Zona leste
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Jornal Regional da Zona Leste de São Paulo
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nº 3
Novembro de 2010
eleições
transporte de massa
foto: divulgação
agonia diária A malfadada rotina de dois milhões de pessoas que viajam nos trens paulistanos
a presidenta País elege Dilma, a candidata do presidente Lula
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foto: flickr/Fernando Stankuns
foto: leonardo brito
cultura
pombas urbanas As incríveis histórias de quem se forma no Teatro Ventre de Lona
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lazer
foto: leonardo brito
Acordar com os pássaros e dormir com as galinhas Os (últimos) resquícios de vida caipira em Itaquera Pág. 6
foto: flickr
imigração japonesa
boca juniors Futebol argentino invade o Brasil atrás de jovens craques
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Partido da Imprensa Golpista pig
eleições
Dilma, a primeira presidente Ela bateu José Serra por mais de 12 milhões de votos
editorial O povo da Zona Leste passa sufoco todos os dias quando embarca nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. A situação chegou ao ponto de as autoridades virem a público dizer que a vida dos passageiros “piora toda vez que (o transporte) melhora”. Era o que faltava a gente ouvir sobre a crônica incompetência do transporte público. Então, o melhor é não melhorar, senhor governador, porque, caso melhore, o número de passageiros transportados aumentará e voltaremos à mesma joça, a mesma joça, aliás, retratada na reportagem das páginas centrais desta edição. Mas o legal é que a gente faz acontecer no Centro Cultural Arte em Construção. O pessoal cada vez mais canta, dança, lê, ensaia peças, enfim, ocupa um espaço seu e que sonha ter asas para, enfim, poder voar. Uma agitação que contrasta com nossos últimos japoneses, os imigrantes que moram há 70 anos num pedaço de paraíso, na hoje movimentada avenida Jacu Pêssego, retratada na página aí ao lado. No mais é desejar sorte à presidente eleita do Brasil – eleita, aliás, com folga na Zona Leste –, lamentar o aumento dos ônibus previsto para o próximo mês e torcer para que as chuvas que vêm por aí não tragam cheias para o Jardim Pantanal. Axé.
vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual. com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.
Como votou a Zona Leste (porcentagem) moóca dilma foto: divulgação
Dilma Vana Rousseff, uma mineira filha de pai búlgaro, que construiu sua carreira política no Rio Grande do Sul, 63 anos de idade, candidata do presidente Luiz Ignácio Lula da Silva e da coligação liderada pelo PT-PMDB, foi eleita, em 31 de outubro, presidente do Brasil. Ela teve 55.752.529 votos (56,05%); seu oponente, José Serra, da coligação encabeçada pelo PSDB-DEM, obteve 43.711.388 (43,95%). Primeira mulher a ocupar o cargo, Dilma venceu na maioria dos Estados da Federação.
No Estado de São Paulo, a vitória foi de José Serra, por 54% a 45%. Na cidade de São Paulo, a vitória também foi de Serra, 54% a 46%. Na Zona Leste, porém, nas 21 zonas eleitorais, o placar foi outro: 57,14% para Dilma, 42,85% para Serra.
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Serra
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tatuapé 31%
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PEnha 35%
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cidade tiradentes 72%
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guaianazes 68%
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itaim paulista 63%
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jardim pantanal
O fantasma das enchentes
Como a região aguarda o próximo período das cheias Um dique de 1.700 m de extensão, 3 m de altura e 14 m de largura começou a ser construído em abril, ao custo de R$ 31 milhões – o sistema completo custará R$ 75 milhões. Sua tarefa principal será a de impedir o avanço das águas
do rio Tietê. Também será construído um piscinão capaz de armazenar 35 milhões de litros de água. O governo desapropriou os imóveis e terrenos particulares localizados na várzea do rio. A área vai virar parque. Kassab contratou a empreiteira Queiroz
Galvão, sem licitação, por R$ 70,5 milhões – maior valor pago para um contrato emergencial – para as obras no Jardim Romano. Esse valor cobre ainda o pagamento de aluguéis sociais de R$ 300 mensais para 3.753 famílias cadastradas.
transporte
Busão pode ir a R$ 2,90 O prefeito Gilberto Kassab anunciou novo aumento da tarifa de ônibus, de R$ 2,70 para R$ 2,90, ainda este ano. O aumento de 7,4% será o segundo do ano – o preço subiu 17,4%, de R$ 2,30 para R$ 2,70, em janeiro. O reajuste de 26,08% no ano é muito
maior do que a inflação de 2010, prevista em 5%. O prefeito disse que a decisão em relação às tarifas é sempre tomada no final do ano pela Secretaria Municipal dos Transportes. Disse ainda que o novo valor é somente uma projeção do orçamento.
Expediente Rede Brasil Atual – Zona Leste Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Redação Marina Amaral, Suzana Vier e Leonardo Brito (estagiário) Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Telefone (11) 3241-0008 Tiragem: 15 mil exemplares Distribuição Gratuita
3 cultura
No palco, a arte de rua para ver, viver, encenar e criar Na Avenida dos Metalúrgicos, 2100, fica o teatro, famoso pelos espetáculos de fim de semana – peças para crianças e adultos, circo, dança, música, mostra de cinema e até campeonato de videogame. Durante o 3º Encontro Comunitário de Teatro Jovem, em setembro, a movimentação foi além, com o vaivém de atores de outras regiões brasileiras e de países vizinhos, acrescentando cores e sotaques à paisagem uniforme dos prédios da Cohab e do CDHU, que abrigam 40 mil apartamentos praticamente iguais, onde moram 220 mil pessoas, no maior conjunto habitacional da América Latina. O Centro Cultural Arte em Construção, além do Teatro Ventre de Lona, abriga sala de aula, ateliê, biblioteca e tele-
fotos: leonardo brito
O galpão de 1.600 m², rodeado por uma pracinha, virou point de Cidade Tiradentes, a 35 km do Centro
Cotidiano no Centro Cultural Arte em Construção: oficinas para todas as idades
centro. Os trajes dos atores secam ao sol enquanto o Pombas Urbanas ensaia no picadeiro, de pé direito alto, o espetáculo Histórias para serem Contadas, que será apresentado no XX Encontro Comunitário de Teatro Jovem em Medellín,
evento da rede latino-americana de teatro de rua – o grupo nasceu em 1989 do encontro do diretor peruano Lino Rojas com jovens que mal sabiam o que significava a palavra teatro, em São Miguel Paulista. Dezenas de prêmios depois
e inúmeras viagens pelo Brasil e pela América Latina, o Pombas Urbanas voltou às origens, à periferia: em 2003, o grupo emplacou o projeto de iniciar um processo parecido com o de sua formação. Na Cidade Tiradentes, eles conseguiram um prédio – o esqueleto
de um supermercado abandonado depois de saqueado, incendiado e usado por usuários de drogas, prostitutas, marginais – de onde retiraram cinco toneladas de entulho. As primeiras turmas de teatro foram abertas em 2004 – a luz elétrica só viria no ano seguinte, quando Lino Rojas já falecera. Em compensação, o Pombas dava cria: em 2005, dez jovens fundaram o núcleo teatral Filhos da Dita, que estreou três anos depois Os Tronconenses (montado pelo Pombas Urbanas em 1990) no palco do Ventre de Lona. A viagem de ambos os grupos para a Colômbia fecha o ciclo. “Valeu a pena. Do retorno à periferia brotou um novo começo” – diz Marcelo Palmares, 39 anos, fundador do Pombas Urbanas e um dos mestres da turma “caçula”.
Quem aprende, ensina. Eis um dos princípios do Instituto Pombas Urbanas, que administra o Centro Cultural Arte em Construção, que atrai 22 mil interessados nos espetáculos, eventos e cursos de teatro – ministrados por integrantes do Pombas e do Filhos da Dita –, de circo, dança de rua, flamenco, violão, contação de histórias, figurino, trabalhos manuais. Das crianças aos idosos, há atividade para todos. Na biblioteca, de 8 mil volumes, adolescentes fazem trabalhos de escola. Na gibiteca, Helena, 4 anos, pede ajuda a
Larissa, de 8, para ler a história da Moranguinho, enquanto a mãe participa de uma oficina de figurino de maracatu. No picadeiro, o grupo de contação de histórias, os Fuxiqueiros, formado por jovens que usam técnicas teatrais para incentivar as crianças a ler, faz laboratório dentro do teatro. Em outro espaço, ao lado do picadeiro, um grupo de dez senhoras faz trabalhos manuais, lideradas por Néia, dona de casa que há quatro anos é voluntária. “Conheci o Pombas quando um deles foi à minha casa – eles estavam procurando talentos escondidos para uma reportagem
no fanzine deles” – conta Néia, observada por Alzira, 80 anos, que faz uma delicada peça de crochê. “Eles publicaram uma poesia minha e vim conhecer o espaço: me descobri! Finalmente apareceu a mulher que estava atrás do fogão” – diz a monitora de trabalhos manuais para a terceira idade. Um bando de crianças corre para a sala de aula: vai começar o aquecimento para as aulas de circo. Cássio Santos, 18 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio de um colégio da vizinhança, é professor da garotada: “Cheguei há três anos, sem perspectiva de vida, a escola
foto: Flickr
O pessoal do extremo da Zona Leste aprende a voar
Voar, voar, subir, subir: vitória de todos
daquele jeito. Aí, recebi um panfleto e vim conhecer o prédio. Foi mágico, ganhei asas” – resume, abrindo o sorriso. Seu depoimento ganha substância quando o olhar das criancas segue o mestre, e o que se vê
é ele pendurado no teto, ensaiando o tecido acrobático, sua especialidade: a comunidade da cidade-dormitório construída às pressas no extremo leste da cidade está aprendendo a voar.
4 transporte
A aventura de andar num trem urbano de São Paulo A plataforma e os vagões estão cheios; dentro dele, disputa-se um pedaço de chão entra, não há como se mexer. É uma briga certa com a porta ou com outros usuários” – ensina o motorista. Tem gente que segura as portas. Os passageiros estão estressados. A composição parte. Dez minutos depois, nova
máquina se aproxima. O motorista, experiente, faz o mesmo itinerário há dez anos. Ele decide aguardar outro trem, mas o horário fica apertado. Ele confidencia: “o pior do trem em horário de pico é a situação das mulhe-
res. É um encosta-encosta geral. E tem gente que se aproveita disso. É constrangedor” – lamenta. Outra composição chega. Homens e mulheres disputam o trem, caibam ou não no vagão. É como se, nos trens da Compa-
foto: divulgação
Estação de São Miguel Paulista. O motorista Vagner Palazolo, de uns 40 anos, nem se levanta. Apesar do horário, 6h54 da manhã, ele aguardará mais um pouco, na esperança de um trem mais vazio. Ele espera a primeira das três conduções para chegar ao trabalho na Barra Funda, na zona Oeste. Quem não tem mais tempo, arma sua estratégia para chegar à estação Brás, no centro, onde há integração com o Metrô. “É hora de mirar uma porta e apostar nela para conseguir entrar” – ensina Palazolo. Quando o trem para, umas portas abrem, outras não. Lá dentro, meio escuro, as pessoas vão espremidas. Como embarcar? “É duro entrar, mas, se você
O trem é como coração de mãe, sempre cabe mais um
Por Suzana Vier
nhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a lei da física de que dois corpos não ocupam o mesmo espaço fosse abolida. Lá vai Palazolo com a pequena bolsa de mão, onde carrega o uniforme da empresa. Não há espaço para entrar. Ainda assim, ele coloca o pé na pequena passarela metálica, que reduz o vão entre os vagões e a plataforma de embarque. O tempo passa, e ele continua com um pé fora da máquina. Uma de suas mãos apoia-se por dentro da porta. Depois, feito alavanca, ele força seu corpo para dentro. Com o aviso de fechamento da porta, ele se esforça mais um pouco. Um guarda o ajuda a caber no trem. Enfim, a porta se fecha. Boa viagem!
Trem sujo da Leopoldina /correndo correndo /parece dizer /tem gente com fome /tem gente com fome /Só nas estações /qu cPtm
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foto: flickr/Fernando Stankuns
“Piora só quando melhora”
Em 2010, 232 mil novos passageiros
Existem sete linhas da CPTM na Grande São Paulo. Apenas a linha 10-Turquesa – Luz-Rio Grande da Serra – apresenta menos de seis pessoas transportadas por m², em horários de pico. As demais têm até 8,4 passageiros por m². Segundo a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, “quando a malha é ampliada ou o serviço melhora, a demanda atrai novos usuários e o serviço piora” – justifica a secretaria. “Foram 232 mil pessoas a mais por dia nos trens”.
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Sardinha em lata Sentada, uma morena jovem, cabelos longos, aguarda o trem. Atendente de call-center, Adriana de Oliveira está grávida. Quando um novo comboio chega à estação, ela se levanta e escolhe uma porta, mas logo desiste. Meneia a cabeça e vai até o início da plataforma tentar achar um espaço para viajar
com mais segurança. Adriana pressente que será pior com o andamento da gravidez. “Aí, realmente, não sei o que fazer, mas terei de enfrentar; tenho de trabalhar” – diz, e constata: “A gente parece sardinha em lata”. Nova tentativa. Dessa vez, sucesso! Lá vai Adriana e milhares de anônimos.
5 transporte
Mãe e filha, passageiras da mesma aflição
foto: flickr/Fernando Stankuns
A assistente administrativa Rosivania da Silva viaja sentada com a filha Larissa, de oito anos, deitada no ombro. Nem todo dia é assim. Conseguir um lugar nos trens da região metropolitana de São Paulo não é mole: requer estratégias. Rosivania, por exemplo, passa três horas diárias nos trens da CPTM. Ela mora em Itaquaquecetuba, onde há uma estação de trem, mas pega o comboio no sentido inverso para, no ponto final, trocar de máquina e seguir na direção necessária. “Pego o trem em Calmon Viana e vou sentada, senão fica até perigoso para minha filha” – explica. Larissa já sofreu dois pequenos acidentes – levou um empurrão e uma cotovelada. “A lotação é tanta que chega a machucar a menina” – diz a
Gente entrando, gente saindo: povo marcado, povo feliz
mãe. No final da tarde, ao voltar para casa, a pequena não consegue lugar e vai sentada no chão do trem” – diz Rosivania. “Larissa me acompanha desde os dois anos de idade. Antes não tinha com quem deixá-la; agora, ela vem estudar em São Paulo” – explica. “O
pior é quando o trem quebra e obriga os usuários a caminharem na linha” – desabafa. Larissa desperta no Brás. Por sorte, ambas viajaram sentadas. Rosivania passou a viagem ouvindo música e acariciando o rosto da filha. A estudante adormeceu e acor-
dou várias vezes no vaivém da máquina nos trilhos. Ainda não chegaram ao destino final. Neste trem da manhã, não há lugares disponíveis. Larissa improvisa. Corre para longe da mãe e senta no chão, sorrindo para que perceba onde ela está. “É triste ver a filha da gente dormindo
assim, mas ela está acostumada. Não reclama.” Vida difícil. Larissa abaixa a cabeça e tenta mais uma soneca antes de chegar à Luz, e o dia de trabalho e estudo começar para as duas. Quando chegam, torcem para que o resto do dia seja bom.
Um mês por ano De terno, viajando em pé, Antônio Oliveira dorme ao balanço dos vagões. “Aproveito pra descansar” – resume, sobre as duas horas que fica no trem, no trajeto Itaquera-Moóca. “É todo dia assim, não muda” – afirma. Pesquisa revela: o paulistano perde um mês por ano em deslocamentos na cidade.
uando vai parando /lentamente começa a dizer /se tem gente com fome /dá de comer /se tem gente com fome /dá de comer
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Mas o freio de ar /todo autoritário /manda o trem calar /Psiuuuuuuuuuuu – Poema de Solano Trindade
foto: SUZANA VIER
Sem tirar o pé do chão
Cleidiane: “vou como dá”
Enquanto espera o trem, Cleidiane Reis conta que estava no metrô no dia em que ele parou – 21 de setembro. E, mesmo diante da comoção que provocou na cidade, seu chefe não compreendeu o atraso. “Ele achou que eu devia ter me esforçado para não me atrasar” – diz.
Por isso, ela tem de entrar no próximo trem que passar na estação São Miguel. Como será? “Primeiro, a gente aguenta o ar quente. Depois, se você entrar com a mão abaixada, não conseguirá mais erguê-la, pois não dá pra se mexer. Se tira o pé do chão, não volta mais” – brin-
ca. Na estação Brás, onde há interligação com o Metrô, ela explica que é preciso ter calma, porque vai enfrentar espera e dificuldade para embarcar. “Só indo lá dentro mesmo para ver” – informa. Às 7h30, a coisa melhora: uma ou duas pessoas entram pe-
las portas, embora os vagões permaneçam lotados. É preciso ter força nos braços para se segurar no trem. Por isso, ouvir música, dormir, ou as duas coisas ao mesmo tempo, é a saída de boa parte dos usuários para suportar a viagem no transporte coletivo.
6 imigração japonesa
A vida caipira resiste ao tempo. Por quanto tempo?
fotos: leonardo brito
A incomparável saga dos Yoshioka, que moram no mesmo endereço há 70 anos
Seu Patrício e dona Rosa: casa sombreada por uma shii
Há quase 70 anos seu Patrício Yoshioka acorda com o canto dos bem-te-vis que fazem ninho no telhado da casa, sombreada por uma gigantesca shii, árvore de copa frondosa plantada por seu pai, Guichi Yoshioka, que importou a semente do Japão. Nesse terreno de cinco hectares, a seis quilômetros do Metrô de Itaquera, Patrício – ou Yoshio para a família, que só se comunicava em japonês por exigência do pai – cresceu ajudando no cultivo de pêssego, goiaba e na criação de galinhas poedeiras.
“As crianças limpavam os ovos e embalavam, às vezes até tarde da noite” – recorda, risonha, dona Rosa, que, como o marido, nasceu, cresceu e sempre viveu na Colônia Japonesa, fundada na década de 1920. Os dois se conheceram nos bancos do ginásio estadual e são casados há 44 anos. Eles seguem a rotina que aprenderam crianças: acordam às 6 h, trabalham na terra, almoçam em família – o prato favorito é o sashimi de sardinha, ao qual seu Patrício atribui a lon-
gevidade da família. Sua mãe, Osame, tem 98 anos e como a sogra, de 102 anos, goza de ótima saúde. Ambas estão no Brasil há mais de 70 anos, mas não falam português. “A única diferença entre a minha criação e a do meu marido é que meu pai era mais rico e a gente tinha gerador em casa, enquanto eles ficavam no escuro” – brinca dona Rosa. Até hoje a água que usam para viver e para irrigar as estufas é bombeada do poço, e eles pagam imposto rural.
Árvores, flores, frutas, pássaros e paz. Muita paz Os Yoshioka e outras 50 famílias ainda moram na Colônia Japonesa. A vizinha Avenida Jacu Pêssego, uma pequena estrada de terra aberta há 90 anos pelos japoneses para vender os frutos que cultivavam, é hoje uma via asfaltada de mais de 30 km por onde circulam 40 mil veículos. O bairro surgiu do loteamento da Fazenda Caguaçu, ganhou o nome de Itaquera – “pedra que dorme”, em guarani – e se tornou um dos mais populosos da Zona Leste, com 1,6 milhão de
pessoas. Patrício explica: “No auge do pêssego, moravam aqui 150 famílias japonesas, mas muitas venderam as propriedades depois que os pessegueiros adoeceram nos anos de 1970 e 1980. Agora, com a valorização da terra, está saindo outra leva. O morador mais antigo, Sideome Nakamura, vendeu a propriedade onde morava desde 1925” – conta. Dona Rosa e seu Patrício vivem hoje da comercialização de galhos de árvores para ikebana (arranjo ornamental japonês), mudas e plantas ornamentais. As plantas são vendidas
no Ceagesp e a quem aproveita para passear na chácara. O preço do metro quadrado – cem reais, segundo seu Patrício – incentiva os negócios imobiliários. A chácara dele, por exemplo, foi avaliada em 7 milhões de reais mas ele nem cogita sair dali. “Vivo no meio do mato, durmo ouvindo grilos e sapos e acordo com os passarinhos. A vida que eu levo aqui não tem preço” – responde seu Patrício, que nos convida a conhecer a propriedade, seguido pelos sete cachorros de pequeno porte que vivem ali.
Em plena Avenida Jacu Pêssego, o mesmo cenário há quase um século
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Tesouro botânico
Habitação
Cohab 1 quer agência bancária
Não há um metro quadrado de terra nua: o emaranhado de árvores dá a impressão de mata virgem. “Plantamos sementes e mudas de espécies botânicas valiosas onde havia vaga” – explica seu Patrício. A mais rara é um pinheiro de folhas de brilho dourado, acentuado pelo sol de primavera. “A metassequoia áurea foi da China para o Japão” –, explica acrescentando, orgulhoso: “este é o único exemplar de que se tem notícia no Brasil. O pomar de goiabeiras, que chegou a ter 800 pés antes da geada de 1979, foi substituído por palmeiras, bambus, ipês. A área dos pessegueiros foi ocupada por bromélias e carnudas. As nêspereiras foram doadas ao caseiro, que as mantém e explora. As mudas de cerejeiras são estrelas da chácara – o casal Yoshioka faz parte da Federação de Sakura e Ypê do Brasil que, em agosto, organiza a Festa das Cerejeiras no Parque do Carmo. “Quando elas
florescem, os descendentes dos japoneses ensinam aos brasileiros o hanami – cerimônia em que se olham as flores e sente-se a textura de suas pétalas em busca da paz interior. No fundo da chácara, há um herbário de 150 mil espécies de plantas, com destaque para as medicinais, que se tornou um centro de pesquisa botânica. Em 1986, o professor japonês Goro Hashimoto visitou o centro – que tem 70 associados brasileiros e japoneses – e a partir de pesquisas ali realizadas publicou, no Japão, um estudo sobre plantas medicinais brasileiras. O calhamaço de 500 páginas está na terceira edição japonesa e não foi traduzido para o português por falta de interesse das editoras, mas continua trazendo visitantes estrangeiros a Itaquera. “Às vezes é mais fácil apreciar o que está longe do que aquilo que está bem embaixo do nosso nariz” – filosofa dona Rosa, sem perder o humor.
Sair de casa para ir ao banco: tarefa de muitos
reunião com o subprefeito para reivindicar um desses terrenos, pois a falta de agências bancárias complica a vida de moradores e comerciantes” – explica o lí-
der comunitário Alex Minduin, acrescentando que a presença de um banco serviria como incentivo à criação de empregos e de projetos de geração de renda.
Lazer
Los hermanos de la zona leste Penha ganhou escola de futebol do Boca Juniors O coordenador e técnico da unidade, Lincoln Marques Neto, 30 anos, ex-atleta profissional de futebol do Santo André, Corinthians, União de Mogi das Cruzes, Palmeiras B e Sport Boys, do Peru, iniciou o trabalho de treinador de futebol na Vila Ré e durante sete anos ensinou na escola dos Meninos da Vila, do Santos. Sócio da franquia que fechou contrato com o Boca, Lincoln ressalta as oportunidades da escola. “Quem
se destacar nos treinos, será avaliado nas categorias de base do Boca Juniors, na Argentina” – explica. “Duas passagens aéreas por semestre serão sorteadas entre os alunos para assistir a uma partida do Boca, no La Bombonera. Em jogos do clube no Brasil, os alunos assistirão à partida de graça e terão acesso ao vestiário dos jogadores.” A escola tem 70 alunos, com idade entre 5 e 17 anos, e custa R$ 60 por mês. O Boca Juniors do Brasil fica na rua Talma de Oliveira, 77. Mais
foto: leonardo brito
Exemplar de metassequoia áurea: única no Brasil
Inaugurada em 1978, a Cohab I de Itaquera, que terá o estádio do Corinthians como vizinho ilustre, está entre os conjuntos habitacionais mais antigos da cidade: nos apartamentos de 50 m², que valem 100 mil reais, moram 112 mil pessoas, a maioria de classe C, com renda familiar entre três e cinco salários mínimos. Mas, apesar de contar com ampla rede de comércio local, os moradores são obrigados a se deslocar para fora da Cohab toda vez que precisam ir ao banco. Motivo: a Prefeitura de São Paulo se recusa a ceder áreas para instalação de agências bancárias, embora a população tenha identificado oito terrenos ociosos dentro da Cohab 1, cada qual com 6 mil m². “Queremos uma
foto: SIDNEIA
Pessoal tem de sair do residencial para pagar suas contas
informações, pelo fone (11) 2885-4194 ou no site www. bocajuniorsbrasil.com.br
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Vertical – 1. Capital da Venezuela. Fruta da pereira 2. São usados na lousa negra 3. Mamífero ágil e de focinho pontiagudo. Extraterrestre. Símbolo do cobalto 4. Deus da guerra na mitologia grega. Sujeito fácil de enganar 5. Conjunto de bandidos ou vadios. Apressar, acelerar 6. Para os. O céu da boca 7. Tecnologia para reconhecer caracteres a partir de um arquivo de imagem (Abr.). O Estado do Acre. Ordem dos Engenheiros. É, em inglês 8. Pequeno atabaque usado nos candomblés. Interjeição. Você, na internet 9. Aramar. Cidade de São Paulo 10. Anfíbio semelhante aos lagartos Horizontal – 1. Frutos da caramboleira 2. Fragmento de um objeto que se desbasta. Cômodo de reduzidas dimensões 3. Tirar tudo de algo ou alguém. Sigla de Alagoas 4. Nome do oitavo mês do calendário. Única 5. A sigla internacional que identifica o registro de um composto químico. Órgão do voo das aves. Brigada Militar 6. Segundo a Bíblia e o Alcorão, nome do homem do primeiro casal criado por Deus. Recobramento da saúde 7. Solitário. Transportes Aéreos Portugueses. Fleming, criador do personagem James Bond 8. Ação oposta a outra e provocada por ela. Reader’s Digest 9. Óleo mineral natural combustível, de cor escura 10. Sigla do Espírito Santo. Jornada, partida. Parte larga e chata do remo 11. Que coage, constrange ou obriga 12. Parte da peça teatral. Ranhura do parafuso
6 3 7 1 8 2 9 5 4 4 1 2 9 5 3 6 8 7 9 5 8 4 7 6 2 1 3 3 2 4 6 9 8 5 7 1 5 7 1 2 3 4 8 9 6 8 9 6 5 1 7 3 4 2 7 4 5 3 2 9 1 6 8 2 6 9 8 4 1 7 3 5 1 8 3 7 6 5 4 2 9 Sudoku