Jornal Brasil Atual - Bebedouro 25

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Jornal Regional de Bebedouro

Distrib

Bebedouro

www.redebrasilatual.com.br

jornal brasil atual

jorbrasilatual

Gratuuiição ta

nº 25

laranja

Abril de 2013

trabalho

dureza no pomar Considerada capital nacional da fruta, colhedores vivem maus dias na cidade

olho no banco Santander precisa de gente para trabalhar nas suas agências

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saúde

sai ou não sai? Novo prefeito mantém obra de Pronto Atendimento parada

Pág. 3

pesquisa educação

pobres, negros e índios estão na universidade Edmar faz Ciências Sociais, Vanessa, Engenharia e Agenor formou-se em Som e Imagem Pág. 4-5

dá-lhe, dilma! Presidenta tem aprovação recorde e supera até Lula

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outono

Bebedouro Trabalho

Santander precisa de bancários

Bebedouro continua a ser chamada de Capital Nacional da Laranja, atribuindo-se os louros de uma citricultura que, a cada safra, lhe aumenta seu status e envergadura em todo o país. De fato, a cidade continua em alta no segmento, ainda que, ao longo dos anos, tenha perdido posições: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 o município já ocupava a sétima colocação entre as cidades brasileiras produtoras de laranja, com mais de 350 mil toneladas, atrás de outras cinco cidades paulistas e uma baiana. A desgraça maior, contudo, é a vida dos colonos nesses pomares, assunto da reportagem da página 6 desta edição. Outra desgraceira danada diz respeito à questão da saúde na cidade. O município recebeu grana do governo federal para construir uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas desde dezembro – não se sabe por que –, a obra parou. Diante do descaso de nossas autoridades municipais, é possível que a cidade tenha de devolver R$ 1,5 milhão ao Ministério da Saúde. Uma vergonha. Felizmente, há na educação uma bela notícia. É que a política de cotas do governo federal já mostra os primeiros resultados de inclusão social, botando pobres, negros e índios na universidade. É isso. Boa leitura!

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lucro mundial do banco, portanto é plenamente possível que o banco atenda as justas reivindicações dos bancários. A entidade sindical da categoria solicita também, por meio de uma Carta Aberta distribuída aos clientes,

apoio às reivindicações e pede o envio de mensagens para os presidentes do banco na Espanha e no Brasil através dos e-mails: <presidência@gruposantander. com> e <presidência@santander.com.br>.

Solidariedade

Bancários: campanha do agasalho Coleta vai até 31 de maio nas agências bancárias O Sindicato dos Bancários iniciou em 10 de março mais uma Campanha do Agasalho. Os pontos de coleta são as agências bancárias da cidade, onde há cestos com a logomarca da campanha. Para a dirigente sindical Shirlei Paixão, “a campanha é um momento em que todos devem demonstrar solidariedade aos mais necessitados”. A coleta

mauro ramos

editorial

As três agências do Banco Santander de Bebedouro retardaram a abertura em meia hora, no dia 11 de abril, em protesto organizado pelo sindicato da categoria. As manifestações foram realizadas em todo o país. O objetivo era chamar a atenção da direção do banco espanhol para a necessidade de uma política interna que vise parar com as demissões que vêm ocorrendo na rede de agências, contratar mais funcionários, melhorar as condições de trabalho e, por consequência, o atendimento aos clientes. O Santander lucrou, no Brasil, R$ 6,3 bilhões no ano passado. “Esse resultado”, segundo o dirigente sindical Fábio Alves Medeiros, “significou 26% do

divulgação

Sindicato quer fim das demissões e mais contratações

vai até 31 de maio e o material arrecadado será entregue a en-

tidades de assistência social de Bebedouro.

Expediente Rede Brasil Atual – Bebedouro Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Redação Enio Lourenço e Lauany Rosa Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Telefone (11) 3295-2800 Tiragem: 10 mil exemplares Distribuição Gratuita


Bebedouro

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saúde

Bebedouro pode perder dinheiro que veio para a UPA Desde dezembro, as obras da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Bebedouro – que vinha sendo construída anexa ao Hospital Municipal Júlia Pinto Caldeira – estão paradas. Após um ano e sete meses do lançamento da pedra fundamental pelo ex-prefeito João Batista Bianchini, o Italiano, a cidade corre o risco de perder o convênio com o Ministério da Saúde, que já liberou R$ 1,5 milhão para a construção do equipamento de saúde, e ter de devolver o dinheiro ao órgão. Segundo o diretor de Engenharia, Planejamento e Obras, Gilmar Feltrin, a empresa responsável pela construção, DCN Engenharia e Comércio, de Barretos, não cumpriu com o contrato e pediu repasse maior de verbas para prosseguir a construção. “Tínhamos um dado que apontava 80% da área do terreno construída, mas

enio lourenço

Depois de 19 meses, foram feitas apenas 43% das obras da Unidade de Pronto Atendimento

resposta, a gente entrou com um processo no Ministério Público, pois teremos que arcar com um ônus de quase R$ 600 mil para levantar a UPA. Queremos a devolução do dinheiro repassado a essa empresa de engenharia” – diz Feltrin. O diretor conta que o valor total da obra foi licitado em

constatamos que apenas 43% das obras foram concluídas até o momento” – argumenta. O Departamento Jurídico da Prefeitura acionou o Ministério Público e entrou em litígio com a construtora. “A priori, nós notificamos a DCN, para que ela retome as obras, mas não o fizeram. Sem

R$ 2.334.696,00 e a contrapartida do município era de R$ 404.409,32. “Não posso dizer se a modalidade de licitação foi equivocada, mas sei que é uma conta que não fecha, pois ainda faltariam mais de R$ 400.000,00, que não se sabe de onde viriam.” E complementa: “Nós estamos no

limite dos prazos do convênio. Tentamos resolver o problema para fazer uma licitação emergencial e contratar outra empresa de engenharia, mas também não podemos cometer equívocos com o Tribunal de Contas do Estado”. O diretor de Saúde, Dr. Eurico Medeiros Júnior, afirma que fará uma reunião com agentes do Ministério da Saúde, em Brasília, para tentar postergar o prazo do convênio. “Hoje não há perspectiva de quando concluiremos a UPA. Porém, não podemos perder o dinheiro de sua construção. Temos de achar uma maneira de viabilizar outras formas de captação de recursos para concluir a obra e também não perder outros convênios com o governo federal, como a Academia de Saúde, novas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e reformas nos equipamentos.”

O vereador Luís Carlos de Freitas (PT) pede esclarecimentos sobre a morosidade do processo de construção da UPA. O parlamentar também solicita os relatórios de medições, o cronograma físico e financeiro da Prefeitura e as providências da nova Administração Pública. “Houve irregularidades da administração passada na construção da obra. No entanto, solicitei o relatório de vistorias, para saber as medições da Prefeitura no local e não obtive.

Até o final desta edição, a assessoria de imprensa da Prefeitura não sabia informar o tamanho total do terreno e a área da UPA a ser construída. A capacidade de atendimento da população, as especificidades médicas e o quadro de profissionais que comporá o novo equipamento de saúde também não foram detalhados. De acordo com uma nota publicada no site da Prefeitura, em agosto de 2012, a área seria de 2.118 m², com 1.382 m² de

Quero saber quem foram os responsáveis, quem produziu os documentos. Falta clareza de informações de por que houve a paralisação da UPA. Precisamos esclarecer essa questão” – afirma o petista. Freitas reitera que a Pre-

feitura pode ser condenada a devolver o dinheiro empenhado no convênio. “Esse problema implica na confiabilidade de nossas ações e responsabilidades, fator fundamental para aquisição de novos empreendimentos junto ao governos federal e estadual. É o caso do tratamento da rede de esgoto, que temos 33% não saneado, e precisamos de R$ 20 milhões. Ou da revitalização do Córrego Parati, que também exige um investimento alto.”

divulgação

Dados ainda valem?

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Vereador pede esclarecimentos

construção. O atendimento 24 h contaria com quatro médicos (dois clínicos gerais e dois pediatras), corpo de enfermagem, profissionais de raios X e demais funcionários, informações que poderão ser alteradas.


Bebedouro

4 Educação

Pobres, negros e índios chegam pela porta da frente

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62% da população apoia política de cotas, que revoluciona o ensino superior no país Por Cida de Oliveira

Voltar à escola e ter um trabalho longe da rotina extenuante do canavial. O sonho do índio terena Agenor Custódio, que dos 12 aos 18 anos

cortava cana em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, foi conquistado aos 39 anos, ao se formar em Imagem e Som pela Universidade Federal de

São Carlos (UFSCar). Agora, ele pode passar na seleção do programa de mestrado da instituição e disputar uma vaga na área de audiovisual ou na carreira acadêmica. A 230 km da capital, a UFSCar é uma das dez melhores universidades do país, segundo o Ministério da Educação. Agenor teve dificuldades para estudar. Adolescente, largou a escola para trabalhar. Aos 21 anos matriculou-se no ensino médio, que só concluiu aos 28 – mesmo assim, entrou na Faculdade de Turismo numa universidade pública de seu Estado. Estava no terceiro ano, mas parou por falta

(SP). Estudou em escola pública e, até o ensino médio, acreditava que toda faculdade era paga. Aprendiz numa indústria de autopeças, Vanessa fez modelação industrial – um curso técnico no Senai, junto com o colegial –, para entrar mais cedo no mercado de trabalho. Nos fins de semana, tinha aulas num cursinho popular. Aos 18 anos, viajou sozinha pela primeira vez e se matriculou em São Carlos. Sem computador portátil e com dinheiro que mal dava para o xerox, enfrentou dificuldades. “Tive muitas desilusões. Embora não seja declarado, o racismo existe” – afirma.

de dinheiro para alimentação, moradia e transporte. Mas o sonho não morreu. Em 2008 ingressou na UFSCar graças à cota para indígenas; em março, ele colou grau. “De outra forma seria impossível entrar numa universidade pública, gratuita, prestigiada, estudar, pesquisar e ter a chance no mestrado” – diz. Sua vizinha de república, Vanessa David de Campos, 23 anos, aluna de Engenharia de Produção, tem grandes expectativas. Ingressou na UFSCar em 2008, na cota dos negros. Primeira universitária da família, a futura engenheira cresceu na periferia pobre de Taubaté

Ex-metalúrgico, Edmar Neves da Silva, 21 anos, do terceiro semestre de Ciências Sociais, entrou na faculdade por meio da cota para oriundos da escola pública. Cursou a primeira metade do ensino fundamental na rede municipal de Mogi-Guaçu (SP), depois seguiu na rede estadual até o ensino médio. “A formação foi muito ruim” – lembra o estudante, que queria chegar ao ensino superior público, gratuito e de qualidade. O que o ajudou a suprir as falhas foi uma bolsa de um curso pré-vestibular particular, que ganhou em 2010, quando trabalhava de dia e estudava à noite e nos fins de semana. Dirigente do di-

retório acadêmico da UFSCar, Edmar é o segundo da família numa faculdade. A irmã mais velha cursou Administração com bolsa integral do Programa Universidade para Todos (ProUni) e faz pós-graduação em Marketing. Os pais não concluíram o ensino fundamental. Porém, ainda há gente que paga colégios caros para os filhos chegarem às universidades públicas, que se incomodam de vê-los dividir salas de aula com negros, indígenas e estudantes pobres – antes da adoção de cotas, em 2004, eles não estariam ali. Esse incômodo acabará quando a elite se conscientizar de que as boas escolas públicas são mantidas pelos impostos de todos. Há também casos como o

paulo pepe/rba

Por uma nova cultura. E bota cultura nisso

Graças às cotas, Vanessa, Edmar e Agenor chegaram lá

da fisioterapeuta Sílvia Martinez, que pagou boa escola particular para a filha que ficou na lista de espera da Universidade de Brasília (UnB). “Se não houvesse vagas reservadas

para as cotas, ela teria entrado. É uma mudança de mentalidade, que leva gerações para ser assimilada. Mas é uma questão de justiça social, vale a pena” – opina.

Um estudo dos pesquisadores Jacques Velloso e Claudete Batista Cardoso, da UnB – a primeira a adotar cotas para negros e pardos, em 2004 –, verificou que as cotas mais que dobraram as chances desses candidatos. Para completar, em agosto de 2012, a presidenta Dilma sancionou a lei de ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio. O prazo é de quatro anos para que as instituições reservem metade das vagas para estudantes do ensino médio de escolas públicas. Desse percentual, metade é para estudantes de famílias com renda de até 1,5 salário mínimo per capita.


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Por meio da imprensa conservadora, os porta-vozes da classe social que o ex-governador paulista Cláudio Lembo batizou de “elite branca” espalham uma visão enviesada, segundo a qual as cotas ferem a igualdade e o mérito acadêmico, são ineficazes porque o problema está na péssima qualidade do ensino básico público, e não na má distribuição de renda, rebaixam o nível acadêmico, desfavorecem os brancos mais pobres em detrimento dos negros e prejudicam essa população ao estigmatizá-la como incompetente. Todos esses mitos vão sendo derrubados. Em 2006 e 2008, pesquisas do instituto Datafolha indicavam que mais de 80% da população aprovava as cotas. Em fevereiro, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma pesquisa do Ibope que mostra que 62% dos entrevistados – dois em cada três brasileiros – apoiam cotas em universidades públicas para alunos negros, pobres e estudantes da escola pública. A pesquisa foi realizada em todas as regiões brasileiras e

constatou que é maior (77%) o apoio às cotas para os de baixa renda, seguido por 64% de aprovação às baseadas em critério de raça. A oposição é maior entre os entrevistados brancos, das classes A e B, moradores das capitais, nas regiões Norte e Centro-Oeste. E menor entre os que estudaram da 5ª à 8ª série, emergentes da classe C, nordestinos e moradores do interior. Segundo o jornal, os que buscam ascensão social e econômica são mais simpáticos a políticas que aumentem suas chances de chegar à faculdade. A pesquisa mostra que, em todas as camadas sociais, o apoio é maior que a contrariedade. “De 2004 a 2011, a proporção de pessoas pertencentes à faixa de menor renda aumentou no ensino superior, passando de 0,6% para 4,2%. No mesmo período, a inserção dos negros saltou de 5% para 8,8% e dos pardos, de 5,6% para 11%” – diz o professor João Feres Júnior, do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

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Os negros na universidade são uma novidade nas aulas

Na avaliação de frei David Raimundo dos Santos, 60 anos, diretor da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes (Educafro), a aprovação das cotas é fruto dos argumentos sólidos dos defensores da medida. “Com humildade, sabedoria e vigor, as pessoas esclarecem à opinião pública, o que não ocorre com os críticos que estão em 90% das reportagens contrárias publicadas nesses 10 anos” – diz. O juiz federal William Douglas, 45 anos, do Rio de Janeiro, era contrário às cotas dos negros, mas passou a defendê-las. Branco, filho de pai lavrador e mãe operária, ele não crê mais em “heroísmo”. “Minha filha estuda em colégio caro, de professores bem pagos e ótima estrutura, mas a maioria das crianças pobres estuda em escolas sem professores, carteiras ou banheiros. Não é justo exigir o mesmo desempenho na hora de entrar na universidade” – diz. As cotas valem apenas para o ingresso na faculdade. A permanência e a conclusão são por conta do aluno. Com o mesmo grau de exigência nos cursos, os cotistas superam as deficiências do ensino básico e rendem igual ou melhor

que os não cotistas. Em 2008, o desempenho acadêmico dos cotistas negros era de 6,41 e dos vindos de escolas públicas 6,56, acima do 6,37 dos não cotistas. Além disso, a taxa de conclusão dos cursos era maior. Embora as universidades estaduais paulistas não adotem o sistema de cotas, a Unicamp concede pontos adicionais na nota do vestibular dos egressos da rede pública. A comissão para o vestibular constatou que a nota média desses alunos beneficiados foi mais alta que a dos demais. Outra resposta ao discurso de que a política de cotas seria demagógica e os beneficiados abandonariam o curso vem de um estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A maioria dos cotistas já cumprira a maior parte dos créditos das disciplinas e o seu desempenho estava entre os mais altos em cursos como Matemática, Física, Engenharia Elétrica, Ciências Biológicas, Odontologia, Farmácia,

Filosofia, Comunicação, Nutrição, Psicologia e Direito. Os cotistas também estavam menos sujeitos a reprovação por faltas. Primeiro aluno a ingressar na UFBA por meio de cotas, Icaro Vidal formouse em Medicina em 2011. Negro e oriundo da escola pública, viu graduarem-se inúmeros grupinhos de estudantes brancos, formados nas melhores escolas particulares de Salvador. Nunca fez parte de nenhum deles, tampouco sentiu na pele preconceito por ser cotista. Mas sabe que existia, de forma velada. Médico do Programa de Saúde da Família da Prefeitura de Salvador e servidor estadual num instituto de criminalística, Icaro torce pela educação brasileira. “As cotas facilitam a entrada na faculdade, mas não são tudo. É preciso melhorar a escola pública. Atendo adultos e crianças de 12 anos que não sabem ler nem escrever.”

lucia correia lima/rba

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A voz da elite branca Como vencer o preconceito

Flagrante: o doutor Icaro atende seus pacientes


Bebedouro

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O drama dos colhedores de laranja de Bebedouro

mauro ramos

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O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bebedouro, Gonçalves dos Santos, o Salo, lamenta a perda que a monocultura da cana-de-açúcar trouxe a São Paulo. “Há muito tempo, Bebedouro perdeu destaque na produção citricultora nacional e os maiores prejudicados são os trabalhadores que dependem da colheita da fruta para sobreviver” – afirma. Para Salo, um motivo do fim da Califórnia brasileira – apelido da cidade nos anos 80 – é o cartel de empresas responsáveis pela exportação do suco de laranja, que determinam tudo sobre a safra do cítrico. “A produção da laranja está nas mãos das famílias

Por Enio Lourenço

enio lourenço

Da Califórnia brasileira resta o calor do sol sob o qual se trabalha

Cutrale, Fischer (Citrosuco), Ermírio de Moraes (Citrovita) e da multinacional Dreyfus. Como eles têm as fazendas,

não compram a produção do pequeno produtor. Se o pequeno produz, por exemplo, quatro caminhões, ele vende

apenas dois, joga o excedente no lixo e os postos de trabalho vão diminuindo” – diz. Outro problema são as

doenças nos pomares. Considerado o câncer da laranja, o greening foi identificado no Brasil em 2004. Causado por algumas bactérias, como a Candidatus liberibacter, a doença não tem cura e a única forma de controle é a erradicação total dos pés afetados. Segundo a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado, em 2012, 7,2 milhões de plantas foram arrancadas dos pomares paulistas. “Antigamente o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) realizava fiscalização nas fazendas e obrigava os produtores a erradicar a peste dos pomares. Hoje a tarefa é deles, que não o fazem completamente.”

As condições de trabalho, ao longo dos anos, se deterioram e a qualidade de vida na colheita da laranja está em decadência – o piso dos colhedores de laranja entre junho e fevereiro é de R$ 690. Um bom profissional colhe mais de 100 caixas de laranja (27 kg cada) por dia e pode alcançar R$ 1.200 no fim do mês. Ao final da safra, a produção diminui e os empregadores passam a pagar menos pela colheita. É o caso de Donizete de Freitas, 44, que, com todos os encargos trabalhistas, recebeu R$ 275 na última quinzena de trabalho em fevereiro, quando coletou 198 caixas. E, na entres-

safra, nem todos conseguem o seguro-desemprego. Em 1995, o ex-presidente FHC sancionou uma lei que facilitou o acesso ao crédito rural e à criação de cooperativas de trabalhadores rurais, mas desmobilizou a categoria e os sindicatos perderam força nas negociações salariais. Assim, as cooperativas negociaram os acordos com as indústrias citricultoras. De acordo com o colhedor de laranja Géldo Pereira, 51 – há 32 anos na profissão –, esse foi o momento em que os trabalhadores rurais saíram mais prejudicados e obtiveram perdas irreparáveis de salário real. “As indústrias incentivaram os trabalhadores a montar cooperativas. Eles falavam pra

enio lourenço

Os problemas no trabalho de quem coleta a fruta

Géldo e Donizete revelam quanto ganham: R$ 275

gente abrir uma casinha, chamar outros trabalhadores, fazer pequenas assembleias. Foi aí que os trabalhadores perderam a força de se organizar e o seu poder de negociação. Hoje, o pessoal deveria ganhar no mínimo R$ 0,80 por caixa coletada, mas recebeu R$ 0,42”.

A Lei também proporcionou o avanço nos condomínios, forma de organização em que os proprietários agem como intermediários na contratação de mão de obra na lavoura para as indústrias de processamento. No caso da laranja, Salo afirma que esses

agentes são ex-funcionários administrativos demitidos das grandes citricultoras. “São os gatos, os atravessadores. Nós lutamos para acabar com os condomínios, que não respeitam os trabalhadores, sonegam impostos e direitos trabalhistas e horas extras” – diz. Ele comenta que no Estado existem “uns 30 condomínios”, que terceirizam a contratação da mão de obra da produção e não se preocupam com os encargos trabalhistas e a parte social de quem faz a colheita. “Pedimos fiscalização do Ministério do Trabalho, mas eles quase nunca aparecem para autuar as irregularidades dos condomínios.”


Bebedouro

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Situação só piora

Dilma: 63% de avaliação positiva

mandato cresceu três pontos, chegando aos 65%. Três fatores possibilitaram a manutenção da avaliação positiva do governo Dilma: baixa taxa de desemprego aliada à manutenção da renda familiar, os pro-

gramas sociais e a personalidade e o carisma da presidenta da República. A pesquisa revela ainda que 61% dos brasileiros consideram o governo de Dilma igual ao do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Mas, pela primeira vez, aumentou o número de favoráveis a Dilma frente a Lula. Dessa vez 20% da população considerou o atual governo melhor do que o anterior, que ficou com 18%. Em dezembro, a pesquisa mostrava que 21% dos brasileiros viam o governo Lula como melhor, enquanto 19% optavam pela presidenta.

futebol

Society do Três Marias Aposenb vence quadrangular inicial do torneio No domingo, 7 de abril, um quadrangular de apresentação abriu mais um Campeonato de Futebol Society, no Jardim Três Marias, organizado pela SABES – Sociedade Amigos de Bairros do Extremo Sul –, em parceria com o CEM – Centro Esportivo Municipal –, do Jardim Santaella. O Aposenb sagrou-se campeão diante do Monte Azul por 3 a 1, depois de bater o Jaboticabal por 2 a 0. O Monte Azul, segundo colocado, venceu o CPP, na primeira rodada, também por 2 a 0. O Campeonato existe há 16 anos. O presidente da SABES, João Paulo de Oliveira, o Diquinho, explica que seu principal objetivo é

mauro ramos

faltar, mesmo com atestado médico, senão perde o benefício. Se as firmas pagassem R$ 250 de vale alimentação seria uma vitória, porque eles não dão R$ 0,01 de salário acima da inflação.” O gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de Barretos, Mário Henrique Scannavino, diz conhecer as práticas irregulares dos condomínios e indústrias citricultoras denunciadas pelo Sindicato de Bebedouro. “Mesmo com apenas cinco funcionários para a região, a gente autua essas irregularidades. Se a gente constata um local inadequado para a refeição, ausência de barraca sanitária, de água fresca, transporte ruim, aplica-se a lei e as multas previstas.” Mário afirma já ter encontrado “trabalho infantil na colheita da laranja, com migrantes trabalhando com filhos de 6 a 10 anos no pomar.” O colhedor Géldo e o sindicalista Salo não veem a fiscalização do MTE nos laranjais. “A gente pede, mas eles não aparecem. Quando vão às roças, o patrão sabe da inspeção.” Mário nega: “Se isso existir, o funcionário é exonerado na hora do serviço público federal.”

Segundo o Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope), em março, Dilma Rousseff bateu novo recorde e atingiu 63% de bom ou ótimo – maior percentual desde março de 2011, quando começou a pesquisa. Outros 29%, dos 2002 entrevistados em 143 municípios brasileiros, consideram o governo regular e 7% afirmam que ele é ruim ou péssimo. A aprovação do modo de governar subiu 1%, alcançando 79%, contra 17% dos que desaprovam. A confiança na presidenta subiu de 73% para 75%. E o otimismo para os próximos 16 meses de

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Governo da presidenta tem avaliação melhor que Lula

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O colhedor Géldo Pereira lembra que a desvalorização da profissão faz os colonos trocarem a lavoura por outros postos na cidade, como a construção civil. “Quem vai coletar 100 caixas de laranja, oito horas por dia, debaixo do sol e ganhar R$ 40? Com um carrinho de sorvete na rua se ganha mais. Um servente de pedreiro tira R$ 300 por semana, algo difícil para um colhedor de laranja conseguir na roça.” Salo confirma que, em 12 anos, a categoria passou de 7.000 para 2.500 trabalhadores rurais na cidade (incluindo os cortadores de cana-deaçúcar). No entanto, Géldo é cético ao pensar numa greve para obter uma negociação mais justa com o setor. E lamenta: “Antes da colheita, eles prometem mundos e fundos e nunca cumprem, como o piso de R$ 1.150”. O colega Donizete de Freitas vê a greve como uma tática suicida, porque não enxerga união entre os sindicatos da região. “A gente pode fazer greve em Monte Azul e Bebedouro, mas aí o sindicato de Barretos, por exemplo, vai lá e assina o acordo coletivo, sem consultar as demais bases da região. Aí, não adianta. Por isso, o Cutrale se considera o dono do mundo e faz o que quer na mesa de negociação.” Uma solução viável para os colhedores de laranja é a luta por melhorias no vale alimentação. “Antes, as firmas ofereciam cestas básicas. Hoje a Monte Citrus oferece R$ 84; a Cutrale, R$ 150, mas ninguém pode

a interação positiva dos bairros da cidade, reforçando os laços de amizade e respeito. Empolgado, Diquinho agradeceu ao bom público presente, que acompanhou os três jogos do quadrangular. “Espero ver todos aqui de novo nos jogos oficiais da competição.” O campeonato pra valer começará no sábado seguinte, dia 13, com a participação de 21 equipes, divididas em três gru-

pos: Grupo A – Sol Dourado, Oficina Onofre Maradona, Inova, Três Marias, Mecat Service Portuguesa, Sport Boys e Boa Vista. Grupo B – Pizzaria Sorriso, Jardim Marajá, Estrela União, Boa Vista B, Kataclisma, Jardim Aeroporto e Estrelinha Juniores Manchester. Grupo C – 3M Juniores, Jornal A Cidade (MAP), Força Vital, União, Ziquita, Milan e Art Sol.


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vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual.com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.

Respostas

Horizontal – 1. Quem faz pesquisa 2. Sigla do Rio Grande do Sul; Nome das plantas que causam irritação na pele 3. Que contém ópio; Liga Oficial Pokémon 4. Quadro-negro; Radical NO2, que torna mais ácida a molécula da qual faz parte 5. A letra R; Visto que 6. Tribunal Administrativo Tributário; Classe de compostos orgânicos com um radical hidroxila ligado a um núcleo de benzeno 7. Tornar mais fino 8. Sorri; Indica a pessoa que fala e funciona como sujeito da oração; Bashar Hafez al-, dirigente sírio 9. Cidade do Ceará; As três primeiras letras do alfabeto; Music Theatre International 10. Lugar com água e vegetação no meio de um deserto; Designa orelha. Vertical – 1. Trabalhador que vive apenas de seu salário 2. Casual, fortuita 3. Tenda, ou abrigo subterrâneo dos povos nômades do centro da Ásia; Símbolo do ósmio 4. Por pouco; Fonema correspondente à letra L 5. Nome de um bairro carioca; Plural de água 6. Que não tem bom sabor, insípido 7. Comuna da Suíça, localizada no Cantão Valais; Antônimo de forte 8. Símbolo de prata; Pau-d’arco, árvore de madeira muito resistente 9. Distúrbio da visão que impede a percepção de cores 10. Sobrenome do general que é patrono da Arma de Cavalaria do Exército Brasileiro; Antigo Testamento 11. Trecho musical que se executa depois de uma cerimônia.

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Palavras cruzadas

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