O Rapunzel e a Princesa Corajosa

Page 1

O Rapunzel e a Princesa

Corajosa escrito e ilustrado por Letícia Mestre


“Isabela é uma menina que gosta muito de se aventurar e de ajudar as pessoas ao seu redor. Toda vez que ela ajudava o senhor que era seu vizinho a atravessar a rua ou subia em árvores para tirar gatinhos de cima delas, ela era chamada carinhosamente de “princesa”. Mas nunca era só “princesa”. Era sempre “princesa linda”, “princesa educada” ou “princesa obediente”. Um dia, Isabela disse que preferia ser uma princesa corajosa do que linda, educada ou obediente. E, desde então, todos conhecem ela por “Princesa Corajosa”.


Um dia, a Princesa Corajosa estava empinando pipa com amigos e amigas e ela acabou voando para a sacada de um sobrado. Por sorte, havia uma árvore enorme perto da sacada, e ela escalou como uma macaquinha para pegar o brinquedo. Chegando lá em cima, pronta para apanhar sua pipa, ela viu um quarto lindo, em tons de rosa, cheio de brinquedos! Enquanto ela olhava para dentro do quarto, uma criança abriu a porta e caminhou em direção à árvore. “Que cabelo lindo!”, a Princesa Corajosa pensou ao ver o menino de longas mechas douradas que se aproximava.


Oi! Qual o seu nome? Eu nunca te vi por aqui!”, a Princesa Corajosa disse animada. “Eu me chamo Rapunzel! Eu não posso sair de casa, mas eu sempre vejo vocês brincando e vocês parecem muito legais!”, o menino de cabelos dourados respondeu. “Mas isso parece muito solitário... Eu posso voltar aqui para a gente brincar juntos?”, sugeriu. “Claro! Eu vou te esperar!” “Combinado!” E, assim, a Princesa Corajosa voltou a brincar com sua pipa e seus amigos, pensando no Rapunzel e como deveria ser triste viver sempre sozinho em casa.


No dia seguinte, a Princesa Corajosa acordou, nem tomou café da manhã e correu para a casa do menino de cabelos dourados. Ela escalou a árvore e pulou na varanda, ao mesmo tempo que Rapunzel correu para abrir a porta. “Você veio!”, ele disse feliz. “Vem, entra! Vou te mostrar meu quarto!” Ela entrou pela porta de vidro e seus olhos correram o cômodo inteiro. As paredes de seu quarto eram rosas, assim como as roupas do menino. Nas prateleiras, coleções e coleções de bonecas e bonecos, casinhas e animais de pelúcia. Ansiosa para desvendar o mistério, a Princesa Corajosa pergunta: “Por que você nunca sai para brincar com a gente?”


“Meus pais não gostam quando eu saio de casa. Eles acham que é estranho eu gostar de rosa e brincar com coisas de menina... Eles também não gostam do meu cabelo comprido”, ele responde, triste. “Eu acho o seu cabelo lindo! E também acho que seus pais estão errados. Eu tenho muitos amigos que gostam de brincar com bonecas e bonecos! Não acho que é errado a gente brincar com o que a gente gosta!”

“Eu também penso assim! Eu gosto de inventar histórias e criar mundos com meus bonecos e bonecas, eu acho muito mais divertido do que jogar bola!” “Bom, eu gosto mais de jogar bola e de me movimentar”, a Princesa Corajosa responde. “Mas meus pais acham estranho eu não gostar de usar vestidos. É culpa minha que dá para escalar árvores muito melhor com calças?”


“Adultos são complicados!” “Muito complicados”, Isabela concorda. “Aliás, tive uma ideia! E se eu trouxesse meus amigos e amigas aqui para brincarmos de boneca juntos?” “Já sei!”, exclama Rapunzel. “E se a gente fizesse uma festa à fantasia e trouxesse o brinquedo que a gente mais gosta? Aí, eu posso mostrar para os meus pais que meninos e meninas brincam com o mesmo tipo de brinquedo!”

“Vamos fazer isso!”, a Princesa Corajosa concordou e foi correndo para casa,avisar todos os seus amigos e amigas sobre a festa.


Naquela semana, todas as crianças do bairro foram comprar fantasias que lhe deixassem confortáveis e prepararam seus melhores brinquedos para a festa: Melissa escolheu uma fantasia de pirata e levou sua boneca de bebê que toma mamadeira. Paulo se vestiu de onça e levou seu jogo de cartas. João quis ir de bailarina e levou sua bola de futebol. Carol foi de vampira e levou um carrinho de controle remoto. Os pais da Camila não queriam que ela se vestisse de super-herói, então ela trocou de fantasia com o Bruno, que gostava mais da fantasia de palhaço. Os dois levaram seus bichinhos de pelúcia favoritos.


Chegado o tão esperado dia da festa, todas as crianças se encontraram na porta da frente de Rapunzel e tocaram a campainha. Elas esperaram e esperaram até que os seus pais aparecessem. Quando eles atenderam a porta, logo foram surpreendidos por tantas crianças. Todas juntas, elas diziam coisas como: “Deixa ele brincar com a gente!”, “Tio, tia, deixa ele sair!”, “A gente quer conhecer ele!”, “Eu também gosto de brincar com bonecas!” e “Eu sou menina e eu brinco de carrinho!”.


Os pais de Rapunzel, surpresos, pediam e pediam para que as crianças lhes deixassem falar. “Crianças, crianças!”, eles tentavam falar mais alto. “Achamos que vocês não iam gostar do Rapunzel porque ele gosta de coisas de meninas e tem cabelo grande. A gente só tinha medo de ele ficar triste e magoado.” “Nós gostamos dele do jeito que ele é!”, a Princesa Corajosa brandiu. “E nós somos do mesmo jeitinho: todo mundo brinca com o que gosta aqui no bairro e a gente brinca com todo mundo!” Os pais de Rapunzel, que antes estavam preocupados, agora sorriam para as crianças, o alívio em seus rostos. “Estamos felizes que vocês pensam assim! A gente também ama ele do jeitinho que ele é, mas que bom que não somos os únicos.” O pai olha para dentro da casa e grita: “Rapunzel! Vem aqui falar com seus amigos!” Em um instante, Rapunzel desce e vê todas as crianças com uma expressão surpresa no rosto.


“Eu posso sair para brincar?”, o menino pergunta animado. “Pode sim, filho”, sua mãe responde com um sorriso no rosto. “Desculpa se a gente te prendeu aqui por todo esse tempo. Nós só estávamos preocupados com você.” “Tudo bem, mãe!”, Rapunzel corre para os braços dos pais, os abraçando. “Mas agora eu tenho amigos para cuidar de mim também!”

“Mas, Rapunzel”, a Princesa Corajosa começa.“Você não pode brincar com a gente... Sem colocar uma fantasia antes!” As crianças riem enquanto Rapunzel sai do abraço e corre para seu quarto para se trocar.


Minutos depois, o belo menino desce as escadas com um vestido que combina com o da sua boneca favorita, que também tem cabelos longos e loiros como os seus. “Vamos brincar de castelo encantado!”, ele sugere. “Eu vou ser o príncipe de vestido!” “Eu vou ser a princesa de armadura!”, exclama a Princesa Corajosa, nas sua fantasia de guerreira. “Eu vou ser o dragão!” “Eu vou ser a onça do príncipe!” “Eu vou ser o vilão!” “Eu vou ser a filha pirata da rainha!” “E eu quero ser um soldado que luta com movimentos de dança!”


Ainda sorrindo e olhando as crianças brincando no quintal de sua casa, os pais de Rapunzel respiravam aliviados. Todo mundo tinha espaço na brincadeira! Quem gostava de se vestir de princesa, de príncipe, de pirata e bailarina. O bairro todo se juntava e prometiam não deixar ninguém para trás.


Depois desse dia, a Princesa Corajosa passou a juntar todos os colegas, incluindo Rapunzel, para ajudar todo mundo a entender que as crianças só queriam brincar e vestir o que gostavam! Um dia, explicaram para a mãe de uma amiga que ela era muito melhor no basquete do que na ginástica, e que os meninos adorariam que ela entrasse para o time. Outra vez, explicaram à professora que o Miguel não gostava quando falavam que “chorar não é coisa de menino”, porque todo mundo chora quando fica triste, e isso faz ele se sentir melhor! E ainda houve esse dia em que todos se uniram para falar que tudo bem as meninas quererem ser lutadoras de boxe! E, se um menino gosta de fazer tranças e penteados, ele poderia ser um ótimo cabeleireiro.


Pouco a pouco, o bairro foi mudando e todas as crianças se sentiam confortáveis para brincar, vestir e serem o que quisessem. As brincadeiras de casinha ganharam muitos mais meninos que sempre quiseram participar e as corridas de carrinho agora eram lotadas de meninas super habilidosas. Os adultos começaram a chamar as meninas de “corajosas”, “fortes”, “rápidas” e “inteligentes”, enquanto também começaram a elogiar a aparência dos meninos, que não tinham mais medo de deixar seus cabelos crescerem ou cuidarem de suas bonecas e bonecos para ficarem tão lindos quanto seus donos.


E assim, Rapunzel e a Princesa Corajosa brincaram de casinha e de bola juntos muitas mais vezes, sempre ajudando amigos e pais a entenderem que tudo bem ser quem você quer ser.


Obrigada por ler! :)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.