LGBTQ+, historia e luta por reconhecimento

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LGBTQ+, HISTÓRIA E LUTA POR RECONHECIMENTO CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE LOCAL A PARTIR DE UM EDIFÍCIO DE USO PÚBLICO


UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI LUCAS ESMERALDO SOBREIRA

LGBTQ+, HISTÓRIA E LUTA POR RECONHECIMENTO CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE LOCAL A PARTIR DE EDIFÍCIOS DE USO PÚBLICO

São Paulo 2020


LUCAS ESMERALDO SOBREIRA

LGBTQ+, HISTÓRIA E LUTA POR RECONHECIMENTO CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE LOCAL A PARTIR DE EDIFÍCIOS DE USO PÚBLICO

Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Anhembi Morumbi como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Prof.ª Orientadora: Thaís Vieira Gutto

São Paulo 2020


Dedico este trabalho aos manos, manas e monas, as bichas, viados, yags, mariconas, padrão e afeminadas, as sapatões, entendidas, bofinhos e caminhoneiras, as travestis, bonecas, transsexuais e transgéneros, as bi e os do meio, as militantes e as no armário, as Drags, transformistas e toda pessoa que se sinta pertencentes ao vale. A qualquer pessoa que foi vítima de discriminação por ser e viver aquilo que é, e principalmente, para aqueles que hoje não estão mais presentes entre nós por serem vítimas de LGBTQfobia.


Deixo aqui minha total gratidão aos meus pais que se dedicaram em proporcionar a mim uma boa educação desde o princípio e que me apoiaram na escolha do curso de graduação. Também agradeço a eles e ao meu núcleo familiar por me apoiarem e respeitaram como pessoa frente as minhas expressões e orientação sexual, me sinto privilegiado quanto a esta problemática, pois sei quão complicado é a situação daqueles que não são respeitados por sua orientação e expressão sexual. Agradeço também ao meu marido, por estar ao meu lado todos esses dias e estar sempre disposto a colaborar com o que fosse necessário e que não me deixou desistir de cursar a faculdade. Agradeço também ao meu círculo de amigos, pelas vivencias e inserções no universo LGBTQ+ que me fizeram enriquecer de conhecimentos fundamentais para a propor este trabalho como manifesto de afirmação. Agradeço a todos os provedores de conhecimentos a quem tive a oportunidade de aprender e compartilhas ideias durante essa trajetória dos saberes, agradeço principalmente a professora Thaís Vieira Gutto por toda orientação a que me dedicou para fundamentar e formalizar ideias para este trabalho


Nós nos empenharemos em desmoralizar esse conceito que alguns nos querem impor – que a nossa preferência sexual possa interferir negativamente em nossa atuação dentro do mundo em que vivemos. LAMPIAO, 1978.


LISTA DE FIGURAS Figura 1. Homofobia mata.................................................................................................... 16 Figura 2.Matéria sobre o assassinato de Itaberly Lozano ...................................................... 19 Figura 3. Matéria sobre o assassinato de Dandara dos Santos ............................................... 19 Figura 4.Matéria sobre o assassinato de Plínio Henrique de Almeida Lima. ......................... 20 Figura 5. Travesti morta por ser considerada ser um demônio. ............................................. 21 Figura 6. Transexuais e travestis mortas em 2020. ................................................................ 21 Figura 7. Pessoas LGBT mortas no Brasil. ........................................................................... 22 Figura 8. Denúncias feitas ao Disque 100 em 2018 .............................................................. 23 Figura 9. Denúncias ao disque 100 em São Paulo. ................................................................ 25 Figura 10.São Paulo em Nível de Tolerância de 1 a 10 ......................................................... 26 Figura 11. Locais com presença de casos de abuso. .............................................................. 27 Figura 12. Personalidades LGBTQ+..................................................................................... 30 Figura 13. Folsom Street Fair .............................................................................................. 31 Figura 14. Parada do Orgulho LGBTQ+ de São Paulo ......................................................... 32 Figura 15. Distrito Cultural de Castro. .................................................................................. 33 Figura 16. Fachada do Stonewall inn Bar ............................................................................ 37 Figura 17. Capas dos tabloides Lampião da esquina e ChanacomChana ............................... 37 Figura 18. Noite de 19 ago. 1983 no Ferro’s Bar .................................................................. 38 Figura 19. Marcha de encerramento da 17ª conferência internacional LGBT ........................ 38 Figura 20. Bandeira do orgulho LGBTQ+ 6 cores. ............................................................... 39 Figura 21. Replica da bandeira original com 8 cores, algodão tingido................................... 41 Figura 22. Bandeiras para os outros segmentos LGBTQ+ .................................................... 42 Figura 23. Parada LGBTQ+ de Nova York .......................................................................... 44 Figura 24. Reportagem Parada LGBT movimenta 403 milhões. ........................................... 45 Figura 25. Parada LGBTQ+ de Nova York .......................................................................... 45 Figura 26 Parada LGBTQ+ de São Paulo ............................................................................. 46 Figura 27. Percepção de tolerância LGBTQ+ ....................................................................... 47 Figura 28. Sofrido ou presenciado discriminação LGBTQ+ por região de São Paulo ............ 48 Figura 29. Meios de Informações sobre direitos LGBTQ+ ................................................... 49 Figura 30. São Paulo com Respeito ...................................................................................... 49 Figura 31.Materia sobre Parada GLBT dos anos 2000 .......................................................... 56 Figura 32.Materi de capa VII Parada do Orgulho GLBT ...................................................... 58 Figura 33. Parada GLBT na Av. Paulista .............................................................................. 60


Figura 34. Nem santo te protege, use camisinha ................................................................... 61 Figura 35. Basta de Homofobia GLBT ................................................................................. 62 Figura 36. Elenco de Sense8 na Parada de 2016 ................................................................... 63 Figura 37. XXIII Parada do Orgulho LGBTQ+ de SP .......................................................... 64 Figura 38. As paradas de SP ................................................................................................. 65 Figura 39.Ney Matogrosso em programa do show "Seu tipo" ............................................... 69 Figura 40. Dzi Croquettes .................................................................................................... 69 Figura 41. Prêmio MTV EMA 2019: melhor artista brasileiro .............................................. 70 Figura 42. Quem tem medo de travesti, Coletivo As Travestidas .......................................... 70 Figura 43. Encontros Nacionais para Políticas LGBTQ+ ...................................................... 77 Figura 44.Vale do Anhangabaú, local favorito para aventuras socialização homoerótica nos anos 20 e 30. ........................................................................................................................ 81 Figura 45. Cinema Art Palacio ............................................................................................. 82 Figura 46. Paribar na Praça Dom José Gaspar ...................................................................... 85 Figura 47. Fotomontagem da inserção urbana do edifício e galeria metrópole ...................... 86 Figura 48. Wilza Carla chega montada em elefante a boate Medieval ................................... 87 Figura 49. Matéria Comerciantes apoiam rodas de Richetti .................................................. 90 Figura 50. Corintho em noite Broadway. .............................................................................. 91 Figura 51. Manifestantes se beijam durante protesto feito no shopping Frei Caneca ............. 92 Figura 52. Capas dos Guias da cidade de São Paulo ............................................................. 93 Figura 53. Mapa com Locais LGBTQ+ ................................................................................ 95 Figura 54. Mapa do Guia DiverCidade para locais LGBTQ+ em Pinheiros e Paulista/Jardins. ............................................................................................................................................ 97 Figura 55. Mapa do Guia DiverCidade para Locais LGBTQ+ no Centro .............................. 98 Figura 56. Capa do guia São Paulo LGBT ............................................................................ 99 Figura 57. Mapa do São Paulo Guia LGBT ........................................................................ 100 Figura 58. Localização da Subprefeitura da Sé com destaque para área das manchas de apropriação ........................................................................................................................ 102 Figura 59. Mapas de machas de Apropriação ..................................................................... 102 Figura 60. Cronologia Cartográfica do Largo do Arouche .................................................. 108 Figura 61. Gráficos do perfil de usuários ............................................................................ 113 Figura 62. Relação social com o Largo do Arouche............................................................ 114 Figura 63. Usuários e sua frequência no Largo ................................................................... 115 Figura 64. Motivos de para uma frequência ........................................................................ 116


Figura 65. Variações de uso e idade do Largo baseado em horários .................................... 117 Figura 66. As Transformações do Largo na visão dos frequentadores ................................. 118 Figura 67. Os pontos de mudanças evidências pelos frequentadores ................................... 120 Figura 68. A visão dos moradores ...................................................................................... 121 Figura 69. A visão dos usuários e trabalhadores ................................................................. 122 Figura 70.Sugestões de melhorias ...................................................................................... 123 Figura 71. Atividades mais desejadas ................................................................................. 124 Figura 72. Isométrica projeto do escritório Triptyque ......................................................... 124 Figura 73. Implantação da proposta de requalificação ........................................................ 125 Figura 74. Isométrica de inserção do projeto na quadra ...................................................... 126 Figura 75. Fotomontagem de inserção com vista para o corredor central do largo............... 126 Figura 76. Fotomontagem de inserção com vista para o mercado de flores ......................... 127 Figura 77. Localização do Largo do Arouche em foto aérea ............................................... 128 Figura 78. Mapa de condicionantes ambientais................................................................... 129 Figura 79. Mapa de cheios e vazios .................................................................................... 130 Figura 80. Mapa de áreas verdes e cobertura vegetal .......................................................... 131 Figura 81. Mapa de hierarquia viária .................................................................................. 132 Figura 82. Mapa de Fluxos nas vias publicas ...................................................................... 133 Figura 83. Mapa de modais de transporte ........................................................................... 134 Figura 84. Mapa de densidade demográfica (Hab./Ha.) ...................................................... 135 Figura 85. Mapa de Vulnerabilidade Social ........................................................................ 136 Figura 86. Mapa de predominância do uso do solo ............................................................. 137 Figura 87. Mapa de bens tombados e áreas envoltórias ....................................................... 138 Figura 88. Mapa de equipamentos públicos, comércios e serviços ...................................... 139 Figura 89. Mapa de zoneamento ......................................................................................... 140 Figura 90. Mapa de zoneamento ZEPEC ............................................................................ 141 Figura 91. Foto aérea com destaque p/ Largo do Arouche .................................................. 142 Figura 92. Gabarito de altura do entorno imediato .............................................................. 143 Figura 93. Foto inserção ângulos 1 e 2 ............................................................................... 144 Figura 94. Foto inserção ângulos 3, 4, 5, 6 e 7 .................................................................... 145 Figura 95. Foto Inserção ângulos 8, 9, 10, 11 e 12 .............................................................. 146 Figura 96. Foto inserção ângulos 13, 14, 15, 16 e 17 .......................................................... 147 Figura 97. Foto inserção ângulos 18, 19, 20 e 21 ................................................................ 148 Figura 98. Foto localização com evidência aos terrenos ..................................................... 149


Figura 99. Mapa dos lotes e de demolição .......................................................................... 150 Figura 100. Parâmetros urbanísticos para o terreno A ......................................................... 151 Figura 101. Parâmetro Urbanístico para o terreno B ........................................................... 152 Figura 102. Foto Parque Los Bajos .................................................................................... 154 Figura 103. Los Banjos em fluxos e programa.................................................................... 155 Figura 104. Implantação Projeto Los Bajos ........................................................................ 156 Figura 105. Cortes Projeto Los Bajos ................................................................................. 156 Figura 106. Ligação projeto Los Bajos e a cidade............................................................... 157 Figura 107. Entrada SESC Birigui...................................................................................... 158 Figura 108. Planta de cobertura do Projeto SESC ............................................................... 159 Figura 109. Manchas de áreas do SESC Birigui ................................................................. 160 Figura 110. Elevação 1 e corte AA e DD............................................................................ 160 Figura 111. Foto interna do SESC Birigui .......................................................................... 161 Figura 112. Espaço de exposições do escritório de artes e .................................................. 162 Figura 113. Disposição angular das paredes moveis ........................................................... 163 Figura 114. Dinâmica de mudanças do espaço da grande galeria ........................................ 164 Figura 115. Espaço de convivência e, ao fundo espaço de exposição .................................. 165 Figura 116. O edifico em meio aos fluxos da cidade ........................................................... 166 Figura 117. Plantas baixas do edifício ................................................................................ 167 Figura 118. Cortes do Edifício Residencial......................................................................... 168 Figura 119. Átrio do hall de entrada ................................................................................... 168 Figura 120. Átrio do hall de acesso ao edifício ................................................................... 168 Figura 121. Pátio central para convivências do edifício ...................................................... 169 Figura 122. Bandeira conceitual ......................................................................................... 172 Figura 123. Mix de imagens referenciais ............................................................................ 173 Figura 124. Fluxograma do Largo aos equipamentos .......................................................... 184 Figura 125. volumetria do entorno com os terrenos de implantação livres .......................... 186 Figura 126. Áreas de intervenção destacadas em preto ....................................................... 187 Figura 127. Volume inicial dos edifícios ............................................................................ 187 Figura 128. O Largo ampliado e seus equipamentos ........................................................... 188 Figura 129. Estudo de recorte dos edifícios ........................................................................ 188


RESUMO A violência à parcela populacional LGBTQ+ matou no Brasil dos anos 2000 a 2019, 4.809 pessoas por conta de discriminação a sua expressão e/ou orientação sexual, essa problemática necessita ser discutida em sociedade de forma a diminuir ou sanar a violência discriminatória LGBTQ+, promovendo uma sociedade diversificada baseada no respeito ao outro. Neste Trabalho Final de Graduação, do curso de Arquitetura e Urbanismo, será abordado uma proposta de espaço público aliado a cultura e Direitos Humanos que destaque a importância das relações sociais como meio essencial para sanar a vulnerabilidade social dessa parcela populacional, além de promover a cultura LGBTQ+ e o sentimento de pertencimento ao território. O projeto está localizado no Largo do Arouche, uma região central da cidade de São Paulo - SP, Brasil, e virá baseado em estudos que apresentam as dinâmicas sociais LGBTQ+ na cidade desde 1920, demarcando o território e evidenciando potencialidades territoriais. O objetivo da proposta é contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária, diversificada e respeitosa, promovendo as potencialidades do indivíduo e o sentimento que esse passa a ter sobre o território que conte a história do movimento a que pertence.

PALAVRAS-CHAVE: LGBT; Violência LGBT; Largo do Arouche; Revitalização; Arquitetura cultural.


ABSTRACT

Violence against the LGBTQ + population killed in Brazil from the years 2000 to 2019, 4,809 people because of discrimination, their expression and / or sexual orientation, this problem needs to be discussed in society in order to reduce or remedy discriminatory LGBTQ + violence, promoting a diversified society based on respect for the other. In this Final Graduation Work, from the Architecture and Urbanism course, a proposal for a public space combined with culture and Human Rights will be discussed, highlighting the importance of social relations as an essential means to remedy the social vulnerability of this population, in addition to promoting culture LGBTQ + and the feeling of belonging to the territory. The project is located in Largo do Arouche, a central region of the city of SĂŁo Paulo SP, Brazil, and will come based on studies that present the LGBTQ + social dynamics in the city since 1920, demarcating the territory and showing territorial potential. The purpose of the proposal is to contribute to the development of an egalitarian, diversified and respectful society, promoting the individual's potential and the feeling that he starts to have about the territory that tells the history of the movement to which he belongs.

KEYWORDS: LGBT; LGBT violence; Largo do Arouche; Revitalization; Cultural architecture.


Sumário INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................15 1. LGBTQ+: DE 1969 Á UMA AFIRMAÇÃO DE DIREITO ......................................................................35 1.1 UM BREVE PANORAMA ...............................................................................................................................36 1.2 UM SÍMBOLO DE AMOR E REPRESENTATIVIDADE ..........................................................................................39 1.3 PARADA LGBTQ+ E SUA IMPORTÂNCIA ......................................................................................................42 1.4 A CIDADE DE SÃO PAULO ............................................................................................................................46 1.4.1 Um panorama estatístico: Intolerância ................................................................................................47 1.4.2 Por uma cidade afirmativa ..................................................................................................................49 1.4.3 A Parada LGBTQ+ ............................................................................................................................51 2. O ESPAÇO LGBTQ+: AS RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS E O TERRITORIO BRASILEIRO ......66 2.1 O DIREITO À CIDADE COMO TERRITÓRIO .......................................................................................................78 2.2 AS DINÂMICAS DE APROPRIAÇÃO DO TERRITÓRIO LGBTQ+ DE SÃO PAULO ..................................................81 2.2.1 Territórios LGBTQ+ passiveis de uma reafirmação........................................................................... 101 3. O LARGO DO AROUCHE ..................................................................................................................... 104 3.1 A REQUALIFICAÇÃO .................................................................................................................................. 112 3.1.1 Perfil do Usuário .............................................................................................................................. 112 3.1.2 Polaridades ...................................................................................................................................... 115 3.1.3 Percepções ....................................................................................................................................... 118 3.1.4 A proposta da Triptyque Arquitetura................................................................................................. 124 3.2 ANÁLISE DE CONDICIONANTES .................................................................................................................. 127 3.3 O TERRENO .............................................................................................................................................. 144 3.4 PARÂMETROS URBANÍSTICOS .................................................................................................................... 151 4. ESTUDO DE CASO ................................................................................................................................ 153 4.1 PARQUE LOS BAJOS .................................................................................................................................. 154 4.2 SESC BIRIGUI .......................................................................................................................................... 158 4.3 SEATTLE OFFICE OF ARTS AND CULTURE .................................................................................................. 162 4.4 LA BREA AFFORDABLE HOUSING .............................................................................................................. 166 5. A PROPOSTA ......................................................................................................................................... 170 5.1 CONCEITO ................................................................................................................................................ 172 5.2 REFERENCIAS PROJETUAISZ....................................................................................................................... 173 5.3 PARTIDO ARQUITETÔNICO ......................................................................................................................... 175 5.4 PROGRAMA DE NECESSIDADES .................................................................................................................. 176 5.4.1 Programa ......................................................................................................................................... 178 5.4.2 fluxograma....................................................................................................................................... 184 5.5 ESTUDO VOLUMÉTRICO ............................................................................................................................ 186


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................ 189


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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO


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Figura 1. Homofobia mata.

Fonte: Charge de Ribs. (2016)

Baseado nos estudos da psicologia social, entende-se preconceito como uma atitude negativa, que o indivíduo está disposto a sentir, pensar e conduzir-se em relação a determinado grupo de forma negativa previsível (MORRIS e MAISTO, 2004). De acordo com Allport (1954) o homem não nasce preconceituoso, ele é ensinado a ter preconceito, podendo ter atitudes hostis a uma pessoa ou grupo de pessoas apenas por eles pertencerem a um grupo a qual atribui qualidades objetáveis, e enfatiza que o julgamento resiste aos fatos e ignora a verdade, de modo a cegar o indivíduo a respeito da qualidade alheia. Já para Adorno (1950) o preconceito vem de uma personalidade autoritária ou intolerante, onde as pessoas tendem a defender as normas e o respeito as tradições sociais e são hostis a aqueles que desafiam as regras sociais. Com base nas teorias de Adorno (19050) e Allport (1954) concluísse que o preconceito é uma construção sociocultural, são crenças formadas e transmitidas de geração em geração onde um determinado afeto surge em resposta a uma ação vinculada as crenças socioculturais, que está vinculado diretamente ao comportamento, de forma que sentimentos positivos tendem a uma predisposição a aproximação, assim como sentimentos negativos tendem ao distanciamento e aversão. Muito frequente na vida de Lesbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais, Transgêneros, Queer e outros (LGBTQ+) em decorrência de preconceito, a violência faz parte da vivencia em sociedade, como vemos no fragmento extraído do relatório mundial sobre violência e saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a violência como uma intenção seguida da realização de ato violento, independentemente do tipo de ação produzida, os quais estão subdivididos em 3 categorias: a violência autodirigida, onde o indivíduo é o veículo da agressão, podendo cometer automutilação e suicídio; a violência interpessoal, subdividida em violência familiar na qual, por exemplo pode haver abuso sexual ou maus tratos a idosos e violência comunitária que pode não ter relação pessoal e acontecem geralmente fora do lar; e pôr fim à violência coletiva que se subdivide em violência social, onde geralmente são


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cometidos crimes de ódio e a violência política com os atos de guerra como exemplo; e a violência econômica onde ataques tem a finalidade de desintegrar a atividade econômica. Uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (KRUG et al., 2002)

Um termo que está diretamente relacionado aos conceitos de violência e preconceito é LGBTQfobia, e para contextualizar uma definição é preciso entender primeiro o que é fobia, que segundo o dicionário Michaelis (2020), definisse fobia como falta de tolerância, aversão, intolerância e rejeição; a partir deste conceito é possível montar a definição para LGBTQfobia, no caso sendo uma aversão a pessoas LGBTQ+. A Presidenta da Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Maria B. Dias, define LGBTQfobia como qualquer ato ou manifestação de ódio ou rejeição a homossexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, e ressalta que o termo homofobia é o mais comum de uso e que também se refere ao grupo LGBTQ+ como um todo (DIAS, 2010). É comum dentro do termo utilizado para o grupo como um todo existir termos mais específicos a fim de promover e representar causas especificas de um seguimento LGBTQ+, como exemplo transfobia, termo utilizado para classificar atitudes ou sentimentos negativos e/ou violentos contra pessoas trans., o que inclui travestis, transexuais e transgêneros. Na visão de Borrilho (2010) o termo homofobia também é utilizado para representar toda a comunidade LGBTQ+, e entender homo/LGBTQfobia simplesmente a uma aversão, intolerância ou rejeição é limitar-se ao entendimento do ato fóbico e no modo como se pensam as soluções somente em medidas voltadas a minimizar os efeitos de sentimentos e atitudes de indivíduos ou de grupos homofóbicos. No fragmento extraído de seu livro, Borrilho define homofobia como um sentimento a quebra da heteronormatividade, e como resposta a essa quebra, o ato homofônico pode vir a acontecer a fim de manter uma hierarquia de poder, ele também ressalta que a homofobia pode vir a ser invisível aos olhos de quem não é a vítima, mas é cotidiana e está associada a um julgamento feito sem uma reflexão, aceito sem questionamento, favorecendo a heteronormatividade um status de poder. Medo de que a valorização dessa identidade seja reconhecida; ela se manifesta, entre outros aspectos, pela angústia de ver desaparecer a fronteira e a hierarquia da ordem heterossexual. [...] Invisível, cotidiana, compartilhada, a


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homofobia participa do senso comum, embora venha a culminar, igualmente, em uma verdadeira alienação dos heterossexuais. (BORRILHO, 2010)

Baseando-se nas definições apresentadas, é possível compreender o quadro de violência e preconceito LGBTQ+ no Brasil, sendo o país que mais mata LGBTQ+ no mundo, onde crimes contra pessoas LGBTQ+ são recorrentes e dos mais diversos tipos. Em entrevista à Agência Brasil, Luiz Mott, que é Prof. Dr. em antropologia pela Unicamp e ativista LGBTQ+ afirma: Há décadas o Brasil é campeão mundial nos crimes contra a população LGBT. Comparativamente ao EUA, por exemplo, matamos de 30 a 40 LGBT por mês, enquanto lá morrem 20 por ano. O principal motivo é a LGBTfobia individual e cultural, que incrementa os crimes letais no nosso país. (Mott, 2016)

Fundado em 1980 por Luiz Mott, o Grupo Gay da Bahia (GGB) é uma sociedade civil de direitos humanos homossexuais no Brasil, e vem contabilizando dados sobre as vítimas de LGBTQfobia a 40 anos no Brasil, com base em seus relatórios realizados a partir da coleta de notícias em veículos de imprensa, internet e informações pessoais, é perceptível o crescente número de assassinatos por motivação LGBTQfobica, evidenciando que nos anos 2000 foram 130 assassinatos e com um salto de 100% em 2010 o número chegou a 260, em 2016 a contagem foi de 343 vítimas. Em nenhum dos anos anteriores o número tinha chegado a este patamar tão alto, mas foi superado no ano seguinte, como estar evidenciado na fig. 7, uma pessoa a cada 25h era brutalmente assassinada, números suficientes para afirmar que mataram mais LGBTQ+ no Brasil do que nos 13 países com pena de morte para pessoas LGBTQ+ em 2016. (GGB, 2016) Dos 343 assassinatos contabilizados no ano de 2016, 173 eram gays (50%), 144 (42%) trans. (travestis e transexuais), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais (1%), incluindo 12 heterossexuais, como os amantes de transexuais, parente ou conhecidos que foram mortos por algum envolvimento com a vítima. Dentre as vítimas estão: o professor universitário Elessandro Milan, 34 anos, de Porto Velho, foi violentamente degolado e esquartejado; Wagner Pereira, comerciante de Belém, foi morto com 80 facadas; em Santa Luz, Bahia, dois professores foram encontrados carbonizados dentro do porta malas de um carro; a travesti Brenda foi espancada e jogada de cima de uma alta passarela em Castanhal, Pará; R.S., homem-transexual, 17 anos, foi executado com 17 tiros e teve o corpo arrastado por um carro em Porto Alegre. (GGB, 2016)


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Figura 2.Matéria sobre o assassinato de Itaberly Lozano

Fonte: Revista VEJA. (2017)

Em 2017, 445 LGBTQ+ morreram no brasil, sendo 387 vítimas de assassinatos e 58 suicídios, um aumento de 30% em comparação com os dados do ano anterior, a contagem foi de 1 a cada 19 horas. Seguindo a tendência dos anos anteriores, a causa mortis predominantemente foi o uso de arma de fogo (30,8%), seguido por armar brancas perfurocortantes (25,2%), sendo 37% das mortes ocorridas dentro da própria residência, 56% em vias públicas e 7% em estabelecimentos privados. (GGB, 2017) Algumas vítimas de 2017: a travesti Stefany, de Boa Vista (RO) 27 anos, foi morta com 23 facadas; a lésbica Nilda Pereira, 35 anos, residente em Coruripe, (AL), foi encontrada nua no quintal de sua casa, “com o corpo completamente perfurado”; o padre Pedro Gomes Bezerra, 49 anos, de Borborema (PB) foi massacrado com 29 facadas dentro da casa paroquial. Lucas Carvalho, 17 anos, de Aracagy, região metropolitana de São Luís, executado com requintes de crueldade, foi estuprado por um grupo de agressores, o corpo mostrando sinais de perfurações, espancamento e a cabeça degolada. (GGB, 2017) Figura 3. Matéria sobre o assassinato de Dandara dos Santos

Fonte: Portal de notícias G1. (2017)

Em 2018, o número de vítimas foi de 420, sendo 320 homicídios e 100 suicídios. Seguindo o padrão dos anos anteriores em termos absolutos predominam a morte de gays (45%), seguido de transexuais e travestis (39%), Lesbicas (12%), bissexuais (2%) e heteros (1%) que foram confundidos como homossexuais ou tinha envolvimento LGBTQ+. (GGB, 2018)


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Vítimas de 2018: a transexual Fernanda, 30 anos, de Rio Brilhante (MS), foi apedrejada, espancada e morta numa via pública com 80 facadas; o artista plástico Cedric Madala, 33 anos, gay de Parati (RJ), foi assassinado com tiros na cabeça e sua casa incendiada; em São Paulo, o jovem gay Plínio Lima, após ser alvo de insultos homofóbicos, foi esfaqueado por dois agressores quando passeava a noite de mãos dadas com seu marido pela Avenida Paulista; Lourinaldo Ribeiro, 52 anos e seu companheiro por trinta anos, o médico Antônio Francisco Ribeiro, 56, foram cruelmente torturados dentro de sua residência, mortos a facadas; a travesti Anninha, negra e pobre, de Colatina (ES), foi decapitada e castrada. (GGB, 2018) Figura 4.Matéria sobre o assassinato de Plínio Henrique de Almeida Lima.

Fonte: Portal de notícias G1. (2018)

Em 2019, 329 LGBTQ+ foram vítimas de morte violenta no Brasil, sendo 297 homicídios e 32 suicídios, onde 111 casos ocorreram dentro da residência da vítima e 218 em locais públicos ou de uso público, dos 329 casos, 50 aconteceram em São Paulo, o estado que apareceu em primeiro lugar no Ranking de mortes representando 15,2% do total compilado. Comparativamente aos anos anteriores, 2019 surpreende com uma redução de mortes violentas, 26% comparado a 2017, segundo o prof. Luiz Mott, a explicação mais plausível para a queda se deve ao discurso homofônico do Presidente da República e sobretudo as mensagens aterrorizantes de seus seguidores em redes sociais, levando a minoria LGBTQ+ a manter uma cautela maior, tendo um comportamento preventivo, evitando situações de risco onde seria uma próxima vítima, outra explicação plausível é a dificuldade em contabilizar os dados uma vez que não reconhecida a identidade LGBTQ+ da vítima, os assassinatos não são tipificados como crime de ódio por LGBTQfobia (GGB, 2019). Algumas vítimas em 2019 são: a travesti Kelly de 35 anos, teve rosto desfigurado a garrafadas, o coração arrancado e o buraco recheado com cacos de vidro em campinas, SP; Simão Cunha de 30 anos, foi assassinado com facadas nas costas no centro histórico de João Pessoa; o jovem gay Adson Cruz de 24 anos, morto a tiros enquanto bebia com amigos em uma praia em Vera Cruz, BA; Vick de Luca Jugnet, travesti de 18 anos cometeu suicídio após relatar


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a mãe ter medo do cenário político atual, das ameaças, das perseguições e medo sair na rua em Brasília, DF; Anderson Sobral de 32 anos foi morto com golpes de faca nas costas em Caruaru, PE e tinha sinais de luta corporal; Jeckson Silver de 25 anos foi assassinado de forma barbara com golpes de faca nas costas, Recife, PE (GGB, 2019). Figura 5. Travesti morta por ser considerada ser um demônio.

Fonte: Portal de notícias G1. (2019)

O GGB não divulgou seu relatório de mortes do primeiro semestre de 2020, mas os casos continuam a ser noticiados em veículos de imprensa. (Ver fig. 6) Figura 6. Transexuais e travestis mortas em 2020.

Fonte: Portais de notícias G1/Estado de Minas/OPovo adaptado pelo autor. (2020)


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De acordo com o advogado Eduardo Michels, que é responsável pelas pesquisas de pessoas LGBTQ+ mortas no Brasil desde 2011 do GGB, os dados estabelecidos na fig. 7 representam vidas perdidas por motivos LGBTQfóbicos, ele também afirma no fragmento abaixo retirado do relatório de 2017, que seus relatórios não partem de um dado oficial, já que não se tem uma base de dados oficial do governo que determinam a motivação LGBTQfobica. tais números alarmantes são apenas a ponta de um iceberg de violência e sangue, pois não havendo estatísticas governamentais sobre crimes de ódio, tais mortes são sempre subnotificadas já que o banco de dados do GGB se baseia em notícias publicadas na mídia, internet e informações pessoais. A falta de estatísticas oficiais, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, prova a incompetência e homofobia governamental. (Michels, 2017) Figura 7. Pessoas LGBT mortas no Brasil.

Fonte: Grupo Gay da Bahia adaptado pelo autor (2019)

Um dado oficial do governo são os relatórios de denúncias do Ministério da Mulher, da Criança e dos Direitos Humanos, as denúncias aqui apresentadas foram feitas pelo disque 100 no seguimento LGBTQ+, registrando denúncias que vão de violência psicológica até violência sexual. Na fig. 8 podemos visualizar os tipos de casos registrados e o número de denúncias feitas no ano de 2018 em todo o território nacional, é notório que a discriminação e a violência psicológica foram os mais denunciamos com os respectivos números, 1189 e 808 denúncias. Os tipos de violência evidenciados na fig. 8 estão correlacionados, um pode vir a ser o resultado da ação de outro, como exemplo uma ameaça de morte, que está caracterizada em violência


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psicológica, pode vir a se tornar uma violência física com o assassinato do ameaçado. Entender algumas das tipologias de violência evidenciadas na fig. 8 é fundamental para ter a noção de como elas se correlacionam e influenciam umas às outras. De acordo com o Ministério da Saúde (2001) a violência psicológica pode vir a ser ameaças, humilhações, chantagens, sendo a modalidade de violência com maior dificuldade para ser identificada mesmo sendo bastante frequente, e faz com que a pessoa se sinta desvalorizada, menosprezada, podendo ter um quadro de depressão e vir a cometer suicídio. Já os atos de discriminação, são baseados na violação do Artigo 7, da Declaração Mundial dos Direitos Humanos (1948), e consiste em distinguir um indivíduo do coletivo prejudicando o indivíduo em contexto social, cultural, político e econômico, como exemplo quando uma travesti é marginalizada e colocada como classe inferior na sociedade. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. (Declaração Mundial dos Direitos Humanos, 1948) Figura 8. Denúncias feitas ao Disque 100 em 2018

Fonte: Ministério Mulher, da Família e dos Direitos Humanos adaptado pelo autor (2019)

Um fator que representa uma origem para as demais violências evidenciadas na fig. 8 é a discriminação institucional, ela está presente em todas as instâncias da sociedade e algumas vezes é reproduzida de forma involuntária, mesmo quando não há a intenção para discriminar, por esta localizada em uma construção social perpetuada por gerações e influenciadas pelas crenças desses grupos. Pocahy (2007) demonstra a dinâmica da interação entre discriminação indireta e a sociedade de forma a construir parâmetro para determinar a discriminação


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institucional, ressaltando que em uma cultura heterossexista, condutas individuais e dinâmicas institucionais, formais e informais, reproduzem de forma intencional ou não os parâmetros de uma sociedade hegemonicamente heterossexual como norma sociocultural, naturalizando a heterossexualidade e restringindo, excluindo e anulando o reconhecimento dos Direitos Humanos e as liberdades fundamentais daqueles que não se moldam nos parâmetros heteronormativos. Independentemente da intenção, a discriminação é um fenômeno que lesiona direitos humanos de modo objetivo. [...] Mesmo onde e quando não há vontade de discriminar, distinções, exclusões, restrições e preferências injustas nascem, crescem e se reproduzem, insuflando força e vigor em estruturas sociais perpetuadoras de realidades discriminatórias. [...] De fato, muitas vezes a discriminação é fruto de medidas, decisões e práticas aparentemente neutras, desprovidas de justificação e de vontade de discriminar, cujos resultados, no entanto, têm impacto diferenciado perante diversos indivíduos e grupos, gerando e fomentando preconceitos e estereótipos inadmissíveis. (POCAHY, 2007).

Nesta linha de raciocínio, Pocahy (2007) enfatiza a importância do contexto social e organizacional como origem dos preconceitos e comportamentos discriminatórios. Os parâmetros estabelecidos para discriminação institucional são percebidos na forma direta da discriminação subdivididos em três principais manifestações: a discriminação explicita, ocorre quando uma diferenciação injusta é explicitamente adotada, como quando a orientação ou expressão sexual é parâmetro para seleção; a discriminação na aplicação, ocorre quando independentemente das intenções do instrutor, a diferenciação ocorre de modo proposital na execução da medida, exemplo disso é um processo de seleção para uma vaga de emprego o recrutador usufrui de padrões sociais com base em suas crenças para selecionar um candidato; e a discriminação na elaboração ou tratamento, a qual atua de forma que possa inferir, literal e diretamente, a diferenciação, isto ocorre quando uma medida adota exigências que, aparentemente neutras, foram concebidas, de modo intencional, para causar prejuízo a certo indivíduo ou grupo, exemplo é o Art. 235 do Código Penal Militar (1969), no qual está disposto “Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em lugar sujeito a administração militar. Pena de detenção de 6 meses a um ano” (POCAHY, 2007). A construção social atual teve em sua formação os padrões heteronormativos e a partir dessa base em relação a uma discriminação institucional, a sociedade reproduz atos discriminatórios muito sem perceber a gravidade das ações por conta de uma padronização que determinou a tempos que uma diversidade sexual e uma afirmação de gênero iria contra a ideia


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do Homem hetero provedor da sociedade, esses padrões influenciariam as dinâmicas de viver em sociedade, pode-se notar como exemplo que a retirada do debate sobre diversidade sexual em escolas é uma forma adotada como discriminação Institucional, uma vez que o livre discurso proporciona questionamentos e compreensões que colaboram para uma reconstrução de padrões, ou as ideologias religiosas que defendidas como lei suprema invalidam posicionamentos de afirmação sexual e gênero, um outro exemplo de discriminação institucional é a dificuldade para ter travestis e transsexuais sem passibilidade em funções empregatícias ditas normais e uma facilidade maior para encontrar as mesmas em trabalhos sexuais, uma vez que em meio a prostituição, muitas vezes a noite e em determinados locais, ficam isoladas de uma sociedade julgadora, também é exemplo de uma discriminação institucional a dificuldade para que agentes policiais e órgãos públicos caracterizem atos LGBTQfobico como tal ou o que reconheçam a identidade de gênero de pessoas LGBTQ+. Figura 9. Denúncias ao disque 100 em São Paulo.

Fonte: Ministério Mulher, da Família e dos Direitos Humanos adaptado pelo autor. (2020)

Em 2017 o número de denúncias copiladas foi de 1.720, desses casos 193 são homicídios, o número é 127% maior que o registrado em 2016. Já em São Paulo o número anual de denúncias não sai dos 3 dígitos desde o início das coletas pelo disque 100 do MDH (Ver fig. 9), representando que a intolerância está presente e seus números demonstram uma constância durantes anos. Pode entender a fig. 9 de duas formas, uma onde a vítima tem a coragem para fazer a denúncia a seu agressor, mostrando que se sentem mais encorajadas a denunciar por reconhecer seus direitos, mas deixa em aberta a ideia de que várias outras não chegam a denunciar por medo subnotificando os casos; a outra forma que se pode analisar a fig. 9 é entendendo que a constância nas denúncias demonstram que não se houve avanços em relação


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a defesa dos direitos LGBTQ+ e na disseminação dos ideais de igualdade, onde os números refletem que os agressores não se inibem em produzir atos de intolerância. A precariedade de coleta e compilação de dados de violência LGBTQ+ demonstra que falta empenho de órgãos públicos em promover auxílio a minoria, grupo marginalizado dentro da sociedade devido aos aspectos de orientação e expressão sexual. Mais da metade dos Paulistanos já sofreu ou presenciou cenas de preconceitos contra pessoas LGBT em espaços públicos na cidade de São Paulo segundo a pesquisa da diversidade realizada pela organização da sociedade civil Rede Nossa São Paulo em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE, 2019). De acordo com a pesquisa, a população de São Paulo em uma escala de 1 a 10, tinha nota de 6,3 para tolerância a atos e ações LGBTQ+ no ano de 2018 e esse número tem queda significativa no ano de 2019 com uma média de 5,9 (ver fig. 10). E tratando de regionalidade, o centro tem média de 6,1 de aceitação enquanto a região sul é muito mais intolerante com média de 5,4. Figura 10.São Paulo em Nível de Tolerância de 1 a 10

Fonte: IBOPE adaptado pelo autor (2019)

Esta intolerância é fator da falta de segurança para a parcela LGBTQ+ da população de São Paulo, evidenciando que a queda do ano de 2018 para 2019 demonstra a necessidade de uma discursão mais ampla em relação ao respeito as causas LGBTQ+, buscando esclarecer e sensibilizar a todos, principalmente as parcelas menos favoráveis ao tema. Com base na pesquisa, o gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio afirma que a cidade de São Paulo é hostil para o público LGBTQ+, e que por mais que a população LGBTQ+ seja estimada em 5% da população da capital, 4 de cada 10 entrevistados já viveram ou presenciaram algum tipo de preconceito em espaços ou transporte públicos, evidenciando a necessidade de investimentos em políticas públicas voltadas as questões de direitos LGBTQ+.


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Esses dois espaços são os mais violentos com essa população. Neste sentido, é fundamental que o poder público, principalmente o Executivo, invista em políticas públicas que tirem a invisibilidade das questões relativas à população LGBT. (Sampaio, 2018)

Como relatado anteriormente pelo GGB, poucos assassinatos ocorreram na casa da vítima, evidenciando que as ruas são os lugares mais perigosos. Tendo como exemplo a situação de travestis e transexuais que trabalham com a prostituição, estar nas ruas, algumas vezes sem a presença de outras, é estar arriscando sua vida por aumentar a vulnerabilidade diante das inúmeras violências físicas e psicológicas a que são submetidas, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA, 2019) 64% dos assassinatos Trans. ocorridos em 2019 aconteceram nas ruas, sendo São Paulo o estado que mais matou trans. em 2019, foram 21 assassinatos. De acordo com a pesquisa viver em São Paulo – direitos LGBT, depois dos espaços e transportes públicos, as escolas e faculdades, shoppings e comércios, bares e restaurantes são os locais que tem a maior frequência em ações de intolerância LGBTQ+ (ver fig. 11), é notório que mesmo sendo locais privados, eles são de uso público e fazem parte da vivência em sociedade, evidenciando que ter sofrido ou presenciado situações de discriminação em relação a identidade de gênero ou expressão sexual nestes lugares impactam diretamente na percepção de tolerância na cidade de São Paulo. Figura 11. Locais com presença de casos de abuso.

Fonte: IBOPE adaptado pelo autor (2019)


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Percebesse o quanto é necessária uma investida mais profunda em defesa da minoria, e que a informação e conhecimento são os melhores aliados para sanar o preconceito e os atos de violência. Em entrevista na semana de combate a LGBTQfobia em 17 de maio de 2018, o então ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha afirmava: Todas as pessoas podem estar sujeitas a violência. No entanto, a população LGBT é vítima de uma violência adicional: são agredidas e discriminadas por serem aquilo que são. Este é um exemplo de ódio e intolerância que precisamos combater enquanto sociedade. (Rocha, 2018)

Como iniciativa, o extinto Ministério dos Direitos Humanos (MDH, 2018) vinha fazendo um trabalho em promover o esclarecimento em relação à naturalidade das múltiplas orientações e expressões sexuais, o intuito era levar informação para a população mais carente de conhecimento a fim de sanar a discriminação, como exemplo a campanha “deixe seu preconceito de lado, respeite as diferenças” que tratava de explicar a vivencia LGBTQ+, relatando formas de como tratá-los com respeito, explicar que não é doença, mostrar a diversidade dentro da comunidade e quão rica é a cultura LGBTQ+, assim como a instituição do Pacto Nacional de Enfrentamento a Violência LGBTQfobica, onde em sua Clausula Segunda, determinava as atribuições do pacto, como a criação de uma estrutura para promoção de políticas para LGBTQ+; instrumentalizar equipamentos nos órgãos estaduais para atendimento adequado a população LGBTQ+; elaborar e estabelecer planos de ações para o enfrentamento a violência LGBTQfobica; e cooperar com ações da sociedade civil para a promoção de ações que combatam a violência LGBTQfobica. No programa do Governo Federal “Brasil sem Homofobia” (2004) foram determinadas diretrizes para atingir os objetivos de sanar a problemática da LGBTQfobia, tais como: Apoio a projetos de fortalecimento de instituições públicas e não governamentais que atuem na promoção da cidadania homossexual e/ou no combate a homofobia; a capacitação de profissionais e representantes do movimento homossexual que atuem na defesa dos direitos humanos; disseminação de informação sobre direitos de promoção de autoestima homossexual; e o incentivo à denúncia de violações dos direitos humanos de segmento LGBTQ+. Neste âmbito, se inseria o também extinto Ministério da Cultura (MinC), com projetos visando o direito a cultura, como exemplo a criação do grupo de trabalho da promoção da cidadania GLBT (2004), com o intuito de elaborar um plano para fomento, incentivo e apoio as produções artísticas e culturais que promovam a cultura e a não discriminação; o lançamento de edital em apoio as paradas de orgulho LGBTQ+ (2005) visando apoio massivo a produção de bens


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culturais e eventos de afirmação sexual e cultural; o estimulo e apoio a distribuição, circulação e acesso aos bens e serviços culturais com temática ligada ao combate a homofobia e a promoção da cidadania LGBTQ+ por meio do edital de premiação de monografias, dissertações, teses, ensaios, e contos de temática LGBTQ+ (2005) (MinC, 2007). Dentre as áreas onde o grupo de trabalho em conjunto ao Ministério da Cultura atuou, destacou o apoio as Paradas do Orgulho LGBTQ+, tendo em vista uma maior visibilidade na sociedade brasileira e o poder de mobilização dentro da própria comunidade LGBTQ+, cabe destacar que as paradas são eventos culturais difundidos internacionalmente, e em São Paulo a parada é considerada um dos maiores eventos culturais público. A singularidade das paradas LGBTQ+ no Brasil transforma o evento em uma distinta manifestação onde incorpora elementos tradicionais das linguagens artísticas e elementos culturais brasileiros, dando uma identidade original para a manifestação em território nacional. Um dos objetivos de apoio do MinC. as paradas foi o fortalecimento destas manifestações incentivando o crescimento e ampliando as expressões culturais durante o evento, como mostras de cinema e teatro, espetáculos musicais, palestras, debates e premiações de expressões artísticas LGBTQ+ (MinC. 2007). A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em seus princípios para cultura conceituasse que a cultura assume diversas formas no tempo e no espaço e está diretamente ligada a singularidade e a diversidade das identidades de grupos e sociedades, também afirma que a diversidade cultural é necessária para a humanidade, uma vez que configura uma herança comum, ela deve ser afirmada e reconhecida em benefício de gerações presentes e futuras, afirmasse também que é essencial garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidade culturais diferentes. A UNESCO também define que o conteúdo cultural é um significado simbólico, de dimensão artística e valores culturais que tem origem em identidades ou expressam identidades, no qual a expressão cultural é o resultado criativo de um indivíduo, grupo ou sociedade e estas expressões tipificam as atividades, bens e serviços que são considerados como atributos, usos ou propósitos específicos que incorporam e transmitem a cultura (UNESCO, 2005). Tendo como referência as definições da UNESCO (2005) é possível evidenciar a cultura LGBTQ+ a partir das identidades e de como elas se expressão em sociedade. Existem diversas identidades dentro da comunidade LGBTQ+, um exemplo é a própria sigla da comunidade, que evidencia a existência de grupos distintos dentro da comunidade e esses grupos também se expressão de forma independente, também é notório que as expressões vão além de gênero, elas são sexuais e de afirmação. Em ilustração para o jornal Le Monde Diplomatique, Caio Borges


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retrata identidades por meio de personalidades LGBTQ+ brasileiras sendo elas: Daniela Mercury, Erika Malunguinho, Leão lobo, Jean Wyllys, Louie Ponto, Spartakys, Rico Dalasan, Liniker, Pedro HMC, Laerte, Rica Von Hunty, Nanda Costa, Pabllo Vittar, Johnny Hooker, lorelay Fox, Linn da Quebrada, Diego Hypólito, David Miranda e Glenn Greenwald (Ver fig. 12), estas personalidades estão envolvidas nas formas de se produzir um cultua identitária e de afirmação LGBTQ+ no Brasil, são eles atores e atrizes, cantores(as), artistas performáticos, atletas, lideranças políticas e ativistas ilustrados como heróis LGBTQ+ em defesa e promoção da comunidade, não se limitando a esses, existem outros nomes que também trazem representatividade para a causa defendendo e expressando outras vertentes do movimento, é notória a diversidade de identidades apresentadas pela ilustração e o conjunto dessas identidade e de como elas se expressam no meio que se configura uma cultura LGBTQ+. Figura 12. Personalidades LGBTQ+

Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil/Caio Borges (2019)

Podemos evidenciar várias expressões identitárias dos grupos LGBTQ+ aqui, um exemplo são os grupos fetichistas que envolvem todos os gêneros e promovem feiras e


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festas, como a Folsom Street Fair (Ver fig. 13) que acontece em São Francisco EUA e é tipicamente marcada pelo uso do couro e pelas diversas possibilidades sexuais; dentro do grupo gay podemos evidenciar vários subgrupos como as “Barbies” identificadas pelos típicos corpos malhados soltos na pista de dança ao som de músicas eletrônicas, os “Ursos” com seus corpos peludinhos podendo ser gordinhos ou não, com suas festas especificas como a Bear Week em Provincetown USA, as afeminadas com toda sua liberdade para expressar sua feminilidade ou os bofinhos com seu estilo masculino para expressar seu lesbianismo, as Drag Queen esbanjando trajes e maquiagens incríveis fazendo seus típicos shows performáticos, mas a produção cultural LGBTQ+ vai além da expressão dos corpos como movimento de afirmação, a produção é vista e sentida, ela é palpável e imaterial, são sentimentos e sensações, são espaços de afirmação e de identidade. Figura 13. Folsom Street Fair

Fonte: SF Examiner / Kevin N. Hume (2019)

O festival MIX Brasil de Cultura da Diversidade a mais de duas décadas vem tendo como objetivo o respeito e a livre expressão da diversidade sexual, buscando novas perspectivas para a compreensão da comunidade, sendo distintas de preconceitos, fomentando o respeito, promovendo a cidadania e combate a toda e qualquer forma de LGBTQfobia. Hoje o festival é referência política e cultural nacionalmente e internacionalmente em questões relacionadas à cultura LGBTQ+ e de minorias, em seus arquivos de premiações e programações se tem um acervo gigantesco de produções culturais LGBTQ+ e estão listados como tal produção: curtas e longas metragens, peças teatrais, músicas e musicais, obras literárias e games (MIX BRASIL, 2019). O maior evento afirmativo que se traduz como expressão cultural LGBTQ+ são as Paradas do Orgulho que acontecem em diversas localidades pelo mundo, todas as identidades


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são notadas, evidenciadas e festejadas, todos são aceitos para festejar como ato de afirmação e luta por direitos, mostram que estão presentes e querem ser notadas e respeitadas em sociedade por viverem suas identidades, uma dessas paradas reconhecidas internacionalmente e já considerada a maior do mundo é a Parada do Orgulho LGBTQ+ de São Paulo (Ver fig. 14) que em 2019 movimentou R$ 403 milhões na economia da cidade e reuniu 3 milhões de pessoas na Av. Paulista (PINHONI, 2019) Figura 14. Parada do Orgulho LGBTQ+ de São Paulo

Fonte: Portal de notícia OGLOBO (2019)

Tendo como base que os casos de violência LGBTQ+ partem de uma aversão e intolerância, como foi evidenciado anteriormente aqui, e que a falta de conhecimento, crenças e ideologias comportamentais são fatores que geram essa intolerância, além de que nos tempos atuais, ainda é constante o número de casos de preconceito e a gravidade dos atos só aumentam, conclui-se que levar o conhecimento é a estratégia que melhor atende a necessidade de diminuir o número de pessoas intolerantes aos LGBTQ+, onde o conhecimento é obtido por experienciar, pela vivencia numa cidade que está em modificação constate e em processos de afirmação, onde as dinâmicas de apropriação territorial proporcionam afirmação de causa, identidade e pertencimento ao local, além de proporcionar o status de local seguro, acolhedor e representativo para as causas LGBTQ+. Uma referência é a cidade de São Francisco no estado da Califórnia, EUA, que tem Castro como o polo de atração mundial de público LGBTQ+, sua trajetória começou com a ida da comunidade homossexual de São Francisco para o bairro e criando um centro urbano


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elegante e sofisticado em 1970, o ativista Harvey Milk, primeiro homem abertamente homossexual a ser eleito para cargo público nos EUA, lutou pelos direitos dos homossexuais, e mantinha residência e comercio na rua Castro, sendo uma grande personalidade local, foi um dos responsáveis pela história de resistência da comunidade em Castro. O bairro tem sua história de resistência LGBTQ+ e os comércios da região são voltados para o público LGBTQ+. Desde o começo da comunidade naquele local, pequenas lojas de proprietários homossexuais, o teatro, casas de banho e bares que movimentavam a região dia e noite. Hoje após todos os movimentos em prol da comunidade LGBTQ+, castro continua com seus comércios típicos do bairro, os bares gays, as padarias e cafés, lojas de vestimentas típicas de LGBTQ+, o teatro e cinema, o museu, e todos os eventos de rua, além de toda a representação gráfica dos espaços (Ver fig. 15), que tornam o local um destino turístico para toda a comunidade LGBTQ+. Figura 15. Distrito Cultural de Castro.

Fonte: Kevin N. Hume (2019)

A cidade de São Paulo mesmo possuindo unidades que prestam serviços ao grupo LGBTQ+, carece de mais polos de afirmação da minoria, sendo eles, pontos de cultura, entretenimento e socialização, apoio e acolhimento, além do incentivo de órgãos públicos. Essa pesquisa busca compreender as demandas LGBTQ+ da cidade de São Paulo, e em resposta, desenvolver um projeto como iniciativa para sanar as problemáticas vistas anteriormente aqui. Estudar o tema aqui exposto, proporcionaria aos carentes de informação específica, a real situação que se encontra a cidade de São Paulo, frete a intolerância a diversidade de gênero e expressão sexual, e essa pesquisa tem como principal proposta, a disseminação e valorização da cultura LGBTQ+ juntamente com o apoio e auxílio dos diretos humanos as vítimas de atos contra a minoria e em resposta a problemática identificada, o Centro de Apoio e Cultura


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LGBTQ+ aqui proposto vem como um ponto local de resistência e autoafirmação, que proporcionaria a divulgação das identidades diversas a fim de valoriza-las e promove-las a outros grupos fora da comunidade, além da conquista física de um espaço que reafirme a condicionante LGBTQ+ criando uma identidade local e pode vir a promover uma tendência para o turismo LGBTQ+ como no caso de Castro em São Francisco EUA. Nos capítulos seguintes estará disposto informações adicionais sobre a comunidade LGBTQ+ e de como ela se relaciona com o espaço. No capítulo a seguir, será retratado a comunidade LGBTQ+ em si, falando sobre um marco que deu um start ao movimento e dando um panorama geral que se afunila a fim de retratar as condicionantes paulistanas para o movimento. No capítulo que o sucede, o espaço LGBTQ+ Paulistano entra em foco no que retrata as afirmações e suas relações socioculturais a fim de caracterizar e desenvolver os territórios LGBTQ+ de São Paulo. No terceiro capítulo o terreno é o objeto de estudo, os pontos positivos e negativos serão evidenciados, a história do local é contada a fim de fundamentar a afirmação do terreno para o projeto. Nos dois últimos capítulos o projeto é o assunto, são evidenciados referencias e estudos de caso que dão fundamento a proposta, além das condicionantes projetuais, programas de necessidades, memoriais e o projeto em sim.


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LGBTQ+: DE 1969 Á UMA AFIRMAÇÃO DE DIREITO

1. LGBTQ+: DE 1969 Á UMA AFIRMAÇÃO DE DIREITO


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Um movimento decentralizado que tem o mesmo proposito para existir e resistir, a defesa e promoção dos direitos daqueles que o compõe. A sigla é composta pelas letras dos grupos pertencentes ao movimento, sendo eles: Lésbicas, que mantém relação homoafetivas entre mulheres; Gays, que mantém relações homoafetivas entre homens; Bissexuais, que se relacionam com 2 gêneros; Transexuais, pessoas que nascem com o sexo biológico diferente do gênero com que se reconhecem; travestis, pessoas que nasceram com o sexo masculino e que se identificam com o gênero feminino, exercendo seu papel de gênero feminino; Queer, designado para pessoas que fogem das normas de gênero e heteronormatividade; e o símbolo + para incluir a todos que não se sintam representados pelas atuais letras da sigla (MDH, 2018). Hoje a sigla do movimento vai além das 4 letras mais famosas “LGBT”, a necessidade de se sentir representado faz com que mais letras sejam incluídas na sigla. Até o fim dos anos de 1980 o termo utilizado para o movimento era simplesmente “GAY” ou homossexual, que foi substituído por GLS até 1990 que se tornou LGBT, representando os núcleos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Foram adicionadas as letras “Q” para pessoas que se identificam como Queer, o “I” para pessoas intersexuais, o “A” para pessoas assexuais, o “P” e o “N” para pessoas pansexuais e não binarias e o sinal de “+” para representar quaisquer pessoas que não sintam-se representadas por umas das letras na sigla. Dentre as variações possíveis para montar a sigla do movimento, a LGBTQ+ é a mais usual, mas todas as outras variações também estão corretas e podem ser usadas normalmente para representar a minoria. 1.1 Um Breve Panorama O evento que proporcionou uma maior visibilidade para a defesa dos direitos de pessoas LGBTQ+ foi o episódio da rebelião de Stonewall em 1969, um bar no village, bairro da cidade de Nova York, EUA, onde gays, Lesbicas, travestis e drag queens em resposta às ações de investidas policiais com revistas humilhantes em bares gays de Nova York e cansadas de fugir quando percebia-se a presença dos policiais, unem-se em protestos intensos que duraram 5 dias, onde o número de apoiadores a causa aumentavam gradativamente conforme os dias iam passando, de modo a expulsar a presença policial da região. O acontecido em Stonewall se tornou base para a criação de 2 grupos importantes para o movimento LGBTQ+, o Gay liberation front e o Gay activists alliance, traduzidos livremente em “frente de libertação gay” e “aliança de ativistas gays”; grupos esses responsáveis pela organização de atos em prol do movimento, e um ano após o início da revolta de 28 de junho de 1969, deu início a primeira parada do orgulho LGBTQ+ nos EUA e desde então foram realizadas em diversos países, tornando o dia 28 de junho o dia internacional do orgulho LGBTQ+.


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Figura 16. Fachada do Stonewall inn Bar

Fonte: Acervo Wesley F. Lima (2020)

No Brasil, o movimento teve início em meio a Ditadura Militar de 1964 a 1985, como a disseminação de publicações impressas de cunho LGBTQ+ como o “Lampião da Esquina” e “ChanacomChana” (Ver fig. 17), tabloides que faziam oposição à ditadura, denúncias sobre abusos contra LGBTQ+ e apoio as causas. Um episódio que marcou o movimento Lésbicas no Brasil foi o evento onde militantes foram proibidas de vender dias antes os tabloides no Ferro’s bar, intensamente frequentado pelo público Lésbico na noite paulistana, e na noite do dia 19 de agosto de 1983, organizadas pelo Grupo Ação Lésbico-Feminista desafiaram a proibição, forçaram a entrada e leram o manifesto em prol dos seus direitos (Ver fig. 18), anos depois o dia 19 de agosto é considerado o dia do orgulho Lésbico no Brasil (FACCHINI, 2003). Figura 17. Capas dos tabloides Lampião da esquina e ChanacomChana

Fonte: Acervo Bajuba (2020)


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Figura 18. Noite de 19 ago. 1983 no Ferro’s Bar

Fonte: Reprodução (1983)

O primeiro grupo de ativismo gay do brasil foi o SOMOS, fundado em 1978 em São Paulo, já em 1979 foi a vez de um número maior de lésbicas se juntarem ao grupo SOMOS e criarem uma subdivisão dentro do grupo, denominada Lésbicas feministas, e só em 1992 é formado a primeira organização de travestis da América latina, no Rio de Janeiro (FACCHINI, 2003). O movimento ganhou mais visibilidade a partir dos anos de 1990, onde em 1995 após a 17ª conferência no Rio de janeiro da Associação Internacional de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersex, um grupo sai em marcha pela praia de Copacabana (Ver fig. 19). No ano seguinte foi a vez de São Paulo que na praça Roosevelt, reuniu um grupo que reivindicava direitos LGBTQ+ e a partir desse ato, coletivos começaram a planejar a primeira parada LGBTQ+ do Brasil, que aconteceu em 1997 na Av. Paulista e percorreu ruas de São Paulo até a Praça da República (FACCHINI, 2003). Figura 19. Marcha de encerramento da 17ª conferência internacional LGBT

Fonte: Acervo Claudia Ferreira (2020)


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O movimento é mais que um grupo de pessoas que estão na busca sem fim pela defesa da aceitação em sociedade, é um ato de ir em busca de igualdade social, sendo respeitadas pelo que são e tenham as mesmas condições de direitos legais de qualquer grupo social. O grupo é composto de grande ativismo político e atuações de cunho cultural promovendo o movimento na luta por direitos e na afirmação de existência. Mesmo não se tratando de um movimento centralizado, e tendo vários grupos, núcleos e organizações pelo mundo inteiro, os mesmos ideais são defendidos, com intensidades diferentes já que cada localidade tem sua pauta mais importante, mas os objetivos em comum são como exemplo a busca por criminalizar a LGBTQfobia como ato discriminatório, a luta pela descriminalização da homossexualidade em algumas localidades, o casamento igualitário, o direito a adoção, o reconhecimento da identidade de gênero e da expressão sexual etc. 1.2 Um símbolo de amor e representatividade Figura 20. Bandeira do orgulho LGBTQ+ 6 cores.

Fonte: Reprodução/Capricho (2019)

Hoje o maior símbolo de representatividade para a comunidade LGBTQ+ é a famosa bandeira arco-íris, na qual teve sua primeira versão desenvolvida pelo artista e ativista Gilbert Baker em 1978 a pedido do também ativista Harvey Milk para celebrar o dia da liberdade gay de São Francisco, EUA, naquele ano. Até então o triangulo rosa era o símbolo do movimento gay, mas também fazia referência aos triângulos rosas usados na Segunda Guerra Mundial por Adolf Hitler para marcas os homossexuais, assim como a Estrela de Davi marcava os judeus, era uma ferramenta de opressão, e Baker sentia a necessidade de algo que representasse uma positividade, que celebrasse o amor. (BAKER, 2019) Baker relata ter como referência a bandeira dos EUA, com suas listras que representavam as colônias inglesas que fundaram os EUA, e pensou também na bandeira da


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Revolução Francesa, com suas três listras tricolores. Como essas duas bandeiras representavam uma revolução, concluiu que a comunidade gay também deveria ter uma bandeira que representasse uma revolução e proclamasse a ideias de poder homossexuais, uma vez que a comunidade local e internacional estavam em meio a uma batalha por direitos, exigindo mudanças de status, nas palavras dele “Esta foi a nossa revolução: uma visão tribal, individualista e coletiva.” (BAKER, 2019, tradução nossa). Baker relata também que com o Bicentenário Norte Americano, ele percebeu que a bandeira Norte Americana entre em foco, estava em toda parte, nas artes, lembranças e publicidades, funcionava como uma mensagem, desse modo, percebeu a importância das bandeiras, “Descobri a profundidade em seu poder, sua qualidade transcendente e transformacional. Pensei na conexão emocional que eles mantêm.” (BAKER, 2019, tradução nossa), mais tarde, Baker se viu dançando no Winterland Ballroom, uma casa de shows em São Francisco EUA, em uma Show da Funkadelic, ele relata em seu livro que a comunidade se fazia presente e que faziam parte do show assim como a banda: Todo mundo estava lá: beatniks de North beach e zoots de bairro, os motoqueiros entediados de couro preto, os adolescentes na fila de trás se beijando. Havia garotas esbeltas e de cabelos compridos em trajes de dança do ventre, punks de cabelo rosa presos em segurança, suburbanos hippie, estrelas de cinema tão bonitas que deixavam você boquiaberta, gayboys musculosos com bigodes perfeitos, fadas de todos os gêneros em vestidos de brechós e sapatilhas de ganga. Nós montamos a bola de espelhos no LSD brilhante e no poder do amor. A dança nos fundiu, magica e purificadora. Estávamos todos em um turbilhão de cores e luzes. Era como um arcoíris. Um arco-íris. Foi nesse momento que eu soube exatamente que tipo de bandeira eu daria. Uma bandeira do arco-íris era uma escolha consciente, natural e necessária. O arco-íris veio da história mais antiga registrada como um símbolo de esperança. No livro de Genesis, apareceu como prova de uma aliança entre deus e todas as criaturas vivas. Também foi encontrado na história chinesa, egípcia e nativa americana. Uma bandeira do arco-iris seria nossa alternativa moderna ao triangulo rosa. Agora, os manifestantes que reivindicavam su liberdade no Stonewall inn Bar em 1969 teriam seu próprio símbolo de libertação (BAKER, 2019, tradução nossa)

Inicialmente Baker desenhou uma bandeira de 8 faixas de cores (Ver fig. 21) com aproximadamente 9 metros altura por 18 metros de comprimento, em tingida que ele mesmo costurou, cada cor significava um aspecto para o movimento LGBTQ+ sendo eles: rosa para o sexo e o prazer carnal, vermelho para representar a vida, laranja simbolizava cura e o poder, amarelo para luz do sol e uma claridade da vida, verde para natureza e o amor pela mesma,


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turquesa para as artes e a magia, azul simbolizar uma harmonia e pacificação, e o roxo para simbolizar o espirito, o desejo de vontade e a força. As cores faziam referência aos ideais e interesses das pessoas que faziam parte da comunidade e o quão simbólico e importante a bandeira era para o movimento, Baker em entrevista a Cable News Network (CNN) relatou como foi o momento em que pela primeira vez a bandeira era exposta em meio ao Dia do Orgulho Gay celebrado em 25 jun. 1978, a bandeira foi passou pelas mãos de milhares de pessoas, como se soubessem que aquele era o novo símbolo de representatividade (BAKER, 2015). Quando subiu e o vento finalmente o tirou das minhas mãos, me surpreendeu. Vi imediatamente como todos ao meu redor possuíam a bandeira. Pensei: ‘É melhor do que eu jamais sonhei. (BAKER, 2015, tradução nossa) Figura 21. Replica da bandeira original com 8 cores, algodão tingido

Fonte: GLBT Historical Society, São Francisco, EUA. (1998)

Após o assassinato de Harvey Milk no final de 1978, a demanda pela bandeira aumentou e para atender a demanda, a Paramounte Flag Company, empresa em que Baker trabalhava, passou a vender uma versão da bandeira usando tecido arco-íris com 7 faixas, tempo depois passou a vender um estoque excedente de bandeiras arco-íris do movimento International Order of the Rainbow for Girls (IORG), traduzido livremente para Ordem internacional do Arco-iris para meninas, que também possuía 7 faixas, sendo elas: vermelho, laranja, amarelo, verde, turquesa, azul e violeta, em meio a esta situação e atrelado ao alto custo de se produzir a cor rosa em grande quantidade, Baker passou a produzir também suas bandeiras com as 7 faixas, e em 1979 a bandeira é modificada novamente, em uma ação pública as bandeiras foram penduradas verticalmente nos postes da Market Street, São Francisco EUA, e a faixa central da bandeira ficou escondida pelo próprio poste, a solução mais fácil e rápida adotada foi a retirada


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da faixa turquesa, resultando na atual bandeira de 6 faixas, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta usadas até hoje, 41 anos (BAKER, 2019). Hoje as 6 faixas são mais que uma bandeira, ela faz parte da comunidade LGBTQ+ em cores dispostas em vários acessórios como forma de identificação e representatividade para a causa, Mas para uma melhor representatividade novas bandeiras especificas foram desenvolvidas para retratar os segmentos da comunidade (Ver fig. 22), abre-se exceção para a homossexual/gay pois a que refere a este é a famosa bandeira arco-íris de 6 faixas (Ver fig. 20). Figura 22. Bandeiras para os outros segmentos LGBTQ+

Fonte: compilação do autor. (2020)

1.3 Parada LGBTQ+ e sua importância Para contextualizar um sentimento sobre a Parada do Orgulho LGBTQ+, as anotações de Trindade (2004) em seu diário de campo de 2001 relatam o domingo da 5ª Parada do orgulho: É verdade que nem todas as pessoas que estavam ali viviam aquele momento de forma parecida. Para alguns era só mais um encontro festivo e para outros seria um dia de clamor por direitos, por felicidade. Não sei ainda qual das expectativas é de


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fato a mais válida, mas o importante é que todos foram. [...] Ainda em casa, enquanto nos preparávamos, um amigo fez um comentário interessante, segundo ele, aquele dia era pra nós o dia do Círio. O comentário surgiu em virtude de sermos – ele e eu - de Belém do Pará, onde acontece a festa do Círio de Nazaré. Esta festa é uma cerimônia religiosa que leva pras ruas mais ou menos um milhão e meio de pessoas e é o momento de maior expressão de fé de minha cidade. O nervosismo e a ansiedade na espera pelo Círio estavam de alguma forma comparados ao que vivíamos naquele momento. Nossa fé era na visibilidade, que gritaria nossa existência. No caminho para o metrô, fez-se uma verdadeira festa. Fotos na frente do prédio em que não faltavam caras e bocas, comentários mordazes. Éramos um grupo relativamente grande e no caminho, ficava claro para as pessoas que olhavam atentas, para onde estávamos indo. A chegada ao metrô foi diferente de qualquer outro dia. Mais fotos e atitudes histriônicas por parte de alguns de nós. Era como se fosse aquele o momento de gritar, das mais diversas formas e em espaços públicos, brincadeiras que estavam restritas a espaços privados. [...] Na chegada (estação Brigadeiro) havia um número muito grande de pessoas [...]. Trajes nada convencionais, rapazes seguiam de mão dadas, moças acompanhadas de suas namoradas e muitos grupos – Homossexuais? – rumavam para a concentração. [...] Não faltavam, também, os trajes como fardas, homens de saia, mulheres de gravata, sado-masoquistas e muitas outras manifestações peculiares ao universo da homossexualidade. [...] Ao mesmo tempo que minha atenção era desviada para as pessoas que me atraíam, eu não perdia de vista o fato de que aquele era um momento muito importante para minha pesquisa e cada uma daquelas pessoas representava as transformações sociais que eu tanto perseguia. [...] Segui, inicialmente, o carro em que cantavam Édson Cordeiro e Elza Soares. Elza havia, provavelmente, sido convidada muito em cima da hora e fazia um show na base do improviso. Vestida de forma tão exuberante quanto as drag queens, a cantora a todo momento falava da importância do respeito pela diversidade, aliás, palavra que orientava praticamente todas as falas dos manifestantes que iam ao microfone de algum carro. [...] A apresentadora oficial era Silvetty Montila, a mais conhecida Drag paulistana, que usava, como aconteceu no ano anterior, um vestido salientando as cores do arco íris. Essa era uma referência constante na parada [...]. O arco-íris parece ser o mais nítido símbolo da globalização no que se refere á homossexualidade, já que é um símbolo do movimento homossexual dos países desenvolvidos e que destaca em causas gays mesmo em países da periferia do capitalismo [...]. Durante o percurso, muitas coisas chamavam minha atenção: Uma lésbica em cadeira de rodas que trazia, nas costas da cadeira a frase ‘Cá? Gay!’, um homossexual já bem idoso, vestido com uma camisa cor de rosa, de modelo bem convencional, um trenzinho de lésbicas, o carro das travestis, além da intensa presença de crianças e velhos. A caminhada seguiu até a praça da república, onde havia um palco em que os organizadores do evento e alguns artistas presentes se manifestaram. (TRINDADE, 2004)


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Figura 23. Parada LGBTQ+ de Nova York

Fonte: Calla Kessler / New York Times (2019)

As Paradas LGBTQ+ espalhadas pelo mundo levam milhões de pessoas as ruas, como relata Trindade (2004) em suas anotações, o que levam essas pessoas a este evento são propósitos distintos e pessoais, mas o sentimento sempre é festivo, é uma comemoração por tudo que já passou em conquistas, por estarem ali afirmando que existem e resistem, e para as próximas gerações. Mas uma coisa é certa, o papel político das Paradas é o fator determinante para o evento, uma vez que, qualquer ato LGBTQ+ é um ato político de afirmação e luta, e a Parada proporciona uma visibilidade para esses atos de militância, o que se espera é poder ter suas causas atendidas a fim de proporcionar uma vida mais fácil frente as constantes violências discriminatórias, para a geração atual e para as próximas. As Paradas também fazem meio para expor uma gama de práticas culturais LGBTQ+ que normalmente estão restritas a bares, boates, espaços privados e poucos espaços públicos, práticas que são vivenciadas livremente pelas ruas que recebem as Parada e pelas ruas que fazem trajeto até elas. Uma oportunidade para redefinir velhas personificações LGBTQ+, homens em roupas femininas e mulheres de gravatas, outros homens esbanjando fetichismo com seus trajes de couro representando o sadomasoquismo, e bastante fitas e bandeiras coloridas, maquiagem perfeitas em corpos que não se definia gêneros, um espaço para todas as pessoas e idades, em afirmação constante. As cidades respiram amor e liberdade nos dias que precedem as Paradas, muito mais facilmente encontrasse casais que se sentem livres para expressarem caricias e beijos, as múltiplas identidades se desabrocham em festa exibindo seus estilos de vida, todos os tipos de


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corpos, gêneros, e expressões sexuais; empresas LGBTQ+ entram em cena para apoiar a causa e divulgar seu trabalho, outras empresas também aparecem em apoio, talvez por querer aproveitar do PINK MONEY, referente ao poder comercial da comunidade LGBTQ+, muitas empresas e pessoas públicas tentam se autopromover a fim de abarcar essa parcela comercial. Figura 24. Reportagem Parada LGBT movimenta 403 milhões.

Fonte: Portal de notícias G1. (2019)

As Paradas LGBTQ+ tem sim um grande potencial financeiro, e esse potencial é bastante explorado (Ver fig. 24), pessoas viajam para as cidades que tem suas Paradas, empresas de transportes lucram batente, outro segmento lucrativo é o de hospedagem, já que todas essas pessoas precisam ficam ali por alguns dias, empresas turísticas se validam no movimento visando uma boa parcela lucrativa, também é perceptível uma constante divulgação de marcas, são flyer’s, leque de papel com divulgações, stands de empresas de entregas de alimentos e produtos, cartazes grandes sites e marcas de eletrônicos, distribuição de brindes de marcas dos mais diversos tipos, e vários trios-elétricos patrocinados; mas empresas pequenas também lucram, com um grande percentual de pessoas na cidade, os bares, boates, saunas, restaurantes e vendedores ambulantes tem suas clientelas multiplicadas gerando mais lucro no período. Figura 25. Parada LGBTQ+ de Nova York

Fonte: Calla Kessler / New York Times (2019)


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Cada Parada tem sua configuração, em alguns países acontece como um desfile de entidades locais do segmento LGBTQ+ ou que prestam apoio a eles (Ver fig. 25), e tem Paradas, como a de São Paulo, que se traduz em uma grande mistura de pessoas em meio a rua, dançando a variadas músicas dos trios-elétricos em uma grande festa cultural de representatividade (Ver fig. 26). Trindade (2004) ressalta que à medida que a Parada de São Paulo crescia em números, um avanço era perceptível avanços em telenovelas, publicações e informativos, representados em uma discursão mais positiva, de modo que um número maior de pessoas pertencentes a comunidade LGBTQ+ passaram a crer em uma credibilidade em assumir essa condicionante de vida, outros que não pertencem a comunidade, percebem a naturalidade das pessoas LGBTQ+ e o quanto eles evoluíram em conquistas. Figura 26 Parada LGBTQ+ de São Paulo

Fonte: Reprodução/google (2020) No Brasil a Parada continua a ser comparada a um carnaval fora de época, mas o carnaval é uma celebração cultural assim como a Parada é uma celebração cultural, o carnaval é uma festa assim como a Parada é uma festa que celebra o orgulho, e como acontecem as celebrações? Com festividades e todas essas festividades são atos políticos, desse modo, estão diretamente interligados, celebrar o orgulho de ser LGBTQ+ em um ato festivo e político. 1.4 A cidade de São Paulo Como objeto de estudo, a cidade de São Paulo entra em foco evidenciando uma percepção da população em relação as causas e direitos LGBTQ+ e em contra partida é retratado


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possibilidades adotadas pela Prefeitura Municipal de São Paulo para uma mudança no cenário LGBTQfobico existente na capital paulista. 1.4.1 Um panorama estatístico: Intolerância De acordo com a pesquisa Viver em São Paulo: Respeito LGBT+, a maioria relativa dos paulistanos afirmam que a administração Municipal tem feito pouco para combater a violência contra a população LGBTQ+, com um percentual de 46% no ano de 2018 e 43% no ano de 2019, em contra partida aos 8% em 2018 e 10% em 2019 que consideram que o município fez muito, relatando que 6 em cada 10 paulistanos consideram importantes a elaboração e implementação de políticas públicas municipais que promovam a igualdade de direitos a fim de se ver respeitado os direitos e as expressões sexuais e de gênero, onde uma valorização dos grupos minoritários seja o ideal para uma sociedade igualitária. A pesquisa também revela que é crescente a percepção de intolerância nas regiões sul e centro (Ver fig. 27), ressaltando que enquanto pretos/pardos de classe mais baixa percebem São Paulo como uma cidade mais intolerante com a população LGBTQ+, as classes mais abastardas e brancos veem como indiferente, criando evidencia territorial para áreas que necessitam de uma intervenção atuante na promoção da igualdade e do respeito a diversidade (IBOPE, 2019). Figura 27. Percepção de tolerância LGBTQ+

Fonte: IBOPE adaptado pelo autor (2019)


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Em todas as regiões de São Paulo, os espações públicos são os locais onde os moradores mais afirmam enfrentar sofrendo ou presenciando situações de discriminação em função de gênero ou expressão sexual (Ver fig. 28), são 882.632 mil habitantes declarando ter sofrido ou presenciado em pelo menos um ambiente dos investigados e 196.140 mil habitantes para todos os ambientes investigado, ter sofrido ou presenciado alguma discriminação em um ou mais desses locais impacta diretamente na avaliação para o grau de tolerância da cidade, nesse sentido a promoção da diversidade e do respeito contribui para sanar ou diminuir as iniciativas discriminatórias presentes nesses ambientes (IBOPE, 2019). Figura 28. Sofrido ou presenciado discriminação LGBTQ+ por região de São Paulo

Fonte: IBOPE adaptado pelo autor (2019)

Outro fator apontado pela pesquisa, é de que um quarto dos entrevistados não se informam ou não tem acesso à informação sobre os direitos LGBTQ+, e dos que se informam, as fontes mais utilizadas são a internet e a televisão, cabe destacar também a importância desses meios como influenciadores e portadores da informação, e de como eles podem colaborar para uma melhor dinâmica de respeito as diversidades, mas evidencia a necessidade de locais físicos que tenham livre discurso para o debate das questões, como as escolas, universidades, grupos de discursões, centros acadêmicos e coletivos, assim como os centros de cultura e apoio e encontros, na fig. 29 está evidenciado os três meios mais populares de acesso as informações a respeito dos direitos LGBTQ+ para cada região da cidade de São Paulo (IBOPE, 2019).


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Figura 29. Meios de Informações sobre direitos LGBTQ+

Fonte: IBOPE adaptado pelo autor (2019)

1.4.2 Por uma cidade afirmativa Figura 30. São Paulo com Respeito

Fonte: Reprodução / Prefeitura de São Paulo (2019)

A prefeitura de São Paulo em seu programa de metas da gestão de 2013-2016, decidiu por incluir como objetivo o combate a LGBTfobia e o respeito a diversidade sexual para a população. Como ação concreta, a prefeitura criou e instalou quatro Centros de Cidadania LGBT+ que desenvolvem ações permanentes de combate a homofobia e respeito a diversidade. Além das sedes fixas da vila Buarque, Santo Amaro, São Miguel Paulista e Casa verde, o projeto contava com mais quatro unidades moveis, e o conjunto dessas unidades tem como ações o atendimento a vítimas de violência, discriminação e preconceito, com prestação de apoio


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jurídico, psicológico e de serviço social além de dar apoio aos serviços públicos municipais, mediação de conflitos, palestras, seminários e debates. A prefeitura também possui um Conselho Municipal de Políticas LGBTQ+ que atua como um órgão consultivo e propositivo, com a finalidade de elaborar, monitorar e avaliar políticas públicas destinadas aos direitos da população LGBTQ+, além da Delegacia de crimes raciais e de intolerância (DECRADI), o Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da Igualdade Racial, e a Coordenação de políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo. Em 29 de novembro de 2019, foi inaugurado pela Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, o Centro Cultural da Diversidade (CCD), que ocupa as instalações do Teatro Décio de Almeida Prado e da Biblioteca Anne Frank, na região sul da capital. A iniciativa tem como principal objetivo a ampliação e a divulgação da diversidade LGBTQ+ no âmbito cultural, os equipamentos tiveram mudanças em suas estruturas, programações e acervo afim de atender ao objetivo do mesmo. Um conjunto de programas e projetos também compõe as ações do município, como o programa Transcidadania que reintegra e devolve a cidadania de travestis e transexuais em situação vulnerável, utilizando da educação como ferramenta de reintegração, dando oportunidade de conclusões de ensino fundamental e médio, qualificação profissional, além de acompanhamento jurídico, psicológico, social e pedagógico durante os 2 anos de permanência no programa. Outro Programa é o casamento coletivo igualitário, dando a oportunidade para casais homoafetivos que não possuam condições financeiras a realizar a união civil, ação já realizadas nos anos de 2017, 2018 e 2019, dando visibilidade a um direito já conquistado pela comunidade. Desenvolvido pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, o Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRDD) presta serviço as pessoas LGBT+ que encontrasse em vulnerabilidade social. O objetivo é dar todo o suporte necessário para que aquele que procure o local, se sinta acolhido e importante, são oferecidos vários cursos dentro do CRDD, divididos em 3 categorias, sendo eles os cursos de capacitação: maquiagem, cabelereiro, barbearia etc; os cursos de ensino: idiomas e informática; e as oficias com foco no bem estar, como danças e yoga. Como iniciativa para a saída da atual situação da cidade em relação as questões discriminatórias no contexto LGBTQ+ e com proposito de incentivar uma melhor interação entre os grupos sociais, foram feitas as intervenções destacadas anteriormente neste capítulo por meio da Prefeitura Municipal, para colaborar com essas iniciativas a promoção de cultura


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LGBT+ proporciona uma maior diversidade cultural e uma aceitação comum em sociedade, consumimos cultura de diversas formas, cinema, música, teatro, museus, centros culturais e festividades muitas vezes por diversão ou relaxamento, mas também pela intenção de absorver sentimentos e sensações, e as vezes simplesmente passamos por locais e absorvemos o que está sendo exposto, usufruindo deste consumo intencional ou por oportunidade, a proposta de um Centro de Cultura pretende trabalhar inserindo o contexto LGBTQ+ e a partir de dessa inserção promover questionamentos sociopolíticos com intenção educacional a fim de sanar ou diminuir a discriminação sociocultural LGBTQ+. No município de são Paulo, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) é a responsável pelas políticas de tipificação da rede socioassistencial, que seguem as diretrizes da Portaria 46/2010 da própria SMADS, as diretrizes da Portaria dizem respeito aos serviços prestados e os recursos humanos necessários para cada equipamento, de modo geral, determina o que cada instalação deve ter estruturalmente e como deve funcionar para atender cada tipo de público. Dentre as diretrizes que norteiam as ideias para o projeto como resposta as problemáticas identificadas, pode-se aplicar a um Centro de Cultura e Apoio LGBTQ+ as normas dos CRDD, de centros de acolhimento a pessoas em situação de rua e das repúblicas, de forma que caracterizada pelo conjunto das normas e diretrizes da SMADS, se adequando as necessidades e especificidades do perfil do usuário e proporcionando a integração das atividades que visam o atendimento, orientação, o acompanhamento, a capacitação, a cultura e o entretenimento de modo a atender as demandas do público LGBT+. 1.4.3 A Parada LGBTQ+ Praça Roosevelt, São Paulo 28 de julho de 1996, data a qual o jornalista Paulo Giacomini por meio do jornal Folha de São Paulo, incentivava uma concentração com um discurso em que a comunidade homossexual se sentia pertencente, Giacomini se referia a Stonewall na intenção de fazer o leitor LGBTQ+ se sentir comovido e pertencente as lutas que lá ocorreram, e a partir disso, se fazer presente no evento que iria ocorrer na Praça Roosevelt em festa pela história e por uma visibilidade e afirmação (TRINDADE, 2011). Giacomini escreveu: Vamos ferver no orgulho gay? A marcha Lesbian & Gay Pride acontece todos os anos em várias partes do planeta. Em Sampa, o povo toma um copo de leite, se atira da janela e cai na real. Sem desfiles, mas com triangulo rosa pra dar e camisinha pra vender, vão fechar a rua, chamar um trio elétrico e dançar quadrilha com as drags. Em 1969 você já era nascido? A polícia nova-iorquina invadiu pela


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última vez o Stonewall Bar. Desde então, muita coisa mudou. É o orgulho gay, que muita gente adora mostrar. Se anima! Se estiver muito frio, tira um casaco do armário e sai com ele pra dar uma volta. Se não quiser aparecer, ponha uma máscara, se veste de caipira, mas vá” liiinda! – Paulo Giacomini. Revista da Folha, 23/06/96. P.42 (TRINDADE, 2004).

E no dia marcada, a Praça roosevelt tinha apenas algumas pessoas, dentre eles: militantes, Drags, pessoas da cena homossexual e alguns punks. A ideia de que o anonimato é mais seguro para suas vidas em sociedade ditava o comportamento, como um jornalista paulistano ressaltou que o homossexual brasileiro preferia o anonimato de seu armário a uma exposição pública de sua orientação sexual, uma afirmação contraditora, uma vez que bares, boates e saunas da região central e ruas do bairro dos jardins estavam sempre repleta de homossexuais que pouco se importavam em ter ou não sua sexualidade exposta (TRINDADE, 2011). A fim de uma maior visibilidade, pouco alcançada naquele ano, os organizadores pretendiam ocupar um espaço de maior visibilidade de são Paulo, o centro financeiro da cidade, a Av. Paulista. Com a ideia em mente, os organizadores começaram a se mobilizar para realizar o ato no ano de 1997, encaminharam solicitações requerendo uma autorização para realizar o ato na avenida, e somente no sábado que antecedeu o domingo da parada, um jornal noticiava que a CET negava a solicitação dos organizadores. Dia 28 de junho de 1997, grupos de ativismo e representatividade além de um bom número de gays, lésbicas, travestis e Drag Queens ocupam a Av. Paulista em comemoração, foi realizado mesmo sem a autorização a primeira Parada do Orgulho GLT, sigla para gays, lésbicas e Travestis utilizada até então, de São Paulo com aproximadamente 2 mil pessoas que em festa seguiam afirmando sua existência percorrendo a Avenida Paulista, descendo pela Rua da Consolação e seguindo até a Praça da República, o evento foi considerado um sucesso e uma vitória para a comunidade, ele havia adquirido proporções nunca vista antes, e diferente do que foi informado pela Polícia militar, os organizadores informam que a Parada chegou a 6 mil pessoas (TRINDADE, 2011). A notória atividade na capital paulista deu novos princípios de representatividade para a cidade, a homossexualidade mais uma vez se mostrava ser muito mais que estereótipos cômicos ou socialmente inferiores, o anonimato não era mais necessidade primordial, assumiram sua homossexualidade, travestilidade e identidades sexuais buscando direitos, visibilidade e festejavam representatividade para adiante. No ano seguinte veio a necessidade de instituir uma organização responsável pela Parada, a fim de proporcionar uma maior visibilidade e uma crescente proporção numérica,


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nasceu dessa necessidade a Associação do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT SP) que multiplicou as ações e os diálogos com instituições empresariais e o Estado, estruturando uma melhor Parada. No dia 25 de jun. saia um artigo na Folha de São Paulo, ‘Sou homossexual e me orgulho disso’ assinado por Maria Izabel da Silva, a Secretária de Políticas Públicas da Central Única dos Trabalhadores, CUT, em seu texto Silva fazia referência a Stonewall como o primeiro ato contra uma discriminação e a frase que dá título a seu artigo foi bastante frisada pelos manifestantes que pelos anos seguintes estruturavam o movimento por direitos civis, em seguida Silva relata como o movimento se estrutura no Brasil e no texto extraído do artigo, ela relata como começou as comemorações e faz chamada para a Parada do ano em questão, enfatizando a apropriação do circuito da Av. Paulista, e Silva também ressaltou a importância da CUT, frente a necessidade de preservar a integridade social dos trabalhadores LGBTQ+ As comemorações brasileiras do 28 de junho, no entanto, são recentes. Foram assumidas a partir de 1996, aqui em São Paulo. Em 1997, a 1ª Parada do Orgulho GLT (Gays, Lésbicas e Travestis) reuniu cerca de 2.000 pessoas, entre vários artistas e personalidades, que levantaram o tema "Estamos em Todos os Lugares e em Todas as Profissões". A 2ª Parada do Orgulho GLT percorre de novo o circuito avenida Paulista-praça Roosevelt este ano. A atividade começa às 14h, em frente ao prédio da Gazeta. A manifestação quer chamar a atenção para o fato de que nós -gays, lésbicas ou travestis- somos sujeitos com direitos e exigimos da sociedade tratamento igual. Nossa opção sexual não nos faz diferentes dos demais cidadãos. Exatamente por isso, não podemos admitir nem a violência policial nem a homofobia que presenciamos frequentemente em nossos bairros, cidades, Estados. Também não podemos admitir de forma alguma a discriminação nos locais de trabalho. O movimento sindical cutista não deve ficar indiferente à realidade vivida pelos trabalhadores e trabalhadoras que têm como opção sexual parceiros do mesmo sexo. Assim como as resoluções que tiramos em nossos congressos pregam a luta pela igualdade de oportunidades para as mulheres e contra a discriminação racial no mercado de trabalho, devemos nos lançar à criação de uma política voltada para a questão da homossexualidade. Qualquer pessoa sensata há de concordar que o preconceito sobre uma trabalhadora negra e lésbica é triplo. Se um trabalhador for negro e gay, então, está perdido. É vítima de todo e qualquer tipo de piada e chacota. Romper dentro de cada um de nós o próprio preconceito e fazer com que a Central Única dos Trabalhadores se preocupe, de fato, com toda a classe trabalhadora (independente de raça, sexo ou opção sexual) é o que proponho que este 28 de junho signifique para todos os que miram o horizonte em busca de um país socialmente justo e capaz de fazer valer o exercício da liberdade de expressão e de opção sexual. Para isso, convido você a participar da 2ª Parada do Orgulho GLT. E, quem sabe, no próximo ano possamos falar em GLTS (Gays, Lésbicas, Travestis e Simpatizantes). (SILVA, 1998).


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Outra chamada para a Parada foi também publicada pelo jornal Folha de São Paulo no dia 28 de jun., dessa vez, quem assinava era André Fischer, importante figura para o movimento LGBTQ+ que promoveu diversos eventos de cultura LGBTQ+ como o importantíssimo Festival Mix Brasil que exibiu pela primeira vez para um grande púbico filmes abertamente do universo homossexual. Em seu artigo, Fischer comenta sobre a Parada de São Francisco relatando como ela é grande em números e magica em sentimentos e representatividade, e a partir desta informação, faz convite para a Parada de São Paulo a fim de torna-la algo como São Francisco, ele abre seu convite a toda população, mas ressalta que um princípio básico deve existir para que seja bem aceito, o respeito pelas pessoas: Na Market Street, principal via de S. Francisco, nos EUA, todos os postes estão decorados com imensas bandeiras do arco-íris, que foram colocadas pela prefeitura com um mês de antecedência -tudo para celebrar o Pride. Participam da grande parada de hoje associações de empregados gays de todas as grandes empresas, carros alegóricos das principais casas noturnas e dezenas de grupos comunitários como Filhos de Lésbicas e Pais de Gays. Você pode achar tudo isso muito distante da realidade paulistana, mas para que as coisas chegassem a esse nível, foi preciso uma boa cota de participação dos que acreditam que as transformações são possíveis. Enquanto isso, São Paulo caminha para uma maior organização e visibilidade de gays e lésbicas e hoje, pela segunda vez, acontece a "Parada do Orgulho Gay" na av. Paulista, dando provas que estamos mais próximos de chegar lá. A concentração começa às 14h em frente ao edifício da Gazeta (av. Paulista, 900) e a parada sai às 15h, descendo a avenida em direção a Consolação até a praça da República. Se no ano passado a coisa já foi animada, este ano deve ser mais ainda. Muitos artistas já garantiram presença e um carro de som promete fazer bastante barulho durante a manifestação. Os organizadores escolheram um mascote para o Pride paulista. O cachorro Friday (tido como gay) deve ser um dos destaques. Vale sempre lembrar que a parada é acima de tudo uma demonstração de liberdade e respeito e, independentemente da orientação sexual e crenças políticas, todos são convidados a participar e dar seu apoio. (FISCHER, 1998)

A concentração do evento no dia 28 de jun. foi em frente ao prédio da Gazeta e contava com 3 trios elétricos, alguns carros alegóricos e uma extensa bandeira arco-íris estendida pelas mãos dos participantes. Personalidades como a então deputada federal Marta Suplicy e o deputado estadual Paulo Teixeira além de artistas da TV e teatro, militantes de maior visibilidade e a grande parcela da população, e pela primeira vez a marca numérica de 8 mil pessoas foi alcançada pelo evento segundo a Polícia Militar, PM (TRINDADE, 2011).


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A edição do ano de 1999 tornou a ter uma chamada em um artigo na Folha de São Paulo, dessa vez quem assinava o artigo intitulado “Celebre os ‘gay 90’s’ na Av. Paulista” era a colunista Erika Palomino, ela relatou sobre os números dos anos anteriores e de como a festividade política pretendia ser estruturada naquele ano, uma figura que se consolidava na apresentação da Parada era a Drag Queen Silvetty Montilla, personalidade da noite paulista que fazia shows performáticos em boates, e nesse ano a parada entrava para o calendário oficial de São Paulo, Palomino ressalta também a fala do presidente Norte-Americano, Clinton, que fala que a tolerância deveria ser adquirida não só por legislação, mas pela mudança de sentimentos da população: Se esses foram realmente os "gay 90's", hoje é sua última chance para celebrá-los, aqui em São Paulo. A Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) acontece a partir de 14h, com concentração na avenida Paulista, em frente ao prédio da Gazeta. A marcha parte às 15h em direção à praça da República, descendo pela rua da Consolação e passando pela avenida Ipiranga. A parada existe aqui há três anos. No primeiro, o público estava tímido (2.000 pessoas), mas no ano passado a coisa virou. Parece que baixou um orgulho mesmo e na última hora apareceram 7.000, que ocuparam toda a rua Rego Freitas (na região central), teve link no "Faustão", reportagem no "Fantástico", uma festa. Agora são esperadas 14 mil pessoas. A ex-deputada Marta Suplicy, militantes e personalidades relacionadas à causa gay devem comparecer. Sem falar no segmento S da sigla GLS, os tais simpatizantes. Estão prometidos sete carros alegóricos, das principais boates gays de São Paulo (Blue Space, Station/ Frenesi, Nostro 2000, Ponto G, Diesel & B.A.S.E, Mad Queen, So Go). Temas em debate junto à comunidade, como direitos humanos e violência; Aids; parceria civil registrada; e o levante de Stonewall (que originou a data das comemorações do "Gay Pride" nos EUA) serão lembrados em faixas e cartazes. Estará na parada também a bandeira do arco-íris, com 50 metros de comprimento, que será aberta assim que os participantes começarem a caminhada. A apresentadora drag Silvetty Montilla (estrela dos shows de boates) vai comandar a parada com seus famosos gritos de guerra. Na praça da República, outra diva do underground paulistano, Claudia Wonder, apresentará as atrações, que incluem a dupla de tecno Tétine e outras drags, como a top Dimmy Kier. Apesar de a parada fazer parte do calendário oficial da cidade, os organizadores reclamam não ter recebido qualquer verba da prefeitura, o que, segundo Paulo Giacomini, conselheiro fiscal da parada, comprometeu a organização e a divulgação. "Não é como uma rave, por exemplo, em que as pessoas já conseguem as coisas e existe toda uma infraestrutura. Este ano conseguimos CGC para a parada, mas ainda estamos no caminho da profissionalização." O evento todo custou R$ 25 mil. Em Nova York, a parada aglutina todos os segmentos do mundo gay e seus temas emocionam até quem não faz


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parte do movimento. O Brasil está ainda distante da articulação norte-americana -o levante de Stonewall, símbolo da luta de gays e lésbicas dos tempos modernos, completa agora 30 anos-, mas vale a pena lembrar a fala do presidente Clinton ao decretar junho como o mês do orgulho gay e lésbico, no dia 11 passado: "Não podemos adquirir verdadeira tolerância simplesmente pela legislação, precisamos mudar corações e mentes". Este domingo pode servir para isso. Orgulho gay "djá". (PALOMINO, 1999).

Os quatro primeiros anos da Parada foram essenciais para firmar o evento como um ato político pertencente a comunidade LGBTQ+ de São Paulo, foram atos de liberdades realizados em meio a uma recente saída de um período bastante repressor, fica evidente com os números de presentes divulgados que a população LGBTQ+ abraçava o evento e se faziam presentes pela representatividade, a Drag Kaká di Polly relata em entrevista para o documentário ‘a maior parada do mundo’ que o primeiro ano, 1996, não aconteceu como parada e sim como um manifestação com aproximadamente 200 pessoas (TV BRASIL, 2018), no ano seguinte tinham 2 mil pessoas na avenida paulista, no terceiro ano se registravam 8 mil e em 1999 o número chegava a 35 mil segundo uma matéria publicada no dia 26 de jun. 2000 na Folha de São Paulo (Ver fig. 31), os quatro primeiros eventos tinham como tema a visibilidade GLT e uma consolidação como um ato político. Figura 31.Materia sobre Parada GLBT dos anos 2000

Fonte: Reprodução/Folha de São Paulo (2000)

O ano agora são os 2000, a aposta da organização era 100 mil pessoas na Av. paulista, e em desenvolvimento, a organização montou uma programação que começava no dia 20 de jun. com a entrega do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade e uma peça teatral, a programação continuava pelos dias a frente com exposições, debatas, peças teatrais e mostra de


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cinema e concluía a semana com o domingo da IV Parada do Orgulho GLBT, que neste dia atingia a expectativa da organização, eram 120 mil segundo a organização e 100 mil segundo a PM (Ver fig. 31), a editora Laura Bacellar afirma que na visão dela ter noticiado que viriam 100 mil pessoas colaborou para que o evento fosse bastante coberto pela mídia e em decorrência dessa cobertura a Parada cresceu em números nos anos seguintes, como ela ressalta que todas as televisões cobriram o evento mas eles focavam no estereótipo do gay afeminado e Drags Queen para passar na tv mas na visão aérea do evento se mostravam as diversas identidades presentes. Foi o evento que provou que o Brasil tinha sim mais de 100 mil identidades LGBTQ+ e colocou São Paulo entre as maiores paradas LGBTQ+ do mundo (TV BRASIL, 2018). Em 2001, a edição da V Parada do orgulho ganha um acréscimo maior em eventos para a Semana do Orgulho, como exemplo um simpósio sobre DST, um show e o Gay Day no Hopi Hari, Trindade (2011) ressalta que por mais que a questão mercadológica esteja sendo bem explorada, não se deve ocultar a projeção que o movimento LGBTQ+ vinha adquirindo, ele também ressalta que em outros países importantes marcas se aliam ao público LGBTQ+ e que isso não ocorria aqui no Brasil, sendo um fator que de certo modo não permitia um avanço maior no número de pessoas presentes nas Paradas anteriores, e quando se percebe que o movimento ganha visibilidade nas mídias, entidades políticas e de mercado passam a querer produzir um mercado mais segmentado para esse público especifico, visando a boa parcela lucrativa, como relata em: Os homossexuais eram agora incluídos mercadologicamente como “consumidores privilegiados”, ainda que tal ideia se ampare em reificantes discursos: não constituem família, possuem bons graus escolares, são exigentes com seus gastos e são afeitos ao hedonismo. Mas o ponto positivo estava na inclusão desse segmento nas formulações de políticas públicas, na apropriação midiática diversa, na elaboração de estratégias econômicas desse grupo e na formulação de campanhas publicitárias. (TRINDADE, 2011).

Trindade (2011) volta a ressaltar que nesse momento a comunidade era retratada como um valioso consumidor, e que muitos desses que se faziam presentes pertenciam a parcelas de camadas medias e altas. E a população LGBTQ+ voltou a demonstrar que são muitos, foram 200 mil pessoas presentes no dia 17 de junho fazendo o circuito já consagrado das Paradas do Orgulho GLTB (TRINDADE, 2011). Em 2002, o número de empresas a investirem no seguimento LGBTQ+ aumentam mais uma vez, e a Parada precisava de uma maior estrutura para receber uma maior quantidade de pessoas para o evento, frente a essa questão o poder


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público entrou com uma ação de apoio logístico, o site Mix Brasil também divulgou programações das casas noturnas, além da já conhecida programação para Semana do Orgulho (TRINDADE, 2011). No domingo da Parada, as diversas identidade foram abordadas como pertencentes ao movimento e mereciam a tal visibilidade, e em decorrência dessa possibilidade de visibilidade, a expectativa de 300 mil pessoas foi bem superada, se falava em 700 mil pessoas pela organização mas a PM divulgou um número de 400 mil pessoas, mas mesmo com os números da PM, a Parada do Orgulho de SP superou as Paradas da França, 250 mil pessoas, e de São Francisco, com 300 mil pessoas (COELHO, 2002). De 2000 a 2002 as temáticas abordadas para a Parada visavam promover a diversidade envolvendo a sociedade na causa a partir do respeito, e que o modelo bem-sucedido das paradas até então realizadas em São Paulo serviram de base para influenciar diversas cidades brasileiras a produzirem as suas primeiras Paradas do Orgulho. Figura 32.Materi de capa VII Parada do Orgulho GLBT

Fonte: Reprodução/Folha de São Paulo. (2003)

Em matéria na capa, Folha de São Paulo retrata a VII Parada do Orgulho GLBT (Ver fig. 32), a matéria revelou que 800 mil pessoas se fizeram presentes segundo a PM e 1.300 milhões de pessoas para os organizadores, tornando a Parada a terceira maior do mundo. Pela primeira vez o evento contava com um trio elétrico da prefeitura dentre os 21 trios elétricos onde a então prefeita Marta Suplicy e o então presidente nacional do Partido dos trabalhadores (PT) José Genoino foram os destaques, também estavam presentes os integrantes do programa


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Casseta&Planeta mas sua presença foi questionada por militantes pelo teor homofóbico de suas piadas, se fizeram presentes pessoas de várias idades, as duas pistas da Av. Paulista ficaram ocupadas, assim como as duas faixas da Rua da Consolação (IZIDORO, LEITE e LAGE, 2003). Uma vez consolidada como evento fixo no calendário oficial de São Paulo e para a população, as temáticas a partir de 2003 passaram a retratar as demandas da comunidade LGBTQ+, propondo uma maior pressão política a fim de garantir existente e efetivo os Direitos Humanos para a comunidade. Em 2004 a PM divulgou 1,5 milhões e a organização 1,8 milhões de pessoas presentes na Parada como retrata uma matéria publicada no dia 14 jun. na Folha de São Paulo, e foi retratado como o segundo maior evento da história da cidade (LEITE e MENA e LAGE, 2004). Já em 2005 o mesmo jornal retratava uma matéria intitulada ‘Parada gay tem ampla presença feminina’, os depoimentos desta matéria relatavam as mulheres e sua forte presença, além das várias identidades lésbicas. A matéria também relatou 1,8 milhões de pessoas segundo a PM e 2.5 de acordo com os organizadores (CAPRIGLIONE e MENA, 2005). Pela primeira vez a Parada ocorreu no sábado em decorrência da Copa do Mundo, mas a mudança do dia não atrapalhou o evento, e com 2 milhões de pessoas segundo a PM e 3 milhões para os organizadores, a parada de 2006 continua a ser a maior do mundo, mas um fator pretendia acabar com a festa na Av. Paulista, um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), o então prefeito Gilberto Kassabe afirmava que o evento não poderia mais ocupar a Av. Paulista e que em 90 dias apresentaria três sugestões de locais para a Parada (TÓFOLI, 2006). A TAC previa multa de 30 mil caso a Parada não saísse da Av. Paulista até as 18h mas em negociação a APOGLBT SP encontrou um meio termo e a Parada teria que deixar a paulista antes da 20h, uma realidade bem diferente do que aconteceu em 2005 onde a parte final do evento só deixou a Av. Paulista em direção a Praça Roosevelt por volta das 22h (FIGUEIREDO, 2006), e mesmo com todas as circunstancias apontando para um retrocesso, a Parada ocorreu na Av. Paulista levando mais um recorde de público, e desde então sendo um dos poucos eventos com autorização, a Parada continuou a atuar no circuito Av. Paulista/Rua da Consolação e finalizando entre a Praça Roosevelt e a Praça da República (TRINDADE, 2011). Como retratou a matéria da Folha de São Paulo no dia 11 jun. 2007 ‘Parada gay cresce; diversão e problemas, também’, com um número de 3,5 milhões pessoas de acordo com o cálculo da organização, ficou difícil proporcionar uma parada bem organizada e segura, foram contabilizados 50 atendimentos somente em 1 dos 13 postos de atendimento médico, dentre eles 15 eram vítimas de agressão e 4 pessoas foram presas em flagrante por roubo. Por um outro lado, o evento foi mais um vez gigantesco e festivo, muito beijo na boca, várias pessoas fantasiadas e pais com seus filhos (BERGAMASCO e TÓFOLI, 2007).


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Figura 33. Parada GLBT na Av. Paulista

Fonte: Reprodução/G1 (2008)

Em equívocos sobre o número do público de 2008, somente na quarta feira dia 28 de mai. a organização divulgou 3,4 milhões de pessoas na XII Parada do Orgulho GLBT (G1, 2008). A mudança na sigla agora era usada pela APOGLBT, 2009 foi o ano da XIII Parada LGBT, com o L de lésbicas a frente em decorrência da necessidade de uma maior visibilidade para o seguimento aceito pela organização, o tom político era o foco da Parada desse ano, os já comuns trios de baladas não desfilaram e os 20 trios que atravessaram o circuito da parada foram de puro ativismo, um deles inclusive convidava o público a assinar um abaixo-assinado na defesa de uma lei que tornava crime de discriminação a homofobia (BERGAMASCO, 2009), a parada teve um número de público divulgado pela organização em 3,1 milhões (G1, 2009). Em 2010 as reivindicações em torno da homofobia continuaram em foco, uma matéria da Folha de São Paulo chegou a dizer que a Parada foi menos colorida que o habitual, mas o número voltou a subir segundo a organização, os 3,5 milhões voltaram a ocupar a Av. Paulista que vista do alto realmente faltava o colorido do arco-íris, mas a falta do tal colorido foi um ato político, foi como um ato em luto as vítimas da homofobia, e a organização do evento buscava apoio dos pré-candidatos à presidência do Brasil a causa LGBTQ+ e a aprovação da lei que qualificava a homofobia como crime (WESTIN e PINHO, 2010).


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Figura 34. Nem santo te protege, use camisinha

Fonte: Reprodução (2011)

Em festa de debutante, a parada comemorava sua XV edição com um recorde de público que segundo a organização foi de 4 milhões, mas a festa que tinha como tema ‘Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia’ em um teor religioso, promoveu um certo descontentamento de entidades religiosas uma vez que fez alusão em seus cartazes que incitava ao uso de preservativos sexuais a santos populares da Igreja católica (Ver fig. 34) (CASTRO e IZUMI e BERGAMIN TUROLLO e BEDINELLI, 2011). Datafolha pela primeira vez faz contagem de público da Parada, o ano foi 2012 e o número divulgado foi míseros 270 mil pessoas enquanto a organização afirmava 4 milhões como no ano anterior (CASTRO, 2012). Em 2013 a organização divulgou que o público da Parada foi de 3 milhões de pessoas (G1, 2013), mas o Datafolha volta a fazer uma contagem de público para a Parada, e o resultada é 220 mil pessoas, 50 mil pessoas a menos que o do ano anterior, um fator que poderia justificar a redução foi a chuva, mas em comparação com a nos anteriores, o Datafolha colocou os números desses dois anos a mesma quantidade de público que era contabilizada no início do movimento como no ano 2001. Mas a festa continuou linda em meio a chuva e teve seu pico em meio ao show da cantora Daniela Mercury, que havia saído do armário a 2 meses. Entidades políticas também se fizeram presentes, o então prefeito Fernando Haddad comparou a luta de homossexuais a de outros movimentos sociais que também lutam por igualdade e direitos civis, já o então governador Geraldo Alckmin afirmava que a riqueza de São Paulo era a diversidade. (OLIVEIRA e TEIXEIRA e GUTIERREZ e GOMES e ITALIANI e SOTO, 2013).


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Em ano de Copa do Mundo do Brasil, a Parada de 2014 completou seus 18 anos, com uma presença massiva de jovens e o céu limpo, o clima foi de total festa ao som de muita música eletrônica como já é típico, além de músicas das cantoras Anitta e Valesca Popozuda, além da festa, as reivindicações politicas não ficaram de lado, mais uma vez pedindo pela criminalização da homofobia e por direito de transsexuais, a Parada termina com Nelson Matias, um dos organizadores, falando para ao público que mostraram sua força na rua, agora deveriam mostrar essa mesma força nas urnas, e ressaltou que na volta pra casa, tenham cuidado, não aceitem provocações e andem em grupo, evidenciando a violência sofrida pela população LGBTQ+, a organização não divulgou um número de público, e o único parâmetro para a festa foi o da PM que divulgou 100 mil pessoal, um número idêntico ao divulgado na Parada de 2000 pela própria PM (BRENHA e TEIXEIRA e AGUIAR, 2014), de certo modo a Copa do Mundo influenciaria no público para a Parada, mas onde estariam os 3 ou 4 milhões dos anos anteriores? As contagens feitas pelo Datafolha e PM dos últimos anos podem ter sofrido um certo preconceito institucional? Fica a dúvida, uma vez que o preconceituoso dificilmente assumi o preconceito. Figura 35. Basta de Homofobia GLBT

Fonte: Reprodução/G1 (2015) Em meio à crise econômica de 2015 e com cortes de verbas municipais, a XIX Parada do Orgulho LGBT foi obrigada a terminar mais cedo, primeiro com a liberação mais cedo da Av. Paulista para os veículos, as 16h30, e as 18h30 a PM faz uma dispersão com duas bombas de efeito moral, a sensação foi de que a parrada teve que correr pra acabar (SANT’ANNA e GUTIERREZ e NEVES e MACHADO e SAVIOLLI, 2015), mas um ato que marcou essa parada foi a transsexual Viviany Beleboni caracterizada como Cristo crucificado e uma placa com os dizeres ‘basta de homofobia GLBT’ (Ver fig. 35) representando as dores de todas as travestis discriminadas e assassinadas. Nenhuma contagem de público foi realizada nesse ano,


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e a assessoria de imprensa da organização da Parada estipulou a presença de 2 milhões pessoas baseado na quantidade de pessoas presentes na festa de ano novo na avenida paulista (MACEDO E DANTAS, 2015). Figura 36. Elenco de Sense8 na Parada de 2016

Fonte: Reprodução (2016) Em 2016, era a vez do segmento T ser representado, buscando uma lei que promovesse e assegurasse a identidade de gênero, os dizeres ‘fora Temer’ fizeram presente durante toda a Parada como protesto contra o então presidente do Brasil, Michel Temer, Viviany Beleboni volta a fazer uma atuação em Protesto, dessa vez fazendo referência a bancada evangélica como um retrocesso, uma vez que eles impedirem projetos de lei em prol da comunidade LGBTQ+, e em resposta aos deputados que a criticaram no ano anterior, além das ameaças de morte que sofreu, o evento também contou com o elenco do seriado ‘Sense8’ para uma gravação de um episódio do seriado. A organização divulgou presente 2 milhões de pessoas e a PM 190 mil (GONÇALVEZ e ARAÚJO, 2016). Em 2017 os organizadores divulgaram o número de 3 milhões de pessoas presentes fazendo o circuito já bem definido a anos, todos os 19 trios elétricos começaram a percorrer o circuito por volta de 12h30 e chegaram no final as 18h30, mas haveria shows no vale do Anhangabaú até as 21h, outro fator interessante foi a decoração das vias para a Parada, um exemplo foi as faixas de pedestres em arco-íris, e o Conjunto nacional também se fez decorado para a festa, a prefeitura estima cerca de 600 mil pessoas vem


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de outras cidades e estados além de movimentar economicamente a cidade em 45 milhões, demonstrando o teor turístico do evento (GONÇALVES, 2017). Em ano eleitoral marcado por polemicas bolsonaristas a XXII Parada do Orgulho vem com um tom político forte, vestida em trajes camuflados e pedindo ‘intervenção do amor’ em ironia aos pedidos bolsonaristas de ‘intervenção militar’. Em clima de festa, percorreram o circuito da Parada 18 trios elétricos e 3 milhões de pessoas segundo a organização, a sensação em geral foi de tranquilidade, mas os furtos também faziam parte da festa (SALDAÑA, 2018). Figura 37. XXIII Parada do Orgulho LGBTQ+ de SP

Fonte: Marina Pinhoni / G1. (2019)

Em 2019 as críticas ao governo Bolsonaro também se fizeram presente, a ex-prefeita Marta Suplicy afirmava que a Parada era uma luta contra todo o retrocesso civilizatório, seguida pelo então deputado federal David Miranda que afirmava a importância do evento diante da atual situação de um governo homofóbico, outro que também fez críticas ao atual governo bolsonaristas, mas fora dos trios, foi o prefeito Bruno Covas citando a demissão do diretor de marketing do Banco do Brasil, Delano Valentim, Covas disse que “é muito triste a gente ver casos como a demissão de diretor de banco que contrata atores e atrizes da comunidade LGBT para fazer comercial. Que isso não seja uma política do governo” (BALLOUSSIER e RODRIGUES, 2019). O clima de festa prevaleceu na XXIII Parada, tanto pelos 50 anos de Stonewall e os direitos adquiridos, mas a comemoração foi maior pois um dos maiores pleitos da comunidade no Brasil foi conquistado, a homofobia foi reconhecida como crime de racismo pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Um comentário feito pela Magali, espectadora da parada, que foi a parada com seus dois filhos gays de 16 e 17 anos, é de que mesmo com a criminalização ela continua a temer que algo aconteça com seus filhos, ela disse que “o mundo ainda não vai ser fácil para eles, na nossa cidade o pessoal até sabe que eles são, ficam dizendo


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que tudo bem, desde que não comecem com ‘boiolagem’. Acho triste.” (BALLOUSSIER e RODRIGUES, 2019), retratando que ainda é preciso mais afirmação da comunidade LGBTQ+ e o respeito a eles de direto pelos demais componentes da sociedade. Com trios comandados por shows de artistas como Iza, Luiza Sonza, Gloria Groove e Mel C, a festa foi regada por patrocínio de grandes marcas, que de certo modo tira o princípio questionador e de luta das paradas e dar lugar a um viés comercial ao evento. A organização estimou o público em 3 milhões de pessoas, que com o fim do evento com trios elétricos as 18h, permaneceram na Rua da Consolação e na Praça Roosevelt, ainda em festa e aos poucos se dispersando para os bares e baladas LGBTQ+ do entrono imediato (BALLOUSSIER e RODRIGUES, 2019). A XXIV Parada com o tema ‘Democracia – sejamos o pesadelo dos que querem roubar nossa democracia’ que estava prevista para acontecer em junho de 2020, foi adiada para o mês de novembro em decorrência da pandemia de Covid-19 (VIANA, 2020), mas deverá acontecer no mesmo circuito que durante os 23 anos de Paradas, nunca mudou, marcando a apropriação do espaço pela comunidade e que tem como destino final as regiões da Praça Roosevelt, Largo do Arouche e Praça da República, em seus bares, baladas, saunas e espaços públicos de interação, evidenciando uma importância relevante da região central de São Paulo como um território LGBTQ+. Na fig. 38 pode-se ver as temáticas abordadas pelas Paradas e analisar os avanços conquistados ou não, além do crescente número de público em apoio e comemoração. Figura 38. As paradas de SP

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)


O ESPAÇO LGBTQ+: AS RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS E O TERITÓRIO BRASILEIRO

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2. O ESPAÇO LGBTQ+: AS RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS E O TERRITORIO BRASILEIRO

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Para tratar de uma apropriação territorial o indivíduo pertencente a um grupo vem afirmar sua identidade e a de seu grupo a fim de transmitir para o território suas características de modo a proporcionar sentimento de pertencimento ao local em questão. Sobre uma definição de uma identidade baseado nas ciências sociais em seus conceitos tradicionais Santos (1998) relata que uma identidade definia-se de acordo com o posicionamento de seus membros em relação as dinâmicas entre capital e trabalho, renda e status adquirido, ou com as representações consolidadas socialmente, mas partir dos anos 60, passou-se a afirmar que os próprios indivíduos construíam suas identidades dependendo dos processos de interações mantidas por estes indivíduos em um processo em busca da compreensão de si e de interações em sociedade, de modo que identidades coletivas retratam o conjunto de interações sociais e políticas, Santos (1998) também vem afirmar que a partir dos anos 80 uma ideia de memória é buscada a fim de se ter uma continuidade e permanência, fazendo parte do processo social em que a memória é uma parte essencial da construção de identidades coletivas (SANTOS, 1998). Desse modo, as identidades individuais em conjunto estruturam uma identidade coletiva que associada a memória e a um local, estabelecem uma apropriação territorial. Nos anos 60 eclodiram os movimentos sociais e com eles os questionamentos e reivindicações, a categoria de identidade passou a ser adjetivo de apropriação usado pelos movimentos sociais: identidades étnicas e de gênero, identidade de classe e social urbano, identidades juvenis e do idoso, etc. Os novos indivíduos sociais passaram a produzir representações em uma tentativa de se afirmarem socialmente, e nesse sentido de uma busca por visibilidade social e direitos de causa, uma identidade homossexual é influenciada a existir, resistindo em meio a conflitos no Golpe Militar de 64, e se afirmando socialmente. O espaço se fez meio, não somente físico, mas toda forma de se expressar passou a ser utilizada para questionar os padrões heteronormativos, onde as expressões artísticas foram e continuam sendo o meio de maior visibilidade para questionar padrões e se posicionar a favor do movimento, podendo ser notados pôr exemplo em músicas e músicos com suas expressões cênicas e letras que vez ou outra fica claro ou subentendido retratar do cotidiano LGBTQ+, em espetáculos teatrais onde é personificado e questionado os gêneros, na literatura com um leque de possibilidades para retratar o universo LGBTQ+ e todo o tipo de manifestação festiva que em seu discursos livres permitem as pessoas expressarem suas identidades e questionando padrões discriminatórios e reconstruindo padrões que promovam liberdade. Em afirmação, Louro comenta sobre o processo no brasil da seguinte forma:


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No Brasil, por essa época, a homossexualidade também começa a aparecer nas artes, na publicidade e no teatro. Alguns artistas apostam na ambiguidade sexual, tornando-a sua marca e, desta forma, perturbando, com suas performances, não apenas as plateias, mas toda a sociedade. A partir de 1975, emerge o Movimento de Libertação Homossexual no Brasil, do qual participam, entre outros, intelectuais exilados/as durante a ditadura militar e que traziam, de sua experiência no exterior, inquietações políticas feministas, sexuais, ecológicas e raciais que então circulavam internacionalmente. (LOURO, 2001)

Figuras importantes entram em cena na década de 70, década considerada o boom guei por Trevisan (2018), as discursões pleiteavam continuamente os padrões heterossexuais, o cantor Caetano Veloso vinha com performances atípicas para o período ditatorial, colocando em debate definições para ser homem ou mulher. As atitudes de Caetano foram necessárias para abrir a possibilidade onde ter comportamentos em que o gênero não importa, deixando fluir entre masculino e feminino na identidade do indivíduo, Caetano fazia seu público consumir essas ideias e a partir daí questionar o padrão. Ainda que repetisse explicitamente que não transava com homens, Caetano provocou furor quando, após voltar de Londres na década de 1970, subiu aos palcos brasileiros de bustiê e batom nos lábios, requebrando com trejeitos campy de Carmem Miranda. [...] Ainda mais provocador em seus shows posteriores - verdadeiros festivais de desmunhecação -, Caetano costumava beijar insistentemente na boca de cada um de seus músicos (e alguns deles eram muito atraentes!), diante do público que urrava de delírio. Seu cancioneiro, de extrema sensibilidade e poesia, chegou a manifestar indisfarçável fascínio erótico pela masculinidade. (TREVISAN, 2018)

O músico Ney Matogrosso também surgia com sua expressão não ortodoxa e totalmente fora dos padrões, abertamente homossexual, ele fazia e continua a fazer suas apresentações repletas de trejeitos e com trajes que questionam as ideologias de gênero masculino, como vemos na Fig. 29. Ney usava de sua visibilidade como ato político em meio a Ditadura Militar, seus shows difundiam uma identidade homossexual afeminada pouco vista, porque os homossexuais naquele período, preferirem o anonimato de seus “armários” por medo de repressão da sociedade e da própria ditadura que reprimia a liberdade. Ney Matogrosso se inseria numa estética glitter, [...]. Ora de rosto maquiladíssimo, peito nu e longas saias, ora cheio de penas, com chifres enormes na cabeça e minúsculo tapa-sexo, ele se notabilizou pelo rebolado frenético e voz de contralto. [...], Ney criou perplexidade na mídia. Homem? Mulher? Viado? Sua voz feminina [...] contrastava com seu corpo másculo e peito peludo. (TREVISAN, 2018)


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Em meio a essas representações de gênero fluido, surgia os Dzi Croquettes, um grupo teatral que também embaralhava os padrões de gênero em suas apresentações, em seus palcos se via uma ambiguidade onde homens barbados apresentavam em roupas femininas, sutiãs em peitos peludos, cílios postiços, calçados em meias de futebol e saltos altos, nem homem, nem mulher, em grande apresentação cheia de humor ambíguo. Os Dzi Croquettes foram responsáveis por trazer ao Brasil o que se tinha de mais questionador e contemporâneo no movimento Homossexual internacional (Ver fig. 30) (TREVISAN, 2018) Figura 39.Ney Matogrosso em programa do show "Seu tipo"

Fonte: Acervo Ney Matogrosso (1979) Figura 40. Dzi Croquettes

Fonte: Reprodução / G1 (2012)


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Essas representações foram a vanguarda brasileira do artista afeminado e questionador da heteronormatividade, hoje dando espaço para outros músicos como Pabllo Vittar, um menino gay afeminado e Drag Queen, o qual ganhou o prêmio MTV EMA 2019 como melhor artista brasileiro (Ver fig. 31), a ter sua expressão sexual aberta e livre em âmbito nacional e internacional, sendo um símbolo de representatividade atual; ou o coletivo artístico As Travestidas (Ver fig. 32) que é um resultado de uma pesquisa de 14 anos sobre o universo de travestis e transformistas, retratando o conteúdo social do transformismo e a travestilidade por meio do entretenimento e reflexão no teatro, dança, audiovisual, fotografia, publicidade, designe, literatura e na música, mostrando-o para além dos estereótipos e preconceitos Figura 41. Prêmio MTV EMA 2019: melhor artista brasileiro

Fonte: Cristina Quicler / G1 Figura 42. Quem tem medo de travesti, Coletivo As Travestidas

Fonte: Reprodução / G1 (2017)


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Neste período dos anos 70, acontece também pela primeira vez nas artes plásticas brasileira, uma exposição de pinturas com nus masculinos de Darcy Penteado, que exalavam o homoerotismo (TREVISAN, 2018), Trindade (2004) ressaltou que essas pinturas feitas por um homem, permitia pensar sobre o erotismo das pinturas sem estar vinculado a questão de gênero e, para mentes mais férteis, um apontamento para a arte homoerótica. Tratando da necessidade de uma produção literária Homossexual, em reunião na casa de Darcy Penteado, intelectuais, jornalistas e artistas homossexuais paulistas e cariocas, discutiam sobre publicações do gênero e entre 1976 e 1979 a cidade de São Paulo tinha em circulação uma coluna diária com assuntos abertamente homossexuais, a ‘Coluna do Meio’ de Celso Curi publicada no jornal Última Hora, o nome da coluna já fazia alusão em significados para a comunidade, Trindade (2004) definia o nome como “era algo que estava em algum ponto entre as imagens de homem e de mulher conhecidas socialmente; figura ambígua, que não ere nem uma coisa nem outra; estava no meio.” A coluna era ambiciosa por tratar da homossexualidade abertamente em um contexto de repressão da época, mas a coluna não se abalava e vinha carregada de frases cômicas e do universo homossexual como ‘o melhor da festa é o garçom’ e ‘ não cuspa no prato que lhe comeu’, havia uma exploração homoeróticas de desejo na seção ‘Colírio do Dia’ com as fotografias de homens atraentes além de proporcionar relações eróticas e afetivas por meio do ‘correio elegante’. Trindade (2004) também ressalta sobre a coluna que “ela não estava circunscrita a uma classe social ou a um estilo de vida, pois, como parte de um jornal, poderia ser lida tanto por homossexuais assumidos [...] como pelos enrustido” uma vez que os após ler a coluna os assumidos poderiam socializar abertamente discutindo os textos ali contidos, e os enrustidos poderia ter acesso a coluna ao adquirir o jornal sem levantar suspeitas sobre sua orientação sexual, mas não poderia vir a socializar com debates referentes a coluna, guardando para si os textos lidos. A seção ‘correio elegante’ proporcionava encontros secretos, talvez esse tipo de modalidade tenha sido os antecessores para novos estilos de socialização, como classificados de revistas eróticas; as salas de bate-papo online, como o bate-papo uol; e os novos aplicativos de relacionamento homoeróticos de hoje, como o Hornet, Grindr e scruff. Por se tratar de uma coluna aberta e de acesso fácil por estar em jornais, e “vir carregada de humor camp” (TREVISAN, 2018), gíria para um comportamento ou atitude exagerada, colaborou para uma normatização e uma ampliação do imaginário social, ligando a homossexualidade a comportamentos cômicos explorados num futuro em programas humorísticos e em novelas (TRINDADE, 2004).


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Também na década de 70, um grupo de intelectuais paulistanos e cariocas se reúnem afim de produzirem para a impressa assuntos homossexuais, mas de uma forma mais conceituada e comprometida, o objetivo era criar um jornal feito por homossexuais e para homossexuais, onde se discutiu assuntos de temáticas diversas, de circulação semanal e em todas as capitais nacionais. Se reúnem acadêmicos, artistas plásticos, cineastas e escritores que refletiam as questões homossexuais, montando ideias para que em 1978, começa-se a circular como tabloide em preto e branco, o Lampião da Esquina (TREVISAN, 2018). Uma iniciativa de tornar visível a homossexualidade para os outros grupos sociais de fora da comunidade, em seu conteúdo encontrava matérias e entrevistas, contos, críticas de cinema, teatro, literárias etc, algumas notas denunciavam e atacavam diretamente os atos de discriminações da sociedade em suas páginas também encontrava-se cartas que comprovavam um reconhecimento e visibilidade a qual o Lampião adquiriu. Em sua primeira edição, a primeira página já ressaltava a proposta do jornal: Mas um jornal homossexual, para que? A resposta mais fácil é aquela que nos mostrará empunhando uma bandeira [...]. Nossa resposta, no entanto, é essa: é preciso dizer não ao gueto e, em consequência, sair dele. O que nos interessa é destruir a imagem-padrão que se faz do homossexual [...]. Para acabar com essa imagempadrão, LAMPIAO não pretende soluçar a opressão nossa de cada dia, nem pressionar válvulas de escape. Apenas lembrará que uma parte estatisticamente definível da população brasileira [...], deve ser caracterizada como uma minoria oprimida. E uma minoria, é elementar nos dias de hoje, precisa de voz. [...] o que o LAMPIAO reivindica em nome dessa minoria é não apenas se assumir e ser aceito – o que nós queremos é resgatar [...] o fato de que os homossexuais são seres humanos e que, portanto, tem todo o direito de lutar por sua plena realização, enquanto tal. Para isso, estaremos em todas as bancas do país, falando da atualidade e procurando esclarecer sobre a experiencia homossexual em todos os campos da sociedade e da criatividade humana. Nós pretendemos, também, ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados. [...] Falando da discriminação, do medo, dos interditos ou do silencio, vamos também soltar a fala da sexualidade no que ela tem de positivo e criador [...] Mostrando que o homossexual recusa para si e para as demais minorias a pecha de casta, acima ou abaixo das camadas sociais; que ele não quer viver em guetos, nem erguer bandeiras que o estigmatizem; que ele não é um eleito nem um maldito; e que sua preferência sexual deve ser vista dentro do contexto psicossocial da humanidade como um dos muitos traços que um caráter pode ter, LAMPIAO deixa bem claro o que vai orientar a sua luta: nós nos empenharemos em desmoralizar esse conceito que alguns nos querem impor – que a nossa preferência sexual possa


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interferir negativamente em nossa atuação dentro do mundo em que vivemos. (LAMPIAO, 1978)

Vendido em bancas de jornais até 1981, teve um total de 38 edições, incluindo a de número zero, inicialmente cada edição, vendia aproximadamente de 10 a 15 mil exemplares em todo o território nacional, onde inicialmente suas edições preocupavam em retirar o gay da margem social em discursos às minorias, mas em sua fase final, o tabloide se adaptava ao gueto e tornava-se mais ousado abordando conteúdos polêmicos e até ensaio-as sensuais (GRUPO DIGNIDADE, 1992). Alguns artigos relavam a necessidade de assumir-se socialmente, eventos em que haveria discursões sobre homossexualidade e movimentações políticas a qual o movimente estava envolvido. A homossexualidade ganhava cada vez mais espaço durante este período, tanto no meio físico como em imprensa, em consequência desse espaço, o lampião deixava de ser novidade, o que acaba por reduzir as vendas, impactando diretamente a produção do tabloide, até que chegou ao seu fim com uma notícia intitulada titulada de “Morreu Lampião, o jornal das bichas” após 3 anos de circulação. Trindade (2004) afirmou sobre o lampião que ele “ajudavam a quebrar o silencio social em relação a Homossexualidade. Provendo seus leitores de autoestima e informações relevantes para seu modo de vida, fortaleciam a ideia de alteridade.” Ao mesmo tempo que o Lampião era redigido e comercializado, reuniões de pequenos grupos de militância aconteciam em São Paulo, e dessas reuniões o grupo foi crescendo e afirmando um discurso em prol das questões do dia a dia Homossexual a fim de montar estratégias de luta política. O grupo já constituído de importância como espaço de debates para um ponto comum, a homossexualidade, ainda não tinha um nome representativo. O conjunto dos movimentos sociais, artistas, acadêmicos e militantes, foram a os debates ocorridos na Universidade de São Paulo (USP) o principal meio para afirmar a importância do movimento homossexual no final dos anos 70, e a busca por agrupar-se tendo maior voz e visibilidade. O grupo rapidamente cresceu, demandando uma reestruturação, foi subdividido em grupos identitários onde as ideias eram discutidas de forma sistematizada (TRINDADE, 2004). Trevisan (2002) relatou sobre o dia 8 fev. 1979 “o resultado mais concreto do debate na USP foi uma surpreendente afluência de participantes no que, a partir dali consagrou-se definitivamente como Somos” e afirmou que o nome era “expressivo, afirmativo, paliodrômico, rico em semiótica e sem contra indicações, como dizia um documento por nós publicado na época.” O grupo Somos inseria a homossexualidade brasileira na política de identidades.


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Diversas contestações sociais do poder se insinuaram na sociedade das mais diversas formas e os questionamentos da heteronormatividade produzidos tanto no plano acadêmico como no mundo artístico e político, abriram espaço para que um ativismo homossexual se formasse em São Paulo e que uma identidade cultural fosse perseguida, assumida e promovida para e pelos homossexuais. (TRINDADE, 2004)

Entra a década de 80, os grupos de movimentos sociais ganham mais espaço de visibilidade, e os grupos de militância homossexual mantinham-se presentes lutando contra a discriminação a que eram vítimas. O Movimento das Diretas favorecia para um clima políticosocial oportuno aos movimentos sociais, mas a visibilidade que o movimento homossexual recebeu não foi a mais favorável a causa, começava ali um episódio triste, que por muito foi tratado como o câncer gay, surgiram os primeiros casos de uma doença nos EUA que causou medo na comunidade gay, foi o início da era AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Logo associada as práticas homossexuais, a disseminação de informações pelas mídias que até então não se tinham bases cientificas suficientes, foi um dos causadores de grandes problemas sociais, fruto de julgamentos da moral e dos costumes. “Construída, na concepção popular, como maior do que a vida e como sinônimo de morte, a AIDS tomou forma no Brasil” (DANIEL e PARKER, 2018) e antes que realmente tenham afetado um número significativo de vidas, a doença espalhou pânico na comunidade Homossexual, os atos que começavam a ser notificados inevitavelmente davam espaço para atos discriminatórios e desumanos, “no interior de Minas Gerais, um jovem que voltou para casa depois de ter contraído o vírus da AIDS no Rio de Janeiro foi apedrejado e expulso de sua cidade” (DANIEL e PARKER, 2018), nas grandes cidades os hospitais começaram a ser procurados e o que acontecia com os pacientes era desumano, como relatado , “foram deixados, às vezes, deitados nas entradas de emergência durante horas, enquanto seus parentes tentavam arranjar permissão para que fossem atendidos” (DANIEL e PARKER, 2018). O preconceito a homossexualidade infelizmente associou-se a AIDS e de certo modo desestabilizou o movimento de causa, por ter reestruturados as derivações discriminatórias, os grupos já marginalizados agora sofrem com a AIDS por aparentar legitimar o preconceito. Daniel e Parker (2018) ressaltaram que os homossexuais não poderia contar com uma comunidade organizada e capaz de fornecer apoio e informação, não tinha um local apropriado e receptivo, eles só tinham os hospitais e instituições governamentais para procurar ajuda, logo essas que lhe estigmatizaram e oprimiram, eles não tinham como crer que podia confiar nessas instituições. Nesse contexto, uma testagem sanguínea virou parâmetro para aceitabilidade, mas o que seria um importante instrumento para ajudar a combater uma epidemia, ficou frustrada,


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uma vez que achar lugar para uma testagem voluntária onde o anonimato fosse realizado, uma gratuidade fornecida, e para os resultados positivos um bom serviço de aconselhamento psicológico acontecesse, criou ali o estigma entre conviver com a dúvida de ser positivo ou fazer uma testagem e não receber proteção a sua identidade e direitos humanos. (DANIEL e PARKER, 2018). Com base nos números crescentes de pacientes, montaram-se ambulatórios e equipes de custos acessíveis, a fim de proporcionar um melhor atendimento frente as necessidades físicas e psicológicas, mas se tratando dos pacientes, restava o medo e vergonha de conviver com AIDS, já que a realidade não os proporcionava uma sobrevida mais digna (TRINDADE, 2004). Em contra partida, grupos já existente começaram a fazer um trabalho significativo em apoio, um exemplo foi o GGB que se envolveu em ações políticas e disseminação de material educativo, assim como novos grupos surgem em meados de 1985 para tratar da AIDS em especifico, como o GAPA, grupo de apoio a prevenção a AIDS, formado em São Paulo por profissionais da saúde, ativistas e entidades políticas, eles forneciam uma ajuda básica educando o público em geral e prestando um serviço de aconselhamento para soropositivos. No Rio de Janeiro lideranças sociais fundam a ABIA, Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, que reuniam informações e preparavam material educativo para ser disseminado pelo país, era a luta pela cidadania e de direitos humanos para soropositivos e homossexuais (DANIEL e PARKER, 2018). Em 1983 foi criado o primeiro programa governamental para a AIDS como iniciativa de políticas públicas a combate à doença e assistência a doentes, e em 1988 é criado o Pacto Nacional de AIDS no ministério da Saúde, que também agia elaborando campanhas de combate e prevenção a doença, mas um boletim epidemiológico em 1993 mostrou uma realidade assustadora, 10.820 óbitos por AIDS e 16.820 casos, nessa situação foi assinado o primeiro acordo de empréstimo com o banco mundial para o Projeto de Controle da AIDS e DST, a partir deste acordo iniciasse a distribuição pelo sistema público de saúde de medicamentos para HIV/AIDS garantidos pela lei n. 9.313/1996. Com o aumento do número de casos e o aparecimento de mulheres soropositivos, inicia um processo de desconstrução do imaginário social, percebe que não era uma doença exclusiva a homossexualidade, neste sentido, uma identidade homossexual começa a ganhar novos parâmetros, uma vez que delimitaram relações entre homens apenas como homossexuais, sujeitos até então rígidos, se fragmenta em novas e diferentes identidades (TRINDADE, 2004). Embora a discussão sobre a AIDS no Brasil tenha grande importância, e venha a revelar que as dinâmicas de relações em que ocorre as transmissões não se restringem a


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homossexualidade, abrindo o campo para a bissexualidade e heterossexualidade, essas categorias têm bastante importância em um contexto cultural, principalmente no Brasil. Tradicionalmente, existe uma importância maior para configurações como passivo e ativo, do que em categorias de relações sexuais, um exemplo são homens que praticam relação sexual com outros homem fazendo uma posição ativa não necessariamente se considera homossexual e nem bissexual, uma vez que essas categorias seriam empregadas a aqueles que possuíam uma posição passiva nas relações, em uma tradução básica, embora parceiros e papeis sexuais possam variar, eles tendem a ser mais significativos do que a escolha do objeto sexual na construção da identidade sexual (DANIEL e PARKER, 2018). Daniel e Parker (2018) desenvolveram uma pesquisa a fim de etnógrafa as mudanças comportamentais e nas atitudes sexuais em meio a infecção por HIV, eles ressaltam que realmente existiu uma mudança em meio as populações homossexuais e bissexuais do Brasil, como uma resposta a tal infecção, as mudanças relatadas não são uniformes e para muitos indivíduos, continuar lutando para a ter sua vida sexual satisfatória e completa aliada a reduzir os riscos de infecção são mais importantes. A importância dos preservativos teve tanta importância como prevenção quanto o próprio risco de se infectar, mas o uso do preservativo não tem uma consistência, entrevistados relatam que o uso é ocasionalmente e baseia-se no tipo de relação, quando era ocasional ou parceiros fixos, e muito dos que usam sempre reclamam da necessidade de usa-la, muito dessas inconsistências decorrem a falta de informação no que concerne aos fatos da transmissão de HIV. Em resumo eles definem que se existe uma mudança comportamental, ela está acontecendo inconsistentemente, mas ressalta que quanto mais alto o nível da mudança, mais informações essa parcela populacional recebia, em contra partida quanto menos informações, menos a parcela populacional tinha uma mudança de comportamento. Eles também relatam que em um grupo onde há uma consistência maior em relação a informações corretas está relacionada a uma identidade homossexual assumida e que de várias maneiras ocupam espaços sociais que de alguma forma oferecem apoio a seus estilos de vida; enquanto uma inconsistência em mudanças comportamentais está relacionada a uma confusão sobre uma identidade sexual e falta de apoio social. Em uma última análise eles relatam que é precisamente dentro de comunidades formalizadas, que acontecem trabalhos de educação, tanto como a prevenção para infecção por HIV quanto para mudanças comportamentais, e finalmente dada a tal importância a estas comunidades uma identidade sexual e apoio social são mais facilmente obtidos, facilitando as tais mudanças comportamentais (DANIEL e PARKER, 2018).


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Em 1990 inicia uma década ainda marcada pelas perdas provenientes da AIDS, e em decorrência dessa situação e dos grupos de ativismos em prol da comunidade LGBTQ+, as discursões em todo o território nacional tratavam de trazer um apoio a essa comunidade das mais diversas formas, as conferenciais de direitos GLS, mais pra frente adotam LGBT e promovendo pontuais passeatas e encontros, trabalham para mudanças para direitos LGBTQ+. Nasce em 1995 a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT) na cidade de Curitiba em luta pelos Direitos Humanos e Civis dessa parcela da sociedade, promovendo a autoestima e uma construção da cidadania deles (ABGLT, 2020). Também foi o ano das primeiras Parada do Orgulho, mais especificamente em 1997 na cidade de São Paulo e do festival Mix Brasil que consolidava um estilo de vida GLS da época. Figura 43. Encontros Nacionais para Políticas LGBTQ+

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Os anos 2000 vieram com iniciativas governamentais para tratar das relações de direitos e de identidades sexuais após pressão de movimentos ativistas, como o ‘Brasil sem homofobia’ de 2004. Nesse período ficou cada vez mais presente em sociedade a existência dessa parcela populacional e as dinâmicas de luta pelos seus direitos, e de 2000 a 2020 os ganhos em reconhecimento de direitos mostra um certo avanço alcançado à medida em que cada vez mais LGBTQ+ se fizeram presente em meio ao território para lutar questionando padrões discriminatórios, podendo ressaltar aqui o direito a uma união estável homoafetiva reconhecida pelo STF e em uma conversão para o direito ao casamento civil em 2013 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a adoção já era um direito previsto no Estatuto da Criança e do


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Adolescente onde podem adotar qualquer pessoa maior de 18 anos e independente do estado civil e em relação a ter filhos, o direito a reprodução assistida foi reconhecida pelo CNJ em 2016 dando o direito a casais heterossexuais ou homossexuais ao registro de nascimento de filhos por meio de reprodução assistida, os direitos sucessórios que dão direito a herança por perda do cônjuge ou companheiro em união estável, assim como direito ao seguro de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de via Terrestre (DPVAT) em 2004, o direito a pensão por morte e auxilio redução reconhecido pelo STF em 2005, o direito ao nome e a identidade de gênero (BRASIL, 2017), a criminalização da homofobia como crime de racismo pelo STF em 2019 e o direito a doação de sangue reconhecido pelo STF em 2020 suspendendo as normativas do Ministério da Saúde e da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A partir das dinâmicas no âmbito nacional evidenciadas aqui, é possível compreender as maneiras de como os processos de apropriação territorial acontecem na cidade da São Paulo, e desse modo demarcar as manchas de apropriação e propor soluções que evidencia essa apropriação proporcionando a sociedade como um todo, a visibilidade positiva que a parcela LGBTQ+ necessita e dando a sensação de identidade local a estes.

2.1 O direito à cidade como território

Fica evidente como o potencial de uma identidade sexual e coletiva influenciam comportamentos, e usa-los de forma direcionada, é possível obter diversos produtos como resultantes desse agrupamento, mas um grupo social também precisa de território a fim de proporcionar as devidas interações sociais a qual Daniel e Parker (2018) relatam ser fatores importantes para uma afirmação. Tendo como referência as identidade individuais correlacionadas a um coletivo e uma memória territorial, aparece a necessidade de definir o espaço. Milton Santos (2006) em A natureza do espaço, fala que a geografia do espaço acontece como o conjunto de fixos e fluxos, onde elementos fixos permitem modificar o lugar, na medida que os fluxos novos ou renovados recriam condicionantes ambientais e sociais, Santos (2006) também ressalta uma outra possibilidade onde a dinâmica ocorre relacionada a uma configuração territorial e as relações sociais, de modo que uma configuração territorial é formado por sistemas naturais diretamente influenciado pela interferência do homem a esses sistemas, sendo assim a configuração territorial existe somente aliada a relações sociais que usufruem do espaço. Desse modo, Santos definiu o espaço, onde o objeto a que se refere são coisas utilizadas pelo homem em um conjunto de intenções sociais:


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O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma fábrica. [...], o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico. O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade. (SANTOS, 2006)

Milton Santos também define que o espaço é geográfico, não necessariamente é um objeto material, mas um conjunto de materialidades e imaterialidades entre objetos geográficos, objetos etnográficos, objeto antropológico, objeto sociológico, objeto econômico, objeto artístico, objeto estético e objeto religioso, de forma não dissociada, mas em conjunto a produzir uma geografia do espaço associada aos sistemas de ações. O conjunto desses objetos e ações no espaço, determina um valor social adquirido por uma lógica do histórico, sua datação e a causa de formação, associada a lógica das dinâmicas atuais sobre seu funcionamento e seu significado para a atualidade (SANTOS, 2006). A ideia conjunta de tempo e espaço é definida como um evento e, considerando a diversidade de possibilidades em que um evento possa vir a acontecer, ele é um fator primordial na formação social de grupos e do espaço, os eventos não se repetem, eles são elementos de atualidade em um determinado tempo e espaço, e por essas características, quando um evento acontece, ele faz mudanças, marca o território e cria história. Os eventos são ações, e toda ação tem um sujeito, de modo que, o sujeito que promove uma ação automaticamente realiza um evento, e consequentemente marca o tempo e o espaço, isto é, o evento é uma ação decorrente da existência do homem e de como ele age na construção social (SANTOS, 2006). A medida em que as ideias de lugar são definidas por Santos (2006) como um espaço geográfico composto por fixos e fluxos, em uma relação onde o território é fruto das relações sociais que acontecem nele, essas relações marcam o espaço e determinam um valor social ao lugar, Norber-Schulz (2006) baseando-se no conceito romano de Genius loci, um espirito guardião que dá vida ás pessoas e aos lugares, determina que a sobrevivência em tempos passados, dependia da boa convivência com o lugar, e que hoje usamos ‘habitar’ como palavra pra definir a convivência com o lugar, de modo que elementos de localização fornecem orientação para as pessoas criando uma imagem ambiental que da sensação de segurança emocional, essa segurança pode vir a se transformar em uma identificação com o ambiente,


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essa identificação com o local diz respeito a uma boa relação com o lugar, onde o homem vive o ambiente como portador de significados. O espírito do lugar é composto por objetos ou elementos de identificação como propriedades concretas do ambiente e que as pessoas de algum modo criaram relações a estes, de modo que a identidade humana pressupõe uma identidade de lugar dando base para o sentimento de pertencimento (NORBER-SCHULZ, 2006). No Brasil, o Estatuto da Cidade determina que o uso da propriedade urbana deve favorecer o bem coletivo, a segurança e o bem estar de todos, de modo que a ocupação do espaço público pela sociedade cria novas formas de construção e vivencia de espaços públicos sociáveis que permitem uma reivindicação do direito de habitar o espaço da cidade. É direito da população de uma cidade que o desenho urbano e a gestão dos espaços públicos trabalhem de forma a produzir lugares inclusivos e seguros, a fim de promover uma redução de desigualdade e da criminalidade, Silva e Santos (2016) relatam que: Ocupar a cidade como espaço público e acessá-la em sua totalidade significa a ultrapassagem de um ato meramente pessoal/individual para um processo político, coletivo e de resistência às formas discriminatórias e ao complexo universo da desigualdade social, que produz e legitima lugares para determinados indivíduos; que obstaculiza a diversidade humana e que naturaliza a exploração do trabalho e as práticas de dominação ideológica e cultural. (SILVA e SANTOS, 2016)

Seguindo a linha de raciocínio de Santos (2006), Norber-Schulz (2006), Silva e Santos (2016), as ações praticadas no espaço determinam um evento, que consequentemente marca o território de diversas formas, podendo criar elementos físicos ou sentimentos emocionais, desse modo, usufruir desses sentimentos ou elementos derivados do evento aplicados a uma localidade espacial, proporcionaria um sentimento de pertencimento do lugar. Levando essas ideias para o contexto de segmento LGBTQ+, o evento que marcou o tempo e o espaço foi a revolta no Stonewall Inn, a partir deste momento criou-se naqueles que compartilhavam das mesmas características o sentimento de pertencer ao acontecido e por meio desses sentimentos criar o movimento de ativismo em prol da comunidade LGBTQ+, e em consequência desses movimentos de ativismo, vários outros eventos acontecem e marcam novos territórios, e dessa cadeia de sequencias em que um evento cria outro evento como consequência, várias machas territoriais adquirem um espirito de lugar LGBTQ+ e, a partir dessas manchas é possível determinar um local onde um novo evento será proposto como elemento essencial para uma reafirmação da identidade do lugar e do sentimento de pertencer ao mesmo, desse modo, podemos analisar as manchas na cidade de São Paulo.


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2.2 As dinâmicas de apropriação do território LGBTQ+ de São Paulo

A urbanização e industrialização do início do século XX foi fator primordial para mudanças na cultura social do povo brasileiro, os grandes centros financeiros sofreram uma crescente aglomeração de população, onde São Paulo, que já produzia grande parte da safra cafeeira do Brasil, atraiu imigrantes internacionais e migrantes nacionais de regiões empobrecidas, tornando a metrópole agitada e com necessidade de crescimento espacial. O centro da cidade se espremia numa elevação entre vales e rios, e a cidade crescia para as regiões periféricas. A fim de promover uma maior integração e mobilidade, foi construído sobre um dos vales uma ponte, o Viaduto do Chá, que fez a ligação periferia-centro sobre o vale do Anhangabaú, essa ligação ajudou na criação de um novo distrito residencial e comercial onde a elite paulistana estabeleceu residência e em 1911 com a inauguração do Teatro Municipal, tornou da região centro da vida burguesa (GREEN, 2000). A ocupação pela burguesia despertou nos urbanistas o interesse em melhorar a qualidade do vale do Anhangabaú, que se modificou e foi considerado como o Central Park do Brasil com seus passeios, bancos, espaços abertos e ajardinados em anexo ao Teatro Municipal (fig. 44), logo esse espaço tornou-se ponto de encontro para homens com o intuito homoerótico, já que estava próximo a hotéis baratos, quartos de aluguel, pensões, bordeis, edifícios de apartamentos de aluguel nos arredores do centro e os cinemas luxuosos construídos em meados dos anos 30 no início avenida São João no centro (GREEN, 2000). Figura 44.Vale do Anhangabaú, local favorito para aventuras socialização homoerótica nos anos 20 e 30.

Fonte: Reprodução / Bol (1915)


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Assim como na virada do século, em meio à agitação do centro da cidade, os homens atraídos por outros homens flertavam, fofocavam, socializavam-se e desfrutavam juntos das atividades culturais sem atrair muita atenção. À noite, deixavam-se ficar ao lado dos postes, demoravam-se nos bancos dos parques, trocavam olhares desejosos e, depois, retiravam-se para as sombras de um edifício ou para um quarto alugado[...]. (GREEN, 2000)

Não somente o vale do Anhangabaú e a Av. São João eram pontos de práticas homoeróticas, havia a praça da republica, os bordeis ao longo da rua Barão de Itapetininga, o jardim da luz e os banheiros públicos que ofereciam acesso rápido a inúmeros homens dispostos a ter práticas sexuais, mas esses locais ofereciam risco de prisão por atentado ao pudor e os homens começaram a se destinar a lugares mais discretos e escuros, os cinemas, que com preços relativamente baratos eram locais acessíveis e seguros para as práticas sexuais entre homens. (GREEN, 2000.) Os cinemas não eram lugares apenas para práticas homoeróticas, era entretenimento para todos, e os filmes nacionais e internacionais despertavam interesse sobre os artistas, esses expostos em revistas ilustradas começaram a ditar moda, padrões femininos imitados por seus seguidores, muito deles homens que começaram a ficar mais femininas, as travestis, e as figuras másculas dos filmes e revistas despertavam interesse, fantasias e desejos sexuais. Os filmes tiveram grande importância referencial aos homossexuais em relação aos padrões femininos e masculinos em decorrência da popularidade dos mesmos. Figura 45. Cinema Art Palacio

Fonte: Reprodução / Music Non Stop (2017)

Em decorrência da migração de burguesia para regiões mais afastadas do centro, os grandes casarões agora abrigavam pensões e bordeis, e em conjunto aos apartamentos, configuraram espaços mais seguros e de livre liberdade para homossexuais se expressarem e


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ter suas práticas sexuais, eram lugares para reunir amigos, fofocar e se vestirem como quiserem. Em relação as pensões, Green (2000) fala que em virtude de zelar pela moralidade, eram rigorosamente separadas por gêneros, desse modo foi possível que algumas pensões femininas servissem de fachada para bordeis, por outro lado, as pensões masculinas facilitavam a relação entre homens por não ser questionável o fato de 2 homens dividirem o mesmo quarto, já que era comum várias pessoas morarem no mesmo quarto nessas pensões. O modo como viviam as pessoas consideradas desviantes da moral e bons costumes no período entre os anos 20 e 40 era repleto de obstáculos, era crime as práticas homoeróticas e de expressão sexual, foram fortemente censurados pelo governo, setores científicos e religiosos, além da sociedade. As socializações eram feitas às escondidas ou de modo a passarem despercebidas, muito das vezes no final da tarde e duravam o período noturno; as praças, parques, estações, banheiros públicos e cinemas se caracterizam como local de afirmação sexual através das práticas homoeróticas, já os bordeis, pensões, hotéis e apartamentos proporcionavam segurança e liberdade para se expressarem. Desse modo se caracteriza o início de afirmação e identidade local na cidade de São Paulo. O Estado Novo, entra em cena como um período onde houve um o uso de práticas autoritárias para reestruturar o poder político e as relações de classe social entre 1937 a 1945, o corpo físico em si sofre uma remodelação evidenciando um novo modelo de masculinidade por parte do governo e a homossexualidade é deixada de lado em questões de pesquisa medica que até então eram intensamente explorada, decretado pelo Estado de São Paulo durante o Estado Novo, a prostituição deveria estar delimitada a acontecer na região do Bom Retiro, no intuito de promover uma limpeza no centro da cidade e regrar o comportamento da prostituição, com isso, a presença policial e autoridades sanitárias ocupavam em fiscalização a região do centro, levando os homossexuais que ocupavam a região do vale do Anhangabaú desde os anos 20, a ter suas interações na região do Parque Dom Pedro; com a queda do Estado Novo em 1945, as mudanças começam a reestruturar as dinâmicas de relacionamentos e em 1953, um novo decreto volta a liberar a prostituição na cidade como um todo, levando mais uma vez a proliferação dos mesmos na região central, onde uma relação entre a prostituição e homossexualidade ocupam o mesmo espaço, talvez pela marginalização dos dois grupos, mas com toda certeza pela dificuldade de estarem inseridos a sociedade (GREEN, 2000). Com um crescimento econômico impulsionado na década de 50, São Paulo gerou um mercado em expansão, viu sua crescer sua população em busca de empregos vinda das áreas rurais e alavancou uma classe média urbana. A indústria passou a produzir inúmeros bens manufaturados e em resultado das relações feitas durante a Segunda Guerra com os EUA, a


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produção industrial e cultural norte americana inundou o mercado brasileiro e os veículos de informação foram os responsáveis pela formação de comportamento, padronizando uma linguagem e a cultura, o rádio e a televisão, jornais e revistas, filmes estrangeiros e revistas em quadrinhos dos EUA, passaram a informar aos leitores os novos padrões de moda, os estilos e os padrões de culturas internacionais. (GREEN, 2000) Os padrões de gênero considerados até então rigidamente definidos passaram a ter uma desconstrução, a cultura começara a questionar os valores do homem e da mulher, enfraquecendo os papeis sexuais tradicionais, e em decorrência dessas mudanças, também é notória as novas identidades sexuais e de gênero no universo LGBTQ+. Neste período, uma expansão no campo homossexual começa, as opções de vida noturna na cidade se ampliam, novos espaços começam a ser ocupados como bares da região da Av. São Luiz, fã-clubes e apresentações ao vivo das rádios proporcionavam novas interações homossexuais dando sensação de pertencimento a um grupo, passaram a participar de concursos, as demonstrações públicas de estilos de vida se tornam mais frequentes avaliando e desafiando as noções de beleza, de moda e glamour; os bailes de carnaval tomam lugar de aceitar e proteger os LGBTQ+, apresentando por meio da imprensa os gays e travestis ao cenário público em seus desfiles, e que posteriormente são aclamadas nas produções teatrais tradicionais por numerosos espectadores. Por volta de 1958, o sociólogo José Fábio Barbosa da Silva escrevia sua dissertação de mestrado baseado em sua pesquisa sobre homossexualidade em São Paulo, Silva além de relatar as dinâmicas de socialização, mapeou o território que homossexuais paulistas ocupavam e revelou que enquanto dia, as regiões centrais de São Paulo, o centro antigo e o novo centro, que funcionavam como centro financeiro, ao anoitecer, ganhava uma vida homossexual de grande relevância, como já acontecia no início do século, relatou também a zona “T” definida pela convergência entre as Av. Ipiranga e São João como a principal região de encontro homossexual que tem sobrevivido até os dias atuais por fatores como: a Av. São João, que representa o topo da letra “T”, em uma se suas pontas faz uma conexão direta com o Vale do Anhangabaú, o principal território homossexual dos anos 20 e 30, enquanto que no outro sentido levava para o centro em expansão com os cinemas localizadas na mesma avenida, que ofereciam local mais discreto para aqueles que buscavam as práticas homoeróticas, e a hasta da zona “T” representado pela Av. Ipiranga tem como destino a Praça da República, que por sua exuberância e pelos banheiro públicos, atraiam homens a fim de ter praticas homoeróticas ali, desse modo, os homossexuais transitavam com bastante frequência na “zona T” e nos quarteirões adjacentes na busca de uma interação homoerótica, Barbosa da Silva revelou a


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importância da “zona T” e do seu entorno imediato, onde as relações passaram a acontecer com uma maior vivacidade, mas ainda sem deixar a discrição a que os homossexuais de classe mais alta que ali também frequentavam, ainda resguardavam, ele evidenciou o café Mocambo na Rua do Timbiras, o Largo do Paissandu, o banheiro público do Arouche etc (GREEN, 2000). A São Paulo dos anos 50 ainda não possuía bares exclusivos à homossexuais, e os bares do entorno da Biblioteca Municipal eram os que mais atendiam a uma clientela diversa onde incluía-se os homossexuais, sendo eles o Bar do Jeca, Brahma, Paribar (Ver fig. 46), o Barbazul e o Arpége. Barbosa da Silva relatou que no final dos anos 50 o bar Anjo Negro atenda especialmente clientes homossexuais, inclusive com apresentações de travestis, e o Nick’s Bar que se tornou dos locais favoritos dos homossexuais para reuniões de amigos (GREEN, 2000). Figura 46. Paribar na Praça Dom José Gaspar

Fonte: Reprodução / wikipedia (1983)

Até o final dos anos 60 existia a ‘Boca do Lixo’ que começava na esquina das Av. Ipiranga e São João, e seguia em direção ao Largo do Paissandu como relatou Clovis, um interlocutor da pesquisa de Barbosa da Silva, Clovis relatou também que que a ‘Boca do Lixo’ era uma área de prostituição e por mais que estivesse interligadas pelas ruas do entorno, os mundos da prostituição não se misturava aos que frequentavam os bares como Barbazul e o Paribar (PERLONGHER, 1987). São Paulo em meados dos anos 60, era comtemplada com o Edifício Metropolitano e a Galeria Metrópole (Ver figura 47), a qual proporcionou aos homossexuais da época um novo espaço de interações sociais, a galeria tinha dispostos


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ambientes como o cinema, as lojas, bares, boates e livrarias. O edifício não se dedicava ao público Homossexual, mas se tornou o local de maior movimento e preferência homossexual de São Paulo, Clovis relatou a Barbosa da Silva que a galeria “Foi construída como espaço arquitetônico e urbanístico. Mas já quando estava em obras as bichas falavam ‘vamos invadir esse espaço, vai ser nosso, vai ser uma bicharada toda nessa galeria’” (GREEN, 2000), haviam bares gays como o Barroquinho que era um bar aberto em que os gays iam para socializar e beber, não haviam shows e nem era uma boate (SÃO PAULO, 2013), os passeios e escadas rolantes também se fizeram espaços ideais para as dinâmicas de interações homoeróticas praticadas até então, assim como as áreas ajardinadas no entorno da Biblioteca Municipal, logo a poucos metros da Galeria Metrópole (GREEN, 2000). Clovis também relata que o auge da Galeria Metrópole foi em 1966 e 1967 e que os efeitos da Ditadura Militar de 64 tardaram a chegar, e só em 69 que as represálias foram mais dura, Clovis relatou que “Foram fechadas as suas três portas, e em camburões e ônibus levaram preso todo mundo. Isso conseguiu diminuir a frequência, e a galeria Metrópole caiu em declínio” (PERLONGHER, 1987). A galeria ainda sobreviveu em sua periferia pelos passeios das ruas que o contornavam, até que foi implementado o calçadão que interligava a galeria a Praça Dom José Gaspar, o autorama que acontecia entre a galeria e o Teatro Municipal também era espaços para a paquera que por volta dos anos 70, a homossexualidade era mais aceita (PERLONGHER, 1987). Figura 47. Fotomontagem da inserção urbana do edifício e galeria metrópole

Fonte: Arquivo Arq. (1964)


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Os anos 70, as boates foram parte importante do contexto homossexual, era a novidade do momento, e em decorrência delas, os lugares começam a diversificar e aos poucos sair do centro, exemplos são: a boate Hi-Fi na Rua Augusta, a boate K-7 como uma balada gay na Rua Bela Cintra que foi fechado e os donos abriram o Medieval na Rua Augusta, um recanto chique gay com vários shows incríveis com temas especiais e entradas triunfantes como a de Wilza Carla montada em um elefante (Ver fig. 48), outra boate de relevância era a Nostro Mondo na Rua da Consolação, que não tinha todo um glamour, mas era rica em programações como os concursos de travestis e homens pelados, uma boate que também marcou foi a Homo Sapiens ou HS inaugurado em 1978 na Marques de Itu onde todo mundo queria conhecer o HS inclusive os gringos e era para um público mais sofisticado, lá aconteciam shows de travestis e homens tirando a roupa no palco ou em concursos de beleza, no seu entorno surgiram bares como o Man’s Cautry, Batuk Bar e o ‘inferninho’ Val Improviso, também tinha o Gay Club localizado Rua Treze de Maio, o Cowboy com suas mesas com telefone para o flerte entre as mesas, o Off que abriu em 1979 na Rua Romilda Margarida Gabriel no Itaim e em 1986 se transforma em Espaço Teatral Off, as lésbicas se reunião no Ferro’s Bar em baixo do Viaduto Martinho Prado, entre as mais ricas o bar mais frequentado era o Moustache atrás do cemitério da consolação com mulheres glamurosas de terno e gravata, também havia a boate lésbica Dinossaurus para dançar e flertarem (SÃO PAULO, 2013). Figura 48. Wilza Carla chega montada em elefante a boate Medieval

Fonte: Arnaldo Silva / Folha de São Paulo (1976)


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Com o declínio da Galeria Metrópole, veio o auge da Rua Nestor Pestana, hoje próximo à Praça Roosevelt, que na época era um simples estacionamento a céu aberto, a comunidade homossexual se apropriou da Rua Nestor Pestana que não necessariamente era de uso exclusivos deles, Clovis ainda como interlocutor de Barbosa da Silva descrevia a rua como um local onde o “pessoal que fumava, transava LSD, ia maquiado com batom verde, purpurina no cabelo, penas na cabeça.” (PERLONGHER, 1987), um outro foco de local, era o Largo do Arouche, que começava a se tornar um ponto gay da cidade, acontecendo independente dos outros pontos, e que também era frequentados por pessoas de classe média, em contra partida o lado mais pobre também continuava a existir na ‘zona T’ e na Praça da República. Com as investidas policiais na Rua Nestor Pestana na busca por narcóticos, a parcela homossexual que ali conviviam socialmente começa a migrar parcialmente ao Largo do Arouche, apropriandose aos poucos da rua Vieira de Carvalho, até o auge da migração no final dos anos 70 (PERLONGHER, 1987). Antônio Bivar (1980) retrata em especial um sábado à noite da efervescente vida do Largo do Arouche: Do lado direito (entrando pela vieira de carvalho) ficam os bares com mesinhas na calçada. O décor lembra um pouco todos os caís do mundo, no seu passé: a iluminação é luz negra e o som é de discoteque. A clientela é ruidosa e mistura todos os sexos, tendências e idades, beirando a faixa dos 8 aos 80 anos. Do lado esquerdo do largo, na ampla calçada em frente a tradicional floricultura, uma ala mais jovem e bastante avant-garde reúne-se em grupos na calçada, nos balcões dos bares e lanchonetes, e riem, discutem, fofocam [...]. São animados, modernos, são a new wave gay de São Paulo: dos vários estilos de corte de cabelo a um ou outro brinco na orelha, aos modelinhos (foram os primeiros a vestir pantufas no verão e anoraks na meia estação). (BIVAR, 1980)

O Largo era um espaço democrático, absorvia as demais variantes identidades e expressões sexuais, os bares virados para a praça davam visão a quem passava por ali, e tornavam o banheiro público que localizava no meio da praça, um local freneticamente quente, as Ruas Bento Freitas e Vieira de Carvalho também continham mais bares de vida movimentada pelos gays, enquanto que as travestir preferiam ocupar o final da praça em direção a Rua Rego de Freitas (PERLONGHER,1987). Bivar volta a ressaltar as áreas gays como o coração do movimento, e de como era passear pela região e observar as diversas identidades: Da rua Major Sertório, com o trottoir das travestis [...] passamos pela ‘Boca do luxo’ (império das mundanas) e saímos para a Avenidas Ipiranga. Uma volta pelas Avenidas São Luís – outrora elegante e arborizada, hoje passarela de gay quiet quality


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-, um passeio pelos calçadões e um look na esquina do pecado que é o cruzamento das Avenidas Ipiranga e São João (os mais sofisticados que não querem – mas não conseguem deixar de – dar uma passada, nem que rapidinha, por lá, já inventaram até um nome para o vício: ‘a síndrome da esquina’). Desse ponto crucial, o turista sobe um pouco e evita – ou atravessa – a Praça da República (onde costuma acontecer assaltos e até crimes, e onde impera o baixo gay), e chega à bonita Avenida Vieira de Carvalho, cheia de edifício art-déco e quartel-general do gay ‘macho’ e do gay ‘executivo’, enfim, do gay aparentemente sério: todos usam bigodes (símbolo de classe, status e masculinidade) e vestem-se com um aprumo que beira o conservador, de tão discreto. (BIVAR, 1980)

Perlongher (1987) relata que a efervescência das ruas também foi um ato político, e que as confluência dos movimentos da época entre a vanguarda teatral, os intelectuais, universitários gays, as relações dos gays do ‘gueto’ e a militância paulista, deram espaço para organizassem em um grupo, o SOMOS, que proporcionaria a possibilidade de conhecer novas pessoas ou como ele cita, a possibilidade para os recém assumidos ou recém chegados ao movimento, de passar por um ritual de iniciação em que os grupos de afirmação e identitários, forneciam informação sobre suas condições sexuais em uma conscientização positiva. Uma nova onda de ‘limpeza’ da cidade, como a ocorrida no Estado Novo, pretendia confinar as travestis a uma zona da cidade, e tinham também o intuito de prender marginais, exploradores e desocupado. O então Coronel da PM Sydney Gimenez declarava que rondas policiais iriam recolher as travestis e determina-las a frequentar apenas as ruas especificas para elas, como citado pelo delegado de polícia Paulo Boncristiano que apenas alguns quarteirões nas proximidades do que era conhecido como ‘Boca do luxo’ e a ‘Boca do lixo’ e a partir de uma determinada hora da noite, as travestir poderiam se instalar nessas localidades. Essa ‘limpeza’ teve um apoio fundamental dos moradores e comerciantes das áreas as quais as identidades LGBTQ+ do período se instalavam, como destacou a matéria da Folha de São Paulo (Ver fig. 49), onde Richetti recebeu cartas e telegramas, além de pelo menos 60 abaixoassinados com aproximadamente 2 mil assinaturas. No início das investidas, as batidas policiais aconteciam simultaneamente em várias regiões do centro de São Paulo, depois a polícia se instalava estrategicamente em locais para realizar essas batidas, como no Largo do Arouche, fazendo detenções arbitrarias a fim de ‘limpar’ a cidade. Claramente as investidas policiais proporcionaram mudanças no território LGBTQ+, uma vez que delimitava territórios e os distinguia entre o gueto gay e as áreas das travestis, as travestis nas margens da Boca do luxo e


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os gays levados a se retirarem do Largo do Arouche concentram-se na Rua Marques de Itu, especificamente entre as Ruas Bento Freitas e Rego Freitas (PERLONGHER, 1987). Figura 49. Matéria Comerciantes apoiam rodas de Richetti

Fonte: Reprodução / Folha de São Paulo (1980)

Perlongher (1987) relata que entre 1982 e 1985, o processo de ocupação de espaços como pontos gays tem uma expansão em direção ás áreas de classe média e média alta dos Jardins, esse processo pode ser notado facilmente desde os princípios do processo de apropriação dos espaços LGBTQ+, como exemplo no início do século 20 em que os homossexuais interagiam nas regiões do Vale do Anhangabaú que foi uma região da elite burguesa, em seguida com a decadência dessas áreas e a ascensão dos cinemas luxuosos, os homossexuais tendem a ir a esses locais, com o passar do tempo e a região se configurando como a Boca do lixo, os homossexuais tendem a ocupar as regiões entorno dos bares Pari e Barbazul e da Biblioteca Municipal, onde intelectuais e uma certa classe média frequentava, permanecem ali até a decadência da Galeria Metrópole como ponto gay e deslocam para o Largo do Arouche e Rua Vieira de carvalho, uma região também frequentada pela classe média até que as investidas policiais levaram a saída da região e a busca pelos novos espaços de classe


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média, esses processos evidencia a necessidade de demonstrar que os homossexuais de classes mais abastardas em primeiro, não queriam estar vinculados a marginalidade periférica, e em segundo, se colocavam a ocupar espaços que proporcionaria discursões intelectuais e locais que de certo modo não denegrisse o status social. Em virtude de um poder de consumo maior que daqueles que frequentavam o centro, uma parcela tende a ir para as Boates do Jardins. Nos anos 80 surgiram novas boates como o Village Station Cabaret na Rua Rui Barbosa, uma boate extremamente luxuosa, era um restaurante, um bar, um espaços de shows, também tinha um cinema pornô gay, talvez o primeiro Dark Room de São Paulo, a boate Shock que recebia lésbicas e gays e antes era o Hunters uma boate gay já muito frequentado pelas lésbicas, o bar Feitiço’s na Vila Olimpia não tinha uma pista de dança e era um bar lésbico de paquera com música ao vivo, criando a tradição de bares lésbico ter música ao vivo, o Mistura fina que se dizia a maior casa gay do brasil na Rua Major Sertório, a Malícia na Rua da Consolação inaugurada em 1986, o Corintho inaugurado em 85 ao lado do Shopping Ibirapuera em Moema, era uma boate de Elisa Mascaro, a mesma que em 70 surgia com a Medieval e todo seu esplendor, com grandes espaços, um palco enorme onde apresentavam aproximadamente 26 pessoas ao mesmo tempo em megashows de muito luxo (Ver fig. 50), ali foram realizadas festas lendárias marcando o local como um império gay (SÃO PAULO, 2013). Os anos 80 foi também um retrocesso do universo gay frente a infecção por HIV e a morte de várias pessoas que compunham os elencos dos shows dessas boates por AIDS, levando uma decadência dos espetáculos até então realizados nessas boates. Figura 50. Corintho em noite Broadway.

Fonte: Reprodução / Music non stop (2017)


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Os anos 90 foram marcados como a Era Clubber com as músicas eletrônicas, a Nation sendo uma das primeiras, acontecia em um porão na Rua Augusta, em seguida vinha o Clube Massivo em 1991 na Alameda Itu que tornou mais popular o estilo musical com a presença de astros globais, colunistas e celebridades, o Clube Massivo foi a porta aberta para os bares e clubes como AZE 70, Latino, Boutique, Bloom, Katz e o Sra. Krawitz, em 1995 surgia a Lôca na Frei Caneca com um projeto de festa que revolucionava a noite GLS de São Paulo, a festa Grind com rock para o público GLS. Surgia também em meados dos anos 90 os afters em que a festa começava quando os outros clubes fechavam, entre 5 da manhã de domingo e ia até o meio dia ou até mais tarde em uma mistura de música eletrônica, ecstasy e luz laser, onde ficou conhecido o bordão ‘Don’t forget your sunglasses!’ traduzido livremente em ‘não esqueça seus óculos escuros!’, o público do eletrônico passaram a frequentar mais pra frente o Floresta, Lov.E, D-Edge, um outro grupo GLS ainda frequentava os locais com estilos musicais como nos anos 70 e 80, sendo eles a Mad Queen e Gent’s em Moema, a Diesel na Brigadeiro Luiz Antônio, a Disco Fever na Augusta, a So-Go na Alameda Franca, Tunnel localizado na Rua dos Ingleses, uma que dura até os dias atuais é a Blue Space aberta em 1996 na Barra Funda e foi uma das responsável por popularizar as Drag Queens na realização de shows ou como hostesses e promoters dessas casas, exemplo de Drags da década hoje bastante prestigiadas por suas carreiras são: Silvetty Montilla, Salete Campari, Nanny People, Marcia Pantera e Kaká di Polly (STEFFEN, 2017). Figura 51. Manifestantes se beijam durante protesto feito no shopping Frei Caneca

Fonte: Reprodução / Folha de São Paulo (2003)


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Um Evento que marca a década para o movimento identitário e de apropriação com toda certeza, foram os encontros de discursões sobre a temática LGBTQ+ e o início das Paradas do Orgulho, com a primeira de São Paulo em 1997, que marcou o território com seu circuito da Av. Paulista, descendo pela Rua da Consolação até a região central de São Paulo onde a região já era marcada como território LGBTQ+, essa visibilidade e a dispersão da região central iniciada nos anos 70 proporcionaram processos decentralizados de apropriação territorial, como visto anteriormente, as boates, saunas, clubes e bares se dispersaram pela cidade em um movimento continuo até os dias atuais, é possível ver manchas pontuais espalhadas pela cidade, como a mancha LGBTQ+ da Rua Frei Caneca onde após uma atitude discriminatória de um segurança do Shopping Frei Caneca em 2003, a militância organiza um protesto denominado ‘Beijaço’ onde 3 mil pessoas segundo a administração do shopping informou, se beijaram ao som de músicas que falassem de beijos como relata uma matéria intitulada ‘Beijaço lota área em shopping de SP’ publicado na Folha de São Paulo no dia 04 ago. 2003 (Ver fig. 51), e após esse acontecimento e do apoio que o shopping prestou ao protesto, mesmo que de última hora, a região foi se tornando cada vez mais gay. Figura 52. Capas dos Guias da cidade de São Paulo

Fonte: São Paulo Turismo, SPTURIS (2011)

Em 2011, dois guias impressos mapearam locais LGBTQ+ da cidade de São Paulo fazendo indicações aos turistas pertencentes a esta parcela dos locais mais badalados (Ver fig. 52), no Mini Guia Gay SP veio com reportagens temáticas, entrevistas com personalidades e roteiros de locais, a primeira reportagem intitulada ‘Você vai se divertir muito’ de Ernest White


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conta sobre a cena LGBTQ+ de São Paulo contextualizando como uma reflexo da própria metrópole, cheia de diversidade e descentralizada, e relata que cada região tem seu estilo como no Jardins em que a parcela populacional LGBTQ+ é mais estilosa e de classe média e alta, a região da Consolação é ancorada pela Augusta e Frei Caneca consolidadas como epicentro gay, o Largo do Arouche e a Praça da república com estilos mais eróticos. Em uma listinha básica, o guia indica a The Week como a melhor casa noturna com os homens mais gostosos da cidade sem camisa, o Frey Café&Coisinhas como local ideal para um encontro no dito coração gay de SP, o Spot como um dos melhores restaurantes pela comida e pessoas bonitas, a sauna Gêmeos como substituta da famosa 269 Chilli Pepper que estava fechada no período, e o shopping mais gay da cidade o Frei Caneca (SPTURIS, 2011). Em um mapa (Ver fig. 53) o guia pontua restaurantes, bares e cafés, casas noturnas e locais que não entram nas categorias anteriores. Em restaurantes estão listados o Ritz na Alameda França, o Athenas na Rua Augusta, o Barão da Itararé na própria Rua Itararé, a Bella Paulista na Rua Haddock Lobo, Consulado Mineiro na Rua Cônego Eugênio, o Mestiço na Rua Fernando de Albuquerque, Spot na Alameda Ministro Rocha Azevedo. Nos bares e cafés a lista começa com o Volt na Rua Haddock Lobo, o Bar da Loca na Rua Frei Caneca, Farol Madalena na Rua Jericó, Frey Café&Coisinhas na Rua Frei Caneca, O Gato na Rua Frei Caneca, o Tubaína na Rua Haddock Lobo, Vermont República na Vieira de Carvalho. Se tratando das casas noturnas, o guia começa com a D-EDGE na Alameda Olga, A Lôca na Rua Frei Caneca, a Bubu Louge na Rua dos Pinheiros, Cantho Dance Club no Largo do Arouche, a Megga na Rua Achilles Orlando Curtolo, Sonique na Rua Bela Cintra, The L Club na Rua Luís Murat e a famosa The Week na rua Guaicurus. Como locais sem uma categoria o guia lista as academias Commando Fitness na Rua Augusta e a Gaviões na Rua Treze de Maio, como locais de compras a loja 2Meninos na Alameda lorena, a Acessórios Arco-íris na Rua Vitória e o consagrado Shopping Frei Caneca na Rua Frei Caneca, em saunas homoeróticas tem a Gêmeos Sex Club na Alameda Riberão Preto e a Termas Lagoa na Rua Borges Lagoa, além do grupo de ciclismo SP Gay Bikers que se encontram na Praça Cordeiro de Farias (SPTURIS, 2011). O guia ressalta pontos turísticos já consagrados da cidade como a Estação da Luz, o Ibirapuera, Mercado Municipal, Pinacoteca, Terraço Itália e a Av. Paulista, e finaliza o impresso com uma lista de serviços de emergência, proteção, informações e transportes, além de uma lista de frases em inglês e traduzidas para o português para facilitar o diálogo entre turistas gringos e a comunidade LGBTQ+ paulista (SPTURIS, 2011).


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Figura 53. Mapa com Locais LGBTQ+ Fonte: Reprodução / SPTuris (2011)


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No Guia da DiverCidade de São Paulo também do ano de 2011, os textos estão escritos em português e inglês começando com um mapa das linhas de metrô de SP e de pontos turísticos famosos como MASP, Estação da Luz e Catedral da Sé, é seguido por reportagem sobre a cena LGBTQ+ de São Paulo onde começa vangloriando a Parada do Orgulho de SP como a maior do mundo e ressalta que a capital é o paraíso de diversão para os LGBTQ+, tendo mais de 80 estabelecimentos voltados para essa parcela populacional, dentre eles, bares e boates, restaurantes e cafés, lojas e saunas, e finaliza informando sobre o que está disposto no impresso. A matéria que dá boas vindas a cidade, é seguida por três mapas separados por áreas onde estão pontuados os locais LGBTQ+ indicados pelo guia, sendo as áreas divididas em: Paulista/jardins, Pinheiros e centro, e para cada mapa uma lista de locais indicados como um destino LGBTQ+, como exemplo no mapa de Pinheiros a indicação de número dois é a casa noturna Bubu Lounge Disco, no mapa da Paulista/Jardins a indicação de número um é a casa noturna A Lôca, e no mapa do centro a indicação de número três é a casa noturna Blue Space (Ver fig. 54 e 55). Após a sequência de mapas que de certo modo traduz uma mancha descentralizada, o guia vem com reportagens indicativas, onde de acordo com a temática desejada, lhe informa o local e o que tem de bom por lá, começando com uma indicação do parque do Ibirapuera para se exercitar e aproveitar para ver belos corpos malhados, seguida por matérias que indicam lugares para um clima romântico ou se preferir um clima glamuroso, é indicado a Rua Oscar Freire por ser uma das oito ruas mais luxuosas do mundo com várias lojas, restaurantes e bares (SPTURIS, 2011). O Guia conta também com uma lista de locais com seus respectivos endereços, divididos em categorias como: pontos turísticos, roteiros arquitetônicos, museus e centros culturais, shopping centers, feiras de artesanatos e antiguidades, bares, restaurantes, clubes e boates, Saunas, transportes na cidade, informações turísticas, organizações de segmento LGBTQ+, uma lista de sites e portais de segmento LGBTQ+, hotéis e estabelecimentos gay friendly, e termina o guia com um calendário anual de eventos onde cada mês lista eventos importantes como: janeiro com o dia da visibilidade Trans., em março o futebol de rua das drags, junho a Parada do Orgulho LGBT e os eventos correlatos a ela, agosto com a semana de visibilidade lésbica, setembro com o concurso Mister Gay Brasil, em novembro o Festival Mix Brasil e o Miss World Transex, e finalizando com dezembro com a Corrida Gay de São Silvestre (SPTURIS, 2011).


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Figura 54. Mapa do Guia DiverCidade para locais LGBTQ+ em Pinheiros e Paulista/Jardins. Fonte: Reprodução / SPTuris (2011)


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Figura 55. Mapa do Guia DiverCidade para Locais LGBTQ+ no Centro Fonte: Reprodução / SPTuris (2011)


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Figura 56. Capa do guia São Paulo LGBT

Fonte: Reprodução / SPTuris (2020)

Em 2013 a SPTuris lança um novo guia LGBT para a cidade (Ver fig. 56), seguindo o mesmo esquema dos outros dois apresentados aqui, uma sequência de matérias temáticas com indicações, mapas pontuando localidades LGBTQ+, e lista de eventos e endereços. O guia inicia as matérias com a temática da cultura e indica galerias de arte, museus, centros culturais, cinemas e teatros, seguido pela temática Gastronomia onde são indicados locais como padarias e locais para almoçar e jantar, a próxima matéria são locais para ir a noite como as baladas, bares e festas, o tema voltado as compras lista shoppings e feiras, o guia também lista os dez melhores pontos turísticos tradicionais da cidade como o Mercado Municipal, Sala São Paulo e o bairro da liberdade, também faz um roteiro indicando locais para todas as ocasiões especialmente para os turistas que pretendem passar uma semana na cidade. O guia Também conta com um calendário de eventos, como nos outros dois citados anteriormente, e marca eventos tradicionais e voltados ao segmento LGBTQ+, e em seguida vem com o mapa onde está pontuado 89 locais como indicação para o público LGBTQ+ (SPTURIS, 2013). O mapa é dividido em dez temáticas, sendo elas: cultura, cinema, teatro, galeria, compras, padarias e cafés, restaurantes, bares, baladas, e festas, para cada segmento foi determinado uma cor e enumerado os pontos no mapa e em seguida listados o nome dos locais e seus respectivos dados de localização. Os segmentos no geral fazem indicações de lugares genéricos e os pontos de bares, baladas e festas se referem a pontos mais segmentados ao público LGBTQ+, como em bares onde estão listados os bares: Volt, Frey café&coisinhas, Caos, Blitz Haus, Bar da Diva. Se tradando das baladas, estão listadas A Lôca, Blue Space,


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Bofetada, Bubu Lounge, Freedom, Hot Hot, Chantho, Lions Night Club, Club Yacht, Tunnel, CODE Club e The Week (SPTURIS, 2013). Analisando os pontos demarcados no mapa deste guia, é possível identificar as concentrações de estabelecimentos que, visivelmente marcam a região da Rua Augusta e Rua Frei Caneca, além da região central que retirando os marcadores vermelhos referente a cultura e focalizando em bares e baladas, a concentração é menor mas está na região da Republica (Ver fig. 57), é perceptível quer desde o movimento de saída da região central, as localidades de manchas de apropriação não tiveram grandes mudanças e em decorrências do uso de espaços como forma de lazer e prazer, as machas LGBTQ+ na cidade desde 1920 marcam o território em decorrência dos lugares de práticas eróticas, lugares de convivência e paquera, e os espaços de diversão como as baladas e bares, e que de certo modo, desenvolveram a região para as características do uso LGBTQ+. Em decorrência dessas manchas ao logo dos anos, é possível identificar as regiões que podem

Figura 57. Mapa do São Paulo Guia LGBT Fonte: Reprodução / SPTuris (2013)


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2.2.1 Territórios LGBTQ+ passiveis de uma reafirmação Usufruindo do sentimento de pertencer ao movimento, aliado aos elementos físicos que promovem o mesmo sentimento de pertencimento, espaços foram habitados e demarcados como meio de ação política e social para o movimento LGBTQ+. Em análise dos movimentos de habitar e se apropriar do espaço, foi possível detectar as machas na cidade e de como elas evoluíram, pode-se pontuar as manchas da seguinte forma: •

Vale do Anhangabaú: o período do início do século 20 marca o vale do Anhangabaú como um território onde os homossexuais se encontravam para socializar, independentemente do tipo de socialização;

Zona T: os cruzamentos das Av. Ipiranga e Av. São João foi por muito tempo uma região de muita importância como mancha de apropriação derivado dos diversos tipos de socialização ali presentes, foi uma região que influenciou as dinâmicas futuras que aconteceram nas regiões adjacente a ela;

Rua Nestor Pestana: a rua foi destino para os homossexuais após o declínio da Galeria Metrópole, não exclusivo para os homossexuais a região foi habitada por uma cultura hippie, mas também caiu em declínio pela frequência de batidas policiais;

Largo do Arouche: como um novo ponto de destino, em uma região esteticamente bonita, abrigou uma efervescência LGBTQ+ considerado como o coração da macha de apropriação, também entrou em declínio levando a os fluxos LGBTQ+ para a região da Av. Paulista;

Paulista: no processo de migração da mancha, a região da Consolação, Augusta e da Av. Paulista, abrigaram as boates e clubes que determinava o fluxo da comunidade LGBTQ+ para a região e produziram ali a base para as dinâmicas futuras;

Circuito Parada do Orgulho: consagrado por acontecer da Av. Paulista, descer pela Rua da Consolação e chegar na região central da cidade, o circuito marca o território mostrando para o centro financeiro e cultural da cidade a afirmação de existir e resistir e leva o público do evento para o coração do movimento, o centro da cidade.

Para referenciar as manchas de apropriação na cidade de São Paulo, primeiro entra em destaque a área de ampliação (Ver fig. 58), a região em destaque é a subprefeitura da Sé, nela é possível demarcar as manchas de uso do espaço para afirmação do movimento LGBTQ+, que em sua grande maioria, acontece na região central da cidade. Nos mapas de Manchas de Apropriação Territorial e Mancha do Circuito da Parada do Orgulho (Ver fig. 59), respectivamente,


102

evidencias os locais onde os LGBTQ+ conviviam socialmente desde o de 1920 até os dias atuais e a mancha do circuito da Parada LGBTQ+ eu tem como destino final a região da República. Figura 58. Localização da Subprefeitura da Sé com destaque para área das manchas de apropriação

N

Fonte: Elaborado pelo autor. (2020) Figura 59. Mapas de machas de Apropriação 2

1 Largo do Arouche

1

Vale do Anhangabaú

3

1

1

4

Rua da Consolação

1

2

1

1

1 3

1

1

1

1

4

1 1

1 1

0 200

1

1 2

4

1

1

1

1

3

Av. Paulista

800

1200

2000

Fonte: Elaborado pelo autor. (2020)

2800

1


103

A Região do entorno da República tem grande relevância para o contexto do movimento LGBTQ+ da cidade de São Paulo, e uma das áreas a que teve grande destaque histórico e que ate os dias atuais, continua a produzir uma afirmação local LGBTQ+, esse local é o Largo do Arouche, evidencia-lo como um espaço LGBTQ+ é reafirmar a efervescência que este teve e que foi esquecida, é produzir um local que traduza o sentimento de pertencer ao mesmo e ao movimento, é reafirmar o Largo como um ponto focal de destino LGBTQ+, é reafirmar a existência dessa parcela populacional na cidade de São Paulo, evidenciar o Largo LGBTQ+ do Arouche é um ato político e sociocultural.


104

03

O LARGO DO AROUCHE

3. O LARGO DO AROUCHE


105

Este Capítulo vem detalhar as especificidades do largo do Arouche assim como as potencialidades da área para implementar uma intervenção, evidenciando os usos e as dinâmicas do espaço a partir de mapas e dados do GeoSampa e Planos Regionais. Largo do Ouvidor, Largo da Artilharia e Praça Alexandre Herculano, nomes empregados ao então Largo do Arouche, nomeado assim em homenagem ao Tenente-General Jose Arouche de Toledo Rendon. Por volta de 1960, uma grande concentração de atividades e uma estrutura de modais de transportes falha, provocaram uma conturbação entre atividades, pessoas e veículos, em decorrência dessa problemática, o poder público, por volta dos anos 70, investiu em ações de solução para as problemáticas, dentre elas, o início da implementação do sistema de transporte coletivo e de alta capacidade, o metrô, e a descentralizada de atividades, ate que em nos anos 80, a rígidas regras de ocupação da centralidade da capital, levou um esvaziamento de grande vulnerabilidade a ponto de que na década seguinte, o Poder Público já investia no retrocesso dos processos até então empregados, um investimento em planos e intervenções localizadas (SÃO PAULO, 2016). Atualmente a cidade de São Paulo tem sua mancha LGBTQ+ espraiada, e dois polos de concentração se destacam, a rua augusta com sua efervescência de diversidade sociocultural, bares e boates, e o Largo do Arouche que também tem sua vivacidade e a maior concentração de estabelecimentos voltados para o segmento LGBTQ+ da cidade, mas hoje encontrasse em uma região degradada. A escolha do Largo do Arouche como local de implantação para proposta de uma intervenção se deu em decorrência das especificidades do local, desde sua ocupação pela comunidade LGBTQ+ na década de 70 o Largo mantem seus resquícios de apropriação territorial, são lojas, bares, boates e clubes, além do espaço físico da praça como palco para o ativismo. Reestruturar, requalificar, reconstruir, reabilitar, revitalizar e renovar, um conjunto de palavras para descrever um significado para a intervenção no Largo do Arouche, mas, além de proposta que qualificara a qualidade espacial do mesmo, a intervenção promovera uma identidade LGBTQ+ para o Largo, criando um sentimento de pertencimento. O Largo do Arouche se encontra entre as zonas da Santa Ifigênia e Santa Cecilia do Plano Regional de planejamento e gestão urbana da prefeitura de São Paulo. A Zona Santa Ifigênia é uma área de uso misto, com vias de importância regional, boa infraestrutura de modais de transporte, uma boa representatividade em equipamentos culturais e entretenimento, além dos centros comerciais, mas é mercada pela degradação visual, qualidade urbana e má utilização de potenciais equipamentos. O Plano regional determina como objetivos para a Zona Santa Ifigênia:


106

atender a demanda por equipamentos e serviços públicos de saúde, educação, assistência social e de cultura;

Atender a população em situação de vulnerabilidade social, dentre eles, a parcela LGBTQ+;

Promover ações indutoras de desenvolvimento econômico local, principalmente no comércio e serviços locais;

Qualificar os espaços livres públicos, seja eles vinculados a equipamentos públicos, comercio, transporte público, polos atrativos e a centralidade;

Atender a demanda por espaços livres públicos de lazer e esporte;

Promover a conservação da paisagem e do patrimônio material e imaterial local;

Melhorar a segurança pública local. E como diretriz de planejamento de intervenções, determina:

Estudar possibilidade de implementação de centros de educação infantil, escolas municipais, creches, unidades de pronto atendimento, bibliotecas infantis, coleta seletiva de lixo eletrônico, equipamentos psicossociais e equipamentos voltados a populações LGBTQ+, imigrantes ou em situação de rua;

Desenvolver ações de assistência social para atender a população em situação de rua, imigrantes, LGBTQ+ e usuários de drogas;

Qualificar espaços livres públicos, garantindo acessibilidade universal, segurança e conforto para o pedestre, através de arborização, implantação de mobiliário urbano, informações de rede de transporte e melhoria da iluminação pública;

Aumentar e qualificar a arborização e paisagismo com aumento de áreas permeáveis;

Criar áreas de permanência e convivência no espaço público;

Qualificar e articular os principais percursos e pontos de conexões, diurnos e noturnos, dando prioridade ao pedestre, ao ciclista, e ao transporte público;

Qualificar as principais rotas e vias de pedestres, como calçadas, escadões, travessas, esquinas, principais cruzamentos viários, entorno de grandes equipamentos e viadutos;

Demarcar os Territórios de Interesse da Cultura e da Paisagem, com objetivo de possibilitar ações especificas da administração pública e a articulação entre e com agentes privados e comunidade, na coordenação de atividades culturais em cada território, potencializando o uso do espaço livre;

Estudar, redistribuir e disciplinar zonas de estacionamento, embarque e desembarque de passageiros e áreas de carga e descarga;


107

Estudar o estreitamento do leito carroçável nas esquinas, o aumento das calçadas mediante implantação do traffic calming e a restrição de estacionamento de veículos em vias públicas;

Promover um estudo de um programa de comunicação visual para o circuito de compras, cultura, com implantação de sinalização vertical / horizontal e de iluminação / comunicação visual;

Estudar a viabilidade de retrofit com solução Habitacional de interesse social;

Elaborar plano especial de varrição e coleta de lixo pós-eventos. A Zona Santa Cecilia engloba os distritos de Santa Cecilia, República e Consolação,

acompanhando o eixo do Elevado João Goulart, minhocão, e se caracteriza pelo boa estruturação urbana, com uma boa diversidade de comércios, serviços e habitação, assim como a Zona Santa Ifigênia, a região também se encontra em degradação visual, com uma grande concentração de cortiços, praças que servem de local para descarte irregular de lixo e uma grande parcela de população em situação de rua. Os objetivos para esta zona são: •

Atender a demanda por equipamentos e serviços públicos sociais, especialmente de assistência social, lazer e esporte;

Atender a população em situação de vulnerabilidade social;

Promover ações indutoras de desenvolvimento econômico local com estímulo ao comércio e serviços locais;

Qualificar espaços livres públicos, especialmente os vinculados ao comercio e ao transporte público;

Melhorar a acessibilidade e mobilidade local. As diretrizes para intervenções projetuais nesta zona são:

Garantir a segurança e acessibilidade universal nas calçadas e cruzamentos de vias para pedestres e ciclistas;

Requalificar as vias, com tratamento das calçadas, esquinas, arborização viária, instalação de mobiliário urbano que propicie o convívio social e melhoria da iluminação pública;

Requalificar as praças que se encontram abandonadas;

Estudar proposta de intervenção para o Elevado Pres. Joao Goulart. Essas diretrizes nortearam as intervenções propostas, mas antes de ir ao terreno atual,

fica necessário observar as modificações do espaço em uma cronologia que levara ao traçado atual do largo e a análise do seu entorno para definições de propostas (Ver fig. 60).


108 108 Figura 60. Cronologia Cartográfica do Largo do Arouche

z

1810

A área destacada em verde representa a chácara do Tenente-General Jose Arouche de Toledo Rendon.

2

0m

110

220

440

N

880

1

1842

3

2

4

5 1 0 m 110 220

440

880

A área destacada em verde representa a chácara do Tenente-General Jose Arouche de Toledo Rendon e a área verde com representa um traçado do início do Largo do Arouche.

N

3

1868

6

2 4

5

1

0 m 100

400

800

N

A área destacada em verde representa a chácara do Tenente-General Jose Arouche de Toledo Rendon e a área verde com representa o novo traçado do Largo do Arouche.


1877

109 109

2

4

5

N 0m

100

400

200

800

A área destacada em verde representa um recorte parcial o Largo do Arouche.

1881

6

4

2

0m

100

200

800

400

5

A área destacada em verde representa o traçado do Largo do Arouche em um modelo que se aproxima do traçado atual.

N

3 6

1890

8

4

2

5

7

1

N 0 m 100

400

800

A área destacada em verde representa o traçado do Largo do Arouche com os dois traçados das praças.


3

110 110

1930

6

8

4 5

2

0 m 100

400

800

A área destacada em verde representa o traçado do 7 Largo do Arouche com um traçado mais detalhado do Largo.

N 1

3

6

1954

8

4 2

0 m 100

400

800

N 1

5

A área destacada em verde representa o traçado do Largo do Arouche com 7a inserção da rotatória ao norte da grande praça, modificando o traçado da quadra ao nordeste da grande praça.

3 6

1988

8

9

4 2

0 m 100

400

800

N

5

A área destacada em verde representa o novo traçado 7 do Largo do Arouche em decorrência da inserção do Elevado Pres. João Goulart


3

111 111

6

2020

8 9

4 2

0 m 100

400

800

N

5

7

A área destacada em verde representa o atual traçado do1 Largo do Arouche.

LEGENDA

Fonte: GeoSampa / Adaptado pelo autor (2020)

Igreja da Consolação

Praça da República

Jardim da Luz

Largo do Paissandu

Mosteiro São Bento

Praça Prca. Isabel

Vale do Anhangabaú

Igreja Santa Cecilia

Elevado Pres. J. G.

Desde a Chácara do Tenente-General Jose Arouche, o Largo sofreu mudanças essenciais para o seu traçado, mas para adaptar-se as dinâmicas dos veículos, tem hoje um traçado mais fragmentado com cinco pequenas praças e uma maior, totalizando 6 praças delimitadas pela Av. São João, Rua Vitória, Av. Vieira de carvalho, Rua do Arouche, Rua Bento Freitas, Rua Rêgo Freitas, Rua Amaral Gurgel, Rua Dr. Frederico Steidel e Av. Duque de Caxias. O largo, em sua configuração atual, tem uma banca de revista e um mercado de flores, mas se consolida como um simples espaço verde, sem demais atrativos que a qualifique como um ponto focal de atração, não exclusivo ao segmento LGBTQ+ mas ao seu entorno como um todo.


112

3.1 A requalificação O Largo do Arouche foi o ponto de discussão entre o Consulado Frances em São Paulo, o Institut pour la Ville em Mouvemente (IVM) e os escritórios de arquitetura Le Ready Make e Triptyque em 2017 para produzir uma revitalização e promoção da Virada Cultural de 2017, foram realizadas levantamentos quantitativos e pesquisa de opinião a fim de proporcionar uma ampla reflexão sobre o espaço do largo. A realização da pesquisa foi organizada em dias da semana e horários diferentes para identificar as variações de dinâmicas do espaço, de modo que a estrutura do trabalho se subdivide em: perfil do usuário, para identificar as identidades que usufruem do espaço; as polaridades, onde é levantado os motivos que trazem os frequentadores ao Largo; percepções, onde os entrevistados descreve sua opinião sobre o espaço físico, sugestões e anseios; e as entrevistas abertas.

3.1.1 Perfil do Usuário A pesquisa revelou que a ocupação do Largo do Arouche é predominantemente masculina e que a maior parte do percentual de frequentadores entre 19 e 50 anos pertencem a parcela LGBTQ+ da sociedade, também notou-se que poucas crianças frequentam o Largo, um fato que em comparação com anos anteriores, os entrevistados revelaram que era comum a presença de famílias com crianças no espaço. A parcela dos frequentadores que moram no Largo do Arouche representa 32%, evidenciando que a interação desses no local é de grande relevância, uma vez que removendo a parcela de pessoas em situação de rua, as outras parcelas de frequentadores correspondem a 56,6% e a de morados passa a ser 43,4%, desses 56,6% de frequentadores, 22,3% corresponde a pessoas que se deslocam de outras subprefeituras para frequentar o Largo por motivos de trabalho, uma parcela de 44,4%, para socializar com 33,3%, sendo o segmento LGBTQ+ a grande maioria de motivos de socialização, e 22,2% vai para outros fins diversos. Tradando da parcela referente as pessoas em situação de rua, com 11,4%, notou-se que mais de uma vez, o largo era citado como um local com melhores condições para os que ali se instalavam a fim de passar a noite, por uma boa frequência de movimentação social e iluminação boa, fornecendo condições menos arriscadas a eles em comparação com outros espaços públicos do entorno também ocupado por pessoas em situação de rua (Ver fig. 61) (CIDADE, 2017).


113

Figura 61. Gráficos do perfil de usuários

Fonte: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

Para uma melhor identificação de relações sociais do Largo, a pesquisa dividiu-se em categorias pontuando os que ali moram, os usuários e os que trabalham no entorno imediato, evidenciando o potencial de usos do local por essas parcelas categorizadas. A subdivisão fornece as percepções dos frequentadores baseado na dinâmica de cada parcela, uma vez que os processos sociais ocorrem de maneira distinta para cada um deles, um exemplo são os que somente trabalham no entorno tendem a ter uma percepção baseada em uma frequência dos dias uteis e nos períodos diurnos, já moradores presenciam situações ao longo do dia e da noite, além do que vem a acontecer em dias com feriados e finais de semana onde a dinâmica do Largo tende a ter outras características. A pesquisa relata que os que somente são usuários, um percentual de 31,25% dos entrevistados, considera o Largo como um espaço tranquilo, enquanto os moradores e trabalhadores não considera o espaço como tranquilo, uma vez que estes tem uma percepção baseada em uma maior frequência do entorno. Na fig. 62, destacamse as porcentagens para as categorias de que apenas usam, com 31,25%, os que apenas moram, 4,2%, e os que apenas trabalham, 16,7%, mas também revela que a maioria dos que frequenta o largo, pertence a mais de uma dessas categorias, como os que usam e trabalham com 20,85%,


114

os que usam e moram com 12,5% e os que realizam as 3 categorias, usam, moram e trabalham, sendo 14,5%. Também está evidenciado na fig. 62 uma porcentagem para aqueles que apenas trabalham no largo, desses, 66,7% vem de outras subprefeituras da cidade de São Paulo, e para aqueles que somente usam os espaço, 50% se deslocam de outras subprefeituras (CIDADE, 2017). Figura 62. Relação social com o Largo do Arouche

Fonte: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

A frequência dos usuários também foi levantada como um parâmetro para determinar a importância do espaço como destino a várias gerações, uma parcela correspondente a 27% dos entrevistados frequentam o Largo a mais de 5 anos e 12,5% a mais de 30 anos, mas evidencia que o espaço também é destino para os as novas gerações com um percentual de 52,1% para aqueles que frequentam o Largo a menos de 5 anos, um dos motivos dos mais novos frequentarem o espaço, são festas e os eventos LGBTQ+ que acontecem aos finais de semana. Outro quesito da pesquisa referente a frequência, foi o levantamento de quantas vezes o Largo do Arouche se tornou destino para os entrevistados, e a grande parcela dos entrevistados relatou frequentar o Largo diariamente, um total de 77,1%, mas deve salientar-se que essa parcela que frequenta diariamente incluem majoritariamente os entrevistados que estão no espaço durante


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os dias uteis e muitos deles são os que trabalham no entorno. A pesquisa também salienta que a precisão do cálculo percentual tende a evidencias a frequência para os dias uteis, uma vez que poucas entrevistas foram realizadas aos finais de semana (Ver fig. 63) (CIDADE, 2017). Figura 63. Usuários e sua frequência no Largo

Fonte: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

3.1.2 Polaridades O Largo é um polo de atração pelos mais diversos tipos, pode-se evidenciar por exemplo a atração do largo como área verde pública, atraindo pessoas para diversos usos como lazer, socialização, espaço para treino físico ou passeios com cachorros, foi evidenciado também o motivo mais citado pela frequência é o fator de polo empregatício do entorno do Largo, são um conjunto de estabelecimentos voltados a população como lojas, hotéis, clubes, bares e restaurantes, outro fator de polaridade é o histórico local como espaço LGBTQ+ e os espaços destinados ao segmento que proporcionam uma efervescência para a região, e por fim, mas não menos importante, o espaço público como meio para eventos como carnaval ou de ativismo LGBTQ+. A pesquisa afirma que a diversidade dos frequentadores é resultado da variedade dos usos do entorno, são pessoas de diversas classes sociais, idades, e pertencentes a múltiplas orientações e expressões sexuais, e evidenciou o número de vezes que o motivo para ali frequentem se repetiam por outros frequentadores (Ver fig. 64), descreve liberdade LGBTQ+ como local seguro para manter dinâmicas sociais LGBTQ+, localização como facilidade para chegar ao espaço, outros como visitas eventuais a familiares ou amigos por exemplo, ambiente


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como um espaço tranquilo e bem arborizado, e por fim, socializar onde abrange eventos, festas ou simplesmente trocar conversas (CIDADE, 2017). Figura 64. Motivos de para uma frequência

Fonte: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

As variações de uso foram categorizadas em três divisões, os períodos de horários em que o entrevistador colhia as informações, evidenciando as dinâmicas presentes no espaço do largo para cada período. No período da manhã, a atividade de maior frequência é a de pessoas que estão ali a trabalho, aqueles que se destinam a seus estabelecimentos de trabalho como o mercado de flores e os garis que limpam o espaço, assim como aqueles que vão para as lojas e restaurantes, o período da tarde é marcado por 2 atividades, uma delas é o uso do Wi-fi de livre acesso, reunindo pessoas que ali param por vários minutos, e novamente a frequência dos que estão ali por questões de trabalho, o período da noite é marcado pela convivência social, são pessoas que se reúnem para conversar, há também aqueles que se encontram para conversar nas mesas dos bares e restaurantes do entorno da praça, evidenciando o potencial social do espaço. Outra característica também evidenciada na pesquisa é a de que pela manhã, a frequência de pessoa entre 56 a 85 anos, correspondem a 46,2% do total de frequentadores desse período, e com 30% do total para o período, os que menos frequentam o espaço são as pessoas entre 15 e 35 anos, já no período da tarde era mais evidente a presença de pessoas com idades entre 36 a 55 anos, 43,4% do total para o período, e ao anoitecer, 50% dos frequentadores são pessoas entre 15 e 35 anos, e o pesquisador ressalta que ficou evidente a intensa presença de público LGBTQ+ no período noturno, garantindo a efervescência e vitalidade do espaço durante a noite (Ver fig. 65) (CIDADE, 2017).


117

Figura 65. Variaçþes de uso e idade do Largo baseado em horårios

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)


118

3.1.3 Percepções Nesse quesito, as memorias e o imaginário foi o foco, as entrevistas realizadas revelam características de importância essencial para a memória e ao imaginário dos frequentadores. A exemplo de memória significativa, o pesquisador questionou os frequentadores a respeito de estabelecimentos ou pontos de referência do entorno, e os mais citados fazem referência a estabelecimentos mais antigos, citados até pelos frequentadores mais jovens, evidenciando o papel histórico do local (Ver fig. 66) (CIDADE, 2017). Figura 66. As Transformações do Largo na visão dos frequentadores

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

Em entrevistas realizadas pela pesquisa, moradores e usuários mais antigos relatam que é perceptível as mudanças ocorridas, e que a maioria acredita que foi para pior. Os relatos são:


119

Antes eu vinha trazer meu sobrinho para jogar bola aqui nos finais de semana, tinha muita criança [...], hoje já é muito diferente, não tem mais crianças. William, 31 anos, mora no centro e trabalha no largo. Antes tinha barraca de flor dos dois lados, era a praça das flores. [...] As famílias frequentavam a praça no fim da tarde. Marquinho Alexandre, 82 anos, mercador de flores. Há uns anos o comércio e as boates funcionavam mais á noite, era mais seguro á noite porque tinha mais gente por aqui. Hoje as boates abrem menos e os comércios fecham mais cedo. Paulo, 39 anos, morador do largo. Antes minha mãe fazia crochê aqui na praça, enquanto eu ia nadar no rio ali embaixo. Eu também ia na praça para paquerar. Stephane, 58 anos, policial civil e moradora do largo. Antes, bem antes mesmo, era mais bem cuidado, ajardinado, tinha onde se sentar. Jose Dinosete, 60 anos, taxista do largo. Lembro que as pessoas jogavam vôlei bem no centro da praça, quando não havia bancos ali. As pessoas vinham jogar e também assistir. Tenho a impressão de que os moradores frequentavam mais o largo. João A. Mendes, 55 anos, pedagogo e gerente de parques, morador do largo. Já me sentei muito nos bancos dessa praça, mas há muitos anos retiraram os bancos, eram lindos, antigos, meio redondos. Porque os moradores de rua dormiam neles. Interlocutor não identificado, 76 anos, moradora do largo. No fim da tarde todas as mães do meu prédio desciam com seus filhos e com cadeiras para se sentarem no largo, conversarem e tomarem conta das crianças, que brincavam por toda a praça. Lembro-me que era um grande espaço de confraternização. Erotilde, 75 anos, aposentada e moradora do largo desde 1986. Depois do banheiro público o largo mudou muito, ficou mais limpo. Jorge dos Santos, 56 anos, cuida da manutenção do banheiro. Era muito comum e seguro andar á noite e de madrugada nos arredores do largo há cerca de 2 anos. Sinto que com a desativação da ‘cracolandia’ aqui ficou mais perigoso. Ivo, 36 anos, tele atendente e morador do largo desde 2007 (CIDADE, 2017).

Essas transformações se tonaram quesito levantado pela pesquisa e, quando perguntados sobre a percepção de mudanças no Largo, 79,2% relatou perceber uma


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transformação do espaço ao longo do tempo em que frequentam o Largo, para esses, uma segunda pergunta foi direcionada, foi questionado sobre a qualidade das mudanças e 55,3% afirmam que as mudanças ocorreram de uma forma que melhoraram a qualidade do Largo, em contra partida, 39,5% afirmam que houve uma piora do espaço com as mudanças ocorridas. Para melhor subdividir as respostas, a idade serviu de parâmetro de análise de percepção do espaço ao longo dos anos e, aos que relataram uma melhora do espaço, 61,9% dos relatos foram de pessoas que frequentam ali a no máximo 5 anos, já em relação as afirmativas de piora, 60% foram relatos de pessoas que frequentavam o Largo a mais de 20 anos (Ver fig. 66) (CIDADE, 2017). Figura 67. Os pontos de mudanças evidências pelos frequentadores

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

O que mais ficou evidente como respostas dos entrevistados, é que a mudança principal foi a faixa de renda dos frequentadores, que tendeu a abranger classes mais baixas ao contrário de décadas anteriores, outro ponto também evidenciados foi o fato de que grandes mudanças espaciais não foi frequente na estrutura do próprio Largo. Uma moradora relata ao pesquisador que a origem dos frequentadores do largo antigamente era mais distinta, em grande maioria eram os moradores, e que a frequência de pessoas que não residem ali se tornou cada vez mais frequente na última década, com pessoas mais ecléticas que buscam aproveitar os potencialidades do largo. Na fig. 67 pode-se notar a frequência com que algumas mudanças foram citadas e, a piora da manutenção do espaço foi o que mais se destaca como uma mudança ocorrida no espaço, evidenciando a necessidade de uma maior intervenção de manutenção,


121

outro fator de mudança que também teve uma maior frequência relatada, mas dessa vez como ponto positivo, foi a mudança da base da PM que forneceu uma maior sensação de segurança (CIDADE, 2017). Para uma melhor compreensão de opiniões, o pesquisador tratou de questionar os frequentadores a respeito do que eles mais gostam e também o que eles não gostam no Largo do Arouche, e separou esses questionamentos em 2 grupos, os que moram no entorno do Largo e os que usufruem do largo ou trabalham no entorno (Ver fig. 68 e 69). Figura 68. A visão dos moradores

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

Na fig. 68 a opinião dos moradores evidenciam que as áreas verdes são os pontos mais positivos do Largo do Arouche, seguido pela potencialidade do espaço como local de socialização evidenciando os bares e eventos que também compõem o perímetro das praças como esse espaço de sociabilidade, e o que menos agrada aos moradores é a sujeira, criando uma sensação de abando do espaço, seguido pela presença negativa de usuários de drogas e por incrível que parece, apesar da histórica potencialidade, o público LGBTQ+ não agrada a alguns moradores. Na fig. 69 está evidenciado as opiniões dos usuários e pessoas que trabalham no entorno, para eles as áreas verdes também é o ponto mais positivo do Largo, seguido pela tranquilidade do espaço e da potencial sociabilidade, e o que menos agrada a eles, assim como aos moradores, é a sujeira e os usuários de drogas, vale ressaltar que ‘não tenho o que reclamar’ foi citado o terceiro mais relatado quanto a questões de o que menos gostam do espaço. No contexto do todo, as áreas verdes foram citadas como o que mais tem importância no espaço, evidenciando a potencialidade de aliar os benefícios dessas áreas a outros elementos essenciais,


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como exemplo dispor de mobiliário urbano como mesas e bancos abaixo das sombras das copas de arvores e próximo as áreas ajardinadas, a sociabilidade também foi potencialidade nas mais bem evidenciadas, podendo compor um espaço mais integrando aliando por exemplo as mesas e bancos já dispostos as sobras das copas aos bares e restaurantes do entorno do largo. Uma potencialidade evidenciada sempre poderá esta aliada a outras, para melhor compor o espaço.

Figura 69. A visão dos usuários e trabalhadores

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

Já tratando do que menos agrada no contexto de todos os frequentadores, pode-se pontuar a falta de espaços para sentar-se, assim como mesas, a falta de uma instalação de bicicletário, uma melhor disposição de banheiros públicos e bebedouros, além de espaços para práticas de exercícios e esportivas. O pesquisador ainda sobre o que mais e menos agrada, questionou sobre o que o Largo do Arouche necessitava e, na fig. 70 está listado os itens mais citados como de maior importância a uma instalação, a grande maioria dos interlocutores evidencia a extrema necessidade de banco, uma vez que estes haviam sidos retirados para que pessoas em situação de rua não usassem desses para dormir como relatou um interlocutor ao pesquisador, seguido pela importância de um espaço para exercícios físicos, mesas e parquinho para as crianças, o banheiro público também é visto como de extrema importância para alguns frequentadores, uma vez que colaboraria para reduzir ou extinguir o mal cheiro em alguns pontos do Largo, mas outros frequentadores questionaram a instalação do banheiro, apontando


123

ele como um facilitador para práticas de prostituição. Vale evidenciar aqui que a cidade é feita por pessoas e para as pessoas e, produzir uma arquitetura de repressão, com retirada de bancos, espetos em muretas de canteiros e a falta de equipamentos para higiene pública, é produzir uma cidade elitista e segregatícia, a problemática de pessoas em situação de rua pode e deve ser resolvida com outra abordagem, mas é questão de estudo para outra ocasião, uma vez que este trabalho não tem como especifico a problemática de pessoas em situação de rua. Figura 70.Sugestões de melhorias

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

Ainda tratando das sugestões de melhorias para o Largo do Arouche, o pesquisador questionou os interlocutores sobre a necessidade de atividades a serem realizadas no espaço do largo e, na fig. 71 esta evidenciado as atividades em que os frequentadores mais gostariam de ver acontecer no largo, na grande maioria das respostas, eventos culturais foi o mais pediram os frequentadores, mais shows, exposições, feiras, atividades para crianças e idosos, também foi apontado, questões de assistência social, mutirões de saúde, assistência a pessoas em situação de rua, tratamento de situações que produzam vulnerabilidade social, assim como mais quiosques comerciais e uma valorização da área verde.


124

Figura 71. Atividades mais desejadas

Fontes: Cidade em Movimento / adaptado pelo autor (2017)

3.1.4 A proposta da Triptyque Arquitetura Figura 72. Isométrica projeto do escritório Triptyque

Fonte: Triptyque (2018)

Baseado no relatório produzido pela Cidade em Movimento, onde concluiu-se que o Largo do Arouche tem um potencial para áreas verdes que devem ser explorados, assim como a potencialidade para oferecer atividades voltadas a saúde com aparelhos de exercícios físicos,


125

a cultura com exposições e cinema, encontros com eventos sociais e shows, a importância de manter o largo como território cultural e apropriado pelo segmento LGBTQ+ desde os anos 50 e 60, continuar a garantir a pluralidade de identidades de frequentadores e, por fim manter a manutenção do espaço a fim de garantir uma melhor sensação nos indivíduos, o escritório de arquitetura Triptyque projetou uma requalificação para o Largo do Arouche, tentando preservar a história do espaço enquanto inseria elementos contemporâneos. Figura 73. Implantação da proposta de requalificação

Fonte: Triptyque (2018)

A primeira proposta de intervenção foi proporcionar uma iluminação extra na altura da copa das arvores de forma a servir aos pedestres e aos veículos, a segunda proposta foi a ampliação da área de praça e um sistema de drenagem de águas pluviais, como terceira intervenção, a Triptyque desenhou os novos mobiliários urbanos para o Largo, como exemplo um novo mercado de flores aberto para os dois lados em uma estrutura mais contemporânea, uma marquise metálica, assim como no mercado de flores, faz coberta para a banca de revista já existente aliada a um painel solar para tornar a banca autossuficiente e um jardim vertical alimentado pela agua da chuva coletada a partir das inclinações da marquise e, a instalações de quiosques como o de apoio, atendimento LGBTQ+, posto da PM e café.


126

Figura 74. Isométrica de inserção do projeto na quadra

Fonte: Triptyque (2018)

Todo o conjunto de arvores existentes se manteve preservado e foi previsto a instalação de uma horta comunitária, para uma melhor condição sanitária, foi prevista a instalação de banheiros públicos com um design premiado, também foi previsto uma área para cães, um espaço infantil, além de um palco e uma arquibancada que permitiriam a livre expressão cultural pela população que ali frequenta. Figura 75. Fotomontagem de inserção com vista para o corredor central do largo

Fonte: Triptyque (2018)


127

Um projeto que comtempla as necessidades apontadas pela pesquisa que serviu de base para a proposta, mas o que seria uma revitalização positiva, virou uma possível descaracterização do patrimônio tombado do Largo do Arouche como afirmou a Juíza Paula Micheletto, que decidiu por emitir uma liminar, em caráter provisório, que suspendia a obra alegando o possível risco de prejuízo ou danos ao patrimônio histórico, cultural, artístico, arquitetônico e urbanístico do Largo, ela afirmou haver a necessidade de um estudo mais detalhado a fim de diagnosticar os possíveis danos ao patrimônio (G1, 2019). Após 3 meses de paralização, a obra pode reiniciar, mas foi necessário alterar o projeto a fim de atender determinações para não descaracterizar o espaço, foram retirados da proposta os quiosques, a construção do palco e a arquibancada, os equipamentos desportivos e a horta, um ponto decisivo para que o projeto pudesse seguir a execução foi manter as guias de granito das vias, não elevando as mesmas e, manter a iluminação dos anos 20, além de que a reforma do mercado de flores ficou para uma segunda intervenção futura (AZEVEDO, 2019). Figura 76. Fotomontagem de inserção com vista para o mercado de flores

Fonte: Triptyque (2018)

O projeto tem seus pontos positivos e está em fases de obras, ele compõe uma nova abordagem para o espaço das praças unificando-as em uma única praça fazendo uma ligação direta com os equipamentos do entorno imediato, seu novo traçado será levado em consideração para a elaboração da proposta deste trabalho.

3.2 Análise de condicionantes Em mapas analíticos, levantamentos proporcionaram a base para fundamentar a proposta.


Rua Jaguaribe

Igreja de Santa Cecilia

Largo do Arouche

Av. Duque de Caxias

Rua Dona Veridiana

Praça da República

Av. São João

Elevado Pres. João Goulart

Hosp. Central da Santa Casa de Misericórdia

8

Escola Normal / EE Caetano de Campos

4

7

Rua Bento Freitas

5

3 11

Av. Ipiranga

128

1

9

0m

100

200

400

10

N

Fonte: Google / adaptado pelo autor (2020)

128

Figura 77. Localização do Largo do Arouche em foto aérea

2

FOTO LOCALIZAÇÃO

50

12


Sentido predominante dos ventos frios Sentido predominante dos ventos quentes Sol nascente Sol Poente

129

O mapa abaixo expõe as condicionantes do microclima local, oferecendo base para elaboração de soluções para o conforto ambiental da proposta.

50

100

200

CONDICIONANTES AMBIENTAIS

0m

400

N

129

Figura 78. Mapa de condicionantes ambientais

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


A região central de São Paulo é composta por edifícios que em sua grande maioria, não possuem recuo lateral entre eles, criando uma paisagem visual mais adensada e continua, e o que pode se ver como área não edificada, são áreas verdes ou terrenos que servem como estacionamentos sem cobertura. 130

Elevado João Goulart

Largo do Arouche

0m

100

CHEIOS E VAZIOS

50

200

400

Figura 79. Mapa de cheios e vazios

N

130

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Áreas Verdes Área de cobertura das copas de arvores Córrego canalizado Massa d’água

131

A região possua uma boa concentração de áreas verdes, em específico, o do Largo do Arouche tem uma cobertura uma concentração de grandes arvores em que a cobertura das copas proporcionam boa cobertura da incidência solar, além da cobertura, a área verde do Largo proporciona uma visão sem bloqueios visuais, caracterizando uma potencialidade do espaço, uma grande ilha verde.

50

100

200

400

ÁREAS VERDES E COBERTURA VEGETAL

0m

N

131

Figura 80. Mapa de áreas verdes e cobertura vegetal

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Via de pedestre Via local Via coletora Via arterial Via de Trânsito Rápido - VTR

132

Z

No mapa abaixo, pode-se notar que a região do Largo é composta por uma boa ligação com o restante da cidade, circundado por avenidas que permitem acesso aos outros bairros e o elevado João Goulart, vale ressaltar que o elevado passa por um processo para deixar de ser uma via de veículos, tendo sua estrutura removida ou transformada em parque.

0m

100

200

HIERARQUIA VIÁRIA

50

400

N

Figura 81. Mapa de hierarquia viária

132

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Sentido do Fluxo de veículos Projeção do sentido de fluxos no Elevado J. G. Cruzamento do fluxo de pedestres nas vias de veículos

133

3

1 2

Neste mapa, entende-se a maneira como os veículos ditam os fluxos na região e em consequência, os cruzamentos de pedestre nas vias, com esse entendimento, propor redirecionar os fluxos para outras vias, proporcionara o fechamento das vias 1, 2, 3 e 4 para veículos, deixando-as somente para pedestres.

4

FLUXOS

0 m 20

80

160

N

133

Figura 82. Mapa de Fluxos nas vias publicas Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Acesso a estação de metrô Pontos de ônibus

Linhas de ônibus

Ciclofaixa

Pontos de Taxi

134

O entorno do Largo do Arouche possui uma malha bem estruturada de modais de transporte, a estação de metrô República está a 250m do ponto 1 e a estação Santa Cecilia a 550m do ponto 1, a área também possui uma boa quantidade de pontos de ônibus bem distribuídas e pontos de taxis para complementar a facilidade de locomoção com o resto da cidade.

1

0m

100

200

MODAIS DE TRANSPORTE

50

400

N

Figura 83. Mapa de modais de transporte

134

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Até 92 92 - 146 146 – 207 207 – 351 351 - 30346

135

A região central de São Paulo tem um adensamento que normalmente varia entre 146 a 30346 hab./há. demostrando a potencialidade de se produzir uma espaço para essa quantidade de pessoas, além de entender que quanto maior a concentração de pessoas, mais necessário equipar o entorno com áreas abertas de acesso público para receber essa parcela populacional em momentos de sociabilidade e lazer. 0m

100

200

DENSIDADE DEMOGRAFICA (HAB./HÁ.)

50

400

N

135

Figura 84. Mapa de densidade demográfica (Hab./Ha.)

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Sem Classificação Vulnerabilidade Baixa Vulnerabilidade Muito Baixa Vulnerabilidade Baixíssima

136

Neste mapa percebesse que a região mapeada possui uma vulnerabilidade baixa a baixíssima, demonstrando que em questão social, os grupos de indivíduos que ali residem, não estão em processo de exclusão social, mas vale ressaltar que grupos a margem da sociedade, como travestis e transsexuais frequentam a região.

0m

100

200

VULNERABILIDADE SOCIAL

50

400

N

Figura 85. Mapa de Vulnerabilidade Social

136

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Residencial vertical baixo padrão Residencial vertical e comércios/serviços Residencial vertical médio/alto padrão Equipamentos públicos Sem uso predominante Comércio e serviços

137

Há na região central uma grande diversidade de predominância de usos, são muitos comércios e serviços em edifícios com características de uso misto, onde possuem unidades de habitação, os térreos possuem fachadas ativas, que em sua grande maioria funcionam em horário comercial.

50

100

200

USO PREDOMINANTE DO SOLO

0m

400

N

137

Figura 86. Mapa de predominância do uso do solo

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Bens tombados Área envoltória CONDEPHAAT Área envoltória CONPRESP Área envoltória IPHAN

138

O Largo do Arouche é um bem tombado na Res. Nª 22/2016 do CONPRESP, prevendo uma preservação ambiental total: tombamento da configuração do Largo; do desenho dos canteiros e alamedas, da preservação de porte arbóreo; da permeabilidade, assim como a instalação de equipamentos e/ou sinalização e/ou mobiliário urbano não será permitido sem analise previa do CONPRESP. Este tombamento está dispensado de áreas envoltórias. 0m

100

200

400

BENS TOMBADOS E ÁREAS ENVOLTÓRIAS

50

N

138

Figura 87. Mapa de bens tombados e áreas envoltórias

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Hotéis e hospedagens Restaurantes, cafés e lanchonetes Igrejas Lajas do segmento LGBTQ+ Saunas e sex clubes LGBTQ+ Bares e Baladas LGBTQ+ Museus Academias Wi-fi livre

139

Área p/ prática esportiva Teatros Delegacia Hospital Assistência LGBTQ+ Escolas e faculdades Biblioteca

A região possui uma grande variedade de equipamentos, comércios e serviços, vale ressaltar o museu da diversidade na estação de metrô República e o conjunto de comércios e serviços especializado para o segmento LGBTQ+ como bares, baladas, lojas e sex clubes 0m

100

200

400

EQUIPAMENTOS, COMÉRCIOS E SERVIÇOS

50

N

139

Figura 88. Mapa de equipamentos públicos, comércios e serviços Fonte: Elaborado pelo autor (2020)


Praças e canteiros Zona Mista - ZM Zona Especiais de Interesse Social 3 – ZEIS3 Zona Eixo de Estruturação Urbana - ZEU Zona Eixo de estruturação Metropolitana - ZEM Zona de Centralidades - ZC

140

A região em destaque, tem em sua maioria. Maioria, um zoneamento de zonas de centralidades, a proposta futura visara assim enquadrar-se em promover atividades típicas de ZC, incentivando o uso não residencial e promovendo uma qualificação paisagística e dos espaços públicos. 0m

100

ZONEAMENTO

50

200

400

Figura 89. Mapa de zoneamento

N

140

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


141

Indicação para tombamento em BIR Área de preservação Paisagística - APPa Bens Imóveis Representativo - BIR

Toda a região do mapa está inclusa na área do Território de interesse da cultura e da Paisagem – TICP, de modo que os territórios enquadrados nessa área em uma classificação ZEPEC promovam iniciativas culturais, educacionais e ambientais em áreas que concentrem grande número de espaços e atividades relevantes para a memória e a identidade cultural da cidade.

ZONEAMENTO ZEPEC

0 m 20

80

160

N

Figura 90. Mapa de zoneamento ZEPEC

141

Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


Largo do Arouche

Quadra fiscal 051 Quadra fiscal 052

142

1

1

A área de intervenção a qual a proposta será implantada corresponde ao Largo do Arouche, as quadras fiscais 051 e 052 do setor 007

2

1

ÁREA DE INTERVENÇÃO

0 m 20

3

80

160

N

142

Figura 91. Foto aérea com destaque p/ Largo do Arouche

Fonte: Google / adaptado pelo autor (2020)


Lotes não edificados Lotes sem levantamento de gabarito Até 15 metros de altura 16 a 30 metros de altura 31 a 45 metros de altura 46 a 60 metros de altura 61 a 75 metros de altura Mais de 76 metros de altura

143

O entorno do Largo do Arouche possui poucos edifícios de grande porte, sendo esses de uso residencial, a maioria predominante dos edifícios do entorno tem um gabarito que vai até 45 metros de altura, essa linha visual de alturas servira como referência para o gabarito da proposta, incorporando o equipamento proposto na testa das ruas

80

GABARITO DO ENTORNO IMEDIATO

0 m 20

160

N

143

Figura 92. Gabarito de altura do entorno imediato Fonte: Elaborado pelo autor / Geosampa (2020)


144

3.3 O terreno

Os terrenos escolhido para o desenvolvimento da proposta estão compreendidos entre a Rua Vitória, Av. São João, Av. Duque de Caxias e o Largo do Arouche, a proposta terá uma implantação em 2 terrenos, tendo como ligação o Largo do Arouche. Para uma melhor compreensão do espaço e da leitura, denominaremos de terreno ‘A’ o espaço compreendido pelo lote 0056 da quadra fiscal 051 setor 007 e de terreno ‘B’ o espaço compreendido pelos lotes 0354, 0073, 0074, 0075, 0076, 0208, 0002, 0353, 0006 e 0007 da quadra fiscal 051 do setor 007, o terreno ‘A’ possui uma área total de 742 m² e o terreno ‘B’ uma área total de 2499 m². Nos lotes 0056, 0354, 0075 e 0073, o uso atual é de estacionamento para veículos e o lote 0075 possui uma estrutura metálica de cobertura para o lote inteiro, no lote 0074, 0002 e 0353 o uso atual são lojas, no lote 0076 e no lote 0208 do Condomínio 04, funcionam bares, o lote 0006 tem predominância de uso residencial mas é de uso misto com escritórios ou consultórios, e o lote 0007 funciona um típico hotel/motel da região central (Ver fig. 98 e 99). As fotos a seguir foram dispostas para compreender a espacialidade dos terrenos, elas estão numeradas na figura 98 a partir do ponto e angula a qual foi realizada. Figura 93. Foto inserção ângulos 1 e 2 1

2

Fonte: Google / adaptado pelo autor (2019)


145

Figura 94. Foto inserção ângulos 3, 4, 5, 6 e 7

3

4

5

6

7

Fonte: Google / adaptado pelo autor (2019)


146

Figura 95. Foto Inserção ângulos 8, 9, 10, 11 e 12

8

9

10

11

12

Fonte: Autor (2020)


147

Figura 96. Foto inserção ângulos 13, 14, 15, 16 e 17

13

14

15

16

17

Fonte: Autor (2020)


148

Figura 97. Foto inserção ângulos 18, 19, 20 e 21

18

19

20

21

Fonte: Google / adaptado pelo autor (2019)


Terreno ‘A’ Quadras do largo do Arouche

Indicação do ângulo e número da foto

Terreno ‘B’

149

1 20

2

1

80

IDENTIFICAÇÃO DOS TERRENOS

0 m 20

3

160

N

149

Figura 98. Foto localização com evidência aos terrenos Fonte: Google / adaptado pelo autor (2020)


Para o terreno ‘A’ fica necessário a remoção da cobertura da telha em alumínio, assim como nos lotes 0073 e 0354 do terreno ‘B’ para se ter o terreno livre de preexistência. Para o terreno ‘B’, a demolição completa dos lotes 0074, 0075, 0076, 0208, 0002, 0353, 0007 e a demolição do anexo do lote 0006 deixando somente o edifício 150

de característica arquitetônica relevante para a memória do patrimônio histórico, mesmo este não sendo uma edificação tombada, sendo incorporado a proposta de intervenção.

0056

0 m 20

0002

0353

0006

0007

80

0076

160

0075

0208

LOTES E A NECESSIDADE DE DEMOLIÇÃO

0354

0073

0074

N

Figura 99. Mapa dos lotes e de demolição

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

150


151

3.4 Parâmetros urbanísticos

Sobre o zoneamento, é descrito na Lei 272/2015 que: as Zonas Centralidade (ZC) são porções do território voltadas à promoção de atividades típicas de áreas centrais ou de subcentros regionais ou de bairros, destinadas principalmente aos usos não residenciais, com densidades construtiva e demográfica médias, à manutenção das atividades comerciais e de serviços existentes e à promoção da qualificação dos espaços públicos; as Zonas Especiais de Preservação Cultural (ZEPEC) são porções do território destinadas à preservação, valorização e salvaguarda dos bens de valor histórico, artístico, arquitetônico, arqueológico e paisagístico, constituintes do patrimônio cultural do Município, podendo se configurar como elementos construídos, edificações e suas respectivas áreas ou lotes, conjuntos arquitetônicos, sítios urbanos ou rurais, sítios arqueológicos, áreas indígenas, espaços públicos, templos religiosos, elementos paisagísticos, conjuntos urbanos, espaços e estruturas que dão suporte ao patrimônio imaterial ou a usos de valor socialmente atribuído. Figura 100. Parâmetros urbanísticos para o terreno A

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)


152

Figura 101. Parâmetro Urbanístico para o terreno B

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

O Largo do Arouche faz parte da mancha da Operação Urbana Centro, que visa promover melhorias urbanas através de parcerias público/privada, de modo a ceder direitos adicionais ao uso e ocupação do solo, acima dos já estabelecidos pelo zoneamento, sendo o objetivo principal, reforçar a importância da área central da cidade. Dentro do plano de Operação Urbana Centro, locais de lazer, educação e cultura, não serão computáveis no cálculo do coeficiente de aproveitamento do térreo, assim como as áreas de fruição pública aberta a circulação de pedestres nos pavimentos térreos e, exigências de reserva a estacionamentos também não se aplicam a esses locais. O remembramento de três lotes com somativa de 1.000m² ganha potencial construtivo computável e livre de ônus de 10% da área do terreno por lote remenbrado, tendo como limite de incentivo 100% da área do terreno sendo 10 ou mais lotes remenbrados, isso quer dizer que, o remembramento dos 10 lotes do terreno B com área de térreo de 2499m² tem 100% da sua área adicionada como potencial construtivo (SÃO PAULO, 2016).


153

04

ESTUDO DE CASO

4. ESTUDO DE CASO


154

Roquetas de Mar, Espanha

PARQUE LOS BAJOS LOCALIZAÇÃO: Parque / Espaços Público 2015

TIPOLOGIA DE USO: ANO DE INÍCIO:

2017 62.872,64m²

ANO DE CONCLUSÃO:

ÁREA DO TERRENO:

Emac Arquitetura

1.016,40m²

ARQUITETOS: Concreto Armado

ÁREA CONSTRUIDA:

ESTRUTURA:

Figura 102. Foto Parque Los Bajos Fonte: Joan Roig /Archdaily (2019)

4.1 Parque Los Bajos

154


155

Como os arquitetos descreveram, o terreno era um espaço intermediário, localizado entre a avenida e a cidade, entre o mar e o campo, a praça e a cidades, mas era um ‘não lugar’, uma ilha que dava as costas para tudo e todos, impedindo qualquer tipo de relação urbana e sociocultural. A intenção projetual foi produzir uma paisagem para a cidade e um lugar de relações para a população, foi pensado um espaço público como lugar onde culturas são fundadas, um espaço que favorecesse e garantisse a igualdade e relações sociais, favorecendo laços com a vizinhança e uma relação identitária com a própria cidade (ARCHDAILY, 2019). Figura 103. Los Banjos em fluxos e programa 1

2

N

Eixos Viários existentes Eixos de pedestres Cafeteria Jogos infantis Auditório a céu aberto Área Pet Quadras esportivas Fontes de piso Praça dos touros (exist.)

Pontos de encontro Novos eixos de pedestres de pedestres Biblioteca Equip. para exercícios Pista de skate Bancos Área para praticar Petanca estacionamentos Pavilhão esportivo (exist.)

Fonte: Archdaily (2019)

Na fig. 103, os eixos de fluxos se caracterizavam em apenas dois sentidos, os veículos em suas vias já definidas e o cruzamento de pedestres pela quadra no sentido leste/oeste, com a disposição dos equipamentos dentro da quadra de forma desconexa de um volume único, foi possível produzir novos fluxos e pontos de partida/encontros onde pedestres possam vir a realizar novas dinâmicas sociais, além de criar novas rotas de acesso com a cidade onde de qualquer rua do entorno, é possível ter acesso ao espaço público, outro fator que também tem relevância, foi a conexão criada com os dois equipamentos já existentes no perímetro, o pavilhão esportivo e a praça dos touros. O programa atende uma diversidade de equipamentos a fim de atingir parcelas sociais e de faixa etária distintas integrando no mesmo espaço, são espaços para exercícios e práticas esportivas, espaços comerciais, áreas para uso cultural como o auditório a céu aberto e a biblioteca, locais para as crianças brincarem, como as fontes de piso e os equipamentos infantis, além de área para passear com pets.


156

Figura 104. Implantação Projeto Los Bajos

N

0 Fonte: Archdaily (2019) Figura 105. Cortes Projeto Los Bajos

Fonte: Archdaily (2019)

20

60

100 m


157

Quadra aberta;

PARQUE LOS BAJOS

PONTOS POSITIVOS:

Flexível à dinâmicas de usos diferentes;

Acessível aos pedestres de vários pontos;

proporciona uso do espaço para uma diversidade de pessoas.

Os pontos positivos aqui foram destacados como aspectos que serão empregados a proposta projetual.

Figura 106. Ligação projeto Los Bajos e a cidade

Fonte: Joan Roig /Archdaily (2019)

157


158

-

Centro de Atividades

Birigui – SP, Brasil

SESC BIRIGUI LOCALIZAÇÃO: TIPOLOGIA DE USO:

ANO DE INÍCIO: 2017 9.525m²

ANO DE CONCLUSÃO: ÁREA DO TERRENO:

Teuba Arquitetura

7.586m²

ARQUITETOS: Metalica

ÁREA CONSTRUIDA:

ESTRUTURA:

Figura 107. Entrada SESC Birigui Fonte: Nelson Kon e Felipe Inácio / Archdaily (2019)

4.2 SESC Birigui

158


159

Com uma volumetria responsável por estabelecer o diálogo com a cidade, o edifício consiste predominantemente em dois pavimentos em estrutura metálica, que segue a linha de gabarito do local inserido, um volume inserido na malha urbana em seu traçado, nível e fluxos de água. O projeto teve como ideal projetual os padrões LEED, a implantação teve a mínima intervenção no terreno, o percurso do córrego foi preservado e adaptado a necessidade futura de tornar as margens e o percurso em um parque linear, a estrutura metálica é fixada somente com parafusos para permitir uma reutilização diferente das vigas em outro local sem gerar detritos, os fechamentos foram dispostos com caixilhos e divisórias permitindo o máximo de flexibilidade dos espaços, os vidros possuem fator de proteção solar, diminuindo a entrada de calor mas permitindo a entrada e o aproveitamento máximo da luz solar, o edifício também conta com ventilação cruzada permanente, criando uma renovação constante. Figura 108. Planta de cobertura do Projeto SESC

Fonte: Archdaily (2019)

O programa conta com áreas de convivência, biblioteca, teatro, área de exposição, salas de uso variado, sala de ginastica, quatro piscinas sendo duas dedicadas a prática esportiva de biribol, uma quadra de vôlei de areia, uma quadra poliesportiva e um campo de futebol gramado, além de um refeitório e áreas abertas para convivência. As áreas de circulação claramente criam eixos dentro da disposição dos ambientes, as circulações verticais acontecem por meio de escadas no edifício principal, nas áreas de piscina contêm rampas de acesso de um pavimento a outro e, o edifício conta com um elevador para pessoas com deficiência física. (Ver fig. 109)


160

Figura 109. Manchas de áreas do SESC Birigui

Fonte: Archdaily / adaptado pelo autor (2020) Figura 110. Elevação 1 e corte AA e DD

Áreas esportivas

Áreas culturais Áreas de uso comum Eixos de circulação Fonte: Archdaily / adaptado pelo autor (2020)

Áreas técnicas e de serviço


161

Estrutura metálica;

SESC BIRIGUI

PONTOS POSITIVOS:

Aproveitamento da iluminação e ventilação natural;

Campo de visão livre, sensação de espaço aberto;

Programa de necessidades diversificado, atendendo cultura, esporte e assistência odontológica.

Os pontos positivos aqui foram destacados como aspectos que serão empregados a proposta projetual.

Figura 111. Foto interna do SESC Birigui

Fonte: Joan Roig /Archdaily (2019)

161


162

Seattle, EUA

SEATTLE OFFICE OF ARTS AND CULTURE LOCALIZAÇÃO: Centro cultural 2008

TIPOLOGIA DE USO: ANO DE INÍCIO: 2019

-

ANO DE CONCLUSÃO: ÁREA DO TERRENO:

Schacht Aslani Architects

17.500m²

ARQUITETOS: Tijolo estrutural / Metalica

ÁREA CONSTRUIDA:

ESTRUTURA:

Fonte: Benjamin Benschneider /Archdaily (2019)

Figura 112. Espaço de exposições do escritório de artes e cultura de Seattle

4.3 Seattle Office of Arts and Culture

162


163

Um projeto de restauro de uma antiga estação deu espaço para que o escritório de artes e cultura de Seattle atendesse as demandas por um espaço cultural na região e por meio do projeto do escritório Schacht Aslani, o último andar da King Street Station se torna um espaço dinâmico para as artes e a cultura, uma área de 1.500m² que abrigava o uso compartilhado para reuniões, escritórios e a grande galeria de exposições e apresentações, tudo acontece a partir de um loob público que faz a ligação entre a grande galeria com os escritórios e um Studio para artistas residentes. A estrutura histórica do edifício restaurado traz uma ambiente cheio de adornos em mármore, aliados aos típicos tijolos vermelhos e a estrutura metálica, mas o espaço ARTS não reflete esse tratamento adotado nos outros ambientes do edifício restaurado, um espaço sem adornos e revestimentos, o espaço ARTS traduz uma transparência que absorve identidades quando uma exposição é proposta ali. O grande diferencial da grande galeria, é seu sistema de paredes, que permitem mudanças de posição sempre que os artistas veem necessidade de reconfigurar o espaço, criando novas telas que permitem expressar novas sensações pela simples mudança das barreiras visuais, se adequando a necessidade dos eventos e exposições de maneiras distintas. Essas variedades foi possível pelo projeto de um sistema de trilhos em uma trama quadriculada, baseados nos trilhos da própria estação, que suspendem oito paredes moveis que podem percorrer o espaço em várias direções, criando variadas disposições de bloqueios, um sistema de iluminação atende as variações do espaço, sem ditar um traçado para as paredes.

Figura 113. Disposição angular das paredes moveis Fonte: Benjamin Benschneider /Archdaily (2019)


164

Figura 114. Dinâmica de mudanças do espaço da grande galeria

Fonte: Archdaily (2019)

O resultado é um espaço totalmente flexível e adaptável, se transformando com facilidade para diversas posições espaciais atendendo as necessidades especificas para cada exposição que ali venha a acontecer.


165

Flexibilidade das paredes para propor exposições;

SEATTLE OFFICE OF ARTS AND CULTURE

PONTOS POSITIVOS:

Espaço aberto e livre de barreiras visuais, acontecendo somente quando for proposito;

Variedade de tipologias de uso, adequando-se a escritórios, ateliês, salar de reuniões, auditório etc.

Os pontos positivos aqui foram destacados como aspectos que serão empregados a proposta projetual.

Figura 115. Espaço de convivência e, ao fundo espaço de exposição Fonte: Benjamin Benschneider /Archdaily (2019)

165


166

-

Habitação

West Hollywood, EUA

LA BREA AFFORDABLE HOUSING LOCALIZAÇÃO:

TIPOLOGIA DE USO: ANO DE INÍCIO: 2014

-

ANO DE CONCLUSÃO:

ÁREA DO TERRENO:

Patrick Tighe e John V. Mutlow

4.645m²

ARQUITETOS: Concreto estrutural

ÁREA CONSTRUIDA:

ESTRUTURA:

Fonte: Patrick Tighe e Bran Arifin /Archdaily (2019)

Figura 116. O edifico em meio aos fluxos da cidade

4.4 La Brea Affordable Housing

166


167

Um projeto de uso misto entre habitação e comercio é destinado a parcela LGBTQ+, são jovens antes sem moradia por terrem sidos expulsos de casa, pessoas com deficiência e pessoas com HIV / AIDS, uma organização instalada na mesma avenida onde o residencial se encontra, é a responsável por prestar a assistência aos moradores do La Brea. O programa conta com 32 unidades habitacionais, em uma maximização do adensamento que permitiu dispor de um espaço livre mais amplo destinado a socialização, o pátio central, o seu térreo conta com um espaço comercial voltado para a rua e um estacionamento interno. Figura 117. Plantas baixas do edifício

Áreas de uso Comum Área Comercial e tecnica esportivas Estacionamento Circulações verticais Fonte: Archdaily / adaptado pelo autor (2020)

Und. Habtacional


168

Figura 118. Cortes do Edifício Residencial

Áreas de uso Comum esportivas

Área Comercial e tecnica Circulações verticais

Und. Habtacional

Estacionamento

Fonte: Archdaily / adaptado pelo autor (2020)

O edifício se configura da seguinte forma: um térreo com 20 vagas de estacionamento na parte interna, a fachada ativa cotem o acesso ao ponto comercial e ao edifício residencial, as unidades habitacionais estão dispostas em quatro pavimentos em dois volumes, tendo um átrio central como área de convivência que também proporciona ventilação e iluminação natural, sendo um ponto focal dentro do projeto. Uma casca lateral faz proteção solar para o edifício e proporciona uma privacidade para as varandas dos apartamentos, sobre o volume dos edifícios foi empregado os sistemas de aquecimento de água e geração de energia a partir do sol.

Figura 120. Átrio do hall de acesso ao edifício Fonte: Patrick Tighe e Bran Arifin /Archdaily (2019)

Figura 119. Átrio do hall de entrada Fonte: Patrick Tighe e Bran Arifin /Archdaily (2019)


169

Relação unidade habitacional com o átrio interno;

LA BREA AFFORDABLE HOUSING

PONTOS POSITIVOS:

Adensamento de unidades habitacionais de maneira confortável;

Térreo se relaciona de forma mista com a rua;

Unidade Habitacional compacta que atende a necessidade de uma habitação assistencial.

Os pontos positivos aqui foram destacados como aspectos que serão empregados a proposta projetual.

Figura 121. Pátio central para convivências do edifício

Fonte: Patrick Tighe e Bran Arifin /Archdaily (2019)

169


170

05

A PROPOSTA

5. A PROPOSTA


171

Após leitura das situações de violência e do entendimento de que uma sociedade igualitária e que respeite o outro indivíduo por suas próprias características é preciso descontruir padrões e educar novos indivíduos e, tendo revisado a história, as fundamentações teóricas e uma leitura mais aprofundada do território, é possível construir uma proposta para o desenho urbano que promova soluções a algumas das problemáticas do segmento LGBTQ+. Desse modo, fica aqui evidenciado que este trabalho tem como finalidade: ▪

Legitimar o território LGBTQ+ do Largo do Arouche, garantindo suporte institucional a essa parcela populacional, promovendo visibilidade, liberdade e o direito a cidade como território apropriado;

Construir elementos que marquem o território LGBTQ+, garantindo o sentimento de pertencimento ao local e promovendo uma desconstrução do padrão heteronormativos e evidenciando a necessidades especificas dessa população, visando proporcionar uma reparação histórica pelas repressões, ataques e assassinatos, além atender à necessidade programática de políticas públicas a fim de minimizar a vulnerabilidade social desses indivíduos;

Unificar o espaço fragmentado do Largo do Arouche pela decorrência dos fluxos de veículos, garantindo uma igualdade no tratamento urbanístico do espaço público, para pedestres e veículos;

Produzir uma arquitetura de pessoas para pessoas, que atendam às necessidades sociais produzindo espaços de diversidade, afirmação e igualdade, tendo como norte as questões de identidades LGBTQ+.


172

5.1 Conceito

O maior símbolo de representatividade LGBTQ+, a bandeira arco íris, tem significados específicos para cada cor, significados esses que podem e vão ser traduzidos em arquitetura.

FORÇA HARMONIA

ARTES NATUREZA LUZ DO SOL

CURA VIDA SEXO

RESISTÊNCIA

EXPRESSIVIDADE

INTEGRAÇÃO INT./EXT.

DIREITOS HUMANOS DIVERSIDADE

INTEGRAÇÃO COM ENTORNO FESTIVIDADES

ESPAÇOS CULTURAIS

EXPRESSÕES IDENTITÁRIAS

ÁREAS VERDES

ESPAÇOS LIVRES VARIEDADE ESTRUTURA

ILUMINAÇÃO NATURAL

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA CLAREZA

TERAPIA PSICOLOGICA

ASSISTENCIA MÉDICA MELHORIA

ESTRUTURAS LEVES

ASSISTENCIA SOCIAL

PROGRAMAS DE INCENTIVOS APOIO A VÍTIMAS FLUIDEZ SENSUALIDADE

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Figura 122. Bandeira conceitual


REFEREÊCIAS PROJETUAIS

5.2 Referencias projetuaisz Figura 123. Mix de imagens referenciais Fonte: compilação elaborada pelo autor (2020)

173

173


174

174


175

5.3 Partido arquitetônico

Subdividido, as ações para se produzir a proposta deveram se materializar em ações de reestruturar o espaço público e a criação de novos espaços arquitetônicos de modo que sigam as diretrizes do conceito projetual. Se tratando da reestruturação do espaço público, as ações são: ▪

Remodelar o Largo do Arouche, através da conexão dos espaços fragmentados das praças, unificando as praças as quadras do entorno, criando uma iluminação adicional aos novos pontos de encontros sociais e dispondo de equipamentos e mobiliário urbano para uma melhor ligação com os demais pontos de encontro;

Inserção de novos programas para o espaço do Largo, baseado nos anseios levantados pela pesquisa evidenciado aqui anteriormente, garantindo uma maior atratividade para o espaço baseada na opinião dos frequentadores;

Reforma do desenho do mercado de flores, incluindo mais espaços comerciais, voltados para todos os lado do largo, sem produzir uma fachada cega;

Instalação de marcadores de identidade visual, que identifiquem o espaço como território apropriado LGBTQ+.

Agora, se tratando das novas arquiteturas para o entorno imediato do largo, fica como ações e diretrizes projetuais: ▪

Criar uma rede de equipamentos urbanos que se instale em terrenos obsoletos do entorno do Largo, criando uma conexão entre as espacialidades e promovendo um fechamento arquitetônico mais uniforme do largo;

Dispor de pontos de atratividade por meios dos equipamentos, garantindo novas dinâmicas de percursos dentro do espaço do largo, distribuindo a ocupação para o entorno como um todo e não somente em pontos específicos;

Dispor equipamentos específicos para atender as necessidades dessa parcela populacional, sendo eles: a cultura, o lazer, a assistência social, assistência médica e, assistência jurídica;

Criar um memorial em homenagem a vítimas LGBTQfobia.

Desenho de mobiliário urbano e identidade visual, para compor o espaço do largo, com objetivo de dar característica única e se atrativo de novos usos, eventos e ocupações, garantindo uma melhor diversidade, flexibilidade e integração dos usos.


176

As ações projetuais que vierem a intervir no Largo do Arouche deveram seguir as seguintes diretrizes e conceitos: ▪

Manter as características notáveis e de importância para a arquitetura e para a identidade histórica do lugar, como o traçado dos canteiros, a massa arbórea, a amplitude da praça, a desobstrução visual, preservação de monumentos e pontos de referências;

Promover novos elementos qualitativos, que diversifique os usos, melhoria na distribuição de mobiliário e equipamentos, iluminação de melhor qualidade, uma nova pavimentação adequada para os novos espaços do largo que não descaracterize o espaço e que seja acessível aos pedestres;

Os novos edifícios devem ser projetados de maneira que mantenham relação com o Largo, valorizando igualmente o Largo e as novas áreas edificadas;

Potenciar as características das zonas de centralidades, em específico na região do Largo do Arouche, como os térreos com funções públicas ou de acesso público, sendo áreas de comércios e serviços, atraindo uma maior diversidade de usos e frequentadores, as fachadas deveram ser ativas e bem resolvidas, o gabarito deverá seguir o skyline do entorno garantindo uma melhor integração e compreensão visual;

A inserção dos edifícios devem explorar as perspectivas visuais dos edifícios nos espaços livres e vias que incidem no local de implantação destes, a fim de promover uma multiplicidade sensorial do espaço, a imprevisibilidade e uma quebra da monotonia visual;

As dinâmicas sociais devem ser fator determinante nas propostas de intervenção, exaltando as múltiplas identidades dos indivíduos que ali frequentam e dando a devida liberdade de adaptar o espaço a partir das dinâmicas desses mesmos indivíduos, fornecendo características de sentimentos entre o indivíduo e o lugar.

5.4 Programa de necessidades

O programa baseasse nas necessidades da população LGBTQ+, para a rede de equipamentos urbanos foi proposto distribuir o programa pelos terrenos selecionados no entorno do largo, definindo as funções de uso para cada novo edifício e estabelecendo diretrizes de implantação e concepção arquitetônica, potencializando as relações entre a arquitetura, o entorno edificado, o largo e as dinâmicas sociais do espaço. São equipamentos propostos aqui:


177

Museu de arte, cultura e memoria LGBTQ+: proporcionando a valorização e a memória LGBTQ+ na cidade de São Paulo, estabelecendo relação do movimento com o espaço e atendendo a demanda por espaços culturais nas zonas de centralidades.

Casa da arte: destinada a ser ponto de referência para artistas e frequentadores que busquem aprender e produzir arte, contendo uma galeria para que se possa vender o material produzido ali, gerando renda para esses.

Biblioteca: Dispor de um apanhado de material do segmento LGBTQ+, tornando o espaço centro referencial de pesquisa da temática e também espaço para absorver literatura LGBTQ+

Anfiteatro: espaço de uso publico destinado a receber e proporcionar apresentações para os frequentadores do Largo, podendo ter programação fixa de apresentações e o uso do deposito e camarins.

Monumento em memória as vítimas de LGBTQfobias: ponto focal destinado a homenagear pessoas vítimas de discriminação.

Centro de apoio a pessoas LGBTQ+: proporcionar capacitação a pessoas LGBTQ+, atendendo uma demanda por iniciativas educacionais que melhore as condições sociais dos indivíduos, além de propor espaço para que esses possam tomar iniciativas de trabalho. Um edifício para complementar o programa da prefeitura dos centros de cidadania LGBTQ+.

Centro médico: Criar um ponto de referência a necessidade de apoio médico e psicológico, sendo um edifício de apoio ao programa da prefeitura de centros de cidadania

LGBTQ+,

proporcionando acesso

a

atendimentos

clínicos

especializados, psicológico e social. ▪

Residência de acolhimento: um equipamento de apoio ao serviço social, propondo residência para pessoas LGBTQ+ expulsas de casa e sem condições para se estabilizarem sozinhas, o espaço fornecera quartos individuais para esses, enquanto os mesmos trabalham e estudam nos edifícios do complexo multifuncional LGBTQ+ para se capacitar e após uma independência, fornecer a vaga para outra pessoa.

Centro de apoio jurídico: edifício que proporcione apoio jurídico a vítimas de discriminação para que se possa ser tomada as devidas medidas.


178

Delegacia especializada em crimes LGBTQ+: criar um ponto referencial para fazer denúncias, que proporcione um sentimento de segurança por conta da localização e especialização.

Centro de esporte e lazer: Atender a necessidade por programas esportivos frente a uma falta de equipamentos desde tipo, equipado com diversas modalidades esportivas, o centro esportivo, segue o modelo SESC.

5.4.1 Programa 1. SETOR CULTURAL

2.211 m²

1.1 MUSEU DE ARTE, CULTURA E MEMORIA LGBTQ+

1434 m²

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

1.1.1

Hall de acesso

1

100

100

1.1.2

Sala de exposições

3

300

900

1.1.3

Banheiros

3

20

60

1.1.4

Café / Lanchonete

1

80

80

1.1.5

Sala diretoria

1

8

8

1.1.6

Sala de reunião

1

15

10

1.1.7

Sala administrativa comum

1

20

20

1.1.8

Arquivo

1

5

5

1.1.9

Almoxarifado

1

5

5

1.1.10 Recursos Humanos

1

20

20

1.1.11 Lavabo

2

4

8

1.1.12 Copa

1

10

10

1.1.13 Sala curador

1

8

8

1.1.14 Sala de curadoria

1

80

80

1.1.15 Hall de acesso funcionários

1

10

10

1.1.16 Vestiário

2

15

30

1.1.17 Descanso funcionários

1

30

30

1.1.18 Deposito Material de Limpeza - DML

1

15

15

1.1.19 Gerador

1

10

10

1.1.20 Condensadores de ar

1

15

15


179

1.1.21 Depósito de lixos

1

1.2 CASA DA ARTE

10

10

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

350 m²

1.2.1

Hall de acesso

1

6

6

1.2.2

Sala Multiuso

1

60

60

1.2.3

Banheiros

3

10

30

1.2.4

Ateliê / Sala de aula

2

50

100

1.2.5

Oficina de manutenção

1

30

30

1.2.6

Galeria de arte

1

50

50

1.2.7

Sala administrativa comum

1

30

30

1.2.8

Arquivo

1

5

5

1.2.9

Almoxarifado

1

5

5

1.2.10 Lavabo

2

4

8

1.2.11 Copa

1

6

6

1.2.12 Depósito Material de Limpeza -DML

1

8

8

1.2.13 Depósito de Lixo

1

5

5

1.2.14 Condensadores de ar

1

10

10

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

1.3 BIBLIOTECA

247 m²

1.3.1

Hall de acesso / Controle

1

6

6

1.3.2

Acervo de livros

1

60

60

1.3.3

Banheiros

3

10

30

1.3.4

Área de leitura

1

30

30

1.3.5

Sala administrativa comum

1

15

15

1.3.6

Arquivo

1

3

3

1.3.7

Almoxarifado

1

3

3

1.3.8

Café / Lanchonete

1

50

50

1.3.9

Triagem / Catalogação / Restauro

1

30

30

1.3.10 Depósito Material de Limpeza -DML

1

5

5

1.3.11 Depósito de Lixo

1

5

5


180

1.3.12 Condensadores de ar

1

1.4 ANFITEATRO

10

10

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

180 m²

1.4.1

Área de palco

1

30

30

1.4.2

Arquibancada

1

60

60

1.4.3

Deposito

1

60

60

1.4.4

Camarins

1

30

30

2. SETOR DE ASSISTENCIA MÉDICA E SOCIAL

1815 m²

2.1 CENTRO DE APOIO A PESSOAS LGBTQ+

345 m²

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

2.1.1

Recepção / Controle

1

30

30

2.1.2

Banheiros

3

20

60

2.1.3

Coworking

1

60

60

2.1.4

Área de convivência

1

30

30

2.1.5

Sala de aula

4

15

45

2.1.6

Sala para oficinas

2

30

60

2.1.7

Sala administrativa comum

1

15

15

2.1.8

Arquivo

1

5

5

2.1.9

almoxarifado

1

5

5

2.1.10 Lavabo

2

4

8

2.1.11 Copa

1

7

7

2.1.12 Depósito Material de Limpeza - DML

1

5

5

2.1.13 Depósito de lixos

1

5

5

2.1.14 Condensadores de ar

1

10

10

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

2.2 CENTRO MÉDICO

450 m²

2.2.1

Recepção / Área de espera

1

40

40

2.2.2

Banheiros

3

15

45


181

2.2.3

Consultório de primeiros socorros

1

30

30

2.2.4

Consultório de assistência social

5

6

30

2.2.5

Consultório médico

5

6

30

2.2.6

Consultório especializado em LGBTQ+

5

5

30

2.2.7

Deposito de Material Médico - DMM

1

15

15

2.2.8

Sala diretoria

1

8

8

2.2.9

Sala de reuniões

1

15

15

2.2.10 Sala administração comum

1

20

20

2.2.11 Arquivo

1

5

5

2.2.12 Almoxarifado

1

5

5

2.2.13 Recursos humanos

1

20

20

2.2.14 Lavabo

2

4

8

2.2.15 Copa

1

19

19

1.2.16 Hall de acesso funcionários

1

10

10

1.2.17 Vestiário

2

15

30

1.2.18 Descanso funcionários

1

30

30

1.2.19 Deposito Material de Limpeza - DML

1

15

15

1.2.20 Gerador

1

10

10

1.2.21 Condensadores de ar

1

15

15

1.2.22 Depósito de lixos

1

20

20

2.3 RESIDENCIA DE ACOLHIMENTO

1.020 m²

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

2.3.1

Pontos comerciais

5

30

150

2.3.2

Acesso e controle ao residencial

1

25

25

2.3.4

Área de convivência

2

60

120

2.3.5

Unidade habitacional

30

15

450

2.3.6

cozinha coletiva

3

15

45

2.3.7

Refeitório coletivo

3

25

75

2.3.8

Lavanderia coletiva

1

100

100

2.3.9

Administração

1

20

20

2

4

8

2.3.10 Lavabo


182

2.3.11 Copa

1

7

7

2.3.12 Depósito Material de Limpeza - DML

1

5

5

2.3.13 Depósito de lixos

1

5

5

2.3.14 Condensadores de ar

1

10

10

3. SETOR DOS DIREITOS HUMANOS

408 m²

3.1 CENTRO DE APOIO JURÍDICO A PESSOAS LGBTQ+

205 m²

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

3.1.1

Recepção / área de espera

1

30

30

3.1.2

Banheiro

3

20

60

3.1.3

Sala individual de atendimento

5

6

30

3.1.4

Sala administrativa comum

1

30

30

3.1.5

arquivo

1

5

5

3.1.6

almoxarifado

1

5

5

3.1.7

Sala de reunião

1

15

15

3.1.8

Deposito Material de Limpeza DML

1

5

5

3.1.9

Copa

1

10

10

3.1.13 Depósito de lixos

1

5

5

3.1.14 Condensadores de ar

1

10

10

3.2 DELEGACIA ESPECIALIZADA EM CRIMES LGBTQ+

203 m²

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

3.2.1

Recepção / área de espera

1

30

30

3.2.2

Banheiro

3

10

30

3.2.3

Sala de delegado

3

9

27

3.2.4

Sala de armas

1

5

5

3.2.5

Sala de reuniões

1

15

15

3.2.6

Sala de policiais

1

30

30

3.2.7

Sala de reconhecimento

1

7

7


183

3.2.8

Sala de audiência

3

4

12

3.2.9

Arquivo

1

5

5

3.2.10 Almoxarifado

1

5

5

3.2.11 Copa

1

10

10

3.2.12 Depósito de lixos

1

5

5

3.2.13 Condensadores de ar

1

10

10

3.2.14 Acesso de presos

1

6

6

3.2.15 Depósito

1

2

2

3.2.16 Cela

2

4

4

QUANT.

ÁREA m²

ÁREA T.

4. SETOR DE LAZER E ESPORTE 4.1 CENTRO ESPORTIVO

4231 m² 4231 m²

4.1.1

Recepção

1

30

30

4.1.2

Banheiro

6

20

120

4.1.3

Quadra poliesportiva

1

450

450

4.1.4

Campo sintético

1

450

450

4.1.5

Academia

1

450

450

4.1.6

Vestiário

2

100

200

4.1.7

Sala de jogos

1

200

200

4.1.8

Sala multiuso

2

300

600

4.1.9

Piscina

1

450

450

4.1.10 Café / Lanchonete

1

150

150

4.1.11 Área de convivência

1

450

450

4.1.12 Sala diretoria

1

8

8

4.1.13 Sala administrativa comum

1

30

30

4.1.14 Recursos Humanos

1

30

30

4.1.15 lavabo

2

4

8

4.1.16 Depósito de material esportivo

3

50

150

4.1.17 Depósito Material de Limpeza

2

5

10

4.1.18 Depósito de lixos

1

20

20

4.1.19 Condensadores de ar

1

15

15


184

4.1.20 Gerador

1

10

10

4.1.21 Pontos comerciais

2

200

400

5.4.2 fluxograma Sequencias de fluxos dentro do programa de necessidades, tendo como ponto inicial das atividades, o Largo do Arouche. Figura 124. Fluxograma do Largo aos equipamentos


185


186

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

5.5 Estudo Volumétrico Figura 125. volumetria do entorno com os terrenos de implantação livres

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Na figura 126, a área em preto destaca os 2 lotes e a região de vias que serão destinadas aos pedestres, como uma ampliação da área útil da praça.


187

Figura 126. Áreas de intervenção destacadas em preto

Fonte Elaborado Pelo autor (2020)

Na figura 127, o volume dos edificios foram elevados ao gabarito máximo para que em seguida, comece o processo de estudar os recortes. Figura 127. Volume inicial dos edifícios

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)


188

Figura 128. O Largo ampliado e seus equipamentos

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Figura 129. Estudo de recorte dos edifĂ­cios

Fonte: Elaborado Pelo auto r(2020)


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