Bebedouro
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Jornal Regional de Bebedouro
Distr
ibu
Gratuição ita
nº 6
Março de 2011
raul furquim
herança macabra - (II)
mauro ramos
lenita sumiu
plaft - pum
Heleny Telles Ferreira Guariba, bebedourense, vítima da ditadura militar
Não há canteiro que resista aos carros e motos na avenida
Casada, mãe de dois filhos, ela desapareceu em 1971, ao ser presa pelos órgãos de segurança. Testemunhas dizem que ela foi torturada até a morte numa casa em Petrópolis
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mauro ramos
entrevista
arquivo pessoal
bate lata Uma revolução que se faz com música e dança na cidade
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futebol LUCAS UEBEL/VIPCOMM
trote
Luiz Filipe Barcelos
nada justifica as humilhações As tenebrosas histórias de jovens que se tornam estudantes universitários Págs. 4-5
zagueiraço Ronaldo, um craque de Bebedouro, brilha no Internacional
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2 Avenida Raul Furquim
Palco de constantes acidentes
editorial A violência com que uma certa tropa de veteranos estudantes universitários se volta contra quem acaba de entrar na faculdade repercute fundo na sociedade brasileira e enseja ações públicas contra o que, antes, era apenas uma brincadeira. O que devia ser motivo de festa dá lugar a traumas e tragédias. Os “bichos” são obrigados a botar a cabeça em vasos sanitários, a beber além da conta, a comer restos estragados de animais. Alguns recebem baldes de fezes e urina no corpo. Há, ainda, quem é obrigado a lamber linguiças untadas com leite condensado, colocadas entre as pernas dos veteranos. Ou, para esfriar a cabeça, quem é colocado num freezer. Este é o tema das páginas centrais do Brasil Atual. Para a nossa análise e avaliação. Também já contamos aqui que uma conterrânea nossa, a professora Heleny Guariba, faz parte de uma triste história a que o Brasil não quer pôr um ponto final: a dos mortos e desaparecidos políticos durante o regime militar. Lenita, mãe de dois filhos, desaparecida desde 1971 depois de ser presa pelos órgãos de segurança, faz parte da história de brasileiros que estão insepultos a reclamar por uma lápide com seus nomes, à espera de um túmulo onde possam receber uma vela, uma oração, um buquê de flores. Mas há histórias mais amenas, que merecem ser conhecidas. Uma é a do menino pobre da periferia, Ronaldo, que há pouco tempo disputava o Mundial Interclubes pelo Internacional gaúcho. Outro é o projeto Bate Lata, das escolas municipais, que fortalece o vínculo de nossas crianças na comunidade e inclui a molecada num sucesso escolar que só a música poderia mesmo contar. E contar cantando. É isso, boa leitura!
vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual. com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.
Seja pelo excesso de velocidade ou pelos corriqueiros problemas técnicos nos semáforos, o fato concreto é que já se tornou rotina a cena de um canteiro destruído e logo em seguida recuperado pelos funcionários municipais, como é o caso desse que está na fotografia trazida por nossa reportagem. Ele foi refeito há poucos dias. Bebedouro, assim como várias outras cidades brasileiras, começa a esboçar sinais de que o trânsito precisa ser pensado com estratégias. Na cidade já é contabilizado um carro para cada dois habitan-
mauro ramos
Difícil achar um canteiro não atingido por carros e motos
tes. Com o aquecimento da economia, o aumento da renda e dos salários e as facilidades de financiamento, a quantidade de veículos nas ruas pode aumentar. Isso exige respostas
eficazes do poder público. É mais fácil e barato prevenir o acidente do que tratar do acidentado. Isso sem falar da perda de vidas humanas, o que não tem preço.
Casas populares
Construir é preciso Mas quantas, e onde tem sido o pomo da discórdia Em audiência pública na Câmara Municipal, o Poder Executivo propôs alterar o Plano Diretor para construir casas em áreas de preservação de mananciais, no setor sul, ao lado do Jardim União. A ideia é autorizar o loteamento para a construção, via iniciativa privada, de 632 casas que seriam vendidas dentro do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Para a engenheira em gestão ambiental Ângela Brunelli, a ideia é absurda:
“é uma área de nascentes, ao lado da Estação de Captação de Água do SAAEB e do córrego do Retiro, protegido pelo Plano Diretor. Liberá-la para construção pode causar danos irreparáveis ao município” – alerta Brunelli, membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente. A preocupação é a de que o esgoto doméstico contamine o córrego, o lençol freático e a represa de captação de água que abastece parte da cidade. O projeto também traz dúvidas sobre a viabilidade financeira. A legislação
prevê que novos loteamentos cuidem de seu esgoto. Esse investimento, mais os gastos com toda a infraestrutura – galerias pluviais, por exemplo – seria muito significativo. Quem pagaria a conta? A pergunta está sem resposta. Segundo a Prefeitura, o déficit habitacional na cidade é de 8.000 unidades – o número de cadastrados esperando pela casa própria. Já o Censo 2010 do IBGE aponta que estão fechadas 1.827 residências em Bebedouro.
Expediente Rede Brasil Atual – Bebedouro Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Redação Marina Amaral e Leonardo Brito (estagiário) Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Telefone (11) 3241-0008 Tiragem: 10 mil exemplares Distribuição Gratuita
3 Entrevista
Bate Lata, um bom projeto de ensino da cidade Quantas crianças são atendidas pelo projeto? Cerca de 600 alunos têm aula de música, na escola de tempo integral. Desses, 130 integram o Bate Lata e participam das apresentações culturais. Como são feitos os instrumentos? A gente usa desde vagens de flamboyant, que caem de árvores, garrafas pet, bacias e latinhas até tambores de óleo e suco. Tudo é preparado para soar com vários timbres. Nas oficinas de artesanato, alunos e professores confeccionam, pintam e testam os instrumentos. Depois, o regente cria os arranjos especiais, sempre com batidas diferentes das anteriores, daí o termo Bate Lata. Técnicas de ritmo, harmonia e contraponto reorganizam a estrutura das melodias de acordo com a habilidade das crianças. Isso exige ensaio e perseverança. Os alunos estudam música do erudito ao popular. Que crianças participam? Crianças com problemas emocionais e comportamentais, ocasionados pelo meio em que vivem. Pertencem à região sul da cidade e dividem seu tempo entre a escola e as ruas. São jovens com baixa autoestima e estrutura familiar precária. Isso gera uma criança desinteressada na escola. Como reverter isso? A gente convida alunos que têm alguma dificuldade e uma certa aptidão musical ou interesse pelas artes. Mas para permanecer no projeto o
mauro ramos
O prazer de ver uma criança crescer e se tornar cidadão dá um baita orgulho
Apresentação das crianças do Bate Lata, sob a “regência” dos mestres Claudia e João Perri: orgulho de Bebedouro
O Bate Lata é um projeto de enriquecimento curricular do Departamento Municipal de Educação de Bebedouro, desenvolvido na Escola João Pereira Pinho desde o ano de 2000. Idealizado pelos professores João Batista Perri e Cláudia Campos Perri, o Bate Lata une música, canto, dança, oficinas de reciclagem e confecção de instrumentos aos conteúdos do ensino regular. Os alunos, por exemplo, têm a oportunidade de gravar CDs educativos com o repertório especial, usados como complemento do material didático. Nesta entrevista, João Batista conta como o projeto fortalece os vínculos com as famílias da comunidade e incentiva o sucesso escolar da criança e do adolescente além, claro, de ampliar o repertório musical e a capacidade de interpretação, revelar talentos e apresentar uma nova opção de lazer e entretenimento. aluno tem de se comprometer nos estudos. A assiduidade e a disciplina são avaliadas. Assim, todos aprendem a tocar instrumentos e desenvolvem as habilidades e as expressões corporais, como a dança através da arte. Mães monitoras prestam serviços voluntários, cuidando da higiene pessoal, alimentação e vestuário, até
a maquiagem e o penteado. Enfim, crianças e adolescentes desenvolvem habilidades que os levem a construir o contexto em que vivem, melhorando a qualidade de vida, através do exercício da cidadania. Com isso, vivem as atividades escolares de forma prazerosa, transformando o ambiente onde o seu fazer
acontece. E a escola desenvolve o aprendizado, eleva a autoestima, desperta o gosto musical, revela talentos e apresenta uma nova opção de lazer e entretenimento. O que representa esse trabalho? Representa nossa vida. Ver as crianças crescerem e tornarem-se cidadãos de bem é uma satisfação e um orgu-
Por Carlos Orpham
lho muito grande. É gratificante encontrarmos jovens bem-sucedidos que passaram pelas nossas mãos. O Bate Lata é um projeto modelo de educação musical que cresceu com o tempo e tornou-se uma referência. Ele recebe visitantes de todo o Estado, que vêm assistir aos ensaios e conhecer como funciona. Não há uma fórmula pronta para desenvolver o projeto, mas uma concepção diferenciada em relação ao ensinar e aprender, que será sempre uma relação de troca, onde todos são importantes parceiros e colaboradores. Vivenciamos experiências de vida que mostravam alunos em situação de risco, com conflitos familiares e condições de sobrevivência precárias que hoje estão superadas. Dá pra fazer um balanço? É difícil saber o número exato de apresentações ao longo desses anos. A gente já se apresentou em diversos eventos culturais, feiras, congressos, seminários, formaturas, palestras, festas beneficentes, religiosas, inaugurações. Já esteve em entrega de título Prefeito amigo da criança em Brasília, festa do peão em Barretos, abertura de simpósios em Universidades, passeatas educativas, desfiles cívicos, concursos regionais e estaduais de corais, feira do livro em Ribeirão Preto, Usina da Dança em Orlândia, secretaria estadual de Educação, e até no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
4 comportamento
Trote: a vergonha que mancha
Luiz Filipe Barcelos
larissa januzzi
Os calouros foram levados ao anfiteatro do hospital. Então, os veteranos passaram a trancar saídas. Checavam até nos banheiros se tinha alguém escondido. De repente, a gritaria. Os calouros se ajoelhavam, de cabeça baixa. Eram xingados e coagidos a dar dinheiro para a Atlética. Em fevereiro de 2006, a estudante de medicina Bruna Ramirez, da Fundação ABC, em Santo André, deixou o local de mãos dadas com outros calouros, depois que um deles ligou para os pais, que avisaram a polícia. Vivian Moreira Sales, 23 anos, participou na mesma faculdade de ritual semelhante. O clima pesado vai até 13 de maio, a data da libertação dos escravos. Mas a humilhação continua durante o ano. “Se o aluno sofre por um ano, aplicará o trote por mais cinco” – dizem alguns veteranos. Há 12 anos, um caso de vio-
Saulo Tomé/UnB Agência
A violência contra o “bicho” ainda acontece. E o que devia ser motiv
Por todo o Brasil, o que se vê é a repetição de cenas de calouros universitários sendo humilhados pelos veteranos
lência fatal marcou o debate sobre trotes. Edson Tsung Chi Hsueh, da Medicina da USP, foi encontrado morto na piscina da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, em 1999. O fato estimulou a criação de mecanismos de denúncias e de ações preventivas nas universidades e despertou discussões sobre as motivações do ritual.
Ricardo Godoy, 23 anos, abandonou o curso de Medicina em Santos (SP), em 2007, e se lembra das “brincadeiras” violentas impostas pela Atlética aos calouros da 45ª turma.“Obrigam os alunos a nadar nos canais de Santos, onde desembocam as redes de esgoto” – conta. Depois de um ano, ele foi estudar Medicina
lista, sofreu as humilhações de quem precisa dividir o espaço de uma república. “Eu era o único ‘bicho’ de lá, e deixavam uma mensagem na lousa: ‘bicho vai morrer’. As situações mais difíceis que passei foi ficar com a cabeça no vaso sanitário com a água respingando no rosto e ter de fazer uma prova todo fantasiado de mulher.”
na Uninove. As formas de violência eram quase as mesmas. “Na Uninove, os calouros são submetidos ao que chamam de “lavagem cerebral”: colocam a cabeça deles no vaso sanitário e puxam a descarga várias vezes. Em Guaratinguetá (SP), André Caetano Prado, de 22 anos, do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual Pau-
O procurador regional dos Direitos do Cidadão em Marília, Jefferson Aparecido Dias, discorda da política de segurança das universidades, de restringir punições a eventos ocorridos no perímetro que consideram de sua responsabilidade. Ele defende que os atos violentos sejam criminalizados. Dias se refere a
situações como a vivida por Mariana Sanchez Flores, de 28 anos, ex-aluna de Medicina de Mogi das Cruzes, de 2005. Ela conta: “Da sala de aula, os calouros foram levados para uma atividade de socialização na cidade. Puseram todo mundo num ônibus e, uma hora depois, estávamos num sítio. Lá, fizemos serviços domésticos. Jogaram frutas, ovos
Saulo Tomé/UnB Agência
“Jogaram frutas, ovos podres e farinha. Depois, me pu
Cenas de horror: brincadeiras do trote levam jovens...
podres, farinha e empurraram todo mundo na piscina. Depois, me puseram num freezer com uma amiga.” Mariana ficou deprimida, mal-humorada, doente e, depois de uma semana, não voltou mais à faculdade. “A voz não saía. Pedi para a minha mãe cancelar tudo porque eu queria voltar para o cursinho.” A mãe da estudante procurou a diretoria
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a o ensino universitário
vo de festa dá lugar a traumas e tragédias
Por Fabíola Perez
Um ano antes da morte de Edson Tsung, a USP adotara um mecanismo para ajudar os calouros a denunciar casos de violência. O Disque Trote, criado e coordenado pelo professor Oswaldo Crivello Júnior, funciona durante a matrícula e se encerra duas semanas após o início das aulas. “Essa ferramenta deveria existir em todas as faculdades, pois os alunos ingressantes são de responsabilidade da instituição. É importante mostrar que há limites e que o calouro tem a quem recorrer” – enfatiza o coordenador. O secretário executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Gustavo Balduíno, afirma que é obrigação da faculdade oferecer ações preventivas. “O caminho é criar novas formas de
Alexandra Martins/UnB Agência
Trote cidadão: uma alternativa
Caras pintadas: os estudantes já fizeram papel melhor
recepção de calouros, incluir os veteranos nessas atividades, mas não deixar tudo a cargo dos alunos. Toda a instituição tem de se envolver.” A partir da recomendação do Ministério Público, univer-
sidades desenvolveram ações positivas em prol das comunidades. Uma delas, o Trote Cidadão, é um projeto coordenado pelo aluno da Unicamp André Caetano Prado. O estudante de Engenharia Química
conta que a ideia ganhou força em 2003, com três cursos da instituição unidos para pôr em prática o trote solidário. Houve uma mobilização para conscientizar a comunidade sobre a relevância de uma cooperativa de reciclagem em Campinas. Atualmente, 37 cursos da instituição ajudam quatro cooperativas, entre outras organizações. “Desde 2007, a Reitoria da Universidade aboliu a palavra trote da instituição e adotou nosso modelo de recepção de novos alunos” – comemora. Para André, essa cultura é muito boa, mas é importante a participação das faculdades na coibição dos trotes pesados e no incentivo às práticas solidárias. “Mas quem deve executar são os alunos, porque são eles que têm de se entender e se relacionar” – alerta.
um dia depois das agressões. “A faculdade se absteve. Disseram que se os alunos quiseram ir, o problema era deles” – conta. O portal Antitrote.org observa que as vítimas de abusos têm dificuldades em recorrer à Justiça e, quando o fazem, têm como alvo os alunos que praticaram o trote. Em sua página na internet, a organização aconselha que os agredidos
acionem também as instituições de ensino “que não se preocupam em oferecer ambiente seguro e, sutil ou descaradamente, estimulam o trote, como se ele fosse apenas uma brincadeira”. Segundo o procurador Dias, “com a internet e celulares que gravam voz e imagem, há mais formas de fazer o registro e as pessoas podem se valer do anonimato”.
Saulo Tomé/UnB Agência
useram num freezer com uma amiga”
... a tolerar todo o tipo de afronta
Casos escrotos Universidade de Mogi das Cruzes (SP) Calouros de medicina foram obrigados a beijar órgãos estragados de boi enquanto eram insultados e cuspidos por veteranos. Um estudante se recusou a beijar os pés de um veterano e sofreu queimaduras ao receber caipirinha de limão nos olhos. Centro Universitário da Fundação Educacional Barretos (SP) Sete calouros sofreram queimaduras graves provocadas por uma mistura de tinta e creolina, um desinfetante corrosivo, jogada por veteranos. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público. Universidade Federal do Vale do São Francisco (PE) Um vídeo divulgado na internet este ano mostra estudantes de veterinária e zootecnia atirando baldes com fezes e urina de cachorros sobre os calouros no campus de ciências agrárias da universidade, em Petrolina. Universidade de Brasília (DF) Calouras de agronomia e veterinária da UnB foram obrigadas a lamber linguiças com leite condensado colocadas entre as pernas dos veteranos. A Secretaria de Política para as Mulheres encaminhou representação ao Ministério Público Federal e à Reitoria da UnB. Centro Universitário Salesiano (Unisal), de Lorena (SP) Forçados a ingerir cachaça e vodca da garrafa, dois calouros sofreram convulsões e foram atendidos na Santa Casa. Foi instaurado inquérito policial.
6 herança macabra - (II)
Onde está você, Heleny Guariba, a Lenita de Bebedouro?
arquivo pessoal
mauro ramos
Ainda reside em Bebedouro, na Avenida Raul Furquim, Ruth Caetano Belo, de 87 anos, uma tia de Lenita – como Heleny Telles Ferreira Guariba era carinhosamente tratada pela família. Rachel, 99 anos; Noêmia, 92; e Levy, 89, também moram na cidade – Eunice Maria, de 79, uma tia mais nova, reside em Barretos. A bebedourense, desaparecida política desde 1971 – hoje ela teria 70 anos –, foi casada com o professor universitário Ulisses Telles Guariba, com quem teve dois filhos: Francisco, hoje com 49 anos, e João Vicente, com 44. Dona Ruth, aposentada, trabalhou na Escola Estadual Abílio Manoel. O irmão dela, Isaac, pai de Lenita, era funcionário do Banco do Brasil e foi transferido para Paraguaçu Paulista quando Lenita tinha dois anos de vida.
Por Marina Amaral
arquivo pessoal
Desaparecida desde 1971, seu paradeiro continua desconhecido
Tia Ruth, hoje, e Lenita em dois momentos: criança com o pai e na juventude
Com problemas respiratórios, Isaac foi para São Paulo com a família para se tratar, mas faleceu, em 1946. Lenita tinha cinco anos. Dona Ruth conta que Heleny era “uma criança muito viva, muito esperta”, mas, com
a morte de Isaac, ela perdeu o contato com a sobrinha. Porém, as fotos do período ela guarda com carinho. Como a da mãe de Lenita, dona Paschoalina, a Tita, ainda jovem, em 1945, com uma dedicatória à cunhada
Noêmia. Ou como a de Heleny, mocinha, com a dedicatória: “À vovó e às tias, com todo o afeto da Lenita”. Outra foto guardada com zelo no velho álbum de dona Ruth é a de Isaac com a garotinha Heleny, em frente à
casa da Rua Francisco Inácio, em Bebedouro. Segundo dona Ruth, “Tita” faleceu em 2009. A tia de Lenita conta que a visitou já casada, em São Paulo, e achava que ela era diferente. “Sua casa não era arrumada nos padrões da época, era meio desorganizada” – diz dona Ruth, que completa: “Ela tinha muito livro. No quarto só tinha a cama e o guarda-roupa. A casa dela não era mobiliada como a casa de todo mundo”– lembra. Hoje a tia compreende que isso denotava o caráter transformador e desprendido da sobrinha que, segundo imagina, deve ter sido companheira da presidenta Dilma durante os tempos de chumbo da ditadura militar. Para ela, é muito triste não saber sequer dos restos mortais de Lenita. “Na época, o que chegou à família é que ela tinha sido esquartejada" – lamenta dona Ruth.
Revelação do teatro, ela influenciou uma geração Luis Alberto de Abreu, e Sinal de Vida, de Lauro César Muniz, também se inspiraram na vida dela. Heleny fez doutorado de teatro em Paris e estagiou no Berliner Ensemble, de Bertold Brecht, no Théâthre de Cite, de Roger Planchon e no teatro de Peter Brooks, em Londres. Ao voltar da Europa, fundou, em Santo André, o Grupo Teatro da Cidade, que reunia operários e estudantes. A montagem que realizou com o grupo de Georges Dandin, de Molière, foi premiada em 1968 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Heleny trabalhou com Au-
gusto Boal, no Teatro de Arena, e, em 1969, montou um curso de intepretação com a atriz Cecília Thumim que despertou a vocação de jovens, como o ator e diretor Celso Frateschi, então com 18 anos: “Heleny me apresentou Stanislavski e Brecht, eu nunca tinha ouvido falar nada disso. Também me ensinou muito sobre estética teatral, mas a grande lição que ficou para mim da convivência com ela foi sua intensidade e radicalidade no modo de viver” – conta. A essa altura, Heleny já era simpatizante da luta armada. Conta Dulce Muniz: “Só depois
que fiquei amiga dela, soube que abrigara Carlos Lamarca, em 1965, na casa em que morava com o marido e os filhos pequenos, um enorme risco na
leonardo brito
Em São Paulo, Lenita tornou-se Heleny Guariba. Graças a seu brilho intelectual, à criatividade artística e à coragem pessoal, aos 27 anos, ela surpreendeu a crítica ao montar o espetáculo Dorotéia, de Nelson Rodrigues, em 1968, na Escola de Artes Dramáticas da USP, onde lecionava havia um ano. “Ela era muito intensa, rigorosa, e isso se refletia nos trabalhos que fazia” – diz a aluna, a dramaturga Dulce Muniz, que escreveria uma peça em sua homenagem, - Heleny, Heleny, Doce Colibri – os espetáculos Nossa Cidade, de
Dulce: aprendiz e amiga
época. Quando, no final de 1969, ela entrou para a VPR – Vanguarda Popular Revolucionária – deixou de dar as aulas de teatro e de participar do espetáculo “O casamento de Figaro”, de Beaumarchais. Nunca mais voltaria ao teatro, mas seu nome batiza hoje a sala de espetáculos do Teatro de Santo André e do Teatro de Mauá. Leia na próxima edição do jornal Brasil Atual - A vida de Lenita em família e a família que ela criou no Presídio Tiradentes, inclusive com a presidenta Dilma Rouseff.
7 futebol
Beque de Bebedouro brilha no Inter de Porto Alegre
Marcos Nagelstein/Vipcomm
Dois toques: Ronaldo treinando e em ação contra o Cruzeiro, pelo Brasileirão 2010
noções de posicionamento em campo. O “Fossa” foi tão importante na vida do jogador que seus pais ainda hoje
demonstram um sentimento de gratidão e respeito. Aos 15 anos de idade Ronaldo foi jogar no Águia de
O casal José Luiz e Zoraide, pais de Ronaldo, mora no bairro Alto da Boa Vista, em Bebedouro. As paredes e as estantes da sala ostentam símbolos das conquistas do filho ilustre. Os destaques são a primeira camisa que o atleta usou como profissional no Clube Atlético Paranaense e um troféu de melhor zagueiro que recebeu num torneio de juniores, realizado na Alemanha, em 2008, quando jogava pelo time do Paraná. Dona Zoraide se recorda das dificuldades enfrentadas pelo menino Ronaldo. “Ele ia e voltava a pé desde o campo da Feccib para treinar na CCE, praticamente atravessava a cidade toda” –
arquivo pessoal
Pais catavam laranja na roça
O casal Zoraide e Zé Luiz
lembra, emocionada. “Ele estudava de manhã e fazia todo esse esforço depois do almoço. Imagina, à noite, ele deitava no sofá e caía no sono, cansado.” Dona Zoraide reconhece que o esforço valeu a pena. Agora, com a ajuda do filho, o casal
deixou de trabalhar na roça em 2009, atividade cansativa e desgastante. Ronaldo, aliás, fez questão que eles deixassem o campo. Sempre bem comportado, Ronaldo nunca bebeu nem fumou. Segundo seu pai ele sabia que só teria sucesso na carreira de atleta se ficasse longe dos vícios. “Graças a Deus ele nunca se envolveu com drogas, o que é tão comum hoje em dia” – comemora. A boa formação vem da família. José Luiz e Zoraide sempre foram muito religiosos e deram boa base de caráter aos filhos. Os dois fazem parte do CPP – Conselho Paroquial de Pastoral – da paróquia de São Judas Tadeu.
Maringá (PR) e, aos 16, ele jogava nas equipes de base do Clube Atlético Paranaense, onde se profissionalizou aos
20 anos. Em 2010, o zagueiro passou a defender as cores do colorado gaúcho, time com o qual tem contrato até 2014. Todos da família Alves – principalmente o zagueiro – ficaram muito felizes quando o técnico Celso Roth relacionou Ronaldo para viajar com o Inter para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, para disputar o Campeonato Mundial de Clubes da FIFA. O pai, José Luiz, diz que amigos e familiares foram à sua casa para assistir aos jogos. “Pena que o Inter perdeu o primeiro jogo para o Mazembe e acabou em terceiro lugar” – lamenta ele, um são-paulino.
Jogador por acaso Ronaldo nasceu sonhando em ser jogador, certo? Errado! Até os 10 anos de idade, o craque não queria nada com a bola. “Ele gostava era de soltar pipa” – lembra o pai. Quem jogava futebol desde pequenininho era o irmão mais velho, Rodrigo, hoje com 26 anos. Ele chegou a jogar na Asso-
ciação Atlética Internacional de Bebedouro, mas parou. Segundo José Luiz, faltou a ele uma oportunidade. Rodrigo hoje também é apanhador de laranja, embora seu pai garanta que ele é muito bom de bola. Ronaldo tem também três irmãs: Rosiane, Roselaine e Jéssica.
arquivo pessoal
Menino pobre da periferia da cidade, Ronaldo Luiz Alves, 21 anos, realiza um sonho de muitos outros garotos pelo país afora: jogar num grande time de futebol. Filho do casal de apanhadores de laranja José Luiz Alves, 50 anos, e Zoraide Aparecida Timóteo Alves, 46 anos, Ronaldo começou a jogar futebol aos 11 anos na antiga CCE – Comissão Central de Esportes, com o professor de educação física Carlos Henrique Fossaluza. O menino queria ser centroavante, porém Fossaluza percebeu que ele se sairia melhor como zagueiro e deu-lhe as primeiras
Jefferson Bernardes /Vipcomm
Recentemente, Ronaldo esteve com o time em Abu Dhabi, disputando o Mundial de Clubes
Troféus, medalhas e a camisa do Atlético: casa enfeitada
8 foto síntese –
palavras cruzadas
Entardecer
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Renan Mathias Fernandes
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m e n a g l o i m a m i c l a n t
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Palavras cruzadas
a p a t i c o s
a r e a l e
s e r a r
Respostas
P a l o t o r r t e o u l t g a a r e l x c a a t m p o e
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Horizontal – 1. Torcedor do Palmeiras 2. Ordem dos Templários Orientais; Uma das mulheres de Abrahão 3. Sigla de Roraima; Oitavo mês do calendário gregoriano 4. Estudo sobre deuses 5. Que é mais recente ou moderna na ordem cronológica; Bairro boêmio carioca 6. Abreviatura de Gabão; Relativo ao Papa 7. Assim seja; Embrulho 8. Acervo de palavras de um determinado idioma; Três vezes campeão 9. Óxido de cálcio; A forma mais usada do verbo soer; Aqui 10. Articulação Temporomandibular (abrev.); Antigo testamento; Texto exato de um escrito ou documento; 11. Diz-se do Sol quando está no ocaso; Nome da letra S Vertical – 1. Pátria mãe do idioma português 2. Prender pela trela; Centro Técnico Operacional 3. Tipo de pão feito pelo confeiteiro; Ondas Tropicais; Pesquisa atenta e minuciosa 4. Lá; Dez vezes cem 5. Espalha goma; Em inglês, usa-se quando se quer indicar a posição de algo em um ponto 6. Sacerdote escolhido pelos Orixás para estar lúcido e sob forte vibração e irradiação no trabalho religioso; Pilar destinado a sustentar os fios telegráficos, telefônicos ou elétricos 7. Sétima nota musical; Ferramenta formada de uma chapa de ferro ou de madeira, ajustada a um cabo e destinada a remover terra ou detritos 8. Coluna formada de concreções calcárias que pende do teto de uma gruta 9. A negação; Pôr junto ou sobre; Espírito Santo 10. Senhor (abrev.); Insensíveis a tudo, indolentes 11. Orelha, em inglês; Bandeira de um posto de combustível; Unidade de medida para as superfícies agrárias
9 5 6 3 7 2 1 4 8 1 7 4 5 6 8 3 2 9 3 2 8 1 9 4 5 7 6 7 4 2 8 3 5 6 9 1 6 1 3 4 2 9 8 5 7 8 9 5 6 1 7 2 3 4 5 6 1 9 4 3 7 8 2 4 8 7 2 5 6 9 1 3 2 3 9 7 8 1 4 6 5
Sudoku