EDIFÍCIOs HÍBRIDOs CULTURAL . SERVIÇOS . URBANO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE ARTES E ARQUITETURA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II ACADÊMICA: LARISSA MIRANDA KRAVCHENKO ORIENTADOR: PEDRO HENRIQUE MÁXIMO
Produção e Diagramação Visual: Larissa Miranda Kravchenko Texto: Larissa Miranda Kravchenko Capa e Contra-Capa: Colagem e Edição por Larissa Kravchenko Imagens originais Alessandro Gallo (obras de humanos híbridos)
KRAVCHENKO, Larissa. Edifício Híbrido, Departamento de Arquitetura e Design da Escola de Artes e Arquitetura, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2017.
«I prefer «both-and» to «either-of», black and white, and sometimes gray, to black or white. A valid architeture evokes many levels of meaning and combination of focus: ist space and its elements become redable and workable in several ways at once» (VENTURI, Robert. Complexity and Contradiction in Architecture. New York, 1977, p.16)
«Prero isto e aquilo a isto ou aquilo, o branco e o preto e, algumas vezes, o cinza, ao preto ou ao branco. Uma arquitetura válida evoca vários níveis de signicados e se centra em muitos pontos: seu espaço e seus elementos se leêm e funcionam de várias maneiras ao mesmo tempo»
SUMรกRiO
Corpos e mentes Ciborgues e Andróides Implantes, Enxertos e Próteses
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Aculturação Os outros/Diferença Migrações Mutações A cidade contemporânea A cidade multicultural Edifícios Híbridos Linked Hybrid - Steven Holl Très Grande Bibliothèque - Rem Koolhaas Pavilion Dutch - MVRDV Localização Mapa com População de Goiânia por Região - 2010 Diagrama dos quinze bairros mais populosos - Goiânia - 1991/2010 Mapa de Equipamentos e infraestrutura de transporte Mapa de Equipamentos Culturais e Esportivos Mapa de Uso e Ocupação Mapa de Alturas
Topografia e Insolação Diagrama de Uso e Horários de Fundionamento - Atual Diagrama de Uso e Horários de Fundionamento - Proposta
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Diagrama da Relação do Programa com a cidade Edifícios Híbridos Forma Implantação Circulação e Programa Estrutura, Tecnologia e Materialidade Bloco A Plantas e Cortes Bloco B Plantas e Cortes Bloco C Plantas e Cortes Vistas Disponível em: <https://visualhunt.com/f2/photo/4157308972/bb3f9e4563/> Acesso em 07 nov. 2017
INTRODUÇÃO O Tema do trabalho é Edifício Híbrido que será inserido no Centro de Goiânia. Esse tipo de edicação trata de questões relevantes na vida de cidades médias e grandes, que em sua maioria se expande de forma dispersa e sem planejamento.O que faz surgir cidades com tecidos espraiados devido ao deslocamento de seus habitantes para as regiões periféricas das cidades. Essa expansão desordenada cria novas centralidades e as centralidades “antigas” se tornam defasadas com muitos vazios urbanos. De forma genérica, isso faz parte da história de Goiânia. Tratando mais especicamente, essas novas congurações de centralidades enfraqueceram e enfraquecem os territórios histórico e social como é o caso do Centro de Goiânia. Os vazios urbanos em abandono, presentes em toda cidade, ao serem tratados como problema trazem a possibilidade de revitalização e hibridização desses espaços. Como consequência, a sua reinserção no mercado imobiliário, implicando em novo planejamento, porém sem grandes impactos urbanos. Por ultrapassar o limite entre o arquitetônico e o urbano, tratando o interno com suas envolventes, o Edifício Híbrido é um revitalizador ativo e dinâmico do espaço, transformando o sentido morfológico e social da cidade. Também cria relações entre intervenção e contexto urbano, composição e representação e principalmente entre espaços públicos e privados. A multifuncionalidade de um edifício híbrido nasce para atender as demandas locais e amenizar os problemas urbanos do lugar a ser inserido. Busca-se muito a interação tanto da construção com a cidade quanto da construção com o usuário. E traz consigo críticas acerca da relação público-privado quebrando a ideia de segregação e elitização do espaço. Os “estranhos” se cruzam no mesmo espaço tornando-o um instrumento positivo também para a sociabilidade da cidade. Se tudo é híbrido, ou seja, uma mistura desde sua origem, o pensamento do Movimento Moderno (início do século XX), ainda muito utilizado atualmente, que segrega usos e pessoas, nos separa das nossas origens. Cada vez mais, devemos buscar espaços mais condizentes, já que não existe um homem universal, consequentemente não existe espaço universal, assim entende-se a necessidade da escuta e da interação.
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Edição por Larissa Kravchenko Imagens originais Alessandro Gallo (obras de humanos híbridos) Disponível em: <http://www.alessandrogallo.net/portfolio.php> Acesso em 24 mar. 2017
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DisponĂvel em: <http://envieta.com/wpcontent/uploads/2017/04/board453758_1920.jpg> Acesso em 07 nov. 2017
Imagem 1: Homem primitivo despelando o animal caçado. Disponível em: <http://c3.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/Beb13007d/15141748_v08E2.jpeg> Acesso em 24 mar. 2017
OS HÍBRIDOS Um híbrido só pode ser denido de forma genérica, não cabe a ele ser somente uma coisa, ter somente um signicado, vai além. Um híbrido abrange todas as ciências, todos os ramos do conhecimento. Um híbrido pode ser um ser vivo, uma máquina, um edifício, um programa, uma cultura, uma dança, uma música. O híbrido é mutável e não pode ser denido por completo. Pode-se tratar de como reconhecer um híbrido. Ele abrange mais de uma denotação e está ligado à mistura e à miscigenação. Segundo Peter Burke exemplos de hibridismo estão não apenas em toda parte como na maioria dos domínios da cultura-religiões sincréticas, losoas ecléticas, línguas e culinárias mistas e estilos híbridos na arquitetura, na literatura ou na música. Para entender um pouco mais dos híbridos, devemos estudar os acontecimentos históricos. No caso deste trabalho, iremos estudar o hibridismo relacionado com a tecnologia e arquitetura.
Desde a evolução humana, onde um Australopitecos utilizou-se de uma pedra para abater animais, nos tornamos híbridos. A partir do momento em que saiu de sua condição física-biológica original (não-caçador) e precisou de se hibridizar com um objeto (extra-corpo) para se tornar um caçador. Isso se repete inúmeras vezes atualmente em quase todas nossas atividades, nos hibridizamos para ser ou fazer o que não conseguimos enquanto seres humanos crus e nus. Não existiria laranja sem a união do vermelho e do amarelo, assim como, o Australopitecos não seria caçador sem uma arma.
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Esquema 1 (KRAVCHENKO,2017)
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Imagem 2: Obra de Giacomo Balla, "The speed of a motorcycle," 1913. Disponível em: <http://www.doispensamentos.com.br/site/wp-content/ uploads/2011/03/automovel.jpg> Acessado em 24 mar. 2017
Imagem 3: Narciso contemporâneo, referenciação à obra Narciso (1597) de Caravaggio. Disponível em:<http://wx2.sinaimg.cn/mw690/6975ceb1gy1fcsm jdxuxij20e109i0uh.jpg> Acessado em 24 mar. 2017
Avançando a história, o século XX é um importante ponto de partida para esse estudo. A partir da Segunda Guerra Mundial houve uma mudança tecnológica acelerada que afetou quase todos os campos da experiência humana no planeta. Vale lembrar, que essa mudança iniciou na Revolução Cientíco Tecnológica de 1870 e mais tarde ganhou força graças às consequências da Grande Guerra. Segundo Nicolau Sevcenko (2001, p. 24) mais de oitenta por cento de todas as descobertas cientícas se deram nos últimos cem anos e dois terços disso se deu após a Segunda Guerra. O controle tecnológico gerado com essas descobertas acaba alterando o ambiente e por consequência o comportamento das pessoas, que a partir de então passaram a se adaptar ao ritmo frenético das máquinas. Além disso, o crescimento tecnológico foi acompanhado pelo crescimento das metrópoles, a procura de trabalho e melhorias de vida passou a ser o foco de muitas pessoas que vinham de todos os lugares, inclusive de zonas rurais. A aglomeração de pessoas de diferentes lugares também alterou a relação humana, já que estavam todos ocupados. Passou-se a ter relações mais rápidas, diretas e visuais. Conhecia-se uma pessoa pela sua roupa, seu comportamento, o tom e modo que conversa. A visibilidade social ganhou um poder de sedução onde vende-se a imagem.
Segundo a análise do teórico Marshall McLuhan, a tecnologia passou atribuir um novo papel ao olhar, não mais estático e linear, mas agora onipotente e onipresente, dinâmico, versátil, intrusivo, capaz de se desprender dos limites do tempo e do espaço, como de uma câmera por exemplo. A esse olhar alucinado, os recursos eletroeletrônicos acrescentaram os potenciais do som amplicado e distorcido, repondo ao conjunto os efeitos de simultaneidade, de descontinuidade, da interatividade de fragmentos autônomos, ademais da conectividade táctil de um mundo invadido pelas multidões, pelos uxos e pelas mercadorias. (MCLUHAN apud SEVCENKO, 2001) O ritmo frenético da cidade ligado à invasão tecnológica no cotidiano e com o novo papel da visão, provocou mudanças na sensibilidade e nas formas de percepções sensoriais da sociedade. Agora, tem-se uma supervalorização visual, muito aproveitada pelas mídias, a busca pela freneticidade afeta sobretudo a capacidade de concentração em contextos estáticos.
Narciso mais do que nunca se dene por um trabalho de autoconstrução e auto-absorção subjetivas. (LIPOVETSKY, 1983, p. 193)
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Imagem 4: Letra da música Technologic de Daft Punk (2005) Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-oKVWVgb4f2k/UUN_Hqjf5wI/ AAAAAAAAHCY/odZigobx4m4/s1600/Technologic.jpg> Acessado em 19 mar. 2017
Imagem 5: Crítica à cultura do consumo de identidade. Disponível em: <http://m.cdn.blog.hu/ma/manzardcafe/image/2%200%201%201/Okt%C3% B3ber/Barcodes/Consumer%20Culture%20Continued%20by%20Kitty%20Bi tty.jpg> Acessado em 19 mar. 2017
O sentido de coletividade vem se perdendo e o “nós” ca cada vez mais restrito a um “eu” que se conecta a uma rede virtual innita. As relações passam a ser cada vez mais distantes e virtuais. O corpo vem se dissolvendo em pixels, fala em hertz e o status de uma relação varia de online para ofine. Atualmente existem muitos lmes e séries que fazem críticas a essas mudanças sociais trazidas pela inuência tecnológica e do capitalismo. Como por exemplo as séries Black Mirror (2011), Mr. Robot (2015), Westworld (2016) e também os lmes She (2013), Transcendence (2014) e The Lobster (2015). São provas de que esse assunto deve fazer parte das discussões atuais. A tecnologia afetou o campo da música com o uso de sintetizadores e vozes eletrônica por exemplo podemos citar a Música industrial, Música eletrônica, Synthpunk, Synthpop, Pós-punk e New Wave.
A sociedade do “eu” desenvolveu o culto ao corpo, uma prática comum ao homem urbano contemporâneo alimentado pela mídia que está ligado à juventude eterna e beleza inalcançável. Tecnologias destinadas à forma física humana, produtos cosméticos, alimentos “light”, “diet” e “orgânicos” vêm crescendo mais do que nunca. Uma contradição para uma sociedade dos conservantes, anabolizantes, agrotóxicos e remédios industrializados. Outra consequência do “neonarcisismo” é o progresso dos esportes individuais, sem time ou equipe. São esportes livres que são praticados em qualquer lugar, sem a necessidade de uma quadra esportiva especíca por exemplo, lidam com a física, saúde, força e liberdade. Skates, bicicletas, parkour e surfe são exemplos desses esportes onde busca testar seu corpo, a competição com o próprio “eu” e a superação do próprio limite. Os avanços na ciência foram consequências do desenvolvimento das tecnologias, como por exemplo, a evolução da microbiologia que gerou uma facilidade maior na manipulação da genética humana. Existem estudos para desenvolver projetos de homens e mulheres conforme o desejado, alimentando o velho sonho de se criar “superhomens” ou “super-mulheres”. Por consequência geraria uma nova forma de poder, onde genes são capital.
Imagem 6: Algo para o homem mais velho, obra de Paul Blow. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/BIKCoqPA42i/> Acessado em 27 mar. 2017
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Não podemos tratar do termo “ciborgue” como fantasia futurística. Os ciborgues são reais e segundo Hari Kunzru (2009, p.121-123) eles têm estado entre nós há quase cinquenta anos. Kunzru conta que o primeiro ciborgue do mundo foi um rato de laboratório, do Hospital Estadual de Rockland em Nova York, no nal dos anos cinquenta. Nele foi implantado uma pequena bomba osmótica que injetava doses precisamente controladas de substâncias químicas que alteravam vários de seus parâmetros siológicos. As gerações dos super-heróis investiram no desenvolvimento de pesquisas para que os especialistas em cibernética e nanotecnologia estudassem e aprimorassem a possibilidade da criação de equipamentos que possam ser acoplados ao organismo humano am de melhorar suas capacidades, condições de sobrevivência e qualidade de vida, criando assim seres híbridos, ciborgues, metade homem e metade máquina. Hari Kunzru (2009, p.122) discorre que em meados dos anos sessenta, os ciborgues representavam um grande negócio, onde a Força Aérea estadunidense investia em projetos de construção de exoesqueletos, braços robóticos, dispositivos de biofeedback e sistemas especializados. De um lado, a mecanização e a eletricação do humano; de outro, a humanização e a subjetivação da máquina. É da combinação desses processos que nasce essa criatura pós-humana a que chamamos “ciborgue”. (SILVA, 2009, p.12) Atualmente existe a possibilidade de se fabricar humanos melhores, ampliando suas capacidades por meio de dispositivos articiais. Desde doses de insulinas às chamadas próteses, os implantes e enxertos. Tudo já materializado e cada vez mais comum. A distinção do que é natural e articial, de onde o humano acaba e começa a máquina é cada vez mais complicada. É atualmente impossível separar a relação humana da tecnologia, já que agora ela faz parte até mesmo do nosso organismo, não se trata mais de um coadjuvante da história, a tecnologia agora é o diretor da história.
(...) a cibernética deixou dois importantes resíduos culturais. O primeiro é sua descrição do mundo como uma coleção de redes. O segundo é sua intuição de que não existe uma distinção tão clara entre pessoas e máquinas quanto alguns gostariam de crer. (KUNZRU, 2009: p.126)
Imagem 7: Rachel uma ciborgue, personagem do lme Blade Runner de 1982 (interpretada por Sean Young) Disponível em: <http://vignette1.wikia. nocookie.net/bladerunner/images/2/28/Rachael_2.jpg/revision/latest?cb=2016 1120224041> Acessado em 25 mar. 2017
Imagem 8: Atenção da Tecnologia Digital, por Antoine Geiger. Disponível em: <http://www.thisiscolossal.com/wp-content/uploads/2015/11/7.jpg> Acessado em 28 mar. 2017
Imagem 9: Coração articial, feito de poliuretano e titânio. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu2/foto/0,,69460000,00.jpg> Acessado em 25 mar. 2017
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Segundo Tomaz Tadeu (2009) a criação de ciborgues nos leva a reetir a verdadeira imagem do humano, coloca em dúvida a origem divina do homem e abre o questionamento sobre a originalidade humana. O termo é utilizado por muitos autores quando se trata da condição humana atual, o homem híbrido, afetado pelas tecnologias, expandido pelo mundo virtual. Esse ser reúne orgânico, máquina, cultura, gêneros, cção e realidade. Neste nosso tempo, um tempo mítico, somos todos quimeras, híbridos – teóricos e fabricados – de máquina e organismo; somos, em suma, ciborgues. O ciborgue é nossa ontologia; ele determina nossa política. (HARAWAY, 2009, p.37)
Bruno Latour no seu ensaio Jamais Fomos Modernos (1994) traz uma polêmica discussão já estampada no título. O autor desmonta a ilusão moderna de que é possível isolar a natureza das coisas inatas, da política e da ação humana. Ele compreende que os híbridos existem a muito tempo na história e que é impossível dissociar o humano do não-humano. Ele retrata o híbrido como parte do abismo entre natureza e sociedade criado pela constituição moderna, assim desde que essa tentativa de puricação não tenha êxito (como não teve até os dias atuais) nunca fomos modernos, e portanto os híbridos são uma realidade. Em contraposição aos humanos-máquinas (ciborgues) vem sendo desenvolvidos, os chamados Andróides. Agora, tratam-se de máquinas (robôs) cada vez mais humanas. Assunto muito abordado em livros e lmes como Blade Runner: o Caçador de Androides de 1982, onde previa em 2019 a existência desses seres. A inteligência articial vem sendo desenvolvida rapidamente, tornando essas previsões futurísticas cada vez mais próximas da realidade. Os androides seriam capazes de processar a fala, as ações, as motivações e as emoções, sem esforço consciente, essa máquina humana poderia ser tratada como substituição da raça humana na terra no desenvolvimento de diversas atividades. Atualmente esses androides quase humanos são chamados de Humanóides. Em 2009, o psicólogo Neal J. Roese e o cientista da computação Eyal Amir juntaram-se para tentar prever como serão as interações humanoandroides daqui a 50 anos. Para eles será possível ver andróides com aspecto orgânico e agindo como humanos, como se vê nos lmes de cção cientíca. Porém os estudiosos validam a importância de se considerar os impactos psicológicos que esse tipo de criação irá causar na sociedade.
Imagem 10: Ava uma andróide, personagem do lme Ex_Machina: Instinto Articial de 2015 (interpretada por Alicia Vikander) Disponível em: <http://www.vagantepop.com/wp-content/uploads/2015/04/Ex-MachinaDownload-Wallpapers.jpg?x17946> Acessado em 25 mar. 2017
Imagem 11: Yangyang humanóide apresentada no Global Mobile Internet Conference (GMIC) em abril de 2015. Disponível em: <http://pix.avaxnews. com/avaxnews/65/2d/00022d65_medium.jpeg> Acessado em 25 mar. 2017
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Enm, híbridos. A realidade vivida atualmente não nos deixa ignorar o fato que já vivemos em uma sociedade composta de híbridos humano-articiais. A criação de implantes, enxertos e próteses, que trazem essa possibilidade através da implantação de órgãos articiais. Esse tipo de hibridização proveniente da junção de tecnologia e ciência proporcionou aos humanos uma evolução no âmbito de trazer melhorias e oportunidades antes inimagináveis. Aparelhos auditivos, implantes dentários, próteses mecânicas ou mioelétricas (que produzem movimentos comandados por microprocessadores), enxertos arteriovenosos, são exemplos que cada vez mais a hibridização humana é real e cada vez mais o natural confunde-se com o articial. Não se trata de um acessório, e sim de peças fundamentais, as vezes até vitais na vida de quem as utiliza. Somos híbridos pelo implante dentário que colocamos ou até mesmo pela insulina que um diabético injeta. Estes também exemplicam a ideia de hibridização temporária ou permanente, vital ou não vital. Outro ponto que vale destacar é que o hibridismo esteve na história muito ligado a sobrevivência, desde o Australopitecos que se hibridizava para alimentar-se ao paciente que recebe um transplante de um coração articial. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, apenas 14,6 pmp (por milhão de população) são doadores de órgãos efetivos (dados de 2016). O Brasil encontra-se em vigésimo sétimo entre quarenta e sete países (dados de 2015) comparando o número de doadores efetivos. Apesar de já existirem técnicas para se criar órgãos articiais, é uma tecnologia cara e para poucos, quando essa indústria se desenvolver e tornar cada vez mais comum, a la do transplante poderá diminuir. Esse é um exemplo de que a tecnologia pode ser utilizada a nosso favor.
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Imagem 12: Esquema de um implante dentário. Disponível em: <http://sorria. dentalprev.com.br/wp-content/uploads/2016/03/istock_000027779163large7. jpg> Acessado em 25 mar. 2017
Imagem 13: Matthew James com prótese mão biônica (i-limbultra da empresa TouchBionics) controlada por impulsos elétricos. Disponível em: <http://s.glb img.com/po/tt/f/original/2012/01/24/matthew_james.jpeg> Acessado em 25 mar. 2017
Imagem 14: Um indígena da tribo Xikrin tira uma foto com celular. Disponível em: <http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/11/10/brazil_protest_eraldo_ peres_ap.jpg> Acesso em 28 mar. 2017
A HIBRIDIZAÇÃO Ao tratarmos da hibridização como parte da nossa história percebemos a equivalência da vida contemporânea com esse termo. Alguns processos devem ser destacados am de caracterização do problema. Sabemos que a consolidação do sistema capitalista gerou uma tentativa de síntese ou homogeneização do mundo, onde as relações socioespaciais são instrumentalizadas pela conexão de diferentes partes do mundo, a chamada globalização se tornou realidade graças aos avanços tecnológicos, principalmente nos sistemas de comunicação e transporte. Além desses processos a inuência da tecnologia nos modos de vida contemporâneos, também alteram os costumes tradicionais, a chamada cibercultura vem sendo cada vez mais difundida pelo vasto ciberespaço (espaço virtual de interconexão dos computadores) agora o contato é virtual e de alcance mundial. Vale destacar também o papel da mídia na difusão da chamada cultura de massa onde o capitalismo é o protagonista.
Ao relacionarmos a facilidade de integração e contato entre os povos e difusão tecnológica com a realidade atual destacamos os processos de Aculturação, Mutação e Migração.
(Trecho da música Parabolicamará de Gilberto Gil lançada em 1994) Disponível em <http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_info.php?id=386& letra> Acesso em 25 mar. 2017
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Apesar de um termo muito pertinente na história humana, é um termo criado recentemente, no século XIX, por antropólogos anglo-saxões. Esse processo, segundo Teixeira Coelho (1997, p.35) é caracterizado pelo contato direto e prolongado entre duas culturas diferentes que levam a transformações em qualquer delas ou em ambas. Trata-se de intercâmbio, sincretismo e assimilação por outra cultura. Essa interação social entre diferentes grupos se torna cada vez mais comum e natural. Na tentativa de “globalizar”, surgem processos de unicação e adaptação social aos modelos de consumo, consequentemente, na predominância desse pensamento no mundo contemporâneo facilmente podemos identicar uma massicação cultural. Uma consequência desse tipo de processo é a desconstrução de algumas culturas, que perdem espaço para as culturas maiores, novas, fortes, ou mais adaptadas ao “novo mundo”. Jan Nederveen Pieterse desenvolveu um estudo em 1993 onde tratou da globalização cultural enquanto hibridização. Esse processo de aculturação não pode ser meramente denido como uma mistura e sintetização de diferentes elementos que formam um conjunto cultural, na verdade essa hibridização
enquanto globalização é uma poderosa força política e econômica, social e cultural que vêm tentando impor novos costumes culturais por exemplo. A aculturação não é positiva quando se cria culturas sem rosto. Esta aproximação exige uma maior tolerância relacionada a convivência com as diferenças. O conhecimento da diversidade cultural está relacionado com respeito ao próximo. Essa miscigenação está no sangue de todos, ninguém é cem por cento «puro», somos portanto um apanhado de descendência, somos híbridos culturais por genética e costumes.
Imagem 16: Encolhimento do mapa do mundo. HARVEY, David, 1993, p.220
Imagem 15: Face formada por diferentes raças. Disponível em: <https://www. geneticliteracyproject.org/wp-content/uploads/2017/01/0.jpg> Acessado em 25 mar. 2017
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(LÉVI-STRAUSS, apud. BURKE, 2003, p. 13)
Após o estudo do processo de globalização que vem se desenvolvendo cada vez mais, devemos entender como se dá essa diferenciação dos indivíduos. A identicação do “outro” é estudada pelo lósofo Heidegger, segundo ele, parte de uma discussão sobre alteridade, o problema do encontro e reconhecimento do outro. É que não se trata de um sujeito isolado, e sim a partir de uma empatia onde o outro é reconhecido como um duplo de mim mesmo. A diferenciação entre um ser do outro enquanto indissociável no mundo compartilhado nos faz reetir sobre a identicação do “eu diferente”. Podemos perceber o outro através da empatia, ou seja, da projeção do eu no outro. Só reconhecemos o outro porque entendemos que se trata também de uma pessoa que vive em um mundo comum ao seu. O outro nunca será um sujeito disperso, isolado, sem parâmetros.
Imagem 17: Multidão na praia. Disponível em: <https://visualhunt.com/ photo/137653/> Acessado em 07 nov. 2017
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Imagem 18: Mão coloridas. Disponível em: <https://i.pinimg.com/originals/80/ 47/0a/80470a1ad2d3d6a754265f03b4891b12.jpg> Acessado em 25 nov. 2017
A formação da sociedade híbrida, plurirracial, pluriétnica e multicultural brasileira se deu principalmente através dos processos migratórios (imigrações e emigrações) e através de relações socioespaciais com povos e culturas diferentes. Seria ilusão pensar em uma identidade nacional homogênea. Historicamente todas as civilizações também sofreram processos de hibridização. A ideia de hibridismo cultural, defendida por Peter Burke (2003), tem ganhado maiores proporções devido a globalização, já que as identidades culturais tendem atravessar fronteiras, conectando povos, integrando comunidades e estabelecendo laços entre nações. Burke também analisa o futuro das culturas, para isso, segundo ele, devemos considerar quatro aspectos: a globalização, a contraglobalização, a diglossia cultural (combinação de cultura global com culturas locais), homogeneização (com a fusão de diferentes culturas) e as novas sínteses.
Argentina 4%
Em um mundo futuro de cultura global, poderemos nos tornar todos biculturais (...) Todos nós falaremos EFL (English as a Foreign Language, inglês como língua estrangeira) ou qualquer outra língua mundial (...) mas manteremos nossa língua ou dialeto local em outras, participando da cultura mundial mas mantendo uma cultura local. (BURKE, 2003, p.106)
A tecnologia desempenha um papel importante nesse processo já que encurta a distância dos povos através do ciberespaço. O vasto conhecimento das enciclopédias eletrônicas ajuda no reconhecimento de culturas e costumes de diferentes povos. Ou seja, essa migração, deslocamento e troca pode ser realizada também por plataformas tecnológicas.
França 3%
Itália 5% Espanha 6%
EUA 25%
Reino Unido 6% Bolívia 8% Japão 20%
Portugal 11% Paraguai 12%
Gráco 1: Principais países de origem dos imigrantes internacionais do Brasil entre 2005-2010. Dados IBGE, censo 2010 (KRAVCHENKO, 2017)
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População Original Aimoré (Botuco, Ilhéus, ES)
Carijó (SP)
Charrua (RS)
Caeté (Costa Nordeste) Caeté (MG)
Carijó (PR) Carijó (RS)
Guarani (MS) Omágua (Rio Solimões)
Canindé, Genipapo
Cariri, Caratiú, Icó, Panati, etc (Nordeste)
Potiguar (Costa Nordeste) Tamoio (RJ)
Tupinambá de Cumá (MA)
Tamoio (Cabo Frio) Tucuju (AP)
Tupiniquim (Ilhéus e ES) Tupiniquim (SP)
Tupinambá do Recôncavo
Gráco 2: Grupo Indígenas extintos. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000. Apêndice: Estatísticas de 500 anos de povoamento. p.222
Imagem 19: Paisagem urbana em São Paulo, SP, Brasil. Disponível em: <http://f.i.uol.com.br/folha/cotidiano/images/16277337.jpeg> Acessado em 28 mar. 2017
A sociedade híbrida habitante do mundo sofreu mutações durante os processos de hibridização das cidades. Essas mutações devem ser entendidas a partir de análises das formas de coletividade, participação social e culturas ativistas contemporâneas. A partir desse último ponto podemos destacar o Ciberativismo, que nada mais é que uma forma de ativismo on-line. A potência da globalização de informações, já citada anteriormente, aumenta quando o assunto é ativismo. Diversos ciberativistas se unem para protestar tanto virtualmente quanto sicamente. Pela internet a empatia de ideias se torna mais fácil, já que, com apenas alguns cliques se pode acessar o perl de uma pessoa, montar grupos de conversas on-line e criar páginas virtuais. O Ciberativismo pode ser entendido como um fenômeno social fruto das mutações mais amplas da sociedade contemporânea. Acerca da história das cidades existem pontos a serem analisados. As condições urbanas as quais as cidades contemporâneas se desenvolveram deixaram o vocabulário de arquitetura para trás, não existiam linguagens sobre aquele tipo de desenvolvimento. Por esse motivo até os dias atuais, existem muitos teóricos que usam a cidade contemporânea como base de estudo. A paisagem da cidade nos seus diferentes tempos históricos sofre com as diversas mutações.
A linguagem visual da paisagem urbana se altera de acordo com seus habitantes e usuários. Ela é o espelho do momento político, histórico, social e cultural em que a cidade está inserida. Ela é o palco das atrações.
Imagem 20: Protesto Brasil. Disponível em: <https://visualhunt.com/f2/photo/ 15407193011/3000af34aa/> Acessado em 09 nov. 2017
Imagem 21: Protesto Nova Iorque. Disponível em: <https://i.pinimg. com/736x/35/28/d6/3528d6b431 c3980467109776ad5b9369-woman-power-black-power.jpg> Acessado em 09 nov. 2017
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Imagem 22: Infográco das estradas de circulação do mundo. Disponível em: <https://a.fastcompany.net/upload/new%20ring%201%20bigger%20rst%20 pic.jpg> Acessado em 25 mar. 2017
A PROLIFERAÇÃO DOS HÍBRIDOS Para entender a cidade contemporânea é preciso entender o período histórico em que ela está inserida. Fazendo um recorte entre a eclosão da Primeira Guerra Mundial ao colapso da URSS no início dos anos 90, pode-se observar que as maiores experiências da cidade enquanto objeto de estudo de arquitetura ocorreram nesse “breve século XX”¹. O Movimento Moderno, o surgimento das cidades soviéticas, o New Deal, ditaduras europeias, as grandes guerras mundiais, a formação de megalópoles são exemplos de que apesar de muitos acontecimentos, tudo passou rápido, porém esse período deixou várias “cicatrizes” que explicam boa parte do que nos tornamos. Ao nal desse recorte temos a transição da cidade moderna à cidade contemporânea que iniciou no nal do século XX e consolidou de fato somente no século XXI.
A construção da cidade moderna se deu por inúmeros equívocos: o distanciamento dos elementos construtivos através de zoneamento, os estudos sobre espaços universais juntamente com a obsessão do “funcionalismo ingênuo” ² são sem dúvidas os mais fortes. A segregação de espaços como por exemplo, moradia e trabalho, substituiu a afetividade e intimidade com a cidade, elevando o trabalho (as fábricas) como local de sociabilidade cotidiana, substituindo os espaços públicos como os mercados e até mesmo as ruas, que serviam somente para transitar. Com a comprovação feita anteriormente (ver tópico 1.1 ) de que nós somos híbridos desde nossa origem tornam esses equívocos mais graves, já que ao segregar usos e pessoas o modernismo nos separa das nossas origens.
¹ Termo utilizado pelo historiador inglês Eric Hobsbawm no livro Era dos Extremos: o Breve Século XX (1914-1991) de 1994. ² Termo utilizado por Aldo Rossi no livro "A Arquitetura da Cidade" em 1966
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Já que não existe um homem universal, consequentemente não existe espaço universal devemos, ao invés de parar no tempo, nos tornar mais críticos em relação a arquitetura produzida e buscar alcançarmos cada vez mais espaços mais condizentes com a realidade. Os assuntos tratados anteriormente fazem parte da cidade contemporânea ou contribuíram para sua consolidação. O crescimento tecnológico, o crescimento das metrópoles, os processos de migração, as mudanças do pensamento da sociedade afetada pelo capitalismo e a aculturação são exemplos facilmente identicados no mundo contemporâneo. Há algum tempo o espaço urbano encontrase dilatado, a dispersão espacial (que pode ser estudada como consequência modernista) contribui para a instabilidade da cidade contemporânea. As diversas escalas do espaço (seja ele físico, econômico, social, político, cultural ou institucional) reetem a fragmentação da cidade por limites as vezes invisíveis e difíceis de superar. Consequentemente vive-se a obsolescência e desativação de edifícios e áreas da cidade, gerando os chamados vazios urbanos, desterritorializando atividades e criando novas centralidades que tornam as centralidades antigas defasadas. A cidade contemporânea se torna cada vez mais o palco da diferença, os processos de exclusãoinclusão isolam as minorias culturais, religiosas, linguísticas, isolam também por níveis de renda e estilos de vida. Bernardo Secchi (2006, p.90) caracteriza a cidade contemporânea como o lugar da simultaneidade e paradoxalmente da não contemporaneidade, que nega o tempo linear, a sucessão ordenada de coisas, de acontecimentos e comportamentos dispostos ao longo da linha do progresso como foi imaginado pela cultura moderna. A cidade contemporânea apresenta-se uma forma do tempo diversa daquele da cidade moderna.
O que chamo de espetacularização das cidades contemporâneas, que também pode ser chamado de cidade-espetáculo, está diretamente relacionado a uma diminuição da participação popular, mas também da própria experiência física urbana enquanto prática cotidiana, estética ou artística, exemplicada aqui pelo histórico das errâncias urbanas. (JACQUES, 2005, p.16)
A contemporaneidade possui, como condição, a proliferação acelerada de híbridos. No mundo predominantemente urbano e transnacional, torna-se inevitável o contato com os outros, diferentes e semelhantes, próximos e distantes, xos e em movimento, permanentes e transitórios. A cidade contemporânea é híbrida por essência, o que a torna aparentemente confusa e caótica. Sua complexidade se justica porque ela é uma síntese dos tempos, das inuências de seus desenhos, de seus urbanistas e de seus atores; dos conitos sociais e territoriais tensionados no espaço, dos afetos e dos desafetos, dos processos de rememoração e estratégias de esquecimento. Nela, suas paisagens explicitam e denunciam a segregação, o isolamento, a negação, o poder, os modos de vida e as apropriações simbólicas. Multicultural, ela é ponto de convergência e de passagem dos híbridos. (MÁXIMO, 2016, p.13)
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Se a arquitetura reete a sociedade, porque ainda produzimos arquiteturas baseadas na funcionalidade, no espaço universal e na tripartição burguesa? As questões já tratadas no primeiro assunto desse tópico (1.3) voltam à tona nesse assunto. É preciso deixar bem claro para que não sejam feitas interpretações errôneas acerca de um Edifício Híbrido. Ele jamais poderá ser lido como um Edifício Multifuncional. Ambos abrigam mais de duas funções no seu interior, porém se distinguem em vários aspectos, ou seja essa única semelhança não os torna iguais. No Edifício Multifuncional as funções ocorrem no mesmo edifício mas não se interagem, essa segregação através da função é uma característica das ideias modernistas. Já no Edifício Híbrido os programas se inter-relacionam, podem estar ligados tanto sicamente quanto visualmente ou até mesmo se fundirem no mesmo espaço, há uma miscigenação dos espaços. A relação forma-função vista em muitos Edifícios Multifuncionais não acontece nos Edifícios Híbridos, nem sempre revelam no exterior as funções que ocorrem internamente. Outra diferença é a relação do Edifício Híbrido com a cidade, sua função urbana está além de muitas outras construções, ele não se resume em arquitetura, mas se expande tornando ferramenta urbanística importante para a cidade contemporânea, já que tem como vantagens a concentração funcional (diversos programas e funções no mesmo edifício), a facilidade de acesso (espaços abertos e públicos). Essas distinções vão além, como o Edifício Híbrido é uma construção que nasceu das necessidades das cidades contemporâneas, está muito ligado ao uso da tecnologia, da relação usuárioespaço-edifício. Podem ser construídos em grandes dimensões, com materiais tecnológicos, estruturas híbridas.
O Edifício Híbrido é um revitalizador ativo e dinâmico do espaço, transformando o sentido morfológico e social da cidade. Também cria relações entre intervenção e contexto urbano, composição e representação e principalmente entre espaços públicos e privados. A multifuncionalidade de um edifício híbrido nasce a partir de um estudo profundo do lugar, já que vem para atender as demandas e amenizar os problemas urbanos. Em cidades dispersas é um instrumento de multiplicação de centralidades. Busca-se muito a interação, tanto da construção com a cidade quanto da construção com o usuário. E traz consigo críticas acerca da relação público-privado quebrando a ideia de segregação e elitização do espaço. Quem nunca ouviu a frase “Não fale com estranhos”? Neste edifício a ideia é totalmente o oposto, os “estranhos” se cruzam no mesmo espaço tornando-o um instrumento positivo também para a sociabilidade da cidade.
Imagem 23: Tirinha «Não fale com estranhos» de Ryotiras. Disponível em: <https://ateotalamo.les.wordpress.com/2011/12/dontalk2.jpg?w= 1400> Acessado em 26 mar. 2017
Imagem 24: Obra de arte «Metro», 2011 por Alessandro Gallo³ Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-x3hHQPwfSVw/UaH5pC6 NluI/AAAAAAABbhM/Fl9f7wreNUc/s1600/Alessandro+Gallo+_+ sculptures+(2).jpg> Acessado em 26 mar. 2017
³ As obras do artista Alessandro Gallo, também utilizada na colagem da capa deste trabalho, retratam os híbridos humanos desempenhando atividades comuns. Ver mais em: http://www.alessandrogallo.net/
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Os processos de migrações sofridos na formação de, inicialmente povoados, e mais tarde de cidades foram fundamentais na formação da multiculturalidade, plurirracialidade e plurietnicidade, que consequentemente formaram as cidades híbridas (ver tópico 1.2 ). Após a revolução tecnológica a hibridização das cidades também se potencializou. Podemos atualmente ter contato virtual fácil e rápido com diferentes culturas. A globalização de informações também nos trouxe o conhecimento de culturas antigas à culturas descobertas atualmente. Assim como a linguagem de uma pintura é gurativa, a arquitetura é representativa. Uma das formas de representações da arquitetura está ligado à cultura. Com a multiculturalidade, a arquitetura contemporânea reete os híbridos. A utilização de materiais de alta tecnologia, estruturas híbridas, usos complexos. O reconhecimento da característica multicultural da cidade vem gerando sentimento de alteridade nas pessoas (ver imagens à direita). Manifestações de apoio a diversidade cultural, preocupação com a inclusão social de grupos excluídos e acolhimento de refugiados, são exemplos que vem se tornando cada vez mais comuns. Mesmo que sejam positivas, essas ações só existem porque a exclusão social é uma realidade. Em pleno século XXI com o presente hibridismo cultural ainda vemos casos de racismo, antissemitismo, homofobia, machismo, misandria e xenofobia.
Imagem 25: Logomarca de um grupo de artistas de Berlim que procura o envolvimento artístico com grupos sociais marginais, desfavorecidos e minoritários. D i s p o n í v e l e m : < h t t p : / / w w w . m u l t i c u l t u r a l c i t y. e u / wp-content/uploads/2015/03/MC_logo_MC_03a.jpg> A c e s s a d o e m 2 6 m a r. 2 0 1 7
Imagem 26: Logomarca da 21ª edição do Festival Nacional Multicultural criado em 1996 na Austrália. Inclui atividades para todos, shows, barracas de comida e bebida, dança e celebrações. Disponível em: <http://www. multiculturalfestival.com.au/__data/assets/image/0009/984645/NMF_ footer_logo_date.png> Acessado em 26 mar. 2017
Imagem 27: Mapeamento de Paris com base em ideias do movimento. Disponível em: <http://imaginarymuseum.org/LPG/debordpsychogeo.jpg> Acessado em 26 mar. 2017
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Imagem 28: Edição por Larissa Kravchenko. Original disponível em: <http://images.adsttc.com/media/i mages/5011/612d/28ba/0d70/4200/05c4/large_jpg/ s t r i n g i o . j p g ? 1 4 1 4 4 7 1 1 4 2 > A c e s s a d o e m : 2 6 m a r. 2 0 1 7
Projeto de Steven Holl Architects Localização: Beijing, China Programa: 750 apartamentos, espaço público verde, zonas comerciais, hotel, cinemateca, jardim de infância, escola Montessori, estacionamento subterrâneo. Área: 220000.0 m² Ano do projeto: 2009 Imagem 29. Disponível em: <http://images.adsttc.com/media/images/501 1/61c7/28ba/0d70/4200/05ed/large_jpg/stringio.jpg?1414471160> Acessado em: 26 mar. 2017
Permeabilidade entre os lotes
Cidades densas com ruas e pátios
Vizinhança tradicional
Cidade com bolsões
Na tentativa de combater o desenvolvimento urbano privatizado, a proposta do arquiteto para o lugar foi criar um novo espaço urbano poroso do século XXI, convidativo e aberto ao público. Opondo-se aos sistemas de ordernamento do espaço que formam cidades densas e sem porosidades, a proposta do arquiteto deriva-se do modelo de cidades com bolsões. Porém, nesse projeto os edifícios são distribuídos de forma que se tenha um desenho mais aberto, poroso e uma maior permeabilidade urbana, valorizando principalmente o pedestre. A diversidade de usos faz com que o projeto tenha um importante papel social na cidade já que, promove relações interativas e encoraja encontros nos espaço públicos
Alternativa 1
Permeabilidade entre os lotes e pelas edicações.
Alternativa 2 Imagem 30: Disponível em: <http://images.adsttc.com/media/images/501 1/617c/28ba/0d70/4200/05d8/large_jpg/stringio.jpg?1414471261> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 31: Disponível em: <https://cdn-images-1.medium.com/max/10 00/1*3H2PmcvGpzqRw0MXGrayww.jpeg> Acessado em: 28 mar. 2017
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A rede de torres se conecta com a cidade através de sete entradas que estão distribuídas por toda quadra do edifício. O acesso às torres é o mesmo dos espaços públicos, tornando o encontro de pessoas inevitável. Dessa forma o edifício desempenha um importante papel na sociabilidade da cidade. Todos dividem e transitam o mesmo espaço. Podemos concluir que o edifício quebra a ideia de espaços para poucos e abraça a cidade como um todo. Imagem 32: Acessos. Disponível em: <http://images.adsttc.com/media/ images/5011/6190/28ba/0d70/4200/05de/large_jpg/stringio.jpg?14144 71279> Acessado em: 26 mar. 2017 Ponte elevada Circulação vertical Circulação horizontal
Entrada e circulação 2 Entrada e circulação 1 Imagem 33: Perspectiva do edifício. Disponível em:<https://f.i.uol.com.br/ folha/turismo/images/0918770.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 34. Disponível em: <http://images.adsttc.com/media/images/501 1/611d/28ba/0d70/4200/05c0/large_jpg/stringio.jpg?1414471198> Acessado em: 26 mar. 2017
As oito torres do edifício se conectam pela ponte elevada que encontra-se entre o 21º e 22º andar.
2
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3
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Os usos variados que acontecem na ponte elevada se interagem através da circulação integrada. Os usuários se encontram pelos espaços públicos, corredores, elevadores e escadas do edifício.
1 1
7
Circulação
6
5 9
9 8
1 - Lounge 2 - Área de alimentação 3 - Galeria 4 - Livraria 5 - Cafeteria 6 - Salão de beleza 7 - Mercado 8 - Piscina 9 - Spa/Espaço Fitness Entrada Bar/Cafeteria Spa
Clube de Esportes Exposições
Imagem 35: Planta baixa da ponte elevada Disponível em: <http://images. adsttc.com/media/images/5011/614e/28ba/0d70/4200/05cc/large_jpg/ stringio.jpg?1414471222> Acessado em: 26 mar. 2017
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Vista - recorte 2
Vista - recorte 1
Vista - recorte 1
Clube de esportes
Spa
Imagem 36. Disponível em:<http://estudiocadaum.com.br/blog/wpcontent/uploads/2008/11/sect_1.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Vista - recorte 2 Exposições Bar/Lounge Imagem 37. Disponível em:<http://estudiocadaum.com.br/blog/wpcontent/uploads/2008/11/sect_3.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017 Circulação vertical
Vista - recorte 3
Circulação horizontal
Spa Vista - recorte 3
Entrada
Cafeteria
Loja
Exposições
Imagem 38. Disponível em:<http://images.adsttc.com/media/images/ 5011/6186/28ba/0d70/4200/05db/large_jpg/stringio.jpg?1414471270> Acessado em: 26 mar. 2017
Conguração horizontal
Conguração vertical
Conguração híbrida Imagem 39: Acesos e circulação de pedestres. Disponível em:<http:// images.adsttc.com/media/images/5011/617f/28ba/0d70/4200/05d9/ large_jpg/stringio.jpg?1414471264> Acessado em: 26 mar. 2017
Acesso e circulação do jardins públicos Acesso e circulação da ponte elevada Acesso do estacionamento Circulação no nível do terreno Comercial Lobby de apartamentos Acesso do lobby para a ponte elevada Imagem 40: Acesos e circulação de pedestres. Disponível em:<http:// images.adsttc.com/media/images/5011/617f/28ba/0d70/4200/05d9/ large_jpg/stringio.jpg?1414471264> Acessado em: 26 mar. 2017
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Imagem 41: Edição por Larissa Kravchenko. Original disponível em: <https://i.ytimg.com/vi/NvQaVVLNAbo/maxresdefault.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Proposta para Biblioteca Nacional de Paris Localização: Paris, França Programa: Cinemateca, uma biblioteca de catálogos, e uma biblioteca de pesquisa cientíca. Ano do projeto: 1989
Imagem 42. Disponível em: <http://apps.o5.no.s3.amazonaws.com/oma/ www/20150813110945-1502-mzc1/5000.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Cheios x Vazios
Os cheios são consruídos pela justaposição, intersecção e somatórios de formas puras ou não.
Sobreposição +intersecção de sólidos e planos Imagem 43. Disponível em: <https://thewhiteslave.les.wordpress.com/ 2013/06/untitled_panorama1s.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 44. Disponível em: <https://thewhiteslave.les.wordpress. com/2013/06/untitled_panorama1s.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
A proposta da biblioteca de Koolhas é pensada como um bloco sólido translúcido (caixa de informações) onde os vazios são esculpidos para criar os espaços. A ideia do cheio e vazio pode ser interpretada por opostos como: conhecimento x ignorância; lembranças x esquecimentos; concentração x distração. Essa relação é denida por Koolhas como «ausência utuando na memória.»
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Looping
Imagem 46. Disponível em: <https://cdn-images-1.medium.com/max/10 00/1*BlAinCC9ZE_2_JgCnecIuA.png> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 45. Disponível em: <https://thewhiteslave.les.wordpress.com/ 2013/06/untitled_panorama1s.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
A conguração da circulação se dá de forma complexa. É feita através dos vazios e é sequencial. Para alcançar o «looping» no topo do edifício deve-se atravessar cada um dos vazios. Todos os vazios, exceto a espiral, são para circulação. A disposição dos elementos formais acontece com variações de orientação e de ordenamento de planos.
Imagem 47. Disponível em: <https://68.media.tumblr.com/0611ab0eba 7daab252f5b225d9f886d2/tumblr_inline_no3k10sDIl1s9nlgn_1280.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 48. Disponível em: <https://thewhiteslave.les.wordpress.com/ 2013/06/untitled_panorama1s.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
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Imagem 49: Edição por Larissa Kravchenko. Original disponível e m : < h t t p s : / / w w w. m v r d v. n l / e n / p r o j e c t s / e x p o > Acessado em: 26 mar. 2017
Projeto: MVRDV Localização: Hannover, Alemanha Programa: Pavilhão de exposição Área: 8.000 m² Ano do projeto: 1997-2000
Imagem 50. Disponível em: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564 x / b 1 / 8 c / 1 4 / b 1 8 c 1 4 a 9 2 b 6 c 0 a f a 8 5 f 4 c d a 7 f 0 5 1 a 2 0 f. j p g > Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 52. Disponível em: <https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x /0b/cc/99/0bcc99758e71f6d6b8a13cf703d981ac.jpg> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 51. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cA9STz1k3U> Acessado em: 26 mar. 2017
O maior emblema do pavilhão Holandês é a grande vitalidade e capacidade de inovação. O tema da exposição tinha relação com o respeito ao meio ambiente, unido com a ideia de um novo design urbano de espaços públicos verdes verticais traz soluções também para os problemas de poluição, esgotamento dos recursos naturais, congestionamento e habitabilidade em nossas cidades. O pavilhão híbrido relaciona o natural com articial, a justaposição e sobreposição de materiais opacos e claros, diferentes tecnologias. A estrutura do pavilhão é formada por seis diferentes paisagens sobrepostas. De baixo para cima: primeiro temos uma paisagem de dunas, posterior a ela uma paisagem de estufa, depois um espaço repleto de natureza. Essa composição revela a forte ligação com o natural, a vida hibridizada com o mundo contemporâneo de alta tecnologia.
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Imagem 53. Disponível em: <http://celloexpressions.com/wp-content/ uploads/2013/11/Historic-Precedent-Dutch-Pavilion-Hanover-2000.pdf> Acessado em: 26 mar. 2017
Imagem 54. Disponível em: <http://celloexpressions.com/wp-content/ uploads/2013/11/Historic-Precedent-Dutch-Pavilion-Hanover-2000.pdf> Acessado em: 26 mar. 2017
Água Natureza Dunas (Terra)
Paisagens verticais + Espaços públicos verdes + Tecnologia + Estrutura híbrida
A circulação uindo até último pavimento ao redor das escadas externas ou pelas torres de elevadores. A forma é composta por natureza, uxo de água, terra, planos verticais e horizontais, estruturas híbridas que alternam entre formas retas e angulares, para formas orgânicas no centro do edifício. Ao nal trata-se de vários níveis de sólidos e vazios empilhados. Imagem 55. Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-Jn8D0rwrEEU/T Zfn2kEUKSI/AAAAAAAAAw4/CMwJJslxZeY/s1600/expo%2B2000%2B4 .bmp> Acessado em: 26 mar. 2017
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DisponĂvel em: <https://visualhunt.com/f2/photo/3060352999/ccc8aa4583/> Acesso em 07 nov. 2017
macro - setor central
Mapa com População de Goiânia por Região - 2010 1º SUDOESTE - 223.027 hab 2º SUL - 221.925 HAB 3º CAMPINAS-CENTRO - 221.464 HAB 4º LESTE - 172.436 HAB 5º NOROESTE - 164.283 HAB 6º OESTE - 152.189 HAB 7º NORTE - 146.677 HAB Dados: IBGE - Censo 2010 Edição: Larissa Kravchenko
A cidade de Goiânia foi projetada pelo urbanista Atílio Corrêa Lima e o engenheirourbanista Armando Augusto de Godoy, mas sofreu diversas alterações ao longo dos anos devido ao crescimento disperso da capital. A área a ser estudada nesse trabalho se localiza no Setor Central, que faz parte da região Campinas-centro da cidade de Goiânia, Goiás. Suas principais vias são as avenidas Anhanguera, Goiás, Araguaia, Tocantins e a Paranaíba. A proposta de Atílio mais expressiva, apesar de mudanças, é o traçado viário que ligaria o centro administrativo ao centro comercial. Atualmente são vias de passagem e ainda desempenham um papel importante na estrutura urbana da cidade.
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Relação dos quinze bairros mais populosos por Censo Demográco - Goiânia - 1991/2010
1991 Jardim América Jardim Novo Mundo Setor Pedro Ludovico Setor Central Setor Oeste Setor Bueno Setor Leste Universitário Parque Amazônia Conjunto Vera Cruz Setor Leste Vila Nova Jardim Curitiba Vila Finsocial Jardim Nova Esperança Setor Campinas Setor Sul
2010 Jardim América Setor Bueno Jardim Novo Mundo Setor Oeste Setor Pedro Ludovico Setor Central Setor Leste Universitário Parque Amazônia Conjunto Vera Cruz Jardim Curitiba Setor Leste Vila Nova Jardim Guanabara Vila Finsocial Jardim Balneário Meia Ponte Jardim Nova Esperança Dados: IBGE, in www.ibge.gov.br censo 1991/2000/2010 Edição: Larissa Kravchenko
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N
mapa de equipamentos e infraestrutura de transporte - setor central
O bairro é muito acessível, além de possuir grandes eixos (Avenida Goiás, Anhanguera To c a n t i n s , Araguaia e Paranaíba) há também grande abastecimento de infraestruturas para o transporte coletivo e transporte alternativo.
Av. Parana íba
Av. Anhanguera
rag Av. A
s
tin
can
uai a
. To Av
legenda: Estações de bicicleta (Projeto Debike) Ponto de ônibus Ciclovias/Ciclorrota Corredor exclusivo de ônibus/BRT Quadras para estudo Quadra de intervenção Dados: SEPLAM/Imagem: GoogleEarth/ Edição: Larissa Kravchenko
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N
mapa de equipamentos culturais e esportivos - setor central
Biblioteca Professor Jorge Felix de Souza - IFG Teatro IFG
Ginásio Rio Vermelho
Biblioteca da Agência Municipal de Meio Ambiente Teatro Madre Esperança Garrido
Teatro Rio Vermelho/ Centro de Convenções de Goiânia
Av. Paranaíba
Centro Cultural Octo Marques
Grande Hotel Teatro Goiânia/ Vila Cultural Cora Coralina
Ambiente Skate Shop
rag Av. A
s
tin can
Av. Goiás
uai
a
. To Av
Beco da Codorna/ Museu de Arte Ubana/ Cine Ouro
Av. Anhanguera
Biblioteca SESC Centro
Museu Pedro Ludovico Teixeira Museu de Imagem e Som (MIS)/ Museu Zoroastro Artiaga/ Centro Cultural Marieta Biblioteca Pio Vagas, Braile Telles Machado/ e Gibioteca Jorge Braga Cine Cultura
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legenda: Equipamentos Culturais Equipamentos Esportivos Equipamentos Esportivos Quadra de intervenção 650 à 750 m 160 à 300 m 800 m à 1 km
+ 1 km
Imagem/Dados : GoogleEarth/Edição: Larissa Kravchenko
Analisando a ocupação do Centro é possível perceber que existem mais espaços fechados (construídos) do que espaços abertos (não-construídos), porém também existe um grande número de construções abandonadas ou sem uso, trazendo assim a preocupação de trazer novos usos e reavivar outros. Outro aspecto muito importante é a análise dos usos existentes no bairro. Com os usos predominantemente de comércios e serviços , que atraem co-presença apenas em horários comerciais há o abandono do Centro nos períodos noturnos e nais de semana, tornando-o perigoso nesses períodos. Segundo Alarcón e Holanda (2005) o Setor Central deveria ser um local de grande intercâmbio e encontro, já que é o local da memória histórica de seus habitantes. Atualmente encontramos apenas saturação e abandono de pessoas, perda de habitantes e ganho de transeuntes. O problema então não é somente a falta de pessoas na rua em certos períodos, mas qualidade dos espaços, faltam atrativos para promover os encontros e permanências, faltam habitações, equipamentos de lazer, esportes e cultura, falta manutenção, falta priorizar o pedestre e os meios de transporte alternativos como a bicicleta. É preciso ir além da conservação e restauração de bens, é preciso integrá-lo com a vida da população. Por isso é pertinente a implantação de Edifícios Híbridos, já que promovem a revitalização da cidade e dos espaços. Esse tipo de construção vai além do arquitetônico, busca-se a melhor relação da construção com a cidade e da construção com o edifício. Sua multifuncionalidade nasce da necessidade do local, assim integra-se novas atividades e espaços de qualidade para o encontro, convívio e permanência de toda a população.
Imagem 56. Grande Hotel, Goiânia-GO Disponível em: <hhttp://www.curtamais.com.br/uploads/conteudo/a8e 8616144a3d455571be8f342c370da.jpg> Acessado em: 09 nov. 2017
Imagem 57. Teatro Goiânia, Goiânia-GO Disponível em: <http://www.curtamais.com.br/uploads/conteudo/a8e 8616144a3d455571be8f342c370da.jpg> Acessado em: 09 nov. 2017
Imagem 58. Centro de Convenções de Goiânia, Goiânia-GO Disponível em: <http://www.curtamais.com.br/uploads/conteudo/93fb8 a990759be9ccce74f0cae43b2ca.jpg> Acessado em: 09 nov. 2017
Imagem 59. Museu Pedro Ludovico Teixeira, Goiânia-GO Disponível em: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/fotos/2012-12/ marinaadorjan14.jpg> Acessado em: 09 nov. 2017
Imagem 60. Vila Cultura Cora Coralina, Goiânia-GO Disponível em: <http://revistafactual.com.br/wp-content/uploads/2017/ 10/P1080237.jpg> Acessado em: 09 nov. 2017
recorte
Rua 6
Rua 7
aia
Rua 2
Rua 1
Habitacional Institucional Cultural/Entretenimento Misto 1(Habitação+serviços)
MAPA DE USO E OCUPAÇÃO
Av. Ara gu
R. do Lazer
Rua 8
Rua 9
Rua 3
ins
Educacional Estacionamento Serviços Comercial
t can . To Av
legenda:
Av. Anhanguera
Av. Goiás
Ao analisarmos o recorte no Centro entre as grandes avenidas, percebemos as principais características de usos do bairro: a predominância de usos comerciais e de serviços estão localizados principalmente nas grandes vias, que somam o tráfego desses usos com o tráfego de passagem.
N
Misto 2 (comércios + serviços)
Abandonados/sem uso Mapa Uso e ocupação recorte 1, 2017. Dados: KRAVCHENKO, 2017.
N MAPA DE ALTURAS
Rua 6
Rua 7
Rua 3
Rua 8
Rua 9
R. do Lazer
Av. Anhanguera
rag Av. A
s tin
can
Av. Goiás
. To Av Rua 1
uai a
Rua 2
Quando nos tratamos do gabarito de alturas nos deparamos também com a diversidade. Ao longo das grandes avenidas existem muitos prédios comerciais e prestação de serviços, já nas demais vias é predominante baixas altura. Outro aspecto característico do centro são os chamados becos, aberturas na quadra, que atualmente vem sendo utilizados como estacionamento público.
N
legenda:
4 ou mais pavimentos 3 pavimentos 2 pavimentos até 1pavimento
Mapa 4. Número de Pavimentos recorte 1, 2017. Dados: KRAVCHENKO, 2017.
33
QUADRAS D0 ESTUDO 21 20 7
8 37 38
Imagem/Dados : GoogleEarth/Edição: Larissa Kravchenko
Centro Cultural Cora Coralina Teatro Goiânia
Beco da Codorna Museu de Arte Urbana Palace Hotel Praça José Ximenes
Avenid a
Anhan
guera
Go iás ida
Rua do Lazer
Ave n
Avenida Tocantins
Cine Ouro
Grande Hotel
ia
ua
a nid
g ra
A
e Av
Imagem/Dados : GoogleEarth/Edição: Larissa Kravchenko
As quadras em estudo são: 21, 20, 7, 8 37, 38. Elas se localizam entre as principais avenidas do traçado urbano de Goiânia, Avenida Tocantins, Anhanguera, Goiás e Araguaia. As quadras abrigam muitos equipamentos urbanos de grande relevância como: Teatro Goiânia, Vila Cultural Cora Coralina, Centro de Convenções, Palace Hotel, Cine Ouro, Beco da Codorna e Grande Hotel.
34
A quadra 38 se localiza entre as avenidas Araguaia e Anhanguera, e entre as ruas 3 e 6. Uma importante característica é seu desenho urbano, onde o centro da quadra se localiza a praça José Ximenes. Atualmente além das vielas alguns lotes possuem aberturas para a praça.
N
uai
Rua 6
a
Av. Anhanguera
Av. A
rag
38 Rua 3
Uso e ocupação $ $ $ $ $
A predominância dos usos é comercial assim como a maior parte do bairro, porém também possui alguns usos menos comuns como habitação e consultório.
$
$ $ $ $ $
+ legenda:
$ $
$ $
$
Comércio
Serviços
Habitação
+ Consultório
Misto
Alimentação
A proposta é tornar parte da Rua 6 via pedonal, de forma que integre com a quadra 37, valorizando assim o pedestre, a u m e n t a n d o a permeabilidade. Outra medida é manter as aberturas para o centro da quadra mais livres para que haja um maior uso da praça José Ximenes.
35
N Av. Anhanguera Localizado entre as Ruas 3, Rua 6, Rua 7 e Avenida Anhanguera, a quadra 37 tem uma característica morfológica típica das quadras do Setor Central, é bastante densa e possui viela que direciona para o miolo da quadra, onde é utilizado como estacionamento público.
Rua 6
Rua 7
37
Rua 3
Uso e ocupação
$
$
A predominância dos usos é comercial no térreo, mas encontramos também habitações multifamiliares, hotel, agência bancária, tabelionato, lanchonetes e serviços. Há variações de número de pavimentos, sendo predominante 2 pavimentos.
$
legenda: $
Além de tornar parte da Rua 6 via pedonal, a proposta para a quadra seria construir passagens por dentro dos lotes, para aumentar a permeabilidade da quadra. Outra medida seria trazer novas atividades que geram uxos de pessoas e períodos diferentes dos existentes.
$
Comércio
Serviços
Institucional
Estacionamento
Misto
Alimentação
Café/Pub
Hotel
Biblioteca
legenda: Demolir Manter/Reuso
N
A quadra 7 é uma das quadras de conexão com a Rua do Lazer, que é uma via pedonal importante para a malha urbana da cidade. Além dessa via as outras que a circundam são as Avenidas Goiás e Anhanguera e a Rua 3. Por conta da via pedonal espaços de permanências foram criados então há uma maior interação do pedestre com a quadra.
7
Avenida Goiás
Rua do Lazer
Av. Anhanguera
Rua 3
Uso e ocupação
$
$
$
A quadra é quase toda comercial, possuindo também usos residenciais, serviços e religioso, mas o mais particular é o uso gerado pela Rua do Lazer, funciona como uma praça com seus espaços de permanência.
$ $ $ $ $ $ $ $
$ $
legenda:
$
Comércio
Estacionamento
Institucional
Religioso
Misto
A proposta é relocar a escola de teatro (uso existente na quadra) e criar um cinema voltados para a Rua do lazer, que também receberá intervenção urbanístico-paisagística para criar espaços para permanência de qualidade.
37
Cinema Escola de Teatro
legenda: Demolir
N
8
A quadra 8 possui uma referência histórico cultural muito grande para o Setor Central, pois nela se localiza o Grande Hotel que é um patrimônio tombado e outros edifícios de importância histórica de Goiânia. Localizada entre a Rua 7, Rua 3, Avenida Goiás e Avenida Anhanguera.
Rua 7
Avenida Goiás
Av. Anhanguera
Rua 3
Uso e ocupação
$
Atualmente existe muito movimento de transeuntes nessa quadra devido seus usos e sua localização, principalmente nos horários comerciais. No miolo da quadra se encontra o fundo do Grande Hotel, onde é utilizado como estacionamento público.
$
$ $
$
legenda:
$
A proposta é trazer a importância cultural para a quadra, mantendo os edifícios históricos e dando novos usos para eles, gerando novos encontros e reavivando a quadra em todos horários do dia.
Teatro
Comércio
Serviços
Institucional
Estacionamento
Misto
Alimentação
Artistas residentes + Agência Bancária Centro Livre de Artes
Anexo
legenda: Demolir Reuso
Hotel
N
Rua do Lazer
Av. Anhanguera
Avenida Goiás
A quadra 20 localizada entre a Avenida Anhanguera, Rua 9, Rua 3 e Rua do Lazer, é uma quadra com grande importância histórica, nela se destaca o Palace Hotel, edifício estilo Art Déco de 1953, que encontra-se bem conservado.
20 Rua 3
Uso e ocupação
$
$
Os usos da quadra são bastante variados, hotel, cinema adulto, comércios, estacionamentos, lanchonetes e restaurantes, além de habitações multifamiliares.
+ $
legenda:
$
A proposta seria construir um centro gastronômico que abrirá a quadra e integraria a praça da Rua do Lazer e com o hotel. Outra parte seria a criação de um anexo ao hotel no edifício vizinho que encontra-se sem uso, aumentando a rede de hotelaria e mantendo viva na história os dois edifícios históricos de estilo arquitetônico Art Decó.
+
$
Consultório
Estacionamento
Institucional
Cinema
Serviços
Alimentação
Sem uso
Misto
Comércio
Centro Gastronômico
Anexo Palace Hotel
legenda: Demolir Reuso
ni Ave
Avenida Goiás
Av. Anhanguera
da
21
A quadra escolhida para o desenvolvimento do trabalho foi a quadra 21 localizada entre as rua 9 e rua 3, Avenida Tocantins e Avenida Anhanguera. Atualmente a conguração da quadra é bastante densa, massicada e a permeabilidade dos pedestres na quadra (presente na proposta do desenho urbano) está prejudicada, já que o beco é utilizado como estacionamento durante o dia e ocioso durante o período noturno.
ntin
a Toc s
Rua 3
N
Uso e ocupação $
$
$ $ legenda:
$
Habitação
Estacionamento
Institucional
Museu
Serviços
Alimentação
Sem uso
Misto
Comércio
Trata-de se uma quadra com muitos elementos interessantes. A começar pelo Beco da Codorna, localizado na chamada Praça Câmara Filho, que abre a quadra para o pedestre. O beco já foi palco de muitos eventos culturais e atualmente abria o chamado Museu de Arte Urbana, Essa arte urbana estampa todo beco com muitas cores. Assim como os demais ele vem sendo utilizado como estacionamento. Na quadra temos o histórico popular Cine Ouro (Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro) em uma galeria comercial, ambos são pouco utilizados atualmente, possuindo muitas lojas vazias. Temos também a Galeria Tocantins com muitas salas vazias, além das lojas presentes nas quadras que estão sem uso. Outro problema levantado é a grande quantidade de construções sem uso na quadra, além das galerias comerciais que possuem praticamente metade das lojas/salas comerciais ocupadas.
40
do lugar Estudo d0
Imagem 54. Abertura da galeria Foto por: Larissa Kravchenko.
para Beco da Codorna.
A partir da análise perceptiva do lugar pode-se perceber a necessidade de um espaço de uso coletivo que seja capaz de condensar e catalisar a prática cultural e interação dos usuários. O aproveitamento da infra-estrutura existente no bairro se une à necessidade de revitalização do espaço e a reinserção desses lotes sem uso no mercado imobiliário, implicando em novo planejamento. O ponto norteador do projeto será a circulação da quadra, am de melhorar a permeabilidade e possibilitar essa circulação por entre os próprios edifícios. Para traçar o espaço que o edifício irá ocupar serão demolidos as construções desocupadas/sem uso. Será mantida a ideia original do traçado de Attílio e uma rua de serviço será aberta ao lado do Cine Ouro. A pré-existencia do grate nas paredes serã mantida em projeto, já que trazem a principal característica do local.
Imagem 55. Vista da Av. Tocantins, Foto por: Larissa Kravchenko.
41
lojas sem uso.
Imagem 58. Entrada Beco da Foto por: Larissa Kravchenko.
Imagem 57. Beco
Codorna pela Av. Tocantins.
da Codorna vista interna. Foto por: Larissa Kravchenko.
Imagem 60. Museu
de Arte Urbana. Foto por: Larissa Kravchenko.
Topograa e Insolação
N 749 750
751 752
Perl do Terreno
Outono / Inverno
É possível analisar os aspectos físicos-geográcos de acordo com a Topograa e a Insolação. O terreno possui pouco desnível, porém não pode ser desconsiderado.
Primavera/ Verão
Já sobre o aspecto da insolação, é possível perceber que em todas as estações do ano a fachada que mais recebe insolação é a fachada norte e nordeste que se localiza voltada para a Avenida Anhanguera.
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diagrama de Uso e horários de funcionamento - atual 24 22
24
22
02
02
04
20 04
20
06
18
06
18
16
08
10
14 16
Sábado
12
08
24 14
Segunda a sexta
22
10
02
12
04
20
legenda: Comercial
06
18
Serviços Alimentação
16
08
Institucional Estacionamentos
14
10
Domingo
12
De acordo com os diagramas dos usos e horários de funcionamentos da quadra em todos os dias da semana pode-se observar a falta de vida noturna na quadra, o que a torna ociosa e perigosa nesse período. Nos dias úteis (segunda a sexta-feira) todos os usos funcionam, porém a maior parte em horário comercial, salvo as pizzarias Scarola e Cento e dez que tem seu uso estendido até meia noite.
43
No m de semana nem tudo funciona. O funcionamento predominante no Sábado é das oito horas da manhã às quatorze horas da tarde. Já no Domingo apenas as pizzarias Scarola e Cento e dez juntamente com seus estacionamentos funcionam na quadra. A partir desse levantamento a escolha do programa busca equilibrar os usos e horários de forma que a quadra tenha utilização e circulação de pessoas em todos os períodos do dia.
diagrama de Uso e horários de funcionamento - PROPOSTA 24 22
24
22
02
02
04
20 04
20
06
18 06
18
16
16
08
08
14
10 12
14
Segunda a sexta
Sábado
10
24
12
22
legenda:
02
04
20
Comercial Serviços
06
18
Alimentação Institucional Estacionamentos Lazer
08
16
10
14 12
O programa foi pensado de forma a integrar as atividades de cultura e lazer trazendo melhorias à sociabilidade da cidade, potencializando a vivência urbana no setor central. O projeto híbrido combina programas em escalas, usos e públicos diferentes no mesmo edifício. Para estimular a permanência do usuário na quadra e prolongar o uso do edifício (estendendo para noturno) foram integrados ao programa cafés/pub, bares/restaurantes e usos 24 horas.
Domingo
Observando a problemática da falta desse tipo de equipamento foi implementada no programa uma biblioteca, como elemento de progresso social e permanência no edifício que é complementado pelo os outros usos, principalmente os de cunho cultural. Respeitando o gabarito existente, o projeto implanta-se de forma sutil. A permeabilidade criada proporciona outros pontos positivos como: segurança, encontros e a relação do edifício com o tecido urbano.
44
3
Partido arquitetônico DIAGRAMA DA RELAÇÃO DO PROGRAMA COM A CIDADE Estacionamento
Cultura
Inclusão Social
Agência Bancária
Institucional
$ Alimentação
Cinema
Lazer
Área Verde
Hostel
Acessibilidade
Edifício
Transporte Acessibilidade Infraestrutura Transportes Público Alternativos
Rua
pROGRAMA: - Agência Bancária - Coworking - Auditório
-LIVRARIA - hostel -bar
- Restaurante - Café/pub - Museu de Arte Urbana (REALOCADO) - Biblioteca -Escola de Grate
46
legenda: Demolir
0 .37
m²
A=4
legenda: Sentido da força predominante do terreno Área de intervenção Beco da Codorna
Núcleo Beco da Codorna
legenda:
47
Acessos e Sentidos de acessos
DEMOLIR/CONSTRUIR
Agência sem uso Bancária Bradesco
Imagem 61. Antiga
Banco do povo
sem uso
Caixego.
Fazem parte da demolição as construções dos lotes 27 ,29, 3, 44, 42, 38, 40. Dentre elas existe um edifício modernista da década de 70 projetado pelo arquiteto Silas Varizo para abrigar a antiga Caixego. Infelizmente essa construção foi completamente transformada do original, existem apenas alguns resquícios na sua fachada. Considerando que a arquitetura vai além da fachada, nesse projeto o conteúdo espacial se perdeu com as reformas que ele foi submetido. Com esse exemplo se abre um alerta aceca da discussão da preservação da arquitetura moderna em Goiânia, por muitas vezes esse assunto tem chegado tarde, somente quando o edifício está completamente desgurado como nesse caso. Abre-se a questão, até que ponto se deve preservar um edifício histórico completamente transformado e que não representa mais o seu tempo ?
COMÉRCIO E SERVIÇOs
Imagem 62. Banco Fonte: Google Earth
do Povo, Antiga Caixego em 2017.
No mesmo bairro temos diversos exemplos de construções modernistas como o Jóquei Clube de 1962, projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o Parthenon Center de 1976, projetado pelo escritório Arquitetos Associados e o Edifício do Banco do Estado de Goiás (1964) projeto do arquiteto Eurico C. de Godoi. Estes são exemplos de arquitetura moderna que apesar de mal utilizados ou abandonados são representativos e possuem uma grande importância para a paisagem da cidade e se encontram em um estado de intervenção para reabilitação, ao contrário do edifício da antiga Caixego. Por isso convém utilizar do lote para abrir a área para a cidade. Em função da antiga construção no edifício que irá ocupar seu lote serão inseridas empenas de concreto na fachada para marcar a nova intervenção fazendo referência a esse momento da arquitetura.
48
EDIFÍCIOS HÍBRIDOS BLOCO A inspirado em pixels, f r u to d a contemporaneidade, a circulação pulsante nas faixas vermelhas que o atravessam ora são pa s s a g e n s , o r a encontros e também contemplação. mais que todos, aqui os estranhos se encontram, se vêem e se cumprimentam.
49
BLOCO b bloco das passagens e encontros, onde pessoas de todos os lugares passam. é a casa dos híbridos, é para estar, permanecer ou talvez só passar, é para conhecer, comer, beber e encontrar.
BLOCO c a arte urbana é a arte da cidade, é a arte democrática, é a marca das ações humanas, reexo do momento político, histórico, social e cultural em que a cidade está inserida. Este bloco é a tela dessa arte, é m u t á v e l , inconstante e é das pessoas como a cidade.
BLOCO a
BLOCO b
1. formas primárias
1. forma primária
+
2. TRANSFORMAÇÃO
2. Transformação e adição
3. Transformação subtração
+
3. Forma nal
4. Forma nal
50
BLOCO c
Edifícios Híbridos
1. forma primária
1. eIXOS DE CONEXÃO - pASSARELAS
2. Transformação
3. subtração
4. nal
51
2. EDIFÍCIOS HÍBRIDOS
3. Composição total
A denição do espaço a ser ocupado pelo edifícios teve com como principal diretriz a circulação. Na busca de criar espaços abertos que convidem o pedestre adentrar e utilizar a quadra as formas abraçam e criam diferentes experiências entre o usuário com a construção. A circulação difusa integra os edifícios ao Beco da Codorna respeitando sua forma, ocupação e a importância histórica, social, cultural e paisagística que ele desempenha.
IMPLANTAÇÃO
RA
DA
AVENI
GUE N A H N A
BLOCO
SI L RAS MIGUE VIEL A
BLOCO
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CORDO
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EN
A
RUA 9
BLOCO
A BECO D
AV
B
RUA 3
O entorno da quadra 21, assim como boa parte das quadras do Setor Central, é bastante denso. Apesar da proposta original do desenho urbano para essas quadras ser repleta de aberturas com rua de serviços que as atravessam, o que vemos atualmente são construções sem recuos laterais criando paredões em volta da quadra que deixam desapercebidos as ruas de serviços existentes. O projeto busca quebrar a monotonia presente e assim, são criados intervalos entre os blocos onde foram propostas áreas de convivência urbana que através da materialidade e do paisagismo integram desde calçada, passando pelo miolo até o outro lado da quadra, trazendo continuidade da construção com o existente. Esse espaço intermediário com multiplicidade de signicados e usos irá servir tanto aos edifícios projetados como a
cidade como um todo, agora a quadra 21 será servida com espaços de convivência e permanência livre para a ocupação, expressões e encontro, aberto para o acesso e circulação. Em relação ao gabarito de alturas é predominante no entorno construções de 2 a 4 pavimentos, porém uma característica presente são edifícios mais altos nas avenidas e principalmente nas esquinas das quadras, sendo comum de 18 a 20 pavimentos. Buscando uma melhor interação com a paisagem os edifícios propostos respeitam o limite do entorno, não ultrapassando a maior altura presente na quadra que é do Edifício Anhanguera, localizado na esquina da Avenida Anhanguera com a Avenida Tocantins, que possui 20 pavimentos.
52
CIRCULAÇÃO e programa
ER
A
O acesso do estacionamento da agência bancária se dá pela rua 9 devido ao baixo uxo de veículos. Foram criadas 7 vagas de estacionamento e a delimitação do espaço do carro em relação à do pedestre se dá pelo mobiliário urbano implantado. Já o acesso de serviços voltados para atender predominantemente a manutenção dos demais edifícios será feito pela Viela Miguel Rassi.
9
AV E
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RUA
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AVENIDA TOCANTINS ACESSO E CIRCULAÇÃO TRANSPORTE COLETIVO ACESSO E CIRCULAÇÃO TRANSPORTE individual ACESSO E CIRCULAÇÃO Pedestre
Fica
APRENDER
rO
SENTAR
A acessibilidade é um ponto importante para a denição dos espaços, o corredor exclusivo de transporte público (BRT) da Avenida Anhanguera torna conveniente o posicionamento do acesso principal de pedestres nessa via. Porém apesar do pedestre ter maior acesso por ela as aberturas para o acesso interno dos edifícios se dão predominantemente por dentro da quadra. Proporcionando uma maior experiência do usuário com o espaço, promovendo encontros e tornando a circulação pulsante.
BSE
RVA
LER
R LER ESTU DAR PESQUISAR
DORMIR COMERDESCANSAR
Circular LER Transitar ENCONTRAR TRABALHARAcessar Pagar DESCANSAR GUARDAR
OBSERVARReceber CONVIVERSacar
descansar DORMIRHOSPEDAR CONVIVER divertir Conversar COMER BEBER sentar
Os programas foram distribuídos pensando no uso e na circulação. Foram inseridos no Térreo usos que precisam de fácil acesso e também que atraem pessoas para dentro do edifício, como é o caso da Agência Bancária do Bloco A, do Restaurante do Bloco B e do Museu de Arte Urbana do Bloco C. No segundo pavimento temos a integração total do conjunto através das passarelas, nesse nível foram distribuídos programas que são públicos e que promovem o encontro e permanência do usuário, nele temos a Biblioteca no Bloco A, a área de
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REUNIR assistir REUNIR COMER BEBER SENTAR LER APRENDER GRAFITAR
OBSERVAR EXIBIR PASSAR
Coworking do Bloco B e a Livraria Café no Bloco C. Nos demais pavimentos foram distribuídos o restante do programa pensando sempre na melhor circulação para cada espaço.
Estrutura, tecnologia e materialidade Após a denição da forma o sistema estrutural adotado é o mais adequado para os três edifícios, o sistema metálico. Foram adotados Pilares e Vigas Perl I e lajes em Steel Deck. Esse sistema possui diversas vantagens, dentre as principais se destacam a facilidade de executar vãos maiores e ocupar menos espaço estrutural. Assim, seus pilares de 25 cm de alma estão, quase todos, nas extremidades das paredes, entre eles estão as vigas. A experiência única de se conectar a outros edifícios por uma passarela se deu com um projeto de estrutura independente. Trata-se de grandes treliças com perl I onde a repetição desses elementos traz ritmo a forma do conjunto. Ao atravessar os blocos grandes pilares (40 cm) apoiam essa estrutura ao solo. Assim, além de estabilizar a passarela, também possibilita o apoio das lajes no Bloco A, já que, nesse trecho possuem uma menor extensão. Parte dessa estrutura se torna arquibancadas externas ao Bloco A, essas se encontram a 1,80 m afastadas da estrutura do edifício, assim serão criadas vigas inteiriças que se conectam na estrutura da passarela e a estrutura do edifício em diferentes níveis. O fechamento dessas passarelas serão em chapa metálica perfurada (piso e laterais) onde a ventilação e visibilidade é proporcionada. Para o teto serão utilizadas placas termo acústicas que ajudam a garantir conforto no local. Já no piso das arquibancadas, serão instaladas placas de Piso Wall, material leve, resistente e de fácil xação.
Ainda no Bloco A, serão criadas duas peles de fechamento. A primeira é a tela metálica que envolve todo o bloco proporcionando uma proteção da insolação incidente e mantendo o edifício neutro durante o período diurno. A segunda camada funciona como uma pele de vidro, porém a proposta é criar uma malha quadriculada (inspirada em pixels) com dois materiais (3 form e vidro insulado e laminado), diferentes cores e translucidez. Esse jogo de materiais proporcionará diferentes luminosidades dentro e fora do edifício, já que quanto a luz cada material se comporta de forma diferente. No período noturno os pixels serão ligados para a cidade, trazendo uma maior atração visual para a quadra.
2
1
3
4 5
6
7 1 2 3 4
Laje steel Deck Concreto celular Chapa perfurada sistema pele de vidro
5 pAINÉIS 3 form 6 piso wall 7 Vidro Insulado e laminado
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O Vidro Insulado e Laminado conjuga as propriedades térmicas do insulado com as características de segurança e desempenho acústico do laminado. Sendo ideal para aplicação em todas esquadrias dos blocos, já que proporciona maior proteção contra os raios UV. O painel 3-Form é um material resistente e leve utilizado para conseguir diferentes jogos de iluminação devido sua translucidez. Será utilizado para compor o mosaico criado na fachada do Bloco A nas cores branca, cinza e preto. Nos blocos B e C as aberturas foram desenhadas para trazer maior porosidade a forma, as repetições variam de acordo com o uso e fachadas, nas fachadas norte a repetição é menor e nas fachadas sul a repetição é maior, principalmente nas áreas de circulação. O ritmo criado pela esquadrias além de contribuir esteticamente também proporcionam ventilação e iluminação, sem afetar o conforto térmico, já que será utilizado Vidro Insulado e Laminado, como dito anteriormente. No térreo dos três blocos foram utilizadas grandes portas pivotantes que possuem um eixo central. Porém em cada bloco elas possuem um material diferente. No bloco A serão utilizados Painéis de 3-form de forma que essa porta integre no mosaico criado, sem afetar esteticamente a forma. Já no Bloco B, as portas serão de Chapa Metálica. Já no Bloco C as portas serão telas para a arte urbana, executadas em Chapa Metálica estas receberão uma laminação adesiva porosa em ambos os lados, para melhor aderência do grate. Ainda no Bloco C o Auditório e a Livraria terão estruturas metálicas independentes, para trazer maior exibilidade de uso ao edifício. Na sala de aula os expositores serão em placas de gesso xadas em uma estrutura metálica, dessa forma periodicamente poderão ser substituídas.
vista da passarela
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vista da Avenida Anhanguera com a rua 9 - perĂodo diurno
vista da Avenida Anhanguera com a rua 9 - perĂodo noturno
56
vista da Avenida Anhanguera
vista do beco da codorna
82
vista da rua 9
vista da AVENIDA ANHANGUERA
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vista INTERNA DA QUADRA - BLOCO b À ESQUERDA, bLOCO c À DIREITA E bLOCO A AO FUNDO
vista INTERNA DA QUADRA - BLOCO b, PASSARELA À ESQUERDA BLOCO C
84
vista DA AVENIDA ANHANGUERA
vista da Arquibancada
85
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