Agradeço a Deus por ter me dado a chance de ter chegado até aqui e concluído este trabalho. Quero agradecer aos meus pais, que me apoiaram e ao meu esposo por ter me incentivado em todos os sentidos durante toda essa caminhada.
5.Apresentação
8.Justificativa 9. oqueéagerontologia? 11. oiníciodasdiscussões 15. aterceiraidadenoBrasil 17. desafios 19. objetivos 22.ReferênciasProjetuais 23. UBSParquedoRiacho 25. CentroComunitáriodoCidadãoIdoso 28.EstudosdeProjeto 29. acidadedesãocarlos 33. áreadeIntervenção 43.Projeto 45. acessosecirculação-terreno 46. insolaçãoesensações 47. programadenecessidades 49. implantação 55. acessosecirculação projeto 57. blocoA 63. blocoB 69. cortesefachadas
Com a crescente expectativa de vida ao nascer no Brasil e crescimento da população acima de 60 anos, tópicos como bem estar e cuidados com a terceira idade deve ganhar atenção também crescente.
Um estudo realizado na cidade de Montes Claros MG¹ concluiu que 33% dos idosos na cidade possuem dificuldade de acesso a serviços de saúde, sendo que a maioria destes não sabem ler, e tem uma autopercepção negativa da própria saúde.
O tema proposto, um Centro Dia Gerontológico, é um equipamento de saúde e lazer que tem os idososcomo público alvo, ou seja, pessoas de 60 anos ou mais, segundo o Estatuto do Idoso. A proposta deste equipamento é promover a qualidade de vida da terceira idade estimulando o convívio e o cuidado preventivo de doenças comuns à esta faixa etária, como por exemplo, derrames, diabetes e Alzheimer.
Este cuidado acontece através de consultas especializadas com gerontologistas, apoio de psicólogos e psiquiatras, educação comunitária sobre temas de saúde e bem-estar, manutenção e promoção da autonomia e independência e reinserção no contexto social, quando se aplicar.
Quanto ao estímulo ao convívio na terceira idade, este se dá através de oficinas, palestras, espaços comuns de lazer e propostas de atividades em conjunto.
VIEIRA; CARNEIRO; COSTA; CALDEIRA; 2020, pág
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologias (SBGG), gerontologia é “o estudo do envelhecimento nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e outros. Os profissionais da Gerontologia têm formação diversificada, interagem entre si e com os geriatras.”
É uma área intrinsecamente ligada à geriatria, mas se diferem no quesito de que a geriatria tem foco em prevenção e tratamento de aspectos físicos, enquanto a gerontologia é muito mais abrangente, estudando e buscando o bem estar do idoso em diversas áreas, como por exemplo, psicologia, Serviço Social, Nutrição, Terapia Ocupacional, Direito, ente outras. (SBGG)
Em entrevista realizada com o gerontólogo Dr. Josias Eduardo de Almeida Melo, ele explica:
A Gerontologia é uma área médica especializada em envelhecimento que busca fazer com que os indivíduos idosos vivam cada vez melhor, com maior independência, maior autonomia e menos doenças. Um dos desafios da gerontologia também é tratar cada vez mais as demências e outras condições de saúde que acometem mais idosos a cada ano e com isso comprometem sua qualidade de vida.
Apêndice I
Fonte: Autora.
O número de profissionais gerontólogos e geriatras, no entanto, é uma preocupação para o país, como informa um artigo da Câmara dos Deputados (2019). Segundo o texto, dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia daquele ano mostram que, na época, haviam cerca de 1.400 especialistas da área atuando no país.
Já os dados do Ministério da Saúde apontam um número ainda menor: 869 profissionais registrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, ambos os números muito abaixo do valor indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de um médico geriatra para cada mil habitantes.
No artigo, o deputado Osséssio Silva discorreu sobre o problema:
“O Brasil, infelizmente, não se preparou para envelhecer. Nós temos essa dificuldade hoje de ter profissionais qualificados para cuidar de idosos”
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2019)
Uma outra matéria, do ano de 2021, atualiza os números com dados do estudo da Demografia Médica no Brasil 2020 e aponta que naquele ano, á quantidade de médicos geriatras cresceu para 2.143, um número um pouco melhor.
Segundo a assistente social e especialista em Gerontologia Social, Maria Alice Nelli Machado (2021), o período da metade ao final do século XX no Brasil foi marcado pelo surgimento de novos atores políticos, novas demandas sociais e reinvindicações de direitos de diversos segmentos sociais. Neste período de transição, em que diversos movimentos e forças sociais organizavam suas demandas, também surgiu a luta pelas garantias de direitos dos idosos no Brasil.
Até o final da década de 1980 o envelhecimento da população era uma preocupação quase exclusiva dos especialistas, particularmente, das ciências da área da demografia e dos campos médico/sociais, que produziram reflexões, estudos e ações a respeito do envelhecimento e da velhice.
(MACHADO, 2021)
Profissionais e instituições que promoviam discussões no campo da gerontologia ganharam apoio do SESC São Paulo, e neste panorama, ocorreu, em 1976, três seminários regionais e um seminário nacional, promovidos para estudar a situação dos idosos no país. Estes seminários resultaram no documento “Políticas para a terceira Idade Diretrizes Básicas”, que diagnostica e relata a situação da velhice no Brasil, e aponta a necessidade de criação de políticas de assistência por parte do Estado (MACHADO, 2021)
Com a crescente discussão em torno do envelhecimento no país, aposentados passaram a se organizar em Associações e em 1980 surgiram também Conselhos dos Idosos, que buscavam participação direta nas lutas de classe. O governo, por sua vez, desenvolveu algumas ações, como a implementação do programa PAI (Programa de Assistência ao Idoso), que criava grupos de convivência da terceira idade nos postos do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social).
A SBG (Sociedade Brasileira de Geriatria), fundada em 1961, reconhecendo que a questão do envelhecimento era mais ampla do que os aspectos de saúde na velhice, impulsionada por profissionais da Gerontologia, em 1979 cria uma Comissão Especial de Gerontologia Social, composta por profissionais de vários campos do conhecimento, dando origem então à SBGG * (Machado,2021)
*Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
Segundo Machado (2021), em 1985, também foi fundada a ANG (Associação Nacional de Gerontologia), entidade técnico científica que tem por objetivo, lutar pela melhoria de condições de vida da população idos brasileira.
Sendo assim, nos anos 1990, o cenário de luta pelos direitos da população idosa no Brasil se tornava cada vez mais consolidado, e com o crescimento expressivo da população idosa no país - um total de 53% de 1970 a 1980 (HADDAD, 1986) a necessidade de políticas públicas que garantissem os diretos e qualidade de vida da população de terceira idade brasileira ficava cada vez mais evidente.
O primeiro resultado concreto da participação ativa da classe na reinvindicação de seus direitos foi a inclusão do artigo 203 na Constituição Federal de 1988.
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Na mesma época são realizados inúmeros eventos, palestras, congressos, cursos, seminários e fóruns em âmbito regional, estadual e municipal, são criados os cursos de gerontologia e geriatria, universidades abertas à terceira idade e programas de atendimento a idosos em instituições provadas (MACHADO,2021).
A PNI declara como objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
Poucos anos depois, em 1997 começa a ser discutida a implementação do Estatuto do Idoso, no entanto o projeto ficou engavetado por oito anos, sendo finalmente sancionado pelo Presidente da República no ano de 2003.
O Estatuto do Idoso, disposto na Lei Nº 10.741, de 1º de Outubro de 2003, determina que corresponde à idosa, qualquer pessoa acima de 60 anos. A lei dispões sobre os direitos da classe, entre eles, o atendimento preferencial imediato individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população.
Entre os demais dispostos estão:
I Direito de envelhecer II Liberdade, respeito e dignidade III Alimentos IV Saúde V Educação, cultura, esporte e lazer VI Exercício da atividade profissional e aposentar-se com dignidade VII Moradia digna VIII Transporte IX Política de atendimento por ações governamentais e não governamentais X Atendimento preferencial XI Acesso à justiça
Com todas as reivindicações feitas no século XX e apoio da legislação, além de fatores como aumento de renda, acesso à educação e serviços de saúde e saneamento básico aumentando a expectativa de vida, a população idosa segue crescente no Brasil. Esta crescente é possível de ser observada ao analisar a pirâmide etária do país em 2021 e a projeção para 2060.
Em 2021 a base da pirâmide é bem mais larga, indicando que a população idosa, que se encontra no topo da pirâmide, é bem menor do que a população mais nova. No entanto, em 2060, a proporção de idosos em relação às demais faixas etárias é bem mais equilibrada, e chega até a aparecer maior no gráfico, sendo que os idosos de 60 a 64 anos são apontados como maioria.
Pirâmide etária 2021
Fonte: IBGE,2021
Pirâmide etária 2060
Fonte: IBGE,2021
Segundo o IBGE, a população com mais de 65 anos representa 10,15% do total em 2021 e a projeção é para que chegue a 25,49% em 2060. No estado de São Paulo onde fica São Carlos, município onde está sendo proposta a instalação do Centro dia Gerontológico os números são um pouco maiores, indo de 11,21% em 2021 a 26,63% em 2060.
Um estudo da DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico), porém, indicou que a população brasileira com 60 anos ou mais em 2020 era de 37,7 milhões, representando 17,9% do total. Já a população desta faixa etária no estado de São Paulo já representava 20,2%. Na cidade de São Carlos, a porcentagem de pessoas com 60 anos ou mais em 2021 é de 17,35% segundo dados do SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados).
O estudo também aponta que 18,5% do total no país segue ativo no mercado de trabalho, 32% possuem plano de saúde e 26% moram em domicílios que receberam auxílio emergencial durante a pandemia de Covid 19, ou seja, não possuem trabalho formal e se encaixam no requisito de renda mensal per capita de meio salário mínimo, ou de renda familiar até três salários mínimos.
Apesar do crescimento das políticas públicas voltadas para a terceira idade, essa faixa da população ainda enfrenta alguns problemas. Segundo publicado no portal da Câmara dos Deputados, em 2014, o Brasil ficou em 58º entre 96 no ranking de qualidade de vida dos idosos. Os dados são gerados após análise e combinação de vários documentos de instituições internacionais e de fatores como renda, saúde, trabalho, educação e segurança, e foram publicados em outubro daquele ano no relatório Global Age Watch 2014 elaborado pela organização britânica de ajuda à velhice Help Age (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014).
Na publicação, o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, João Bastos Freire Neto, comentou sobre:
"Houve um grande avanço nas políticas [públicas] voltadas à população idosa nos últimos 15 a 20 anos A nossa dificuldade está em efetivar essas políticas, ou seja, colocar em ação o que a política determina", disse Freire Neto
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014)
Ainda no mesmo artigo, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB SP) criticou as falhas na execução de políticas públicas:
"Falta política pública voltada para geriatria e gerontologia, prevista no Estatuto do Idoso, mas com poucos exemplos e práticas realizados"
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2014)
Um estudo realizado na cidade de Montes Claros MG¹ e divulgado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, apontou que as maiores dificuldades dos idosos em acessar serviços de saúde, em ordem decrescente, são: a percepção de que o serviço era ruim, dificuldades de transporte, falta de recursos financeiros, a ausência de companhia, barreiras geográficas e barreiras arquitetônicas.
O acesso à equipamentos de lazer também é um problema na terceira idade, muitas vezes por não terem tido contato com esse tipo de equipamento anteriormente durante a vida. (MORI; SILVA, 2010). Idosos de classes sociais menos favorecidas, devido aos problemas financeiros, costumam manter atividades que gerem renda para manter a sobrevivência própria ou de sua família. Com isto em vista, Mori e Silva (2010) concluem que a falta de lazer atinge, sobretudo, idosos dessa faixa social por falta de agregação da cultura do lazer, por meio da Educação para o Lazer.
Bruhns (1997) cita como dificuldade ao acesso do lazer, pelas camadas desfavorecidas, a necessidade de cumprir horas extras no trabalho, preços inacessíveis dos ingressos para apreciação de eventos de caráter cultural, além de dependência de transportes coletivos e a longa distância do lar para os centros de lazer
(MORI; SILVA, 2010).
O artigo de Mori e Silva (2010) também enfatiza a necessidade de incentivo do poder público em diferentes grupos sociais, assim como a construção e manutenção de espaços públicos que tenha infraestrutura adequada e profissionais capacitados para ampliar a acessibilidade ao lazer, alavancando assim, a qualidade de vida na terceira idade.
Tendo em vista os dados demográficos e o perfil da terceira idade brasileira levantados, o projeto proposto tem como objetivo centralizar e facilitar o acesso tanto à serviços de saúde, com ênfase na prevenção de doenças e aumento da qualidade de vida, quanto à espaços de lazer e convivência que estimulem essas pessoas a se manterem ativas e saudáveis.
O Centro-Dia Gerontológico deve reunir profissionais de geriatria, gerontologia, psicologia, nutrição, terapia ocupacional, educação, e atender o público de 60 anos ou mais residentes na cidade de São Carlos, especialmente os que moram em bairros próximos ao equipamento como Vila Prado, Bela Vista, Lagoa Serena e Jardim Cruzeiro do Sul.
A Unidade Básica de Saúde (UBS) Parque do Riacho é um equipamento de saúde localizado no Distrito Federal. O projeto de 2021 feito pelo escritório Saboia+Ruiz Arquitetos tem um total de 2.150m² divididos em três blocos interligados por passarelas envidraçadas.
Com um terreno cinco vezes maior que o projeto, os arquitetos usaram de pátios internos para aumentar o volume dos três blocos deslocados e preencher o terreno.
Todo o programa da UBS é distribuído ao redor dos pátios, que além de darem volume, integram o interior ao exterior e humanizam e trazem luz natural ao ambiente
Além dos pátios, a escolha de materiais e vedação também ajudam nessa atmosfera, uma vez que o uso de vidro e elementos vazados é abundante neste projeto.
O acesso ao equipamento se dá pelo bloco central, onde se concentram os ambientes destinados à administração, enquanto o atendimento de saúde ocorre nos blocos laterais.
Fonte: Archdaily. Editado pela autora
Setorização Pátio Sanitários Atendimento
Administração
Os pátios, juntamente como os elementos vazados também favorecem a ventilação, permitindo a ventilação cruzada.
Fonte: Archdaily
Localizado em Cardedeu na Espanha, este projeto, diferentemente do anterior que se trata de um equipamento de saúde, tem um programa focado em lazer e convivência para a terceira idade.
No entanto, ele se assemelha ao anterior nas escolhas e de materiais e soluções projetuais. Assim como a UBS Parque do Riacho, o Centro Comunitário do CidadãoI doso se organiza no entorno de um pátio central, sendo que a parte administrativa também fica concentrada próxima ao acesso principal do edifício.
Quanto aos materiais, ambos trabalham com estrutura metálica, e o projeto espanhol também usa de muitos vidros e elementos vazados para integrar o interior ao exterior.
Setorização Pátio
Administração
Sanitários
Cozinha Convivência
Assim como a setorização, a solução de ventilação cruzada também se repete neste projeto.
A proposta para o equipamento a ser instalado em São Carlos reúne os programas de lazer e saúde dos dois projetos de referência, assim como pretende aplicar o mesmo tipo de material e soluções para a integração do exterior com o interior.
Localizada no centro-oeste do Estado de São Paulo, a cidade de São Carlos, onde será implantado o Centro Dia Gerontológico, possuía, segundo o Censo IBGE, uma população estimada de 256.951 no ano de 2021. Destes, cerca de 11% representa a população idosa (pessoas de 60 anos ou mais), bem acima da média brasileira, de 0,9%.
O ranking do IBGE (2010) mostra que, de 5565 municípios do Brasil, a cidade está na 77º posição em número de residentes de 70 anos ou mais, e na 90º posição ´ para residentes de 60 a 69 anos, ou seja, proporcionalmente, é uma das cidades com número mais alto de residentes idosos no país.
Localização da cidade de São Carlos Fonte: IBGE, 2010.
Como é possível observar no mapa retirado do SigaSC, a população idosa da cidade de São Carlos se concentra em parte, na área central da cidade, e em maior densidade em dois pontos no perímetro do centro.
Levando em conta estes dados demográficos, a escolha do terreno para a implantação do Centro-Dia Gerontológico ficou reduzida às duas áreas apresentadas nos mapas à seguir.
A área foi definida, levando em consideração a oferta de equipamentos públicos para o público alvo e demais aspectos destrinchados no capítulo seguinte.
Concentração de idosos em São Carlos Fonte: Google (alterado pela autora)
Mapa de áreas com maior número de residentes idosos em São Carlos Fonte: Siga SC (alterado pela autora)
Com a chegada da ferrovia e alavancamento da indústria cafeeira no final do século XIX, a cidade de São Carlos, no estado de São Paulo acabou entrando em um rápido processo de expansão. A população se concentrava ao redor da estação ferroviária, no que hoje é o centro da cidade e também no, atualmente, bairro Vila Prado, onde está a área escolhida para a intervenção. (LIMA, 2007)
A Vila Prado, o maior dos loteamentos da cidade no século XIX, com 58 hectares, foi implantada em 1893, em uma área contígua à linha do trem e próxima à estação ferroviária central, na direção sudoeste da cidade. Essa vila foi ocupada por famílias de ferroviários, por pequenas fábricas que surgiram nesse momento e por seus trabalhadores.
(LIMA, 2007, p. 44)
A Vila Prado, um bairro já bem consolidado e com uma população tradicional, tem duas vias de grande circulação: a Av. Sallum, grande centro comercial da região e a Av. Dr. Teixeira de Barros, mais conhecida como Rua Larga, onde está localizado o terreno escolhido para implantar o Centro Dia Gerontológico. Áreade Intervenção
Mapa da região da área de intervenção /São Carlos Fonte: Autora
O bairro, como um dos primeiros e mais tradicionais da cidade, tem uma grande concentração de idosos, como é possível verificar no mapa retirado do site SigaSC abaixo, sendo assim um equipamento voltado para a terceira idade se encaixa bem na região
Mapa de População acima de 70 anos em São Carlos
0 150
Fonte: SigaSC
Apesar da população idosa, a região é carente de equipamentos voltados exclusivamente para esta faixa etária, como é possível ver no mapa ao lado. Ela possui, no entanto alguns equipamentos de saúde, como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Vila Prado, equipamentos voltados para cultura, como bibliotecas e a estação ferroviária, que foi convertida em museu O único equipamento próximo que oferece um programa de atividades exclusivo para idosos é o Centro Cultural Vera Lúcia Pilla.
UPA Vila Prado Hospital Norden (Privado)
Santa Casa
UPA Santa Felícia
EquipamentosdeSaúde EquipamentosdeEducação
Unidades da FESC (Fundação Educacional de São Carlos/SP)
EquipamentosdeCultura/Lazer
Biblioteca Municipal Euclides da Cunha
Museu de São Carlos (Estação Ferroviária)
SESC São Carlos Centro Cultural Vera Lúcia Pilla
Equipamentosespecíficos paraIdosos
Casa de Repouso Cantinho Fraterno Dona Maria Jacinta
Casa de Repouso Terça da Serra III
Casa de Repouso Terça da Serra II
Casa de Repouso Terça da Serra I
Casa de Repouso Recanto do Idoso Residencial para Idosos Lar Doce Lar
Apesar do bairro ter uma quantidade maior de lotes residenciais, o entorno do terreno possui tanto residências quanto comércios, sendo que a maioria dos lotes comerciais ficam locados na Av. Teixeira de Barros, enquanto a Rua Dona Ana Prado é exclusivamente residencial em seu entorno imediato
O gabarito da área é predominante térreo, o que, juntamente com a proposta de ser um equipamento para idosos, foi motivação para trabalhar com apenas um pavimento no Centro-Dia Gerontológico.
Mapa de Usos do Solo
Fonte: Autora
Mapa de Gabarito
Fonte: Autora
Cruzando o quarteirão, o terreno faz frente tanto com a Av. Dr. Teixeira de Barros, uma via coletora, e portanto de maior tráfego de veículos, quanto com a Rua Dona Ana Prado, uma via local, e portanto, menos movimentada.
O bairro é bem consolidado, com diversas construções, poucos lotes vazios, e poucas áreas públicas, por isso, não se encontra uma vegetação muito densa na área. No entanto, atualmente há uma fileira de árvores na calçada do terreno na Rua Dona Ana Prado e também no canteiro central da Av. Dr. Teixeira de Barros.
Mapa de Vias
Fonte: Autora
Mapa de Vegetação
Fonte: Autora
O terreno escolhido tem aproximadamente 6.000m² e atravessa a quadra e portanto tem acesso tanto pela Av. Dr. Teixeira de Barros quanto pela via paralela, Rua Dona Ana Prado.
Com 100m de profundidade entre uma rua e outra, o terreno é atravessado por 4 cotas de nível, ou seja, possui 4 metros de desnível entre as duas vias de acesso.
845 844 843 842 841 840 839 838
Em entrevista realizada com uma moradora local (Apêndice II), foi relatado que o estado atual do terreno escolhido é de abandono. O lote, segundo a entrevistada, é privado, pertencente à um ex comerciante, e o mapa de áreas públicas da Prefeitura de São Carlos (Anexo I) também não a indica como de uso institucional. Ele é totalmente murado e não tem uso atualmente. Em seu relato, Sra. Aparecida lamentou a situação de descuido.
Nas fotos retiradas in loco é possível verificar como a vegetação cresceu demais e dificultou o acesso ao lote pelo único portão existente ali (fotos 3 e 4), na Rua Dona Ana Prado. Também relatado pela entrevistada e comprovado nas imagens é o uso do terreno como local para descarte de lixo.
Sra. Aparecida que anos atrás, o local era usado para instalações de parques itinerantes e também como campo de futebol, esporadicamente, e que gostaria que voltasse a ser um espaço útil para a população ao seu redor.
Mapa indicando de onde as fotos foram tiradas.
Fonte: Autora
Como citado anteriormente, o alinhamento do terreno encontra duas vias: a Av. Dr Teixeira de Barros e a Rua Dona Ana Prado. Por se tratar de uma via coletora e, portanto, ter um fluxo maior de veículos, o acesso principal acontece pela primeira das vias supracitadas. O fluxo contrário, facilita o acesso de moradores à Av. Dr. Teixeira de Barros, que é uma das áreas de concentração de comércios do bairro.
Por se tratar de um terreno que cruza totalmente o quarteirão que está inserido, existe um fluxo de circulação de pedestres natural atravessando o terreno para ir de uma rua à outra.
Terreno de Intervenção
Circulação de pedestres
Mapa de circulação do terreno.
Áreas de menor temperatura
Áreas de menor ruído Áreas de maior ruído Trajeto do sol
Maquete de estudo de sensações realizado no terreno escolhido Fonte: Autora
Dona Ana Prado Av. Dr. Teixeira de Barros
Mapa de Insolação
Fonte: Autora
O programa de necessidades se divide em três tipos de espaços: os espaços de administração, voltados para os funcionários e o funcionamento do equipamento, os espações de saúde e os espaços de lazer, previstos para atender a demanda de consultas da população idosa ao redor do equipamento, e também oferecer atividades que estimulem a interação e o convívio.
Saúde
Ambiente Atividade
Salas de atendimento psicológico
Salas de atendimento médico
Sala de Fisioterapia
Enfermaria
Sala de Assistência Social
Sala de Terapia Ocupacional
Consultas com psicólogos e psiquiatras
Consultas com gerontólogos, gerontologistas, nutricionistas, clínicos gerais, etc.
Fisioterapia
Atendimento de apoio para usuários
Atendimento psicossocial
Realização de atividades físicas voltadas ao bem estar do idoso.
Ambiente
Sala de Pilates/Academia
Atividade
Aulas de pilates, yoga, exercícios em geral.
Salas de informática Aulas de informática para idosos Sala para oficinas
Oficinas de artes, música, leitura, entre outras.
Área de Convívio
Cozinha
Espaços abertos para interação, convívio, leitura, etc.
Preparação de refeições para os usuários
Refeitório Refeições
Administração
Ambiente
Recepção
Salas de Administração
Atividade
Atendimento aos usuários
Trabalho administrativo do equipamento
Sala de Funcionários Descanso de funcionários
Banheiros -
Vestiários
Apoio para a academia
Analisando os dados coletados e reunindo-os com o programa de necessidades elaborado, a proposta para implantação aconteceu da seguinte forma: a topografia seria dividida em dois níveis, alinhando metade do terreno com a Av. Teixeira de Barros e metade com a Rua Dona Ana Prado. Os dois níveis seriam interligados por uma rampa, para proporcionar acessibilidade.
O programa foi dividido em dois prédios, um em cada nível, sendo que no nível mais alto (0,00), no Bloco A, ficaram os ambientes administrativos, mais próximos da rua e das áreas de maior ruído, e os ambientes de saúde, voltados mais para o centro do terreno. No nível mais baixo, (-4,00), fica locado o Bloco B, prédio com ambientes para lazer. O bloco foi posicionado mais próximo da Rua Dona Ana Prado para proporcionar um ambiente tranquilo para os usuários do equipamento realizarem suas atividades.
Foi proposta também uma praça interna, que posteriormente se tornou um pátio coberto para refeições e realização de atividades ao ar livre. Este pátio liga um prédio ao outro, de forma que no Bloco A, há também uma farmácia da instituição com salas e consultórios para aplicação de medicamentos e apoio aos idosos que buscam a instituição por motivos de saúde, mas no mesmo nível do Bloco B.
Há também uma segunda área para atividades ao à céu aberto e diversos jardins sensoriais que ocupam todos os níveis do terreno e arredores.
No nível inferior, o jardim contempla os sentidos tato e audição, contendo plantas como suculentas, cactos e outras de folhagem aveludada para o tato e fontes com água corrente para a audição. Há também uma trilha sensorial, que é um caminho com diversos tipos de materiais e texturas, como grama, folhagem, areia e pedriscos, que deve ser percorrido sem sapatos para melhor experiência sensorial.
No nível superior, o foco do jardim sensorial é aguçar olfato e paladar, portanto possui jardineiras com ervas aromáticas, temperos e árvores frutíferas. A visão é contemplada no canteiro central da Av. Dr. Teixeira de Barros, em frente ao terreno, com uma diversificação de árvores, arbustos, e flores coloridas.
Projetando acessos e mobilidade, foi pensado um recuo no alinhamento do terreno junto à Av. Teixeira de Barros para o ponto de ônibus já existente no local e um para embarque e desembarque rápido, também podendo ser usado para carga e descarga.
O projeto também propõe a abertura de uma rua que cruza o quarteirão no sentido da Av. Dr. Teixeira de Barros para a Rua Dona Ana Prado. Essa rua, mais estreita, possui largura para a passagem de um carro e estacionamento, contando com vagas especiais para cadeirantes.
Proposta inicial de implantação
Proposta final de implantação
Maquetes eletrônicas de estudo da implantação Fonte: Autora
Aterro Maquete de estudo da topografia Fonte: Autora
Croqui de concepção Fonte: Autora
Croqui da implantação final Fonte: Autora
Implantação
Trilha Sensorial
Praça de Atividades
Jardim Sensorial Olfato e Paladar Bloco B Lazer
Jardim Sensorial Tato e Audição Ponto de Ônibus
Bloco A Administração e Saúde Nova Rua
Jardim Sensorial Visão
Mantendo a proposta de deixar o terreno ser permeável e acessível, segue sendo possível atravessá lo de uma via à outra, usando três principais opções.
A primeira e projetada para um menor fluxo de pedestres acontece rente à face sudeste do terreno. Neste trecho os dois níveis projetados são interligados por uma escadaria, e portanto, menos acessível, mas ainda interessante, acompanhando o paisagismo e passando ao lado do pátio coberto no nível mais baixo.
A segunda opção passa pela grande rampa do terreno e contorna os prédios, atravessando a praça de atividades e o “muro de árvores” que a cerca e traz privacidade para os usuários deste espaço.
A terceira e tão acessível quanto a segunda, também passa pela rampa, mas passa por baixo do Bloco A, no pátio coberto, e contorna o Bloco B pelo lado oposto.
O Bloco A tem apenas um acesso, frente á Av. Dr. Teixeira de Barros, enquanto o Bloco B pode ser acessado tanto pela Rua Dona Ana Prado, quanto pelo pátio central, ao descer a rampa.
Legenda Menor Fluxo (não acessível)
Maior Fluxo (acessível)
Acesso de Veículos
Acesso aos blocos
O bloco A reúne o programa administrativo e de saúde do equipamento. É um retângulo regular que tem acesso pela recepção e vai até um mirante do lado oposto.
A entrada foi pensada para direcionar o frequentador de acordo com suas necessidades: de um lado fica o atendimento, administração e sala de reuniões, e do outro, a área de espera para consultas médicas, fisioterapia e sessões de pilates.
Ao fundo, fica a enfermaria, para atendimentos emergenciais, a sala de funcionários e um mirante voltado para o centro da cidade de São Carlos.
Para criar um ambiente iluminado e bem ventilado, mantendo a vista para os jardins sensoriais, a estrutura do Bloco A é metálica com pilares W (Tipo I) e vidas treliçadas, independente da vedação, que é de alvenaria e vidro. A cobertura é de telha metálica sanduíche, para melhor desempenho termoacústico e o forro é de PVC amadeirado.
Telha Metálica Sanduíche
Por fazer frente à uma via mais tranquila, o programa de lazer ficou todo no Bloco B e nas áreas externas ao seu redor. Ele tem acesso direto tanto pela Rua quanto pelo pátio central, em frente à rampa.
A cozinha tem acesso por fora, pois a proposta é de que sejam servidas, no pátio coberto, refeições para os idosos que estiverem em atividade no Centro Dia.
O salão principal do bloco, onde ocorrem os ateliês, é completamente integrado. Há também um espaço de atendimento e farmácia no mesmo nível.
1 Hall 2 Sala de Leitura 3 Ateliê 4 Sala de Danças 5 Sala de Tecnologia 6 Cozinha 7 Área de Serviços 8 Sanitários 9 Auditório 1 2 3
3 3
Assim como o Bloco A, o Bloco B possui estrutura metálica com pilares W (Tipo I) e vidas treliçadas, independente da vedação, que é de alvenaria e vidro. A cobertura é de telha metálica sanduíche, para melhor desempenho termoacústico e o forro é de PVC amadeirado.
A parede dos fundos da farmácia também serve como muro de arrimo para o desnível de 4 metros, portanto este bloco é de alvenaria e blocos estruturais
Telha Metálica Sanduíche
Estrutura Metálica Independente
Forro de PVC Amadeirado Alvenaria e Vidro Fundação
Jardim Sensorial visto da Rua Dona Ana Prado
ARCHDAILY Centro Comunitário do Cidadão Idoso. Disponível em: https://www archdaily com br/br/01 65204/centro comunitario do cidadao idoso f451 arquitectura?ad_medium=gallery Acessado em: 30 I 11 I 2021
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BRASIL Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988
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CÂMARA DOS DEPUTADOS Brasil está em 58º no ranking de qualidade de vida dos idosos. 2014. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/441953 brasil esta em 58o no ranking de qualidade de vida dos idosos/ Agencia Câmara de Notícias. Acessado em: 28 I 11 I 2021
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10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. referências
Nomecompleto,qualificaçãoenomedainstituiçãoemque seformou?
Josias Eduardo de Almeida Melo. Gerontólogo. Universidade Federal de São Carlos.
Vocêpoderiafalarumpoucosobreagerontologiaesua atuaçãonavidadoidoso?
A Gerontologia é uma área médica especializada em envelhecimento que busca fazer com que os indivíduos idosos vivam cada vez melhor, com maior independência, maior autonomia e menos doenças. Um dos desafios da gerontologia também é tratar cada vez mais as demências e outras condições de saúde que acometem mais idosos a cada ano e com isso comprometem sua qualidade de vida.
Comoumprofissionalatuantenaárea,qualoprogramade necessidadequeumaclínicavoltadaparagerontologiadeve ter?
Atuo e me especializei na área de neuropsiquiatria geriátrica, então cada vez mais enxergo a necessidade de espaços qualificados e acessíveis para a população idosa, seja essa saudável, sem patologias, mas que considere suas especificidades, com também a parcela dos idosos que se encontram em alguma condição de fragilidade, com limitações físicas, psiquiátricas, neurológicas, etc. Por ser uma população em crescimento, é imprescindível que os espaços que recebem idosos possam ter não somente profissionais com capacitação para lidar com idosos, mas também ambientação adequada para proporcionar bem estar e se adequar às necessidades desse público..
VocêsabemeinformarseoSUSoferececonsultascom profissionaisdasuaárea?
Temos profissionais especialistas em Gerontologia em alguns níveis do SUS, mas ainda se limita aos ministérios da saúde e altos cargos de direção médica, direção hospitalar. No atendimento clínico, o SUS ainda não conta com esses profissionais, que estão mais restritos ao atendimento particular, em clínicas, consultórios e hospitais da rede privada.
Qualoseunomeeidade?
Aparecida Maria Saldanha Zepon, 91 anos..
HáquantosanosmoranaVilaPrado?
Fui nascida e criada numa casa Avenida Teixeira de Barros, mas depois que casei mudei para esta casa na Rua Dona Ana Prado e estou aqui há 54 anos.
Nota da autora: ambos os endereços se encontram no bairro Vila Prado.
Oquevocêtemarelatarsobreobairro?
É um bairro tranquilo, o melhor da cidade pois fica próximo ao comércio e ao centro. Minha rua é “morta”, não tem movimento, é muito tranquila, meus vizinhos são os mesmos há 54 anos.
Minha única reclamação sobre a rua é este terreno (o terreno selecionado para o projeto). Ele está abandonado há anos, tem muita sujeira e mato
O dono já foi notificado diversas vezes, por toda a comunidade de moradores, mas ele nos manda procurar a justiça.
Vocêconheceoproprietário?
Ele é um ex comerciante da Av. Teixeira de Barros, dos Irmãos Pane , é dono da Padaria e Supermercado Santo Antônio, que fechou há alguns anos.
Oquemaisvocêtemarelatarsobreoterreno?
Há uns 15 anos ele era usado para parques e circos que vinham para a cidade, os jovens jogavam bola ali aos sábados, mas depois de um tempo o proprietário cercou e instalou um portão no terreno bem em frente de casa (na rua Dona Ana Prado), e desde então virou um depósito de lixo e mato. Também tem muitos usuários de drogas que pulam o muro para se drogar neste terreno
Oqueachadaimplantaçãodeumequipamentoparaa populaçãoidosa nesteterreno?
Eu gostaria muito que acontecesse! Ficaria muito feliz! Os que tem na cidade são muito longe para eu ir.
Nota da autora: A entrevista com a Sra. Aparecida ocorreu espontaneamente numa visita de estudo ao terreno escolhido.
Ao me ver fotografar a área ela veio relatar sua insatisfação e desejo de que a área fosse melhor aproveitada.