemente, deu um passo para se aproximar de Lion. Ele a olhou analisando sua reação, mas continuou com o gesto impassível. —Estes são Brutus, Prince e Amadeo. —E ela é? —perguntou o de cabelo comprido e liso. —Pussycat —respondeu Lion olhando-a de soslaio. Cleo revirou os olhos por baixo da boina. Bichana? Ela? Ela não era uma bichana! —Pussycat procura um amo. Quem quer pô-la a prova? Os três sorriram espectadores e caminharam ao seu redor, como hienas desejosas de tirar seu pedaço. Cleo não podia se imaginar trabalhando com um deles. Não poderia nunca. Eles... A assustavam. Ela não… Esses homens exudavam hormônios dominantes por todos os poros. Brutus, que era o calvo robusto parecido com um fisiculturista, ficou diante dela e com voz doce disse: —Dispa-se para mim, Pussycat. Me deixe vê-la. —Estendeu a mão decidido a afastar seu capuz, mas Lion o agarrou pelo pulso. —Não se toca até que ela dê permissão —ordenou com voz fria. 76 | PRT


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Brutus grunhiu e obedeceu ao Rei Leão. Amadeo, que se parecia com seu pai, se inclinou sobre seu ouvido. —Que cheiro bom. Lion apertou os dentes quando viu que Cleo tremia pela proximidade desses homens. —Usa muita roupa. Tire-as. — ordenou Amadeo passando a mão pelo traseiro dela. —Amadeo, não a toque se ela não pediu isso ainda—grunhiu Lion entre dentes. Cleo se sentiu humilhada. Lion a estava pressionando e deixava que esses três amos a provocassem, acreditando que era submissa e que obedeceria. Mas não o faria. Não com eles. Sentiu-se como um pedaço de carne com olhos, mas no fundo compreendeu o que Lion oferecia. Não a machucaria, era alguém em quem podia confiar… Não era um homem completamente desconhecido quem a despiria e pressionaria até seus limites… Era Lion. E queria instrui-la. Haveria alguém melhor que ele? Não para ela. Se pedirem para escolher entre quatro demônios; o feio, o mau, o bom e o cara bom, a quem escolheria? No final agarraria o cara bom. Não? Pois decidiu que devia ser o mesmo com os amos. —Não vemos seu rosto, não vemos seu corpo… Não sabemos nada dela —enumerou Brutus. — Não nos dá uma puta atenção, Rei. Está seguro que é uma submissa? Prince sorriu diabolicamente e observou o queixo trêmulo de Cleo. —Tem a pele pálida e está assustada —murmurou. — Por que tem medo? Não faremos nada que não esteja disposta a aceitar. Bom — se corrigiu, — Brutus sim. Eu não. — disse petulante. Lion apertou os punhos para não arrebentar a cabeça do convencido Príncipe. Todas as submissas se apaixonavam por ele, mas ele… nunca se apaixonava por nenhuma. Brutus grunhiu e tocou a virilha. —Já tenho o pau duro, Pussycat. Tire sua fodida roupa. Vamos te dar uma lição de boas maneiras. Cleo negou com a cabeça e cravou seus olhos verdes em Lion, dizendo: “Pensa continuar esta merda muito mais?”

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—Isso é um não? —inquiriu Brutus se aproximando perigosamente de Cleo. Ultrapassava por duas cabeças a jovem agente— Tão rápido procura castigo, gracinha? Já entendi… Quer que eu a tire? Brutus era, sem dúvida, o amo cruel. Lion a observou, e seus olhares colidiram. Se Lion permitisse que um desses três homens a tocasse, não ia perdoá-lo jamais. Ele se sentia aborrecido pelo mau momento que a estava fazendo passar; mas era necessário que visse que não era nada simples trabalhar com um amo de quem não conhecia nada. Outras mulheres submissas que já tivessem praticado o BDSM, certamente não teriam problema em obedecer as instruções que deram a Cleo. Mas para ela tudo era novo e sombrio. Era normal que se negasse. Precisaria se acostumar com isso. E tinham poucos dias para conseguir. Mas contavam com sua paciência, a dele, e com o entusiasmo que a jovem poria para não ficar atrás e o seguir, tão somente para que não pudesse a recriminar por nada e não a comparasse mais com Leslie. —Gatinha? —perguntou Lion de modo tentativo— Você decide, neném. A que amo quer escolher? Ela estava tensa como uma vara. Baixou a cabeça e engoliu saliva. —Você —respondeu com voz trêmula. Lion recebeu sua rendição como uma bênção, embora escutar as lágrimas em sua resposta não lhe desse nenhum orgulho. Podia ser muito baixo se havia algo com que se importava em jogo. Ela devia conhecer seus defeitos. Nesses dias se conheceriam perfeitamente, na intimidade e fora do quarto. E Cleo não só importava para a missão. Cleo era importante desde o dia em que a conheceu. De formas que nem ele compreendia, mas assim era. —Como disse? —perguntou para deixar claro perante aos outros amos e também perante eles mesmos. —Disse que escolho você —replicou elevando um pouco mais a voz, magoada pela situação. —Perfeito —Lion se despediu dos três amos com um movimento de cabeça e uma simples palavra: — Cavalheiros, obrigado por seus serviços. Os três amos se despediram dele e analisaram Cleo pela última vez. 78 | PRT


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—Talvez em outro momento, macacada. —disse Prince piscando um olho. —Talvez não —assegurou Lion o ameaçando só com a voz. Prince elevou as mãos e encolheu os ombros. —Claro, Rei. A porta fechou e os deixaram sozinhos. Cleo estava tremendo, com o olhar embaçado e cravado em seus tênis Adidas de tecido azul e branco. Não sabia o que acontecia com ela. Como policial fez coisas imensamente mais perigosas que se meter nesse buraco com quatro amos. Mas se sentia mal… um deles passou a mão em seu traseiro. Porra. Além disso, uma mulher tinha que ser muito valente para ficar ali e se entregar a eles desse modo. A submissão era, ou um ato de coragem incontestável, ou um ato de loucura atroz. Não sabia. Escutou os passos de Lion e viu a ponta de seus tênis. —Se fosse uma submissa, teria se excitado somente por ouvi-los falar. Não sei que tipo de inclinações sexuais tem, Cleo, mas está dentro desta missão e vou te ensinar a agir como uma submissa com seu amo. Dentro da cama —especificou. — Vou testar em você todos os joguinhos que utilizaremos no torneio. —Parou para escolher as palavras adequadas, mas não lhe veio nada à mente que pudesse suavizá-lo. — Teremos sexo. Entende, Cleo? Diga-me que entende… — Apertou os punhos, assustado. Ela afirmou com a cabeça, mas continuava sem olhá-lo nos olhos. —Sei que pode ser incômodo no princípio, mas, se relaxar, pode gostar das lições. Faremos isto juntos. Aprenderá tudo sobre este mundo, e talvez inclusive a agrade. Não saberá até provar. Minha missão é conseguir que goste, para que faça o melhor papel de sua vida no jogo. Está de acordo? Desta vez me diga a verdade porque não vou perder mais tempo. Cleo assentiu com movimentos mecânicos de sua cabeça. “Merda, Cleo, me olhe…”. Lion levantou seu queixo com doçura. Ela tinha as pupilas um pouco dilatadas pelo estresse. Maldita seja; Cleo acreditou que ele ia permitir que os amos jogassem com ela. Acreditou nisso de verdade. O que pouco que o conhecia… —Ei, me olhe, bruxinha —ordenou com ternura. — Está bem? 79 | PRT


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Cleo lambeu os lábios e seus olhos lançaram labaredas verdes de raiva e confusão enquanto o olhava de frente. —É um sacana, filho da… —Chist —sorriu com suavidade. — Sei. Não era minha intenção te assustar. Mas queria que soubesse com que tipo de perfis de amos podia se encontrar. Os três são excelentes caras, sério. Mas não é o mesmo tratá-los como dominantes. —De verdade? Não me dei conta. —Agora me encarregarei de você, agente. Diga que aceita ser minha submissa para testar. Até o torneio, até o fim do caso Amos e Masmorras. Preciso estar seguro com você e com nosso papel. Diga. —Sim. —Não. Diga: sim, aceito ser sua submissa até a finalização do caso. Isso implica começar o jogo a partir de agora. Cleo fechou os olhos e se lançou ao abismo. “Por Deus… vou deixar que Lion me apalpe e que me faça gozar como uma louca. Vou entregar meu corpo para que faça e desfaça a seu desejo”. —Sim, aceito ser sua submissa até a finalização do caso. —Prometa isso. —Prometo. E você me prometa que não fará nada que me fira ou me cause dor —exigiu em troca. —Prometo isso, Cleo. Sua segurança e seu bem-estar vêm em primeiro. Em sua casa te mostrarei o tipo de Amo que sou; mas prometo que comigo não tem que temer nada. Ela assentiu um pouco mais tranquila e olhou nervosa ao redor. —Podemos sair daqui já? —Claro. Te trouxe para o clube das mulheres Latiffe só para que pare de me sacanear dizendo que ia procurar outro amo — a puxou pela mão e a tirou da sala de castigo. — Se entrar nesta sala com a pessoa adequada a verá de outro modo… Lamento ter te assustado. —Certamente… conseguiu o que queria, assim não pode lamentar muito. Lion sorriu enquanto subia as escadas e abria a porta que dava ao patamar principal. Subiu outro andar mais para devolver a chave à Nina, e quando o fez, saíram do edifício de mãos dadas.

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—Antes de começar com as lições em sua casa, quero que passe por um lugar. Já marquei hora para você. —Hora? Hora para que?

***** Cleo estava vermelha como uma cereja. Lion marcou hora na esteticista. A depilaram completamente lá embaixo, e agora sentia a pele formigar, um pouco irritada e também inchada pelos puxões. Mas a sensação era tão contraditória que não conseguia ficar quieta no assento. No princípio, antes de entrar, discutiram um pouco. Disse a ele que o cabelo púbico era como uma proteção para a vagina, que não pensava em deixá-la calva. Mas Lion se negou terminantemente e disse que ia gostar de tudo muito mais se tivesse a área completamente depilada e lisa. E ele gostava de olhar. “Ele gosta de olhar”. O imaginou ajoelhado diante dela, a abrindo como uma flor, investigando suas formas e sua cor. Ai, Deus… Estava ficando excitada! —Doeu? —Nem me fale —respondeu de mau humor. Lion sorriu com a vista fixa na estrada. —Não foi para tanto. —brincou. Cleo afastou o capuz e tirou a boina. Seu cabelo vermelho se esparramou pelos ombros e costas. Indolente, lançou a boina sobre o painel do carro. —Por que não depila seus ovos e me diz se está tudo bem? —Cleo… —Começou a rir fazendo negações com a cabeça— É tão respondona… Vai ser difícil domar essa ferinha, mas será divertido. —Sim. Divertidísimo. —Vai gostar. Farei que goste. —Seus olhos azuis escuros brilharam com conhecimento. — Sou um Amo muito bom. —É um nazista sádico. Isso é o que é. — Respondeu, sabendo que quando chegasse em sua casa, sua fortaleza, seria prisioneira de Lion, e deveria obedecê-lo em tudo. Não podia mais escapar. Na rádio soava Alejandro de Lady Gaga. Cleo a pôs a todo volume, e isso fez que não escutasse as próximas palavras de Lion que diziam: “Sabe que esta canção é de DS?”. 81 | PRT


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***** —Estou esperando. — a voz de Lion soou através das escadas. Cleo estudou aniquilada o robe negro que vestia. Era de uma confecção muito bela. Ela era mais de robes com panteras rosas, não desse tipo de objeto tão sexy e chamativo. Sua cor, como a asa de um corvo, brilhava e desprendia tonalidades anis. Cobria seus braços e metade da coxa. E com o cabelo vermelho e os olhos claros tinha um aspecto muito… felino. O reflexo no espelho não correspondia à mulher de aspecto infantil e juvenil que via quando se levantava. Sob o robe vestia uma calcinha que tinha um zíper na frente, que cobria a entrada a sua vagina, e outro por trás, que abria a área anal. Seu sexo estava tão liso e sensível que notava cada roce. A calcinha era de couro vermelho. Cleo meneou a cabeça. Lion disse que devia ficar assim todo o dia para ser consciente de sua sexualidade e de como ele reagia a ela. Como amo e submissa em teste, tinham que averiguar o que gostavam de cada um e como gostavam. —De agora em diante, nesta casa, começa seu treinamento, Cleo — ele explicou com as duas bolsas na mão. Estavam em seu quarto e ele remexia o que havia no interior da bagagem. — Se dirigirá a mim como “senhor”. Assim é como será no torneio. Não sou um Amo que dá ordens fora da cama, a não ser que haja um jogo implícito nisso — detalhou, — mas quero que se acostume ao seu novo papel. —Não poderei te chamar nem de Lion, nem de nazista? —perguntou, observando o que tinha Lion nas mãos. Uma calcinha vermelha. Era uma calcinha vermelha… muito estranha! —Se o fizer —disse ele estirando os extremos do objeto diante de seus olhos, — surrarei você — sorriu abertamente, e Cleo recordou o menino quando criança. — Temo que vai receber muitas surras. —Veremos… —respondeu ela. —Vista-as. — ordenou. — E depois vista o robe negro que deixei pendurado atrás da porta. Embaixo só usará a calcinha; e não quero que use sutiã. Ela abriu a boca, pronta para replicar, mas o olhar que Lion lhe dirigiu a fez calar de repente. —Recorde seu fodido papel, Cleo. E não faça essa cara para mim. Neste momento, você e eu não nos conhecemos; não sou seu agente no comando. Estou cuidando de você como amo, isso sim. Assim, apague Lion Romano da cabeça. E dê as boas-vindas a Lion King. Ela apertou os lábios e agarrou o objeto íntimo das mãos de seu chefe. 82 | PRT


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Lion tinha algumas coisas nesse par de bolsas que carregava com ele, como por exemplo vários brinquedos e objetos especiais para ela. Embora tenha dito que já encomendou de uma loja erótica, que conhecia pessoalmente, os utensílios e acessórios que faltavam. Incrivelmente, ardia de desejo de ver o que mais Lion tinha nas bolsas. Estar com ele nessa casa, saber que não podia desobedecê-lo, mas que o provocaria o necessário, senão não seria ela, a deixava em alerta, e também a estimulava interiormente. Lion era o menino pelo qual uma vez esteve apaixonada, o adolescente que ria dela e, depois, o homem que a ignorava e que não escrevia quando foi para Washington. Sabia de Lion graças a Leslie. Sim, conhecia suas conquistas e seu êxito com as mulheres. Lion sempre a desvalorizou, não queria sua companhia; preferia a de Leslie. E agora estava ali com ela, numa missão, sabendo que o êxito do caso, que pudessem resgatar sua irmã e desmascarar os supostos Vilões, dependia muito que ela chamasse a atenção e de tão bem desempenhasse seu papel. Tinha inseguranças, como todas. Mas Lion não ia a acovardar. Encorajada, saiu do quarto que agora compartilhava com ele, desceu as escadas pouco a pouco com a vergonha refletida em suas bochechas, e o olhou de frente enquanto descia o último degrau. Lion a seguiu como um jaguar à sua presa. Estava sentado como um rajá em sua poltrona de braços vermelha, com os pés apoiados no puf. A seguia com seus olhos de predador. Um sorriso implícito cheio de admiração neles e um gesto apreciativo em seus lábios. Gostava do que via. Gostava muito. Fascinada por quão bem ficava Lion em sua poltrona, como se esse fosse seu lugar de origem, o trono de um rei, se plantou diante dele, retirando brandamente a franja de seus olhos e a colocando para o lado direito. —Bom… aqui está. Lion não disse nada. Continuava imóvel, estudando a imagem de feiticeira que irradiava sua bruxinha desbocada. Cleo colocou as mãos na cintura e estreitou os olhos. —Seeeeeenhorrrrr? —Não alongue as letras, Cleo. Não utilize meu nome em modo de brincadeira ou isso será motivo de castigo também. Ela assentiu, aparentando docilidade. Lion estava no modo “Amo Submissa”. 83 | PRT


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—Hoje vamos trabalhar as bases de meu papel como Amo, e as suas como submissa. —Sim. —Sim, o que? “Porra”. —Sim, senhor. —Boa garota —a felicitou. — Tudo que fizer bem será recompensado, Cleo. A ordem que desobedecer, será castigada. Deve entender que o BDSM, ao estar relacionado com chicotes, ataduras, açoite, brinquedos e práticas agressivas, as pessoas tendem a associá-lo com depravação, violação à dignidade humana e, inclusive, humilhação e mau trato. Você pensou alguma vez nisso? Preciso saber. Cleo negou com a cabeça. Sempre foi bastante aberta. —Não, exatamente. Tenho respeito, isso sim. Considero que no BDSM não se obriga ninguém a se submeter a outra pessoa, porque pelo pouco que vi e sei, logo repetem, gozam e rogam por mais. Assim, talvez desejem que os humilhem, os açoitem e os provoquem desse modo — deu de ombros. —Estou equivocada, senhor? —É uma muito boa resposta — apreciou sem se mover da poltrona. — Os que jogam sadiamente no BDSM não obrigam ninguém a fazer nada. Estão lá porque desejam, porque necessitam disso, e damos o que necessitam. É simples assim. Há muitos tipos de corpos e mentes. Nem todos se excitam com a mesma coisa —explicou esfregando o queixo e se concentrando nos pequenos seios que se adivinhavam sob o robe. Cleo estava maravilhosa assim vestida, e só vestia aquele robe e calcinha vermelha embaixo. Tinha pernas torneadas perfeitas. — Há pessoas para quem o sexo convencional as aborrece, não as excita. Não as esquentam nem as carícias nem as palavras de amor, nem o papao-e-mamãe, nem nada disso… Seus corpos respondem a outro tipo de estímulo mais rude porque seu corpo é assim. —Desta vez sim se levantou e ficou a dez centímetros dela. — Um açoite, uma dentada sutil, os amordaçar, atá-los… Gostam disso e os devolve à vida. Dessa sensação de liberdade e de se sentirem vivos nascem os amos e submissas. Daí nasce a dominação e a submissão. Talvez outra pesssoa frustrada queira usar o BDSM para orientar seus traumas ou suas psicopatias… Mas tem gente louca em todos os lugares, verdade? E, além disso, há muito mais baunilhas destruídos, destroçados psicologicamente que pessoas do DS. —Porque os baunilhas são maioria, senhor. —Não. Porque não têm modo de se liberar. Estão confusos. —Por que, senhor? —Certo, assim as pessoas normais eram confusas?

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—Porque nos ensinam que devemos viver com uma única pessoa e manter relações sexuais e fazer amor com ela até que a morte nos separe. —E isso é mau? —Não; mas o sexo que há nos matrimônios é aborrecido. Há um momento que a mulher ou o homem quer mais. Ele para de tocar, de beijar, de acariciar… Fazem amor e não se olham nos olhos. Ela também se aborrece: é bidirecional. Param de se respeitar. Como nos ensinaram a relacionar sexo e amor como um pacote, quando as carências na sexualidade do matrimônio começam a se destacar e ficar insuperáveis, começam os problemas do casal. —Insinua que o jogo BDSM poderia salvar muitos matrimônios? —Poderia salvar muitas diferenças e discussões; e tornar tudo muito mais sexy, desde que haja consenso. A faísca nunca deveria morrer num casal, e o BDSM faz que saltem faíscas. —Você, como amo, não junta amor e sexo? —Para a maioria dos amos o sexo é uma coisa, e o amor é outra. O BDSM é como um exercício. A que se referia com isso? Acaso ele alguma vez se apaixonou? —Alguma vez sentiu algo por alguma de suas submissas, senhor? —perguntou sem entusiamo, e aborrecida por uma possível resposta afirmativa. Lion parou atrás dela e passou a ponta dos dedos de sua mão direita pela lateral direita de seu pescoço. A carícia foi sutil, como o bater de asas de uma mariposa, mas fez reagir todo o corpo de Cleo. Os mamilos endureceram e a pele arrepiou. Estremeceu. —Me preocupei com todas as suas necessidades e cuidei delas. Algumas pude gostar mais que outras, algumas acreditei amar… Mas nunca me apaixonei por ninguém, Cleo —pronunciou seu nome como se fosse um abraço transbordante de ternura. — O coração de um amo está em uma masmorra muito perigosa, e só uma princesa com alma de dragão pode reclamá-lo. Quando entregar meu coração, o entregarei para sempre. Cleo fechou os olhos e lutou para controlar sua respiração. Nunca? Nunca como no país de Peter Pan? Nem sequer por Leslie? Ele bebia os ventos por ela, sempre estava ao seu lado… E agora dizia que não se apaixonou por ninguém. Nunca era muito tempo, muito para um homem jovem, sexy e saudável como ele. Por que não se apaixonou? Poderia ter quem quisesse, quem desejasse… O que procurava Lion numa mulher para se entregar a ela para sempre? O que queria? —Surpreendida? —Muito. Lion percorreu com os dedos o ponto onde o pescoço e o ombro se uniam. 85 | PRT


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—O que deve entender é que no torneio verá muitos tipos de amo —evitou o assunto do amor. Com Cleo não podia falar disso. — Alguns compartilharão suas submissas, outros não; alguns poucos serão extremamente duros com elas; e verá alguns amos que suas submissas se aproveitarão dele num piscar de olhos… Mas não duvide que todos se preocupam e respeitam suas submissas à sua maneira, e elas os adoram. —Expõe tudo de um ponto sexual e romântico ao mesmo tempo. Parece algo maravilhoso… Me confunde. Não relaciono dominação com as palavras que você descreve. —E se te digo que é? Que a sensação de dor com os açoites, com os chicotes, com os socos… só existe em sua mente? Que o BDSM é libertador e ao mesmo tempo maravilhoso? Catalisador? —Diria que não acredito. Todos choramos quando nos machucam. Eu mesma gritei na manicure na semana passada. Não tenho muita resistência à dor. —À dor que vou te provocar sim, Cleo —murmurou inalando seu cabelo. — A dor é uma sensação. Pode dirigi-la ao prazer ou ao sofrimento, e é nossa mão quem guia esse termômetro. E quero seu prazer. Todo ele. Não quero deixar nada para ninguém mais. Chama-se algolagnia: erotismo relacionado com dor, de um modo passivo ou ativo. Desta vez, ela levantou o olhar nublado pelo desejo e o observou por cima do ombro. Ficou em silêncio quando ele se inclinou e puxou um pouco o robe de seu ombro para deixar um beijo úmido sobre a pele, com os olhos anis fixos nela. —O BDSM não nasce de uma mente doentia —prosseguiu falando sobre sua pele. — Olhe para a frente, Cleo —ordenou. Ela obedeceu imediatamente— Nasce de uma mente atrevida e excitada. Não nasce da necessidade de fazer mal. Ao contrário: nasce da necessidade de oferecer prazer, porque isso é o que o submisso ou a submissa procura e porque o objetivo dos amos é os satisfazer. —E satisfazer a si mesmos, senhor? —Mal podia falar. —Como Amo —explicou dando uma volta a seu redor, — me satisfaz ver que sua pele ruboriza, que deseja que te castigue e a amarre, que sabe que merece o açoite, e que quando gozar comigo —sussurrou em seu ouvido e lhe deu um beijo doce sob o lóbulo — derrame lágrimas de prazer. E ele as lamberia, tal e como já disse. Ela engoliu saliva com dificuldade e se visualizou se desfazendo sobre o chão como creme líquido. As pernas a sustentavam porque Deus criou a tíbia e a fíbola; porque os joelhos tinham se desfeito por completo. —Vou ensiná-la a ser submissa, Cleo. Será uma instrução de vinte e quatro horas diárias. Tempo completo —comunicou lenta e claramente. — Se chama um 24/7. Ordenarei que faça coisas, a tocarei e a foderei. 86 | PRT


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—Nos foderemos mutuamente, claro — respondeu a rebelde interior. — Até onde sei, o sexo não é unidirecional, a não ser que se masturbe. Lion enredou os dedos em seu cabelo mogno e os fechou em torno de uma espessa mecha. —Tem uma língua muito rápida. Logo provaremos quão rápida pode ser mais adiante — grunhiu sobre seu ouvido. — Mas não quero que pense que sou assim permanentemente. É somente durante sua instrução. —Importa o que penso de você, senhor? — a pergunta saiu sozinha. Não foi processada pelo cérebro, mas sim pela vaidade feminina. Seguiu pelo canto do olho os movimentos do agente, barra amo, barra Rei Leão. Ele ficou diante dela, ainda com a mão afundada em sua juba, e inclinou sua cabeça atrás, enquanto com a outra mão penetrava os dedos por baixo do robe. Lion arqueou uma sobrancelha em modo de ameaça, uma que dizia: “esta é a primeira prova, assim não a estrague”. —Vou dizer que tipo de Amo sou. Sou atencioso e protetor. Gosto do controle, mas tampouco acredito que sei tudo. Sei apenas como fazer que aprecie, que se entregue; isso sim. Não vou exigir que me respeite — pouco a pouco subiu a mão por sua coxa, massageando-a suavemente. — Ganharei seu respeito, tentarei te conhecer dia a dia. Hoje sei mais coisas de você que sabia ontem. —Por exemplo? —Sei que quando fica nervosa morde o interior do canto direito da boca. Não bebe álcool: sua geladeira só tem bebidas lights, chás gelados ou Shandys de maçã. Não fuma. Gosta de Lady Gaga. E, embora negue, adora Nova Orleans. Dei-me conta disso pelo modo como seus olhos pousaram no Bairro Francês ou no Misisipi. A admira, não se aborrece. É muito romântica e adora filmes de fantasia. É cheia de curiosidade: é como uma maldita gatinha que fareja tudo. E precisa desabafar quando está muito estressada; por isso tem o saco de boxe de pé em seu jardim. Adora flores e animais exóticos. Tem pintinhas diminutas sobre a ponta do nariz; e seus olhos são de um verde que não posso descrever. São muito claros para ser reais. Recorda um duendezinho. —Oh… Veja, é bom, agente —Por algum motivo, Lion era especialista em perfis. —Senhor. —Senhor — retificou. —Quero te ajudar e te guiar, Cleo. E tomo suas preocupações muito a sério, porque agora também são as minhas. Jamais mentirei e serei sempre sincero com você, com meus gostos, com minhas necessidades. Exigirei o mesmo de você, de acordo? 87 | PRT


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—Sim, senhor. —Quando a pressionar o farei para te demonstrar o forte e o longe que pode chegar. Ensinarei que tem muito poucos limites. A conheço um pouco como pessoa, Cleo. Temos um passado em comum e sei como era quando criança e pré-adolescente. Mas não conheço bem a Cleo mulher. Não sei se tem alma de submissa, mas descobriremos juntos; e se não a tem, prepararei você para que pareça que tem. Preciso conhecer seu corpo antes do que tem aqui — afastou a mão que esfregava sua coxa, e a subiu para lhe tocar a têmpora—, e aqui —depois dirigiu a mesma mão ao seu coração e a deixou sobre seu seio. O seio de Cleo inchou inconscientemente e ficou duro. Certo, por certo era receptiva, e muito. —Normalmente é ao contrário, primeiro ganhamos o coração… Mas não temos tempo para muito mais. Mesmo assim prometo me esforçar para não te decepcionar e não machucá-la nunca. Para mim é um presente: agora como submissa e depois como companheira na missão. E quero que veja em si o mesmo que já vejo. Não quero que mude nada em você, só que descubra novas facetas, naquilo que pode se converter quando se liberar. Quero que se descubra como uma imensa mulher, única e especial. Proprietária de sua sexualidade e segura de quem é na vida. O único espelho onde se deve olhar é no de Cleo Connelly. Ficou claro meu papel? Cleo tinha os olhos úmidos pela emoção. Tenho que te foder! Eram as palavras mais bonitas e apaixonadas que já lhe disseram e as dizia um homem que não sentia nada por ela como Cleo, mas sim como submissa e companheira em missão. Fantástico. —Sim, senhor. —Quer me perguntar algo mais? —Como… como é uma boa submissa? Lion retirou a mão de seu seio e acariciou sua bochecha. —Uma boa submissa é aquela que se entrega e dá tudo. Não importa se é tímida, descarada, muito obediente ou muito rebelde. Só seja você mesma, mas se ofereça por completo. Podia fazer isso? Sim. Acreditava que sim. Tinha a virilha tremendo, assim podia brincar de amo e submissa com Lion. Por que não? Sempre disseram que era uma intrépida, pois faria honra a essa definição. —Sim, senhor. —Perfeito. Começamos — exalou o ar que não sabia que retinha e, olhando-a com aprovação ordenou: — Agora, dispa-se para mim.

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Capítulo 7

Contrato de submissão: convênio assinado pelo D/S onde ficam refletidos o conteúdo, alcance, limites, duração da relação e pactos entre amo e submissa. Este tipo de contrato já não se usa, considerando que nãotêm validade legal. Não obstante, não há palavra que deva dar mais confiança que a de um Amo. Poderia uma ordem ser mais erótica? Não. Lion pedia, o homem que disse tudo que queria dela como submissa e tudo que tinha a oferecer como seu amo e tutor. Requeria vê-la nua. Sentiu um pouco de vergonha, mas as palavras de Lion foram tão honestas e reverentes que não havia como se sentir nem feia nem imperfeita. Não pensou duas vezes. Desabotoou o cinturão preso ao redor de seu corpo, e abriu o robe com lentidão, mostrando a nívea pele de seu corpo, revelando o que havia embaixo. Deixou que deslizasse por seus ombros e caisse ao redor de seus pés, como uma nuvem negra. —Me olhe. —Lion sentou de novo na poltrona e apoiou o queixo numa de suas mãos. Cleo levantou os olhos e o olhou. —Quero que se sinta à vontade parcialmente nua, tal e como está agora. Ficará assim todo o dia. Se tiver frio só tem que me dizer isso. Cleo moveu a cabeça para cima e para baixo. —É tímida? —Não. —E dizia a verdade. Não era tímida, mas seu corpo reagia perante seu escrutínio. Ponto que ele observava, ponto que se acendia. —Estou vendo —respondeu com interesse. — Está à vontade com seu corpo? —Nenhuma mulher está à vontade com seu corpo, senhor — respondeu arqueando as sobrancelhas. —Todos temos as mesmas inseguranças, mas deveríamos nos amar de qualquer modo. Você deveria, Cleo. Tem um corpo muito bonito. Ombros elegantes, cintura estreita, pernas moldadas e esbeltas, e um estômago levemente arredondado muito gracioso, como as praticantes de dança do ventre. 89 | PRT


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Cleo esperou paciente que ele dissesse algo sobre seus seios. Sabia que não eram muito grandes. —O que? —Lion lia as expressões muito bem. —Hum? —Fez cara de esperar algo. Ela lambeu os lábios. Tinha que ser honesta para ser uma boa submissa, dar o melhor de si e obter o Oscar de melhor atriz no jogo de personagens de Dragões e Masmorras DS. —Não disse nada de meus seios. Lion apoiou os cotovelos nos joelhos e se inclinou para a frente. —Sente-se insegura a respeito deles? —Não são grandes. —Não importa. O que me importa é tê-los entre minhas mãos e poder tocá-los. Sejam grandes ou pequenos, são seios, e os seus são muito bonitos. Tem mamilos rosados e pequenos, muito redondos. Adoro. Cleo entreabriu os olhos e ruborizou. —Obrigada. —Obrigada o que? —Obrigada, senhor. —Bem. Aproxime-se e sente-se aqui — deu palmadinhas nas coxas. “Ei, Papai Noel quer que diga o que quero para Natal. Pois lá vou”, pensou com descaramento. Sentou sobre sua coxa esquerda, mas Lion a posicionou sobre ele, colocando seus pés sobre o próprio sofá, e sentando-a perpendicularmente sobre suas pernas. Não sabia como ficar para que os seios não ficassem quase na altura dos olhos de Lion. Certo, não era envergonhada, mas tampouco uma completa libertina. Tinha um pouquinho de pudor. —O pudor irá embora quando se acostumar a ficar assim comigo —esclareceu o telepata. —Saia de minha mente, senhor —disse em tom jocoso. Lion sorriu satisfeito consigo mesmo. 90 | PRT


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—Hoje aproveitaremos para que perca a vergonha comigo enquanto a deixo em dia com o vocabulário BDSM. Antes de ir dormir farei algumas perguntas que deverá responder corretamente. —E se eu errar? —Se errar, terei que te castigar. Oh. Uma provocação. Era competitiva ao máximo e não ia falhar. Além disso, tinha muito boa memória. —Vai agir assim no jogo? Não está representando nenhum papel, senhor? — peguntou para se assegurar. —Sou assim, Cleo — respondeu enquanto tirava seu iPad, que deixou pronto sobre a mesinha da sala— E quero que seja a mesma também. Será o modo de sermos autênticos e jogar justo um com o outro. Parece bem para você? —Sim, senhor. —Venha aqui. Pararam para comer. Lion encomendou comida japonesa a domicílio. Os dois gostavam de teriyaki com um pouco de alcaçuz, e pediram o mesmo. Obviamente, foi Lion quem abriu para o entregador. Cleo comeu sentada sobre o agente Romano. No começo estava um pouco tensa, mas logo suas costas começaram a doer e acabou apoiada por completo sobre seu peito. Não obstante, havia algo que cruzava sua mente constantemente: não ia tocá-la?! Estava o desejando a duas horas, e estavam há quatro estudando. A destacar: estava quase nua sobre ele. Lion tinha uma ereção. Uma ereção permanente desde que o usava como sofá! E esse homem, que lançava olhares ardentes em sua anatomia, tinha o pulso das mãos perfeito e respirava como se estivesse dormindo; quando ela parecia acabar de sair dos cem metros numa piscina. O exercício que lhe impôs Lion era para que relaxasse com ele, mas estava completamente cardíaca! Lion se sentiu muito melhor quando viu que ela cedia desse modo e se abandonava para ficar mais cômoda sobre ele. Não importava se percebia ou não sua ereção. Não importava, porque era natural ter uma mulher semidesnuda em cima e excitar-se. E não uma qualquer, mas sim Cleo. —Posso fazer uma pergunta? —Cleo remexeu seu frango com arroz e o olhou de esguelha.

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—É óbvio. — respondeu Lion dando um gole em sua cerveja e fixando o olhar nos seios de Cleo. Por favor, estava desejando levá-los à boca, mas hoje não. Hoje teria autocontrole. Queria que Cleo se acostumasse aos seus olhares descarados e famintos; e não estava fugindo de nada. —De onde vem o termo baunilha? —É um termo relativamente novo. No final dos anos noventa, um conhecido ativista do BDSM disse que os que praticavam o sexo convencional de maneira estrita eram como essas pessoas que iam a uma sorveteria e, entre uma vitrine de mais de duzentos sabores e texturas diferentes, iam pela segurança, a doce e enjoativa baunilha. Após, todas as pessoas que sexualmente não provaram nada mais forte, nem mais picante em sua vida, são os baunilha. —Ah, sei… —levou o frango à boca com os palitos japoneses mas, a meio caminho, Lion a deteve. —Me dê isso. Cleo olhou o frango e depois para ele. Nunca compartilhava sua comida; era uma mania certamente herdada de sua família Neandertal, mas não suportava que beliscassem de seu prato nem ficar metendo garfos ou colheres dela na boca dos outros. Entretanto, Lion era o amo; e devia tirar muito boa nota. Era fácil brincar de ser uma boa menina. Cleo não diferenciava se comportar desse modo a ser uma submissa. E parecia divertido; assim obedeceu e ofereceu o frango amavelmente. Ele o engoliu e lambeu o canto do lábio. —Não compartilha nunca sua comida. Me lembro disso. —E você sempre me tirava isso. Saco de batatas que carregava, saco que atacava. E não falemos dos Donettes. Adorava me fazer chorar. Lion soltou uma gargalhada e apoiou a cabeça no respaldo da poltrona. —Era uma menina muito ciumenta de suas coisas. Me ensinaram a compartilhar desde bem pequeno e me surpreendia que fosse tão miserável. —Não era por mesquinharia! —replicou ela. — É uma mania que tenho com a higiene. Ninguém pode tocar minha comida com suas mãos porque sei lá onde as colocaram… E ainda menos usar meus talheres. É como uma espécie de transtorno obsessivo —explicou um pouco envergonhada. — Ouça… senhor. —Sim? —Se importaria de me olhar nos olhos quando falo? 92 | PRT


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—Estou escutando, mas tem seios tão… tão seus, que não posso parar de olhá-los — respondeu ensimesmado. — Me perguntava como seriam… Ela meio que se ergueu, o observando enquanto engolia o que tinha na boca. —Se perguntava isso? Desde quando? Lion se deu conta de seu erro. Não podia admitir tão livremente que sempre esteve obcecado com ela, a menos que essa revelação pudesse influir em seu comportamento na instrução. —Sim. Quando ontem noite abriu a porta com a camiseta cinza larga da polícia e os mamilos marcando embaixo; pensei “como seriam?”. Mas sou um homem, e isso se perguntariam todos os homens daqui até Oklahoma. Não obstante, enquanto acabavam de comer, foram escovar os dentes e repassar termos durante mais quatro horas seguidas, mas Cleo não entendia como na noite anterior, quando estava vestida com seu pijama caipira, chamou sua atenção de algum modo; e agora estava semidespida, sentada sobre seus joelhos, o usando como respaldo enquanto continuavam com suas aulas. E Lion era todo profissional, sério e responsável; e como amo podia ter uma mulher desse jeito sobre suas pernas, sem nem sequer se alterar. Mas para Cleo, embora também fosse responsável, era a primeira vez que estava de topless com um homem atrativo e este não fazia nada. Seu orgulho feminino que dizia, “olá, estou roçando meus mamilos contra seu peito e não é acidental” começava a desejar que seu amo soltasse o leão. Mas Lion não era só trabalho; ao contrário a provocava frequentemente. O que estava jogando? Estavam em seu quarto. Acabavam de jantar as sobras do teriyaki do meio-dia, mais um par de frutas. Cleo estava preparando a cama para que ambos dormissem ali de novo. Lion nunca esteve tão satisfeito com ninguém como estava com ela. A garota era muito mais aplicada que imaginou. Sabia que era capaz, inteligente e que tinha memória quase fotográfica, por isso não seria difícil recordar tudo que aprendeu durante o dia. Mas se dirigia a ele sempre como senhor, e o fez com esse respeito brincalhão que a caracterizava, e o deixava a mil. Talvez Cleo fosse uma submissa em potencial, e se não era, era uma grande atriz. Se lavaram para ir dormir. Já não sabia o que fazer para aliviar os ovos. O pior era vê-la com as calcinhas de couro vermelho de motorista e os zíperes lançando reflexos prateado cada vez que se movia. 93 | PRT


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Era um homem, um amo, dono de seu destino e de seu autocontrole. Mas sabia que ia ejacular de um momento a outro; era impossível não fazê-lo ao ver sua juba que dançava ao som de seus movimentos e acariciava suas omoplatas; o cabelo vermelho como suas calcinhas e olhos tão verdes que recordavam grama verde. Chegava o momento de avaliá-la. —Incomodou-a estar assim diante de mim, Cleo? Ela acabou de retirar a colcha de verão e o olhou nos olhos, analisando sua resposta. —Senti-me como uma atrevida durante todo o dia, senhor. Mas, como é verão, agradeci porque a umidade aqui é horrível. Lion inclinou a cabeça para um lado. —Se excitou ao saber que estava te olhando a cada instante? Cleo deu de ombros e sorriu de modo suficiente. Esse gesto ia fazer que ganhasse mais de uma surra. —Se fez isso, não deve se importar muito, senhor. Ali estava. O desafio, a repelência. Rapidamente, Lion se colocou diante dela, agarrando-a pelo queixo e obrigando-a que lhe desse atenção. —Importa-me tudo o que te aconteça. Tudo. Agora me peça desculpas. Frustração, incompreensão e surpresa, tudo passeava pelo rosto de Cleo, e podia lê-lo com facilidade. —O que fiz? Não sei por que devo te pedir perdão… —apertou os lábios, — senhor. —Expliquei que hoje ia permanecer assim durante todo o dia. Que o objetivo era que se acostumasse a mim, minha proximidade, a ficar comigo; e o fiz em deferência a você. Acha que não sei que se roçava contra mim a cada oportunidade que tinha? Acha que não via que tinha vontade de cair na gozação, Cleo? Sabia. E agora está zangada porque sente que fracassou e que não pôde fazer que eu me jogasse em cima de você. Está quente aí embaixo. —Não é tão irresistível, senhor. —Estou apontando cada uma de suas impertinências, e amanhã vou te dar o castigo que merece por perder o respeito por mim. —Ameaçou-a com voz dura. —Disse que tinha que ganhar meu respeito — soltou em tom venenoso. 94 | PRT


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Lion apertou os lábios e lhe deu um olhar cheio de advertências. —Está me provocando de propósito, Cleo? —perguntou repentinamente iluminado. Ela olhou para outro lado, com gesto obstinado e também rendido. A garota não sabia o que dizer, mas no final, honesta como era, cuspiu tudo: —Você fez o mesmo comigo a todo o momento! Me tocou, se esfregou contra mim! — assinalou sua virilha volumosa, — e roçava meus seios a cada ocasião! Isso é fazer armadilhas! Também jogou sujo, senhor! Não falou de nos tocar! —Cuidado com seu tom —apertou suas bochechas com ternura. — Ganhou uma boa surra para amanhã. Admite o que queria de mim e, pelo menos, a diminuo por arrependimento. Amanhã começam o bondage, a dominação, o spanking, os brinquedos eróticos… Não sei se vai estar pronta para tudo isso, Cleo. —Me teste. É óbvio que estou. — quase ficou nas pontas dos pés para alcançar seus olhos azuis escuros. —Me peça perdão por sua rabugice; me diga com sinceridade por que está tão arisca, e amanhã ao meio dia poderá se sentar. Se não o fizer, serei inclemente, Cleo. E me acredite — elevou o rosto dela, dirigindo-lhe um olhar sinistro: — Sou muito inclemente. Ele via que a garota estava pensando seriamente em se submeter. Para uma jovem tão orgulhosa como Cleo, reconhecer que o desejava e pedir perdão poderia ser um gole muito amargo. Mas ainda sentia muito respeito pelos castigos e tudo que envolvia o DS, assim analisou o provável fato que amanhã deixasse seu traseiro em carne viva e, no final, claudicou: —Me perdoe, senhor —sussurrou sem olhá-lo nos olhos. —Não. Não acredito em você. Olhe-me nos olhos quando pedir perdão. Cleo levantou os cílios e o enfrentou. Lion tinha vontade de começar a rir. Ali não havia nem uma gota de arrependimento real. Mas deixaria isso passar: era uma novata, e ainda por cima muito rebelde. Novata e rebelde, má combinação. —Por que está se desculpando, Cleo? —Por… Por te acusar que não tenha dado solução à minha… minha excitação. Você não disse em nenhum momento que ia me tocar nem ter contato carnal comigo; cumpriu sua palavra e eu o incomodei injustamente. Lamento. E por insinuar que não se preocupa comigo e não cuida de minhas necessidades. Também lamento, senhor. E por te dizer que não é irresistível, quando não é verdade. Se não fosse — engoliu saliva e levantou os olhos verdes, que brilharam com malícia e 95 | PRT


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atrevimento, sabendo que o que fosse que ia dizer, ia deixá-lo sem palavras—, não estaria tão… molhada. Lion abriu os olhos, consternado. O pênis se moveu no interior de sua cueca. Hã…, essa foi uma desculpa excelente. Se sentisse de verdade o que dizia, seria motivo para que essa noite lhe desse de presente um orgasmo; mas Cleo sabia interpretar o papel, a grande harpia. Era terrivelmente inteligente. E uma bruxinha divertidísima. —Aprende muito rápido, Cleo. — apreciou. —Obrigada, assim por você?

senhor — respondeu escondendo um sorriso. — Gosta de saber que estou

Lion soltou suas bochechas e olhou à frente por cima de sua cabeça. —Aqui eu faço as perguntas. Agora apague a luz e me dispa. —Gostava desse aspecto de Cleo, mas nesses momentos se tratava de sua preparação. E devia ensiná-la a obedecer. No torneio haveria muitos olhos sobre ela, não demoraria nada a se destacar. Assim o importante era formá-la. Ela ficou imóvel, sem saber o que fazer. Correu para apagar a luz tal e como ordenou a ela. Só os iluminava a claridade das luzes do jardim que entravam pelo balcão. Cleo começou a tirar a camiseta ajustada de manga curta pela cabeça. Seus movimentos denotavam um pingo de rebeldia e mau humor, mas isso era o de menos: o importante era que obedecia. Lion a estudava enquanto desabotoava as calças, dirigindo um rápido olhar ao seu rosto. Queria saber se ele mudava de ideia em algo, ou se dava algum sinal de desejo. Mas teve o cuidado de permanecer sereno enquanto o despia. Tirou suas calças e descalçou os tênis. Depois as meias. Deus… Cleo olhava seus pés como se quisesse fazer um monumento a eles. Seria fetichista? Não. Não parecia. Só gostava, isso era tudo. Ela estava ajoelhada diante dele, com a vista fixa em sua cueca branca, que desenhava perfeitamente suas formas. Calvin Klein fazia um bom trabalho. Tinha o pênis tão bem agarrado que não havia uma tenda à vista. 96 | PRT


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Agora tinha que tirar sua cueca. Ela parou olhando sua virilha. —Tire isso também, Cleo. Ela abriu a boca e passou a língua pelo lábio inferior. —Ceeerrtoooo —cantarolou com insolência. — Mas se o fizer, vai ficar completamente nu. Trouxe algum pijama? —Não, querida. Vamos dormir assim. Pele contra pele. A incredulidade de Cleo se manifestou com um som abafado. —Tire minha cueca. —Sim, senhor. Ela obedeceu e o deixou nu. Levantou-se, com a vista cravada nele e em como ficava ereto rapidamente. Sabia que tinha um membro muito grande e pesado. Mas as mulheres adoravam isso. E esperava que Cleo também. —Por Deus santo, Lion… —murmurou Cleo colocando o cabelo atrás da orelha, impressionada com seu tamanho. Esse homem sofria gigantismo nessa parte de sua anatomia. —Vamos para a cama, anda. — Ele a agarrou pela mão e a obrigou a subir no colchão com ele. Não era Lion, era o senhor. Mas também perdoaria. Um choque era um choque. —Precisa se cobrir? — perguntou agarrando a colcha para cobri-la. —Hã… não — Cleo se estirou e apoiou a cabeça sobre o travesseiro— Ontem de noite não passei frio. —Bem. —Lion soltou a colcha e se estirou ao seu lado, frente a frente. — Continuemos repassando o dia. De tudo que aprendeu hoje e que sabe que se pratica no BDSM, me diga o que é que não se incluirá em nosso código de conduta como casal. O que não está disposta a fazer como submissa. Pactuemos nosso consenso aqui para apresentar nossas bases no torneio. Devem conhecer os limites, o edgeplay de cada casal, e saber no que podem os empurrar nos duelos. Quais são seus limites, Cleo? Cleo pôs cara de “como quer que pactue algo com você nu em pelo em minha cama?”. Mas, fazendo uso de seu competente profissionalismo, usou sua memória fotográfica e disse: 97 | PRT


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—Não quero mumificações, me dão claustrofobia. Não gosto do bizarro, não estou pronta para isso — parou, esperando que ele objetasse algo mas, diante de seu silêncio, prosseguiu— Nada de breathing control nem asfixias. Se sentir que me falta ar, começo a gritar, e que tolice não? —sorriu por sua própria brincadeira e Lion fez o mesmo. — Considero degradante o animal play; não sou nem um porco, nem um cão, nem um pônei… Não penso jogar isso. —E o age play? —Não sei —enrugou o nariz. — De verdade quer me ver como um bebê que tenha que vestir, alimentar e tudo isso…? —Talvez queira vê-la de colegial. —Fantasias desse tipo não me incomodam. Mas nada de infantilismo: minha idade limite é dezoito anos, daí não baixo ou terei que te denunciar por pederastia. Lion cobriu o rosto com a mão e riu ruidosamente. Essa garota era um caso. —E não aceito o trampling: não quero que me pisem nem com o pé descalço, nem com uma bota, nem de nenhuma outra maneira. Nem tampouco nada que tenha a ver com troca de fluidos corporais como cuspes, urinas e excrementos. Não entendo que prazer se consegue com isso, nem vontade de tentar. —Chama-se salirofilia —explicou ele ; — é um fetichismo onde se obtém prazer denegrindo e sujando o mesmo objeto de prazer com os próprios dejetos corporais salinos. Suor, saliva e sêmen. — Enumerou com normalidade. —Pois não. Não passo por aí. Isso inclui Bukkake, coprofilia e urofilia. Não gosto e não quero. —De acordo. E para todo o resto? —Master Card. Lion girou os olhos e Cleo afundou o rosto no travesseiro, rindo dele. —Você me pegou. —Sim —assentiu ela ainda sorridente. — Todo o resto não me dá tanto medo. Me imp~ie respeito muitas coisas, mas acredito que posso suportá-las. Ficaram em silêncio, olhando um para o outro, apreciando aquela calma e estranha comodidade que havia no leito. —E qual será sua palavra segura, Cleo? Cleo não hesitou nem um segundo. —Scar. 98 | PRT


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Lion deveria ter imaginado. Scar era o antagonista do rei leão no filme da Disney. —Feito. —Não assinaremos um contrato de submissão? Não se costuma fazer isso? Ele nunca faria um contrato assim com Cleo. Ela era mais que uma submissa para ele e não queria colocá-la à altura das demais. Não faria o mesmo que fez com elas. —Não é necessário. Só em alguns setores minoritários do BDSM o fazem. Mas como carece de efetividade legal, e é mais simbólico que outra coisa, não o faremos. Dou minha palavra que vou respeitar cada um dos limites que você não queira cruzar. Acredita em mim? Ela afirmou com a cabeça e o fazia com sinceridade. —Acredito. Aceito sua palavra —os olhos passearam por seu corpo, em busca de vales e sombras. — Você tem limites, senhor? —Nunca me submeto. E não gosto do Fem dom. Isso de se vestir de mulher nos jogos de personagens. Não rola. E ela o entendia. Disfarçar um homem tão viril de mulher era, no mínimo, um sacrilégio. Lion era um cara das antigas, não um metrosexual. Por isso, alguém tão macho, nunca devia se afeminar. —Agora preciso que me acaricie e que me toque, Cleo. —Fechou os olhos com um sorriso. — Preciso dormir, foi um dia duro para mim. —Como diz? —Ergueu-se sobre o cotovelo. — Que eu o acaricie? Foi um dia duro para você? —olhou seu pênis. — Sei. Sei. Estou vendo. —Tenho que repetir isso Cleo? —Abriu o olho esquerdo e a fulminou. A mulher estava tão ofendida que não cabia em si. Foi ela quem passeou pela casa semidespida, aguentando suas provocações e sua proximidade, desejando que ele desse um passo mais e que deixasse de tocá-la “sem querer”para que o fizesse querendo. Precisou dele todo o dia. E agora que a obrigou a despi-lo dizia que tinha que acalmar a ele. —Quer me agradar? Então, faça o que digo. Assim conhecerá meu corpo. Durma. —Canto para você uma canção de ninar também, senhor? “Dorme menino, durma que já vem Cleo e cortará seu pênis”. 99 | PRT


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Lion mordeu os lábios, lutando contra o sorriso. Grande submissa parecia. —Quatro açoites mais. Some à sua conta de amanhã. Cleo abriu a boca como um peixe e depois a fechou. Se protestasse, amanhã teria o traseiro como uma pimenta-malagueta. E não sabia como ia reagir ao spanking. E se doesse muito? E se não suportasse? A amarraria primeiro? A amordaçaria para que não gritasse? Com o que a açoitaria? Sem ser consciente disso, suas mãos operaram magia sobre o corpo nu de Lion. Tocá-lo a tranquilizava, e a mergulhava num desejo permanente, que inclusive era relaxante. Estava duro e suave, inchado e musculoso; quente. Queria acariciá-lo ali abaixo. Ah Virgem Santa! Isso tinha que medir cinco centímetros de grossura por uns vinte e cinco de comprimento. Passou a mão por seu peito e a deslizou até os abdominais, que recordavam às cerâmicas cinzas do banheiro de cima. —Cleo… — A voz áspera de Lion a tirou de seus pensamentos. —Sim? Lion ficou em silêncio, e ela revirou os olhos. —Sim, senhor? Lion sorriu. —É muito valente e estou muito orgulhoso de você. Hoje fez muito bom trabalho. Cleo continuou o acariciando, aceitando aquelas palavras, e tocando-o por todo o corpo. Era tão grande, tão diferente dela. Mais moreno, muito mais. Mais alto. Mais corpulento e musculoso. Seus bíceps, inclusive relaxados, estavam marcados; e tinha uns antebraços que a faziam salivar. O peito, liso e marcado; as abdominais, perfeitos. Os quadris, as coxas, os joelhos, seus pés… Era um puto amo do sexo perfeito. —Obrigada, Senhor. Lion nunca saberia que Cleo dava graças ao Senhor, ao único que ela sempre conheceu, por deixar na Terra um semi-deus como ele.

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Capítulo 8

Açoite e chicotadas: açoitar um submisso é somente outra maneira de acariciar, tocar e estimular à outra pessoa a níveis físicos e psicológicos. Cleo estava envolta numa nuvem de prazer e nem sequer sabia onde a estavam tocando. Uns olhos anis a hipnotizavam e a obrigavam a ficar quieta. Escutava rugidos de leão ao longe, e sentia dedos que a enchiam por dentro e esfregavam sua vagina. Estava a ponto, não faltava nada para gozar e, de repente, a sensação se foi, desapareceu; e se viu em meio a uma selva, correndo sem destino algum, fugindo do felino que ia atacá-la... O despertador soou às sete da manhã e Cleo abriu os olhos. Ainda tinha a excitação em seu corpo, a percorrendo insatisfeita. No outro lado da cama, vazio, permanecia o aroma de Lion, mas este já se levantou. —Madrugador. Sobre o travesseiro repousava uma nota escrita. Espero por você no jardim em meia hora. Chegaram todos os brinquedos e acessórios que pedi. Quero que tire a calcinha diante de mim. Tem o café da manhã sobre a mesa da cozinha. Estou ansioso para começar, assim não me faça esperar. King Lion (Seu chefe/amo/tutor).

—Por favor… —murmurou vermelha como um tomate— Começa a ação de verdade. Sim, senhor. — Murmurou se espreguiçando e estirando todos os músculos de seu corpo. Excitada pelo que lhe proporcionava o novo dia, tomou banho e se limpou. Voltou a vestir a calcinha de couro vermelho e desceu as escadas. Esperava encontrá-lo pelo menos na cozinha; que a saudasse, desse bom dia e a acompanhasse no café da manhã. Mas Lion continuava no jardim. O dia anterior foi uma caixa de surpresas. Não esperava encontrar um Lion Amo desse estilo, amável e atencioso, mas também muito… descarado e mandão. Embora claro, os amos eram mandões por si só, não? 101 | PRT


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Havia algo estranho entre eles, algo que não podia evitar. Talvez provocado pelos anos que se conheciam, ou porque Lion se acreditava em dívida com Leslie e ia cuidar dela tudo que pudesse e mais, até o ponto de se ter oferecido como seu amo. Não eram amigos íntimos. Nunca se deram bem. E agora passaram duas noites seguidas dormindo juntos: ele viu seus seios e ela viu tudo dele. Estavam jogando um jogo de dominação que tinha conotações sexuais, mas ambos sabiam por que o faziam. Era um trabalho. Uma missão secreta. Não era nada que fizessem voluntariamente porque seus corpos pedissem ou porque ambos se gostassem. Bom, Lion a atraía. Sim, sempre; mas, sendo franca, quem não ia gostar de Lion? O homem era muito atraente. Era sexy como o demônio e dava sua vida pelos outros. Era como Bruce Wayne: um cavalheiro das trevas. Sua relação devia ser estritamente profissional. Desconhecia que tipo de relação teve Clint e sua irmã Leslie, mas duvidava que Leslie se apaixonasse por alguém estando em meio a um caso. Ela tampouco faria isso. Mesmo assim, não era sua culpa se estava excitada. Sua educação sexual como submissa tinha propiciado um maldito esquentamento durante o dia de ontem; e Lion não fez nada para tirá-lo. Ela não era de pedra! E, para cúmulo, ele tampouco, porque seu mastro esteve com a bandeira até em cima durante todo o dia. E o que tinha de errado? Ambos eram jovens. Saudáveis. E deviam se preparar para seus papéis. O excitar-se e esquentar-se era algo normal se órgãos sexuais estavam diretamente relacionados com a instrução. Deus, fazia um calor horrível. Em Nova Orleans, julho era a época de furacões e ciclones devido às altas temperaturas e à umidade em toda a área. Por isso não havia muito turismo no verão, coisa que agradeciam. Sentou no tamborete da barra americana e tomou o café com gelo. Mordiscou o sanduíche natural que o amo preparou e saiu ao jardim enquanto acabava uma maçã.

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Lion só vestia um traje de banho curto de lycra de cor azul escuro. A esse homem não importava marcar, pelo visto. Tentava manipular algo que tinha entre as mãos, açoitando uma palma e logo a outra. Plas! Plas! Os músculos paravertebral e os ombros se inchavam e relaxavam a cada movimento. O estômago de Cleo apertou. Hoje receberia castigo por todas as ofensas de ontem e porque o amo queria saber qual seria sua resistência ao se colocar sob a dureza de sua vara; e não precisamente a que tinha entre as pernas. Engoliu o que restava da maçã se plantando atrás dele com toda a coragem que não tinha. A mesa que Lion tinha diante dele albergava um monte de artefatos destinados a fustigar, açoitar e flagelar; e Cleo nem sequer queria olhá-los. —Hoje poderá se vingar por aquela vez que o joguei do barco a motor em movimento de seu pai —disse Cleo para relaxar. Lion sorriu sem que ela visse. Precisava manter seu papel, embora a lembrança que evocaram suas palavras o enchesse de melancolia. Os pais de Lion era muito poderosos em Nova Orleans. Eram os principais algodoneros do estado. Os Estados Unidos tinha três grandes portos algodoneros: Galveston, Savannah e Nova Orleans, que embarcava das ribeiras do Misisipi. A família Romano, que tinha raízes italianas, embora as novas gerações se considerassem plenamente americanas, era a mais importante quando se referia à produção de algodão. O pai de Lion, Michael, adorava lanchas de alta velocidade. Quando eram pequenas, Leslie e ela foram com seus pais verificar as plantações de algodão e usaram suas lanchas para bordear o rio. Lion incomodava Cleo continuamente. Desfazia seu rabo de cavalo ou ria de seu cabelo vermelho; e ela, simplesmente, farta dele, o empurrou. E o fez com tanta força que se desequilibrou e saltou pela amurada do barco. —Bom dia, gatinha como dormiu hoje? —perguntou amavelmente, sem dar meia volta. Soltou o chicote e pegou outro objeto. Ups. Lion em modo amo ON no minuto zero. —Bem, senhor. E você? Dormiu bem? 103 | PRT


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Ele assentiu e virou para mostrar o que tinha entre as mãos. Era uma correia negra que segurava uma bola vermelha de borracha de uns quatro centímetros de diâmetro. —Sabe o que é isto? —perguntou colocando-a à altura dos olhos. Sim. Sabia porque também fazia os deveres e aproveitava qualquer momento para ver algum vídeo de BDSM. —É uma mordaça. —Costumam se chamar gags. Não sei se coloco isso ou não, Cleo. Este jardim é aberto e os vizinhos podem te ouvir gritar, assim é melhor colocarmos música bem alta. — Olhou o equipamento musical no alpendre interior, — e a acompanhamos com um destes fetiches, no caso. O que acha? —Como achar melhor, senhor. —Me agradaria não colocar isso. Quero ouvir seus comentários e o que possa dizer. E quero que conte as chicotadas. Há amos que se excitam com a acumulação de saliva de seus submissos com estes fetiches e também os ruídos que fazem ao tentar falar. A mim não. Isso não me atrai precisamente. Prefiro ouvi-la. Está de acordo, Cleo? Com gag ou sem gag? —Sem. —Aguentará por mim? Se aguentaria por ele? Se pedia assim… Tentaria. Tentaria suportar a dor que certamente ia infligir. —Tentarei, senhor. Lion se aproximou dela e baixou a cabeça para lhe dar um beijo na bochecha. Um beijo pequeno e, ao mesmo tempo, cheio de reverência. Ela ficou surpreendida pelo afeto nesse gesto e sorriu. —Eu adoro como cheira, Cleo. —É o xampu. —Não —disse ele— Você faz que o xampu cheire assim em seu cabelo e em sua pele. Digame, tomou bem o café da manhã? —Sim, obrigada por me preparar o café da manhã. —De nada. Está nervosa pelo que vai acontecer aqui? 104 | PRT


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Mentia ou não mentia? “Nunca minta para mim”, recordou. —Sim, um pouco. —Tem medo que a machuque? Vai estar atada e indefesa ante mim. Vou te ensinar em cada momento com o que vou golpear. Vou explicar o que acontece ao seu corpo. —Acariciou-lhe o queixo com o polegar e a puxou pela mão guiando-a até a mesa com quatro correntes em cada um dos seus cantos que tinha disposta no jardim. Converteu seu maravilhoso espaço chill-out em uma masmorra— Estire-se aqui de barriga para cima. Mas antes, tire a calcinha. Podia umedecer uma mulher só por essas palavras? Por que estava de novo tão excitada pela possibilidade de se sentir indefesa e forçada a aceitar algo? Por que queria que fosse Lion quem a provocasse? Tirou a calcinha meneando os quadris de um lado ao outro, ficando nua diante dele. Não teve nenhuma vergonha ao se apresentar de topless essa manhã e, agora, tampouco sentia vergonha ao ficar nua em pelo. Na noite anterior o despiu e o acariciou até que ele dormiu, ou foi ela quem o fez? Não tocou seu pênis, mas sim todo o resto. O que tornava a sensação mais estranha e indescritível: sentir-se a salvo com Lion quando ainda não tinham começado a parte dura de sua domesticação. —Jesus, Cleo… —a rouca voz de Lion penetrou sua pele. — Está muito lisa — sorriu como um corsário que ia sequestrar uma donzela, a devorando com olhos brilhantes de desejo e antecipação. —Gosta assim, senhor? —Me agrada muito —respondeu sincero, pegando-a pela da cintura e elevando-a até sentála na mesa. — Estire-se olhando para cima. Ela o fez, e ele prendeu correntes em seus pulsos, por cima da cabeça, e em seus tornozelos, abrindo suas pernas. Quando as correntes faziam clique, ele acariciava a área capturada para tranquilizá-la. —Vou tocá-la, Cleo —anunciou com o rosto entre sombras. —Sim —sussurrou. Lion passou a mão por cima de sua garganta e foi deslizando através de sua clavícula e seus seios. Acariciou os mamilos com os polegares, detendo as mãos ali. O coração de Cleo disparou, e um golpe de desejo se localizou no centro de suas pernas, formando redemoinhos por trás de seu umbigo. Mordeu o lábio inferior e fechou os olhos. 105 | PRT


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—Gosta que a toque assim? —Sim, senhor. Eu gosto. —E eu gosto de te tocar, Cleo. Ela abriu os olhos e centrou sua vista nele. Lion sorria extasiado com seus seios e tinha a ponta do nariz vermelha de excitação. “Então, também o deixo um pouco nervoso, não é? Bem, um pouquinho não é mau”, pensou com regozijo. —Tenho que te disciplinar com os açoites. No torneio podem vir provas de todo tipo se não encontrarmos antes os cofres; e poderíamos nos ver obrigados a empreender algum duelo. Um duelo poderia ser o de conter o grito durante o açoite, o de contá-lo, ou o de não gozar ou não chorar… E terá que ter muito autocontrole. —Poderia gozar pelos açoites? —É óbvio —respondeu— Talvez hoje não, porque vai estar muito preocupada em pensar se dói ou não. Misturarei os açoites com as carícias, a estimularei e acalmarei. Quero que se familiarize com os golpes e quero comprovar qual é sua área mais sensível, está de acordo? —Sim — disse decidida. —Primeiro vou prepará-la na frente, e depois o farei por trás. Não uso chicotes porque são muito dolorosos e podem chegar a cortar a pele. No torneio, as Criaturas utilizam chicotes para castigar; mas são amos muito versados nessas práticas e sabem que não podem cometer enganos e machucar de verdade uma submissa. —Me dão medo as Criaturas. Lion assentiu. —Não tem que temê-las. Além disso, faremos o possível para não cair em suas garras. —Bem. —Os instrumentos que usar pode despertar muitas sensações em você. Se tiver que gritar, faça, Cleo. Se tiver que chorar, chore. E, se não aguentar, recorde a palavra de segurança. —Scar. —Isso. —Voltou a passar os polegares pelos mamilos e logo deslizou os dedos por sua cintura, suas costelas e depois os quadris. Ficou com os olhos cravados em sua vagina e levou os dedos até lá para abri-la com cuidado.

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Oh, meu Deus. Só queria vê-la; não a acariciou por dentro nem penetrou os dedos em nenhum lugar. A abriu como se fosse um pêssego para observar sua cor e textura. Mas ela sentiu que umedecia e que começava a palpitar. —Tem uma cor muito rosada. Quando o sangue se acumular aí pelos açoites e palmadas, inchará e passará ao vermelho raivoso. Se tornará muito sensível. Os açoites nesta área servem para que o sangue bombeie nos pontos sexuais e seja plenamente consciente deles. Quando estiver preparada, poderia chegar ao orgasmo só com um sopro —assegurou acariciando-a levemente—É muito bonita, Cleo. —Elogiou-a com tato e cuidado. Ela inspirou profundamente quando parou de tocá-la e exalou com um obrigada afogado. —Vamos começar —disse agarrando um flogger de várias caudas. — A primeira coisa que tem que fazer é não pôr etiquetas ao que está sentindo. Sei que é angustiante estar atada e imobilizada sabendo que alguém vai golpeá-la, mas sou eu: sou Lion. Cortaria uma mão antes de machucá-la de verdade. Assim — sopesou o peso das extremidades e as analisou com atenção. — Não etiquete. Não há dor. Não há prazer. Há algo muito mais poderoso e potente que isso. — Deixou que as caudas do flogger acariciassem seu torso e passassem por cima de seus mamilos. Estes reagiram e ficaram arrepiados. — Isso. Responde muito bem, Cleo. —Ah… Obrigada, Senhor. —O que vou fazer com você, tudo o que vai sentir pode parecer doloroso; mas é dor para conseguir um prazer sublime. A dor não é o fim dos açoites: é o meio para fazer que voe. Uma sessão de BDSM, um castigo, não tem por que te aterrorizar. Pode pensar nisso como uma cena de filme de suspense em que não sabe o que vai acontecer. Sentirá um golpe, e depois, na mesma área, dois beijos ou duas lambidas; um açoite, e depois uma carícia reconfortante. E a soma de tudo isso, a soma de sentimentos e do grande contraste da dor e do prazer é o que faz do BDSM algo tão incrível. Sexo bestial e doçura infinita, suavidade e dureza, inferno e céu… Imagine uma discussão e depois quão incrível é a reconciliação. Aqui é o mesmo: depois que a flagelam ou a castigam, o melhor é que cuidam de você e a mimam. —Inclinou-se sobre ela e lhe deu um beijo fugaz nos lábios. — Vou cuidar de você, meu bem. Antes sequer que Cleo pudesse saborear e entender o motivo desse beijo, chegou a primeira carícia vertical das extremidades do flogger. Golpeou-a sobre o estômago, aproveitando seu próprio peso para que as estremidades não se enredassem e fossem todas na mesma direção. Cleo se esticou e com as mãos se agarrou às correntes. Primeiro chegou um e depois outro e outro e outro… Chegavam a grande velocidade e impactavam sobre a pele nua da jovem, que apertava os olhos com força e punha todo o corpo em tensão. 107 | PRT


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—Não gosto dos vergões, nem marcas na pele, nem cortes… Os sádicos, não os amos que gostam da dominação e da submissão —esclareceu, — abusam dos chicotes — Zás!, no seio esquerdo, — inclusive dos floggers com objetos cortantes. — Outro zás no outro seio. — Mas os sádicos têm outra psique e gostam de infligir dor por dor. A mim não. Cleo estava tremendo, aguentando as sensações tão facilmente como podia. Lion parou, e agora sentia como a pele atiçada formigava e esquentava. E, então, chegou outro tipo de golpe sobre suas coxas. Um igualmente estimulante. A pele picava e não sabia se o que estava experimentando era dor ou prazer. Depois de trabalhar suas coxas, Lion subiu o flogger de novo sobre o estômago; e então chegou o primeiro raio de dor forte quando as caudas foram parar em sua virilha. —Oh, meerda! —exclamou ela apertando os dentes. —Doeu este, Cleo? Assim? Ele fez de novo: e Cleo saltou da maca-mesa ao sentir o açoite na vagina. Mas quando a sensação picante desaparecia, ficava de novo aquela estranha estimulação em toda sua pele, como se alguém a tocasse, mas sem tocá-la. E se sentia arder. —Aguenta, Cleo. Isto é somente para te preparar. É um aquecimento. —centrou-se de novo em seus seios e passou de maneira continuada as caudas do flagelador como uma carícia sussurrante, para logo voltar a começar. Esteve longos minutos trabalhando sua parte dianteira, até que toda sua pele estava vermelha devido à estimulação. —Deus… É tão bonita. Cleo não podia falar. Estava convencida que seu cérebro estava fritando. O que acontecia com seu corpo? Acaso queria mais? Não podia ser… Ele acariciou seu rosto e retirou a vermelha franja de seus olhos. —Faz que queira fodê-la agora mesmo, Cleo. Está se entregando para mim. — Colocou a palma da mão sobre sua vagina e a deixou ali, sem mover os dedos. — Nota? Está umedecendo, querida. Estava se entregando a ele? O que acontecia era que estava ardendo como um maldito vulcão. Não queria que parasse de tocá-la. Não queria que afastasse a mão dali. —Lion… 108 | PRT


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Zás! A primeira bofetada com a mão aberta sobre seu sexo: spanking vaginal; e deixou a mão ali, retendo todo o calor. Saltaram lágrimas dela, mas, incompreensivelmente de novo, desejou muito mais. —Como me chamo? —Senhor. —Sim, assim é —passou os dedos pelos lábios do seu sexo, mas não fez nada mais. — Boa garota. Sem saber muito bem como, Lion a liberou das correntes e a virou como um frango; ficou de barriga para baixo sobre a mesa. Ele a aprisionou outra vez e começou a flagelá-la tal e como fez com sua parte dianteira. O fazia num ritmo e velocidade que continham uma força hipnótica. Não forte, porque aquele não era o castigo principal, mas sim com suficiente pressão e cadência constante para que sua pele se preparasse. —Deus —gemeu Cleo, colocando o rosto para o lado contrário de onde ele estava. Ardia-lhe a pele, certamente que a estava irritando; mas seu corpo mergulhava numa hipnose provocada pelo contato das extremidades, por como alternava um golpe e outro: um mais forte, outro mais frouxo, um mais suave… Depois parava e passava as mãos por cima da área torturada, como se a quisesse consolar e acariciar, pedindo perdão pelo castigo que estava infligindo. E ela, nesse momento, sentia vontade de chorar. Mas não o faria. Devia ser forte. —No torneio só eu a tocarei. Não vou deixar que ninguém se aproxime, Cleo. Para isso devemos ser os mais rápidos em encontrar os cofres; e, se não o fizermos, temos que ganhar os duelos. Mas se em algum momento tiver que enfrentar às Criaturas ou ceder ao que o Amo do Calabouço ou Uni exijam, tem que se preparar para qualquer coisa — Zás! Um açoite entre as nádegas que fez que sua linda pele se avermelhasse. — OH, gatinha… Veja. — Passou as mãos por seu traseiro e se inclinou para lhe dar um beijo. —Lion? —soluçou ela muito necessitada dessa boca. Zás! Um açoite com a mão aberta. E ela se queixou pelo contato. —Senhor! Esfregou a área em que deu a bofetada e se inclinou de novo para beijá-la. —É muito importante que nos castigos nunca pronuncie meu nome. Pense que você e eu temos outras identidades, e que essas serão as oferecidas aos organizadores do torneio. Um engano desse tipo chamaria muito a atenção dos Vilões. —Sim, senhor. 109 | PRT


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—Já está preparada para seu castigo. Desencadeou-a e a deixou sentada de novo sobre a mesa-maca. Com o flogger na mão ainda, retirou seu cabelo do rosto e pôs uma mão de cada lado de suas pernas, sobre o suporte, de modo que a deixou presa entre seu corpo e a maca, nua, afetada pelos açoites e vermelha como um tomate. Cleo nunca foi tão consciente de seu corpo como nesse momento. —Deixa-me louco que confie em mim desse modo, Cleo. —Ob... Obrigada, Senhor. —Está indo muito bem em seu papel, não é, bonita? Lion retirou o cabelo vermelho e úmido pelo suor do seu rosto. Encostou sua testa à dela e a olhou nos olhos. Ansiava beijá-la. Mas não queria confundí-la nesse momento; como tampouco ele queria se confundir. —Me olhe. Cleo levantou a vista, confusa. Não sabia como devia se sentir, mas se sentia tão bem e descansada… Tão ativada. Lion a agarrou nos braços e a deixou em frente ao seu punching bag. —Coloque suas mãos no saco, Cleo, e segure. O olhou por cima do ombro. Não se sentia tão desorientada para não o advertir com seus olhos, muito verdes, o que aconteceria se a machucasse de verdade. —Disse que confiava em mim — a recriminou, captando a mensagem desse olhar— Olhe para a frente. —Sim, senhor. —Ela mordeu a língua e esperou paciente que chegasse o golpe. —Quero que você mesma aceite a dor voluntariamente. Por isso não a amarro. —Bem. —Cleo se posicionou melhor para receber o castigo. —Deve se manter quieta, sim? —Sim, senhor. —O início da dor vai crescer porque liberou muitas endorfinas, e por isso é mais difícil que saiam hematomas. No pré-aquecimento, as carícias servem para que as endorfinas se acumulem 110 | PRT


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na pele. Está vermelha e abrasada, querida. Vou golpeá-la num ritmo lento para que tenha tempo de absorver cada golpe e antecipe a sensação do próximo. Ontem me ofendeu três vezes. Serão cinco chicotadas por cada ofensa. —Quinze, senhor? —perguntou estreitando os olhos e desejando que a tocasse de uma vez: não importava se vinha um açoite, uma bofetada ou uma carícia. Queria que continuasse estimulando-a, não queria esfriar. —Uma, quando me disse que queria outro amo, quando o que eu pretendia era te proteger de cair nas mãos erradas; a segunda, quando insinuou que não me preocupavam suas necessidades, quando a domesticação de ontem a preparava para mim; e a terceira, quando disse que não era irresistível, quando Cleo —se aproximou dela e sussurrou ao ouvido, — vejo o brilhante que está entre as pernas, gatinha. E é pelo muito que gosta do que faço. Mas vamos acrescentar cinco mais. —Por que?! —replicou. Ele permaneceu em silêncio durante uns segundos. Essas respostas mereciam outro castigo, mas esperaria que Cleo se dessa conta que não devia falar com ele assim. —Senhor? —perguntou sem entusiasmo. —Por insinuar que Clint morreu por minha culpa e que minha incompetência fez que sequestrassem Leslie. Aquelas palavras a afundaram. Era verdade que disse isso e se arrependeu imediatamente, mas não pediu perdão ainda. Como se atreveu a atacá-lo assim? —Está pronta? —Acariciou sua nádega esquerda e a beliscou suavemente—Está ardendo. —Sim, senhor —respondeu com um fio de voz. —Vai contar em voz alta as chicotadas. Tenho um chicote de nove caudas nas mãos, Cleo. Isto vai doer um pouquinho mais. —Usou a velocidade e o peso do chicote para golpear sobre suas nádegas, fazendo alavanca com seu braço e o cabo. O som das caudas cortando o vento podia ser atemorizante, mas era mais espetacular escutar como açoitavam a pele. —Um! —gritou Cleo cravando os dedos no saco de boxe. Deus… Como ardia. Depois de dez segundos, chegou o segundo contato, na mesma área, entre as nádegas— Doooiiis! —exclamou cravando os pés na grama para manter a postura. Os golpes cada vez eram mais fortes, mas iam mudando de lugar para não fazer muito dano. O três e o quatro alcançaram a área traseira das coxas. O cinco e o seis golpearam a parte baixa das costas. A pele do traseiro doía e ao mesmo tempo picava. Não sabia se queria se coçar, esfregar ou que continuasse a golpeando. O sete e o 111 | PRT


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oito caíram de novo sobre as nádegas. Não. Não queria que continuasse batendo nela. Ou sim? Aquilo era muito confuso. — Nove! Dez! Lion sabia que Cleo aguentaria com isso e com mais. Era a mulher mais forte, obstinada, valente e entregue que jamais conheceu. Mas devia aprender a suportar isso com ele, pois seria ele quem jogaria com ela no torneio. A jovem tremia e se apoiava no saco, quase se abraçando a ele. —Doze! Treze! As exalações e os ruidinhos indefesos de Cleo percorreram a alma de Lion. Era por ela que estava ali. Era por ela que cuidava de Leslie. Não o contrário. Entenderia isso algum dia? Como ia saber se nunca disse nada a ela? —Dois mais, gatinha! —Dezenoooveee! —gritou grunhindo. As extremidades da última chicotada a pegaram de repente nas bochechas avermelhadas das nádegas e a agente caiu, cansada de seu próprio exercício. — Vinte… vinte… Deus… — soluçou — Vinte! — deixou-se cair no chão, mantendo-se abraçada ao saco, completamente abandonada. Lion atirou o chicote no chão e pegou Cleo nos braços, embalando-a contra ele, consolandoa com seu corpo e sua pele. Cleo nem sequer se atreveu a fugir. Aquilo era um castigo de BDSM; e sabia que ardia seu corpo, era consciente da reação de sua psique pela representação da flagelação, mas não entendia a outra sensação que se estendia sob sua pele. —Venha aqui, querida. Fez isso tão bem… — a felicitou. — Agora me deixe cuidar de você. —Não… Deixe-me em paz. —Chist, Cleo. —Olhou-a nos olhos e caminhou com a jovem nos braços até sentar na poltrona de vime, com ela montada sobre suas pernas. —Sei que agora não sabe como se sente. Mas também sei que, na realidade, de verdade, não foi dor que sentiu. —Seus peitos nus se colaram um no outro. Lion a beijou na cabeça e na têmpora, depois pelas bochechas… Também passou as mãos pelas costas e nádegas para consolar sua aflição e sua ardência.

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Cleo se abraçou a ele, sem pedir permissão nem chamá-lo de senhor. Apoiou sua cabeça sobre seu peito e permitiu que lhe desse o calor que precisava. Carinho. Só queria carinho. “Console-me, por favor”, dizia em seu interior. —Sinto muito. Sinto o que te disse — gemeu sobre ele. — Não acho que teve culpa de nada… Fui horrível. Fui uma vadia má. Perdoe-me. Você perdeu seu melhor amigo no caso e eu… —Chist. Está bem, querida… —Não, Lion —o chamou por seu nome, mas nem se importou. Segurando-o pelo rosto, disse: — diga que me perdoa, por favor… —Sim. Claro que sim —Seus olhos azuis se impregnaram por tão bonita e viva que estava. —Perdão —soluçou, abraçando-o. Lion a acalmou e mimou, feliz por tê-la assim. Era a primeira vez que Cleo não o olhava mal, nem lançava uma palavra venenosa, nem ria dele… Agora era acessível. E terna. —No começo —explicou ele, — quando sente que gosta do que te fazem, sente-se desorientada. Mas, na verdade não é dor, não de verdade — explicou ele beijando-a no ombro e massageando suas carnes doloridas. — É uma dor prazerosa. —Segurou seu rosto entre as mãos e o ergueu um pouco para que ambos ficassem cara a cara. —A gente chora e se limpa. É como uma catarse. E há outros que acabam destruídos depois de uma sessão de BDSM, que ficam deprimidos por alguns dias. Tiram tanta merda e se esvaziam tanto que não sabem dar nome à paz interior que sentem. —Estou bem. Só… Só dolorida. —Secou as lágrimas com o dorso das mãos. Dolorida prazerosamente. Sentia-se ardida, mas também muito, muito sensual e acesa para qualquer coisa. —Estou bem. —Ouça… Antes me beijou. Me deu um beijo. —O recriminou. — Podemos nos beijar quando bancamos os personagens de amo e submissa? Isso está bem? —perguntou insegura. Lion sorriu ao ver que ela voltava a ter lágrimas nos olhos; mas eram lágrimas purificadoras. As limpou sorvendo-as com os lábios. E ela ficou estática ao se dar conta que Lion cumpria suas promessas: “Quando chorar, beberei suas lágrimas”. —Para mim sim. Se preciso fazer, faço —explicou ele. — Queria te beijar, Cleo. —Precisava me beijar? 113 | PRT


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—É uma submissa muito especial, e muito sexy —murmurou sobre sua bochecha. — Entregou-se a mim, Cleo. É óbvio que queria te beijar. E a beijarei sempre que me agradar. —Porque você diz? —Porque eu digo. Ela deixou cair os olhos e voltou a se apoiar sobre seu peito. Não ia falar disso com ele; os beijos sempre eram algo mais. Se tinham que se beijar, se beijariam de novo, mas dessa vez ela tomaria o controle, não a pegaria de surpresa. —Foi tão intenso… —murmurou sobre sua pele— Minha pele arde, arde em mim lá embaixo, e meu traseiro… Meu pobre traseiro — choramingou entre risadas. — O deixou como um tomate, selvagem. Lion começou a rir. —Ontem me ofendeu. Como submissa no jogo, deverá acatar os castigos, e lembre que haverá gente nos observando. Não poderá me ofender e permanecer impune. Tem que aprender a agir como se requer no torneio. —Sei. — gemeu ao sentir que a pele da virilha se ressentia ao roçar contra… OH, certo!— Ups… —Oh! —Lion sorriu abertamente e olhou abaixo—Está acordado desde que chegou ao jardim. Cleo engoliu saliva. Sim, já tinha se dado conta que Lion quase sempre estava preparado. —Dói? —perguntou ele. —Onde? —perguntou ela. —Aqui. —Lion deslizou a mão entre seus corpos e cobriu seu sexo com a mão. A jovem se sobressaltou, mas ele a manteve em seu lugar. — Sabe o que acontece aos homens depois de uma situação de risco? —O que? —A adrenalina e as endorfinas se aglomeram em nossos órgãos sexuais e nos deixa duros. —Como agora. —Arqueou uma sobrancelha vermelha e gostou de sentir a mão de Lion acalmando seu lugar mais íntimo.

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—É o mesmo que acontece com as mulheres. Mas vocês incham e umedecem. —Lion deslizou um dedo por sua fatia ardente e inflamada e se encontrou com a suavidade e a excitação de Cleo. — Como agora. —Isto também é instrução ou pode se considerar apalpar discretamente? —Isto faz parte da sua disciplina. Vamos fazer tudo que nos compete representar em Dragões e Masmorras DS. Cleo estava hipnotizada pela expressão de Lion. Parecia que estava tocando um pedacinho do céu. —E o que vai fazer a respeito, senhor? —Ela fechou os olhos e se agarrou aos seus ombros. —Depois do açoite, vem os carinhos, querida. Lion a elevou e a sentou sobre a mesa de vime, com cuidado de não roçar muito a pele flagelada. —Se abra e me mostre como é aí, Cleo. —Saiba que não faço isso com todos. Só estou fazendo porque o FBI me ordenou. Lion lhe deu uma bofetada no interior da coxa esquerda. —Sou o único a quem deve obedecer, descarada. Agora, se abra. Ela não estava em situação de contrariar ninguém, e desejava como uma louca que ele a acariciasse. A tinha estimulado de um modo muito selvagem, e agora não havia nada que pudesse acalmá-la a não ser que a levasse ao êxtase. Jamais imaginou que as surras sexuais podiam excitála até esse ponto. Mas seu corpo saltava com desejo de começar. E se eram amo e submissa, deviam representar o papel à perfeição. Ia se jogar em Lion. Ou seria ele quem se jogaria sobre ela? Que importância tinha? Queria uma maldita gratificação por suportar o castigo. Abriu as pernas e apoiou os pés, com fibras de grama, na mesa escura de vime. —Está… —Lion ficou sem voz e aproximou a cadeira da mesa, de modo que o sexo de Cleo permanecia aberto diante de seu rosto. Estava vermelho e, também, inchado. Mas o que mais estava era úmida. Sua vagina tinha fome e resultava que ele também. Com as mãos, manteve suas pernas abertas e a obrigou a se estirar em cima da mesa. —O que deseja? Minha língua ou meu pênis? Decide, porque agora só terá um deles. 115 | PRT


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O que disse? Cleo fechou os olhos e colocou o antebraço sobre eles. Com a outra mão se ergueu um pouco para segurar sua cabeça e a guiar até a área que chorava pelo castigo e por ele. Ele riu e com um grunhido disse: —Sim, eu também. Quero te comer. — Abrindo a boca abrangeu todo seu sexo de cima abaixo e começou a lambê-la como se fosse um doce. Foi muito rápido e fulminante. Sentia-o muito intenso. Notou sua língua e boom!, Cleo se elevou ao sétimo céu, gozando numa velocidade vertiginosa. Lion assentiu orgulhoso dela e satisfeito por sua resposta, enquanto continuava a beijando e lambendo. Aparentemente, acreditava que era o fim do mundo, e que ela era um maldito salva-vidas. Capturou suas pernas com força e começou a sugá-la de cima abaixo. Golpeou o clitóris com sua suave língua e depois a penetrou em sua cavidade. As paredes de Cleo se estreitavam e tremiam, sob sua inspeção. —É muito gostosa… —murmurou sobre sua entrada. Cleo sentiu a voz do amo entrar por seu útero e chegar ao estômago, reverberando como um eco em seu interior. Gozou uma vez e gozaria outra mais. Balançou os quadris para cima e para baixo e deixou cair o pescoço atrás. Nunca se sentiu assim. Teve sexo oral outras vezes, mas Lion era…, era… Não tinha palavras para descrevê-lo. Talvez os açoites a houvessem hipersensibilizado, mas, depois da surra, notar algo tão suave como sua língua, tão flexível e elástica, e com essa textura tão especial, a deixou louca. Agarrou-o pela cabeça com as duas mãos e o manteve no lugar que ela precisava. Lion não se moveu dali. Fustigava-a com sua língua e os lábios e depois a mordia carinhosamente com os dentes; absorveu seus lábios exteriores, primeiro o direito e depois o esquerdo e, em seguida, começou a fazer o mesmo percurso desde o início. Tinha tudo estudado. Queria a martirizar. Foi numa das profundas imersões de sua língua que Cleo voltou a gozar em sua boca; enquanto ele continuava a mimando como somente um amo podia fazer depois de um castigo. Se essa era a recompensa por sofrer sua disciplina, esse mesmo dia lhe diria que era feio, vesgo e um nazista pelo menos vinte vezes. Mas seus cuidados não acabaram aí. 116 | PRT


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Depois de gozar uma vez mais, Lion pegou o que restava dela e colocou ambos na jacuzzi. A água estava fria, assim ativou as borbulhas e colocou Cleo entre suas pernas para lhe dar uma massagem cheia de sabão sobre os ombros doloridos e as costas irritadas. Permaneceram em silêncio enquanto ele cuidava dela. —Obrigada, senhor — disse realmente agradecida. Lion a beijou na nuca e passou as mãos pela parte baixa de suas costas para logo percorrer as nádegas com os dedos. —Como está seu traseiro? —Melhor. A água me acalma. —Acrescentei sais de banho calmantes. Depois, quando sairmos daqui, farei uma massagem com uma loção especial para que sua pele se restabeleça. É feita de folhas de carvalho. —É um detalhista —sussurrou fechando os olhos. — Também sabe fazer massagens, senhor? —Sei fazer de tudo —murmurou brincalhão. — Já sei como está seu bumbum... E você, Cleo, como está? —Mmm… Incrivelmente bem. É como se tivesse corrido uma maratona. Agora me sinto tão cansada e maleável… —suspirou. — Mas feliz. Isto de ter um amo não é má ideia — brincou com a água entre seus dedos. — Poderia deixar que me castigassem, se depois tenho tudo isto. Um pensamento cruzou a mente de Lion. Cleo estaria com ele como amo enquanto durasse a missão. Os supervisores concordavam que o modo de finalizar o caso era no torneio, uma vez que entrassem no círculo dos Vilões; mas isso implicava que ficariam juntos só até a conclusão do caso. Não gostou do comentário de Cleo. Sugeria que ela pudesse escolher outro amo depois que tudo acabasse. Com amargura disse: —Há castigos que não têm recompensa. Há castigos disciplinadores que não acabam em orgasmos. Mas prefiro que acabem assim. É muito melhor para ambos. Cleo se apoiou sobre seu peito. Estava bem e era correto estar assim com ele. Ambos tinham uma missão a cumprir e iam se conhecer melhor que ninguém; assim intimidade a esses níveis não era inadequado. —Acredito que ficaria arrasada se alguém me castigasse como você fez e depois não me consolasse. 117 | PRT


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—Há amos muito cruéis, Cleo. Mas as submissas que procuram são muito submissas, e aceitam o que façam porque é o que necessitam. —Sim. Sim…, já sei. —Ninguém está com um amo por obrigação. —Exceto… Exceto as mulheres que possam traficar utilizando o torneio de BDSM. Talvez não todas, mas as estão obrigando a ficar lá, e algumas perderam inclusive a vida. —Exato. Faltam quatro dias, Cleo — moldou suas nádegas e as abriu para que as borbulhas batessem justo nessa área. — E restam coisas para aprender. —Ouça… — se esticou divertida. — Isso faz cócegas. Sabe? É a primeira vez que utilizo a jacuzzi com outra pessoa. —Sério? Ele soltou uma gargalhada enquanto a colocava sobre um jorro de água. —Vamos para o quarto, querida.

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Capítulo 9 A base de toda boa relação entre amos e submissas é a confiança. As mentiras destroem tudo em ambas as partes. Naquele dia pela tarde, Lion explicou que sairiam para conectar-se a Internet e ver se havia alguma mensagem da organização do torneio. Ele se conectava sempre de locais habilitados, porque estava demonstrado que os organizadores tinham hackers analistas de sistema, e não interessava que ninguém soubesse do IP de seu computador PR. Depois disso ele indicou que ela usaria sob o sutiã pinças para mamilos. Portanto, depois da Jaccuzzi, do quarto orgasmo e da massagem; depois de comer e de continuar estudando as instruções do jogo e aprendê-las de cor, Lion se dispôs a pôr uns aros de aço em cada mamilo. Cleo estava de pé diante dele, ambos no quarto. Lion vestia calça jeans desgastada azul claro e uma camiseta branca de manga curta e com gola V. Calçava sandálias de couro abertas, estilo surfista, mas social. Cleo vestia uma minissaia de flores estampadas vermelhas, amarelas e violetas. Somente isso. Tinha os seios ao ar livre e ainda não tinha se calçado. A diferença de tamanho entre eles saltava à vista. A jovem o olhava como se fosse o próprio grande diabo. Ora, se pudesse teria saltado pela janela. Ia prender seus pequenos seios com isso? Estremeceu. —Não vai usá-los por muito tempo. Só uma hora. Depois de chegar ao local wi-fi e analisar minha caixa de entrada do fórum, iremos por um instante ao banheiro e os tirarei. —Iremos por um instante ao banheiro? Há um banheiro público misto que não conheço? —Não — negou com a cabeça. —Entraremos no de senhoras e fecharemos para que eu desprendê-los. —Isso é um delito: escândalo público. Sou uma agente da lei, senhor, que repentinamente está de férias… Lion parou diante dela, com a palma para cima e os aros constrictivos reluzentes e perversos diante dela. —Cale-se, periquito. Há muitos tipos de pinças para mamilos. —ele disse, acariciando seu mamilo rosado com o polegar e o indicador. —Hum… —Cleo apertou os lábios, proibindo-se de gemer. —Gosta que eu toque seus seios? —O que acha, senhor? Lion sorriu e os acariciou somente para provocá-la e ver como a pele arrepiava e os mamilos ficavam eretos. —Quero que me responda. Cleo desejou lhe dar um pisão. —Sim, senhor. Gosto que toque meus mamilos. —E eu gosto de tocá-los. — Reconheceu, agradecendo sua sinceridade. —As pinças… —não queria sair da linha de instrução, assim prosseguiu: — tem as deste tipo, que são aros que podem 119 | PRT


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se ajustar segundo o tamanho do mamilo e segundo a resistência à dor da submissa. Também há outros tipos que são como pinças metálicas. Algumas estão unidas por uma corrente, com a qual o amo pode puxá-la quando quiser atormentar os mamilos da submissa; outras vêem unidas com uma corrente, que por sua vez, é unida ao colar de submissa. As pinças são dolorosas, mas servem para que o mamilo fique muito mais receptivo às carícias. —Espero que não me cause isquemia. —Não. Tem que controlar muito bem a pressão com que fecha a pinça e ajustá-la ao seu grau de dor. O amo tem que ser consciente de manter uma boa irrigação, que o sangue possa fluir bem e evitar esmagar qualquer artéria que leve a circulação ao lugar que está se pressionando. Sadio, seguro e consensual, lembra? —Sim. —Essas eram as bases do BDSM. —O importante é não usar objetos afiados. Recomendo as pinças de ponta larga ou estes brincos, porque são um modo de distribuir a pressão e que não se veja afetado um só ponto. Está pronta? —É óbvio que não — replicou. —Cleo… Confia em mim? —Sim, senhor. —Repito: está pronta? —Sim. Lion sorriu. Esse gesto era tão terno e adorável nele que Cleo estaria disposta a dizer sim até para uma tatuagem de seu rosto no traseiro. Mas não podia se deixar enganar por sua doçura e sua incrível e contraditória amabilidade: era um amo. E aquilo era um jogo onde iam ultrapassar muitos limites. Tampouco seria uma descerebrada e dizer sim a tudo só porque seus olhos azuis escuros se iluminavam quando ela admitia que confiava nele. Não. Nem pensar. Lion pegou o seio esquerdo. Cleo inspirou profundamente. Ele o lambeu para que endurecesse e, depois, rodeou o pequeno mamilo com o aro e começou a ajustá-lo. A pressão cresceu e cresceu até que o mamilo parecia uma pedra esmagada. —Dói! —ela se queixou, tentando afastá-lo de seu seio. —Cleo —Lion segurou seu pulso. —Puxe ar e relaxe. É somente a primeira sensação. —Do caralho! —Cleo…? —Lion prendia a risada, mas não devia lhe dar tanta indulgência. — Isso merecerá um castigo. Imediatamente, essas palavras produziram uma espécie de efeito placebo nela. O castigo… Sim, era estranhamente doloroso, mas tudo que vinha depois… Oh, senhor… Seu mamilo relaxou, e o beliscão de dor que às vezes emitia se uniu à excitação que despertava em sua virilha. Ficou calada e com as bochechas vermelhas. —Olhe, Cleo. —Lion levantou a camiseta e mostrou seus mamilos, presos por aros circulares. Os colocou por ela, porque queria compartilhar suas sensações. Lion nunca fez nada assim com ninguém, mas com Cleo… Com ela o faria— Eu também coloquei. Cleo abriu a boca e fixou seus olhos em seu peitoral. Que condenadamente perfeito era… 120 | PRT


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—Por que? —perguntou horrorizada. —O machucarão. Lion a olhou com ternura. —Hoje vou ser misericordioso e vamos compartilhar a experiência. Isso queria dizer que nunca os usou antes? —Não fez isto antes? Com nenhuma? Lion negou com a cabeça e deu de ombros enquanto dava batidinhas no mamilo preso com o polegar e o indicador. —Por que? —perguntou Cleo em meio a um gemido— Por que o faz comigo, senhor? — Estava assombrada. Não só lhe deu vários orgasmos, mas não recebeu nenhum. Nem exigiu que o tocasse, nem se queixou por sua falta de atenção. —Porque quero. E essa foi sua única resposta antes de rodear o mamilo direito com o outro aro, e pressionálo de modo igual. —Aguenta a sensação inicial. —Lion cobriu todo seu peito e pressionou o mamilo com a palma para acalmar a dor. Olhou-a fixamente— Respira comigo — inalou e soltou o ar pela boca. Quando viu que ela fazia o mesmo, a felicitou — Isso. Cleo teve vontade de se jogar em seu pescoço e beijá-lo, mas não podia fazer isso. Beijá-lo era como um passo mais na instrução e não o faria até que Lion desse carta branca para isso. Enquanto isso, morreria de vontade. —Que calcinha está usando? —A que me deu depois de sair da jacuzzi. —Lion tinha comprado muitas coisas através da loja erótica online. Havia muita lingerie BDSM, e Cleo podia escolher a que mais gostasse — A calcinha preta de látex que tem um zíper frontal. —Perfeita. —A felicitou. Levantou seus seios e deu um beijo em cada um na parte superior— Vista-se rápido. Espero por você lá embaixo. —S-sim, senhor — murmurou, observando como saia do quarto, assobiando como um homem feliz. ***** Como era quarta-feira, era obrigatório passar pela Praça Lafayette. Havia muitas bancas de comida caseira e música grátis e ao ar livre. O melhor de Nova Orleans e os nativos dali se congregavam naquele ponto de encontro da cidade. Cleo se sentia como se estivesse num encontro com Lion, o que, obviamente, não era. Mas saber que ambos brincaram de correr por ali quando crianças, que se conheciam fazia anos, e que as pessoas os reconheciam pelas ruas passeando sozinhos, alimentaria as fofocas. Mais de um os veria como casal. Sorriu. As coisas proibidas que ela e Lion estavam fazendo e fariam durante esses dias; e sem ser namorados. Mais de uma pessoa se escandalizaria por um comportamento tão libertino. Mas, por trás disso, havia um assunto tão repugnante como o tráfico de pessoas. Assim, valeria a pena qualquer sacrifício se pudesse libertar sua irmã das mãos de quem quer que a tivesse; e o mesmo 121 | PRT


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com as mulheres e homens que certamente não tinham nem ideia de onde entraram até que era muito tarde. Estava sentada num dos terracinhos da praça Lafayette, escutando como os músicos que repovoavam de novo o Bairro Francês, ambientavam a vida noturna e animavam o espírito dos cidadãos. Lion entrou por um momento na biblioteca pública para se conectar ao fórum e ver se tinha recebido alguma mensagem privada do D&M. “Incomodam-me os mamilos”. Não, não era aborrecimento. Estavam roçando contra o sutiã e enviavam flashs de dor e prazer por todo seu corpo. —Cleo? A voz de Tim Buron, seu amigo e oficial de polícia de sua delegacia de polícia que se aproximava da mesa, sorridente como sempre. —O que faz aqui? Nos disseram que tirou uns dias de férias para assuntos particulares. Pensei que sairia de viagem. Tim devia usar muita proteção porque era muito branco e loiro, e o sol de Nova Orleans queimaria sua pele. Estava muito vermelho. —Bom. Sim… Estou redecorando a casa… —Ah, sim? Que parte da casa? —O jardim —soltou assim, rapidamente. “Sim. E depois de acabar de transformar meu jardim numa masmorra de dominação e submissão que faria um cara como você chorar, irei a um torneio onde das vinte e quatro horas que tem o dia, certamente em vinte e duas estarei com o traseiro vermelho brilhante.” —Sério, não me diga… —Sim, está muito bem. Quando acabar sairei uns dias por aí. Para descontrair. —Sabe sobre Billy Bob, verdade? Pensei que foi por isso que tirou férias. Cleo ficou quieta e seu rosto escureceu. Recordar o nome desse safado a deixava doente. —Sim, sei. Mas tenho coisas mais importantes a fazer que modificar minha vida só porque Billy Bob está livre. —Disse bem. Deram sua condicional e agora está na casa de seus pais. —Não me importa. Não quero voltar a vê-lo na vida. Esse filho da cadela por pouco não mata sua mulher a murros. Tim a olhou compreensivo. —Sim. Mas tinha um advogado muito bom e, no final, sua mulher retirou a denúncia. E agora está livre. Cleo suspirou contrariada. Como podia uma mulher dar um passo atrás assim? Billy Bob esteve a ponto de deixá-la cega, com traumatismo cerebral severo. Estava cheio de álcool até as sobrancelhas. Sempre foi um homem muito agressivo e os vizinhos asseguravam que não era a primeira vez que batia nela. Naquela noite, Cleo o viu sair bêbado do bar que havia perto de sua casa. Seguiu-o com o carro e se ofereceu para acompanhá-lo, mas Billy Bob lhe disse: 122 | PRT


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—Todas as mulheres são umas putas. E depois de dizer isso, quando chegou em sua casa, começou a espancar sua mulher. Como já conhecia os antecedentes de Billy Bob, ficou esperando perto da rua em que vivia o agressor, esperando que não acontecesse nada, mas confiando que, se finalmente Billy batesse em sua mulher de novo, algum vizinho daria voz de alarme. Nem sequer precisou. Martha, sua mulher, apareceu em seu campo de visão, fugindo aterrorizada de alguém, com a camisola branca manchada de sangue e o rosto destroçado. Billy Bob a perseguia e ia alcançá-la diante de seu carro, frente à sua dianteira. Cleo chamou reforços, saiu do carro, soltou uma descarga com sua pistola Taser e o deixou prostrado no chão. O algemou enquanto ele a insultava e gritava que ia matar Martha e que depois se encarregaria dela. Cleo o golpeou no rosto com o porrete, e Billy Bob se calou. O processaram e encarceraram. Ao final de duas semanas, a promoveram como tenente. E agora esse sacana já não estava entre as grades. Bom, a lei às vezes era assim. Mas devia continuar acreditando nela, não? Já tinham se passado seis meses. —Billy Bob é água passada. Por mim que apodreça ou que procure ajuda psiquiátrica. —Foi isso mesmo que Magnus disse, embora esteja mais preocupado com você. Já sabe como é com você… —Sim — girou os olhos. —Na verdade, Magnus nos disse que tinha uma jacuzzi muito bonita no alpendre interior. —Ele disse isso? —levou a tônica que estava tomando aos lábios. Que presunçoso. Ele não esteve em sua casa, mas tinha fama de paquerador, e gostava de fazer os outros acreditarem que entre eles podia haver algo mais que amizade. Cleo explicou a ele sobre a jacuzzi, mas nada mais. —Sim —continuou Tim. — Que pode temperar a água fria e quente… E que as poltronas são muito cômodas. Quero uma dessas para minha casa. —Te dou o telefone do meu instalador. Embora, não entenda como Magnus te disse isso se… —Olá, Tim. Cleo olhou Lion por cima do ombro. Sua voz soou muito séria e impessoal, e se admirou disso. —Lion? —Tim abriu os olhos com surpresa e levantou para saudá-lo efusivamente— Porra, cara! Que alegria! Lion respondeu a saudação com educação, embora olhasse Cleo com gesto frio. Ela estreitou os olhos. Não entendia o por que dessa atitude. —Sabe? Seus pais nos disseram que tem um negócio de hardware e software em Washington e que está indo às maravilhas. Cleo bebeu sua tônica e revirou os olhos. Isso era o que seu filho lhes disse para que não soubessem que, na realidade, era agente especial do FBI. 123 | PRT


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—Sim, vai muito bem — respondeu, a olhando de soslaio. — Ele tem tudo muito… controlado. —Não me queixo. Como estão seus pais, Tim? —perguntou, ignorando o comentário de sua submissa. —Bem. Já sabe, com seus problemas de saúde, já são idosos —lamentou. — Mas continuam prontos para qualquer coisa. Vi seus pais numa festa beneficente no After Katrina. Porra, os anos não passam para eles, cara. Estão iguais. —Sim —assumiu com um sorriso. — São como imortais —murmurou rindo. Tim começou a rir também. — Bom, Cleo e eu devemos ir. —Ah, sim? —Cleo levantou da mesa e deixou o copo de tônica vazio. —Sim. —Lion a pegou pelo cotovelo e colocou cinco dólares sobre a mesa. —Hã… —Tim se surpreendeu. — Sua irmã Leslie também está por aqui? —perguntou interessado. — Pensei que talvez estivessem fazendo um reencontro do passado… Sabem como é... —esfregou a nuca.— Como sempre saiam juntos. Cleo parou e apertou os dentes. Leslie. Ela devia estar bem. Se manteria a salvo, e iriam em seu resgate. —Ela está bem. Continua com seu negócio de confeitaria e tem muito trabalho. Mas virá mais adiante. —Oh, me alegro —respondeu Tim. — Dê lembranças da minha parte. —Sim, as darei —responderam os dois de uma vez. Ambos se olharam e afastaram o olhar em direções opostas. Lion a afastou das mesas do terracinho a segurando pelo braço. —Ouça, não me agarre assim, parece que está levando uma criança. Já disse que não quero os age play. Lion retirou a mão, e desta vez a pôs sobre a parte baixa de suas costas, a acompanhando, em vez de puxá-la. —Oh, que casalzinho tão adorável. Ouviram dizer uma voz às suas costas. —Merda —grunhiu Cleo entre dentes. — É a senhora Macyntire. —Lion Romano! —exclamou abrindo os braços e lhe dando um leve empurrão. —Senhora Macyntire, me alegra ao vê-la. —Saudou-a como se de verdade se alegrasse. Cleo pensou: “Que educadamente falso”. A senhora Macyntire era uma mulher gorda; uma velhinha de pele escura e cabelo muito branco, que usava um vestido vermelho com florzinhas brancas e um chapéu preto com uma rosa do lado esquerdo. A típica mulher idosa nativa de Nova Orleans. —Minha Cleo, querida menina —a repreendeu. — Passei dois dias te ligando e não atendeu o telefone. —Não estou de serviço, senhora Macyntire. Tirei uns dias de férias.

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—Vestida assim parece uma mulher. —Piscou para ele um dos olhos e analisou sua saia estampada, sua camiseta de alças e decotada de cor branca, e os sapatos azul escuro Tommy de plataforma de borracha e muito altos. — Não como esse uniforme azul que costuma usar. —Sei… —sorriu falsamente. — Obrigada, senhora Macyntire. Temos que ir. Que passe uma boa noite. —Sabe? —A mão da senhora a deteve pelo antebraço. — É que estou procurando meu cão e… Sério? —Seu bulldog está montando a poodle de Eva, a padeira. E está bem atrás do homem que toca violoncelo no centro da praça. E agora, se me desculpar, estamos com pressa. O rosto da senhora Macyntire se iluminou e foi em busca de seu cão, os deixando livres. Lion a empurrou levemente para que continuasse caminhando, e se afastando da praça, que estava abarrotada de muitos conhecidos indiscretos, e a meteu no interior do Pirate’s Alley Café, por trás da catedral. —Estas plataformas têm oito centímetros de altura e não é fácil seguir seus passos. —Silêncio. Os pés de Cleo doíam muito para discutir com ele, assim respondeu cansada: —Sim, senhor. Entraram nos banheiros do local. Era uma adorável casa de estilo francês, vermelha e de portas brancas em forma de arco. Havia gente, mas não a multidão que se congregava na praça Lafayette. Bruce Springsteen cantava Waiting On a Sunny Day, e havia alguns casais que dançavam ao ritmo do Boss. Lion a levou ao balcão e pediu duas doses de absinto. —Não gosto de álcool, e o absinto é asqueroso. —Vai bebê-lo. —Sim, mestre. —Não use meu nome em vão — grunhiu. —Cinco açoite mais. Está acumulando. —Por que está zangado? —perguntou indignada. — Está de mau humor desde que saiu da biblioteca e… —Mentiu para mim. —Como? —Mentiu para mim. —A garçonete pôs as duas doses na frente deles, num copo de vidro longo e transparente. — Me disse que era a primeira vez que levava alguém para a jacuzzi, e não é verdade. —Pagou a bebida e perguntou algo no ouvido da garçonete. Esta sorriu lascivamente, olhou para Cleo e logo para ele, e deu de ombros, assentindo. —O que?! —replicou perdida, observando a comunicação não verbal da peituda. — Não menti, disse a verdade. —Cinco açoites mais. —Basta!

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—Não eleve a voz para mim. Quinze. Cleo, isto não é um maldito jogo, obedeça e não fale. Quando começamos a jogar somente pedi que fosse sincera e honesta comigo, que nunca mentisse para mim. —E não fiz isso! —Dez mais, por rebeldia e por repetição na infração. Um músculo de raiva palpitou na mandíbula de Lion. Cleo franziu as sobrancelhas e ficou vermelha da indignação. Furioso, deu-lhe a dose de bebida. —Beba isto e diminuo cinco açoites. Cleo não pensou duas vezes. Somava vinte e cinco açoites. Naquela manhã aguentou até vinte, e estava a ponto de fazer xixi. Tirou a dose de bebida das mãos, zangada com ele por não escutá-la. Mas se reconhecesse que Magnus e ela não estavam juntos, que foi tudo mentira para demonstrar que ela também tinha uma vida sexual animada, então ia parecer uma estúpida e teria que reconhecer muitas coisas diante dele que não gostaria. Bebeu de repente. E deu meia volta para sair do local com dignidade no modo Scarlett O’Hara. Então, Lion bebeu sua dose, a segurou pela mão e entraram nos banheiros. —Onde pensa que vai? Adentraram o toalete das senhoras, dentro de um dos banheiros. Lion fechou a porta com trava e a abandonou contra a parede, com suas mãos de cada lado de seu rosto. —E o que pensa que está fazendo? —repreendeu-o ela. — Estamos num banheiro público. —Silêncio. Suas bochechas estavam vermelhas pelo álcool, pela raiva ao descobrir que Cleo mentiu para ele e, também, por apertar os mamilos. Era um amo, e tinha uma norma simples e clara. Mentiras NÃO. Cleo a tinha violado; e além disso o fez quando estava mais orgulhoso e mais agradecido com ela. Quando a consolava e dizia com suas massagens, seus cuidados e seus carinhos o quanto era importante para ele. —Isto é parte de sua domesticação. Cleo olhou para outro lado, afastando seu rosto. —Nunca faça isso —a advertiu. —Nunca afaste seu olhar. Se cometeu um engano, Cleo, tem que aceitá-lo e não fugir das consequências. Entendido? —Sim. —Mas na realidade não entendia, porque ela apenas mentiu sobre sua relação com Magnus, mas estava sendo sincera em todo o resto, durante sua disciplina e em relação ao que a fazia sentir. Não mentia nunca. —Sim o que? —Sim, senhor. —Tire a camiseta. Certo. Esse era outro modo de jogar. Os dois estavam aborrecidos por algo que na realidade não existia. Mas melhor deixar assim que reconhecer que inventou um namorado por vergonha do que pudesse pensar dela. Além 126 | PRT


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disso, devia aprender a manipular essas emoções e deixá-las de lado se queria ter êxito como submissa. —Sim, senhor. —A tirou pela cabeça e ficou com o sutiã preto. Lion a observou, estudando seu sutiã. Estendeu as mãos e as pousou suavemente sobre seus seios. Ela se queixou, mas mordeu a língua. —Doem? —Sim. —Tire — ele puxou seu sutiã preto. —Isto não está bem… —Cleo, porra. —Sim, perdão. Cleo levou as mãos ao broche de seu liso sutiã e o desabotoou. O entregou a Lion e este o deixou bem dobrado sobre a tampa do vaso sanitário, tal e como fez com a camiseta. Os mamilos estavam inchados, mas não muito avermelhados. —Quanto mais acha que pode usá-los? —perguntou tomando o peso de seus seios nas mãos. Ela fechou os olhos e negou com a cabeça. —Não… não sei. —Bem. —Parou de tocá-la— Tire minha camiseta. Ela o fez e ficou nas pontas dos pés para poder tirá-la pela cabeça, porque Lion não dava nenhuma facilidade. —Agora, desajuste os aros e tire-os de mim. —Sim. Ela lambeu os lábios e tentou tirar os aros sem provocar nele muita dor. Lion a olhava impassível, mas Cleo se deu conta que apertava os punhos quando o liberou dos brincos constritivos. A jovem elevou as mãos involuntariamente para acariciar os brotos marrons escuros que estavam um pouco machucados, mas Lion a deteve pelos pulsos. —Chupe-os. Cleo piscou. De acordo. —Sim. —Assentiu com as pupilas dilatadas e cheias de desejo. Sim. De repente queria tocar Lion desse modo e lambê-lo. Queria passar a língua por seus mamilos. E fez isso. O que importava se estava zangado com ela? —Por… ra — ficou tenso ao sentir a primeira lambida. Cleo o ignorou. Lambia como uma gata; e depois abria a boca e o mamava, fustigando com sua língua, acalmando e mimando o peitoral desse homem. Passou as unhas pelos abdominais, meio arranhando-o. Nem sequer sabia de onde vinha esse instinto de marcar, mas gostava de fazê-lo. Lion sorriu; e enquanto ela o chupava, apoiou-se com as mãos na parede que havia por trás de Cleo. 127 | PRT


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—Isso, querida. Mordeu-o e puxou o mamilo, absorvendo-o no interior de sua boca com um ânsia descomunal, com a fome de uma mulher esfomeada de coisas que não se atrevia a pedir. —Desabotoe minha calça. —grunhiu. Ela levantou os olhos sem deixar de olhá-lo, e descobriu que ele esperava que se escandalizasse. Seus olhos verdes brilharam com desafio e, enquanto se deixava cair de joelhos no chão de madeira do banheiro, deixou suas unhas marcarem seu impressionante abdômen, e desabotoou seu cinturão e sua calça. Não ia se escandalizar. Não ia perder. —Já sabe o que tem que fazer —ele tomou todo seu cabelo vermelho em uma mão. Ela se absteve de responder. O faria porque sentia vontade, não porque ele ordenasse. Além disso, estava zangado, e a estava irritando. Isso iria bem. Abriu seu zíper. Baixou sua calça até o meio da coxa, levando a cueca com o movimento. Seu pênis grosso e venoso saiu disparado para frente. Cleo nem sequer lhe deu preliminares. Descobriu que gostaria de tomá-lo todo na boca; e fez isso. Segurou-o pela base, pôs a outra mão sob os testículos e o engoliu. —Merda! —exclamou Lion girando os olhos. — Cleo… Ela remexeu seus testículos suavemente entre suas mãos, e depois o comeu com a boca, até o fundo da úvula, e engoliu. Lion a puxou pelo cabelo, dobrou os joelhos um pouco e empurrou no interior de sua garganta. —Sim, Cleo… Sim. Relaxa a garganta… Cleo fechou os olhos e procedeu a saboreá-lo. “Um membro tão grande poderia te matar por asfixia”, pensou. Mas não importava. O sabor de Lion era salgado; seu tato, suave e meloso. Gostava. Gostava de tê-lo na boca. —Senhor. —Lion movia os quadris cada vez mais rápido, mantendo-a no lugar— Vou gozar, Cleo. “Goze”, pensou orgulhosa. Fez rotações com a língua sobre seu tronco e depois o colocou tão dentro que acariciou a bolsa de seu testículo com a ponta desta. Então, a mão que lhe acariciava entre as pernas, subiu até beliscar um mamilo ultrasensível e dolorido. As sensações o varreram. —Oh, Cleo… Querida… Lion gozou em sua garganta, e ela o absorveu todo, engolindo, devorando e alimentando-se dele. Cleo deu uma última lambida enquanto o espremia com a mão, e depois o tirou pouco a pouco da boca. Lion tinha que se segurar na parede ou cairia no chão. Ninguém, ninguém, o masturbou com a boca assim, jamais. Ele era um homem versado no sexo e nas mulheres. Sabia ao que se referia. E se deu conta que Cleo era a grande maga do sexo oral. Mas isso, longe de relaxá-lo, o irritou ainda mais. 128 | PRT


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Magnus não merecia uma mulher como essa, porque não saberia valorizá-la nem saberia manter seu interesse. Cleo era uma mulher sensual, uma maldita gata selvagem digna do trono de Afrodite, mas tinham que alimentá-la e continuar cultivando seu interesse pelo sexo, pela paixão… E o fodido afortunado, a quem sequer conhecia, a teria quando todo o caso acabasse. Cleo queria Magnus? O amava? Não. Duvidava. Se assim fosse, por que aceitou instruir-se como sua submissa? “Por Leslie, imbecil. Por sua irmã. Não por você”, disse a si mesmo. Porque se supunha que Magnus e ela estavam juntos, não? Não publicamente, mas sim que paqueravam e certamente transavam. Porra, quem não ia querer transar com Cleo? Com um grunhido, meteu o pênis, que ainda continuava inchado, nas calças e a levantou do chão. Inclinou-se para limpar os joelhos dela com as mãos, e depois secou suas lágrimas com os polegares, as quais, sem querer, caiam de seus olhos devido ao esforço de albergá-lo inteiro. Inclinou-se pouco a pouco, como se fosse beijá-la nos lábios. Cleo esperou paciente que desse o beijo que, inesperadamente, desejava nesse momento. “Beije-me, leão enjaulado”, pensou, passando as mãos brandamente por suas costas. “E de passagem me explique por que está assim”. Mas então aconteceu algo que a encheu de vergonha: Lion desviou dela e a beijou na bochecha para sussurrar: —Ponha o sutiã e a camiseta. Espero por você lá fora. Abriu a porta e a deixou sozinha no banheiro. Precisava recuperar a respiração e o controle de si mesmo. Cleo engoliu em seco e sentou sobre a tampa do vaso sanitário. Deixou cair a cabeça sobre suas mãos, apoiando os cotovelos em suas coxas. —O que foi isso? —se perguntou consternada pelo que acabava de fazer e pelo que Lion não fez com ela.

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Capítulo 10 As pessoas são duplas:temos uma parte dominante e outra submissa. No BDSM a escravidão e a liberdade coexistem em seus participantes. A primeira se experimenta, a outra se sente. O caminho do Bairro Francês até sua casa foi feito num sério silêncio. Lion comprou alguns pacotes de comida nas barracas de comida vendidas na praça Lafayette. E agora estavam jantando na mesa do terraço de seu quarto. Lion quis assim, e dispôs tudo ordenadamente. Cleo continuava confusa pelo acontecido no banheiro do Pirate’s Alley Café. Na realidade, devia seguir as instruções do amo Lion; mas saber que ele estava assim por uma inverdade a fazia se sentir mal, porque foi ela quem criou a mentira. Talvez fosse melhor que soubesse que entre ela e Magnus não havia nada. Nada de nada. Mas tinha vergonha de revelar a verdade. O chefe escolheu alguns pratos crioulos para levar. A cozinha crioula da Luisiana misturava influência de diferentes partes do mundo: da africana e caribenha, da mediterranea e francesa, inclusive com toques italianos. —Em Washington não cozinham igual —disse ele enchendo o copo de vinho tinto. Cleo cobriu sua taça com a mão e negou com a cabeça. —Ainda tenho absinto no corpo, senhor. Não gosto de vinho. Lion deixou a garrafa sobre a mesa, e a serviu de água. A estudou. Os focos de luz de seu terracinho de madeira iluminavam seu rosto e criavam um halo avermelhado ao redor de sua cabeça. Uma fada dos bosques sem seus duendes. E estava contrariada e preocupada. Como amo, tinha que fazer Cleo entender que mentir para ele não ia conceder-lhe bons resultados em nada. Mas como Lion, porra, a pequena mentira o aborreceu além da conta. Cleo estava entretida olhando as momentâneas reformas que fez em seu jardim. A mesa maca com correntes, os chicotes, os floggers, os dois postes de madeira cravados como se fossem paus laterais de uma trave de futebol americano… —Minha mãe tem a receita da melhor quiche de todo o estado —murmurou ela sem muito entusiasmo. — Se pedir, enviaria para você recipientes com comida para um mês. —Gostaria de ver Darcy. —Lion levou um pedaço de pimentão recheado à boca. — Senti falta de suas raspadinhas quase todos os dias da minha vida. —E ela sentiu sua falta. — Exalou brandamente e pegou um pouco de salada de batata. — Te adorava. —Sim. Provoco esse curioso efeito nas pessoas. —Normal, é um bom mentiroso. —Como você. — respondeu ele com acidez. Cleo lançou um olhar ressentido enquanto engolia e acompanhava com um pouco de água. —Segundo as leis de servos e dominantes, deve aprender a esquecer e não estender um castigo muito, equivoco-me, senhor? —O que devo, travessa Cleo, é fazê-la entender que não deve mentir para mim sob nenhuma circunstância. Talvez não esteja levando isto muito a sério porque acha que é algo que 130 | PRT


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não será duradouro. Mas, enquanto estiver comigo, tem que estar duzentos por cento em todos os sentidos. Como agente, como pessoa e como submissa. —Você está? —Sim. É óbvio que sim. Ela ficou calada e continuou comendo em silêncio. Não acreditava que estivesse duzentos por cento. Quem estava? —Que tipo de relação tem com Magnus? —Lion tentou compreender a relação de Cleo com esse cara. —Nada sério. Já disse isso. Nada sério. Mas esse tal Magnus estava em Nova Orleans com ela, compartilhava os dias com ela e, certamente, a fazia rir. Lion se azedou por aquele pensamento. —Imagino que não deva ser, porque não passou para vê-la nem um só dia. Não deve significar muito para ele —acrescentou, concentrado em comer seu pimentão recheado. “Nossa. O amo é muito cruel”, pensou ela, dirigindo-lhe um sorriso frio e indiferente. Mas Lion sempre foi assim malvado com ela. —Se você diz… Embora suponha que o que há ou deixe de haver entre Mag e eu é da minha conta. —Não, querida—respondeu com voz perigosa. —Engana-se. Enquanto estiver no caso, tudo me concerne. Com quem sai ou com quem deixa de sair; para quem liga ou não. Ligou para ele alguma vez estes dias? —Não. Não liguei. Não entrei em contato com ninguém. —Então, Mag —repetiu com zombaria, — não tem nem ideia que estou me beneficiando de sua garota? — Merda. Acabava de ultrapassar a linha e sua credibilidade como profissional baixou vários pontos. Cleo fritava seu cérebro. —Está bem. Lion, acredito que devemos deixar claros alguns conceitos. —Limpou os cantos dos lábios cuidadosamente com a ponta do guardanapo. — Não sou a garota de ninguém. E, que eu saiba, você e eu estamos trabalhando juntos para representar um papel. Ainda não transou comigo; só pusemos em prática suas técnicas de dominação, assim, tecnicamente, estamos nos tocando, mas não beneficiando. —Fiz amor com você com minha boca — esclareceu de modo letal. —E eu também fiz isso com você esta tarde no banheiro de senhoras. Mas ninguém se beneficiou de ninguém. E agora, se o senhor não importa, eu gostaria que falássemos do caso que faz com que você e eu tenhamos que estar jantando aqui, educadamente, quando na realidade o que gostaríamos é de tirar a pele um do outro em tiras. Ele franziu o cenho. Cleo não tinha nem ideia do que gostaria de fazer; e não tinha nada a ver com sadismo de nenhum tipo, mas sim com o que a jovem tinha entre as pernas e com sua língua loquaz e viperina. —Tem notícias do fórum? —Ela também sabia redirigir as conversas a assuntos menos espinhosos— Recebemos convite? —Tenho convite há dois meses. Um convite particular da Rainha das Aranhas. 131 | PRT


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Cleo sorriu sem vontade. Como não. Lion tinha tudo sob controle e evitou explicar esse detalhe. —Assim é um VIP… —Sim. Hoje recebi o código de vestuário a ser usado por todos os protagonistas. Todos os amos irão iguais. Serão nossas submissas que nos diferenciarão. Temos que escolher seus acessórios. —Claro… — grunhiu, pensando no fato que ele já tinha convite fazia tempo. — Quantos agentes mais se infiltraram no caso? —Além de Leslie? —Sim. —Nick e Karen. Cinco agentes infiltrados — “Até que mataram Clint”, pensou com amargura. Por sorte, não havia mulheres e crianças que deixou para trás… Mas tinha ele; e sentia muito sua falta. E quando encontrasse o responsável pela morte de seu melhor amigo acabaria com ele. Cleo se sentiu mal por Lion. Ela não conheceu Clint, mas certamente era um bom homem. —Que papel interpreta Nick? —A de submisso. E sua ama, que é Karen, já conseguiu o convite. —Da Rainha das Aranhas? —Sim. —Sabe? Tenho vontade de conhecer essa Mulher Aranha. Minha irmã chamou a atenção dela, você chamou… —E você também chamará por ser minha acompanhante oficial. —Tão importante é no mundo BDSM, Lion King? —Não é por ser ou não ser importante. —Lion esvaziou a taça de vinho e se inclinou para a frente— É porque nunca fiz nada em parceria. E vai surpreender alguns jogadores que conheço e que não duvido encontrar por ali. —Jamais? Jamais jogou com a mesma submissa? —Nunca mais de dois dias seguidos. E agora me apresento num dos torneios de BDSM mais importantes do mundo, com uma garota que ninguém conhece. Acreditarão que é muito valiosa para mim, tanto que permito que jogue comigo. Por isso despertará interesse das Criaturas e de todos os amos protagonistas. Por esse mesmo motivo, os Vilões a notarão. Tem todos os números para sair escolhida por eles. As submissas que encontrar no torneio e cruzarem conosco vão querer saber quem é, de onde vem, quais são suas técnicas… Se perguntarão: “o que ela tem que eu não tenho?” —Ora… —revirou os olhos— Quebrava corações, senhor? —É o que acontece quando se cria expectativas. —Sei. —Teve vontade de replicar. Mas era evidente que Lion evitava a vinculação emocional com suas “parceiras”. Gostava de saber disso? Não gostava? Ela queria ser diferente? A sua era uma relação trabalhista um tanto anômala, mas sua relação sexual tinha um objetivo: a infiltração. Pelo bem de sua saúde emocional não devia esquecer jamais desse fato. 132 | PRT


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— Assim tenho que dar duro, não é? —Mesmo assim… Maldição, com quantas mulheres esteve esse amo do demônio? —Sim. Deve. Cleo levantou a taça de água e brindou por ele: por sua vaidade e sua falta de escrúpulos. A de ambos. —Darei… —Arqueou uma sobrancelha vermelha e sorriu como uma sedutora. Ela saberia agir melhor que ninguém. Acabaria o surpreendendo, porque era muito competitiva. —Vou impressioná-lo… senhor. —Não tenho a menor dúvida —assegurou sorrindo mais relaxado. —Não queremos que sua reputação quando tudo isto se resolver vá para o lixo, não? Darei o melhor de mim. E também o pior —piscou um olho.— Deixa todas chorando quando parte… Só espero não ter que brigar com nenhuma para limpar seu nome. —Também espero —sorriu sem vontade. —Não se preocupe. Sua lista de submissas quando tudo isto acabar será tão grande quanto a que tem agora. —Touché. Mas há algo que não entendeu: não tenho submissas, Cleo — esclareceu se levantando da mesa e oferecendo a mão com a palma levantada para cima. — Nunca possuí ninguém. Sobremesa? Comprei bolo de noz. Cleo tinha o estômago apertado. A tensão entre eles se apalpava notavelmente; e ainda não sabia diferenciar se era porque ainda estava zangado, porque ela estava ou porque se tratava de simples e inegável tensão sexual. —Não quero sobremesa. Obrigada. —Bem. Eu tampouco. Venha comigo. Cleo aceitou a mão que ele oferecia e o acompanhou enquanto a guiava ao interior do quarto. A ampla cama de colcha púrpura e almofadas brancas e douradas os esperava, sorrindo de lado, esperando a ação que amortecesse o preço pago por ela. A luz dos focos de luz do terraço iluminavam o interior do quarto, com tons claros de lua. —Nenhuma vez possuiu uma submissa? Não entendo. Um amo não existe sem uma submissa —raciocinou Cleo, encurvando um pouco as costas para que os mamilos parassem de fustigar com o sutiã. A que se referia com nenhuma vez possuiu ninguém? —Estive com mulheres que necessitavam que alguém as guiasse e saciasse a fome que tinham de submissão. As instruí e mostrei o caminho a seguir; sobretudo, que soubessem diferenciar entre amo equilibrado e amo com psicopatias, entre amo dominante e amo sádico. Afinal o BDSM deve ser um jogo e um modo de viver a sexualidade de cada um. Não um cárcere, nem uma moda. O BDSM é para sempre. Minha principal preocupação é que, procurando que as dominem, tenham a muito má sorte de encontrar alguém que de verdade possa machucá-las, como por exemplo, como aconteceu às vítimas que ocasionou o caso Amos e Masmorras. Há falsos amos soltos, e precisam saber detectá-los. Todos, mulheres e homens, devem saber vislumbrar as diferenças. —Por isso é amo? Para iluminá-las? —sorriu incrédula. — Verão no final como é bom e íntegro. 133 | PRT


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—Não. Não é por isso. Mas quando estão comigo, devem diferenciar o que é sadio, singelo e consensual do que não é. Sempre há diferenças e gosto de marcá-las. —Pois para mim a diferença está em que um amo deve respeitar sua pessoa sempre, sobretudo quando não há contrato nem relação emocional que os una. Que entenda que há linhas que não se devem cruzar. Lion a olhou de esguelha. Não podia ser mais direta. Ela tinha razão. Não estava bem mexer na vida privada ou sentimental de Cleo. Seja o que fosse o que tinha com Magnus era algo que só concernia a ela. O problema era que começava a desejar estar na vida daquela bruxa de cabelo vermelho e olhos verdes de maneira consensual e continuada. Cleo foi a única mulher que desejou de verdade. E a única que nunca teve. E saber que havia outro cara por ali a rondando o frustrava e ferroava pela primeira vez com a sensação do ciúme. Não suportava a mentira, mas era o ciúme que o corroía: saber que Cleo esteve com outro na jaccuzzi, ou que provou outro de muitas outras maneiras… Porra, não aceitava nada bem. Quando decidiu ser ele quem a instruiria, não pensou em quão árduo seria aceitar que a pequena Cleo também teve relações. Por isso continuava zangado; mas mais com ele que com ela mesma. E como não era dono de seu passado, não podia mudar esses fatos. Não obstante, a tinha ali. Gostava de Cleo agora, no presente, embora fosse nesses níveis sexuais e, possivelmente, estaria em seu futuro durante, pelo menos, dez dias mais. Os aproveitaria do modo que melhor sabia. —Tem razão. — reconheceu ele. Ela fechou a boca, emudecida, e logo voltou a abri-la. —Perdão, o que disse? —aproximou seu ouvido de seus lábios— Me pareceu ouvir uma desculpa… Lion sorriu friamente. —Não voltarei a levantar esse assunto e de seu amante. Satisfeita? A única coisa que deve nos importar é continuar a prepará-la para chegar a tempo no torneio. Cleo entrecerrou os olhos e aceitou essa concessão como uma desculpa. Lion a desejava: notava-se em sua forma de olhá-la e se concentrar nela. Sim, definitivamente, muito melhor se concentrar nisso. Mas antes devia esclarecer algo: —Continua zangado? Juro que não menti. Ele apertou os dentes. “Não importa. Magnus agora não importa… Somente ela”. Somente Cleo e sua formação. —Sabe por que mente. A personalidade da submissa se deve respeitar, nunca modelar. Terá que cuidá-la e ajudá-la que encontre a si mesma, para que se sinta à vontade consigo mesma. — Inspirou profundamente e a aproximou de seu corpo. Levantou uma mão, acariciando sua bochecha como modo de desculpa. O que tinha? O que fazia para que não pudesse parar de tocála? —Está recordando isso a si mesmo? Já disse que não sou uma mentirosa. Não importa o que pense. —Chist —É óbvio que importava. 134 | PRT


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—Lion… Mas é que… — “Magnus e eu não temos nada. Inventei isso”. Não tinha por que dar esse tipo de explicações. Mas o rosto de Lion quando escutou o que Tim disse foi impagável. E se sentia mal por ele, porque acreditava que o traiu. E por que se sentia assim? Nem ideia. Eles não eram nada! Não? Ele fechou seus lábios com seu polegar e os acariciou. —Joguemos, Cleo. Vamos deixar esse assunto atrás. Agora quero cuidar de você. —Agora? Agora quer cuidar de mim? Agora que o senhor jantou? —replicou frustrada pela irritante sensação em seus seios. Lion arqueou uma sobrancelha e sorriu malignamente: —Parece frustrada… —Acha? —Sim. O modo como a olhava, com esses olhos patenteados tipo raios X, característicos de um homem que tomava o que queria, deu-lhe a entender que não estava para mais bate-papo. A estava ameaçando com sua presença e sua pose. —Vai me castigar? —Sim. Genial, ia surrá-la por algo que na realidade não fez. Uma sensação de antecipação percorreu seus mamilos, nádegas e virilha. —Por que? —Se tenho que explicar isso outra vez é por que não entendeu nada. —Pensei que o numerozinho no pub e não me tirar os aros já tinha sido castigo suficiente. — O recriminou sem maneira alguma, chamando a atenção da moral de amo de Lion. —Não, querida. — Deus. Cleo era muito suscetível. — Tinha uma necessidade. Uma necessidade de você. —Tomou uma mecha de seu cabelo e o cheirou. — Somente queria que me desse atenção. Um pouquinho de você para mim. Depois de todos os orgasmos que já te dei esta manhã… —Como? —Ah, sei. O território alfa de Lion. —E estava ofendido. —Muito mal, senhor amo. Não deveria agir estando zangado. Não é uma de suas normas? —Cleo… —Um brilho de aborrecimento muito quente atravessou seus olhos. — Fecha essa boquinha que tem… —Feche-a você se… —À cama. Perdeu a paciência. Pegou-a pela cintura de surpresa e a atirou, literalmente, sobre o colchão, fazendo que ricocheteasse e esparramando seu cabelo por todos os lados. Cleo gostava do tête à tête, e também descobriu que a encantava comprovar o que tinha de amo em Lion, e de Lion no amo. Vislumbrava que era um tudo, mas, para saber perfeitamente tinha que pressioná-lo. “Provoco você, tolo”, pensou, sendo muito consciente de quão perigoso era conseguir isso. Mesmo assim, ele manteve as rédeas. 135 | PRT


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Observando-a com avareza, despiu-se por completo, parando tão moreno, alto e largo como era, na frente dela. —Tenta me provocar, Cleo? —Conseguiria algo com isso, senhor? Lion avançou para ela como um felino. A despiu, tirando primeiro os sapatos, logo a saia e depois a camiseta. —Adoro como este calçado estiliza suas pernas. —Assegurou, elevando o tornozelo nu e beijando-a sobre o arco do pé. —Obrigada. — respondeu assombrada que ele se desse conta desse detalhe. Lion a puxou para si e a obrigou a ficar de joelhos sobre ele, montada. —Me dispa. — a ordenou. —Sim. Ele afundou a mão sob seu cabelo e agarrou parte de seu cabelo puxando-o dolorosamente. —Cleo. Já passamos por isso. Sim, o que? —Sim, senhor. —As agulhadas de prazer do couro cabeludo se dirigiram aos seus mamilos. E não pôde evitar gemer. —Está sensível — aprovou, abrindo a boca sobre sua garganta, e marcando-a com a língua e os lábios. Sugou. Ela fechou os olhos pelo súbito prazer. —Vai me deixar marca! —protestou. —Marco à minha maneira. —deitou-se sobre ela, moveu-a até colocar sua cabeça sobre o travesseiro, e Cleo encarcerada entre seus antebraços. Afundou os dedos em seu cabelo e grunhiu, roçando sua nua ereção contra o zíper que cobria sua virilha. Lion dava respeito. Era como um animal do sexo, mas não um besta. Era selvagem e ao mesmo tempo elegante. Friamente apaixonado. Seu contato a queimava como gelo e fogo. Cleo ia oferecer sua boca porque a vontade de beijá-lo crescia a cada momento que passavam juntos. Entretanto, pensou duas vezes, porque não queria ficar em evidência como aconteceu no banheiro. No final, conseguiu manter a cabeça encostada no travesseiro, sem levantá-la para ir em busca de sua boca. “Bom para mim. Sou uma garota difícil”. —Vê as algemas que há sobre sua cabeça? Algemas? Outra vez? Visualizou-se ronronando como uma gatinha. Levantou os olhos para cima e observou as algemas prateadas, unidas por uma larga e folgada corrente enrolada a uma das barras brancas da cama. —Sim, senhor. Lion desabotoou o sutiã e o tirou, jogando-o no chão. Levantou uma mão e cobriu um seio. —Levanta as mãos por cima da cabeça, Cleo. Ela fechou os olhos e assentiu, obedecendo imediatamente. Ele sorriu triunfante e o sorriso chegou aos seus olhos porque Cleo assimilava rápido seu papel. 136 | PRT


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Lion fechou uma algema ao redor de seu pulso esquerdo, e a outra ao redor do direito. —Mova os braços. Move-os bem? —Sim. —Entre uma algema e outra havia bastante espaço. Seria consciente que estava algemada, mas não tinha seus movimentos muito limitados. Com um gesto poderoso, assim, de repente, Lion desceu o zíper de sua calcinha de látex e, levianamente, acariciou-a por dentro até ensopar-se com sua umidade. —O que acha? —disse para si mesmo, esfregando o inchado e úmido sexo de Cleo. Ela mordeu o lábio inferior e negou com a cabeça. —Me tire os aros, Lion. —Mau, Cleo. Você não dá ordens. —Deslizou um dedo em seu interior, de modo tão minucioso, que ela se queixou por deixá-la tão vazia—… Tente outra vez. —Por favor… Por favor, senhor. Acredito que meus mamilos vão explodir, e se me tocar aí… —Se esfregar aqui —agarrou o clitóris com o indicador e o polegar, — sente-o nos seios? —Deus… Sim. —Sim? Então, é mais sensível do que acreditava, querida. E me deixa tão duro saber disso… —Mmm —gemeu abrindo os olhos para ver sua expressão enquanto tocava sua suavidade. Mas Lion não olhava abaixo, a olhava nos olhos, com uma máscara de paixão crua e luxúria descontrolada. —Vai ver. —Com um movimento sincronizado e desconhecido para Cleo, ele a puxou pela cintura e trocou suas posições. Cleo ficou com as mãos algemadas por cima do corpo de Lion e também de sua cabeça. Sentada monstada sobre sua ereção. —Vamos jogar um pouco mais duro — grunhiu, deslizando a calcinha pelos quadris. — Levante a perna. —Ela fez e assim ele pôde tirar a calcinha pelo tornozelo. — OH, sim. — Se acomodou sobre o colchão e estudou a visão de sua fada dos bosques sobre ele. Seus mamilos continuavam apertados e inchados. Estava nua e a obrigou a se sentar sobre sua ereção, que assinalava seu umbigo e repousava muito ereta sobre seu estômago— Sinta o quanto estou duro — a moveu para que seu clitóris e sua umidade escorregassem e roçassem sobre seu pênis suave e quente. Ela gemeu e puxou as correntes. Desejava se mover um pouco atrás e conseguir se penetrar; mas Lion não permitia. Ele sorriu, com essa vaidade que o caracterizava, e disse: —O que? Quer isto? —Levantou os quadris e se esfregou com insistência contra ela. — Não acredito que tenha se comportado bem para me ter. Cleo se agarrou às correntes, mordendo a língua para não dizer: “Tê-lo ou não ter não importa, maldito bastardo. O que quero é que algo me encha”. Mas se dissesse em voz alta, teria mentido de novo. Claro que o queria. O desejava desde que o viu na porta de sua casa há três noites. E talvez muito tempo atrás também… Mas não pensaria nisso agora. —Os aros estimulam os mamilos, e isso provoca que esteja acesa. 137 | PRT


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—Não estou acesa, senhor —rugiu com os braços por cima da cabeça, a cinco palmos da cama. Puxou as algemas, e a sensação de estar imobilizada a esquentou, a excitando de novo como nessa mesma manhã na maca. — Estou… — se calou e gemeu pelo ataque a seus seios. — Com cuidado, senhor… —Sempre tomo cuidado com você. —Sem deixar de mover os quadris, procedeu a desajustar um aro, e logo o outro, até ficar com os brincos nas mãos. —Ah! —gritou. Experimentava uma estranha excitação motivada pela dor, e tinha os mamilos como pedras. —Oh, pobrezinha… —murmurou aproximando a boca do mamilo esquerdo e acariciando suas nádegas com suavidade. Ela tremeu pela expectativa. Doíam uma barbaridade as auréolas. Se a tocasse agora não saberia como… —Conta, Cleo. Não goze até chegar a quinze. —O que? Mmm… Isto não vai assim. Gozo quando sentir vontade, não quando acha que… —Conte —ordenou de maneira inflexível, a recordando com olhos de aço que tinha que receber um castigo. — Vai ver o que é o verdadeiro spanking. Ela engoliu saliva. Se agarrou às barras da cama. Lion a posicionou de tal maneira que, sem esforço, pudesse alcançar para lamber seus brotos doloridos. Zás! A primeira bofetada sobre o traseiro fez que abrisse os olhos, alarmada pela dor picante que percorreu toda sua pele. —Um! —exclamou, tentando fugir dele. —Onde pensa que vai? Não pode escapar, princesa. Não pode fugir de mim. Depois da palmada, imediatamente, Lion abriu a boca e lambeu o mamilo direito docemente, ofertando mimos e cuidados. Dor e prazer. Era como se eletrocutassem seu cérebro. O mais estranho era que a dor da bofetada, até sendo dor, era prazerosa quando se sobrepunha à impressão. Cleo enterrou seu rosto sobre seu braço. Ia ficar louca. Como podia gostar disso? Zás! —Dois! —gritou com a boca enterrada em seu braço. Lion mamou seu mamilo, sugou-o e o absorveu. —Me toque, por favor. — Pediu ela meneando os quadris, desfrutando de sua boca no seio e do ardor no traseiro. Todo o sangue estava se concentrando ali, e sentia sua vagina palpitar. —Aqui? Toco-a aqui? —Zás! Outra palmada na outra nádega, na parte que a unia com a perna. Ela negou com a cabeça e se queixou— Quantas, Cleo? —Três.

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Compreendeu que ele não faria nada do que pedisse enquanto recebesse seu particular “castigo”; assim se concentrou em compreender as sensações que a percorriam para poder desfrutar melhor delas. —Quatro! —Bufff… Na outra nádega. Essa ardeu. Lion nunca apreciou tanto com alguém como com Cleo. Era incrível, suave e flexível, mas, ao mesmo tempo, desafiante. Um pequeno cavalo atrevido e selvagem. E adorava poder a ensinar. Por sua vez, Cleo tentava se concentrar em suas sensações. A língua de Lion em seus seios dava um prazer desumano. E, ao mesmo tempo, o sangue que bombeava em seus clitóris, em suas nádegas, em sua vagina… parecia estar de acordo em atiçar ao mesmo tempo que ele a açoitava. A experiência a estava deixando lânguida e babando como um caracol. —Deus… Cleo… —murmurou ele depois da oitava palmada. A acariciou entre as pernas e se deu conta que estava escorregadia— OH, porra… está gostando, verdade? —Ele voltou a situá-la sobre seu pênis e, aproveitando a umidade que ela produzia, começou a roçar-se perfeitamente contra sua vagina, estimulando seus clitóris com precisão. Zás! —Nove! —choramingou ela, quase revirando. Não ia chegar a quinze… era impossível que chegasse a quinze. Gozaria pelo caminho antes ou desmaiaria submersa em êxtase. A boca de Lion absorveu o mamilo esquerdo. Cuidou-o e o restabeleceu do desconforto da tarde. —Ohm…! —Cleo se movia no mesmo ritmo das investidas superficiais de Lion. Seus seios balançavam para a frente e para trás. Não podia afastar seus olhos, verdes e dilatados pelo desejo, da boca desse homem castigador, torturante, libidinoso, amo, poderoso… Deus. Lion a estava fazendo voar. Lion riu, mas recuperou a compostura rapidamente. —Ohm? Não é hora de meditar, querida. É importante que controle o momento de gozar. No torneio não pode haver um deslize desse tipo. Controlar o orgasmo é básico. Saber alongá-lo e retê-lo quando se diz é uma técnica que deve trabalhar. E se o retiver, depois, quando explodir, será mil vezes melhor e mais intenso. Cleo moveu os quadris sobre ele. Do que estava falando? Falava em chinês? —Não goze. —Zás! Zás!—Quantas?! —Argh! Dez e onze! Os músculos atrás do umbigo se contraíam. A língua nos mamilos a açoitava e acalmava. O pênis enorme roçava seu sexo e a tocava em todo lugar, sem penetrá-la. Estava se esquecendo de respirar. Seu ventre ardia. —Cleo, maldita seja! —Lion a puxou pelo cabelo e inclinou seu rosto até o dele, colando testa com testa— Nem pense em gozar, ouviu? Quatro mais e já o terá, querida. Venha… Ela gemeu, desejosa de alcançar seu ápice. —É um psicopata controlador… —grunhiu sem poder, nem querer, evitá-lo. Zás! Zás! Zás! 139 | PRT


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Cleo caiu sobre o torso de Lion. Tremendo, estremecendo para controlar o maldito orgasmo que ameaçava varrê-la por completo. —Quantas são? —perguntou lambendo seu ouvido enquanto acariciava suas nádegas para acalmar a dor e se esfregava, inclemente, contra seu sexo. —Hmmm… —Quantas são? —T…, treze e quatorze —murmurou com o traseiro vermelho vivo, os seios hipersensíveis e… —Agora poderá gozar. Está pronta? Zás! O último açoite. Mordeu e sugou seu mamilo, agarrou-a pelas nádegas para se pressionar e apertar contra sua área mais sensível, e fez que gozasse como uma desavergonhada. —Quinzeeeeeeee! Cleo gostou de seu particular êxtase. Queria se empalar enquanto gozava, queria mais. Sua pele ardia e seus seios doíam. O orgasmo a destruiu sem compaixão, de modo que ficou sobre Lion, lutando para respirar, desejando que aquilo se prolongasse eternamente. Não se deu conta que ele tirou suas algemas, e que agora estava livre, com as mãos sobre o travesseiro, o corpo colado ao dele, e o rosto afundado em seu pescoço. Podia fugir se quisesse. Se quisesse… Mas não queria. Os suores de ambos se misturavam, criando uma essência única e especial. A dele e a dela. Lion a abraçou com força, acariciando as nádegas com cuidado e apreciando os gemidos e a respiração irregular que ainda afetavam sua incrível Cleo. Ela deveria dizer: “Obrigada, senhor”. Presenteou-a com um maravilhoso orgasmo. Mas era ele quem na realidade estava agradecido por sua entrega. Além disso, ele também ejaculou. Lion adorava como respondia. Adorava que se zangasse. Adorava seu corpo e sua pele branca, que tão rápido avermelhava. —Hã… gozou? —perguntou Cleo sem forças. —Porra, claro que sim. Ela esfregou sua bochecha contra seu ombro. —Faltam cinco ainda… — sussurrou ela. Lion a beijou na têmpora e passou as mãos por suas nádegas, suas costas, seus ombros, sua nuca… E começou de novo. Devia relaxá-la e fazê-la dormir. Precisavam descansar. —Eram vinte e cinco açoites —explicou ainda perdida entre os estremecimentos pósorgásmicos. — Tirou cinco só por beber com você o absinto, e isso deixava vinte. —Só por me perdoar isso, a perdoo. —Bom para mim… Sou a melhor —disse esgotada. —Está bem? —Não tenho forças para levantar… Deveria ir me limpar e também… 140 | PRT


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—Não se preocupe. Gosto de te ter assim. Cuidarei de você. Cleo fechou os olhos e permitiu relaxar um pouco as pernas, as esticando completamente sobre ele. —Obrigada, senhor. Os olhos fecharam involuntariamente; e por isso não pôde ver o sorriso de Lion; nem como ele também cedia ao peso de suas pálpebras enquanto inalava a fragrância de seu cabelo de morango.

Capítulo 11 O BDSM é uma viagem de autodescobrimento, onde cada passo que dão juntos — amo e submissa — devem andar na mesma direção, numa mesma vibração. Ringo a olhava por trás de seu copo de água de vidro vermelho. Era cômico observar como tentava assimilar essas cores para se camuflar com elas; mas Cleo chegou a acreditar que Ringo tinha problemas de daltonismo. Seu pobre e querido camaleão adquiriu um tom purpúreo bastante estranho. —Isso não é vermelho, Ringo. Lion se levantou antes dela, deixando um bilhetinho sobre o travesseiro dizendo que voltaria em vinte minutos, que tinha um alerta em seu iPhone do fórum D&M. Iria à biblioteca, se conectaria de lá e analisaria sua caixa de entrada. E depois traria o café da manhã para que ambos o compartilhassem. Lion e compartilhar eram duas palavras que a deixavam de cabelo em pé. Ela preferia acompanhá-lo, mas ele priorizava seu descanso a todo o resto. Para seu amo, era muito importante tê-la bem sossegada para as duras jornadas sexuais que estavam desenvolvendo. Com esse pensamento, e Ringo sobre seu ombro, se dispôs a lavar roupa. Usava um pequeno short curto preto e a parte de cima de um biquini de triângulos da mesma cor. Prendeu o cabelo num coque muito alto, ligeiramente desordenado. Não gostava de se maquiar muito; mas essa manhã colocou brilho labial natural, uma sombra de cor terra nas pálpebras e contornou a linha dos olhos com cor verde escura. Dormiu tão bem essa noite… Nem deusas interiores nem leites: a deusa vadia da sensualidade a possuiu. Seus membros pareciam flutuar; tinha o traseiro vivo e estimulado, como se sentisse ainda suas carícias e seus açoites. Grande loucura o que estava vivendo. Embora fosse ainda mais confuso se dar conta que estava esperando, quase ansiosamente, pelas novas lições de seu amo-tutor, barra agente federal.

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Para sua surpresa, enquanto esperava Lion e aproveitava para manter uma ordem aceitável em sua casa, observou que parte das áreas de seu lar que necessitavam de um pouco de carpintaria e bricolagem estavam saneadas, limpas e arrumadas. Só faziam três dias que ela e Lion conviviam, e era óbvio que não estavam permanentemente se dando bofetadas e se dando orgasmos de presente. Mas se ele madrugava, aparentemente, se dedicava, entre outras coisas, a arrumar o corrimão de madeira do alpendre, alguns rodapés soltos do chão e um par de vigas de madeira do teto que não estavam completamente ajustadas. Com um sorriso de surpresa e satisfação, caminhou com a cesta de roupa suja pelo jardim, bordeando a mesinha maca das deliciosas torturas, até chegar à pequena casa de madeira em que organizou a lavadora-secadora. Abriu a porta e colocou a roupa suja. Os acabamentos da porta foram lixados e envernizados, e os cantos estavam ligeiramente modificados para que se abrisse e fechasse melhor. Ao lado da casinha de maneira ordenada, se amontoavam um a um os painéis de madeira que usou para a reforma da pequena cabana. As dobradiças já não rangiam. Ligou o programa correspondente e esperou que o aparelho efetuasse seus particulares, grosseiros e rocambolescos ruídos. Entretanto, para sua estupefação, houve um silêncio absoluto. —Porra —sussurrou Cleo olhando Ringo. — O malvado amo também arrumou a máquina de lavar roupa… É um benefício. Ringo moveu seus olhos com descoordenação e continuou brincando com uma mecha de cabelo vermelho que soltou de seu coque. Depois de fazer suas tarefas, pegou os relatórios e repassou as normas do torneio. A princípio, eram bastante claras e, por isso ela tinha compreendido que os duelos consistiriam em chegar ao orgasmo de tal ou qual maneira ou em evitá-lo, por mais canalhices e exercícios lascivos que pudessem cometer para estimulá-la; assim como em alcançar uma série de orgasmos, ou não passar de uma cifra determinada; também na capacidade de aguentar a dor sem chorar, ou na capacidade de não gritar. E, se em algum momento se pronunciasse a palavra de segurança, esse casal estava eliminado. Também devia memorizar as possíveis combinações para se salvar: das cartas que haveria nos cofres até a união de vários personagens numa mesma cena, ou a aparição de Uni e a colaboração dos Amos do Calabouço. —E os Macacos voadores, lembre-se. — disse a si mesma. — São ladrões e podem levar os cofres e objetos. As submissas e os amos seriam analisados como casal, mas também individualmente. Oh, estava esquecendo: teria que falar com Lion sobre seu aborrecimento sobre o anel de O e também sobre o spanking nos seios. Não queria que ninguém a esbofeteasse nos seios; por isso, pisaria nos seus ovos. As bofetadas entre as pernas pareciam muito estimulantes, mas nos seios… Não. Gostava muito deles e tinha uma relação muito empática com eles para que Lion os golpeasse. E sabia que não o faria para menosprezá-los, é óbvio, mas sim o faria para excitá-la e fazer que o sangue bombeasse em seus mamilos, mas não gostava. Não se sentia a vontade. 142 | PRT


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Nem tampouco no rosto. Não gostava das bofetadas no rosto. No BDSM se podia esbofetear sutilmente os submissos. Não machucava, não feria. Era como uma leve bofetada sonora, que picava um pouco, na bochecha, nada mais, para mantê-los alertas e que soubessem quem estava no comando. Embora ela decidiu que nada disso. —Não ao anel O, não ao spanking nos seios, nem no rosto. —Repetiu lendo o dicionário do BDSM de seu iPad que Lion transferiu dois dias atrás. O tirou da Wikipedia. — Bom… Agora só falta saber preparar meus acessórios, e também descobrir onde se realizará o torneio — analisou os mapas do anterior. — O último percorreu todo o Sul dos Estados Unidos… Cleo escutou um ruído na parte traseira da casa. Olhou atrás surpresa. —Olá? —Agarrou Ringo e o deixou sobre o centro da mesa da cozinha. —Não se mova — ordenou. A passo leve, saiu para o jardim interno, onde esteve fazia uns minutos, e se deu conta que as madeiras que antes jaziam ordenadas estavam espalhadas pelo chão. Aproximou-se para recolocá-las enquanto dizia mal-humorada: —Aposto que é o gato da vizinha. Estou farta que deixe cocô por todo meu jardim… —Falando sozinha? —Lion entrou de modo silencioso, carregando com ele uma sacola de papel entre as mãos. Cleo deu tal salto que esteve a ponto de cair de bruços. —Pelo amor de Deus! —gritou levando a mão ao peito. — É um amo psicopata e sádico? Quer me matar? Lion sorriu e a analisou de cima abaixo. —Sendo uma agente de polícia… —Futura agente do FBI — corrigiu, ainda impressionada pela invasão e se levantando pouco a pouco. —… deveria cuidar melhor das suas costas. —Sim, senhor —grunhiu fingindo que sua palavra era lei. —Mmm… Não acredito quando fala nesse tom, Cleo. —Não entendo por que, senhor — replicou inocentemente. —Nem acredito quando põe essa carinha de quem nunca quebrou um prato. Mas não importa, venha e tomemos o café da manhã. —Deixou o pacote sobre a bancada e começou a tirar tudo que comprou para tomar o café da manhã— Tem fome? Cleo sentou no tamborete. —Sim. Mas como disse que o esperasse, enquanto isso, fui fazendo hora. Lion olhou com aprovação as folhas do relatório e o iPad com o dicionário BDSM. —Boa garota —a felicitou. Cleo pigarreou e se remexeu no tamborete acolchoado de cor vermelha. Quando escutou essas duas palavras, seu corpo se ativou. Mas que demônios acontecia com ela? Estava se convertendo numa ninfomaníaca? “Boa garota… Zás! Zás!”. —Há algo que queira me perguntar? —perguntou tirando os cafés do Surrey’s Uptown e deixando-os sobre a mesa. 143 | PRT


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—Oh, adoro este café… — murmurou ela, iluminada pela alegria. —Sei. Tem envelopes de açúcar da cafeteria na gaveta dos condimentos. —Começa a me assustar, senhor observador. —É meu trabalho — deu de ombros. —Diga, o que quer me dizer? —Sim. Respeito nosso código de ação como casal… —Sim? Algo que não tenha ficado claro? —Não. É somente que quero acrescentar três coisinhas mais que NÃO — remarcou — desejo fazer. Lion arqueou a sobrancelha partida e se aproximou dela. —Oh… Do que se trata? —Não quero usar o anel de O. Nem você tampouco. —Ah, eu não quero usar um anel de O? —perguntou dissimulando um sorriso. — Se minha submissa não o usa, que sentido tem em usá-lo? Ela ficou vermelha como um tomate. —Não quero demonstrar submissão a ninguém nesse torneio. Só a você, e porque estamos numa missão, claro. —Sei, claro. —A questão é que sei que é uma espécie de referência ao “História de O”. Que as submissas o colocam no dedo como uma amostra de estado de submissão a todos os varões “sócios” do clube de dominação do livro. Não penso usar um anel assim nesse torneio. Posso me submeter a você, mas não tenho intenção de me submeter a ninguém mais. E se pretende que… —Nem pensar — a interrompeu ele cortante. —Como? —perguntou horrorizada. —Tampouco tenho intenção de te compartilhar, Cleo. Cleo relaxou, impactada pela veemência e o tom de sua negação. Sentiu-se lisonjeada. —Além disso, isso despertará mais a curiosidade sobre você. Entenderão que sou muito ciumento a respeito da minha submissa e terão mais vontade de te seduzir e entender por que sou assim com você. Elogios à deriva. Genial, só o fazia por isso. Bom, não importava. Não gostava do fato de outros terem autoridade sobre ela; e saber que não se submeteria a outros e que ele tampouco o desejava, a tranquilizou. —Embora, essa decisão de não compartilhar já não estará em nossas mãos se tivermos duelos e os perdemos, lembra? As Criaturas poderão ordenar o que tiver vontade. —Sim. Mas não chegaremos a esse ponto. Encontraremos todos os cofres. —Está muito segura de suas habilidades, senhorita Connelly. —Você não está das suas? —Considero que há mais participantes. Terá que levá-los em conta. E também deveria considerá-los, pequena. —Agarrou seu nariz como uma menina e sorriu com ternura. Cleo piscou impassível. Calcinha no chão. Incrível. Lion a assombrava e a deixava sem argumentos quando se comportava assim. “Continuo sólida ou me desfiz?”, perguntou-se. 144 | PRT


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Lion a puxou pelo queixo e elevou um pouco seu rosto. Sentada como estava, ele a passava pelo menos duas cabeças e meia. —Gosto que seus lábios brilhem assim. Se maquiou? —Hã… —Sim. É muito bonita ao natural, Cleo. Mas quando só se maquia um pouco… Chama muito mais atenção. É por seus olhos. —O que… O que há com eles? —perguntou assustada. —Seus olhos são… Sabem como são? —Mmm… Grandes? —Grandes… Sim. Diga-me, Cleo. — estava se embebendo dela, — tem alguma dúvida mais? Algo mais a objetar? —Não esbofeteie meus seios nem o rosto. Se o fizer, arrancarei seus dentes. A imagem de Cleo devolvendo uma bofetada sexual, ou arrancando seus dentes como uma sádica, fez que a soltasse e emitisse uma incrível gargalhada. —Do que ri? —perguntou admirada. — Estou falando muito sério, Lion. Nada de bofetadas desse tipo ou… —Ou o que? —Tão rápido como a soltou, girou seu tamborete e a pressionou entre ele e a barra americana da cozinha. — Ou o que, bruxinha? O que me fará? —Para que tantos diminutivos carinhosos? —Cleo cheirou seu hálito de hortelã e recordou que Lion era um viciado em Halls. — Me deixa nervosa. Está abrandando, senhor? —Nunca abrando, Cleo —ronronou passando o dorso de seus dedos por sua bochecha. — Sempre estou duro. Um ponto para o gigante. Ficaram em silêncio, olhando um para o outro. Cleo não sabia o que acontecia; e se sabia, não queria pensar muito nisso. “Merda. Merda. O senhor raios X começa a ser perigoso para mim”. Ele a beijou no canto dos lábios e a respiração de Cleo foi cortada. —Isto por bruxa. — Murmurou sobre aquela área, afastando-se rapidamente dela. — Vamos tomar café da manhã. —Sim. —Piscou repetidas vezes até que saiu do transe. Amaldiçoou não ter língua de sapo e tê-la metido na sua boca. Mas era humana e lenta, o que ia fazer? —Estou faminto. —E eu —murmurou. E não se referia à comida. Sentados nos degraus que davam ao jardim interior, comeram as famosas beignets de Nova Orleans, originárias do Mardi Gras que se celebrava em fevereiro e março. Eram bolinhos redondos parecidos com donuts sem buraco, cheios de creme e com açúcar de confeiteiro e todo tipo de cobertura por cima. Cleo desejava muito esse café da manhã guloso e comprovou que Lion gostava de devorálos.

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Sorriu ao vê-lo comer daquele modo tão glutão, bebendo de seu café para depois meter um pastel redondo inteiro na boca. E outro e outro… Como podia comer assim e ter esse corpo tão incrível? Ele a olhou de esguelha e riu. —O que acontece? —perguntou Cleo. —Se suja tanto como quando era pequena —observou sorridente. — Quando pequena sujava até o nariz quando comia beignets. —Me admira que lembre como comia — respondeu mordendo um pedaço transbordante de creme. — Nunca queria que estivesse perto. O incomodava. Lion franziu o cenho como se essa lembrança contrastasse com a que ele tinha. —Me incomodava… porque me deixava nervoso. Era uma inconsequente e não tinha senso do que era perigoso para você, e tinha que ficar o tempo todo te vigiando. —Claro… — revirou os olhos. — Me vigiava tanto que só olhava onde estava minha irmãzinha. Ei, mas eu compreendo. —Levantou uma mão manchada de açúcar. —Minha irmã era como uma princesa nórdica, e eu era “a cenoura”, “Pippi Långstrump”… E todas essas grandes protagonistas femininas cheias de personalidade. —brincou. —Não. —A segurou pelo pulso. — Você era somente Cleo. —Sorriu adoravelmente e levantou a outra mão para limpar os cantos de seus lábios manchados de açúcar de confeiteiro com o polegar enquanto levava os dedos da mão que segurava à boca. Sem afastar os olhos dela, sugou-os e os lambeu, até deixá-los limpos. Os olhos verdes de Cleo se dilataram. —Gosta disto, Cleo? —perguntou, apreciando ter um de seus dedos na boca. Ela suspirou e semicerrou as pálpebras. —Me responda. Ups. Voz de amo. Começavam as instruções. —Sim, senhor. Vamos começar com outra lição?—perguntou com o coração saltando no peito. “Se chupar meu dedo indicador assim outra vez, terei que mudar de calcinha…”, pensou aflita. Não sabia a que se deviam estes atos espontâneos; faziam parte do papel de amo ou faziam parte de Lion? —Sim. Estou desejando. Quer começar? —Beijou a ponta de seus dedos e a liberou. —Deveríamos. —Me mata, Cleo —reconheceu, admirando sua determinação e sua pouca prática para camuflar suas emoções. —Mato você? —limpou a garganta, lambendo os lábios e recuperando o bom senso. — Me mata ver que é capaz de comer vinte beignets e que não tenha nenhum miserável pneuzinho, senhor. Ele tocou a barriga plana e suspirou satisfeito, como se esse momento “Esfrega mão” jamais houvesse acontecido. —Constituição, querida. E agora. — Levantou, se espreguiçou como uma enorme pantera e ofereceu a mão. — Comecemos. 146 | PRT


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***** Achavam-se em seu quarto. Lion estava sentado na cama e tinha Cleo de pé diante ele. —Tire a parte de cima desse delicioso biquini que usa. — Ordenou em seu papel de amo, apoiado com as mãos no colchão e reclinado ligeiramente atrás. —Sim, senhor. Você gosta? —Os tons escuros e sexys ficam muito bem em você. Estou imaginando como irá ao torneio. —Observou sua estreita cintura e seus quadris ligeiramente arredondados e marcados. Cleo estava em forma, não havia nenhuma dúvida. — Imagino-a com um espartilho e uma saia muito curta combinando. Usaria o cabelo preso num coque alto e uma máscara negra. —Não me diga? —Ficou em topless diante dele. Ainda tinha os mamilos sensíveis depois da pressão e dos beijos e lambidas da noite anterior. —Oh, sim… —murmurou tocando a virilha sem ser consciente que o fazia — Se aproxime. Cleo, descalça e vestida somente com o short negro, obedeceu e se colocou entre suas pernas. —Já estou aqui. —Sim… —Lion pousou as mãos em sua cintura e a puxou até que pôde enterrar o nariz entre seus pequenos seios. Moveu o rosto de um lado a outro, esfregando-se contra sua pele. Sentia-se tão bem aí… Elevou a cabeça e, apoiando o queixo entre o vale de seus seios, perguntou: — Seus mamilos ainda doem? —Sim —respondeu. — Mas… é uma dor agradável. Não posso roçar em nada. —Não? Nem com isto? —Colocou a língua para fora e lambeu um mamilo com calma e dedicação. Cleo se apoiou em seus ombros e vibrou quando o tomou todo inteiro e o meteu na boca. —Lion… Uma dentada de advertência na mama a fez recordar que não era Lion nesse momento. Quando tivessem sexo, sempre seria senhor para ela. Ninguém podia chamá-lo por seu nome, porque nenhuma submissa podia fazê-lo. —Senhor. —Imediatamente a pressão dos dentes cessou, e foi substituída por uma sucção e uma mamada. Enquanto se ocupava dos seus seios, suas habilidosas mãos começaram a desabotoar o short dela e a deslizá-lo por suas pernas, levando também a parte de baixo do biquini. —Íamos nos banhar logo em sua “piscuzzi”? —perguntou ele cobrindo todo seu sexo nu com uma mão. — Por isso usa biquini? Cleo palpitava entre as pernas, se preparando para o que fosse que viesse, desejosa de receber uma nova instrução. Gostava do BDSM tal e como o ensinava Lion; além disso, a desinibia de todas as suas vergonhas. Permitia que a tocasse de todas as maneiras, porque era necessário que fosse preparada ao torneio. Embora nunca a tenha beijado na boca, erxceto pelo beijinho do outro dia; mas isso não podia se considerar beijo oficial. E, quando pensava em beijar, pensava num beijo de verdade, dos longos e úmidos que deixam alguém sem respiração ou argumentos. 147 | PRT


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Nem tampouco a penetrou com seu membro: não fizeram sexo como o que a palavra engloba convencionalmente. E começava a se perguntar por quê. E quanto mais se perguntava, mais desejava esse tipo de contato. Mas isso era o que os diferenciava de ser um casal de contrato amo-submissa, e ser, provavelmente, mais que um casal de BDSM. Se o beijasse, o que Lion faria? A rejeitaria? Se o atacasse e o deixasse tão quente que não pudesse fazer outra coisa senão fazer amor de verdade com ela, o faria? “Deixe de pensar em histórias românticas, Cleo. Lion é um amo e já sabe porque está com você. Quer curtir a relação?”. Lion a esfregou entre as pernas e, ao mesmo tempo, beijocou, lambeu e mordiscou seu outro mamilo. Ela fechou os olhos e acariciou sua cabeça. Gostava do tato de seu cabelo espetado sob as mãos. Entregue às sensações, continuou pensando no BDSM. Era um exercício que não estava isento de dor, porque havia dor física em seus jogos sexuais, mas era uma aflição muito sensual para considerá-la como aflição ou tortura física. Estava compreendendo que o BDSM não se tratava de fazer mal para provocar, nem para castigar. Os jogos de dominação, submissão e bondage eram dirigidos a despertar sensações diferentes no corpo, que aumentavam depois o prazer. E esse tipo de prazer que Lion oferecia a estava deixando louca. —Cleo? —Piscuzzi? —repetiu com um sorriso. —É uma mistura entre piscina e jacuzzi. É o que tem no alpendre do jardim. —Sim… eu… pensei que depois poderíamos nos banhar. —Mmm… Não sei se poderá. Depende do tipo de joguinho que escolha para você. Tem calor? De verdade gosta desse banho? —perguntou solícito. —Sim. Estamos em pleno julho. A umidade aqui é quase selvagem e faz um sol de mil demônios. Eu gostaria de… — ficou vermelha e abriu os olhos verdes e dilatados até focalizar em seu olhar, azul e escuro. — Que joguinho faremos hoje? —Temos que continuar trabalhando sua resistência. Tenho que saber quanto pode aguentar, quanto autocontrole possui. Assim durante toda a manhã — deu uma última lambida em seu mamilo e estendeu a mão para pegar uma caixa prateada que deixou sobre o colchão, — vai usar isto em seu interior. Cleo elevou ambas as sobrancelhas até que desapareceram entre sua franja. Uma caixa prateada? —É uma bala vibratória. —O agente Romano e sua afeição às balas —brincou pegando a caixinha entre suas mãos e abrindo-a para ver seu interior. Havia um vibrador de borracha de cor lilás, com os extremos ovalados. Tinha três centímetros de grossura e seis de comprimento. Lion o tirou da caixinha e mostrou o controle remoto que se encontrava sob a tampa superior. —Eu controlarei seu corpo, Cleo. 148 | PRT


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E quando não fez isso nesses quatro dias? —É uma bala um tanto grande, não? —Vibra, tem dez velocidades e é resistente à água. Além disso, funciona por controle remoto. —Lion apertou o botão de seu controle, e o objeto de prazer vibrou e tremeu entre suas mãos— Abre as pernas. —Mmm… Posso colocá-la eu mesma? —Abre as pernas, Cleo. —Sim, senhor. — respondeu imediatamente. Ouça, isso era bastante grande, e Cleo não era precisamente fácil para as penetrações. Seria como se a penetrasse com um micropênis… Mas Lion e micropênis não compatibilizavam nada. O pênis de Lion era o dobro de grossura disso, e quatro vezes mais longo. Pensar nisso a umedeceu. Lion acariciou o interior das suas coxas com as mãos; e, então, a puxou até inclinar-se e afundar o nariz em seu umbigo. Colocou as mãos emoldurando sua vagina e a abriu ligeiramente com os polegares. —Cleo, é muito apetitosa aí embaixo. “Tem uns gostos culinários muito estranhos”, pensou ela a ponto de sofrer um curtocircuito. —Vou prepará-la e depois te introduzirei isto, sim? “Tá! Se acha que vou dizer não, está mau guri”. —Sim, senhor. —Esse tom sexy era dela? OH, Lady Perversa retornou. Para sua amiga Marisa seria “A deusa vadia”. Lion a acariciou com o polegar e estimulou seus clitóris até que inchou. Para ele era como uma tarefa impessoal. Suas mãos quase não tremiam; e ela parecia um maldito vibrador. Que injusto ser mulher e, além disso, baunilha. Então ele pousou sua incrível e mágica boca sobre seu broto excitado; e não ficou mais de vinte segundos lhe dando atenção, mas foram suficientes para que umedecesse e lubrificasse. Quando afastou os lábios, Lion passou a língua pelos cantos, como se estivesse apreciando um manjar e, feliz como uma criança com um brinquedo, começou a deslizar a bala vibradora através de sua entrada. —Isto não é uma bala —se queixou Cleo respirando levianamente. — É uma mini bazuca. Lion elevou os cantos dos lábios e voltou a se inclinar para a frente. Beijou-a sobre sua fenda enquanto introduzia o aparelho nela. —Relaxe. Já está tomando por completo. —Ai, Senhor. —O Deus, não o amo. —Chist… Vê? —Moveu-o em seu interior, imitando uma penetração. —Todo inteiro. Me deixe colocá-lo um pouco mais e me assegurar que não saia. Desta vez, não só colocou a bala, mas sim empurrou os dedos em seu interior até colocá-lo quase na altura da parede da bexiga. Cleo jogou a cabeça atrás e gemeu baixinho. —Cleo, tem que suportar toda a manhã com isto. De acordo? 149 | PRT


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—Mmm… Bom… —Irei medindo as velocidades. —Meneou o controle entre seus dedos— Não quero que goze; e, se o fizer, me darei conta e então… Zas, zas no traseiro — levantou e puxou seu rosto. — Entendido? —Sim… —engoliu saliva— Sim, senhor. Lion a beijou na bochecha. Cleo estava quase dizendo que largasse os beijos pueris e colocasse a língua na sua boca, mas não podia exigir isso. —Ponha o biquini e desça. —Ordenou, a deixando ali em pé. Parou no umbral da porta e a olhou por cima do ombro, levando os dedos que estiveram dentro dela à boca. —Cleo? Ela se virou para olhá-lo. Tinha as bochechas vermelhas e os olhos transbordando de desejo. Lion sorriu como um maldito pirata, levantou o controle e acionou a velocidade dois. Cleo tropeçou atrás até ficar sentada na cama, mas isso era pior; assim levantou como uma mola. —Não goze, querida. — Repetiu descendo as escadas com uma ereção de cavalo. Cleo viu sua tenda e sorriu. Aquilo era muito mau. Ele se continha sempre. Ela ia condenadamente ao fracasso. O vibrador ia matá-la. O que jogavam?

Capítulo 12 Os amos e as submissas devem se descobrir e reconhecer que um precisa do outro. A instrução era muito dura. Lion a tocava e a acariciava, a estimulando para alcançar o orgasmo, mas logo se retirava e a deixava sozinha e abandonada. A “piscuzzi” se converteu num maldito ring de tortura. Cleo nem sequer deixava que ele se aproximasse, e o mantinha afastado dela, pondo um pé no peito dele. —Basta, por favor… Não posso continuar assim — se queixou, molhada em todos os sentidos, até o tutano— De verdade, não posso… —Está fazendo isso muito bem. —Lion riu, pegando o pé que o mantinha a distância e levando-o à boca— Sei que é duro, Cleo, mas é importante que escute seu corpo, e seja proprietária também de suas próprias sensações. —Não sou proprietária de nada —grunhiu zangada. — Você toca esses botõezinhos como quer e está me deixando frita. Jamais me senti assim em minha vida. Meus cílios tremem, senhor. —Estamos há duas horas aqui. —Sou uma passa. Que tipo de pilhas tem isto? As Eternity? 150 | PRT


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—Não gozou ainda. Nunca vi tanto autocontrole numa mulher como o que está tendo, Cleo. Diria que nasceu para ser desafiada. Ela levantou o queixo. —Disse que ia te deixar com a boca aberta —replicou seu lado competitivo—Não estava brincando. —Deus… —Não se atreva a se aproximar outra vez, senhor. Deixe-me tranquila ou me deixe gozar. —É tão sincera… Fala sem disfarces e adoro isso. —Grunhiu puxando sua perna para abraçála e mantê-la em contato com seu corpo. —Isso não! Lion, não me toque! —Não a toco… Somente a seguro. — brincou esquivando suas mãos. —Quer me fazer perder! —O torneio será assim. Se cair em outras mãos testarão tudo que souberem e possam para te fazer sucumbir, Cleo. Não terão clemência. —Você tampouco! —Sou bom… — assegurou teatral. — Olhe — a puxou pelas nádegas e deslizou as mãos por baixo do biquini, atraindo-a até sua ereção, esfregando-se contra sua virilha. Ela estremeceu, mordendo o lábio inferior. —Vou gozar. —E disse de um modo que não aceitava réplica alguma. —Eu digo quando o fará, Cleo. —Beliscou suas nádegas e depois as massageou. —Ai! —Merda, lá se foi seu orgasmo, mas voltava a crescer mais forte. —Se prepare —sussurrou em seu ouvido, mantendo as investidas e pegando o controle— Não aguenta mais? —Não. — choramingou ela se agarrando à borda da jacuzzi. Lion avaliou sua resistência. Duas horas era muito tempo. Estaria muito inchada, sensível e dilatada. —Quer gozar? —Me deixe em paz… —Peça por favor. Ela grunhiu e cedeu ao seu pedido. Precisava se liberar ou ia desmaiar. A contra gosto cedeu: —Por favor, senhor. —Então, exploda quando quiser, Cleo. Por fim! Ela moveu os quadris, se aproximando dele, desfrutando de sua proximidade e do modo como a abraçava. —Está duro —grunhiu sobre seu ombro. Penetrou uma mão entre seus corpos e, atrevidamente, o tomou entre seus dedos. Se ela explodisse, por que não a acompanhava? —Não me toque sem minha permissão, Cleo. Ela negou com a cabeça. Tinha o rosto ruborizado e o corpo muito sensível. —Cleo… 151 | PRT


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—Quero que goze comigo — murmurou sobre seu ouvido. Lion apertou os dentes. As borbulhas da “piscuzzi” de água fria acariciavam seus corpos ardentes. Massageavam-nos, excitando-os mais do que já estavam. Cleo afundou o rosto em seu pescoço e continuou o estimulando. Acima e abaixo. Acima e abaixo. —Não… —resmungou ele. Cleo era uma harpia, e o estava desobedecendo abertamente. Era ela quem devia treinar. Não ele. Ele tinha um autocontrole muito conhecido no ambiente, não necessitava… Porra! Espremeu-o, e ele fechou os olhos. Quando os abriu de novo, uma determinação cheia de fogo brilhou em seu olhar. — Merda… Você que quis. —Oh… —Cleo suspirou cheia de prazer quando notou que os dedos de Lion mexiam em sua entrada e se introduziam nela acompanhando o ritmo da bala. Dedos e bala, tudo dentro dela. —Goze, Lio… senhor. Goze comigo. Lion franziu o cenho. Olhou abaixo e, ao ver que a pequena mão de Cleo o trabalhava nesse ritmo, se surpreendeu de quão rápido ia obedecer sua ordem. Mas o amo era ele, não ela! —Cleo… —Vou! Sentiu uma chicotada percorrer todo seu corpo, dos mamilos ao útero. A bala se movia sem descanso, os dedos a dilatavam. Flas! O orgasmo a fez gritar e arquear as costas enquanto se agarrava ao pescoço de Lion com uma mão, e com a outra o fazia explodir entre seus dedos. ***** Lion analisava as folhas fotocopiadas do fórum, que imprimiu na biblioteca. Na mensagem privada diziam já ter enviado o baralho oficial do jogo Dragões e Masmorras DS para que se familiarizasse com as cartas. Na segunda-feira pediriam um endereço postal de envio; deu o endereço das agências de correios de Nova Orleans e já tinha o pacote esperando por ele. Por outro lado, tinham reservado lugar para ele e sua acompanhante num avião que sairia no domingo às cinco da manhã do aeroporto Louis Armstrong em direção às Ilhas Virgens dos Estados Unidos. Se realizaria ali todo o torneio? Para Lion parecia interessante tal escolha. O certo era que, como representação de Toril, acertaram em cheio. Mas, por que reduziram o campo de ação? O torneio anterior passou por, pelo menos, três estados. E desta vez se realizaria num conjunto de ilhas localizadas no Caribe, dependentes dos Estados Unidos da América. Tinha que passar a folha de gastos ao FBI… Seu iPhone soou; viu a chamada de Nick. —Recebeu, senhor? —perguntou o agente infiltrado. —Sim, Nick. 152 | PRT


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—Por que as Ilhas Virgens? Limitam muito o raio de ação. —Sim —assumiu, — não obstante, podem controlar melhor o torneio. Na primeira edição perderam controle sobre a coisa. Desta vez, se houver algum contratempo, não deixarão fios soltos. —Devemos esperar alguma instrução, senhor? —De momento, continuar como estamos. Está pronto? —Sim. —E Karen? —Também. —Recebeu os baralhos? —Sim. Esta mesma tarde irei pegá-los na agência de correios de Washington. Não iam utilizar endereços, nem nomes, nem sequer telefones que pudessem ser seguidos ou registrados por alguém alheio à organização do jogo. —Perfeito. Têm alguma notícia do ambiente? —As duas noites que saímos nos encontramos com os assíduos e, como sempre, máxima discrição entre todos. Não há muito o que averiguar. A Rainha das Aranhas esteve em Nova Iorque na última semana. Dizem que convidou mais dois casais do fórum. A Rainha das Aranhas andava pelos locais de BDSM e fetiche de todos os Estados Unidos e se encontrava com jogadores do fórum. Preparava entrevistas e festas privadas para que se conhecessem entre eles, pudessem jogar um pouco e comprovar pessoalmente as habilidades de todos. Lion não sabia se a rainha das Aranhas era consciente ou não para quem ou no que trabalhava, mas sabia que apreciava muitíssimo infligir castigos aos submissos e submissas. Era uma jogadora das grandes. —De acordo, Nick. Se não houver mais notícias, então, nos veremos no torneio. —Sim, senhor. Até logo. —Até logo, Nick. Lion desligou o telefone e recostou as costas no respaldo da poltrona. Estavam na quinta-feira, e a preparação de Cleo andava muito bem. Observou-a enquanto dormia no sofá, coberta por uma toalha. Tal e como saiu da “piscuzzi”, a jovem ficou adormecida entre estremecimentos. Seu orgasmo foi muito forte e estava esgotada pelos esforços da manhã. Desprendia-se muita energia no sexo; e o BDSM colocava a prova o estado físico das pessoas. Seu cabelo vermelho caía em cascata através do braço do sofá. Admirou a beleza de suas feições. Por Deus, Cleo ia despertar seu lado dominante de maneiras que não tinha assumido ainda com nenhuma submissa. Já começava a notá-lo em seu interior, em seu estômago. A vontade de jogar, a vontade de ultrapassar todas as linhas e protocolos. Queria beijá-la e fazer amor com ela. 153 | PRT


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Precisavam fazer sexo e ver como funcionavam como casal; mas não sabia se era ou não correto porque estava se beneficiando de algo que desejou toda sua vida… Tinha Cleo. Que mais podia pedir? Quando acabasse a missão, tinha que tirar coragem de algum lugar para se plantar diante dela e dizer o que nunca disse a nenhuma mulher: “Que sempre a quis e a reclamava para toda a vida”. Seu peito, coberto ainda pelo biquini negro, subia e descia no ritmo de sua suave respiração. Seu rosto era o de um anjo provocador e também travesso. Sorriu e esfregou o rosto com as mãos, sacudindo a cabeça. —Está perdendo o controle, cara… — Recriminou a si mesmo. Em vez de reclamá-la, o que tinha a fazer era continuar com sua vida, porra. Estava se tornando um tolo romântico. Não precisava de responsabilidades, nem tampouco dores de cabeça. Cleo era Cleo. Não ia aceitar o que ele podia oferecer. Era um amo, quisesse ou não. Tinha seu próprio mundo de luz e escuridão e sua própria personalidade. Seu mundo era bem funcional e frio; e o dessa garota linda estava cheio de cor. Sempre soube disso, sempre pensou que eram muito diferentes. Mas, então, por que parecia tão difícil pensar em deixá-la partir? —Basta. — Grunhiu cansado e decidido a redirigir seus pensamentos na missão. Foi por partes e escreveu em sua caderneta de avaliação de submissas. Cleo não sabia que a tinha; ele não mostrou, mas como amo, gostava de ter tudo bem esquematizado mediante relatórios: Repassar os papeís dos Amos do Calabouço, os Amos Unis e as Criaturas. Repassar nomes; (alguns já temos, mediante fotografias fichadas de reconhecimento facial). Assegurar-me que a Cleo entenda claramente quem é quem no jogo. Fazer um teste público com Cleo para ver até que ponto pode manter o controle sobre si mesma. Dominar!!! Depois de escrever os pontos que faltavam de disciplina, decidiu que nessa mesma tarde iriam ao House of Lounge. Pegariam os acessórios que encomendou para ela e acabariam de finalizar os pontos abertos de sua instrução. Estavam dando os últimos passos em sua disciplina e, até o momento, Cleo não o decepcionou em nenhuma: o surpreendeu em todas. Cleo não podia faltar em seu treinamento. Precisava se manter em forma. Foi o primeiro pensamento que veio depois do pequeno sono matutino que se deu. Procurou Lion com os olhos. E o encontrou no jardim, ajustando as porcas de seu saco de pé Lonsdale. O olhou. Adorava o modo como esticavam os músculos dos braços quando rodava a chave de fenda; a fascinava a forma de seus ombros e seu peitoral. Suava; o sol de Nova Orleans não perdoava, e sua tez se tornava mais morena pela exposição. 154 | PRT


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Ela sabia que havia um par de porcas que fixavam o saco à base e que deviam ser repertadas, mas ainda não o fez. Ter Lion em sua casa a reconfortava. Parecia ter mãos de fadas e arrumou todas as “pendências.” E era um homem. Nunca viveu mais de um fim de semana com um. Com Lion já passara já quatro dias. Intensos. Frenéticos. E muito, muito ardentes. Ele levantou a cabeça e o sol se refletiu em seus olhos azuis, os clareando e dotando de vida. Cleo estava cativada por ele. De pé, ao lado do saco preto, moreno, com sua cabeça em harmonia com sua sobrancelha partida… Com essa posição e atitude de “não me escapa nem um detalhe”… Deus, queria tirar uma foto e imprimi-la em tamanho póster. —Como se encontra? —perguntou elevando a voz. Cleo afastou a toalha e levantou. Estava deliciosamente cansada, essa era a verdade. E, ao mesmo tempo, acreditava que podia com tudo. —Bem. —Estou fixando seu saco. Assim poderá golpear melhor —fez um movimento de boxe e sorriu; mas seus olhos ardiam de paixão. Ainda o faziam. Cleo inclinou a cabeça para um lado e o sorriso que lhe dedicou acabou com quase todas suas defesas. —Obrigada, Lion. “Não… — se lamentou interiormente—,vou me apaixonar por ele, não é?” Não. Isso era o pior que podia acontecer. O pior. Primeiro, porque a relação profissional marcava tudo; segundo, porque era sexo sem amor… Pelo menos da parte dele, e dela também no princípio… Mas, pouco a pouco, Lion e sua estranha proteção com ela criavam rachaduras em seus muros. E seu coração estava indefeso. —De nada. Mostre-me como castiga o saco, Cleo — a animou movendo a mão para si. Leu sua mente? Claro, esse era outro de seus super poderes. —De acordo. —levantou decidida, tentando não escutar o que dizia seu coraçãozinho. Plantou-se diante dele, penteando o cabelo com as mãos. —Prefere que te faça de sparring? —Não —respondeu ela— Ao saco não machucarei — respondeu fingindo que entre eles não havia nada. “É que não há nada, Cleo”. Nada— A você, talvez sim. — o olhou de esguelha e sorriu. —Ui, que agressiva… Está em muito boa forma, agente Connelly. —Entregou as luvas Adidas pretas e rosa, e sorriu. —O que? Não gosta das minhas luvas? —ela recriminou enquanto prendia o cabelo num coque alto. —São muito Cleo. — As suas seriam todas pretas e insípidas, aposto. —Colocou o velcro ao redor dos pulsos. — E com pontas agudas de prata. Estou enganada? Lion negou e estalou a língua. —Me conhece tão bem, agente — piscou com inocência. 155 | PRT


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—Com certeza que sim… —Chocou as luvas entre si. —Faça combinações. Duas acima, duas abaixo e chute. A Cleo pareceu bem; e com agilidade e destreza começou a golpear o saco. Não era nada tosca. Tinha um corpo de linhas elegantes e femininas, mas era dura em seus golpes. O chute a elevava até o rosto com um movimento perfeito. —Me diga, teve que brigar com alguém corpo a corpo? —perguntou Lion, cruzando os braços e observando sua postura e sua técnica. —Sim —dois golpes acima. —Deu-lhes uma boa lição? —Fiz. —Piscou um olho, e uma mecha de cabelo vermelho o cobriu. Soprando e manobrando com a luva, conseguiu colocá-la atrás da orelha. —A… A feriram alguma vez? Havia preocupação em sua voz? Que bonito… —Bom — murro abaixo, nas costelas. — Uma vez um cara me cortou com uma garrafa de vidro. Tenho a cicatriz por aqui. —Deteve-se e mostrou a fina linha um pouco mais clara que sua pele que contornava o osso do sacro. Mas mal se via. Lion apertou os dentes e assentiu com profissionalismo. —E outro me deu um murro no olho e saiu um hematoma horrível. —Isso eu sei. Sua irmã Leslie me mostrou a foto que enviou por mensagem. Cleo riu. Lembrou de enviar a autofotografia com cara de acidente e acrescentar uma mensagem de texto que dizia: “Está me vendo? Pois imagine como deixei o outro”. —Foi espantoso. —Deu um salto e chutou o saco na parte superior. —Detenções? —Muitas na French Quarter. Alguns casos de maus entendimentos — comentou por cima; — a esses sim que gostei de fritá-los com meu Taser. — Seus olhos verdes desfrutaram das lembranças. —Não se aborreceu… Você gosta disso? —Até que chegou, estava controlando um caso de tráfico de drogas entre escolas. Magnus e eu tínhamos a ação policial preparada para terça-feira. —Magnus, não é? — chutou uma pedra no chão, e com o pé nu brincou com uma raiz imaginária. —Sim. Mas como não permite que entre em contato com ele, não sei como foi a ação policial. Não sei nada da delegacia de polícia. —Ele tampouco entrou em contato com você. —Magnus é meu superior, é o capitão da Polícia. Aposto que nosso chefe, sabendo como somos próximos — não disse com nenhuma intenção, mas sim porque era verdade: Magnus era um bom amigo, mas nada mais, — já o informou sobre mim e minha nova relação secreta com o FBI. Magnus, simplesmente, não vai querer me incomodar. É muito atencioso.

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“Não vai querer incomodar?”. Se tinham um caso, o mínimo era que se interessasse por ela, não? Cleo merecia muito mais que um eunuco como esse. Porra, se fosse dele, a seu modo, a incomodaria todos os dias. Que merda acontecia com os homens? —Ontem viu Tim. Podia ter perguntado a ele. —Tim é um oficial de polícia e patrulha as ruas do Bairro Francês. Nunca se envolveu na investigação da rede de tráfico das escolas da periferia. Não valia a pena perguntar. —Deu de ombros e golpeou o saco com os lábios franzidos. Obrigando-se a domar seu insurgente ciúme, Lion se concentrou em agarrar o saco que se balançava de um lado ao outro. —Com que frequência boxeia? —Corro e boxeio o saco todo dia. Mas no saco estou há pouco tempo. O suficiente para tonificar e manter. —Por isso tem as pernas tão duras e firmes. Por correr. —Está me adulando, agente Romano? —Não adulo. Assinalo o evidente. —Humph. —parou e o olhou por cima das luvas— Cuidado, não vá se apaixonar por mim. Seria pouco profissional. —Tranquila, está a salvo de alguém como eu. Cleo sorriu, embora o gesto não chegasse aos seus olhos. Lion não demonstrou se aquela advertência sobre se apaixonar ou não por ela o incomodou e continuou a observando enquanto se exercitava. —Depois de você, eu vou me exercitar. Tomaremos banho e iremos comer por aí, de acordo? —Sim. — respondeu mais animada. —Depois passaremos pela agência de correios para pegar um pacote. E continuaremos com a disciplina. —Sim, senhor! —Já estamos na reta final, Cleo. Cleo saltou, se virou e chutou o saco no ar. —Sei. ***** Estacionaram o Jipe na frente de uma boutique de lingerie do Distrito do Jardim. Uma linda boutique de alto nível. Ela usava um vestido preto e curto de alças, de gola em V, e sapatos altos da Guess. Colocou os óculos escuros no alto da cabeça, e deu uma olhada na boutique. —House of Lounge —repetiu em voz alta, lendo o letreiro de apresentação. Estava tão acalorada… E a culpa era do sádico que estava ao seu lado. Quando Cleo e Lion entraram no local, uma mulher de cabelo vermelho e franja estilo cabaré, recebeu-os com um autêntico sorriso de boas-vindas. —Lioneeeel — exclamou a mulher acrescentando um til no E— Mon amour… 157 | PRT


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Cleo não pôde fazer outra coisa senão sorrir. Não havia nada lascivo em suas palavras, nem tampouco em sua pose. Recebeu-o com carinho e deu um beijo na bochecha. Cleo nunca esteve ali. A boutique tinha paredes pretas e laranjas, estilo Art Nouveau. Havia um lustre que pendurava entre várias janelas. Chamou a atenção de Cleo a poltrona de leopardo localizada ao lado de uma mesinha de vidro, cheia de revistas de moda e em que repousava uma garrafa de licor antigo. —Olá, Sophie —a saudou Lion. —O que o tgaz aqui? Quelle belle fille! —exclamou admirando Cleo— É como uma gatinha, pegciosa! —segurou-a pelo rosto e observou suas feições —E olhe que colog nas bochechas… —Sim, obrigada. —Sorriu um pouco incômoda pela situação, por não poder dizer: “senhora, tenho o rosto como um tomate porque estou vestindo uma calcinha vibradora que seu adorado Lioneeeel me obrigou a usar. Está vendo que tem um anel em seu dedo do meio, de borracha dura com um rotor? Pois é um controle. E o grande cretino está brincando com ele constantemente; e minhas calcinhas não deixam de me fazer cócegas e tremer”. —E tem unhas. Uma gata com unhas —acrescentou Lion. “Com as que penso em furar seus olhos”, pensou com regozijo interno. —OH, homens… vegdade? —Sophie a puxou pelo braço e a dirigiu ao seu balcão— Seu cabelo é desta colog, vraiment? —Oui, madame —respondeu Cleo em seu perfeito francês. Falava quatro idiomas; inglês, francês, italiano e russo. Mas em Nova Orleans, devido à quantidade de crioulos franceses que havia, o francês era como uma segunda língua. —Pois é pgecioso —disse a alegre mulher. Inclinou-se sobre Cleo e sussurrou a modo de confidência. — Eu o pinto de vegmelho porque começam a sair cabelos brancos. —Sophie, me mostra o pedido? —pediu Lion educadamente. —OH, oui oui. Não se movam. —Entrou em seu depósito. Cleo se apoiou no balcão e tomou ar profundamente. Lion se colocou atrás dela e a cercou entre seus braços. —Como está? —Lion, pare de mexer o puto anel. —Cravou as unhas na madeira do balcão. —Isto? —com a outra mão deu uma volta ao rotor de seu anel e Cleo fechou as pernas. A calcinha estimulava seus clitóris e sua vagina ao mesmo tempo; era como ter uma boca ali constantemente. —Lion! —grunhiu entre dentes. —Nem. Pense. Em. Gozar. — Pontuou lhe dando um beijo no lateral do pescoço. — Adoro ver como luta contra seu corpo, Cleo… Me deixa como uma maldita moto. —Sua voz soava muito rouca enquanto se esfregava suavemnete contra suas nádegas. Separou-se dela disimuladamente assim que Sophie saiu com a bolsa na mão. —São um pag de cogsete e saias de gigfe e é de uma estilista eugopea. Tem bom gosto, cherie —olhou para Lion orgulhosa. —Merci beaucoup, madame. 158 | PRT


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—Posso veg? —perguntou Cleo, retificando imediatamente—Digo, vê-las. Posso vê-las? — “Senhora, a culpa é das calcinhas. Não é minha”. Madame Sophie tirou as roupas das bolsas. —Foram desenhadas por Bibian Blue; é uma agtista, não os paguece? Em realidade, Cleo não sabia nada de espartilhos, mas aqueles pareciam incríveis, belos, lindos… Era como se sua pele os reconhecesse como dela. Um deles era um espartilho que copiava as asas de uma borboleta monarca. O outro era todo de brilhantes e lantejoulas pretas, embora, em vez de vir com colchetes ou laços, se fechava com quatro fivelas frontais. Embora o mais espetacular fosse o desenho de cristais Swarovski que percorria seu peito e suas costas: era um camaleão. Um maldito camaleão. —OH, por Deus —sussurrou acariciando-os com as mãos— São… —Pgeciosos. —Magavilhosos… Digo, maaaaaaaaravillhosos!! —O maldito vibrador! Lion fez um som rouco e insinuou uma gargalhada. Voltou a baixar e subir o nível do vibrador das calcinhas. —Uh, Ma chérie… que efusiva! —exclamou abrindo os braços feliz—Sabia que gostagia deles. —Ah siiimm —Cleo o olhou por cima do ombro, lançando raios e centelhas através de seus olhos verdes. Lion era um filho da…! Engoliu saliva e pigarreou—E… me diga, madame… Quaaantooo? —voltou a pigarrear e cruzou as pernas, apoiando os antebraços no balcão. — Quanto custam? —Eu cuido disso. —Lion tirou seu American Express Black e o deu a Sophie, passando o braço por cima da cabeça de Cleo. —Veja, veja… Tem todo um cavalheigo ao lado, belle —Sophie piscou um olho lhe dedicando um sorriso cúmplice. —Ah… Siiimmm… — respondeu baixando a cabeça. —É incrível. Tem um grande autocontrole. —Felicitou-a Lion subindo o nível do vibrador. —Pare! Lion…! — Apertou os dentes. Tinha vontade de se encolher no chão e ficar muito, muito quieta— Me queima… —É o sangue. Junta-se todo nessa área; e sua pele começa a esquentar e arder. Mas já leva um bom momento assim, e me impressiona que aguente… —Aqui tem, Lioneeeel. Assine aqui. — Enquanto Lion assinava o comprovante, Sophie entregou a sacola a Cleo. —Leva uma bonita gecogdação. Algo para atesogar, sempge. —Sei, madame. Asseguro que vou recordar disto toda minha vida — murmurou colocando os óculos de sol e caminhando tão digna quento podia tendo em conta o baile de São Vitor que acontecia entre suas pernas. —Você também, Lioneeeel —assegurou a mulher francesa. — É uma beleza. O homem deve sabeg valogzar quando a vê —a assinalou e tocou o olho. — Ouvrez vos yeux, oui? Deu-lhe um abraço cheio de carinho e se despediu da mulher. 159 | PRT


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***** —Sério. Falo muito seriamente agora —Cleo estava reclinada na porta do Jipe negro, com os braços cruzados e o corpo meio dobrado. — Ou para, ou vou tirá-las e vou sem calcinhas até cheguarmos em casa. Está tentando me enlouquecer e me chateia muito, Lion. Ele tirou seus irresistíveis óculos de aviador e os pendurou na gola da camiseta branca. —Está me dando ordens e ultimatos? A mim? —perguntou se aproximando dela— Se está tão mal e desesperada … por que não se livra e goza? —Porque a prova é que não o façaaaaaaaa… Ai, Deus… —o agarrou pelo pulso e cravou as unhas. — Vou dar um maldito espetáculo se não parar. —Tem vergonha de montar um espetáculo? —Provocou-a no meio da rua, apoiada no carro, um pouco resguardada dos olhares dos transeuntes por seu largo e alto corpo. —Aqui não… Não me importaaaaaa… Não me importa montar o espetáculo quando sei que devo me conscientizar disso. Me meteréeeeeeiii no papel e pontoooo… Mas aqui nãããooo… Sádico, filho de uma cadela, para o… Aaaaaii… — Amassou sua camiseta com as mãos e afundou o rosto em seu peito—Ooohhhh… —Não insulte minha mãe, Cleo. Como ela te ama… —Você é filho do demônio. É adotado. —choramingou. — Te trocaram no hospital. Lion introduziu uma coxa entre as pernas de Cleo até levantá-la ligeiramente do chão. Afundou a mão nos cabelos de sua nuca. —Não, não… Desça-me. —Goze… Faça, Cleo. Já pode fazer. —E uma merda. Agora não quero… —Vai… Não seja tola. —A empurrou brandamente— Agora se zanga e não respira? Ninguém a olha. Não seja criança e tome o que seu corpo de mulher te pede. —Meu corpo de mulher pe-peeeede que corte seu pênis. —Tome-o aqui. Diante de todos, demonstre que não se importa o que possam pensar de você. —Estaaaamossss num caminho de pedestres, cretinoooooo. —As pernas tremeram e se deixou cair sem forças, por completo, na coxa de Lion. A pressão, a tensão, o calor, sua coxa entre as pernas e a maldita calcinha… Tudo foi muito e, então… Explodiu. Estalou silenciosamente, prendendo o ar nos pulmões, ficando sem respiração… Tremia entre os braços de Lion e não se atrevia a levantar a cabeça. —Lindo — sussurrava ele ao ouvido. — Puxe ar. Assim mesmo… Não gritou Cleo. Foi incrível. Ela nem sequer podia mandá-lo à merda, que era o que realmente gostaria. Precisava se recuperar. Por Deus, se até um sapato caiu. —Convido-a para almoçar. —Disse ele, medindo o quanto estava zangada. Cleo o empurrou e o afastou dela. Não suportava que a acalmasse depois de provocá-la até esses limites. Estava deixando-a louca. —Abre o maldito carro. — Ordenou roucamente, recolocando os óculos e prometendo vingança pelo tratamento dispensado. 160 | PRT


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Depois de recolher o pacote no Distrito Central financista, na Avenida Loyola do Downtown, dispuseram-se a procurar um restaurante por ali perto. Um onde pudessem relaxar um pouco e desfrutar de um bom menu. Era a área mais antiga da cidade, embora estivesse infestada de arranha-céus, comércio e escritórios; e, por isso mesmo, também estava cheia de restaurantes. Cleo tinha relaxado, e voltava a ter um ambiente relaxado entre eles. Lion era fácil ao trato, exceto quando se convertia no sádico controlador que era; e então colocava seu cérebro ao contrário. —Não se zangue comigo por que a tratei assim —pediu arrependido. — O que procuro com essa atitude é que tire suas couraças, Cleo. Liberte-se dos preconceitos, faça o que te der vontade. —Puxou a cadeira da mesa que iam se sentar, num dos dez melhores restaurantes de Nova Orleans, chamado Mil. O local era muito trend, em tons terra claros e azuis. Havia muitos lustres de borracha penduradas no teto que iluminavam tenuemente o lugar, além de pequenos reservados separados por painéis azuis que simulavam ondas, e muitas colunas com mosaicos de tons cinza, bege, lilás e azuis. —Não estou de acordo com seu modo de conseguir seus objetivos. Não tenho couraças: o que tenho é educação. —Tem couraças —corrigiu ele. — Qual o problema de gozar em público? —Qual o problema? Isso é particular. As pessoas não saem gozando e fazendo tal coisa pela rua, Lion. Não dizem: olha, quero um orgasmo! Não levantam a saia e o provocam! —E se eu gosto? E se gosto de saber que enquanto as pessoas tentam manter sua fachada pela rua, embora por dentro estejam fodidos porque podem talvez precisar de sexo ou alegria em suas vidas, minha garota está gozando entre meus braços? O garçom interrompeu a conversa ao perguntar o que queriam comer: —Torchon do Foie Gras para começar e um Pappardelle de batata doce. —E a senhorita? —perguntou o garçom amavelmente. —Quero uma salada salteada ao vinagrete e atum com limão e molho alioli. —Excelente escolha. Para beber? —Um Chardonnay Hanzell. Gosta, Cleo? —perguntou por cima da carta de vinhos. —Sim. O garçom os deixou, e ela aproveitou para se inclinar para a frente e deixar sua postura clara. Um momento… Havia dito sua garota? Dele? “Não importa. Concentre-se”. —Por que não pode aprender a relaxar — Lion se adiantou às suas palavras — se sabe que tudo isto que estamos fazendo é para sua preparação e, no final, o objetivo é um maldito orgasmo, Cleo? Isso não te faz sentir bem? —Adoro os orgasmos, reconheço — grunhiu em voz baixa — O que não gosto é que me pressionem além dos limites, porque se me pressionar muito, Lion, me partirei. Compreende? —Comigo não se partirá nunca, Cleo. Nem sequer conhece seus limites. — Seus olhos azuis viam através dela coisas que nem sequer a jovem sabia de si mesma. — Tem que aprender a confiar em mim, tem que se deixar ir. É básico para nossa relação. Simplesmente, obedeça. 161 | PRT


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—Não sou um robô. Tenho cérebro. —Já sei. Não estou dizendo no que tem que pensar, nem o que deve estudar, nem que roupa usar, nem que merda comer, nem no que deve trabalhar… Não se ofenda; não sou esse tipo de amo bizarro por controle. Nossa relação se apoia no sexo, na carnalidade, e aí eu mando. —Por que não posso me sentir ofendida pelo que está dizendo? — revirou os olhos e olhou o teto. O que estava errado com ela? —Porque sabe que tenho razão. Cleo não entendia como Lion acreditava saber tantas coisas dela. Se nunca se importou ou sequer se interessou de como estava. Passavam anos sem ter contato, exceto no dia do Smithsonian. Incomodava-a que Lion acreditasse que sabia tudo que precisava saber. —Você não me conhece, Lion. Não gosto de espetáculos. —Se não gostasse deles — falou em voz baixa, se assegurando que ela ouvia o tom e o significado de suas palavras, — não teria decidido gozar em segredo no meio da rua. —Estava me apertando com a perna. —Tolices. Com o controle que tem, poderia ter aguentado, no mínimo, uma hora mais. A deixou muito quente saber que ninguém adivinhava o que tinha entre as pernas. Gostou muito disso, inclusive falando com Sophie, quando estava tão perto de se liberar… É uma pequena provocadora, Cleo. Seu caráter, seu perfil nas entrevistas, quão desafiante foi com o pobre senhor Stewart em sua prova psicotécnica… Todo isso me fala de você e me diz que Cleo Connelly adora esticar a corda e adora que a ponham à prova. Teve namorados, Cleo? —Não interessa. —Remexeu-se incômoda. —Aposto que só os tinha no fim de semana… Eram muito fáceis para você. Tentava. Tentava se divertir com eles; procurava que seduzissem seu instinto selvagem e sua inteligência, que mantivessem seu interesse… Mas não o faziam. A aborreciam. Por isso não teve nenhuma relação à exceção das transas esporádicas que encontrava quando saía. E eram muitas, verdade? É uma mulher muito sexy e muito bonita. Mas não precisa de um homem, Cleo: precisa de um touro, um campeão. —Sim? —perguntou assombrada pela exatidão das palavras de Lion— E você é esse touro? O garçom encheu suas taças de vinho. Lion o provou e assentiu. O jovem se foi. —Não sou nem um touro nem um campeão. Sou um amo. —Elevou a taça e esperou que ela fizesse o mesmo. — E não tem nada a ver com isso. Quer um amo em sua vida? Ela não respondeu; mas o olhando fixamente chocou a taça com a dele. Então, assim, depois daquela pergunta e sua bela visão, soube que queria Lion em sua vida. Não porque fosse um amo, mas sim porque era Lion. Mas, aparentemente, o que praticava e o que era estava interligado. E Cleo já não sabia diferenciar Lion do amo; e a verdade era que gostava dos dois. Talvez sempre tivessem sido a mesma pessoa. Talvez ela não tenha visto, talvez por isso se chocassem tanto… Ou talvez, porque o viu, ela se afastou. Talvez fosse ele quem o fez…. Já nem sequer sabia o que queria. 162 | PRT


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—Me diga, Cleo: quer um homem que te amarre quando a fode, a provoque até ficar louca e a pressione para que veja que não tem limites, exceto os que os outros te impõem? Quer um cara que te açoite quando sabe que precisa, que dirija seus orgasmos para que sejam mais fortes e espetaculares do que são? Quer um macho que a mime e seja terno com você, que te ame e a respeite quase mais que a si mesmo? — Os olhos de Lion brilhavam; e sabia que estava caminhando por terreno minado. Falar assim com Cleo podia intimidá-la, mas já era hora que colocassem as cartas sobre a mesa. —Tenta me intimidar? —Por que? Vai fugir? —Até agora não fugi, Lion. Sou uma mulher, não uma dissimulada que se assusta por um pouco de sexo selvagem. Evoluímos, sabe? —Pois então, pare de se comportar como tal. O torneio terá muitas situações desse tipo. As pessoas a olharão; gostarão de olhar e você terá que fingir que não se importa. —Não sou uma exibicionista, mas posso interpretar o papel quando precisar. Não se preocupe por isso. Farei-o muito bem. E respondendo à sua pergunta: não sei se quero um amo — reconheceu sincera. Precisamente, permitia-se jogar com Lion e permitia a ele esses atrevimentos com ela porque era… o amo! Era Lion! Não queria outro. Merda, estava confusa. — Isto é excitante, é tudo novo e perigoso e… gosto, não vou negar isso. —A isso me refiro, Cleo. Você gosta. O que sou, o que ofereço, meu mundo de gritos e gemidos de dor-prazer. Pare de se enganar. E pare de se fazer de ofendida por ter te feito gozar no meio da rua. Mas ela não estava ofendida por isso! Estava ofendida porque estava se liberando desse modo com um cara que não a queria, exceto para se infiltrar e fingir que eram um casal! E aquilo… a machucava. Maldição, a estava machucando. Assim que quanto antes marcasse distância, muito melhor. —Não me engano. Por isso, agente Romano — se permitiu a licença de recuperar o tratamento profissional com ele e desenhou um sorriso de bruxa por cima de sua taça, — sabendo que posso gostar desse mundo, num futuro, saberei escolher um bom amo para mim. Pelo menos Magnus pode aprender. —Claro —respondeu despeitado, com o rosto entre sombras de ciúmes e incompreensão. Esvaziou a taça de vinho de repente, — e possivelmente os porcos voam. —De fato, há porcos voadores em épocas de tornados. E o tornado que se avizinhava entre eles ia ser descomunal.

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Capítulo 13

Os amos e os submissos devem gostar um do outro e divertir-se tão dentro quanto fora da cama. Na sala da casa de Cleo, sob a música baixa com a letra implacável de Broken Strings de James Morrison e Nelly Furtado, Lion e sua submissa estavam um em frente ao outro. Havia um baralho de cartas de Dragões e Masmorras DS disposto sobre a mesa. Agora comprovariam se o jogo ficou claro ou não. Lion baralhou os naipes: todos tinham um dragão na parte traseira. Na parte inferior estava escrito: Domine & Maitresses (Dragões e Masmorras DS). Lion encenou um possível duelo frente ao Oráculo. —Esta é nossa prova de fogo. —Vamos arder? —Imagine que não encontramos o cofre nesse dia. —Sim. —Não acertamos as adivinhações; não sabemos onde se acha a puta caixinha e fracassamos. —Certo — escutou concentrada. —Deveremos ir à masmorra. As masmorras são os cenários onde se desenvolvem os duelos: onde se encontra o Oráculo com suas cartas e onde esperam as Criaturas desejosas de pegar alguém. —Sei. Os olhos escuros de Lion a observavam fixamente. —Está assustada, agente? —Nem um pouco —replicou ela o olhando por sua vez. —Ali será diferente. —Não acredito. Tenho a criatura mais malvada de todas diante de mim. Ele parou seus movimentos e fez um gesto desdenhoso com a boca. —Julga-me muito injustamente. 164 | PRT


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—Certamente —respondeu incrédula. — Bom, continue. —Bem —dispôs as cartas em três pilhas. — Uma de objetos — a preta com o dragão vermelho, — outra de modalidade da prova — a branca com dragão vermelho, — e outra de duração da prova — a branca com o dragão preto — e número de orgasmos — assinalou cada pilha correspondente. Abriu-as como um leque. — Escolha. Cleo esfregou as mãos e escolheu uma carta da primeira pilha. A de objetos. —Objetos —Lion sorriu malvadamente. —O que? Qual saiu? —perguntou nervosa. —As bolas chinesas. —OH… —Aumentou os olhos—Ooooh… Bolas? —Bolas. Escolha a modalidade —Cleo o fez, e ele girou a carta. — Bondage/amarrar. Terei que amarrá-la. —Me amarrar? —sua voz soou muito aguda— Pffff… Grande coisa. Lion lambia os bigodes, como faria o rei da selva. —A próxima. —Fez um gesto com o queixo para a última pilha em leque. —Tempo e número de orgasmos. —Mmmm…. —Cleo leu o que tinha. — Dois orgasmos em quinze minutos. Dois orgasmos em quinze minutos, pensou. Assim, tão seguidos? Esfregou a nuca, com o corpo tenso e espectador. —Esta é nossa prova hoje. —Preparou seu relógio digital, disposto a cronometrar o exercício. — Vamos ao jardim — estava mais que preparado para dar dois orgasmos a Cleo em apenas quinze minutos. — Andando. —Ah, mas já? —Sim. —Puxou-a pela mão e a guiou até o jardim. Lion tinha arrumado o jardim para ocultá-lo um pouco de olhares indiscretos. Escondeu a mesa maca no barraco e sobressaiu as duas barras, para deixá-las apoiadas no muro separador. O entardecer caía sobre eles. Os tons laranja e vermelho dotavam sua particular masmorra de um estranho e mágico misticismo.

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—Venha. —O rosto de Lion era o de Lion King. O amo. Agora se concentraria em seu corpo, em seu prazer e em sua dor; e a faria explodir— Vou despi-la. Cleo obedeceu e deu dois passos até se colocar diante dele, com os corpos se roçando. Depois do almoço que tiveram, depois das provocações dele e as respostas impertinentes dela… Agora tinham que ver outra vez os rostos e os corpos. Aquilo era muito subjugante e incompreensível para ela; mas compreendeu que por muito que lutasse, nada podia separá-la do desejo de agradá-lo e deixá-lo louco. Porque Lion controlava, mas enlouquecia com seu corpo e sua submissão. Então, nesse momento de entrega, ele arrancava a máscara e se entregava a ela. —Pode se despir também? Lion sorriu docemente. —Não, isto é para você. Tudo é para você, Cleo. —Eu gostaria que se despisse. Recortado por trás da luz do crepúsculo, ele era o cavalheiro escuro que sempre desejou, o herói atormentado. Lion estreitou seus grandes olhos anis e elevou a sobrancelha partida. Sua Cleo pedia que se despisse com ela. Mas se o fizesse, se cedesse a esse rogo, então já nada poderia detê-lo. Cleo seria dele em todos os sentidos. E ela não estava preparada para sua dominação total. Não obstante, depois de instruí-la nesses dias, deviam transar: devia penetrá-la e comprovar como se moviam juntos. “Como seria?”, repetia-se. Bom para caralho. Cleo o mataria; o sugaria e o esvaziaria em nada, e seu controle iria à deriva. Desvendaria toda a trama diante dela e Cleo teria mais poder sobre ele que ninguém. Mas acaso não era esse o verdadeiro papel do amo? Sua mulher sempre teria poder sobre ele. Mesmo assim, em missão, não devia misturar seus sentimentos. Isso poderia colocar ambos em perigo. Se continuasse mantendo distância, ainda poderia controlar as rédeas. Porque, como fazer amor com Cleo sem demonstrar o muito que se importava com ela?

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—Este é meu presente para você, Cleo. Por tê-la torturado esta tarde e por tê-la feito se sentir mal. —Levantou as mãos e a segurou pelo rosto— Tudo para você. —Não foi mau, Lion. — Tranquilizou-o assombrada por sua aflição — Somente… um pouco muito intenso. —Não importa. Vou escutá-la como amo, de acordo? O cronômetro já está correndo. —Sim, bem —assentiu. Mas ela queria despí-lo e Lion não ia deixar. — Então, não me dispa tampouco. Estou de vestido. Só tem que descer minha calcinha assassina e pronto. Ele inclinou o pescoço atrás e sorriu ao céu, maravilhando-se de como era prática. Penetrou as mãos por baixo de sua saia e deslizou a calcinha até seus tornozelos. Por favor, ela estava muito molhada, pela estimulação quase contínua do vibrador. —Não se mova — advertiu ele. —Não penso ir a nenhum lugar. Lion entrou no barraco; e depois de remover o que fosse que esquadrinhasse em suas bolsas de sado, saiu com cordas numa mão, e bolas chinesas, bastante grossas, de cor prata na outra. Cleo lambeu os lábios e esperou sob a luz do entardecer, com seu cabelo vermelho bem recolhido num coque alto, a franja que cobria parte de seus olhos amendoados verdes e um olhar cheio de promessas e expectativas. Lion sentiu um murro ao vê-la com o vestidinho preto e as mãos entrelaçadas atrás das costas, como uma boa menina. Sim. A ataria assim. —Vire-se — pediu a segurando pelos ombros. Atou suas mãos nas costas mediante um nó de trevo, e depois, puxando o extremo da corda, a obrigou a se ajoelhar. Com os joelhos no chão, Cleo sentiu as mãos de Lion que a empurravam sobre a grama até que apoiou os ombros por completo nela. Sentiu o frescor em suas nádegas quando ele levantou a saia e gostou da bofetada carinhosa que deu, acompanhada da carícia calmante. Adorava aquilo. Duro e suave. Mau e bom. Lion. King. —As bolas estão geladas, Cleo —disse ele brandamente, — mas você está ardendo aqui embaixo. São um pouco grossas, mas as acolherá bem. —Quanto falta? — perguntou com a bochecha esquerda apoiada na grama. 167 | PRT


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—Dez minutos. —Então, deveria começar, senhor. Lion acariciou seu traseiro e, depois, sua virilha ensopada. Se aproveitou de sua umidade para lubrificar as bolas chinesas e, pouco a pouco, muito lentamente, as deslizou em seu interior. Lion estava perplexo pela forma rosada e elástica de Cleo; mesmo assim, era estreita e se notava o modo como a primeira bola estirava sua pele. —Dói, Cleo? —Um pouco… Estão geladas… —Sim, já te disse isso. —Tocou suas pernas para que as abrisse mais. — Assim mesmo… — Enquanto Cleo aceitava a primeira bola, ele levou a outra mão até sua parte dianteira e começou a esfregá-la entre as pernas. Cleo franziu o cenho ao notar que seu útero se contraía pelas carícias e aprisionava as bolas, as notando maiores e pesadas. Imaginou que em vez das bolas era o membro de Lion, que a tomava por fim, e seu motor começou a esquentar. —Vem o primeiro, Cleo? —perguntou sorridente. — É uma máquina, querida. —Lion… —Chist. Só tem que deixar ir. —Plás! Colocou a segunda bola sem deixar de acariciar seus clitóris. — Vamos, Cleo. —Inclinou-se sobre ela de modo que empurrava as bolas em seu interior, esfregava-a pela frente e colava seu torso às suas costas, como se fosse ele quem a montasse. — Venha, Cleo. —Animou-a roçando a garganta com os lábios, sepultando-a com seu corpo. Cleo gemeu e afundou os dedos na grama quando o primeiro orgasmo a agarrou. —Quatro minutos e falta um. Se não o fizer, as criaturas estarão desejosas de te ter, Cleo, e eu ficarei louco pensando em algum deles a tocando. —Lion se ergueu um pouco e com sabedoria, começou a impulsionar as bolas com sua própria virilha, movendo-a para a frente e para trás, sem deixar de fazer pressão. As três bolas estavam dentro. Observou suas nádegas. Tinha um traseiro maravilhoso. Cravou seus olhos no orifício franzido de trás, e sua ereção aumentou no interior de sua cueca. — Alguma vez a tomaram por trás? Cleo escutou “tomar por trás”, e por pouco convulsionou sobre a grama. Não. Nunca fez isso. Negou com a cabeça. —Tenho que te preparar para isso, Cleo. No torneio… 168 | PRT


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—Faça o que tiver que fazer — murmurou com os lábios muito iinchados por mordê-los. Estava farta que justificasse tudo que ia fazer com ela somente porque ia mandá-la ao torneio. Pelo menos, era ele quem desejava fazê-lo e não as normas do jogo. Seria assim? —Não agora. Talvez manhã, ou esta noite. — continuou a esfregando pela frente e se ensopou com sua umidade, umedecendo seus dedos. — Mas vou brincar um pouquinho por aqui… Três minutos Cleo. —Faça. —rugiu ela tentando se levantar; mas não podia porque tinha as mãos presas às costas. Por que gostava de se sentir assim? Completamente dominada por um homem: assim estava. Porque sabia que se dissesse para Lion soltá-la, que não queria continuar, ele a respeitaria. Por isso. E embora a tivesse submetida, podia confiar nele. Lion levou seus dedos úmidos e ensopou seu ânus com eles. As bolas continuavam entrando e saindo pela parte frontal. Para Cleo faltava um orgasmo, ou as Criaturas a levariam! Necessitava de outro estímulo que tornasse a lançá-la pelas nuvens. Pouco a pouco, Lion introduziu a ponta do dedão no diminuto orifício, movendo-o, rodando-o. Empurrou com os quadris; as bolas desapareceram por completo em seu interior e, então, aproveitou seu gemido de prazer para introduzir a primeira falange do polegar em seu interior. Cleo abriu os olhos e a boca e emitiu um alarido de êxtase. —OH, por Deus… —soluçou. —OH, Senhor… —Lion se envergonhou quando sentiu que ele mesmo estava gozando com ela. Cleo minava toda sua resolução de se manter distante. Era a primeira vez que gozava na roupa, sem nenhum controle sobre seu corpo. — Querida... Assim mesmo.... Que se fodam as Criaturas! —Cobriu sua parte dianteira com a palma, apertando-a e a fazendo sentir seus estremecimentos nos mais profundo de sua vagina; enquanto, apoiava toda sua virilha na entrada de Cleo, mantendo as bolas dentro. Ficaram caídos um em cima do outro, desfrutando da pressão em silêncio. Quando ambos puderam se acalmar e recompor, e sair do jardim para tomar banho, já tinha anoitecido. Prova superada. —Quero que carregue isto dentro. Para que essa parte de seu corpo se acostume à invasão. É muito pequeno. — dizia Lion enquanto introduzia uma pequena bala de controle remoto no ânus.

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Acabaram de tomar banho. Cleo se apoiava no espelho, olhando o reflexo de ambos. Ela usava de novo um vestido curto e leve, branco, estilo bata. Ele, só com o jeans desabotoado, e as sandálias estilo surfista social. —Ainda está com o anel? —Já veremos… —murmurou com malícia. —É como Gollum com seu tesouro. —Sou Frodo, querida. Só eu tenho o domínio suficiente para não abusar de seu poder. Beijou-a no ombro quando o objeto desapareceu em seu interior, e tomou a toalha para acabar de secar o cabelo. Por que lhe dava beijos? Por que a desarmava com sua ternura? Cleo não compreendia o que estava fazendo com ela. Só a instruía ou havia algo mais? —Temos que lavar a roupa —anunciou ele analisando-a de cima abaixo. — Sujou minhas calças. —O que quer, machão? Sou assim irresistível — deu de ombros enquanto lubrificava seus lábios com manteiga de cacau. — Esta noite lavaremos. Ding dong. —Espera visita? — perguntou ele massageando o cabelo úmido com a toalha. —Não. — respondeu, o olhando através do espelho de corpo inteiro onde acabava de se arrumar. Ding Dong. —Cleo? —Era a voz de sua mãe. Sua mãe! E ela estava com Lion! Os dois com o cabelo molhado da ducha que cada um acabou de tomar sozinho, para se equilibrar. —É mamãe? —perguntou risonho e feliz por ver Darcy— Vou abrir! —Mas está louco? —Cleo não podia acreditar no que estava ouvindo. Lion se colocou atrás do espelho de corpo inteiro e desfrutou de seu olhar estupefato. —Relaxe. Tudo sairá bem. —O que? —gritou em voz baixa— Não abra, Lion. Não. 170 | PRT


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—Sai, camaleão. — Afastou-se dela a fazendo rodar e escapou de suas garras, descendo as escadas e gritando— Já vou! Cleo olhou seu reflexo no espelho. Acabava de ter bolas chinesas em seu interior; Lion a tocou no ânus e estava em sua casa a instruindo para ser sua submissa. E tinha uma bala no reto. É óbvio que não estava preparada para se encontrar com sua mãe! —Charles! —Ouviu um surpreendentemente feliz Lion dizer. E seu pai! Puta que pariu! Mas como olharia para a cara deles? Ela, a menina dos olhos de seu pai. Por Deus, se soubesse o que Lion acabava de fazer o mandaria à câmara de gás imediatamente. —Cleo, querida! Desça, são seus pais! Ela abriu a boca e franziu o cenho. —Que filho da cadela! —sussurrou zangada pela atitude do sádico controlador. Ficou louco. —Surpresa! —dizia outro casal. Mas quem seriam? OH, não. Não, não, não… —Caara! hahahaha! E os meus! —exclamou eufórico, elevando a voz para que ela o ouvisse, embora em seu tom se adivinhasse agora um tom histérico. Suas pernas tremeram e teve que respirar fundo para se acalmar. Além disso, tinha o assunto de Leslie. Seus pais não sabiam nada de nada. Penteou o cabelo com os dedos e cuidou que sua expressão não refletisse nenhuma das emoções recém-vividas no jardim. Tinha os olhos verdes frágeis e cristalinos, e as bochechas rosadas. Minha mãe, que desastre. Sentia-se como quando perdeu a virgindade e sabia, sem sombra de dúvidas, que seus pais se dariam conta do que Brad Reyfuss acabava de fazer com ela só a olhando nos olhos. E, para cúmulo, os pais de Lion Romano também se dariam conta disso. Quando desceu as escadas, todas as emoções vividas nesses dias se refletiram em seu rosto. Vamos, estava tão claro como água. Mas a imagem dos quatro com Lion a deixou momentaneamente sem palavras. Parecia que tornava a ter oito anos.

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Os pais de ambos sempre se deram muito bem. Eram parecidos de certa forma: com a diferença que os Romano eram multimilionários, e os Connelly, de classe média alta. Anna e Michael eram morenos, altos e esbeltos. Elegantes e muito clássicos, de estilo europeu. Seus pais, ao contrário, eram encantadoramente sulinos. Eram igualmente altos, mas suas peles eram mais claras, com tendência a se avermelhar pelo sol. Sua mãe tinha o cabelo vermelho como ela, e seu pai, preto como o de Leslie. E ambos tinham olhos claros. Herança irlandesa, sim senhor. Não obstante, uns e outros se preocupavam com Nova Orleans à sua maneira. Sua família, por exemplo, se ocupava da segurança. Seu pai Charles era reconhecido como um herói em todo o estado de Louisiana pelas vidas que ajudou a salvar durante o Katrina. Às vezes, ainda continuavam exibindo as imagens de Charles pendurado de um helicóptero de barriga para baixo, ajudando a recuperar corpos flutuantes nos rios, ainda com vida. Cleo se lembrava disso e uma onda de orgulho a varria da cabeça aos pés. Sua mãe fazia os melhores tipos de refresco e raspadinhas de toda Louisiana; e era a proprietária de uma cadeia que já contava com três estabelecimentos, todos muito concorridos. Sim, pensou satisfeita. Não eram multimilionários, mas eram únicos. Os melhores para ela. Os pais de Lion, Anna e Michael, tinham um porte um tanto mais distinto; mas tinham aprendido a crescer com a terra, e conseguiram sua riqueza na base de muito trabalho. O melhor deles eram serem simples e autênticos. Amavam muito seus dois filhos, Shane e Lion. E o melhor era que aceitavam e adoravam os amigos que fizeram de verdade. A amavam como mais uma filha. Lion tinha os braços jogados por cima de seu pai, Charles e do seu próprio, Michael. Quando a olhou, deu uma piscada casual; e Cleo pensou que nada mais podia acontecer de pior, assim que se aproximou do desastre. Muito bem. Se ia explodir, que fosse apoteótico. Sua mãe, Darcy, olhou seu cabelo úmido, e depois desviou o olhar para o de Lion. “Não mamãe, não viemos da praia”. Como não sabia o que dizer, sorriu abertamente e sua mãe abriu os braços, esperando que sua filhinha querida se inundasse entre eles. E Cleo se surpreendeu o fazendo, se obrigando a sorrir e fingir que tudo estava bem, porque precisava desse calor materno. Precisava falar com ela e explicar o que acontecia; mas não podia. 172 | PRT


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Para uma mãe, saber que uma de suas filhas estava desaparecida e sequestrada não era fácil de digerir. —Mamãe… — murmurou. —Querida! Não vamos perdoá-la por isso. —Eu também não. —Anna deu um olhar de cumplicidade e abriu os braços, também para saudá-la ao modo crioulo; quer dizer, com um empurrão desses que a deixam sem respiração. — Menina! —É óbvio que não —grunhiu o pai de Cleo olhando de esguelha para Lion com cara de poucos amigos. —O que é o que não vão perdoar? —perguntou Cleo com cautela, ainda nos braços da mãe de Lion. —Tivemos que saber, pela boca da mãe de Tim Buron, que Lion e você andavam juntos pelo French Quarter —respondeu Darcy ofendida. — E que tirou férias para fazer reformas no jardim… — Caminhou pela sala em direção ao jardim, mas Cleo a puxou pelo braço. —Sabe, mamãe? Na realidade Lion está me ajudando a arrumar umas poucas vigas, e o muro de madeira… Não é muito. —Lion e você andam juntos? —perguntou Anna, assombrada por quão relaxado estava seu filho entre aqueles dois homens. —Juntos? —repetiu Cleo. Riu nervosa— Como juntos? Que calor faz, verdade? Querem tomar um pouco de chá gelado? —Você faz, céu? —perguntou Darcy divagando. —Pois eu adoraria —disse Michael, continuando a pergunta de sua mulher Anna— Você e Leslie são da família, embora achasse que Lion acabaria com sua irmã. Mas não foi assim. —Seu pai puxou o pescoço de Lion e fez uma bajulação— Garoto esperto. Gosta das ruivinhas. “Olá? —pensou Cleo— Estou na sua frente”. —Não… —grunhiu Charles um pouco incomodado. — Não foi assim… —Não diga tolices, Mike. Via-se a léguas que Lion se interessava por Cleo —respondeu Anna. —Hã? —Cleo mal piscava. Um momento. Estava num capítulo de Fringe? Uma realidade alternativa ou algo parecido? —Querida. Oh,oh. Cleo enrijeceu e olhou o amo. 173 | PRT


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—É hora de falarmos a verdade para eles. —Lion caminhou até ela e se colocou atrás de suas costas. Rodeou-a pela cintura com ambos os braços e olhou para seus pais diretamente nos olhos. — Cleo e eu estamos saindo juntos. Os quatro olharam uns aos outros e receberam a notícia com alegria. Bom, Charles não muito. —Quando foi a Washington para ver Leslie —explicou Lion mentindo como um velhaco, — roubei um beijo. E depois não parei de pensar nela; até que nas minhas férias decidi vir a Nova Orleans para pôr as cartas sobre a mesa. Cleo entrecerrou os olhos, o olhando por cima do ombro. O comentário sobre as cartas foi com segundas intenções? Ainda por cima nem sequer podia acusá-lo de mentiroso porque era tudo verdade; exceto a verdadeira razão pela qual veio pôr “as cartas sobre a mesa”. —Oh, que bonito… —Darcy estava tão emocionada que não cabia em si. Os homens se olharam entre eles, assentindo em acordo com sua atitude do conhecido código XY, como dizendo: “Assim se faz, garoto!” —Lion… Está amadurecendo? —perguntou sua mãe sorrindo com carinho. —Cleo que o diga — repondeu Lion apoiando seu queixo sobre seu ombro. —Estou mais amadurecido agora, querida? —Colocou sua mão em seu ombro para que fosse consciente que tinha o anel vibrador no dedo. — Cleo? Cleo tinha vontade de arrancar os cabelos da cabeça. Como se atrevia a colocá-la naquela situação? Não só isso. Como se atrevia a dar esperanças aos seus pais desse modo tão calculista? “Sim, claro que amadureceu. Tanto que carrega um maldito anel de poder no dedo, conectado diretamente ao meu traseiro”. —Sim. — Respondeu enquanto pisava dissimuladamente e triturava os dedos dele. — Acontece que sou irresistível para ele. —Lançou uma gargalhada ao vento— Quem ia dizer, não é? Lion e ela olharam um ao outro, totalmente dentro de seu papel. —Sim! Quem ia dizer, não é? — repetiu Lion atuando, rachando de risada e criando uma moldura de casal feliz diante de seus progenitores. —Pois isto precisa ser celebrado! — exclamou Darcy. — Trouxe quiches e raspadinhas! —Oh, mamãe dois… —murmurou Lion, olhando-a com adoração. — Vai me fazer chorar. Sou louco por suas raspadinhas. 174 | PRT


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—Como foi uma visita surpresa — disse Anna, se desculpando educadamente, — não queríamos que começasse a preparar nada, Cleo querida; assim trouxemos o jantar. —Elevou duas bandejas de vidro cobertas com papel laminado. —Ai, mami… —disse Lion— Não me diga que isso é jambalaya? A jambalaya era um prato típico de Nova Orleans, parecida com a paella espanhola, embora se preparasse com frango como base, frutos do mar e chouriços e muita pimenta. —E o que vocês trouxeram? —perguntou aos homens do grupo. —Nós? —Ambos se olharam e sorriram. — Hurricane! —Elevaram as garrafas de álcool. O Hurricane era uma bebida típica de Nova Orleans, além do absinto, que constava de uma mistura de runs e sucos de todo tipo. Era doce e embriagador. Cleo arqueou as sobrancelhas vermelhas e franziu os lábios com um semi sorriso. Ela e o álcool não se davam muito bem. E sabia, por experiência própria, que seus pais tampouco. Enquanto dispunham a jambalaya e a quiche para servi-los na mesa de vime preparada pelos homens no jardim, Cleo organizava os pratos na cozinha junto com sua mãe e Anna, sua momentânea sogra. —Consogra —dizia Darcy a Anna e sorriam felizes, como se aquilo fosse de verdade,— me passe uma de suas bandejas. —Tome, consogra —respondia a mãe de Lion. — Sabe? Me deixa muito feliz que esteja com Lion, Cleo. Ele precisa de mão dura; e você, sendo agente da lei, certamente o colocará na linha. “Mão dura? Anna, seu filho deixou meu traseiro vermelho vivo várias vezes já”, pensou malignamente enquanto repartia a quiche nos pratos. Mas no final disse: —Não duvide, Anna —respondeu obediente, embora sem estar convencida. Os pais de Lion não sabiam que seu filho era agente duplo do FBI. Lion não queria os preocupar e nunca disse a verdade do que fazia em Washington. Assim inventou o negócio de software e hardware como disfarce. E, muito menos, sabiam que era praticante de BDSM. Mas isso não era nada, porque para todo mundo Leslie tinha um negócio de confeitaria e seguia os passos de sua mãe, Darcy. Embora, diferente de Anna e Michael, Darcy e Charles sim, sabiam que Leslie era agente do FBI. E não só sabiam de Leslie, também sabiam que Lion era. —Pode acreditar que, bonito como é, nunca levou uma garota para casa? —disse Anna a Darcy. 175 | PRT


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Cleo franziu o cenho. Então Lion nunca levou ninguém… Nenhuma vez? Buscou-o através da vidraça, e o encontrou falando com os dois homens, com suas taças de Hurricane em suas mãos, conversando seja lá do que conversavam… Ele captou seu olhar e girou. Sorriu piscando um olho e elevou a taça da mão em que tinha o anel. Ela engoliu saliva e negou com a cabeça. “Nem pense nisso, Satanás”, soletrou com os lábios. Ele deu de ombros, todo peralta e brincalhão, e deu uma pequena volta ao aro do anel. A bala começou a fazer das suas, e Cleo fechou as pernas. Darcy fez cara de não entender como um pedaço de exemplar como Lion nunca teve namorada e acrescentou: —Pois eu achava que minha filha e Magnum no final se juntariam. —Ah, que atraente é esse Magnum — comentou Anna. —Verdade? Mulato e com olhos verdes… Cleo não tentou corrigi-la sobre que o nome de Magnus não era Magnum. Quando colocava algo na cabeça, ficava para sempre. Além disso, estava ferida; tinham-lhe dado um “balaço” e não havia como intervir na conversa. —Mas, veja só —prosseguiu Darcy, — estávamos muito enganadas. Cleo, isto de não me explicar nada me doeu muito — a repreendeu. Ela se segurou sobre a bancada, umedecendo os lábios. “Mantenha o controle”. —Foi tudo muito repentino, mamãe. Apareceu na segunda-feira na minha casa e me deu a ordem de ser sua companheira. —Bom, pelo menos não era uma mentira. — E claro —explicou ela teatral, — me disse que se eu disesse não, ia deixar meu traseeeiiiroo como um semáforo em vermelho, pode acreditar nisso? Assim… tive que aceitar! — gritou além da conta. — Me entendem, não? As duas mulheres olharam uma à outra e começaram a rir as gargalhadas. —Ai, Cleo, diz cada coisa… — Anna secou as lágrimas da risada e saiu ao jardim, com os pratos que tinham preparado. Enquanto Anna aproveitava para falar com o clã XY, Darcy se aproximou de sua filha, com o rosto preocupado, e perguntou: 176 | PRT


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—O que acontece, céu? Parece tão nervosa… —Estou bem, mamãe. —Tem certeza? Talvez esteja um pouco estressada. Vai sair de viagem agora, verdade? —Como… mas quem te disso isso? Darcy revirou os olhos. —A mãe de Tim. Já sabe que fala pelos cotovelos e é como a Rádio Pátio. Todo o Bairro Francês já fala sobre vocês, e se cochicha que esteve numa linda casa de lingerie e espartilhos. Não sabe como se senti mal quando fui a última a saber disto, Cleo. E ela se sentia mal por não falar com seus pais sobre o que estava acontecendo com ela, nem sobre o que acontecia com Leslie. Mas não podia. —Pensei em ir vê-la com Lion e fazer uma surpresa. O rosto de sua mãe relaxou e recuperou a calma. —Verdade? —Sim, mamãe. Eu te amo muito e não posso esconder segredos com você. —Eu também te amo, meu bem. De uma mãe não podem se ocultar estas coisas, carinho. —Não, mamãe. —Sabe algo de sua irmã? Sabe sobre você? Sempre acreditei que Leslie gostava de Lion… ela está bem? E por que não me liga? —Respondo em ordem? Falei com ela ontem. — mentiu. Seus olhos se avermelharam. Como queria que não o tivesse feito. — Está bem, mas está muito atarefada. Pensa em vir vê-los logo, quando tiver alguns dias de licença… — Mentir uma vez abria a porta para acrescentar mais mentiras ao saco. — E… Leslie não gostava de Lion. Só eram amigos. —Bom, quem se importa! —exclamou Darcy limpando as mãos no guardanapo. — Veja: olhe-me. —Segurou-a pelo rosto e perguntou solenemente: —Você está feliz, filha? —Feliz a nível existencial ou…? —Com Lion, Cleo. Não se distraia. —Ehhh… —A bala começou a tremer com mais força e Cleo apertou os lábios. —Não seja envergonhada e fale com sua mãe sobre isto. —Booooo… —disse lutando para não revirar os olhos. 177 | PRT


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—Bom o que? —O que Cleo quer dizer é que não tem palavras para descrever o que a faço sentir. —Lion entrou recolocando o anel, com um sorriso de orelha a orelha, branco, reto e reluzente. — Verdade, Cleo? —Mmmm… Ah siiimmm —gemeu sem se atrever a olhá-lo. —Oh, olhe —Darcy colocou as mãos nas bochechas e sorriu; — sente vergonha! Não sabia que era tão tímida! —Tem uma filha adoravelmente envergonhada. Ruboriza por nada — Lion a segurou pelo queixo e a olhou nos olhos. —Não é, querida? —Ui, se vão se beijar na minha frente, eu já vou… Cleo forçou um sorriso de desculpa para Darcy, e esta desapareceu alegremente da cozinha e os deixou sozinhos. —Vamos nos beijar? —Lion roçou seu nariz com o dela. — Quer que te beije diante de seus pais, Cleo? —O que quero é que ponha a maldita mão em cima da bancada e me deixe amputar seu dedo com a faca de carne! —grunhiu baixinho. — É consciente que está brincando com o coração de nossas mães? É consciente que…? Lion a fez calar com um beijo. Um beijo duro, destinado a deixá-la sem palavras, a absorver sua voz e marcar terreno. Diferente do de Smithsonian. Seu beijo tinha sabor de Hurricane. Um beijo impetuoso; como Lion passava por sua vida, como um maldito furacão. Ele se afastou e beijou o nariz com doçura. —O que… O que fez, Lion? O que fez? —Te beijei, querida. Cleo abriu os olhos, franziu o cenho e se deu conta que seus pais estavam sorridentes, elevando as taças e brindando por eles. —Fez isso de propósito? Fez porque estavam nos vigiando? —perguntou horrorizada. Que safado! Era um calculista. Lion piscou um olho cristalino e a puxou pela mão para levá-la ao jardim. 178 | PRT


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—Vamos jantar. O jantar foi estranhamente divertido e relaxante, como se aquilo fosse o adequado. O Hurricane corria como fogo, queimando gargantas e desinibindo o humor de todos. Lion repetiu o quiche e a jambalaya três vezes. Cleo se assombrava do muito que podia chegar a comer, embora seu obstruído cérebro decidiu que comia tanto porque, alto como era, o alimento demorava para chegar ao seu estômago, e se saciava mais tarde que os outros. Falaram de muitas coisas: do negócio de algodão, do segredo dos tipos de refresco e das raspadinhas, dos estatutos da lei, do mal que estava o mundo, de fraudes, dos uniformes das policiais, se eram “as” ou “os” policiais… Mas o Hurricane começou a fazer estragos de verdade e a conversa degenerou a se os ovnis existiam e que Anna viu uma vez um extraterrestre no jardim; ao que Michael respondeu que era o vizinho cabeçudo, nu e bêbado, não um extraterrestre. Darcy explicou o que aconteceu uma vez quando, sem querer, é óbvio, caiu uma bolota de chocolate num bolo que preparou para um almoço familiar. Cleo perguntou à sua mãe o que fazia ela com a bolota. Darcy se fez de louca. O pai de Lion explicou como conheceu Anna e por que seu sogro o meteu no cárcere. E Charles… seja o que fosse que disse, Cleo só repetia: “Não quero ouvi-lo, papai! Não quero ouvilo!”. Com tudo isto, Lion a deixou em paz com a bala. Mas Cleo notou, durante toda a noitada, seu olhar azul e perigoso sobre ela. Sentados um ao lado do outro como estavam, não era difícil. O que acontecia com ele? Ela o olhou por sua vez e se deu conta do que acontecia: tinha a ponta do nariz vermelho e os olhos cristalinos e brilhantes. Diagnóstico: estava bêbado. Por isso Cleo pensou que quando todos se fossem, teria que aguentá-lo. Não estava para aguentar bêbados, assim decidiu beber no ritmo dos outros e se embebedar também. — Nunca usou anéis, meu filho—assinalou Michael. — Que faz com um? É um anel de compromisso…? —Sim, papai. Compro piso aqui e em Oklahoma —brincou ele. — Isto que vêem aqui… — ignorou a joelhada que Cleo lhe deu por baixo da mesa, — é um anel que controla a frequência cardíaca —começou a rodar o anel para todos os lados. “Frequência cardíaca?”, perguntou-se Cleo cravando as unhas na coxa dele e baixando a cabeça para sufocar o ódio. Grande mentira! Era incrível a sensação de ter algo ali metido, se movendo e a estimulando desse modo… Começou a se mover na poltrona, sobre as almofadas. —Não ouvem um runrún? —perguntou Charles— Há algo ligado? A máquina de lavar roupa talvez? 179 | PRT


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“Não, querido Charles”, pensou Lion tremendo de risada. “É o vibrador que sua filha tem no traseiro”. —Me deixe ver. —Pediu Anna estendendo a mão para tirar “o medidor de frequência cardíaca”. — Sabe que seu pai é hipertenso? Isto poderia vir muito bem… verdade? —apontou, dando giros no anel. —Não! —Cleo estava a ponto de começar a chorar. — Não, não é boa ideia para…! OH! OH, Deus…! —chutou o chão. —Não fique vesga, Cleo —a repreendeu sua mãe, — já sabe que não gosto que faça isso! É uma mania que tem desde menina, sabe? —contou a Anna a modo de confidência. —Oieeeee —disse Anna sorridente, com os olhos alegres, se esquecendo por completo do medidor. — Minha vizinha tem uma coisa deisass —assinalou algo no jardim. —O que, Anna? —perguntou Darcy bebendo como uma taberneira. —Sim… Uma dessas coisas tipo Feng Shiiiiu… Cleo e Lion olharam um ao outro com uma cumplicidade absoluta… Cleo com cara de assassina e Lion… Parecia estar se divertindo muito. Cleo sorriu tão falsamente como sabia e lhe disse entre dentes: —Vou meter o anel por seu escrotooo… —O que disse? —perguntou Michael estupefato. —Que o ninho do passarinho se quebrou. —Assinalou uma das árvores do jardim, mais exatamente, um ninho imaginário sobre a pacobeira. O que fazia o álcool… —Olhem isso, não vêem? Uma dessas coisas… — continuava Anna. Ambos franziram o cenho de novo sem compreender a que se referia Anna. —Sim, mulher. A dos coelhiiinhos. —O que dos coelhos? —perguntou Michael estreitando os olhos. — Tem coelhos no jardim, Cleo? —Eu hoje vi um. —Lion a olhou se regozijando, sabendo que só eles compreenderiam a brincadeira. —Esta é uma missão de reconhecimento para o Agente Charles. — Michael olhou para Charles. — Por favor, vá verificar do que falam as senhoras… 180 | PRT


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Charles levantou tão bêbado quanto o resto e caminhou divertido para o objeto em questão. Cleo revirou os olhos e exclamou inclinando a cabeça atrás: —Papai, não tenho nada para os coelhos… —Eu siimm —Lion pôs-se a rir e bebeu mais absinto. —Você se cale. —brigou Cleo. Lion arqueou as sobrancelhas e apertou o controle. Cleo articulou uma exclamação afogada e deu um salto no assento. —Continuo sem saber ao que se refere, consogra —Darcy lambeu os lábios e tentou fixar os olhos em Anna. —Sim, consogra… —Anna ficou calada e soluçou, como se algo tivesse muita graça. — Consograaaaa! As duas mulheres seguraram os estômagos e começaram a rir a gargalhadas. —É uma dessas coisas… Que são como bolas prateadas… hahaha! Que quando o coelho ou a rrrrrrata vê seu reflexo… jajajajaja! Assustam-se e começam a correr! Hahahaha! —Bolas prateadas? —Cleo franziu o cenho— Não tenho… —É isto?! —Charles segurava um objeto na mão. Lion se virou com o copo nos lábios e, quando viu o que era, cuspiu todo o Hurricane pela boca, engasgando e levantando aos tropicões para tirá-lo do pai de Cleo. Cleo abriu os olhos de par em par. As malditas bolas chinesas! —Papai, não toque! Solta isso!

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Capítulo 14 Não há nada que nos dê mais medo, que ficar indefesos por vontade própria diante de alguém. Tampouco há nada mais libertador.

—Se falar com sua irmã Leslie diga a ela que faça o favor de me ligar; que não é certo que me trate assim —choramingou Darcy na porta, no ápice de seu porre, enquanto se despedia deles. —Sim, mamãe. Direi —assegurou Cleo tonta. Charles riu e a abraçou como um urso. —Sabe que te amo, verdade? —Sua mãe era um terremoto, mas seu pai era a calma; e quando a abraçava assim, quase todos os problemas desapareciam. —Sim, papai. —Sabe que ela te ama, verdade? —E eu a ela. E a você. Amo muito os dois. —Abraçou-o com mais força e inalou o aroma característico de seu pai de sabão de Marsella. —E sabe que pode me contar o que for? Cleo fechou os olhos e estremeceu. Seu pai sabia que algo não estava bem, não era tão crédulo nem confiante como sua mãe. “Como conto isso, papai?” Certamente, esse não era o momento, porque tinha grandes doses de álcool no sangue. —Sim, sei. —Perfeito. — cantarolou, dando-lhe tapinhas carinhosos nas costas. Charles ficou com o olhar claro fixo em Lion— Garoto. —Pai —Lion se despediu dele alegremente. —Nem pense em se divertir com minha filha, ou te asseguro que no dia seguinte terá todos os oficiais de polícia de Louisiana pisando em seus calcanhares. Entendido? Lion assentiu severamente. —Nunca me ocorreria machucá-la de propósito, senhor. —Consogroooo! Vamos, a noite é jovem! —chamou Michael. 182 | PRT


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—Arrevoire, ma filles. —Arrevoire, papai —Cleo fechou a porta emocionada e ao mesmo tempo com vontade de gargalhar. As muitas emoções formavam redemoinhos dela. A principal: devia cortar a garganta de Lion. Se virou e encarou seu companheiro na missão— Como não lembrou de recolher as bolas… ? —Chist. Lion, o bêbado, passou a ser bruscamente, Lion o sério e sedutor. Cobriu seus lábios com os dedos e disse: —Sobe comigo, Cleo. Sim. Estava bêbado. E sim, desejava Cleo. Queria-a nesse momento. Com o álcool liberando todas suas restrições e seus “não deveria”. Continuavam em missão e se prometeu não tocá-la de modo emocional nem íntimo enquanto estivessem envolvidos no tráfico de mulheres e no resgate de Leslie. Mas percebeu que a garota era um ímã; e desejava acoplar-se ao seu pólo. E com o corpo como uma destilaria, todos os seus nãos desapareceram. Além disso, era adequado. Perfeito. A noite jovem e estrelada se converteria em testemunha de sua liberação… Os grilos cantavam no jardim e ela estava tão bonita com esse vestido e cheirava tão bem que estava se excitando. Cleo piscou ébria e sorriu inclinando a cabeça de lado. —Suba com você? Por que? —perguntou divertida. — O senhor quer me açoitar? —Talvez sim… —Deu voltas ao anel com os dedos e entrecerrou os olhos. —Menos mal que acabaram as pilhas do anel do Saurum… —Não acabaram. Lion a puxou e a guiou pelas escadas. Cleo tropeçou e Lion conteve a risada. —Tome cuidado, patinha. Despertará sua lagartixa vesga. —Ringo é um camaleão —protestou ofendida. —Você sim é um camaleão. —Meteu-a no quarto e fechou a porta atrás dela, a esmagando com seu próprio corpo.

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A música que ainda soava no jardim subiu à cabeça de ambos. Don't Let Me Stop You de Kelly Clarkson. Cleo se sentia tão bem e tão relaxada… Observou Lion e depois a porta atrás dela, fria ao tato. —Por que me chama de camaleão, senhor? —Seus vestidinhos… —inseriu o indicador por seu tirante branco, — às vezes menina, às vezes mulher fatal… Seu cabelo, seus olhos… Você… Você. — Deu de ombros, adorando-a com o olhar. —E-eu? — Cleo estava suficientemente bêbada para deixar que nessa noite acontecesse o que tivesse que acontecer; mas não tão ébria para não ser consciente do que estava fazendo. Sabia muito bem o que estava acontecendo quando agarrou a barra da camiseta negra. — Levante os braços, senhor. —Passou o objeto pelos abdominais até tirá-lo pela cabeça. Agradecido por não ter que dar muitas explicações sobre o que queria fazer, cedeu à sua ordem. Lion não se atrevia a se mover. Tinha uma postura agressiva para ela: o pescoço inclinado sutilmente para frente, como se fosse comê-la a qualquer momento; os braços abertos de cada lado dos quadris… Um guerreiro que queria reclamar sua recompensa. —Suas sardas… —murmurou ele elevando uma mão e passando o indicador pela ponta do seu nariz— Sua boca… Cleo a abriu quando o dedo brincou com seu lábio superior. Ambos se olharam durante longos segundos, como se chegassem a um acordo tácito e, então, Lion introduziu seu dedo no interior da sua boca. Ela o lambeu e o sugou. —Oh, porra… —O agente desabotoou a calça com a mão livre, enquanto tirava e colocava o dedo na apetitosa boca da fada. — Não pare. Faz com que eu queira gozar rápido. Não… Não é boa para mim. —Nem você para mim. —Pegou-o pelo pulso e mordeu seu dedo com força. As calças de Lion deslizaram por suas longas e duras coxas até ficar nos tornozelos como uma massa de tecido azul. —Está me mordendo, querida? Ela assentiu alegre com o dedo entre seus dentes. Lion chutou suas calças e retirou o dedo de sua boca, decidido a substitui-lo pela sua. 184 | PRT


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Ficou com uma maravilhosa e branca cueca Hugo Boss. Aos tropicões, enquanto se beijavam e mordiam os lábios, tropeçaram e caíram sobre a cama. —Morria por te beijar, Cleo… — murmurou sobre seus lábios. Não vocalizava muito bem, mas ela entendia tudo ou, pelo menos, ele acreditava que sim. — Não… Não penso em outra coisa desde que a vi pela manhã. É uma… grande merda. —Sério? Por que é uma merda? Eu gosto que pense assim… Eu também quero te beijar. Ele ficou muito quieto com essa confissão e retirou o adorável cabelo dos olhos. —Desde quando, Cleo? —Bufff. —Seu rosto estava perdido entre as lembranças e os efeitos do Hurricane. — Não sei… —O álcool fazia qualquer um perder a vergonha. — Não lembro, senhor. Faz muito tempo… Logo me aborreceu muito e já não queria te dar beijos. Mas depois, sempre que te via… Gostaria de te dar um. Sou patética, verdade? Lion piscou uma vez; riu, e ela também, e nem sequer sabiam do que riam. —Sim. —Imobilizou sua cabeça com as mãos. —Sou patética? —perguntou horrorizada. Lion deu de ombros. —E eu. Gosto de te beijar, Cleo… Olhe… —corrigiu o ângulo do pescoço e introduziu a língua nela. — Tem sabor de Hurricane… —Sugou sua língua e brincou com ela. —E você… — murmurou Cleo, rodeando a cintura dele com as pernas. “OH, Deus… vou transar com Lion de verdade. Nada de joguinhos nem cordas. Vou tê-lo entre minhas pernas”. —Cleo… —ronronou, afundando o nariz em seu pescoço, e lambendo-a em todos os pontos sensíveis do queixo à clavícula. — Vou enchê-la de marcas. —Sim… — sorriu ela com sua desfocada visão no teto, abraçando-o pela cabeça. Moveu os quadris para a frente e para trás enquanto a sugava e dava chupões por todos os lados. —Não se esfregue. Nem pense nisso. —sentou em cima de seu ventre e a assinalou com o dedo. E ao mesmo tempo que o fazia começou a rir— Olhe que carinha… Não… Não posso assim… Cleo soltou uma gargalhada e cobriu o rosto com as mãos. —Estamos bêbados.

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—Sim. —Lion subiu o vestido branco até arregaçá-lo sobre sua cintura e seu ventre plano. Abriu suas pernas com as mãos e acariciou seu camaleão tatuado — Você é um camaleão, Cleo. —Eu? —Sim. Tem a capacidade de se adaptar a qualquer situação, inclusive às mais espinhosas… Como eu. Adapta-se à mim como ninguém. —É espinhoso? —Sim. —Como um cacto? —Sim. —Os camaleões gostam dos cactos. Lion encostou sua testa à dela e, apoiando-se em um braço, desceu a calcinha de Cleo até deixá-la nua. —E meu cacto gosta de você. Olhe que suave é… —murmurou maravilhado. Estava suave e úmida pela bala que tinha depositada no ânus. —Tire antes a arma nuclear que tenho atrás de mim. Lion negou com a cabeça e se estirou sobre ela. Deu-lhe um beijo tão profundo que Cleo ficou sem respiração; e enquanto o fazia, deixou-se cair de lado com uma de suas poderosas e morenas coxas sobre seu quadril. —Vamos acabar de gastar as pilhas. —assegurou, acariciando-a entre as pernas. Desfrutando de seu calor. —O que? Então não se acabaram? —Não, bruxinha. Eu decidi parar, isso é tudo. —Vai fazer amor comigo com isso metido ai? Não vou poder… Os olhos azuis escuros brilharam luxuriosos. —Sabe? A maioria dos terapeutas afirma que há duas fantasias recorrentes nas mulheres. Uma é a de ser forçada a albergar um homem em seu interior: a fantasia da violação; como é somente uma fantasia, se permitem tê-la; e a outra é a de ser penetrada ao mesmo tempo por dois homens. — Apertou o controle do anel. — Você tem alguma delas, Cleo?

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“Eu tenho a fantasia de fazer o amor com você. Somente com você”, disse seu subconsciente. Mas, se devia sincera, que dois homens o fizessem de uma vez… Não estava nada mal. Embora ela não precisasse de dois homens. Podiam ser Lion e um binquedinho dos que tinha. —Eu gostaria que me enchesse pelos dois lados, senhor. Só você e ninguém mais. —Bem, porque não gosto de compartilhar. —Grunhiu deslizando dois grossos dedos em seu interior. Moveu-os de tal modo que podia sentir a bala do outro lado da parede interna. — Mas é muito estreita e terá que se preparar bem antes. Cleo, por Deus… Beijou-a, enquanto movia os dedos e a bala vibrava pelo outro lado. —Não aguentarei muito, senhor… — brincou ela recebendo encantada cada um dos beijos. —Não, agora me chame de Lion. —E voltou a enfiar todo o dedo nela. Retirou os dedos e lubrificou o membro com eles— Vou transar com você, Cleo —se assombrou ao dizê-lo em voz alta— Não… Não posso acreditar isso. Prometi a mim mesmo que não o faria. —O que se prometeu? —Que não perderia o controle. —Pois diria que está falhando por completo. —Cleo adiantou os quadris e se esfregou contra a cabeça de seu pênis. —Não… Você não entende, Cleo… —Não há nada a entender, Lion. — Rodeou-o com os braços e o beijou, tirando a importância do assunto. Estavam bêbados e precisavam transar. Não era precisamente um segredo o fato que se gostavam. Ele notava e ela também, não? Se estava errada, então, seu sentido aracnídeo de atração estava atrofiado. —Não tenho camisinha. —Não importa, estou tomando a pílula desde os vinte… —Sabe que estou sadio. As análises do torneio… —Não me fale agora disso e transe comigo. Basta de torneios. Só você e eu, e o que queremos fazer, sim? A ordem pôs Lion em guarda e apertou alguma tecla de piloto automático desenfreado. O agente tomou suas mãos e as colocou por cima da cabeça, as segurando com uma das suas. 187 | PRT


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Colocando-se entre suas pernas, localizou-se em sua entrada e ficou em posição. Penetrou-a pouco a pouco, desfrutando de cada gemido e queixume de Cleo. —Lion… —Cleo… Ambos se olharam nos olhos e então, zás! Ele mergulhou até o fundo, a fazendo abrir os olhos assustada e notar a pressão em sua parte traseira, onde a bala não parava de fazer das suas. —Lion!… Pouco a pouco. —Lion era muito grande. Muito. Deveria estar um pouco mais preparada para ele… —OH, sim. —Lion oscilava para a frente e para trás, com energia. — A vibração me massageia… —gemeu morto de prazer. Cleo fechou os olhos, e depois da impressão, começou a gostar da posse. Lion a estava possuindo. E o fazia até o punho, por completo, com tanta vontade que ela mesma se excitou ainda mais. Cleo o rodeou de novo pela cintura com suas pernas. Ele rugiu e ronronou. —Isso mesmo… me aceite, Cleo. Não me solte… Ela negou com a cabeça. Soltá-lo? Como? Lion a imobilizava pelas mãos e estava tão metido em seu interior que juraria que tinha alcançado o útero. —Você gosta? —Sim… — assentiu ela, desfrutando de cada investida. —Muito? —Sim… —Está perto. —Então a tocou com o polegar naquele ponto de prazer que tinha a propriedade de lançá-la num universo paralelo— Vamos… —Oh… Sim, não pare. Não pare! Lion também estava a ponto; e quando começou a notar que seu útero palpitava, ele se deixou ir. Gozaram ao mesmo tempo. Suarentos, gritando e se beijando como loucos possuídos pelo álcool e luxúria.

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Cleo desejou olhar nos olhos enquanto transavam. Ainda não viu sua expressão de êxtase, mas Lion se ocupou em não mostrá-la. —Cleo… Cleo… —repetia ele com o rosto mergulhado em seu ombro, estremecendo pelos golpes do orgasmo. Parou o motor do anel e, sem pensar duas vezes, puxou a borracha e extraiu a bala vibratória. Cleo se queixou quando, por fim, o aliem saiu de seu corpo. —Me deixa louco, bruxa —murmurou, acariciando os seios por cima do vestido, que não tinha tirado. — Me deixa sem forças para lutar contra mim mesmo… —Deus, Lion… — Estava surpresa como se mostrava aberto e extrovertido com ela. — Adoro que fale assim e que se abra para mim… —Gozou com prazer? —Sim. —O que se diz? —Esfregou seus mamilos por cima do vestido. Ela sorriu secretamente. —Obrigada, Senhor —dizia isso a Deus. E agradecia por ter vivido aquele orgasmo com Lion. Uma sessão de sexo terna, louca e divertida com seu amo. Sincera. Uma sessão que para ela tinha significado muito mais. Por isso seu coração abria asas e voava por seu peito de lado a lado, feliz como uma perdiz. E, por tudo que Lion dizia, para ele também devia ter sido especial. —Sempre foi você, Lion. — Sussurrou o beijando na têmpora, dando consolo. Sempre foi ele quem povôou sua mente quando estava com outros. Tentou, mas sempre via o descaramento e o mau humor de Lion; ou seus olhos azuis amendoados, que quando sorriam se fechavam tanto que parecia chinês. —Já não haverá ninguém mais. —Ele fechou os olhos pouco a pouco. —Agora não mais… Não preciso mais pensar em você. —Murmurou sobre sua cabeça. — Tenho você, Lion. —Me tem. Não me solte. — pediu ele rendido. —Não soltarei.

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Ficaram adormecidos, com as portas do balcão abertas; sem saber que, atrás delas, alguém os observava.

*****

A luz do sol batia totalmente no seu rosto. Despertou abraçada ao travesseiro, com uma enxaqueca que ameaçava arrebentar sua cabeça. Confusa, e ainda um tanto enjoada, se ergueu sobre um cotovelo, lutando para abrir os olhos; mas cada tentativa era uma chicotada em suas córneas. No final, conseguiu meio se levantar e ficou sentada na cama, olhando ao seu redor. Sentia-se dolorida lá embaixo. Não se admirou em nada. Lion foi muito impetuoso; e considerando as dimensões de seu Mini Lion… Tinha a sensação que tinha explodido um gêiser entre suas pernas. Sorriu e recordou o que aconteceu durante a noite. Ela e Lion fizeram amor. Fizeram amor de verdade, sem jogo de dominação nem por meios de submissão; e foi muito terno e divertido. —Lion? — o chamou esperando resposta. Como não ouviu resposta, olhou o terrário onde se encontrava Ringo e perguntou ao seu surdo mascote: — Onde foi? O camaleão olhou para cima e para baixo descordenadamente, com sua visão de quase trezentos e sessenta graus e, imóvel como quase sempre ficava, estendeu a língua para comer um dos artrópodes que tinha em sua bandeja de comida. Lion a teria posto essa manhã, já que na noite anterior estava vazia. Que atento era esse homem… Parecia que viviam juntos desde quase sempre. Arrumava as imperfeições de sua casa, resolvia os problemas de sua máquina de lavar roupa, reconstruia o jardim e, ainda por cima, era um amante espetacular. Espreguiçou-se pouco a pouco e levantou da cama, com um sorriso satisfeito nos lábios. Abriu uma das gavetas de sua cômoda e tirou o álbum de fotos. Nas primeiras páginas, que descreviam sua infância, tinha muitíssimas fotos de Leslie, ele e ela juntos. Havia uma muito divertida em que Leslie sorria como uma princesinha, Lion estava levantando os braços dando uma 190 | PRT


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de robusto e ela, com nove anos, estava puxando-lhe uma orelha, por isso Lion se inclinava para um lado, com cara de dor. Cleo se pôs a rir quando a viu. A tirou do álbum e cantarolando, colou-a no espelho do banheiro, esperando que Lion a visse e risse como ela. Depois da ducha, vestiu-se com um short jeans desgastado e uma camiseta larga Pepe Jeans azul escura que caía despreocupadamente por um de seus ombros. Colocou suas canções e desceu à cozinha. —Lion? —Saiu ao jardim e tampouco estava. Lion recolheu a mesa do exterior e estava tudo limpo e ordenado. — Incrível… Vai roubar meu coração, senhor. —Murmurou divertida. Sentou na barra americana da cozinha e encontrou um bilhete ao lado de um copo de água e uma aspirina. Bom dia, agente Connelly. Beba a água e tome a aspirina. Precisará. Hoje nos convidaram para uma festa privada e “clandestina” na mansão de Madame Lalaurie, às nove. Aproximei-me para confirmar nossa assistência. Estou encomendando seus acessórios para esta noite. Preciso fazer umas transações e tirar as passagens para nossa viagem. Retornarei perto de meio-dia. Iremos almoçar juntos. —Agente Connelly? —Arqueou as sobrancelhas surpresa e sorriu. — Que formal estamos no começo da manhã, agente Romano. Sem dar importância ao impessoal bilhete de Lion, Cleo tomou a água e a aspirina e esperou que fizesse efeito. Ora, ora… então teriam uma festa. A mansão de Madame Lalaurie era conhecida porque pertenceu à mulher mais influente da cidade de Nova Orleans; e ali se celebravam festas sociais da classe alta, muito reconhecidas na sociedade elitista. Mas, na realidade, a lenda da senhora nasceu porque era uma sádica que maltratava seus criados. Os tratava como escravos. E, de fato, matou muitos deles em seus quartos… Diziam que era uma casa encantadora; embora fosse uma propriedade particular destinada a eventos sociais. No domingo de madrugada partiriam para o torneio. Faltavam dois dias mais de disciplina e, depois de ontem à noite, estava desejosa que Lion desse sua domesticação final. Com esse pensamento em mente e a canção Good Life do One Republic, dispôs-se a repassar todos os termos BDSM e as normas do jogo, assim como as fichas dos possíveis amos que assistiriam ao torneio. Devia conhecer todos e estar a par de seus históricos. 191 | PRT


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Passaram-se duas horas de estudo, e Lion não ligou para ela. Cleo pensou em ligar, mas, se não o fez nunca até agora, não ia começar a fazê-lo nesse momento porque passaram a noite juntos de verdade. Acariciou as preciosas cartas que tinha na mão: o baralho que os organizadores ofereceram aos amos protagonistas para que pudessem se familiarizar com eles. Eram muito bonitos. Tinham dragões estampados na parte traseira e, dependendo do tipo de carta que fosse, eram de uma cor ou de outra. As letras estavam impressas no canto inferior esquerdo, com as palavras Dragões e Masmorras DS. Sentia verdadeira curiosidade por ver aquele ambiente e descobrir que tipo de pessoas se dispunha a participar de eventos desse tipo. Certamente teria mais de uma surpresa. De fato, já teve levou com Lion e seu pronunciado gosto pela dominação. A campainha da porta a tirou de seus pensamentos. Lion fez para uma cópia das chaves, assim que não podia ser ele. Observou o visor da câmara de identificação e encontrou com um rosto amigo com o qual desejava entrar em contato fazia dias. A pele escura e os olhos verdes do atrativo rosto de Magnus estavam do outro lado da porta.

***** Lion dirigia seu Jipe a caminho da rua Tchoupitoulas. Ia chegar antes do previsto. Nunca em sua vida se sentiu tão contrariado como naquela manhã. Na noite anterior, bêbado como um alcoolótra, não pôde resistir a fazer amor com Cleo. E deu com a língua nos dentes num momento impetuoso de sexo e sinceridade esmagante. Vejamos… Era óbvio que não se declararam amor eterno nem nada parecido, mas disse mais a Cleo que jamais disse a outra mulher. Mas se fazia bem a seu coração de amo, não o fazia a seus princípios como dominante. No torneio necessitaria de muito sangue-frio para fazer com ela tudo que se supunha que deviam fazer. E não queria cometer nenhum erro com Cleo; não queria partir seu coração. Por isso, o tempo com Cleo só devia servir para que ela conhecesse suas preferências e para que se introduzisse em seu mundo.

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Depois do torneio e, se a missão finalizasse com êxito, seria Cleo quem decidiria se continuava em seu mundo de amos e masmorras; mas devia fazê-lo por decisão própria, porque de verdade gostava daquilo, e não por confundir o que fosse que sentia por ele, não por uma necessidade de agradá-lo e de se submeter só porque ele gostava de jogar assim. Já tinha lido romances desse tipo e não gostou. Cleo tinha que sentir a necessidade de ser dominada, como ele desejava a sensação de dominá-la. Não podia ser de outro modo. O BDSM era um estilo de vida, não algo que se obrigasse a fazer porque a pessoa a quem ama te pede isso. Ainda via o rosto confiante e enternecido de Cleo por tudo que dizia entre seus braços. —Quero te beijar, Cleo… — repetiu golpeando o volante com o punho e fustigando-se por sua estupidez — Imbecil! —Olhou-se no retrovisor— Te disse que não devia fazer isso. Que não podia misturar o que ela despertava em você com a preparação e a disciplina da missão. E você fez! Estragou tudo! Estava assustado. Nunca quis ninguém de modo romântico. Só a fada ruiva o guiava a esses pensamentos do que o esperava em Tchoupitoulas, e sempre foi ela. Por que? Havia uma lenda que dizia que as almas que se pertenciam estavam destinadas a se submeter uma à outra para encontrar a verdadeira liberdade. Cleo lhe deu vida quando era criança. Cleo o excitou com sua malícia e seu descaramento quando era adolescente e ele, maior de idade. Agora, como mulher, Cleo fritava seu cérebro e os ovos. E, para cúmulo, estavam juntos num caso. Mas isso foi ele quem procurou. Poderia ter deixado que Montgomery escolhesse um instrutor para ela e entrasse no torneio como outra infiltrada. Mas pensar que Cleo ficaria nas mãos de alguém que não fosse ele… Não suportava. Por isso decidiu ser seu instrutor. Nunca pensou em se aproximar antes dela porque o assustava que Cleo pensasse que era louco por ter esses gostos sexuais; e, sabendo exatamente o que ele procurava, não queria atemorizá-la. Mas se Cleo devia ter contato real com um amo, então essa era sua oportunidade e só ele estava destinado a exercer sua domesticação. Ninguém mais poderia tocá-la. Se Cleo entrasse na masmorra, só ele a estaria esperando. 193 | PRT


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“Sempre foi você”, tinha sussurrado Cleo na noite anterior. Que terna. Lembrava perfeitamente do acontecido; lembraria sempre de sua doçura, de sua calidez e do fácil que era chamá-lo “senhor” quando estava embriagada. Mas Lion devia retomar as rédeas de seus papéis para entrar nos Dragões e Masmorras DS e realizar a melhor atuação de suas vidas. E numa missão desse tipo, as promessas de amor e flores não estavam inclusas. Deveria lembrar a ela; e faria muito bem em lembrar a si mesmo.

***** —Olá, senhor. —Cleo não perdia o respeito pela patente superior que definia Magnus como primeiro capitão da Polícia de Louisiana; embora sempre se paquerassem o suficiente para perder essas formalidades. Magnus deu um sorriso de dentes brancos e seus olhos verdes se alegraram sinceramente ao vê-la. —Cleo, me chame de Magnus. Já disse isso milhares de vezes. Ela revirou os olhos. —O que faz por estas terras, vaqueiro? —Passava por aqui… Magnus era um urso grande, muito proporcional e atrativo. Seus olhos eram famosos no Bairro Francês, porque não era muito comum encontrar um homem de raça negra com olhos tão verdes como os dele. Tinha cabelo escuro cortado ao estilo militar. Era exótico e triunfava entre o sexo feminino. Embora ela fosse imune aos seus encantos. Trabalharam juntos durante muito tempo, mas Magnus sempre esteve um grau ou dois acima dela. Coincidiram na academia quando fez vinte e dois anos. Cleo cursou seus estudos universitários criminalísticos em três anos. O último ano foi uma loucura para ela, porque coincidiu com sua formação de oito meses como recruta e depois se acrescentaram as dez semanas mais que devia realizar posteriores à academia de treinamento para receber a formação oficial de campo e entrar com a categoria de soldado de cavalaria. Quando entrou na delegacia de polícia, Magnus era dois anos mais velho que ela e exercia então como sargento da área. 194 | PRT


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Em seguida entraram em contato; além disso, Magnus era um admirador de seu pai e isso facilitou sua aproximação. Mas quem não era admirador de um homem que no mesmo ano de sua aposentadoria, com sessenta e três anos, ficava pendurado de um helicóptero em movimento e salvando vidas da tromba d’água do Katrina? Ela era sua fã número um. Com o tempo, foram sendo promovidos; e quase ao mesmo tempo. Até que, depois de quatro anos, ela foi promovida como tenente, e ele, como capitão. —Ande, entre. —Cleo o convidou a entrar; tinha muita vontade que lhe explicasse como foi a ação policial do caso de tráfico de drogas onde ambos trabalharam juntos. —Por fim vai me convidar para tomar um banho nessa Yacuzzi? —Nem sonhe, moreno —brincou com ele. A relação com Magnus sempre foi relaxada e os dois gostavam de paquerar. Embora Cleo fosse plenamente consciente que não queria nada, enquanto Magnus sim. — Só me interesso por sua informação, como sabe. Magnus arqueou as sobrancelhas e levou as mãos ao coração. —Isso me feriu. —Admito. —Cleo abriu a geladeira e, enquanto coçava a panturrilha com o dorso do pé, perguntou: — Quer tomar algo? —Uma cerveja. —OK. Sentaram nas escadas do alpendre. Magnus observou o jardim enquanto dava um longo gole à cerveja. —Antes de nada, conte-me tudo —pediu ela: — Como foi? Pegaram Fratinelli? —Sim, o pegamos. Explicou a ela como foi toda a ação policial desdobrada e a perseguição que teve lugar em West End até que pegaram Fratinelli e seus irmãos. —Foi incrível —disse Magnus recordando com orgulho o acontecido. — Teria adorado a perseguição. Na avenida Lake pudemos interceptá-lo; e sabe como? —Não. — disse arregalando os olhos, totalmente envolvida na narração de seu amigo. — Me diga!

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—Nos colocamos um a um, assim. — Deixou a lata da cerveja no degrau de madeira e juntou suas mãos. — Um carro se chocava com o outro… plas, plas! E, então, girei o volante e bati a frente do meu carro com a traseira de seu Pontiac. —Sim?! —ela riu. —E seu carro e o meu começaram a dar voltas sobre si mesmo e a derrapar. Até que o seu impactou contra um semáforo e ali ficou. —Deusss… Que emocionante! Adoraria ver. —Deveria estar lá. —Bateu ombro com ombro. —Sim —se lamentou. —O que me leva a te perguntar, morto de curiosidade: No que está metida? Cleo deu de ombros. —Só precisava de umas férias. Magnus a olhou sem soltar sua lata. —É por causa do caso de Billy Bob? —Não. —É óbvio que não era por desse desgraçado indesejável. — Mas se o vir, dê-lhe lembranças do meu Taser e da minha parte. —Não vai dar detalhes de por que te deu um ataque para reformar seu jardim e sair de férias? —Não. — “Que detalhe quer, Magnus? Os sórdidos ou os que realmente me deixam apavorada? Como por exemplo, que não sei nada da minha irmã há uma semana, e que seu companheiro no caso onde estava infiltrada, foi achado morto por asfixia… ? E adivinha o que? Começo a gostar de BDSM.” Era uma afirmação que só se permitiria reconhecer, por agora, em silêncio. —De verdade que não? —Não. Não há nada a explicar. —Me disseram que a viram passeando com um cara chamado Lion. Tim o conhece. “Tim é um maldito boca grande. Adoro-o, mas é um fofoqueiro”, pensou zangada. —Sim. É somente um amigo. Nos conhecemos desde que éramos assim. —Baixou a mão à altura do joelho. Magnus não sabia quem era porque não nasceu aqui; era de Chicago. Embora conhecesse seus pais por quão importantes eram no negócio do algodão. 196 | PRT


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—E esse homem misterioso está aqui? —Olhou ao seu redor— Gostaria de conhecê-lo. —Hã, não… —respondeu incômoda. — Saiu um momento. —Dorme aqui? Cleo o olhou por debaixo de seus cílios. —Essa, senhor Maine, é uma informação que não interessa. Magnus tentou dissimular sua decepção com um sorriso amável. —Bom, seja o que for no está metida, quando precisar de mim, só tem que me chamar. — Magnus pôs uma de suas imensas mãos sobre a dela, mais pálida e pequena. — Nunca permitiria que te acontecesse nada. Já sabe que sou seu cavalheiro de brilhante armadura. Ela o olhou como dizendo: “Sério?” —Sabe? —se aproximou dela e deu um pequeno golpe carinhoso de sua testa contra sua bochecha. —Sim. —A verdade é que no que diz respeito a você, Cleo, o único macho ao que permito rondar é esse dragão do Komodo que tem por mascote. —É um camaleão. — Mas quantas vezes tinha que repetir isso? —O que seja. Seu pai me disse que cuidasse de você. E é isso que faço. Às vezes como o Demolidor, entre a escuridão. —É tão teatral. Magnus sorriu e fez uma careta. —Garota, que difícil é… Enfim. — Bateu as mãos nos joelhos e levantou. — Como já feriu bastante meu orgulho e estou cansado que me rejeite, pelo menos, deixe que saia escutando uma vez que me deixa ser esse cavalheiro. —Magnus… —Fale, anda. —Magnus… Não seja chato —ela riu. —Diga-me isso e irei; e a deixarei aqui com seu bichinho verde que brinca de ser mímico.

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—Está bem. —Olhou-o de frente e, sem falar a sério, mas agradecida pelo tratamento carinhoso e preocupado de Magnus, disse. — Obrigada por ser meu cavalheiro de armadura brilhante. —Bom! Estamos avançando, tenente Connelly! —Não crie esperanças, senhor. —Incomodo? Lion não estava preocupado. Não naquele momento. Cleo desobedeceu uma ordem direta, não só de seu superior, mas sim de seu amo barra tutor. E acabava de chamar de senhor esse cara… Mas não disse que não devia ter distrações e, muito menos, que seu caso a visitasse e se encontrasse com ela? Sentia tanta raiva em seu interior que não sabia como dosá-la. A jovem girou, surpresa pela intrusão, como se a pegassem com as mãos na massa. Magnus e ele se mediram com o olhar. Verdes contra azuis. Ambos igualmente altos e largos. Bom, Magnus era um pouco mais bruto de corpo, mas Lion tinha menos gordura e estava muito mais definido. —Magnus, equivoco-me? —perguntou Lion educadamente, oferecendo a mão. Magnus a aceitou sem vontade, desviando a vista para Cleo, que parecia envergonhada, ou intimidada. Mordia o lábio inferior. —Eu mesmo. —Bom dia, Cleo — Lion perdeu o interesse por ele e fixou sua atenção na jovem. —Bom dia, Lion. Lion estalou com a língua e negou com um gesto quase depreciativo. Cleo procedeu rapidamente a explicar que fazia seu capitão ali. —Magnus veio me explicar como foi a ação policial do caso que comentei com você… Fazia dias que não nos víamos e… —Tudo bem. E foi bem a ação policial? —perguntou para Magnus. Cruzou os braços, sorrindo e fingindo que se sentia cômodo com aquela situação. — Pegaram os maus? 198 | PRT


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—Não todos. Há muitos maus soltos ainda. —O capitão estreitou os olhos e olhou de soslaio para Cleo. — Sabe, neném? Já vou… Lion arqueou sua sobrancelha partida negra. “Não a chame de neném, cretino”, grunhiu sua besta ciumenta interior. —Sim. Eu o acompanho. — Cleo se apressou a caminhar com ele até a porta de sua casa. —Esse é seu amigo da infância? — sussurrou Magnus antes que ela fechasse a porta. — Ouça, me chame se tiver problemas, certo? Recorda: nove, um, um. Estarei perto. Cleo revirou os olhos e se despediu dele com a mão. Não estava nada cômoda com a situação e sentia que tinha falhado com Lion; sobretudo, tendo em conta o que ele acreditava que Magnus e ela eram. Em que grande confusão se colocou. —Olá —o saudou docemente, esperando se aproximar e abraçá-lo. Lion estava reclinado na parte traseira do sofá da sala, com o rosto tenso e sombrio. Cleo imaginava que tinha o demônio sobre seu ombro, cochichando mentiras em seu ouvido. “Fizeram isto, ela fez com o outro…” Quando não respondeu, exalou nervosa. Isso não podia estragar o que aconteceu durante a noite. Nem pensar. —Antes de gritar comigo — ficou corajosamente diante dele, — quero que saiba que ele apareceu de surpresa. Não o convidei. —É insaciável, Cleo? —perguntou maliciosamente. — Não tem suficiente com o que te dou então tem que se esfregar com o primeiro que bate na sua porta? Cleo ficou sem palavras por esse ácido ataque. —Não fiz nada. —respondeu séria. —Disse que enquanto durasse a instrução e a missão não podia ver Magnus. E o que encontro quando saio de sua casa? Que Magnus está com você no alpendre, relaxado, e a fazendo rir. —Alto lá. Está se precipitando. Não pode acreditar que depois de ontem à noite eu esteja disposta a… —O que aconteceu ontem à noite? Cleo sorriu, tentando relaxá-lo, pensando que ele brincava. —Não acredito… 199 | PRT


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—Perguntei o que aconteceu. —Lion… —Cleo! —gritou— Que me diga o que aconteceu! —Como? —levou a mão ao peito. —Aconteceu algo que eu deva recordar? Ela engoliu saliva e se enfureceu. Ele estava fazendo de propósito! Era impossível que não lembrasse de tudo que disse. —Sabe que sim. —Sim? O que sei? —Lion… —sussurrou triste— Não fala a sério. —Não, não. —Se levantou. — Me recorde o que aconteceu, ne-ném? — pronunciou o apelido com aversão, do mesmo modo que Magnus a chamou, mas sem ser nada carinhoso. —Você e eu… nós transamos. Isso aconteceu. —Explicou com voz trêmula— Eu pensei que… —Transamos? Sério? Só me recordo de dormir, bêbado, na cama. Ela não sabia como reagir ao que ele dizia. Não lembrava de verdade? Ela lembrava tudo: cada palavra, cada detalhe, cada sorriso e cada gemido. Tudo. Tudo gravado em sua cabeça… Em seu coração. Como podia dizer isso? —Adormeceu depois de fazer amor comigo — cuspiu corajosamente, abraçando a si mesma. Seu estômago começava a doer. Lion deixou de se apoiar no sofá e se abateu sobre ela. Com as mãos à costas, inclinou-se sobre seu ouvido e assegurou: —Pois se a fodi, Cleo, note como me satisfez, que nem sequer me lembro. Ela recebeu as palavras como um murro, ou como uma jarra de água fria. Metáforas e semelhanças à margem, deixou-a arrasada. Fez um ruidinho com a garganta, como um gemido quebrado e afogado, mas não pôde responder. Tinha uma bola na garganta que a impedia de pronunciar uma só palavra; e o ar ardente e pesado ficou obstruído em seus pulmões. —Talvez seja suficiente baunilha para seu… cavalheiro de armadura brilhante. Não para mim. — Passou ao lado dela, decidido a subir as escadas e tomar uma maldita ducha que o 200 | PRT


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esfriasse da soberana chateação. Tinha que se afastar ou a destruiria; e embora desejasse machucá-la, tampouco queria castigá-la muito. Mas Cleo não deixou. “Que grande filho da puta”, pensou ela, lambendo os lábios, lutando para não começar a chorar. —Pois prefiro um baunilha que nunca me ofenda como você está fazendo — se deteve para tomar ar, ainda de costas para ele, com o olhar verde cravado no jardim, — a um amo cruel que fere verbalmente sua companheira e o faz conscientemente. —Acontece, Cleo — ele girou no terceiro degrau, — que você e eu não somos companheiros. Se fosse, não teria me desobedecido. Se fosse minha companheira, e de verdade fizesse amor com você como diz, deveria ter mantido meu interesse e não me aborrecer até o ponto de me deixar adormecido. — Ele sacudiu a cabeça e se obrigou a permanecer impassível enquanto observava como ela se afligia por cada crueldade que cuspia. — Não me importa suas preferências. Amo ou baunilha? Alega suas fraquezas. O que tem que ficar claro é que é minha colega de trabalho. Estamos representando um papel. A toco e a agrado porque sou um amo, é parte de sua disciplina; mas ambos somos agentes infiltrados. Não esqueça. Somente isso. —Então. — Se virou alterada, com olhos chorosos e pálida pelo golpe emocional recebido, — se é só isso, não deveria se ofender por ver Magnus aqui. —Me aborrece porque burlou as normas de seu superior descaradamente, agente Connelly. Por isso. A considerava uma mulher mais profissional e disciplinada. Por mim pode se jogar para quem tiver vontade, mas quando estiver fora de serviço. Não agora. Lion desapareceu pelas escadas, a deixando só e desolada. Cleo tremia; e para cúmulo foi tão ridícula ao deixar a maldita foto de quando eram crianças no espelho do banheiro. Não encontrou outra maneira de fugir dali e desabafar, morta da vergonha pelo que lhe disse e ferida como mulher, que agarrou as chaves de seu carro para sair da panela a pressão mais fria de Nova Orleans: sua casa.

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Capítulo 15

Um amo apaixonado desnuda sua alma mais, inclusive, que sua submissa. Lion escutou a porta fechar. Não iria atrás dela. Não o faria. Tinha que se manter forte em sua decisão. Cleo o desobedeceu: trouxe Magnus para sua casa. E estavam no alpendre onde jantaram na noite anterior com seus pais. A tocou? Fez algo com ela? Pensar nisso, sabendo que Cleo só tinha recebido seus cuidados durante os últimos dias, o enervou. O deixava doente, porra. Ele ultrapassou a linha essa noite. Mas se queriam continuar trabalhando juntos sem que todo o assunto emocional os salpicasse, deviam cortá-lo imediatamente. Ele fingiria que não se lembrava do acontecido; e a traição ao trazer seu caso para sua casa quando a estava disciplinando facilitava para manter sua nova atitude. Mas não fingia. Sentia-se traído por ela de verdade, e seu sombrio coração doía. Se não fosse assim, para que Cleo traria Magnus para sua casa se não era para ficar com ele? Não sabiam que ia chegar antes, e por isso os pegou. Era verdade que não estavam se beijando nem estavam nus, mas sua atitude, cheia de cumplicidade e paquera como boas preliminares, já dizia muito. E não precisava saber mais. O moreno a teria levado para a cama cedo ou tarde. E Cleo não teria resistido, porque Magnus já estava em sua vida antes dele irromper em seu mundo. E certamente sentia falta dele. Sentia falta do sexo convencional e que alguém como Magnus a agradasse sem ter que levála ao limite de sua resistência. Estirou-se na cama e cobriu seus olhos com seu musculoso antebraço. Chutou o colchão com o calcanhar e se repreendeu por ser tão duro com ela. Esperaria que chegasse e conversariam. Mas esperou várias horas, passou a hora de comer e Cleo não chegou. Ligou para seu iPhone e escutou como o telefone soava na cozinha, sinal que o deixou ali. Onde teria ido? Teria almoçado? 202 | PRT


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Correria muito com o carro? Saiu chorando, isso com certeza. Ele escutou os soluços enquanto a jovem se afastava e se metia em seu mini. Ele tampouco comeu, tinha o estômago apertado. Teria ido para seu amigo, o policial? Estaria chorando para ele, falando do quanto era malvado seu amo? Retornou várias horas depois, quase ao entardecer. Não parou de dirigir em nenhum momento. Seu carro era seu lugar de meditação; e, enquanto as rodas corressem, ela podia se concentrar na estrada e não em tudo o que Lion cuspiu com sua cruel língua. Ele lhe deu uma lição: uma lição para não construir castelos no ar, para não se iludir com um homem que conhecia desde pequena e que a noite passada a fez se sentir como uma mulher querida e adorada. Foi tudo mentira; e saber disso resultou muito amargo e duro. Mas o que não era mentira eram a dominação e a submissão, sua disciplina, sua domesticação, sua irmã em apuros, e o caso que tinha entre as mãos. Foi tão tola… Tanto. Uma noite divertida em família, Lion relaxado e engraçado, ambos na cama se acariciando, rindo e se tocando sem cordas, nem floggers nem ordens… Quis acreditar que havia algo mais em sua docilidade e em sua amabilidade. Mas não havia. Ele dormiu de verdade, por aborrecimento? Perdeu o interesse? Lion não podia apreciar se não tinha uma mulher capaz de suportar seus castigos, que o estimulasse do modo que ele exigia em sua dominação. E ela, quando a levou ao seu quarto, só lhe passava pela cabeça pensar em fazer amor e não em ter sexo nem castigo. Somente isso. Acreditou que seria suficiente; mas Lion menosprezou tudo. A menosprezou. Estiveram deliciosamente embriagados os dois… Ele começou a falar de coisas que ela acreditou serem importantes, confissões de amantes. E, no final, essas palavras só foram um meio para que transasse com ela; e, depois disso, dormir. Preferia o amo. Preferia o amo mil vezes antes desse Lion mentiroso. Porque, pelo menos via o dominante chegando e sabia como jogar com ele. Com as risadinhas, carinho e docilidade da noite anterior, não. De fato, a destroçou. Às nove tinham uma festa, verdade? 203 | PRT


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Já eram sete e devia se arrumar. Lion fingiu todo este tempo. Nem sequer a tinha em alta estima por ser uma amiga de infância, nem sequer isso; se não, não cruzaria tanto a linha em seu ataque. E o fez. Bom, o que estava claro era que ambos deviam trabalhar juntos. E já lambeu muito suas feridas. Abriu a porta de sua casa. Passara horas chorando. Nunca chorou tanto como nesse momento. Sentia-se mal, pouco valorizada, pouco querida… Mas também tinha dignidade. E talvez Lion não a desejasse como mulher, mas não ia permitir que pusesse em dúvida seu profissionalismo. Desta vez se meteria em seu papel de verdade. Não ficaria nada da Cleo amiga nem da tola sonhadora que acreditava que estava apaixonada por ele. Talvez estivesse, e por isso tudo doía tanto. Mas se apaixonar pelo homem errado era um erro que muitas mulheres cometiam. Tudo passaria. Passaria, porque o tempo curava as feridas. E, enquanto cicatrizassem, seria uma submissa que Lion não ia esquecer nunca. Nem ele, nem os organizadores do Jogo de Personagens. Nesses dias estudou muitíssimo sobre a personalidade e a atitude de uma submissa perfeita; e atuar assim seria um modo de se afastar de sua dor e de se concentrar em algo concreto. —Cleo. A voz de Lion a deteve e a deixou tensa. Via-o de soslaio, sentado em sua poltrona favorita. —Onde esteve? —perguntou sério, embora com sua voz grave e afetada. Bom. Acabou-se o tempo de parecer uma palerma. Agora era seu momento: “And the Oscar goes to… Cleo Connelly por seu excelente papel em Amos e Masmorras”. —Precisava sair daqui, senhor — respondeu sem elevar a voz. — Queria tomar um pouco de ar. O silêncio se estendeu além da conta, mas nenhum dos dois se moveu. —Posso subir para me trocar, senhor? — perguntou com voz suave e disciplente. Pela extremidade do olho observou como Lion tomava ar e ficava tenso com sua educada pergunta. —Ajudarei você a se trocar. —levantou-se da poltrona. 204 | PRT


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—Não precisa, senhor. —Sim, precisa —respondeu tenso. — Não viu o vestido. Cleo pensou no tipo de disfarce que devia usar, e sentiu arcadas imaginando que devia ir em modo coelhinha ou algo parecido. Mas quando observou o fraque de Lion, todo vestido de negro, exceto por sua gravata borboleta branca, todos os seus pensamentos se dispersaram. Estava tão bonito. Tão viril e masculino. Com sua tez escura e sua máscara branca, estava arrebatador. Se ele ia assim, como iria ela? Subiu as escadas sabendo que Lion seguia em suas costas e entrou no quarto, mantendo os ombros retos, mas a cabeça inclinada e o olhar para baixo, em atitude submissa. Na cama perfeitamente feita, se estendia um lindo vestido negro com lacinhos vermelhos, da mesma cor de seu cabelo. A saia abaulada era vermelha e negra. Um vestido de época vitoriana com espartilho de seda e cetim. Lion a colocou diante do espelho, e a despiu sem dizer nenhuma palavra, a olhando através do espelho. Cleo não afastou seus olhos do chão em nenhum momento. Lion apertou os dentes e quando tirou sua calcinha, acariciou suas nádegas com suavidade. Cleo era suave e perfeita. Doce e bonita, mas, ao mesmo tempo, perversa e provocadora em sua suposta inocência. Como ele tampouco tinha vontade de falar, aceitou seu papel. Se Cleo fingia ser uma submissa perfeita, melhor para sua missão. Melhor para ambos. Menos discussões, menos brigas, e poderiam se concentrar no que de verdade importava. —Usará estas ligas e esta calcinha vermelha — disse enquanto as subia pelas pernas, até cobrir seu sexo. Ajustou as ligas às suas coxas e subiu suas meias vermelhas até prendê-las com os ganchos. —Sim, senhor. —Vai estar linda, Cleo. Ela teve o bom senso e o descaramento de ruborizar como uma tímida e perfeita submissa, quando ela não era nada tímida. —Obrigada, senhor —respondeu. 205 | PRT


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Lion puxou ar pelo nariz e seu peito subiu e desceu oscilando no mesmo ritmo de sua paciência. Estava bem, mas essa não era Cleo. Não obstante, continuaria jogando e mantendo aquela atitude. Melhor assim que aguentar seus olhos verdes despeitados e feridos, cheios de decepção. Ele a decepcionou e tinha que admitir. Pegou o vestido e o colocou como um perfeito alfaiate. Primeiro a saia com o corpete; depois o espartilho, que elevou seus seios de maneira considerável e quase insultante. —Pode respirar? —Sim, senhor. —Afrouxo um pouco? Cleo observava atônita seu reflexo no espelho. Deus, parecia a mulher do demônio; e Lion era Satã. —Não, senhor. Está bem assim. Lion sorriu ligeiramente ao ver o assombro nos olhos verdes da agente Connelly. A verdade era que estava surpresa. Passou os dedos pelos ombros nus e pelo decote. —Vou ter muitos problemas esta noite —murmurou Lion abrindo a palma para cobrir a união hipnotizadora de seus seios. “Isso, me toque Lion, porque vou converter sua vida em um maldito inferno. Vou fazer que se sinta tão incômodo comigo que espero que, quando acabar a missão, se afaste de mim para sempre”. —Espero que não, senhor. Não quero importuná-lo em nada — “Não, não quero importunálo em nada, porco”. —Não será sua culpa, Cleo. Os homens se tornam loucos diante dos doces apetecíveis. Não sabia? Cleo deu de ombros. —Não devemos nos chamar por nossos nomes. Você pode me chamar senhor e eu te chamarei Lady Nala. O que acha? —Muito Disney, senhor. O rei leão se acasala com a Nala no filme. Mas não me surpreende nada sua acuidade, senhor. É tão inteligente — alongou o “tão” um pouco demais.

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Lion estreitou os olhos azuis. Devia passar por cima de suas rabugices porque estava zangada com ele? Ou, como amo que a estava disciplinando para o jogo devia castigá-la? Decidiria isso ao retornar da festa. —Quer ir com o cabelo solto ou preso? —Prefiro ir com o cabelo meio preso. —Então você deverá fazer isso. Não me saio bem com os penteados, senhorita. —Duvido, senhor. Se sai bem em tudo. — “Uma submissa sabe adular o amo”, recordou. “Apodreça, Lion. E olhe como o faço bem”. Lion parou de tocá-la e escondeu seus punhos fechados nos bolsos de sua calça. —Fantástico. —inclinou-se sobre seu ouvido e, a olhando nos olhos, ordenou: — Pare de olhar o chão e me olhe. Cleo se sobressaltou com inocência, como se não soubesse que estava fazendo isso conscientemente. —Senhor? —Está me elogiando gratuitamente, Cleo? Porque não deveria fazer isso. Não quero que puxe meu saco. Se acha que deve me felicitar por algo, faça; mas elogie sem razão. Não gosto. —De jeito nenhum, senhor. —Elevou os olhos e o enfrentou diretamente no espelho. — Assinalo suas aptidões, que são muitas. Não é sua culpa ser tão perfeito. Tão perto como estavam, vestidos daquele modo, ele tão moreno e ela tão pálida, com essas roupas tão sexys e elegantes, quase pareciam um casal perfeito; ou, pelo menos, um desses que inspiravam os livros românticos que sua mãe, Darcy, costumava ler. Mas sua história não parecia ser uma história de amor. Lion deixou muito claro. Era seu amo; não seu companheiro. Era seu superior; não seu amigo. O sexo, ou sua disciplina, como ele preferisse, era um meio para chegar a um fim. Quase parecia que estava prostituindo sua alma, embora o fizesse com um homem que tinha o dom de atraí-la como o mel às abelhas. Lion franziu os lábios numa fina linha e deu dois passos para se afastar e pegar sua máscara vermelha entre as mãos. 207 | PRT


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—Quando acabar, ponha isto. —Sim, senhor. Ia deixa-la sozinha, porque estava ficando nervoso com aquela educação fria e distante. Mas parou e lhe dedicou um olhar preso no fogo mais sincero. —Será a mais bonita da festa, Cleo. —Então faremos muito bom casal, senhor —murmurou com toda a antipatia que pôde dispor, acompanhada com um sorriso esplêndido. — A raposa e a vadia. Lion rangeu os dentes, mas se obrigou a inclinar a cabeça como um cavalheiro. —Esse comentário a fez perder pontos como submissa, Cleo; e como dama, ainda mais. Que pena, parecia que íamos por um bom caminho… Deveria manter controlado seu caráter —disse enquanto fechava a porta às suas costas. —Não tem nem ideia de como é meu caráter — sussurrou olhando a porta fechada. — Mas te juro que vou fazer que coma todas as suas palavras irritantes, Lion Romano —acariciou sua máscara vermelha com a ponta dos dedos. — Uma após a outra.

***** A Mansão La Laurie era uma dos pontos visitados no tour Bloody Mary. Nova Orleans estava cheia de tours para visitar cemitérios, lugares secretos da prática de vodu e lugares encantadores como esse. De fato, a cultura da magia, os feitiços, os zumbis e todo tipo de fatalidades e criaturas mitológicas estava muito arraigada ao caráter supersticioso dos orleaninos. Nesse momento, a estavam remodelando para que se convertesse em apartamentos de luxo. De fato, a casa era bonita, de arquitetura francesa, como quase toda Nova Orleans e o French Quarter. O ator Nicholas Cage a comprou; mas ao não poder pagar o IR porque era muito alto, perdeu-a. Enquanto isso, e graças a alguns contatos exclusivos do organizador da festa clandestina BDSM, utilizavam-na para suas próprias atividades só durante essa noite. O lugar deixava Cleo arrepiada; mas também lhe arrepiavam a pele alguns amos e submissas que tinha observado no interior da sala de baile. Algumas usavam colares de dominação tão grandes que pareciam cavalos; depois, estavam os típicos e típicas que exibiam seus submissos e submissas com correntes atadas ao pescoço. 208 | PRT


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É óbvio, esses eram os mais extremistas; embora o mais curioso de tudo para Cleo era comprovar quão felizes ambos pareciam por se verem assim. Ali nada era humilhante, nem degradante. Nada era muito escandaloso. Todos viviam o BDSM à sua maneira. Lion e ela não se falavam. Se Lion perguntava algo, ela respondia com sim e não diretos e tímidos. Até que a curiosidade a matou; e enquanto bebia um pouco de ponche que trouxe para ela, perguntou: —Posso fazer uma pergunta, senhor? —Fale. — respondeu secamente, olhando com desaprovação e desafio os homens mascarados que se aproximavam muito de Cleo. —Quem organizou este jantar? —Os membros do BDSM de Nova Orleans. —E você faz parte deles? — Qualquer pergunta que fizesse, não o olhava diretamente nos olhos, em sinal de respeito e submissão; e a verdade era que estava passando muito mal atuando assim. —Sim. Mas por meu trabalho não venho nunca. —Têm consideração por você, pelo menos. Mas é normal; meu senhor é excelente. Lion a olhou de esguelha. —Estou acrescentando açoites, Nala. Não me aborreça. —Mas não entendo, senhor — protestou fingindo arrependimento. — Não fiz nada que possa importuná-lo, verdade? —Está rindo de mim. Não gosto. A conheço o suficiente para saber que seu comportamento submisso é fictício. Finge. Oh, mas Lion não a conhecia. Ele acreditava que sim, porque Cleo foi transparente e honesta com ele, sempre, sem subterfúgios. Entretanto, não conhecia a Cleo que não se dava a outros; e menos a quem a feriu. —Conhece-me, senhor? —Deu um gole em seu ponche. —Sim.

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—Por isso é tão bom amo, senhor. — Elogiou-o de novo, com um tom doce e afável. — Um bom amo deve saber a todo momento quais são as necessidades de sua submissa. —Repetiu um dos códigos de dominação e submissão. —Quer ser uma submissa de verdade, Lady Nala? —Se aproximou dela, irritado e confuso. — Porque se for assim, sou capaz de te fazer um spanking público como o que Brutus está fazendo a essa garota com peruca branca. Olhe como tem as nádegas: estão tão vermelhas que parece que vão estalar — grunhiu roçando seu lóbulo com os lábios—, e olhe para ela, como aprecia. Estou convencido que, se a tocar entre as pernas, vai gozar. — E outro amo fez isso mesmo. Se aproximou dos dois, e Brutus lhe deu permissão para que a tocasse. A jovem gozou como uma louca descontrolada. —Se isso o fizer feliz, senhor. — Respondeu Cleo, assombrada pelas demonstrações públicas que estavam acontecendo no meio da sala entre amos e submissas. —Ah, sim, Lady Nala? — Colocou-se atrás dela, e acariciou os ombros até deslizar suas mãos pelos braços. Beijou-a na garganta; e ela tentou se afastar como se a proximidade com ele a assustasse, ou pior, repelisse; mas corrigiu rápido e se obrigou a relaxar. Lion nunca foi rejeitado antes. E Cleo lhe deu a primeira, mas leve, bofetada. — Olhe essa ama daí. Está batendo com o chicote no peito do seu submisso mascarado e descamisado. Ele se queixa, mas depois que o chicote toca sua pele preste atenção ao que exclama. Cleo prestou atenção. —O que diz, querida? —Diz “obrigado, ama” —respondeu com os olhos dilatados. —Se vê capaz de fazer isso? De se expor em público e agradecer o que te fizer? — Acariciou seu ventre plano e depois subiu as mãos até cobrir seus seios. Cleo apertou os olhos durante décimos de segundo, mas depois se autoimpôs abri-los. Na frente deles, já tinha vários voyeurs. —Na sua frente, nesta sala, há homens e mulheres que estão desejando ver seu lindo corpo. — Continuou açoitando-a com sua língua. — Como vê, tem de tudo: mulheres e homens, jovens e velhos, gays e lésbicas; há obesos e obesas, magros e magras, altos e baixos, muito musculosos e muito flácidos… O BDSM é como a própria vida. Tem de tudo. —Passou seus lábios por sua nuca enquanto apertava e relaxava seus seios. — Mas não têm nenhum medo a expor seus corpos ou se mostrar tal e como são na frente dos outros. Aceitaram a si mesmos e aceitaram seu prazer. São livres. Alguns nunca mais verá na vida; outros verá muito frequentemente. Mas o mundo do

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BDSM é muito discreto e íntimo. Todos têm muito respeito uns pelos outros para revelar identidades. Cleo fechou os olhos, desta vez levada pela música, o tom sedutor de Lion e a magia de suas mãos. Estava se excitando? Estava se excitando, sim. —São valentes. Você é valente, Cleo? —perguntou beliscando seus mamilos por cima do espartilho. — Tem os olhos fechados? Deus… O que provoca em outros só permanecendo assim, submissa diante de mim… — A voz de Lion também era rouca. — Olhe o que provoca em mim — adiantou seu púbis e a roçou com sua ereção. — Gosta disso? Gosta de ter esse tipo de poder? Gostava? Ela gostava disso? Uma vez, Lion disse que tinha alma de provocadora. Seria verdade? —Sim, senhor. —No torneio vai deixar loucas e loucos a todos, Cleo. Sei. E me deixa nervoso. Abre os olhos e olhe o que faz. Quando abriu os olhos, tinha diante dela muitos casais bebendo ponche, os olhando entretidos, excitados e felizes, alguns mais divertidos que outros. Para eles era como contemplar arte em movimento. Se havia algo lascivo ou não nisso, não podia averiguar, essa era a verdade; mas parecia que desfrutavam mais de sua atitude e de sua disponibilidade ao escutar Lion do que do fato que todo esse contexto e todos esses préaquecimentos chegassem a um fim sexual. Até que alguém entre a multidão disse: —Vai mostrá-la ou é somente para você? Cleo dirigiu os olhos para a origem da voz. Prince. O príncipe, um dos amos que encontrou no clube das mulheres de Laffitte, estava ali, todo vestido de branco, exceto por sua máscara negra e sua gravata borboleta vermelha. Era muito atraente e tinha o cabelo preso num rabo de cavalo preto e alto. Sim, como uma espécie de príncipe persa. Deu um passo adiante e se colocou a um metro dela, esperando a permissão de seu amo. —Quer que te mostre, Lady Nala? —perguntou Lion em seu ouvido, apertando os seios entre suas mãos. —Deseja me mostrar, senhor? — Entendeu seu papel à perfeição pela primeira vez. Ela podia ter vontade de fazer tudo, mas a chave estava em que Lion também gostasse disso. Fazia topless e não se importava que vissem seus seios, e era o que ia acontecer ali. 211 | PRT


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Não obstante, diferia de uma sessão no Solarium. Ia expor seus seios para deixar excitados a todos os outros. Homens e mulheres indistintamente. Engoliu saliva e se preparou para a resposta de Lion. Lion sorriu e a beijou, de verdade, na bochecha. Parecia um beijo autêntico, mais sincero que qualquer um que lhe deu até agora, tendo em conta que todos os beijos que lhe deu na noite anterior eram mentira. Afastou a raiva de sua mente e se dispôs a aceitar o que fosse que Lion quisesse fazer. Estava se entregando. Isso era o que ele queria, não? —É somente para mim. Ninguém pode tocá-la. —Respondeu fulminando o príncipe guloso com os olhos. — Mas, Prince... —Sim, King? —Pode me fazer as honras. Virou Cleo e ofereceu suas costas. Lion a olhou nos olhos e a segurou pelo queixo. Cleo piscou confusa, nervosa, um pouco assustada e excitada… Estranha mistura. —Desfaça um pouco os laços —ordenou Lion sem parar de olhá-la. — Vou atormentá-la um pouco, Nala. Ela entreabriu a boca e estendeu a língua para lamber o lábio inferior. Seus olhos verdes de gato pareciam enormes por trás da máscara vermelha. —Como desejar, senhor. Prince começou a desfazer o laço com suavidade e se permitiu a licença de lhe acariciar as costas com os dedos. —Prince. —Lion dirigiu um olhar de advertência. O príncipe levantou as mãos e murmurou uma desculpa divertida: —Minha culpa, mas não pude evitar. Foram minhas mãos. As pessoas se puseram a rir e aplaudiram o príncipe por ajudar Cleo. —Uma cadeira —pediu Lion com olhos ardentes. Cleo não via ninguém na sala, só Lion. Lion e esse olhar faminto que depositava em toda sua pessoa. Não havia música, Annie Lennox não começava a entoar seu Love song for a vampire e não existiam os olheiros. Só ele e ela. 212 | PRT


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—Olhe como está concentrada nele —cochichavam as vozes, satisfeitas por sua atitude. Alguém trouxe uma cadeira e todos aplaudiram de novo. E nesse preciso momento, Lion a puxou pela cintura e a subiu na cadeira. Achou que ia sentá-la sobre seus joelhos, mas nada disso. Queria pô-la a prova e expô-la diante de todos. A cadeira não era muito alta, mas o suficiente para que seus seios, agora mais livres e soltos dentro do espartilho, ficassem à altura do rosto de Lion. —Ninguém a tocará, a terá. Não tenha medo, preciosa. —Não, senhor —replicou hipnotizada. —Te exibo porque por trás de um grande amo sempre há uma grande submissa; e quero que todos vejam quão bonita é e o que nunca poderão ter. —Com suavidade e reverência baixou um pouco o espartilho e expôs seus seios brancos com seus mamilos rosados arrepiados pelo repentino frio e também por seu ardor interior— Deus… —Senhor? Lion abriu a boca, apertou os seios entre seus dedos e começou a morder os mamilos com força e depois com suavidade. A lambê-los e a sugá-los com uma fome desumana. Cleo abriu a boca para agarrar baforadas de ar. Seus joelhos tremeram sobre a cadeira. Não estava preparada para isso e, entretanto, estava. Era uma situação insólita e nova para ela. Levou as mãos à sua cabeça e o abraçou com força enquanto jogava o pescoço atrás, com seu cabelo comprido e vermelho meio preso, caindo em cascata por suas costas; como um tributo à canção de amor para um vampiro que soava naquele momento; uma imagem que era uma ode ao pecado e à libertinagem e que, pela beleza de sua estética, ficaria gravada para sempre na retina de todos os presentes naquele encontro clandestino. Depois dos aplausos e de tudo que provocou o número de Cleo e Lion, os presentes se dispersaram. Lion estava preocupado com Cleo. Agora já nem falava. Antes podia soltar comentários muito aduladores e falsos; mas depois do momento que esteve estimulando seus seios diante de todos, a jovem ficou calada e muito acalorada. Lion não permitiu que ninguém se aproximasse dela, tal e como tinha prometido. Podiam admirá-la de longe ou de perto, mas nunca, sob nenhuma circunstância, tocar. Ele era muito ciumento do que era seu e não compartilhava. Não como outros amos faziam.

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Havia homens e mulheres que adoravam ver seus companheiros desfrutar com outros, amavam o prazer que isso provocava; e Lion já parou de julgar o que era correto ou não. O prazer era prazer, fosse como fosse, e cada um o encontrava em diferentes formas. Mas ele não. —Você se incomoda que a olhem, lady Nala? —Deveria, senhor? —Não deveria — disse uma voz de mulher às suas costas, — se for o que deseja seu companheiro. Cleo e Lion giraram juntos. Lion inclinou a cabeça com um sorriso e Cleo fez o mesmo. Conhecia essa mulher. A viu nas fichas de consulta dos relatórios policiais. Era ela. Tratava-se de Sharon: a rainha das Aranhas; e a foto, para sua desgraça, não lhe fazia justiça. Usava um vestido de pedraria negra e uma máscara igual, da mesma cor. Seus olhos caramelo estavam pintados com Kohl escuro, de modo que inclusive parecia usar uma máscara sib a sua de pedraria. Era bonita, alta e atrativa. De lábios grossos e sedutores. Usava o cabelo loiro e encaracolado preso no alto de sua cabeça, e caía fazendo ondas graciosas sobre seus ombros. Mas, inquietantemente, não havia nada de gracioso em Sharon. Era uma mulher muito perigosa, fria e tão segura de si mesma que inclusive provocava respeito. Bela como um tigre, e agressiva como suas mandíbulas. Sharon sorriu para Lion com outra inclinação de cabeça e depois centrou toda sua beleza de gelo em Cleo. Cleo pensou automaticamente em Leslie; e o respeito que pudesse ter por essa beldade, evaporou como o gelo no fogo. Não sabiam até que ponto essa mulher, de não mais de trinta anos, estava envolvida com o tráfico de pessoas. Lion confiava que não estava, e opinava que só os Vilões sabiam o que se desenvolvia com o popper e os sequestros; por isso nunca se deixavam ver. —Será sua companheira no torneio, King? —perguntou Sharon, estudando-a com curiosidade. — É deliciosa. —Não sei, ainda — respondeu, deixando Cleo estática. A rainha das Aranhas não recebia os relatórios dos participantes finais até o dia do início do torneio. 214 | PRT


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Podia fazer uma investigação entre clubes para convidar os mais especializados de acordo com suas técnicas, mas não era ela quem decidia quem escolhiam e quem não. Isso passava pelos Vilões. Cleo apertou os punhos, mas baixou os olhos ao chão. —Ei, gracinha. — Sharon lhe elevou o queixo com delicadeza. —Meu senhor não deixa que ninguém me toque. — Respondeu Cleo com os olhos verdes claros e muito desafiantes. Muito para uma submissa. “Não me toque ou corto sua mão, porca”. Por que tinha tanta raiva dela? Talvez Sharon só fosse outra praticante de BDSM com outro tipo de classe superior dentro do mundinho, mas praticante apenas. Não obstante, conforme dizia o relatório, aquela noite a Rainha das Aranhas esteve no local onde se encontravam Leslie e Clint. Tinha algo a ver com a morte do amigo de Lion? E com o desaparecimento de sua irmã? Sharon arqueou as perfeitas sobrancelhas loiras por cima da máscara, e seus olhos caramelo a olharam com um respeito renovado. —Então seu amo não deixa que ninguém a toque, não é… Cleo olhou Lion de soslaio para ver qual era sua atitude. O grande cretino sorria divertido enquanto olhava a interação acontecendo entre elas. —Não — destacou sem medo. Ela riu e levou a mão a um compartimento que tinha no interior da saia. —Casualmente, Lady Nala, tenho algo por aqui que talvez a interesse. —Tirou um cartão vermelho, com um dragão enrolado em seu canto, onde se dizia: Está convidada ao segundo torneio de Dragões e Masmorras D/S. Se deseja assistir, registre-se no fórum de Dragões e Masmorras D/S e não hesite em contatar por mensagem particular com a Rainha das Aranhas. Ela facilitará isso tudo. —Se no final seu senhor não acabar a levando —dirigiu a Lion um olhar acusador. — eu adoraria vê-la nele. É um convite duplo. Pode trazer quem quiser para jogar. Cleo aceitou o cartão e o guardou provocativamente no interior do espartilho. —Não acredito que precise, mas obrigada… —Ama — destacou ela, desejando escutar o título dominante de seus lábios. Cleo não sabia se o dizia ou não. Odiava essa mulher, talvez injustificadamente, mas não lhe caía bem. Talvez pelo modo como olhava Lion, como se o conhecesse melhor que ela. 215 | PRT


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Ou, talvez, porque viu Leslie naquela noite que desapareceu e a deixou nas mãos de gente perigosa. Mas não queria dizer, sobretudo, porque ela, como submissa, só se entregava a Lion: só prometeu submissão a ele, a outros repelia. Certamente, haveria submissas que também obedeciam outros amos. Ela não. Cleo permaneceu calada, e um fulgor de interesse e atenção apareceu nas profundidades caramelo da dominante. —Tem a opção de vir sozinha também — explicou Sharon, — na categoria do que você quiser; mas, se não o fizer e no final aparecer com King — sorriu segura de si mesma e aproximou seu nariz arrebitado até quase roçar o de Cleo, — reze para encontrar os cofres e superar os duelos. Do contrário, se eu estiver no cenário, e acredite que estou em todos — destacou, — ensinarei você a me obedecer de verdade. E adorarei fazê-lo, garota rebelde. — Deu batidinhas no seu nariz com o indicador de modo carinhoso. Cleo sorriu com frieza. —Veremos. —Estava louca. Estava a desafiando diante dos presentes na sala e era consciente que havia muitos olhos pousados neles três. —Veremos. — piscou um dos olhos de modo coquete, pegou Lion pela mão e disse: — Tiro seu amo para dançar. Sabe que se mexe muito bem? Aposto que já sabe. Lion e Sharon desapareceram entre a multidão que se congregava para dançar uma balada que começava com as notas de um piano: Hush Hush Hush de Paula Cole e Peter Gabriel. Cleo, estupefata ao ver como Lion simplesmente saia com a Rainha das Aranhas para dançar, virou em busca de mais ponche. Sentia-se exposta e inquietantemente observada, e não só pelos homens e mulheres que a desejavam. Chocou-se com o peito de Prince. O amo olhava penetrantemente para Sharon e, curiosamente, Sharon era consciente de seu olhar negro sobre ela porque, de vez em quando, olhava para ele. Cleo franziu o cenho, vigiando um e outro. O que acontecia aí? —Sharon já pegou King em seu tecido de aranha —murmurou Prince. Parecia contrariado e desaprovava abertamente a atitude da loira. — Gostaria de ir ao balcão para tomar o ar? Cleo procurou Lion com os olhos… —Ele não pareceu se importar em deixá-la só no meio do mar de tubarões —disse o bonito e alto amo, — não tem por que se preocupar pelo que ele vá pensar. Já me disse que não posso tocar… Assim… Não o farei. 216 | PRT


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—Não estou segura disso —murmurou Cleo com atrevimento. Prince sorriu. —Não mordo, mas é melhor te retirar um pouco dos lobos. Sua performance na cadeira despertou o interesse de muitos amos que procuram mulheres como você. —Sério? —Olhou por cima do ombro— E como sou eu? —Especial. Bela. Única e entregue. Ele a via assim de verdade ou era uma mentira para levá-la ao balcão e dar em cima dela? Prince era como um príncipe, tal e como seu apelido de amo indicava: atraente, galante, cavalheiresco e com um porte distinto. E era bonito, muito bonito. Mas havia algo escuro e perigoso por trás de sua máscara e de seus olhos negros como a noite. —Obrigada. Mas acredito que não olhou bem. — Claro que não. Ela se deixou ir porque era o cretino do Lion quem a segurava. Do contrário, nunca faria isso… —OH, não acredito, belle. Vejo o que há. E agora o que há é que tem algumas hienas ao seu redor. King se foi com Sharon, sem se importar com esse detalhe. Está te provando? Estava? O procurou entre a multidão mascarada. Não o viu. —É uma novata. Nota-se a léguas. Deixe-me te escoltar enquanto seu amo não o faz. Sim. Prince tinha razão. Mas se equivocava numa coisa: não importava que Lion estivesse com a loira louva-a-deus. E para demonstrar a ele e a si mesma, aceitou tomar o braço que príncipe oferecia e saiu com ele da sala. —Faz muito tempo que você e King estão juntos? Cleo bebeu ponche. Melhor beber que falar. Prince estava apoiado no corrimão de ferro preto e observava o lugar aos seus pés. As pessoas iam e vinham, as luzes do Bairro Francês iluminavam seus rostos ébrios e alegres, necessitados de autêntica diversão, desejosos de algo mais que não encontravam. O rosto de Prince recortado pela luz da lua era digno de um retrato bucólico e sedutor. —Não vai me responder? —Na realidade, não falo com ninguém da minha relação com King. —Há uma relação sentimental no meio? —Não acredito que isso deva te importar. Prince girou para ela, sorrindo assombrado. 217 | PRT


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—É uma submissa muito mal educada. —Não sou uma escrava. Somente respondo a King. Não quero provar nada mais. Os olhos azeviches de Prince brilharam com animosidade por alguma lembrança não muito passada, e também com desejo de ouvir de outra boca essas mesmas palavras para si mesmo. —Isso é algo que nunca importou para King a respeito de outras mulheres. Não importava que já estivessem vinculadas a outro amo; não importava que não se devessem tocar. Não importava nada… Cleo parou de beber seu ponche, que, por certo, estava delicioso. Teve vontade de tirar a máscara e agarrar Prince pela gravata borboleta para sacudi-lo e que explicasse tudo. Estava falando de Lion e sua relação com outras mulheres? Com alguma que importou além da conta para Prince? Do que falava? —Quer falar sobre meu amo? — perguntou recordando que devia se comportar como uma submissa exemplar. —Só te advirto. Gosto de você; e se não tem sentimentos por ele, sempre poderia provar comigo mais adiante. Sou um amo muito carinhoso. —Acha que King não é? — “Era até que decidiu me deixar louca, me embebedar, me levar para cama e dizer muitíssimas tolices românticas para, no dia seguinte, quebrar meu coração sem titubear”. —King não respeita nada nem ninguém. “Não me diga”. —Não tem sentimentos. — continuou Prince. “Sério? Não tinha me dado conta”. —Assim não espere que se apaixone por você e te prometa fidelidade, porque não sabe o que é isso —espetou com acidez. — Talvez um dia veja a mulher de outro homem, uma mulher apaixonada, e decida aceitar o desafio de levá-la para cama. E King é muito persuasivo: consegue tudo que se propõe, por mais impossível que seja. Cleo olhou para o outro lado, para um grupo de garotos que aclamavam e assobiavam para um grupo de garotas. Assim Prince teve uma mulher que amou muito e King a roubou… A isso se referia? —Em todo caso, Prince, King pode fazer isso porque é um homem livre, amoral, mas livre — assinalou enojada. —Não obstante, se houver alguém a quem se deva culpar nesse caso que está me expondo é a mulher, a única que tinha um compromisso real com outra pessoa. 218 | PRT


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—Suponho que tem razão, mas queria te advertir sobre o perigo de sair com o rei da selva: no final, todos os animais se dobram perante sua lei. Prince apertou o copo de ponche e, controlando o tremor de sua mão, deixou-o numa mesinha do terraço. Observou Cleo e ela o olhou por sua vez por cima do ombro. —Obrigada por sua… advertência — agradeceu Cleo. Achava que a conversa ficasse por ali, mas não foi assim. —Senhorita —Prince se inclinou como um príncipe de verdade, — permite-me esta dança? Cleo franziu o cenho. Esse homem não desistia. E olhando bem, por que não? Lion estava dançando com a Mulher Aranha em algum lugar daquela sala. A deixou sozinha; e embora pretendesse fazê-la forte, sentia-se ultrajada. Podia dançar. Gostava de dançar. Claro que sim. Dançaria com Prince; e ao demônio com as consequências. —Com muito prazer, Prince —fez uma reverência feminina. Prince sorriu, rodeado de escuridão, como o príncipe das trevas que lutava para alcançar um pouco dessa luz que acabaria com sua tortura. Cleo tomou sua mão e Prince a atraiu a seu corpo. “A América gera uns homens enormes e grandes”, pensou enquanto jogava o pescoço para trás para o olhar nos olhos. Ele a rodeou pela cintura com um braço enquanto tomava a mão com a outra. Moveram-se ao ritmo de Crush, de David Archuletta. Não era exatamente uma balada; mas isso às pessoas do salão não importava. Era uma desculpa perfeita para se roçar e procurar consolo uns nos braços dos outros. Para se roçar, acariciar e continuar jogando. Às vezes se escutava o som de um chicote ou de um açoitador ao fazer contato com o corpo de algum presente, em seguida gemidos e risadas. Cleo permanecia enfeitiçada pela variedade de sons desse lugar. Todos excitantes. — Do you ever think when youre all alone —cantarolou Prince no ouvido do Cleo com voz bonita e melódica—… All that we can be, where this thing can go? Am I crazy or falling in love? Is it really just another crush. 219 | PRT


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Quando Cleo escutou sua voz, o imaginou cantando nu no balcão de seu castelo, com seus morcegos voando ao seu redor e lobos brancos aos seus pés, encantando à lua com sua beleza e sua incrível voz… E soube, sem medo de se equivocar, que Prince tinha o coração quebrado. Como ela. —Sinto muito, Prince —disse Cleo, descobrindo um pouco de si mesma pela sinceridade refletida no olhar atormentado do Prince. — Sinto que o magoaram — “E que fosse King quem provocou isso”. Ele ficou tenso e afundou os dedos na cintura de Cleo para transmitir força, ou possivelmente para receber a dela. —Também sinto por você. — Reconheceu se inclinando sobre seu ouvido, dando voltas com ela sobre seu próprio eixo, dançando como se fossem um casal que fizesse confidências. —E também sinto por ela — disse a voz cortante de Sharon às suas costas. Cleo se virou, sobressaltada pela interrupção e frieza de suas palavras. Lion estava atrás de Sharon, a olhando com reprovação. Cleo não soltou Prince e ele não a soltou: como se tivessem um acordo em desafiar àquele outro casal poderoso. A rainha das Aranhas e o rei da Selva. Incrível casal que faziam ambos e, mesmo assim, os separava um mundo, pensou Cleo. Sharon se apoiou na porta do balcão fingindo diversão pelo que via. Embora seus olhos marrons claros, que analisavam Prince, descobriam um despeito intrínseco. Lion não se divertia. Absolutamente. Seus olhos índigos destilavam raiva e decepção por todos os lados. Prince olhava de esguelha para Sharon e mantinha a mão de Cleo enlaçada com a dele. —Pensei que King te disse que ninguém podia te tocar, Nala. —Sharon elevou o indicador e o moveu de um lado ao outro, fazendo uma negação e rindo da situação. — Não, não, não… Garota má. Não pode desobedecer seu amo em público, acaso King não ensinou isso? —Sharon. —Lion a calou em só pronunciar seu nome, sem afastar sua atenção de Cleo— Cl… Lady Nala, venha aqui agora mesmo. Um calafrio percorria a coluna vertebral de Cleo. —Fiz algo errado, senhor? — perguntou Cleo candidamente, soltando a mão de Prince. 220 | PRT


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—Se está me perguntando isso —Lion falou entredentes e deu três passos até agarrar Cleo pelo antebraço e afastá-la da proximidade de Prince com um puxão, — é por que temos um problema. —Não seja muito duro comigo, senhor. Talvez não tenha me explicado bem as coisas, embora certamente fui que não entendi bem, porque você é perfeito… Amo. —Cleo fez uma careta, rindo dele diante de Sharon e Prince. A Rainha das Aranhas abriu a boca surpresa, estupefata pela ousadia daquela garota. —Meu Deus… Ou está louca ou adora que a surrem. —sussurrou Sharon pasma. Prince escondeu uma gargalhada e isso fez Sharon franzir o cenho e se concentrar nele, como se nunca o tivesse visto rir. Um músculo palpitava no queixo de Lion; ou vários. Cleo não se importava. Adorava deixá-lo louco e fazê-lo se irritar. Quem acreditava que era? Lion, King, como se chamasse… Não era o homem que acreditava. Se podia se meter na cama de outros casais e destrui-los; se podia foder sem sentimentos; se não se importava em machucá-la como fez naquela tarde… E não se importava em começar a dançar com a Rainha das Aranhas, a deixando só num salão lotado de amos desejosos de fincar o dente nela; então, desaprová-lo, enfurecê-lo, desafiá-lo ou não… Já não importava. Porque não importava para ele. Estava cansada. E a única coisa que queria era se meter já no torneio, pegar Leslie e acabar com essa loucura. E não voltar jamais a ver esse homem vestido de preto com máscara branca. Não o veria mais se quisesse continuar lúcida. O aguentaria esses dias e depois ponto final. Prince se pôs a rir e se separou do terraço, roçando o braço de Sharon. Esta o retirou de repente, como se o contato a queimasse. Prince a olhou de soslaio, de cima abaixo, e ela, indiferente, olhou à frente, o ignorando enquanto esfregava a área que se roçaram. —Não seja muito duro com ela, King. Esta sim, vale a pena — murmurou Prince. Sharon ficou tensa por aquelas palavras e inclinou o rosto de lado, esperando que o príncipe desaparecesse. —Vá à merda, Prince —grunhiu Lion com voz rouca, sem parar de olhar Cleo. — Escolha. —Escolha o que, senhor? —replicou Cleo se aproximando de Lion e tocando a gravata borboleta. Era genial atuar assim. Nada era verdade; podia ser tão má como quisesse. —Onde quer que te castigue? Aqui, diante de todos, ou em outro lugar? 221 | PRT


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—Mas vai me castigar, senhor? Por dançar uma só vez com Prince? —deslizou o indicador pelo pescoço abotoado de sua camisa. —Não tem nem ideia, querida —sussurrou Lion como um animal ferido. — Nem ideia! Essas palavras fizeram cambalear um pouco seu atrevimento, mas já tinha se jogado de cabeça. Essa era Cleo fingindo ser submissa e disciplente. Se a queria assim nesses dias, assim a teria. —Então, senhor, se for seu desejo me castigar, faça-o aqui: diante de todos. —O desafiou, mantendo a pose. — Não há nada a esconder, verdade? Lion se afastou como se lhe tivesse dado uma bofetada. Ela entrecerrou os olhos. Ele deteve a mão que mexia no botão da gola de sua camisa. —Esse é seu desejo, Nala? “Nala? Nala?! Quem droga era Nala?! Sou Cleo!”, quis gritar Cleo. Ninguém sabia quem era. Ela não era ela. Não era Cleo Connelly, porque Cleo não era desse tipo de mulher. E, definitivamente, Lion não era o menino a quem ela puxava as orelhas quando crianças. Este homem, perigoso e nocivo para sua saúde emocional, era um desconhecido, um amo e soberano, mas só dele mesmo; dela não seria jamais. —Sim, senhor. Esse é meu desejo. Faça aqui. Levante minha saia e me açoite. Vamos, estou desejando. Lion sorriu cinicamente e a desdenhou. —Que pena que não me importe com o que deseja agora. Ainda mais quando me desiludiu deste modo. Terá seu castigo. —Puxou-a e a afastou do terraço, se afastando da Rainha. — Mas não aqui. Esta sorriu gelidamente e se despediu com a mão.

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Capítulo 16

No BDSM há amos bons e amos maus. Como na vida há pessoas baunilha boas e pessoas baunilha más. Uma mulher deveria saber identificar imediatamente quem é um amo real e honesto e quem não é pelo modo como a acaricia com o chicote. Se golpear e ferir repetidas vezes e fizer que se sinta inseguro/a, afaste-se.

O Jipe corria e derrapava pela estrada. Cleo olhava à frente. Não temia a velocidade, nunca teve medo de correr. Mas correria com Lion essa noite e assumiria os riscos de provocar o animal mais selvagem de todos. Lion apertava tanto a mandíbula que ia parti-la. Chegaram em sua casa em vinte minutos; e assim que estacionaram, abriu a porta como um cavalheiro, mas a tirou do carro como um pirata. —Para o jardim, Cleo. —Ordenou, a puxando e a levando quase a tropeções. —Claro, senhor — cantarolou motivada pela excitação, a raiva e a adrenalina. Lion não podia acreditar. Cleo dançou com Prince, enquanto este se esfregava em sua orelha. Prince e ele não se davam nada bem por algo que aconteceu no passado. E agora o amo queria devolver jogando com sua Cleo. Nem pensar. Não ia deixar. E Cleo… Cleo estava brincando com fogo. O que pensava que estava insinuando quando disse diante de todos que era dele e que ninguém podia tocá-la? Achou que ela tinha compreendido. Mas ao encontrá-la nos braços de Prince, se deu conta que Cleo só compreendia o que lhe convinha. Não sabia jogar com ele. Não sabia obedecê-lo. Não queria fazê-lo feliz. Não entendia que ele não queria machucá-la jamais e que os castigos que gostava eram os que implicavam jogos sexuais, não lições de comportamento. Mas ela estava pedindo a gritos. 223 | PRT


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Pedia a gritos um corpo a corpo. Deixou-a sob a pacobeira do jardim. —Quer que joguemos duro, Cleo? — perguntou atormentado e assustado por suas emoções. —Quero te agradar, senhor —murmurou docemente, levando sua interpretação até suas últimas consequências. —De verdade?! —gritou na sua cara. Cleo se afastou levemente; o suficiente para se recompor e piscar pelo impacto. —Como pode jogar comigo assim quando tínhamos a Rainha das Aranhas conosco? Se deu conta que não lhe pode dar nenhum tipo de poder? Por que acha que a Rainha vai nestes lugares? Porque quer conhecer os casais, averiguar os pontos fracos dos outros e logo desafiá-los e jogar com eles! Gosta de levá-los ao limite! Ela é… Ela se dá conta de tudo, é muito inteligente… Para Sharon não se pode dar liberdade, Cleo! Em que merda estava pensando? Cleo teve a decência de ruborizar e calar. Não pensou nisso. Quando viu Sharon, a única coisa que lhe veio à mente foi um tecido de aranha e Leslie capturada em suas redes. E depois, a viu como uma louva-a-deus quando tirou Lion para dançar. Lion nunca dançou com ela. Não sabia como dançava. Mas Sharon se encarregou de assegurar que o fazia muito bem. Vadia. Vagabunda! —Conhece muito bem Sharon, senhor — respondeu ela, observando como Lion trabalhava passando a corda pelo arnês do ramo da árvore. Quando o colocou ali? Claro, esquecia que Lion fazia de seu jardim chill out, uma masmorra de dominação e submissão. — Prince também acha. —Prince é um imbecil, Cleo! —gritou ele. — E você idiota por acreditar no que diz. Esse homem não veria a verdade nem que ela chutasse seu traseiro. Está cego… —Ele pensa mais ou menos o mesmo de você, embora algo pior. —E acredita nele? —Eu tampouco penso muito bem de você, senhor. —Acreditou —grunhiu decepcionado.— Acha de verdade que saio me metendo em camas alheias… Incrível. Talvez tenha gostos diferentes quanto ao sexo, mas não sou desse tipo de homem, Cleo. —Ah não? 224 | PRT


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Lion afundou os ombros, de costas para ela. Não podia ser que Cleo pensasse que era tão filho da puta. Agiu mal com ela essa tarde; e agora estava pagando as consequências. Puxou os extremos das cordas para assegurar sua sujeição. Olhou-a e disse com dureza: —Venha aqui. Cleo não voltaria atrás. Deu um passo e se colocou onde ele pedia. Lion a despiu até deixá-la com calcinha, meias e ligas. Elevou-lhe os braços por cima da cabeça até amarrar seus pulsos com a corda. —Tem medo? — ele perguntou tentando se tranquilizar. —Não me dá medo, Lion. Você é responsável por seus atos, senhor. E aceitei participar disto com você. Não penso em voltar atrás. Se a domesticação tiver que ser assim, que assim seja. —Acha…? —Inalou, apertando os dentes, como se não acreditasse na sua atitude. — Acredita de verdade que poderia machucá-la? “Já me machucou, Lion”, reconheceu a ponto de desanimar. Sabia que ele nunca a machucaria fisicamente. O que ia fazer com ela só seria uma estimulação para logo submetê-la ao prazer. Os açoites sexuais não lhe davam medo. Não respondeu e ficou calada, ambos se medindo com os olhos. —Odeia Prince, mas me levou ao seu local para ver se o escolhia como amo. Me ofereceu a ele no princípio — o recordou ferida. — E agora fica assim porque dancei com ele? Lion prendeu seus pulsos com a corda, sem sujeitá-la nem apertá-la muito forte, para se assegurar que a circulação corria perfeitamente. —Fico assim porque expôs suas emoções diante de bastantes pessoas que talvez nos encontremos no torneio. Fico assim — repetiu puxando a corda com a polia e elevando-a dois palmos por cima da grama. — porque colocou em risco nossa missão. Sabe quantas pessoas agora vão querer nos desafiar ou me eliminar para ficar com você? Os amos procuram submissas, compreende? Sharon saberá como dirigir os duelos e desfrutará nos pondo em situações comprometedoras. Eu não poderei te proteger com tantas frentes abertas, não entende? E nosso objetivo é chegar à final, Cleo. Tratava-se de dar uma imagem de unidade e não de constante desafio. Você fodeu isso, Cleo. Sou o amo mais forte. E irão todos atrás de nós — se lamentou. Cleo assumiu sua parte de culpa. Lion tinha razão: as emoções fugiram do seu controle. Ele podia fingir e agir porque não sentia nada por ela; mas ela não podia se comportar assim, como se não acontecesse nada. Doía-lhe seu rechaço. 225 | PRT


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A feriu vê-lo dançar com Sharon. E o pior: adoecia, se pensasse nele compartilhando leito e jogos com ela, uma mulher do mundo BDSM que era um membro importante em Dragões e Masmorras DS e que podia estar relacionada com o desaparecimento de Leslie e a morte de Clint. —Transou com Sharon? — perguntou de repente, com voz monótona, sem pensar sequer. —Sharon está no BDSM há anos. É uma dominante importante, Cleo. E é uma atração para o torneio, por isso está lá como Rainha das Aranhas —explicou cansado. —Não me respondeu. —Não merece minha resposta depois do que me fez esta noite. — replicou seco. Cleo mordeu o lábio inferior, retendo suas palavras, mas não pôde. —Sharon pode estar envolta no desaparecimento de Leslie! —gritou perdendo a calma, pendurada na corda. —Ela não tem nada a ver com isso — respondeu sinceramente. — Dancei com ela para perguntar por sua visita a Nova Iorque no local onde estiveram Leslie e Clint aquela noite. Sharon jogou com os jogadores, mas esteve somente uma hora com eles. Chegou, jogou e se foi antes que Clint e Leslie entrassem em cena. —Como sabe?! Por que acredita nela?! Por que a defende?! —Porque Sharon não é uma sádica, Cleo. Ela pode ser uma mulher dura e fria, mas não é uma fodida psicopata assassina. A usam para um fim, como quase todos outros. E nosso trabalho é averiguar quem é consciente do que estão fazendo com alguns submissos e quem não. Devemos encontrar a maçã podre. Mas temos que fazê-lo com dissimulação, porra, não na base de numerozinhos e chamando a atenção como esta noite. Numerozinhos? Aquilo era o cúmulo! —Você me tirou arrastada da mansão! Devia me esclarecer o que queria de mim e como devia me comportar! É o agente no comando e tem que me avisar dessas coisas, Romano! Devia ter me dado o motivo pelo qual fomos a essa maldita festa! —Por sua disciplina —respondeu nervoso. —Não! Não é verdade! Devia ter me dito que queria se encontrar com a Rainha, que ela iria a essa última festa antes do torneio! E não fez isso! —Não o fiz porque não sabe se controlar, Cleo! Sei o que pensa de Sharon! Quer vê-la como uma vilã! Mas não pode se confundir e não posso me arriscar a que ponha tudo a perder com seu temperamento! Estou há um ano metido no jogo, Cleo. Sei o que há! Sei que não tem nem uma 226 | PRT


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puta ideia do que acontece! Por isso estamos infiltrados, para ver perfis e investigar coisas, Cleo! — exclamou a segurando pela cintura e sacudindo-a— Por isso não te disse nada! —Mentiu para mim! Mentiroso! —A festa não importava. Que conhecesse intimamente ou não à Rainha não importava. Mentiu para ela. A usou, transou com ela… Toda sua raiva vinha daí. Cleo apertou os lábios e, de repente, necessitou que ele a castigasse. Precisava se concentrar em algo que a estimulasse, em algo que a acalmasse e tirasse toda a fúria que envolvia seus sentidos. Lion a estava deixando louca. E Lion tinha razão em muitas coisas, em outras não. Necessitavam do torneio. Precisavam se concentrar na missão. Não podiam passar mais tempo juntos desse modo, porque um dos dois acabaria muito mal. E Cleo tinha todos os números. Lion tirou a camisa e a gravata, e se descalçou, ficando somente de calça preta e com a máscara branca em seu rosto. —Não volte a me chamar de mentiroso — pediu educadamente, enquanto a fazia rodar na corda. Cleo sorriu, girando completamente. —Por que não?! Mentiu para mim! — gritou dando giros. —Estamos falando da Rainha ou de outra coisa, Cleo? —Deteve-a pelos quadris nus. —Se tenho que explicar, senhor, é por que não estava atento. —Jogou na cara dele suas próprias palavras. — Venha, me bata, Lion! Está desejando! —Provocou-o. Lion passou a mão pela cabeça raspada. Cleo não tinha nem ideia do que ele queria fazer com ela. A dor não tinha nada a ver. O que queria era possui-la e deixá-la perdida para os outros. Marcá-la até que Prince e o mundo inteiro soubessem que Cleo pertencia a ele. Que estava com ele e que a reclamaria depois do torneio; não antes nem durante. Correu à sala, abriu o armário branco ao lado da televisão e pegou o rolo de fita isolante prateada. Se Cleo continuasse destrambelhando, os vizinhos a ouviriam; e ele não era imune às suas palavras. O afetavam. Saiu de novo e se colocou na frente dela. Cortou um pedaço de fita.

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—Vai me colocar isso porque não quer que me ouçam gritar, senhor? —disse com malícia. — Pode me bater tão forte quanto quiser. Quanto mais forte, melhor para você, verdade? Sei que as carícias e a ternura o aborrecem; e não queremos que fique adormecido no meio de um castigo. Deus não permita… —Dramatizou acertando onde mais doía. —Não… Não é verdade. — replicou ofendido. — Repito que nunca a machucarei. Não bato, não golpeio, não marco mulheres, Cleo. Não me confunda com um desses —pediu se sentindo culpado pelas acusações da jovem. — Mas não quero continuar escutando como me insulta. Se puser a fita não poderá dizer a palavra de segurança; mas te darei isto… —Antes morro, que dizê-la e deixar que ganhe. Não tema por mim… —Temo por você e por mim. Pelos dois, Cleo. Isto não é um jogo, não é uma competição entre você e eu. —Pôs uma bola de borracha vermelha, que tirou da bolsa, entre as mãos úmidas e frias. As dele estavam iguais. — Se a soltar no chão, paro o castigo e a desatarei. Aceitou ser minha submissa por este tempo. Isto implica ser. —Assinalou a árvore e seu corpo nu. — Não te farei mal, prometo isso… Somente o justo para que pique, arda e você goste. Mas não gozará. Os castigos implicam submissão; e muitos não merecem orgasmos. —Acha que me importa? Tenha claro uma coisa: estou aqui não porque me obriga, não porque seja meu tutor… Se fiz algo mau de verdade, assumirei o castigo porque está me treinando; mas o farei porque quero assim, não porque o agrade. Ninguém vai me obrigar nunca a receber algo que não quero receber. —Essa é a base do DS. Alegra-me ver que entende, por fim. Devo supor que deseja as palmadas? —Você não pode me machucar, Lion. E suas flagelações são inofensivas. Assim faça de uma vez e pare de me dar explicações. Venha! — gritou angustiada. Lion afundou os ombros e cravou o olhar atormentado no chão. —Não. Talvez não me entenda… —Não. Não te entendo. E não me interessa fazê-lo. Não mais —desfrutou do efeito que tiveram essas duas últimas palavras em sua pose. — Então, como o senhor desejar. —Aproximou o rosto da fita. — Cubra minha boca; assim não terá que escutar sua consciência falar sobre o porco e cruel que foi comigo, agente Romano. Estou preparada. Marque-me de verdade! Lion sacudiu a cabeça e cobriu seus lábios com a fita. Deu um passo atrás. Verificou se as cordas estavam bem presas e que não feriam sua pele. Cuidou que a fita não se enredasse em nenhum cabelo. Como podia Cleo pensar que a açoitaria com força e crueldade? Um amo de verdade nunca machucaria de propósito sua mulher. Nunca. Seus açoites eram destinados a motivar e exercitar. 228 | PRT


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Não ferir. Sua dominação e sua submissão não tinham inclinações sadomasoquistas. Nem as teria jamais. Com a fita prateada, a máscara vermelha, a calcinha e as ligas, pendurada como se se sacrificasse como uma oferenda aos deuses, era a mulher mais linda e cativante que jamais viu. Escravizava-o. Lion teve vontade de de ficar de joelhos diante dela e entregar o chicote e o flogger. Tudo. Suas mãos tremiam, o peito doía e o coração ameaçava sair pela boca. Exalou e, se obrigando a se acalmar, disse: —Preciso me acalmar. Não dou castigos quando estou zangado —esfregou o rosto com as mãos. — Me dê cinco minutos. Volto logo. Lion saiu do jardim e da casa até sentar no alpendre dianteiro. Forçando-se a sossegar, segurou a cabeça com ambas as mãos e apoiou os cotovelos em seus joelhos. Lamentava o que estava acontecendo entre eles. Tudo estava fugindo do controle. Quando aceitou tomar o caso e depois trabalhar com Cleo imaginou as coisas de outro modo. Imaginou Cleo rindo e se divertindo com ele, a introduzindo no mundo da domesticação de maneira amável, não assim. E não era assim porque, no final, tudo que sentia por ela explodiu em seus narizes. Como na noite anterior. E ela se sentia usada e ultrajada. E com razão. Se acalmaria, falaria com ela o melhor que pudesse, tentaria acalmá-la e dizer a verdade de por que decidiu ser amo e instrui-la. E depois de tudo, só Cleo decidiria. Precisava caminhar. Daria uma volta pela quadra e retornaria. Nunca poria a mão em cima de Cleo se estivesse zangado. Tinha princípios e o educaram bem.

Cleo balançava de um lado para o outro da árvore. Lion acabava de deixá-la sozinha, atada e amordaçada num dos ramos de sua pacobeira. 229 | PRT


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Chorava em silêncio. As lágrimas deslizavam por sua máscara e suas bochechas úmidas. Isso era o que acontecia quando sentia algo por alguém e não era correspondida do mesmo modo: aconteciam confrontos. Mas tinha direito a um chilique. Lion agiu muito mal. Ele não sabia o que ela descobriu: o amava. Disse isso na noite anterior; mas ele não lembrava de nada, o grande desgraçado. Um ruído ao lado da casinha dos instrumentos e da máquina de lavar roupa chamou sua atenção. “Aí estão os gatos outra vez”, pensou… Mas um dos painéis do muro de madeira maciço se moveu e abriu de baixo para cima por completo. Através do oco do painel apareceu um homem loiro, vestido de gala, com uma máscara azul e um sorriso nos lábios bonitos e sem alma. Cleo abriu os olhos de par em par; não podia acreditar no que estava vendo. Balançou na corda de lado a lado. Era Billy Bob, cara de anjo. Alto, forte, musculoso, bonito, livre, malvado e doente. Esteve na festa; por isso tinha a sensação que alguém a vigiava; por isso ele usava máscara. E não era a primeira vez que entrava em sua casa, porque esse era um dos painéis que não se fixava bem. Cleo acreditou que foi pela intrusão dos gatos, já que havia sulcos no chão, como buracos escavados, mas o único gato malvado que entrou em seu jardim foi Billy Bob. E tinha vontade de se vingar. —Veja… Veja —murmurou com voz doce. — Vadia Connelly, nunca teria imaginado que gostava destas coisas. —Se aproximou e arrancou a máscara de repente. — Me meteu na prisão por algo assim! —Caminhou ao redor dela. “Uma merda. Isto não tem nada a ver com o que você faz. Você bate, submete e desonra. É um espancador vinte e quatro horas do dia. É um doente cruel”. —Passei um ano na prisão por sua culpa, sabe? “Não, filho da cadela sádico, passou um ano na prisão porque gostava de acariciar sua mulher com o punho e os dentes. Porque partiu a maçã do rosto dela e por pouco não a deixa cega de um olho. Porque a violentava cada noite e a espancava, e batia tão forte que fez que abortasse três vezes. Por isso”. Passou-lhe a mão pelas nádegas nuas. Cleo fechou os olhos. A estava tocando e sentia repugnância por ele. 230 | PRT


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Moveu o corpo para um lado se retirando de seu toque; mas Billy Bob pôs uma mão no seu quadril e a deteve, para logo lhe dar um golpe em toda a nádega com a mão aberta. Cleo abriu os olhos e tomou ar a torrentes. Por Deus bendito! Como doía! A bola de borracha vermelha que lhe deu Lion caiu de suas mãos… —Isto é o que gosta? É o que as mulheres gostam, não? Não servem para outra coisa. — Beliscou seu traseiro com força, cravando as unhas, provocando feridas na pele. Cleo gritou pela dor, dor de verdade, mas ninguém podia ouvi-la. Tinha a boca tampada com fita isolante. —Por isso, porque gostava, minha mulher decidiu retirar a denúncia que você a obrigou a fazer. Mas quis te fazer uma visita antes de ir vê-la de novo. Deu-lhe um murro com força na altura dos rins. “Filho da puta!”. Saltaram lágrimas de Cleo pela impotência e dor. Billy Bob parou de torturá-la e se concentrou no barraco. “Deus, não”. Ali Lion guardava os floggers, os chicotes e os brinquedos… “Lion, por favor, volte!”, gritava agonizando de medo e dor. Billy Bob saiu do barraco com a bolsa na mão. Quantas vezes esteve ali desde que o soltaram? Sabia onde estava tudo. —Na outra noite os vi dormindo juntos — murmurou tirando um chicote, o observando com malícia e lascívia. —Ouvi o que diziam… Também dizia para minha mulher que a amava, por isso fazíamos as pazes. Mas logo… Me fazia zangar e tinha que ensinar quem mandava. —Acariciou a ponta do chicote. — Como esse cara faz com você. “Então essa era a diferença”. Billy Bob olhava esses objetos como um meio para fazer mal, machucar de verdade, submeter e assustar. “Não compare Lion com você, demente. Ele não faz mal às mulheres. Você sim. Ele não maltrata gratuitamente. Você sim. Nunca abusaria de mim. Você o fazia com sua mulher”. A diferença entre que algo desse tipo de instrumentos caísse em mãos equivocadas ou não, era a dor que poderiam chegar a infligir e a força com que se utilizavam. E doía. Doía muito; porque Billy Bob não poupava em nada. Odiava Cleo por afastá-lo de sua mulher, mas, sobretudo, porque, sendo mulher, pôde submetê-lo e colocá-lo no cárcere, e um homem como ele não podia permitir isso. E agora queria demonstrar quem mandava, tal e como ele dizia. 231 | PRT


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O espancador elevou o braço e a açoitou repetidas vezes com o chicote, na frente e por trás, cortando sua pele, a rasgando e enchendo de marcas e hematomas. A machucando com aversão e consciência. Mas era um espancador: e isso era o que faziam os espancadores sádicos. —Dói? Chora muito, puta. Com ele não chora. “Lion! Lion! Por favor…!”. A dor e a queimação insuportável fizeram que urinasse. Mas então tudo parou. Parou de escutar as palavras, os insultos, os menosprezos… E só escutou os gritos de Billy, se retratando e chorando sob os punhos inclementes de Lion. A posição tinha mudado. E também escutou outro pranto. O da raiva de Lion.

Lion não parava de golpear Billy na cara. Não entendia por onde esse cara entrou, não sabia nem quem era… Mas estava na festa, o grande safado. Os teria seguido? Não compreendia como tinha um chicote na mão e estava açoitando daquela maneira sua Cleo. Viu tudo vermelho e o bom senso foi à deriva. Há um ano, Cleo foi reprovada na última entrevista com o senhor Stewart porque foi sincera e honesta como ela era, e admitiu que se encontrasse cara a cara com alguém que matou ou feriu uma pessoa próxima a ela, certamente, tomaria a justiça por sua mão. Pois ele a ia tomar nesse momento; e que tudo fosse à merda. —Toma, filho da putaaaaa! —gritava o sacudindo, acertando-o no rosto e na maçã do rosto, partindo qualquer osso que esse desgraçado de rosto atrativo e amável usasse para enganar os outros. — Me bata, sacana! Bata em mim! Em alguém do seu tamanho, não numa mulher! — Partiu seu lábio, quebrou seu nariz… Destroçou seu rosto. Usou-o como saco de boxe até que ficou inerte no chão. Inconsciente e desfeito, arrebentado por dentro e por fora; mas infelizmente vivo. Não. Nem pensar. Um cara assim não podia continuar vivendo. Que merda fazia nesse mundo? Para que tinha vindo? Para fazer mal?

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Billy sangrava por todos os lados, inclusive pelos olhos. Deixou-o irreconhecível, como bucha de canhão. Pelo menos não podia enganar ninguém mais. Monstro por dentro. Monstro por fora. Queria o asfixiar e matá-lo com suas próprias mãos. Levou suas mãos ao pescoço dele. Billy Bob não oporia resistência… E então, entre a bruma da inconsciência e da ira, entre a névoa imprecisa de alguém que tomava a justiça por suas próprias mãos, escutou os gritos e o pranto dilacerador de Cleo. Lion levantou a cabeça e a olhou. A bola de borracha vermelha estava aos seus pés, tristemente abandonada como ele a deixou. Cleo o estava chamando, pendurada da árvore onde ele, inconsequente e irresponsavelmente, a tinha elevado. Seu corpo tremia pelo impacto do vivido. As marcas que tinha nas coxas, no estômago e no peito o estavam destroçando. Lion levantou e deu um chute na cabeça do destroçado que caiu no chão e, depois disso, se dirigiu à ela. Chorava como uma criança enquanto se amaldiçoava ao vê-la assim, por sua culpa. Por sua maldita culpa. “Não é sua culpa, Lion. Foi uma fatalidade, um acidente… gente má há em todas as partes…”, dizia Cleo com seu olhar. Negava com a cabeça e chorava, estremecendo, desejando que a tirasse dali. “Não o mate. Não o mate, Lion…”. Lion tinha os punhos abertos e sangrentos, o torso suarento pela adrenalina e o rosto belo e viril encharcado de lágrimas. Se forçou a manter a calma, mas era impossível. As mãos tremiam muito mais que quando saiu dali. —Espere, querida—murmurou com doçura. —Eu a desço. Cleo fechou os olhos e assentiu. Não podia parar de tremer. Quando Lion a segurou, ela gemeu pela dor. Havia áreas do corpo que não podia tocar. O chicote fez sua função e a deixou muito vermelha e inflamada, algumas até com sangue. —Chist… Sei que dói. —Retirou a fita da boca com suavidade para não machucá-la mais. Desenganchou-a e imediatamente a tomou nos braços, com ternura e cuidado. —Tudo bem, querida... Tudo bem… Cleo… Deussss! —gritou com as veias do pescoço inchadas. — Foi minha culpa. — Acariciou-lhe o rosto pálido. 233 | PRT


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—N-não —Cleo tiritava e gaguejava. — N-não foi sua culpa… Lion sentou com ela nos braços num dos degraus da escada. Retirou sua franja do rosto, dando beijos por todo o rosto… Abraçando-a. —Me perdoe, me perdoe… —repetia. — Nunca se deve deixar ninguém assim, e menos sem poder falar. Não pensei… Eu estava aqui —assinalou o alpendre dianteiro, enquanto falava atropeladamente, beijando-a nas bochechas. — Só caminhei até a esquina e escutei um som de chicote e… Mas quem… ? Quem era esse? Cleo negou com a cabeça e se aconchegou contra seu corpo, com as pupilas dilatadas e em estado de choque. —Tenho frio… — murmurou abraçando a si mesma. —Tenho que te levar ao hospital… — Ele a cobriu e a segurou pelo queixo. —Não! —gritou ela— Se-se me levar fa-farão um relatório e… E todos saberão o que aaconteceu… —Está em choque. —Não-não! —gritou ela— O chefe de policia está a par de tu-tudo… Se-se so-souberem didisto me de-deixarão em observação e me a-afastarão di-disso… Não… Não o p-podem fazer… Lion a abraçou com força e passou a mão pelo cabelo dela, acariciando-a com carinho, como só um protetor podia fazer. Ficaram em silêncio. Cleo recebia o calor de Lion e pouco a pouco se acalmava. —Terá que chamar alguém de confiança e avisar sobre o homem que está em coma no jardim. Têm que… —Ma-magnus. É o capitão. Po-pode contar com ele. A e-ele po-posso explicar tu-tudo… Ele sabe quem é… —Verá suas marcas, querida… Não — decidiu. — A levarei ao hospital. —Não! Me cobrirei… Me ajude a me desinfetar e pr-pronto. E preciso de um tranquilizante. Lion não sabia como falar com ela e fazê-la entender que não podia fazer isso. Tinha um psicopata meio morto. —Quem é, Cleo? —levantou e entrou na casa para pegar uma manta das que Cleo tinha na cômoda da sala e que usava para se cobrir enquanto via filmes em seu sofá. Jogou a manta por 234 | PRT


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cima enquanto analisava as marcas que o sádico e louco desse mascarado fez na sua pele. — Quem é…? — repetiu triste. Deus, quando viu esse cara com o chicote na mão, e Cleo pendurada e indefesa, aguentando as chicotadas dolorosas… Sentiu vontade de sair de novo e esmagar o crânio dele. —Bi-Billy Bob… —Quem? —Aproximou o ouvido de seus lábios. —Bi-Billy Bob… É… É u-uma lo-longa história. Deixe eu me acalmar e aviso Magnus para que cuide de tudo… Te-temos que retocar um po-pouco a cena do at-ataque… —Acha que pode fazê-lo? Acha que…? Não quero. —mudou de ideia. — descanse.

Quero que

—Disse que sim. Sim, Lion. —Respondeu afundando o rosto em seu pescoço. — Me deixe ficar assim um po-pouquinho mais… —É óbvio, Cleo. —Lion apoiou a bochecha sobre sua cabeça vermelha e despenteada. Também precisava se tranquilizar, e só tendo Cleo viva, embora um pouco machucada entre seus braços, conseguiria. — Tudo que você quiser.

Lion arrumou o jardim e Cleo ficou olhando Billy Bob com repulsão e asco, de pé diante dele, com a manta por cima do corpo. Lion o destroçou, preso de uma fúria animal. Nunca viu ninguém golpear assim outra pessoa. Embora tampouco visse um homem olhar com tanto desprezo uma mulher como Billy Bob a olhou. O que diferenciava um homem de um monstro eram seus princípios e como e para que usava sua força. Billy Bob era um monstro. Um menino rico que não entendia que as mulheres não eram propriedade de ninguém. Que não sabia que havia coisas que não estavam bem, nem eram corretas. Billy Bob usava seu poder para dobrar quem era mais fraco que ele. E usava seu corpo, para submeter e abusar de sua mulher. Como fez toda a sua vida. Lion era justamente o contrário. Não tinham nada a ver um com o outro. Ele era um protetor, um defensor… Se estava com uma mulher nunca levantaria a mão para ela, nunca a menosprezaria nem desvalorizaria, não mudaria sua forma de ser nem a maltrataria psicologicamente… Ele era um homem com gostos diferentes na cama. Podia jogar com suas fantasias desde que sua companheira estivesse de acordo; e o modo que tinha de usar esses instrumentos como chicote, vara, cordas… Era diferente de como Billy Bob usou. 235 | PRT


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Por tudo isso, Cleo confiava em Lion agora mais que nunca. O jardim tornou a ficar como antes. Não havia rastro do arnês nem da polia na árvore, nem cordas, nem bolsa de chicotes… Estava tudo em ordem. Lion não tocou o corpo de Billy Bob. Deixou-o tal e como estava. A puxou pela mão, cabisbaixo, e a guiou até o amplo banheiro superior. Tomaram banho juntos e em silêncio. O silêncio podia dizer muitas coisas: falava de desculpas e sentimentos; falava de lamentos e dor; falava de amor e corações quebrados; de medo de aceitar quem alguém é na realidade e medo que não o aceitem. As carícias também se davam na alma. Lion a tocou com adoração, limpando seu corpo, tratando suas marcas com cremes calmantes que diminuíam o inchaço e os hematomas… Pouco a pouco, essas marcas desapareceriam, embora a lembrança demoraria mais a se apagar. A abraçou, colando seu peito às suas costas, ambos nus. Ele a beijou no pescoço, sobre o ombro, na bochecha… Cleo deixou, porque necessitava que cuidasse dela, que a acalmasse com suas mãos… Com algo que a fizesse sentir-se querida, embora fosse a nível de amizade. —Não entendo o que aconteceu. — murmurou melancólico. — Nunca senti tanto medo e tanta raiva como a que senti quando te vi ali… Com ele… —Não há nada a entender — explicou Cleo mais tranquila. —A qualquer momento podia entrar um homem na minha casa e me machucar… —Me sinto envergonhado e arrependido. Não devia ter te deixado sozinha. —Não sabia o que ia acontecer… Está bem. Não o culpo. —Eu sim. —Não é culpa sua que haja espancadores soltos. Eu devia ter explicado isso, mas não dei importância… Não pensei que tivesse. —Devia ter me explicado isso, Cleo. Não entendo como não me disse que havia um cara solto que não gostava de você. Eu teria tomado precauções em todos os sentidos. —Esteve na casa ontem à noite. Quando nos embebedamos… Disse que nos viu dormir. — explicou envergonhada.

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Lion soltou dez mil maldições e ficou furioso. Mas Cleo observou assombrada que, por muito pequena que fosse a ducha e muito irritado e furioso que estivesse, com todo o grande e forte que era, não sentia nenhum medo dele. Jamais de Lion. —Meus pais e seus pais estavam aqui, Cleo… Sabe o que poderia ter acontecido? Sabe… Imagina…? E você e eu dormindo! E se esse cara tirasse uma faca ou algo e… ! —Sei, Lion —replicou arrependida, fechando os olhos. —Não preciso que brigue comigo agora, por favor, Lion. —Apoiou a cabeça em seu ombro. —Não, claro que não —Lion a rodeou com os braços e apoiou seu queixo sobre sua úmida cabeça. — Cleo… O que vou fazer com você?

Ao sair da ducha, Cleo se deitou na cama e deixou que Lion lhe pusesse os unguentos na pele machucada. Às vezes se queixava, mas era uma mulher forte. E Lion agia brandamente e com muita atenção. Podia fechar os olhos e pensar que a estava tocando porque a amava. Mas não pensaria mais assim. Já sabia o que havia entre eles; e se se comportasse profissionalmente e parasse de entrar em terrenos emocionais e pantanosos ambos poderiam dar-se bem. Lion era boa pessoa. Tinha que parar de provocá-lo e, simplesmente, colaborar com ele. Esquecer que era um homem que saía em sessenta por cento de suas fotos de infância e préadolescência e se concentrar que era o agente no comando de uma missão de tráfico de mulheres. Isso era o que devia ter pensado desde o começo, e agora agiria em consequência. Depois que ele passou os cremes nela, se vestiu. Vestiu uma calça de moletom folgada e uma camiseta esportiva larga. Devia ocultar as marcas para encarar Magnus. —Está pronta para seu papel? — perguntou Lion solícito, sem querer pressioná-la. —Sim. Cleo discou o número de Magnus. —Magnus? Sim… Sim, tudo bem… Ouça, Billy Bob veio na minha casa e tentou me matar… Sim, não, calma. Magnus, por favor… Estou bem, sim. Lion o interceptou. Já chamamos a ambulância, Billy Bob não está muito bem… Por favor, nada de sirenes. OK. Esperamos você…

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Magnus observava o corpo de Billy Bob na maca da ambulância. Estava em coma e o levavam para a emergência. Provavelmente teria várias lesões a vida toda. —Torne a explicar isso, Cleo —pediu Magnus, preocupado com ela. —Eu estava no jardim, sentada na minha cadeira de balanço —explicou com calma. — Ouvi um ruído perto do barraco e fui ver o que era. De repente, um dos painéis se abriu, e apareceu Billy Bob vestido desse jeito, com máscara e tudo… Trazia uma vara elástica na mão, como um chicote. Começou a me açoitar e tentei me defender; mas justo quando já estava a ponto de me dominar, Lion saiu ao alpendre, o derrubou e brigaram. Lion o golpeou algumas vezes… —Um par de vezes? Cleo —soprou incrédulo. — Esse cara provavelmente não poderá voltar a falar nem somar dois mais dois em toda sua vida. E precisará de uma reconstrução facial… —Contei como foi —assegurou ela, piscando serena. — Bateram um no outro. —Lion não tem nem um arranhão na cara. — observou Magnus. —Tem o osso e a carne muito duros. Viu que é como um touro. —Billy Bob não era precisamente um adoentado. —Lançou-o contra o barraco e Billy Bob aterrissou de cabeça… ficou inconsciente e assim foi. Magnus estudou um e outro. Lion e Cleo eram a viva imagem da inocência. Um ao lado do outro como excelentes cúmplices e companheiros. Mas não ia suspeitar de mais nada; porque a boa notícia era que Billy Bob não voltaria a tocar os colhões nunca mais. —Não vai tomar mais declarações? —perguntou Cleo esperançosa. —Não. Embora, aqui, entre nós… — Magnus se aproximou deles em petit comité. — Não acredito que só foi um par de golpes. Foram mais? —Não —respondeu Cleo. —Sim, foram muitos mais —assegurou Lion olhando fixamente Magnus. Não tinha nada a ocultar, e Magnus deveria estar feliz que protegesse sua garota, não? — Um atrás do outro. Magnus não soube como reagir, até que um sorriso se desenhou em seu rosto moreno. —Bem feito —aduziu. Lion piscou, admirado. 238 | PRT


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—Cleo, pode nos deixar a sós um momento? —pediu Magnus. —Hã… — “Ai, Deus. Não… Nada de conversas entre homens”. —De homem para homem —acrescentou Magnus. Merda. —Sim, Cleo. —Lion a convidou a sair. — Nos deixe sozinhos. —Mmm… De acordo — Se meteu dentro da casa, os olhando insegura. Os dois se achavam cara a cara, se estudando e medindo como dois touros. —Sabia sobre Billy Bob? —perguntou Lion de frente. —Sabíamos todos na delegacia de polícia. Mas já sabe como é Cleo… Não deu importância a sua saída sob fiança. Sim. Sabia que era uma impetuosa que não via o perigo. —O que me admira é que não disse nada para você —confessou Magnus. — É seu companheiro, não? Por que não disse nada a você? Lion ficou estático e o olhou fixamente. —Não sou seu companheiro… Não oficialmente. —Sua língua caminhava sozinha e não passava por filtros mentais. Como? —Então, estão juntos? Porra, essa conversa o lembrava de que? Ah, sim. Era a mesma que manteve com Cleo sobre sua suposta relação com Magnus. —Depende… Não gosto de me colocar onde não me chamam. —Lion tinha um estranho nó no estômago— Você e ela têm algo? Magnus abriu os olhos verdes e o olhou como se estivesse louco. —Bem queria! Mas não —confessou o policial, — nem uma vez. E não foi porque eu não tentasse… Cleo é muito complicada. —Acrescentou com o orgulho ferido. Cleo não era complicada, pensou Lion. Na realidade era uma harpia mentirosa e manipuladora que queria deixá-lo louco. —Não vou interrogá-lo sobre a natureza de sua relação —assegurou Magnus, ajeitando sua calça e olhando para a casa, — mas Cleo me importa. Não é uma garota qualquer, de acordo? 239 | PRT


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—Sei. —E se a machucar ou fizer algum mal… —O corpo grande e moreno do capitão de polícia se abateu sobre o igualmente grande e alto Lion — moverei céus e terra para te encontrar e esvaziar seus ovos. Entendido? —Gosta dela, capitão Magnus? — perguntou malicioso. —Do que fala? —Não me provoque. — O ameaçou Lion. — E se preocupe com seus assuntos. Cleo é assunto meu, compreendido? Ambos os homens se desafiaram até que o bom senso de Lion, que não queria mais confrontos, decidiu dar um passo atrás em seu nome. —Obrigado por seus serviços, capitão Magnus. Já pode se retirar. O homem arqueou uma sobrancelha negra e perguntou: —No que diz que trabalha? —Tenho um negócio de hardware e software em Washington… Magnus sorriu sem vontade. —Sei, com certeza… —Capitão. —dispensou-o Lion, se virando. —Senhor. Lion se sobressaltou, mas dissimulou muito bem. Magnus era um bom homem, mais perspicaz e sagaz do que ele tinha acreditado. Se ambos não tivessem tanta testosterona, certamente poderiam ser amigos. A ambulância e a polícia abandonaram a rua Tchoupitoulas. Cleo esperou, sentada sobre a cama, que Lion chegasse e dissesse do que tinham falado Magnus e ele. —Seu namorado é um cara simpático. — Lion entrou no quarto e se apoiou no umbral da porta, com um pé cruzado diante do outro e as mãos nos bolsos de sua calça jeans. —Hã… —Cleo olhou as mãos. — Sim, é bom homem. Lion ocultou um sorriso, mas em seu interior não tinha vontade de rir. 240 | PRT


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Como amo, cometeu um engano imperdoável. Por sua culpa, esteve indefesa diante de um filho da puta sádico. Se não chegasse a tempo não queria nem imaginar o que poderia ter acontecido… Como companheiro, acultou dados dela, como os da festa. Como amigo, foi um puto desastre. Não merecia a luz de Cleo. Não era merecedor de sua companhia. A colocou em perigo e nem sequer podia prometer que não voltaria a fazê-lo. Com ela no torneio teriam muitos desafios diretos; e estaria disposto a chegar às cartas de duelos de cavalheiros com cada um deles. Não podia trabalhar à vontade. Não podia levá-la. Além disso, essa garota era um paiol de pólvora. Tinha um caráter explosivo… Como amo e submissa podiam combinar; mas Lion tinha sentimentos por ela que estavam nascendo e se arraigando em seu interior; e assim não poderia trabalhar. Precisava manter a cabeça fria; e Cleo o mantinha quente e em erupção. Não poderia protegê-la. Cleo mentiu para ele a respeito de sua relação com Magnus. E, além disso, não disse nada sobre Billy Bob. Acaso não perguntou a ela sobre isso? Sobre seus casos? Sim, o fez; e entretanto, Cleo se limitou a nomear assuntos superficiais… Não explicou que esse Billy Bob fazia cinco dias que tinha saído do cárcere. Sentiu-se como uma merda por ser o último estúpido. A esses pontos, acrescentou-se o fato que transaram; e ele, para evitar vinculações emocionais durante a missão, a tinha afastado de seu lado de um modo horrível e atroz. Cleo não esqueceria; nem ele tampouco. E depois havia o choque que sofreu. Assim que Cleo o visse pegando uma vara, um chicote, um flogger, cordas, algemas…, o que fosse, entraria em pânico. O medo continuaria aí; e duvidava que Cleo fosse tão forte para relegá-lo e negá-lo. E assim não poderiam trabalhar juntos. Tinham um problema. Um enorme problema. 241 | PRT


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—Preciso descansar, Cleo —confessou Lion caminhando para a cama. — Me deixa dormir com você? Cleo levantou a cabeça. Não compreendia aquela pergunta. —Pensei que já estávamos dormindo juntos. —Sim, mas… Só quero dormir. Lion deitou na cama, do seu lado esquerdo. Observou suas costas elegantes, aquele cabelo espetacular e vermelho e o rosto de fada, que o olhava por cima do ombro. —Tomou algo para dormir? — ele perguntou abrindo os braços, esperando que ela mergulhasse entre eles. —Sim —Cleo se estirou ao seu lado, juntando as mãos sob sua bochecha e se encolhendo com os joelhos quase tocando o peito. —Não, querida. Esta noite preciso dormir com você assim. —Puxou-a pela cintura, colandose tanto ao seu corpo que não sabia onde começava um e acabava o outro —Tire a calça ou morrerá de calor — sugeriu amavelmente. Cleo a tirou. —E a camiseta —pediu com olhar ardente. — Os vergões roçarão no tecido e a incomodarão. Ela assentiu; a tirou pela cabeça e ficou nua, só com uma calcinha branca normal e comum de algodão. —Espere. —Lion sentou na cama, e fez o mesmo. Fora camiseta e calça; ficou de cueca — Venha aqui. Ajudou Cleo a se deitar ao seu lado e a rodeou com os braços, apoiando o queixo sobre sua cabeça. Os torsos nus e os membros entraram em contato completo. —Cleo… Ela fechou os olhos e sepultou sua garganta em seu pescoço. Cheirava tão bem, tão Lion. A chuva, grama, limpo… —Me salvou. — Comentou com voz sonolenta. A medicação fazia efeito. —Não. A coloquei em perigo. —Não, Lion… Billy Bob era o verdadeiro perigo… Você não. O que disse a Magnus? 242 | PRT


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—Que é afortunado por ter alguém como você em sua vida. Cleo bocejou e fechou os olhos, meio adormecida. —Mmm? Lion acariciou suas costas, com cuidado para não machucar as marcas, até que notou a respiração profunda e relaxada de sua companheira. —E também disse que me perdoe por querer sua falsa namorada com todo meu coração. —Mm? —Chist, dorme, minha menina… Lion estava comovido por tudo que Cleo provocava nele. Queria tê-la assim para sempre: que ninguém a ferisse, que não cometesse mais enganos e que confiassem um no outro. Se a levasse com ele, Cleo poderia se cansar de tudo aquilo e entrar em pânico em algum momento. No final, o odiaria. Se não a levasse e a deixasse em sua casa, o odiaria igual, mas poderia se esquecer pouco a pouco da experiência desses dias, rodeada de seus amigos e sua família. Poderia cicatrizar suas feridas… Ele não voltaria a incomodá-la, já tinha feito dano suficiente. E com o tempo, esqueceriam de tudo. Bom, pelo menos ela podia fazê-lo. Lion não podia esquecê-la jamais porque amava Cleo desde que ela tinha quatro anos e ele oito. Como os lobos que se ligam ao seu companheiro durante toda a eternidade. Assim era ele com Cleo. Essa era a única verdade. Amanhã deveria preparar as malas, os passaportes e todas as suas provisões para ir ao torneio. O avião saía no domingo de madrugada… O que devia fazer? Não queria feri-la mais. Levava Cleo aos Dragões e Masmorras DS ou não? Deixava que continuasse na missão Amos e Masmorras ou a retirava por baixa psicofísica? Fizesse o que fizesse, ela acabaria o odiando. Assim, melhor que o odiasse estando a salvo, e não em perigo. 243 | PRT


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Capítulo 17

Às vezes, as masmorras de dominação se convertem numa parte de você: uma de autoconhecimento e outra de transmutação. Entra como uma larva, e sai como uma mariposa. Cleo lia com os olhos banhados em lágrimas o bilhete que Lion deixou sobre o travesseiro. O leu cem vezes pelo menos. Cleo, está fora do caso. Recupere-se logo. Trarei sua irmã de volta. Cuide-se, bruxinha. Lion seu amo/tutor/amigo? —Está brincando comigo? —De um golpe secou as lágrimas de decepção com as mãos. — Como se atreve a me fazer isto? —murmurou impressionada. Ele sabia quão importante era a missão para ela. Sua irmã Leslie estava lá e não podia pregar olho sabendo que ela não podia fazer nada; enquanto ele estava por aí, jogando no jogo de personagens, investigando… Porque vejamos: Com quem iria? Na qualidade do que? Como pensou em fazer isso com ela?! Partiu. Recolheu tudo e só deixou a bolsa da House of Lounge em cima da mesa. O odiava. O odiava tanto que quando o visse arrancaria seus olhos. O que não imaginava era que pudesse odiá-la tanto também. Não entendia que um golpe desse tipo a arrasaria? Estava demonstrando que não confiava nela como profissional; nem sequer como parceira. Tinha tanto medo que dificultasse seu plano? Não pensava em montar nenhum numerozinho mais de garota ferida e despeitada! Já tinha aprendido a lição! Só trabalho e ponto! Era uma agente da lei, maldição! Olhou seu iWatch vermelho com tela preta. Era uma da tarde. Tinha dormido como uma pedra durante toda a noite. Os soníferos eram tão fortes que ainda continuava entorpecida, mas o bilhete de Lion a avivou de repente. —Pensa Cleo, pensa. —Dava voltas por seu quarto, de um lado ao outro. Parou de repente. A essa hora amanhã, Lion estaria num avião, em direção ao Caribe. Tinha que fazer algo urgentemente. — As cópias do pré-contrato… —sussurrou. 244 | PRT


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Correu para a sala que tinha seu escritório. Esfregou a nádega e o quadril… O corpo doía pelo estresse e pelas chicotadas; doía mais que ontem a noite, mas era normal. Era sinal que estavam se curando. Abriu uma gaveta arquivo e achou a cópia do pré-contrato que assinou há seis dias com o senhor Elias Montgomery, o subdiretor do FBI. Com um clipe, no canto direito, havia uma targeta de contato. Cleo digitou o número de telefone de seu iPhone. —Montgomery —respondeu a voz do subdiretor ao atender. —Senhor Montgomery, é Cleo Connelly. —Cleo, como está? Lion nos explicou o acontecido. Lamentamos que teve esse percalço. Espero que se recupere logo… —Sim, bom, senhor… Por isso estou ligando. —Por que? —Estou plenamente recuperada. Só são uns arranhões. Não sei o que Lion contou, mas posso continuar no caso. —Sinto muito, Cleo. Lion é o agente no comando de Amos e Masmorras e pediu sua exclusão por baixa psicofísica. Assegura que está muito vinculada emocionalmente e que talvez tenha dificuldades para controlar seu temperamento. —Ele disse isso? —Apertou os dentes e pressionou a ponta do nariz. “Sim. Sim, tenho dificuldades para me controlar. E as terei quando o vir e não puder controlar minha vontade de fritá-lo”. O que Montgomery não sabia era que ela tinha um naipe a seu favor que pensava em usar. — Senhor Montgomery, me deixe dizer que, se não me incluírem no caso, comparecerei sozinha ao torneio. Penso ir sim ou sim. Me fizeram participar deste maldito jogo de infiltração e já não posso sair. —Poderia pôr em risco a missão, Connelly. —Não o farei. Precisamente porque minha irmã está lá. Por isso serei mais cuidadosa e disciplinada que nunca. Lion… O agente Romano pode não ver desse modo porque tivemos nossas diferenças; mas, acredite em mim: se não for com sua proteção, irei sozinha. —Não pode fazer isso. Não tem convite direto. —Tenho, senhor. Ontem de noite a Rainha das Aranhas me deu um pessoalmente. 245 | PRT


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—Como? Romano não comentou nada disso comigo… —Bom. É compreensível… Aconteceram muitas coisas… E o agente Romano teve tanta pressa em partir que nem sequer se lembrou de me roubar o convite — acrescentou, sentindo-se poderosa. Cleo escutou que do outro lado da linha alguém interceptava sua conversa e falava pessoalmente com Montgomery. —Um momento, Connelly —disse o subdiretor. — Não desligue… em que linha? —Na dois, senhor —respondia outra voz de homem. —Montgomery —respondeu na outra linha. — Alô, Summers… Como? Não fala sério!… Não pode ser… falaram com a organização?… Está seguro que não pode jogar assim? De acordo… Procuraremos uma solução. Foi a agente Robinson quem recebeu o convite? E você?… Pelo amor de Deus… Ligarei logo. Cleo entrecerrou os olhos verdes e pressagiou algo bom. —Agente Connelly. —Retornou Montgomery. —Sim, senhor? —Não vai acreditar. —Não sei, senhor. Diga-me. —Os agentes Nick Summers e Karen Robinson entravam infiltrados com vocês também. Mas a agente Robinson sofreu um acidente e quebrou o braço. A organização a proibiu de participar assim. Cleo apertou o punho e gritou em silêncio por sua sorte. —Karen entrava como ama e era ela quem tinha o convite. Hã? Karen era ama? —A agente Robinson era a ama do agente Summers? —Sim, assim é. Agora Nick Summers não pode entrar sem convite. Mas você tem uma entrada direta da Rainha das Aranhas. E é uma entrada dupla. Isso lhe permite levar alguém com você. —OH. —Se lhe der autorização para a missão, se veria capaz de entrar como dominante de Nick? Cleo engoliu saliva. Não tinha nem ideia de dominar. 246 | PRT


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Mas faria tudo por Leslie e para se encontrar de novo cara a cara com Lion. Aceitava o desafio, não ficava outra. —É óbvio, senhor. O silêncio se propagou pela linha. —Então, está dentro do caso. A porei em contato com seu novo companheiro. Forneça-nos os dados que lhe deu a Rainha para que realizemos todos os seus trâmites em seu nome. Enviaremos uma correspondência de confirmação ao seu enderaço com as passagens de avião. —Manterei a identidade que me atribuíram? —Assim é, agente. De verdade se sente preparada? —Sim, senhor. —Estou combinando com você, mas não tenho outra alternativa. —Não o decepcionarei, senhor. —Isso espero. Tente informar o máximo possível sobre seu jogo. —Sim, senhor. —Até logo. —Adeus. Cleo, ainda nervosa pela conversa, desceu as escadas de sua casa e sentou na frente da bolsa do House of Lounge. Tinha que começar a ler como era uma boa ama mulher, alguém dominante… Tinha vinte e quatro horas para trabalhar em seu perfil e oferecer um espetáculo, embora fosse básico. Um que permitisse ter a oportunidade de pôr em marcha o plano que sua cabecinha começava a funcionar. Porque Cleo tinha um plano. Um dos grandes. Tirou o espartilho da borboleta monarca e sorriu. As cartas estavam lançadas. O torneio ia começar imediatamente. Não era ama, e sabia. Mas arriscaria tudo por Leslie e, se iam jogar de verdade, ela seria a que mais duro o faria. —Olá, ama Nala —murmurou com convicção. 247 | PRT


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Quando as masmorras se abrem, os dragões saem para a caça.

FIM?

Glossário Amos e Masmorras Diz a Wikipedia:

24/7: a relação que se estabelece de forma permanente — e em alguns casos com pretensão de irrevogabilidade , — 24 horas por dias, nos sete dias da semana.

Adult baby: (ing.) jogo de fantasia em que uma das partes adota o papel de bebê, que deve ser mimado, vestido, limpo, educado…

Age play: (ing.) termo genérico para todos os jogos de fantasia em que se estabelece a fantasia de que uma das partes é de idade infantil ou adolescente.

Algolagnia: (lat.) também se usa o termo algolagnia. É uma das definições paramédicas do erotismo relacionadas à dor, podendo ser passiva ou ativa, despertando o erotismo através da dor ou ao causá-la em outras pessoas.

Amo/a: é uma das acepções com a qual se designa o dominante em uma relação D/s—em relações S/M não é tão usual, ainda que utilizada em alguns casos. Nos jogos de interpretação, principalmente na cena anglo-americana, usa-se o termo Top. Outras denominações são Professor, Dom, Senhor ou Mestre.

Animal Training : (ing.) treinamento de mascotes humanos, cuja parte passiva faz o papel de animal de estimação (cachorro/a, pônei, etc.).

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Anel de O: referência ao clássico contemporâneo da literatura BDSM, “História de O”, de Pauline Réage (publicado em 1954). Trata-se do anel que aparecia no filme (realizado em 1974) e que as submissas usavam quando eram levadas ao Clube por seus Dons para seu adestramento e/ou iniciação, como mostra de seu estado de submissão aos homens “sócios” do Clube. É um anel de prata, com um pequeno aro na frente. Recentemente os Dons possuidores de submissas começaram a usá-lo, porém são usados na mão esquerda enquanto elas usam na mão direita. Na realidade, o anel mostrado no filme não é o que aparece no romance original de Pauline Réage, que é baseado nos símbolos celtas e que carecia de um aro frontal.

Animal play: (ingl.) ver mascota, jogos de.

Arnês (arreio) de pônei: complementos de couro, metal ou combinados, que se colocam na submissa para encenar seu papel como pônei. Podem ser de corpo, de cabeça, de cintura, etc.

Arnês (arreio), bondage de: um tipo de bondage que se acopla a todo o corpo da submissa, incluindo os seios, ventre, braços e pernas. No bondage japonês (tipo shibari), recebe o nome de Karada.

Arnês (arreio), de corpo ou corporal: um tipo de vestimenta, muito usada e apreciada nos cenários S/M e D/s. Consiste em tiras de couro e/ou metal que enlaçam o torço, com certas reminiscências da imagem que se tem dos gladiadores romanos e de um traje “escravista”. Consiste em tiras de couro e correntes de metal finas, que deixam os seios a mostra. Os homens submissos também costumam usar, apenas com algumas variações. Na sua versão "gladiador romano" é um artefato muito famoso no cenário S/M homossexual masculino.

Auto-bondage: Atamentos com corda (bondage), com plásticos largos (mumificação) ou com tiras de borracha (cinching) feitos por uma pessoa em seu próprio corpo. Pode haver diversas motivações: como prática sensualmente agradável em si mesmo, como quem massageia os próprios pés, por exemplo. Nesta forma, é muito difundida nos Estados Unidos. Também é usado como um recurso em casos de relacionamentos à longa distância, onde o/a submisso/a segue as instruções do Dominante por telefone, irc, correio eletrônico, notas, etc. Além disso, também pode ser usado como um recurso em períodos de ausência nas relações estáveis, ou como auto-aprendizagem do próprio corpo e suas reações, por parte de uma submissa que deseja progredir na entrega e compreensão de tal entrega. Finalmente, como atividade erótica, ligada ou não, anterior ou não a outras atividades auto erótica. Devido às suas características especiais, deve ser praticado com grande precaução, sendo sempre uma prática arriscada.

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Auto-asfixia: prática erótica de alto risco. Consiste em dificultar a própria respiração até alcançar o êxtase sexual. Registra um elevado número de mortes acidentais e é desaconselhada por quase todas as organizações e personalidades do BDSM.

Açoites: bater com a mão e, por extensão, com um instrumento específico - chibata, rabos de gato, chicote, pá, etc. - ou com objetos de uso cotidiano - chinelos, raquete de tênis de mesa, régua, vara, etc. em alguma uma parte do corpo do submisso, seja como punição por conduta imprópria, como parte de seu relacionamento, ou como preparação para jogo sexual. Os puristas interpretam que a surra é só quando se bate com a mão nas nádegas nuas do submisso, portanto, as outras variantes recebem outros nomes (canning, os açoites de Canne, ou vara vegetal, flogging ou flagelação, para os açoites com flogger ou rabo de gato suave, etc.) O chicote é usado indistintamente nas relações de D/s e S/M, ainda que com diferentes motivações e rituais. Pode chegar a atingir uma carga erótica singularmente alta, e não é incomum que o dominante deva regular o ritmo e a intensidade dos mesmos, para evitar um orgasmo inesperado do submisso.

Bastonada: (Do latim: “bastonis”,” bastum”) castigo com um bastão rígido, de preferência nas solas dos pés.

BB: (Ing.) abreviatura para os bondages ou atamentos dos seios.

B & D: (Abrv.) abreviatura para Bondage e Disciplina, uma fórmula que foi usada para diferenciar o, S / M e, paradoxicalmente, logo formou a base do conceito genérico de BDSM.

BDSM: (Abrv.) acrônimo para a comunidade que pratica uma sexualidade não convencional e estilos de vida com intercâmbio de poder (EPE), entre outros. Seu significado vem a ser Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo.

Bizarr: (Ing.) bizarro, relativo ao sexo extremo ou atividades extremas de BDSM, por extensão e em certas partes do mundo anglossaxão, tudo relativo à sexualidade não convencional incluindo o BDSM.

Bondage: (Ing.) jogos de ataduras ou imobilizações, que pode ser feito com cordas, cintos de couro, seda, lenços, correntes, etc., com um propósito estético, ou para imobilizar a submissa durante uma sessão ou durante seu uso sexual.

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Bottom: (Ing.) Termo em inglês para se referir ao praticante na posição de submissão, entrega, masoquismo, obediência, etc. Submisso/a, passivo/a.

Branding: (ing.) marcas e sinais feitos com fogo, a utensílios aquecidos até ficarem vermelhos, etc.

Breath Control: (Ing.) controle da respiração.

Cane: (ing.) termo usado para designar varas de bambu o de madeira de fresno (tipo de árvore), com as que antigamente se praticavam os castigos nas escolas vitorianas.

Canning: (ing.) Açoites praticados com uma vara de bambu, madeira de fresno flexível ou similar.

Castigo: No cenário D/s, esta palavra tem múltiplos significados, nem sempre coincidentes. Em geral, é uma dessas palavras que em cada relação tem um significado diferente e muitas vezes oposto. Pode se referir à ação de um dominador sobre a pessoa submetida, para penalizar uma falta dela ou simplesmente por prazer do mesmo, ou ainda provocado pela submissa, em busca de seu próprio prazer. Também é simplesmente uma chave verbal mútua, para denominar o ponto de arranque de uma atividade sexual, integrada na relação de dominação-submisão que ambos mantém.

Cavalete: elemento de madeira ou ferro, imitando os antigos instrumentos punitivos da Idade Média, usado em jogos de restrição de movimentos no BDSM.

Cenário: pode referir-se tanto à realidade da comunidade BDSM em um país ou cidade concreta, como à parte estrutural, cênica, de uma sessão com práticas BDSM.

Cenários médicos: jogos em um cenário "clínico", onde o dominante costuma exercer o papel de "doutor/a" ou "enfermeiro/a", e a/o submissa/o de "paciente". É complementado com objetos e móveis especiais, como cadeiras ginecológicas, macas, instrumental de observação, e utensílios médicos ou paramédicos, destinados à recriar uma fantasia de cenografia clínica. Pode incluir enemas (um tipo de sonda que introduz líquido no ânus para lavagem, purgação ou administração de medicamentos), agulhas, massagens, inspeção vaginal ou anal, etc.

Cinching: (ing.)rodear o corpo submetido com uma cinta de látex, rubber, cinta americana, etc. Ver mumificação.

Palavra-chave: (Ing.) ver Palavra de Segurança.

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Código: Conjunto de regras impostas em uma cena de BDSM em relação ao comportamento e vestuário.

Código de vestuário: o que se costuma ser necessário ou recomendável ao participar de uma festa BDSM privada ou pública. Costuma ter o preto como cor essencial, e elementos fetichistas femininos (corsê, sapatos de salto), assim como uma estética identificadora nos materiais (coro, látex, vinil, rubber, etc.) e nos acessórios (colares de submissão, elementos simbólicos, etc.)

Colar: feito de couro ou metal, simbolizam a entrega. Podem ser extremamente sofisticados, estilizados ou espessos e de 'castigo', usados em sessões íntimas ou em público. Costuma ter um ou mais ganchos para encaixar uma guia, a qual o dominador maneja ou usa para imobilizar a submissa ou o submisso. Colar de pérolas é um termo coloquial no jargão sexual, no qual o nome ejacula no ou próximo ao pescoço, tórax ou seios de outra pessoa.

CNC: (abrv.) do inglês "consensual non-consent". Ver meta-consenso, consenso.

Consensual: toda atividade ocorrida no BDSM, deve ser, por definição, previamente acordada entre os participantes, ou seja, deve ser consensual.

Consensual non-consent: (ing.) ver meta-consenso.

Controle de respiração: prática considerada como extrema e de alto risco que consistente em controlar a respiração da pessoa submetida por meio de diferentes sistemas. Sem considerar a intensidade do prazer sexual que pode causar, é altamente desaconselhável. É a prática que foi material de base para o filme “O Império dos Sentidos”, que aborda um caso real onde tal prática causou a morte do amante.

Contrato de submissão: uma prática conhecida em alguns setores minoritários do BDSM, cujos conteúdos, alcance, limite, pacto e até mesmo a duração da relação, se fixa por escrito em um Contrato. Este tem um caráter meramente simbólico, pois carece de valor legal.

Cruz de Santo André (St. Andrew): Uma cruz de madeira, em forma de xis, em que se atam nas extremidades os tornozelos, pulsos e outras partes do corpo da pessoa submetida. O objetivo é deixá-la exposta e indefesa, para exaltar a entrega. É combinada com outras atividades: bondage, pinças, açoites, etc.

Cruz (Roda) de Wartemberg: usada antigamente nas masmorras da Idade Média. É composta de uma roda de madeira sobre um eixo móvel, é usada no BDSM em jogos de dominação e/ou sadomasoquismo, geralmente é colocada em posição vertical. A parte passiva do jogo é sujeitada à roda

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pelos tornozelos, pulsos, antebraços, pernas e cintura, a roda é girada até se inverter a postura, a fim de ampliar a sensação de "impotência".

Clinical, clínico: (ingl.) ver cenários médicos.

Devot: (lat.) submissa, submisso; denominação habitual nas áreas de língua alemã.

Disciplina: Imposição de normas de comportamento. São elementos muito comuns nos jogos de EPE (intercâmbio erótico de poder) ou de dominação-submissão. Ao serem infringidas impõem a necessidade de castigar a pessoa submissa.

Disciplina inglesa: costuma-se dar essa denominação à flagelação erótica, assumindo que parte do uso durante a época vitoriana se fazia dos açoites nas escolas inglesas, e seu emprego atual é como meio "disciplinador" nos jogos de "educação".

Doma: educação na arte da submissão, exercida sobre um submisso/a pela parte de seu Ama/o.

Dom: (abrv.) de Dominante

Domina: se refere à mulher que exerce um papel ativo ou dominante em uma relação BDSM.

Dominatrix: vocábulo que costuma se designar a profissional da chamada dominação feminina, vinda da prostituição especializada. Não se costuma usar como sinônimo de ama não-profissional. Ver domina.

Dominante: pessoa que exerce de maneira natural ou por jogo uma relação de poder sobre outra ou outras, que inclui – mas não necessariamente– a área sexual.

Dominação: relação de tipo especial, pela qual uma pessoa "toma as decisões" por outra, em tudo, ou naquilo que ambos tenham "acordado" (EPE). Pode ser de muitos tipos: reservada exclusivamente ao campo sexual, global, com ou sem exclusões, temporal (apenas durante os encontros de ambos), permanente (denominada 24x7), exclusiva e excludente ou de caráter polígamo, heterossexual ou homossexual, exercida pessoalmente ou à distância.

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Dominação à distância: exercida na ausência da presença física do dominante, usando algum sistema de comunicação à distância, como telefone, internet, mensagens, etc.

Dominação feminina: jogos onde a parte feminina assume o papel dominante, e parte masculina, o submisso.

D&S (DS, D/s): (abrv.) siglas representativas das relações de Dominação-submissão.

Edgeplay: (ing) jogo no limite do que é permitido, onde práticas extremas assumem situações de risco sem abandonar a norma essencial do consenso prévio.

Entrega: a cessão de poder (de decisão) que a parte submissa faz ante seu dominante, assim como a sensação que experimenta e transmite.

EPE: (abrv. ing.) Erotic Power Exchange

EPEIC (abrv. Ing.) Erotic Power Exchange Information Center

Erotic Power Exchange: (ing.) Intercambio Erótico de Poder, relações nas quais a pessoa submissa cede parte ou a totalidade de sua capacidade de decisão, de forma consensual, ao dominante. No castelhano se usa muito mais a denominação "relações de dominação-submissão" ou a abreviatura, D/s.

Escrava, escravo: na comunidade BDSM é uma das denominações consensuais para quem assume o papel passivo ou submisso.

Escrava goreana: entende-se por esse nome a parte passiva num jogo de papéis de caráter sexual, inspirado nas novelas da saga de Gor, escritas por John Norman.

Espaço submisso: refere-se à uma situação de êxtase, uma espécie de transposição corporal que, às vezes, ocorre à uma submissa durante uma sessão de BDSM, quando esta alcança uma notável intensidade sensorial. 254 | PRT


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Estúdio: denominação usual para as salas privadas, decoradas apropriadamente, onde se exerce a prostituição especializada em cenários BDSM. No ambiente não profissional costuma-se empregar o termo "masmorra" ou "sala de jogos". femdom: (ing.) Termo inglês pelo qual é conhecida a dominação feminina.

Fantasia, jogos de: todos aqueles em que a pessoa dominante e a pessoa passiva adotam um papel consensual e complementar, que puede ter conotações sexuais, mas não necessariamente. Exemplos disso são os jogos Amo-submissa, Senhora-escravo, Professor-aluna, Enfermeira-paciente, etc.

Feminilização: ato consistente na transformação de um homem submisso em "mulher", com trajes, adereços ou atuações apropriadas. Costuma ser realizada pela "ordem” de uma mulher, que assume neste caso o papel dominante.

Fita americana: tipo de fita adesiva larga, muito valorizada nos cenários BDSM por sua textura e praticidade para ficar os pulsos ou tornozelos, ou para realizar coberturas parciais ou totais.

Flagelação: consiste em açoitar, como parte papel sexual, por meio de látegos ou similares.

Flog, flogging: (ing.) açoitar com um rabo de gato como jogo sexual.

Flogger: (ing.) em inglês, chicote para azotes.

Fusta: vara flexível ou látego comprido e fino que pelo extremo superior tem um trançado de correia que se usa na equitação. A fusta de montar normal é uma vara forrada de couro com uma pequena franja de couro dobrada ao meio como açoite. Também podem ser forradas de nylon com uma corda de com cerca de três centímetros como açoite e mede geralmente cerca de 70 cm. As de salto e adestramento medem mais de um metro. Seu emprego é muito difundido tanto no SM como na DS, seja como instrumento de açoite erótico ou como instrumento simbólico usado pelo Dominante.

Gato: por extensão, qualquer tipo de chicote formado por várias tiras

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Gato de nove caudas: gato de tiras, chicote que varia entre 40 cm e um metro e meio, com varias caudas ou tiras (o típico nos antigos castigos da marina britânica, tinha nove), ao contrário que o látego clássico, de uma só tira. Seu uso é muito frequente na chamada flagelação erótica dentro do BDSM.

Hogtied: (ing.) uma figura de atamento ou imobilização muito praticada nos jogos de BDSM , que consiste em unir, enlaçados entre si por cordas ou similares, os pulsos e tornozelos da pessoa passiva, como passo prévio a outros jogos sexuais ou como atividade própria.

Historia de 0: novela da escritora francesa Pauline Réage (pseudônimo de Dominique Aury) publicada em 1954. É considerada uma das obras-primas da literatura BDSM contemporânea.

Infantilismo: Fetichismo consistente em vestir-se de bebê e usar roupas, objetos y apetrechos de crianças pequenas.

Iniciação: trata-se de um espaço muito ritualizado, pelo qual se "consagra" a entrega da pessoa submetida e a aceitação desta por parte do dominante. Os rituais dependem de cada dominante, mas costumam compreender uma espécie de introdução formal em cada um dos aspectos da submissão — sempre a juízo do Dom. A submissa, banhada em óleos e rodeada de uma liturgia muito especial, se desliza por uma série de pinturas oníricas e de forte conteúdo sexual.

Intercâmbio de Poder: ver EPE.

Jogo: denominação usual para as atividades consensuais dentro do BDSM.

kajira: é o nome empregado na saga de ficção de Gor para designar a uma escrava. Usa-se para identificar a submissa que segue, em sua relação, os rituais e práticas descritas em tais livros. Ver Gor.

kinky: (ing.) palavra usada para designar qualquer tipo de atividade sexual não convencional, ou para qualificar uma mentalidade aberta à exploração e à experimentação de novas atividades.

Lady: usada, entre outras denominações, no BDSM para designar a uma mulher dominante.

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Chicote: instrumento do jogo sexual usado no sadomasoquismo, e também em outras sub-culturas do BDSM, como a disciplina inglesa e as relações D/s.

Leather Pride: (ing.) a bandeira do Orgulho Leather (em inglês, ‘couro’) foi desenhada pelo ativista americano Tony DeBlase em maio de 1989 e se tornou símbolo de identidade para toda a cultura BDSM.

Lord: (ing.) Uma das denominações empregadas para designar a um homem dominante, pouco usual no cenário espanhol.

Limites: pacto estabelecido antes da sessão, se é pontual; ou à relação, se global, com respeito ao que as pessoas que o estabelecem NÃO querem fazer. Os limites variam de pessoa para pessoa e em cada situação.

Mestre: Aquele que controla um jogo sexual de dominação e submissão, que dirige o bondage ou alguém que é um aclamado expert em alguma técnica BDSM. É usado também como sinônimo de tutor, ou como mostra de respeito para um reconhecido e famoso dominante.

Marca: inscrição de figuras ou letras no corpo, que se permanente, costuma ser feita com ferros quentes. As zonas preferidas são: nádegas, ventre e sexo. Mas caso seja temporária, é feita com outros instrumentos, como açoites ou palitos com protuberâncias agudas.

Mascote/bicho de estimação: termo usado nos jogos de fantasia onde a parte passiva adota os usos e comportamentos de um "animal" de estimação. O "treinador" é representado nesse caso pela parte ativa.

Masoquismo: define o prazer sexual relacionado com a dor recebida. O termo foi descrito pelo médico alemão Kraft Ebbing, baseado no austríaco Leopold von Sacher-Masoch, que escreveu várias obras ( "Venus in Furs" entre outras) descrevendo os prazeres sexuais da dor.

Maso: forma coloquial para masoquista ou masoquismo.

Master: (ing.) mestre, usual no cenário BDSM para denominar o homem dominante.

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Masmorra: lugar habilitado para atividades dentro do BDSM ou especificamente sadomasoquistas, dotados de móveis e acessórios que imitam aos que se encontravam nas antigas masmorras, porém desenhadas para realizar jogos de fantasia sexual.

Meta-consenso: forma específica do consenso usual no BDSM, na qual a parte submetida pede que seja o dominante quem julgue a conveniência ou no de interromper a sessão, quando isto seja solicitado pela parte submetida. É um conceito controverso em certas esferas do BDSM, ainda que fosse de uso frequente na época pioneira da Old Guard.

Mumificação: Envolvimento completo do corpo submetido, usando a fita americana, plástico de embrulhar ou vestidos justos de látex, couro ou rubber, especialmente desenhados para isso. Geralmente é considerado como um subgênero do bondage.

Mordaça: Qualquer objeto que abafe o som procedente da boca. É usado como enfeite ou como complemento do jogo, acentuando a privação sensorial.

Mordaça de bola: acessório formado por uma bola de silicone ou similar, inserida numa tira elástica ou de coro. É introduzida na boca da pessoa passiva e atada à tira que envolve a nuca, simulando um processo de privação sensorial.

Movimento do Coro: movimento iniciado nos anos 50 com alguns dos soldados que voltavam da II Guerra Mundial, relacionado com a estética homossexual do coro e das motos, Tal movimento deu início a época da Old Guard, em meados dos anos 70, como precursora do BDSM pansexual.

Negociação: processo consensual antes de um jogo, sessão ou relação do tipo BDSM, em que se estabelecem os pactos que regem os extremos tais como, a intensidade, os riscos, a palavra de segurança, os limites, etc.

New Gard: (ing.) Nova Guarda. No princípio dos anos 90, começou o que hoje conhecemos como o período da New Guard, que se caracteriza pela decidida abertura do mundo heterossexual e da homossexualidade feminina, a aceitação do fenômeno switch, a inclusão de elementos de sensibilidade interior (dominação psicológica, relações D/S sem inclusão de traços sadomasoquistas, etc.), a aceitação de quem praticava o "apenas o jogo", além da participação ativa da mulher heterossexual no BDSM. [3]

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Old Gard: (ing.) É a época pioneira do BDSM, em meados dos anos 70, e seu livro de cabeceira é o Leatherman's Handbook. Durante este período, o movimento conservou sua vinculação com o mundo homossexual masculino, sem dar espaço aos mundos héteros y rechaçando a aceitação do fenômeno switch (isto é, quem se confessava cômodo em ambos os papéis). Também negavam frontalmente a adimmisão de quem considerasse as relações B/D e S/M como "apenas jogo". Os ativistas dessa época eram favoráveis às relações de meta-consenso e apenas em extremas exceções o establecimiento de limites.

Other World Kingdom: Em 1997 surge na localidade de Cerna, a 150 km de Praga, Tchecoslováquia, e é um centro da denominada dominação feminina mediante pagamento, construído ao redor de antigas mansões ducais, nas quais "reina" a mulher dominante (profissional) sob o olhar da Rainha Patrícia I, onde todos os homens são "escravos" que pagam pontualmente seus "impostos".

Palavra de segurança: A palavra-chave (também chamada assim) é usada pela parte submissa para indicar de forma rápida que o grau, as circunstâncias ou a atividade que se está desenvolvendo, não é ou está de seu agrado e que deseja parar. A ética do BDSM pré-estabelece que em todo momento a parte dominante respeitará tal manifestação e interromperá a sessão.

Parafilia: termo clínico empregado para designar o gosto intenso por uma determinada prática, geralmente relacionado com o prazer sexual por meio de alguma atividade concreta como o fetichismo, bondage, o sado-masoquismo, o voyeurismo, etc.

Passivo/a: designa a parte submetida ou submissa; se usa especialmente nas relações sadomasoquistas e com muito menos frequência nas de tipo D/s.

Pet play: (ing.) jogo com mascotes, jogo de fantasia em que a parte submissa adota o papel de um mascote de estimação.

Poder, intercâmbio de: ver EPE.

Pony-play: a pessoa submetida (ponygirl, ponyboy) adota um papel de montaria equina, que pode contar com elementos enriquecedores da estética D/s, tais como máscaras, arreios de cabeça, selas de montaria especiais, látegos de doma de cavalos, etc. Também pode adotar uma forma lúdica, combinada com açoites, e inclusive com o jogo sexual. 259 | PRT


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Pinças: muito usadas em relações D/s e S/M, são utilizadas para pressionar diferentes partes do corpo. Usam-se pinças de madeira ou plástico, pinças metálicas especiais, etc. Geralmente são usadas nos mamilos, áreas próximas, lábios vaginais, incluindo o clitóris, escroto, testículos e pênis nos homens, braços, etc.

Potro: similar ao potro usado em competições ginásticas, com ligeiras modificações no tamanho e altura, e com a adição de elementos de fixação. Usa-se para imobilizar, açoitar, e muito frequentemente para interagir sexualmente com a pessoa submissa. Provém da herança medieval das salas de tortura.

Potro de Berkley: desenhado na metade do século XIX por uma dama inglesa com esse nome, dedicada à flagelação profissional, e destinado a imobilizar as pessoas que desejavam ser flageladas. Ganhou rapidamente uma grande popularidade entre os partidários da chamada disciplina inglesa.

Privação sensorial: todo jogo ou atividade em que se priva, consensual e temporariamente, à parte passiva de um ou vários sentidos: a fala, a capacidade de movimento, a visão, etc., por meio de mordaças, cordas, lenços de seda, etc. Seu objetivo no jogo é promover ou acentuar a sensação de se estar indefeso, como instrumento de excitação mútua, ou como parte de uma relação D/s.

Quagmyr: promotor e desenhista do triskel símbolo do BDSM mundial, entre outros.

Queda pós-sessão: um estado semelhante à depressão, que pode ocorrer com a pessoa submissa depois de uma sessão, especialmente se nesta sessão forem alcançados níveis notáveis de sensações. Recomenda-se repouso temporário, paz e tranquilidade. Normalmente desaparece em pouco tempo e, por si só.

Racsa: (abrv.) equivalência hispânica do rack, que para uma parte da comunidade BDSM veio a substituir com mais precisão o uso do SCC, como elemento definidor do BDSM. Significa risco assumido e consensual para o sexo alternativo (ou não convencional).

Rebenque: antigo instrumento de castigo nas marinhas mercantes e de guerra, usado no BDSM hispânico em jogos sadomasoquistas.

Roissy: mansão onde se desenvolve, em grande parte, a novela considerada como a obra-prima do BDSM, a História de O. 260 | PRT


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Rubber: (ing.) polímero sintético que comercialmente se apresenta com a aparência de uma borracha preta, usado entre outros, na confecção de artigos e roupa de tendência fetichista. Especialmente presente na subcultura homossexual do S/M.

Sadismo, sádico/a: envolve atos nos quais o indivíduo obtém excitação sexual do sofrimento psicológico ou físico (incluindo humilhação) do parceiro submetido.

Sadomaso: coloquialmente, sadomasoquista ou sadomasoquismo.

Safeword: (ing.) ver palavra de segurança.

Sane, safe and consensual (SSC): (ing.) são, seguro e consensual : lema criado pelo ativista David Stein em 1983 e que para muitos ativistas do BDSM identifica a maneira correta de praticá-lo.

S/M : abreviatura de Sadismo/masoquismo ou mais usualmente,

sadomasoquismo.

Servir de criada: atuar de uma forma exagerada e encenada, numa dramatização da figura de criada, enfatizando as atividades que realizaria: limpar, servir comida ou bebida, etc.

Servir de móvel: a pessoa submissa se coloca no papel de móvel, geralmente uma mesa, onde se colocam pratos, copos, cinzeiros, etc.

Servir de WC: a pessoa submetida se oferece para que o dominante utilize seu corpo e/ou suas cavidades como recipiente de sua urina e/ou fezes.

Sessão: o espaço de tempo dedicado a atividades BDSM específicas, que podem incluir práticas sexuais. Pode durar alguns minutos, horas ou até mesmo dias.

Shibari: (jap.) Variedade tradicional do bondage japonês. 261 | PRT


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Sir: (ing.) um termo usado para designar ao homem dominante nas relações de BDSM.

Sissificação: palavra que expressa a conversão de um submisso (excepcionalmente também uma submissa) em uma forma extremamente bucólica de donzela.

Submeter, submetimento, submetido/a: todo o complexo de atividades mediante as quaies um dominante estabelece seu domínio sobre a pessoa submetida, podendo ser de caráter exclusivamente sexual, ou abranger todas e cada uma das facetas da vida (24/7).

Spanking: (ing.) açoites eróticos propiciados geralmente com a mão, ou com um objeto. Ver açoites.

SSC: (abrv.) abreviatura de sane, safe and consensual. Ver São, seguro e consensual.

Sub: (ing.) submissa, submisso.

Subcultura BDSM: a identificação do BDSM como subcultura, ao se entender que possui uma identidade social própria e unitária, uma linguagem interna e um desenvolvimento cultural autônomo.

Subspace: (ing.) aplica-se à situação, que para alguns tem elementos do transe místico, ao que pode chegar uma pessoa submissa durante uma sessão, ao traspassar a barreira das sensações físicas e entrar no chamado "espaço submisso".

Suspensão: elevação e permanência, por meio de ataduras e sem tocar o chão, em alguma das formas existentes (pendurando os pulsos. pulsos com tornozelos e vice-versa, a cintura nos arreios de suspensão, etc.)

Submissa, submisso: definição adotada para a parte passiva em todas as relações em que uma das partes desenvolve a responsabilidade sobre a ação, enquanto que a outra —a passiva— cede o controle da situação ao seu companheiro/a. É típica das relações de dominação/submissão, D/s, ainda que nem tanto nas relações sadomasoquistas (S/M).

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Submissa: é o contra-ponto à dominação, a pessoa que se submete a outra, lhe entrega determinadas parcelas de sua livre escolha, em que ambas as partes estejam de acordo.

Switch: (ing.) é quem gosta de exercer ambos os papéis (submisso e dominante), dependendo da circunstância e da outra pessoa.

Top: (ing.) termo equivalente a ativo, dominante.

Tortura de pênis: manipulação do pênis, da glande, do escroto e dos testículos, para conseguir sensações de dor mais ou menos acentuada. Usa-se a mão, golpes com pás, varas, cera, correntes, gelo, pinças, agulhas, fixações, etc.

Total Power Exchange: (ing.) Transferência ou Intercâmbio Total de Controle, relações do tipo D/s, onde não se estabelecem tempos combinados de sessão, nem limites fora dos que a razão impõe. A parte dominante assume o controle total da relação, durante todo o tempo. Outra versão do mesmo conceito é o de "relações 24/7". No entanto, pode haver relações TPE combinadas para uma única sessão, ainda que não seja o habitual. Abrange também o conceito d meta-consenso, indispensável em relações 24/7, TPE ou similares.

TPE: (abrv.) ver Total Power Exchange

Trampling: (ing.) consiste em pisar na pessoa submetida ou ficar sobre ele/ela, seja com o pé descalço ou calçado.

Treinamento: a ação pela qual um dominante (Mentor, Mestre, Tutor, etc.) condiciona de forma ativa a resposta da submissa perante determinados estímulos. O objeto do "treinamento" é duplo, por um lado se justifica como um jogo acordado por ambos, e por outra parte se deseja "moldar", igualmente de forma consensual, o comportamento submisso.

Triskel: no BDSM se usa o triskel de origem celta como símbolo da comunidade. Seu desenhista, Quagmyr, se inspirou na leitura da novela de Pauline Réage, História de O.

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Tutor: um tipo específico de mestre ou dominante, que se encarrega do "treinamento" ou preparação de uma pessoa submissa, mas considerando que o/a sub num momento posterior "recupere" sua liberdade e busque uma relação autônoma com uma pessoa dominante. Também pode ocorrer que a pessoa submissa já tenha estabelecida tal relação, e com o consentimento e conhecimento de todas as partes, se inicie um processo de "tutelagem" com um terceiro, neste caso o Tutor.

Vício inglês, o: se refere à flagelação. No século XVII os franceses denominavam dessa forma aos que gostavam do açoite erótico em qualquer uma de suas modalidades, por acreditar que se originasse diretamente do uso dos açoites disciplinares sobre as nádeas desnudas de alunas e alunos das escolas vitorianas. Também é o título de um conhecido livro científico sobre a historia da flagelação, escrito pelo hispanista inglês Ian Gibson. (Gibson, Ian, El vicio inglés. Barcelona: Planeta, 1980 / The English Vice. London: Duckworth, 1978.)

NOTA: Este dicionário está integralmente extraído da WIKIPEDIA, um texto disponível sob a Licença Creative Commons.

A autora desta obra não se proclama dona de nenhum dos direitos deste dicionário.

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Apêndice de Acrônimos em Inglês

Estes são alguns acrônimos ingleses usados no cenário BDSM e nos debates de fóruns da Internet dedicados a essa temática.

BBW - Big Beautiful Woman, a mulher gorda como fetiche

BDSM - Bondage, Disciplina, D/s, Sadismo Masoquismo. O saco misturado.

BDSMLMNOP - BDSM “e qualquer coisa que desejemos fazer” (práticas extremas)

CB ou C+B - Tortura de pênis e testículos

CBT - igual ao anterior

CIS - Submissão Completa e Irregável

CNC - Consensual “Não-consensual”

CP - Corporal Punishment, castigo corporal

D/s - Dominação e Submissão

EPE - Erotic Power Exchange - a base ideológica da D/s GS

Golden Shower - chuva dourada (ato de urinar sobre o sub)

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IMAO - In My Arrogant Opinion, na minha opinião dominante (arrogante)

IMHO - In My Humble Opinion, na minha humilde opinião

LDR - Long Distance Relationship, relação à distância

MPD - Multiple Personality Disorder, múltiplas desordens de personalidade

MUDs -

Multi User Dungeon, calabouços para jogos de múltiplas fantasias

Munch Social gathering of local BDSM-people, Reuniões sociais de grupos BDSM

NC - Não-Consensual

NL - New Leather, os integrantes da "modernidade" no BDSM

NLA - National Leather Association, grupo de ajuda americano a comunidade

S/MObBDSM Obligatory BDSM: Obrigatoriamente BDSM, refere-se à necessidade de expor algo sobre a temática, em um e-mail à um grupo de notícias BDSM

OG Old Guard Leather , a "velha guarda" no BDSM

PEP - People Exchanging Power , grupo de ajuda a comunidade BDSM

PITA - castigar, bater nas nádegas (punishment in the ass)

S - slave (sub), escrava/o, submissa/o 266 | PRT


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SAM - Smart-Ass Masochist, quem gosta ser açoitada/o nas nádegas

Sex Magick - uma palavra inventada, composta de Sex (sexo), Magic (magia) e kick, tapa, chute, empurrão.

S/M or S&M - Sadismo e masoquismo, sadomasoquismo

SO - significant Other, o importante Outro, geralmente é usado quando se refere à outra parte de uma relação D/s S.S.S. - Soc.Sexuality. Spanking, sociedade para a difusão da sexualidade dos açoites

SUB /SUBMISSIVE - submisso/a, submetido/a

WS - Water Sports, jogos aquáticos, chuva dourada

YKINMK - Your Kink Is Not My Kink : teu vício (gosto sexual) não é o meu

YKINOK - Your Kink Is Not Okay, seu vício (gosto sexual) não é legal

YKIOK, IJNMK - Your Kink is OK, It's Just Not My Kink, seu vício (gusto sexual) é legal, mas não é a minha.

YMMV - Your Mileage May Vary, nossas experiências podem ser variadas. Uma maneira ritualizada de expressar tolerância com outras práticas que não se goste ou faça.

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