Holos: abordagem holística de requalificação do espaço urbano: centro cultural da espiritualidade

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HOLOS


Laura Maprelian Ruas

HOLOS Uma abordagem holística de requalificação do espaço urbano: Centro cultural da espiritualidade

São Paulo 2018


HOLOS. Uma abordagem holística de requalificação do espaço urbano - centro cultural da espiritualidade.

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO Apresentado ao Centro Univesitário Bela Artes de São Paulo Curso de Arquitetura e Urbanismo Prof. Orientador: Prof. Dr. Rafael Manzo

RUAS, Laura Maprelian. HOLOS: Uma abordagem holística de requalificação do espaço urbano - centro cultural da espiritualidade. São Paulo, DEZ 2018. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Centro Univesitário Belas Artes de São Paulo, São Paulo, 2018. 50 p. 1. Espiritualidade 2. Holismo 3. Fenomenologia 4. Arquitetura Sensorial 5. Requalificação urbana 6. Espaço ecumênico 7. Centro cultural


tempo perfeito. A minha irmã Lígia e meus pais Emerson e Noria. Sou grata por cada um de seus ensinamentos, pela nossa união, pelo companheirismo das horas boas, amparo nos momentos difíceis, pelo incentivo e confiança e nessa trajetória, tenha sido ela nebulosa ou não. Além de um muito obrigada, este trabalho fica como uma dedicatória aos três. Ao prof. Dr. Rafael Manzo, orientador desse trabalho. Por sua paciência e incentivo, sempre motivando o projeto adiante. Também agradeço a todo corpo docente de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes. Cada um à sua maneira abriu portas para me tornar mais do que arquiteta, cidadã. Em especial aos mestres Ivanir Abreu, Wagner Amodeo e Aline Nasralla pelo auxílio deste projeto, desde suas abstracões primordiais, além de todo o acompanhamento no decorrer do curso. Aos meus colegas Guilherme, Marcella, Pamela e Giselle. Pela presença constante no riso solto, nas lágrimas, na comemoração, no ouvido atento aos desabafos, aos trabalhos infindáveis e muito mais. Aos companheiros de Centro Acadêmico Joan Villà. Todos, individualmente especiais e repletos de razões. Sem dúvida um legado importante aos estudantes das próximas gerações.

AGRADECIMENTOS

Ao Universo, pela sua maestria em nos proporcionar tudo no espaço-


“Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada Agora não espero mais aquela madrugada Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada O brilho cego de paixão e fé, faca amolada”. Milton Nascimento, Fé Cega Faca Amolada


Conclusão...............................................................................51

Conceitos..................................................................................8

Referências Bibliográficas.......................................................52

Objetivo ..................................................................................12 Justificativa..............................................................................12 Metodologia.............................................................................14 Referências Projetuais............................................................16 Análise.....................................................................................22 Localização.............................................................................23 Análise Macro - Histórico........................................................24 Análise Macro - Eixos | Vias....................................................26 Análise Macro - Uso | Ocupação.............................................27 Análise Micro...........................................................................29 Legislação...............................................................................30 Levantamento Fotográfico.......................................................31 Projeto.....................................................................................32 Programa De Necessidades E Partido....................................33 Implantação.............................................................................35 Corte Esquemático..................................................................36 Plantas - Térreo Tabatinguera.................................................37 Plantas - 1º Pavimento............................................................38 Plantas - 1º Subsolo................................................................39 Plantas - 2º Subsolo................................................................40 Plantas - Térreo Carolina Augusta..........................................41 Plantas - Cobertura.................................................................42 Cortes - AA e BB.....................................................................43 Corte - CC...............................................................................44 Elevações - Norte E Sul..........................................................45 Elevações - Leste....................................................................46

SUMÁRIO

Introdução.................................................................................7


sistemas de fé. Não necessariamente sua fé estará atrelada a alguma tradição sacro-religiosa, pois é de nossa natureza primordial a crença naquilo que se desconhece e é intangível, que se faz de guia para continuar a jornada ‘vida’. Sendo de a natureza humana cultuar este hábito, é comum que ele esteja propenso a gerar conflitos quando não entende que há infinitas formas de demonstrar tal fé. A princípio estranheza, então intolerância ao ponto de chegar à extremos quando delitos ocorrem por conta dessa questão. Este trabalho surge de duas indagações: “por que existem conflitos de intolerância religiosa?” e “como Arquitetura pode lidar com essa questão?”. Sendo assim, impulsionado pelos questionamentos desenvolveu-se o Trabalho Final de Graduação denominado “Holos - Uma abordagem holística de requalificação do espaço urbano: Centro Cultural da Espiritualidade”. com a finalidade de idealizar um equipamento institucional de programa diverso. Inserido na zona central da cidade de São Paulo, entre Sé e Glicério, um complexo cuja função ambivalente de edificação e infraestrutura urbana busca trazer à tona a essência da vida, o espiritual.

INTRODUÇÃO

O ser humano tem como hábito depositar suas motivações vitais em


faith systems. Not necessarly its faith will be attached to any specific sacred religious traditions, since it is common to our prime nature the belief in the unknown or what is untainable, a guideline to keep on track to the journey called ‘life’. If it is part of human nature to worship this habit, usually people are more likely to generate conflicts when they do not understand that such faith can be expressed in infinite ways. At first oddness, then intolerance towards it may burst coming to a tension point when crimes or even murder happen due to the question. This paper suggests two inquiries: “why are there conflicts caused by religious intolerance” and “How could Architecture deal with this question?. Therefore, driven by the questioning it was developed the “Trabalho Final de Graduação” (final graduation work) entitled “Holos - Uma abordagem holística de requalificação do espaço urbano: Centro Cultural da Espiritualidade” (Holos - A holistic approach to the requalification of urban espace: Cultural Center of Spirituality) with the aim to conceive a institutional equipment with a diverse program of uses. Located in the Central Zone of São Paulo city, among Sé and Glicério neighborhoods, a complex which ambivalent function of edification and urban infrastructure seeks to bring up the spiritual, the essence of life.

abstract

The human being has the habit of laying all its vital motivations on


CONCEITOS ABORDAGEM HOLÍSTICA Holos, do grego, significa Totalidade. Abordar um assunto holisticamente significa explorar a relação interdisciplinar do todo em contraposição à particularidade dos detalhes. O paradigma holístico “representa uma revolução científica epistemológica que emerge como resposta à perigosa e alienante tendência fragmentária e reducionista do antigo paradigma” (CREMA pg 59, 1989) O pensamento moderno data do século XVI e XVII, a partir de nomes como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Francis Bacon. No século XVIII, René Descartes, filósofo e matemático francês, considerado fundador do racionalismo moderno repensa a Filosofia de sua época á Bacon. Eles constatam a afirmação responsável por quebrar com o dogmatismo de seu tempo: “penso, ergo sum” ou “penso, logo existo”. Descartes afirmava que “a análise mostra o verdadeiro caminho pelo qual uma coisa foi metodicamente inventada e revela como os efeitos dependem das causas.” (CREMA apud DESCARTES pg 32, 1989). Com sua fragmentação do homem em corpo e alma, estava estabelecido o dualismo na Filosofia. O paradigma cartesiano caracterizou a revolução científica. Sendo assim a interpretação de conhecimento do homem moderno, em especial no Ocidente, postula como estado natural uma consciência fragmentada, redutiva e mecanizada.

disseminavam para poder exercer domínio sob seus fiéis. No entanto, é um pensamento retrógrado. Teoria quântica, teoria da relatividade, entre outros pensamentos surgiram com a finalidade de mostrar um velho-novo paradigma mais abrangente: “Os conceitos de não-separatividade, de correlação, de teia de interconexão cósmica, de um todo matéria-mente, de uma unidade observador objeto, do holograma e do holomovimento demonstram categoricamente, que o homem faz parte da dinâmica do Universo, podendo agir sobre o mesmo, além do acaso e da fria causalidade [...] Homem e Universo encontram-se em indissolúvel diálogo e cumplicidade, respondendo-se mútua e instantaneamente, através de infindáveis eventos que se intercruzam. O Todo responde à minha indagação e minha própria pergunta faz parte do Todo. De alguma forma somos capazes de potencializar as mensagens cósmicas implícitas: o Universo não me é indiferente.” (CREMA pg 49, 1989)

Roberto Crema, no livro Introdução à visão holística: breve relato de viagem do velho ao novo paradigma demonstra que conceitos pertencentes ao paradigma certificam a participação do ser humano na dinâmica do Universo, e sua possibilidade de agir sobre o mesmo, além do acaso e causalidade. O precursor do pensamento holística atual foi o antigo primeiro ministro da África do Sul Jan Smuts, criador do termo Holism, divulgado em sua obra de 1926 Holism and Evolution, em que: “o caráter da unidade ou totalidade sintética que tudo permeia e que está em constante crescimento nestas estruturas nos leva a um conceito de Holismo como sendo a atividade fundamental subjacente e coordenando as outras, assim como a visão do universo como sendo um Universo Holístico.” (CREMA apud SMUTS, 1989, pg 61).

Galileu, Descartes, Bacon e Isaac Newton sem dúvida foram nomes

Segundo ainda Crema, tanto misticismo quanto ciência podem

revolucionários na história da humanidade. Elucidaram à humanidade

direcionar ao Universo Holístico pois fundamentalmente estão no propósito

diversas questões e fizeram com que um passo largo fora dado em tão curto

de direcionar à Unidade. O que o autor sugere, portanto é que diferente do

tempo, erradicando muitos dos medos que principalmente ordens religiosas

que o antigo pensamento apresenta, mística e ciência estão alinhados. 9


“O simples e óbvio fato de religião, etimologicamente, significar religação- atesta esse paralelismo. Por seu próprio caminho, em última instância, a física também nos religou, nos reconectou com a Totalidade indivisível, com a Unidade Cósmica. E o que é a mística se não a consciência e vivência não dual? [...] Pelo caminho necessário do intelecto, naturalmente com alguns milênios de atraso, os novos físicos tiveram que se deparar com um horizonte muito similar ao contemplado pelos antigos místicos. Um horizonte onde tudo é uno e inseparável, que transcende à visão dos opostos e se renova sempre, onde se pode viajar além do tempo e espaço, onde tudo se interpenetra e vibra numa eterna dança do infinito.” (CREMA pg 53, 1989)

FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO e ARQUITETURA SENSORIAL: Fenomenologia é uma corrente dos estudos de Psicologia, decorrente da Filosofia, que analisa os comportamentos humanos a partir de suas experiências individuais, considerando aspectos significativos da existência tais como sensações e percepções. Há diversos pensadores antecedentes, porém Maurice Merleu-Ponty traz o estudo da fenomenologia por uma ótica diversa, com enfoque determinante no indivíduo: “Eu não sou o resultado ou o entrecruzamento de múltiplas causalidades que determinam meu corpo ou meu ‘psiquismo’, eu não posso pensar-me como uma parte do mundo, como o simples objeto da biologia, da psicologia e da sociologia, nem fechar sobre mim o universo da ciência. Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por ciência, eu o sei a partir da minha visão de mundo ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência não podem dizer nada.” (MERLEAU-PONTY pg 3, 1999).

Em Olhos da Pele: a arquitetura dos sentidos, Pallasmaa declara que evidentemente a arquitetura que intensifica a vida é aquela capaz de provocar todos os sentidos simultaneamente, fundindo nossa imagem de indivíduos com nossa experiência do mundo. A suma de qualquer edificação extrapola o nível da arquitetura, redirecionando nossa “consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos. A arquitetura significativa faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados” (2005, pg 11). Tarefa não só da arquitetura, mas de qualquer arte significativa. Quando uma arte é experimentada, ocorre um particular intercâmbio entre as emoções e associações que o usuário fornece ao espaço e a aura que o espaço oferece em troca: “Uma obra de arquitetura não é experimentada como uma série de imagens isoladas na retina, e sim em sua essência material, corpórea e espiritual totalmente integrada. Ela oferece formas e superfícies agradáveis e configuradas para o toque dos olhos e dos demais sentidos, mas também incorpora e integra as estruturas físicas e mentais, dando maior coerência e significado à nossa experiência existencial.” (PALLASMAA, 2005, pg 11).

Dessa maneira, conclui-se como arquitetura, acima de todas as artes, é a que está mais envolvida com questões da existência e condição humana por ser o instrumento “de relação com o espaço e tempo, e para dar uma medida humana a essa dimensão” (PALLASMAA, 2005, pg 16). Domestica o tempo infinito e espaço ilimitado, cria pontes entre dialéticas de físico e espiritual, material e mental.

Juhanni Pallasmaa, renomado arquiteto finlandês, é autor das obras

Arquitetura que intensifica a vida é a sensorial. Esta enaltece a inter-

Os olhos da pele: a arquitetura dos sentidos e Essências. Tanto na primeira

relação dos sentidos e a experiência é a questão primordial. “Um passeio

quanto na segunda, o autor traz um ensaio geral tratando, assim como

na floresta é revigorante e saudável graças a interação constante de todas

Merleau-Ponty de fenomenologia, porém especificamente da arquitetura e a

as modalidades de sentidos” (2005, pg 39) e arquitetura sendo extensão

experiência humana no espaço arquitetônico.

da natureza na esfera antropogênica, embasa a “percepção e o horizonte 10


da experimentação e compreensão do mundo” (2005, pg 39). Sendo assim, toda experiência comovente com a arquitetura é multissensorial:

MITOLOGIA Mitologia não é estrutural na concepção deste trabalho. No entanto

“As características do espaço, matéria e escala são medidas igualmente por nossos olhos, ouvidos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos. A arquitetura reforça a experiência existencial, nossa relação de pertencer ao mundo, e essa é essencialmente uma experiência de reforço da identidade pessoal. Em vez de mera visão, ou dos cinco sentidos clássicos, a arquitetura envolve diversas esferas da experiência sensorial que interagem e fundem entre si.” (PALLASMAA, 2005, pg 39).

é relevante abordar seu significado. De acordo com Joseph Campbell, em o

Em oposição a esta ideia, há o que Merleau-Ponty denomina de

pela definição de dicionário seria: História sobre deuses. Isso obriga

“regime escópico perspectivalista e cartesiano [...] incorpóreo totalmente

a fazer a pergunta seguinte: Que é um deus? Um deus é a personificação de

desvinculado do mundo.” (PALLASMAA apud MERLEAU-PONTY, 2005,

um poder motivador ou de um sistema de valores que funciona para a vida

pg 20). Na qual a modernidade cultua a arte e arquitetura onde se faz

humana e para o universo – os poderes de seu próprio corpo e da natureza.

valer a hegemonia da visão, em que ocorre uma sucessão de imagens

Os mitos são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os

descontextualizadas em supremacia à experiência e percepção. Dando continuidade aos pensamentos de Os Olhos da Pele, em Essências, Pallasmaa através de ensaios, aborda a relevância da arquitetura evocar caracteres mais profundos da experiência, como memória e sensações. Sendo assim, se aproximar do incomensurável, o espiritual. “A função da arquitetura não é nos fazer chorar ou rir, mas nos sensibilizar para que possamos entrar em todos os estados emocionais. A arquitetura é necessária para criar o fundo de tela de projeção da lembranças e emoções. Acredito em uma arquitetura que desacelera e foca a experiência humana, em vez de acelerá-la ou difundi-la. Em minha opinião, a arquitetura deve proteger as memórias e proteger a autenticidade e independência da experiência humana.” (PALLASMAA, 2018, pg 31).

Poder do Mito, mitologia é um estudo com a finalidade de guiar o ser humano pela busca das respostas sobre a essência de sua existência, de proporcionar pistas para as potencialidades espirituais de sua vida. O autor define que mitos contam histórias e se repetem em diversas crenças culturais, de modo diferente, com uma base semelhante, por meio dos símbolos:

mesmos poderes que animam nossa vida animam a vida do mundo. Mas há também mitos e deuses que têm a ver com sociedades específicas ou com as deidades tutelares da sociedade.” (CAMPBELL, 1988, pg 24). Além disso, Campbell ainda atribui quatro funções ao mito. Compreendendo dessa forma uma dimensão mais abrangente a respeito de espiritualidade do que o sagrado atrelado à ordem e tradição religiosa. O conceito atribuido à Mitologia desenvolvido por Campbell é uma ideia conectada à visão holística do universo, do ser humano e do pensamento: “A primeira é a função mística – e é disso que venho falando, dando conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e vivenciando o espanto diante do mistério, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma mitologia. [...] A segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa – mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que

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cosmologia do mito

o mistério, outra vez, se manifesta. [...] A terceira função é a função sociológica – suporte e validação de determinada ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar. [...] Existe uma quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-lhe isso.” (CAMPBELL, 1988, pg 32).

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Figura 1: Diagrama ilustrativo conceitual “Semente da Vida” Diagrama ilustrativo da intersecção de conceitos que embasam o tema. Faz alusão ao símbolo de geometria sagrada a Semente da Vida, presente em diversas culturas tal qual o Templo de Osíris no Egito e a Cidade Proibida na China. Fenomenologia e Arquitetura sensorial são dois dos principais conceitos, as três ideias restantes são dissidentes de tais conceitos. A união dos conceitos é a abordagem holística. Fonte: Diagrama desenvolvido pela autora.

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OBJETIVO OBJETIVO ESPECÍFICO: Criar um espaço de cultura que enalteça a busca pela civilidade, unidade e transcendência, sendo assim, desvinculando o conceito de espiritualidade atrelado a específicas ordens religiosas que geram segregação e medo ao invés de unir e pacificar o ser humano em sua vida no plano terrestre. Um equipamento religioso, que propõe um espaço ecumênico em junção a atividades culturais, como uma proposta de sanar as questões de incivilidade e intolerância. OBJETIVOS GERAIS: Tal espaço visa garantir ao ser humano seu enlevo de estar vivo, e ser um espaço pedagógico além de cultural e ecumênico. Este proporcionará,

de sublimação, transcendência, seu enlevo de estar vivo, e provocar aos indivíduos sua percepção de autonomia e correlação no Universo que este habita. Porém isso não ocorre quando há conflitos ou crimes de intolerância religiosa, preconceito religioso, ou ódio. A notabilidade e diversidade da fé no Sagrado, ainda hoje, para a humanidade são ilustradas através de um panorama global pela agência estadunidense CIA no The World Factbook. Já no Brasil, é possível acompanhar uma estimativa semelhante, porém sem estatísticas específicas de acordo com dados coletados pelo censo do IBGE de 2010 em que se observa como é plural as manifestações religiosas em solo brasileiro. Além disso, é expressivo também em ambos casos nacional e global a quantidade das pessoas que se autoproclamam descrentes ou não pertencentes seja à religiosidade ou espiritualidade:

primordialmente, de maneira acessível educação sobre espiritualidade e tradições religiões diversas. Almeja também requalificar a área degradada do entorno onde se pretende inserir, apontando diretrizes de restauro de bens históricos tombados do mesmo sítio. O conjunto será uma arquitetura sensorial e holística, a qual está não apenas no âmbito do edifício, mas também do meio urbano onde se insere.

JUSTIFICATIVA Ao tratar sobre espiritualidade, a forma mais acessível de se chegar à temática é muitas vezes através da orientação das ordens religiosas. No entanto, uma vez que cada religiosidade estará agregada às suas crenças particulares e valores culturais, acaba por gerar segregação, além de questões como intolerância e incivilidade. Espiritualidade diz sobre tudo aquilo que é incomensurável e deveria regalar ao ser humano uma sensação

Gráfico 1: Diversidade global e nacional das religiosidades Fonte: Autoral

No contexto brasileiro, a Constituição determina que o Estado é laico. Dessa maneira desde 2009, com o Plano Nacional de Direitos Humanos estabeleceu-se entre os objetivos estratégicos o respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e laicidade do Estado. Criou-se então o Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa.

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Existe o ‘Disque 100’ – ‘disque direitos humanos’, ao longo de

Foi questionado sobre a religiosidade dos entrevistados. Em

2017 foram 537 casos de agressão por intolerância religiosa e casos de

primeiro lugar se eles seguem alguma e segundo se são simpatizantes.

discriminação religiosa chegaram a 210 no primeiro semestre de 2018. Em

Desses entrevistados, que seguem ou simpatizam, o grupo mais abrangente

44% dos casos de discriminação, as vítimas não informaram a religião que

foi em primeiro lugar Cristianismo, segundo nenhuma religiosidade e terceiro

seguem. Contudo, as de matriz africana são as mais atingidas. Ao todo,

Budismo. Foi interessante observar que há um numero mais expressivo de

16,19% das queixas foram feitas por seguidores da Umbanda. 41% das

pessoas que não seguem alguma religiosiodade em específico, porém tem

vítimas são mulheres.

simpatia por algumas crenças e espiritualidade de forma geral.

Para uma justificativa de estatísticas mais próximas à realidade, de uma média de pessoas não tão abrangente quanto a nacional ou global, foi desenvolvido um questionário com questões acerca da temática do trabalho. Foram 86 entrevistados, com idades entre 17 e 63, homens e mulheres, de grupos sociais diversos. A primeira questão perguntava sobre a crença dos entrevistados em Deus. 61,6% afirmaram que sim, enquanto 12,8% negaram e 25,6% talvez acreditem. Sobre o conceito de Deus, mais de 60% das respostas definiram isto como uma força maior, força sobrenatural criadora ou energia cósmica. Em relação a espiritualidade estar além de ordem religiosa, a grande maioria afirmou que sim: 82,6%, enquanto 8,1% negou e 5,8 não deu certeza ou respondeu de outra maneira.

Gráfico 2: Espiritualidade está além de ordem religiosa? Fonte: Autoral

Gráfico 3: Você segue alguma ordem religiosa? Fonte: Autoral

Gráfico 4: É simpatizante de alguma ordem religiosa? Fonte: Autoral

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Se os entrevistados acreditam na real convivência das diversas religiosidades, especialmente no Brasil, um país laico e totalmente plural de formação. Para 65,1% a resposta foi afirmativa, 9,3% disseram que não e 12,8% talvez. 12,1% Acreditam que sim, porém com contestações específicas. Outro questionamento foi posicionado aos entrevistados: se eles acreditariam na real e eficaz convivência, na qual haveria a necessidade de lidar com questões de intolerância e incivilidade sob o mesmo espaço, através do incentivo à celebração e culto ecumênico-espiritualista. Além disso, lhes foi questionado se a configuração de um espaço cultural-pedagógico onde o usuário possa não somente aprender e estar representado pelas suas crenças, mas também das crenças do outro é um incentivo às questões de civilidade e convivência? Das respostas, 68,2% concordam que sim com ambas questões, 20% talvez e 9,4% negaram.

METODOLOGIA A metodologia a qual orientou este trabalho foram as seguintes etapas: - ANÁLISE DO REFERENCIAL TEÓRICO: abordado nos conceitos eleitos. - ANÁLISE DO REFERENCIAL PROJETUAL: determinado pelos projetos arquitetônicos selecionados. - ELEIÇÃO DE UM LOCAL PARA IMPLANTAÇÃO; - ANÁLISE DO LOCAL DE IMPLANTAÇÃO; - DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE ATIVIDADES: a partir das referências teóricas e projetuais, e de um estudo acerca do local eleito para implantação, em suas características histórico-geográficas, morfológicas, legislação vigente, será elaborado um programa de atividades. - VOLUMETRIA: após desenvolvimento do programa, quantificado em áreas, foi elaborada uma volumetria prévia que comporte tal programa. - ADAPTAÇÃO: tal volumetria passou por uma série de adaptações, para a implantação mais adequada até chegar ao nível mais ilustrado e detalhado o qual era o objetivo deste trabalho.

Gráfico 2: Sobre convivência na realidade. Fonte: Autoral

Portanto, tendo em vista o cenário em conjunto à problemática, justifica-se o conjunto arquitetônico, não apenas respondendo ao seu dever social de arquitetura.

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REFERENCIAL


REFERÊNCIAS PROJETUAIS 1 - Capela de Campo Bruder Klaus, Peter Zumthor. FICHA

24 camadas sentou, o quadro de madeira foi incendiado, deixando para trás uma cavidade oca enegrecida e paredes carbonizadas.”(MÁRQUEZ, 2012)

Além dessa técnica, é notável o fato de a edificação não possuir cobertura, direcionando o olhar do usuário automaticamente para cima.

autor: Peter Zumthor local: Mechernich, Alemanha ano: 2007 materialidade: madeira, pedra e concreto. tipologia: religiosa “A fim de projetar edifícios com uma conexão de sensual para a vida, deve-se pensar em uma maneira que vai muito além da forma e da

Sendo assim, a capela fica vulnerável ao tempo: é possível vivenciar a luz solar, as estrelas, a chuva, e a cada época do ano aquele será um ambiente diverso. Nos dias ensolarados, este óculo remete simbolicamente à visão de Irmão Klaus no ventre. Por fim, ainda é possível declarar acerca do projeto que ele provoca inevitavelmente no espectador sentimentos sombrios e reflexivos.

construção.” (ZUMTHOR, 2006). A frase do arquiteto Peter Zumthor1 ilustra a filosofia que embasa sua arquitetura e fica ainda mais incontestável no projeto da capela Bruder Klaus, um marco na paisagem interiorana e isolada da cidade de Mechernich, Alemanha. Ao avistar o retângulo sóbrio no horizonte, mal se imagina o mistiscismo e despertar de sentidos que o interior desse espaço tem a proporcionar. Klaus Bruder é o santo padroeiro da cidade, e com a mão-de-obra dos agricultores locais, se executou esse projeto em sua homenagem. É um projeto simples, cujo programa é único, uma capela que mais remete a uma fortaleza, porém o trabalho com a experiência sensorial e a simbologia é um referencial único no que se trata de arquitetura religiosa contemporânea: “Os aspectos mais interessantes da igreja são encontrados nos métodos de construção, começando com uma tenda feita de 112 troncos de árvores. Após a conclusão da armação, as camadas de concreto foram vertidas e aplicadas no topo da superfície existente, cada um em torno de e 50 centímetros de espessura. Quando o concreto de todas as

Figura 2: Detalhe da Capela 1 Fonte: Thomas Mayer

Figura 3: Detalhe da Capela 2 Fonte: Thomas Mayer

¹ Arquiteto suíço, vencedor do Prêmio Pritzker de 2009, autor de obras como Termas de Vals e Serpentine Pavillion de 2011.

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“Sem encanamento, banheiros, água corrente, eletricidade, e com seu piso carbonizado de concreto e chumbo, a capela aparentemente não convidativa, continua a ser um destino antecipada para muitos.” (MÁRQUEZ, 2012). Klaus Bruder é o santo padroeiro da cidade, e com a mão-de-obra dos agricultores locais, se executou esse projeto em sua homenagem. É um projeto simples, cujo programa é único, uma capela que mais remete a uma fortaleza, porém o trabalho com a experiência sensorial e a simbologia é um referencial único no que se trata de arquitetura religiosa contemporânea: “Os aspectos mais interessantes da igreja são encontrados nos métodos de construção, começando com uma tenda feita de 112 troncos de árvores. Após a conclusão da armação, as camadas de concreto foram vertidas e aplicadas no topo da superfície existente, cada um em torno de e 50 centímetros de espessura. Quando o concreto de todas as 24 camadas sentou, o quadro de madeira foi incendiado, deixando para trás uma cavidade oca enegrecida e paredes carbonizadas.” (MÁRQUEZ, 2012).

Figura 4: Capela isolada na paisagem Fonte: Thomas Mayer

Além dessa técnica, é notável o fato de a edificação não possuir cobertura, direcionando o olhar do usuário automaticamente para cima. Sendo assim, a capela fica vulnerável ao tempo: é possível vivenciar a luz solar, as estrelas, a chuva, e a cada época do ano aquele será um ambiente diverso. Nos dias ensolarados, este óculo remete simbolicamente à visão de Irmão Klaus no ventre. Por fim, ainda é possível declarar acerca do projeto que ele provoca inevitavelmente no espectador sentimentos sombrios e reflexivos.

Figura 5: Óculo e paredes de concreto Fonte: Thomas Mayer

“Sem encanamento, banheiros, água corrente, eletricidade, e com seu piso carbonizado de concreto e chumbo, a capela aparentemente não convidativa, continua a ser um destino antecipada para muitos.” (MÁRQUEZ, 2012). 18


2 - IGREJA DE SÃO BONIFÁCIO, Hans Broos. FICHA autor: Hans Broos local: São Paulo, Brasil ano: 1965 materialidade: concreto armado tipologia: religioso Rua Humberto I, na Vila Mariana há quatro metros e meio do chão está uma caixa: um volume de 30x13m e altura de 7,25m, de concreto aparente sem símbolos (a cruz metálica que se encontra hoje na fachada

Figura 6: Igreja S. Bonifácio e a praça pública Fonte: Ricardo Amado

Figura 7: Interior da igreja Fonte: Ricardo Amado

foi adicionado posterior à concepção do projeto). Esse prisma eleva-se por quatro pilares esbeltos de 50x80cm, os quais recuam-se e se soltam da caixa, tocando o volume somente pela parte externa, formando um espécie de garra de concreto que abraça o prisma. “Esse volume que paira sobre a cidade descola-se da rua e do alinhamento das fachadas residenciais; um platô é conformado pelo vazio que a caixa cria ao se elevar, e a calçada entra pelo vazio, configurando uma praça coberta, que é também um mirante sobre o vale, enquadrado pela arquitetura de concreto. Aproveitando o desnível de quatorze metros e vinte e cinco centímetros dos fundos do terreno em relação à rua, abaixo do ângulo de visão, funcionam os setores administrativos, o centro social, a biblioteca e as moradias, em três pavimentos semienterrados, com pé direito de três metros.”

Figura 8: Implantação, distribuição do programa pelo desnível Fonte: Hans Broos

(Bielschowsky, Serraglio, 2014).

na parte superior funciona o templo, com pé direito duplo. A partir da união de dois programa solicitados, surge um terceiro - o espaço público praça que se forma abaixo do volume que se eleva e proporciona um mirante da cidade, pelo desnível existente do terreno. Além disso, a iluminação do prisma que se eleva acontece por conta de aberturas zenitais, trazendo a luz por claraboias e promovendo a atmosfera do espaço consagrado.

Figura 9: Implantação II - descolamento dos lotes vizinhos e elevação do volume que comporta a igreja Fonte: Hans Broos

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3 - VILA IMPERIAL KATSURA FICHA autor: desconhecido local: Kyoto, Japão ano: 1616-1660 materialidade: madeira, papel, pedra, módulos tatame. tipologia: habitação não-permanente. O zen-budismo surge na Figura 10: Salas do novo palácio. Destaque para os módulos de tatame. Fonte: Peter Blum

China e se difunde no Japão no século XIII. A essência do zen é a iluminação pela meditação. Na era

medieval japonesa, o zen se popularizou e passou a ser a corrente budista mais praticada pelas classes dominantes, portanto, influenciando todas as esferas culturais e principalmente a arquitetura.

Figura 11: Planta baixa da Vila Imperial Organizada em cata-vento, determinada pelas dimesões do tatame. Fonte: Pinterest

Em diversas edificações do Japão desse período, não há distinção entre a arquitetura secular e a sagrada. A Vila Imperial Katsura, um refúgio de campo, é o exemplo de mais destaque dessa arquitetura. Foi construída em etapas por três gerações de famílias nobres Hachijonomiya, e concebida para ser “usada ocasionalmente como um lugar para reflexão, relaxamento, trabalhos criativos e contemplação da natureza.” (FAZIO et al, 2011, pg 121). Os espaços internos ocorrem em função do módulo do tatame, já a estrutura de madeira de cedro japonês. A Vila Imperial é referência principalmente na questão conceitual de projeto, uma vez que a parte relevante desse conjunto edílico é o espaço que ele configura ao invés do construído em si, determinando a relação dos cheios

Figura 12: Vila Imperial Katsura Fonte: dozodomo.com

e vazios na qual o vazio se sobressai aos conceitos da filosofia zen-budista. 20


4 - SESC POMPEIA, Lina Bo Bardi FICHA autor: Lina Bo Bardi local: São Paulo, Brasil ano: 1986 materialidade: concreto, aço, alvenaria tipologia: espaço de lazer e cultural “Lina tem uma capacidade incrível de ir à essência das coisas [...] essa capacidade de improvisação, Figura 13: Planta baixa do SESC Pompeia Fonte: Archdaily

simplificação

e

inventividade

Figura 14: Três volumes novos anexados aos antigos galpões. Fonte: Laura Ruas

Figura 15: Memória do rio, adentra o galpão Fonte: Laura Ruas

Figura 16: Rasgos Detalhe da textura do concreto e “rasgos” na fachada que substituem esquadrias , janelas, peles de vidro, etc. vedados com painéis de madeira deslizantes, promovem ventilação e iluminação natural às quadras, além de um design característico. Fonte: Laura Ruas

Figura 17: Interior do galpão biblioteca de lazer : espaços de leitura inseridos dentro da área de convivência. Fonte: Laura Ruas

é

também característica da cultura

popular que impregna toda arquitetura de Lina Bo Bardi. Na essência a poesia, mas uma imaginação poética absolutamente vinculada às necessidades de sobrevivência material e espiritual da humanidade.” (OLIVEIRA, 2014, pg 48) Anexados aos galpões desocupados da antiga Fábrica de Tambores da Pompeia, surgem três volumes prismáticos que dão lugar as dependências do SESC Pompeia. Nos galpões funcionam a parte cultural e social, com, área expositiva que simultaneamente é um espaço multiuso, espaços de convivência, restaurante, biblioteca, teatro de arena. Já os edifícios novos abrigam a parte relacionada ao bem-estar e saúde física do usuário, como os espaços para prática de esportes e restaurante. Esse projeto é uma referência importante pois além da diversidade de seu programa, pré-requisito da instituição SESC, Lina marca a memória do patrimônio ao trazer a simbologia do rio que ali passava, e ao dar um uso específico para os galpões, sem apagá-los ou distanciá-los das novas construções, integrando-os. É um exemplo ímpar da arquitetura brasileira, dentro da cidade de São Paulo.

21


ANÁLISE


LOCALIZAÇÃO Para inserção do conjunto Centro Cultural da Espititualidade foi eleita a zona central da cidade de São Paulo. A priori, pela temática exposta no trabalho, não existiriam pré-requisitos de lugar específico, qualquer local da superfície terrestre seria suficiente para acolher a proposta, principalmente ambientes naturais como um meio rural ou meios naturais. No entanto, optou-se por ir em direção oposta ao pensamento e inseri-lo em meio urbano na metrópole global¹ São Paulo, a metrópole de maior relevância global do Brasil.

do distrito da Sé, em escala micro de intervenção, determinou-se dois lotes entre a Rua Tabatinguera e Carolina Augusta para inserção do conjunto edificado. Além disso, a quadra entre a Carolina Augusta e Conde de Sarzedas atenderá às mesmas diretrizes dos lotes superiores. Já na escala macro, toda a quadra entre Av. Conselheiro Furtado, Rua Tabatinguera e Conde de Sarzedas atenderá às diretrizes urbanísticas gerais, até as margens da Avenida Radial Leste. Dessa maneira, a zona central paulistana funciona como cruzamento. Para melhor desenvolver a proposta a ser implantada no local, foi realizada uma análise prévia da quadra e seu entorno. A começar pelos fatores históricos e consequentemente por demais determinantes, como configuração dos eixos viários, uso e ocupação do solo e legislação vigente.

Figura 19: Delimitação da quadra de intervenção Fonte: Google Earth, alteração autoral.

Em sua obra Imagem da Cidade, Kevin Lynch define o conceito de cruzamento: “Embora conceptualmente eles sejam pequenos pontos na imagem da cidade, podem, na realidade, ser largos de grandes dimensões, figuras lineares de certo modo extensas, ou até toda a área de um bairro central, SÉ

no caso de entendermos a cidade num nível lato.” (LYNCH, 2003, pg 84) É uma área de conexão, acessível a diversos públicos, através de diferentes possibilidades de modal e com grande relevância histórica. Parte

Figura 18: Diagrama de localização Fonte: diagrama autoral

23


ANÁLISE MACRO - HISTÓRICO Torna-se nebulosa uma compreensão da formatação atual do bairro da Sé caso não haja uma estreita conexão com o nascimento da cidade de São Paulo, uma vez que esses dois fatores estão diretamente interligados. Em Carta a Companhia de Jesus, José de Anchieta proclama: “[...] chegámos a 25 de Janeiro do ano do Senhor 1554, e celebrámos em paupérrima e estreitíssima casinha a primeira missa, no dia da Conversão do Apóstolo São Paulo e, por isso, a ele dedicámos a nossa casa.” (ANCHIETA, 1554).

Segundo Barros Ferreira, foi declarado, a partir da inauguração da casa sede do Colégio, a fundação da Vila de São Paulo de Piratininga. José de Anchieta era um dos integrantes da missão jesuítica comandada por Padre Manuel de Paiva, a mando de Padre Manuel da Nóbrega que havia tomado conhecimento dessas terras após subir de São Vicente ao planalto em 1553. Padre Manuel chegara com mais doze jesuítas, além de chefes das tribos indígenas Caiubi e Tibiriçá. O grupo coletivamente ergueu a primeira construção rústica: troncos, barro e cobertura de palmas. Aquela singela casa, era semente de tudo que brotava posteriormente, sendo que a Vila, foi progredindo paulatinamente e seguiu nos moldes coloniais até meados do século XIX. Em volta da vila instalada na colina entre os Rios Anhangabaú e Tamanduateí se fixaram os guainás. (FERREIRA). Sobre a primitiva casa sede da capela surgira uma igreja, acrescida de grande colégio e o Largo, o que é hoje conhecido pela área de Pateo do Colégio, embora a edificação existente não seja mais a original. Em volta crescia a povoação e meia dúzia de caminhos conectores desse meio, processo que levou dois anos e concluiu-se em 1556. Para assegurar a vila no topo da colina, instalou-se uma fortificação de pau-a-pique, no

intento de muralha, mas que acabara por funcionar praticamente como cerca. Desenvolvia-se em volta do trecho que ficou sendo conhecido como “Triângulo”, acompanhava o alto da ladeira íngreme em cuja base se desenvolveu séculos depois a atual Rua Libero Badaró. Assim começou São Paulo. Crescia ao redor da freguesia, igreja e Casa do Colégio. No século XVII cabia dentro da colina inicial limitada claramente por barreiras geográficas, o relevo e os rios Anhangabaú e Tamanduateí. Nas extremidades desses limites, estavam os conventos e seus respectivos largos: São Bento, Carmo, São Francisco. Desde 1554 até 1810, a vila progrediu notavelmente. Já existia uma série de edificações importantes tal qual a Casa de Câmara, igrejas do Carmo, São Bento, São Francisco, Santo Antônio, igreja Matriz, Capela dos Aflitos, primeiro cemitério, os largos, barragem na Ladeira do Carmo para controlar os deslizamentos e uma conseguinte ponte de madeira que atravessava o Rio Tamanduateí, entre outras pequenas edificações. Porém o crescimento vagaroso no período de 250 anos aconteceu de maneira muito mais acelerada no século XIX. Fatores importantes desse recorte espaço-temporal justificam como a Vila em 100 anos adquiriu aspecto de metrópole. São eles a revolução industrial, o boom da produção cafeeira, a inauguração da estrada de ferro São Paulo Railway Santos-Jundiaí, o surgimento da Academia de São Francisco e do primeiro jornal da cidade. O surto cafeeiro, de acordo com Barros Ferreira, foi o “maior fenômeno agrícola do século” (1971, pg 23) que trouxe consigo grandes levas imigratórias de mão-de-obra europeia ao Sudeste brasileiro. Após sua inauguração em 1867, a ferrovia São Paulo Railway alavancou o escoamento 24


de mercadorias até o Porto de Santos, dos quais o principal produto era o café.

(FERREIRA, 1971, pg 49) e em 1913, a partir do projeto liderado pelo

Além disso, tinha a finalidade de transportar pessoas, como os imigrantes.

engenheiro alemão Maximilian Hehl, dá-se início a construção da Catedral

Nesse mesmo contexto, aparece a Rua Tabatinguera. Anteriormente,

da Sé em estilo neogótico, como hoje se conhece.

conhecida como Rua Detrás da Boa Morte pois ficava na parte posterior

Outro marco do século XX, além da expansão da cidade em direção

à Igreja de Boa Morte. Após, recebeu duas denominações por segmentos.

ao Centro Novo: bairros De Campos Elíseos, República e Higienópolis, fora

Ladeira da Tabatinguer, entre o Beco Sujo e a Passagem de Tabatinguera,

a oficialização do plano de avenidas a partir da década de 1940. Inaugurado

e Rua da Tabatinguera. A mudança nominal oficial veio apenas no século

pelo então prefeito e engenheiro Francisco Prestes Maia, o sistema radial-

XX quando “ladeira e rua passaram a constituir uma coisa só. Uma rua só,

concêntrico de avenida em fundo de vale, retificou e canalizou rios e córregos,

desde 28 de março de 1914, por força da Lei 677.” (FERREIRA, 1971, pg

para dar espaço aos leitos carroçáveis. O carro a partir dessa época,

80). A planta de 1881, ilustra como essa via era um dos limites do bairro

conquista sua supremacia como modalidade de transporte tanto globalmente

da Sé. As terras além dessa área, em sentido sul, já eram parte do bairro

quanto no Brasil. (FERRREIRA)

da Liberdade e à leste, bairro do Braz. Pela mesma ilustração, também é possível compreender os meandros do Rio Tamanduateí e como as áreas mais planas, abaixo da colina, são várzea do mesmo.

Um fato histórico relevante do entorno imediato da Rua Tabatinguera é a formação da Vila Sarzedas, sobrados hoje que se encontram em uma Zona Especial de Proteção Cultural, segundo a lei de zoneamento 16.402/16 decorrente do Plano Diretor Estratégico. Tais sobrados eram ocupados principalmente por imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil no início do século XX.

Figura 20: Várzea do Carmo Aquarela produzida por Arnaud Julien Pallière, em 1821. Fonte: Wikimedia

Figura 21: Planta da Cidade de São Paulo, 1881 Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento.

A chegada do século XX configura um cenário de transformações mais abruptas para a metrópole alcançar o status de modernidade. Os traços coloniais foram lentamente se apagando, dando lugar à linguagem

“As imagens em preto e branco apresentam uma arquitetura residencial que se estabelece ao redor da Rua Conde de Sarzedas e travessas, com maior expressão, a partir da década de 1910. Inclui ainda os registros da Vila Sarzedas, com casario térreo, com padrão arquitetônico simplificado, encontrado em vilas operárias no mesmo período. Em complemento, o registro da Rua Carolina Augusta, que corresponde à antiga vila homônima, trecho que integra o segundo bloco de maior concentração de japoneses segundo o ensaio de Araújo acima apresentado (1940). Observe ao fundo, parte dos espigões residenciais ao final da Rua Conde de Sarzedas.” (MENDES)

neoclássica ou eclética. Um exemplo é a construção do zero da nova Igreja Matriz, a Igreja da Sé. “A cidade enriquecida procurou melhorar seu templo” 25


De acordo com Ricardo Mendes, o primeiro grupo de imigrantes japoneses chega ao porto de Santos em 1908, após diversos tratos entre o governo japonês e paulista, com a intenção que esta nova mão de obra fosse aplicada na agricultura. Houveram problemas na adaptação e muitos dos imigrantes que já tinham sua profissão, que não o trabalho agrícola, acabaram optando por permanecer na cidade ou logo abandonaram o trabalho nas fazendas. São Paulo passou então a acolher muitos desses imigrantes que deixaram seus trabalhos nas lavouras. A maioria solteiros sem emprego fixo ou casais que o homem exercia uma profissão fora de casa e a mulher como empregada doméstica. Na impossibilidade de ter sua própria casa, esses casais alugavam sobrados e sublocavam os quartos para outras pessoas. Por este motivo era comum a busca por sobrados com muitos quartos e

Figura 22: Sobrados da Vila Sarzedas e Fórum ao fundo Fonte: IGEPAC, 1987

porões independentes. Estes, por sua vez, devido a reformulações na urbanização da cidade, eram encontrados principalmente na região da rua Conde de Sarzedas. Desta forma começam a surgir as pensões. E logo essa concentração de pessoas deu origem as primeiras barbearias, mercearias e restaurantes japoneses (MENDES).

Figura 23: Vila Sarzedas, entre as Ruas Tabantiguera e Conde de Sarzedas, 1984. Fonte: IGEPAC, 1987

26


ANÁLISE MACRO - eixos | vias Para

uma

análise

macro,

determinou-se um raio de 1km a partir da Rua Tabatinguera, no lote eleito de inserção do projeto. Em primeira vista, é possível determinar que existem diversas vias EXPRESSAS

D

no entorno do lote, tais como a

4

Avenida do Estado [1], Radial Leste [2], 23 de Maio [3], Nove de Julho

C

[4], Avenida Rangel Pestana [5]. A

A

5

maioria dessas vias são conexões entre leste-oeste da cidade. O que é notável também,

3 R. Tabatinguera Área de projeto VIAS EXPRESSAS

1 B

é

proximidade

com

pedestrianizadas

do

as

ruas

Triangulo

Histórico de formação da cidade e a quantidade de outras ruas na mesma

2

tipologia que acabam por conformar um grande quantidade de praças no

VIAS COLETORAS

entorno. VIAS LOCAIS

Além disso, a região é bem servida de transportes. Dentro desse

VIAS PEDESTRIANIZADAS

mesmo raio há 3 estações de metrô:

ciclofaixas RIO TAMANDUATEÍ Estação de metrô; terminais de ônibus

Figura 24: Raio de 1 km - estudo viário Fonte: Autoral, mapa do geosampa.

Sé [A], Liberdade [B] e Dom Pedro II [C], além do terminal de ônibus Parque Dom Pedro II [D]. 27


ANÁLISE MACRO - uso | ocupação A Rua Tabatinguera é conhecida como a ‘rua das essências. Nessa região existe um grande

8

comércio de essências e produtos derivados para confecção de perfumes, cosméticos, artesanatos e etc. Além disso na Rua Conde de Sarzedas, caminho para Igreja Pentecostal Deus é Amor [1] existe um comércio de artigos religiosos tal como bíblias, figuras, estatuetas, roupas adequadas para assistir os cultos das religiões protestantes e etc.

7

A quantidade de instituições religiosas no raio

6

5

de 1km é expressiva. Podemos ver além da Igreja Pentecostal Deus é Amor, a Igreja Nossa Senhora

4

3

da Paz [2] que abriga os refugiados na região do Glicério, Igreja Jesus e Santa Luzia [3] (tombada

2 9 R. Tabatinguera

1

10

da Boa Morte [4], Catedral da Sé [5], Igreja Nossa Senhora do Carmo [6], Igreja de São Francisco de Assis [7], Igreja de São Bento [8], Igreja Presbiteriana

Área de projeto

Coreana [9], Templo Budista Lohan [10].

TRIÂNGULO HISTÓRICO

Também é notável a quantidade espaços

TRIÂNGULO DAS IGREJAS

públicos na imediações, é possível ver na ilustração

Instituições religiosas ou culturais

em manchas de coloração verde-água todo esses espaços. Porém elas se concentram na região

Praças, canteiros, espaços públicos abertos Estação de metrô; terminais de ônibus

pelo patrimônio histórico), Igreja Nossa Senhora

central, enquanto no Glicério há uma carência Figura 25: Raio de 1 km - uso e ocupação Fonte: Autoral, mapa do geosampa.

desses espaços. Sendo assim, a escolha do terreno visa inteligar uma a outra. 28


ANÁLISE MICRO Como ilustra a imagem de

satélite,

a

concentração

de

áreas verdes é muito mais intensa na região do bairro da Sé e faz diminuindo exponencialmente em direção à Baixada do Glicério. As quadra demarcada em roxo é a área de intervenção, justamente metade desse percurso que vai dos espaços verdes aos mais áridos. A

partir

dessa

questão

possível determinar uma diretriz primordial:

conexão,

fruição

e

permeabilidade.

Figura 26: Áreas verdes Fonte: Autoral a partir de imagem de Google Earth. área de projeto

29


LEGISLAÇÃO De acordo com o quadro 3, anexo integrante à Lei nº 16.402, de 22 de Março de 2016, proveniente do Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, os parâmetros de ocupação adotados para ZEIS-31 são: TO (taxa de ocupação): 0,7 (máximo) CA (coeficiente de aproveitamento): 0,5 (mínimo) 1 (básico) | 4 (máximo) Gabarito: não se aplica Recuos: 5 metros frontal; 3 metros posterior e lateral caso a edificação ultrapasse 10 metros.

Figura 27: Possíveis implantações Possíveis implantações para atender a taxa de ocupação de 70% da área total do terreno. Caso fora seguido a risca tal proporção, o lote ficaria totalmente adensando. Tendo sido então readaptado Fonte: Autoral

O lote eleito está numa área de ZEIS-3

Figura 28: Macrozonas, ZEPECs, ZEPECs-BIR Fonte: Geosampa

No entanto, o lote eleito para intervenção

áreas ou lotes com valor histórico, arquitetônico,

enquadra-se também em uma ZEPEC-BIR

paisagístico, artístico, arqueológico e cultural.”

(ilustrado em vermelho no mapa -fig.29).

(GESTÃO URBANA).

De acordo com a Gestão Urbana SP,

Portanto, a justificativa de inserir um

ZEPECs são “Zonas Especiais de Preservação

equipamento institucional nesse lote também

Cultural, destinadas à preservação, valorização e salvaguarda dos bens de valor histórico, artístico, arquitetônico,

arqueológico

e

paisagístico,

(amarelo no mapa de Macrozonas - fig.28) segundo

doravante definidos como patrimônio cultural”

o Plano Diretor Estratégico de São Paulo. ZEIS são

(GESTÃO URBANA). A ZEPEC-BIR é um dos

a princípio Zonas Especiais de Interesse Social, cujo

quatro tipos existentes de ZEPECs e diz respeito

uso predominante é destinado a habitações sociais.

à Bens Imóveis Representativos e “tem como objetivo preservar bens tombados e elementos

1 Para lotes com áreas superiores à 500m².

Figura 29: Macrozonas Fonte: Geosampa

construídos, edificações e suas respectivas

vai

de

acordo

com

Legislação

prevista.

Preservar o conjunto da Vila Sarzedas em sua instância arquitetônica, porém alterando o uso dos cortiços que ali estão até o momento e realocar as famílias para as proximidades onde há maior incetivo de Zonas de Interesse Social. Garantindo então a elas dignidade e qualidade de moradia. 30


levantamento fotogrĂĄfico

Figura 30: Rua Carolina Augusta Fonte: autoral

Figura 31: Esquina da Rua Carolina Augusta com JoĂŁo Carvalho Fonte: autoral

Figura 32: Rua Carolina Augusta Fonte: autoral

Figura 33: Rua Tabatinguera Fonte: autoral

Figura 34: Rua Tabatinguera. Igreja Jesus e Santa Luzia Fonte: autoral

Figura 35: Rua Tabatinguera Fonte: autoral

Figura 36: Rua Tabatinguera. Igreja Nossa Senhora da Boa Morte Fonte: autoral

Figura 37: Rua Conde de Sarzedas Fonte: autoral

31


PROJETO


Programa de necessidades e partido

O programa é dividido em três principais partes: Templo, Cultural e Social. Partindo do templo ecumênico, um teatro de arena, como enfoque central do projeto. O restante se ramifica a partir deste referencial. Pelo complexo tratar de Espiritualidade à maneira holística, buscou-se conceber um programa em que o usuário é instigado através de diversas atividades estar conectado aos valores espirituais. Não necessariamente apenas pelo culto e celebração ecumênicos. setor ‘templo’ delimita a função específica de cultuar o imaterial, o incorpóreo ou espiritual através de celebrações ou práticas religiosas diversas, sendo assim, majoritariamente o culto ecumênico-espiritualista. Já o setor ‘cultural’ são espaços de exercício e prática do conhecimento existentes na cultura que permeia o contexto onde se insere o edifício e ao mesmo tempo instiga o usuário a descobrir das crenças de grupos diversos. O setor social se intersseciona com o cultural em termos de ambos serem os mais amplos, abrangentes e captarem grandes portes de público. O social tem a diferença de promover outras atividades, tal como o restaurante.

Figura 38: Diagrama ilustrativo da setorização do programa Fonte: autoral

33


Além disso um complexo de espaços e instalações que conjuga atividades relacionadas às expressões artísticas, às expressões do corpo, auto conexão e bem-estar social. O setor ‘social’ está destinado a receber atividades onde haja estreita correlação e convivência de pessoa. São espaços amplos e abertos, não obrigatoriamente atrelado ao espiritual, no entanto ao seu oposto: o corpóreo e o momento instantâneo das relações humanas. Em consequência ao partido de o setor ‘templo’ funcionar como elemento conector central do projeto, três elementos deram origem às fundamentações do complexo: abstração, luz natural e o percurso. Abstração em questão da volumetria e materialidade a qual se almejaria alcançar, portanto a opção pelas formas declaradas como os prismas horizontais, o cilindro central que abriga o Templo e o material como concreto em sua textura e cor aparentes. Luz natural da força incomparável que esta possui para enaltecer a vida e propor aos usuários tantos questionamentos sobre a mesma, provocando sensações e percepções. Percurso, através das rampas e passarelas: rampas circulares no interior do volume cilíndrico, rampas que acessam um pavimento ao outro e passarela que costuram os blocos,

Figura 39: Programa de necessidades Fonte: autoral

promovendo a integração.

34


IMPLAntação

Este Masterplan, visa mostrar o complexo Centro Cultural da Espiritualidade inserido em meio a seu entorno imediato, um raio de 500m. Além do complexo foram determinadas diretrizes de uso e ocupação do solo para áreas ainda não consolidadas das proximidades, com enfoque no incentivo a zonas de uso de Habitação de Interesse Social, como já prevê o Plano Diretor Estratégico, pois é uma necessidade do local. A seguir, estarão as plantas, cortes e elevações do projeto para melhor compreensão do todo.

1 2

3

HIS RESIDENCIAL INSTITUCIONAL COMERCIAL SERVIÇOS USO MISTO PRAÇAS

Figura 40: Masterplan Fonte: autoral

1- PRAÇA - reconfiguração do estacionamento do Tribunal de Justiça 2- EDIFÍCIO - verticalização do estacionamento e realocação da quadra do Sindicato dos Bancários. 3 - PRAÇA

35


corte esquemático - RUA CONDE DE SARZEDAS

centro cultural da espiritualidade r. conde de sarzedas

r. conselheiro furtado

r. tabatingera

r. glicério

praça

estacionamento vertical tribunal de justiça

quadra sindicato dos bancários (realocação)

36


plantas - Térreo Tabatinguera: +753.00

A- RECEPÇÃO B- PRAÇA COBERTA C- RAMPA DE ACESSO D- SANITÁRIOS E- ESPELHO D’ÁGUA F- PASSARELA G- ACERVO FIXO H- TETO-JARDIM

Figura 41: Planta Térreo Tabatinguera Fonte: autoral

37


plantas - 1º pavimento: +761.00

E

B

A

G F

H

I

D

C A- RAMPA DE ACESSO B- RESTAURANTE C- COZINHA D- DEPÓSITO E- BALCÃO DE INFOS. F- LIVRARIA e CONVENIÊNCIA G- ESTAR E CONVIVÊNCIA H- PASSARELA I- TEATRO DE ARENA (templo ecumênico)

H

Figura 42: Planta Primeiro Pavimento Fonte: autoral

38


plantas - 1º subsolo: +746.00

A- ACERVO FIXO B- ACERVO TEMPORÁRIO C- RECEPÇÃO BIBLIOTECA e ARMÁRIOS D- ACERVO BIBLIOTECA E- MIDIATECA F- ESPAÇO DE LEITURA G- FOYER e CAFÉ H- SALA DE PROJEÇÕES I- AUDITÓRIO MEZANINO J- AUDITÓRIO INFERIOR

Figura 43: Planta Primeiro Subsolo Fonte: autoral

39


plantas - 2º subsolo: +742.00

A- COSTURA e TAPEÇARIA B- PINTURA e DESENHO C- GRAVURA D- PERFORMANCE E- ESCULTURA F- LABORATÓRIO AUDIOVISUAL G- SALA DE ESTUDOS H- JARDINAGEM I- INFORMÁTICA J- AUDITÓRIO INFERIOR K- FOYER

Figura 44: Planta Segundo Subsolo Fonte: autoral

40


plantas - Térreo Carolina Augusta: +735.00

A- CURADORIA (quarentena) B- RESERVA e FACILIDADE TÉCNICA C- ADMINISTRAÇÃO D- ALMOXARIFADO E- SANITÁRIOS e VESTIÁRIOS FG- VEÍCULO DE CARGA H- ESTACIONAMENTO I- PRAÇA COBERTA

Figura 45: Planta Térreo Carolina Augusta Fonte: autoral

41


plantas - Cobertura: +765.00

Figura 46: Planta Cobertura Fonte: autoral

42


cortes - AA e BB

Figura 47: Cortes AA e BB Fonte: autoral

43


corte - CC

Figura 48: Cortes CC Fonte: autoral

44


elevaçÕes - Norte e Sul

Figura 49: Elevações Norte e Sul Fonte: autoral

45


elevaçÕes - Leste

Figura 50: Elevações Leste Fonte: autoral

46


vistas

Figura 51: Vista VĂ´o de PĂĄssaro Fonte: autoral

47


vistas

Figura 52: Vista da Rua Tabatinguera Fonte: autoral

48


vistas

Figura 53: Vista Teatro de Arena Fonte: autoral

49


uma revolução do velho paradigma. Apesar de seu conceito teórico abordar de fato temas holísticos, os quais se transpõem ao projeto arquitetônico, não há como se desvencilhar por completo da lógica racionalista. O projeto parte de bases cartográficas cartesianas, de planos e gráficos cartesianos e leis mecânicas para seu funcionamento primordial. Em adição, a nenhum momento o propósito deste trabalho foi de atestar a veracidade de Deus ou qualquer tipo de forma-força sobrenatural que crenças e culturas profetizaram ao longo dos séculos nas suas tradições. Ao contrário de ditar verdades, o projeto almeja instigar desde um ateu até um crente fiel, por isso a abrangência de um programa diverso em busca da civilidade o qual se permeia por uma arquitetura sóbria. Aparentemente inexpressiva, a qual opta por deixar o ambiente que lhe circunda falar mais alto com feixes de luz que irradiando zenitalmente, forte influência paisagística (este já alterado intencionalmente) com água corrente onde não se estaria acostumado juntamente a pequenos lagos, frescor de sombra da copa das árvores, brilho e cheiro fresco das plantas diversificadas, textura dos cascalhos e pedras, do concreto aparente. Este trabalho fica como um ensaio, baseado em outros ensaios, para mostrar a capacidade da arquitetura em provocar experiências. No conjunto proposto, o edifício não é protagonista, no entanto seu potencial de trazer questionamentos ou posicionamentos filosóficos os quais não se busca rotineiramente na prática do cotidiano fica como o verdadeiro objetivo alcançado. Além disso, a consequência de obter êxito na quebra de paradigmas insensatos à vida harmônica tal qual medo e intolerância. Afinal, se podemos questionar, de fato, algo da nossa vida e condição humana é de que essa é aqui e além.

CONCLUSÃO

Em primeiro lugar, seria de grande pretensão tratar este trabalho como


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