beleza por trรกs da mรกscara
A beleza por trás da máscara é uma zine de fotografias resultadas de ensaios feitos por mim para o meu projeto de conclusão de curso. Esse projeto teve como estudo o movimento feminista, o mito da beleza e sua influência em nossa vida por meio da mídia. O intuito foi registrar diferentes tipos de beleza com as minhas amizades e celebrar uma pequena parcela da diversidade feminina. Espero que goste! Agosto 2020 Laura Castralli Instagram @lauracastralli
beleza por trás da máscara
“Eu sou um ser humano, eu sou fálivel e eu não sou perfeita, eu não tenho como ser”
“Eu era criança, sei lá quantos anos eu tinha... eu fui no parque aquático e todo mundo que foi comigo era tipo, super magra e eu gordinha, e aí, eu não fui em nenhum brinquedo porque precisava usar biquiní e eu não usava biquini. (hoje) não gosto das minhas gorduras, evito ir a piscinas que tem muitas pessoas no padrão. Quando é minha família, ok.”
“A única coisa que eu sinto que me incomoda no meu corpo são meus peitos, você sabe disso, né, mas não é pela aparência, por eu não gostar: eu sinto as pessoas olhando, sabe. Se eu uso um decote, tudo mais, chama atenção. A galera fica olhando, principalmente macho. Então, é uma coisa que me incomoda. Eu gostaria de não ter tanto pra não chamar tanta atenção e usar as coisas que eu gosto. Hoje em dia, quando eu vou sair, eu penso mil vezes na roupa que vou colocar pra não ficarem olhando e chamando atenção.”
“eu tinha muito esse negócio de me arrumar tipo bastante assim, do jeito que eu quero e pensar ‘nossa, tá daora, né, as pessoas vão olhar’. Mas, ai, eu fico ‘as pessoas vão olhar...’ porque eu meio que queria chamar atenção, mas eu pensava ‘eu vou chamar atenção... é melhor trocar de roupa’, porque as pessoas vão ficar olhando.”
“O problema central é a comparação. [...] eu tenho que ficar me policiando pra lembrar de que não é uma competição, que isso também não define o valor de ninguém e eu não preciso provar isso pra ninguém. E, também não tem esse lance de tipo, as vezes eu fico olhando uma menina que eu admiro, que eu acho bonita e fico pensando ‘nossa, eu quero ser igual a ela’, tipo, bate uma tristezinha... Só que ai eu penso isso, eu tenho que tipo, cortar e falar: ‘não, você não precisa ser bonita igual ela, você pode ser bonita igual você’. Porque são vários tipos de beleza e cada um tem a sua beleza. E, principalmente, com o que vem de dentro, né? Com as suas características de como você age, como você se comporta... [...] eu acho que beleza não é só o lance físico.”
“eu me conheço e eu me gosto o suficiente...
...pra não depender da opinião dos outros pra ser eu mesma”
“eu nunca fui uma pessoa de pensar no que eu tava vestindo pra ir pra faculdade, mas pra ir no estágio eu penso. [...] não é uma questão de criança, é uma questão de professores, de uma coordenação, no que eles pensam, [...] você depende da boa vontade das pessoas. Você não pode fazer alguma coisa que possa deixar elas incomodadas.”
“no meio da sua insegurança também ajuda muito ter uma pessoa que te apoie e que te mostre um outro olhar. [...] Ao mesmo tempo que você não pode levar em consideração absolutamente tudo, como se a palavra do outro fosse a lei, porque o que vai importar no final do dia é como você lida com o seu reflexo.”
“eu cheguei numa fase da vida que eu aceitei que meu corpo é esse e ele não vai mudar. Eu parei de crescer e eu to bem com ele assim.” “eu acho que eu sou bem resolvida assim. [...] quando eu era mais nova, eu me achava muito esquisita. E aí, porque eu me achava magrela e pequena e esquisita, mas eu abracei muito isso; falei assim: ‘nossa, eu sou esquisita, que legal. Eu esquisita então e é isso.”
“(o rosto) é o que pega mais, né? porque o seu rosto tá exposto o tempo todo para as pessoas” “acho que a percepção externa das pessoas ajuda também. Hoje em dia as pessoas me falam que eu sou bonita e isso dá uma ajudadinha na autoestima.”
“eu tenho essa dificuldade de aceitação de corpo nisso, que eu não sinto eu mesma. Mas, isso não me afeta num nível que eu fique mal: eu fico triste, às vezes eu penso ‘nossa, queria modificar isso’, mas, eu sei também que eu não faço tudo pra modificar isso, que eu não esgotei todas as minhas possibilidades ainda. Eu não sinto que sou eu, mas, é o que eu falei: também não sinto que é uma sentença.”
“nossa, eu ficava muito ‘ai que feio... que não sei que lá’; aí depois eu fiquei pensando ‘mano, quem tá reparando nisso aqui? Eu mesma, mais ninguém tá vendo” sobre rosto com espinhas:
“é sempre uma construção, né? Eu sinto que ainda to nessa construção de me importar, porque eu tenho essa pira de querer provar coisas para as pessoas, sabe? [...] só que, não tem muito isso, sabe? eu to certa de mim, eu sei o meu valor, então, tipo, não precisa sair buscando a aprovação de ninguém, sabe?”
“eu gostaria que alguém tivesse me falado, não em relação a aparência, mas em relação à tudo na vida, que eu não preciso ser a melhor em tudo e que eu não preciso ser certa, perfeita em tudo” “olha, tá tudo bem você ser o seu natural e não tem nada de errado com você só ser... sabe? Estar no corpo que você habita, sabe?”
“eu acredito que tudo que eu tive, tudo que eu passei quando criança, minha mãe foi de suma importância porque ela sempre esteve do meu lado e é assim que eu quero passar para as minhas sobrinhas, sabe? Eu posso não ser a pessoa, o exemplo de pessoa mais ou essas coisas, sabe? Mas, por exemplo, fazer de tudo para que elas se sintam bem com elas mesmas.”
São inúmeras as situações nas quais qualquer mulher já passou onde sua aparência exterior foi rebaixada, diminuída, rejeitada, humilhada ou negligenciada durante sua existência. Sejam quaisquer forem, elas foram causadas por parentes, amizades ou desconhecidos; foram espalhadas por diversos jeitos e por diferentes mecanismos. em muitos pontos, todas as mulheres são unidas envolta de mitos que nunca nos serviram, e, mesmo assim, também somos separadas por diferentes preconceitos que nos distanciam. Continua sendo o tempo para seguirmos lutando, sempre juntas, por uma realidade diversa, inclusiva e representativa de nossa imagem em nossa sociedade. Uma realidade onde possamos nos expressar como quisermos, amar como querermos, sermos quem somos. sem medo, preconceitos, injustiças ou hierarquias; sem sermos reduzidas ou limitadas a uma meia dúzia de coisas.
Passemos a exigir diversas versões de mulheres dentro de nossa sociedade. Que continuemos sempre aprendendo a olhar para outras mulheres e a abraçar as diferenças como queremos ser abraçadas. Que nos perdoemos por não sermos perfeitas, ideais ou as melhores. possamos ter mais empatia e compaixão por nós mesmas, para que possamos compreender outras. Nos olhemos com mais carinho e possamos estar dispostas a nos desprendermos das amarras do mito da beleza e de todo seu sistema; mais ainda, lembrarmos que todas nós somos diversas e únicas, assim como nossos processos dentro do autoconhecimento. A beleza tem que ser o que a gente quer que seja: inclusiva, abundante e liberta, como nós podemos e devemos ser.
agradecimentos às amigas, irmãs de coração e modelos Julia, Larissa, Nubia, Rafaella, Sophia e Thais. a todos e todas as pessoas que puderam contribuir de qualquer forma para a realização desse projeto. eu não pretendo parar por aqui e espero que outras mulheres possam adotar atitudes menos preconceituosas e hierarquicas em suas vidas.
à todas as mulheres Laura Castralli 2020