cidade SONORA CIDADE O fenômeno do som no espaço
Laura do Lago Basile UFRJ // FAU // TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO 2 // 2014 - 2
Basile, Laura do Lago Cidade Sonora: o fenômeno do som no espaço / Laura do Lago Basile - RJ: UFRJ/FAU, 2014. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Cabral Coorientador: Prof. Dr. Leonardo Fuks Trabalho final de graduação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. 1. Percepção ambiental. 2. Arte sonora. 3.Escultura. 4. Memória
Página anterior Fig 1.1 “Intonarumori”, de Luigi Russolo, 1913: instrumentos criados com intuito de transpor os ruídos do cotidiano para a música.
“O homem voltado para o exterior apela para o olho; o homem interiorizado, para o ouvido�. Richard Wagner apud R. Murray Schafer, 1977, p.29
Agradecimentos Primeiramente, agradeço à professora Maria Cristina Cabral, pelo apoio constante, e pela orientação impecável e dedicada em cada etapa ao longo deste ano. Cristina foi fundamental ao incentivar o caráter experimental desta pesquisa. Ao professor Leonardo Fuks, pelas conversas esclarecedoras sobre o som e a poética de uma instalação sonora. À professora Fabiola Zonno, por ajudar a viabilizar um TFG mais compatível às inqueiteções dos estudantes. Aos professores Andréa Queiroz Rêgo, Andrés Pássaro, Carlos Feferman, Floriano Romano, Pedro Lessa, Rodrigo Cury Paraizo pelo interesse que sempre demostraram por este trabalho. À minha família, Lívia Basile, Helena Basile e Anibal Basile pelas orientações, revisões e, sobretudo, pelo apoio e carinho. A equipe do Lamo3D: Clarice Rohde, Felipe Madeira, Julia Sant’Anna, Maria Elisa R. Reis Vianna, Rebeca Duque Estrada, por me fazer confiar nas minhas ideias durante o processo. Ao pessoal do Arquivo Nacional que pacientemente me ajudou a encontrar os arquivos referentes ao Palácio Monroe. Aos amigos Leonardo Hoçoya, Felippe Mussel, Flora Bulcão, Eduardo Holanda, Júlio Parente, Bruna Croce, Marcela Nogueira, Barbara Targino, Monique Tavares e Flávio Raffaelli que me acompanharam e me ajudaram nesse percurso do TFG, emprestando-me equipamentos, inspirações, mãos e ouvidos. Por último, dedico um agradecimento especial ao Daniel Lucas, pelo apoio incondicional, paciência, amizade e por me fazer encontrar inspiração no cotidiano. A ele dedico esse trabalho.
SUMÁRIO Apresentação
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Objetivos
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Introdução – Inquietações sensoriais
14
Fundamentação Teórica
18
1
Corpo e o espaço
20
2.
A Cidade Sonora
24
2.1
Paisagem Sonora
2.5
2.2
O ruído
2.8
Parte I
3.
Som e o espaço
32
3.1
A geometria da arquitetura e o som
33
3.2
Esquizofonia: música no espaço
37
3.3
O som e o lugar
41
A Metáfora Da Memória
44
Diagrama Conceitual
48
Parte II – Palácio Monroe
50
5.
Palácio Monroe
52
6.
Proposições
70
4.
PARTE II
6.1
Curta-metragem
72
6.2
Objeto Cenográfico
78
6.3
Instalação
84
Conclusão
87
Glossário
88
Referências Bibliográficas
89
Índice de imagens
92
Índice de áudio
95
Videografia de “Fragmentos Sonoros”
97
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
Apresentação A reflexão sobre a prática no campo da Arquitetura passa por um estudo interdisciplinar no qual teoria e projeto caminham juntos. Através de uma expansão dos limites do campo da arquitetura, encontra-se uma reflexão sobre as possibilidades de atuação do arquiteto nas cidades e sobre a valorização do indivíduo no ambiente urbano. Esse trabalho surge como tentativa de reforçar o sentido de presença do sujeito na arquitetura e a apreensão do conceito de tempo através da experiência sensorial. O resultado deste trabalho é uma interpretação pessoal sobre a memória. Por meio da leitura de Gaston Bachelard e de Jacques Rancière, compreendemos
a memória como um ato de criação, ou seja, ela não é exatamente igual ao acontecimento passado, ela é uma interpretação, acrescida de nossas
sensações. A memória é um processo ficcional e fenomenológico, relacionado com o presente. O Palácio Monroe será relembrado como se fosse um sonho, e a forma mais expressiva que esse monumento virtual poderá tomar será através do som. O Palácio era parte da Cinelândia no Rio de Janeiro, que era rodeada de construções simbólicas, mas agora comunica sua ausência junto a outros edifícios demolidos na região. Essa memória será recriada a partir do som devido ao aspecto invisível, porém, presente de um fenômeno. O som, como presença de uma ausência física, reinventará o espaço do Palácio. A efemeridade do som se relacionará com a criação constante da memória.
O som é presentidade1.
1
MORRIS, Robert. 1993.
Página anterior Fig 1.2 “Voz” por Laura Basile, fotomontagem a partir de obra de artista desconhecido.
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objetivos Cidade Sonora é uma proposta de trabalho que se baseia no conceito de Paisagem Sonora de Raymond Murray Schafer, que relaciona ambientes e sons, associado à experiência do corpo no espaço e da memória na cidade. O presente trabalho visa revelar as camadas históricas da Cinelândia culminando na evocação da memória do Palácio Monroe na Praça Mahatma Gandhi – a partir de um estudo sobre a importância do som na percepção e na formação de espaços. O trabalho ancora-se em uma pesquisa que reúne referências técnicas e conceituais. Buscou-se realizar interpretações propositivas escolhendo-se a Cinelândia e o Palácio Monroe como lugares de memória e inserção do corpo na paisagem sonora. Apresentamos como produto um caderno de pesquisa com imagens, um vídeo como vivência urbana e uma instalação realizada na FAUUFRJ.
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Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
introdução O som cria uma espacialidade imersiva ao nosso redor, um campo invisível e vibrante. É uma experiência táctil sobre nós, mais explicitamente, uma influência física. Podemos sentir a vibração de sons graves no nosso corpo. O som consegue nos tocar à distância, expandindo sua comunicação de forma indiscriminada. O som, por ser democrático e universal, é uma forma de tato social, mas ao mesmo tempo cria um território sonoro que em alguns casos não respeita campos vizinhos gerando um som invasivo, uma sobreposição de ruídos. Sob tais aspectos, acontece a Poluição Sonora, que gera um enfraquecimento da “consciência sonora” do indivíduo, e, portanto, uma perda de percepção espacial. Na primeira parte desse trabalho, será estudado o sentido do som: significado e percepção auditiva. A partir dessa abordagem serão vistos temas como a acústica ambiental, que contém os tópicos de paisagem sonora, ruído/silêncio e poluição sonora. Serão construídas as bases do entendimento de paisagem sonora a partir da compreensão da leitura de R. Murray Schafer. Esse conceito analisa um ambiente sonoro, que pode ser um ambiente físico ou uma construção fictícia, como montagens sonoras ou música. Perante isso, a combinação entre sons ou notas musicais e silêncio ou pausas conformam uma paisagem sonora. Aqui o limite entre a arte e a arquitetura é cada vez mais tênue, e a música como disciplina técnica e artística permeia esse limite. O ruído, também chamado de som indesejado, foi apropriado em 1913 pelo artista Luigi Russolo do futurismo italiano. O artista, que aprecia a complexidade desses sons, defende o ruído pela sua capacidade de “nos trazer de volta à vida”2. Além da ótica da arte, será estudado também o ruído como problema na sociedade e causador da poluição sonora. Neste aspecto, perderemos nosso horizonte acústico uma vez que os sons são sobrepostos uns ao outros a tal ponto de termos de ligar o ar condicionado para criar um ambiente “silencioso”, ou seja, um som de fundo que tire nossa atenção do ruidoso mundo externo. O ruído dos automóveis ocupou o lugar do complexo e sutil som da natureza.
2
14
Russolo. 1913
Introdução
Em seguida, será estudado o som sob o aspecto físico e seu comportamento em relação à geometria de espaço. Os exemplos do tratamento do som no espaço de forma sensível são variados e variam conforme às demandas acústicas de cada função do lugar. Ainda na primeira parte do trabalho, serão apresentadas duas questões sobre o tema; o som que cria espaços e o som que ativa nossa memória. Com base nessa consideração, é introduzida a segunda parte do trabalho, que é uma proposta de um curta-metragem na região da Cinelândia e na Praça Mahatma Gandhi, num espaço adjacente à Avenida Rio Branco, um dos maiores eixos de circulação do Rio de Janeiro. Nessa praça, onde hoje funciona um estacionamento subterrâneo, esconde-se o passado do Palácio Monroe; um edifício de estilo
eclético premiado pela sua arquitetura na Exposição Universal de 1904, ocorrida em Saint Louis, nos EUA. O tão prestigioso edifício, que caracterizou a Belle Époque no Brasil, foi demolido impiedosamente em 1976. Todavia, a história mais conhecida foi uma distorção do fato real; a culpa da demolição foi atribuída às obras do metrô da Cinelândia.
O estado atual da praça não celebra a memória do Palácio, tampouco simboliza progresso. É apenas mais outro espaço público carioca pouco utilizado e gradeado. A intenção neste trabalho, é notabilizar as camadas históricas escondidas nesse espaço residual e nas adjacencias. Este trabalho propõe uma abordagem teórica e experimental/prática, buscando aproximar-se de questões artísticas e tecnológicas, mas acima de tudo, partindo de um caráter investigativo. Procurou-se inserir, sempre que possível, ao longo do texto, chamadas para trechos de áudio. Haverá uma lista de áudios ao final deste trabalho com suas referências para acesso, também é possível encontrar todos os áudios no link <https://soundcloud.com/laura-lago/sets/cidade-sonora>.Acredita-se que por ser um trabalho, cujo tema central é o som, algo difícil de representar, é melhor permitir que som se expresse.
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CIDADE
parte i
fUNDAMENTAção teórica
Em busca de uma arquitetura sonora
O processo deste trabalho iniciou-se na compreensão do levantamento de precedentes arquitetônicos que trabalham com o som em diversas questões. A delimitação do tema foi feita a partir da fenomenologia, sobretudo nas leituras de Juhani Pallasma e de Muray Schafer, no intuito de averiguar o pensamento sobre as questões experimentais e qualitativas do som no espaço urbano e arquitetônico. Ao final desse caderno, encontra-se um glossário de termos relativos ao som. Como resposta ao estudo fenomenológico, trabalhou-se uma parte propositiva que abrigasse questões análogas às estudadas nas obras apresentadas. O demolido Palácio Monroe é escolhido como tema para estudar as questões da memória na Cidade. Pela efemeridade do conteúdo, o som será uma matéria sutil que irá trabalhar as questões de presença e ausência do evento histórico do Monroe. Assim como o trote de Orson Welles e Esquizophonia – conceitos que serão apresentados ao longo do trabalho – o som tem a capacidade transformar campos de percepção e transportar momentaneamente a outras realidades.
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1
Corpo e o espaço
“As experiências sensoriais se tornam integradas por meio do corpo (Pallasma, 1996, 39)
A busca por novos sentidos
1. Corpo e o espaço
Adaptamo-nos à densidade de informações visuais e estamos empobrecendo outros sentidos e perdendo a profundidade de nossa relação com o mundo. A sociedade urbana cada vez mais é dominada por imagens. O excesso de imagens que nos chega como uma avalanche de mercadorias visuais enfraquece nossa sensibilidade com o mundo. Segundo Guy Debord em “A sociedade do Espetáculo” [1968], essa demasia de imagens é produzida para sustentar o sistema político vigente e a economia a fim de recriar o “espetáculo”, que é a principal produção da sociedade atual. Atualmente, nossas relações sociais são cada vez mais mediadas por objetos superficiais que são, hoje, o contrário do diálogo, imagens unidirecionais que agem sobre os indivíduos e consumidores. Considero que podemos adaptar o título à nossa presente situação urbana: “A sociedade da imagem”. Juhani Pallasmaa, em seu livro “Olhos da Pele: a arquitetura e os sentidos” (2011), preocupa-se com o domínio considerável do sentido da visão e sua consequente supressão dos outros sentidos, causando um desaparecimento das características sensoriais e sensuais nas artes e na arquitetura. O autor iniciou sua carreira com preocupações com a standartização da arquitetura e sua reação a esse modelo é através do estudo da corrente filosófica fenomenológica. Pallasmaa pesquisa a experiência do espaço construído, enfatizando a importância da identidade e dos aspectos sensoriais de seus materiais de construção e da tatilidade. Pallasmaa expõe a predominância do sentido da visão na cultura ocidental que toma forma nas definições filosóficas gregas clássicas. No Renascimento, os sentidos foram postos na hierarquia que começa na visão e termina no tato. O paradigma da cultura dos olhos exige um entendimento crítico sobre o caráter da visão que atualmente domina o nosso mundo. A dominância do olhar e a supressão dos outros sentidos tende a nos afastar e nos isolar de nossa própria natureza.
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Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
O sentido da visão é predominante na cultura ocidental desde as definições filosóficas gregas clássicas. Segundo Platão, a imagem é cópia de um mundo ideal, logo não era o real. A partir do momento em que o teatro clássico separa o público do artista, o expectador tem um grau de participação no espetáculo reduzido, evidenciando uma experiência mais visual do que perceptiva. Pallasmaa diz que o“(...) olho é o órgão da distância e da separação, enquanto o tato é o sentido da proximidade, intimidade e afeição. O olho analisa, controla e investiga, ao passo que o toque aproxima e acaricia.”3 O autor propõe uma desconstrução da visão focada como o único meio de perceber o mundo e disserta sobre o conjuntos de sentidos a serem trabalhados juntos a fim de construir uma outra percepção espacial. “A visão focada nos põe em confronto com o mundo, enquanto a visão periférica nos envolve na carne do mundo”4 afirma Pallasmaa ao defender uma aproximação da visão afocal. Pallasmaa trata da existência da cidade a partir de sua relação com o corpo e a experiência gerada nessa troca. O sujeito é colocado como centro de experiências. Todos os sentidos são extensões do sentido táctil, como se fosse uma interface entre a pele e o ambiente. Sob a ótica da fenomenologia, a arquitetura propõe o corpo-como-sujeito, não mais a concepção cartesiana e estática do corpo-como-objeto. Segundo Bernard Tschumi, “o espaço não é simplesmente a projeção tridimensional de uma representação mental, mas é algo que se ouve e no qual se age.”5 A arquitetura deve deslocar-se do estado objeto-representacional e convidar o expectador a movimentar-se para apreender o espaço.
“Da televisão aos jornais, da publicidade a todos os tipos de epifanias mercantis, nossa sociedade é caracterizada por um crescimento cancerígeno da visão, medindo tudo pela sua capacidade de mostrar ou ser mostrado, transformando a difusão cancerosa de um mando a comunicação em uma jornada visual.” Michel de Certeau, apud Palllasmaa. 1996, 22)
3 4 5
22
Pallasmaa, 2011, p.43 Idem, Ibidem, p.10 Nesbitt, 2006, p. 181
A audição, é um sentido passivo dos acontecimentos do mundo que não conseguimos desligar. A visão é direcional enquanto a audição percebe os sons de forma radial, sendo um modo de tocar à distância, uma forma de tato social. No primeiro gráfico abaixo representa o intervalo de frequências que o ouvido humano consegue captar. Os sons que ultrapassam o limite dessa curva provocam desconforto e dor.
1. Corpo e o espaço
Percepção auditiva
A exposição continuada a sons de alto nível de decibéis causa problemas de saúde, exemplificado no segundo gráfico abaixo. Um dos fatores principais de estresse em um centro urbano é a poluição sonora causada pelo excesso de ruídos.
80 60 40
Campo auditivo
ULTRASSONS
100
INFRASONS
Intensidade (dB)
Limite superior da percepção auditiva
Zona de conversação
20
FIg 1.3 Gráfico de percepção auditiva.
Limiar auditivo
0
20
1K
2K
20K
Tempo máximo de exposição
Nível sonoro
Frequencia (Hz)
Até 85 dB
Até 90 dB
Até 97 dB
Até 100 dB
Até 105 dB
Até 110 dB
Até 115 dB
8 horas
6 horas
4 horas
2 horas
1 hora
30 minutos
15 minutos
Mais que 115 dB
7 minutos
Fig 1.4 Gráfico de exposição ao ruído
23
2
A cidade sonora
“Hoje o mundo sofre de uma superpopulação de sons: há tanta informação acústica que bem pouca coisa dela pode emergir com clareza”. Schafer, 1977, p.107
paisagem sonora
2. A Cidade Sonora
2.1
Raymond Murray Schafer6 em seu livro “A afinação do mundo” (1997) nos guia à compreensão da atuação do som no ambiente construído. A obra parte de uma reunião de textos do autor a respeito de estudos sobre ambiente acústico. O objetivo é mostrar de que modo a paisagem sonora (termo cunhado pelo próprio autor) havia evoluído no decorrer da história e como isso afeta nosso comportamento hoje e no futuro. O autor constituiu seu próprio vocabulário à medida que conceituava a ideia de paisagem sonora: ecologia acústica, Esquizofonia, marca sonora, fundo sonoro, som fundamental, a ideia de figura e fundo e perspectiva dentro da paisagem sonora, entre outros. A partir de sua leitura, pode-se entender a relação entre os homens e os sons de seu ambiente e o que acontece quando esses sons se modificam. A paisagem sonora é um estudo de um ambiente sonoro e seus ruídos, podendo ser um ambiente físico ou uma construção fictícia, como a música ou montagens sonoras. Prestar atenção nos sons ao nosso redor nos posiciona no local e no tempo em que estamos. Se essa paisagem tiver uma razão sinal/ruído favorável (Hi-Fi, alta-fidelidade), os sons serão ouvidos claramente, até os mais distantes. Neste caso será possível perceber um horizonte acústico. A paisagem urbana, onde é vivenciada a poluição sonora e mascaramento de sons, é considerada Lo-Fi (baixa fidelidade), pois a razão sinal/ruído é desfavorável, não havendo clareza entre os sinais sonoros. Em avenidas de grandes centros urbanos não se escuta com nitidez as vozes das pessoas, ou latidos de cachorro ao fundo, apenas uma textura coadjuvante das buzinas de motocicletas e ronco de motores à combustão.
Raymond Murray Schafer (1933-Ontario, Canadá) é um compositor, escritor, educador, pedagogo musical e ambientalista, reconhecido pelo “Projeto Paisagem Sonora Mundial”, pela sua preocupação com a ecologia acústica. 6
25
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
Existem alguns termos da paisagem sonora análogos ao campo visual, tal como as noções de figura e fundo, onde a figura corresponde ao sinal sonoro, facilmente identificados em uma paisagem sonora; enquanto o fundo é um som envolvente. Não se consegue perceber os dois ao mesmo tempo e nem mesmo considerar qual é fundo e qual figura, pois essa cognição é relacionada com os hábitos treinados da mente. Sinais são sons destacados, ouvidos conscientemente, funcionando como avisos acústicos como buzinas, sirenes e sinos. Fundo são os sons não ouvidos conscientemente; eles conduzem à percepção de outros sinais sonoros. Em geral estes possuem baixa frequência, isto é, são sons graves que tem a possibilidade de preenchimento de um espaço; por conseguir transpor obstáculos, são menos influenciados pela difração. As ondas com frequências graves possuem maior amplitude e são mais largas, portanto vibram mais os objetos (ressonância), tendo então uma atividade mecânica maior. Neste caso, o som não é tão facilmente localizado e envolve o ambiente e o ouvinte em imersão sonora. No caso da paisagem sonora, estes são sons característicos de acordo com a geografia e clima do local, pode-se exemplificar o som do mar em cidades marítimas, ou do vento. Schafer propõe compreender a paisagem sonora como uma composição musical e pensar que sons podem ser preservados (marcos sonoros), incentivados e multiplicados. Assim ficará evidente quais sons serão desagradáveis e merecem ser eliminados ou restritos (redução do ruído). Reduzir o ruído não é apenas tomar medidas pragmáticas tal como colocar uma janela isolante. Isolar-se cada vez mais do ruído externo faz com que a arquitetura permita mais poluição sonora e utilize mais aparatos ruidosos como ar-condicionado. Segundo Schafer, devemos ir à fonte sonora para resolvermos esse problema e a solução não está no mascaramento de som ou no isolamento acústico dos edifícios; medidas paliativas que equivalem a propor grades de segurança para áreas perigosas. Para fazer um projeto acústico, deve-se aprender a ouvir. Só uma audição apurada e bem treinada consegue direcionar sua concentração para sons específicos. A melhor forma de purificar a percepção de sons acontece ao respeitar o silêncio. Após essa experiência pode-se ouvir com mais clareza os sons de um ambiente e ter um nível de compreensão mais profundo de um lugar.
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2. A Cidade Sonora
Fig. 2.1 Poluição Sonora
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Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
2.2
O ruído
O ruído é o som não desejado que aprendemos a ignorar e seu conceito é subjetivo. Quando o homem não ouve cuidadosamente os sons ao redor é porque há poluição sonora. Na interpretação de Schafer e do artista italiano Luigi Russolo (18851947) o ruído é o som das máquinas, bem como dos automóveis e da fábrica, o som da sociedade moderna e contemporânea. Em 1913, Luigi Russolo escreveu “L’arte dei rumori” (Arte dos Ruídos), um manifesto dentro do contexto futurista no qual explica o nascimento
do ruído a partir da invenção das máquinas, que interromperam a vida silenciosa de antigamente. “O som musical é muito restrito, quanto à variedade e à qualidade dos seus timbres.(...) A música emperra neste pequeno círculo, tentando, em vão, criar uma nova variedade de timbres. É preciso romper a tudo custo este círculo restrito de sons puros e conquistar a variedade infinita dos sons-ruídos.”7
AUD. 01
Nesta época, a máquina e a velocidade eram temas abordados na arte sob várias representações, desde a tentativa de capturar o movimento em tela ou em esculturas de Umberto Boccioni e Giacomo Balla. A contribuição de Russolo foi a criação de instrumentos musicais em especial destaque para o intonarumori (“intoners” ou “ruído de máquinas”). O ruído foi incorporado à música pelo compositor francês Pierre Schaeffer (1910 – 1995) sendo, portanto, pioneiro da música concreta, que abriu caminhos para a música eletrônica.
7
28
Russolo, Luigi. L’arte dei rumori (1913).
Fig. 2.2. “Arte dos Ruídos” Luigi Russolo
Fig. 2.3. Sintesi plastica dei movimenti di una donna.
Fig. 2.4. Pierre Schaffer em seu estúdio em 1963
2. A Cidade Sonora
Através de uma temática diferente, o americano John Cage (19121992) inspirou-se nos artistas sonoros precedentes e estudou o silêncio. Em 1951, Cage visitou uma câmera anecóica na Universidade de Harvard. Essa câmara é totalmente isolada de qualquer tipo de ruído externo e apresenta praticamente nenhuma reverberação, conseguindo assim um silêncio absoluto. Surpreendentemente, ao sair da câmera, Cage relatou ao engenheiro de som que havia escutado dois ruídos, um grave e outro agudo. Segundo o engenheiro, o som agudo é o funcionamento do sistema nervoso, enquanto o som grave é o circulatório. Então, Cage se deparou com a impossibilidade de escutar o silêncio, devido a presença de ruídos até então inesperados, vindos de seu próprio corpo, como por exemplo, seu batimento cardíaco e o som do sangue que corria em suas veias. Mas ao explorar as possibilidades do silêncio, desde sua permanência na câmara anecóica, onde foi possível ouvir os ruídos de seu próprio corpo, podemos supor, assim como Cage, que o silêncio total só pode ser alcançado na ausência da vida. “Até o dia em que eu morrer haverá sons (...) E continuarão após a minha morte. Não é preciso temer sobre o futuro da música.”8
Fig. 2.5. Experiência de John Cage na câmera anecóica.9
8 9
Cage, 1962, p.8 Cage, 1974
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Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
Um ano após sua experiência com a câmara anecóica, Cage compôs uma de suas obras mais famosas, a composição 4’33” que foi concebida para ser executada por qualquer instrumento. Durante o tempo de realização da obra, a plateia explorou o som do ambiente, e o silêncio passou a fazer parte da composição. Pode-se ouvir pequenos sons dos participantes, alguém folheando o programa, algumas tosses ou movimentos na poltrona. Cage manteve o mais íntimo contato com os ruídos do mundo e transformouos em composições musicais, performances e pinturas. A obra de Cage envolve o público em um estado de tensão de “ausência presente”, criando um “silêncio ruidoso”. Para John Cage, o silêncio não existe. O som é a representação da vida, portanto o ruído é a voz do mundo.
Fig. 2.6. Partitura de 4’33’’ de Jonh Cage
30
Página seguinte - Fig. 2.7. Obras “Turbina” e “O passeio”, 2013. Floriano Romano (1969, Rio de Janeiro), artista multimídia.
3
O som e o espaço
“A musica possui uma qualidade mais espiritual que a pintura e a escultura. Certamente, ela não se incorpora nem dentro, nem sobre a matéria e sim no seu próprio movimento e na sua vida, ou seja, no som.” Solovyov, 1977
A geometria da arquitetura e o som
3. O som e o espaço
3.1
“Os primeiros construtores construíam tanto com os ouvidos quanto com os olhos.”10 As arenas romanas são um exemplo antigo, que considera a acústica dentro do processo da construção. A arena tinha o propósito de reunir mais pessoas para assistir a uma apresentação, portanto a informação sonora deveria alcançar longas distâncias. Encontram-se na história, outras construções que utilizam o som dentro de uma demanda acústica ou como agente principal de percepção ou fruição espacial. Cada espaço exige uma reverberação diferente de acordo com sua função, tal como o som em uma igreja, que regido pela voz do padre, deveria alcançar a todas as extremidades do ambiente. O templo para o culto faz uma reverência ao silêncio, enquanto sua arquitetura faz as orações reverberarem por seu espaço numa espécie de som mântrico. As condições acústicas dependem, em grande parte, da geometria do espaço interno dos edifícios. As cônicas, parabolóides, hiperbolóides e elipsóides são superfícies que possuem propriedades refletoras, são caracterizadas por paredes curvas, abóbadas ou cúpulas e podem criar condições acústicas especiais em auditórios, teatros ou catedrais.
Fig. 3.1. Reflexo das fontes sonoras no foco da parábola
foco
As propriedades refletoras da parábola e do parabolóide resultam em uma concentração (foco) de todos os raios luminosos ou fontes sonoras, que incidem nestas superfícies paralelas ao eixo, conforme figura 3.1 ao lado.
10
Schafer, 1977, p.307
33
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
Esse movimento sonoro é replicado em estruturas de cúpulas onde todo o som do espaço que ecoa no ambiente reflete no foco. Portanto, o centro de uma sala com cúpula é o ponto onde se recebe maior informação sonora.
Fig. 3.2. Propriedade refletora de cúpulas
Fig. 3.3. Catedral de St. Paul de Christopher Wren
34
A Catedral de St. Paul (16751708), por Sir Christopher Wren (16321723), foi uma importante preocupação com o nível da qualidade acústica de locais de culto. Como intenção projetual, as igrejas devem ter no seu interior uma preocupação com a inteligibilidade sonora. É necessário um alto de grau de entendimento das palavras em seu interior, uma vez que ali acontecem atividades de culto. O ambiente interno tem condições acústicas especiais por ter o domo, que é uma paraboloide com propriedades refletoras
3. O som e o espaço
No entanto, na região perto da cúpula, existe um fenômeno acústico onde a reflexão do som permite que duas pessoas em posições opostas conversem como se estivessem uma ao lado da outra. Esses espaços, que possuem paredes curvas ou cúpulas, são chamados de galerias sussurrantes. Esses sons podem ser ouvidos do outro lado da cúpula, mas não em qualquer posição intermediária. O fenômeno de sussurros percorre junto às paredes curvas e perde pouca intensidade, se comparado a uma fonte sonora pontual que irradia em todas as direções. O resultado é uma série de ondas refletidas que compõem os acordes de uma galeria circular.
ouvinte
falante
Fig. 3.4. Reflexão de ondas sonora em planta
Esse fenômeno acústico pode ser encontrado em diversos locais. A orelha de Dionisio, em Siracusa na Itália, é um exemplo natural onde acontece essa reflexão sonora. Devido à sua forma, a Orelha tem uma acústica excepcional, fazendo até mesmo um ínfimo som ressoar em toda a caverna. A Mesquita de Shah Abbas, em Isfahan, Irã (construída em 1640) é famosa pelo seu eco na sala principal. Pode-se ouvir perfeitamente um eco de um som por sete vezes, se ficarmos parados diretamente sob o ápice da cúpula, mas ao se deslocar do centro perde-se essa capacidade auditiva. O Palácio Quitandinha (1944), PetrópolisRJ, de Joaquim Rolla, possui uma das maiores cúpulas do mundo, com 30m de altura e 50m de diâmetro. No salão Mauá, podemos experienciar o efeito de reflexão sonora aplicado ao som das vozes, a partir de seu ponto central.
Fig. 3.5. Orelha de Dionisio, Siracusa, Itália
AUD. 02
Fig. 3.6. Eco interno da Mesquita de Shah Abbas, Irã
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Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
O Palácio Quitandinha (1944), Petrópolis-RJ, de Joaquim Rolla, possui uma das maiores cúpulas do mundo, com 30m de altura e 50m de diâmetro. No salão Mauá, podemos experienciar o efeito de reflexão sonora aplicado ao som das vozes, a partir de seu ponto central.
AUD. 03
Fig. 3.7. Palácio do Quitandinha, Petrópolis, RJ
Fig. 3.8. Catedral de Brasília, Oscar Niemeyer
Outro exemplo de galeria sussurrante é o espaço interno da Catedral de Brasília (1970 - Oscar Niemeyer). Os sons gerados perto das paredes internas são percorridos por esta superfície sem perdas de intensidade. O espaço gera este efeito de propagação sonora devido ao formato côncavo de suas paredes internas. Podemos associar a forma de uma arena romana a uma cúpula de cabeça para baixo. Neste caso, o som, que percorre a superfície curva, é amplificado através de grandes vasos, localizadas no vértice dessa paraboloide elíptica.
foco
Fig. 3.9. O teatro de Asclépio, em Epidauro (Grécia) é um dos melhores exemplos, onde um baixo ruído pode ser ouvido a grandes distâncias.
36
Esquizofonia: música no espaço
3. O som e o espaço
3.2
De acordo com Schafer, ocorre cada vez mais uma dissociação entre som e espaço. Neste conceito, o autor aborda a música de câmara, que isolou a música do ambiente externo, até a popularização de novas tecnologias de reprodução sonora. Ocorre uma recriação artificial em espaço interno da paisagem sonora. O rádio, por exemplo, direciona o ouvinte para aquela única fonte sonora isolando-a do ambiente real. Depois que o som passou a ser reproduzido eletronicamente, causou o que o autor chama de Esquizofonia, que é a separação do som original de sua reprodução eletroacústica. O som pode ser copiado e reproduzido em outros ambientes. Perde-se a singularidades dos sons, mas agora qualquer ambiente sonoro pode ser outro, podendo recriar o belo ou negar a paisagem sonora real. A música de câmara nasce em contraposição ao crescimento de ruídos na paisagem urbana. É uma forma de escuta onde se percebem detalhes complexos. A sala de concerto tem sonoridades que imitam a natureza, transformando-se em uma janela que transporta o ouvinte para diferentes cenários. Essa audição concentrada ganha importância na razão direta do desencanto do homem com a paisagem sonora externa. O recorte de um som de uma específica paisagem sonora em outro espaço pode iludir a mente de um indivíduo e recriar um ambiente assim como o cenário faz. Hoje temos o som do cinema para criar outra realidade, músicas de elevador para amenizar nossa espera, e até o som de pássaros no metrô do Rio de Janeiro, agindo como forma de amenizar o ruído intenso dos trens. Os sons geralmente revelam o uso e comportamento de um espaço. Na igreja monumental, os sons são amplificados para reforçar a ideia de silencio. Em uma plenária, a função é o debate, o discurso, e portanto, o som não deve ser tão reverberante, pois a informação sonora será destruída. No entanto, nós instintivamente ajustamos as nossas vozes para nos adequarmos a um contexto. Seguindo esse raciocínio, a música sempre foi criada para atender um ambiente e adaptar-se às condicionantes espaciais. A música barroca (1600 – 1750; Bach, Händel, Corelli e Vivaldi) era executada em espaços relativamente pequenos, que tinham considerável ‘intimidade’ quando ocupadas e tempo de reverberação na ordem de 1,5 segundo. Ainda hoje preferimos ouvir este tipo de música em ambientes pequenos, acusticamente íntimos e com baixos tempos de reverberação. 37
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
O termo ‘intimidade’, em acústica, refere-se à sensação subjetiva da música tocada em um ambiente de pequena dimensão, acusticamente acolhedor. Entretanto, algumas peças de Bach foram escritas para serem tocadas em igrejas, portanto, solicitam tempos de reverberação razoavelmente longos.
Fig. 3.10. Final do ato III da peça Parsifal de Richard Wagner, 1882
No período clássico da música, marcado pelas sinfonias de Haydn, Mozart e Beethoven, o crescimento das salas de concerto acompanhou também o uso de tempos de reverberação mais longos. Devido à popularização de concertos e o consequente aumento desses espaços e do tempo de reverberação, deu-se um valor mais dramático na música; ao mesmo tempo, a ‘clareza’ sonora, típica da música escrita no estilo clássico, era preservada devido à geometria retangular de salas ‘estreitas’. Começa-se a criação de peças para salas de concerto específicas. Por exemplo, em 1837, Berlioz compôs o Réquiem para Les Invalides em Paris, França; e em 1882, Wagner compôs Parsifal expressamente para o Festspielhaus em Bayreuth, na Alemanha.
Fig. 3.11. Ópera Prometeo (1984) de Luigi Nono e Renzo Piano
38
O compositor italiano Luigi Nono trabalhou em estreita colaboração com os arquitetos Renzo Piano e Carlo Scarpa. Para ópera Prometeo (1984), Nono ficou imerso no escritório Renzo Piano para projetar uma grande estrutura temporária para conter o público e os artistas. Essa combinação palco/auditório foi construída como um grande barco de madeira e instalado no interior da Igreja de San Lorenzo, em Veneza. O diagrama na página ao lado representa a relação entre o aumento das dimensões das salas de concerto e o tempo de reverberação no espaço. O som reverbera de acordo com o volume de ar de um ambiente fechado.
3. O som e o espaço
MÚSICA BARROCA Vivaldi, Bach MÚSICA CLÁSSICA
Fig. 3.12
Mozart, Beethoven MÚSICA ROMANTICA Wagner, Brahms, Mahler
até 1,5s intimidade acústica
> 1,5s 2.,5 s tempo de reverberação
39
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
AUD. 04
No fim da década de 1960, o artista sonoro Alvin Lucier começou a compor obras que explorassem as propriedades naturais do som e as características acústicas dos espaços com objetivos musicais. Em 1969, cria “I Am Sitting in a Room”, uma obra de arte eletroacústica, na qual o material sonoro é constituído por uma série de gravações feitas em um quarto. O artista lê um texto que explica o processo de seu trabalho; ele fala junto a um microfone que grava sua fala. Em seguida esse som é reproduzido no mesmo espaço e é captado novamente pelo mesmo microfone e reproduzido novamente, em um loop
contínuo. Após várias gravações e reproduções, a fala começa a ficar incompreensível devido às frequências ressonantes da sala e sons melódicos fortemente distorcidos. O espaço age sobre a obra funcionando como um filtro para o som. Dessa maneira, descobrimos que “cada espaço possui seu próprio conjunto de frequências ressonantes, da mesma maneira que sons musicais possuem harmônicos.”11 A obra de John Cage, sob o ponto de vista da Esquizofonia de Schafer, reconfigura essa função ao ser reproduzida eletronicamente. A composição foi concebida em uma sala de concerto, justamente para questionar a música em ambiente institucional. Tal intenção faz parte do movimento artístico das década de 1960 e 1970, chamado Fluxus. A crítica da decisão autoritária dos museus, sobre o valor arte era um dos questionamentos deste movimento. Fluxus, formado por artistas como George Maciunas, Yoko Ono, Joseph Beuys e Nam June Paik, e considera que a arte deveria estar no mundo, em transformação e produzida por qualquer pessoa. Ao vermos o vídeo da obra 4’33”, percebemos os sons do lugar em que estamos, tornando, por vezes, desnecessário um ambiente específico para a experiência da obra. A composição 4’33” é um momento de meditação, posto que o som ao nosso redor nos reposiciona no local e no tempo em que estamos.
11
40
Lucier, 1979 p.112
O som e o lugar
3. O som e o espaço
3.3
Max Neuhaus foi um músico e artista norte-americano que trabalhou questões semelhantes às de Cage. Neuhaus começou sua produção artística na década de 1960 propondo em suas obras “formar, transformar, criar lugares específicos, somente através do som”.12 Diferente de Cage, Neuhaus não queria trazer os sons para dentro de um espaço, mas queria que as pessoas ouvissem o som da cidade no próprio espaço urbano. Suas obras eram pensadas para o espaço público. Listen foi um trabalho feito em 1966, em que o artista convidava pessoas para encontrá-lo em uma esquina de Nova York, onde carimbava em suas mãos palavra “listen” (escute). Em seguida, Neuhaus os guiava em silêncio pela cidade, esperando que as pessoas prestassem atenção aos sons que ouviam no percurso. Outro trabalho relevante para as questões do som para a percepção espacial foi a obra Times Square em 1977. Nesta obra, o artista instalou sintetizadores digitais abaixo de alguns túneis de ventilação do metrô sob uma ilha de pedestres
AUD. 05
da Times Square. A obra funcionou 24 horas por dia, de 1977 até 1992, e depois de 2002 em diante.
Neuhaus altera o foco temporal da música ao não estabelecer uma duração infinita da peça. Sua intenção não era distribuir os sons ao longo do tempo, como é feito na música tradicional, mas sim distribuí-los no espaço, permitindo que o ouvinte estabeleça seu próprio tempo de escuta. A escolha da Times Square para realizar um trabalho sutil foi significativo, já que a Praça tem uma sobrecarga de informações visuais. Essa obra usa Times Square e a arquitetura já existente como um instrumento, onde o ouvinte pode facilmente confundir o som criado com algum ruído mecânico próprio dos sistemas da cidade, como o metrô. Essa ambiguidade sonora abre a possibilidade de ouvir os sons da cidade com outro entendimento, como um trabalho artístico.
12
Neuhaus, 1976
41
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
Fig. 3.13 Topografia auditiva de Max Neuhaus para sua obra Times Square (1977)
fora
dentro
Fig. 3.14 Círculo de pedras neolítico Brodgar, na Escócia
42
Um trabalho sonoro de relevante importância na arquitetura é o projeto de orla marítma Sea Organ (Zadar, 2005), feito pelo arquiteto Nikola Bašić. São usadas as ondas do mar para gerar um agradável som que remete ao órgão. A diferença de amplitude do mar empurra o ar para pequenos canos instalados embaixo de bancos onde as pessoas podem sentar-se e ouvir à música gerada ao vivo pela natureza. A obra acolhe o acaso da paisagem sonora local, fazendo o espectador imergir em sons regidos pela natureza, excluindo a determinação prévia do artista nesta composição.
AUD. 06
Andrea Queiroz Rêgo traduziu uma reflexão de Le Corbusier observando uma evidente relação entre música e arquitetura, ao ponto de se referir a uma “acústica visual”, pois, para ele: “[…] quando você encontra o centro acústico de um prédio ou de uma praça, o ponto onde todos os sons desse espaço pudessem ser melhor escutados, você também teria encontrado o ponto no qual uma peça de escultura deveria ser colocada”.13 Segundo o arquiteto norueguês Christian Norberg-Schulz, o conceito de lugar ultrapassa uma mera localização geográfica, ou um simples espaço. “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano.”14 A estrutura de um Lugar, seja ele natural ou construído, é composta por duas categorias: o espaço (terra) e o caráter (céu). Nesta estruturação, o espaço (terra) é o elemento mais estável, caracterizado por elementos morfológicos, ao passo que caráter (céu) é o mais instável e relacionado ao tempo e clima, que compõe, através da presença do homem, o genius loci, “espírito do lugar”. Acredito que é possível traçar um paralelo entre esse conceito e um espaço muito mais antigo: o círculo de pedras neolítico Brodgar, na Escócia, construído entre 2500 e 2000 A.C. O espaço é composto por aproximadamente 60 pedras altas e achatadas, voltadas para o centro de um círculo de 100m de diâmetro. Hoje restam apenas 26 pedras e, supõe-se que seria um lugar de rituais e cerimônias. As propriedades acústicas do local estão entre as características mais importantes dessa misteriosa formação de pedras. Ao fazer som no centro do círculo, é possível ouvir ecos vindos de todas as direções para o centro com um pequeno atraso. No entanto, ao sair dessa circunferência, esse eco não é mais percebido. Segundo David Hendy15, é possível que o uso de efeitos acústicos tenha sido usado para rituais e cerimônias. Logo, a paisagem sonora marca a passagem de um ambiente cotidiano para um ritual.
AUD. 07
Berger, 2000, p.22: “Le Corbusier remarked that when you find the acoustic centre of building or a piazza, the point at which all sounds whithin the given space can best be heard, you have also found the point at which a piece of sculpture should be place”. 14 Norberg-Schulz, 2006, p.71 15 Hendy, 2013 13
43
4
A met谩fora da mem贸ria
O processo criativo da mem贸ria
4. A metáfora da memória
Gaston Bachelard (1884 – 1962), ensaísta francês e filósofo da fenomenologia, aborda a poética encontrada em diversos espaços, tais como detalhes e sua relação com a natureza e com nossa memória coletiva e individual. Pode-se dizer que Bachelard nos guia por diferentes espaços que suscitam interpretações possíveis de lugares, revelando informações que são oportunidades para ajudar a reconhecer e repensar esses espaços. Esse entendimento do lugar vai além do ponto de vista visual; trata de questões sensoriais incluindo, portanto, a dimensão do som como valor espacial. Um dos temas que Bachelard discute e que foi apropriado para esse trabalho é o tema da memória; pois ele acredita que a mente não guarda imagens do passado, mas cria-as sendo este ato de criação um processo interior. Nossa
mente possui um cofre onde guarda o inesquecível; é onde a mente condensa o tempo (passado, presente, futuro). Bachelard considera que verificar as imagens do passado, ou seja, ver o objeto real, folhear um álbum de fotografias, ou rever um filme, perde-se o imaginar, e imaginar é mais que viver. O que realmente totaliza o homem para Bachelard, não é a memória; é o ato de criação – a imaginação, a criação está ligada ao cosmos e a natureza. E a imaginação é anterior à memória: consegue-se construir a noção de uma realidade sem nunca tê-la visto antes.
Memória é um processo criativo. Não podemos conservar a lembrança de um acontecimento cujos fatos históricos não presenciamos. Jacques Rancière (1940, Argélia) diz que “uma memória não é um conjunto de lembranças da consciência […] A memória é um certo conjunto, um certo arranjo de signos, de vestígios, de monumentos.”16 Os fatos históricos e a informação não representam
a memória; “ela deve se construir como ligação entre os dados, entre a evidência dos fatos e o vestígio das ações […] como o ‘arranjo de ações’”17, mencionado na poética, de Aristóteles, na qual o próprio chama de mythos. Não se trata do “mito” relacionado ao inconsciente coletivo, mas à fabula e à ficção. A memória é uma obra de ficção. Em consequência, o passado se torna o tempo do duvidoso. A memória é uma interpretação abstrata do passado. Por exemplo, lembramos apenas as percepções gerais de um filme, a grandiosidade de uma cena, ou o romantismo de outra, mas não lembramos as informações com exatidão.
16 17
RANCIÈRE, 2010, p.179 Idem, Ibidem, p.180
45
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
AUD. 08
46
Um uso da memória ficcional de forma inteligente pode alterar percepções de realidade da pessoas, podendo gerar até conflitos. Orson Welles conseguiu modificar a veracidade dos fatos em tempo presente usando o som de forma documental; o que causou um pânico coletivo nos EUA em 1938. O então desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano interrompeu a programação musical rádio CBS (Columbia Broadcasting System) para noticiar uma suposta invasão de marcianos. Ele estava dramatizando o livro de ficção científica A Guerra dos Mundos, do escritor inglês Herbert George Wells. A narração de Orson Welles foi em formato de programa jornalístico e tinha todas as características do radiojornalismo da época, às quais os ouvintes estavam acostumados. Os efeitos sonoros, entrevistas, gritos, reportagens externas e a emoção dos supostos repórteres e comentaristas, davam impressão de o fato estar realmente sendo transmitido ao vivo. Segundo a rádio CBS, pelo menos 1,2 milhão de pessoas acreditou ser um fato real, entrando em pânico, sobrecarregando linhas telefônicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir do perigo. A transmissão da ficção foi também um alerta para o próprio meio de comunicação “rádio”, pois ficou evidente que sua influência era tão forte a ponto de poder causar reações imprevisíveis nos ouvintes.
Fig. 4.1 O hoax de Orson Welles em 1938. A transmissão de “A Guerra dos Mundos” de G.H. Welles que causou pânico no Estados Unidos.
47
SOM FORMA
SENTIDO
Onda Sonora
Significado
FREQUENCIA INTENSIDADE...
FUNÇÃO PERCEPÇÃO
FENOMENOLOGIA
ESPAÇO
Juhani Pallasmaa Gaston Bachelard
Arquitetura
MEMÓRIA Jacques Rancière Memória ficcional
ACÚSTICA FÍSICA DO SOM
PSICO ACÚSTICA
ACÚSTICA ARQUITETÔNICA
Energia sonora
Sentido Auditivo
Geometria do som
COMPORTAMENTO DO SOM
AMPLITUDE
ALTA FREQUÊNCIA
80 60 40
Zona de conversação
20 0
TEMPO
Campo auditivo
Limiar auditivo 20
1K
2K
Frequencia (Hz)
Reverberação, Eco ULTRASSONS
AMPLITUDE
BAIXA FREQUÊNCIA
100
INFRASONS
TEMPO
Intensidade (dB)
Limite superior da percepção auditiva
20K
MATERIALIDADE Isolantes, absorventes
FORMA Superfícies refletoras
COMPOSIÇÕES ABSTRATAS
MÚSICA
O som indesejado
Arte de combinar sons e ritmos organizados ao longo do tempo
Paisagem sonora AMBIENTES REAIS
R.Murray Schafer
Sons da natureza Som dos objetos Som do corpo
Som da Memória
Arte
Música Concreta Pierre Schaeffer
L'Arte dei Rumori (1913)
ACÚSTICA AMBIENTAL
Luigi Russolo
A paisagem
EXPRESSÃO DO MUNDO SILÊNCIO
RUÍDO
POLUIÇÃO SONORA som invasivo DENSIDADE DE SONS FALTA DE SENSIBILIDADE AUDITIVA
Floriano Romano
O som indesejado
Parte ii
O Pal谩cio Monroe
Valor hist贸rico em processo de esquecimento
Parte II - Recorte do tema
A escolha do lugar de estudo nasceu a partir de uma reflexão a respeito de espaços residuais que resistem entre monumentais objetos urbanos, tais como avenidas, viadutos e torres. Podem ser espaços abandonados, sem um papel reconhecível na cidade, refletindo uma sociedade contemporânea desfragmentada. Robert Venturi aponta um problema recorrente no processo do arquiteto: “em vez de procedermos ao reconhecimento e à exploração dessas espécies características de espaços, convertemo-los em estacionamentos ou gramados raquíticos uma terra de ninguém entre a escala regional e a local.”18 O mesmo aconteceu com a Praça Mahatma Gandhi, onde era situado o demolido Palácio Monroe, um espaço convertido em estacionamento, adjacente a Avenida Rio Branco, um dos maiores eixos de circulação do Rio de Janeiro.
Fig. 4.2 monumentos e espaços residuais
18
Venturi, 2004, p.111
Página seguinte fig. 5.1 - Palácio Monroe em 1975
51
O Palácio foi transportado ao Brasil ao término da exposição e reconstruído em 1906 para sediar a Terceira Conferência Pan-Americana. Foi batizado de Monroe em homenagem ao nome do presidente americano inventor do Panamericanismo. Sua localização era no final da então Avenida Central (atual Av. Rio Branco) em frente ao Convento da Ajuda, demolido em 1911. O Palácio passou a compor o famoso conjunto simbólico da Praça Marechal Floriano Peixoto junto com o Theatro Municipal (1909), a Biblioteca Nacional (1910), o Supremo Tribunal Federal (hoje Centro Cultural Justiça Federal), o Palácio Pedro Ernesto (atual Câmara dos Vereadores), o edifício Glória, o Odeon e o Amarelinho (década de 1920). A região continha seis cinemas dando o apelido da praça, mas restou apenas um deles, o Odeon, que está fechado, reforçando assim a política de esvaziamento do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que a região estava nas franjas do demolido Morro do Castelo. Ao seu lado está o Passeio Público, o primeiro parque ajardinado do Brasil, criado em 1783 pelo Mestre Valentim da Fonseca
e Silva. O parque surgiu após um aterro na lagoa do Boqueirão, considerado para época um ato de salubridade. O Passeio surgiu como uma primeira área urbanizada do Rio de Janeiro. Na época, seu terraço tinha contato com o mar, mas perdeu essa vista devido aos sucessivos aterros para Praça Paris e para o Aterro do Flamengo em seguida. Apelidado de “Senadinho”, o Palácio abrigou usos como centro de convenções, casa de bailes e a Câmara de Deputados, entre 1914 e 1922. Após essa data, o Senado Federal ocupou-o até o início dos anos 60. Na planta abaixo é possível compreender sua simetria rigorosa. Havia uma área bastante ajardinada voltada para o Passeio Público e o edifício faceava a Avenida Central. Desde a década de 1950, os senadores reivindicavam um espaço mais adequados aos trabalhos parlamentares, mais lamentavam o estado que o Monroe se encontrava pois isso poderia comprometer a imagem da instituição, que é tradicionalmente associada a luxo, requinte e sofisticação. Os apelos pela construção de uma nova sede para o Senado geraram a criação da Comissão Especial com o intuito de propor soluções alternativas para a “situação precária” em que se encontrava o Palácio. 54
5. O Palácio Monroe
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
O Palácio Monroe foi construído em 1904 para representar o Brasil na Exposição Universal de Saint Louis, nos Estados Unidos. O projeto é do General Francisco Souza Aguiar, que projetou também a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O edifício foi concebido todo em estrutura metálica podendo ser desmontado ao final da exposição. O Palácio foi bastante elogiado pela imprensa norte-americana e ganhou uma medalha de ouro no Grande Prêmio Mundial de Arquitetura.
5. O Palácio Monroe
Foi então quando o “Senado autorizou o senador Marcondes Filho a realizar uma viagem por seis países europeus a fim de coletar informações sobre a forma e as condições de funcionamento de seus Senados.”19 Marcondes Filho retornou quatro meses depois, seduzido pela suntuosidade dos palácios visitados. A partir dali passou a defender uma nova construção do Senado, o que acarretaria, em futuro próximo a demolição do Monroe:
“Os órgãos legislativos (...) encontram-se instalados em palácios tradicionais, escolhidos dentre os mais belos e mais ricos, não raro em antigos castelos reais. (...) A verdade é que, apesar das diferenças de estilo, todos se equivalem na majestade, no gosto e na beleza. É bem claro que não seria possível no Brasil a ostentação de tais riquezas acumuladas nos séculos, mas é preciso reconhecer que a grandiosidade do recinto, mesmo moderno, há de ser parte indispensável na construção de um edifício para o Senado.” 20
O Palácio começou a ser deteriorar mais a cada dia depois que o Senado foi transferido para Brasília. Através de uma campanha mobilizada pelo jornal O Globo, contando com o apoio de arquitetos modernistas, clamou-se a demolição do Palácio Monroe sob pretextos estéticos e de que o edifício atrapalhava o trânsito. O então presidente Ernesto Geisel nutria uma antipatia pelo filho do Coronel Arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar, projetista do Palácio Monroe. Tal sentimento teve origem quando o filho de Souza Aguiar foi promovido no Exército em detrimento de Geisel. Por pura vingança, o presidente aproveitou seu poder para autorizar a demolição do Monroe, destruindo o premiado projeto do pai de seu inimigo. Ele não concedeu o decreto federal de tombamento, permitindo, assim, a demolição do monumento, em março de 1976. Geisel alegou que o Palácio prejudicava a visão do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. Independente de ter o edifício ou não, o monumento continua sendo visto da Av. Rio Branco e sua visão a partir da Cinelândia é bloqueada por bancas de jornais, equipamentos do metrô e por uma barreira de ônibus que circula a praça.
19 20
Guimarães, 2010, p.111 Diário do Congresso Nacional, quinta-feira, 14 de agosto de 1952, p. 8140-43.
55
cINElândia MNBA Theatro Municipal
Biblioteca Nacional
Câmara Municipal
CCJF
Amarelinho
brás etro P . Ed
Ed. Glória Odeon . Av
l ne Ci
ex-Palacio Mo
Praç a P ar is
Passeio Público
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Fig. 5.2 - Cinelândia
1783 Passeio Público 1826 Museu Nacional de Belas Artes 1906 Palácio Monroe/1976 demolição 1909 Theatro Municipal 1910 Biblioteca Nacional 1923 C. Cultural Justiça Federal 1921 Amarelinho 1925 Odeon 1926 Edificio Gloria 1926 Praça Paris 1948 Museu de Arte Moderna 1960 Monumento aos Pracinhas
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Monumento aos pracinhas
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EDIFICAÇÕES SIMBÓLICAS EXISTENTES
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A atitude do jornal teve o mesmo efeito que a obra de Orson Welles, ambos usaram a mídia que confere um grau de credibilidade para criar uma nova narrativa sobre um acontecimento. Essa hipótese pode ser comprovada em um “recorte editorial publicado pelo Globo, sem referência e sem data, na pasta relativa ao assunto, nos arquivos da Fundação Parques e Jardins:
‘Por decisão do Presidente da Republica, o Patrimônio da União já está autorizado a providenciar a demolição do Palácio Monroe. Foi, portanto, vitoriosa a campanha desse jornal que há muito se empenhava no desaparecimento do monstrengo arquitetônico da Cinelândia. […] O Monroe não tinha qualquer função e sua sobrevivência era condenada por todas as regras de urbanismo e de estética. Em seu lugar o Rio ganhará mais uma praça. Que essa boa noticia, que coincide com o fim das obras de superfície do metrô da Cinelândia seja mais um estimulo à remodelação de toda essa área de presença tão marcante na historia do Rio de Janeiro.’” 21
Geisel garantiu sua inocência ao atribuir a culpa da demolição às obras do metrô da Cinelândia. O Palácio estava de fato no meio traçado dos trilhos. Como o intuito do Metrô sempre foi preservar prédios de importância histórica, a solução foi fazer uma desvio no traçado original da linha. Para poupar a demolição do Monroe, foi empregada uma moderna e dispendiosa tecnologia para proteger suas fundações. Foi feita uma obra cautelosa retirando a escadaria de mármore e colocando contenções necessárias; o Monroe foi poupado pelo progresso.
21
58
Freitas, 2012, p.2-3
5. O Palácio Monroe
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
A posição de arquitetos modernistas que não reconheciam o movimento eclético no Rio de Janeiro contribuiu para esse episódio triste. Roberto Marinho, que sempre agradou os militares para ser beneficiado, deveria conhecer a antipatia de Geisel ao Palácio. Então, utilizou-se de seu jornal, o Globo, para fazer uma campanha a favor da demolição e distorcer o fato histórico ao atribuir a responsabilidade às obras do metrô.
Fig. 5.3 Repercussão na mídia sobre a polêmica demolição de um edifício simbólico
59
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
Fig. 5.4 Demolição do Palácio Monroe
60
Fig. 5.5 Demolição do Palácio Monroe
5. O Palácio Monroe
Fig. 5.6 Demolição do Palácio Monroe
A estátua de Mahatma Gandhi, instalada no ângulo menos visível da praça, caminha dando as costas à praça que leva seu nome. “Como a população de rua, Gandhi também foi expulso. Sua escultura é agora mantida fora da praça, externa ao novo gradil, e parece ter recebido um pedestal ainda maior, na tentativa inútil de protegê-la da urina.” 22 Em 2002, o prefeito César Maia levantou a possibilidade de reconstruir o Palácio, mas apesar de contar com apoio de muitas pessoas, uma obra pública de um estacionamento subterrâneo foi feita. O empreendimento, que abriga 1036 vagas, possui dois acessos pela Av. Rio Branco que invadem a antiga posição do Palácio Monroe. Durante a obra, várias palmeiras foram retiradas, fazendo o local perder flora e sons de pássaro, além disso sua conexão com o Passeio Público foi perdida devido a abertura de uma nova via paralela a Av. Luis de Vasconcelos. A localização antiga do Palácio pode ser encontrada através de um estudo de planta, onde é possível analisar o que existiu sobre o perímetro da edificação desde sua demolição até hoje.
22
Freitas, 2012, p.4
61
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
1904
Linha do Bonde
Conexão com Passeio Público
r
a
r ei
v.
B
Ma
Vista para o Mar
A
5
62
10
20
1976
demolição
chafariz monumental Abertura de uma nova via obras metro
Conexão com Passeio Público enfraquecida, porém mantém-se vegetação expressiva na praça
demolição do palácio
5
10
20
63
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
2002
Após obras do estacionamento
Escultura Mahatma Gandhi
Ventilação metrô
Ventilação estacionamento Acesso veiculos
Redesenho viário
Acesso pedestre
5
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10
20
AV. RIO BRANCO - no vo transito e nova paisagem sonora
2014
Mudança de trânsito
Estátua que “foge da praça”
Chafariz seco e em mau estado de conservação
12 terminais De Onibus
Grades e alta frequência de assaltos
5
10
20
65
Cidade Sonora - O fenômeno do som no espaço
No ano de 2014 foram feitas várias modificações de sentido de via, itinerário de ônibus, tal como mudança da Av. Rio Branco para uma via exclusiva de ônibus e táxi. Isso modificou a paisagem sonora de uma avenida que já deu passagem ao som dos bondes. O Passeio Público está ainda mais distante. O desfecho dessas duas versões da história não coincide nem com o que foi clamado pela campanha de demolição, tampouco, restaura a memória do monumento. A praça hoje é gradeada e contém um estacionamento subterrâneo de alto custo. A visão do monumento dos pracinhas a partir da Cinelândia continua sendo embarreirada a nível do pedestre. Se passarem mais 50 anos não saberíamos ao certo o motivo da demolição, talvez nem ao menos perceberíamos que ali havia um edifício que marcou a Belle Époque no Brasil. Assim como existem na cidade outros edifícios que tiveram suas histórias apagadas em demolições.
A história do Monroe termina como começou, com ele desmontado. Há peças suas espalhadas não apenas pela cidade ou estado do Rio, mas Brasil afora. Essa política de demolição tão marcada no Centro do Rio de Janeiro provoca perdas de camadas históricas, sendo sempre uma mesma folha de papel escrita em lápis e apagada diversas vezes. A proposta desse trabalho é expor o que foi apagado nesta folha, quase como um processo arqueológico. Neste processo, serão descobertos outros eventos históricos na Cinelândia.
66
Fig. 5.11 - Demolição do telhado do Palácio Monroe
Página seguinte - fig. 5.12 - Memorial da demolição por Laura Basile, 2013
67
6
Proposições
Pode-se concluir que a Cinelândia viveu várias mudanças marcantes que conformaram sua paisagem sonora: a passagem dos bondes, demolição e construção de edifícios, obras de metrô e a multiplicação dos carros e atualmente a dos ônibus. Este trabalho visa revelar camadas históricas sonoras da Cinelândia, culminando na memória do Palácio Monroe. Tal como o espaço cerimonial do círculo de pedras de Brodgar, este trabalho propõe uma transição, de um espaço cotidiano para o espaço da memória, através de uma mudança na paisagem sonora. A percepção da paisagem sonora é mais facilmente percebida quando acontece uma mudança súbita nos sons de um ambiente. Em geral, o ruído que mais domina um cenário provém de atividades humanas, tais como motores de
carros, aviões, máquinas e indústria. Nas áreas circundantes à Praça Mahatma Gandhi, o ruído dos ônibus é o som determinante deste contexto, nem vozes mais expressivas alcançariam tal tumulto. Diante desse paradigma, esse trabalho proporciona devolver o domínio dos sons do mundo às pessoas. A maneira de abordar qual seria o produto desse trabalho nasceu a partir de uma suposição conceitual: e se tivéssemos por um dia a oportunidade de controlar os sons do mundo, independentes de sua temporalidade? As formas de responder mais fielmente essa questão induziu a reproduzir uma narrativa poética que contasse uma vivencia urbana. Para introduzir os sons nesse conto, foi pensado em produzir um curta-metragem. Neste será possível perceber as camadas históricas da memória da Cinelândia e do Palácio Monroe. Como instalação a ser produzida da FAU-UFRJ, a grande dificuldade está em representar algo que está no Centro do Rio de Janeiro. Mas como restou-se apenas uma localização virtual do Palácio, a intenção é mostrar o processo de demolição do Monroe em um espaço interno da faculdade.
71
Cidade Sonora - O fen么meno do som no espa莽o
6.1
Curta-metragem
Fig. 6.1
72
Fragmentos sonoros
6.1. Curta-metragem
O conceito surgiu através de uma hipótese na qual se questionava a possibilidade de controlar os sons ao redor através de uma espécie de dispositivo mágico. A transformação da paisagem sonora surpreenderá o passeio de um transeunte comum que encontra esse misterioso dispositivo. Esse devaneio foi transformado em uma narrativa, na qual acontece uma vivência urbana a partir de um dispositivo que controla a temporalidade da sonoridade da Cinelândia. O parâmetro que manipularia a paisagem sonora seria o tempo, tema que é primordial estudar tanto para os sons quanto para a memória. Esse dispositivo sintoniza-se em distintas épocas, revelando os sons de um lugar e suas camadas históricas. Nesta experiência, é possível descobrir situações que não existem mais como o som do bonde, de obras do metrô ou do próprio Palácio Monroe, de seu funcionamento até sua demolição. Foi feito exercício de estudo da relação do antigo Palácio Monroe com o tempo atual de forma simplificada; através da localização de seus espaços antigos na Praça. Ao fazermos a justaposição dessa memória com a praça, notamos que a ambiguidade entre o valor simbólico do edifício e a paisagem sonora desordenada do entorno. Essa sobreposição de tempos direcionou a outra abstração: uma pessoa ao entrar no perímetro do antigo espaço do Monroe escuta os sons do Palácio, típicos de um ambiente interno, mas que não correspondem à narrativa visual. Esse projeto audiovisual demandou unir dois processos de concepção: o planejamento dos enquadramentos a serem filmados e a trilha sonora a ser acompanhada. O método de criação deu-se em função da narrativa ficcional, conceito principal do filme. Foram necessárias várias idas ao local para apreender características que oferecessem outros pontos de vista possíveis para a história. Em razão disso, foram reescritas diversas vezes o roteiro e o storyboard que deu origem ao curta-metragem Fragmentos Sonoros, sempre atentando-se à detalhes de mudança de cena e de paisagem sonora. Fragmentos Sonoros por ser encontrado em < https://vimeo.com/131936090>.
Página Seguinte figuras. 6.2 - Storyboard
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Abertura: apresentar a Cinelândia através de detalhes enquadrados.
Theatro Municipal.
Monumento ao Pracinhas.
Estátua Mahatma Ganhdi.
Relógio do Palácio Pedro
Palácio Pedro Ernesto, surge
Ernesto (Câmara dos Vereadores).
a personagem.
A personagem desce as escadas do Palácio, onde ela encontra o rádio.
Enquadramento na escada, imagem sem profundidade. A personagem desce as escadas.
A personagem percebe que a paisagem sonora se modificou e escuta um som de trem que se aproxima.
Após escapar deste suposto trem a personagem percebe que ela escuta sons de outras realidades.
Ela mexe no rádio e vários sons urbanos são alterados.
O ruído urbano some e o som que ela escuta desconecta-se das imagens que ela vê.
A personagem percebe que esse rádio oferece o poder de controlar os sons do mundo de acordo com o tempo.
Ela manipula a sonoridade do mundo
A personagem caminha pela cidade até chegar na Praça Mahatma Gandhi em seu destino final.
Roteiro: Fragmentos sonoros de Laura do Lago Basile Abertura Contextualizar o vídeo. Imagens históricas com som da cidade atual e Enquadramento com foco em detalhes do entorno da Praça Mahatma Gandhi e Cinelândia. FADE IN Imagens históricas preto e branco FADE OUT FADE IN 1. Encontro do prédio do Amarelinho com o Palácio Pedro Ernesto (Câmara dos Vereadores ao lado do Municipal) (3s) 2. Topo do Theatro Municipal (3s) 3. Monumento aos Pracinhas com Pão de Açúcar ao fundo. Zoom out, e mostrar um pouco do Chafariz do Monroe/Praça Mahatma Gandhi (3s) 4. Estátua do M. Gandhi (3s) 5. Mostrar o relógio da Câmara dos Vereadores (3s) 6. Enquadramento do Palácio Pedro Ernesto – Câmara dos Vereadores. 7. Sai a personagem de dentro do Palácio. É uma menina jovem de vinte e poucos anos. 8. Enquadramento Escada – A personagem desce as escadas e caminha em direção a Praça M. Gandhi, no entando ela encontra o rádio no chão da praça 9. Plano médio próximo – Ela coloca o fone de ouvido que está com o rádio. (Som de chiado de transmissão, depois sons de uma cidade calma sem carros) 10. Plano americano – Gradativamente aumenta um som de bonde junto com o percurso da atriz. O som de bonde aumenta aproximando-se dela, ela se assusta. 11. Video histórico do bonde passando por onde ela estava. 12. Plano médio próximo – Ela olha para os lados um pouco confusa e o som do bonde que passou está longe (fazer efeito Doppler). 13. Grande Plano do rádio – Ela manipula o rádio e os sons vão se alterando. Sua curiosidade em relação ao objeto a faz explorar e mexer em seus botões e notar que os sons da ruidosa cidade se alternam, e por vezes se silenciam. Som de chiado.
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14. Plano americano – Ela sintoniza a paisagem sonora em um som de chuva. Esse plano se alterna com os planos de “situações sonoras”, onde a personagem vê movimentos e cenas que sugerem ruído, porém ela escuta outros sons. 15. Situações sonoras + Plano médio próximo da atriz: O vento nas árvores; Guarda de transito; Movimento de ônibus; Pessoas conversando; Um sapateiro martelando um sapato 16. Plano Geral –
Ela caminha pela Cinelândia – O som de chuva se
mistura a uma música da década de 1940. 17. Plano panorâmico – A personagem se encontra no centro da Avenida Rio Branco. Ela escuta os sons calmos que se contrasta com o tráfego intenso de ônibus da Avenida. 18. Plano próximo do rosto da personagem – Ela esboça um sorriso ao brincar com o radio. Ela possui o controle dos sons do mundo. 19. Cenas antigas do Monroe. 20. Plano Geral – A personagem caminha em direção à Praça Mahatma Gandhi. Filmar detrás das grades. 21. Colocar cena antiga de pessoas entrando no Palácio Monroe, na década de 1940. 22. Plano americano, detrás da personagem – Ela chega no espaço onde ficava o Palácio Monroe. 23. Plano panorâmico da Praça com a personagem entrando. 24. Plano médio – A personagem escuta um barulho de porta fechando-se atrás de si. Ela olha pra trás e nada vê e dá alguns passos para frente. 25. Mesmo Plano panorâmico da Praça – Sons de baile misturado a vozes com eco e discurso do Ministro Marcondes Filho (1943). 26. Plano Geral – A atriz senta-se no banco do seco chafariz Ela segue na mesma direção da P. M. Gandhi e sintoniza em um ruído similar a um barulho de obra ou demolição que vem dessa praça vazia. 28. Imagens históricas de demolição do Monroe. Som de obra e demolição que termina com um som de explosão. 29. Plano panorâmico da praça vazia – Silêncio do Monroe representado nos sons da cidade atual. 30. Com um olhar pesado a atriz olha a praça vazia e os intenso tráfego ao redor levanta-se e deixa o rádio no banco. 31. Plano de detalhe do rádio no banco que emenda com plano geral da praça – A personagem caminha em direção a saída da praça. 32. Planos de detalhe do rádio em diversos locais da Cinelândia +
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créditos FIM
AUD. 09
6.1. Curta-metragem
A concepção da trilha sonora foi dividida de acordo com os tempos a serem tratados. Devido à dificuldade de encontrar material de áudio autentico de cada época e local, foram feitas gravações novas e recriações de sons pelo programa Ableton Live. Foram encontrados trechos de um discurso do Ministro Alexandre Marcondes Machado Filho, o mesmo político que na década de 1950 incentivou a construção de uma nova sede do Senado. Procurou-se recriar um ambiente de eco para representar o vazio deixado pelo Palácio. Quando uma casa é despida de toda a mobília ao se fazer uma mudança, por exemplo, algo que pode ser percebido é o som do eco que próprio espaço faz. Esse som se relaciona com o vazio, com algo que já foi vivenciado. Para isso recomporemos, em ambiente externo, os efeitos de reverberação típicos de ambiente interno. Os usos e os materiais do Palácio foram estudados para a recriação dos sons. O ato de filmar para quem estuda arquitetura conformou-se em rico exercício de olhar a cidade. Foram descobertas e afirmadas situações sociopolíticas sobre o local, devido ao comportamento das pessoas. A área circundante à Praça Mahatma Gandhi é evitada por todos por ser perigosa, algumas cenas foram difíceis de filmar por lá. O interior é assegurado pelos seguranças do estacionamento, que funciona no nível subterrâneo da praça. No entanto, a vigilância é extrema, além de não poder agir normalmente em uma praça comum, deitar-se nos bancos, ou fazer piquenique; não é permitido filmar ou fotografar lá dentro sem um documento de autorização da Prefeitura23. Pudemos perceber
uma postura demasiada autoritária de um serviço altamente lucrativo (40 reais a diária de uma vaga) mas que por medidas de segurança crias áreas residuais em seu entorno, que, consequentemente, são regiões de alto nível de crime. Em oposição à praça, foi comentado por vários transeuntes a inoperância da Guarda Municipal que não controla assaltos nem outros delitos. Para gravar uma das cenas na Cinelândia, subimos, sem sofrer repressões, em uma estátua ao lado de uma viatura policial. Por fim, através da imersão no contexto do objeto de estudo foi possível concluir que a paisagem sonora indica uma sobreposição de classes sociais, etnias e gerações, e portanto, de distintas vozes que circulam ali.
No dia em que fomos gravar, tivemos apenas 15 minutos de concessão para a gravação das cenas, mesmo munidos do documento de autorização da Prefeitura.
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6.2
Objeto CENOGRÁFICO O rádio
Foi pensado para dispositivo sonoro um rádio de caráter atemporal e de estética minimalista. A intenção era criar um objeto misterioso que não era marcasse nenhum período histórico. Para isso não procuramos o rádio em locais de antiguidade, era necessário desenhá-lo. Abaixo encontram-se referências usadas para o projeto de design do rádio:
Fig. 6.3 - Magno Wooden Radio, Singgih Kartono
Fig. 6.4 - Spotify box, Jordi Parra
Fig. 6.5 - Cardboard Radio, Christopher McNicholl
Fig. 6.6 - Beolit 800, Bang e Olufsen
6.2. Objeto Cenográfico
Fig. 6.7 - Croqui de concepção do rádio
Fig. 6.8 - Teste maquete digital
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Fig. 6.9 - Teste de materialidade com papel
O modelo do rádio foi pensado para ser montado a partir de peças cortadas na máquina de corte à laser. Para isso foi pensada duas partes semelhantes (fundo e frente) e uma tira única de fechamento.
Fig. 6.10 - Arquivo para impressão a laser
Fig. 6.11 - Modelo impresso em MDF na máquina de corte à laser do Lamo3D da FAU-UFRJ
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Fig. 6.12 - Montagem do modelo
Fig. 6.13 - Fixação dos dispositivos
As regiões de dobras da tira são feitas por pequenos vincos que tornam o MDF maleável. O movimento circular do botão foi controlado por um potenciometro, componente eletrônico usado para rádios.
Fig. 6.14 - Modelo final – trecho do vídeo
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Fig. 6.15 - Trecho do vídeo com a atriz
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Cidade Sonora: o fenômeno do som na arquitetura Fragmentos sonoros: memórias ocultas da Cinelândia Um convite à apresentação do curta-metragem “Fragmentos Sonoros” e da instalação artística realizada no corredor do 5° andar da FAU-UFRJ. Banca: 04 de dezembro, quinta-feira 13h Auditório do Prourb.
Laura do Lago Basile Orientadores: Maria Cristina Cabral e Leonardo Fuks
Fig. 6.16 - Pôster apresentado para a exibição do filme e da instalação realidada na FAU- UFRJ
2014.2
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6.3
Instalação
AUD. 10
Como possibilidade de transformar subitamente a paisagem sonora de acordo com distintas temporalidades, foi pensado em recriar esse conceito em uma instalação no edifício da FAU-UFRJ. O propósito de criar uma instalação para representar a memória do Palácio Monroe através do som foi motivada pela efemeridade dessa forma de manifestação artística. A instalação é uma obra que só existe quando montada, sendo que após sua desmontagem resta apenas sua lembrança em fotos, filmes e recordações. Sobre tais aspectos, recriar a memória do Monroe em algo temporário fortificou ainda mais o dualismo de presença e ausência do edifício. Um edifício que apenas nos resta à memória tem uma localização virtual em recortes de jornais ou fotos. Nestes documentos são reforçadas sua existência de uma ausência. A representação do Monroe no edifício da FAU/UFRJ é aceitável já que o
contexto do Palácio é virtual, permanecendo somente em lembranças. Mesmo que o tema esteja localizado em outro contexto, a reprodução sonora atrai o aspecto conceitual do Monroe. O recorte de um áudio (esquizophonia) de outro tempo e lugar em um corredor da instituição ganha um novo significado. Tal como Alvin Lucier, o som que representa a época áurea do Palácio é demolido através dos ruídos existentes e de efeitos de eco. Após o som de demolição da última cena, remanesceu o vazio representado pelo ruidoso silêncio da praça. O conjunto de ruídos de automóveis interromperá a tranquilidade quase apática de uma seção do corredor do quinto andar da FAU, próximo aos departamentos – onde tem poucos alunos. O corredor foi o local escolhido para trabalhar com percurso e ritmo, onde é possível presenciar uma inesperada alteração no contexto sonoro do edifício da Reitoria. Não foi informado previamente o local, pois a intenção era recriar uma sensação de surpresa semelhante à da personagem no curta-metragem. Como proposta de instalação para representar o vazio, nenhuma imagem foi pensada, além do rádio instalado no forro. Essa inserção sonora causará uma perda de noção de tempo e espaço por
alguns momentos, recriando o cenário da Cinelândia e revelando a demolição do Monroe.
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Página seguinte figura 6.17 - montagem instalação
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Fig. 6.18
CONCLUSÃO A intenção das propostas não foi desenvolver uma resposta hermética a uma demanda acústica específica, tampouco criar um memorial físico do Palácio Monroe. A busca por um projeto que respondesse às questões acerca do som no espaço e na cidade, e da memória na cidade concluiu-se em um processo criativo onde as respostas seriam novas hipóteses a serem interpretadas. O Palácio já não existe mais e não voltará. Portanto, minha intenção não é ter uma conclusão final, mas acreditar nos desdobramentos futuros deste exercício. No término da fundamentação teórica desse trabalho, há um fluxograma de conceitos sobre o som que poderiam ter sido desdobrados e conectados para outros temas. A memória foi trabalhada a partir de extratos históricos sonoros de várias épocas, resultando em um projeto audiovisual e uma instalação sonora. Este trabalho propõe uma abordagem teórica e experimental prática, buscando aproximar-se de questões artísticas e tecnológicas, mas acima de tudo, há um caráter investigativo.
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Glossário O som é uma vibração ou onda mecânica gerada por uma fonte sonora, que é um corpo vibrante, que requer um meio para se propagar (sólido, líquido ou gasoso). O cérebro é capaz de interpretá-la dando-lhe sentidos.
1. Decibel
6. Intensidade
Bel é a unidade de medida física relativa ao som, o decibel (dB) é a décima parte de um bel.
Essa propriedade é a energia que o som chega ao receptor, a frequência do som não é alterada.
2. Difração
7. Mascaramento do som
Essa propriedade do som é como a onda sonora transpõe obstáculos entre a fonte sonora e a recepção reduzindo a sua intensidade.
Quando se tem dois sons repercutindo em um mesmo ambiente ao mesmo tempo, não consegue-se compreender sua identificação. Geralmente o som de maior intensidade sobrepõe-se ao de menor intensidade. Essa propriedade é encontrada em ambientes onde o ar condicionado camufla os sons externos, mas não há anulação de som.
3. Eco O eco é uma repetição parcial de um determinado som em virtude de sua reflexão que retorna em um tempo maior que 1/15 do segundo. A reflexão do som é exatamente o mesmo da ótica física.
4. Frequência As ondas sonoras resultam de oscilações de moléculas do meio de propagação. O número dessas oscilações ou ciclos por unidade de tempo é a frequência. O som de baixa frequência, abaixo de 20Hz, onde as ondas são mais largas são considerados sons graves. Os sons de alta frequência, acima de 2000Hz, de ondas curtas são os sons agudos.
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8. Percepção auditiva O ouvido humano consegue ouvir entre 20Hz e 2000Hz. O gráfico abaixo mostra o limite que se consegue ouvir e a posição dos ultrasons e dos infrasons.
9. Ressonância A ressonância é uma vibração em um corpo por influência da vibração de outro, exemplo: a vidraça de uma janela ao ruído do avião que passa.
5. Inteligibilidade
10. Reverberação
A Inteligibilidade Sonora é o grau de entendimento das palavras em um recinto. Essa propriedade deve ser levada em consideração em locais como igrejas e salas de aula onde a função é transmitir a informação através da voz humana e suas palavras.
Essa característica é encontrada basicamente em recintos fechados. A reverberação é o tempo que o som acionado se propaga até desaparecer e perder-se dentro do ruído ambiental.
BACHELARD. Gaston. A Poética do Espaço [1957]. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Referências Bibliográficas
Referências bibliográficas BERGER, J. Silence, noise, and the public domain. Soundscape: The Journal of Acoustic Ecology, v.1, n.2, p.40, 2000. CAGE. John. Silence: Lectures and Writings. Midldletown. CN, Wesleyan University Press, 1961 CAGE. John. Depoimento a Nam June Paik sobre a visita à câmara anecóica em Harvard, no vídeo “Global Grove”, 1973. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=jS9ZOlFB-kI CARVALHO, Régio Paniago. Acústica Arquitetônica. Brasília: Thesaurus Editora, 2010. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo [1968]. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1997. FONSECA, Flávio Raffaelli. Revivendo o devaneio: experimentos na percepção da arquitetura. Trabalho Final de Graduação – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. FREITAS, Rosana Pereira. Nem na calçada, nem na praça. VI Simpósio Nacional de História Cultural, Escritas da História: Ver – Sentir – Narrar. Teresina: Universidade Federal do Piauí – UFPI, 2012. Disponível em: http://gthistoriacultural.com.br/VIsimposio/anais/Rosana%20Pereira%20de%20 Freitas.pdf GUIMARÃES, Maria de Fátima Araújo. Ética, decoro parlamentar e a dessacralização do Senado republicano. [Tese de Mestrado]. Brasília: UNB/ Programa de Pós-Graduação em História, 2009. HENDY, David. Noise: A Human History – A Ritual Soundscape, BBC Radio 4, 2013. LOUREIRO, Bernardo Pacheco. Os lugares do som. Trabalho Final de Graduação – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. LUCIER, Alivin. Careful Listening is More Importante than Making Sounds Happens. 1979. In: SOUND, p.112
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ÍNDICE DE IMAGENS FIG. 1.1 – “Intonarumori”, de Luigi Russolo, 1913: instrumentos criados com intuito de transpor os ruídos do cotidiano para a música. Disponível em: https:// yuyu224.files.wordpress.com/2013/11/russolo_orchestra1.jpg?w=650 FIG.1.2 – “Voz” por Laura Basile, imagem feita a partir de obra de artista desconhecido Fig 1.3 – “Gráfico de percepção auditiva” por Laura Basile, baseado nas ilustrações de CARVALHO, Régio Paniago. Acústica Arquitetônica Fig 1.4 – “Gráfico de exposição ao ruído” por Laura Basile CARVALHO, Régio Paniago. Acústica Arquitetônica Fig 2.1 – “Poluição sonora” por Laura Basile Fig 2.2 –“Manifesto L’arte dei rumori (1913)” de Luigi Russolo. Imagem desaturada a partir de: http://assets.fontsinuse.com/static/use-mediaitems/18/17124/full-1388x1788/53441a67/the-art-of-noises.jpeg Fig 2.3 – “Sintesi plastica dei movimenti di una donna.” (1912) de Luigi Russolo. Imagem desaturada a partir de: http://1.bp.blogspot.com/_GrI5sR24CY8/ TOr6dGac77I/AAAAAAAABTI/0kprAmHlapA/s1600/dynamo-lady.jpg Fig 2.4 – “Pierre Schaffer em seu estúdio em 1963” Disponível em: http://ears2. dmu.ac.uk/wp-content/uploads/2013/07/Pierre-SCHAEFFER-dans-le-studio-dela-rue-de-lUniversité-1963-Laszlo-Ruszka-©INA-GRM.jpg Fig 2.5 – “Experiência de John Cage na câmera anecóica”. Disponível em: http://www.jensmauritsorchestra.com/triggersthresholds/images/anechoic.jpg Fig 2.6 – “Partitura de 4’33’’ de John Cage. Disponível em: http://poemesale. com/wp-content/uploads/2014/10/433-791x1024.jpg Fig 2.7– “Turbina” e “O passeio”, 2013. Floriano Romano (1969, Rio de Janeiro), artista multimídia.” Foto por Laura Basile Fig. 3. 1 – “Gráfico de reflexo das fontes sonoras no foco da parábola”. Por Laura Basile Fig. 3. 2 – “Propriedade refletora de cúpulas”. Por Laura Basile Fig. 3. 3 – “Catedral de St. Paul de Christopher Wren”. Disponível em: http:// www.learningzone.cityoflondon.gov.uk/images/SM/CC196.jpg Fig. 3. 4 – “Esquema Galeria Sussurrante”. Por Laura Basile
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Fig. 3. 6 – “Mesquita de Shah Abbas, Irã.” Disponível em: http://www.fmgomes. com/wordpress/wp-content/uploads/mesquita-imam-esfahan.jpg Fig. 3. 7 – “Palácio do Quitandinha, Petrópolis, RJ” 2013. Foto por Laura Basile
Referências Bibliográficas
Fig. 3. 5 – “Orelha de Dionísio em Siracusa, Itália”, Disponível em: “http:// upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Siracusa,_neapolis,_latomia_ dell’orecchio_di_dioniso_01.JPG
Fig. 3. 8 – “Catedral de Brasília, Oscar Niemeyer” 2012. Foto por Laura Basile Fig. 3. 9 – “Teatro de Asclépio, em Epidauro, Grécia”. Fotomontagem a partir de http://4.bp.blogspot.com/_YC_DMwnhk9A/TDejCdA9SEI/AAAAAAAAAVg/ QjnueJfEfTA/s400/teatro+epidauro.jpg Fig. 3. 10 – “Parsifal”, Richard Wagner, 1882. Disponível em: http://en.wikipedia. org/wiki/Parsifal#mediaviewer/File:Parsifal_1882_Act3_Joukowsky_NGO4p119. jpg Fig. 3. 11 – “Ópera Prometeo (1984) de Luigi Nono e Renzo Piano”. Disponível em: http://michaelshirrefs.net/2013/09/22/sonic-structures/ Fig. 3. 12 – “Diagrama música e espaço”. Por Laura Basile Fig. 3. 13 – “Topografia auditiva de Max Neuhaus para sua obra Times Square”. Disponível em: http://www.see-this-sound.at/files/512/large/large. jpg?1273512673 Fig. 3. 14 – “Círculo de pedras neolítico Brodgar, na Escócia” Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/-OeMX9pGWpag/UvTtCMuUfHI/AAAAAAAAGXE/ sG4ArzgCCIc/s1600/Orkney_KAP_Ring_of_Brodgar.jpg Fig. 4. 1 – “O hoax (trote) de Orson Welles em 1938. Disponível em: “http:// mediad.publicbroadcasting.net/p/kenw/files/201309/American_Exp_War_of_ the_Worlds.jpeg FIG 4.2 – “Intervenção sobre a ilustração de Robert Venturi, I’m a monument (de Learning from Las Vegas, 1972)”. Laura Basile Fig. 5. 1 – “Palácio Monroe 1975” Foto Luiz Pinto. Arquivo O Globo. Disponível em: http://infogbucket.s3.amazonaws.com/galeria_full_screen/ full/2014/04/14/1975%20Palácio%20Monroe%20Logradouro%20centro%20 Foto%20Luiz%20Pinto%20%20Arquivo%20O%20Globo.jpg Fig. 5. 2 – “Localização Cinelândia”. Por Laura Basile Fig. 5. 3 – “Jornais”. Foto montagem por Laura Basile
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Fig. 5.4– “Palácio Monroe em demolição”. Disponível em: http://infograficos.oglobo.globo.com/rio/o-palacio-monroe.html Fig. 5. 5 – “Palácio Monroe em demolição”. Disponível em: hhttp://infograficos.oglobo.globo.com/rio/o-palacio-monroe.html Fig. 5. 6 – “Palácio Monroe em demolição”. Disponível em: http://og.infg.com.br/in/13208708-e5f-73a/FT1086A/PalacioMonroe10.jpg Fig. 5. 7 a 5.10 – “Mapas” por Laura Basile Fig. 5. 11 – ““Palácio Monroe em demolição 2”. Disponível em: http://og.infg.com.br/in/13208710-558-06c/FT1086A/PalacioMonroe12.jpg Fig. 5. 12 – “Memorial da demolição” 2013, aquarela por Laura Basile. Fig. 6. 1 – Croqui conceitual do rádio usado para o filme “Fragmentos Sonoros” por Laura Basile Fig. 6. 2 – Storyboard de “Fragmentos Sonoros” por Laura Basile Fig. 6. 3 – Magno Wooden Radio de Singgih Kartono, Alemanha, 2006. Disponível em: http://www.artonom.de/magno-wooden-radio-ich-hore-natur/ Fig. 6. 4 – Spotify box de Jordi Parra, Suécia, 2011. Disponível em: http://minimalissimo.com/2011/02/spotify-player/#more-11774 Fig. 6. 5 – Cardboard Radio de Christopher McNicholl, Inglaterra. Disponível em: http://www.cadeau.nl/cardboard-radio.html Fig. 6. 6 – “Beolit 800” rádio de Bang e Olufsen, 1965 - 1968, Dinamarca. https://auctionet.com/en/36543-radio-beolit-800-bang-olufsen/images#image_1 Fig. 6. 7 – Croqui de concepção do rádio usado para o filme por Laura Basile Fig. 6. 8 – Maquete digital do rádio por Laura Basile Fig. 6. 9 – Esquema de peças para o corte do MDF por Laura Basile Fig. 6. 10 – Planta para o corte do mdf por Laura Basile Fig. 6. 11 – Foto do modelo impresso em MDF na máquina de corte à laser do Lamo3D da FAU-UFRJ, por Laura Basile Fig. 6. 12 e 6.13 – Fotos de processo de montagem por Laura Basile Fig. 6. 14 e 6.15 – Trechos do vídeo com o modelo final do rádio por Laura Basile Fig. 6. 16 – Pôster de divulgação por Laura Basile Fig. 6. 17 – Foto da montagem instalação por Laura Basile Fig. 6. 18 – Foto da instalação do rádio na placa de Eucatex perfurado por Laura Basile
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AUD.01 Música clássica industrial experimental. Luigi Russolo. Nesse áudio é possível ouvir os sons gerados pelos instrumentos criados por Russolo. Itália 1921.
Referências Bibliográficas
ÍNDICE DE ÁUDIO Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1WtCCunp6Bw AUD.02 Mesquita. Esse vídeo é uma performance de uma garota que canta ao centro da sala principal e é possível perceber o eco expressivo sobre a voz dela. Irã, 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Bd8A70TC8pU AUD.03 “Quitandinha”. Esse áudio foi feito pela autora circulando à pé pelo espaço do salão principal do Quitandinha. Note a repetição branda da voz de uma senhora que ora é mais acentuada, ora é mais dispersa. A intensidade (volume) é mais alta quando a linha entre fonte sonora e o receptor, isto é, a senhora e o microfone, passa pelo centro da circunferência da sala. Petrópolis, 2013. AUD.04 “Alvin Lucier: I’m sitting in a room”. Neste trabalho é possível perceber como as frequências ressonantes da sala se sobrepõe à fala inicial do artista. Boston, EUA 1969. https://www.youtube.com/watch?v=sCgicEWD1Nc AUD.05 “Times Square de Max Neuhaus”. Nesta gravação é possível ouvir os sons criados pelos sintetizadores misturados com os sons locais. New York, EUA, 2012 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=wINBfsb0WiM AUD.06 “Sea Organ”. Neste projeto, pode-se perceber as diferentes nuanças da paisagem sonora. Trata-se de uma obra fenomenológica em que uma apreensão completa depende do tempo, ou seja, do usuário permanecer ao local, ou de registrar em vídeos. Croácia, 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LBhk5KFwLVc
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AUD.07 “Ring of Brodgar”. Trecho do programa “A Ritual Soundscape”, da série “Noise: A Human History” Disponível em: http://www.bbc.co.uk/programmes/p016bff9 AUD.08 “Orson Welles - A invasão marciana” https://www.youtube.com/watch?v=y1lSJzFsAo0 AUD.09 MACHADO FILHO, Alexandre Marcondes. Discurso do ministro da Justiça e Negócios Interiores na Conferencia dos Conselhos Administrativos do Estado, no Palácio Monroe, pela Hora Brasil. Data de produção: 10/11/1943 Código de referencia: BR AN,RIO EH.0.DSO, DIS.102 Conteúdo: Discorre sobre os problemas na estrutura política do Estado Nacional, decreto lei n°10358 de 31/08/1942 do estado de guerra e suas consequências e faz considerações sobre a fase política corrente. Esse arquivo faz parte do catálogo Agência Nacional (EH), Catálogo de Documentos Sonoros Subsérie discursos. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2014. AUD.10 Instalação sonora realizada na FAU UFRJ de Laura Basile, nov 2014.
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Em ordem de aparição no vídeo:
Referências Bibliográficas
VIDEOGRAFIA de “Fragmentos sonoros” FITZPATRICK, James A. Rio The Magnificent. [Filme-vídeo]. Produção de Metro - Goldwin - Mayer. Brasil, Estados Unidos, 1932. Arquivo digitalizado (8:04 min), p&b, som. Disponível em: http://www.travelfilmarchive.com/item.php?id=11956&country_id=44&startrow= 0&keywords=Brazil VARRE, Andre de la. Rio de Janeiro. [Filme-vídeo]. Produção de The Screen Traveler, fotografia, roteiro e narração de Paul Delvin. Brasil, Estados Unidos, 1938. Arquivo digitalizado (10:11 min), p&b, som. Disponível em: http://www.travelfilmarchive.com/item.php?id=12726&country_id=44&startrow= 0&keywords=Brazil THEODORE Roosevelt - The River of Doubt. [Filme-vídeo]. Edição de Caroline Gentry e fotografia de Anthony Fiala. Estados Unidos, Roosevelt Film Library, 1928. Arquivo digitalizado, (14:33 min), p&b, som. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fKXOtJeaTEQ Rio Bondes Vol. 4. Tramways of South America, DVD da série Transit Gloria Mundi, capítulo Rio de Janeiro. Estados Unidos. Arquivo digitalizado (14:33 min), cor, som. Disponível em: http://www.eayearbooks.com/rio_bondes.htm Rio de Encantos Mil - parte 1. Produção: produção do Grupo Quilha Final da década de 1970. Rio de Janeiro. Arquivo digitalizado (8:28 min), cor, som. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1DOueXGWnG8 Fragmentos Sonoros. Direção: Laura do Lago Basile. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: https://vimeo.com/131936090> Página seguinte - fig. 21 - Foto Praça Mahatma Gandhi, por Laura Basile, 2013
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