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CARO LEITOR É com imenso respeito e gra�dão a você, prezado leitor, que lhe apresentamos a Edição Especial da Revista Bio Manejo. Com o propósito de informar, especificamente, a respeito da importância em adotar medidas significa�vas em prol da agricultura sustentável, tendo como premissa os bene�cios do controle biológico de pragas e doenças.
No Brasil, a adoção de novas tecnologias sustentáveis no setor agrícola se faz cada dia mais presente, a fim de trazer algum bene�cio para o sistema produ�vo. Um exemplo é a evolução das técnicas do controle biológico, que associadas ao Manejo Integrado de Pragas (MIP), contribuem para um manejo mais eficiente nas lavouras, sem prejudicar a saúde de quem aplica e de quem consome.
Nesse sen�do, o conhecimento aplicado à tecnologia é essencial no desenvolvimento de produtos biológicos avançados. Prova disso, são os agentes Biopotentes, desenvolvidos pelo Laboratório Farroupilha – Lallemand, com desempenho superior, justamente para solucionar problemas e impulsionar o empreendimento agrícola. É o que você vai conferir na matéria de Capa desta edição.
Não obstante, a informação é essencial no que condiz a u�lização dos biológicos. Cada vez mais, produtores rurais aderem a esse método de controle de pragas e doenças após observarem o resultado do vizinho. E quanto mais informação disponível �ver para o profissional do campo, mais produ�vidade ele terá em seu negócio. Boa leitura. Por Ana Maciel
EQUIPE BIO MANEJO Da esquerda para a direita: Elorrane Vaz, Andre Mar�ns, Ana Maciel, Stella Bernardes, Karen Duarte, Igor Gabriel.
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EXPEDIENTE
SUMÁRIO
DIREÇÃO GERAL: Marlon Wender
DICAS E ORIENTAÇÕES
PROJETO GRÁFICO: Ana Paula Marques EDITORIAL: Ana Maciel COLUNISTAS CONVIDADOS: Alexandre de Sene Pinto REDAÇÃO: Ana Maciel André Mar�ns Elorrane Vaz
4 | O futuro da agricultura sustentável EDUCAÇÃO 5 | Apos�la grá�s enfa�za o manejo biológico de pragas OPINIÃO 6 | A importância dos ácaros predadores desde a preservação ao controle biológico aplicado ECONOMIA 8 | Em busca de fortalecimento e representa�vidade
Igor Gabriel
12 | Brasil precisa seguir ritmo de demanda mundial e aumentar produ�vidade
Karen Duarte
PESQUISA & TECNOLOGIA
Stella Bernardes APOIO EDITORIAL: Marlon Wender REVISÃO: Ana Maciel Karen Duarte Stella Bernardes IMAGEM DE CAPA: Divulgação Farroupilha/ Lallemand A REVISTA BIO MANEJO Ano 1- EDIÇÃO ESPECIAL – É uma publicação trimestral e de distribuição gratuita. Seu conteúdo foi desenvolvido com o apoio de colunistas, especialistas e profissionais do agronegócio. Os ar�gos de opinião, não refletem, necessariamente, a opinião da Bio Manejo, sendo de inteira responsabilidade de seus autores. A reprodução de conteúdos publicitários só poderá ser feita mediante autorização, previamente solicitada por escrito à revista, citando créditos a fonte. É vedada a venda desta publicação. ANUNCIE biomanejoc@gmail.com Patos de Minas – MG
14 | Revolução na aplicação de agentes biológicos em lavouras de cana-de-açúcar 26 | Tecnologia ganha terreno 18 | Potencial de microrganismos no controle da broca do cafeeiro 21 | Integração de algumas tá�cas propõe controle de pragas de forma sustentável FALA PRODUTOR 23 | A aceitação do controle biológico pelo homem do campo CAPA 24 | Nova era dos biológicos AGRICULTURA 28 | Manejo Inteligente Biopotente: sa�sfação para a planta e para o produtor 30 | Capacitar para crescer 32 | Agricultura de Precisão em ascensão no Brasil SUSTENTABILIDADE 34 | Cafeicultura que dá gosto EMPRESAS & NEGÓCIOS 36 | Aliado de peso
Cep: 38.700-207. Biomanejo 3
D I C A S E O R I E N TA Ç Õ E S
O FUTURO DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Robson Luz Costa é engenheiro agrônomo, mestre em Defesa Agropecuária, trabalha há 10 anos no Laboratório Farroupilha Lallemand, listado recentemente pela revista Globo Rural, como uma das cinco melhores empresas de defensivos agrícolas do Brasil.
Por Stella Bernardes
Ao invés de sobrecarregar as lavouras com agroquímicos, outro método de combate de pragas e doenças tem apresentado excelentes resultados e ganhado espaço nas lavouras mundo afora. Trata-se do controle biológico, a tecnologia que tem muito potencial para aumentar ganhos em produ�vidade. Confira as orientações do engenheiro agrônomo, Robson Costa, para entender como adotar o controle biológico e acertar no manejo. 1) Falar em controle biológico é entender como funciona o equilíbrio da natureza. Todas as pragas e microrganismos possuem inimigos naturais que agem em sinergia, de forma que determinada população não cresça exageradamente. Esse equilíbrio é o que o controle biológico fortalece;
4) Sempre avaliar a credibilidade das empresas para selecionar seu fornecedor de produtos;
7) Conhecer o manejo: onde e quando o método pode ser introduzido e qual é a melhor forma de aplicação;
2) Existem duas classificações para entender os produtos biológicos disponíveis no mercado. Microbiológicos: produtos que u�lizam fungos, bactérias e vírus; Macrobiológicos: produtos que u�lizam vespas e ácaros predadores;
5) Buscar empresas que forneçam consultoria técnica especializada ao agricultor, empresas sérias são comprome�das com o cliente do cul�vo até a colheita. O suporte técnico garante que as aplicações sejam eficazes;
3) Sempre buscar produtos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para garan�r segurança e eficiência no manejo;
6) O armazenamento requer maiores cuidados; para se obter eficácia é necessário analisar o local que os produtos são armazenados, bem como o horário e as condições ambientais do local de aplicação;
8) MIP: O Manejo Integrado de Pragas é uma estratégia que associa diferentes técnicas de manejo para garan�r melhor controle de pragas e doenças no campo. Incluir o Controle Biológico no manejo convencional é essencial para obter mais eficiência e melhores resultados;
9) Sempre analisar se o defensivo químico já aplicado na lavoura é compa�vel com o produto biológico que será u�lizado; 10) Quando todas as orientações são seguidas corretamente, o produtor rural rural não tem dificuldade de superar suas próprias expecta�vas. 4
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EDUCAÇÃO
APOSTILA GRÁTIS ENFATIZA O MANEJO BIOLÓGICO DE PRAGAS Por Igor Gabriel
O material orienta sobre o controle de pragas em folhosas e brássicas u�lizando métodos sustentáveis A inicia�va é do Programa de Sanidade em Agricultura Familiar (Prosaf), o desenvolvimento é do Ins�tuto Biológico (IB) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a autoria é do pesquisador cien�fico do (IB) Mário Eidi Sato, juntos eles criaram uma apos�la destaca o controle biológico como aliado na produção de vegetais largamente consumidos pela população e tem papel de suprir a necessidade de alguns produtores, que agora, podem cul�var u�lizando menos produtos químicos. Mario Sato explica como surgiu a ideia de criar a apos�la. “O interesse em desenvolver a apos�la surgiu devido a necessidade de levar maiores conhecimentos a respeito do tema manejo biológico para os produtores de folhosas e brássicas do estado de São Paulo e também do restante do país”, explica.
do que a sustentabilidade. Preservando pela integridade do solo e oferecendo alimentos de maior qualidade e sem tantos resíduos de agrotóxicos à mesa da família, preza-se por um planeta e por uma saúde humana melhor. A sustentabilidade é algo categórico para o futuro e a apos�la "Manejo e Métodos de Controle de Pragas em Folhosas e Brássicas", destaca o controle biológico como aliado na produção de vegetais como acelga, agrião, alface, chicória, couve, escarola, espinafre, repolho e rúcula.
O obje�vo não é aniquilar o uso de produtos químicos, mas u�lizá-los com menor frequência, aliado aos tratamentos biológicos que proporcionam o controle de pragas através de seus predadores naturais, tornando a agricultura mais sustentável.
O produtor que adquirir o material só terá bene�cios, pois irá se instruir mais acerca do assunto, e poderá entender melhor como fazer o controle biológico de pragas. Além disso, poderá entender melhor como fazer o manejo natural nas folhosas e brássicas, proteger seus cul�vos e se desenvolver de maneira mais sustentável. “Posso citar como exemplo o caso de algumas lagartas que se alimentam de folhas e que podem afetar severamente essas culturas. O curuquerê-da-couve (Ascia monuste orseis), é uma das pragas-chave da couve em regiões de temperatura elevada, podendo ocasionar prejuízos de até 100% na produção”, esclarece Sato.
Sato destaca que é importante se desenvolver de forma sustentável a fim de manter a saúde, a integridade do planeta e do ser humano. Nada hoje é mais poli�camente correto
O material pode ser baixado gratuitamente pelo site do Ins�tuto Biológico (IB): h�p://www.biologico.sp.gov.br/pdf/ prosaf/apos�las/folhosas_brassicas.pdf.
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OPINIÃO
A IMPORTÂNCIA DOS ÁCAROS PREDADORES DESDE A PRESERVAÇÃO AO CONTROLE BIOLÓGICO APLICADO
Por Dra. Marina Ferraz de Camargo Barbosa
Dra. Marina Ferraz de Camargo Barbosa. Atua na área de acarologia agrícola, com ênfase em controle biológico de pragas e taxonomia. Atualmente é Analista de Pesquisa e Desenvolvimento na Promip - Manejo Integrado de Pragas. Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Mestre e Doutora em Ciências - Área de concentração: Entomologia, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Universidade de São Paulo (USP).
Controle biológico pode ser definido como “um fenômeno natural que consiste na regulação do número de plantas ou animais por meio de agentes biológicos...”. A expressão “fenômeno natural” ressalta que o controle biológico ocorre de forma espontânea na natureza, onde inimigos naturais agem a todo o tempo: são os predadores que se alimentam de suas presas, parasitas que matam seus hospedeiros ou até fitófagos que impedem que as populações vegetais entrem em desequilíbrio.
Porém, nos agroecossistemas, a perturbação deste equilíbrio ecológico favorece o estabelecimento e mul�plicação de muitas espécies nocivas em detrimento dos inimigos naturais. Para ocorrer de 6
forma sa�sfatória, o controle biológico necessita da intervenção humana atuando ao seu favor!
Alguns inimigos naturais podem ocorrer espontaneamente nos agroecossistemas, mas em uma densidade tão baixa que seu efeito como agentes de controle biológico é irrisório. Para auxiliar estes inimigos naturais, desenvolveu-se o chamado de “controle biológico natural”. Neste método, a população de inimigos naturais presente deve ser conservada e, sempre que possível, aumentada. Para isso, deve-se adotar estratégias que os beneficiem, como a aplicação de defensivos agrícolas na época correta ou em menor dosagem, a u�lização de produtos sele�vos (ou seja, que matam a praga-alvo mas não prejudicam o inimigo natu-
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ral), preservar seus habitats, entre outras medidas. Embora existam poucos exemplos de controle biológico natural bem-sucedidos, em alguns casos ele apresenta um papel fundamental. Por exemplo, na Europa e Estados Unidos, o ácaro-vermelho-europeu, Panonychus ulmi, uma importante praga de macieira, tem sido controlada eficientemente u�lizando algumas espécies de ácaros predadores fitoseídeos de ocorrência natural nestas regiões. No Brasil, a preservação dos ácaros predadores Euseius citrifolius, Euseius concordis e Iphiseiodes zuluagai também é um exemplo do controle biológico natural do ácaro-da-leprose-do-citros, Brevipalpus phoenicis, e do ácaro-da-falsa-ferrugem, Phyllocoptruta oleivora, na cultura dos citrus.
A maioria das espécies vegetais cul�vadas é exó�ca, isto é, trazidas de outras localidades para o Brasil. Durante o transporte é comum que pragas sejam levadas junto com o material vegetal, enquanto o mesmo raramente ocorre com os inimigos naturais. Isso levou ao desenvolvimento do “controle biológico clássico”, que consiste na busca por inimigos naturais na localidade de origem da praga que são, após um período de mul�plicação em laboratório, liberados na nova área. Após a liberação, a situação ideal é o estabelecimento do inimigo natural, sendo este o maior desafio do controle biológico clássico.
inclusive no Brasil, das quais ao menos três se estabeleceram com muito sucesso e con�nuam atuando no controle desta praga até os dias atuais.
Por fim, temos o “controle biológico aplicado”, o �po de controle biológico mais popular e amplamente u�lizado, onde o inimigo natural comprovadamente eficiente é criado massalmente, ou seja, milhões de indivíduos são produzidos em biofábricas especializadas. Este método, além de muito eficiente, tem grande importância econômica, tanto pela economia gerada pelo controle da praga, quanto pelo mercado representado pelas biofábricas. Felizmente, neste caso, não faltam exemplos de sucesso no Brasil. Por exemplo, o controle do ácaro rajado, Tetranychus urticae, estava se tornando cada vez mais di�cil devido ao desenvolvimento de resistência a quase todos os produtos químicos disponíveis. Foi a u�lização de predadores fitoseídeos que contornou esta situação calamitosa, diminuindo (muitas vezes até eliminando totalmente) a u�lização de acaricidas. Há tanto para se falar e tantas informações sobre o uso de fitoseídeos contra ácaro rajado no Brasil, que voltaremos neste assunto num próximo texto, dando mais detalhes deste caso de grande sucesso!
É importante salientar que estes e outros programas Programas de controle biológico clássico já trouxeram ó�mos resultados, como é o caso do controle biológico ácaro-verde-da-mandioca (o tetraniquídeo, Mononychellus tanajoa), um dos exemplos de programa de controle biológico mais bem-sucedido da história. Quando a mandioca, originária da América do Sul, foi introduzida na África, passou a sofrer fortes danos causados por esta praga. Na dé-
de controle biológico são frutos de anos de dedicação e estudo. U�lizar as informações produzidas por pesquisadores como alicerce para o desenvolvimento de programas de controle biológico é uma das grandes preocupações da PROMIP (Portal do Manejo Integrado de Pragas), que investe constantemente em pesquisa e inovação. Afinal, é dever de todos envolvidos com o agronegócio acreditar e
cada de 80, a busca por predadores do ácaro-verde-da-mandioca envolveu pesquisadores de diversos
trabalhar em prol de um futuro onde a produção agrícola seja cada vez mais limpa, respeitando o ambiente e pessoas envolvidas. E o controle bioló-
países levando à introdução de mais 50 espécies de fitoseídeos coletados no con�nente sul-americano,
gico, com toda certeza, é uma das grandes armas u�lizadas por aqueles que acreditam neste futuro!
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ECONOMIA
EM BUSCA DE FORTALECIMENTO E REPRESENTATIVIDADE Empresas ligadas ao setor de biológicos se unem com o obje�vo de quebrar a resistência do produtor rural quanto ao método de controle de pragas Por Karen Duarte
Você se lembra de onde estava há 10 anos? Vamos lá! Você se lembra do que estava fazendo em 2007 ou em 2008? Acredito que a maioria respondeu, não. Mas, vamos tentar novamente. Você, que é produtor rural, estudante, pesquisador ou um simples cidadão com mero afeto pelo setor agropecuário, lembra-se de quando conheceu o método de controle biológico de pragas? Há um, dois, três, cinco, dez ou vinte anos atrás? José Roberto Postali Parra, referência em controle biológico no Brasil, em uma de suas obras afirmou que os primeiros ves�gios da u�lização do método para controlar pragas foram no século III, quando chineses começaram a u�lizar formigas predadoras para controlar pragas de plantas cítricas. Porém, Parra salientou que os estudos em controle biológico, �veram início em 1889, com a u�lização de uma joaninha australiana para controlar pulgão branco em pomares da Austrália. No Brasil, o primeiro inseto introduzido com o obje�vo de controlar pragas, foi em 1921. De lá pra cá, a trajetória da técnica de controlar pragas não tem sido fácil, já que os pes�cidas (método que erradica as pragas rapidamente) foram adotados por maior parte dos agricultores. No entanto, leitor, você que ques�ona o porquê da 8
minha pergunta em relação ao passado, eu te ques�ono novamente: Você sabia que apesar das primeiras u�lizações do controle biológico terem ocorrido no século III, apenas em 2008 foram registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) 1 produto biológico e 138 químicos? Estranho, não!? Como um método que diz ter como principais vantagens à garan�a de distribuição de alimentos sem contaminação e proteção da biodiversidade, ainda seja pouco divulgado e empregado nas lavouras pelos produtores rurais. Pesquisadores alegam que a baixa u�lização do controle biológico é devido à falta de informação quanto à técnica. Por essa razão, em novembro de 2007, “Wagner Be�ol e Marcelo Morandi fundaram a Associação Brasileira
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“Nós acreditamos no uso harmônico e conjunto dos defensivos convencionais com os biodefensivos. A nosso ver, não há uma perspectiva de substituição do agroquímico pelos biológicos”.
“O agricultor deve fazer as contas e colocar na balança quais as melhores alternativas, lembrando sempre que a utilização do defensivo biológico pressupõe uma mudança cultural, uma vez que os resultados não aparecem com a mesma rapidez dos defensivos químicos”. Consultora execu�va da ABC Bio, Amália Piazen�m Borsari. Foto: Arquivo pessoal ABC Bio.
das Empresas de Controle Biológico (ABC Bio), com o obje�vo de congregar as empresas produtoras e comerciantes de produtos biológicos para controle de pragas e doenças, buscando o fortalecimento e a representa�vidade do setor em todas as instâncias relacionadas com a a�vidade”, conta a consultora execu�va da ABC Bio, Amália Borsari.
ACEITAÇÃO A en�dade atua em todo território nacional nas áreas de parasitoides e predadores; fungos para controle de doenças; bactérias e nematoides. “Hoje, a ABC Bio conta com mais de 24 empresas associadas que disponibilizam ao mercado produtos biopes�cidas microbiológicos e macrobiológicos de qualidade, contribuindo significa�vamente, para o controle
de pragas na agricultura brasileira. Desde sua criação, vem defendendo a regulamentação, o fortalecimento e representa�vidade deste segmento”, enfa�za Amália. Quando ques�onada a respeito do nível de aceitação do método, pelo produtor rural, Borsari ressalta que, na medida em que eles têm maior conhecimento das vantagens do Controle Biológico de pragas e doenças, vão se conscien�zando da importância dessa ferramenta para a melhoria do desempenho de suas lavouras. “Hoje, o uso de organismos benéficos como vírus, bactérias, fungos, nematoides, parasitoides e predadores, no Brasil, representa uma fa�a ainda pequena, próximo a 2% do mercado brasileiro de inse�cidas, nema�cidas e fungicidas. Na Europa, eles já representam entre 14% e 16% do mercado, e nos Estados
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Unidos, cerca de 6%. Considerando que a agricultura brasileira tem se tornado, nas úl�mas décadas, uma das mais importantes do mundo, é de se supor que tal evolução ocorra também aqui, no uso de defensivos biológicos”, explica. Segundo Amália, esse crescimento decorre de diversos fatores, mas, principalmente, pela maior demanda da sociedade e de órgãos reguladores, pela produção de alimentos sem resíduos nocivos à saúde humana e também pelo fato de que os defensivos biológicos quando u�lizados em alternância com produtos químicos, diminui o problema de pragas e doenças resistentes. Mudança cultural foi o termo u�lizado pela consultora da ABC Bio, para descrever o caminho pelo qual o produtor rural deve seguir, para adotar o método de controle biológico de pragas. “O agricultor deve fazer as contas e colocar na balança quais as melhores alterna�vas, lembrando sempre que a u�lização do defensivo biológico pressupõe uma mudança cultural, uma vez que os resultados não aparecem com a mesma rapidez dos defensivos químicos”, acrescentou.
PRESENTE X FUTURO A ABC Bio defende a proposta do Manejo Integrado de Pragas (MIP), sistema que combina preservação e incremento de fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de métodos de controle, previamente selecionados, baseados em diversos parâmetros. Para a Associação, os defensivos biológicos vieram para compor um pacote de ferramentas de manejo que
resultam em soluções para problemas fitossanitários, no qual os químicos também estão inseridos. “Nós acreditamos no uso harmônico e conjunto dos defensivos convencionais com os biodefensivos. A nosso ver, não há uma perspec�va de subs�tuição do agroquímico pelos biológicos”, declarou. O mercado dos biológicos tem crescido grada�vamente com vários registros de novo produtos e mul�nacionais de olho no mercado brasileiro. Isso se resulta pela demanda da população por alimentos com menos resíduos. “Em pra�camente todas as esferas governamentais, percebemos que a atenção ao biológico é hoje muito mais presente do que no passado recente. Em razão de o Brasil ter uma das maiores e mais compe��vas agriculturas do mundo, diversas empresas do segmento de biológicos estão inves�ndo na ampliação de suas a�vidades no país. Atualmente, é registrada uma média de 30 produtos por ano”, informou. As expecta�vas de um futuro promissor no segmento são grandes. De acordo com Amália, nos próximos 20 anos, fatores como o elevado custo para o desenvolvimento de um novo defensivo químico – algo em torno de US$ 250 milhões – o foco maior em uma agricultura sustentável e expressivo avanço tecnológico verificado na área de defensivos biológicos, com o desenvolvimento de formulações mais eficientes e com maior vida ú�l, irá beneficiar a preferência pelo método biológico de controlar pragas e doenças. “Todas as projeções de organismos internacionais apontam que o Brasil deverá ser o principal fornecedor de
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alimentos, fibras e energia de biomassa para o mundo. Com as restrições de abertura de novas fronteiras agrícolas, impostas por legislações ambientais, sobra à necessidade de ganho de produ�vidade nas terras já u�lizadas e o papel do controle biológico torna-se indispensável”, frisa. “Além dos bene�cios que o consumo de produtos alimen�cios com níveis reduzidos de contaminação traz para as pessoas, o que é conseguido com o uso de defensivos biológicos, há também ganhos para os trabalhadores
rurais, que ficam menos expostos a contaminantes. Tal bene�cio tem se intensificado nos úl�mos anos com o avanço de técnicas voltadas para a aplicação dos produtos no que é chamado de praga alvo e cujo manejo é mais seguro para o aplicador. Muitos biodefensivos auxiliam o manejo atuando sobre as pragas ou doenças em fases que o defensivo convencional não tem alta eficiência. Mas a grande vantagem é que os biodefensivos se somam as outras prá�cas de manejo favorecendo assim o controle e equilíbrio do ambiente”, complementa. Inseto Trichogramma pre�osum. Foto: Arquivo pessoal ABC Bio.
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ECONOMIA
BRASIL PRECISA SEGUIR RITMO DE DEMANDA MUNDIAL E AUMENTAR PRODUTIVIDADE De acordo com projeções da MB Agro a produção alimentar terá de aumentar cerca de 70% até 2050 para saciar uma população que não para de crescer e a chave para o sucesso é a sustentabilidade agrícola Por Igor Gabriel
O desafio de alimentar a população mundial se evidencia. A produção alimen�cia precisa mais do que dobrar nos próximos trinta anos, e o caminho para que isso seja possível, defini�vamente, é por meio da adoção de prá�cas sustentáveis. O controle biológico tem papel fundamental neste cenário.
Diante deste quadro, torna-se necessário que as soluções sejam diferentes. Algumas passam pela tecnologia e, dito isso, a tendência será inves�r menos na planta gene�camente modificada, super-resistente, e inves�r mais na o�mização do funcionamento dos ecossistemas, recuperando muitas ideias dos sistemas tradicionais de agricultura, porém, u�lizando mais intensivamente a ciência e a busca por métodos que mantenham ou assegurem a integridade do biossistema.
Segundo o agrônomo da cidade de Cristalina, interior de Goiás, Marcelo Augusto Fernandes, as prá�cas sustentáveis se encontram no topo deste cenário e o Brasil tem grande capacidade de sair com êxito no desafio de aumentar a produção. “É impossível produzir em tão alta escala agredindo o solo e danificando nosso
biossistema. O país está bem classificado quanto a isso, pois nossa agricultura combina muito bem com produ�vidade, tecnologia e sustentabilidade. Além disso, a maior parte da área brasileira é composta por florestas e reservas permanentes e parte pequena é des�nada a produção agrícola. Nosso país tem condições favoráveis de dobrar sua produção”, salienta.
Quando se fala em cul�vo agrícola sustentável, o controle biológico de pragas tem se mostrado um forte aliado para o equilíbrio do biossistema e coligado com a produção sustentável. “A procura pelo controle biológico de pragas tem crescido consideravelmente, muito em função dos novos métodos de produção agrícola, a fim de favorecer a conservação e o uso sustentável dos recursos biológicos, medida básica e essencial para a manutenção da biodiversidade”, afirma Fernandes.
O manejo biológico de regulação e combate a pragas, se resume em introduzir no ecossistema um inimigo natural, predador ou parasita da espécie danosa, de maneira que visa regular a população de tal espécie. Para Fernandes, esse mane-
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Safra de milho. Foto: Free Imagens.
“É impossível produzir em tão alta escala agredindo o solo e danificando nosso biossistema. Nosso país está bem classificado quanto a isso, pois nossa agricultura combina muito bem produtividade, tecnologia e sustentabilidade”.
jo, arquitetado de maneira correta, é posi�vo. “Quando é bem trabalhado e executado, o controle biológico ocasiona vantagens evidentes, visto que diminui o uso de produtos químicos, não degrada o solo e não causa desequilíbrios ecológicos”, assegura.
O agrônomo garante que são várias as culturas em que o produtor pode combinar o controle biológico e obter sucesso. “Podemos citar como principais o manejo natural aplicado em grãos, em hortaliças, fru�feras, citros. Em todos esses
�pos de produção, se bem arquitetado e trabalhado, o controle biológico tem sim resultados sa�sfatórios. Claro, é importante que o mesmo seja atrelado a algum outro manejo – como o químico. Entretanto, o intuito do controle biológico é que o uso de agrotóxicos diminua. Dessa forma, obteremos uma agricultura que preze pela manutenção do biossistema, que ofereça alimentos sem tantos resíduos químicos e que garanta a durabilidade do solo para o inevitável crescimento da produção de alimentos”, finaliza Fernandes.
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PESQUISA E TECNOLOGIA
REVOLUÇÃO NA APLICAÇÃO DE AGENTES BIOLÓGICOS EM LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCA Técnica facilita o emprego de inimigos naturais nas plantações Por Karen Duarte Há dois anos, Gabriela Vieira Silva e o Eng. Agrônomo Luiz Guilherme Arruda �veram a ideia de criar uma cápsula que liberasse inimigos naturais na cultura de cana-de-açúcar, com o obje�vo de facilitar a aplicação do controle biológico nas lavouras que, normalmente, é realizado por um processo manual e oneroso, através de copos plás�cos. O projeto foi desenvolvido dentro da startup Agribela, onde Gabriela é uma das sócias. A empresa é voltada ao manejo integrado de pragas agrícolas, com foco para o controle biológico. A jovem, que vive no sul do país e é bióloga, engenheira agrônoma, mestre e doutora em Entomologia, relata que “o Biodrop é uma cápsula de liberação de inimigos naturais que, devido a caracterís�cas exclusivas, oferece proteção a estes organismos quando estão no interior da cápsula”. Ela salienta que “seu formato foi pensado especificamente para a liberação mecanizada, seja por aviões, drones, helicópteros ou tratores”.
Gabriela conta que, a ideia do projeto surgiu com o propósito de melhorar o sistema de controle biológico na cana-de-açucar, porém, as cápsulas podem ser u�lizadas em qualquer cultura onde este método de controle seja viável. As cápsulas são de material biodegradável, feitos de celulose ou bagaço de cana. “São muito fáceis de serem lançadas. Não tem nenhum segredo. A cápsula tem uma aerodinâmica que facilita a liberação aérea. Ela tem ori�cios para saída dos parasitoides na parte de cima e como embaixo é mais pesada, cai de forma com que essas aberturas fiquem para cima e não sejam obstruídas”, assegura a jovem.
VERSATILIDADE Um dos pontos posi�vos, de acordo com Gabriela Silva, é o fato de a cápsula ser bastante versá�l, podendo ser u�lizada em diversas culturas com diferentes espécies de inimigos naturais. “Além da proteção que ela oferece aos inimigos naturais que estão dentro dela, como
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Lavoura de cana-de-açúcar. Foto: Pixabay.
proteção a chuva, temperaturas extremas, ventos, etc, elas podem ser lançadas de diferentes formas”, explica. A doutora em Entomologia relata que “existem outros recipientes para a liberação de inimigos naturais, porém, nenhum deles apresenta a proteção necessária aos organismos em conjunto com a possibilidade de liberação mecanizada”. O Biodrop ainda está em fase experimental, e por essa razão ainda não é comerciável. Entretanto, a jovem declara que eles possuem “áreas de teste com pequenos produtores onde os resultados foram excelentes”. O produtor que �ver interesse em se tornar parceiro de teste, deve entrar em contato com a empresa para obter maiores informações e previsão de disponibilidade do produto. “Importante ressaltar que nós oferecemos também todo o serviço anterior a u�lização do Biodrop, como levantamento e iden�ficação de pragas, assim como a liberação das cápsulas”, frisou Gabriela.
A BUSCA POR SOLUÇÕES EFICIENTES E SUSTENTÁVEIS
Gabriela com a cápsula na mão. Foto: Gabriela Vieira Silva.
Quando indagada a respeito da evolução das tecnologias e pesquisas voltadas aos defensivos agrícolas, a docente diz que algumas pessoas fazem um pouco de confusão em relação a tecnologia em meio agrícola. “Querem tudo de úl�ma geração, mas não se dão conta de que simples mudanças no processo de produção vegetal podem ser tecnologias muito mais eficientes”. A pesquisadora enfa�za a importância de procurar alterna�vas que resultam na economia de água e na preservação ambiental. “Acredito que temos evoluído bem no desenvolvimento de novas ferramentas para a aplicação de defensivos agrícolas, embora ainda tenhamos muito a fazer”, pondera. A engenheira agrônoma considera que os inves�mentos em pesquisa e tecnologias são extremamente importantes, e que, especialmente, as pesquisas, sejam direcionadas a resultados mais eficientes. “O controle biológico aumentará cada vez mais e se tornará uma das principais formas de controle de pragas, inclusive, para as grandes culturas, como soja e milho, onde hoje é tão ques�onado”, concluiu. Apaixonada pela vida, pela natureza e pelas pessoas, Gabriela Silva sonha em ajudar a melhorar o mundo e, por isso, se dedica ao ensino e às soluções para uma agricultura melhor. Ela revelou que o Biodrop é o primeiro sistema desenvolvido pela Agribela, mas que já possui vários projetos a espera para serem desenvolvidos, no que diz respeito ao Manejo Integrado de Pragas, como um todo. Biomanejo 15
Cápsula Biodrop Foto: Gabriela Vieira Silva.
SOBRE A CANA-DE-AÇÚCAR O Brasil é o maior produtor mundial de canade-açúcar e este ano deve chegar a quase 700 milhões de toneladas. É um dos setores de maior faturamento do meio agrícola, além de empregar milhões de pessoas. Plantada em diferentes regiões do país, a cana-de-açúcar é u�lizada, principalmente, para a produção de açúcar e etanol. A principal praga do cul�vo é a broca e o método biológico apresenta-se como estratégia de controle viável, eficiente e a baixo-custo.
PESQUISA E TECNOLOGIA
TECNOLOGIA GANHA TERRENO
Strider digital ad. Foto: Strider
Sob a perspec�va de tornar a gestão agrícola mais eficiente e asser�va, startup ganha a confiança de agricultores no Brasil e no exterior Por Stella Bernardes Reduzir ao máximo os custos de produção é a regra básica para uma propriedade rural obter sucesso financeiro. O inves�mento em tecnologia no campo não é novidade. E para facilitar a vida do produtor, algumas empresas estão se lançando ao mercado com ideias inovadoras. É caso da Strider, empresa criada em 2013, pelo engenheiro, Luiz Tângari, que desenvolveu o primeiro so�ware brasileiro de monitoramento e controle de pragas com uso de Tecnologia da Informação (TI). Luiz iden�ficou no agronegócio a oportunidade de criar uma AgroTech. “Iden�ficamos a oportunidade de atuar em um setor, em que estar no Brasil, significasse uma vantagem compe��va, como é o caso do agronegócio. O setor representa aproximadamente 25% do PIB nacional, ou seja, era uma grande oportunidade para criar uma AgroTech focada em controle operacional das propriedades rurais, visando produ�vidade e
redução de custo”, destacou Tângari. As ferramentas desenvolvidas pela empresa oferecem soluções completamente online para gestão fitossanitária, monitoramento de frotas agrícolas, imagens de satélite, além de fortalecer a gestão das fazendas. A inovação combina geolocalização e big data a fim de que o produtor reduza os índices de agrotóxicos aplicados em suas culturas. “O foco da empresa sempre foi o desenvolvimento de soluções para manter negócios fortes e sustentáveis no campo, alinhando resultados financeiros e responsabilidade ambiental, já que, com um bom controle de pragas, é possível o�mizar o uso de defensivos. Através da ferramenta, o agricultor consegue antecipar a tomada de decisão, que pode proporcionar uma redução de até 15% no uso de defensivos nas principais culturas como soja,
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café e algodão”, ressalta Luiz. O Grupo Bom Futuro, produtor de soja e algodão no Mato Grosso, é um dos clientes Strider. De acordo com o engenheiro agrônomo do Grupo, Cid Reis, a ferramenta veio com um grande potencial de facilitar o manejo agrícola. “Em 2015 começamos a u�lizar o Protector. A ferramenta é extremamente ú�l e desde o início ob�vemos diversas vantagens com a qualidade da informação disponibilizada. Já deixamos de aplicar defensivos em algumas áreas pela confiabilidade que temos nos dados recebidos pelo monitoramento do campo pela Strider”, enfa�za o engenheiro.
CONQUISTA DO MERCADO INTERNACIONAL A inovação e a vantagem compe��va da Strider, permi�u que desde muito cedo a empresa desbravasse o mercado exterior. “A ideia era ter um produto com potencial para atender necessidades em nível mundial. Uma fazenda no Brasil funciona pra�camente do mesmo jeito que uma fazenda no Texas, na Austrália ou na Ucrânia. Sendo assim, o produto �nha grande potencial de exportação”, salienta o CEO da empresa. Sob a perspec�va de tornar a gestão agrícola mais eficiente e asser�va a startup está ganhando a confiança de agricultores no Brasil e no exterior. “Atualmente, cerca de 700 produtores do Brasil, Estados Unidos, Bolívia, Austrália e México u�lizam tecnologia Strider, o equivalente a dois milhões de hectares monitorados”, conta o CEO da empresa.
as múl�plas possibilidades disponíveis no país e sua diversidade de climas e culturas”, disse.
FUTURO DA STRIDER Com apenas quatro anos de mercado, a empresa já foi listada pela revista americana Forbes como uma das AgroTechs mais inovadoras do mundo. Luiz destaca que o empreendimento tem grandes aspirações de expansão nos próximos anos. “A meta agora é explorar mais o mercado internacional e ampliar a liderança no mercado nacional, conquistando novos clientes de todos os perfis e culturas pelo Brasil”. Sobre futuras inovações para o mercado agrícola, Tângari afirma que o foco está em desenvolver soluções que exigirão pouca interface humana, de forma a minimizar a constante necessidade de pessoal em campo, diminuir custos para os produtores e trazer mais produ�vidade e sustentabilidade para o campo. Luiz destaca que a receita para o sucesso no empreendedorismo agrícola é estar em contato com os produtores, entender quais são as necessidades reais do campo. “Não adianta ter uma ó�ma tecnologia e ela não ter aplicabilidade na realidade do produtor. O trabalho no agro exige presença e proximidade no local de aplicação da tecnologia e do serviço”, conclui.
Assim como a Strider, outras startups brasileiras voltadas ao agronegócio estão conquistando e obtendo excelentes resultados no mercado internacional. Luiz Tângari explica que este fator se deve ao vasto campo disponível para pesquisa, desenvolvimento e aplicação de testes nas fazendas brasileiras. “A inovação que vai revolucionar o agro pode estar no Brasil, aproveitando
Strider soja. Foto: Strider Biomanejo 17
PESQUISA E TECNOLOGIA
POTENCIAL DE MICRORGANISM CONTROLE DA BROCA DO CAFE A broca-do-café é uma das principais pragas da cafeicultura brasileira Por Karen Duarte A disseminação da broca-do-café tem preocupado os produtores rurais, posto que a infestação da praga na úl�ma safra foi excepcionalmente superior em relação às ul�mas colheitas, no Brasil. Os danos se dividem entre perda de peso, qualidade do café, queda no valor de venda e redução na exportação, o que acarreta diminuição no índice da produção mundial do produto. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Dr. Ivênio Rubens de Oliveira, explica que a broca-do-café ou broca do cafeeiro “é uma das principais pragas da cafeicultura no Brasil, além de constituir num importante problema fitossanitário em quase todos os países produtores de café”. O pesquisador conta que “a broca perfura os grãos, destruindo parcial ou totalmente a parte interna dos mesmos, o que pode vir a alterar a qualidade da bebida do café”.
Por se tratar de um inseto muito pequeno, pode ser transladado de uma zona à outra com muita facilidade “A broca-do-café sofre metamorfose completa, passando pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto; e as larvas se alimentam das sementes do cafeeiro. Após o acasalamento, as fêmeas abandonam o fruto do café em que se desenvolveram em busca de outro fruto para ovipositar”, esclareceu Dr. Ivênio Rubens de Oliveira.
A PLANTAÇÃO DE CAFÉ NA FAZENDA PONTINHA, EM MINAS GERAIS O gerente de uma propriedade rural, localizada no município de Presidente Olegário - MG, Eli Pereira de Jesus, falou sobre as técnicas que u�liza para controlar as pragas nos 60 hectares de lavoura de café em que é
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MOS NO EEIRO
Fruto do café infectado pela broca. Foto Karen Duarte.
“É uma das principais pragas da cafeicultura do Brasil, além de constituir num importante problema fitossanitário em quase todos os países produtores de café”.
café vai ficando mais velho e sai de um teto médio de 55 – 60 sacas e vai pra uma safra baixa, uma safra alta, e assim, sucessivamente, só pode ser regulada com a poda, que é a safra zero, em que não colhe nenhum grão. “A colheita retrasada fechamos, em media, com 65 sacas. Este ano fechamos com 25 sacas, em media. Agora, na próxima safra, esperamos uma media melhor que 65. Provavelmente vamos ter uma produ�vidade em torno de 70 sacas. Porém, no ano a seguir, é safra zero, que vamos interferir e podar o café”, salientou. O prejuízo deste ano foi grande e o café cul�vado na Fazenda Pon�nha deixou de ser vendido por R$ 600/saca para ser comercializado por R$420/saca. O gerente declarou que um dos principais fatores da perda foi a broca-do-café.
A EXPERIÊNCIA POSITIVA DE UTILIZAÇÃO DE UM FUNGO PARA CONTROLAR A BROCA-DO-CAFÉ
responsável por administrar. Ele conta que nessa fazenda cul�va café desde 2006 e que essa grande manifestação de pragas emergiu de uns quatro anos pra cá. “Aqui, nós temos dois �pos de café: o IBC-12, variedade mais precoce, de porte baixo, com peneira alta, de grão vermelho, com resistência maior ao bicho-mineiro e à broca-do-café e com a caracterís�ca de colheita mais cedo da lavoura; e temos o Catuaí 144 que é de porte alto, com ciclo de colheita mais tardia, peneira menor, com uma susce�bilidade maior à pragas e menos exigente, nutricionalmente, que o IBC 12, porque a estrutura de planta do Catuaí 144 é maior, mais compacta e com um nível de absorção superior”, relatou. Eli destaca a importância de ter cul�vos de café com ciclos diferentes para assim, escalonar a colheita. “A colheita do café é muito lenta e demanda de diversas mecanizações, por exemplo: antes de colher tem que fazer uma dessecação, tem que arruar (limpar o terreno), trinchar e só assim poder entrar pra colher. Aqui, a gente começa a preparar a par�r de março e a colheita do grão inicia em final de maio. Se for uma colheita pesada, como provavelmente teremos no próximo ano, vamos até agosto”. Em relação a safra, o gerente da Fazenda Pon�nha, explica que a oscilação de produ�vidade, que acontece quando o
“As pragas mais comuns aqui, estão sendo o bicho-mineiro, broca-do-café e o nematoide, que não é um nematoide que causa tanto dano como outros, por exemplo o paranaensis”, frisou. O gerente conta que faz um levantamento para verificar o índice de praga e aplica o inse�cida; e ainda explica que a broca tem uma aplicação diferente, porque tem um tempo determinado, que é de 60 dias após a florada do café. O administrador Eli Pereira, relata que por vários anos u�lizou apenas métodos de manejo químico para controlar as pragas no cul�vo. “Exis�a um produto que se chamava Endosulfan, o qual foi proibido de ser comercializado, por ser muito tóxico. Este inse�cida garan�a de 80 a 95% de controle em cima de broca. Era o melhor produto que exis�a no mercado. Outros produtos entraram para subs�tuí-lo, mas com a constante u�lização, foi perdendo a eficiência. Foi quando decidimos fazer a associação do controle biológico com o químico”. Com a u�lização de Beauveria bassiana (fungo que age como parasita matando vários insetos-praga, inclusive a broca do cafeeiro), o gerente conseguiu obter um controle entre 75 e 95% da broca. Ele confessa que foi a primeira vez que u�lizou o manejo biológico na plantação e que o resultado foi bastante eficaz. “Já conhecia o fungo, mas nunca havia
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u�lizado pelo fato de que os produtos que estávamos aplicando estavam controlando com eficiência. Mas, o resultado ob�do com o uso da Beauveria foi surpreendente”, disse. “Esse fungo precisa entrar em contato com a broca pra fazer a colonização. Ele só coloniza em ser vivo. A Beauveria coloniza em vários outras pragas, como bichomineiro, cochonilha e mosca branca. Ela precisa de umas 48 horas, basicamente, para a�ngir e começar a fazer a colonização. Tudo que o fungo entrar em contato, coloniza. Só não coloniza se a temperatura do ambiente não estiver adequada. Durante o processo de infecção ocorre uma liberação de toxinas no interior do inseto, o que muda seu hábitos e o leva à morte”, esclareceu Eli.
De acordo com o gerente, a aplicação do fungo não é mais cara que o controle químico e a única desvantagem do manejo biológico é a obrigação de ter um mecanismo de aplicação muito bem elaborado, com horários e temperaturas para u�lização. Já entre várias vantagens do controle biológico, ele citou a não resistência da praga sobre ele. “Nenhuma praga cria resistência à técnica biológica”, salientou. O êxito do controle da broca do cafeeiro com o manejo biológico foi com tamanha notabilidade que Eli assegurou que na próxima safra irá se esforçar para controlar a praga apenas com o fungo Beauveria bassiana. “Este ano vamos tentar fazer o controle só com a Beauveria. Pode ser que a gente consiga controlar apenas com o biológico”, finalizou.
“Este ano, vamos tentar fazer o controle Beauveria. Pode ser que a gente consiga controlar apenas com o biológico”.
Lavoura de café. Foto: Stella Bernardes
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PESQUISA E TECNOLOGIA
INTEGRAÇÃO DE ALGUMAS TÁTICAS PROPÕE CONTROLE DE PRAGAS DE FORMA SUSTENTÁVEL A ideia é diminuir o uso de produtos químicos nas lavouras, preservando assim, o meio ambiente e melhorando a saúde humana Por Karen Duarte Lavoura de soja. Foto: Portal Embrapa. Um dos maiores desafios enfrentado pelos agricultores para manter a produ�vidade, de média a alta, são as pragas agrícolas. Todos os anos, lavouras de cana-de-açúcar, café, soja, arroz e demais culturas têm grandes perdas devido ao ataque desses seres vivos que se alimentam dos vegetais. Com isso, na tenta�va de controlar estes organismos, o uso de pes�cidas tem sido cada vez maior. Porém, as pragas têm desenvolvido uma resistência aos produtos químicos, o que as torna invulneráveis. Esse entrave foi uma das razões pela qual, em 1970, a comunidade cien�fica criou o Manejo Integrado de Pragas (MIP), alterna�va para diminuir o uso de agroquímicos e manter as pragas abaixo do nível de danos econômicos para a lavoura. Foi o que afirmou o engenheiro agrônomo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Yamamoto: “No MIP, a premissa básica é a u�lização de todas as técnicas disponíveis, também chamados de tá�cas, dentro de um programa integrado, de tal modo a manter a população de organismos nocivos abaixo dos níveis que poderia causar danos econômicos aos produtores e minimizar os efeitos colaterais deletérios ao meio ambiente”. A proposta é integrar vários métodos visando à redução populacional das pragas, desde o uso de variedades resistentes, manejo ambiental, manejo comportamental, controle biológico e químico, com a necessidade de estudar e
u�lizar as tá�cas mais apropriadas para alcançar o propósito de redução populacional das pragas, evitando os efeitos prejudiciais aos inimigos naturais e polinizadores. Yamamoto explica que alguns desses métodos citados podem causar efeitos danosos ao ambiente e por essa razão é indispensável uma análise criteriosa de qual ou quais são os mais indicado(s). “Alguns como o manejo ambiental, cujo principal método é o controle cultural, deve ser implementado antes do início do plan�o da cultura. Apesar de ser o mais u�lizado, o controle químico é o método que deve ser u�lizado de forma mais criteriosa, pois, pode provocar efeitos deletérios ao ambiente, tais como eliminação dos inimigos naturais e polinizadores, levando ao surto de outras pragas. Um dos métodos que vem crescendo muito é o controle biológico, mas, esse deve ser u�lizado integrado com o controle químico”, enfa�za. Entre algumas vantagens do MIP, mencionadas pelo professor, estão: maior estabilidade do agroecossistema com possibilidade de diminuição de u�lização de agroquímicos; menor impacto ambiental; menor possibilidade e risco de poluição e contaminação de trabalhadores rurais e diminuição da possibilidade de resíduos no alimento, solo e águas. Porém, ele ressaltou que o MIP tem a necessidade de monitoramento, o que muitas vezes se torna di�cil na prá�ca; além de necessidade de treinamento para conhecimento de
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aspectos ecológicos, desafios do Manejo Integrado de Pragas e ausência, por grande parte das vezes, de modelos prá�cos para previsão de pragas e doenças. Segundo o docente, as novas tecnologias têm possibilitado a implementação do MIP e sua melhoria na metodologia, na forma de monitoramento de pragas, na localização de focos de pragas e controle direcionado a esses pontos e na aplicação das tá�cas de manejo. Para ele, grandes progressos neste âmbito estão por vir. “Com o clamor e exigência da população, haverá um avanço nos programas de MIP em culturas cujo alimento é direcionado diretamente ao consumidor. Novas tecnologias de monitoramento de pragas e doenças serão desenvolvidas, tornando a iden�ficação e a quan�ficação das pragas mais fáceis, ágeis e asser�vas”, presume. Na concepção de Yamamoto, os consumidores devem reivindicar por produtos mais sustentáveis e orgânicos, para melhoria da saúde humana e preservação do meio ambiente para as próximas gerações. “Com a exigência por parte do consumidor, por consumo de alimentos mais saudáveis e com menos possibilidade de resíduos, a tendência é que o MIP seja mais empregado, como um passo antes de se a�ngir uma agricultura mais sustentável e orgânica. Se não houver uma
grande mobilização do consumidor, não haverá mudanças quanto ao método hoje u�lizado de controle de pragas, baseado, quase que exclusivamente no controle químico”, frisou. Quanto às previsões para a agricultura nos próximos anos, o engenheiro agrônomo destaca o provável crescimento do método de controle biológico, como técnica de controlar as pragas nas lavouras. “Prever como será a agricultura no futuro é um trabalho árduo, mas, o futuro direciona para uma agricultura mais tecnificada com o uso de diversas ferramentas para aprimorar todas as prá�cas culturais empregadas em cada cultura. A tendência é que o controle biológico cresça, com emprego de macro e microrganismos que auxiliarão os produtos químicos tradicionais no manejo de pragas, culminando, consequentemente, para um ambiente mais estável”, completou.
“Se não houver uma grande mobilização do consumidor, não haverá mudanças quanto ao método hoje utilizado de controle de pragas, baseado, quase que exclusivamente no controle químico”. Lavoura de soja. Foto: Cleverson Beje.
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FA L A P R O D U T O R
A ACEITAÇÃO DO CONTROLE BIOLÓGICO PELO HOMEM DO CAMPO Por Elorrane Vaz
Produtores rurais, cada vez mais, aderem ao método sustentável em suas propriedades Vivemos em um mundo onde a necessidade é produzir cada vez mais sem prejudicar o meio ambiente e o próprio homem. A agricultura é um dos pilares da economia brasileira, aumentar os índices de produ�vidade sem prejudicar o meio ambiente, implica principalmente, em reduzir a u�lização de agroquímicos nos cul�vos agrícolas e, nesse cenário, o controle biológico ganha espaço. A u�lização de inimigos naturais no combate as pragas e doenças além de não gerar danos ao meio ambiente e ao próprio homem, quebra a resistência desses patógenos gerada pelo uso intensivo dos agroquímicos. Durante anos, a forte cultura dos químicos e a ausência de informações a respeito do manejo biológico gerou grande resistência aos agricultores. É o que o agricultor Hugo Ferreira de Queiroz, de Patos de Minas, interior mineiro, afirma: “A informação é essencial para que possamos saber com o que estamos mexendo. Assim, a falta dela faz com que não tenhamos visão de como é o método” destaca. Porém, o produtor ressalta que atualmente esse cenário tem mudado muito “a divulgação de resultados eficientes tem chamado a atenção de mul�nacionais do setor agrícola e alçado inves�mentos essenciais para a expansão dos biológicos no mercado” ressalta o agricultor. Proprietário da Fazenda Marinheiro, situada na cidade de Araxá, também no interior mineiro, Hugo tomou conhecimento sobre o controle biológico em 2005, através de palestras, dias de campo e feiras como a Agrobrasília. Em 2008, começou a aplicá-lo em sua propriedade, quando os produtos estavam efe�vamente à disposição e �nham uma segurança maior na recomendação e no posicionamento no campo. “Comecei a usar o controle biológico em busca de uma alterna�va que fosse eficaz para estacionar o manejo com os químicos. Acredito que a agricultura
sustentável será um anseio para que a população u�lize cada vez mais produtos com menos químico possível”, afirma. Certo da eficiência dos biológicos, o agricultor introduziu o método nos cul�vos de soja, milho e feijão. “No início fiz testes em áreas menores para depois usar em maior escala, sempre avaliando o custo-bene�cio do produto”, comenta. Hoje, mediante aos resultados extremamente posi�vos alcançados, Hugo destaca os bene�cios do método: “Traz mais segurança alimentar, produtos menos tóxicos, além de mais segurança para o operador, pois não é preciso ter aquele cuidado que tem quando se aplica o químico”. O produtor ainda completa: “Há também um período de carência curto, é ambientalmente responsável e além de ajudar a equilibrar as pragas envolvidas na cultura, o agricultor passa a ser visto com outros olhos pela sociedade envolvida, pois demonstra assim, sua preocupação ambiental”. O agricultor recomenda o controle biológico para os demais profissionais da área. “Os resultados alcançados são extremamente posi�vos, recomendo que os agricultores u�lizem o método em seus cul�vos”. E conclui com uma dica para os que ainda não u�lizam o método: “Experimentar, mensurar os resultados e avaliar o custo-bene�cio é de grande importância, pois assim, compreenderão o quanto estão fazendo bem para todos aqueles que consomem os produtos comercializados e para o mundo, por ser uma das alterna�vas sustentáveis mais eficazes atualmente’’, conclui.
O produtor Hugo Ferreira de Queiroz
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CAPA
NOVA ERA DOS BIOLÓGICOS
Por Karen Duarte
Sede Laboratório Farroupilha - Lallemand. Foto: Divulgação Farroupilha/Lallemand. 24 Biomanejo
A trajetória da terceira maior empresa de defensivos agrícolas do Brasil e seus mecanismos de controle Por André Martins e Stella Bernardes Com o sonho de produzir em grande escala e coragem como diferencial, o jovem gaúcho Inácio Urban, deixou em 1976 a cidade de Não-Me-Toque (RS) para desbravar o cerrado mineiro, mais precisamente em Patos de Minas, na região do Alto Paranaíba, onde enfrentou o desafio de cul�var terras consideradas inférteis. Mesmo com os desafios apresentados, a ação empreendedora do gaúcho deu origem ao Grupo Farroupilha, que com os obje�vos de criar soluções biológicas para a agricultura, reduzir o uso de químicos e promover a produção de alimentos mais saudáveis, criou em 2006 a unidade de negócio Laboratório Farroupilha. Atuando há 12 anos na pesquisa, desenvolvimento e comercialização de defensivos biológicos, o Laboratório Farroupilha começou pequeno, com seis funcionários, atendendo apenas as necessidades locais e compar�lhando resultados eficientes de produtor para produtor. “Nossas lavouras enfrentavam sérios problemas com a praga do mofo branco. Encontramos a solução através dos biológicos”, destaca o CEO do Laboratório, Fernando Urban. Um dos profissionais que viu o Laboratório nascer foi o gerente de Desenvolvimento Tecnológico, Robson Luz Costa. Ele relata a importância de traçar determinadas estratégias com o intuito de não cometer os mesmos erros do passado, no que se refere à comercialização do controle biológico. “Quando começamos montar uma indústria de produção em escala comercial, nossa intenção era trazer tecnologia para o controle biológico, que até então era considerado um segmento com produtos sem qualidade e sem eficiência. No início, para que nós conseguíssemos ter uma percepção de onde poderíamos chegar, percebemos que �nhamos que entender como o nosso trabalho poderia se comportar perante as culturas que iriam ser trabalhadas. Para que isso acontecesse, �vemos que realmente ir para o campo, trabalhar e estudar grande parte das culturas que trabalhamos hoje”, conta Robson. O conceito empreendedor presente na família Urban e a meta de oferecer produtos de qualidade ao mercado, permi�u que a empresa crescesse e seus produtos se destacassem no setor. “Estamos presente em mais de 80% do território brasileiro. Somos os maiores produtores de Trichoderma do mundo e apresentamos ao mercado uma classe superior de biológicos, as Soluções Biopotentes”, ressalta Fernando Urban.
OS BIOPOTENTES A empresa alcançou o registro de 11 produtos, nos três órgãos responsáveis por inspecionar o segmento de biológicos: a ANVISA, o MAPA e o IBAMA, sendo que sete deles são defensivos agrícolas (Quality, Rizos, Onix, Crystal, Opala, Organic e Granada).
Desde então, uma série de testes foram desenvolvidos com esses produtos, nas culturas do feijão, algodão, milho, soja, café, cana-de-açúcar, tomate, entre outras trabalhadas, o que culminou o desenvolvimento de uma empresa, cuja base é o conhecimento. Hoje, todos os produtos são reconhecidos pela cer�ficadora IMO – Control, para uso na agricultura orgânica no Brasil e na Europa. Diante do resultado, a fim de solucionar problemas e impulsionar o empreendimento agrícola, o Laboratório desenvolveu uma nova categoria de produtos, que entrega caracterís�cas como: alta qualidade, germinação e vigor com formulação concentrada - os chamados Biopotentes. Nesse sen�do, Robson Costa, explica que a empresa levantou a bandeira do controle biológico com o obje�vo de desenvolver o segmento e inves�r em um novo padrão de qualidade para seus produtos. A formulação, a assistência técnica oferecida e desempenho dos Biopotentes, mudaram a história da empresa, pois os profissionais do campo perceberam que os biológicos do Laboratório eram diferenciados. “Os produtores viam os resultados em suas lavouras, e a par�r de então, a produção dessas tecnologias foram ampliadas”, destaca Robson. Outro diferencial é o relacionamento ín�mo com o produtor rural. Uma das ações de maior sucesso já realizadas foi o Tour Biopotente, onde o Laboratório recebe produtores rurais de todo o país, para que eles conheçam de perto os processos produ�vos da empresa e esclareçam suas dúvidas quanto à ação e eficácia dos produtos.
MANEJO INTELIGENTE BIOPOTENTE (MIB) Além dos Biopotentes o laboratório também criou o Manejo Inteligente Biopotente (MIB), um conjunto de técnicas e conhecimentos desenvolvidos pelo Laboratório para associar os Biopotentes a outras ferramentas de tratamentos nas lavouras. “Não é só comprar o produto Biopotente, mas saber como vai u�lizar, e para isso temos uma equipe técnica extremamente capacitada que vai fornecer todas as orientações, de como u�lizar, juntamente com o manejo do produtor, para que haja uma eficiência máxima. O MIB nasceu para os produtores que querem extrair o máximo de eficiência do método, para que consigam realmente ter sustentabilidade, não só social e ambiental, mas econômica”, explica o gerente de desenvolvimento. O agrônomo Robson Costa, enfa�za que não é qualquer um que tem condições de desenvolver produtos biológicos, porque eles são produtos muito delicados, uma vida que precisa potencializar outra vida, e para isso ocorrer, precisa-se de estrutura e conhecimento especializado, para que se consiga realmente levar resultados e eficácia ao campo. “Nós estamos conseguindo comprovar que nossos biológicos são diferentes.
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Por isso somos Biopotentes. Usamos vidas potentes, que realmente trazem a diferença, trazem essa sustentabilidade econômica, ambiental e social para o produtor. Então, quando o produtor u�liza um produto da Farroupilha Lallemand ele sabe que está u�lizando uma classe superior de biológicos”. Vale pontuar que os produtos biológicos têm seus alvos de ação. Eles não trabalham mais com uma cultura independente e sim com o controle patógenos. “O controle biológico em termos de aplicação variada por cultura teve um salto extremamente significa�vo, um dos itens favoráveis foi que o Ministério da Agricultura permi�u que esse controle não fosse mais por cultura, mas sim, por alvo. Nós não precisamos mais registrar o produto para soja, milho e feijão, precisa-se registrar o produto por alvo, que é para doença ou praga que se quer combater”, enfa�za Costa.
DISTRIBUIÇÃO DE BIOPOTENTES NO BRASIL Cabe ressaltar que o Laboratório conta com 450 pontos de revendas atualmente. Mas já parou para pensar sobre a dimensão de produtos que são vendidos e como é feito esse procedimento de logís�ca até que o produto chegue ao consumidor final? Mirian Carvalho Oliveira, coordenadora Administra�va, explica: “Estamos distribuindo a nível Brasil, e a gente faz toda essa logís�ca, desde a chegada do pedido que vem através da nossa equipe de vendas, que fica espalhada pelo país, até a entrega dele”. “As mercadorias seguem em um caminhão refrigerado, a fim de manter todo o processo de qualidade que é realizado na produção. Então, depois de produzidos, os produtos ficam armazenados em câmaras frias e logo depois, eles são acondicionados nestes caminhões, antes de seguir para as entregas”, conta Mirian. A coordenadora Administra�va informa ainda que para transportar os produtos do Laboratório existem metodologias, como: movimentação da mercadoria, regras quanto à abertura do baú, controle de temperatura, e até mesmo onde parar para descansar. “Nós trabalhamos para entregar um Biopotente para o produtor e não um biológico qualquer”, ressalta.
Vale destacar também que o produtor não precisa de um galpão refrigerado para acondicionar o produto, pois o mesmo pode ficar na propriedade rural em temperatura ambiente, pelo prazo de validade estabelecido.
UM PEDAÇO DO CANADÁ EM PATOS DE MINAS - MG Com os avanços no setor agrícola, no início de 2016, o Laboratório Farroupilha foi adquirido pela mul�nacional canadense, Lallemand. “O sucesso e eficácia dos produtos chamaram a atenção de diversas mul�nacionais. Nós �nhamos a filosofia de que se quiséssemos expandir ainda mais, precisávamos de um parceiro ao nosso lado. Escolhemos a Lallemand por ser uma empresa familiar, com valores similares aos nossos”, explica o CEO Urban. O grupo Lallemand é a maior empresa de microorganismos do mundo, está presente nos cinco con�nentes e em mais de 45 países, complementa Fernando. Em constante ascensão, o Laboratório Farroupilha Lallemand expandiu sua abrangência de mercado no Brasil e no mundo. De acordo com o gerente comercial, Stanis Bombonato, “a empresa conta hoje com 450 pontos de revendas e mais de 1080 agentes de campo”. Devido seu desempenho posi�vo, o Laboratório foi reconhecido como a terceira maior empresa de defensivos agrícolas do Brasil, pela revista Globo Rural. Segundo Fernando Urban, o reconhecimento se deve ao rigoroso controle de qualidade em todas as etapas do processo produ�vo, a consultoria técnica especializada oferecida ao agricultor e aos resultados alcançados nas lavouras.
A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE BIOLÓGICO PARA A AGRICULTURA As condições climá�cas do país, o uso desenfreado dos químicos e outros fatores podem desencadear inúmeros problemas para o campo. De acordo com Robson Costa, “os químicos quando são u�lizados de forma aleatória e irracional, propicia uma pressão de fungos, insetos e bactérias, fazendo com que haja uma seleção desses; porque nas moléculas químicas existem poucos métodos de ações sobre esses insetos
Stanis Bombonato - Gerente Comercial do Laboratório Farroupilha Lallemand. Foto: Laboratório Farroupilha - Lallemand.
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Fernando Urban - CEO do Laboratório Farroupilha Lallemand. Foto: Laboratório Farroupilha - Lallemand.
Equipe Laboratório Farroupilha - Lallemand. Foto: Laboratório Farroupilha - Lallemand e fungos, então significa que eles sempre vão sobreviver”. Assim, o produtor tende a aumentar a dose dos agroquímicos nas lavouras, mas mesmo com esse aumento, não se tem uma produção diferente de moléculas químicas, o que significa que essas pragas irão permanecer naquele local, devido à resistência das mesmas. Além disso, ao jogar uma maior proporção de químicos no solo, aumentam-se os riscos ambientais. Então, quando se tem o controle biológico integrado ao químico, faz com que o controle biológico, por ter muitos modos de ações sobre fungos, bactérias e insetos-praga, diminua a população dos que sobreviveram às moléculas químicas. “O produtor tem um controle melhor, mais efe�vo daquela praga e passa a produzir mais. O controle biológico associado ao químico aumenta a eficiência, diminui a existência dessas pragas e, consequentemente, aumenta a produção”, comenta Costa. Porém, para que isso ocorra, segundo o gerente de desenvolvimento, é necessário que os produtores entendam o papel do manejo biológico que é consociar e complementar as eficiências, diminuir os impactos ambientais e ter um ganho econômico. “Isso é um processo que vem ocorrendo ano após ano, porque muitos ainda acreditam que o controle biológico é uma ferramenta para eliminar o químico, para você não mais usá-lo. O produtor ainda está tomando conhecimento que há uma necessidade de somar ferramentas. Essa compreensão está se tornando mais efe�va, mas isso é um processo que vai levar muito tempo”.
CRESCIMENTO DOS BIOLÓGICOS NO PAÍS Os avanços dos Biopotentes seguem em conjunto com o crescimento dos produtos biológicos, uma vez que eles têm uma taxa de crescimento extremamente significa�va em relação aos químicos. O método biológico de controle de pragas
e doenças possui uma taxa de crescimento superior a 20% alguns centros esta�s�cos mostram até 25% de crescimento na sua u�lização no Brasil -. Ao analisar o cenário econômico, temse um faturamento médio de agroquímicos comercializados nacionalmente em torno de 10 a 12 bilhões de dólares. Robson Costa alerta que é importante que se tenha a percepção de que com o avanço tecnológico, nos próximos anos, os biológicos podem ter uma proporção de vendas de 5% a 10% de todo o mercado. “Hoje gira em torno de 2%. Acredito que, futuramente, com a seriedade das empresas, o empenho de levar informação e acompanhar, nós consigamos ter um espaço significa�vo no cenário econômico, com a u�lização do controle biológico”. O momento vivido pelo Laboratório é posi�vo. De 65 milhões de hectares plantados no país, a empresa é responsável pelo controle de pragas e doenças de quase 4% desse total. “Para uma empresa, isso é extremamente significa�vo”, garante Costa. O gerente de Desenvolvimento Tecnológico enfa�za que o controle biológico é algo que veio somar com todas as camadas da sociedade, “em todo o mundo se fala de controle biológico. É fato, é realidade. A Europa é um con�nente onde o controle biológico é efe�vo, tem países que tem até incen�vo aos produtores para u�lizar os biológicos. O método entra com mais força em determinadas situações, mas o crescimento do controle biológico é efe�vo, independente do país, é algo que é fato e é real”, conclui. O CEO Fernando Urban, relata que o sonho de alimentar o mundo está sendo consolidado, pois se faz presente a cada dia: “Estamos construindo hoje, a agricultura de amanhã com o obje�vo de promover sustentabilidade e garan�r a saudabilidade dos alimentos que chegam às mesas, no Brasil e no mundo”, conclui Fernando Urban.
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A G R I C U LT U R A
MANEJO INTELIGENTE BIOPOTENTE: SATISFAÇÃO PARA A PLANTA E PARA O PRODUTOR Exclusividade do Laboratório Farroupilha Lallemand, o método consorcia os Biopotentes com outras ferramentas de tratamento que podem ser adotados em todas as lavouras do país Por Stella Bernardes
O agricultor brasileiro está descobrindo como u�lizar os recursos disponíveis na natureza para controlar pragas e doenças nas lavouras. A prá�ca vem diminuindo o uso de agrotóxicos e oferecendo melhores resultados. Este é o caso da Fazenda Boa Esperança, localizada no município mineiro de Campo Florido. Nos úl�mos cinco anos a propriedade maximizou sua produ�vidade, saltando de uma área de 5,4 mil hectares agricultáveis de cana-de-açúcar para 10,8 mil. Vários fatores contribuíram para esse número, dentre eles, a adoção do controle biológico como principal método de controle e pragas no cul�vo.
Os resultados posi�vos alcançados na produção de cana-de-açúcar são comemorados pelo proprietário. “Recentemente alcançamos os sonhados três dígitos de produ�vidade, com a produção de 106 toneladas por hectare. Esse número classifica a fazenda Boa Esperança como uma das maiores produtoras de cana-de-açúcar do país”, destacou. O segredo para esse desempenho é claramente destacado por Ademir. “Inovação! Nunca fui um agricultor que ficasse limitado às prá�cas an�gas, gosto de inovar e sei que o controle biológico é a bola da vez, é o nosso futuro”, ressaltou.
O diretor-presidente e proprietário da fazenda, Ademir Ferreira de Mello, destaca que o combate a algumas pragas não estava sendo eficiente com o emprego de agroquímicos. “Estávamos enfrentando alguns problemas nas lavouras e o combate usando os químicos não estava sendo o eficiente. Então tomamos conhecimento dos Biopotentes do Laboratório Farroupilha Lallemand e comprovamos seu desempenho”, disse. 28 Biomanejo
“Inovação! Nunca fui um agricultor que ficasse limitado às práticas antigas, gosto de inovar e sei que o controle biológico é a bola da vez, é o nosso futuro”
Da direita para a esquerda: Valde�no, representante do Laboratório Farroupilha Lallemand e Agnaldo Junior, gerente de agricultura da Fazenda Boa esperança. Foto: Bio Manejo.
COMPARTILHANDO CONHECIMENTO Segundo o agrônomo e gerente de agricultura da fazenda, Agnaldo Borges, os produtos mais u�lizados no cul�vo da cana-de-açúcar são os Quality, Rizos, Onix e Azos. Os produtos são nema�cidas, inoculantes e fungicidas que agem em sintonia e melhoram o desempenho da planta desde o cul�vo até a colheita. Agnaldo destaca o custo bene�cio dos produtos. “Os Biopotentes nos permi�ram elevar os índices de produ�vidade e o mais importante é que esse crescimento se deu de forma sustentável. O controle biológico respeita o equilíbrio da natureza, já que não deixa que haja um descompasso populacional, ou seja, o número de indivíduos de microrganismos no solo, por exemplo, tende a encontrar uma simetria” explica. De acordo com o gerente de agricultura, para o�mizar resultados no manejo biológico é necessário analisar vários aspectos, como a credibilidade da empresa e dos produtos fornecidos e buscar empresas que forneçam consultoria técnica especializada ao agricultor. “Empresas sérias são comprome�das com o cliente do cul�vo até a colheita, como é o caso do Laboratório Farroupilha Lallemand. O suporte técnico garante que as aplicações sejam eficazes”, conclui.
Canavial na fazenda Boa Esperança - MG, uma das maiores produtoras do cana-de-açúcar no Brasil. Foto: Bio Manejo.
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SOLUÇÕES BIOPOTENTES UTILIZADAS NA FAZENDA BOA ESPERANÇA AZOS: inoculante líquido que atua reduzindo a concentração de e�leno na folha, retardando seu envelhecimento e a mantendo verde por mais tempo. Promove maior eficiência fotossinté�ca e produção de fotoassimilados, produz fitohormônios que es�mulam o crescimento das raízes e a produção de radicelas, aumentando a área de absorção de água e nutrientes. RIZOS: nema�cida microbiológico que age desorientando os nematoides quando estão em sua fase juvenil e produzindo substâncias que promovem o crescimento do sistema radicular e dá maior vigor a planta. ONIX: nema�cida biopotente que age impedindo a eclosão dos ovos e es�mulando a síntese de agentes de defesa e a formação de barreiras contra nematoides. QUALITY: fungicida microbiológico que infecta o fitopatógeno degradando sua parede celular e alimentando-se das estruturas nutri�vas. Ele coloniza o sistema radicular, libera fitohormônios que es�mulam o crescimento radicular, mineraliza diversos nutrientes, dispondo-os a absorção do sistema radicular, produz enzimas que reduzem naturalmente o stress da planta durante seu desenvolvimento e produz metabólitos que impedem o crescimento dos fitopatógenos por meio de ações enzimá�cas.
Da esquerda para a direita: José Luiz, gerente geral da fazenda e o proprietário Ademir Júnior Mello. Foto: Bio Manejo.
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CAPACITAR PARA CRESCER Agrônoma se especializa no controle biológico e implementa ações em hortas comerciais
Por André Mar�ns
“Todos me relatam, que as folhas têm mais sabor, principalmente as alfaces, que não são amargas, nem têm gosto de remédio”, afirmou Viviane Pretz. Viviane Pretz o�mizando horta comercial. Foto cedida por Viviane Pretz Produzir organicamente, controlar as pragas através do Controle Biológico, pode ser algumas das alterna�vas para as plantações de hortaliças. E pode ser algumas das opções bem agradáveis, como conta a engenheira agrônoma, mestre em Fitotecnia e doutoranda na área de Controle Biológico Conserva�vo em Hortas Orgânicas na UFRGS, Viviane Falkembach Pretz, natural de Porto Alegre - RS, 38 anos, que na cidade de Viamão, município do estado do Rio Grande do Sul, ajuda na produção de uma horta comercial de três hectares, distribuídos em 108 canteiros com 100m lineares cada um. Nesses canteiros são cul�vadas todas as folhosas que compõem uma dieta semanal de saladas. Desde cinco variedades diferentes de alfaces, rúcula, radite, salsa, cebolinha, couve, repolho, espinafre, couve chinesa, e dois �pos de raízes: beterraba e cenoura. Segundo Viviane Pretz, ela conheceu o Controle Biológico ainda na faculdade durante a sua graduação, nas disciplinas de Entomologia e Manejo de Doenças de Plantas. “Como as aulas da faculdade eram todas durante o dia, pois a agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não tem a�vidades noturnas, os alunos que desejam exercer alguma a�vidade remunerada acabam se encaixando nas oportunidades de Iniciação Cien�fica. Foi o que aconteceu comigo, iniciei no melhoramento de plantas de lavoura, depois pastagens e nos dois úl�mos anos da faculdade trabalhei na área de pragas agrícolas, onde pude conhecer mais do assunto. Entrei numa equipe que trabalhava mais na área de sustentabilidade, de redução de defensivos químicos, e aí que a história toda começou. Quando me formei, surgiu a oportu-
nidade do mestrado, e agora estou finalizando meu doutorado na área de Controle Biológico conserva�vo aplicado em hortas orgânicas”. Ao ler todo esse relato de uma jovem estudiosa, engana-se quem pensou que a menina de Porto Alegre, criada em um apartamento já não gostava das áreas da natureza na infância. Desde pequena, Viviane ajudava a sua vó com suas flores e temperos, e ao crescer, mesmo com a dúvida em qual carreira seguir, agronomia ou arquitetura, optou pela agronomia para nunca mais voltar. Estudou e se formou em 2010, anos mais tarde tornou-se mestre em Fitotecnia, mas foi no doutorado, cercada de biólogos, que na maioria das vezes estavam empenhados em realizar pesquisas em cima da taxonomia, iden�ficação de insetos benéficos, criação de insetos para Controle Biológico, ela sen�a falta de associar a forma biológica de ver a natureza com o manejo agrícola de produção. A par�r disso, ela passa a desenvolver o seu doutorado nessa linha, a fim de apresentar respostas para uma produção de alimentos mais sustentáveis. Depois de definir a sua linha de pesquisa, surge a dúvida, onde colocar em prá�ca aquilo que ainda era somente teoria? A engenheira agrônoma responde que ao fazer o seu doutorado, surgiu a oportunidade de conhecer alguns produtores rurais e desenvolver a parceria com o senhor Sidney Davila, produtor de hortaliças, da cidade de Viamão, município que fica a 25 quilômetros de Porto Alegre, de clima subtropical, com verões quentes e invernos frios, com chuvas bem distribuídas ao longo dos meses do ano, e com uma temperatura que pode variar entre 40 °C e 0 °C.
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Ali ela passou a realizar seus experimentos e oferecer consultorias de manejo e dias de campo para os funcionários entenderem a forma como ela trabalha e como eles podem u�lizar no futuro.
Porém, mesmo acreditando na sustentabilidade, ela comenta que não poderia ser tão radical, a ponto de dizer que quem produz alimentos de forma convencional, não conseguirá produzir alimentos.
A forma de produção das hortaliças é orgânica, ou seja, não há uso de defensivos químicos nem no controle, nem na adubação.
“As técnicas de manejo do sistema convencional também evoluem a cada dia, em busca de mais kg por hectare, mais e mais produção. Entretanto, a saúde das pessoas e a saúde do ambiente é que vai responder a essa questão. As doenças estão aí, os organismos cada vez mais susce�veis e os microorganismos cada vez mais resistentes. A falta de percepção das pessoas de que precisamos preservar uma biodiversidade, que a agricultura precisa de chuvas, e para isso precisamos de florestas, acredito que um dia tudo seja percebido por uma maior gama da população. Tudo é uma questão de tempo, e de consciência do próprio produtor. Pois a devastação de um ecossistema não se dá do dia pra noite, e sim é um processo a ser construído. Cabe a nós escolher em que �po de construção vamos querer inves�r”.
“U�lizamos o Controle Biológico conserva�vo, que é o manejo das plantas, uma modificação da paisagem agrícola, a fim de conservar os insetos benéficos que já existem na área, e atrair outros que exercem o controle natural sobre as pragas. Pois, todos os insetos têm suas presas e predadores, e essa “guerra” existe de forma natural. Quando aplicamos agrotóxicos não sele�vos estamos acabando com todos os níveis tróficos de uma cadeia alimentar, além de liberar produtos químicos no meio ambiente”, destacou a agrônoma. O Controle Biológico Conserva�vo estuda quais plantas são atra�vas, quais repelem, quais são tóxicas, para que assim se u�lize a diversificação do ambiente com diversos �pos de consórcios entre plantas. Pois cada planta vai exercer uma atra�vidade ou repelência diferente conforme a sua associação. Para entender um pouco melhor, Viviane Pretz, comenta sobre um de seus experimentos que compara o uso de consórcio entre couve (cul�vo principal do canteiro) com manjericão nas bordas do canteiro (cultura secundária), comparado com um canteiro solteiro, sem o manjericão. “A couve tem muitos problemas com o pulgão. Um inseto que ataca muito facilmente a couve e tem uma taxa reprodu�va muito rápida e intensa. Porém existem parasitoides e predadores que parasitam esses pulgões, impedindo seu desenvolvimento e acabam matando o inseto de forma natural. As flores do manjericão fornecem pólen e néctar para esses insetos chamados de benéficos. E o que foi constatado até o momento é que as taxas de pulgões parasitados no canteiro que contém o manjericão são significa�vamente maiores do que no canteiro sem o manjericão. Além das observações das altas taxas de larvas de joaninhas encontradas nas folhas do manjericão. A joaninha é o principal predador de pulgões. Em um sistema convencional (método químico), quase não se encontra parasitoides e o número de predadores é muito menor, pelo fato de serem exterminados do ambiente junto com os insetos pragas, pelas aplicações de defensivos”, explicou.
Para o futuro, a doutoranda em Controle Biológico pretende desenvolver um projeto chamado “Plantar, Colher e Cozinhar”, em escolas de ensino fundamental, com o obje�vo de implantar o conhecimento dos alimentos naturais na aprendizagem das crianças e a importância da educação ambiental na formação das mesmas. Mas, enquanto isso não ocorre, vamos comentar sobre o resultado das plantações orgânicas, u�lizando o método de controle de pragas, biológico. Não sei se você se recorda, no início dessa reportagem foi citado que essa maneira de produzir pode ser uma das alterna�vas bem agradáveis. Mas e aí? São alimentos saborosos? Com uma maneira simples, sincera e com um sorriso no rosto, de quem está fazendo algo para as próximas gerações, Viviane Pretz argumenta. “Todos me relatam, que as folhas têm mais sabor, principalmente as alfaces, que não são amargas, nem têm gosto de remédio (ela rir nesse momento). A salsa e a cebolinha mantém o aroma, até mesmo depois de cozida. E todos que consomem alimentos orgânicos percebem esse valor. O morango e a banana têm realmente gosto e cheiro de morango e banana, um suco de laranja orgânica tem um gosto incrível. Não precisa ser especialista na área para perceber a diferença, basta apenas ser sincero”.
Viviane ainda fala que o caminho da agricultura deve ser esse, o da produção sustentável. “Pelo número de feiras orgânicas no Brasil e o espaço nas gôndolas de produtos orgânicos do supermercado, tudo isso teve um aumento fantás�co nos úl�mos 5 anos. Ser orgânico tornou-se um nicho de mercado, e produtores de frutas para exportação, por exemplo, já não podem mais aplicar certos produtos químicos banidos pela União Européia, caso contrário têm seus pedidos cancelados. E se a sua produção for orgânica, agrega um valor comercial muito mais alto para exportação. O consumidor tornou-se mais exigente com a aquisição de certos produtos, e mesmo o produto orgânico sendo um pouco mais caro, existem consumidores dispostos a pagar por isso. E quanto mais produtos forem produzidos de forma sustentável, mais oferta teremos no mercado e isso fará com que o preço dos produtos também baixe”. Biomanejo 31
Foto cedida por Viviane Pretz
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AGRICULTURA DE PRECISÃO EM ASCENSÃO NO BRASIL A informação técnica dada ao produtor rural é um dos principais atraentes na utilização da Agricultura de Precisão (AP) Por Por Ana Maciel
De acordo com a Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Agricultura de Precisão (AP), se define como o conjunto de ferramentas e tecnologias aplicadas para permi�r um sistema de gerenciamento agrícola baseado na variabilidade espacial e temporal da unidade produ�va e visa o aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente. Em termos prá�cos, o coordenador do Programa de AP do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Brasília - DF, Rafael Costa, resume o termo como um sistema de manejo de produção integrado, uma forma de o agricultor tomar decisões com base em informações levantadas de maneira mais precisa, levando em consideração as diferenças existentes em uma propriedade, e não mais com tabelas e médias como é tratado na agricultura convencional.
FUNCIONALIDADE DA AP O coordenador do programa explica que ela funciona como um ciclo: 1º passo: levantamento de informações a campo, considerando as variabilidades existentes para obter a definição das zonas de manejo (normalmente nessa fase nós temos a análise de solo, mapas de condu�vidade elétrica, mapeamento de colheita, sensoriamento remoto e pedologia refinada). 2º passo: etapa de análise dos dados coletados, considerando a Geoesta�s�ca, os sistemas de informações geográficas, o diagnós�co e a recomendação agronômica. 3º passo: realização da intervenção com base na recomendação definida, como aplicação de fer�lizantes e corre�vos em taxas variáveis, aplicação de sementes, pulverização, controle de pragas, irrigação, dentre outros. Por tratar-se de um ciclo, Rafael salienta que todas essas etapas são repe�das, a fim de que com o passar dos anos, ao u�lizar a agricultura de precisão, possa-se aumentar o lucro e reduzir tanto o uso de insumos quanto os impactos ambientais.
PERSPECTIVAS DA AP NO BRASIL Costa relata que em 2011, quando o Senar começou a ofertar o Programa de Agricultura de Precisão, a necessidade do campo era a de entender o que era essa onda tecnológica presente basicamente em sistemas embarcados em tratores, colhedoras, pulverizadores e distribuidores. “Naquele momento, muitos agricultores precisavam de ajuda para primeiro desmis�ficar a agricultura de precisão e só assim decidir se adotariam ou não essa prá�ca. Hoje, o que vemos no campo é algo totalmente diferente. A AP já está consolidada e o agricultor já entende a importância de se u�lizar as tecnologias precisas para obter ganhos de produ�vidade e ganhos ambientais com essa nova forma de se produzir alimentos, fibra e energia”, conta. Uma vez ultrapassada a fase de entendimento, na concepção do coordenador, a AP vive um grande momento, graças a sua popularização. “Os chamados “drones” são máquinas voadoras equipadas com câmeras e lentes de alta qualidade para capturar imagens de lavouras e que estão cada vez mais presentes dentre as ferramentas u�lizadas e amplamente divulgadas na sociedade. Essas e outras tecnologias são, atualmente, divulgadas nas mídias, e por sua vez, aumenta a popularidade do Agro e com isso, a criação de novas soluções e inves�mentos para atender as demandas existentes no campo”, destaca.
VANTAGENS DA AGRICULTURA DE PRECISÃO Segundo Costa, o produtor rural tem u�lizado as soluções existentes, ao focalizar principalmente, na u�lização de piloto automá�co, aplicação de fer�lizantes, defensivos, corre�vos em taxa variável e controle de pragas. “Porém, não podemos esquecer que a AP é um sistema de gestão que considera que fatores de produ�vidade, como manchas de solo, nível de infestação de pragas e doenças, ocorram de maneira diferente em uma mesma propriedade e por isso devem ser tratadas caso a caso e não pela média. Logo, a principal vantagem técnica é a informação que o produtor tem e que antes não �nha”, esclarece. Outras importantes vantagens, na visão do coorde-
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Ilustração da Agricultura de Precisão. Foto: Banco de imagens Massey Fergusson. nador, são: o aumento da produ�vidade, a melhoria no rendimento operacional, o aumento da empregabilidade e a redução no impacto ambiental. Com relação aos custos, Costa aborda que o obje�vo da AP é o de u�lizar ferramentas técnicas para resolver os problemas de desigualdade das lavouras e, se possível, que o agricultor possa sempre se beneficiar da existência dessas diferenças. “Antes da AP, a mesma quan�dade de adubo era aplicada em toda a área de produção, sem que as diferenças químicas e �sicas do solo fossem consideradas. Com as tecnologias de precisão, o agricultor pode aplicar adubo de acordo com cada pedaço de solo, que não é uniforme. Assim, ele economiza no uso do adubo e garante maior produ�vidade, por ter contemplado realmente aquilo que o solo precisava”, destaca. O coordenador informa que na AP, como em outras tecnologias de produção sustentável, o que é preconizado é a u�lização do Manejo Integrado de Pragas (MIP). “O que facilita a Agricultura de Precisão é que como você iden�fica zonas de manejo, através do monitoramento, você pode saber por onde a praga está entrando na lavoura”, revela.
Sendo assim, o método pode ser usado em todas as cadeias produ�vas do setor agropecuário, “à medida que enxergamos a AP como uma forma de fazer gestão do sistema de produção considerando variabilidade espacial e temporal, qualquer cultura pode ser adaptada a essa realidade, já que a forma de cul�vo considera as mesmas premissas, solo, planta, água e variáveis climá�cas”, afirma Costa.
INSTITUIÇÕES PARCEIRAS Com o rápido avanço da tecnologia no campo, Rafael Costa argumenta: “nada mais justo que os fabricantes de tecnologia se tornem parceiros do Senar para capacitarem também os nossos instrutores. Além das empresas, nós temos como parceiros universidades, ins�tutos da área da pesquisa e principalmente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), através da rede de pesquisadores da Agricultura de Precisão, que são mais de 200 pesquisadores da Embrapa envolvidos no tema”, conclui.
Coordenador do Programa de AP do Senar, Rafael Costa. Foto: Senar – DF. Biomanejo 33
S U S T E N TA B I L I D A D E
CAFEICULTURA QUE DÁ GOSTO
Qualidade, respeito à natureza e às pessoas são o grande diferencial de umas das fazendas mais sustentáveis do país, que exporta grande parte de seu café. Por Elorrane vaz Considerada uma das fazendas mais sustentáveis do país, a “Daterra nasceu antes mesmo de ser café, para experimentar outras prá�cas agropecuárias como Pinus, Gado Kosher, frutas e produção de leite”, conta a publicitária Isabela Pascoal, responsável pela fazenda, localizada em Patrocínio, na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais. A área de plan�o foi descoberta no cerrado mineiro pelo engenheiro agrônomo, Leopoldo Santana, que atuou como diretor agrícola na empresa por 36 anos. Em 1994, o pai de Isabela Pascoal, fundador da fazenda, Luis Norberto, escreveu a punho o primeiro documento que cons�tuía as diretrizes da organização cafeeira. “Preservar nascentes, cumprir rigorosamente as leis, respeitar os colaboradores, proteger e regenerar a fauna e flora”. De acordo com Pascoal, essas são caracterís�cas de um futuro sustentável, traçadas desde os primórdios da Daterra. Inicialmente, as terras adquiridas para o cul�vo do café não estavam em boas condições. Como a cafeicultura era novidade para a família Pascoal, a forma de buscar conhecimento e auxílio para recuperar o solo, foi realizada através de uma parceria com a ESALQ, onde foi criado o PEA – Programa de Adequação Ambiental. De lá pra cá, houve aprofundamento e detalhamento da sustentabilidade em cada etapa da produção de café, bem como no gerenciamento empresarial. “Sustentabilidade não é somente preservar o meio ambiente, é infinitamente mais do que isso. É gerir bem o negócio, para pagar bem seus colaboradores, inves�r em projetos de pesquisa que perpetuem o negócio e encontrar com ciência e tecnologia formas e soluções para os novos desafios, como as mudanças climá�cas”, assegura a responsável pela empresa. Fotos Arquivo pessoal da Isabela 34 Biomanejo
A CONQUISTA DO MERCADO INTERNACIONAL De acordo com Pascoal, após 10 anos de um intenso processo de recuperação do solo, foi possível a produção de um café com qualidade superior, e a exportação se tornou realidade. Em 2015, 95% do café produzido na fazenda foi exportado. Para que ele chegue a perfeito estado nos países importadores, é realizado um controle de umidade dos grãos, que são muito bem selecionados para que aqueles que não estejam tão saudáveis, não contaminem o restante da saca. Além do que, há embalagens específicas para cada �po de café como as Pentabags e as Pentaboxes. A experiência adquirida ao longo dos anos, a qualidade de seus produtos e destaque no mercado internacional, fez da Daterra a primeira fazenda de café cer�ficada com os selos Rainforest Alliance e ISO14001 do país. Também possuem as cer�ficações: ESALQ, Utz Kapeh Cer�fied, Sistema B e a BD Organic em uma pequena porção orgânica da fazenda.
universidades e sem pressa”, afirma a publicitária. O fato de ser uma das fazendas mais sustentáveis do Brasil gera orgulho e a sensação de dever cumprido aos proprietários que estão sempre em busca de inovações. “Estamos em uma constante busca por novas possibilidades, é normal nos pegarmos pensando nos próximos desafios. Dessa busca por inovação nasceu a Bioterra, que desde maio de 2016, tem o propósito de pesquisar, fomentar e compar�lhar conhecimento sobre o solo e sua microbiologia, que é uma das mais potentes ferramentas para garan�r a agricultura no planeta, sobretudo é pouquíssimo divulgado porque ninguém percebe literalmente, o que está abaixo de nossos pés”, salienta Isabela Pascoal. Em relação aos bene�cios de uma fazenda sustentável, Isabela Pascoal argumenta que não precisa ser uma fazenda. “Uma empresa sustentável é a única saída para o desenvolvimento social e econômico justo de um país e quem sabe então diminuir a desigualdade. A Daterra tem hoje como princípio não apenas fazer um excelente café, mas fazer um café que contribua para um mundo melhor”, conclui a gestora da Fazenda.
CONTROLE BIOLÓGICO COMO FERRAMENTA SUSTENTÁVEL NA PRODUÇÃO CAFEEIRA A u�lização do Manejo Integrado de Pragas – MIP e do controle biológico como alterna�va sustentável no combate de pragas é um dos diferenciais na produção do café Daterra. Segundo Isabela o obje�vo é diminuir o uso de agroquímicos e levar aos consumidores um produto, que além da alta qualidade, foi produzido de forma limpa e responsável. Para obter êxito, são desenvolvidas pesquisas constantes. “Fazemos diversas pesquisas, porém há um fator muito importante que é a escala. O que pode dar certo em dois hectares talvez não seja replicável em vinte, por exemplo, e assim por diante. Por isso, as pesquisas são uma constante em nosso negócio. Não podemos correr o risco de seguir respostas rápidas e fáceis e depois perceber que deu errado. Desempenhamos tudo com muito inves�mento em estudos, parceria com
FAZENDA DATERRA Local: Patrocínio (MG), com aprox 6800 hectares. A�vidade principal: Produção e pesquisa de cafés especiais sustentáveis. Área preservada: 65% de área preservada
• Rainforest Alliance: focada em preservação da biodiversidade e jus�ça social • ISO 14001:especifica os requisitos de um Sistema de Gestão Ambiental • ESALQ Ambiental: atesta a reconstrução da flora das áreas pertencentes à fazenda. • UTZ Kapeh Cer�fied: estabelece padrões para a produção agrícola responsável. • Sistemas B: cer�fica o negócio que tem um propósito, vai além de sustentabilidade. • BD Organic: cer�ficadora brasileira de produtos orgânicos
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EMPRESAS & NEGÓCIOS
ALIADO DE PESO
Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) morta após ser parasitada pelo fungo Nomuraea rileyi. Foto: Pagrisa.
Gigante do setor agrícola no estado do Pará tem controle biológico como principal aliado em seus cul�vos Por Stella Bernardes
Algumas espécies de insetos e microrganismos são inimigos naturais de pragas e doenças, capazes de mantê-las abaixo do nível de dano econômico em cul�vos agrícolas, tornandose peças estratégicas para realizar o manejo integrado nas lavouras. Porém, poucos têm a audácia de colocar a tecnologia em prá�ca como a fazenda da Agrícola Pagrisa, produtora de cana-de-açúcar e grãos, no Pará. A empresa cul�va quatorze mil hectares de cana-de-açúcar, cinco mil hectares de soja, mil hectares de milho e irá realizar o plan�o de feijão na próxima safra. Todos os cul�vos são tratados com controle biológico, como principal ferramenta de combate de pragas, dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O coordenador de fitossanidade da Pagrisa, Leonaldo Donato Dias, com oito anos de
experiência no manejo biológico, conta que o diretor da empresa, Marcos Zancaner, sempre foi um entusiasta do controle biológico. “Em 2009, quando entrei no grupo, iniciamos o controle biológico de pragas nas lavouras. Porém, a eficiência do método era baixa, devido à falta de orientação e conhecimento técnico em relação ao manejo biológico. No final de 2012, contratamos o agrônomo e pesquisador Alexandre de Sene Pinto, como consultor no manejo de pragas da Pagrisa. Acertamos o manejo, a�ngimos resultados surpreendentes e cada vez mais, estamos aumentando a extensão territorial tratada com o método”, disse Donato. O obje�vo da empresa é expandir a área de aplicação do controle biológico em seus cul�vos. “Na próxima safra vamos entrar com a u�lização dos biológicos nos cul�vos de feijão
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e milho. No feijão vamos u�lizar o controle microbiológico, inclusive já estamos testando produtos como nema�cidas e inoculantes, para preparação do solo. No milho, a meta é controlar por meio do controle biológico a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), principal praga da cultura no Brasil”, ressalta o coordenador de fitossanidade. Expandir a produção de soja é outra aspiração do grupo. “Nosso foco é aumentar três mil hectares de soja por safra, até alcançar 17 mil hectares cul�vadas com o grão, mantendo o controle biológico como principal ferramenta no controle de pragas”, destaca Donato. RESULTADOS NA “PONTA DO LÁPIS” A empresa realizou um compara�vo na safra 2015/2016, e colocou na “ponta do lápis” os resultados ob�dos em uma área de 75 hectares de soja, manejada apenas com biológicos e 50 hectares com químicos. Os resultados foram extremamente posi�vos para o manejo de pragas com produtos biológicos.
A EMPRESA A PAGRISA é o único empreendimento da agroindústria paraense no setor sucroalcooleiro. Foi criada na década de 60 com o objetivo de desenvolver a pecuária na região amazônica. A criação de gado foi a principal atividade da empresa até o ano de 1979. A partir de então, as atividades foram diversificadas com a chegada da agricultura. Atualmente, a empresa cultiva cerca de 20 mil hectares, com as culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e feijão. Manter a sustentabilidade ambiental com uma cultura voltada à preservação e prevenção da poluição são alguns dos seus principais objetivos.
“Acertamos o manejo, atingimos resultados surpreendentes e cada vez mais, estamos aumentando a extensão territorial tratada com o método”.
No experimento, as aplicações com controle biológico totalizaram um custo de R$ 120 por hectare e apresentaram produ�vidade de 47,36 sacas de soja por hectare. Já os químicos ocasionaram um gasto de R$ 256,20 e produ�vidade de 39,75 sacas por hectare. O desempenho posi�vo do controle biológico também é observado no maior cul�vo agrícola da Pagrisa: a cana-de-açúcar. Os biológicos são responsáveis por controlar as principais pragas em quatorze mil hectares da cultura. “As principais pragas da cana em nossa região são: a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), controlada com Trichogramma galloi e a cigarrinha das raízes (Mahanarva fimbriolata)”, explica Leonaldo Donato. Outro fato que coloca em evidência o desempenho dos biólogos é o ataque da Helicoverpa armigera, praga com alta capacidade de destruição, que adquiriu resistência aos químicos. “A saída foi o controle macrobiológico, que age parasitando os ovos das pragas no cul�vo de soja e impede Biomanejo 37
Cul�vo de soja do grupo Pagrisa, localizada no município de Paragominas, no Pará. Foto: Pagrisa.
sua evolução. Os resultados foram novamente posi�vos”, salienta Donato. De acordo com o coordenador de fitossanidade da Pagrisa, um dos grandes bene�cios do método é quebrar a resistência gerada pelos químicos. “Os produtos químicos rapidamente perdem sua eficácia”, revela. Segundo Donato, é possível elencar uma série de vantagens do método biológico. “O equilíbrio do ecossistema, menor degradação ambiental, menos risco de contaminação ao trabalhador rural e um produto final sem moléculas de agrotóxicos”, destaca. Em relação às dificuldades do método, ele pontua que o grande gargalo dos biológicos
era a tecnologia de aplicação. “As novas tecnologias favoreceram a expansão dos biológicos. Antes não �nhamos recursos para aplicar o método, o que ocasionava grande dificuldade em sua u�lização em larga escala. Atualmente dispomos de drones, aviões tripulados, aumentando a eficiência no processo de aplicação”, comenta. Donato destaca três dicas para o produtor que tem interesse em iniciar o manejo biológico em suas lavouras. “Primeiramente o produtor deve ter conhecimento quanto à u�lização do método, em seguida ele deve selecionar uma empresa responsável para fornecer os produtos, e por fim, monitorar constantemente as pragas em seu cul�vo”, conclui.
Leonaldo Donato Dias monitorando pragas no cul�vo de soja. Foto: Pagrisa.
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