Arroz, um alimento cheio de sabor e saúde
O arroz é um dos cereais mais produzidos e consumidos no mundo. É o principal alimento para mais da metade da população mundial.
É uma excelente fonte de energia, devido à alta concentração de amido, fornecendo também proteínas, vitaminas, fibras e sais minerais
No Brasil, o consumo per capita é de 100g por dia. Considerando o Valor Diário de Referência (DRV), o arroz integral fornece:
163%
Manganês Magnésio
34%
Vitamina B1
33% Vitamina B2
7% 32%
Vitamina B3 Fósforo
27%
Carboidrato
25%
Proteínas
15%
Ferro
8%
Potássio
5%
Lipídios 4,5% Cálcio 2%
COPRODUTOS DE ARROZ
Sódio 0,35%
A farinha de arroz é rica em proteína e vitaminas do complexo B, não contém glúten e é de fácil digestão. O óleo de arroz é rico em ômega6, ômega-9 e em gama-orizanol, um antioxidante presente no óleo de farelo de arroz.
O arroz apresenta efeito positivo na prevenção de diversas doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, devido a diferentes vitaminas, fibras e fonte de energia.
FERRO
DIABETES
Ajuda o corpo a usar o oxigênio.
Controla a glicemia.
MÚSCULOS
FÓSFORO E CÁLCIO Ajuda a fortalecer os ossos e dentes.
Quando consumido com o feijão torna-se uma fonte protéica de boa qualidade, semelhante a carne.
NÃO TEM GLÚTEN Recomendado para os celíacos. PREVINE DOENÇAS CARDIO Reduz os níveis de pressão arterial.
INTESTINO É rico em fibras capaz de reduzir o risco de câncer de intestino.
B Instituto Rio Grandense do Arroz
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Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
VITAMINAS DO COMPLEXO B contribuem para a manutenção da saúde da pele, unhas e cabelo.
EDITORIAL
Orgulho em ser protagonista da lavoura arrozeira
A Lavoura Arrozeira é uma publicação do Instituto Rio Grandense do Arroz – Irga Av. Missões, 342 – Porto Alegre/RS – Brasil CEP 90230-100 – Fone + 55 (51) 3288-0400 www.irga.rs.gov.br www.facebook.com/IrgaRS - @irgaRS ISSN:0023-9143 Governador do Estado: José Ivo Sartori Vice-governador: José Paulo Cairoli Secretário Estadual da Agricultura Pecuária e Irrigação: Ernani Polo Presidente do Irga: Guinter Frantz Diretor Administrativo: Renato Caiaffo da Rocha Diretor Comercial: Tiago Sarmento Barata Diretor Técnico: Maurício Miguel Fischer Assessoria de Comunicação: Sérgio Pereira, Raquel Flores e Taís Forgearini. Revista Lavoura Arrozeira Conselho Editorial: Athos Dias de Castro Gadea, Camila Pilownic, Francisco Alexandre de Morais, Jaime Aquino Staffen, Raquel Flores, Ricardo Machado Kroeff , Sérgio Pereira, Tânia Dias Nahra e Victor Hugo Kayser. Fotografia: Sérgio Pereira, Luciara Schneid, Julie Moresco da Silva, Raquel Flores, Sara Kirchhof, arquivo Irga, divulgação de empresas, produtores e entidades, Governo do RS Produção e execução: Edição: Sérgio Pereira Cleiton Evandro dos Santos Textos: Sérgio Pereira, Cleiton Evandro dos Santos, Milos Silveira, Julie Moresco da Silva e Sara Kirchhof. Diagramação: Tiago Schoenfeld Revisão: Simone Kieffer Hunter Colaboração: Carolina Pitta, Gilberto Amato, Victor Hugo Kayser, Tiago Barata, Athos Gadea, Renato Rocha, Maurício Fischer, Jossana Cera e Rodrigo Schoenfeld Impressão Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag) Tiragem: 9.000 exemplares Atendimento ao leitor: revista@irga.rs.gov.br +55 51 3288-0455 Para assinar gratuitamente a revista Lavoura Arrozeira acesse: www.irga.rs.gov.br/assine É permitida a reprodução de reportagens, desde que citada a fonte. Os artigos assinados não refletem, obrigatoriamente, a opinião da revista.
N
os últimos 15 anos a lavoura de arroz do Rio Grande do Sul promoveu uma grande evolução produtiva graças a ações como o Projeto 10 e uso de tecnologias importantes, como cultivares de maior potencial e resistentes a herbicidas, boa parte delas do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Ajustes do manejo, avanço nas exportações, entre outros fatores importantes colaboraram para esta realidade. O Irga é um dos grandes protagonistas desta mudança, da construção deste perfil que colocou a orizicultura gaúcha em novo patamar, dentre as mais produtivas e eficientes do mundo. Ainda assim, temos espaço para melhorar, reduzir os custos, retomar a rentabilidade e buscar a viabilidade sustentável da lavoura. Cabe ao Instituto manter seu papel histórico de protagonista dando suporte às direções, tendências e tecnologias que auxiliem o orizicultor ou facilitem a missão de produzir um alimento nobre e assegurar renda. Dentro e fora da porteira. No momento em que entramos de vez na safra 2017/18, convém enfatizar os importantes projetos que serão abordados ao longo desta publicação e que estão entre os prioritários na transferência de tecnologia, do conhecimento para tornar o agricultor mais eficiente. Nesta edição destacamos avanços em quatro programas relevantes: o Projeto 10+, que visa reduzir as la-
cunas produtivas e custos de produção; o Projeto Soja 6000, que busca a intensificação do uso das áreas arrozeiras com sustentabilidade, integrando-as a um manejo eficiente da soja; o Programa de Valorização do Arroz (Provarroz), que objetiva alcançar e conscientizar os consumidores quanto às vantagens nutritivas e a importância do grão na boa alimentação e para a saúde; e por fim, mas não menos importante, o Projeto de Boas Práticas de Gestão que é desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Programas que nas últimas temporadas tiveram também o desafio de qualificar nossa jovem equipe de técnicos, hoje plenamente apta a gerar e transferir conhecimentos à lavoura. Temos certeza que com um agricultor mais eficiente em todas as etapas do planejamento, produção e comercialização, com a lavoura sustentável, diversificada e integrada onde é possível, e um consumidor consciente, teremos um futuro mais promissor. Por essa razão o Irga se mantém focado nestas iniciativas, em sintonia com a cadeia produtiva. Que a próxima safra seja farta em resultados, em aprendizado e renda. Boa leitura! GUINTER FRANTZ Presidente
Sumário Interatividade....................................5
Integração.......................................34
Expointer 2017.................................6
Gestão............................................36
X CBAI..............................................9
Recursos humanos.........................38
Expoarroz.......................................12
Institucional.....................................40
Entrevista........................................14
Mercado..........................................42
Provarroz........................................16
Artigos técnicos..............................43
Capa...............................................22
Clima..............................................46
Projeto 10+.....................................26
Gente do arroz................................51
Soja 6000.......................................30
História do arroz.............................52
Safra...............................................33
Almanaque.....................................54 Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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EXPOINTER 2017
O arroz integrado à festa da pecuária Espaço da autarquia é referência da orizicultura no Parque Assis Brasil
A
maior exposição internacional de pecuária da América Latina consolidou entre suas tradições a presença da cadeia produtiva do arroz no evento. Em 2017, durante a 40ª Expointer, não foi diferente: o Dia do Arroz aconteceu em 28 de agosto, promovido pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), ganhando espaço e ainda mais projeção na programação geral. “A cadeia produtiva já tem a Casa do Irga como seu ponto referencial no Parque Assis Brasil, em Esteio, durante a Expointer. Aqui concentramos as discussões e ações importantes para o setor e uma programação intensa para receber a todos com a hospitalidade costumeira”, diz o presidente Guinter Frantz. Nesta edição, o Dia do Arroz foi marcado por um debate técnico transmitido ao vivo, para todo o Brasil, pelo Canal Rural. O tema central foi a sustentabilidade técnica da lavoura rizícola e reuniu o pesquisador Filipe Selau, coordenador do Irga na Região Central, Pedro Hamann, e os produtores Renato Melchior (Candelária), Luís Fernando Kroef (Capela de Santana) e Geraldo Azevedo (Mostardas), sob a apresentação do economista Miguel Daoud. O engenheiro agrônomo Pedro Hamann citou as principais limitantes de produtividade que os orizicultores precisam ficar atentos: manejo de daninhas e resistência, época de semeadura, preparo antecipado e drenagem e áreas repetidas. Geraldo Azevedo lembrou a importância do Projeto 10 do Irga, para a orizicultura. “Em 20 anos mais que dobramos a nossa produtividade com o Projeto 10 e o Programa Clearfield”, relatou. Para esse sucesso, ele recomenda: “Como na vida, nos negócios é preciso estar em equilíbrio. Temos que ter foco e acreditar no nosso trabalho”. No programa, produtores e técnicos falaram a respeito de suas práticas em busca de altas produtividades, mas também da sustentabiliWWdade da lavoura. Questões agronômicas e de gestão e comercialização foram abordadas, entre elas a rotação de culturas e de sistemas de cultivo. O encontro terminou com a entrega dos certificados do Selo Ambiental da Lavoura de Arroz do Rio Grande do Sul aos produtores que se destacaram nesta área. 6
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Lavoura sustentável em debate
Irga sediará a Abertura da Colheita 2018
Autoridades prestigiam o lançamento da Abertura Oficial da Colheita
Pela quarta vez, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) será o palco da Abertura Oficial da Colheita do Arroz, evento que abre o calendário anual da orizicultura brasileira. O lançamento da 28ª edição do evento, promovido pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), aconteceu dentro da programação do Dia do Arroz, na Casa do Irga, com um almoço para convidados e imprensa. A Abertura Oficial acontecerá de 21 a 23 de fevereiro de 2018 na Estação Experimental do Arroz (EEA/Irga), em Cachoeirinha (RS). O almoço de lançamento contou com a presença de autoridades, como o governador do Estado, José Ivo Sartori, o secretário da Agricultura, Ernani Polo, representantes políticos, produtores, autoridades e imprensa. A Casa do Irga ficou lotada. Guinter Frantz, presidente do Irga, deu as boas-vindas
aos convidados e enfatizou o papel do Instituto no desenvolvimento da orizicultura gaúcha e nos desafios que ela enfrenta atualmente. Alexandre Velho, presidente em exercício da Federarroz, destacou o apoio do Irga à cadeia produtiva e do governo do estado, através da desoneração tributária do grão. O governador Sartori lembrou a importância da lavoura de arroz para a economia do Estado. “É preciso apoiar e exaltar quem trabalha na lavoura, de sol a sol. Nossa maior riqueza são as pessoas que fazem o Rio Grande mais forte”, destacou. Ainda frisou que o setor gera 25 mil empregos diretos, reúne 13 mil produtores e movimenta 6,2 bilhões de reais. O governante enfatizou que, apesar das dificuldades do setor, a qualidade do arroz gaúcho é referencial e que os produtores precisam buscar, cada vez mais, uma gestão qualificada e sustentável.
EXPOINTER 2017
O centro das atenções Técnicos e ações do Irga foram premiados na Expointer 2017
O
s profissionais do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e projetos desenvolvidos pela autarquia mereceram destaque durante a 40ª Expointer, em Esteio (RS), por diversas instituições e imprensa. Para o diretor técnico do Irga, Maurício Fischer, foi o reconhecimento ao trabalho e à dedicação de quase 80 anos em defesa da orizicultura. O Prêmio O Futuro da Terra, contempla técnicos e produtores, pesquisadores, instituições e empresas engajadas com a inovação, empreendedorismo e a sustentabilidade que ajudam a desenvolver o agronegócio. Em sua 21ª edição, a homenagem do Jornal do Comércio em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) premiou 12 profissionais. Entre eles, o melhorista Antônio Folgiarini de Rosso na área de inovação e tecnologia rural. O presidente Guinter Frantz recebeu o Prêmio A Granja do Ano, da revista A Granja, pela atuação do Irga área de Pesquisa Agropecuária. O troféu foi entregue pelo vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, e o secretário estadual de Agricultura Ernani Polo. O Irga também foi agraciado na Expointer 2017 com o prêmio Vencedores do Agronegócio, da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), pelo Programa de Valorização do Arroz (Provarroz). O prêmio destaca trabalhos dedicados ao agronegócio e incentiva o desenvolvimento gaúcho.
Provarroz: equipe recebe destaque da Federasul
Futuro da Terra: reconhecimento ao trabalho do Instituto
Rosso: inovação e tecnologia rural
Sabor de tradição
Carreteirão: marca do Irga para divulgar o grão na Expointer
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) honrou, na 40ª Expointer, a tradição de promover a degustação de pratos à base do grão. Durante a feira, quem visitou a Casa do Irga comeu arroz doce e bolos de farinha de arroz. No sábado, 2 de setembro, foram servidas 700 porções do “carreteirão do Irga”. O prato é oferecido gratuitamente para promover o cereal, no Programa de Valorização do Arroz (Provarroz) e foi elogiado. A equipe: Adenir Correa, Carolina Pitta, Janira Foletto Moraes, José Carlos Fraga Failace, Paulo Roberto dos Santos, Ricardo Losekann e Rosa Silveira. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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EXPOINTER 2017
O mundo do arroz sem segredos Gilberto Amato, assessor técnico do Irga, lança “Arroz de A a Z”
R
eunir em uma publicação o máximo de verbetes que traduzam a terminologia utilizada na cadeia produtiva do arroz foi uma tarefa que exigiu muitos anos de pesquisas e de trabalho do engenheiro químico Gilberto Wageck Amato. Ele é assessor técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e um dos principais especialistas gaúchos em processos químicos e industriais deste setor. A partir do lançamento do livro “Arroz de A a Z”, de Amato, na terça-feira, dia 29 de agosto, no estande do Instituto no Parque de Exposições Assis Brasil, na Expointer 2017, em Esteio (RS), todo este conhecimento se tor-
nou disponível e concentrado para os integrantes do setor. O livro é editado e patrocinado pelo Irga, e terá distribuição dirigida. “Trata-se de um glossário com termos técnicos sobre o grão que, por ser o único que se tem conhecimento, se torna uma leitura indispensável para quem trabalha na área. Abordamos aspectos gerais e específicos dos procedimentos do cultivo, da colheita e da pós-colheita e industrialização”, explica Amato. A publicação chegou a ser lançada como e-book pela Fundação Estadual de Ciência e Tecnologia (Cientec), empresa de origem do
autor, há cinco anos, mas de forma resumida. “Agora lançamos a versão ampliada, atualizada e impressa, com uma abordagem bem maior”, acrescenta. Segundo Amato, mais de 500 verbetes são definidos e comentados, com uma interpretação adequada ao contexto da cadeia produtiva do Brasil e de outros países. Que se tenha conhecimento, a única publicação similar existente nas Américas foi um livreto disponibilizado há alguns anos por uma empresa privada dos Estados Unidos, mas com apenas 40 termos, que serviu de inspiração para a obra.
Amato: a linguagem mundial na palma da mão
Quinto livro Este é o segundo livro lançado pelo pesquisador Gilberto Wageck Amato em 2017. Ele também lançou, com edição e patrocínio do Irga, o livro “Arroz no Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas”, em maio, durante a Expoarroz, em Pelotas (RS). O objetivo do Instituto é 8
oferecer às pessoas ligadas ao setor o máximo de conhecimentos sobre o arroz, sua importância e benefícios. “Arroz de A a Z” é o quinto livro de Amato. Antes vieram: “Parboilização do arroz no Brasil” (1991); “Arroz parboilizado: tecnologia limpa, produto nobre” (2002); “A parboilização do
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arroz”; e “Arroz no Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas” (2017). O engenheiro é um dos poucos a ter escrito obras sobre parboilização e o único a escrever em outra língua (espanhol). O livro ganhou uma versão eletrônica na home page do Irga (www.irga.rs.gov.br).
X CBAI
O conhecimento é insumo A pesquisa do arroz adota estratégias para enfrentar novos e velhos desafios
M
esmo com o avanço gradual das tecnologias, práticas e conceitos de produção de arroz, a cada safra surgem novas demandas, pressões e a necessidade de que sejam ampliados os métodos utilizados em busca de grandes produtividades, renda, facilitação dos processos e de tornar esta atividade cada vez mais sustável. É preciso, também, antecipar as tendências, consolidar caminhos, unir forças e reconhecer que os segmentos de pesquisa e produção precisam andar juntos, trocando informações na busca de uma orizicultura mais competitiva. Não basta estar entre os principais referenciais tecnológicos da orizicultura mundial, o Sul do Brasil busca mais. Por isso, a satisfação indisfarçável de ter vencido o desafio de realizar o maior de todos os Congressos Brasileiros de Arroz Irrigado, o X CBAI, em julho, em Gramado (RS). O evento reuniu mais de 700 dentre os principais cientistas do Brasil ligados à orizicultura e mais algumas dezenas de convidados e participantes da Argentina, Paraguai, Uruguai, Estados Unidos e Colômbia, entre outros países, para discutir avanços, gargalos, conceitos da produção de arroz, entre os dias 8 e 11 de agosto no Hotel Serrano. O evento ocorreu sob a temática da intensificação sustentável, traduzindo um novo momento da orizicultura gaúcha. “Hoje a produção de arroz está bastante associada à da soja, à pecuária e, em menor escala, ao milho. Isso tem estabelecido um grande desafio ao agricultor tradicional, impondo a necessidade de adquirir novos conhecimentos, novos formatos de produção e novo entendimento também das dinâmicas do mercado. Há um processo evolutivo em andamento, mudando o cenário da lavoura de arroz. E estamos todos aprendendo. Este espaço de debate científico é vital para sinalizar rumos, corrigir estratégias, unir forças e trocar experiências no sentido de apresentar respostas à produção”,
Temas relevantes concentraram a atenção dos participantes do X CBAI
explicou o presidente do Congresso, Ibanor Anghinoni. O MAIOR Para o engenheiro agrônomo Rodrigo Schoenfeld, presidente da Sociedade Sul Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai) e assessor da Diretoria Técnica do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), promotor do evento, a presença de 700 técnicos e a inscrição de quase 500 trabalhos científicos elevou o patamar do Congresso. “O rizicultor gaúcho vive um novo momento no qual precisa intensificar e diversificar a sua produção. Este desafio só será vencido com apoio da pesquisa que já está no nível de excelência mundial, mas agora precisa aprender muito sobre o comportamento de outras culturas em terras
de arroz e seus reflexos na orizicultura e transmitir tudo o que aprender à cadeia produtiva no mesmo patamar de qualidade”, enfatiza Schoenfeld. Guinter Frantz, presidente do Instituto, considerou relevante o encontro, não só no sentido de potencializar ações futuras da pesquisa, mas também pela possibilidade de os técnicos e produtores terem acesso a informações sobre tecnologias em desenvolvimento em nível internacional e que estarão chegando às lavouras em dois ou três anos. “Os grandes temas da orizicultura, desde ferramentas contra a resistência de ervas daninhas a herbicidas, até a produtividade e o melhoramento genético estiveram em evidência. E isso vai mudar muita coisa num futuro bem próximo”, avisa. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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X CBAI
Sustentabilidade é o desafio A integração lavoura-pecuária é necessária, mas não é para todos os produtores
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oltar a adotar práticas do passado pode ser o melhor caminho para chegar ao futuro para as áreas de arroz do Rio Grande do Sul, levando em conta que há tecnologias atualmente disponíveis e capazes de dar suporte a este avanço. Esta é uma das mensagens passadas à plateia de mais de 600 pesquisadores, técnicos e produtores de arroz na Conferência Magna, na abertura do X Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (X CBAI), dia 8 de agosto, no salão principal do Hotel Serrano. O conferencista foi o doutor em Zootecnia Paulo César de Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Carvalho considera que a intensificação da cultura arrozeira e, ainda mais grave, a especialização, geraram impactos ambientais, dependência de insumos e perdas na fertilidade e na qualidade do solo e na diversidade, além da baixa resiliência financeira. “Isso é recente, ocorreu nos últimos 20, 30 anos. Até então, pecuária e orizicultura mantinham uma conexão. Além de recomendável, agora temos insumos e conhecimento que permitem adotar técnicas que fortalecem a integração”, avalia. Para o especialista, a intensificação sustentável, ao integrar lavoura e pecuária, é uma ação sintonizada com as principais linhas de pensamento do planeta sobre os caminhos para produzir alimentos no futuro. “Mas isso requer um conjunto de medidas que altera a forma com que se produz comida nos últimos 50 anos, retomando a diversidade de cultivos numa propriedade”, frisa. Paulo César de Faccio Carvalho considera positivo o avanço das áreas de rotação entre arroz e soja, acredita que a pecuária deve ser incluída e que, num próximo passo, o milho também deve ocupar mais espaço, entre outras culturas. As florestas entrariam em outra etapa. “Tudo a seu tempo e dentro das devidas condições de manejo”, destaca. 10
Carvalho: mudança no perfil da produção de alimentos
A inserção das pastagens e da pecuária é o fator capaz de elevar o nível da integração. “A pastagem faz a recuperação da parte física e química do solo: sequestra carbono e recupera rapidamente os teores de matéria orgânica”, revela Carvalho. “A pastagem se torna fundamental pelo potencial de matéria seca, mas a inserção dos animais eleva o sistema a novo patamar, no qual se processa uma reciclagem e o fluxo dos nutrientes num formato que a agricultura não alcança”, explica. Com o sistema sendo adotado em longo prazo, os especialistas acreditam na recomposição da fertilidade do solo, o que pode reduzir em até 30% a demanda por fertilizantes químicos. O especialista destaca que o arrozeiro tradicional, aos poucos, está se adaptando a uma nova realidade, que o torna um
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produtor de alimento, responsável por alimentar e nutrir pessoas, e isso estabelece uma enorme responsabilidade sobre a forma com que ele vai produzir. Ibanor Anghinoni explica que o tema central foi escolhido na crescente demanda dos agricultores e técnicos com a expansão da soja e da pecuária em terras arrozeiras, mas também em concordância com as pesquisa mundiais. “A integração entre lavoura e pecuária não é apenas um assunto a ser debatido porque está na moda, mas um reflexo de um novo perfil da lavoura de arroz do Rio Grande do Sul, agora múltipla em busca de renda, sustentabilidade ambiental, social, agronômica e econômica. E o Congresso foi apenas o nosso ponto de partida”, resume Ibanor Anghinoni.
X CBAI
Até Santa Catarina em 2019 A organização do 11º CBAI será da equipe da Epagri, que assume a Sosbai
P
romovido pela Sociedade Sul-brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai), o Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado deverá ter a sua 11ª edição, em 2019, em Santa Catarina. A praxe determina que a entidade do presidente deve realizar o evento, e no X Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado o pesquisador Klaus Konrad Scheuermann, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) foi eleito para substituir Rodrigo Schoenfeld, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A posse, no entanto, só acontecerá em meados de 2018, durante a reunião da Comissão Técnica do Arroz Irrigado (Ctar-I), na qual são atualizadas as recomendacões para a cultura. O mandato irá até 2020. Konrad tem como vice Enio Marchesan (UFSM), secretário Eduardo Rodrigues Hickel (Epagri), 2º secretário Rubens Marschalek (Epagri), tesoureira Ester Wickert (Epagri) e como 2º tesoureiro Alexander de Andrade (Epagri). Muitas decisões ainda deverão ser tomadas, mas inicialmente, por causa da infraestrutura e ser mais próximo da Estação Experimental do Arroz de Itajaí, o congresso deverá acontecer em Balneário Camboriú. O presidente eleito, Klaus Konrad Scheuermann, destacou entre as prioridades de sua gestão, que começa em agosto de 2018, uma
Konrad e Schoenfeld: mudanças no perfil do congresso e da entidade para 2018/19
atualização do boletim de recomendações técnicas da pesquisa do arroz, atualmente existente apenas na versão impressa. Também colocará em discussão as normas de inclusão e exclusão de produtos químicos recomendados no boletim. “Hoje há mais de 40 fungicidas recomendados para a cultura do arroz, por exemplo, mas no boletim em vigor há apenas seis, pois as normas são muito restritivas. Isso faz com que ele esteja rapidamente desatualizado e perca a atratividade”, explica. Tam-
bém será buscada uma forma eletrônica de editar e distribuir o conteúdo produzido pela Ctar-I. A inclusão da Embrapa Arroz e Feijão, de Santo Antônio do Goiás (GO) no rol das entidades integrantes da Sosbai – habilitando-se a organizar um congresso brasileiro no Brasil Central – também será analisada. “É um assunto relevante, pois seria estratégico ter mais uma entidade para auxiliar na organização do evento, que demanda muito envolvimento e recursos”, explicou Scheuermann.
representado por Adriano Pereira de Castro, coordenador de Melhoramento da Embrapa Clima Temperado. Na sequência foram homenageados: Adi Mario Zanuzo (Mapa), Antonio Folgiarini de Rosso (Irga), Ariano Martins Magalhães Júnior (Embrapa Clima Temperado), Cláudio Mudstock (Ufrgs/Irga, representado por Christian Bredemeier), Eduardo Rodrigues Hickel (Epagri),
Enio Marchesan (UFSM), Geovano Parcianello (engenheiro agônomo e produtor), Jaime Vargas de Oliveira (Irga), Maria Laura Turino Mattos (Embrapa Clima Temperado) e Nereu Augusto Streck (UFSM). Streck, falando em nome dos homenageados, lembrou da importância do trabalho em equipe e da relevância da pesquisa brasileira em arroz para os padrões atingidos nas lavouras e no mercado mundial.
Homenagens Durante o X Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (X CBAI), promovido pela Sosbai com organização do Irga, aconteceu no dia 10 de agosto a festa de confraternização na Sociedade Recreio Gramadense, contando com mais de 360 presentes. 10 pesquisadores foram homenageados. A primeira foi uma homenagem póstuma ao pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, Orlando Peixoto de Morais,
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EXPOARROZ
De oficina para merendeiras a painel sobre tributação Feira de Pelotas realizada em maio atraiu mais de 14 mil visitantes
“
Programação intensa: instituto participou ativamente da programação da feira na Zona Sul
D
urante três dias, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) ajudou a movimentar a programação de um dos eventos mais importantes da cadeia orizícola no Rio Grande do Sul. A autarquia, vinculada à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), intensificou as atividades na quinta edição da Expoarroz, em Pelotas, na Zona Sul do RS. O evento a cada ano se consolida mais no calendário oficial do Estado. Prova disso foram os mais de 14 mil visitantes que a feira atraiu até o Centro de Eventos de Pelotas, o dobro do público registrado na edição anterior. No primeiro dia de evento, o engenheiro químico do Irga Gilberto Amato lançou seu quarto livro, “O arroz no Progra12
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ma Mundial de Alimentação das Nações Unidas”. .
Se hoje nós consumíssemos o mesmo volume de arroz que consumíamos há 20 anos, teríamos uma demanda em 2,1 milhões de toneladas maior que a atual, enfatizou Tiago Barata No estande da autarquia, as paellas e o famoso arroz de
leite fizeram sucesso entre os visitantes. O preparo ficou por conta da equipe de gastronomia do Irga, comandada pela nutricionista Carolina Pitta. A colaboradora também ministrou uma oficina com merendeiras da rede municipal de ensino para falar sobre os benefícios do consumo do arroz, ação promovida pelo Programa de Valorização do Arroz (Provarroz). Foi na carreta da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) que as participantes aprenderam a preparar alimentos à base de farinha de arroz. As receitas foram provadas e aprovadas! Um debate inteligente comandado pelo diretor comercial do Irga, Tiago Barata, buscou elucidar estratégias que visem incentivar o aumento do consumo do arroz no Brasil. “Se hoje nós consumíssemos o mesmo volume de arroz que consumíamos há 20 anos, teríamos uma demanda em 2,1 milhões de toneladas maior que a atual, isso, além de agregar saúde à população brasileira, daria dinamismo à cadeia produtiva do arroz”, enfatizou. “O Irga nos auxilia na convocação dos produtores e indústrias, na implementação do fórum, nas rodadas de negócio e em todas as pautas que envolvem a cadeia do arroz. Não conseguimos imaginar a Expoarroz sem o apoio da autarquia, que vai muito além dos recursos, é um apoio institucio-
EXPOARROZ nal baseado na credibilidade que a entidade tem”, declarou Fernando Estima, coordenador da Expoarroz 2017. Outro assunto que ganhou destaque na programação do Irga durante a feira foi a tributação na competitividade do arroz gaúcho, uma das preocupações da cadeia. Pauta levada ao auditório principal da feira pelo convidado, o advogado tributarista Eduardo Plastina. O presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do RS (Federarroz), Henrique Dornelles, e o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Estado do RS (Sindarroz), Elio Jorge Coradini Filho, também participaram do painel.
A Expoarroz
A Expoarroz é conhecida por reunir diferentes elos da cadeia produtiva do arroz para
debater tecnologias, nutrição e produção, além de fomentar negócios para o setor orizícola. Este ano, a feira aconteceu entre os dias 9 e 11 de maio. Durante os três dias, o evento foi responsável por gerar R$ 81 milhões em perspectivas de negócios, superando as expectativas da própria organização. “É um número de negócios que nos surpreende quando colocado dentro da realidade econômica atual”, ressaltou o coordenador da feira. Só na Rodada Internacional promovida pela Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), foram registrados US$ 13,4 milhões de negócios projetados para o próximo ano através do projeto Brazilian Rice. O número representa um recorde que fortalece o setor orizícola de
todo o país. A presença do Brazilian Rice ajudou a intensificar a participação de estrangeiros registrada na feira. O projeto atraiu 19 exportadores para 100 reuniões. A Expoarroz 2017 contou com mais de 100 estandes de empresas de todo o país, apresentando máquinas, serviços e demais produtos para a cadeia. O evento também impactou positivamente na rede hoteleira da cidade, segundo a organização da feira.
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O evento foi responsável por gerar
R$ 81 milhões em perspectivas de negócios
Estande do Irga: sabor e tecnologia ao alcance de todos Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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ENTREVISTA
Difusor da Integração LavouraPecuária-Floresta no Brasil “O ILPF, sem qualquer dúvida, é uma solução muito criativa para o aumento da produção e da eficiência produtiva”
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m assunto cada vez mais atual na agricultura é a chamada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. No Brasil, a adoção do sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) abrange 11,5 milhões de hectares. A tecnologia permite que em uma mesma área, sistemas integrados produzam até quatro safras por ano. 14
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“ Aliar produtividade com alta tecnologia e a preocupação com o meio ambiente
Aliar produtividade com alta tecnologia e a preocupação com o meio ambiente. Quem lidera a divulgação da integração por aqui é o presidente da Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Paulo Herrmann, também presidente de uma das maiores fabricantes de tratores do mundo, a John Deere. O ILPF, desenvolvi-
ENTREVISTA
do pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), envolve, além da produção de grãos, pecuária de corte e de leite, fibras, madeira, plantio em rotação e outros. A Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) trabalha em cima do conceito da união de esforços, mostrando que é possível intensificar o incentivo para que o conceito ILPF e suas tecnologias cheguem a todos os produtores, acadêmicos e demais elos da cadeia agrícola. Paulo Herrmann foi também um dos palestrantes convidados do Irga no terceiro Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas do Sul do Brasil, que levou a Porto Alegre o tema “Desafios do agronegócio brasileiro”. A equipe da Revista Lavoura Arrozeira conversou com o engenheiro agrônomo para entender um pouco mais dessa prática, considerada uma verdadeira revolução na agricultura. 1. Qual o conceito da “agricultura sem parar” que você leva a diferentes regiões produtoras? O conceito da agricultura sem parar se resume ao uso intensivo da propriedade rural de forma a otimizar os investimentos e explorar o potencial dos trópicos por meio da verticalização ou densificação da unidade de produção.
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2. Como você enxerga que deva ser a agricultura do futuro?
outras iniciativas que objetivem aumentar a eficiência do agronegócio brasileiro.
Será uma agricultura que irá combinar perfeitamente o binômio “produzir e preservar”, com maior eficiência e menores custos de produção.
4. O Brasil tem a missão de alimentar o mundo, que terá dois bilhões de pessoas a mais até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O ILPF vem ao encontro desta demanda?
O conceito da agricultura sem parar se resume ao uso intensivo da propriedade rural de forma a otimizar os investimentos e explorar o potencial dos trópicos por meio da verticalização ou densificação da unidade de produção
3. Quais são os principais desafios do ILPF? A tecnologia do ILPF, ou seja, o melhor arranjo produtivo, já foi profundamente estudada pela Embrapa e está muito bem dominada. O desafio maior está em modernizar as estruturas de apoio e gestão, na qualificação do sistema de ensino e extensão rural, na modernização do sistema de crédito rural, na reforma da atual legislação trabalhista e adequá-la ao campo, no desenvolvimento de programas de qualidade total rural, entre
O ILPF, sem qualquer dúvida, é uma solução muito criativa para o aumento da produção e da eficiência produtiva, sem a necessária expansão territorial das áreas cultivadas. 5. Como os produtores arrendatários poderiam se encaixar neste conceito? No Rio Grande do Sul, esta é a realidade de mais de 60% dos produtores arrozeiros. Este conceito pode ser facilmente implantado, tanto nas propriedades arrendadas ou próprias, pois não altera os contratos originais de locação e arrendamento. 6. Quais os caminhos que você indicaria para os produtores que pensam em ingressar no ILPF? O melhor caminho é sempre via extensão rural, pois, apesar de parecer simples, o ILPF é um sistema que introduz uma complexidade de gestão que precisa ser bem administrada. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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PROVARROZ
A prova que faltava Programa de Valorização do Arroz multiplica ações pela saúde
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Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, com 72% do total colhido na safra 2016/17, e representa quase um terço da produção das Américas e aumento gradual da produção. Ao mesmo tempo, as pesquisas têm identificado que o consumo nacional apresenta queda por habitante. Para Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) a redução do consumo não atinge só os preços ao produtor, o que é relevante, mas traduz mudanças de hábitos alimentares que afetam a boa nutrição, a saúde pública e o bem-estar social. Produzir mais exige que sejam abertos espaços de consumo e consolidados os usos do grão, mesmo no maior país consumidor fora da Ásia. Cabe à cadeia produtiva do arroz reagir a esta tendência. A mudança na alimentação é acompanhada, segundo especialistas, de avanços nos indicadores de obesidade, cardiopatias, doença celíaca e intolerâncias aos derivados do trigo, entre outros fatores de risco à saúde. Paralelamente, cresce o consumo de fast-foods e lanches no lugar da refeição tradicional, composta por arroz, feijão, saladas e proteína. “O perfil da família brasileira mudou e o tempo é cada vez mais curto para preparar os alimentos e comer, o que deveria ser uma regra está se tornando exceção, o que deveria ser um prazer está se tornando, pela rotina, perda de tempo”, lembra Barata. Preocupado com este cenário e em evidenciar o real valor do arroz como alimento, o Irga criou e colocou em prática em fevereiro de 2016 o Programa de Valorização do Arroz (Provarroz), cujas ações incentivam e valorizam o consumo do grão e seus derivados, conscientizando a sociedade dos benefícios da boa refeição. As ações foram intensificadas nos últimos meses, com experiências positivas. Barata destaca a relevância do projeto no sentido de divulgar o bem 16
Prato do dia: arroz com saúde
que a manutenção ou retomada dos hábitos alimentares tradicionais pode fazer à saúde. “A estabilidade ou recuperação do consumo é bem-vinda do ponto de vista de mercado, mas isso será um reflexo de ações integradas da cadeia produtiva para mostrar à população os benefícios em saúde e nutrição presentes numa refeição equilibrada, saborosa e nutritiva. E no prazer de sentar à mesa com os familiares e amigos”, avalia. PRECISÃO Para Tiago Sarmento Barata, embora os objetivos sejam ousados e difíceis de alcançar com ações isoladas - a cadeia produtiva poderia ter um programa abrangente, mas insiste em agir de maneira individual no marketing dos produtos - a iniciativa é estratégica. “Com poucos recursos, temos a missão de ser precisos, alcançando formadores de opinião e potencializando as informações”, indica. São médicos e outros agentes da
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saúde, nutricionistas, cozinheiros, estudantes de Nutrição, Gastronomia e Educação Física, merendeiras, professores, donos e trabalhadores de bares e restaurantes e a imprensa, o que permite propagar os benefícios do arroz a diferentes públicos e conscientizar uma gama importante de consumidores. Camila Pilownic Couto, coordenadora do Provarroz, destaca que além deste contato direto com agentes influenciadores, peças publicitárias nas mídias sociais e na TV, outdoors, material de mídia de massa e estratégicos também são utilizadas para dialogar com o público. Ações que repercutiram muito bem. A primeira foi a produção de displays que são dispostos em restaurantes e refeitórios enfatizando as qualidades e benefícios do consumo do arroz para a saúde. Outra são guardanapos fundo de bandeja ricamente ilustrados com temas e informações da campanha, ao público adulto e infantil, utilizados em bandejas de refeitórios de hospitais.
PROVARROZ
Boa nutrição previne doenças Consumir o tradicional prato de arroz com feijão faz bem à saúde
Displays: a presença da campanha em espaços estratégicos para ampliar o conhecimento sobre as vantagens nutritivas
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arolina Pitta, nutricionista do Instituto, desempenha função importante no Programa de Valorização do Arroz (Provarroz) com ações voltadas à conscientização sobre os aspectos nutricionais e o potencial nutracêutico do grão, ou seja, os benefícios à saúde e possíveis curas de doenças. Uma pessoa bem nutrida adoece menos. E diversos estudos demonstram que a alimentação tradicional do brasileiro, associada à prática de exercícios físicos regulares, traz mais saúde, mais qualidade de vida. Além de ministrar palestras, coordenar treinamentos e ações junto aos diversos grupos de interesse, é papel de Carolina Pitta divulgar receitas e promover degustação de pratos à base de arroz e seus derivados. Destaca-se, neste conjunto de ações, a aplicação da farinha de arroz como ingrediente básico para a produção de pratos voltados a duas situações distintas. A primeira é para atender o público específico de pessoas com intolerância/alergia a glúten, em especial os celíacos. No segundo caso, são atletas e/ou praticantes de atividade física que querem melhorar sua condição física e desempenho antes, durante e depois do exercício. ‘‘É importante dizer que o papel do nutricionista é educar a população
sobre os benefícios dos alimentos para a saúde. Também é função do nutricionista adequar os alimentos à vida das pessoas e não excluí-los, pois todos são importantes”.
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AULA O trabalho desenvolvido pelo Provarroz alcançou diversas faculdades de Gastronomia, Educação Física e Nutrição do Rio Grande do Sul, que estabeleceram parceria com o Irga. Isso quer dizer que mesmo os futuros professores deixarão a universidade com pelo menos uma aula específica sobre a relação entre o arroz e a saúde. A equipe envolvida com o programa vibra com os avanços.
Estamos vencendo a imagem equivocada de que o arroz engorda, faz mal, e mostrando os benefícios que traz. “São áreas nas quais o grão era
completamente ignorado e agora é relevante. Estamos vencendo a imagem de que o arroz engorda, faz mal e mostrando benefícios que traz, inclusive a dietas de emagrecimento ou restrição de glúten”, revela Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do Irga. O consumo nacional de arroz apresentou queda de 17% nos últimos 20 anos, baixando de 60 quilos para 49,8 quilos por habitante ano. “Mantida a antiga média, teríamos uma demanda superior em mais de 2 milhões de toneladas, realidade de mercado bem diferente da conjuntura atual e, de saúde pública também”, explica Barata. Os dois próximos alvos da campanha são os consumidores, através da merenda escolar e a desoneração da cesta básica. Há também o objetivo de realizar pesquisa, ao menos na região metropolitana de Porto Alegre, para identificar hábitos, tendências e perfil do consumo de arroz e, a partir dos seus resultados, determinar novas ações da campanha. A sociedade começa a reconhecer a relevância do Provarroz, tanto que durante a Expointer 2017 o programa recebeu o troféu Três Porteiras: Vencedores do Agronegócio, da Federação das Entidades Empresariais do RS (Federasul), na categoria Apoio ao Agronegócio. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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PROVARROZ
Carboidratos e exercício físico Por Carolina Pitta - nutricionista do Irga
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esses tempos modernos que vivemos, a vida tende a ser muito corrida e pouco saudável, causando estresse e doenças. Essa situação ainda é mais grave quando, além das pessoas se alimentarem de forma inadequada, não praticam exercício físico com regularidade. Assim a qualidade de vida fica comprometida. Manter-se ativo melhora seu prognóstico de saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que as pessoas sedentárias têm entre 20% e 30% mais chances de morrerem de forma prematura do que os indivíduos que fazem pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. Na mesma linha, um interessante estudo publicado na prestigiosa revista The Lancet estima que o sedentarismo seja a causa, em todo o mundo, de 6% das doenças coronárias, 7% dos casos de diabetes tipo 2, 10% dos cânceres de mama e outros 10% dos cânceres de cólon. No Brasil, a busca por um padrão de beleza é uma corrida contra o tempo. A cada momento é uma nova forma de se alimentar, um novo jeito para se exercitar, uma nova tendência, um novo produto, um “milagre” para atingir o objetivo do corpo perfeito. Não podemos deixar de enfatizar que a mídia é uma grande colaboradora para essa crescente procura, pois revistas, televisão e outros meios de comunicação estão sempre divulgando a cultura de um corpo perfeito. Apesar disso nota-se, porém, que cada vez mais pessoas, de diversas idades e ambos os sexos, procuram pelas academias, que são recursos para melhorar a saúde. Também não devemos deixar de salientar que a população tem se interessado bastante sobre os benefícios da prática de exercícios físicos regulares para saúde. É sabido que a atividade física é benéfica tanto no aspecto biológico, como também em nível psicológico. Para manter-se saudável, não basta apenas praticar exercícios re18
gularmente, mas manter a boa alimentação. Pessoas que têm esse hábito precisam manter uma nutrição saudável que suprirá as necessidades do organismo. Alimentar-se de forma correta, não somente antes da prática, mas depois, a fim de repor os gastos energéticos e preservar os tecidos musculares. Apesar disso, é comum a realização de atividade física sem a alimentação adequada pelo simples fato de desconhecer os riscos que isso pode causar à saúde. Atitudes como essa levam a desmaios, cansaço em excesso, tontura, dor de cabeça, fadiga muscular; diminuindo assim o desempenho durante a atividade física.
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A nutrição é um dos fatores que pode favorecer o desempenho atlético e, quando bem orientada, pode reduzir a fadiga “A nutrição esportiva, além de levar em consideração os pilares da nutrição tradicional, como qualidade e quantidade dos alimentos, harmonia e adequação entre os nutrientes, condição fisiológica e fase da vida, tem a intenção de disponibilizar nutrientes para as células, principalmente musculares, para que respondam de forma adequada ao estímulo e adaptações do treinamento”, pontua Mariana Domicio, nutricionista especialista em nutrição esportiva. A nutrição é um dos fatores que pode favorecer o desempenho atlético e quando bem orientada, pode reduzir a fadiga, permitindo que o atleta treine por mais tempo ou que se recupere melhor entre os treinos, reduzir as lesões ou ajudar na recuperação das mesmas, aumentar os depósitos de energia para a competi-
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ção e ajudar a saúde geral do atleta. Ultimamente, os alimentos ou produtos à base de carboidratos estão sendo muito utilizados por atletas ou praticantes de atividade física. Pois, segundo muitos pesquisadores, os carboidratos são nutrientes que desempenham importantes funções no organismo, como: principal fonte de energia na realização dos exercícios físicos; preservação e conservação das proteínas, evitando o seu fracionamento; ativador metabólico para o catabolismo dos lipídeos; e combustível para o sistema nervoso central, sendo armazenados nos músculos e no fígado, sob a forma de glicogênio. No meio esportivo, há ainda uma tendência de que o efeito benéfico de uma dieta rica em carboidratos só ocorra em exercícios de longa duração, exercícios esses que são predominantemente aeróbios (Walberg-Rankin, 2001), como maratona, ciclismo, triatlo, etc. Muitos atletas reduzem ou se privam do consumo de carboidrato por receberem informações distorcidas de que esse nutriente levaria ao aumento da massa corporal, sem saber a sua importância. O consumo adequado de carboidrato é fundamental para otimizar os estoques iniciais de glicogênio muscular, a manutenção dos níveis de glicose sanguínea durante o exercício e a adequada reposição das reservas de glicogênio na fase de recuperação (American Dietetic Association, 2001). Os primeiros estudos mostrando que a ingestão de carboidratos melhora o desempenho em exercícios prolongados (>90 min), para prevenir a hipoglicemia, foram feitos em um número de corredores nas Maratonas de Boston em 1923 e 1924. Estas observações em campo foram depois confirmadas no Harvard Fatigue Laboratory em Boston (Dennis e Colaboradores, 1997). Krogh e Lindhardt (1920) provavelmente, foram os primeiros a reconhecer a importância dos carboidra-
PROVARROZ tos como fonte de energia durante o exercício. [...] uma dieta rica em carboidratos antes da prova preveniu a ocorrência de hipoglicemia e melhorou significativamente a performance durante a prova (Applegate e Grivetti, 1997). O metabolismo de carboidratos tem papel crucial no suprimento de energia para atividade física e para o exercício físico. No exercício de alta intensidade a maioria da demanda energética é suprida pela energia da degradação dos carboidratos. Tornam-se disponíveis para o organismo através da dieta, são armazenados em forma de glicogênio muscular e hepático e sua falta leva a fadiga (Maughan e colaboradores, 2000). O objetivo do consumo de carboidratos antes do exercício é aumentar o conteúdo de glicogênio muscular / hepático e a disponibilidade de glicose no sangue, aumentando assim a performance no exercício (Bacurau, 2001). A capacidade de realizar uma atividade de resistência por um maior tempo é limitada pelo conteúdo de glicogênio muscular e hepático. Partindo deste pressuposto, surgiu o conceito de se submeter o atleta a uma manipulação dietética, enfatizando uma sobrecarga de carboidratos antes da competição, no intuito de retardar a fadiga. As dietas de baixo carboidrato têm apresentado uma inclinação à fadiga precoce e falta de rendimento durante treinos de alta intensidade (Duhamel e colaboradores, 2006). Se alimentar antes do exercício, em oposição a se exercitar em jejum, tem mostrado uma melhora na performance. Os alimentos devem ter relativamente baixos conteúdos de gordura e de fibras para facilitar o esvaziamento gástrico, minimizar desconforto gastrointestinal, ser rico em carboidratos para manter a glicose sérica e maximizar os estoques de glicogênio, ser moderada em proteínas e familiar ao atleta. Neste caso, o arroz integral, por conter maior conteúdo de fibras, não é o mais indicado. A alimentação realizada de 30 a 60 minutos antes do exercício físico deve conter apenas carboidratos com índice glicêmico de baixo a moderado (arroz, por exemplo) para evitar os efeitos metabólicos do consumo de
Carboidratos complexos: aumentam o desempenho físico
carboidratos com altos níveis desse índice, que provocariam uma grande produção de insulina, podendo levar a um quadro de hipoglicemia de rebote momentos antes de se iniciar o treino ou a competição (Oliveira; Polacow, 2009). Para manter, ou até mesmo aumentar, os estoques de glicogênio muscular durante períodos de treinamento, é necessário uma dieta com elevada quantidade de carboidratos (Biesek e colaboradores, 2005). Alimentos ricos em carboidratos, como arroz, batatas, massas, aveia e bebidas esportivas, com índice glicêmico moderado e alto são boas fontes de carboidratos para a síntese de glicogênio muscular e devem ser a primeira escolha de carboidratos nas refeições de recuperação (Coyle, 2005). Em todos esses casos, devem-se consumir carboidratos preferencialmente na forma complexa, como os alimentos ricos em fibras, os açúcares não refinados, os cereais (arroz, por exemplo) e os demais vegetais (McArdle, Katch e Katch, 2003). O objetivo da alimentação após o esforço físico é repor as reservas do glicogênio (muscular e hepático) e as perdas de líquidos. Por isso, é importante saber escolher os alimentos com índice glicêmico de moderado a alto, para que a recuperação do glicogênio seja rápida (Gil-Antunãno; Zenarruzabeitia; Camacho, 2009). Se o praticante de atividade física for bem nutrido, o treino não imporá nenhuma demanda especial
de qualquer nutriente. Os estoques corporais de carboidratos e gorduras satisfazem as exigências de energia da maior parte das atividades com duração inferior a uma hora (Williams 2002). Para a nutricionista argentina Cynthia Zyngier, especialista em esportes, o principal é a alimentação antes do exercício. Estima-se que um treino cardiovascular normal em uma academia gaste cerca de 900 calorias. “É aconselhável comer carboidratos complexos, como arroz, massa, batatas, pão e vegetais cerca de duas horas antes da prática”, disse. Uma dieta rica em carboidratos aumenta as concentrações de glicogênio muscular, resultando em melhora do desempenho nos exercícios prolongados e contínuos, como o futebol (Bangsbo, 1992; Smith e Colaboradores, 1998; American Dietetic Association Reports, 1993; Williams, 1994). Por ser um alimento com moderado índice glicêmico, fica claro que o arroz pode e deve fazer parte da alimentação dos atletas e das pessoas que praticam exercícios físicos, sejam eles aeróbicos ou não, de curta ou longa duração. O ideal é escolher o arroz que melhor vai desempenhar o papel desejado em relação ao exercício a ser praticado. Portanto, os atletas necessitam de um programa nutricional específico que pode variar de acordo com sexo, idade, composição corporal, tipo, intensidade, frequência e duração do exercício (Streicher e Soma, 2005). Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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PROVARROZ
Desonerada, farinha de arroz fará parte da cesta básica de alimentos Medida torna o produto mais acessível a celíacos e ajuda o setor
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esde que o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) passou a ver o aumento do consumo da farinha de arroz como uma ferramenta importante para a saúde pública e para incentivar o consumo do grão, um desafio muito grande foi identificar os gargalos deste mercado. A grande surpresa foi descobrir que, mesmo sendo um produto relevante a uma parcela da população portadora da doença celíaca e de que o Rio Grande do Sul é o grande produtor nacional, a farinha pagava um imposto alto, que a tornava mais cara que as similares ao consumidor. “Desde as primeiras ações pregamos o uso da farinha de arroz. Pratos e lanches foram desenvolvidos no Irga com base nesta farinha. O manejo da granulometria e outras técnicas para torná-la o mais parecida possível a de trigo, também. Por isso, a descoberta de um imposto tão alto surpreendeu”, afirma Tiago Sarmen20
to Barata, diretor comercial do Irga. Outras entidades passaram a buscar no governo do estado a redução do impacto tributário sobre o preço final. O deputado estadual Gabriel Souza teve participação importante na condução do projeto no ambiente parlamentar. Em julho passado, por unanimidade de votos, a Assembleia Legislativa aprovou projeto de lei encaminhado pelo Executivo que inclui a farinha de arroz na lista de produtos da cesta básica de alimentos. Além de estimular o consumo, a medida beneficia pessoas que necessitam da dieta isenta de glúten, caso de quem sofre de doença celíaca. Com a redução do ICMS para 7% na alíquota dos produtos da cesta básica, a Receita Estadual avalia que haverá ganhos à cadeia com a industrialização de produtos que usem o ingrediente na mistura. A Secretaria Estadual da Fazenda
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(Sefaz) prevê compensar as perdas de arrecadação pela queda do imposto, estimadas em R$ 504 mil ao ano, justamente com o aumento da produção de farinha. Para Barata, a presidenta da Associação de Arrozeiros de Palmares do Sul, Livia Carvalho, teve participação decisiva no encaminhamento deste pleito, mobilizando deputados e agentes do governo. Outro fator que pesou na decisão do governo e da Assembleia Legislativa para aprovar o projeto foi o expressivo número de pessoas com intolerância ao glúten. Levantamento da Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra-RS) mostra que 1% da população mundial sofre da doença, caracterizada por uma inflamação grave do intestino, que leva à desnutrição pela má absorção dos nutrientes. Com a farinha de arroz na cesta básica, os celíacos terão acesso a produtos sem glúten com preços acessíveis. No Brasil são dois milhões de pessoas.
Um doce recorde
PROVARROZ
Irga e parceiros produzem o maior arroz de leite do Brasil
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m recorde nacional de 10 anos foi batido em maio. Numa iniciativa do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilate), as empresas Camil e Açúcar União, foi produzido o maior arroz de leite do Brasil, durante a 40ª edição da Fenasul e da 13ª Expoleite, feiras realizadas no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio (RS). O recorde, de 1.488 litros no total, foi aferido pelo site RankBrasil, que entregou troféus para os organizadores para marcar a proeza. Durante as feiras, o panelão de 1.500 litros chamava atenção dos visitantes da Fenasul/Expoleite. Os trabalhos começaram por volta das 6h e se prolongaram até o final da tarde, quando o arroz de leite parou de ser servido ao público do evento. Uma fila se formou em frente ao Pavilhão de Ovinos, onde o prato estava sendo preparado. Quem experimentou o doce só soube elogiar o trabalho dos cozinheiros do Irga. Alguns visitantes do Parque Assis Brasil não se contentaram apenas em experimentar a iguaria no local. Foram à feira de Esteio com panelas e tigelas para levar um pouco do arroz doce para casa, para degustação de familiares e amigos. Pelo Irga, trabalharam na façanha os servidores Adenir Correa, André Ferreira Rodrigues, Camila Pilownic Couto, Carolina Ferreira Pitta, Gleni Rossales Rocha, Jean Carlos do Santos, João Edir da Silva, Jorge Soares dos Santos, José Carlos Fraga Failace, Paulo Roberto Pereira dos Santos, Rafael Araújo, Rodrigo Rizzo e Thiago Josias dos Santos Barros. Foram utilizados na receita 165 quilos de arroz branco, 1.260 litros de leite, 510 quilos de leite condensado, 20 quilos de açúcar, quatro quilos de canela em pau, um quilo de cravo-da-índia e nove quilos de canela em pó.
Desafio aceito: equipe se mobilizou para alcançar o resultado
Tudo começou na Ásia O auditor do RankBrasil, Luciano Cadari, destacou o trabalho dos servidores do Irga durante a entrega do troféu. “Quero parabenizar a equipe que conseguiu quebrar o recorde brasileiro, preparar uma iguaria deliciosa e ao mesmo tempo divulgar os benefícios do arroz. E esse era um recorde muito difícil de ser quebrado, pois há 10 anos não era superado por ninguém”, afirma Cadari. O recorde anterior, também registrado pelo RankBrasil, pertencia ao Sindicato Rural de Pedro Osório e Cerrito (RS), batido durante a 34ª Expofeira de 2007. O RankBrasil é uma empresa independente que atua há 17 anos em todo território nacional, registrando exclusivamente recordes brasileiros. O site do Rank (www.rankbrasil.com.br) já registra mais de 1.300 títulos homologados, nas mais diversas categorias: gastronomia, coleções, cultura, engenharia, esportes, geografia, tecnologia, entre outras. Fazem parte da história dos recordes brasileiros aferidos pelo Rank empresas como Petrobras, AdeS, Bradesco, Grupo Herval, Nestlé, Laboratório Pasteur, New Holland e Johnson & Johnson. Também são recordistas artistas conhecidos, como o grupo Roupa Nova, banda Velhas Virgens, padre Reginaldo Manzotti, além de diversos órgãos municipais e estaduais de diferentes regiões. A história do arroz de leite começa na Ásia. Na Índia, por exemplo, o doce é indispensável em festas de casamentos hindus. Outras variedades também se espalham pelo mundo. Na Tailândia, o arroz doce é consumido com coco e manga. No Brasil, os primeiros registros são da época do Império, polvilhado com canela, e era presença confirmada nos grandes eventos. Com o tempo, a sobremesa ganhou outras adaptações, com leite condensado, frutas e doce de leite. Nos eventos do Irga, o arroz de leite é mais do que um sucesso, é uma tradição. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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CAPA
O caminho da
INTEGRAÇÃO
Soja, milho, pastagens e pecuária: um caminho para produzir arroz
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roduzir arroz com excelência, de maneira econômica, ambiental e socialmente sustentável e, ao mesmo tempo, fortalecer a segurança alimentar do país e do mundo, aportar as mais adequadas tecnologias, estar um passo à frente das tendências na busca de soluções para os gargalos da lavoura gaúcha são algumas das principais razões de existir do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A qualidade deste cultivo sempre foi e será o objetivo final do trabalho desenvolvido no Instituto. É com foco nos resultados para a lavoura orizícola que a autarquia investe em pesquisas para a diversificação, rotação e integração de outras culturas e atividades pecuárias com o arroz. Gerar o aporte de tecnologias e recomendações de manejo para a soja e o milho em sistema de rotação nas áreas arrozeiras, além da integração entre lavoura e pecuária, é um caminho para alcançar melhores resultados na lavoura arrozeira. Tudo isso sem prejuízo às linhas tradicionais de pesquisas do arroz, que continuam avançando. 22
Por isso, a temporada 2017/18 marca a aproximação de dois pilares da pesquisa e da transferência de tecnologias do Irga ao produtor gaúcho: o Projeto 10+, que busca ampliar o teto de produtividade e reduzir as brechas entre as médias de rendimento nas lavouras, e Soja 6000, que difunde e pesquisa práticas e insumos que levem a resultados produtivos à rotação do arroz com a oleaginosa. “A orizicultura vive um cenário desafiador e a pesquisa age para antecipar tendências, dar respostas às demandas setoriais o mais rápido possível e superar as limitações que surgirem para a lavoura. A intensificação sustentável, seja pela rotação de culturas ou integração com pecuária, é um tema em evidência, um caminho a trilhar em benefício do arroz com o devido suporte. O que nem todos sabem é que há décadas o Irga pesquisa e forma parcerias com outras instituições sob o foco da integração e da diversificação”, explica Guinter Frantz, presidente do Irga. Segundo Frantz, a autarquia está voltada à demanda setorial por sis-
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temas que, através da rotação e da integração entre lavoura e pecuária, reduzam custos de produção, agreguem melhorias ao solo e ao grão, superem os limitantes de produtividade e de renda, simplifiquem o manejo e tragam inovações e resultados mais amplos nas terras arrozeiras gaúchas. Tiago Sarmento Barata, diretor comercial e industrial do Irga, lembra que além do cenário agronômico, há um viés econômico na adoção de um sistema de integração e rotação de culturas. “Além de reduzir a ocorrência de pragas, buscar maior produtividade no arroz, o agricultor está em busca de alternativas econômicas. Para muitos produtores, a soja representou a oportunidade de segurar o arroz para comercializar no segundo semestre, e isso ampliou o portfólio e a capacidade de negociação deste agricultor”, explica. Nos últimos três a quatro anos, soja e carne bovina estiveram em alta e foram importantes para rentabilizar boa parte dos arrozeiros que investiram na diversificação.
CAPA
Uma solução para cada realidade Sem receita de bolo, cada produtor e técnico deve buscar o melhor para sua área
O
velho ditado “cada caso é um caso” é a lógica da integração sustentável. Não há uma receita pronta para o conjunto das lavouras gaúchas. Cada produtor que pretenda diversificar as lavouras e adotar a soja e/ou milho e/ou pecuária deve realizar uma eficiente avaliação do ponto de vista agronômico, comercial, econômico e estrutural para verificar se pode ou deve, gradativamente, ingressar em outra cultura sem ampliar o risco de seu negócio. A problemática começa com o desconhecimento técnico das culturas do seco, nos contratos de arrendamento, que representam mais da metade das lavouras gaúchas e se estendem por áreas com risco de enchentes, solos compactados, falta de mão de obra qualificada, de equipamentos, de capital, entre outros fatores. “Cada caso é um caso, por isso a recomendação é de que o arrozeiro busque junto à sua assistência técnica a orientação necessária. Os técnicos e eventos do Irga também
podem tirar dúvidas sobre a diversificação ou integração”, explica Maurício Fischer, diretor técnico da autarquia. Por ordem de interesse, as atividades mais adotadas são a soja, que deve ser implantada apenas em áreas de menor risco de enchentes e de fácil irrigação quando necessário, por exemplo, a pecuária – que já é histórica companheira da orizicultura gaúcha, mas agora exige técnicas de intensificação pelo uso de pastagens que cubram a necessidade forrageira do vazio outonal e o inverno, e, por último, o milho. O Instituto tem um protocolo completo sobre a produção de milho em várzea, mas dois problemas ficaram evidentes e reduzem o interesse do agricultor por esta atividade. Em primeiro lugar é uma cultura muito mais sensível aos estresses hídricos. E depois, é um cultivo caro, mas sem a liquidez da soja e nem garantia de preços rentáveis. Há casos distintos nas primeiras áreas comerciais que adotam uma
integração mais intensa. Alguns produtores simplesmente estão cultivando dois cortes, um com arroz e outro com soja, invertendo o cultivo e a área ano a ano. Alguns produtores preferiram dividir a área em três cortes, fazendo dois com arroz e um com soja – preservando as áreas mais baixas -, de forma que em três anos terão feito soja em todo o terreno possível. Há outros produtores que optaram por manter dois cortes e repetir a oleaginosa por dois anos nas áreas mais altas e de menor risco, e o arroz nas áreas mais baixas, rotacionando sistemas de cultivo, herbicidas e práticas de preparo antecipado. Nestes casos, como em outros exemplos já citados anteriormente, muitos também ingressam com a pastagem de outono/inverno e gado para invernar para ciclar os nutrientes e produzir palha e cobertura do solo. Dependendo do caso, o arroz volta depois de um ou dois anos na resteva da soja. O conhecimento ajuda a tomar as melhores decisões
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CAPA
Cada um no seu quadrado Sistema de entrada no cultivo de soja exige método adequado ao perfil das áreas Arroz e soja: o “novo par” na lavoura gaúcha
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partir da safra que inicia, os técnicos do Irga e consultores do Projeto 10+ vão inserir no programa de transferência de tecnologia recomendações e discussões sobre métodos para a entrada dos arrozeiros na produção de soja. Athos Gadea, assessor da Diretoria Técnica, explica que a aproximação do Projeto 10+ com o Projeto Soja 6000 é uma evolução normal dos processos, uma vez que o objetivo final é utilizar a soja não como cultura substituta ao arroz, mas complementar. “Identificamos que há um contingente de produtores já integrados ao Projeto 10+ que pretende adotar o cultivo da soja como ferramenta de manejo para melhorar o solo, quebrar ciclos de pragas e buscar maior produtividade na lavoura de arroz, mas que precisam de orientação para esta entrada na nova cultura. A nossa meta, então, é disponibilizar 24
o conhecimento sobre práticas e recomendações de uso de tecnologias testadas e validadas no Projeto Soja 6000, mas que se aplicam às lavouras iniciais”, explica Gadea. Neste caso, a meta é ajudar o agricultor a diluir os custos, utilizar tecnologias aprovadas, evitar erros já identificados em outras propriedades pela pesquisa e obter um rendimento intermediário. “Inclusive, podemos aconselhar o produtor a não cultivar soja, se considerarmos que as limitações são muito grandes, e a buscar outros meios de melhorar sua produtividade em arroz”, explica Luciano Carmona, coordenador do Projeto 10+ e consultor do Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar), da Colômbia. Em agosto, por três dias, os segmentos de pesquisa e extensão do Irga se reuniram em São João do Polêsine, na Depressão Central gaúcha, para uma imersão nos programas do
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Instituto e a definição das ações dos projetos. “Foi importante, pois temos uma equipe jovem, que precisava se apropriar destes projetos e amplificar a sua inserção junto aos produtores. E as regionais e os núcleos definiram suas estratégias, dinâmicas e formataram a maneira com que este conhecimento será repassado aos arrozeiros”, explica Maurício Fischer, diretor técnico da autarquia. As áreas demonstrativas dos dois projetos serão ampliadas e terão abordagem também visando a integração dos projetos. “Não quer dizer que o 10+ vai incorporar os princípios do Soja 6000 ou vice-versa, mas sim que os pesquisadores estarão aptos a transferir as tecnologias necessárias para quem estiver interessado em dar os primeiros passos na soja ou quem quiser tornar mais eficiente sua produção de arroz sob os conceitos do manejo de alta produtividade”, resume Fischer.
CAPA
Era o que faltava na lavoura Pecuária: ingrediente fundamental para consolidar a integração
A
ntiga prática da rizicultura gaúcha, a integração entre a lavoura e a pecuária vem retornando com força total, também alicerçada na presença crescente da soja, mas em especial no avanço das tecnologias voltadas à produção de pastagens. Nesta área, o Irga estabelece parcerias com entidades e instituições especializadas. “É algo que tradicionalmente o arrozeiro já fazia, mas que ganhou maior aporte tecnológico nos últimos tempos, até pela necessidade de intensificação produtiva e de resultados”, reconhece Paulo César de Faccio Carvalho, doutor em Zootecnia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Segundo ele, a integração entre lavoura e pecuária é um conceito em sintonia com as linhas de pensamento globais de como produzir alimentos no futuro. “Nos últimos 50 anos se produziu alimentos com aumento dos níveis de intensificação e especialização, diminuindo a diversidade nas propriedades. Isso tem causado problemas como baixa resiliência econômica e impactos ambientais. Enquanto isso, a integração dos sistemas agrícolas com a pecuária é uma rara tecnologia que consegue compor altos níveis de produção de alimentos, com a necessária diversificação dos sistemas”, explica. Carvalho explica que a pastagem faz a recuperação dos solos em sua parte química e física, pois é uma grande sequestradora de carbono e recupera os teores de matéria orgânica e de carbono orgânico total no solo de maneira rápida, mas o componente animal faz a verdadeira diferença em relação à rodagem do sistema agrícola. “Via agrícola é impossível fazer a ciclagem de nutrientes que o animal faz comendo a biomassa e estercando e urinando na área. Isso muda de forma positiva o fluxo de nutrientes no sistema. Essa via tem impacto sobre a microbiota, modifica e melhora toda a vida do solo, traz insetos, micro-organismos, novas vias de fluxo, a diversificação
Bovinocultura retorna para os sistemas
Carvalho: ciclagem inigualável
Inteligência e cuidado Edward Pulver, consultor do Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar) para o Projeto 10+, considera relevante o uso da soja como ferramenta para garantir uma produção mais eficiente da lavoura arrozeira. Mas alerta que o uso destas práticas deve ser feito com inteligência e cuidado. “A soja não é para qualquer área de arroz e nem para qualquer produtor. Então a maior parte dos orizicultores gaúchos, que representam 72% da produção brasileira, 50% da América Latina e um terço das Américas do Sul, Central e do Norte, precisam evoluir nos sistemas de manejo do arroz, tornarem-se mais eficientes no planejamento e nas operações, na escolha e na aplicação de insumos”, avisa. Lembra ainda que não são muitos os rizicultores que podem investir em soja e pastagens. “Para quem tiver recursos para investir, baixo risco, conhecimento, dominar uma ou mais culturas no ambiente do arroz, são ferramentas válidas”, diz. da biomassa e o aumento da atividade microbiana com impacto positivo sobre agregados de solo”, explica. Para o professor, é importante que o arrozeiro busque maior conhecimento sobre o manejo das pastagens e da pecuária para otimizar sua produção e os resultados de uma integração na várzea. “As pesquisas no sentido da integração das culturas, e agora também pela inserção da pecuária no ambiente do arroz, têm evoluído. Mas o foco de todo este trabalho é a lavoura de arroz que virá depois, mais produtiva e de menor custo”, deixa claro Maurício Fischer, o diretor técnico do Irga. Para Fischer apesar dos avanços importantes, ainda há muito trabalho a fazer até que se estabeleçam níveis de produção e produtividade mais representativos às demais culturas. Entende que o ambiente das terras baixas é perfeito para o arroz irriga-
do, mas adverso para às culturas de seco, como o milho e a soja, pelos estresses hídricos – por falta ou excesso – e pela compactação do solo, que para a soja deve ser mais aerado, esponjoso. Diante disso, acredita que o desafio não é apenas ter variedades mais produtivas, melhor fertilização, tolerância a herbicidas e outras práticas já comuns à rizicultura. “Estamos lidando com a necessidade de mudar o perfil químico e físico do solo. E isso é muito mais complexo do que parece. Nossos pesquisadores estão avançando, mas são tecnologias estranhas também ao produtor. É preciso dominar o conhecimento sobre estas culturas, sobre o solo, sobre a interferência do clima, sobre engenharia agrícola e agronômica, para então adotar estes processos. E ainda é preciso ter recursos para investir”, revela o diretor.
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PROJETO 10+
Ganhos nos mínimos detalhes Programa de transferência de tecnologias mostra que é possível melhorar a competitividade, aumentar rendimentos, reduzir custos e o impacto ambiental
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urante a safra 2016/17, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e o Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar, na sigla em espanhol) colocaram em prática o Projeto 10+, uma estratégia de transferência de tecnologia e extensão agrícola no sistema produtor a produtor, que busca eliminar as lacunas de produtividade entre diferentes áreas com o ajuste do manejo, das condutas e gestão das lavouras. Os resultados, já no primeiro ano, foram expressivos: 8,5% de queda nos custos de produção, 32% maior produtividade do que a média do estado e renda superior a R$ 3 mil por hectare, mesmo diante dos preços praticados até agosto de 2017. O programa tem a consultoria dos especialistas em extensão Edward Pulver, norte-americano que foi um dos responsáveis pela Revolução Verde da agricultura nas Américas, e do engenheiro agrônomo Luciano Carmona, pelo Flar, com o apoio fundamental das equipes de pesquisas e extensão das regionais e dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural do Irga (Nate’s) e a participação fundamental dos rizicultores. Os resultados do primeiro ano do Projeto 10+ comprovaram que tanto a estratégia de extensão produtor a produtor como as práticas de manejo recomendadas pelo programa são eficientes e eficazes. “Ficou demonstrado que podemos melhorar a competitividade dos produtores do Rio Grande do Sul pelo aumento dos rendimentos, a redução de custos e com menor impacto ambiental desde que cada etapa seja planejada e executada nos mínimos detalhes”, explica Carmona. Dos 94 produtores envolvidos, 24 (25% deles) conseguiram realizar todos os procedimentos dentro da recomendação. E isso gerou um resultado de 11.592 quilos por hectare. A necessidade de criar uma iniciativa específica para a transferência de tecnologias do Irga ficou evi26
QUADRO A QUADRO Rendimentos das unidades demonstrativas em comparação com o rendimento das áreas comerciais do produtor líder, P10+, Safra 2016/17. REGIONAL
UNIDADES DEMONSTRATIVAS
RENDIMENTO (T.HA-1)
Região
Número de Área P10+ produtores (ha)
Safra atual
Safras 2014/15/16
Central............................30................. 581.............10.259...........8.130...................... 7.493 Pl. Cost. Externa............4................... 96...............10.775...........9.286...................... 8.000 Pl.Cost. Interna...............18................. 463.............9.551.............8.585...................... 7.407 Fronteira Oeste..............21................. 1.108..........10.902...........9.367...................... 7.858 Zona Sul.........................14................. 1.069..........10.170...........9.470...................... 8.840 Campanha......................7................... 84...............10.348...........9.778...................... 7.878 RS..................................94................. 3400...........10.334...........8.936...................... 7.913 Fonte: Projeto 10+ Dater/IRGA
denciada nas últimas safras com o diagnóstico de que muitos rizicultores alcançaram o patamar próximo ou superior a 10 toneladas de arroz produzidas por hectare, enquanto outros ficaram limitados a sete ou oito toneladas. “Percebemos que o Projeto 10 original havia cumprido a missão de ampliar a produtividade das lavouras gaúchas em até duas toneladas por hectare, mas que cada um, a seu nível, havia encontrado limitações para alcançar o potencial produtivo das cultivares”, explica Athos Gadea, gerente do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater/ Irga). Desta forma, na safra 2016/17 foram implementadas pelos técnicos do projeto e agricultores líderes 94 unidades demonstrativas estrategicamente instaladas nas seis regiões arrozeiras do estado. “Todas as áreas foram manejadas com base nos conceitos do Projeto 10+, com as práticas de manejo supervisionadas pelos extensionistas do Irga”, revela Carmona. As unidades demonstrativas alcançaram 3.400 hectares e obtiveram rendimento médio de 10.334
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quilos por hectare (kg/ha). A produtividade da área demonstrativa foi 14% superior à média dos 53.995 hectares semeados nas áreas comerciais destes rizicultores líderes, que bateu em 8.936 kg/ha. Ainda em termos comparativos, o resultado do cultivo manejado sob as luzes do Projeto 10+ superou em 24% o rendimento médio das safras 2014/15/16 destes mesmos agricultores, que foi de 7.913 quilos por hectare. GRÃO A GRÃO Uma observação importante foi feita pelo consultor do Flar, Luciano Carmona: os resultados do Projeto 10+ foram consistentes em todas as regiões, demonstrando que as tecnologias propostas são de fácil adoção e podem ser utilizadas por agricultores com diferentes níveis tecnológicos e sistemas de produção diversos. Além disso, o sistema de transferência de tecnologia “produtor a produtor” permite que um extensionista do Irga possa ter um rápido impacto em toda sua região de atuação, com a melhor utilização dos métodos de extensão e o aproveitamento dos grupos líderes.
PROJETO 10+
Mais grãos na mesma área Produtividade é um dos fatores principais buscados nos ajustes do manejo
O
Roteiros técnicos: ferramentas para a lavoura alcançar um novo patamar
Rendimentos por tamanho de produtor - P10+ 12000 11000 Rendimento (Kg.Ha-1)
programa de extensão Projeto 10+, desenvolvido pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em parceria com o Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar), tem por objetivo principal socializar os conhecimentos de manejo para altos rendimentos a todos os produtores do Rio Grande do Sul. A meta é fortalecer a rizicultura regional de maneira que os agricultores alcancem, por meio de maiores produtividades, o aumento da renda e a redução de custos por unidade. Além disso, o manejo adequado reduz o impacto ambiental da cultura. No gráfico ao lado, o consultor Luciano Carmona apresenta os resultados do projeto por tamanho de propriedade. As barras roxas representam os resultados das lavouras do Projeto 10+; as azuis indicam média das áreas comerciais dos produtores na temporada 2016/17; enquanto as que estão na cor laranja informam a média histórica das áreas comerciais dos mesmos arrozeiros nas safras 2014/15 e 2015/16. Os resultados indicam que a tecnologia pode ser adotada independentemente do tamanho do produtor, sistema de cultivo ou região, proporcionando incrementos importantes em rendimento, reduzindo custos unitários de produção e tornando estes rizicultores muito competitivos no cenário atual da cadeia produtiva.
10000 9000 8000 7000 6000
<80
80 a 160
160 a 130
300 a 600
600 a 1200
1200
Tamanho Produtor Distribuição dos rendimentos por tamanho de propriedade. P10+, safra 2016/17. Barras em roxo (Projeto 10+), barras em azul (médias da safra 2017), barras em laranja (Médias das safras 2014, 15 e 16) do grupo de produtores que participou do projeto.
Ajustes têm repercussão nas áreas comerciais Os ajustes no manejo da cultura do arroz, dentro daquilo que é preconizado pelo Projeto 10+, geraram resultados importantes que podem ser mensurados nas áreas demonstrativas das seis regiões observadas. Segundo o relatório final do primeiro ano do programa, 75% das
áreas conduzidas sob orientação dos extensionistas do Irga e mesmo as áreas comerciais dos produtores envolvidos no projeto, alcançaram resultados superiores à média dos rendimentos da atual safra no estado. Isso demonstra a consistência
dos resultados e o potencial produtivo das variedades Irga 424 e Irga 424RI que foi a genética utilizada no projeto. E que, mesmo nas áreas não demonstrativas, os produtores adotaram critérios e manejos das unidades de observação preconizados pelo P10+. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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PROJETO 10+
Passos rumo ao topo Dos 94 produtores, 24 alcançaram a média de 11,59 toneladas. Cada falha no manejo gerou perda de 830 quilos por hectare
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PATAMARES DE DESEMPENHO Classe Número de produtores 5 2 4 10 3 23 2 35 1 24
Nível de precisão do manejo Muito baixa- falhas em 4 componentes do manejo Baixa- falhas em 3 componentes do manejo Média – falhas em 2 componentes do manejo Alta – falha em 1 componente do manejo Muito alta- seguiram todos os conceitos do P10+ com precisão
Níveis de manejo - P10+ 14000 12000
y=829,2x + 7110,6 R2 = 0,97
11592 10197
10000 Rendimento (Kg.Ha-1)
os 94 produtores de arroz que conduziram os 3.400 hectares de unidades demonstrativas do Projeto 10+, utilizando cultivares Irga 424 e Irga 424 RI, 25% deles (24 arrozeiros) alcançaram o topo da produtividade nesta temporada, depois de manejar as lavouras seguindo todos os preceitos recomendados por pesquisadores e extensionistas. Este grupo seleto obteve destaque, pois alcançou a média de 11.592 quilos de arroz - limpo e seco - por hectare. “Trata-se de um resultado que consideramos expressivo, pois é quase 32% maior do que a média do estado, de 7.908 quilos por hectare, e superior ao próprio resultado das áreas comerciais dos produtores envolvidos, que já aproveitaram para transferir algumas recomendações do projeto nesta safra. Este resultado confirma não apenas que há um potencial importante para ampliar o rendimento por área, mas que o manejo recomendado, se aplicado dentro dos preceitos, gera o resultado esperado”, explica o consultor Luciano Carmona, do Flar. Uma série de fatores, porém, interferiu nos resultados dos demais arrozeiros líderes que participaram do Projeto 10+ no primeiro ano, o que ajuda a consolidar as diretrizes do programa diante da realidade da lavoura. “Na prática, o fato de 75% dos produtores líderes terem encontrado algum tipo de limitação ajuda a mostrar que os ajustes são possíveis e cada vez mais necessários para uma lavoura competitiva e que exige resultados”, reforça Carmona. Por exemplo, um segundo grupo, formado por 35 produtores, ou 37% dos participantes, cometeu alguma falha no manejo, que pode ter sido desde a densidade de semeadura - e população de plantas -, controle de ervas daninhas, fitotoxicidade por algum herbicida, época de controle de invasoras, condição do solo na aplicação da primeira adubação
9323
8865 8063
8000 6000 4000 2000 0
24 1
35
23
2
3
10 4
2 5
Níveis de manejo
Rendimentos e número de lavouras demonstrativas em função da precisão do manejo. P 10+, safra 2016/17.
nitrogenada, atraso na primeira adubação nitrogenada, na entrada da água na lavoura e/ou tempo para encher os quadros da lavoura com a irrigação. Chama a atenção, segundo Luciano Carmona, que a cada falha de manejo o orizicultor gaúcho que participa do projeto está perdendo aproximadamente 830 quilos por hectare. “Isso evidencia que para obter altos rendimentos é fundamental que o manejo proposto seja seguido à risca”. No nível intermediário, 23 agricultores cometeram falhas em dois componentes do manejo recomendado, o que corresponde a 24,5%. No
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nível de precisão baixo, com falhas de ao menos três componentes, ficaram 10 agricultores e outros dois na classe cinco, isto é, de quatro ou mais componentes não aplicados da forma recomendada. “Os 12 produtores dos níveis de precisão do manejo 4 e 5, isto é, com nível de precisão baixo ou muito baixo, tiveram seus resultados comprometidos por problemas de enchentes e enxurradas em suas lavouras, em meados de outubro, impossibilitando a execução das práticas iniciais em tempo oportuno, o que gerou resultados abaixo da expectativa”, explica Carmona.
PROJETO 10+
A eficácia em números
Além da eficiência das tecnologias, o resultado econômico salta aos olhos
E
m uma temporada na qual as questões econômicas da lavoura arrozeira estão em evidência, os resultados do Projeto 10+ desenvolvido pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) com consultoria do Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar) merecem especial atenção. Para Athos Gadea, assessor da Diretoria Técnica do Irga, salta aos olhos o comparativo em termos de custo de produção (8,5% menor com o método recomendado) e a renda possível de se obter, mesmo a preços de mercado em 2017, com o plus em produtividade das áreas manejadas de acordo com o programa. “São resultados muito significativos, que ao mesmo tempo em que consolidam a nossa certeza de estarmos no caminho certo em busca de altas produtividades para nossa lavoura ser mais competitiva, também impõem o desafio de levar resultados o mais próximo possível a toda a extensão da orizicultura gaúcha”, reconhece Gadea. Luciano Carmona, consultor do Flar, considera que os resultados em termos de rendimentos obtidos demonstram que as tecnologias propostas são altamente eficientes, porém o mais importante é demonstrar o quanto o projeto é eficaz do ponto de vista econômico. Para deixar os resultados mais claros, foi realizada uma análise baseada nos cinco componentes nos quais as intervenções do projeto são mais contrastantes: sistema e densidade de semeadura; adubação; gastos com aviação agrícola e manejo fitossanitário. Sempre comparando as parcelas demonstrativas do projeto com o manejo das áreas comerciais dos produtores que participaram. CUSTOS Considerando que 60% das áreas foram implementadas em semeadura direta sobre resteva soja, houve uma economia de R$ 348,00, nos quais a referência são os custos de produção do Irga: R$ 580,00 = custo do preparo,
Na calculadora Diferencial de custos áreas projeto 10+ comparados com suas áreas comerciais, P10+, Safra 2016/17.
Fonte: Projeto 10+
Diferença no bolso Resultado financeiro, P10+, Safra 2016/17.
Fonte: Projeto 10+
menos entaipamento. “No caso das sementes a economia foi de 20 quilos por hectare, o equivalente a R$ 59,00”, destaca Carmona. Já no investimento com adubação, na média as áreas do projeto tiveram um acréscimo de R$ 64,00. “Para buscar um rendimento maior é preciso adubar de acordo com a necessidade”, explica. Com aviação agrícola, a formação das áreas sob a recomendação do Projeto 10+ economizou, em média, R$ 87,00 por hectare, e com a redução do uso de fungicidas e inseticidas o valor a menos chegou a R$ 119,00. No total, a economia projetada foi de R$ 554,00 por hectare, um valor equivalente a 8,5%, considerando o custo base de R$ 6.500,00 por hectare mensurado pelo Irga. RENDA Tomando como base estes custos
de produção referenciais e um preço base de R$ 40,00 a saca, ou R$ 800,00 por tonelada em base casca, pago ao produtor, e os diferenciais de custos apresentados, o resultado financeiro de cada um dos produtores que participaram do Projeto 10+ foi de R$ 1.051,00 por hectare. Levando em conta as 94 lavouras demonstrativas do projeto, foi propiciado um ganho médio de R$ 2.259,00 por hectare. Já nas 24 áreas demonstrativas onde o manejo alcançou o ponto ideal, os ganhos chegaram a R$ 3.090,00, levando em conta o custo de produção e o preço de referência. “Isso evidencia que no cenário atual as altas produtividades e a gestão dos custos produtivos são essenciais para que o orizicultor obtenha rentabilidade na produção de arroz irrigado”, finaliza Carmona. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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SOJA 6000 Com o teto ao alcance, é hora de elevar as médias
Muito além de
A
temporada 2016/17 mostrou que é possível produzir 100 sacas de soja por hectare em áreas de várzea, em rotação com arroz, seguindo as recomendações do Projeto Soja 6000 do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A meta foi ultrapassada pela família Eckert, em Tapes (RS), com 100,5 sacas por hectare, ou 6.030 quilos. Três agricultores colheram média de 94,6 sacas por hectare, ou 5.676 quilos, dentre as 62 áreas experimentais (10,4ha cada). Entre as 15 melhores áreas do projeto o rendimento por hectare chegou a 79,5 sacas, ou 4.470 quilos. Os números são expressivos considerando que, em média, o rendimento da soja em terras de arroz no Rio Grande do Sul é de 31,6 sacas de 60 quilos: 1.900 quilos por hectare. “Alcançar 100 sacas é simbólico, pois mostra que é possível atingir o objetivo seguindo as orientações do projeto. Mas é ainda mais importante o fato de que estes melhores desempenhos foram avaliados tecnicamente e suas ações diferenciais serviram de base para discussões e informações importantes difundidas no grupo do projeto e para os demais produtores interessados”, explica Rodrigo Schoenfeld, assessor da Diretoria Técnica do Irga. Segundo ele, os arrozeiros com melhor desempenho seguiram à risca o preconizado pelo Projeto Soja 6000. “A única observação entre eles é a de que poderiam ter semeado um pouco antes. Percebemos, com isso, que quanto maiores as falhas no manejo preconizado, menores as produtividades. E isso está sendo passado aos produtores”, afirma. Com estas experiências e a validação das tecnologias do projeto, a meta agora é ampliar o número de áreas em observação e as produtividades também nas áreas comerciais dos integrantes do Soja 6000 e de quem adota a cultura alternativa.
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6000
Projeto de alta produtividade para soja em terras de arroz quebra barreiras
Três modelos, um só objetivo O produtor que entra com o cultivo de soja na várzea tem dois objetivos básicos: recuperar o potencial produtivo de suas lavouras de arroz e buscar uma alternativa econômica. Ao produzir a média gaúcha, de 31,6 sacos por hectare, ele não cobre os custos de produção, tem a saúde financeira abalada e, muitas vezes, acaba sem fôlego para buscar as vantagens da rotação na próxima safra de arroz. Quem mais precisa entrar com rotação em suas áreas para quebrar o ciclo de pragas, doenças e, principalmente, invasoras resistentes, recuperar a fertilidade do solo e obter renda é quem tem mais dificuldades, seja pela falta de capacidade de investimento, as características da lavoura ou a estrutura da propriedade. Uma lavoura de soja, de alto custo, mal conduzida, pode ser um golpe fatal em muitos produtores. “Quem resolve plantar soja em áreas de arroz deve saber que tem um alto risco de não ter retorno em até três safras. E precisa mensurar se pode aguentar, financeiramente, esse revés”, avisa Rodrigo Schoenfeld, assessor da Diretoria Técnica do Irga. Cientes deste risco, a partir do III Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas no Sul do Brasil e dos estudos realizados pelo Irga e pelos parceiros científicos e comerciais, juntamente com os agricultores, surgiu a decisão de trabalhar, a partir desta tempora-
da, com três modelos de entrada de soja nas áreas de arroz. O primeiro é o preconizado originalmente pelo Projeto Soja 6000, buscando a produção de 100 sacos de soja por hectare. O segundo é intermediário e busca uma produtividade média de 75 sacas por hectare. O terceiro visa alcançar 50 sacas, volume capaz de cobrir os custos, mesmo com menor investimento. “É importante que o arrozeiro disposto a integrar a soja em várzea entenda que há limitações econômicas, de clima, solo, características do terreno, e que será necessário adaptar suas terras para receber uma planta de sequeiro, minimizando riscos e evitando prejuízos financeiros”, alerta. Para os técnicos, há ainda uma quarta alternativa, que é simplesmente não plantar soja. Isso porque existem áreas de arroz, como, por exemplo, 125 mil hectares com histórico de alagamentos e enchentes no Estado, que são de alto risco e impróprias para a rotação. “Uma das lições das últimas temporadas foi a de abandonar o cultivo da soja em áreas de risco. Nestes terrenos são preconizados muitos outros manejos, como preparo antecipado de solo, associar práticas de controle de invasoras, pragas e entrar com a semeadura e irrigação na época recomendada, como meios de fortalecer o potencial produtivo das lavouras”, explica Schoenfeld.
SOJA 6000
A união faz arroz com... soja
P
ara Rodrigo Schoenfeld, assessor da Diretoria Técnica do Irga, o projeto já tem uma boa base de dados e informações tecnológicas para transmitir, ainda assim, segue em aprimoramento e uma das novidades para a próxima temporada será a aproximação com o Projeto 10+. “Juntos, Soja 6000 e 10+ devem somar perto de 250 áreas experimentais na próxima safra”, projeta. No entendimento de Schoenfeld, o Fundo Latino Americano de Arroz Irrigado (Flar) tem muito a contribuir com seu método de extensão para a união dos esforços e dos diferentes programas do Instituto. RECOMENDAÇÕES As principais recomendações para quem vai entrar com soja em áreas de arroz é uma boa drenagem. Depois, fazer uma boa drenagem. E, em terceiro lugar, uma boa drenagem. A insistência é porque boa parte das perdas ocorridas, mesmo nas áreas experimentais, decorrem de excesso hídrico. Mas não é só isso: mesmo em ano de El Niño, houve perdas em áreas referenciais por seca. Então, ter um eficiente sistema de irrigação também é obrigatório. Também está comprovado que quem faz melhor o plantio – operação, época, equipamentos adequados, densidade de semeadura, profundidade de sementes, etc. - está mais perto dos altos rendimentos. Para isso, a recomendação é semear entre 20 de outubro e 20 de novembro. Na Depressão Central, por exemplo, esta é uma época de alto risco climático, o que atrapalha a busca por alto rendimento. A adubação de cobertura merece cuidado especial. “É importante entrar com 50% a 60% no estabelecimento da cultura, mas a segunda aplicação, de 40% a 50%, deve aguardar a formação do estande de plantas”, frisa Rodrigo Schoenfeld. Uma das ações vitais para o comportamento da soja nas terras de arroz é o monitoramento constante. “Não basta olhar a lavoura da estrada. Tem que entrar na lavoura, caminhar, verificar a presença de insetos, doenças, morte de plantas, formação do estande, desenvolvimento nos talhões. O tempo
Roteiros técnicos promovem a troca de conhecimentos entre pesquisa e produtores
O PROJETO EM NÚMEROS
Fonte: Irga
w 60 dias de campo, roteiros técnicos e palestras. w 1 seminário estadual w 4 seminários regionais w 10 mil pessoas atendidas nos eventos entre produtores, técnicos, parceiros comerciais, cientistas e estudantes w 62 áreas experimentais com 10,4 hectares cada uma, em média, nas seis regiões arrozeiras w 644,8 hectares totais de área experimental, com média de 79,5 sacas (4.470kg) w 1 produtor com 100,5 sacas (60kg) por hectare (6.030kg). w 3 produtores com média de 94,6 sacas/ha (5.676kg) w 15 melhores resultados alcançaram média de 79,5 sacas (4.470kg/ha) OBSERVAÇÕES POR ZONA DE PRODUTIVIDADE w Acima de 90 sacas – Agricultores consideram que poderiam ter semeado um pouco mais cedo. w De 70 a 90 sacas – Sete produtores tiveram perdas por excesso hídrico e problemas de drenagem, atraso no plantio. w De 50 a 70 sacas – Produtores tiveram mais problemas de implantação, perdas por falta de drenagem, atraso no plantio e em algumas operações. todo”, alerta. Elcio Moro, produtor em Dom Pedrito, é um dos que adotou as práticas do Projeto Soja 6000. Na última safra cultivou três mil hectares de soja e 1,5 mil hectares de arroz. “A minha produtividade dobrou com o manejo preconizado. Antes, colhia de duas a três toneladas por hectare, agora alcancei 5,6 toneladas graças ao acesso às informações”, explica. Ele, juntamente com Jorge Schmidt, de Santa Vitória do Palmar, e Arnaldo e Delmar Eckert, de Tapes, receberam certificados do Comitê Estra-
tégico Soja Brasil (Cesb), que vem acompanhando o programa de perto. A presença do Cesb é considerada relevante, pois traz junto a atenção de diversos parceiros comerciais interessados na área de dois milhões de hectares de soja que se forma na metade sul gaúcha. Destes, 300 mil hectares devem ser cultivados em terras de arroz nesta temporada, mas com uma expectativa de ultrapassar 500 mil hectares em algumas safras, à medida em que as tecnologias de alta produtividade alcancem maior número de agricultores e de hectares. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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SOJA 6000
Um jeito gaúcho de produzir Professor Enio Marchesan, da UFSM, analisa desempenho em áreas do projeto
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scolhido para apresentar o resultado da análise das principais áreas em produtividade do projeto Soja 6000 na temporada 2016/17 no III Encontro de Produção de Soja em Terras Baixas do Sul do Brasil, e para voltar ao tema no X Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado, em agosto passado, na cidade de Gramado (RS), o professor Enio Marchesan, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), considera que há muito a evoluir neste desafio, apesar dos resultados serem muito promissores. Não há dúvida de que este projeto e o avanço nos estudos pelo Irga e demais instituições trazem novas luzes sobre o manejo da soja em terras de arroz, estão reduzindo o risco de produzir em uma lavoura com muitas peculiaridades e que não pode usar os mesmos princípios da coxilha, do cultivo no cerrado. “O que acontece é que estamos ainda encontrando o nosso jeito de produzir frente ao desafio do ambiente de solo e clima que temos e aprimorando os conceitos, embora muita coisa tenha sido consolidada nos últimos anos”, explica. O arrozeiro que ingressa na cultura da soja parte de um cultivo em cotas mais baixas do terreno, áreas muito planas, úmidas, facilmente alcançadas pelo excesso de água e encharcamento. “Por outro lado, há uma camada compactada de solo próximo da superfície que para o arroz é desejável, pois ajuda a não demandar muita água, mas que é um problema para a soja e milho, que precisam de um ambiente mais aerado, sem excesso ou falta de água”, revela. Essa camada gera o risco permanente de estresse hídrico. Se chove muito, por alagamento, ao qual a soja não resiste por muitos dias sem perder produtividade. Dai a importância da drenagem. Se não chove, a faixa estreita de solo seca e sem umidade a soja fica sem nutrientes. Daí a importância da estrutura de irrigação. Por causa destas diferenças e a necessidade de oxigênio da soja, 32
Marchesan: fazer diferente é o caminho para obter melhor resultado
Marchesan defende a necessidade de melhorar o ambiente do solo para a propagação das raízes das plantas. Além das raízes, os nódulos da planta são importantes para garantir o suprimento de oxigênio e de nitrogênio para a que ela alcance altas produtividades. “Além disso, temos uma diversidade de dezenas de tipos de solos na metade sul, portanto, não há uma regra geral de manejo. É preciso estudar muito particularmente cada situação para definir uma estratégia de cultivo”, enfatiza. Para Marchesan, dentre as avaliações realizadas com as lavouras que tiveram melhor desempenho no projeto Soja 6000, pode-se destacar um bom sistema de drenagem e irrigação e ajustes no plantio que levaram às lavouras a terem emergência e distribuição uniforme e rápida, o que garante um maior potencial produtivo. “A partir daí, as práticas de manejo
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devem ser adotadas ao tempo e de maneira correta”, ensina. “A época de semeadura é importante. Não pode se plantar no final de dezembro, início de janeiro, como temos visto alguns casos. O plantio tem que acontecer no final de outubro, iniciozinho de novembro, no máximo”, avisa. “É preciso atentar para que a época de semeadura seja aquela de maior potencial de produtividade, mas observando o histórico regional e tentando fugir dos eventos climáticos desfavoráveis”, observa. Para Marchesan, a partir da boa implantação da lavoura, as demais práticas de manejo se tornam mais fáceis de implementar. “Uma lavoura com problemas de implantação você não compensa mais. Mas uma que tenha boa arrancada, as práticas de manejo podem ajudar a potencializar a resposta em produção”, afirma.
SAFRA
As melhores intenções Arrozeiros planejam plantar 1,078 milhão de hectares nesta temporada
A
temporada 2017/18, cuja semeadura já começou, será marcada por uma retração da área cultivada com arroz no Rio Grande do Sul. A conclusão é da tradicional pesquisa de intenção de plantio do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) divulgada durante a Expointer 2017. O estudo foi realizado entre julho e agosto pela Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater/Irga) e a Seção de Política Setorial. Na data, os gaúchos pretendiam semear 1.078.279 hectares na safra de arroz 2017/18. A superfície prevista apresenta redução de 2,5%, ou 27.491/ha, sobre os 1.106.062/ha colhidos na temporada 2016/2017. Com base na média dos três últimos anos,
a expectativa é de um rendimento médio de 7.558 quilos por hectare. Há previsão de semeadura de 244,9 mil hectares em resteva de soja e 380 mil com preparo antecipado, num total de 624.918/ha (58%) prontos para semear na época ideal. O diretor técnico do Irga, Maurício Fischer, lembra que a pesquisa dimensiona o quanto os produtores gostariam de semear em suas áreas, mas não se trata de um número consolidado e preciso. “O arrozeiro indica o quanto quer plantar, mas entre a intenção e o plantio efetivo existem inúmeros obstáculos, desde a questão do crédito até a do clima”, explica. O dirigente alerta que é importante que os orizicultores evitem plantar em áreas com histórico de proble-
mas. É o caso de lavouras que precisam de muitos levantes de água e têm mais alto custo de energia e dificuldade para irrigação, alta infestação de plantas invasoras resistentes ou que dificultem a semeadura na melhor época recomendada. Na temporada passada, por causa dos melhores preços e baixos estoques e expectativa de clima favorável, a área cultivada de 1,106 mil hectares superou em cerca de 10 mil hectares a intenção inicial. Mas a conjuntura de 2017 é bem diferente, o que leva à tendência de que a superfície cultivada será um pouco menor do que aquela desejada pelos agricultores. O plantio iniciou na Zona Sul, pela Granja 4 Irmãos, nos primeiros dias de setembro.
PESQUISA DE INTENÇÃO DE PLANTIO Regional Intenção Produtividade Resteva Preparo de (ha) (kg/ha) de soja (ha) solo antecipado (ha) Fronteira Oeste.............................. 316.884.........................7.881...........................13.445................................. 169.627 Campanha...................................... 162.800.........................7.851...........................88.393................................... 33.922 Região Central............................... 143.646.........................6.984...........................23.873................................... 45.622 Planície Costeira Interna................ 146.579.........................7.169...........................43.102................................... 43.563 Planície Costeira Externa............... 134.636.........................6.583...........................13.489................................... 53.627 Zona Sul......................................... 173.734.........................8.255...........................62.606................................... 33.649 Total RS......................................... 1.078.279......................7.558...........................244.908............................... 380.010 *Base: julho/agosto de 2017 Fonte: Nate’s/Dater/Irga Elaboração: Seção de Política Setorial/DCI/Irga Plantio avança apesar dos muitos obstáculos
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INTEGRAÇÃO
Lições da terra
Produtor José Luís Jardim Agostini, de Cristal, extrai de área experimental os conhecimentos que usa para transferir a sua produção comercial
Corticeiras: um laboratório a céu aberto para integrar as atividades da lavoura e da pecuária
V
ista por muitos produtores, técnicos e especialistas do setor orizícola como uma poderosa ferramenta para otimização de resultados, a integração lavoura-pecuária tem sido alvo de pesquisas e experimentos nos últimos anos no Rio Grande do Sul. Uma área experimental que se tornou referência para produtores e pesquisadores gaúchos fica na Fazenda Corticeiras, em Cristal, na metade sul do estado. O advento do gado em áreas tradicionalmente utilizadas para plantio do arroz tem significado um incremento de receita na propriedade. Desde 2013, a Fazenda Corticeiras tem uma área experimental em um projeto de natureza público-privada de onde o dono da fazenda, o agropecuarista José Luís Jardim Agosti34
ni, extrai lições que são aplicadas no sistema produtivo da propriedade. “Desde a implantação do experimento, alguns paradigmas foram quebrados. Até então, o azevém na resteva da soja não era utilizado. Hoje, já se dominou o uso e funciona muito bem”, exemplifica. Quando se fala em integração lavoura-pecuária, os efeitos do pisoteio do gado no solo é uma questão que quase sempre gera discordâncias entre técnicos e produtores. Agostini garante que a adoção de uma massa de azevém preconizada de 15 a 20 centímetros e o ajuste na lotação minimiza a ação do rebanho sobre áreas onde a criação de gado é integrada com o cultivo de arroz ou soja. “Esse é outro paradigma superado”, ressalta o produtor. Estudos do Instituto Rio Granden-
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se do Arroz (Irga) em conjunto com a Embrapa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e outras duas empresas que monitoram o experimento na Fazenda Corticeiras apontam que o gado pode devolver para o solo até 90% do que consome, através da ciclagem de nutrientes proporcionada a partir da urina e das fezes. E ainda tem uma vantagem: o processo de decomposição da matéria seca é acelerado pelo rúmen do animal. Em Dia de Campo sobre rotação realizado recentemente na Fazenda Corticeiras, o pesquisador Ibanor Anghinoni, do Irga, indicou que com um período mais longo a integração é capaz de reduzir a demanda por fertilizantes, por exemplo, pela evolução das características químicas e físicas do solo.
INTEGRAÇÃO
Base tecnológica é a principal linha da evolução no processo produtivo A área experimental cedida pela Fazenda Corticeiras para os experimentos monitorados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Embrapa Pecuária Sul, Embrapa Clima Temperado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) – além de empresas privadas - tem 18 hectares. Na época de implantação do experimento, 30% dos 2,6 mil hectares de terras utilizadas em cultivo de arroz e soja receberam técnicas de cultivo similares aos ensaios. Com o passar dos anos, os resultados foram aparecendo e hoje 60% da propriedade são contemplados pela nova sistemática. Devido a variáveis ocasionadas principalmente pela diversidade do clima, Agostini
explica que não tem como traçar em números um comparativo sobre o antes e o depois do experimento, mas lembra que o gado representa uma receita que até então a propriedade não tinha. “O principal ensinamento de todo esse processo é de que a gente precisa evoluir, buscar as lições e ir implantando, na medida do possível”, destaca o produtor rural. CENÁRIOS O trabalho experimental na Fazenda Corticeiras busca representar e estudar diferentes cenários para os sistemas de produção comumente utilizados nas terras baixas do estado, permitindo à pesquisa a discussão e a formatação
de modelos produtivos integrados de lavoura-pecuária que agreguem sustentabilidade aos sistemas que produzem arroz irrigado no RS. A rotação arroz/soja, por exemplo, tem resultado em redução nos custos de preparo de solo e ainda elevaram a produtividade orizícola em aproximadamente 16% na última safra. Para o estudo, foram montados cinco sistemas de produção que envolvem desde o cultivo repetido do arroz até sistemas compostos por rotações mais curtas ou mais longas com soja e pastagens, com maior ou menor grau de diversificação das culturas, incluindo a pecuária.
Intercalados com arroz e soja, a área experimental recebe pastagens e bovinos de corte Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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GESTÃO
Os pingos nos “is” Curso capacita produtores para planejamento, gestão e controles gerenciais
Conhecimento para potencializar os resultados do rizicultor
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arrozeiro precisa reunir características e conhecimentos de muitas profissões para desempenhar com excelência a atividade de produtor de alimentos: administrador, economista, contabilista, especialista em recursos humanos, sem contar engenheiro agrônomo e agrícola. Se integrar pecuária ou outros cultivos, torna-se quase infinita esta lista. Daí a necessidade de evoluir em termos, também, dos controles gerenciais que vão desde os planejamentos específicos e globais, até o financeiro, de custos, de recursos humanos, de crédito, de comercialização. Como nas práticas da lavoura o nível de exigência só faz aumentar, na administração não é diferente. “Na lavoura, o arrozeiro gaúcho está acima da média mundial. Mas na hora de ter o controle da informação, dos números, das bases para mensurar a real eficiência de sua propriedade e os pontos de ajuste, falta ampliar o conhecimento sobre as ferramentas que pode usar em busca de rentabilidade e sustentabi36
lidade. Temos um desafio pela frente, que é aumentar entre os produtores o hábito e as atitudes para o uso das ferramentas de gestão de suas empresas com eficiência e eficácia. Isso nos permitirá avançar como cadeia produtiva e potencializar os resultados do rizicultor”, resume o consultor Luis Antônio De Leon Valente, do Sebrae-RS. Numa pesquisa realizada sobre as propriedades arrozeiras pelo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) os produtores apontaram como uma das prioridades do setor o desenvolvimento de ferramentas de gestão para a lavoura e as fazendas. A partir deste diagnóstico, surgiu o Programa de Boas Práticas de Gestão para a Lavoura Arrozeira. Ele tem como base um curso de apresentação e prática no uso de ferramentas de gestão para arrozeiros. Édesenvolvido em parceria pelo Irga, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural e Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Senar/Farsul),
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através do Programa Juntos Para Competir, e o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RS). O objetivo, segundo o diretor técnico do Irga, Maurício Fischer, é dar mais segurança e independência aos produtores para a tomada de decisões nas propriedades. “Com um mapa preciso de informações sobre cada um de seus custos, o agricultor pode tomar decisões estratégicas que reduzam o grau de risco de sua atividade e potencializem a busca de renda. Ele vai saber o que precisa cortar e onde deve investir”, resume. Daí a intenção de dotar os arrozeiros de ferramentas de gestão. Os dois primeiros cursos aconteceram em julho e agosto em Palmares do Sul e Agudo. Outro deve ocorrer na zona sul, antes de uma avaliação do projeto-piloto para configurar as próximas edições. A seleção do grupo é feita pelo Irga, em parceria com as entidades setoriais locais e a partir do interesse do agricultor.
GESTÃO
Nova estratégia por mais resultados Produtores rurais da região da Planície Costeira Externa participaram do curso de Boas Práticas de Gestão para a Lavoura Arrozeira, oferecido pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em parceria com o Sebrae e o Senar/RS. O produtor Everton Machado Terra participou e vê na capacitação a oportunidade de sanar alguns gargalos existentes nas rotinas da lavoura. Segundo ele, a boa produtividade nem sempre se traduz nos números finais. “O curso nos ensina a pensar o negócio de modo diferente do ponto de vista financeiro e na adoção de estratégias para obter resultados no mercado. Embora a gente não tenha controle de questões externas, como oferta e demanda, as práticas ensinam a lidar melhor na hora de negociar”, explica. Para ele, a grande lição do curso foi a clareza no caminho para se chegar a números mais exatos, fundamental na gestão da lavoura. Segundo Terra, o curso reforçou sua convicção de que o agricultor precisa ter pelo menos dois produtos a rentabilizar a lavoura. Há três anos, ele consorcia arroz e soja nas terras que ele arrenda, na Fazenda Ranchinho, em Mostardas. Numa das safras chegou a abolir a produção do arroz, mas sentiu que no meio do caminho a soja sofreu pressão no preço, o que o levou a retomar a orizicultura.
Ponto-chave na lavoura A busca por atualização de técnicas de gestão da lavoura levou a produtora Daniela Feiten Silva a participar do curso em Palmares do Sul. Ela considera que às vezes falta ao arrozeiro uma visão técnica mais crítica da atividade para identificar pontos que possam ser melhorados. Nas aulas, ela foi constatando que sua maneira de controlar custos e registros estava em conformidade com os ensinamentos, mas destacou a integração com os demais elos da produção como um dos principais pontos positivos da capacitação. “Foi muito boa a integração com funcionários, colaboradores e colegas. A troca de experiências com outros produtores e a oportunidade de receber e transmitir conhecimentos abrem os horizontes de organização e despertam o espírito de liderança na atividade”, destacou Daniela. Segundo a produtora, merecem destaque os ensinamentos sobre maneiras de cobrar e ao mesmo tempo motivar os funcionários e a abordagem da Norma Regulamentadora 31. Para ela, o curso serviu para mostrar que a gestão é ponto-chave em qualquer cultura e negócio. “Também nos proporcionou entendimento no sentido de direcionar melhor a gestão da propriedade, envolvendo e comprometendo mais os colaboradores, além de mostrar como direcionar melhor os controles
Daniela Feiten: produtora rural entende que a gestão de resultados é crucial
e resultados”, ressalta Daniela. Ela integra a administração da Parceria José Aires, que cultiva arroz em Palmares do Sul e Cidreira.
Consultoria direta na propriedade e manejo integrado no portfólio O curso de Boas Práticas de Gestão para a Lavoura Arrozeira, desenvolvido pelo Irga, Sebrae-RS e Senar-RS/Farsul, tem 32 horas e mais oito horas de consultoria direta, reúne 20 participantes por turma, com até três da mesma empresa. É prestado por consultores do Sebrae, Senar e Irga. O trabalho parte da avaliação individual do participante e seu empreendimento, estratégias de ação, gestão financeira da atividade e propriedade, ferramentas de gestão da qualidade, conceitos do Selo Ambiental, fluxograma de processos da propriedade e lavoura e legislações sociais e ambientais.
O Senar-RS dá o curso “Aplicação correta e segura de defensivos agrícolas”, com base na Norma Regulamentadora 31 (NR31). “A meta é levar as práticas ao maior número possível de rizicultores”, diz Luís Antônio De Leon Valente. Alguns produtores levam os gerentes de lavoura para participarem. A gestora do projeto na Regional Metropolitana do Sebrae-RS, Lissandra Monza, considera este um programa completo de boas práticas de gestão para promover o melhor gerenciamento dos negócios pela implementação de ferramentas eficientes. “Favorece o controle e a renta-
bilidade, promove o desenvolvimento das famílias no campo, inclusive na sucessão familiar”, diz. MICA Entre os temas enfocados no curso Manejo Integrado da Cultura do Arroz (Mica) dirigido ao Programa de Boas Práticas de Gestão para a Lavoura Arrozeira estão: exigências climáticas e épocas de semeadura; cultivares do Irga; preparo do solo e estabelecimento da cultura; manejo da adubação; integração lavoura-pecuária; tecnologia de sementes; manejo da irrigação e de insetos, plantas daninhas e doenças, entre outros. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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RECURSOS HUMANOS
Empossados técnicos orizícolas aprovados em concurso de 2016 Nomeações reforçam o staff do Irga para enfrentar os desafios da orizicultura
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Nova equipe: funcionários suprem lacunas para o atendimento das demandas setoriais
O
Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) empossou novos técnicos agrícolas e químicos. Os novos servidores foram aprovados no concurso realizado em 2016 pela autarquia. A primeira lista de convocados foi publicada no Diário Oficial do Estado de 10 de março deste ano. Até o mês de junho, 34 técnicos haviam sido empossados pelo Irga, sendo 31 agrícolas e três químicos. Alguns desistiram da nomeação, por isso devem ocorrer novos chamamentos em breve. Essas novas nomeações aguardam aprovação por parte do governo do estado. A chefa da Divisão de Recursos Humanos do Irga, Sandra Mobus, foi a responsável pela organização da parte administrativa do concurso. 38
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Sandra explica que o técnico tem um papel importante dentro do Instituto.
Esse concurso vem para suprir essa necessidade que se tem no Irga dos técnicos agrícolas e químicos. Não tem como ficarmos sem essa força de trabalho, afirma Sandra Mobus. Esse profissional atua tanto na pesquisa quanto no serviço
de extensão rural, auxiliando e levando conhecimento até o produtor. “Esse concurso vem para suprir essa necessidade que se tem no Irga dos técnicos agrícolas e químicos. Não tem como ficarmos sem essa força de trabalho”, afirma Sandra. Para o coordenador regional da zona sul, o engenheiro agrônomo André Barros Matos, o atendimento não dava conta. Em Santa Vitória do Palmar, no 16° Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate), apenas uma engenheira atendia 600 produtores. Após o concurso, a região recebeu dois novos técnicos agrícolas para ajudar nas demandas. “Precisávamos urgente de mais pessoas. O quadro necessitava e aguardava pessoas de qualidade, muito dispostas para trabalhar.
RECURSOS HUMANOS
Empenhadas e dedicadas em aprender. E esses novos técnicos têm demonstrado isso”, acrescenta Barros. Otaviano Maciel Carvalho Silva é um dos novos empossados em Santa Vitória do Palmar. Silva é técnico agrícola, engenheiro agrônomo e mestre em Fruticultura. O novo técnico iniciou no mês de abril e já contribuiu no trabalho de extensão e coleta de dados. “É muito bom auxiliar no aumento da produtividade do produtor, levar conhecimento para ele e levar a pesquisa que o Irga desenvolve”. Entre os planos para o futuro, Silva comenta estar interessado em continuar no Instituto, “pretendo crescer no Irga e alcançar novos postos de trabalho”.
“
Precisávamos urgente de mais pessoas. O quadro necessitava e aguardava pessoas de qualidade, afirma André Matos.
A técnica em química, Amanda Dalbosco Machado foi empossada em 3 de abril e trabalha atualmente na Seção de Melhoramento Genético da Estação Experimental do Arroz. Amanda conta que este foi o primeiro concurso que participou e que estava terminando o curso quando prestou a prova do Irga. “Já tinha feito dois estágios na área, mas nunca com arroz. Tem sido uma boa
Posse da servidora Eleonara Witte Pereira, alocada no 19° Nate de Itaqui
experiência e tenho aprendido bastante. Trabalho no laboratório, com milose e biotecnologia”, explica. Outro técnico agrícola empossado em abril foi Rodrigo da Rosa, no 35º Nate de São Pedro do Sul. Rosa se diz muito feliz com a área em que está atuando. “Queria trabalhar com arroz e soja em várzea, em um lugar que possibilitasse um diálogo com o produtor. E no Irga tem sido assim,” explica. Quanto aos planos para o futuro, Rosa diz que pretende se especializar e ampliar seus conhecimentos. “Pretendo ficar no Irga, porque é um lugar onde posso desenvolver um bom trabalho. Com esforço e dedicação, pretendo ser requisitado pelos produtores e reconhecido pelo meu trabalho e desempenho”, acrescenta. Rodrigo Rosa não é o único técnico interessado em especializar-se na área. A técnica agrícola Eleonara Witte Pereira, alocada no 19º Nate de Itaqui, pretende fazer mestrado com ênfase no arroz. “Gosto
de trabalhar com produtores, pretendo desenvolver minhas habilidades e crescer dentro do Irga”. Eleonara concluiu o técnico nos aos 90, depois realizou um Tecnólogo em Agropecuária/ Sistema de Produção e, por último, terminou a pós-graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Em relação ao trabalho desempenhado no Irga, a nova técnica diz estar cada vez mais motivada. “Estou achando ótimo, me identifico com a área, gosto de fazer o meu trabalho e estou sempre aprendendo com o que vejo e ouço trabalhando aqui no Irga”. Conforme o coordenador da Regional da Zona Sul, o objetivo é incentivar e proporcionar o crescimento profissional dos técnicos. “Pretendemos especializá-los e torná-los parte do Irga. Através da interação, vamos crescer como um todo, e, por meio de treinamento, pretendemos qualificar ao máximo as equipes”, comenta André Matos.
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INSTITUCIONAL
Melhorias no patrimônio Plano de manutenção e reformas é foco da diretoria administrativa em conjunto com a seção de engenharia da Instituição
A
s reformas e manutenções das edificações do Instituto Rio Grandense do Arroz têm sido uma das prioridades na atual gestão. Muitas obras foram realizadas no biênio 2015-2016, como, por exemplo, reforma da Biblioteca; reformas das sedes dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Nates) de Santo Antônio da Patrulha, Mostardas e Santa Maria, reforma das redes elétricas das unidades de pesquisa, regularização de PPCI das edificações. No biênio 2017-2018 as ações prosseguem no mesmo ritmo, buscando adequar estruturas que ainda não foram atendidas. Neste contexto podemos citar a reforma completa do Auditório 1 da Divisão de Pesquisa da Estação Experimental do Arroz (EEA), em Cachoeirinha, finalizada no início de 2017 e sendo utilizado para a Abertura da Colheita. Esta reforma incluiu desde a troca total do telhado e da rede elétrica e instalações de ar condicionados para atender ao evento. As adequações das edificações do Irga prosseguiram com a reforma da Casa do Irga na Expointer, dos prédios dos Nates de Pelotas e Rio Pardo, reforma e ampliação da rede elétrica no campo experimental e reforma do telhado do prédio administrativo da Divisão de Pesquisa. Além destas, iniciaram as correções dos projetos da nova sede do Irga, processos de reforma dos Nates de Camaquã e Alegrete, projeto e reforma dos banheiros de eventos na Divisão de Pesquisa, instalação de pivôs de irrigação em Cachoeirinha, Cachoeira do Sul e Uruguaiana, reforma e execução do laboratório da subestação experimental de Cachoeira do Sul e adequação das guaritas de Cachoeira do Sul e Cachoeirinha. Como se observa as atividades e ações não param e a equipe de Engenharia, sob a responsabilidade do engenheiro civil Décio Collatto, em conjunto com a diretoria administrativa, com o diretor Renato Caiaffo da 40
Prédios foram reformados para a Abertura da Colheita 2017
Ações previstas para as temporadas 2017 e 2018 w Reforma da rede elétrica de média e baixa tensão da EEA; w Reforma do auditório 2 da EEA; w Reforma do alojamento da EEA; w Reforma do telhado do prédio de pós-colheita da EEA; w Reforma do vertedouro da barragem da Granja Vargas; w Reforma do almoxarifado da EEA; w Reforma interna do prédio administrativo da EEA; w Reforma do refeitório da EEA; w Reforma da UBS da EEA; w Licitação para a construção da nova sede do Irga; w Construção de muro de divisa da EEA em Cachoeirinha; w Manutenção e reformas dos imóveis existentes. Fonte: Seção de Engenharia, Obras e Serviços/Irga.
Rocha, continuam em sintonia com a importância e a necessidade do desenvolvimento de projetos e reformas dos demais imóveis. “O objetivo é conservar o patrimônio do Irga e promover a disposição aos seus servidores de ambientes adequados e salutares para o perfei-
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to desenvolvimento das suas atividades”, explica Rocha. Segundo Décio Collatto, chefe da Seção de Engenharia, Obras e Serviços do Irga, estão previstas diversas ações. “A demanda é intensa para manter as atividades do Irga em sintonia com as demandas do setor”, diz.
Mais tecnologia
INSTITUCIONAL
Upgrade: novos computadores estão a caminho das unidades do Instituto
Máquinas irão para o interior e para a Estação Experimental do Arroz
T
ramita na área de licitações do governo do estado o pedido de compra de 100 novos computadores de mesa e 25 notebooks de última geração para instrumentalizar as equipes da Divisão de Pesquisas, das Coordenadorias Regionais e dos Núcleos de Assistência Técnica e Extensão Rural do Irga. Segundo Alberto Itamarati Viegas de Andrade, chefe da Divisão de Tecnologia da Informação da autarquia, trata-se de uma demanda que ainda depende do ritmo da central de licitações do Es-
tado para ser atendida. “Mas temos a expectativa de que neste segundo semestre será atendida”, afirma. Andrade explica que os técnicos de sua divisão identificaram a necessidade de substituir parte das máquinas, em especial nas unidades do interior, onde os computadores são mais antigos, desatualizados e têm dado mais custos de manutenção. “Com as novas máquinas haverá também uma atualização dos sistemas e programas que vão facilitar a comunicação de dados internamen-
te”, revela. Tão logo a DTI/Irga receba as novas máquina, deflagrará o processo de substituição gradual. O material mais antigo será recolhido. “O que estiver em boas condições e puder ser atualizado e passar por uma manutenção para servir em outros setores, será aproveitado. Aquele material que for avaliado como descartável vai para o cadastro dos bens inservíveis e deve seguir para doação a entidades sociais e escolas, por exemplo”, explica. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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MERCADO
Renda ao produtor passa pelo controle dos custos
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mercado arrozeiro passou setembro com a saca de 50 quilos valendo por volta de R$ 37,00 (58 de grãos inteiros). O achatamento do preço tem levado preocupação ao produtor e às entidades ligadas ao setor. A lei da oferta e da procura é infalível: com mais arroz no mercado, é natural que a cotação entre em queda livre no momento da negociação com a indústria. O diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Tiago Sarmento Barata, aponta a concentração da oferta como principal fator para este cenário. Segundo ele, uma situação como essa em três meses causa um achatamento desproporcional no preço. “O que reduziu o valor do cereal abaixo dos R$ 39,00 foi muito mais a venda na boca da safra do que a recuperação produtiva”, salienta Barata. Segundo ele, naturalmente temos preços mais baixos no primeiro semestre em razão de uma concentração da oferta, mas, nesse ano vemos o arroz em desvalorização na entrada do segundo semestre do ano comercial, dessa vez em razão de um represamento da demanda por parte dos grandes centros consumidores, que optam pelo abastecimento do ar-
roz produzido em melhores condições competitivas nos nossos vizinhos do Mercosul (em especial Paraguai). “É importante termos ciência de que, na conjuntura internacional, temos um preço elevado. Não é a toa que paraguaios, argentinos e uruguaios estejam vendo a venda ao Brasil como um negócio vantajoso. O grande problema é que mesmo assim, o preço não é suficiente para garantir renda ao nosso produtor. O maior gargalo interno é o custo de produção elevado”, avalia. Entende que diante da desvalorização do cereal, é fundamental que o produtor tenha pleno controle dos custos da produção para rentabilizar a atividade. Segundo Barata, um estudo que tem por base o histórico da média de preços do Indicador Esalq – Senar/RS, custos de produção do Irga e a produtividade do estado mostra que a produção média obtida não tem sido suficiente para cobrir os custos. Dos últimos 13 anos, em sete o produtor gaúcho de arroz (em média) não colheu volume suficiente para cobrir o seu custo de produção, acumulando um prejuízo de 68,7 sacas por hectare. O levantamento revela que o prejuízo é maior para quem vendeu sempre no primeiro semestre e me-
nor para o arrozeiro que negociou a produção no segundo semestre. Em média, por esse método, o prejuízo anual foi de 68,7 sacas por hectare neste período, o que, com o arroz a R$ 40,35 no início de setembro, equivalia a R$ 2.772,05, praticamente um terço do custo de produção. Num cenário como esse, explica Barata, só garantiu renda quem teve produtividade acima da média do estado, custo de produção inferior ao estimado pelo Irga e conseguiu preço superior à média do segundo semestre do indicador Esalq – Senar/RS. “Pela conjuntura, foram poucos. Em geral produtores proprietários de ao menos parte da área, que têm culturas alternativas como soja e pecuária, armazenagem – mesmo que parcial – e conseguiram adotar métodos eficientes de comercialização e produção de grãos de qualidade superior”, aponta o diretor do Irga. Em 2017, a entrada de arroz excedente do Mercosul em plena colheita também contribuiu para o achatamento dos preços. Barata lembra que, no ano passado, a situação era diferente. As cotações eram mais firmes, câmbio favorável e preços em dólar também eram competitivos.
O que esperar da próxima safra Pelos prognósticos da área comercial do Irga, a próxima safra deverá ter reação gradual, mas o comportamento do mercado indica que não se chegará aos mesmos patamares de preço de 2016. Com pouco produto em mãos, o produtor deverá ficar refém da política cambial. Para o diretor comercial da autarquia, Tiago Barata, a recuperação do setor será mais rápida se crescerem as exportações. Se ocorrer o contrário e ainda com a manutenção do volume de aquisições externas, a recuperação será mais lenta. Há ainda uma tendência de redução no plantio para a próxima safra. Entidades ligadas ao setor arrozeiro apontam que esta redução só será vantajosa se houver uma redução conjunta de área com participação de todo o Mercosul. Barata entende que enquanto as entidades buscam soluções políticas e ações na via econômica, ao produtor cabe melhorar a gestão dentro da porteira. É preciso ter os custos na ponta do lápis e tentar reduzi-los. Quem tiver acesso ao crédito oficial deve explorar ao máximo as vantagens que propor42
ciona, o que não quer dizer volume, mas uso eficiente, com responsabilidade. “Comprar os insumos quando estão mais baratos, na quantidade que precisa e aplicá-los com eficiência é um exemplo. Quem contrata crédito, com indústria ou fornecedores, deve travar os preços e negociar para que o vencimento seja o mais longe possível da colheita, mesmo com pagamento em produto. A venda na colheita obriga a vender barato, pois as cotações sempre estão achatadas”, frisa o diretor comercial do Irga. Quando o assunto é gestão da porteira para dentro, Barata ainda vai mais longe: “tenho convicção que o produtor gaúcho de arroz é extremamente eficiente. Não é a toa que delegações internacionais buscam a toda hora levar produtores gaúchos para desenvolver a agricultura em seus países. Não tenho dúvidas que essa eficiência é uma reação natural do produtor para se manter ativo diante das dificuldades impostas pela falta de uma política pública eficiente para o agronegócio no
Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
Brasil. Porém, sempre há um ´ajuste fino` a ser feito por parte do produtor”. Segundo ele, o rizicultor deve dominar na ponta do lápis cada centavo que tem para entrar e para sair, antecipar o preparo de solo para plantar na melhor época e buscar o máximo da tecnologia recomendada diante de sua capacidade de investimento. Recomenda ainda que o arrozeiro pense seriamente em investir em armazenagem para dominar a gestão de oferta, observando se pode imobilizar capital ou obter uma linha de crédito favorável para pagar de maneira equilibrada, sem sufoco e necessidade de se desfazer de patrimônio para honrar a dívida. “Devemos estar conscientes de que a sustentabilidade econômica da cadeia produtiva do arroz gaúcho depende de mudanças estruturais. Nesse sentido, tributação, custo de produção, logística e consumo são pautas constantes das entidades representativas para garantir o equilíbrio entre os fundamentos de oferta e demanda, garantindo assim renda aos operadores da cadeia”, finaliza.
ARTIGO TÉCNICO
Beneficiamento do arroz no Rio Grande do Sul em 2016 Por Victor H. Kayser1, Tiago S. Barata2, Álvaro Escher3, Michel Kelbert4
INTRODUÇÃO Os engenhos de arroz constituem parte da cadeia produtiva do arroz no Rio Grande do Sul onde, através do beneficiamento do arroz, disponibiliza o produto apto ao consumo humano. O presente trabalho visa avaliar a distribuição espacial das empresas
de beneficiamento, a evolução do beneficiamento e a concentração das empresas. O dado básico é o beneficiamento realizado pelas indústrias com base na fiscalização da Taxa CDO – Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura de 2016 e dados de produção de arroz no Rio Grande do Sul.
METODOLOGIA Com base nos dados dos anos de 2012 a 2016 (Tabela 1), tem-se o quadro da evolução do número de engenhos ativos no Rio Grande do Sul, do beneficiamento, da produção de arroz no estado e o volume beneficiado em relação à produção, que tem sido na ordem de 75%.
Tabela 1: Evolução do número de engenhos ativos, do beneficiamento, da produção de arroz no RS e da capacidade de beneficiamento.
Engenhos ativos
Benef. anual
Média por
Número
toneladas
Engenho (t)
toneladas
%
2012
230
6.123.202
26.623
7.672.809
79,8%
2013
225
5.998.405
26.660
8.069.903
74,3%
2014
217
5.844.853
26.935
8.116.669
72,0%
2015
198
6.072.365
30.669
8.719.449
69,6%
2016
187
5.959.483
31.869
7.299.462
81,7%
Ano
Produção RS Benef./Prod.
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elad.: Seção de Política Setorial O número de engenhos decresceu 19% no período analisado, porém a capacidade instalada por engenho vem aumentando, mantendo o volume anual beneficiado, quase inalterado, em média de 5,9 milhões de toneladas; o volume beneficiado por
engenho teve um aumento na ordem de 20% no período. No ano de 2016, os 187 engenhos constituem 174 empresas agroindustriais beneficiadoras de arroz. Os engenhos se distribuem em 64 municípios. A Tabela 2 refere-se aos cinco
municípios com 10 ou mais engenhos. Pelotas destaca-se pelo maior número de engenhos (17), beneficiando 14% do total; onde estes cinco municípios contam com 35% dos engenhos do estado e beneficiaram 32% do total.
Tabela 2: Municípios do RS com 10 ou mais engenhos em 2016.
Município
Nº Eng.
Benef. anual (t)
% Eng. % Acum. Eng. % Benef. % Benef. acum.
Pelotas
17
841.085
9,1%
9,1%
14,1%
14,1%
São Borja
15
427.161
8,0%
17,1%
7,2%
21,3%
Santo Antônio da Patrulha
14
303.201
7,5%
24,6%
5,1%
26,4%
Uruguaiana
10
208.284
5,3%
29,9%
3,5%
29,8%
Santa Maria
10
122.790
5,3%
35,3%
2,1%
31,9%
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elab.: Seção de Política Setorial
Também constata-se uma grande concentração da capacidade de beneficiamento entre as indústrias na RS. A Tabela 3 demonstra esta concentração. Palavras-chave: engenhos, produção, cadeia produtiva. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
43
ARTIGO TÉCNICO Tabela 3: Concentração no beneficiamento do arroz no RS em 2016. Classes
Nº de empresas
Percentual (%)
Beneficiamento (t)
% Benef.
Nº de classes
Intervalo de classes (t/ano)
No intervalo
Acumulado
No intervalo
Acumulado
No intervalo
Acumulado
%
% acum.
1
até 750
30
30
17,2%
17,2%
7.633
7.633
0,1%
0,1%
2
de 750 a 2.500
17
47
9,8%
27,0%
25.560
33.192
0,4%
0,6%
3
de 2.500 a 7.500
30
77
17,2%
44,3%
137.198
170.390
2,3%
2,9%
4
de 7.500 a 15.000
24
101
13,8%
58,0%
257.307
427.698
4,3%
7,2%
5
de 15.000 a 25.000
20
121
11,5%
69,5%
417.107
844.805
7,0%
14,2%
6
de 25.000 a 50.000
23
144
13,2%
82,8%
835.222
1.680.026
14,0%
28,2%
7
acima de 50.000
30
174
17,2%
100%
4.279.457
5.959.483
71,8%
100%
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elab.: Seção de Política Setorial
Na Tabela 3, comparando o primeiro estrato, empresas que beneficiam até 750 t/ano (15.000 sacos) com o último estrato, empresas que beneficiam acima de 50 mil t/ano (1 milhão de sacos), revela que em ambos os estratos contam com 30
empresas. Enquanto que o primeiro grupo beneficia somente 0,1% do total, o último grupo beneficia 71,8% do total. Na mesma Tabela 3, constata-se que 144 empresas (82,8%) beneficiam 28,2% do total no estado, ca-
racterizando a concentração do beneficiamento nas maiores empresas. A Tabela 4 apresenta o ranking das 10 maiores empresas de beneficiamento, 5,8% do total, processaram 45% do total no ano de 2016, demonstrando a concentração.
Tabela 4: As 10 maiores empresas de beneficiamento de arroz no RS, em 2016. Nº unidades
Toneladas
%
% acumul.
1
CAMIL ALIMENTOS S/A
Indústria de beneficiamento
4
747.561
12,5%
12,5%
2
JOSAPAR - JOAQUIM DE OLIVEIRA PART.
2
484.770
8,1%
20,7%
3
PIRAHY ALIMENTOS LTDA.
2
263.861
4,4%
25,1%
4
SLC ALIMENTOS S/A
1
216.042
3,6%
28,7%
5
ARROZEIRA PELOTAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE CEREAIS LTDA.
1
214.512
3,6%
32,3%
6
URBANO AGROINDUSTRIAL LTDA.
1
201.390
3,4%
35,7%
7
COOP. TRITÍCOLA SEPEENSE LTDA.
3
170.066
2,9%
38,5%
8
PILECO & CIA LTDA.
1
137.170
2,3%
40,8%
9
ENGENHO A. M. LTDA.
1
134.482
2,3%
43,1%
10
COOP. AGROINDUSTRIAL ALEGRETE LTDA. - CAAL
1
134.241
2,3%
45,3%
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elab.: Seção de Política Setorial
A concentração do beneficiamento também se verifica espacialmente, segundo as regiões orizícolas que o Irga – Instituto Rio Grandense do Arroz divide o estado, a Fronteira Oeste beneficia 27% do total, com 39 engenhos, seguido da Zona Sul que beneficia praticamente 21% do total. Fora da região arrozeira há três engenhos que Tabela 5: Concentração do beneficiamento do arroz no RS, segundo as regiões orizícolas, em 2016.
beneficiaram 4.632 toneladas, apenas 0,08% do total. O beneficiamento se concentra na região produtora de arroz (99,9%) - Tabela 5. Em termos municipais, os 10 que tiveram o maior volume de beneficiamento estão listados na Tabela 6. O município de Pelotas, na Zona Sul, beneficiou 14% do volume estadual,
Regional
seguindo-se os municípios de Itaqui, Camaquã, São Borja, Alegrete, Santo Antônio da Patrulha, Capão do Leão, Dom Pedrito, Uruguaiana e São Gabriel. Dois situam-se na Zona Sul, quatro na Fronteira Oeste, dois na Campanha, um na Planície Costeira Interna e um na Planície Costeira Externa.
Nº engenhos
Benef. anual (t)
% benef.
% benef. acumul.
FO - Fronteira Oeste
39
1.621.818
27,20%
27,20%
ZS - Zona Sul
28
1.233.889
20,69%
47,89%
PCI - Plan. Cost. Interna
30
1.077.275
18,07%
65,96%
DC - Dep. Central
39
873.254
14.65%
80,60%
CA - Campanha
19
676.486
11.35%
91,95%
PCE - Plan. Cost. Externa
29
475.414
7,97%
99,92%
Subtotal Região Arrozeira
184
5.958.136
99,92%
99,92%
FRA - Fora Região Arrozeira Total
3
4.632
0,08%
100,00%
187
5.962.768
100,00%
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elab.: Seção de Política Setorial
Os engenhos situados na região arrozeira beneficiaram em 2016 81,6% da produção estadual – Tabela 7. Destacam-se a Planície Costeira Interna, que beneficiou 10% a mais que a correspondente produção regional, e a Depressão Central, beneficiando 4,0% mais que a produção regional. 44
Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
ARTIGO TÉCNICO Tabela 6: Os 10 municípios com maior beneficiamento no RS em 2016.
Regional ZS
Nº Eng. 17
Benef. anual (t) 841.085
% benef. 14,1%
% acumul. 14,1%
2 Itaqui
FO
6
648.753
10,9%
25,0%
3 Camaquã
PCI
6
580.273
9,7%
34,7%
4 São Borja
FO
15
427.161
7,2%
41,9%
5 Alegrete
FO
3
311.051
5,2%
47,1%
PCE
14
303.201
5,1%
52,2%
7 Capão do Leão
ZS
3
253.840
4,3%
56,4%
8 Dom Pedrito
CA
6
237.323
4,0%
60,4%
9 Uruguaiana
FO
10
208.284
3,5%
63,9%
10 São Gabriel
CA
1
201.390
3,4%
67,3%
Município 1 Pelotas
6 Santo Antônio da Patrulha
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elab.: Seção de Política Setorial
Tabela 7: Produção e beneficiamento segundo as regiões orizícolas do RS em 2016.
Regional
Produção
Beneficiamento
Benef. /Prod.
toneladas
%
toneladas
%
%
FO - Fronteira Oeste
2.094.330
28,7%
1.621.818
27,2%
77,4%
ZS - Zona Sul
1.404.183
19,2%
1.233.889
20,7%
87,9%
PCI - Plan. Cost. Interna
976.943
13,4%
1.077.275
18,1%
110,3%
DC - Dep.Central
836.161
11,5%
873.254
14,7%
104,4%
CA - Campanha
1.117.311
15,3%
676.486
11,4%
60,5%
870.535
11,9%
475.414
8,0%
54,6%
7.299.462
100,0%
5.958.136
100,0%
81,6%
PCE - Plan. Cost. Externa Total
Fonte: TAXA CDO/Irga; Elab.: Seção de Política Setorial
A Figura 1 demonstra a redução do número de empresas e dos engenhos no beneficiamento do arroz de 2012 a 2016.
250
230 214
225
208
217
200
201
198
185
187
174
150 100 50
Figura 1: Evolução do número de engenhos e de empresas beneficiadoras de arroz no RS, no período de 2012 a 2016.
0
CONCLUSÕES Verifica-se a tendência na redução do número de empresas (e de engenhos) - Figura 1, com a concentração do beneficiamento nas maiores indústrias. O setor compensa a redução do 1
2012
2013
2014
2015
Engenhos ativos
Empresas
Linear (Engenhos ativos)
Linear (Empresas)
número de unidades de processamento de arroz com o aumento de sua capacidade, visto que o volume beneficiado no período analisado (Tabela 1) mantém a média de 5,9 milhões de toneladas. O beneficiamento se concentrou na região arrozeira (99,9%),
2016
havendo apenas três unidades industriais fora de região e que respondem por apenas 0,08% do total beneficiado. As dez maiores empresas de beneficiamento concentram 45% do total beneficiado no estado do Rio Grande do Sul.
Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural -Irga, Av. Missões, 342-Porto Alegre, RS-CEP 90230-100, victor-kayser@irga.rs.gov.br; 2 Engenheiro Agrônomo, mestre em Agronegócio; 3 Economista; 4 Economista. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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ARTIGO TÉCNICO
O La Niña ainda virá? Por Jossana Cera - Meteorologista do Irga
A
partir de agosto, o Oceano Pacífico iniciou um novo período de resfriamento, porém mais tarde que na última safra, mostrando que se o La Niña acontecer, será mais tardio que na safra 16/17 (e com intensidade fraca e curta duração). O resfriamento está um pouco mais intenso que no último episódio, por isso as chuvas no mês de novembro ficaram abaixo do normal na metade sul do Rio Grande do Sul, onde as regiões mais afetadas foram Fronteira Oeste, Campanha, Zona Sul e parte da Região Central, com um déficit de até 100 mm. Outro fator a ser analisado é a temperatura das águas do Oceano Atlântico Sul, próximo à costa do Rio Grande do Sul (área circulada na Figura 1). Mas porque ficar de olho nessa região? Pois há indícios de que o aquecimento das águas eleva a umidade relativa do ar, que é transportada pelos ventos para o continente, favorecendo a formação de nuvens e aumento nas precipita-
ções. O aquecimento nesta região diminuiu muito nas últimas semanas e esse pode ser um fator a menos no aporte de umidade para o continente. Para a cultura do arroz, de maneira geral, anos Neutros e de La Niña são bons pois ofertam boa quantidade de radiação solar, fator importante para alcançar altas produtividades. Para as culturas de sequeiro, como a soja, o produtor deve ter cautela, pois ambos os eventos possuem alta variabilidade, ou seja, a alternância entre períodos secos e chuvosos é maior, podendo faltar chuvas no período crítico na cultura (floração e enchimento de grãos) causando prejuízos. O mapa da anomalia da Temperatura da Superfície do Mar de novembro mostra a condição atual de resfriamento, ou seja, têm-se as condições típicas de La Niña, porém o evento ainda não está configurado. A região do Niño 3.4 é a que os centros internacionais utilizam para
determinar o El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que é composto pelas suas fases quente (El Niño) e fria (La Niña) (Figura 1). A previsão de probabilidade do IRI (International Research Institute) é baseada em informações observadas e previstas por mais de 20 modelos. A previsão atualizada em novembro mostra maior probabilidade (60 a 75%) para La Niña. Para que o La Niña de fato aconteça são necessários mais três meses de anomalias negativas das águas. O monitoramento mensal das condições climáticas é importante nesse momento, para acompanhar o desenvolvimento desse padrão e como ele irá impactar no verão 2017/18. Lembrando que a partir do Outono o padrão voltará para a Neutralidade. Até o momento as previsões indicam que as chuvas ficarão abaixo do normal no Estado nos próximos três meses principalmente na metade sul. Essas estiagens poderão ser curtas e regionalizadas.
Figura 1. Mapa da Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) de novembro/2017. O retângulo delimita a região do Niño 3.4. Áreas em laranja representam anomalias positivas e áreas em azul as anomalias negativas de temperatura. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE.
46
Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
ARTIGO TÉCNICO
Período em trimestres Figura 2. Previsão de consenso do International Research Institute for Climate and Society. As barras em azul significam probabilidade de La Niña, as verdes Neutralidade e as vermelhas El Niño. Fonte: Adaptado de IRI.
Recomendações aos produtores de arroz no RS w Atenção ao nível dos reservatórios e rios, pois há risco de períodos mais longos sem chuvas; w Atenção também para o risco de temperaturas baixas a partir do mês de fevereiro. Com o resfriamento do Oceano Pacífico, as chances de frio fora de época são maiores.
Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
47
ARTIGO TÉCNICO
BARRIGA BRANCA: defeito ou virtude? Cinquenta tons de “gesso”
Por Gilberto Wageck Amato *, Victor Hugo Kayser** e Fernando F. Miranda***
1. Objetivo do artigo
3. A visão do consumidor
O presente artigo objetiva trazer contribuição dos autores sobre tema, motivo de polêmicas sobre as relações comerciais entre elos da cadeia produtiva do arroz, impactando no consumidor final.
No Brasil ocorre certa confusão entre técnicos em relação ao conceito de “defeito” da MANCHA BRANCA, surgindo em documentos sem a intenção desqualificar um produto.
2. Conceitos básicos pertinentes ao tema 2.1. MANCHA BRANCA Trata-se de uma descontinuidade na cor ou tonalidade – branco-opaco – alterando a aparência dos cereais. Em razão da alteração não ser percebida em grãos destinados à moagem, o tema fica restrito ao arroz. Resulta de espaços vazios gerados entre frações de amido e proteína durante a formação do grão. Trata-se de fenômeno óptico atribuído, entre as causas, à inclusão de ar por um choque térmico: dia quente–noite fria. Conforme sua localização no grão, a mancha assume as denominações de CENTRO BRANCO e BARRIGA BRANCA, que desaparece durante o preparo na cozinha. Igualmente, desaparece pelo tratamento hidrotérmico na parboilização, devido ao ingresso de água nos citados espaços vazios. Nas normas dos EUA, um grão de parboiled que apresente BARRIGA BRANCA é considerado “não parboilizado”, por defeito de processo, sendo classificado como de “gelatinização incompleta”. Essas manchas não comprometem a qualidade nutricional do grão, mas o consumidor – por falta ou má informação – tende a atribuir menor aceitação ao produto. 2.2. BARRIGA BRANCA
Figura 1: Centro branco
PANZA BLANCA (espanhol), PANCIA BIANCA (italiano) e WHITE BELLY (inglês). 2.3. CENTRO BRANCO Mancha em que pontos brancos opacos aparecem próximo ao centro do grão. O fenômeno óptico está relacionado à má compactação do amido no interior do grão. 2.4. Itens de influência na alteração dos grãos A cultivar IRGA 424 RI possui maior suscetibilidade ao aparecimento de grãos com CENTRO BRANCO e muito deste fato se deve a interação ambiente versus genótipo. Algumas práticas de manejo podem mitigar seu aparecimento. CENTRO BRANCO: resumo sobre a interação genótipo x ambiente Ambiente: - Temperaturas altas aumentam CENTRO BRANCO Fatores que mitigam CENTRO BRANCO: - Semeadura época recomendada - Adubação equilibrada - Qualidade da semente - População plantas uniformes - Uniformidade do terreno/irrigação
Forma de MANCHA BRANCA onde os pontos brancos opacos aparecem na face ventral ou na “barriga” do grão. Recebe as denominações de 48
Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
Figura 2: Cultivares de arroz
Porém, induzem o consumidor a identificá-lo como potencialmente danoso à saúde. Poder-se-ia resumir que o defeito em pauta se restringe ao aspecto estético. Trata-se de um defeito não metabólico. 4. Defeitos metabólicos e não metabólicos – revisando! A tipificação no regulamento nacional tem como premissa escalas decrescentes de injúria. No subgrupo branco polido, os defeitos são “punidos” na seguinte ordem decrescente: mofados e ardidos, amarelos, picados ou manchados, rajados, gessados e verdes. Assim, destacam-se os gessados entre os de menor injúria! O conceito de relevância sobre a intensidade de risco sobre a saúde humana foi proposto pelo Prof. Moacir Elias (LabGrão/UFPel). Surgiu em 1997, na Regulamentação Técnica do Mercosul. Acompanhado por parceiros do Irga e da Cientec, não prosperou, resultando em atraso no conceito de qualidade do arroz. 4.1. Defeitos metabólicos São considerados aqueles de maior risco para a saúde humana , concentrando-se naqueles passíveis de alteração durante o período de armazenagem do arroz: manchados, picados, amarelos, enegrecidos e ardidos. O risco destes é o desenvolvimento de substâncias nocivas, como toxinas produzidas por fungos, as micotoxinas, algumas delas cancerígenas e/ou indutoras de outros importantes males.
ARTIGO TÉCNICO
4.2. Defeitos não metabólicos Nesse grupo de menor potencial de injúria, estudos da UFPel demonstram que alguns defeitos – como os danificados (fisicamente), gessados e rajados – não se alteram durante o armazenamento. 5. Arrozes com MANCHA BRANCA: defeito ou virtude? 5.1. MANCHA BRANCA: CENTRO BRANCO E BARRIGA BRANCA Quando se discute alguma pendência de orientação sobre a “família” MANCHA BRANCA, torna-se relevante estabelecer um paralelo com a especial atenção que o principal documento do país sobe o tema – a IN 06/2009, versão 2012, do Mapa – dá aos chamados Cultivares de Tipo Especial de Arroz. Este grupamento inclui arrozes que apresentam em sua totalidade “cor ou tonalidade, branco-opaco, alterando a aparência do grão”. 5.2. Variedades e pratos da culinária internacional Constituem-se exemplos clássicos matérias-primas direcionadas às culinárias italiana, japonesa, tailandesa, indiana e espanhola; e outras cultivares destinadas a culinárias regionais brasileiras. Os tipos de arroz que seguem têm em comum o aspecto branco-opaco. - Arbóreo, italiano, famosíssimo, da terra do risotto, é das variedades japônicas. São seus congêneres o IAC 300, de Campinas, e o Pearl, da Califórnia.
Figura 3: Arroz Arbóreo
- Carnaroli, considerado na regulamentação da Itália pelo seu aspecto como de “grani gessati” (grãos gessados). - Calrose, da Califórnia, utilizado para o sushi e outros pratos da culinária japonesa. - Pearl Rice, arroz gessado, quase redondo, cultivado na Califórnia, indicado para o consumo como arroz branco, com tendência à aderência, tal como o Avòrio italiano e o aromático indiano Basmati.
BRANCA”. Em síntese, dando guarida aos grãos totalmente gessados das variedades especiais, ao mesmo tempo pune o arroz branco polido convencional, onde as manchas (tons de gesso) rebaixam sua tipificação, incentivando a desvalorizando comercial do produto. 6.2. “Bitributação” aos grãos manchados Dois argumentos, de diferentes pontos de vista, podem justificar a “punição” dos grãos com o defeito (tons de gesso), que resulta na diminuição do valor de venda: - o da menor aceitação pelo consumidor, por fatores estéticos; e - o do engenho, pela tendência de gerar menos grãos inteiros, devido à descontinuidade na característica física deste grão. 7. Conclusão
Figura 4: Arrozes especiais
- E mais ainda, um infindável número de variedades que são direcionados a pratos como paellas valencianas, sushis, risottos e até aquelas direcionadas a produção produtos especiais, como cervejas, sakes, sucrilhos, molhos, vinagres e etanol. 6. Comparação entre variedades de grãos 6.1. Grãos totalmente gessados x levemente manchados Quando a regulamentação técnica do Mapa disponibiliza um espaço comercial para as variedades especiais totalmente gessadas, cria uma oportunidade a mais para a cadeia produtiva do arroz, fato louvável, sem dúvida! Porém, estabelece um paradoxo – e certa injustiça [sic] – com os grãos que compõem a “família MANCHA
Assim, questiona-se a dupla penalização sobre os grãos manchados e gessados: - Na tipificação, paradoxal em relação às variedades especiais, com o consumidor, diante da gôndola, pelo aspecto estético, parcialmente induzido pelo rebaixamento de Tipo; e - No engenho, na recepção da matéria-prima, avaliando o impacto na perda de grãos inteiros, comercialmente mais valorizados que os quebrados. Essa conclusão está pendente de ser considerada por ocasião da próxima revisão do Regulamento Técnico do Arroz. Corrija-se a natureza, a teoria está certa! Irônica observação de Albert Einstein.
* Gilberto Wageck Amato, Eng. Quím. M. Sc; Pesquisador da CIENTEC, Assessor Técnico – Irga; Pesquisador-Colaborador - LabGrãos/UFPel ** Victor Hugo Kayser, Eng.Agr., M. Sc., Chefe da Seção de Política Setorial do Irga. *** Fernando Fumagalli Miranda, Eng.Agr., M. Sc.,Chefe do Setor de Pós-Colheita do Irga. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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ARTIGO TÉCNICO
Indenização de granizo é um direito Produtor tem até três dias úteis para comunicar a ocorrência ao Irga Por Victor Hugo Kayser - Eng.Agr., M. Sc., chefe da Seção de Política Setorial do Irga.
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êm direito à indenização todos os orizicultores inscritos no Irga que tenham sofrido precipitação de granizo e que tenham feito comunicação solicitando vistoria do Irga em até três (3) dias úteis a contar da data da ocorrência. A comunicação pode ser feita no escritório do Irga (Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural – Nate) que atenda o município onde se localizar a lavoura. A comunicação também pode ser efetuada na página eletrônica do Irga (www.irga.rs.gov.br), onde se pode acessar as informações como o Decreto nº 51.446 de 6/5/2014, que regulamenta a indenização, o formulário de comunicação e os endereços e telefones dos escritórios do Irga. A indenização cobre os eventos ocorridos durante a safra até o dia 30 de abril do ano safra (este prazo pode ser estendido naqueles anos em que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento dilatar os prazos legais de semeadura, segundo o Zoneamento Agroclimático). São exigidos: 1) Comunicação do sinistro; 2) Mapa georeferenciado atualizado da lavoura feito por profissional habilitado com a respectiva ART, a ser providenciado pelo produtor; 3) Licença de Operação da Lavoura (LO) em vigência ou protocolo solicitando a LO (com data anterior ao da queda do granizo); 4) Laudo de vistoria feito pelo técnico do Irga; 5) Cópia de contrato de seguro da lavoura (privado e/ou Proagro), e no caso de não ter segurado, uma declaração com firma reconhecida em cartório de que não possua seguro para a lavoura sinistrada. OBSERVAÇÃO Caso a LO não esteja em nome do produtor (área arrendada), deve ser encaminhado o contrato de arrendamento da área ou do fornecedor da água (em caso de condomínios 50
Total de comunicados de granizo e desistências MUNICÍPIOS
COMUNICADOS DESISTÊNCIAS
1 Cachoeira do Sul............................. 5...................................................4 2 Mampituba....................................... 4...................................................2 3 Cristal............................................... 4...................................................0 4 Jaguarão.......................................... 4...................................................2 5 Palmares do Sul.............................. 2...................................................2 6 Torres.............................................. 2...................................................0 7 Camaquã......................................... 2...................................................1 8 Rosário do Sul................................. 2...................................................2 9 Canguçu.......................................... 2...................................................0 10 Arambaré......................................... 1...................................................0 11 Bagé................................................ 1...................................................1 12 Dom Pedrito..................................... 1...................................................0 Total...................................................... 30...............................................14 de irrigação). Havendo direito de indenização, o produtor deve estar em situação regular com a Fazenda Estadual (caso contrário ficará aguardando até a sua regularização). O cálculo da indenização leva em consideração a produção remanescente da lavoura ao preço mínimo do arroz (R$ 34,97/saco) descontados os custos variáveis da lavoura (anualmente aprovado pelo IRGA, com base no custo de produção para o ano safra – R$ 4.289,79/ha, Resolução 002/2017) e descontado eventual seguro que tenha sido pago. No exercício de 2017, referente à safra 2016/17, foram efetuadas 30 comunicações de granizo aos Núcleos de Assistência Técnica (Nates) do Irga, em 12 municípios, conforme tabela. Estas 30 comunicações abrangem 2.052,55 hectares de lavoura e comparada à área semeada na atual
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safra (1.106.527 ha) corresponde a 0,19%. Destacamos que das 14 desistências, 10 produtores formalizaram a desistência e os demais (2 de Palmares do Sul e 2 de Mampituba) não encaminharam documentação, decaindo do direito à indenização. Estas 16 lavouras somam 873,55 ha, dos quais foram atingidos 804,12 ha (92%) e essa área das lavouras soma 0,08% da área semeada na safra 2016/17. Considerando as desistências, restaram 16 processos e dentre as quais, após uma análise preliminar, quatro (4) produtores não possuíam LO ou protocolo para a sua lavoura, desta forma apenas 12 processos de indenização estavam aptos para o cálculo. O Irga previu o valor de R$ 1.836.768,00 para o presente exercício para as indenizações.
GENTE DO ARROZ
Sob nova DIREÇÃO Flávia Tomita é a primeira mulher a assumir a gerência da Divisão de Pesquisa do Irga
Flávia: foco no trabalho e apoio de grupo gestor
A
engenheira agrônoma Flávia Miyuki Tomita, concursada que assumiu suas funções de pesquisadora em 2014, é a primeira mulher a assumir a gerência da Divisão de Pesquisa do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Em 78 anos de existência da Estação Experimental do Arroz (EEA), em Cachoeirinha (RS), somente homens ocuparam este cargo. Flávia assume a vaga do também agrônomo Rodrigo Schoenfeld, que assume a função de assessor da Diretoria Técnica da autarquia e mantém a coordenação do Projeto Soja 6000. A gerência compreende a coordenação de todos os trabalhos de pesquisa do Irga e também a responsabilidade administrativa sobre a Estação Experimental. Natural de Araçatuba (SP), ela é formada em Agronomia
pela Universidade Estadual Paulista (Unesp-Ilha Solteira), com especialização em Ciência e Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Atualmente faz mestrado em Fitotecnia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Até então Flávia ocupava a função de chefa da Seção de Produção de Sementes na EEA. “Tenho ciência do desafio que é estar à frente desta divisão em um Instituto relevante como o Irga, fazer parte e representar um grupo de pesquisadores qualificados, com potencial para desenvolver pesquisas de ponta e preocupados com o futuro da lavoura de arroz do Rio Grande do Sul. Meu foco será atender aos anseios do setor orizícola gaúcho, com a colaboração não menos importante do setor de exten-
são do Irga. Para isso precisamos centralizar o nosso foco no grupo de pesquisadores e extensionistas, proporcionando as melhores condições possíveis de trabalho para que sejam reconhecidos pelos seus esforços e atendam às demandas setoriais”, disse ela. Flávia acrescenta que entre os seus planos de trabalho está “dar continuidade aos projetos de maior envergadura do Irga, como, por exemplo, o Projeto 10+”. Uma das diretrizes adotada pela nova gerente foi a adoção de um grupo gestor, criado para a tomada de decisões de relevância para a pesquisa do Instituto. O grupo é formado pelos engenheiros agrônomos Danielle Almeida, Darci Uhry, Filipe Selau Carlos, Fernando Fumagalli Miranda, Gustavo Campos Soares e Oneides Avozani. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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HISTÓRIA DO ARROZ
Memorial do Arroz começa a tomar forma Projeto, em Cachoeira do Sul, tem apoio fundamental do Irga
O
Memorial Nacional do Arroz, em fase de estruturação em Cachoeira do Sul, cidade a 192 quilômetros de Porto Alegre, está tomando forma com o avanço da tramitação dos projetos, a captação de recursos e a finalização dos documentos de cedência dos prédios. Cachoeira está localizada na Depressão Central gaúcha e ostenta o título de Capital Nacional do Arroz. O município realiza a cada dois anos a Feira Nacional do Arroz (Fenarroz) e é considerado um dos berços da lavoura orizícola no Rio Grande do Sul e da mecanização desta atividade. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) tem participação fundamental neste projeto. A autarquia cedeu em regime de comodato uma área de quase 4,8 mil metros quadrados no coração da cidade, na Rua Marechal Floriano, 493, junto à Coordenadoria Regional da Depressão Central. O espaço servia de armazém e, antigamente, de engenho de arroz, mas está desativado e demanda investimentos para reformas. “Temos consciência de que é importante manter viva a memória da orizicultura gaúcha e esta iniciativa é importante. Participamos com a cedência, em comodato, de uma área que no momento estava ociosa e não tinha uma destinação prevista”, enfatiza o presidente do Irga, Guinter Frantz. O engenheiro agrônomo Jace52
Prefeito Ghignatti e presidente Frantz: contrato por 20 anos é renovável
guay Barros, que por muito tempo foi coordenador do Instituto na região e atualmente está aposentado, é o presidente do grupo de trabalho, ligado aos clubes de serviço do município, que está concretizando o projeto. Segundo ele, no momento existe autorização do Ministério da Cultura para a captação de R$ 860 mil pela Lei Rouanet de Apoio à Cultura, para a obra de reforma e adaptação dos prédios, entre outras ações para consolidar o Memorial Nacional do Arroz. Os projetos museológico e arquitetônico já estão concluídos. Como a área inicialmente prevista para ser cedida pelo Irga era de 900 metros quadrados e ela foi quadruplicada, o grupo de trabalho contratou uma empresa que está desenvolvendo novo projeto para a captação de recursos para uma segunda fase.
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“Esperamos que a primeira etapa de captação seja concluída agora no segundo semestre, bem como o encaminhamento do novo projeto. Neste período queremos também concluir algumas obras de vedação para acabar com algumas infiltrações que impedem que depositemos no local o acervo que estamos recebendo”, revela Barros. Segundo ele, também será necessário reforçar a segurança do prédio. Tratores antigos, ceifadeiras, trilhadeiras, implementos diversos, fotos, livros e documentos estão sendo doados ao grupo. No dia 18 de maio deste ano, o presidente do Irga, Guinter Frantz, e o prefeito de Cachoeira do Sul, Sérgio Ghignatti, assinaram o termo de cedência da área por 20 anos, o que deflagrou a operacionalização da obra e da captação dos recursos.
HISTÓRIA DO ARROZ
Um respeitável acervo de materiais históricos O Memorial Nacional do Arroz está situado no município de Cachoeira do Sul, em prédio que abrigou o Engenho Willy Tesch, espaço de significativo valor histórico para a cultura do arroz, um dos tantos estabelecimentos do gênero que foram construídos nas proximidades da extinta Estação Ferroviária de Cachoeira do Sul, hoje pavilhão do Instituto Rio Grandense do Arroz – Irga. Este projeto vem para alcançar o objetivo já tantas vezes pretendido de criar um espaço destinado a rememo-
rar, valorizar e difundir a importância do arroz na história econômica, cultural e social do município e, mais do que isto, enaltecer o trabalho dos homens e mulheres pioneiros nesta atividade, cujo trabalho resultou no destaque que foi conferido ao município de Cachoeira do Sul. Um espaço em que todos aqueles que se dedicaram ao plantio, colheita e beneficiamento do arroz poderão visualizar a história que ajudaram a construir, verificar a sua atualidade e a projeção futura que terá. São promotores e apoiadores
deste ato, que teve como berço os Clubes de Rotary de Cachoeira do Sul, a Prefeitura Municipal, o Núcleo Municipal da Cultura, o Instituto Rio Grandense do Arroz – Irga e a Associação Cachoeirense de Amigos da Cultura – Amicus. O Memorial Nacional do Arroz, lançado oficialmente no dia 13 de dezembro de 2012, já está formando um respeitável acervo de materiais doados por produtores, industriais, colecionadores e até mesmo museus e arquivos pessoais e públicos.
Por que um Memorial do Arroz?
Jaceguay Barros
A história de Cachoeira do Sul é intimamente ligada à cultura do arroz, principalmente no alavancar de sua economia e como berço das inovações tecnológicas para irrigar a lavoura de arroz. Parte do acervo para o museu já está garantido junto a famílias cachoeirenses que guardam documentos, máquinas e objetos que fizeram parte da cultura orizícola de Cachoeira, que ainda detém o título de Capital Nacional do Arroz. O espaço, além de servir como centro de eventos às atividades ligadas ao setor arrozeiro, pois irá contar com um auditório, deve reunir acervo com objetos, equipamentos, máquinas, documentos, fotografias, material audiovisual e bibliográfico sobre a cultura. Lavoura Arrozeira • Nº 469 • outubro/novembro/dezembro de 2017
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ALMANAQUE
Há 50 anos, na revista Lavoura Arrozeira
Janeiro e fevereiro de 1967 Com destaque para o sistema de irrigação Santa Terezinha, do município de Osório, a edição nº 235 da Lavoura Arrozeira mostrou os benefícios que a obra trouxe para a lavoura. A edição ainda cobre a visita do cientista japonês Shigetaka Katsuki, especialista no combate à brusone.
Março e abril de 1967 A edição nº 236 da revista abordou a utilização de aviões, uma prática pouco usada na época, no benefício das lavouras gaúchas. A publicação traz ainda o discurso de posse do presidente do Irga Paulo Simões Lopes, que declarou priorizar a dinamização do setor técnico da autarquia.
Maio e junho de 1967 A Lavoura Arrozeira nº 237 fazia uma homenagem às carretas, um meio de transporte que começava a desaparecer das paisagens gaúchas. A Primeira Festa do Arroz de Dom Pedrito, município que na época possuía área cultivada de arroz de 3,5 mil hectares e com produção de 6,2 mil toneladas.
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