Bragança
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Jornal Regional de Bragança Paulista
jornal brasil atual
jorbrasilatual
nº 2
eleições 2012
Distrib
Gratuuiição ta
Novembro de 2012
Educação
vitória saborosa Fernão Dias (PT) bate todos os adversários, em especial as pesquisas e a mídia
universidade Bragança pode, afinal, viabilizar projeto com governo federal
Pág. 2
habitação
Um problemão Há loteamento irregular e clandestino por toda a cidade
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Futebol perfil
neymar, o juninho da praia grande Os primeiros lances no Jardim Glória, quando ele era um desconhecido jogador do Grêmio Pág. 4-5
novo talismã Romarinho, do Corinthians, pode ser campeão mundial
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Bragança Paulista
2 Educação
Universidade vai sair do papel
editorial As eleições municipais mostraram ao País que a mídia comercial tem, sim, um lado: o da incondicional defesa de um projeto nacional que não tolera a vitória dos partidos afeitos à causa dos trabalhadores, pela inclusão e contra a miséria e a barbárie. Este ano, a mídia – o PIG, o Partido da Imprensa Golpista – teve a seu lado os homens que vestem a capa escura do Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar os que eram tidos como responsáveis pelo Mensalão e a culpá-los com as penas da lei, sem ao menos terem uma prova contra os acusados. Valeram, sim, os indícios de culpabilidade, o que muda o viés da Justiça empregada no Brasil até aqui. No fim, eles foram derrotados de novo. De São Paulo veio a derrota maior, com o tucano José Serra sendo bicado de morte pelo “poste” Fernando Haddad. Outra, não menos eletrizante, foi a vitória em Bragança Paulista do petista Fernão Dias sobre o rival do DEM, Renato Frangini, por 21 votos! E, a gente que vive aqui sabe: ele derrotou o rival nas urnas e enfrentou as velhas oligarquias da cidade que, munidas de pesquisas fantasmas, faziam coro às malbaratadas denúncias que eram amplificadas pelos senhores de capa escura. Esse exemplo nefasto do PIG servirá para que se tomem medidas para evitar, no futuro, essa afronta à democracia. Afora isso, esta edição traz uma realidade desconhecida dos torcedores brasileiros: a infância de Neymar, vivida no Jardim Glória, periferia da Praia Grande, onde ele começou defendendo o Grêmio, e onde estão os antigos amigos, que esperam uma visita do craque, ainda que seja de reconhecimento pelas velhas amizades. É isso. Boa leitura!
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A criação da Universidade Federal Bragantina (UFRB) está difícil de sair do papel. O projeto, de autoria do deputado federal Roberto Santiago (PSD), de 2007, tratava da construção da instituição num prazo máximo de três anos e meio. Quatro anos se passaram e não há um parecer sobre como atender à demanda de quem busca uma entidade de ensino de ponta, longe de centros como Campinas e São Paulo. Agora, o prefeito eleito Fernão Dias (PT) promete investimentos e planos para trazer instituições de ensino para Bragança Paulista. “O primeiro passo será a implantação do Centro Educacional Unificado (CEU), seguido, enfim, da Universidade Federal, no prédio da antiga fábrica Austin. As 30 famílias que moram ali serão beneficiadas com casas populares. Toda a estrutura de solo já está pronta, com instalação de água e esgoto” – diz Fernão. A boa relação do prefeito com o ministro da Educação, Aloízio Mercadante (PT),
Moriti Neto
Prefeito eleito fala em viabilizá-la com o governo federal
pode ser o elo que faltava para a realização da obra. Em abril deste ano, a União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Trabalhadores (Uneafro) encaminhou uma carta às autoridades presentes ao encontro promovido pela entidade. O documento, encaminhado também ao ministro Mercadante e à assessoria da presidente Dilma Rousseff, solicitava agilidade na construção da Universidade Federal Bragantina. “O próximo passo é juntarmos forças com a sociedade, principalmente com movimentos so-
ciais, sindicatos e educadores, e pressionarmos para a criação da UFRB” – diz Nilza Ferreira, representante do Conselho Geral da Uneafro. Estratégica, a universidade abrigaria alunos vindos das cidades da região – Atibaia, Piracaia, Jarinu e Nazaré Paulista. O professor Jorge Tomioka, da Universidade Federal do ABC Paulista, comparou o orçamento gerado para a cidade por universidades como Unicamp (Campinas/R$ 1,3 bilhão) e Ufscar (São Carlos/R$ 160 milhões). Para Bragança, a previsão bate na casa dos R$ 200 milhões.
Ainda não há nada por perto De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o país tem 55 universidades federais, 19 delas na região sudeste. Nenhuma, porém, próxima à região bragantina.
Se aprovados, os projetos apresentados em 2007 no Congresso Nacional, aumentariam em 50% o número de universidades federais no país. Nesse número, inclui-se também a UFRB.
Outras informações sobre a Uneafro e o movimento de luta pela criação da universidade na região podem ser acessadas no site <www.uneafrobrasil.org>.
Expediente Rede Brasil Atual – Bragança Paulista Editora Gráfica Atitude Ltda. – Diretor de redação Paulo Salvador Editor João de Barros Redação Enio Lourenço, Fernanda Domingues, Lauany Rosa, Marcel Barros, Moriti Neto, Paloma Barra, Robson Morais e Rodrigo Leite Revisão Malu Simões Diagramação Leandro Siman Telefone (11) 3295-2800 Tiragem: 5 mil exemplares Distribuição Gratuita
Bragança Paulista
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Eleições 2012
Vitória histórica de Fernão Dias (PT) por 21 votos Com 21 votos a mais que o segundo colocado, o prefeito eleito de Bragança Paulista, Fernão Dias da Silva Leme (PT), só comemorou a vitória na abertura da última urna. O delegado da Polícia Civil do Estado ingressa na política aos 47 anos, em um partido que nunca ocupou a Prefeitura da cidade. O petista teve 32.605 votos, 38,07% dos votos válidos, Renato Frangini (DEM), 32.584 votos, 38,05%. A história dessa vitória é contada por Fernão Dias nesta entrevista concedida em sua casa. Como foi a escolha de sua candidatura? Tudo começou há dois anos e meio, quando eu era delegado seccional. Decidi entrar na política, mas não tinha partido. Falei com uns amigos que a gente não podia votar sempre nos mesmos. Ou a gente tentava moralizar a política, ou não dava. A minha indignação era a de todos: uma cidade malcuidada, com déficit habitacional, que perdia em geração de empregos para Extrema, Atibaia e Itatiba, falta de segurança pública, uma saúde caótica, educação de baixo desempenho. Decidi entrar no Partido dos Trabalhadores. Aí, veio a primeira enxurrada de críticas: “Bragança não tem PT, o PT aqui tem mil votos, o PT tem rejeição, a cidade é conservadora, vai ser o seu suicídio político”. Mas sou teimoso. Entrei no PT. Na primeira semana, perdi o apoio do PP. Os Chedid conversaram com o Paulo Maluf e se entenderam.
Filipe Granado
Novo prefeito teve parte da mídia como adversária; promessa é governar para os mais pobres
Só que os 90 homens que eu tinha colocado no PP, vieram para o PT. E como foi a campanha? Uma luta tremenda. A gente decidiu o quadro de vereadores no último dia. E fomos para a campanha. Eu e a professora Hugette, escolhida pelo PTB e de consenso de todo o grupo, saíamos todos os dias às 7 h, e às vezes às 5 h. Nossa campanha foi na porta de fábrica e, principalmente, dentro das fábricas onde há gente de todos os bairros. O que apontavam as pesquisas internas na campanha? No início, eu era o quarto colocado, à frente só do Fred Zenorini. Mas passamos o João Carlos Carvalho, empatamos com o Gustavo Sartori, que tinha o mesmo perfil de eleitores, cara jovem e tal. Um estava com 16% e outro com 17%; o Renato Frangini batia nos 25 %. E veio a pesquisa do Bragança Jornal Diário (BJD), do Ibope, com o Frangini sete pontos à frente, mas que tira-
va o empate em que eu estava com o Sartori. E a outra pesquisa do BJD? Ela deu 14 pontos de diferença para o Frangini, mas, no acompanhamento interno, eram só três pontos. Reuni o pessoal e falei que a publicação era uma mentira. Depois, veio a pesquisa do Instituto Ipempi para a Gazeta Bragantina, que dava uma diferença muito grande: 39,7% para o DEM e 18,4% para o PT. A pesquisa, feita para nos prejudicar, nos ajudou. Veja, eu acredito nas pesquisas, mas não acredito na divulgação delas. As pesquisas são sérias, me balizava nelas. Mas é fácil manipulá-las. Pegam-se três bairros, com amostra hipotética de cem pessoas por bairro, e se entrevistam 150 pessoas. Nessas 50 pesquisas a mais há manipulação: colocam os indecisos no lugar. As pesquisas foram um erro bárbaro, não adianta justificar. E qual foi o papel da mídia? A Gazeta massacrava o PT e
a mim, uma semana antes da eleição. A rádio 102 FM, do grupo Chedid, falava dia e noite de corrupção, do mensalão, falavam para a população tomar cuidado com o governo do PT. A revista Verdade, dois dias antes da eleição, despejou 10 mil exemplares na Zona Norte, colocando o Frangini, com 31%, o Sartori, com 30% e eu com 15%. A Gazeta Bragantina também despejou 10 mil exemplares, nas casas da Zona Norte, com a pesquisa, e batendo no PT. Havia panfletos apócrifos, que diziam barbaridades. Teve até carta anônima. Até uma denúncia na Corregedoria da Polícia Civil falava que a polícia entregava panfletos, mas eu não fui nenhum dia à delegacia. A Corregedoria veio, revistou as salas a cinco dias da eleição. E a mídia junto, pra ver se pegava algo contra mim. E o Gustavo Sartori? Ele atacava só a mim. Dia e noite. Mas o trabalho dos nossos 38 candidatos a vereador e da legião que a gente conquistou deu certo. Sabíamos que a eleição seria apertada, mas nem tanto. Esperava-se de 1 a 2% para qualquer dos lados. E o diálogo pós-eleição? Fizemos reuniões para estabelecer um governo de transição. Para o secretariado, avaliaremos critérios técnicos. Da atual administração do PSDB, nenhum secretário será aproveitado, apesar de haver bons secretários. A vitória foi histórica? Uma vitória por 21 votos é significativa, repercutiu no
Estado inteiro. Numa cidade tradicional e conservadora como Bragança, onde o PT nunca teve mais que 1.400 votos, deixava claro que eu enfrentaria esse radicalismo. A gente fez 11 prefeituras no Vale do Paraíba, um segundo lugar em Joanópolis, ganhamos em Nazaré. O que esperar do PT? O dinheiro federal virá para a cidade. Ele está na União e vamos buscá-lo para dar um salto de qualidade. O alinhamento com o governo estadual não traz progresso. Agora, é município e federação. E a nova Câmara? A Câmara tem quatro vereadores da coligação, mas quase 100% dos vereadores são pessoas de nosso relacionamento pessoal. Acho então que vai ser uma convivência harmoniosa, pautada pela legalidade, sem a política da barganha. Vocês prometeram cargos? Não tivemos nenhum acordo. Uma independência total em relação aos jornais e à mídia. A gente venceu no corpo a corpo. A periferia também foi fundamental, o Parque dos Estados – ganhamos em todas as urnas lá. Esse vai ser um governo do bairro para o centro. Na periferia de Bragança, em pleno século 21, há gente que passa fome, há analfabetismo, há idosos destratados, gente morrendo por falta de médico. O nosso governo vai ser voltado para o social, para a qualidade de vida da população pobre, com moradias, empregos, boa educação, saúde.
Bragança Paulista
4 perfil
Neymar em Praia Grande, no tempo em que era Juninho
enio lourenço
divulgação
Neymar da Silva Santos Júnior nasceu em Mogi das Cruzes e teve uma infância nômade devido às empreitadas futebolísticas do pai, também ele um atacante. Antes de a família Silva Santos desembarcar na Baixada Santista, eles moraram em Várzea Grande, no Mato Grosso, onde o Seu Neymar vestiu a camisa do Operário Futebol Clube e se sagrou campeão estadual, em 1997, quando Neymar Júnior tinha cinco anos de vida. Chegando ao litoral paulista, a família viveu na casa da avó paterna do craque, em São Vicente. Com o nascimento de Rafaella, a caçula da família, o espaço tornou-se pequeno e os quatro se mudaram para a Praia Grande, onde viveram nove anos. No Jardim Glória, na peri-
enio lourenço
O garoto esbanjava talento entre a molecada e o time de várzea do Jardim Glória
Neymar e as lembranças da Praia Grande: a família, o primeiro time e o amigo Jonathan
feria da cidade, o garoto foi se habituando a fazer do futebol o seu estilo de vida. “Cheguei a ter 50 bolas em casa” – revelou Neymar, aos 14 anos, em entrevista à TV Tribuna. Como a maioria das crianças, ele conciliava os estudos com a brincadeira predileta, jogar futebol. Os amigos do bairro contam que podia ser em
casa – num campinho de areia no quintal, feito pelo pai –, na rua, no campo do Grêmio, o “Juninho”, como era chamado, estava sempre chutando uma bola. Jonathan Santos Marcelino, 20, repositor em uma transportadora de tintas, era um dos amigos de Neymar. Ele lembra que almoçava na
casa do atacante e vice-versa e sempre jogava vídeo game. “A gente estudava no Tio Baptista (Escola Municipal José Júlio Martins Baptista), onde fomos campeões dos jogos escolares. Foi uma época muito boa.” O jovem conta que reviu o amigo famoso apenas uma vez, depois que a família de Neymar mudou para Santos. “Houve
Por Enio Lourenço
um jogo da Seleção Brasileira de Futsal, com o Falcão, no Ginásio Poliesportivo Municipal, e o Neymar deu o pontapé inicial da partida. Nesse dia, ele saudou o meu irmão, mas não me viu.” Das fortes lembranças de Jonathan, as que mais o empolgam são as da molecada jogando bola nas ruas do Jardim Glória. As peladas iam de depois das aulas até o anoitecer. “Teve um dia em que o Neymar trouxe os amigos dele do Gremetal (clube de Santos onde jogava futsal) e chamou a gente para jogar contra eles na rua. Um dos moleques do time do Neymar era o Alan Patrick (ex-jogador do Santos, hoje no Shakhtar Donetsk), mas não conseguiram nos vencer. O jogo terminou 20 a 19 para nós” – diz, entre risos.
A referência em futebol no Jardim Glória é o Grêmio Praia Grande. Localizado ao lado da Via Expressa Sul, o clube – basicamente um campo de futebol –, fundado em 1969, é conhecido nos campeonatos amadores da Baixada Santista. O presidente do Grêmio é o pedreiro Celiano Alfredo da Silva, o Celinho, de 62 anos. Ele conta que é difícil manter categorias de base na agremiação e não mede esforços para manter o que chama de trabalho social. “Muitos garotos treinam
sem ter o que comer. Então, a gente compra pão, mortadela e suco pra eles, antes dos treinos e jogos.” Neymar era vizinho do Grêmio Praia Grande e resolveu jogar na várzea do bairro, dos nove aos onze anos. O seu técnico foi Eugênio Silva Rosa, o Biro. Mecânico e ex-jogador de futebol, ele treinava o time pré-mirim do Glória, no início dos anos 2000. “O Neymar era um menino tímido, falava pouco, mas no campo era diferente dos outros. Não existia timidez com a bola rolando. Mesmo os garotos
enio lourenço
Os primeiros chutes no campo do time de várzea
Celinho, presidente do Grêmio, e Biro, primeiro técnico
mais velhos não conseguiam segurá-lo.” Celinho e Biro se recordam de que Roberto Antônio dos Santos, o Betinho – olheiro santista, que revelou Robinho e depois levou Ney-
mar para a Vila Belmiro – esteve “umas vezes no campo do Grêmio”, observando os jovens jogadores. “Pouco depois o Neymar já jogava nas categorias de base do Santos.”
Ambos lamentam apenas que o astro da seleção brasileira fale pouco de seu passado no Jardim Glória. “A gente fica triste porque ele não fala nada da época em que esteve no Grêmio. Talvez porque os empresários achem que a gente vai querer alguma coisa” – diz Celinho. Os dois mantêm a esperança de que Neymar faça uma visita para conversar com os garotos do bairro ou doar material esportivo para ajudar jovens que têm vontade de um dia se tornar em iguais a ele.
Bragança Paulista
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Em todas as ruas nomeadas por letras do Jardim Glória sempre se encontra alguém que tenha alguma lembrança do pequeno menino franzino, tímido, que falava baixo e para
bola, da destreza e da facilidade com que a manuseava com os pés. Outros moradores se sentem orgulhos por viverem no mesmo lugar onde um dia morou um dos maiores fenômenos do futebol e da mídia. “O pessoal do Glória se sente orgulhoso do sucesso do Neymar na Seleção Brasileira e no Santos. Quem sabe um dia ele não aparece aqui para dar um abraço na gente” – afirma de maneira esperançosa o seu ex-técnico Biro.
dentro, mas que com a bola nos pés – seja no asfalto quente, na quadra ou no campo – fazia os outros gritarem por ele. Nas escolas Estadual Oswaldo Luiz Sanchez Toschi e na Municipal José Júlio Martins Baptista nenhum funcionário fala da vida escolar do famoso ex-morador do bairro. Mas, nas ruas do bairro, quase todos dizem ter a honra de conhecê-lo. E quem o conheceu, criança, fala de boca cheia das habilidades do craque com a
Pequeno milionário Aos 13 anos, Neymar despontava nas categorias de base do Santos, chamou a atenção dos clubes da Europa e foi convidado a fazer estágio no Real Madrid. Na iminência de perder o craque, o ex-presidente do alvinegro praiano, Marcelo Teixeira, ofereceu à família Silva Santos R$ 1 milhão em luvas, para o jogador permanecer no Brasil. No ano seguinte, Neymar Jr.
Divulgação
enio lourenço
Um orgulho do Jardim Glória
passaria a ganhar cerca de R$ 25.000,00 mensais – valor superior ao que recebem muitos jogadores profissionais no Brasil.
“A nossa infância era estudar e jogar bola. Eu e o Neymar fazíamos campeonatos de futebol na rua. Todo mundo do Jardim Glória parava para assistir. A maioria dos moleques do bairro é habilidosa, porque jogam bola desde criança o tempo todo.” Diferente do célebre amigo de infância e companheiro de peladas de rua, Yago Vieira da Cruz, de 20 anos, é um meia-esquerda que ainda luta por um lugar no futebol. Segundo a mãe, a empregada doméstica Tatiane Vieira, o filho “disputou a primeira Copa TV Tribuna (na qual Neymar se destacou pelo colégio Liceu São Paulo, de Santos, aos 12 e 13 anos), mas na época não era televisionada”. Graças aos torneios da escola, o garoto teve algumas propostas para estudar em colégios particulares, mas recusou: “Não queria sair do meu bairro”. A primeira experiência
enio lourenço
Amigo de infância luta para virar jogador de futebol
de Yago no futebol de campo foi a mesma de Neymar. No campo do Grêmio Praia Grande, os dois eram parceiros ofensivos. “Os treinos eram no fundo do campo, atrás do gol, porque éramos muito pequenos. Na época, o espaço parecia gigante.” Aos 12 anos, os jovens se separaram. Yago fez um teste no Corinthians. “A gente treinava no terrão de Itaquera, mas depois de três meses eu voltei, porque não me adaptei à casa de uma tia e sentia falta da minha família e do Glória” – conta Yago. Ao retornar à Praia Grande,
Yago seguiu no futsal e na várzea até ser descoberto pelo exponta-direita do Santos Manoel Maria e levado a atuar pelo Jabaquara Atlético Clube, de Santos. “Fiquei três anos, nas categorias infantil e juvenil, e disputei um ótimo Campeonato Paulista Sub-17.” Nessa época, o jogador e sua família assinaram um contrato com a CFS Sports. A empresa se tornou dona dos direitos esportivos de Yago por quatro anos (dos 14 aos 18) e estabeleceu multa rescisória de R$ 250.000,00. “Do Jabaquara eu tinha chance de ir para o Santos, porque o Manoel Maria era muito influente e já havia levado o Geovânio, hoje atacante reserva do Peixe. Bastava eu ficar mais um pouco por lá. Mas o meu empresário (que ele não diz o nome) vetou a minha permanência.” Yago, então, começou a pingar de clube em clube do Brasil. Aos 16 anos, ele estava no América Mineiro. Lá, o meia-esquerda conquistou os dirigentes e treinadores com o seu
estilo de jogo, fazendo com que eles se interessassem em adquirir os direitos federativos da CFS Sports. “Estávamos no hexagonal final do campeonato mineiro e meu empresário precisava levar o documento à federação autorizando a minha transferência, mas a CFS melou a negociação.” Yago chamou a atenção de Mauro Fernandes, ex-coordenador das categorias de base do Atlético Mineiro – hoje treinador do time profissional do América Mineiro. No Galo, Yago ficou três meses, mas quebrou o tornozelo e ficou oito meses afastado dos campos. Ao se recuperar, disputou torneios por times de empresários e, em 2011, foi para o Vasco da Gama. “Foi o lugar onde passei mais dificuldade na vida”. Nos quatro meses em que permaneceu no Rio de Janeiro, a CFS nunca o ajudou financeiramente. “Houve dias em que eu fiquei sem comer. Eu ia para o treino à base de água. Às vezes algum amigo me dava biscoito para comer”
– comenta entre lágrimas o jogador que não contou a situação à mãe, para não atormentá-la. Sem resposta sobre a sua permanência no Vasco, Yago aguardou o fim do contrato com a CFS Sports, para reaver sua autonomia. Ele voltou a jogar na várzea de Praia Grande e chamou a atenção de novos empresários que o levaram a uma peneira em São Bernardo. De cerca de 100 jovens, ele se destacou e foi convidado a fazer uma pré-temporada, a fim de se recondicionar fisicamente, com uma equipe profissional de Maria da Fé, no interior de Minas Gerais – no dia da entrevista, Yago se preparava para viajar. Ele diz que existem propostas para realizar seu sonho em outro país: “Não é nada concreto, mas me falaram sobre propostas de Portugal, Alemanha, Suíça e Vietnã. Espero que dê tudo certo. Quero realizar meu sonho e não vou desistir.”
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6 habitação
Há loteamento irregular e clandestino pra todo lado
Mansões”. Os loteamentos irregulares são aqueles que, aprovados pelo Poder Público,
O papel do município Cabe ao município promover o ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso e parcelamento do solo urbano. Para isso, a Prefeitura deve possuir corpo técnico multidisciplinar capaz de promover a adequada análise dos projetos de loteamento que são submetidos à aprovação e garantir a regularização dos loteamentos clandestinos e irregulares. Em Bragança, a despeito de existir a Resolução, a Prefeitura limita-se a responder aos ofícios que lhe são en-
dereçados pelo Ministério Público e pelo Judiciário. Alguns loteamentos necessitam apenas de regularização de domínio, já que, por serem antigos, estão juridicamente consolidados, com infraestrutura urbana instalada. Outros necessitam da regularização. Para isso, é preciso que a área seja aprovada nos órgãos competentes, registrada no Cartório de Registro de Imóveis e executada de acordo com o projeto, possuindo a infraestrutura urbana necessária e indispensável à habitação.
são executados em desconformidade com o projeto aprovado, sem que as obras de infra-
estrutura sejam concluídas. Já os loteamentos clandestinos são os que não possuem existência jurídica e nunca foram submetidos à aprovação, e esses são a maioria na cidade. Ao tomar conhecimento do problema, o MP instaura inquérito civil, elabora um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) contra os responsáveis e promove ação civil pública. A promotora Kelly destaca que o fato da Prefeitura cobrar Imposto Predial Territorial e Urbano (IPTU)
e as empresas concessionárias cobrarem água e energia elétrica desses loteamentos é interpretado como algo que “dá aparência de legalidade ao que não existe e fomenta a situação ilegal”. Atualmente, existem cerca de 40 ações civis públicas, objetivando a regularização de loteamentos clandestinos na cidade. Em algumas, a Prefeitura figura como ré nos processos. Diante do número de demandas, não é possível saber em que fases processuais eles se encontram.
Terra em troca de voto
Moriti Neto
Segundo dados da Divisão de Regularização Fundiária e Parcelamento do Solo (Resolo) da Prefeitura de Bragança Paulista, existem cerca de 200 loteamentos irregulares e clandestinos na cidade. Para a promotora Kelly Cristina Alvares Fedel, da 4ª Promotoria de Justiça da Comarca do Ministério Público (MP), essas áreas “existem nos bairros de menor poder aquisitivo, como o Green Park, e nos bairros ricos, como em Boa Vista, conhecida como Jardim das
Moriti Neto
Problema não é só de bairro pobre; promotora acusa Prefeitura de fomentar ilegalidade
O plano diretor do município, criado em 1991, passou por alterações em
2007, e dificultou a formulação de regras eficientes para empreendimentos imobiliários e loteamentos, considerada a agressiva expansão urbana que a cidade vive. Durante anos, muitas famílias vindas do Nordeste se instalaram no município com a promessa de casa própria. No bairro Águas Claras, por exemplo, pessoas chegavam e traziam parentes com o compromisso de que, se votassem em certos políticos, teriam o imóvel regularizado, caso eles ganhassem as eleições. Os migrantes, então, transferiam títulos de eleitor
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e aguardavam o cumprimento do acordo. Estava feito o curral eleitoral – eles permaneciam sem moradia regular. Daí a existência de alguns loteamentos irregulares ou clandestinos, como o Green Park, que aguarda solução desde 1987 e possui o maior número de moradores assentados à espera de regularização e urbanização: são 324 famílias (1.360 pessoas) num local onde os proprietários originais acumulam cerca de 400 execuções fiscais por impostos não pagos ao município.
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Futebol
A carreira de Romarinho, novo talismã do Corinthians A saga do artilheiro, que passou pelo Bragantino antes de chegar ao Timão Romário Ricardo da Silva, o Romarinho, nasceu em Palestina, interior do Estado, há 21 anos, e ficou famoso no país depois de marcar um gol para o Corinthians na primeira partida da decisão da Copa Libertadores da América, contra o Boca Juniors, em Buenos Aires – o jogador já havia sido considerado a revelação do Paulistão de 2012, jogando pelo Bragantino. O atleta foi descoberto aos cinco anos pelo professor Hérico Cardoso de Lima, que o levou para a sua escolinha e mais tarde o enviou para fazer testes no Vitória da Bahia. Mas a distância da família fez com que ele logo voltasse a Palestina e aos treinos na categoria de base do Rio Preto, de São
José do Rio Preto, até conseguir vaga no dente de leite do São Paulo, onde permaneceu dois anos – Romarinho foi dispensado porque matava as aulas para jogar bola na rua e a dedicação, acompanhada de notas boas, era exigência do clube para os garotos. O atacante, então, passou
pelo América de Rio Preto e novamente pelo Rio Preto, mas os 70 quilômetros de Palestina inviabilizavam os treinos e ele voltou à cidade natal. Em 2008, profissionalizou-se no Rio Branco, de Americana, onde ficou dois anos. Negociado com o Desportivo Brasil – time de empresários
de Porto Feliz – o jogador foi emprestado ao São Bernardo, para a disputa do Paulistão de 2011. Ao final da competição, em julho daquele ano, ele chegou ao Bragantino, disputou a Série B do Brasileirão até que, em maio de 2012, foi contratado pelo Corinthians. Antes de vender Romarinho ao Timão, o Bragantino tentou negociá-lo com outros clubes. O presidente Marco Antônio Chedid conversou com Palmeiras, São Paulo e Santos. Colecionou negativas. No Palmeiras, os cartolas passaram a bola para o técnico Felipão, que não teve interesse no jogador. No São Paulo, a conversa ocorreu após o confronto das duas equipes, nas quartas de final do Pau-
listão: o tricolor precisava de um zagueiro. No Santos, embora, em 2008, numa entrevista à Federação Paulista de Futebol, o jogador se declarasse santista, a conversa também não evoluiu. O acerto com o Corinthians ocorreu em 5 de junho, antes da partida Bragantino e São Caetano, pela Série B do Brasileirão. Romarinho estava escalado, mas, no ônibus, ficou sabendo que dali em diante faria parte do Bando de Loucos – em 2009, os zagueiros Zelão e Cadu, o goleiro Felipe, o volante Moradei, o atacante Éverton Santos e o volante Paulinho trocaram o Massa Bruta pelo Timão, abrindo caminho para o novo talismã da fiel.
cidadania
Mobilidade é desafio cotidiano para deficientes Cidade não está preparada para atender o portador de deficiência Transporte público inadequado, calçamento em péssimas condições e falta de orientação à população encabeçam a lista de obstáculos impostos a quem depende de facilidades para o acesso a pontos estratégicos da cidade. Segundo o ortopedista Mauro Moreira há dois tipos de deficientes: os portadores e os temporários – nesse grupo se encaixa, por exemplo, quem quebra o pé e passa a usar muletas. Mas, em ambos os casos, a dificuldade de realizar tarefas simples – ir ao banco ou ao supermercado – vira um desafio. “A cidade não está preparada. Pior: o
Poder Público faz pouco por essas pessoas”. Geograficamente, a cidade não ajuda. Ela está em região montanhosa, repleta de ladeiras. Quem utiliza cadeira de rodas tem dificuldades. Há casos, também, em que o cego
sente o chão com a bengala, mas não percebe o que está acima, como as lixeiras suspensas nas calçadas. É comum presenciar acidentes assim” – diz Mauro. Segundo o prefeito João Afonso Sólis (PSDB), o Jango, “um estudo que mensure os problemas enfrentados por portadores de deficiência foi pedido à Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Enquanto espera o documento, o prefeito reconhece o problema. “A meta é, até o fim do mandato (31 de dezembro) deixar um plano de ação para o próximo prefeito.”
Zona rural: é difícil Morador do Menim, na zona rural, o cadeirante Edirlei Franco, 33 anos, ficou paraplégico ainda bebê. Ele ficou internado 11 anos e acabou no Asilo São Vicente de Paula, de onde foi expulso pelo Ministério Público por “não ser idoso”. Hoje, ele vem com frequência à zona urbana e, a cada saída, tem um desafio novo. “Árvores, buracos, postes, lixeiras, muita coisa dificulta o deficiente físico. Alguns ônibus são adaptados, mas
os que chegam à Zona Rural não são. Dependo da ajuda de motorista ou de um passageiro para embarcar” – conta. Para o acesso a prédios públicos, como a Prefeitura, há rampas e elevadores, mas isso falta no Fórum. Edirlei precisa ir ao local, pois luta na Justiça por uma pensão. “Lá, eu dependo de gente que me levante com a cadeira para subir os degraus.”
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Horizontal – 1. Grande macaco do Sudeste Asiático, de pelos avermelhados, braços muito longos e cauda ausente 2. Arte e técnica da dança, do uso preciso, harmonioso e expressivo do corpo em movimentos e posições coreografados ou improvisados; Causas, motivos, explicações 3. Designação de diversas árvores e arbustos elegantes, que dão lindas flores; Poeira; Mano, Irmão 4. Um dos criadores da Tropicália; Deslocar-se na água usando o corpo ou instrumentos como boias e pranchas 5. Estados Unidos da América; Nome de uma fábrica de automóveis 6. Alcoólicos Anônimos; Clube Atlético Paranaense; Matéria que forma o esqueleto do homem 7. Próprio de um dos polos da Terra; Contração do pronome te e do pronome a 8. Coisa que atrai; Alagoas; Cabelo, penugem 9. Forma de cumprimento; José, prenome de um cantor brega; Amapá 10. Partido, grei; A mais aguda entre as vozes masculinas.
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Vertical – 1. Registros de óbitos 2. Pessoa matreira; Terceira nota musical 3. Cidadã da Alemanha; Peça usada para cavar ou remover terra 4. Nordeste; Cobalto; Sufixo que indica um álcool 5. Cada impulso dado sobre o pedal na bicicleta 6. Rezo; Pedra preciosa de cor leitosa e azulada 7. Está combinado; Notre Dame; Magnetismo pessoal 8. Que traz azar; Que denota precedência 9. Região em que ficam os Estados do Ceará e de Pernambuco 10. Parte amarela do ovo de ave ou réptil, que contém substâncias nutritivas; Sala destinada a reuniões e recepções sociais 11. Nome de um conhecido general brasileiro; Oficial Poker Rankings.
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vale o que vier As mensagens podem ser enviadas para jornalba@redebrasilatual.com.br ou para Rua São Bento, 365, 19º andar, Centro, São Paulo, SP, CEP 01011-100. As cartas devem vir acompanhadas de nome completo, telefone, endereço e e-mail para contato.
Respostas o b i t u a r i o s
r a a l p e o m s a a p m a i c
n g e p z e d c a o l a o d l a
o t r a o n o d p a r l a i t
Palavras cruzadas
p r e a z i a g o
n g o e r m d a e s s t a e l a n o
o p r o s o r i o
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Sudoku
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