Jornal Agapomi - edição 280

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JORNAL DA ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE PRODUTORES DE MAÇÃ Vacaria- Rio Grande do Sul Setembro - 2017 - Edição n°280

Inicia-se a safra!

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Fotos: Shyntia Fonseca Michelon

Pesquisa com brotação da macieira é premiada no Top Ciência.

Hábitos Alimentares: uma década de alimentação no Brasil.

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Dia de Campo sobre Cancro europeu das Pomáceas na EESJ.

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Aplicações sequenciais de indutores de brotação na cultura da macieira. .

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Destaques da Edição:

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Boletim Agroclimático dos Campos de Cima da Serra: nova ferramenta à disposição dos técnicos e pomicultores.

Tolerância de Porta-enxertos de Macieira ao encharcamento do solo.


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EDITORIAL Prezados produtores quando me foi feito o convite para escrever o editorial deste importante meio de comunicação dos pomicultores procurei ver o que havia escrito em editoriais anteriores em períodos que ocupava o cargo de Diretor Técnico, depois como presidente desta entidade e como Diretor Técnico da ABPM, pude constatar que já em 2010 após a realização do Seminário Internacional de Fruticultura chamávamos a atenção que precisávamos relembrar algumas diretrizes básicas que haviam sido adotadas por pomicultores americanos após os mesmos terem passados por extremas dificuldades e onde muitos quebraram literalmente de 1998 à 2001 e o Dr. Terence apontou 3 diretrizes básicas: 1. Trocar o sistema de venda; 2. Melhorar a qualidade da maçã produzida; 3. Aumentar os índices de produtividade e baixar os custos de produção por Kg produzido. Nesta safra onde tivemos uma produção ao redor de 1350 mil toneladas contra as 850 mil toneladas do ano passado, ou seja, 59% maior onde com somente 30% da nossa composição varietal que é Fuji tivemos ao redor de 700 mil toneladas. Em função de tudo isso temos um mercado com preços que não remuneram nem os custos e ainda não podemos nem dimensionar como chegaremos vivos na próxima safra!!! Passamos por 3 edições do Seminário, Senafrut, Enfrute e outros eventos técnicos, e ainda posso perceber que nós produtores, técnicos e a própria pesquisa implementamos muito pouco de tudo que nos foi apresentado nos eventos citados. Obviamente sei que evoluímos, mas foi pouco para podermos nos perpetuar na atividade. Para podermos definir qual sistema de condução iremos adotar para obtermos índices de produtividades e qualidade de frutos melhores do que os obtidos atualmente, a fim de nos perpetuar na atividade, apresentamos no Enfrute juntamente com Eng. Agrônomo Albino Bongiolo Neto e o Dr. Pierre Nicolas Peres, Presidente da ABPM, a palestra com o tema: Renovação de Pomares, onde constamos que levaríamos 11 anos para o Pay back ou seja o retorno do investimento com produtividades de 60 toneladas. Sabemos que essas produtividades médias são dificilmente alcançadas nas nossas condições climáticas, sendo assim fica impraticável convencermos alguém a seguir investindo na maçã, pois seria muito mais óbvio deixar o dinheiro aplicado à colocá-lo em uma atividade de alto risco!!! Precisamos urgentemente definirmos estratégias de pesquisa em conjunto com produtores, técnicos e pesquisadores, e desenharmos o pomar do futuro em um experimento em rede nas principais regiões produtoras onde colocaremos para análise o melhor sistema de condução, tipo de tela anti-granizo, porta enxerto e nem cogito novas variedades, vamos estabelecê-lo nas variedades tradicionais Gala e Fuji a fim de traçarmos a melhor estratégia de sobrevivência ao nosso setor que tanto emprega e traz divisas ao nosso município, estado e país. Produtores se conscientizem se não está fácil nos mobilizarmos em conjunto muito mais difícil será traçarmos estes caminhos sozinhos por isso lhes digo: VALORIZEM, PARTICIPEM E SOLIDIFIQUEM NOSSA AGAPOMI. Boa safra a todos! Leandro Bortoluz Diretor Consultivo da Agapomi

EXPEDIENTE ADMINISTRAÇÃO AGAPOMI - Rua Borges de Medeiros, 1260 Caixa Postal 358 - CEP 95200-000 - VACARIA - RS DESIGN GRÁFICO:Gráfica Agetra TIRAGEM: 1.000 exemplares

RESPONSÁVEL ADMINISTRATIVO Veridiana Pelin Gonçalves

Comunique-se com a AGAPOMI: Fone/Fax: (54) 3232.2070 Site: www.agapomi.com.br e-mail: agapomi@agapomi.com.br

DIRETORIA DA AGAPOMI 2016/2018 ELISEU ZARDO BOENO ERMANO VARASCHIN JÚNIOR LUIS FABIANO DIAS MUSSATTO GILBERTO MARQUES GIANFRANCO PERAZZOLO CESAR LUIS ZANATO WALMIR VARELA COORDENADORES DE NÚCLEO Artur Michelon - Bom Jesus Daniel José Zanette - Caxias Do Sul CONSELHO FISCAL TITULARES Claur Dian Celso Roque Indicatti Fernando Gargioni Soldatelli SUPLENTES Almir Luis Zoldan Giovani Zoldan Antoninho Luiz Longhi CONSELHO CONSULTIVO José Maria Reckziegel Genor Mussatto José Sozo Leandro Bortoluz

Presidente Vice-presidente Vice-presidente de Administração Vice-presidente de Finanças Vice-presidente de Assuntos Técnicos Vice-presidente de Promoções Vice-presidente de Comercialização


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Pesquisa com brotação da macieira é premiada no Top Ciência Durante a 11ª edição do prêmio Top Ciência Basf, o pesquisador Fernando José Hawerroth foi premiado pelo trabalho “Aplicações sequenciais de indutores de brotação na cultura da macieira", na categoria de Cooperação Técnica e subcategoria de fisiologia. Realizada no dia 16 de agosto, em Campinas (SP), essa edição premiou 14 projetos e teve como tema central a proteção e o manejo integrado do sistema produtivo para alcançar bons resultados nas lavouras agrícolas. O trabalho premiado no evento aborda a utilização de aplicações sequenciais, em duas etapas, de indutores de brotação na cultura da macieira. Segundo Hawerroth, esse manejo proporciona significativo aumento da proporção de gemas brotadas e de uniformidade de brotação/florescimento, sendo uma ferramenta interessante para utilização em pomares mais vigorosos e em anos de menor ocorrência de frio durante o período de outono/inverno. "A indução de brotação de gemas é uma fase crítica no manejo da cultura da macieira, tendo reflexos diretos sobre a capacidade produtiva dos pomares. Para as condições brasileiras esse manejo é imprescindível para garantir uma boa produção”, comenta o pesquisador. O Top Ciência é um dos principais fóruns de discussão para o desenvolvimento de soluções sustentáveis no mercado agrícola e que prioriza o conceito de co-criação e inovação aberta, fomentando o desenvolvimento de projetos de pesquisa em parceria com instituições de pesquisa e especialistas. O evento é bianual e reúne profissionais do agronegócio da América Latina que se destacam com trabalhos científicos inovadores em prol da agricultura sustentável. Para maiores detalhes sobre essa tecnologia, confira o artigo Aplicações sequenciais de indutores de brotação na cultura da macieira , na página 8 e 9 deste Informativo.

Viviane Zanella Núcleo de Comunicação Organizacional Embrapa Uva e Vinho viviane.zanella@embrapa.br Telefone: +55 (54) 3455.8084 | Fax: +55 (54) 3451.2792 www.embrapa.br/uva-e-vinho | fb.com/embrapa | twitter.com/embrapa

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Hábitos Alimentares: Uma década de alimentação no Brasil por ABPM A Pesquisa Hábitos Alimentares: Uma década de alimentação no Brasil, desenvolvida pela Dra. Maria Aparecida Amorim de Toledo – Diretora de Planejamento da Toledo e Associados, foi apresentada em workshop realizado pela ABPM – Associação Brasileira de Produtores de Maçã. O Estudo tem por objetivo principal fornecer insumos para que se possa repensar o setor de alimentação e identificar oportunidades para as suas categorias no Brasil. A pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa realizada em 14 cidades por todo o Brasil nos anos 2005, 2011 e 2015, analisou o comportamento do consumidor brasileiro. O resultado estratificado por faixa etária, classe econômica, estado civil e gênero, apresentou também as tendências comportamentais para os próximos anos e a percepção do consumidor quanto as diversas áreas alimentícias. Foram pesquisados 3.496 pessoas, entre homens e mulheres, contemplando faixa etária de 17 à 70 anos em todas as classes sociais. Resultaram entre as tendências que norteiam os consumidores a saudabilidade, o prazer, a praticidade, o orçamento familiar, a segurança alimentar, a sustentabilidade e a conectividade. Segundo a pesquisa, nota-se o surgir dos últimos anos da presença do homem (casado ou solteiro) e dos filhos como papel de tomadores de decisão na hora de consumir alimentos, pois estes têm participado cada vez mais no preparo de refeições e atividades da cozinha. O ato de cozinhar é hoje uma atividade social e de lazer para a família, ao invés daquela antiga ideia de tarefa obrigatória, chata ou enfadonha. Concomitantemente, é crescente o interesse pelo aprendizado de novas receitas e a descoberta de novos sabores, prezando sempre pela praticidade e nutrição dentro da culinária. Claramente a gastronomia se torna algo além de apenas uma necessidade básica de se alimentar, mas uma maneira de interagir socialmente, cuidar da saúde, aprender e se desenvolver. O ambiente do lar tem ganhado preferência para eventos sociais também, isto causado por restrições econômicas diante da crise financeira, ou por um envolvimento maior de cada membro familiar na atividade de preparar alimentos, facilitando assim o seu processo. Os jovens entram no mercado de trabalho mais cedo e tem por consequência um poder antecipado de consumo, o que os insere como agentes influenciadores de opiniões. Os consumidores estão mais conectados e melhor informados pela mídia, redes sociais, ou influenciadores de opinião sobre a alimentação (médicos, nutricionistas, especialistas, etc). Buscam encontrar nos alimentos muito mais do que uma maneira de saciar a fome, mas a segurança alimentar, a saúde, a nutrição, o prazer no sabor e a transparência dos produtos. Há também uma mudança progressiva no estilo de vida deste consumidor, com a maior busca pela prática de exercícios e prática de dietas alimentares, na maior parte por decisão própria com viés de obter uma boa saúde e o controle do peso. Dentre os resultados da pesquisa, destaca-se a busca expressiva por consumo com saudabilidade.

Pode-se perceber o retorno de práticas familiares como as visitas aos parques com longas caminhadas e, por consequência, uma redução nas visitas aos shoppings. Há também uma reutilização de marmitas, porém com uma nova conotação positiva de praticidade e facilitação de transporte das refeições, sendo utilizada principalmente para almoços ou lanches da tarde. Por sua vez, o hábito de alimentação em restaurantes e redes de food service tem significativa redução, sendo que o consumidor até tem comprado nos restaurantes, mas tem optado por levar os alimentos para consumir em casa, uma prática conhecida pelo termo “Take away”. Conforme afirmou na Assembleia da ABPM a Dra. Maria, “este aumento da busca dos consumidores pela saudabilidade apresenta oportunidades crescentes para o Setor da Maçã. É preciso que o Setor se posicione e faça a presença no hábito de compra do brasileiro, visto que a maçã contempla a saúde, praticidade, portabilidade e prazer no sabor buscado pelo novo consumidor.”

Esta fruta também possui o benefício de dar saciedade em seu consumo, além de prover energia e conter a mesma quantidade de calorias de, por exemplo, um brigadeiro, considerado uma indulgência da alimentação, um alimento que apesar de ser saboroso, está fora da preferência de escolha por um consumo de alimentação saudável. No ressurgimento da marmita como prática alimentar, a maçã se faz altamente presente, pois está atrelada as refeições de almoço, lanche ou beliscar. A maçã já tem sido uma opção de consumo com alta procura. Ou seja, há mercado. Caso o Setor venha a se posicionar de maneira consolidada, levantando a bandeira da informação que contém a saúde, praticidade, portabilidade, inovação, qualidade e segurança que o consumidor tanto procura, é certo que o consumo desta fruta irá se desenvolver e crescer. Neste ramo de oportunidades o Setor produtivo que movimenta cerca de seis bilhões de reais por ano no país e emprega quase 200 mil cidadãos está trazendo aos lares consumidores brasileiros uma fruta que traz consigo o sabor, a qualidade e os incontáveis benefícios para a saúde.


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DIA DE CAMPO SOBRE CANCRO EUROPEU DAS POMÁCEAS NA EESJ Como início das atividades do grupo força tarefa de combate ao cancro europeu, da qual participam em conjunto as empresas Epagri, Cidasc, Amap, Secretaria da Agricultura dos Municípios, Faesc, Senar e Sindicato Rural , Assea e Nutasj, serão realizadas mais de 22 reuniões técnicas nos municípios e comunidades da região de São Joaquim para discutir a problemática desta doença, sua importância e meios para controle e erradicação da mesma. No dia 22/06/17 aconteceu na Estação Experimental da Epagri de São Joaquim a primeira reunião técnica voltada exclusivamente para Eng. Agrônomos e técnicos agropecuários. Pela importância destes profissionais difundirem este conhecimento e práticas culturais para todos os fruticultores e o setor da maçã da região. O evento teve abertura com a participação do Gerente da Estação Experimental, Gerente Regional da Epagri, do presidente da Associação de Produtores de Maçã e Pera de Santa Catarina (Amap) , do Secretário da Agricultura de São Joaquim, todos salientaram a importância de estarmos unidos no controle e possível erradicação desta doença na região e a participação dos técnicos e fruticultores é fundamental para termos sucesso no controle desta doença, já que a mesma pode causar a seca de ramos e galhos, podridões nos frutos, morte das plantas e redução da produtividade, podendo inviabilizar tecnicamente e economicamente os pomares. O pesquisador fitopatologista Dr. Leonardo Araújo, apresentou as informações relativas ao Cancro Europeu das Pomáceas relatou como foi desenvolvida as ações do grupo todos contra o cancro europeu na safra 2016/17, onde foi atingido o treinamento de quase 900 pessoas entre técnicos e fruticultores nas 22 reuniões realizadas nos municípios da região e a importância da continuidade deste trabalho de conscientização e difusão das estratégias de controle e erradicação da doença. Apresentou informações e dados sobre o cancro europeu, onde mostrou como esta doença é muito agressiva e pode rapidamente e facilmente se disseminar e infectar os pomares da região, as condições climáticas da região como precipitação em torno de 1.500 mm anuais e temperaturas médias de 10 °C a 16° C são ideais para sobrevivência e desenvolvimento do fungo, podendo ser mais agressivo e com potencial de infecção durante toda as estações do ano muitos mais que o próprio fungo da sarna que é no final de inverno e primavera, o pesquisador, apresentou alguns

resultados de pesquisa que está executando. Foi apresentado as práticas culturais que os técnicos e fruticultores devem realizar no pomar como retirada de plantas atacadas pela doença, bem como a retirada ou monitoramento das plantas ao lado da planta atacada. É fundamental que os responsáveis técnicos façam treinamento dos fruticultores e sua família, colaboradores, empreiteiros, tratoristas, enfim todas as pessoas que executam práticas nos pomares devem realizar monitoramento e fiscalização constante de seus pomares para identificar cancros novos ou velhos no mínimo quatro vezes por ano na poda, no raleio, antes da colheita e antes da queda de folhas. Segundo o pesquisador importante as pulverizações com produtos protetivos e ou curativos nas fazes críticas como queda de flores, no raleio de frutos, durante a colheita e na queda de folhas, pois nestes casos a um pequeno ferimento realizado na planta, onde o fungo pode penetrar e causar a doença, porém é importante salientar diferentemente de outras doenças da maçã, esta doença um dos seus principais métodos de controle é a remoção de ramos ou plantas com cancro no pomar, evitando a disseminação do fungo. Finalizando o dia de campo os participantes foram convidados a ver em um dos pomares da estação o ataque desta doença, seu potencial de destruição dos ramos e das plantas com a diminuição dos stands de plantas do pomar, causando prejuízos como diminuição da produtividade, podridões nos frutos, de tal forma que pode inviabilizar muitos pomares, se o fruticultor não ficar atento. Os pesquisadores Leonardo e Felipe mostraram como já foi erradicado muitas plantas da área, a presença de cancro novos, ao lado das atacadas, como deve ser o correto monitoramento de forma profissional e encarado como mais uma prática muito importante que todos devem fazer em seus pomares, será um custo a mais na atividade pelo menos no curto e médio prazo. O público presente observou a área, fez algumas perguntas e de maneira geral também acredita que temos que combater esta doença para continuarmos como uma fruticultura forte e competitiva. Não vamos deixar que esta doença destrua nossos pomares, contamos com a participação de todos nestas reuniões que serão


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realizadas nas comunidades e sede dos municípios, é um trabalho em conjunto que teremos sucesso se todos conscientizarem da sua importância e realizarem sua parte, participe.

Marcelo Cruz de Liz Eng. Agr. Esp. Administração Gerente de Pesq. da Estação Experimental de São Joaquim Fone: 49 32338418 / 32338448 Cel. 49 91338775 / 99831394 e-mail: marceloliz@epagri.sc.gov.br

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Aplicações sequenciais de indutores de brotação na cultura da macieira A indução de brotação de gemas é uma fase crítica no manejo da cultura da macieira no Sul do Brasil, pois tem impacto direto sobre a resposta produtiva do pomar. A adequada indução brotação de gemas é fundamental para uniformização do florescimento e sincronia do florescimento entre cultivares, sendo imprescindível para os processos de polinização e fertilização visando aumento dos índices de frutificação efetiva, assim como para execução de práticas culturais subsequentes que demandam uniformidade fenológica para sua adequada realização. As principais cultivares cultivadas no Brasil, 'Gala' e 'Fuji', em razão de as condições climáticas locais não atenderem plenamente seu requerimento em frio, demandam a utilização de indutores para aumento dos índices de brotação de gemas axilares e de gemas terminais. Considerando a menor ocorrência de frio observada no período de outono/inverno de 2017 em relação ao ano de 2016, a expectativa é de menor potencial de brotação de gemas nesse próximo ciclo. Para tanto, é imprescindível a adequada definição do manejo de indutores de brotação, levando-se em consideração parâmetros relacionados ao histórico de produtividade, nível de fertilidade de gemas, e, sobretudo o vigor das plantas. No ano de 2015, caracterizado pela menor ocorrência de frio nas principais regiões produtoras de maçã, foram verificados reduzidos índices de brotação de gemas axilares e a formação de um gradiente de brotação ao longo da copa das macieiras, com maior brotação nas porções mediana e basal da copa, e brotações mais tardias e em menor proporção no terço apical das plantas, dificultando seriamente o manejo dos pomares (Figura 1). Em 2015, tais problemas foram verificados em maior intensidade nos pomares caracterizados pelo maior crescimento/desenvolvimento vegetativo da porção apical das plantas. Já no ano de 2016, em razão da ocorrência de frio em quantidade muito superior a média histórica, tais problemas foram visualizados em menor intensidade.

Figura 1. Macieiras 'Baigent/M9' com gradiente de brotação diferenciado entre porções da copa: maiores níveis de brotação observados na porção mediana e basal da copa de macieiras; atraso na brotação de gemas localizadas na porção apical das plantas. Vacaria, RS, 2015.

As condições de cultivo do ciclo anterior (precipitação elevada associada a altas temperaturas no outono de 2017) prolongaram o período de crescimento e favoreceram ao maior crescimento/desenvolvimento vegetativo. Dessa forma, existe uma grande proporção de pomares caracterizados pela formação de gradiente de vigor diferenciado ao longo da copa, com maior proporção de ramos verticalizados no terço superior da copa de macieiras, ramos que normalmente são menos responsivos aos indutores de brotação, sobretudo em anos de menor ocorrência de frio.©Hawerroth, FJNessas situações, a utilização de aplicações sequenciais de indutores de brotação poderá ser uma ferramenta interessante para utilização nesse ciclo produtivo, tendo em vista o menor acúmulo em frio durante o período de outono e inverno de 2017 e o maior crescimento/desenvolvimento vegetativo ocorrido no ciclo anterior. A indução de brotação com o uso de aplicações sequenciais consiste da aplicação de indutores de brotação em duas etapas, com primeira aplicação em toda a planta e a segunda aplicação direcionada as porções da copa de maior vigor ou mesmo em toda planta (Figura 2).


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Figura 2. Aplicações sequenciais de indutores de brotação em pomares de macieira: situação 1 – plantas vigorosas (primeira e segunda aplicação em toda a copa; e situação 2 – plantas com gradiente de vigor diferenciado no perfil da copa (primeira aplicação em toda a planta e segunda aplicação na porção de maior vigor. Resultados de pesquisa obtidos pela Embrapa Uva e Vinho no ciclo 2016-2017, somadas a experiências bem sucedidas de produtores no ano de 2015, evidenciam que a indução de brotação por meio de aplicações sequenciais consiste em uma ferramenta de grande aplicabilidade para aumento da uniformidade fenológica necessária para execução de práticas culturais subsequentes, como raleio químico e uso de reguladores de crescimento. As aplicações sequenciais de indutores de brotação podem ser feitas com os principais produtos recomendados para a cultura da macieira (Dormex®, Syncron®, Erger®, nitrato de cálcio e óleos minerais). Considerando que os mecanismos de ação distintos entre indutores de brotação (cianamida hidrogenada - Dormex® x bioestimulantes - Erger®/Syncron®) e os resultados obtidos no ciclo 2016-2017, a utilização de cianamida hidrogenada em primeira aplicação seguida da aplicação de bioestimulantes (Erger®/Syncron®) na segunda aplicação podem combinar estratégias de ação e resultar em ganhos quanto a brotação de gemas. O intervalo entre primeira e a segunda aplicação pode ser variável (3 à 12 dias), e depende das condições climáticas após aplicação. Sabendo-se da importância de temperaturas mais elevadas após a quebra de dormência, considera-se a aplicação sequencial uma ferramenta para garantir eficiência na indução de brotação mesmo em situações desfavoráveis. Quando as condições após a primeira aplicação dos indutores de brotação não forem favoráveis ao aumento da brotação (baixas temperaturas, com limitado acúmulo de graus-dia após aplicação), a segunda aplicação (em toda a planta ou aplicação dirigida às porções da copa de maior vigor) pode oportunizar uma janela de aplicação mais interessante quanto ao acúmulo de graus-dia, garantindo a efetividade desses produtos na indução de brotação de gemas.

Dr. Fernando José Hawerroth Pesquisador em Fitotecnia, Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado, Embrapa Uva e Vinho, Vacaria, RS fernando.hawerroth@embrapa.br


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Boletim Agroclimático dos Campos de Cima da Serra: nova ferramenta à disposição dos técnicos e pomicultores Atendendo a uma demanda do Setor da maçã, a Embrapa Uva e Vinho lançou o Boletim Agroclimático dos Campos de Cima da Serra. Em sua quarta edição, o Informativo gratuito tem como objetivo repassar aos técnicos, produtores e interessados, além dos dados climáticos, orientações técnicas em períodos decisivos para a cultura da macieira. O informativo é coordenado pelos pesquisadores Fernando José Hawerroth e Gilmar Ribeiro Nachtigall, da Estação de Fruticultura de Clima Temperado (Vacaria-RS). Segundo os autores, as informações meteorológicas presentes na publicação estão disponíveis para qualquer pessoa na internet, porém a proposta da equipe é sistematizar os dados e avaliá-los a partir da visão de especialistas na cultura, quando as orientações são editadas. Esse acompanhamento agroclimatológico e o repasse de orientações para o setor vem sendo uma tarefa realizada pelo pesquisador Gilmar desde que ingressou na Embrapa, em 1989. Ao longo dos anos foram disponibilizados diferentes formatos destas informações, mas agora, com a parceria do pesquisador Hawerroth, a iniciativa ganhou mais relevância, por conciliar aspectos climáticos e fisiológicos. Segundo Nachtigall, a iniciativa representa um novo marco, possibilitando a interação instantânea entre a informação sistematizada e o uso pelos produtores e técnicos. “A partir deste exemplo de trabalho, novos estudos mais aprofundados de tendências irão permitir, por exemplo, desenvolver modelos e fazer previsões para a pomicultura”, pondera.

repassando a publicação para todos os sócios. Atualmente o Boletim é editado para os Campos de Cima da Serra, que abrange os municípios de Vacaria, Bom Jesus, Caxias do Sul e Lagoa Vermelha, sendo essa a principal região produtora de maçãs do estado do Rio Grande do Sul, responsável pela produção de aproximadamente 78% da fruta. Os editores pensam em futuramente ampliar o informativo para outras regiões, a partir de parcerias com outras instituições de pesquisa e extensão. Além de estar disponível na página https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/clima-eproducao,(https://www.embrapa.br/web/mobile/projetos//projeto/205962/maximizacao-da-eficiencia-produtiva-e-reducaodos-custos-em-cultivos-de-macieira-no-brasil)

Hawerroth pontua que as edições do Boletim foram pensadas de acordo com as necessidades do repasse de orientações para a cultura da macieira. “No período de outono/inverno, com dados de abril a agosto, o Boletim será publicado mensalmente. Já na primavera e verão, será bimensal”, informa. Ele também complementa que no final de cada período está prevista a publicação de dois comunicados técnicos, com uma síntese das ocorrências e uma avaliação mais completa. Na visão do chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Zanus, a organização e, o mais importante, a análise técnica do enorme conjunto de dados disponíveis ao longo do ciclo da cultura será muito útil para a tomada de decisões dos produtores, bem como para qualificar as estimativas qualitativas e quantitativas das safras. "Esse Boletim é apenas um primeiro passo e poderá, no futuro, ensejar novas abordagens e recomendações a partir de estudos da ecofisiologia, em sincronia com o estado fenológico das plantas, qualificando o setor de frutas de clima temperado do Sul do Brasil”, avalia ele. Zanus destaca, também, a agilidade e a rapidez na divulgação das informações, através do uso do serviço de mensagens instantâneas (Whatsapp), em sintonia com a revolução digital em curso e com a demanda dos produtores. O produtor de maçãs e também consultor técnico Gianfranco Perazollo está bastante entusiasmado com a iniciativa. “Com o Boletim, estou mais seguro para a tomada de decisões, principalmente por ser regional. Com certeza é uma excelente fonte de informação para o manejo correto, bastante fácil de ser acessada, tanto no site como no Whatsapp”, comemora. Perazollo, que é Diretor Técnico da Agapomi, destaca que a Associação está

Viviane Zanella Núcleo de Comunicação Organizacional Embrapa Uva e Vinho viviane.zanella@embrapa.br Telefone: +55 (54) 3455.8084 | Fax: +55 (54) 3451.2792 www.embrapa.br/uva-e-vinho | fb.com/embrapa | twitter.com/embrapa


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Tolerância de porta-enxertos de macieira ao encharcamento do solo. O encharcamento do solo causa asfixia radicular das plantas e tem ocorrido com frequência em pomares de macieira, resultando em menor produção das plantas e impactando na produtividade destes pomares. Com o objetivo de mensurar a tolerância ao encharcamento de porta-enxertos usados na cultura da macieira foi organizado um experimento nas dependências da Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado da Embrapa Uva e Vinho. Os porta-enxertos avaliados foram Marubakaido com filtro de M.9, M.9, G.202, G.213 e G.814. Sobre todos os porta-enxertos foi enxertada a cultivar Maxi Gala. Por aproximadamente 130 dias (19 semanas), o experimento foi conduzido em condições controladas, com foto período natural e ausência de sistema de irrigação. O encharcamento consistia na submersão dos vasos em recipiente com água por um período de 48 horas e após, os vasos eram retirados e mantidos sem encharcamento por 120 horas. Havia uma parcela testemunha na qual as plantas não foram submetidas ao encharcamento. Nestas plantas a necessidade de irrigação foi determinada por tensiômetros. O encharcamento provocou um efeito variável de redução de crescimento das plantas em altura entre os porta-enxertos avaliados. Quando 'Maxi Gala' estava enxertada sobre Marubakaido com filtro de EM.9, a altura das plantas foi similar em ambas condições (encharcado e condição normal) até a 8ª semana de avaliação, sendo que após essa data a condição de encharcamento resulta em pequena redução da altura das plantas. No caso de EM.9, o efeito do encharcamento foi antecipado e mais pronunciado. A partir da 5ª semana de avaliação foi possível observar a estagnação do crescimento das mudas na condição de encharcamento, enquanto que a testemunha manteve o crescimento. No caso dos porta-enxertos da série G, observa-se um pequeno efeito do encharcamento sobre a altura das mudas, porém o padrão de crescimento na condição de encharcamento é bastante similar a condição normal de cultivo (Figura 2). Como já observado em outros estudos, a tolerância ao encharcamento parece estar ligada primariamente ao vigor induzido pela porta-enxerto. Outras variáveis avaliadas neste estudo e que serão publicadas na sequência indicam que a capacidade de formação ou regeneração de raízes ativas dos porta-enxertos é também um fator determinante da tolerância à condição de encharcamento.

Figura 2. Crescimento em altura das mudas de 'Maxi Gala' enxertadas sobre os portaenxertos Marubakaido com filtro de M.9, M.9, G.202, G.213 e G.814 e submetidas à condição de encharcamento por um período de 19 semanas.

Pomar de macieira em condição de encharcamento de solo. Vacaria, RS.

Os autores agradecem a Rasip Agropastoril S.A. pela cedência das mudas.

Andrea De Rossi¹, Lucas De Ross Marchioretto², Leonardo Oliboni do Amaral ¹Embrapa Uva e Vinho, EFCT, Vacaria, RS – andrea.rufato@embrapa.br ²PPGPV, CAV/UDESC, Lages, SC ¹Embrapa Uva e Vinho, EFCT, Vacaria, RS – andrea.rufato@embrapa.br ²PPGPV, CAV/UDESC, Lages, SC


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