VAZIOS EDIFICADOS Leitura e projeto da paisagem no tempo da cidade de São Manuel - SP

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Leitura e projeto da paisagem no tempo da cidade de S達o Manuel-SP


Agradeço, À cidade de São Manuel que é minha morada. Por que não sonhar por ela? À minha Cara amiga e orientadora Kelly Magalhães por me ensinar que aquilo que vislumbra meus olhos se denomina Paisagem. Ao meu amor Camilo Solano e à sua família, por todo o carinho que dedicam a essas colinas. Determinantes para o desenvolvimento desse trabalho. Ao meu pai Lázaro por me incentivar a sonhar. À minha mãe Dete por ser minha referência de trabalho e persistência. Às minhas irmãs Amanda e Ana por me darem ouvidos desde sempre.


Leitura e projeto da paisagem no tempo da cidade de São Manuel-SP

Larissa de Cássia Sartori Martines

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação - UNESP - Campus de Bauru - Sob Orientação da Prof. ª Kelly Cristina Magalhães

Bauru-SP TFG-2015



ÍNDICE RESUMO

INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO Edificado na Paisagem Consideraçãoes sobre Vazios Vazios Edificados na Paisagem de São Manuel Paisagem no Tempo Considerações sobre Paisagem. Paisagem Edificada:cidades do interior paulista A Princesinha da Sorocabana: história e trasformações pela paisagem Edificado no Tempo Considerações sobre Tempo Leituras de projeto Desenvolvimento de Projeto: o Parque Urbano Idustrial Cafenoel CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS ANEXOS



RESUMO O vazio é parte importante da realidade urbana, pois as cidades estão repletas de uma diversidade de vazios. Cada um desses espaços se cria em função de suas dimensões físicas, formais até o que tange o uso, o sentido e o significado. Este trabalho procura identificar as principais categorias de vazios - mais especificamente, dentre os que serão aqui denominados vazios edificados – tendo como objeto de estudo a cidade de São Manuel, estado de São Paulo, com a finalidade de interpretá-los enquanto uma constante na paisagem da cidade para enfim estabelecer critérios de intervenção. Apoiando-se em uma base teórica para conceituar e classificar as diferentes categorias de vazios urbanos que se tornaram presentes na realidade da cidade nas últimas décadas - de maneira geral, em virtude do constatado declínio econômico e a não ocupação de áreas antes fundamentais das cidades - esse trabalho, a partir da aproximação temática com a ideia de espaço residual, espaços ociosos, áreas de abandono, seja o edifício, um conjunto arquitetônico ou recortes urbanos deteriorados, aciona a necessidade de um recorte da natureza do fenômeno percebido na cidade objeto de estudo desse trabalho, sendo esse fenômeno o vazio edificado na constituição da paisagem local. Assim, como objetivo principal, destacar-se-á a análise de um dos edifícios identificados, para compreendê-lo dentro de um processo histórico no conjunto de exemplares arquitetônicos em situação similar na cidade, e estabelecer a reconexão do mesmo com a malha urbana, atribuindo a ele novas possibilidades de intervenção e ativação, ao mesmo tempo discutindo conceitos usuais de projeto na atualidade, tais como revitalização, retrofit e requalificação na definição das ações de projeto.

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INTRODUÇÃO Compreender a paisagem da cidade é entendê-la como uma complexa e diversificada sobreposição de tempos, culturas, estruturas sociais e políticas materializadas no espaço físico. Pensar e organizar a paisagem da cidade em sua totalidade é, portanto, aceitar a arquitetura da cidade enquanto representação historiográfica, cultural, social, econômica. O entendimento do vazio enquanto uma realidade urbana é relativamente recente, o que faz com que o vazio na cidade contemporânea seja abordado de maneira difusa a partir de diversos enfoques desde sua materialidade à sua imaterialidade. A temática do vazio em âmbito arquitetônico foi durante um longo período tratada em sua dimensão física, como elemento de composição arquitetônica, como a parcela que compõe com o cheio para alcance do equilíbrio espacial. Esse trabalho busca o entendimento do vazio como elemento constituinte da paisagem, isto é, o reconhecimento de uma paisagem de ausências edificadas no tempo. Ele trabalha com a materialidade do vazio e o entende, como Sóla-Morales, em sua duplicidade, como sendo espaços vagos tanto no sentido de vacante, desocupado, vazio, livre de atividade e improdutivo; como impreciso, indefinido, vago, sem limites determinados e sem horizonte de futuro, porém, ainda assim, dotados de uma sólida e fria materialidade. A compreensão da constância vazio como elemento constituinte da paisagem urbana nasceu da necessidade primeira de conectar espaços que trataremos aqui como “vazios edificados” na cidade de São Manuel, locais esses que tem em comum uma “estética da degradação” 1,ou seja, a marca de ação do tempo e do homem sobre suas estruturas e superfícies, e que mais do que esse aspecto, configuram verdadeiros vazios construídos na paisagem da cidade, na medida em que constituem edificações de grande porte em situação de desuso ou mesmo esquecidas e desvinculadas do inconsciente coletivo a ponto de se tornaram verdadeiros vultos, ausentes de significado, na memória da população local. Materializados na paisagem, vazios urbanos – edificados ou não – seriam a princípio, áreas da cidade sem função, sem conteúdo social, que se apresentam na forma de indústrias abandonadas, áreas centrais e comerciais marginalizadas, portos e estações em desuso ou mesmo obsoletos, e terrenos baldios vacantes, todos esses, espacializando as contradições sociais e econômicas produzidas pela lógica neoliberal vigente, produtos dos processos de urbanização, porém, também da ausência de planejamento. O vazio urbano constitui um fenômeno urbano expressivo da cidade contemporânea marcada pelas consequências das mudanças operadas nas estru1 Entropia das coisas. “O abandono da infraestrutura urbana dá vez à entropia, ou seja, a manutenção e a ordem podem ser vistas como reações à entropia latente das coisas.” (TEIXEIRA, Carlos Moreira. Capim. In: Vitruvius)

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turas produtivas a partir das últimas décadas do século XX, que se refletirá de maneira drástica na dinâmica de expansão das cidades essencialmente cafeeiras e ferroviárias no interior paulista. A paisagem, em suas múltiplas possibilidade de enfoques, permite um olhar para a cidade que integra diversos aspectos sobre a relação homem-natureza, e, ao expressar os diferentes momentos da ação de uma cultura sobre o espaço é também uma acumulação de tempos. (COELHO, L. Castilhos. A Paisagem na Fotografia, os rastros da memória nas imagens. Grupo de Pesquisa Identidade e Território – UFRGS)

A compreensão da cidade e de sua paisagem em suas sobreposições temporais, como palimpsesto2, acaba por ampliar o entendimento do vazio nesse contexto, como dimensão da arquitetura constituinte da cidade e, assim, também como reflexo de temporalidades, locais culturalmente construídos, dotados de características específicas, que participam da organização socioeconômica da vida material e, como tal, podem ser analisados. Cada um desses vazios, em seu devido tempo da história - em andamento - da paisagem da cidade de estudo, portanto, denota um momento de ápice e decadência de sua utilização; não sendo edifícios obrigatoriamente antigos ou de valor arquitetônico, eles refletem, em sua identidade, um tempo específico da paisagem do município. A partir desse aspecto, esse trabalho pretende, através da compreensão da paisagem, conectar esses espaços apontados como potenciais da cidade. Assim, da observação da paisagem através das noções de desconexão e totalidade, anuncia-se a possibilidade de uma amarração desses fragmentos de vazios pela paisagem, por semelhanças tais como localização e implantação em relação à malha urbana, à quadra da cidade, ou apenas dada a similaridade pelo aspecto de degradação dos mesmos. Do ponto de vista teórico, esse trabalho, parte, portanto, da compreensão do termo paisagem, associado a uma ideia de construção da paisagem na história e no espaço, de acordo com uma ambiguidade de significados perfeitamente calculada (GREGOTTI,1972, p.69), aceitando suas dimensões ditas subjetivistas e realistas, do conteúdo às suas dimensões visíveis. A paisagem assim entendida é portadora de significados e expressa os diferentes momentos de desenvolvimento de uma sociedade, adquirindo uma dimensão simbólica passível de leituras espaços-temporais. O desenvolvimento dessa percepção inicial da paisagem da cidade de São Manuel pretende passar pela necessidade de reflexão sobre os vazios nas cidades contemporâneas, o que representam e o que possibilitam, pela discussão da importância da paisagem no projeto arquitetônico, pela leitura da imagem da cidade no tempo através dos locais aqui pontuados, até a denominação das premissas

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2 Manuscrito em pergaminho que os copistas na Idade Média apagaram, para nele escrever de novo, e cujos caracteres primitivos a arte moderna não conseguiu fazer reaparecer. Há estudiosos que divergem sobre a validade da metáfora de palimpsesto para descrever a cidade, nesse sentido, o termo mosaico apresentar-se-ia mais fiel ao aspecto das malhas urbanas.


do projeto arquitetônico. Aceitando que cidade e a arquitetura que a constitui são os principais meios pelo qual o homem transmite e registra sua história, discute-se a composição da cidade em seus fragmentos temporais, mais especificamente, fragmentos edificados de vazios. Espera-se aqui, portanto, discorrer a respeito das definições e compreensões de paisagem e memória, cidade e arquitetura conduzindo até a questão da vida e degradação da obra arquitetônica, seus valores e possibilidades de forma a embasar o projeto final para o local que conduziu a cada uma dessas indagações. Esse trabalho tem por objetivo, a leitura da paisagem no tempo de São Manuel através da seleção de edifícios específicos que, configurando verdadeiros vazios edificados, contam um pouco da história de construção da paisagem da cidade. Na medida em que busca o entendimento da totalidade pela obra arquitetônica específica, nesse caso edifícios em condição de abandono na malha urbana da cidade, esse trabalho assume as proposições de Aldo Rossi em A Arquitetura da Cidade ao compreender a cidade pela arquitetura que a constitui. Deste ponto, onde se procura entender a totalidade do espaço urbano pelo edifício, serão formuladas indicações de projeto arquitetônico para uma das áreas. Através da associação e leitura de locais específicos da malha urbana, pretende-se, pela condição comum de vazio e degradação, identificar seus potenciais para desenvolvimento de projeto, a fim torná-los, novamente, parte, de forma ativa, da história e desenvolvimento da cidade, para que estabeleçam relação com o tempo presente e cumpra novamente sua função social na cidade, conforme prevê o Estatuto da Cidade. Essas etapas, análise e projeto, pressupõe a paisagem como plano de fundo primeiro da evolução e da história da cidade e parte da suposição da paisagem como artefato humano (ROSSI, 1982), uma vez que procura extrair da imagem da cidade, de seus fragmentos, os aspectos de sua evolução urbana, bem como história, configuração atual e aspectos potenciais para o seu desenvolvimento e consolidação. Mais especificamente, pretende-se uma leitura da história pela paisagem, da busca da memória na imagem, uma vez que “a forma da cidade é sempre a forma de um tempo da cidade, e existem muitos tempos na memória da cidade” (ROSSI, 1982). Dessa proposição, se retoma o conceito da cidade enquanto palimpsesto, uma vez que ela é constituída em sua materialidade por várias camadas mais ou menos aparentes do tempo, a cidade assim está a todo tempo se refazendo, já que sua forma se alterando pela ação do tempo no espaço, transformam-se também suas funções e significados. Esse trabalho, logo, perpassa por conceitos essenciais do debate arquitetura e cidade ao entendê-la através objeto arquitetônico, e o objeto arquitetônico em sua totalidade na paisagem. 11


No que se refere ao desenvolvimento do projeto que essa leitura da paisagem objetiva, acredita-se que o entendimento da totalidade da paisagem urbana local contribuirá essencialmente para o desenvolvimento do projeto arquitetônico, bem como, no que se refere à estética e tipologia arquitetônica, esse trabalho assume a estética de degradação, isto é, o tempo de vida assumido da arquitetura como mote no desenvolvimento de projeto que transpareça a paisagem da cidade em todas as suas camadas temporais. Em se tratando de memória é importante aprofundar o aspecto do tempo e as noções de passado, presente e futuro. A ideia de desenvolver projeto sobre esses diferentes vazios edificados, nos quais se via potencial, gerou a preocupação de conceber uma arquitetura que problematizasse o aspecto do tempo sobre as coisas e a necessidade de se fazer o projeto no presente para o tempo que nos é futuro.

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Na medida em que trata de vazios edificados, esse trabalho, nesse primeiro momento, aborda o vazio edificado na paisagem da cidade de São Manuel, introduzindo o aspecto do vazio como elemento constituinte das cidades e, portanto, de sua paisagem, em seus aspectos filosóficos, artísticos, arquitetônicos, urbanísticos e socioeconômicos. Nesse trecho pretende-se o entendimento e diferenciação de paisagem natural e artificial, paisagem edificada e a cidade em sua concepção arquitetônica dentro dessas abordagens. Tratando de vazios, nesse primeiro momento é que será feita a apresentação e problematização da atual configuração da cidade de São Manuel e dos vazios nela identificados e destacados nesse trabalho.

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“Poderia dizer-te de quantos degraus são as ruas em escadinhas, como são as aberturas dos arcos dos pórticos, de quantas lâminas de zinco são cobertos os telhados; mas já sei que seria o mesmo que não te dizer nada. Não é disto que é feito a cidade, mas sim das relações entre as medidas do seu espaço e os acontecimentos do seu passado (…). É desta onda que reflui das recordações que a cidade se embebe como uma esponja e se dilata. Uma descrição de Zaira tal como é hoje deveria conter todo o passado, contém-no como as linhas da mão, escrito nas esquinas da rua, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos postes das bandeiras, cada segmento marcado por sua vez de arranhões, riscos, cortes e entalhes.”

(CALVINO, 2002:14)

CONSIDERAÇÕES SOBRE VAZIOS O entendimento do vazio passa por uma série de indagações que perpassam conceitos desde a arte moderna à filosofia existencial como sendo uma parcela a ser compreendida da dimensão e da produção humana. A indagação do vazio enquanto produção artística e filosófica, em contexto específico do século XX, vem refletir aspectos da aceleração da vida cotidiana, e da volatilidade das relações interpessoais e do indivíduo com o meio. A filosofia existencial de Sartre (PRATSCHKE, 1996) tem na questão do nada o seu ponto de origem, sendo esse nada representativo do vazio inicial a partir do qual o homem se autodetermina. O filosofo fenomenológico francês, Merleau- Pont discorre também sobre vazio em suas reflexões existenciais. O nada merleaupontiano é aquela zona de vazio e invisibilidade na qual se insere a manifestação visível, a condição de possibilidade do surgimento do ser, o vazio ou “meio sem coisa” é o cenário preciso de um poder de formação, de modulação, de ressonâncias, de reverberações conquistadas. A discussão merleaupontiana sobre vazio engloba as concepções da arte moderna e o vazio problematizado por ela, segundo ele a pintura moderna vai alimentar-se da tensão entre completude e inacabamento, entre obra acabada e fragmento, induzindo um movimento incessante de invenção de formas, o trabalho do vazio produz multiplicidades.

“(...) Vazio inquieto que agita as formas e o olhar, que impede as aderências, que acelera as velocidades sempre em busca de um novo plano de expressão.” (GIL, 1996, p.166 apud FONTES FILHO, 2008, p.114)

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Em diversas obras de arte contemporâneas, percebe-se a inscrição do vazio como forma potencial artística. Não apenas as chamadas artes imateriais, mas diversos outros processos artísticos não resultam em nenhum objeto físico. A produção artística de Klein foi pioneira em relação ao uso do vazio e da ausência como possibilidade artística. Estes conceitos surgiram em outras manifestações de diversas formas, algumas bem-sucedidas, como o apagamento do desenho de De Kooning feito por Rauschemberg. Ainda na filosofia, Maurício Puls vai denominar o vazio na arquitetura como sendo reflexo do homem e do mundo.

“O homem utiliza o vazio, mas contempla o volume (...). Em uma construção, o vazio é o lugar do homem, enquanto o volume é o lugar do mundo: por isso o vazio espelha o sujeito, e o volume o objeto. Mas uma construção reflete o homem apenas como um sintoma, um produto inconsciente da existência humana (...). Por isso na arquitetura o volume não somente espelha o mundo, mas também expressa o homem que o configurou, e o vazio não somente expressa o homem, mas também expressa o mundo que o envolve.”

(PULS, 2006, p.18)

Pratschke, também discorrendo sobre o vazio e o não-lugar na arquitetura, através das leituras de projeto, conecta o aspecto do vazio/nada como possibilidade de auto definição na consciência humana ao fazer arquitetônico e artístico, no sentido que o vazio como condição inicial ou mesmo como intenção artística abre margem para possibilidades e criação, estando aí sua condição potencial. Até mesmo no que tange a existência humana, portanto, o vazio representa possibilidade e incita produção criativa na definição do eu, ou do objeto, e apesar de conflituoso esse vazio se faz necessário no estímulo às possibilidades criativas. “(...) a liberdade é alcançada a partir de uma ação criativa, iniciada no nada e localizada no futuro. Uma liberdade depende da vontade espontânea do homem, mediada através do nada (...). Ao mesmo tempo a experiência do Nada necessita, para efetuarse, primeiramente destruir o mundo real, mergulhando no abismo das antinomias, para mais tarde restaurar a realidade como parte da experiência subjetiva. A realidade atual transfigura-se pelo Vazio – símbolo do Nada – para atingir a liberdade.”

(PRATSCHKE, 1996, p.65)

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Para Pratschke diante da condição de vazio é necessário que se reforce “seu sentido de ser, ou melhor, de não ser, já que se trata de um nada – estimula o imaginário, o mito, e abre espaço à criação de um objeto vivido na temporalidade e na eternidade.” (1996, p.70). No contexto da produção arquitetônica e na cidade como artefato, Anja vai falar que da sobreposição de antigos e novos tratados, marcadas por estradas, pontes, túneis, novos edifícios com novas escalas, aparecem, às vezes, algumas ilhas, pedações ou

Figura 01: Desenho de Kooning Apagado. Robert Rauschenberg, 1953.


pontos, esquecidos nesta sucessão de etapas do desenvolvimento das cidades. Estes lugares - sobras, no man’s lands – são, para Anja, potencialmente capazes de criar uma ligação de traçados sobrepostos e suas histórias, são vazios nas amarrações urbanas, os denominados vazios urbanos. Conceito amplo, diverso e complexo o de vazios urbanos. Da dificuldade de se definir todas as suas variações e possibilidades muitos serão os nomes nas diversas línguas para definir os diferentes lugares que compartilham dessa mesma condição. Das traduções à etimologia das palavras o vazio urbano pode ser denominado tierras vacantes, vacíos urbanos e terrenos baldíos, em espanhol; wastelands (terrenos baldios, abandonados), derelict land (terra abandonada, sem dono), empty buildings (edifícios vazios) e expectant land (terra à espera), em inglês; e terrain vague e frîches urbaines (terrenos urbanos baldios, não cultivados), em francês (BORDE, 2003). Além dos aspectos filosóficos que vão permear a condição de vazio, é possível identificar, atualmente, diversas vertentes de análise que vão debater sobre os vazios constituintes das cidades. Uma primeira seria vertente que aborda questões conceituais, tomando como base primeira a realidade das cidades europeias e seus teóricos; a segunda privilegia os aspectos pertinentes ao mercado de terras urbanas, sua dinâmica e instrumentos de regulação atuantes sobre os vazios urbanos; a terceira vertente tem como base a normativa urbanística, porém enfoca, principalmente, o impacto morfológico na produção de descontinuidades do tecido urbano e na formação dos vazios. Uma quarta vertente reúne os relatos das intervenções urbanas em áreas de vazios urbanos, sendo esta uma vertente que aponta para o campo específico das intervenções artísticas nos vazios urbanos, fornecendo novas percepções sobre a apropriação desses espaços urbanos e preciosos subsídios iconográficos (BORDE, 2003). Nas últimas décadas, novos referenciais foram incorporados ao debate dos vazios urbanos. Em 1996, no Congresso da União Internacional de Arquitetos (UIA), ocorrido em Barcelona, Solá-Morales, ao propor que os terrains vagues fossem uma das cinco categorias de análise da realidade urbana contemporânea – dentre mutações, habitações, fluxos e container – traz para as discussões contemporâneas de vazio novas possibilidades de entendimento que sustentarão os trabalhos apresentados na ocasião e desde então. Para Mirales, vazio, vacante, baldio, abandonado, desocupado e subutilizado qualificam a natureza e a qualidade de lugares, sejam eles terrenos ou edifícios, em situação de vazio urbano. Considerados em seu potencial de transformação esses terrenos e edifícios passam a ser qualificados como livres, disponíveis e potenciais. “Não é possível traduzir com uma só palavra inglesa a expressão francesa terrain vague. Em francês, o termino terrain tem um carácter mais urbano que o inglês land, de maneira que é preciso advertir que terrain é, em primeiro lugar, uma extensão de

Figura 02: O Vazio. Ives Klein. 1958.

solo de limites precisos, edificável, na cidade. Se não me engano, ao contrário, a pervivência em inglês da mesma palavra terrain tem significados mais agrícolas ou geológicos. Mas a palavra terrain francesa se refere também a extensões maiores, talvez menos precisas; está ligada à ideia física de uma porção de terra em sua condição expectante, potencialmente aproveitável, mas já com algum tipo de definição em sua propriedade a qual somos alheios.”

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“Em quanto à segunda palavra que forma a expressão francesa terrain vague, devemos atentar que o termo vague tem dupla origem latina, além de uma germânica. Esta última, da raiz vagr-wogue, se refere às ondas da água e significa movimento, oscilação, instabilidade e flutuação. Wave, em inglês, é evidentemente a palavra da mesma raiz. Mas nos interessa ainda mais as duas raízes latinas que confluem no termo francês vague. Em primeiro lugar, vague como derivado de vacuus, vacant, vacum em inglês, ou seja, empty, unoccupied; mas também free, available, unengaged. A relação entre a ausência de uso, de atividade e o sentido de liberdade, de expectativa, é fundamental para entender toda a potência evocativa que os terrain vague das cidades tem na percepção da mesma nos últimos anos. Vazio, portanto, como ausência, mas também como

promessa, como encontro, como espaço do possível, expectativa.” (FRACALOSSI, “Terrain Vague / Ignasi de Solà-Morales”, 2012)

Solá-Morales propõe que a categoria terrain vague deveria ser articulada ao aspecto da mutabilidade a fim de compreender os fenômenos de súbita transformação na cidade contemporânea, enfatizando o contraponto de que somente uma mesma atenção aos valores de inovação e aos valores da memória e da ausência são capazes de manter a confiança na vida urbana em suas complexidades e pluralidades. Ainda sobre a temática dos vazios, Lynch, com um discurso anterior, vai considerar que ainda que poucos os atrativos desses espaços, esses possuem seus valores e prazeres próprios, como uma liberdade em relação ao controle social. Periféricos ou centrais, os terrenos vazios são também lugares onde os modos marginais sobrevivem e coisas novas começam. Lynch vai falar das casas abandonadas nos centros das cidades e como elas podem constituir uma das mais intensas imagens das metrópoles americanas, por sugerirem em seu vazio a possibilidade de construção de um futuro da cidade. “Nada é vazio, nada é inútil, nem esconderijos são desocupados. Tudo é usado (...). Quando um espaço cai em abandono, se ocupa imediatamente.” Para Lynch todo o espaço é útil, mesmo um espaço do abandono está habitado dentro da forma da cidade que se refaz constantemente sem nunca chegar a um resultado final.

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Solá Morales considera que os terrains vagues seriam os lugares devidos para o encontro do passado com o presente, bem como da expressão individual de pequenos grupos. Essa autonomia que atribui a esses espaços o faz refletir sobre as propostas de reordenação desses espaços à trama urbana eficiente e produtiva que, segundo ele, cancelariam valores presentes no seu vazio e ausência, e reafirma a importância de preservação desse vazio.


Dentro dessa mesma temática, Irene Fialovà dará ênfase para os caminhos que identificam os vazios como passados presentes, destacando a necessidade de se entender as especificidades históricas e sociais desses locais, já que as causas pelas quais uma determinada área se converte em terrains vagues são sempre consequência de seus fatos históricos. Dentro dessa lógica, para Fialovà “a área guarda uma certa relação com o passado e não estabelece uma nova vinculação com o presente.” (FIALOVÀ, 1996 apud BORDE, 2003).

Para Fialovà a relação entre memória e mudança estaria, portanto, no cerne dos debates sobre os terrains vague, uma vez que a conexão entre história, memória e identidade impregnaria cada um desses espaços de uma certa resistência à mudança. Analisando as especificidades dos terrains vagues, Fialovà evidencia o fato de haver uma relação direta entre a formação desses espaços e a estrutura socioeconômica. A categoria terrain vague abre, portanto, uma observação positiva e estimulante sobre os fenômenos urbanos normalmente compreendidos como negativos, desconhecidos, problemáticos. Associados a tais conotações esses aspectos devem ser associados a conceitos operatórios utilizados nessas análises, sendo necessária a produção de novos estudos, metodologias de análise e novos campos documentais. Para Busquets (BORDE, 2003) a fotografia seria um atributo potencial para captação das realidades e atributos desses locais em situação de vazio. O entendimento da cidade como um texto de fragmentos temporais a ser decifrado trouxe à compreensão dos vazios urbanos a metáfora do palimpsesto. Em 2001, o fotógrafo Fontcuberta, evidenciará essa relação com a exposição Terrain Vague na Beverley Art Gallery, em fotomontagens, duplas exposições e sobreposições de cenários industriais em situação de abandono com elementos mecânicos decompostos, problematizando pelas imagens os espaços urbanos em sua expressão artística. Esses espaços também ditos como intersticiais das cidades, para Huyssen (BORDE, 2003), associados à textura do texto como palimpsesto permitem a compreensão da produção dos vazios urbanos dentro do processo de formação das grandes cidades, bem como, pode fornecer indicativos quanto à natureza e a qualidade desses locais, e as maneiras de atuar sobre eles. O desnudamento das camadas de texto presentes na textura palimpséstica dos vazios urbanos permitiria compreendê-los de acordo com uma história urbana, pela percepção tátil dessa textura. Ainda sobre os significados urbanos Ferrara (2000) vai tratar não dos vazios urbanos, mas, sim, dos espaços residuais. Esses espaços seriam conformados ao longo do processo contínuo de construção e reconstrução da cidade e que se expressariam como cicatrizes do que um dia foi destruído e não foi possível reestabelecer. Como espaços que surgem como uma descontinuidade, um vazio a preencher de novas informações e novos usos. Apesar de abordarem o vazio na dimensão urbana, essa definição se direciona somente a uma parcela do que se pode denominar vazios urbanos, ou ainda, terrains vagues.

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O fenômeno do vazio urbano conserva ainda uma dimensão política necessária de ser abordada. As chamadas falhas, brechas e brancos são denominados por Ferreira como zonas cinza ou brancas capazes de transmitir para seu entorno sua parcela de decadência e espaços que estariam a todo tempo sob o olhar dos governantes para concretização de obras faraônicas que pouco se relacionam com a realidade e as necessidades de seu entorno. Esse ponto se relaciona com a noção de espació basura (junkspace ou espaço lixo) proposto por Koolhaas no entendimento das dinâmicas das cidades contemporâneas. O junkspace nas palavras de Koolhaas seria, “(...) a soma das decisões não tomadas, dos problemas não afrontados, das opções não elegidas, das oportunidades deixadas sem definir, das contradições perpetuadas, dos compromissos adotados e da corrupção tolerada (...)”. (KOOLHAAS, 2013)

Tal definição se conecta diretamente aos aspectos que qualificam vazios urbanos. Todavia nas definições de Koolhaas, as positi-

vidades estimuladas por esses espaços vistos como potenciais, como defendidos por Lynch e desde então por Solà-Morales, Clichevsky deixam de existir em uma cidade conformada como espació basura. Koolhaas faz ainda uma crítica direta ao frenesi atual por ocupar os vazios das cidades principalmente com junkspaces na forma de projetos que não dialogam com seu entorno, tornando a cidade em local sem arte, sem imaginação e criatividade enquanto que a qualidade sublime dos espaços verdes poderia oferecer uma nova versão da cidade, não mais definida por seus espaços construídos, mas por seus vazios constituintes (KOOLHAAS, 2013). Outro ponto de análise para os vazios urbanos é o que os considera como produtos do funcionamento do mercado de terras urbanas, das ações dos agentes privados e públicos, englobando ainda a capacidade de negociação e de flexibilidade da dinâmica futura presente nos objetivos políticos econômicos e sociais dos diversos modelos de planejamento. Nesse entendimento analítico os vazios urbanos configuram áreas de negociação e de ajustamento do mercado de terras urbanas. O sentido de vazio se atribui, portanto, também, à questão da propriedade, da posse e da possessão. O vazio consiste naquele espaço que não se consegue definir a primeira vista a quem pertence, portanto, seu entendimento se associa às benfeitorias, às construções, à ocupação. Os vazios representam ainda a iniquidade relativa à apropriação privada dos benefícios produzidos socialmente. Nem todos os vazios resultam de retenção especulativa como expressões do poder da propriedade privada. Esse aspecto aponta para a carência de uma visão mais planejada da cidade e antevê as possibilidades de limitar a especulação imobiliária e assegurar a função social da propriedade, legitimada

pela Constituição de 1988, e a justa distribuição do ônus e do bônus do processo de urbanização através de instrumentos de regulação e políticas de equidade urbana formulada com legítima participação social.

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Por esse aspecto, o vazio como possibilidade de uso, significaria para as parcelas mais carentes da população, um local para viver, para os setores médios possibilidades de áreas verdes, recreação, esportes, etc. e para os investidores urbanos terras para novos usos emergentes.


Outra vertente possível de entendimento do vazio é relativa às normativas urbanísticas e seus possíveis impactos morfológicos, positivos e negativos, possibilitados pelos dispositivos legais existentes e propostos pelos Planos Diretores e seus índices urbanísticos sobre vazios urbanos. A aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001, regulamentando os artigos da Constituição de 1988 relativos à política urbana, abriu novas possibilidades de atuação o legitimas instrumentos urbanísticos com impacto direto sobre os vazios urbanos, como IPTU progressivo, o direito à vizinhança e a análise do impacto ambiental. A lógica neoliberal de produção da cidade fomenta a criação de vazios tanto quanto promove o seu resgate, assim, nas últimas décadas a apreensão dos vazios urbanos levou a uma diversidade de intervenções nessas áreas, intervenções que predominantemente versarão sobre requalificação urbana, bem como reabilitação, renovação e até mesmo restauro, reforma e retrofit que não à toa serão terminologias tratadas na denominada Carta de Lisboa elaborada em 1995 no 1º Encontro Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana de Lisboa que versará sobre os caminhos de uma Reabilitação Integrada.

“Ainda que essas formas de atuação sobre vazios sejam questionadas, por princípio, por Lynch e Solá-Morales, entre outros autores, é inquestionável que a manutenção das qualidades do vazio ou a sua transformação deveria repousar na apreensão da natureza e qualidade desses espaços urbanos e no atendimento aos anseios da sociedade. Afinal, como aposta Fialovà, as áreas de terrains vagues podem se converter no foco que inunda de energia zonas mais amplas desde que se compreenda os porquês dos lugares.” (BORDE, 2003)

Ainda que questionáveis tais intervenções possuem grande importância nas dinâmicas urbanas contemporâneas. A multiplicação de intervenções urbanas em vazios urbanos das grandes cidades, nas últimas décadas, deve-se a uma escassez de terrenos livres infraestruturados no interior da malha urbana, bem com a percepção dos vazios como expressões de decadência e deterioração urbana em um sistema que privilegia imagem e visibilidade, como forma de produção de conhecimento e a produtividade desses espaços como forma de inserção social. É importante que se questione - como propõe Koolhaas - até que ponto a ocupação prioritária dos vazios urbanos em áreas infraestruturadas, defendida atualmente tanto pelo mercado imobiliário quanto por aqueles de defendem na distribuição mais justa dos benefícios urbanos socialmente produzidos e reflexo de seus respectivos interesses, não constituem agravamentos nas condições ambientais de áreas urbanas consolidadas ou ainda a postergação de investimentos nas periferias em prol do preenchimento das áreas centrais.

É necessário que se discuta a validade e a intenção de cada uma das intervenções a serem feitas em vazios urbanos. Nesse sentido se discute a melhor estratégia para alocação de atividades para cada área, questiona-se se deve atuar através de projetos específicos ou da cidade planejada. É necessário que o projeto para área de vazios urbanos, afim de que o mesmo seja eficiente, tenha uma

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abrangência maior do que a área de intervenção direta, refletindo o projeto, além de sua reintegração ao tecido urbano o suprimento de necessidades sociais gerais. A opção pela atuação por projetos considera os vazios urbanos como áreas de deterioração urbana, mas como áreas com potencial de transformação. As intervenções nessas áreas, portanto, estão relacionadas também às oportunidades estratégicas e operacionais. Conceitos como renovação, regeneração, requalificação, reestruturação ficaram indissociavelmente ligados ao tema vazios urbanos, uma vez que foram utilizados indiscriminadamente nos projetos de intervenção urbana visando ocupação prioritária das grandes áreas de vazios em cidades como Barcelona, Buenos Aires e Berlim (BORDE, 2003), em projetos que apostam na criação de novos polos de atração - áreas habitacionais, de lazer e de negócios – como forma de reverter a obsolência dessas áreas e tornar suas cidades mais competitivas no cenário mundial. Além dos projetos urbanos de requalificação, o vazio urbano pode ser articulado em sua dimensão artística, na forma de intervenções menos permanentes e mais simbólicas, porém também capazes de realizar a reativação da paisagem desses locais, da reconexão desses retalhos com a malha urbana. Atividades temporárias de lazer, culturas e iniciativas informais de aproveitamento de terrenos e edifícios em situação de vazio urbano. A diversidade de situações de vazio urbano na cidade de São Manuel inclui terrenos e edifícios baldios, abandonados, subutilizados, desocupados até infraestruturas obsoletas e vazios potenciais, ou seja, que estão em estado iminente de transformação em vazio. Os vazios urbanos conforme já delineado aqui, variam não apenas em suas características, mas também de acordo com sua localização, sendo possível identificar diferentes vazios em loteamentos de diferentes períodos da expansão e consolidação da malha da cidade. Reconhecida a diversidade de vazios urbanos na cidade de São Manuel, desde terrenos vacantes ou sobras implantação da malha viária, esse trabalho atenta para situação específica dos vazios edificados presentes na paisagem da cidade, uma vez constantes. O abandono, ou obsolência, dessas estruturas ancora-se muitas vezes não em aspectos arquitetônicos, como a flexibilidade de uso dos espaços internos, mas também em aspectos relacionados ao processo de urbanização e transformação dos processos produtivos. Em geral esses vazios, como o conjunto ferroviário, no tempo de vigência de suas estruturas foram introdutores do processo de ocupação da área e representam não apenas a subutilização da infraestrutura instalada, mas também o esvaziamento simbólico do centro fundador com rebatimentos perceptíveis no tecido urbano organizado em torno dessas grandes áreas esvaziadas.

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Figura 03: Ilustração conceitual do circuito proposto dos vazios edificados desabordados nesse trabalho.

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VAZIOS EDIFICADOS NA PAISAGEM DE SÃO MANUEL Segundo Censo IBGE/2010, publicado no site do IBGE, São Manuel possui hoje 38.342 habitantes, distribuídos em uma área territorial de 650,768 Km² e densidade demográfica de 58,92 habitantes por Km². Localizado a 268 quilômetros da capital, tendo como municípios limítrofes Botucatu, Pratânia, Lençóis Paulista, Areiópolis, Igaraçu do Tietê, Mineiros do Tietê, Dois Córregos e Barra Bonita e apresentando vegetação nativa do Cerrado e da Mata Atlântica. Esse trabalho atenta para uma dezena de vazios edificados específicos na malha da cidade pontuados na sequencia. A relação entre os mesmos possibilitou o desenvolvimento de um circuito que permite uma leitura da história da cidade, bem como abrange vazios edificados consequente de uma diversidade de problemáticas: 1.Conjunto Ferroviário Estação Sorocabana São Manuel 2.Sobrado de Domingos Calvitti 3.Casarão da Família Pupo 4.Ruínas da Igreja Presbiteriana Independente 5.Mercado Municipal Catarina Koike 6.Galpões Industriais da antiga Vicunha 7.Condomínio Residencial Jardim Planalto 8.Antiga Cooperativa de Café Cafenoel 9.Edifício da Nova Rodoviária de São Manuel

Figura 04: Circuito proposto dos vazios edificados abordados nesse trabalho.

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Tais locais são passíveis de se enquadrar em três seguimentos que estão relacionados a momentos históricos específicos: I. Vazios Edificados Efetivos e de Valor Histórico, que abrangem a Estação da Sorocabana, o Casarão da Família Pupo e o Sobrado de Domingos Cavalcante. II. Vazios Edificados Potenciais consequências das alterações nos modelos produtivos e que conformam tipologias Industriais: Cooperativa Cafenoel, Mercado Municipal e o Conjunto Industrial da antiga Vicunha/ Fiação; III. Vazios Edificados que representam momento posterior do crescimento das cidades no interior paulista e resultados das problemáticas do acirramento das dinâmicas imobiliárias vendendo falsas modernidades e vão compreender o edifício da Nova Rodoviária, o Condomínio Residencial Jardim Planalto e as Ruínas da Igreja Presbiteriana Independente.

Figura 04: Circuito proposto dos vazios edificados abordados nesse trabalho. Figura 05: Imagem aérea de São Manuel com as áreas estudadas em destaque e indicando o uso das mesmas.

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Conjunto Ferroviário Estação Sorocabana de São Manuel O ramal de Bauru teve origem na linha da Cia. Ituana (ramal de São Manuel) que saía de Porto Martins, no rio Tietê, que recebia os barcos da navegação fluvial da ferrovia, e chegava até São Manuel, em 1888. Quando a Ituana foi fundida com a Sorocabana para formar a CUSY, esta alterou radicalmente o ramal de São Manuel, usando parte dela para fazer uma linha que ligava a estação de Capão Bonito (mais tarde Rubião Júnior), logo após Botucatu, visando chegar à nascente e próspera cidade de Bauru. Outra parte se tornou o curto ramal de Porto Martins-Araquá. A linha chegou a Bauru em 1905. O agora ramal de Bauru sobreviveu até hoje, com algumas retificações feitas nos anos 1960, unindo as linhas da Paulista, da Noroeste e a linha-tronco da Sorocabana. Em 1976, o trem de passageiros foi suprimido na linha, mas os trens de carga mantém-na ativa até hoje. A Estação de São Manuel foi aberta pela Cia. Ituana, portanto, em 1888, como ponta da linha do Ramal de São Manuel, continuação do Ramal de João Alfredo. Na época funcionava um total de 11 estações no município de São Manuel com sedes nas prósperas fazendas cafeeiras, eram responsáveis pelo transporte de passageiros que vinham para a cidade e, principalmente, pelo transporte das cargas de café. Implantada na época em cota mais alta que o restante da malha urbana, o Conjunto Ferroviário que incluía Armazém responsável pela estocagem das sacas de café que vinham das fazendas da cidade e que eram encaminhadas para o Porto de Santos - e ao lado se encontra o prédio da Estação São Manoel para desembarque estabelece uma relação de proximidade ao leito do Rio Paraíso, paralelo a ele. O relatório publicado pela Sorocabana em 1918, afirma que “para melhorar o acesso do público à estação de São Manuel a estrada, executou a construção de passeios”. No mesmo ano, a Câmara Municipal iniciou a construção de uma passagem inferior à linha, próxima a estação, para substituir uma passagem em nível. Os prédios da antiga Estação Ferroviária de São Manuel, localizados à Rua Sebastiana de Barros, foram tombados como patrimônio histórico pelo Decreto Municipal no 615/2010, devido ao seu relevante valor histórico, artístico e estilístico. O município foi uma verdadeira potência nos tempos áureos do café, e as obras arquitetônicas e paisagísticas construídas nessa época ainda embelezam a Figura 06:A Estação da Socabana em São Manuel no início do século XX.

cidade, a imprensa na época o denominada a Princesinha da Sorocabana.

Figura 07 :Edificio principal do conjunto Ferroviário da Estação Sorocabana de São Manuel. Fotografia: Larissa Sartori.

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De acordo com o Decreto Municipal de São Manuel nº 615/20101: Decretam os tombamentos dos prédios da Estação de São Manuel situada a Rua Sebastiana de Barros por seu relevante valor histórico, artístico e estilístico, considerando os fins estabelecidos pela Lei Municipal nº 425 de Março de 2006, que dispões sobre a preservação e proteção do patrimônio histórico, artístico, ambiental e cultural do município de São Manuel e, cria o Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural dos municípios.

Durante os anos 1960, a Sorocabana executou em todo o ramal de Bauru obras de retificação da linha. Em São Manuel, existe um leito que foi construído, segundo contam antigos moradores, para receber uma alteração na linha, esse trecho, no entanto, nunca foi concluído, restando apenas o corte por onde passaria a linha os mesmos foram apropriados e deram origem ao desenho de novos bairros no município e áreas de lazer na cidade. Ele passava ao sul e a oeste da cidade, deixando inclusive, se concluído, a estação fora do traçado. Não se sabe o motivo da construção e do abandono do trecho. Isso parece ter ocorrido nos anos 1960, porém especulasse que depois da formação da Fepasa em 1971.

Figura 08: Vista do conjunto hoje. Vê-se em primeiro plano o Armazém e ao fundo a casa do engenheiro. Fotografia: Larissa Sartori.

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Sobrado de Domingos Calvitti Italiano radicado na cidade de São Manuel, Domingos Calvitti foi o artista responsável por uma série de obras ecléticas de grande valor arquitetônico no município, entre eles a Igreja Matriz de São Manuel, construída com a necessidade de um templo maior no município uma vez que a matriz original Igreja São Benedito já não tinha capacidade para receber seus fiéis. Domingos Calvitti, sendo o artista responsável pelo desenho e construção da nova matriz, permanecerá longo tempo no município para a edificação desse templo e em consequência disso o artesão constituiu família no município. O sobrado da família Calvitti, concluído em 1931, conforme indicado em sua fachada, embora de tamanho modesto e implantado à beira do rio Santo Antônio, chama bastante atenção na arquitetura local, sendo uma das residências do período com maior número de afrescos e motivos florais no centro antigo. Além dos cômodos residenciais o sobrado abriga ainda o atelier do artista e um mirante. O sobrado continua sendo de posse dos descendentes de Calvitti, no entanto, a residência permanece desocupada há anos, bem como desprovida de qualquer tipo de reparos, degradando-se a cada dia mais. Esse sobrado eclético, volume modesto é representativo de uma produção arquitetônica diferencial e pertencente a uma distinta camada da população local, não a elite cafeeira, mas seus servidores.

Figura 09: Detalhe das janelas e mirante do sobrado do artista Domingos Calvitti. Fotografia: Larissa Sartori.

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Casarão da Família Pupo O casarão da família Pupo é certamente um dos mais antigos casarões ecléticos do auge cafeeiro do município de São Manuel. Em fotografias de fins do século XIX e início do XX já é possível vislumbrar a edificação, junto de outros exemplares edificados ao redor da Igreja matriz. Naquele período de auge cafeeiro e expansão das ferrovias no interior paulista, os chamados barões do café terão residência urbana, além da sede nas grandes fazendas. Das dezenas de exemplares ecléticos da elite cafeeira do início do século XX no centro de São Manuel, o palacete da família Pupo é o que sofreu maior degradação, estando há décadas abandonado e sendo regularmente invadido por moradores de rua. Há cerca de cinco anos a casa foi adquirida por um proprietário da Barra Bonita, que iniciou reformas no edifício, suas janelas foram trocadas por modelos modernos, a escada do hall foi substituída, seu jardim frontal foi modificado e o terreno que antes abrangia parte considerável da quadra, foi fragmentado, alterando a implantação do edifício com novas construções no entorno. As modificações que alteraram drasticamente a fachada do palacete fez com que muitos antes interessados no imóvel perdessem o interesse, a casa foi colocada novamente à venda e permanece abandonada desde então, sendo regularmente invadida por moradores de rua em busca de abrigo. O palacete pode ser considerado um dos mais amplos vazios edificados no centro histórico e comercial de São Manuel. Com alguma regularidade especulam-se notícias de o imóvel seria adquirido pela prefeitura para ampliação da Biblioteca Municipal ou outros usos.

Figura 10: O casarão em fotografia do início do século XX. Figura 11: Vista do antigo casarão do café da família Pupo. Fotografia: Larissa Sartori.

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Ruínas da Igreja Presbiteriana Independente “A 1º de fevereiro de 1902, nesta cidade, na residência do presbítero José Antonio Lemos, reuniu-se uma assembleia presidida pelo pastor Vivente Themudo Lessa e secretariada por Simão Cavalcante Macambira. Das suas motivações ,constou apresentação de um projeto estatuário, o qual, aprovado, aos 12 de janeiro de 1903, foi registrado no Cartório de Notas do Tabelião João Baptista de Oliveira Cesar, instituindo-se a Igreja Presbiteriana Independente. Congregando numerosas famílias e tornando-se necessário amplitude para sua acomodação, deu-se, aos 8 de setembro de 1907, a cerimônia de inauguração de um Tempo na Rua Paes de Barros, atual Epitácio Pessoa, ocupando a tribuna o Reverendo Francisco Lotufo.[...] Essa despretensiosa casa de orações [...] recebeu como único adorno um evocativo vislumbre entre a Terra e o Céu no admirável painel feito pelo notável pintor são-manuelense Juca Canella, autor de obras que fazem parte da pinacoteca do Museu do Ipiranga.”

Fundada em 1902 e tendo seu tempo inaugurado em 1907, a Igreja Presbiteriana Independente será uma das únicas igrejas erguidas ainda no início do século XX que não apresenta uma posição privilegiada na malha do município. Sendo o único exemplar daquele período de religião cristã não católica no município, a Igreja Presbiteriana Independente possui uma implantação modesta e rodeada pelos lotes urbanos e edificações de gênero residencial e comercial. Sua implantação, apesar semelhante à da primeira Igreja Matriz do município, a São Benedito, encontra-se afastada no centro do núcleo urbano vigente no período em que foi edificada. Apesar de ser um templo antigo e representativo de uma religião que se estabeleceu no início do século passado no município seu tempo de vida e arquitetura é pouco reconhecido. Nos anos 2000, quando o templo ainda funcionava, iniciou-se novo empreendimento no lote de esquina ao lado da mesma. A construção de um edifício de apenas dois pavimentos foi capaz de abalar as estruturas do antigo templo, que veio à baixo repentinamente, restando apenas parcela da fachada frontal. Desde o ocorrido os proprietários do empreendimento que causou a queda do templo tentam comprar o terreno da Igreja, isso não acontecendo, a igreja permanece em um estado de ruínas, sendo gradativamente tomada pela vegetação, musgo e lixo e ameaçando ruir o que ainda permanece em pé. Figura 12: Fachada da Igreja Presbiteriana Independente. Fonte: Cidade Centenária: 1º Centenário de São Manuel – 1970. Figura 13: Vista das ruínas da Igreja Presbiteriana Independente. Fotografia: Larissa Sartori.

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Mercado Municipal Catarina Koike Em janeiro e 1898 procedeu-se o lançamento da pedra fundamental do primeiro edifício do Mercado Municipal na cidade de São Manuel, a produtividade e o crescimento do município tornava naquela época indispensável a construção de um ponto de convergência dos produtos da zona rural. Depois de estudadas as precisas dimensões do edifício, por concorrência foi erguido o prédio pelos engenheiros Ranieri Ricci e Eugênio Accomazzo, implantado na parte baixa da atual Praça do Jardim Público, com a fachada principal na Rua XV de Novembro. Permanecendo por cerca de vinte e cinco anos – demolido em 1928 b - como centro comercial, o Mercado veio a ser demolido para dar a ampliação ao “Jardim Público na composição do artístico logradouro que se distingue entre o mais pitorescos no interior paulista.” No início da década de 1950, na administração do prefeito Antonio Dallaqua (1948-1951), procedeu a edificação de um novo Mercado na Rua 7 de Setembro, Nº 566, inaugurado no dia 16 de fevereiro de 1952 pelo então sucessor Geraldo Pereira de Barros. O edifício implantado em um vantajoso corte do terreno na esquina da Rua 7 de Setembro com a Rua Comendador José Manuel Pupo, impõe-se numa cota mais alta que a via de pedestres. Construído em alvenaria de tijolos maciços e estrutura em concreto, sua cobertura possui uma estrutura diferenciada, com treliças todas de madeiras com minuciosos encaixes e travas compondo com um lanternim. O novo edifício com capacidade para 10 lojas passou por uma reforma na década de 80, recebendo novas telhas metálicas, estacionamento e algumas modificações estéticas no jardim que hoje já não existe.

Figura 14 Mercado Municipal na década da 1960. Fonte: Arquivo do Museu Municipal. Figura 15: Fotografia com sobreposição do Mercado Municipal Catarina Koike. Esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua Comendador Joé Manuel Pupo. Larissa Sartori

Atualmente, o Mercado Municipal conta com apenas 4 lojas funcionando, as feiras livres que o ocorriam todos os fins de semana já não mais acontecem e o edifício há anos sem reparos por parte da administração municipal tem sua estrutura bastante degradada, necessitando de urgentes reparos. A expansão do município e a vinda das grandes redes de supermercado afetaram evidentemente as atividades no antigo Mercado Municipal o que naturalmente conduziu a diminuição do número de lojas. Com a tímida expansão urbana, o “Mercadão” passou também a ter grades nas janelas e portões no seu entorno que só tornaram sua aparência ainda menos convidativa.

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Galpões Industriais da antiga Vicunha

A conhecida Fiação de São Manuel se instala no município na década de 1960 inaugurando a primeira Vila Industrial da cidade. Com vantajosa implantação, em um extenso aterro que influirá no desenho da cidade que crescia em suas proximidades, as instalações da próspera malharia instalada em São Manuel se expandiram conforme o crescimento da produção do município, chegando a empregar em períodos prósperos cerca de 2000 funcionários e sendo, durante os anos, dirigida por uma diversidade de grupos têxtil como Vicunha Têxtil, a Vine Têxtil, a Fiação São Manuel S.A. na década de 70 e, recentemente, o grupo Elizabeth Têxtil e por último a Têxtil Itatiba que viu a falência da malharia. “A Fiação de São Manuel – Têxtil Itatiba, ligada ao grupo Franco Mattos -, demitiu até o final de Agosto de 2011, 310 funcionários. Na época, em entrevista a jornalistas locais, o gerente industrial da unidade de São Manuel, Francesco Del Missier, afirmou que as demissões ocorreram devido à readequação da unidade. Ao contrário de boatos que se espalharam na cidade, tanto a fiação, quanto a malharia, permaneciam abertas, porém em menor capacidade do que anteriormente. “Tínhamos no início do ano de 2011 830 colaboradores”. Hoje

a fábrica está com 370zz funcionários, que serão demitidos após seu fechamento dia 29 de Fevereiro. Diante das circunstâncias, o emprego torna-se uma questão de peso para as eleições municipais de 2012. O eleitor começa a refletir o que tem feito os políticos que administraram a cidade a respeito disso. O impacto dessas demissões trará grandes consequências para o comércio local, já que uma quantia significativa de dinheiro deixará de circular na cidade.”

Após a falência do grupo industrial em 2013 o conjunto industrial permanece inativo, configurando uma infraestrutura industrial de grande porte instalada em meio a malha urbana do município e inativa. Recentemente foi criado um grupo que atua na tentativa de alugar o espaço para empresas e indústrias. Figura 16: Vista aérea da Fiação Elizabeth Têxtil na década de 1990, quando empregava cerca de 1500 pessoas. Fonte: São Manuel em revista – Edição Informativa sobre a história e formação de São Manuel: 2000. Figura 17 Fiação São Manuel na década de 1970. Fonte: Almanaque do Centenário do Município – 1970.

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Condomínio Residencial Jardim Planalto Com projeto aprovado em 1990 o Condomínio Residencial Jardim Planalto é uma obra nunca concluída. Seus 40 apartamentos pertencentes hoje a 17 condôminos nunca foi concluído. Uma vez iniciado o empreendimento imobiliário lançado no final da década de 1980, a torre de apartamentos residenciais era pra possuir inicialmente 15 pavimentos. Iniciada a construção do conjunto dos dez pavimentos com uma planta tipo de 04 apartamentos, a empresa responsável pela construção veio a falência e desde o ocorrido os condôminos procuram se organizar para finalizar a obra, oscilando no pagamento dos tributos do dispendioso investimento. Abandonado já há mais de 20 anos, atualmente, os condôminos alugam o edifício para torres de telefonia móvel com a finalidade de controlar as despesas do conjunto. Regularmente aparecem empresas interessadas na compra do conjunto, porém a negociação se dificulta pela posse distribuída entre quase vinte condôminos. O Condomínio Residencial Jardim Planalto destaca-se na paisagem local, pelo aspecto permanente de abandono e degradação e também por ser a segunda torre na paisagem, destacando-se seus 10 pavimentos do gabarito do munícipio em geral. É possível listar as edificações com mais de 03 pavimentos na cidade, entre elas destaca-se a torre do Hotel Astral com 07 pavimentos e o Edifício Estoril com 12 andares, além do edifício aqui estudado. Essas torres irão competir com as torres da Igreja Matriz e o Santuário de Santa Terezinha.

Figura 18: Fotografia do Condomínio Residencial Jardim Planalto ao fim do dia. Larissa Sartori. Figura 19: Fotografia do Condomínio Residencial Jardim Planalto ao fim do dia. Larissa Sartori.

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Cooperativa Cafenoel A Cooperativa de Cafeicultores da Zona de São Manuel foi fundada em 05 de maio de 1960 por um conjunto de 57 cafeicultores. Seu primeiro presidente foi José Dória de Barros, naquela época o escritório situava-se na Rua XV de Novembro em um prédio alugado e as sacas de café também eram armazenados em imóveis alugados de terceiros. Já na presidência do Dr. Abraão Nicolau Salum adquiriu-se terrenos às margens da rodovia que ligava São Manuel a Avaré, hoje Avenida José Horácio Mellão, onde foram construídos os armazéns com máquinas para benefício, rebenefício, catação eletrônica e armazenamento dos cafés dos associados, com capacidade hoje de 200.000 sacas de 60 quilogramas beneficiados e 4.000 sacas de cafés. Posteriormente, foi construído o silo graneleiro para depósito de cereais com capacidade de 18.000 toneladas e posto de abastecimento de combustíveis. Após a compra do imóvel onde funcionou a S/A. Paulista Construções e Comércio houve a mudança de toda a parte administrativa para as novas instalações da Avenida José Horácio Mellão, ligando tudo e tornando-se um conglomerado de 108.000 metros quadrados e cerca de 14.000 metros quadrados de área construída. Apesar de implantado em 1960, o conjunto antes distante da malha urbana e próximo à distribuição pela autoestrada, hoje está completamente envolvido pela malha urbana, conservando potenciais relações com bairros residenciais e vias principais comerciais.Há alguns anos, a cooperativa passou por problemas administrativos que afetaram drasticamente a produtividade do conjunto.

Figura 20: Vista do elevador de Grãos na década de 1970. Fonte: Almanaque do Centenário do Município – 1970. Figura 21: Vista do Elevador de Grãos da antiga Cooperativa Cafenoel. Fotografia com sobreposição de vistas. Larissa Sartori.

Atualmente, atuando em proporção menor no beneficiamento do café, a nova administração aluga seus imóveis e terras pra uma diversidade de atividades, desde hortas a posto de combustíveis, e desse aluguel procura quitar as dividas judiciais. Sobre o programa atualmente ali instalado: supermercado, loja de insumos agropecuários (shopping rural), fábrica de rações, canteiro de mudas, escritório administrativo, depósito do supermercado, depósito de insumos, silo para depósito de cereais, armazéns para depósito de cafés, posto de combustíveis, loja de conveniência.Configurando umas áreas permeáveis e vegetada mais fundamental amarrada à malha urbana do município, a segmentação progressiva do seu terreno em pequenos lotes e a consequente impermeabilização do solo antecipam graves percas para o município como um todo. O aspecto agradável da vegetação implantada no conjunto e a associação com a principal via de acesso à cidade – Avenida José Horácio Melão – faz com que muitos habitantes utilizem a calçada que bordeia o edifício para atividades de esporte e lazer. Seu conjunto industrial edificado na década de 1960 permanece, no entanto, carece de cuidados com a manutenção de suas estruturas, vedações e revestimentos, ainda no interior dos mais antigos galpões onde ainda é realizada uma parcela do beneficiamento do café, estão localizadas as antigas, porém ainda ativas máquinas de beneficiamento que, sendo constituídas quase completamente por madeira, contam com design peculiar da época de sua fabricação ainda na década de 1960 e o elevador de grãos associado ao conjunto mais próximo à avenida compondo imponente com a paisagem local como um elemento referencial na paisagem da cidade.

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Nova Rodoviária O projeto do novo edifício da Rodoviária trouxe muitas polêmicas, a primeira delas a dificuldade da transferência da mesma do centro da cidade para um local periférico, próximo à principal rodovia que dá acesso ao município – Rodovia Marechal Rondon. A nova localização da rodoviária trazia o empecilho de os ônibus intermunicipais não mais entrarem na cidade, o que dificultaria a locomoção de uma parcela considerável da população dependente do serviço. Hoje, para uma parcela considerável da população, São Manuel é apenas uma cidade dormitório, uma vez que parte muitos habitantes trabalham nas cidades vizinhas. A proposta do novo edifício vinha com a justificativa de evitar que carros das empresas de ônibus entrassem na cidade, atravessando os bairros, além de outros convenientes políticos para os donos das principais empresas de ônibus no município. Havia também a falsa ideia de modernidade, de que o progresso tornava necessário um novo edifício localizado em local mais estratégico. Com projeto do então arquiteto da prefeitura, reconhecido e autor das obras consideradas mais modernas no município, a obra teve início em meados de 2010 e em pouco mais de dois anos foi interrompida. O abandono da obra acompanhou uma série de complicações políticas e evidências de corrupção da administração local e os vantajosos gastos da receita municipal contradiziam a qualidade dos materiais empregados naquela obra que se decompunha rapidamente. O edifício com uma área construída de 1200 m² que se perde na implantação deslocada em um terreno de aproximadamente 50.000 m² praticamente plano e completamente descampado - construído com estrutura de concreto, vedações em blocos cerâmicos simples, fechamentos e cobertura metálica e uma tipologia quase industrial que vai remeter a um conjunto de edifícios locais - permanece abandonado desde então. Com a finalidade de impedir ocupações indesejadas no local, as aberturas foram todas fechadas improvisadamente com blocos e a ação das intempéries, em menos de cinco anos, já prejudicou radicalmente as estruturas e revestimentos da cobertura. O local ainda, apesar de não ser dotado de infraestrutura faz a conexão entre o centro da cidade e os bairros da COHAB implantados – na década de 90 – após o viaduto sobre a rodovia Marechal Rondon, conservando importantes relações com o bairro. O terreno vantajoso, também já foi motivo de diversas discussões políticas, de posse da prefeitura municipal, durante muito tempo pretendia-se utiliza-lo como um estacionamento para as carretas dos caminhoneiros locais - a ideia era impedir que tais cargas continuassem adentrando os bairros residenciais e danificando as vias, o que também não se concretizou - serve de passagem para os pedestres que atravessam o viaduto diariamente no sentido do bairro, sem contar as atividades de lazer e recreação que são ali realizadas apenas por apropriação da população, uma visita ao local permite que se veja crianças soltando pipas e um campo de futebol improvisado. Figura 22: Fotografia do edifício da nova Rodoviária com dupla exposição. Larissa Sartori.

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Aborda-se, no capítulo próximo, a complexidade a respeito da imagem da cidade e apresenta-se o contexto da cidade de estudo: história e transformação urbana do município de São Manuel, compreendidas através de uma leitura da paisagem da cidade. Nesse momento, desenvolve-se uma discussão a respeito das definições e entendimentos de paisagem em termos gerais, enfatizando sua relação com as concepções de tempo e lugar. Aqui já é possível posicionar os fragmentos na linha temporal de desenvolvimento do município e compreender o papel específico que desempenharam e o que representam da história e evolução do mesmo.

50 “Eu sei de uma cidade pequenina


“Eu sei de uma cidade pequenina Aonde todos gostam de cantar e de viver Localizada em meio a uma colina Cantada a prosa e versos Por quem veio a conhecer Os seus encantos e tranquilidades Saudades todos levam dessa terra e desse céu Cafezais florindo e seu povo sorrindo Me refiro a São Manuel (...)” Canção de José Marcos de Lara Campos, poeta são-manuelense.

CONSIDERAÇÕES SOBRE PAISAGEM “Estamos aqui diante de uma outra relação com o visível, diante de uma outra noção do visível. O visível conta algo, uma história, ele é a manifestação de uma realidade da qual ele é por assim dizer a superfície. A paisagem é um signo, ou um conjunto de signos, que se trata então de aprender a decifrar, a decriptar, num esforço de interpretação que é um esforço de conhecimento, que vai portanto além da fruição e da emoção. A ideia é então de que há de se ler a paisagem.” (BESSE, 2014, p.63)

É característica humana projetar seu entorno, o homem, desde sempre criou ao seu redor um ambiente como projeção de suas ideias abstratas. Cada momento histórico, nesse sentido, configura uma paisagem específica, característica de seu tempo e reflexo de relação circunstancial entre o homem e a natureza, essa paisagem pode ser interpretada, desse ponto de vista, como uma ordenação do ambiente, de acordo com uma imagem ideal presente no imaginário de uma sociedade (LEITE, 1992, p.45).

Embora a paisagem englobe uma infinidade de elementos e fatores e seja, portanto, objeto de estudo de diversos campos do

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conhecimento, as reflexões que envolvem sua concepção e construção relacionam-se com seu conhecimento e interpretação, bem como, com a experiência individual e coletiva relacionadas a ela (LEITE, 1992, p.45). As definições e reflexões associadas à paisagem permeiam as artes, a filosofia e as demais ciências no conflito de suas dimensões subjetivas relacionadas ao indivíduo e sua percepção objetiva realística relacionada ao entendimento do seu conteúdo e de suas dinâmicas. “Filosofia da Paisagem”, de Georg Simmel (1858-1918), é o primeiro texto filosófico inteiramente dedicado à paisagem  como  categoria  do  pensamento humano, permanecendo graças a este estatuto inaugural a referência obrigatória  para  toda  a  reflexão posterior. Ao trazer a paisagem à filosofia, Simmel  autonomiza a compreensão da paisagem de outras abordagens já historicamente consolidadas: seja do eixo natureza/arte tematizado a propósito da pintura de paisagem e da arte dos jardins, seja da classificação objectiva da geografia, ao definir tipologias dos espaços naturais concretos. Ainda que a materialidade contemplada seja a mesma, a apreensão de uma paisagem é exclusiva de cada indivíduo. Arquiteto, geógrafo, turista, ecologista e mesmo profissionais de outras áreas não partilham da mesma percepção de uma mesma materialidade, uma vez que cada um conjuga-a por diferentes representações. Ao longo da história a paisagem assumiu vários significados e foi empregada com diferentes ênfases, dessa maneira, tratar de representações simbólicas afim de uma ressignificação da paisagem da sociedade contemporânea, como sugere Castilho (2000), através de fotos, desenhos, mapas, expressa sua conexão direta à dimensão cultural das sociedades. Uma vez que as intervenções humanas na natureza envolvem sua transformação em cultura, todas as paisagens possuem significados simbólicos enquanto produto da apropriação e transformação da natureza pelo homem. Nesse sentido, a paisagem existe na sua relação com um sujeito coletivo que é a sociedade que a produziu, que a reproduz e a transforma em função de uma determinada lógica. (BERQUE, 2004). Essa correlação permite, portanto, a leitura em vários sentidos, a apreensão da cultura pela leitura da paisagem e o entendimento da conformação da paisagem através do entendimento da cultura que a processou. A paisagem enquanto representação resulta da apreensão do olhar, um enquadramento, uma seleção que existe através do indivíduo que a organiza, combina e promove arranjos de conteúdo e de forma. Comporta, portanto, uma pluralidade semântica, sempre associada à ideia de recorte espacial, bem como evoca o caráter de coleção e conjunto. Enquanto uma representação, ela carrega também aspectos subjetivos associados ao indivíduo que apreende, remetendo assim a um universo simbólico. “A paisagem é o efeito da expressão evolutiva de um sistema de causas também evolutivas: uma modificação da cobertura vegetal ou uma mudança nos mecanismos da produção agrícola se traduzem nas aparências visíveis (...) o aspecto do território não é apenas uma aparência sensível (...). Ao contrário, é sobretudo o plano das aparências que é preciso se situar para apreender toda a sua densidade epistemológica e ontológica. O aspecto das coisas é uma realidade geográfica (...). Em todos os lugares (o homem) inscreve sua passagem por impressões que são objeto de nossos próprios estudos.”

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(COELHO, 2000)


Relacionada às produções artísticas, às representações em imagens, a ideia de paisagem sempre esteve intimamente relacionada à sua representação e, nesse caso, à pintura, que busca reproduzir objetivamente um fragmento de natureza, mas o ponto de observação, o ângulo, o enquadramento da vista resultam de uma escolha que é a dimensão subjetiva dessa representação. A representação de paisagem aparece como uma expressão popular, acompanhada por uma arte florescente de incluir a paisagem na pintura, na poesia, no teatro e na concepção de parques e jardins (COSGROVE, 2004). Enquanto gênero artístico as origens da representação de paisagem remontam ao Quatroccento quando surge na Europa seu enquadramento pictórico. O surgimento da paisagem como forma de pintura é uma das consequências da revolução introduzida pelo emprego da perspectiva. Para Paul Claval, geógrafo contemporâneo francês - considerado criador ou o renovador de diversos ramos da Geografia, como a geografia cultural, a geografia regional, a geografia econômica e a epistemologia da Geografia - a invenção decisiva, na história da paisagem ocidental, é a da janela na pintura flamenga ainda na primeira metade do século XV. A representação da paisagem foi sucessivamente alterada na história da pintura, no ocidente medieval, a paisagem não existia enquanto representação, somente a partir do século XVI que a noção de paisagem ascende através das novas técnicas de pintura, se expandindo para a literatura, ainda sem um sentido de unidade, era um sentido de natureza, reproduzido (COELHO, 2000). Assim, até o século XVIII, a paisagem constituía sinônimo de pintura, e da mediação com a arte que o sítio adquiriu o caráter de paisagem.

“O que o artista faz – subtrair ao fluxo caótico e infinito do mundo, como imediatamente da do, a um pedaço delimitado (...) é precisamente o que nós também fazemos, em dimensões menores (...) sempre que vejamos uma paisagem e não mais um agregado de objetos naturais, teremos uma obra de arte in statu nascendi (...) uma tal visão as forma artística se torna viva em nós, atua, e que, sem poder aceder a essa criatividade própria, vibra pelo menos no desejo desta, da sua antecipação anterior.” (SIMMEL, 1996 apud COELHO, 2000, p.7)

O século XIX é paisagista por excelência (COELHO, 2000), esse momento na Europa e em suas colônias foi marcado por grandes transformações advindas da modernidade e modificações nas escolas clássicas de pintura da França e o desenvolvimento do impressionismo. A marca da subjetividade se evidencia com Cézanne, Van Gogh e os fauvistas. A invenção do daguerreotipo3 em 1838 3 Antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre (1787-1851), físico e pintor francês, que fixava as imagens obtidas na câmara escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre.

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por Daguerre, a fotografia dará continuidade à produção de imagens da paisagem, contribuindo consideravelmente na popularização dessas cenas de paisagens pitorescas através dos cartões postais e posteriormente associada a todo tipo de mídia produzida e desenvolvida em fins do século XX, disseminando no universo popular a imagem da paisagem. Segundo Coelho (2000), o processo de transição da pintura para a fotografia na representação de paisagens envolveu uma série de mudanças conceituais consequentes de uma mudança da maneira de olhar condicionada pela fotografia que surge em um momento de grandes transformações mundiais no que tange produção e no consumo que incitarão o desejo por novas imagens.

“(...) A busca por captar o instantâneo e registrar as mudanças que estavam ocorrendo faz com que a arte também se preocupe em registrar a transitoriedade da vida moderna, A fotografia gera uma revolução na pintura devido aos processos de mudança do olhar, e a paisagem também está inserida nessa transformação da representação da realidade. Diversos pintores passam a utilizar a fotografia como recurso técnico, produzindo vistas da natureza a partir de fotografias.” (COELHO, 2000, p.10)

Dessa forma, em relação à representação da paisagem na fotografia, difunde-se no final do século XIX a produção de panorâmicas e vistas das cidades vendidas em álbuns. As “vistas urbanas” serão precursoras dos instantâneos, técnicas que permitirá maior agilidade na reprodução das fotos, atingindo seu ápice com a febre dos cartões postais, onde novos padrões urbanos eram veiculados de acordo com o interesse da burguesia vigente (COELHO, 2000).4 Dissertar sobre as definições do conceito de paisagem, torna-se necessário falar sobre a área do conhecimento que tradicionalmente trabalhou esse conceito central, a geografia. Desde o início do século XX, seguindo a tradição dos naturalistas, como Humboldt, a geografia viabilizou-se enquanto disciplina acadêmica tendo a paisagem como objeto de estudo. No correr desse mesmo século, o conceito de paisagem passou, no entanto, por diversas redefinições, algumas vezes nas mesmas correntes do pensamento, foco de intensos debates sobre sua aceitação, refutação e mesmo o questionamento de sua cientificidade. Somente com a retomada das dimensões culturais no estudo da geografia e de todo o pensamento científico é que a paisagem tornou a fazer parte dos estudos geográficos. Até o século XVI, não se conhecia a paisagem em uma dimensão estética, ou seja, como uma imagem a ser refletida, contemplada e sentida. Ela estava imersa na noção de país ou na fração de espaço identificado por território, ou ainda, em um lugar do ponto 4 Uma análise da relação dos indivíduos com a fotografia de paisagens pode até mesmo ser trazida para o hoje quando a mídia e a disseminação tecnológica das câmeras digitais nos celulares 54

disseminou o registro instantâneo. As mídias sociais virtuais e aplicativos para smarthphones como Instagram e similares popularizaram a fotografia de paisagens. Essa relação se torna ainda mais complexa com a disseminação do geomapeamento/ geologalização realizado por satélite, com ferramentas como Google Maps, Google Earth e Google Street View.


de vista de suas características físicas, humanas e econômicas. Ao se confundir com base física do espaço, a paisagem até então se aparentava com a materialidade revelada de imediato ao sujeito, que, por sua vez, atrelava a feição à prática e ao uso da forma. Nessa perspectiva, a paisagem era entendida como espaço objetivo da existência, mais territorial e geográfica do que estética. É, somente, a partir do século XVII, com a pintura, que vai aparecer o valor estético da paisagem, alimentando-se da imaginação e da contemplação. Com essa ampliação, o inventário das imagens da Terra são ressignificados, trazendo à tona um vasto quadro que aparece a partir dos caminhos feitos pelo olhar. Até o século XVIII, portanto, a percepção esteve atrelada à pintura e à arte e representava o sítio – lugar – visto. A geografia acadêmica e o conceito acadêmico de paisagem tem origem simultânea e comum, em uma concepção que amplia muito o conceito disseminado no pensamento ocidental surgido no renascimento a partir da invenção da perspectiva que associava paisagem às novas técnicas de representação do espaço. A geografia não vai limitar a concepção de paisagem apenas em seu sentido renascentista, segundo a qual é um espaço observado segundo um golpe de vista, e volta-se para o significado medieval de área fisicamente e culturalmente reconhecível (COELHO, 2009). O sentido moderno do termo geografia no século XVI está relacionado à descrição da terra, vindo do latim geografia e do grego geôgraphia, o termo ganha a conotação de “descrição da terra”. Apesar da manutenção dos termos, a descrição da terra se alterou profundamente através dos anos, devido ao aumento crescente da complexidade imposta à compreensão do mundo. A palavra de origem grega combina originariamente a terra (gê) com o verbo graphein, que significa escrever, mas também pintar, assim como o substantivo graphé, que significa escrita e pintura (CASTRO, 2013). A equivalência de escrita e pintura no grego graphein permite propor não a identidade da poesia e da pintura, por exemplo, mas a homologia dos procedimentos miméticos aplicados a uma e outra. No latim, graphium relaciona-se com estilete. A língua grega associa grapho, graphe, ie, ique com escrever, mas também com gravar. Em relação a graphium, o substantivo, trata-se de instrumento pontudo para escrever sobre a cera, ou seja, para gravar que serve para a escrita, assim como graphicus concerne à pintura, mostrando a estreiteza dos sentidos atribuídos. Esses registros são identificados com as próprias qualidades do ambiente, suas marcas e peculiaridades (CASTRO, 2013). A nova postura em relação à cientificidade atribui à geografia a tarefa de apreendê-las a partir das descrições. A visão ampliada da diversidade do mundo trazida pelo Século das Luzes busca conceituar a geografia como “ciência que ensina a posição de todas as regiões da terra, umas em relação às outras, e em relação ao céu, com a descrição daquilo que contêm de principal” (WOOLDRIDGE, R.; LEROY-TURCAN, I. (dir.), 1762; 1798. p. 119 apud CASTRO, 2013). A geografia preocupa-se, então, com as posições dos lugares e a relação que estes estabelecem entre si. Tornam-se agora reconhecidas – e objeto de especulação –, as regionalidades; buscam-se as características principais que as tornam específicas. 55


“(...) o aspecto do território não é apenas um aparência sensível, uma aparência que se deveria rapidamente abandonar para reencontrar sua verdade teórica. Ao contrário, é sobre o plano das aparências que é preciso se situara para apreender toda a sua densidade epistemológica e ontológica. O aspecto das coisas é uma realidades geográfica.” (BESSE, 2014, p.66)

O positivismo do século subsequente, de generalização do processo industrializante, reforça o sentido da descrição como elemento determinante da análise científica, tendo em vista o esforço racionalista na busca de leis universais classificatórias. A Geografia toma a materialidade da paisagem como uma objetivação analítica que impede o sujeito da ciência de se enganar. É dessa perspectiva que o viés positivista se instaura, alimentando espíritos como Ratzel e La Blache. A centralidade do procedimento descritivo atravessa o início do século XX, procurando, porém, conceituações mais detalhadas e precisas, ao mesmo tempo em que se definem as diversas escalas da análise espacial e se amplia o âmbito de atuação da geografia. Tem-se aqui, de forma mais clara, a geografia como “ciência que tem por objetivo a descrição total ou parcial do globo, dos acidentes e dos fenômenos físicos encontrados na superfície terrestre ou marinha. É também o estudo da dependência do homem em relação a esses fenômenos; da distribuição das raças humanas; das condições de existência dos seres vivos sobre a terra” (WOOLDRIDGE, R.; LEROY-TURCAN, I. (dir.), 1932-1935 apud CASTRO, 2013). Para Ratzel, é preciso compreender a dinâmica da natureza para entender a dinâmica humana. Desvendar a dinâmica dos elementos naturais é o caminho para estabelecer as leis explicativas da dinâmica do homem na paisagem natural, pois este é visto como mais um elemento da natureza a compor o cenário geográfico. Já em La Blache, a paisagem é a revelação da Terra como um organismo em equilíbrio. O homem ao interferir na natureza cria o meio geográfico, e é a partir da observação e descrição desse meio que podemos compreender a dinâmica a Terra. Assim, a paisagem assume importância central, sendo a porta de entrada do geógrafo para fazer o inventário da Terra. Olhar e descrever, comparar e sintetizar constituem ferramentas básicas para a leitura da paisagem. Vidal de La Blache, certamente, já havia deixado sua contribuição, tratando a França como ser geográfico, ou seja, lançando o foco sobre a personalidade dos lugares, aquilo que os caracteriza e os torna diferente dos demais (VIDAL de la BLACHE, 1903 apud CASTRO, 2013). “Mas de outro lado, esta paisagem forma um todo, onde os elementos se encadeiam e se coordenam; sua interpretação exige uma percepção analítica da síntese viva que ela oferece aos nossos olhos.” (VIDAL de la BLACHE, 1908 apud CASTRO, 2013).

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“A superfície terrestre é, de fato, o substratum comum em que os efeitos destes diferentes fatores se inscrevem em caracteres plásticos. Existe entre os fenômenos naturais um estreito encadeamento. Embora dependentes de causa diferentes, que convém estudar separadamente, eles reagem sem cessam uns sobre os outros.” (VIDAL de la BLACHE, Paul. Régions Naturalles et noms de pays, Journal des savants, 1909, p.15 apud BESSE, 2014, p.69)

Os estudos sobre paisagem, até a década de 1960, estiveram voltados para análises morfológicas, considerando, sobretudo, os aspectos materiais da cultura. A contribuição do geógrafo americano Carl Ortwin Sauer, publicada em 1925, uma das mais significativas proposições para análise morfológica da paisagem, seu estudo representou uma contestação à visão determinista da geografia norte-americana e, ao mesmo tempo, uma antecipação da geografia cultural que em breve estabeleceria. Para ele, a paisagem deveria ser o objeto da ciência geográfica, sendo concebida como uma associação de formas, físicas e culturais, resultado de um longo processo de constituição e diferenciação de um espaço. Sauer sublinha a importância da análise da estrutura e das funções de cada paisagem, que deve ser vista sobre um plano sistemático e geral, em que possa ficar evidente a estrutura metodológica e teórica, possibilitando analisar os elementos significativos na estruturação da paisagem e criando tipologias morfológicas. A partir das tipologias, é possível compreender a diferenciação regional, objeto último da Geografia. Para Sauer, a paisagem forma-se da combinação de elementos naturais e humanos. Assim, ela pode ser classificada em paisagem natural e artificial, na medida em que o homem se defronta com a natureza, estabelece uma relação cultural, que é também política e técnica. Dessa relação cultural, o espaço geográfico assume feições distintas, sendo estas resultado dos diferentes níveis de intervenção humana. Um importante aspecto apontado nessa contribuição é o tempo, o tempo para Sauer consistia numa variável fundamental ao conceber a paisagem como resultante da ação contínua de uma cultura no meio. Sauer foi um importante difusor do novo conceito geográfico, tendo delineado suas características mais marcantes e colocando a paisagem como termo central para a geografia. Em sua abordagem a paisagem consistia na união das qualidades físicas e das formas como são utilizadas as áreas significativas para o homem. Acreditava que para definir a individualidade de uma paisagem, esta deveria ser comparada a outras, assim sua identidade estaria baseada em características reconhecíveis e em relações genéricas om outras paisagens. As proposições de Sauer vão delinear toda uma base para o estudo da paisagem posterior, que passou a ser analisa de sob essa perspectiva até a década de 1940, sobretudo com a finalidade de definir suas bases metodológicas. Entre as décadas de 1940 e 1950, a paisagem deixa de ser um conceito predominante nos estudos da geografia e, somente,

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a partir da década de 1970 os geógrafos tornam a inseri-la em seus estudos, porém dentro de diferentes abordagens epistemológicas, considerando-se as várias dimensões que a paisagem apresenta simultaneamente – morfológica, funcional, histórica, simbólica – e que cada matriz epistemológica privilegia segundo seus interesses de estudo. Segundo Cosgrove (2000) na década de 1970, simultâneos a movimentos sociais mais amplos defendendo mudanças estruturais em seguimentos ambientais, urbanos e políticos, surgem grupos engajados no entendimento da geografia como um humanidade e como uma ciência social. Dessa forma, a geografia humanista passaria a levar em conta o aspecto subjetivo da paisagem, seu significado, e esse entendimento apresentava muitos aspectos comuns à geografia cultural concebida por Sauer, como o de considerar relevante para a disciplina o pensamento de outras pessoas além do pensamento científico.

“Assim, a geografia seria a ciência que incorporaria sem mediações os elementos da vida cotidiana, que deveriam ser considerados em suas particularidades a partir da inclusão dos mundos vividos pessoais como dado concreto da disciplina.” (HOLZER, 1999 apud COELHO, 2009)

Os estudos desenvolvidos no âmbito da geografia humanista trouxeram em sua base uma crítica ao positivismo lógico, e incorporaram como referencia filosófica a fenomenologia e o existencialismo. A concepção antropocêntrica, portanto, torna-se uma importante característica da geografia humanista e é nesse sentido que a percepção ambiental torna-se recorrente para os geógrafos. Sobre o entendimento de percepção ambiental no estudo da paisagem destaca-se a contribuição do geógrafo David Loewnthal, um dos precursores da geografia humanista, que buscará ampliar os métodos utilizados pelas técnicas de percepção ambiental que muitas vezes se limitava a avaliar os atributos visuais da paisagem. É nesse ponto que o entendimento da paisagem conecta-se à fenomenologia: a fim de apreender os objetos em suas forças não observáveis, subjetivas. “Ao examinar as variações vivenciadas pelo observados, a perspectiva fenomenológica pode procurar traços comuns de modo a estabelecer uma ‘essência da paisagem (...) quanto mais modos tivermos de ver uma paisagem, mais modos terá o ser de revelar-se e mais próximos estaremos da descrição da essência do fenômeno.”

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Lowenthal foi um dos principais idealizadores da chamada geografia cultural-humanista, tendo sua obra consolidada na década de 1960, discípulo de Sauer e sua ênfase no aspecto do tempo associado à paisagem, aborda em uma série de artigos a relação entre


paisagem e história, explorando as possibilidades de utilização de fontes ligadas à humanidade para reconstrução da vida cotidiana passada e sua contribuição para a criação de novas paisagens culturais. Tuan, também influenciado pela geografia humanista, definiria a paisagem a partir de dois ângulos diversos de visão: a vertical objetiva, que tem a paisagem como domínio que viabiliza a vida humana e a lateral, subjetiva que considera a paisagem enquanto espaço de ação e contemplação (HOLZER, 1999 apud COELHO, 2009). Na década seguinte é possível falar de uma nova geografia cultural, voltada para a análise da paisagem simbólica. A partir da influência e de críticas às formulações da geografia humanista a nova geografia cultural na década de 1980 vai resgatar e ampliar as bases epistemológicas desenvolvidas pela geografia cultural de Sauer, abordando a paisagem em um contexto de grande diversidade temática e metodológica, a fim de contemplar a diversidade de análises possíveis de se elaborar sobre o tema. A fenomenologia vai surgir nos estudos geográficos como efeito de uma série de indagações sobre o objeto e o método da disciplina em uma atitude mais aberta até mesmo sobre a concepção do ofício do geógrafo. Mesmo a paisagem, nessa nova concepção passa a ser encarada menos como um objeto do que como uma representação, um valor, uma dimensão do discurso da vida humana, ou ainda, uma formação cultural. Tratando a paisagem como uma expressão humana intencional, a nova geografia cultural apreende uma paisagem composta por muitas camadas de significados representados a partir de diferentes grupos sociais. A paisagem permitiria, assim, múltiplas leituras a partir de diversos contextos histórico-culturais e poderia conduzir a uma instabilidade de significados. Dos teóricos dessa linha é importante destacar Denis Cosgrove que vai propor que a paisagem deve ser analisada como resultante da forma como a sociedade a organiza a partir do modo de produção, dotando-a de significado. Cosgrove vai reconhecer a contribuição da fenomenologia na compreensão do significado que a paisagem e o lugar possuem para o indivíduo, porém fará críticas relacionadas às concepções de tempo linear e ao entendimento de ideias e intenções como entidades independentes do homem. James Ducan também contribuirá nessa linha de estudo entre geografia, paisagem e fenomenologia, propondo a interpretação da paisagem como texto, no qual podem ser lidos os processos social e cultural nela inseridos, também Augustin Berque que propõem a paisagem como marca e matriz para uma civilização. Nesse sentido, o ponto de partida para o estudo da paisagem seria a sua descrição, enquanto dado perceptível. Porém, a análise deve ultrapassar o campo do percebido, seja por abstração, seja por mudança de escala no espaço, ou no tempo.

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“(...) a paisagem é uma marca, pois expressa um civilização, mas é também uma matriz porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação – ou seja, da cultura – que canalizam, em um certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e a natureza.” (BERQUE, 1984 apud COELHO, 2009)

Já na perspectiva fenomenológica proposta por Eric Dardel, a percepção é o meio e fim do conhecimento, uma vez que o mundo não é exterior nem abstrato à vida do indivíduo, é sempre uma experimentação, uma vivência. A fenomenologia prioriza o ser no mundo, dessa forma, a paisagem nessa vertente resulta da geograficidade perene às diversas maneiras como percebemos e conhecemos as coisas. Assim, a geografia tem seu valor positivo como ciência, mas representa também o elo fundamental do homem com a natureza.

A paisagem geográfica é a síntese primeira dessa condição. Por ela entramos no espaço geográfico, encontramos seus limites, encontramos o mundo e a nós mesmos. A paisagem nesse momento é designada como uma dimensão da sensação, da percepção, como uma orientação no e sobre o mundo. A paisagem, nessa perspectiva, portanto, está atrelada ao espaço vivido, sentido e percebido. No que diz respeito à visão dialética de Milton Santos, a percepção é “um processo seletivo de apreensão da realidade. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada” (SANTOS, 1994, p. 62 apud DANTAS, 2008). Assim, para esse teórico, a percepção é apenas o primeiro dispositivo que nos permite ver a paisagem, não é conhecimento da mesma. O que o homem vê é apenas sua forma e aparência, não distinguindo pelo olhar o que a constitui. A percepção que estimula a visão representa apenas a entrada na análise que desvela o conteúdo. Para adentrar seu significado, é necessário ultrapassar a forma vista, o seu aspecto visível, sendo necessário ultrapassar a aparência para conhecer a sua essência ou gênese. É necessário, para isso, compreender a dinâmica da produção de uma sociedade historicamente organizada. A proposição de Milton Santos está apoiada em uma perspectiva dialética de leitura do espaço em que a relação homem/natureza se dá pela mediação da técnica e do trabalho, ainda em Santos ,verifica-se que a noção de paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos e substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção daquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. Dessa perspectiva, depreende-se que para além das sensações iniciais que mobilizam o sujeito este deve tomar o distanciamento necessário para reconhecer na forma o conteúdo, e desta maneira, conhecer a adentrar nos sistemas técnicos e sociais que movem a transformação da natureza primeira em segunda Natureza. A paisagem geográfica é a fisionomia que assume a segunda natureza, marcada pelas contradições sociais, econômicas e culturais que moldam a sociedade capitalista.

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PAISAGEM EDIFICADA: CIDADES DO INTERIOR PAULISTA Landim, em sua obra “Desenho de paisagem urbana: as cidades do interior paulista”, discorre a respeito da homogeneidade dos padrões morfológicos das cidades como estando vinculados a ciclos de desenvolvimento semelhantes. No caso do interior paulista, a expansão da produção cafeeira no início do século XX e o consequente incremento da rede ferroviária e posteriormente o ciclo rodoviário imprimiram às cidades um padrão de urbanização bastante similar, uma vez que se pode dizer que a ocupação do território paulista aconteceu pela criação de cidades de fronteira. É possível, nesse sentido traçar um paralelo da paisagem das cidades de porte médio do oeste paulista com a cidade de São Manuel. Ainda que a mesma configure uma cidade de pequeno porte, incidiu sobre ela as mesmas dinâmicas produtivas que nas demais com maior ou menor êxito. A homogeneidade da paisagem urbana das cidades do interior do estado de São Paulo pode ser compreendida com base em dois componentes: seus determinantes locais, fundamentados nas origens semelhantes das cidades, e as atuais aspirações da população por padrões das grandes cidades, considerados representantes de um status civilizado e moderno. É evidente que os reflexos formais e funcionais das paisagens dos grandes centros projetam-se sobre a paisagem das cidades do interior, gerando um valor relacionado aos seus aspectos formais e visuais, cujo processo de influência é claramente representado na paisagem urbana das cidades interioranas paulistas (LANDIM, 2004). A cidade de São Paulo, um dos grandes referenciais e geradora de padrões urbanísticos brasileiros, é a síntese de um processo socioeconômico geral do país, que representa formalmente e em escalas diversas, nas demais cidades do interior paulista. Por exemplo: os novos padrões de uso do solo, como os condomínios fechados e a verticalização; o tratamento das áreas públicas de edificação, como o padrão de arborização e jardinagem urbana; as tipologias arquitetônicas; o desenho de pisos e calçamentos; e ainda por meio da arquitetura símbolo de alguns edifícios, como redes de lojas e instituições financeiras.” (LANDIM, 2004, p.17) A paisagem urbana configura-se e qualifica-se basicamente por meio dos seguintes elementos, segundo Landim: o suporte físico, ou seja, o relevo, o solo, o subsolo e as águas, a cobertura vegetal original ou não, as estruturas urbanas ou massas de edificações e sua relação dialética com os espaços livres, o uso do solo, os loteamentos e o clima com suas alterações de ciclo (noturno/ diurno, estações do ano, etc.). Somado a esses elementos a paisagem constitui uma imagem, um construção mental e social, presente no imaginário dos indivíduos e nas relações que os mesmos fazem com o meio físico acima citado. A produção e construção da paisagem urbana altera-se de acordo com as técnicas, modos de produção e ainda com as relações sociais, culturais vigentes em cada período. A cidade é, portanto, fruto de um contexto social e caracteriza-se pelas relações de uso e apropriação dos espaços construídos que gera estímulos perceptivos para aquele que a habita; a apreensão de cada um desses espaços ocorre por meio das formas de

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apropriação que se faz dele. Assim, todo lugar edificado é identificado pelas características que compõem sua particularidade, gerando na relação indivíduo/espaço a apreensão de lugar. Os elementos que compõem e definem a paisagem urbana se alteram ou persistem em razão dos usos que lhe são atribuídos. A forma urbana pode, assim, ser considerada um produto de forças emergentes associadas às relações de produção e atividades reprodutivas entre si e aos grupos sociais definidos. A estrutura urbana pode ser entendida como resultado de um processo individual, particular, de tomadas de decisão, que pode ser perfeitamente ser entendido em termos cognitivos. A cidade, pela sua paisagem, é, dessa forma, para quem vive nela, uma fonte de percepção por meio dos elementos que a compõem. Ao produzir e utilizar espaço urbano, este se configura como um retrato no qual a cidade é refletida. A cidade é uma das resultantes da ação da sociedade sobre um meio físico, sua história, cultura, meio de produção, estágio técnico e tecnológico, divisão de classes e outros fatores espelhados na configuração espacial da cidade, As sociedade mudam e evoluem ao longo da história da mesma forma como se modificam as condições físicas na superfície do planeta. Essa injunção de história-sociedade e meio físico gera um diversidade de soluções e formas urbanas. As cidade constroem-se, mudam e diversificam-se por meio de dois vetores: o espacial, que corresponde ao território e o temporal, que corresponde à história. A paisagem pode ser entendida como as relações entre o homem e o meio ambiente. Dessa forma, o espaço, entendido como campo de trabalho da paisagem, pode ser entendido como reflexo dessa relação e a cidade pode ser encarada como o maior exemplo da interação do homem com o meio ambiente. Em resumo, a paisagem seria resultante dos processos naturais, o meio ambiente; e das condições socioeconômicas e culturais, o homem. A paisagem como resultante da transformação da natureza pelos seres humanos para servir às suas necessidades pode ser encarada como não sendo nem totalmente natural quanto artificial. Sendo a construção das cidades uma das maiores criações humanas, suas formas tem sido e sempre serão, um indicador do estágio de civilização de uma sociedade. Sua forma é determinada pela multiplicidade de decisões tomadas pelas pessoas que nela vivem. A sociedade é um organismo ativo, empreendedor, ambicioso, que pode selecionar e modificar a própria paisagem e essa paisagem se altera em razão das peculiaridades fisiológicas e ambientais do sítio natural e em razão da história do homem, como reflexo de sistemas climáticos, naturais e sociais.

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“A paisagem é resultado do equilíbrio entre múltiplas forças e processos temporais e espaciais. Em certa medida, a paisagem é um reflexo da visão social do sistema produtivo e suas formas transformam-se ou desaparecem sempre que as teorias, filosofias


e necessidade que as criaram não são mais reais ou auto evidentes. A percepção do tempo, do espaço e da natureza muda com a evolução cultural, o que exige a procura de novas formas de organização do território que melhor expressem o universo contemporâneo, formas que capturem o conhecimento, as crenças, os propósitos e os valores da sociedade.” (PEREIRA LEITE, 1994, p.7 apud LANDIM, 2004, p.33)

A paisagem urbana representa a cidade, e assim tornasse possível conhecer a cidade por meio de sua paisagem, pois, enquanto a cidade se configura como linguagem, a paisagem urbana apresenta-se como a sua representação, a qual torna possível esse conhecimento, estabelecendo relações entre o modo de representar, no caso, a paisagem urbana, e o objeto a ser representado, no caso, a cidade. E essa paisagem, como já salientado, se altera conforme se modificam as relações de uso do espaço. É a respeito dessa imagem da cidade de que Lynch vai falar, propondo que se manipule o ambiente urbano de forma que as pessoas possam realizar mais facilmente as atividades que queiram. Para Lynch a organização do uso e sua fixação no tempo e no espaço são a contribuição essencial do projeto arquitetônico em um local. Da mesma forma que a sociedade, a cidade não constitui um elemento estático ela atualiza-se através da construção de novos espaços e em razão dos novos usos atribuídos aos diferentes espaços urbanos. Diferentes espaços que persistem e fazem da paisagem das cidades constituída de vários tempos, possibilitando que se possa ler e entender a cidade e sua história por meio de sua imagem/representação presente em seus elementos construídos. É nesse sentido que Landim afirma que a Paisagem Urbana deve refletir, ou pelo menos denunciar, o momento histórico em que está inserida. As obras de Kevin Lynch e Gordon Cullen foram as pioneiras no desenvolvimento de metodologias projetuais com base em estudos de percepção ambiental. Ambos admitiam os atributos do meio ambiente , seja ele natural ou construído, influindo sobre a percepção da população, principalmente a percepção visual que possibilita o reconhecimento da qualidades ambientais e a formação de imagens compartilhadas pela população. Seus estudos, no entanto, diferem no fato de Lynch buscar responder a ideais qualitativos, tais como legibilidade, orientabilidade e identidade, enquanto que Cullen vai enfatizar a busca por sensações visuais topológicas (DEL RIO &OLIVEIRA, 1996, p.XI apud LANDIM, 2004, p.50). “A paisagem, por ser algo com que interagimos diariamente, tem um papel fundamental na formação do ser humano. São bastante claras, nas cidades paulistas essas injunções: as cidades mais antigas foram fundadas num primeiro momento próximas as grandes cursos d’água, pois os rios eram a principal via de transporte; o núcleo urbano inicial era estabelecido a partir de uma igreja, localizada sempre em um divisor de águas e com entrada voltada para a nascente, definindo a posição da praça e a hierarquização do espaço.” As ferrovias, por uma limitação tecnológica, foram implantadas em terrenos menos íngremes, darão às cidades mais novas, que

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se estabeleceram a partir de uma estação ferroviária outra organização e hierarquização do espaço. Diferentes dessas serão as cidades que surgiram e se desenvolveram a partir das rotas rodoviárias, ou mesmo, com as cidades ao longo do percurso das hidrovias que se implantaram no interior do estado de São Paulo na década de 1990. As condicionantes presentes no aparecimento de uma cidade direcionam e influem na formação e transformação de sua paisagem, determinando uma configuração física que certamente se altera quando as aspirações se seus habitantes se modificam. Da mesma forma, na relação homem- natureza, na medida em que se defrontam o homem a modifica em uma relação cultural que é também política e técnica. Assim, com a produção humana pode-se dizer que há a produção do espaço, da paisagem, sendo esta resultado de um contexto histórico no qual está inserida. Pode-se estabelecer assim uma estrita relação entre paisagem e produção, de modo que, quando ocorre uma mudança muito grande nas formas e materiais de produção do espaço, ocorre também uma revolução na paisagem. O final do século XX caracterizou-se pela velocidade e pela racionalização e tecnologização de algumas características das cidades contemporâneas. Essas novas características, ao contribuírem para a criação de uma cidade cada vez menos visível e perceptível ao proporcionar o distanciamento do homem do lugar físico, alteraram a leitura que o indivíduo faz da imagem da cidade. Em decorrência desse distanciamento os deslocamentos físicos não se baseiam mais em referências urbanas, mas sim em símbolos e placas, “passamos de uma paisagem de lugares para uma paisagem de objetos” e nesse processo observa-se a perda da identidade urbana pelo desaparecimento de seus elementos diferenciais, expressões arquitetônicas e paisagísticas diferenciadas antes componentes essenciais nas cidades. Com isso perdem-se também os elementos que antes garantiam identificação com a cidade por parte do cidadão. Segundo Landim, ainda no século XIX, surgiram queixas de que as cidades estavam tornando-se parecidas como consequência do acelerado processo de industrialização e a racionalização dos espaços urbanos, nas condições atuais, no entanto, essa semelhança vem como resultado do processo de globalização, processo que consiste na característica essencial das cidades contemporâneas também dificuldade a apreensão e percepção da paisagem das cidades, junto da virtualização do espaço e das relações interpessoais. Um ponto importante desse processo, em que os cidadãos perdem o contato com a cidade, é a transformação do espaço externo e do espaço público em espaço de mera passagem, como sendo o local que se deve atravessar/transitar rapidamente para se chegar ao lugar de destino. Os espaços livres, em geral espaços públicos, são, no entanto, espaços fundamentais na configuração da paisagem urbana e o distanciamento desses ambientes é capaz, até mesmo, de prejudicar a produção cultural local.

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Como afirma Santos, “nestas condições, o que globaliza separa, é local o que permite a união. O lugar, a região, não é mais fruto de uma solidariedade orgânica, mas de uma solidariedade regulada ou organizacional”. Dentro do processo de globalização e industrialização das cidades brasileiras é possível dizer que o elevado grau de racionalismo das indústrias de construção em geral constituem


elementos globais que homogeneízam a paisagem enquanto realizam a utopia industrial da produção em larga escala e colaboram para a banalização dos espaços urbanos. Conclui-se que a paisagem urbana é sempre resultado de uma interação entre a configuração física e sua percepção feita pelo indivíduo que com ela interage, na qual a modificação desses elementos leva necessariamente a uma outra paisagem urbana (LANDIM, 2004, p.49). Dessa forma, é possível vislumbrar no desenho urbano e na paisagem urbana de uma cidade as forças exercidas em cada momento histórico, em um município como São Manuel, por exemplo, implantado nas proximidades de um curso d’água e inaugurado por uma capela são evidentes as forças que a ferrovia e, posteriormente, a rodovia exerceram sobre seu desenho urbano, atraindo como imãs o desenho da malha urbana e definindo sua paisagem com os ciclos produtivos associados a cada um desses modais.

A PRINCESINHA DA SOROCABANA: HISTÓRIA E TRANSFORMAÇÃO PELA PAISAGEM “Ao aproximarem-se de São Manuel os comboios da Sorocabana, surge aos olhos deslumbrados de forasteiro a maravilhosa vista da cidade, colocada no alto de uma collina e descendo as encostas para o nascente e para o norte até os ribeirões denominados Paraíso e Santo Antonio, que deslizam junto à zona urbana. A estação ferroviária, construída também sobre uma collina, é ligada á parte principal da cidade, por intermédio de pontes e aterros que passa, sobre o ribeirão Paraizo. Há cerca de 20 ruas, umas subindo e outras cortando as primeiras. O aspecto geral é agradável, graças á ordem e á limpeza que se observa em toda parte. Os prédios são magníficos, abundando nos quintais as árvores fructiferas. Quasi todos os terrenos não edificados, são fechados por muros.” (p.18)

O arraial de São Manuel do Paraíso5 foi fundado em 1870, formado por membros das caravanas de bandeirantes que iam margeando as terras em torno do rio Tietê rumo ao Mato Grosso nelas se fixando e iniciando pequenas culturas próximas ao leito dos rios. Memorialistas, no início do século XX, descreverão a paisagem do município de forma a exaltar sua produtividade e localização, características que farão de São Manuel destaque na produção cafeeira, bem como, destaque nas tipologias arquitetônicas (tanto na zona urbana quanto rural, onde se estendiam grandes e suntuosas fazendas produtoras) que ali se reproduzia, uma vez que o vilarejo tornava-se morada de grandes produtores de café. “O arraial de São Manoel do Paraiso, hoje cidade das mais importantes, foi fundado, segundo as notas que conseguimos colher, em 1870 e, pois, há 58 anos. Situada a 342kilometros de 309 metros da Capital, pela Estrada de Ferro Sorocabana e ligada por via automobilística á Paulicéa, por intermédio da magnifica rodovia, fica a cidade a 675 metros acima do nível do mar, abrangendo o território do município 1020 kilometros quadrados. Para falar de seu sólo, rios, configuração topographica, etc., damos a palavra a um trabalho feito no anno de 1904.”

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Alteração toponímica municipal de São Manuel do Paraíso para São Manuel em 1933.

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Sobre sua fundação é importante colocar que em 1870, o mineiro de Camaducaia, alferes Manuel Gomes Faria, e outros, doaram 29 alqueires de terras, na região ao norte do rio Claro, chamada Água Clara, com a finalidade de fundar um arraial. No ano seguinte, essas terras foram permutadas por outras gleba mais para o sul, às margens do Ribeirões do Paraíso, onde se instalou o patrimônio de São Manuel do Paraíso, e onde seria edificada a cidade tal qual é hoje. Os antigos pousos das expedições que se dirigiam a Mato Grosso, descendo o Tietê, foram sendo substituídos por fazendas de café, principalmente a partir do século XX, com a chegada de imigrantes Italianos, Espanhóis e Portugueses. “O atual município de São Manuel formou-se com território pertencente aos municípios de Botucatu, situado a este e ao sul e de Lençóes a oeste de São Manoel e, além destes dois municípios, confina com o Rio Tietê que corre quase ao norte do município. São Manoel está na Serra denominada de Botucatu, e se estende por diversos contrafortes da mesma, alcançando uma pequena parte do planalto entre os dois grandes rios de São Paulo, o Tieté e Paranápanema. A direcção das montanhas do município é, em geral, quase de sul para norte, com ligeira inclinação para o n.e. O rio Tieté corre na direcção de s.e. a n.o., de modo que alguns dos seus afluentes, como o Capivara, o Araqué e o ribeirão da Posse correm na direção sul a norte.

Assim, em 1880, somente nove anos após a instalação do povoado, o arraial foi elevado à categoria de freguesia em território se Botucatu. A Lei Provincial nº 26, de 10 de março de 1885, criou o município, desmembrando o território de Botucatu. E em 1899, através da Lei Municipal nº 57, a sede municipal foi elevada à categoria de cidade, compondo-se de três distritos: São Manuel do Paraíso, Igaraçu e Aparecida de Água Rosa. Com o prolongamento da Estrada de Ferro Sorocabana em direção ao interior do Estado de São Paulo, a linha passa pela região de Botucatu e por São Manuel, fazendo com que essas cidades crescessem em torno do trilho e se desenvolvessem junto com a economia cafeeira. Quando a Companhia de Ferro Ituana foi fundida com a Sorocabana em 1892 formando a CUSI, alterou radicalmente o ramal de São Manuel, usando parte dela para fazer uma linha ligando a estação de Capão Bonito (mais tarde Rubião Júnior, em Botucatu) à próspera cidade de Bauru, em 1905. A outra parte, tornou-se o curto ramal Porto Martins-Araquá. Com a criação de uma nova entrada para a cidade, agora pelos trilhos, acaba trazendo um ritmo moderno para o local, formando-se novas elites, crescendo as “vilas operárias” formadas por casas “geminadas”, além de um crescimento significativo no comércio, aumentando, assim, a economia do município. No período de 1939-1943, São Manuel adquire o distrito da Prata, pertencente a Botucatu, e perde o território de Igaraçu do Tietê para Barra Bonita, figurando um novo quadro de distritos: Aparecida de Água Rosa, Areiópolis e Prata. Atualmente, apenas a Aparecida permanece como distrito da cidade.

Figura 23: Painel pintado em 1950 por B. de Giusti na Igreja Matriz de São Manuel. Fotografia: Larissa Sartori.

No correr da década de 1950 o crescimento da cidade se dá no sentido do distrito industrial que se dará com a implantação da Fiação, se expandindo para a rodovia que então ligava São Manuel ao município de Avaré, via que hoje se tornou a maior via do município a Avenida José Horácio Melão.Outro episódio que modificará significativamente a configuração da malha urbana do município é a criação de novo eixo da linha férrea do município. Na década de 1970, a então FEPASA iniciará a construção de novo eixo e um pátio de manobras. Todavia, tendo sido realizado todo o corte do terreno a linha nunca foi transposta e o desenho feito pela companhia férrea acabou por influenciar no traçado dos novos bairros e deixando importantes faixas de vegetação no município. Como consequência urbana desse corte de terreno, na década de 1980, foi inaugurado o Complexo Poliesportivo do município, implantado onde teria sido o novo pátio de manobras. 67


Figura 24: Vista da cidade tirada da Estação da Sorocabana. Data desconhecida. Figura 25: Vista da cidade tirada da Estação da Sorocabana. Data desconhecida. Figura 26: Vista de leste a oeste da cidade tirada da Estação da Sorocabana. Observar a Estação da Sorocabana ao fundo. Data desconhecida. Figura 27: Vista da cidade tirada acima do conjunto da Estação da Sorocabana. Data desconhecida. Figuras 28 a 31 Imagens de satélite disponíveis no Google Earth do município de São Manuel, datando respectivamente, da esquerda para a direita e de cima para baixo, de 2008, 2010, 2013 e de 2015.A imagem aérea e de satélite, no desenvolvimento do trabalho, acabaram por revelar um novo ângulo de visão da paisagem do município. Essas vistas evidenciaram a força das culturas agrícolas no município que apesar da expansão das plantações de cana-açúcar permanecem na paisagem, persistindo através de décadas.

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Figura 32: Levantamento fotográfico do IGC realizado na década de 1960. Fonte: Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de São Manuel. Montagem: Larissa Sartori.


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Figura 33: Sequencia elaborada de evolução urbana do município no correr das décadas cofforme mapa geral de evolução urbana. Mapa: Larissa Sartori


Figura 34: Mapa do crescimento do município de São Manuel por décadas. Mapa: Larissa Sartori.

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Nese capítulo, a leitura da paisagem se concretiza na forma de projeto. Para tanto, serão apresentadas análises de projetos que articulam o aspecto vazio, a sobreposição de tempos e paisagem abordados nesse trabalho. Nessa etapa, pretende-se discutir as possíveis abordagens projetuais vigentes no mercado atual, de forma a realizar uma crítica necessária sobre as mesmas, debatendo as possibilidades de projeto discutidas na Carta de Lisboa e apresentar na forma de projeto as premissas levantadas anteriormente.

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“Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a esse fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos.”

(LISPECTOR, Clarice. Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1999)

CONSIDERAÇÕES SOBRE TEMPO Espaço e tempo são conceitos familiares no mundo ocidental, é tentador considerá-los conceitos universais, no entanto não é possível reduzi-los a uma única e simplista definição. O espaço não é uma ideia, é um conjunto complexo de ideias. No seu uso cotidiano tem o significado de um “espaço” genérico (room). Na linguagem técnica, o espaço dos astrônomos tem pouco em comum com o espaço dos geógrafos ou dos arquitetos. Na literatura de ficção, que tenta apreender a evolução comum da experiência humana, o espaço mantém uma relação dialética com o lugar: o espaço é oposto ao lugar, como o disforme é oposto ao formado. Tempo é outra ideia complexa e esquiva. O termo inglês “time” pode ser traduzido em meia dúzia de palavras em birmanês. Os significados múltiplos de tempo podem, no entanto, reduzir-se a dois elementos: uma mudança direcional e uma repetição (LEACH, 1966 apud TUAN, Yi-fu. Espaço, tempo e lugar: um arcabouço humanista). A filosofia de Kant, já no século XVIII, vai defender o tempo, ainda que essencial, como parte da nossa experiência uma condição subjetiva, necessariamente devida à natureza da mente humana, e destituído de realidade. Na perspectiva kantiana, o tempo é o conceito sobre o qual se inscreve a realidade do mundo. É uma forma a priori da sensibilidade, juntamente com o espaço. O tempo é uma intuição pura a priori no plano da sensibilidade, é uma noção objetiva de observação e não é extraído da experiência, mas sim prévio a qualquer experiência. É considerado um dos limites para o conhecimento no plano da sensibilidade, já que o conhecimento chega aos indivíduos através dos sentidos e estes não nos deixam conhecer os objetos em si mesmos. O fenômeno da percepção é constituído através do espaço e do tempo, ou seja, só podemos conhecer e perceber os objetos através do espaço e no tempo. Espaço-tempo compõe coordenadas que se cruzam para compor uma situação possível no imaginário humano coordenadas contrapostas, porém complementares e inseparáveis, pois uma realidade não pode ser pensada ou explicada sem a presença dessa ideia dupla. Fragmentária, a noção humana de tempo, não se ajusta a parâmetros demasiadamente claros, o tempo parece estar presente na percepção e na realidade humana, ainda que seja verdade que de maneira um tanto invisível, inapreensível, imaterial. O tempo, portanto, pode ser definido como uma noção sem referencia, uma ideia que se exprimi por um infinidade de palavras que não fazem referência a nenhum objeto concreto, apenas a

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sensações ou apreensões de uma experiência imposta pelos costumes, como os dias de uma semana. Nossa noção de tempo, portanto, não se ajusta a parâmetros demasiadamente claros, porém é claro que o tempo se assimila a uma noção de nossa existência que pode ser identificada por categorias como duração, consecutividade, iniciação, a causa-e-efeito, a ordenação, a seriação, etc. Por outro lado o tempo é uma dimensão, uma vez que tudo ocupa um lugar no espaço. Usualmente, a nossa percepção do tempo permite dividi-lo em três partes: passado, presente e futuro. A partir de nossa experiência, sabemos que esses três tempos são bastante distintos entre si. O passado é o tempo que se afasta de nós, de nossa consciência, de nossa percepção; é tudo que já não é mais palpável, simplesmente porque já se foi. Chamamos de presente o “agora”, o tempo em que nossas experiências acontecem, no momento em que ocorrem. E o futuro, por sua vez, corresponde ao conjunto de todos os eventos que se concretizam na medida em que o tempo passa. Em outras palavras, o futuro é como o lugar onde estão prontos todos os fatos que presenciamos quando determinado período de tempo vier a transcorrer, por menos ou por mais extenso que seja. Na medida em que a produção arquitetônica está inserida no tempo, o aspecto do tempo na arquitetura, desde o edifício ao espaço urbano e paisagem na qual ele está inserido, vem sendo imensamente discutido no correr dos séculos e conecta-se diretamente com a dificuldade humana de aceitar o processo de transformação ao qual todas as coisas estão sujeitas, às consequências que estão associadas com o passar do tempo. São inúmeras as posturas do projeto que articulam a preservação, na história da arquitetura, a preocupação com o projeto de patrimônio vai resultar em teorias de restauração que vão desde a restauração arqueológica, a conservadora, a estilística, até moderna, histórica, científica ou mesmo crítica. Cada uma dessas posturas desenvolveu-se frente as teorias de restauro e das carta patrimoniais derivadas destas, que seriam a carta de Athenas no auge do movimento moderno, a carta de Veneza, carta de Restauro na década de 1970, a carta de Burra na década de 1980 e mais recentemente a Carta de Lisboa. Uma breve leitura da Carta de Lisboa de reabilitação urbana integrada, elaborada em 1995, nos permite apreender a difusa categorização das posturas de projeto a que as teorias de restauro e as cartas patrimoniais derivaram na atualidade, posturas essas aplicadas sobre o edifício e mesmo sobre o espaço urbano em termos difusos como renovação, reabilitação, revitalização, requalificação, restauro, reconstrução, conservação e manutenção aplicados ao nível do edifício, bem como ao contexto urbano. No artigo “Terminologias em busca de uma identidade”, Mello e Vasconcellos colocam em evidência o fenômeno contemporâneo segundo o qual o prefixo re começa a ser empregado nas novas definições, representando referências explícitas às preexistências. Prefixo de origem latina, o re, sinônimo de repetição e reciprocidade, consiste hoje em uma estratégia que considera (ou finge considerar) a inclusão do Tempo na análise do Espaço, sem, contudo, explicitar um significado e uma metodologia para tal. 76


“Aparece aí o modismo oportunista, as imprecisões de definição e da própria metodologia a ser adotada. Misturam-se os conceitos, pois esses foram transportados de um campo de conhecimento para outro.” (MELLO;VASCONCELLOS).

A conservação, no que se refere ao patrimônio, é um termo abrangente para definir tipos de medidas destinadas a manter ou restabelecer a “saúde” física de edifícios. Existem vários graus de intervenção conservativa, o mais leve é a manutenção preventiva e o mais sofisticado é a restauração. A restauração é uma operação de caráter excepcional, aplicada somente em edifícios ou conjuntos particularmente prestigiados. Obedece a rigorosos preceitos que visam a “... colocar a obra em eficiência, facilitar sua leitura e transmiti-a integralmente ao futuro...” (Carta Italiana del Restauro 1972 apud MELLO;VASCONCELLOS). No período pós-guerra na década de 1960, após as reconstruções das cidades europeias, o surgimento de novas capitais, construídas de acordo com os preceitos de Corbusier (Brasília, Chandigard), a construção das new towns inglesas e tantos outros exemplos, passou-se a rever os paradigmas até então consagrados nos princípios ditados pelo urbanismo modernista. A Carta de Veneza (1964) amplia o conceito de monumento histórico: esse não mais é restrito a exemplos isolados, mas estende-se a todo conjunto representativo, mesmo modesto, testemunho de evoluções, civilizações ou acontecimentos históricos. O continuum do tecido urbano aparece como espaços merecedores de valorização. A “era das demolições” começa a chegar ao fim. Surgem ações integradas e simultâneas, visando à retomada de atividades econômicas, a recuperação física dos imóveis e a fixação da população de origem no seu habitat. A atitude de reconhecimento das pré-existências, apesar de nem sempre alcançar êxito, traz um novo conceito, amplamente difundido até os dias de hoje. Com ela, surge um elenco de termos com significados semelhantes: valorização, revitalização e até o termo anteriormente mencionado: reabilitação. Esse último, no sentido de origem, significa o restabelecimento dos direitos. Choay em sua obra “L’aIlégorie du Patrimoine” considera reabilitação uma operação mais avançada do que simples melhorias no habitat. Menos custosa que a restauração, supõe trabalhos delicados, que frequentemente desencorajam as ações do poder público. A Carta Italiana deI Restauro (1972), nas instruções para tutela dos centros históricos, vai introduzir a definição a respeito da reestruturação urbanística, que vem abordar aborda especialmente as relações, sobretudo do ponto de vista funcional, tecnológico e de uso, entre o território, a cidade e o “centro histórico”. Evoluído desse conceito, a Carta de Lisboa (1995) apresenta o conceito de reabilitação como estratégia de gestão urbana e induz à compreensão de seu significado como sinônimo de requalificação. A seguir, aproxima esse conceito da definição de revitalização. Tanto num como noutro caso, vem explícita a importância de trazer novas atividades econômicas e, com elas, “dar nova vida” às áreas “decadentes” da cidade. Na redação dos dois artigos, a diferença é o fato de o primeiro exigir a manutenção da identidade e das características, enquanto que o segundo admite que esse mesmo procedimento pode ser adotado em zonas “com ou sem identidade”.

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“A Reabilitação Integrada constitui um contributo inovador para a preservação e vivificação do património cultural das cidades, na vertente do edificado como do tecido social, que o habita e lhe assegura identidade. O interesse pelo processo, em Lisboa, manifestado por algumas cidades brasileiras, levou ao início de uma reflexão conjunta que, iniciada no I Encontro de Reabilitação Urbana em Lisboa, em Março de 1993, foi continuada no Rio de Janeiro em Abril de 1994, tendo o I Encontro Luso-Brasileiro de Reabilitação Urbana, realizado em Lisboa, em Outubro de 1995, constituído uma etapa decisiva que permitiu chegar a conclusões úteis para os dois países. No Plenário de encerramento deste Encontro foi aprovada, por aclamação, uma proposta segundo a qual deveriam as respectivas conclusões ser consagradas na Carta da Reabilitação Urbana Integrada - Carta de Lisboa. Esta Carta tem por finalidade, para além de foliar uma linguagem comum, com as necessárias adaptações nacionais, o estabelecimento dos grandes princípios que deverão nortear as intervenções, bem como dos caminhos para a sua aplicação.” (CARTA DA LISBOA, 1995)

Na Carta de Lisboa, todavia, dois graves equívocos contradizem procedimentos e instruções anteriormente estabelecidos. Quando admite “reposição da totalidade”, isso implica a criação de um falso histórico e, ainda, quando seleciona “partes correspondentes aos momentos mais significativos de sua história”, desconsidera, a priori, que toda a duração de uma obra é a sua história. Mello e Vasconcellos ressaltarão ainda que é possível localizar, na atualidade, a origem dos planos de estruturação urbana. Tomando como exemplo o Rio de Janeiro, na década de 1980, esses planos atendiam a reivindicações das comunidades quanto às questões especulativas, de uso, proteção ambiental e cultural, envolvendo o sistema viário e planos de massa em uma escala de bairro. Em abril de 1998, ocorreu, no Rio de Janeiro, um evento realizado pelo British Council, denominado “Cidade 2000 - Regeneração Urbana para o Milênio”, com um seminário e uma exposição de um grupo de arquitetos britânicos (MELLO; VASCONCELLOS). Os projetos expostos mostravam a produção recente desse país, constando de complexos arquitetônicos e design de interiores, sempre colocando como uma nova forma de recuperar ou “revitalizar” setores “deteriorados” nos centros urbanos. Ao ser perguntado a um dos arquitetos desse grupo qual seria o significado da palavra regeneração e qual a diferença dessa para a revitalização, ele respondeu não ter uma definição precisa sobre o seu significado, acreditando que isso não passava de mais um modismo. Esse termo também foi utilizado na reconstrução das docas de Londres, onde grandes complexos arquitetônicos foram edificados ao longo da década de 1980, sem nenhuma preocupação de continuidade com o tecido urbano remanescente. Vimos que a arquitetura estende-se da tradicional obra isolada ao ambiente urbano, aberto, crescente e jamais completo (MELLO; VASCONCELLOS).

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Somado à infinidade de res que as cartas patrimoniais buscam definir, na atualidade, incentivado pela dinâmica mercadológica e imobiliária surge o Retrofit de edificações. Essa postura de projeto tem sido uma opção de reforma incentivada no Brasil por políticas fiscais e pela iniciativa privada, na medida em que existe um movimento crescente de valorização dos centros formadores das cidades como local de ocupação de empresas, em movimento contrário à evasão ocorrida nas décadas de 1980 e 1990, especialmente tratando-se do Rio de Janeiro. Evidentemente atrelado ao boom imobiliário, o mercado de retrofit vem crescendo nos grandes centros urbanos


do país, onde as áreas para novos empreendimentos estão cada vez mais escassas e caras. Motivos de disputa entre investidores do setor imobiliário, esses edifícios antigos, depois de modernizados, oferecem, além de localização privilegiada, retorno do investimento após um período curto de obra (MOURA, 2008 apud ESTEVES, 2008). O conceito de retrofit está estreitamente relacionado com inovação tecnológica, pois demanda recursos tecnológicos muitas vezes especialmente desenvolvidos para que seja possível resolver a renovação de determinados elementos arquitetônicos, visando a valorização do empreendimento e a melhoria do seu desempenho operacional e energético. O termo retrofit surgiu nos Estados Unidos e na Europa no final da década de 1990. Segundo Esteves, “na construção civil, ele é empregado para descrever um processo de modernização e atualização de edificações, visando torná-las contemporâneas, sem modificação de uso: uma atualização tecnológica.” Diante desse aspecto da atualidade é importante que se esclareça os aspectos da preservação que as teorias de restauro e as cartas patrimoniais envolvem, articulam uma vez que inúmeras vezes na história esses preceitos foram utilizados a titulo de justificativa para drásticas transformações de interesses do capital.Como já mencionado, o que pode ser metaforizado por vida e morte do objeto arquitetônico, o tempo sobre a obra arquitetônica, deixa marcas de sua natural decomposição que, ao mesmo tempo em que conduz a uma desintegração inevitável, são as testemunhas concretas do tempo ao qual a obra arquitetônica pertenceu e que lhe garantiu valor. O dilema da preservação, nesse sentido vai sugerir posturas frente a uma peça valiosa de um entorno antigo, simplesmente salvá-la da destruição, restaura-la mediante reparações menores, reconstituí-lo cuidadosamente como uma cópia de seu estado original, a preservação da pátina do tempo, imitação ou eliminação, ou até mesmo, a estrita preservação que segundo Lynch é a atitude mais pessimista, uma vez que considera qualquer reconstrução fraudulenta e o tempo constitui um processo de dissolução lamentável ainda que inevitável. Em “Dé que tempo es este lugar?”, Lynch discorre de forma crítica que tão problemática quanto a própria doutrina de preservação é a definição de sua finalidade. Lynch evidencia o conflito da transformação do entorno tão presente nas cidade europeias, descrevendo vários casos reais de mudanças ambientais e sustenta a tese de o caráter da imagem pessoal do tempo é essencial para o bem estar individual, “assim como, para que tenhamos Êxito na hora de dirigir as mudanças ambientais para que o entorno físico exterior desempenhe um papel de construção e manutenção dessa imagem do tempo.” (LYNCH, 1975). Em todo o mundo, sobretudo em países economicamente avançados, se preservam amorosamente fragmentos de um entorno físico obsoleto ou se restauram para que seja possível conservá-los como relíquias de um tempo passado(...) Se travam frias batalhas políticas com o fim de salvar edifícios ilhados ou conjuntos de edifícios, uma vez que diferentes grupos atribuem aos restos do passado valores muito distintos (LYNCH,1975). Nesse sentido que valores deve-se levar em conta na seleção das

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“(...)peças do entorno devemos tentar reconstruir ou consertar e quais não? (...)Deve-se salvar as coisas porque estão associadas a pessoas ou acontecimento?(...) A causa de sua importância como símbolo coletivo? A causa de suas qualidades intrínsecas no presente? (...)Essa questão se torna complexa em virtude das confusões existentes entorno da percepção do passado e a natureza do inacabado e interminável processo de modificação do entorno, assim como pelos desacordos a respeito da finalidade da preservação. (...) Toda coisa, todo o feito, toda a pessoa é histórica. Tentar conservar todo o passado seria como negar a vida. Renunciarmos às evidências físicas do passado pela mesma razão que as esquecemos. O homem, dizia Nietzsche, deve ter força suficiente para romper com o passado. (LYNCH, 1975, p. 42) Para Martínez e Caron (2008) referir-se à continuidade e à permanência a respeito das transformações das cidades é aproximarse de um conceito museológico. No século XXI, a questão da conservação da paisagem e dos instrumentos utilizados para esta proteção, são necessários, porém também são perigosos na medida em que são os principais agentes na cristalização da realidade urbana. Na Europa, a reconstrução de realidades passadas busca materializar a memória, valorar acontecimentos, assim diante de uma realidade atual cada vez mais contraditória, caminhamos por cidades inteiras que se repetem no tempo, imersas na atmosfera melancólica das pedras. Para dar resposta a tais complexidades associada a valores e julgamentos, é que se desenvolveram, na história da arquitetura, as inúmeras teorias e posturas de preservação na forma das teorias de restauro e cartas patrimoniais. A priori e mais aprofundado que as proposições de Lynch sobre o papel do tempo na definição do bem estar individual é a necessidade do passado tangível colocado por Lowenthal que se relaciona, na medida em que se vincula ao espaço construído que o homem recria e habita, à paisagem, ao espaço urbano e aos objetos arquitetônicos e elementos da natureza que o constituem. No artigo “Le temps du passe, le lieu du présent: paysage et mémoire” David Lowenthal (CASTILHO,2009), através da temática inicial da nostalgia enquanto um sintoma pós-guerra que assolava os soldados europeus em fins do século XVIII (mal du pays) vai discorrer sobre o complexa relação dos indivíduos com o passado e das complexidades de se articular essa relação para o presente e futuro. Segundo Lowenthal, na passagem para o século XIX, período marcado por grandes transformações advindas da modernidade, a nostalgia deixa de ser um sentimento de perda ligado a lugares e passa a ligar-se ao “tempo perdido”. Para o homem moderno, que cada vez mais passa a conviver com a mobilidade, a doença passaria a estar menos vinculada a um desenraizamento espacial, e sim, ligada ao fato de se viver um presente estrangeiro, no qual não se percebem os laços com a história individual e coletiva. Ao refletir sobre a citação de L. P. Hartley, feita por Lowenthal, de que “o passado é um país estrangeiro”, entende-se que para ter nostalgia é preciso se sentir estrangeiro, tornando a questão um objeto anacrônico, como se fosse possível nos refugiarmos em um 80

tempo em que o mundo era melhor sem sair da situação segura de acessar esse tempo e não estarmos envolvidos por ele. (CASTILHO,


2009). Feito esse destaque, Lowenthal busca mostrar porque os indivíduos sentem necessidade de provas tangíveis do passado, quais as formas que adquirem esse desejo, e quais as consequências disso para as paisagens, as relíquias e os objetos. Sobre as possíveis formas de uso e experiência do passado, Loewnthal reforça, a importância das ligações tangíveis com o passado por fornecerem as referências concretas na construção da história. O interesse por um passado tangível, transcenderia a nostalgia, e ao ser partilhado por todos, da elite ao proletariado, tornar-se-ia algo realmente necessário. “(...) sem esse conhecimento histórico, sem a memória das coisas ditas ou feitas, seu presente será sem finalidade e seu amanhã sem significação” (Carl Becker apud Lowenthal, 1975 apud CASTILHO, 2009)

A partir dessa reflexão o autor defende que o indivíduo fica em uma situação de conflito, ou ainda, ausência interior sem um passado tangível ou rememorado, pois, cada cena, cada objeto é investido de uma história de contextos reais ou imaginários, e a identidade que percebemos provém de ações e de desejos passados, não somente como nós os vemos, mas tal qual como os escutamos ou como nos descreveram. O passado se incorpora nas coisas que construímos, deixando de ser apenas rememoração, mas influenciando a maneira de agirmos e transformarmos as paisagens que criamos. (CASTILHO, 2009) Lowenthal defende que, para compreender as paisagens atuais há uma permanente necessidade do passado, dessa forma ao perceber seletivamente aquilo que esta habituado a ver, o homem confere sentido a certos aspectos e formas das paisagens porque partilha da sua história. A bagagem de experiências, que se acumula e registra-se ao longo da vida, é adquirida através de contos escutados, de livros lidos, de imagens vistas, forma-se um arquivo que compõe a memória humana e ao ver um objeto, um agrupamento ou uma vista, esses nos são inteligíveis porque em parte são familiares do passado individual. Nesse sentido Castilho vai ressaltar que vemos as coisas ao mesmo tempo como elas são e como havíamos visto anteriormente, nossa percepção é preenchida por experiências anteriores. Aplicado ao espaço urbano tais considerações torna-se necessário considerar que a íntima continuidade entre passado e presente é fonte de conforto, como testemunha a vivacidade das lembranças de infância. Na visão de Lowenthal necessitamos de provas mais conscientes e particulares do passado – os aspectos e estruturas que nos parecem velhos, anteriores ou duráveis – e defende o passado tangível que toca, sobretudo, as pessoas em seu meio cotidiano, como se ao saber que as estruturas são duráveis nos sentíssemos enraizados a um lugar. Esse passado tangível proposto pelo autor ressalva a necessidade de que se mantenha, no espaço que ocupa uma sociedade, resquícios alcançáveis do passado coletivo, que devem ainda ser relativos a elementos que remetam à vida cotidiana desse coletivo, como extensão do passado individual uma vez que esses elementos contribuem para definição de uma identidade cultural e por extensão individual. 81


Dando sequência à definição do conceito, o autor segue refletindo a respeito das diversas facetas de se pensar a questões do tempo, sobretudo no estudo da paisagem e vai ressaltar as dificuldades e problemáticas dessa relação com o passado. Lowenthal, assim, ao enfatizar a necessidade de preservação dos tempos passado, também alerta que a super valorização do passado tangível pode levar a construção de imagens românticas das épocas primitivas, nas quais se imagina que o homem vivia em harmonia com a natureza e consigo mesmo, onde a tecnologia e arte eram o mesmo. Na época atual, ao contrário, os objetos utilitários são geralmente considerados como horríveis ou indiferentes e são distintos das criações puramente artísticas feitas para os museus e colecionadores. O autor conclui considerando que as mudanças na paisagem indicam mudanças em nosso coração servindo para as perpetuar, e ao alterar o passado que herdamos, criamos nosso próprio passado. Formamos paisagens e objetos com nossas histórias ilusórias, públicas e privadas, que gratificam nossos gostos. Todos os delineamentos do presente são históricos, mas eles não cessam de renascer nos espíritos de cada cultura e de cada geração. (CASTILHO, 2009) Nesse sentido, aponta que é ao adquirir consciência sobre o passado que aprendemos a refazê-lo, oferecendo um lugar a tudo que se altera e se perde. Esse propósito se completa no momento em que as referências trazidas pelos rastros da trajetória de uma cultura nos auxiliem a aspirarmos e projetarmos as paisagens do futuro. Entendendo que o importante seriam as diferentes camadas temporais preservadas em uma paisagem, voltamos ao ponto relativo à importância do passado tangível, que responderia a nossa necessidade de uma qualidade diacrônica da história, em que os fenômenos culturais evoluíssem ao longo do tempo sem que perdêssemos a capacidade de associar o passado e o presente. Retomando o aspecto da nostalgia, na paisagem contemporânea, a respeito do sentimento de nostalgia cabem algumas reflexões. Castilho, no artigo que discorre sobre as considerações de Lowenthal, destaca a confusa paisagem, organização espacial, que se contempla atualmente nas cidade brasileiras e que muitas vezes esse cenário fragmentário nos conduz a um sentimento de que no passado o espaço urbano era de melhor qualidade, sensações que caracterizam a inquietação estética e ecológica do momento em que vivemos. Essa nostalgia ao nos depararmos com paisagens que foram degradas ou transformadas, levou muitos estudiosos a admitirem a “mor- te da paisagem”, esquecendo-se que a mesma, como resultado das interações entre a sociedade e a natureza, é um sistema de valores construído historicamente e apreendido diferentemente, no tempo e no espaço, pela percepção humana (LUCHIARI, 2001). Luchiari (2001 apud CASTILHO, 2009) apresenta duas posições que levaram a essa consideração sobre a “morte da paisagem”. A primeira remete à destruição e à descaracterização de paisagens tradicionais pela sociedade contemporânea e se fundamenta na materialidade das paisagens e em certa nostalgia pelas paisagens do passado, colocando em questão os modelos de desenvolvimento e os processos que orientam o crescimento urbano. 82


Finalmente, é válido ressaltar que para a conservação, restauração e reabilitação dos bens culturais os profissionais da área de baseiam nas extensas e profundas teorias e princípios de restauração. As intervenções projetuais em edifícios ou conjuntos históricos devem ser realizadas com responsabilidade cultural e social. Qualquer intervenção de restauração deve basear-se em estudos científicos acerca do monumento contemplado, desde análises de documentos históricos, iconográficos e métricos, dos sistemas construtivos e da patologia dos materiais até a proposta projetual, levando em conta os aspectos históricos e estéticos da construção. (SALCEDO,2013). Ao refletir sobre a questão da duração da passagem do tempo, portanto, somos conduzidos a pensar que, se a vida é uma sucessão de eventos, as mudanças e transformações são inevitáveis e o que possibilita uma sensação de segurança é a continuidade dos acontecimentos que nos mantém ligados a traços do passado nos deixando seguros daquilo que somos. É ao adquirir consciência sobre o passado que os indivíduos aprendem a recriá-lo, refazê-lo, oferecendo um lugar a tudo que se altera e se perde. Esse propósito se conclui no momento em que as referências trazidas pelos rastros da trajetória de uma cultura nos auxiliam na idealização e transformação de paisagens para o presente e futuro. É necessário, portanto, a valorização dos elementos simbólicos e da memória coletiva, na medida em que é possível apontarmos as potencialidades e ameaças das paisagens com vistas à sua proteção, gestão e ordenação e mesmo à construção de novos cenários resultantes das dinâmicas espaço-temporais apreendidas.

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LEITURAS DE PROJETO A discussão do tempo na arquitetura conduz a rezflexões a respeito do projeto de paisagem e são incontáveis as maneiras de se articular o tempo em um projeto arquitetônico. Mesmo um projeto arquitetônico de intervenção que não resguarda nenhum trecho físico da obra precedente pode ser capaz de articular o aspecto da memória. É o caso do projeto do Museu do MASP de Lina Bo Bard, que conserva a memória do antigo Trianon a paisagem que permanece enquadrada pelo vazio potencial do impressionante vão livre. Na sequência, como um primeiro momento da concretização do projeto arquitetônico, serão apresentadas análises de projetos arquitetônicos que articulam o trinômio abordado nessa pesquisa - vazios, paisagem e tempo – de maneiras diversas. Bem como tais projetos proporcionam repertório projetual inicial para o desenvolvimento de projeto posterior.

1. MASP - Lina Bo Bard O Museu de Arte de São Paulo foi construído graças à ideia de Pietro María Bardi, marido de Lina, junto a Assis Chateaubriand, que em 1946, decidem criam um novo museu de arte em São Paulo. Inicialmente, este museu funcionava no segundo andar do edifício dos Diários associados, com uma área de 1000 metros quadrados, inaugurado em 1947. A ideia sempre foi realizar exposições periódicas, promovendo os aspectos didáticos da arte com concursos e conferencias, e abrir escolas sobre diversos temas. O vazio, que constitui a praça seca e hall de entrada do edifício, articula ambos os lados do edifício com a cidade. O vazio entregaao projeto um espaço de ar e sombra entre os altos edifícios da cidade, relaciona-se com a forma de exposição dentro do museu, e expressa, também, um conceito de tempo no qual o espectador é quem domina e gere o espaço, e não o contrário. “(...) a liberdade é alcançada a partir de uma ação criativa, iniciada no nada e localizada no futuro. Uma liberdade depende da vontade espontânea do homem, mediada através do nada (...). Ao mesmo tempo a experiência do Nada necessita, para efetuar-se, primeiramente destruir o mundo real, mergulhando no abismo das antinomias, para mais tarde restaurar a realidade como parte da experiência subjetiva. A realidade atual transfigura-se pelo Vazio – símbolo do Nada – para atingir a liberdade.” (PRATSCHKE, 1996, p.65)

Figura 35: Fotografia do MASP visto da Avenida Paulista. Em: http://espacohumus.com/lina-bo-bardi/. Acesso em 14 de novembro de 2015.

Situado em ponto privilegiado da cidade, o cruzamento de dois eixos viários sobrepostos: a Avenida Paulista e o túnel da Avenida 9 de Julho. O edifício foi projetado como um contêiner de arte, que armazena a cultura na zona onde se implanta. Uma arquitetura simples, que comunica de imediato aquilo que no passado foi chamado de monumental. A ideia do vazio, de ar, relaciona-se com a forma de exposição dentro do museu, e expressa, também, um conceito de tempo no qual o espectador é quem domina e gere o espaço, e não o contrário. O grande espaço livre, tanto exterior como interior, é gerido

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2. IBA Emscher Park - Robert Schmidt Por mais de 150 anos chaminés, gasômetros, coquerias e várias outras tipologias industriais testemunharam a história industrial da região do vale do Ruhr, na Alemanha. Antes da ocupação industrial, o Ruhr era composto por áreas pantanosas, vilas e pequenos povoados com menos de 500 habitantes. A partir da metade do século XIX, a ocupação do vale da bacia do rio Ruhr, esteve relacionada à exploração do carvão - Schwarzen Gold. A formação do território do vale do Ruhr aconteceu, não por meio de ações de planejamento e sim, por motivos econômicos e decorrentes de iniciativas individualizadas. Assim como aconteceu em outras regiões industriais, o território industrial do vale do Ruhr cresceu como uma grande periferia sem centro único. A falta de urbanidade foi a marca de sua expansão. O memorial oficial dos trabalhos da agência IBA Emscher Park, assinado em 1989, previu um prazo de dez anos de atividades baseadas em sete linhas mestras de intervenção: 1. Regeneração e redesenho da paisagem ao longo da zona do Emscher; 2. Reabilitação do rio Emscher e seus afluentes, partindo de Duisburg a Bergkamen; 3. Canal Rêno-Herne como espaço de vivência; 4. Conservação de edifícios industriais através do redesenho de seus espaços e funções, propiciando a manutenção da identidade industrial através de uma nova imagem, baseada em seu patrimônio cultural; 5. Criação de um espaço de alta qualidade voltado para a instalação de novas empresas e escritórios, materializando o conceito de trabalhar no parque; 6. Novas formas de morar e a habitação como elemento propulsor da requalificação urbana; Figura 36: Vista do Emscher Park, suas arquitetura industrial abandonada como um elemento de Land Art.

7. Novas ofertas para as atividades sociais e culturais, tendo em vista a necessidade de qualificar os espaços de lazer, devido ao aumento do tempo livre, decorrente da redução da jornada de trabalho e dos novos modos de produção que introduzem novos estilos

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de vida. O projeto do Parque da Paisagem do Emscher combinou natureza e patrimônio industrial, em escala regional, através de uma área de 300 km2 e envolveu diferentes escalas de espaços livres: desde corredores verdes aos parques locais. Para o IBA Emscher Park, as montanhas de detritos, algumas atingindo 65 metros de altura e áreas equivalentes a três hectares, foram entendidas não somente como novas formas artificiais de relevo, produtos da natureza industrial, mas potenciais land arts, servindo de inspiração e suporte para projetos artísticos. Os land arts, a paisagem transformada em obra de arte e os landmarks, a arte criando pontos de referência na paisagem, integraram o repertório das novas visualidades para o Ruhr. Entre as obras de maior destaque estão o slag ingot for the Ruhrgebiet, de Richard Serra e o Tetraeder em Bottrop, que se tornou símbol o do novo estágio da cidade e estimulou a implantação da segunda maior estação de ski indoor do mundo, Alpin Center, e do parque de diversões da Warner Bros., que visou competir com a Disneyland Paris, em 1996. Além das montanhas de detritos e do novo edifício do Parque Científico Rheinelbe, construções industriais também foram transformadas em marcos redesenhados da paisagem, entre eles o gasômetro de Oberhausen e a coqueria Zollverein, em Essen. Esta última, considerada patrimônio histórico moderno da humanidade, pela UNESCO. A preocupação com o patrimônio industrial fez da experiência do IBA Emscher Park um exemplo de valorização e reutilização da herança industrial inserida em projetos urbanos que, se de um lado trabalharam com os conceitos da “cidade existente” e “em partes”, também buscaram alterar a imagem de decadência tirando proveito daquilo que era a sua qualidade única: o patrimônio industrial. O ambiente hostil à inovação e à implantação de novas economias voltadas a um ambiente criativo e de alta qualificação profissional, a falta de qualidades urbanas e paisagísticas e ainda, a falta de uma cultura urbana de fruição, lazer, diversão e arte, fez com que o IBA Emscher Park buscasse reverter este quadro por meio de um desenho urbano “criativo” e diferenciado.Uma decisão primordial foi a decisão da área específica de intervenção, para tanto segmentou-se a área destinando um trecho para atividades industriais e o segmentos mais antigo do conjunto foi o escolhido para desenvolvimento de projeto e reestruturação das atividades de beneficiamento de café. O programa do parque urbano industrial vem democratizar os potenciais desse espaço e reforçar a conexão do conjunto com o bairro, bem como do bairro para o conjunto em termos de atividades de serviços, comércio, cultura e lazer. Em um movimento recíproco de diluição. Figura 37 e 38: Vista do Emscher Park, suas arquitetura industrial abandonada como um elemento de Land Art.

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3. Amnésias Topográficas II – Vazios S.A Esse projeto, desenvolvido de 2004 a 2005, pelo escritório Vazios S.A. na cidade de Belo Horizonte, pode ser classificado como uma intervenção urbana ou mesmo como uma cenografia ou projeto de paisagem. Em Amnésias Topográficas II, Carlos M Teixeira e Louise Ganz vão articular os grandes labirintos espaciais (ou ‘palafitas’) que suportam os prédios de um bairro montanhoso em Belo Horizonte de forma a convertê-los em locais para eventos cênicos e intervenção paisagística. Totalmente desaproveitados por seus proprietários, esses labirintos foram projetados por calculistas (e não por arquitetos) que jamais imaginaram o espaço que criaram: são complexas malhas sincopadas de pilares, vigas, cintas e contraventamentos que definem fantasias arquitetônicas (paradoxalmente) ignoradas pela cidade. Espécie de ‘urbanismo efêmero’, Amnésias Topográficas II foi uma continuação mais ambiciosa do projeto Amnésias Topográficas I e consolidou a parceria entre o estúdio e o Grupo de Teatro Armatrux. O espetáculo teatral Nômades, do grupo de teatro Armatrux, foi mais uma etapa do projeto arquitetônico. Como um corredor espiral que permite ao público visitar todos os recantos das palafitas, a intervenção arquitetônica transformou o que antes era um labirinto de pilares subutilizado e com aspecto de depósito de entulho em um espaço único, onde arquitetura, paisagismo e recuperação ambiental se misturam e funcionam como a cenografia da peça. O percurso em espiral une palco e plateia, atores e público dividindo o mesmo espaço do corredor. Assim como foi com Invento para Leonardo, Nômades teve dramaturgia (escrita por Paulo Azevedo) concebida especificamente para o lugar onde foi encenado.

Figura 39: Fotografia e maquete do Amnésias ii. Disponível em: www.vaziossa.com.br

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Um primeiro passo para definição do projeto consistiu em uma análise final do circuito completo dos vazios edificados em São Manuel afim de, da relação entre eles e dos mesmos com o entorno, sugerir possibilidades de intervenção capazes de suprir carências atuais do município e enfim possibilitar a reconexão desses fragmentos de vazios à malha urbana, uma vez que intrínseca a eles está a amarração por meio da paisagem ( ver skyline do municipio em Anexo). A análise do fenômeno dos vazios edificados no município permitiu concluir, aqui se tratando da variável tempo,que a transformação de conjuntos edificados em vazios vem tornando-se uma contante com o passar dos anos, e mais, há uma aceleração na constância do surgimento desses vazios, assim como há uma diminuição drástica do período de vida funcional do edifício. Desse forma, percebe-se que edifícios do início do século XX até poucos anos possuiam uma função ativa, enquanto que obras realizadas na atualidade logo se desativam ou já são concebidos desativados e permanecem inconcluídos.

Figura 40: Gráfico comparativo do tempo de uso efetivo dos edificios aqui estudados como vazios edificados.

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Figura 41: Gráfico que localiza no tempo e com os fatos históricos a edificação e construção de cada um dos edificios estudados na cidade de São Manuel.


Figura 42: Isométrica do município destacando o circuito percebido de vazios e indicando intervenções possíveis em cada um dos locais.

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Uma vez que consistia o vazio com maior extensão na paisagem de São Manuel e sendo parte de um patrimônio arquitetônico industrial não reconhecido, desenvolveu-se o projeto do Parque Urbano Cafenoel, instalado sobre o extenso e potencial vazio urbano do Complexo da Cooperativa de Café. A área, hoje, conserva evidente relação com as diferentes escalas de projeto e paisagem na cidade, articulando bairros à avenida arterial – a Avenida José Horácio Melão. Sendo o vazio mais extenso, talvez seja ele o que é alvo maior da especulação imobiliária, por sua extensão e posicionamento estratégico. Por tais motivos e por constituir em uma das áreas de solo urbano mais permeáveis e vegetadas, é um dos locais que uma vez drasticamente modificada terá grande impacto na paisagem do município. Enquanto uma paisagem industrial é importante ressaltar que a mesma não se desenvolveu como um fato isolado. A industrialização é uma experiência territorial que relaciona os entornos construídos com o s recursos naturais, os bens com o sistema de transporte e os trabalhadores com as fábricas e, portanto, essa nova disciplina deve gestar-se na transversalidade de conhecimentos.

Figura 43: Isométrica do muni-

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cípio destacando a área da Cooperativa. A câmera em Azul indica o ponto no qual foi tirada a foto do skyline em anexo.


O projeto para a Cooperativa Cafenoel foi concebido como projeto de paisagem, levando em conta, desde o princípio, a relação do trecho de paisagem com sua totalidade. Dessa forma, com as sugestões de projeto que a relação histórica intrínseca aos demais vazios do circuito sugeria, o projeto foi concebido considerando as premissas do conceito, ainda em definição, do Planejamento da Paisagem, articuladas na metodologia de projeto de paisagem desenvolvida por Carl Steinitz. O conjunto de questionamentos desenvolvidos por Carl auxiliou o desenvolvimento do projeto no sentido organizar premissas, fatos e proposições. O seguinte projeto, portanto, surgiu da a tentativa de transformar em desenho todas as temáticas articuladas nesse trabalho, de forma a dar respostas projetuais, portanto, aos vazios, ao tempo e a paisagem que convivem no conjunto estudado. Essa premissa trazia um conflito que tornou um desafio a definição de um programa proposto. Propor um programa ao vazio foi uma escolha cuidadosa,uma vez que o uso estrito especificado é capaz de romper a essência do tornava aquele espaço potencial, podendo, portanto , comprometer a ativação da paisagem do conjunto. Os levantamos e avaliações mais aprofundadas do entorno deram indícios de programas a serem sugeridos, no sentido de suprir as carências do município como um todo, assim como do seu entorno imediato. O desenvolvimento do projeto contou também com levantamentos específicos e aprofundados relativos à história e transformação do conjunto, sua relação direta com o entorno em termos de serviços instalados e implantação na malha urbana, até vistas do entorno imediato do conjunto industrial e as texturas, técnicas construtivas, topografia, vegetações existentes no local que, todas essas deram margem para definição do mote do projeto. Nesse aspecto as visitas in loco foram essenciais para revelar desde conflitos da presença da indústria amarrada à malha urbana, até usos existentes e possíveis de ser potencializados. Na sequênica serão aprresentados todos os estudos efetuados no local e entorno e fotografias de apreensão da paisagem industrial da Cooperativa.

Figura 44: Ao fundo elevação do conjunto em seu aspecto atual.

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Figura 45: Isométrica da área da cooperativa indicando seu programa instalado e ano de contrução de cada um de seus edifícios. Figura 46: Sequência de evolução do interior e entorno da Cooperativa Cafenoel.

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IMPLANTAÇÃO GERAL ATUAL DO CONJUNTO

Figura 47: Acima implantação geral atual do conjunto indicando ano de construção dos edifícios. Abaixo, conjunto de fotografias antigas do local.

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Figura 48: Acima isométricas indicando uso e ocupação da área de abrangência da Cooperativa. Figuras 49, 50 e 51: Acima, planta indicando os serviços que o entorno da cooperativa oferece. Abaixo os pontos vermelhos indicam os terrenos baldios no entorno e em verde escuro os terrenos predominantemente permeáveis.

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VISTA AA

VISTA BB

VISTA CC

b b

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a c

a

c

Figura 52, 53 e 54: Elevações do entorno imediato da cooperativa com leitura e percepção da paisagem de seu entorno.


Figura 55: Composição das fotografias que manifestaram texturas importantes no local. Texturas importantes na escolha dos materiasi e técnicas desempenhadas no projeto proposto. Figuras 56 a 69: Compreendem o conjunto de fotografias tiradas num dos principais levantaentos realizados no local. Revelaram texturas e cores importantes para as decisões do projeto proposto.

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PROGRAMA INSTALADO 16%

16%

ÁREA EDIFICADA ÁREA LIVRE 84%

ÁREA 1.Galpão de EDIFICADA 2.Galpão de

Grãos Café I ÁREA LIVRE de Café II 3.Galpão 4.Galpão de Café III 5.Depósito 6.Administração Antiga

2903m² 2754m² 2939m² 1705m² 2305m² 298m²

7.Administração Geral 8.Quitanda 9.Supermercado 10.Fábrica de Ração 11.Fábrica de Tratores 12.Casa de Energia

650m² 400m² 1027m² 3035m² 3116m² 100m²

ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL ÁREA TOTAL DO TERRENO ÁREA LIVRE

21300m² 136186m² 114886m²

Figura 70: Gráfico da Taxa de Ocupação do terreno da Cooperativa hoje.

Figura 71: Implantação Geral indicando possibilidades de fluxos e permanencias a serem exploradas no projeto.

IMPLANTAÇÃO GERAL

SETORIZAÇÃO DO CONJUNTO INDICADA

Uma decisão primordial foi a escolha da área específica de intervenção. Para tanto, segmentou-se a área destinando um trecho para atividades industriais e o segmento mais antigo do conjunto foi o escolhido para desenvolvimento de projeto e reestruturação das atividades de beneficiamento de café. O programa do parque urbano industrial vem democratizar os potenciais desse espaço e reforçar a conexão do conjunto com o bairro, bem como do bairro para o conjunto em termos de atividades de serviços, comércio, cultura e lazer. Em um movimento recíproco de diluição. Figura 72: Implantação Geral atual.

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A arquitetura proposta, em temos estilísticos, deveria articular de maneira pertinente com a arquitetura industrial instalada, associada a ela, deveria sugerir usos, visadas e contemplar o existente sem se tornar um anexo, nem mesmo competir com o mesmo. A partir dessas premissas, optou-se pelo emprego de materiais construtivos industriais e texturas existentes no local, como treliças e pórticos metálicos, chapas e telhas metálicas, malhas, ferrugem, telas, madeira e até mesmo a juta das sacas de café. A definição do partido arquitetônico geral do parque partiu da possibilidade da desconstrução e fragmentação da malha. O fragmento, que se traduz em desenho, tem um papel oposto ao nível do piso uma vez que concretiza a amarração do conjunto com o entorno. O desenho que recebe o programa do Parque Urbano Industrial Cafenoel , assim, se definiu da extensão das linhas de força internas dos edifícios preexistentes com as linhas externas. A monumentalidade do conjunto industrial tornou necessária a criação de uma segunda topografia com o intuito de equiparar o projeto proposto ao existente. Essa segunda topografia quase industrial se concebeu através de percursos alternativos em chapa metálica perfurada e levemente elevada – quase como o solo decolado - que cruzam o parque. Ademais, as edificações propostas articulam o ritmo e repetição dos galpões industriais, ao mesmo tempo, os programas com necessidades fechadas comos sanitários, depósitos, cozinhas, foram implantados em conjuntos de containers.

PROGRAMA PROPOSTO 1. Áreas para eventos ao ar livre 2. Percursos pra caminhada, corrida e ciclovia 3. Áreas de Estar voltadas para a Avenida 4. Mirante 5. Café/Lanchonete 6. Memorial do Café 7. Beneficiamento do Café 8. Administração Geral 9. Hortas comunitárias e viveiro de mudas 10. Espaço e Infra-estrutura para Feira-Livre 11. Auditório 12. Ateliers 118


IMPLANTAÇÃO GERAL

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DILATAÇÃO DO PERÍMETRO ÁREA PARA EVENTOS MIRANTE

ADMINISTRAÇÃO

CAFÉ/LANCHONETE MEMORIAL DO CAFÉ

FEIRA-LIVRE

BENEFICIAMENTO DO CAFÉ

HORTAS AUDITÓRIO ATELIERS

PLANTA BAIXA GERAL 120

PERCURSO PARA CAMINHADA E CICLISMO QUE TRANSPÕE O PARQUE E O CONECTA PELO BAIRRO AO CONJUNTO POLIESPORTIVO DO MUNICÍPIO.


Em relação ao programa e desenho proposto, a Dilatação do Perímetro do parque, aciona as bordas associadas à avenida, bem como os muros e terrenos baldios que conectam o conjunto ao bairro, no sentido de estimular o estar e o percurso no perímetro do mesmoe como um convite para adentrar o conjunto, uma vez que a linha que separa esse perímetro de seu conteúdo é bastante difusa.

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O conjunto de intervenções nos edifícios do antigo Elevador de Grãos foi pensado com o intuito de revelar com fragmentação o interior de um edifício enigmático e lacrado para a população local. A dissolução e transposição do seu programa deu-se pelos conflitos do funcionamento desse equipamento em meio a um bairro residencial. Compondo com a horizontalidade do edifício e a verticalidade dos elevadores de grãos, a passarela e o mirante foram pensados no sentido de trazer para fora do edifício a experiência de percurso e ascensão que os grãos em geral faziam. Nesse mesmo edifício, como um convite à entrada ao conjunto, bem com à experimentação dos é e foi produzido no local, propôs-se um programa de café e lanchonete, articulando o programa do parque com as atividades que dão vida à avenida.

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Os jardins nos desníveis brincam com o profundo recorte que o edifício com caráter de depósito tem o piso metálico tensionado também vem para sugerir a experiência desse desnível.

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LAYOUT CAFÉ-LANCHONETE

DETALHE CONTAINERS

Sem escala

Sem escala

PERCURSO INTERATIVO: Rede tensionada acima de laje de vidro e estrutura metálica sobre o vazio do antigo depósito de grãos

CORTE LONGITUDINAL DO MIRANTE

ÁREA CONTEMPLATIVA: Jardim ornamental com espelho d’água sob a rampa que dá acesso ao mirante

CORTETRANSVERSAL DO CAFÉ

125 VISTAS EDIFICIO DO ELEVADOR DE GRÃOS


O Memorial do café nasce da necessidade de que se contemple uma atividade de grande importância história e cultural para o município que persiste, que o processo de beneficiamento do café. Uma visita hoje ao conjunto revela além da beleza externa uma infinidade de detalhes na produção, na forma e minúcias das máquinas antigas que realizam o processo. Nesse sentido o Memorial e museu teria a função cultural de mostrar a população as belezas desse processo.

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TELHA METÁLICA NA COR VERMELHA ESTRUTURA METÁLICA DE TRELIÇAS PISO INTERNO DE MADEIRA PISO EXTERNO DE CHAPA PERFURADA

ELEVAÇÃO LATERAL ESQUERDA MEMORIAL

ELEVAÇÃO LATERAL DIREITA MEMORIAL

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REVESTIMENTO DE AÇO CORTÉN ESQUADRIAS METÁLICAS PAREDE INTERMEDIÁRIA DE GABIÃO

ELEVAÇÃO MEMORIAL FRONTAL

ELEVAÇÃO MEMORIAL FUNDOS

CORTE LONGITUDINAL DO MEMORIAL

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Para tanto o edifício do Memorial foi pensado como uma extensão do conjunto de edifícios do onde ocorre o beneficiamento. Como uma amarração interna entre os três volumes, através de uma superfície de vidro se contempla as atividades.

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Um último fantasma na forma de edifício edificado no conjunto da cooperativa é o edifício dos depósitos, que não possui nenhuma abertura e faz uma fronteira imediata com as moradias. Apesar de seu caráter lacrado esse edifício é que no projeto se torna responsável pela abertura do parque para o bairro, tendo um programa mais definido do que os demais edifícios propostos, ele vaia articular a interiorização e exteriorização na relação parque-bairro e oferecer uma infraestrutura para realização de aulas, palestras, oficinas e eventos culturais com auditório, área de estar, sanitários e salas para oficinas. Nele foram feitas janelas de vidro basculantes substituindo as placas de concreto intermediárias, as placas de concreto comprometidas receberam revestimento metálico e as portas foram substitídas por portas de enrolar de metal perfurado. As telha metálicas centrais foram trocadas por telhas transflúcidas afim de tornar o espaço mais iluminado.

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3,25m

ELEVAÇÃO COBERTURA PROPOSTA -FEIRA Sem escala

PLANTA DE COBERTURA-FEIRA Sem escala

ESTRUTURA DE ARCOS METÁLICOS EM AÇO CORTÉN E COBERTURA DE LONA

Transpondo o parque e também sugerindo a interiorização do conjunto, propôs-se também uma via com infraestrutura para a realização de feiras-livres que é uma demanda atual do município e articula com as atividades das quitandas que hoje produzem e vendem seus produtos ali, como extensão as hortas e viveiro de mudas. Para finalizar esse movimento de amarração com a malha urbana e fragmentos há um percurso para caminhadas e ciclovia que corta o parque e adentra o bairro chegando até o Complexo do Poliesportivo.

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LAYOUT AUDITÓRIO E ATELIERS Sem escala

TABELA DE VEGETAÇÃO

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A vegetação proposta compõe uma paisagem hora de grandes volumes vegetados, percursos de sombras brandas e trechos de descampados com largas extensões de folhagens e capins que remetem à monotonia essencial do conjunto aos pés da monumentalidade de seus volumes.


Conluindo o que remete à variável tempo que esse capítulo encerra, um ponto importante, além do diálogo do pré-existente com o proposto, do antigo com o contemporâneo, é a continuidade. Tempo sugere movimento, portanto, também se relaciona com o Planejamento da Paisagem estudada. É importante, portanto, que se coloque que a implantação do Parque e funcionamento do programa proposto articulado ao conceito da mix cité que propõe o espaço urbano com diversidade de usos, formas, estilos, paisagens e pessoas, em um primeiro momento, envolveria o encerramento das atividades industriais no galpão dos silos e a centralização das atividades industriais no segmento mais novo conjunto para fins de preservação do trecho mais antigo. Em um segundo momento, haveria a abertura do espaço para , e restauração dos conjuntos com valor arquitetônico conforme projeto e, por último, haveria a construção dos novos edifícios, percursos e paisagismos propostos, nessa fase o todo se tornaria uma extensão potencial do bairro e o bairro do mesmo articulando vazios, ativando a paisagem e tornando tangível o tempo passado e presente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde o princípio, esse trabalho tratou do intento de comprovar, evidenciar e problematizar a existência de uma conexão percebida entre os incontáveis e, diversos vazios construídos no município de São Manuel. O desenvolvimento dele, portanto, passou por um aprofundamento na essência das variáveis paisagem e tempo que concretizam e evidenciam a conexão existente entre locais levantados, bem como por um melhor entendimento do que configura vazio no espaço urbano, o que nos levou a tratar da categoria vazio edificado que intitula esse trabalho. Vazios Edificados vem denominar o vazio definido e compreendido por uma construção ou obra arquitetônica Não muito comumente problematizada essa categoria, a leitura da configuração percebida em São Manuel deu margens para o melhor entendimento das problemáticas urbanas que criam esses vazios específicos. Bem como, uma vez percebidos dentro de um circuito, permitiu aprofundar a temática de vazios e tempo dentro da concepção de paisagem urbana. Com o desenvolvimento do projeto do Parque Urbano Industrial Cafenoel não se pretendia defender um projeto fechado e exato, mas sim elucidar as possibilidades de ativação e potencialização daquela paisagem de vazios, vazio entendido como uma potencialidade a ser reforçada em seu sentido imaginativo, problematizando ainda a articulação do tempo no projeto arquitetônico. Por esses motivos as sugestões de projeto colocadas para os demais vazios não encerram programas sempre fechados, mas sim, articulam as necessidades do entorno em que se inserem ou simplesmente problematizam sua condição com intervenções artísticas, cenográficas. Os levantamentos e leituras aqui realizados, desde as fotografias ao projeto proposto, permitiram a constatação e evidenciação da relação intrínseca entre as variáveis vazios, paisagem e tempo no espaço urbano, bem como sustentaram a importância de considerá-las no desenvolvimento do projeto arquitetônico contemporâneo, uma vez que são problemáticas evidentes das cidades no hoje.

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CROQUIS Apreensão sa paisagem e topografia do município. Ao lado curvas de nível orignais do solo do município com loreamento de formação inicial destacado. Abaixo corte ilustrativo do centro de formação inicial da cidade.

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Acima, croqui da implantação geral do Parque Urbano Industrial Cafenoel com objetos propostos em destaque. Ao lado, sequencia de desenvolvimento do volume do memorial associado às oficinas de beneficiamento do café.


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