FACULDADE DE ENGENHARIAS DE PRESIDENTE PRUDENTE “CONS. ALGACYR MUNHOZ MAEDER” CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
ENTRE O PRESENTE E O TEMPO: UM MÓDULO DE AMPARO À IMPREVISIBILIDADE DA VIDA
LEANDRO CÉSAR MENDES DOS SANTOS Trabalho de Conclusão, apresentado à Faculdade de Engenharia de Presidente Prudente, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade do Oeste Paulista, como parte dos requisitos para a sua conclusão. Orientadora: Cristiana Alexandre Pasquini
Presidente Prudente - SP 2018
em memรณria de Wander Sidnei Gil
“A riqueza do homem é a cidade, que tem virtudes incontáveis. Uma delas é amparar a imprevisibilidade da vida” Paulo Mendes da Rocha
agradecimentos Difícil reunir em uma lista todos aqueles ao qual sou grato todos esses anos, mas não poderia deixar de citar alguns: primeiramente à minha orientadora e companheira de trabalho nos último anos, por me acolher e ajudar a ter certeza do caminho a seguir na arquitetura. Não posso deixar de fora Lana, o Vini e a Amanda, além de todos aqueles que, junto da Cris, acreditaram num ideal e ajudaram a construir o grupoDEArquitetura, local onde tive os maiores aprendizados ao longo do curso.; ao Ygor e Beatriz pela gentileza no compartilhamento de arquivos e informações essenciais para o início do trabalho. à Carol, Ivor, Jayne, Juliana, Leila e Mariana, além de colegas durante toda a faculdade, amigos e companheiros de bar. ao Luan e Daniel pelos divertidos e proveitosos momentos, discussões nas diversas áreas e críticas destemidas que me ajudaram evoluir. à Lorena pela amizade e proximidade, que, apesar de se construir no final do curso, sempre auxiliou, criticou, acreditou e inspirou! à Jayne, novamente, por todos os momentos de empatia, ajuda e gentileza que inúmeras vezes que me salvaram nos cinco anos. à Mari pela amizade sincera e apoio nos momentos mais difíceis durante a realização desse trabalho. E a todos que esqueci, mas que contribuiram, mesmo que indiretamente!
prefácio Me permito dizer que o que lerão daqui em diante seja fruto de uma crise, ou melhor, duas. Direi também que esta análise não é apenas uma produção de 1 ano ou o reflexo de 5 anos de formação, mas sim fruto de 21 anos de experiências e vivências no lugar, enraizadas entre o consciente e subconsciente que somente então amplificadas nos últimos meses. É claro que a influencia dos últimos cinco anos está presente, primeiramente por me fazer passar pela área de estudo a ser apresentada pelo menos dez vezes por semana no trajeto até a faculdade. Segundo pela óbvia formação do arquiteto, não só como profissão, mas no olhar crítico sobre a história, o vazio e a construção da cidade. Parte daí a primeira crise, se deparar com o vazio e imaginar suas possibilidades, porém não saber ao certo o que aquele lugar deveria ser. Foi então num diálogo com o espaço e seu contexto que se sucedeu a busca por respostas, contexto este que tento demonstrar e construir ao leitor, assim como parte da sua história e importância para a cidade, presente na vida e memória de muitos regentenses. Se as perguntas constituíram a primeira crise, sua transformação em resposta certamente representa a segunda, a materialização de um pensamento pautado nas interpretações de uma área cujo contexto se revela tão cheio de histórias e condicionantes é o desafio a seguir, resposta essa não apenas para o fechamento de um trabalho ou de um ciclo, mas em prol de uma área, e acima de tudo, daqueles que por lá existem e se manifestam na dinâmica e imprevisível vida.
resumo O interior do Estado de São Paulo foi marcado pelo surgimento de cidades dadas a partir da expansão das fronteiras agrícolas e linha férrea, as quais passaram ter uma paisagem cultural marcada pela herança ferroviária. Dentre essas cidades está Regente Feijó, que, passou a sofrer nas últimas décadas com políticas que vitimaram sua área histórica de gênese urbana entre o centro e a ferrovia, assim como seu patrimônio arquitetônico e a vivacidade urbana na área central. Este trabalho levanta questões em busca de discutir conceitos e problemáticas inerentes ao contexto de uma pequena cidade de origem ferroviária bem como entende-las para propor soluções potencializem a vida urbana em cenários públicos e exaltem sua representatividade histórica. O estudo até então desenvolvido primeiramente faz-se uma abordagem conceitual de espaços urbanos e investiga os atributos que os tornam em lugares. Em seguida cria-se uma aproximação com a área de estudo e suas particularidades assim como referenciais quanto aos métodos de intervir que se façam uma resposta às manifestações de uso atuais em prol de sua amplificação para resgatar redes de sociabilidade e vivacidade urbana. Palavras-chave: Regente Feijó, Vitalidade Urbana, Centro Urbano, Intervenção, Esplanada Ferroviária.
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abstract The interior of the State of São Paulo was marked by the emergence of cities given the expansion of agricultural frontiers and railroad lines, which now have a cultural landscape marked by the railway heritage. Among these cities is Regente Feijó, who has suffered in recent decades with policies that have victimized his historic area of urban genesis between the center and the railroad, as well as its architectural heritage and urban liveliness in the central area. This work raises questions in order to discuss concepts and problems inherent in the context of a small city of railway origin as well as to understand them to propose solutions to enhance urban life in public settings and to exalt its historical representativeness. The study thus far developed first makes a conceptual approach to urban spaces and investigates the attributes that make them in places. Next, an approximation is created with the area of study and its particularities as well as references as to the methods of intervening to make a response to the present manifestations of use in favor of its amplification to rescue networks of sociability and urban vivacity.
Key-words: Regente Feijó, Urban Vitality, Midtown, Urban Intervention, Railway Terrace.
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sumário introdução 18 espaço-tempo 23 interpretações 97 suporte 233 considerações ... finais ?!
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lista de siglas
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lista de figuras
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referências bibliográficas
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introdução A vitalidade urbana sempre foi um tema em pauta dos estudos urbanos ao longo das décadas, embora por muito fora negligenciado, hoje seu estudo se mostra essencial para a criação de cidades saudáveis e seguras. As frequentes intervenções principalmente em grandes cidades demonstram a importância de se voltar a visão para as relações homem-espaço no tempo contínuo e juntamente com isso evitar uma série de problemas geradas e desenvolvidas conforme o crescimento das cidades. Embora os estudos na sua maioria tratem dos grandes centros urbanos, as problemáticas tratadas já são visíveis em menor complexidade em cidades médias e pequenas. Fato este foi um dos incentrivos a adotar a cidade de Regente Feijó como palco de análises. Este pequeno núcleo urbano localizado no interior do estado de São Paulo cuja origem remete à chegada da ferrovia, fato este proporciona atualmente uma série de elementos marcantes ligados à origem da cidade, à memória e identidade local que se fazem presentes no contexto urbano e na paisagem que ainda consegue competir com a ânsia do “progresso” tão almejado pelas administrações políticas. Nesse contexto, facilmente o patrimônio físico das
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cidades
são
colocados
em
xeque
pelas
políticas
municipais desprovidas de conhecimento técnico, ou que simplesmente se negligencia em reconhecer a representatividade física e simbólica de alguns elementos; ou por hora conduzem suas ações em prol de benefício políticos ou entrega a cidade a na mão de interesses do capital, transformando o espaço urbano em simples mercadoria como um produto descartável. Dentro desta perspectiva que Regente se insere, na qual uma série de atitudes administrativas ao longo das últimas décadas contribuem para que aos poucos a história e o patrimônio dessem lugar à insegurança e ao afastamento do centro urbano. Este trabalho se alimenta das ameaças e busca formas de intervir na qual possa, exaltar a vida urbana, assim como respeitar o local inserido, sua história e todas suas configurações físicas e simbólicas, contribuindo não só para a qualificação de um espaço, mas na geração de um sentimento de pertencimento. Assim, inicia-se aqui um diálogo, tomando como base um espaço de uma cidade interiorana, parte-se na busca de “como transformar um espaço num lugar”, ou seja, de encontrar alternativas que correspondam não só a uma realidade física, metafórica, mas de compreensão da
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vida urbana, suas manifestações e mutabilidade, o qual questionam diariamente a estrutura física e suportes necessários para sua realização, que por vezes conduzem a intervenções desconexas das reais necessidades. Para encontrar as respostas que conduzam a uma proposição como artifício de resolução das problemáticas, o trabalho divide-se em três grandes partes, sendo as duas primeiras definidas em recortes do tempo - passado e presente momento - encaradas como dissolução das relações socioculturais-espaciais presentes Inicialmente,
através
da
consulta
de
materiais
bibliográficos, pauta-se na conceituação de definições quanto ao entendimento de espaços, públicos e urbanos e lugares. Em seguida aproxima-se da área de estudo através da análise da cidade no seu contexto histórico, seu desenvolvimento e relações socioculturais espacializadas que se deram ao longo da sua história. A etapa seguinte consiste em identificar as estruturas, relações
físicas,
morfológicas,
sociais
e
culturais
desenvolvidas no espaço urbano da cidade, dirigida através da redução do recorte da malha urbana até área de intervenção.
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O entendimento das relações espacializadas analisado em ambos recortes temporais, conduz a reflexões quanto ao espaço público e seus modos de intervir, assim como levantamento referencial visando a proposição de uma intervenção. O último ato do trabalho, consiste na conversão de todas as discussões em um desenho, no qual materialize e dialogue com os atores sociais existentes, não só na área de intervenção, mas de seus arredores, compreendendo suas necessidades para proposição de um artefato que qualifique as manifestações expressas pela vida urbana. No que se refere à levantamento bibliográfico, esta pesquisa fez uso de livros, trabalhos acadêmicos e páginas da web no estabelecimento de conceituações. A tomada do tema intrinsecamente ligado a uma área de uma pequena cidade no qual há carência de autores e pesquisas, utiliza-se, além das poucas bases conceituadas, uma análise fenomenológica dadas pelas apreensões empíricas do espaço-tempo vivenciado pelo autor, assim como constatações via diálogo informalizados quanto às relações culturais desenvolvidas no passado, constituindo a “memória coletiva local”.
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espaço-tempo ato I espaços públicos: uma reflexão
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debates iniciais
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entre espaços urbano, público e lugares
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uma cidade pequena no centro das discussões
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um centro, seus espaços e a vida
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uma ferrovia no tempo contínuo
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um lugar a se perder na memória?
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espaços públicos: uma reflexão
Espaço público é um termo no qual constantemente nos deparamos no cotidiano. Seu conceito é relativamente recente, tratado a partir do século XVII, porém, as discussões podem se tornar amplas e dar direcionamentos errôneas que dificultam a conceituação e o sentido adequado ao entendimento do trabalho. Mas afinal, o que é público? Discutido dentro de uma gama de áreas que perpassam pela sociologia, geografia, filosofia, a questão do que é público alavancaria diversas discussões dicotômicas, ainda mais se englobarmos o conceito de privado. Numa aproximação urbanística e arquitetônica, nosso entendimento de público e privado liga-se sempre ao espaço. Num primeiro momento e dentro do senso comum, há uma tendência de relacionar o espaço público como espaço coletivo e o espaço privado a uma propriedade particular. Hertzberger (1999) diz que, público, num sentido mais absoluto, é uma área acessível a todos a qualquer momento, diferentemente do privado no qual o acesso a uma área é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa que tem a responsabilidade de mantê-la. No entanto, espaço público vai além de apenas um espaço da coletividade. Ao falar sobre o conceito, Souza (2008,
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debates iniciais
p.14) resume como “aquele tipo de espaço que se constrói pela diferença entre os membros de uma sociedade, projetando a partir de então relações que envolvem a igualdade de direitos, através de leis e normas de conduta”. O autor faz uma reflexão primeiramente na questão da cidadania, ao destacar os termos “diferença” e “igualdade”, exalta uma qualidade intrínseca desses espaços, ou seja, a capacidade de reunir diferentes pessoas e coloca-las em uma condição de igualdade perante aquele lugar e a cidade. Gomes (2002, p.162) ainda classifica esses espaços como “lócus da lei [...] é o lugar das indiferenças, ou seja, onde as afinidades sociais, os jogos de prestígio, as diferenças, quaisquer que sejam, devem se submeter às regras de civilidade”. Ainda para o autor (apud SILVA, 2006, p.29) “fisicamente, o espaço público é, antes de tudo, o lugar, praça, rua, shopping, praia, qualquer tipo de espaço, onde não haja obstáculos à possibilidade de acesso e participação de qualquer tipo de pessoa. ” Concomitante a essa discussão, cabe fazer um resgate histórico de como esses lugares evoluíram até os dias atuais. As praças são frequentemente relacionadas aquilo compreendido como espaço público, fazendo de tal um símbolo, embora as tipologias não se limitem em tal, o entendimento de sua história, transformações e usos
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nos dão base para a melhor compreensão desse termo. Caldeiras (apud SANTOS 2006 p.25) demonstra “três momentos distintos de transformação social” pela qual as praças passaram, sendo: a praça como espaço político (Grécia antiga); de comércio (idade moderna) e espaço de lazer (mundo contemporâneo). No passado greco-romano, ruas atendiam a função de comércio e circulação, mas um espaço se destacava como ponto de encontro: as ágoras - ou fóruns durante o Império Romano (LAMAS, 2010). Nesses espaços, além de todas as trocas provenientes do encontro social, era palco também de atividades de entretenimento, assembleias e festividades (SILVA, 2006). Além do espaço de confluência e encontro no qual os cidadãos se deleitavam socialmente, também teve sua importância política visto que: A ágora - praça exclusiva para pedestres, área urbana criada na cidade grega - que despertou no indivíduo (cidadão) a ideia de liberdade, da equidade e da fraternidade. O exercício coletivo destes valores éticos, conquistados no meio urbano, deu origem à democracia CASÉ, 2000, p.92 01_ Espaço aberto moldado pela morfologia urbana observado em Roma/Itália. Guerreiro, 2008
Já ao longo da Idade Média, os espaços públicos abertos foram um privilégio perante a morfologia das cidades, no entanto, ocupando formatos irregulares em meio a ela, as
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praças mantinham as funções comerciais e de encontro (LAMAS, 2010). Durante o Renascimento, os espaços públicos começaram a sofrer - de forma mais acentuada - a intervenção provocada pela influência de classes, no caso, as mais abastadas. Nesse momento, houve um discernimento da relação político-social, ou seja, de como as relações na sociedade podem exaltar a figura pública de uma pessoa, assim, elites políticas aliadas a burguesia passaram a usar dos espaços públicos para demonstrar poder e status. Estes espaços então ganham novos valores além dos funcionais e sociais, agregando valor político, simbólico e artístico (SILVA, 2006). Foi este também o momento no qual as ruas ganharam papel estético e as praças se tornaram o local de instalação de monumentos e dos principais edifícios públicos (LAMAS, 2010). Nos séculos seguintes, novamente atitudes políticas atingiram os espaços públicos, os discursos higienistas provocaram a expulsão do comércio informal das ruas, tornando-as um mero local de passagem (CALDEIRA apud SANTOS, 2006, p.26). A Revolução Industrial que acometeu uma série de problemas nas cidades europeias também inferiu no uso dos espaços públicos, a exploração e alienação do trabalho de homens, mulheres e crianças esgotou o tempo para atividades
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sociais. Diante das problemáticas enfrentadas aliadas às questões higienistas, outras categorias de espaços verdes como parques e jardins foram implantadas, considerados como “pulmões”, criando uma imagem de salubridade às cidades (SILVA, 2009). Ao passo que os parques, praças e boulevards garantiam o embelezamento, observou-se também apropriações inéditas, inicialmente pelas elites, porém, posteriormente com a conquista de alguns direitos trabalhistas e a redução de jornada de trabalho, estes espaços passaram a ser procurados pelas classes operárias e suas famílias em seus tempos livres, promovendo uma popularização das apropriações dos espaços públicos, o que aumentou a demanda por tais espaços sendo reivindicados aos poderes municipais (MENDONÇA, 2007). Tais intervenções na medida que tentou reverter, ou ao menos minimizar o impacto que o processo de industrialização impregnou sobre as cidades (MENDONÇA, 2007), ao mesmo tempo o advento industrial influenciou tanto a sociedade que os pensadores urbanos modernos entenderam a cidade como máquina dividida em funções, segregando trabalhar, habitar, recrear e circular, aliado ao racionalismo que reflorescera no século XX, ignorou-se os contextos no qual se inseriam, assim como os aspectos físicos, ambientais, sociais e culturais locais (DEL RIO,
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1990). O modernismo abrigou um antagonismo entre discurso e sua materialização, ao passo que a cidade contava com imensos espaços livres contínuos abaixo de edifícios elevados do solo, porém, não havendo convivência em tais espaços. O que houvera, no entanto, a partir desse momento é a transição da modernidade e sua estabilidade para uma cultura mais dinâmica, com esferas sociais e econômicas diferenciadas das vividas anteriormente, o que mudou a maneira de pensar e usar o urbano e a arquitetura. (FonteS, 2012) É a partir desse momento que autores de outras áreas de estudos se voltam aos espaços públicos averiguando as redes de sociabilidade e política que acometem os espaços, sendo uma das principais linhas a sociologia urbana. Em uma das primeiras obras sobre o tema, Georg Simmel em 1905, ainda que não usasse o termo “espaço público”, começa a abordar o dualismo existente entre público e privado no qual distingue ruas, praças e parques de shopping centers e condomínios assim como os caminhos que conduzem a morte dos espaços. (SILVA, 2006) O sociólogo Richard Sennett é um dos que tratam do tema, em sua obra O Declínio do Homem Público (1998),
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onde, como o próprio título diz, investiga as redes de sociabilidade ao longo da história e sua decadência. Silva (2006, p.30) ao comentar Sennett afirma que “à proporção que o tempo passa, a sociedade vai redefinindo o sentido da expressão público. O que antes era considerado ‘bem comum’ passa a se caracterizar como local distante ou diferenciado do familiar”. O contexto ao qual Sennett se remete pode ser melhor compreendido na indagação de Leite na qual diz que a: ausência de uma cultura pública que obscurecia os limites entre o público e o privado. [...] como falar de um colapso de uma sociabilidade pública quando o que havia de vida pública estava ainda fortemente marcado pela mentalidade generalizada de posse privada da vida pública? LEITE, 2004, p. 137-138
Silva (2006) também identifica esse momento que começa a se moldar a partir do século XX, no qual se verifica um desequilíbrio entre o público e privado, o que inferiria no uso dos espaços públicos, levando as pessoas ao individualismo e confinamento. São essas perspectivas que levam Sennett identificar situações intituladas como “espaços públicos mortos”, nas quais o espaço para se “estar” e interagir é substituído como mero local de passagem.
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O autor usa o primeiro arranha-céu de Nova York para exemplificar, o qual no seu térreo propôs uma praça em miniatura, que não atende a função de mesclar e diversificar em decorrência de se tornar um local de circulação. Para Fontes, (2012) o momento era reflexo da vida contemporânea na qual acometeu à sociedade a ideia de rápido e efêmero, dispensado a possibilidade de criação de memórias e convívio. A sociedade se cercou por uma cultura de individualismo que não só os distanciaria dos espaços públicos, como também contribuía com o isolamento da cidade. Dentro deste cenário, Davis (1993) afirma que ocorre uma mudança de paradigma pelo qual a cidade se molda aos interesses da classe média, que no caso, se utiliza da retórica da segurança, assim, gerando “pseudo-espaços públicos” como shoppings, centros de escritórios e acrópoles culturais a serviço das classes mais abastadas (DAVIS apud ANDRADE, 2015). Ainda se utilizando do pretexto de insegurança, Caldeira afirma que: diferentes grupos sociais, especialmente das classes mais altas, têm usado o medo da violência e do crime para justificar tanto novas tecnologias de exclusão social quanto sua retirada dos bairros tradicionais dessas cidades CALDEIRA, 2000, p.9
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Essas classes foram responsáveis por um novo tipo de apropriação segregacionista e privada da cidade, migrando para periferias em condomínios fechados e murados chamado por Caldeira (2003) de enclaves fortificados, cada qual contava com seus próprios espaços “públicos”, excludentes aos grupos sociais de padrão financeiro mais baixo. Em concordância com isso, Souza (2008) afirma que a cidade passa a representar novas relações de sociabilidade no espaço urbano. A experiência do coletivo, antes exclusiva dos espaços públicos, passam a ser exercidas em outros espaços, principalmente pelas classes mais abastadas, condicionada pela negação das formas tradicionais de convívio social em prol do isolamento e criação de círculos sociais entre seus pares. Isso demonstra que nem sempre o coletivo é público. Caberia aqui alargar a discussão no âmbito sociológico, porém, não vem a ser o foco desse trabalho, sendo a principal questão a ser abordada, a mutabilidade do termo e do espaço. Souza (2008, p.17) apresenta ainda uma diferenciação entre
espaço
público
e
outros
espaços
coletivos,
subdividindo em espaço privado familiar (propriedade privada), espaço público estatal (parques, praças e ruas), espaço condominial (espaço comum de condomínios
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fechados) e espaço público-privado (shopping center). Outro conceito apresentado pelo autor é o de espaços públicos fortes e espaços públicos fracos, citado por Castro (apud SOUZA, 2008, p.17), sendo o primeiro construído a partir de uma sociedade de diferentes no qual o exercício da convivência é preservado, já o segundo, se ocupa apenas da publicitação dos espaços, servindo apenas para ser visto. Ainda vale ressaltar o caráter de mediador entre estado e sociedade civil desses espaços, palco de manifestações e expressões políticas, culturais e outras diversas categorias presentes numa sociedade democrática. Dentro dessa tendência da sociedade atual na qual as pessoas se tornam cada vez mais individualistas e submetidas a uma temporalidade fundada no provisório e no efêmero que se faz necessário pensar os “espaços como um meio de relações sociais, oportunizando as vivências de lazer, em que os lugares destinados a essas experiências possam refletir uma visão crítica do cotidiano urbano.” (SILVA et al, 2012, p.3)
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entre espaços urbano, público e lugares
Como já pontuado, os espaços públicos possuem classificações tipológicas que diferem. O presente estudo pretende tratar esses espaços enquanto “espaços públicos estatais”, como categorizado por Souza (2008), englobam, a grosso modo, ruas, praças e parques. Indagando-se perante isso, embora as cidades possuam diversas outras tipologias de espaços estatais, exerceriam esses espaços a qualidade de um “espaço público”? Essa seção tem como objetivo investigar quais são esses espaços e criar uma aproximação com a tipologia a ser tratada ao longo do trabalho. Num conceito mais amplo, as ruas, os parques e praças fazem parte de uma rede de espaços livres que constituem ”[...] um conjunto de elementos, sistemas e funções entrelaçados” (Llardent, 1982, p. 50) transpassando pela cidade. A evolução dos espaços livres são um dos principais sistemas que formarão o que Loboda (2005) chama de organismo urbano. A rede constituída pelo conjunto desses espaços pode ser percebida pela dicotomia formada entre cheios e vazios. Isso vai configurar os chamados interstícios urbanos. O termo que nasceu em alusão ao corpo humano, em biologia refere-se “à pequena área, orifício ou espaço existente na estrutura de um órgão ou tecido orgânico. É o espaço intercalar entre as células, moléculas, órgãos,
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etc. A noção estende-se a várias escalas” (GUERREIRO, 2008, p.2). Nas cidades, os interstícios designam os espaços não edificado resultante da disposição dos edifícios, que, ainda podem definir espaços negativos ou positivos, sendo o primeiro quando os edifícios estão colocados de tal modo que o espaço resultante é apenas residual, já o segundo, define se uma forma distinta e coerente tão importante como as formas dos edifícios que o rodeiam. (GUERREIRO, 2008). Numa visão acerca dos vazios e da materialidade das cidades, Pontes descreve o caráter público dos vazios e a possibilidade de contribuição para vitalidade urbana: A cidade não é apenas a materialidade construída, o vazio é o que possibilita a vitalidade urbana, o circular, o elemento de fluxo e reunião, o espaço das relações humanas, enfim, o vazio é o espaço público por excelência, o espaço público como materialidade [...] A materialidade do espaço público se dá com a sociabilidade, através da oportunidade do acaso, do inesperado, dos cruzamentos dos encontros capazes de justificar a dinâmica das cidades e a sua preservação vivida. PONTES, 2006, p.9
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Para
identificar
esses
vazios
enquanto
interstícios,
partimos de uma visão quanto aos elementos morfológicos das cidades, na qual se destacam, em sua essência pela rua, praça ao parque. Temos em Lamas (1993) uma das melhores bases para o entendimento desses elementos. O autor (1993, p. 98) entende a rua como estruturadora do traçado, sendo um dos “elementos mais claramente identificáveis tanto na forma de uma cidade como no gesto de a projetar”, além de apresentar uma importância vital na orientação, atuando como definidor do plano, organização da forma urbana e suporte geográfico no qual regula a disposição dos edifícios e quarteirões, liga os vários espaços e partes da cidade. Afonso (1999) ainda exalta sua qualidade pela comunicação que estabelece entre espaços, através de vias com diferentes hierarquias, caracterizando o sistema de espaços livres públicos por excelência. Quanto as praças, diferentemente da rua vista como lugar de circulação, a praça nasce da vontade cujo desenho e forma a torne um “lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas” (LAMAS, 1993, p.102).
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Lamas identifica na rua e na praça na cidade tradicional uma “estreita relação do vazio (espaço de permanência) com os edifícios, os seus planos marginais e as fachadas. Estas definem os limites da praça e caracterizam-na, organizando o cenário urbano” (LAMAS, 1993, p.102). Já o entendimento de parque para o autor parte da ideia de estruturas verdes, na qual constituem elementos identificáveis na estrutura urbana. Já em outros autores, podemos encontrar classificações que transcendem uma mera classificação de área verde. Richter subdivide em três categorias na qual aborda a escala: •
Parques de vizinhança: se assemelham a praças e playgrounds, apresentam função recreacional, podendo abrigar alguns tipos de equipamentos;
•
Parques de bairro: são áreas ligadas à recreação, com equipamentos recreacionais, esportivos dentre outros, que requerem maiores espaços do que os parques de vizinhança;
•
Parques setoriais ou distritais: Áreas ligadas à recreação com equipamentos que permitam que tal atividade se desenvolva; RICHTER apud LOBODA, 2005, p.132
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Já Carneiro e Mesquita definem como: [...] espaços livres públicos com função predominante de recreação, ocupando na malha urbana uma área em grau de equivalência superior à da quadra típica urbana, em geral apresentando componentes da paisagem natural – vegetação, topografia, elemento aquático – como também edificações destinadas a atividades recreativas, culturais e/ou administrativas. CARNEIRO e MESQUITA apud MENDONÇA, 2007, p.300
Macedo e Sakata apresentam a questão da morfologia desses espaços, ao dizer que não são influenciados pelo entorno, fazem uma diferenciação com as praças já que por serem numa menor área, pode ser moldada pelo tecido urbano: Todo tipo de espaço público destinado a recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é autossuficiente, isto é, não é diretamente influenciada por nenhuma estrutura construída no seu entorno. MACEDO e SAKATA, 2002, p.14
Souza (2008, p.20-21) faz uma consideração quanto as redes de sociabilidade geradas, assim, “ao falarmos de parques, podemos dizer que todos os requisitos do que é
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espaço público são respeitados. Afinal os parques urbanos são espaços onde a sociabilidade pública existe”. Apesar das divergências conceituais, esses espaços, assim como outros, são constituintes de uma rede de espaços livres urbanos, cujo seu vazio contrasta com a malha criando diversos pontos possíveis de relacionamento urbano. Os pontos são, conforme Pontes: capazes de corrigir a ruptura do tecido urbano. Essa recuperação se dá através do dinamismo das trocas e das permanências que dos fluxos contínuos permitem, recuperando deste modo o tecido e evitando assim espaços desertificados, sem a presença humana, que consequentemente produzem a desmaterialização da cidade. PONTES, 2006, p.20
O entendimento que temos de espaços livres urbanos, no entanto, assemelha-se a de Daniel: Esses espaços compreendem a totalidade das vias, ruas e vielas, bulevares e avenidas, largos e praças, passeios e esplanadas, cais e pontes e também rios e canais, margens e praias. Neles podemos encontrar as mais significativas manifestações da vida urbana, a síntese dos acontecimentos e as características de uma época. DANIEL, 2013, p.37
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Mas afinal o que difere um simples espaço livre urbano de um espaço público propriamente dito? Para responder essa questão é antes necessário ter uma compreensão dos limites e diferenças entre espaço urbano e um espaço público. Os termos espaço e sociabilidade pública, respectivamente, podem ser usado a princípio para o entendimento do conceito, ou seja, enquanto o primeiro tem como essência o espaço, o segundo agrega valores de socialização. Assim sendo, “uma noção de espaço público que não inclua as práticas interativas entre os agentes envolvidos na construção social do seu espaço, seria apenas uma noção que se estaria referindo a um espaço urbano. ” (LEITE, 2002, p.287). É dessa intercessão entre espaço (espaço urbano) e esfera pública (ações interativas) que o espaço público vai formar. No entanto, a qualidade de um espaço público está condicionada a características muito particulares que vão transcender uma simples configuração espacial da cidade e se transformarem em lugares. Numa abordagem etimológica, espaço (do latim spatium), se refere a “distância entre dois pontos, ou a área ou o volume entre limites determinados” (FERREIRA apud REIS-ALVES, 2007, s/p), já o lugar (do latim localis, de locus) se define como “espaço ocupado, localidade, cargo, posição” (CUNHA apud REIS-ALVES, 2007, s/p).
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O lugar nasce a partir de demarcações, sejam elas físicas ou simbólicas nos espaços cujos devem ser qualificados pelos usos. As relações sociais ali desenvolvidas, esteja ela contida no passado comum ou inconsciente das pessoas, agregam ao lugar sentido de pertencimento. O lugar ainda estabelece uma relação entre local e tradição, está no caso cria um nexo de continuidade temporal ao qual relaciona passado, presente e futuro. (LEITE, 2002) assim, diferem dos simples espaços por se configurar a partir da interseção entre “uma configuração espacial ‘qualificada’ simbolicamente e de ações que lhe atribuem sentidos. ” (LEITE, 2002, p.287). Nesse sentido, Castells (apud SILVA et al, 2012, p.11) pondera que o “lugar é definido como identitário na vida humana, pois, a partir da identidade do espaço, são construídas características culturais”. A partir da existência identitária e relacional presente no espaço, aquele faz-se um lugar histórico (AUGÉ, 1994). Por outro lado, o autor identifica os não-lugares que vem se proliferando pelas cidades, sendo constituídos por: espaço de circulação, de passagem, de consumir ou utilizar, experimentada de forma particular e solitária. Em contrapartida, os lugares são caracterizados como mecanismo identitário, relacional, histórico e incentivador de relação interpessoal e afetiva. AUGÉ apud SILVA et al, 2012, p.4
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Para o autor ainda, os não-lugares seriam uma espécie de qualidade negativa do lugar, de uma ausência do lugar em si mesmo. No entanto, da mesma forma que o espaço público é mais do que uma simples propriedade pública, deve se diferenciar os lugares de meros pontos de significação no espaço urbano. Lugares são espaços de convergências simbólicas, que resultam de experiências compartilhadas mediante alguma possibilidade de entendimento sobre o que significa um certo espaço e sobre o que representam certos conteúdos culturais partilhados. LEITE, 2002, p.287-288
Para Tuan, “O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado” (1983, p.151), ou seja, “Quando o espaço nos é inteiramente familiar, tornase lugar” (1983, p.83). Para o autor ainda o lugar seria o tempo tornado visível, isto é, o lugar como lembrança de tempos passados, pertencente à memória. Reis-Alves (2007, s/p) considera a existência de três atributos,
que
somente
quando
inter-relacionados
constituem um lugar: atributos espaciais, ambientais e humanos, sendo o último fundamental para a distinção
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com espaço, ou seja, “sem os atributos humanos, o espaço não é um lugar, mas apenas um local onde todos os atributos espaciais e os ambientais agem, porém sem a interação humana, sem os valores humanos.”. Entre os atributos ambientais e humanos deve se considerar também o elemento tempo este que exerce influência seja pela variação da luz, a percepção cinestésica dada pela relação com o espaço, a variação climática, etc. Rechia ainda salienta: a importância dos espaços públicos como lugares que possibilitam uma relação social entre os indivíduos, além da atratividade que esses espaços apresentam, visto que, a inexistência de uma determinada forma de uso permite aos sujeitos utilizarem o espaço da melhor maneira possível. RECHIA apud SILVA et al, 2012, p.4
Dessa maneira, o espaço público demonstra uma relação intima com sua localidade, história e contexto, assim, ao tratar de uma área especifica, se faz necessário focar a visão no cenário no qual se insere. A partir do embasamento, o entendimento de espaço público neste trabalho se dá pelo espaço urbano permeável e fluído, sem demarcações rígidas, encontrando se livre e aberto ao coletivo e às diferenças, seja de idade, de classe
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social, de etnia, de religião ou sexualidade, fazendo de si um espaço de igualdade a todos da sociedade, sendo ocupado nas diversas manifestações da vida urbana como circulação, lazer, socialização, apresentações, rituais, comércios itinerantes, nunca se reservando exclusivamente a uma funcionalidade. Nos
próximos
capítulos,
deixaremos
as
discussões
do âmbito geral e aproximaremos à área de estudo, averiguando suas particularidades e relações com as discussões apresentadas e na identificação dos espaços públicos enquanto lugares que podem abrigar vida urbana.
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uma cidade pequena no centro das discussões
Este
capítulo
aborda
temas
de
interesse
para
o
desenvolvimento do trabalho, os quais se traz uma visão voltada as pequenas cidades, ondes as relações sociais, culturais e posturas políticas se diferem muitas vezes daquilo que ocorre numa cidade grande consolidada, embora muitos erros venham se repetir em cidades ascendentes, mesmo com os exemplos e referências do passado. As pesquisas no âmbito das cidades médias e pequenas são relativamente recentes, iniciado apenas na década de 1990 fruto do desejo de ir além das fronteiras metropolitanas. Ainda assim, os estudos englobam mais as cidades médias, sendo o termo “cidades pequenas” ainda uma noção em construção. (SOARES e MELO, 2010) Fresca (apud BOVO e OLIVEIRA, 2014, p.106) reitera que a classificação de uma cidade como pequena usa se palavra “pequena” como adjetivo, “que remete à noção de tamanho, dimensão e, no caso das cidades, a uma associação entre pequeno número de habitantes com pequena área - no sentido mensurável - ocupada por uma cidade”. Uma classificação usual de cidades pequenas são aquelas com menos de 20 mil habitantes. Embora estas possuam apenas 15,8% da população, nessa classificação, as
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pequenas cidades concentram 68,4% das 5.570 cidades no Brasil (GOMES, 2016). No entanto, o IBGE considera pequenas as cidades com menos de 100 mil habitantes, nessa perspectiva, englobariam 5.260 cidades, isto é, quase 95% de todas as cidades do país1. Independentemente do número, observamos a quantidade de núcleos urbanos que não devem ser negligenciadas, encorajando assim estudos voltadas a eles. Embora a definição muitas vezes dada a partir dos números populacionais, a classificação de uma pequena cidade “depende do contexto regional em que ela está inserida, e do grau de acessibilidade e centralidade que esta possui. Ao mesmo tempo, são as relações presente na localidade que vão definir a verdadeira realidade dessas cidades” (BOVO e OLIVEIRA, 2014, p.107). Para Santos (1982, p.71), as pequenas cidades constituem uma “aglomeração capaz de responder às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas de toda uma população, função esta que implica uma vida de relações”, tendo seu crescimento condicionado a economia local, ou seja, estas cidades não estão isoladas entre si, fazem parte de um contexto econômico, social e cultural regional que engloba diversas outras. 1 Disponível em: https://ww2.ibge. gov.br/home/estatistica/populacao/ estimativa2017/default.shtm
Regente Feijó, cidade cenário das análises desse trabalho,
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enquadra na categoria de pequena, tendo sua população beirando 20 mil habitantes (19.985 habitantes estimados pelo IBGE para 2017), seus contextos regionais a fazem distanciar de uma cidade média, seja pelas relações com cidades vizinhas, importância regional, tamanho demográfico, e ademais condicionantes, até mesmo por sua localização ao lado de Presidente Prudente que atua como polo regional. O entendimento desse contexto ao qual a cidade se insere é fundamental para compreender a realidade histórica e de relações estabelecidas com cenários externos. A região do oeste paulista até o século XIX, chamado de sertão desconhecido, foi uma região predominada por matas e populações indígenas, havendo poucas fazendas e aglomerações urbanas. Francisco identifica duas fases da exploração do oeste do Estado de São Paulo: a primeira tem um caráter aventureiro, desbravador, e não colonizador, com o interesse na comercialização de terras. A segunda fase tem caráter mais colonizador do que desbravador, pois começa com a implantação da ferrovia e o interesse na formação de núcleos urbanos, no desenho dos loteamentos e na venda de terras FRANCISCO apud MELO, 2017, p.10
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As abundantes terras do interior do estado despertaram interesses econômicos, na qual se viu a possibilidade de expandir as fronteiras agrícolas e produção cafeeira, sendo este um dos principais contribuintes à economia brasileira na época, assim como precioso bem de exportação. Foi então que a ferrovia, até então presente em núcleos urbanos povoados, ganhou um papel de destaque ao formar uma rede na qual permitia a chegada de colonizadores e fazendeiros ao interior, assim como garantir a escoagem da produção até o litoral. Melo (2017, p.9) demonstra a contribuição desse fator na urbanização do interior do estado na qual uma rede de novas cidades “surgem na frente pioneira do café, a partir da implantação da linha férrea como importante instrumento de penetração, diversos núcleos urbanos com semelhanças em seu desenho e formação”. O tronco ferroviário responsável por adentrar a região do sudoeste paulista foi da companhia Estrada de Ferro Sorocabana. Diferentemente de outras estradas, a Sorocabana seguia os espigões ao invés das margens dos rios (GHIRARDELLO, 2002), outra característica da EFS foi o surgimento dos núcleos urbanos junto com a ferrovia, enquanto no noroeste do estado, por exemplo, o núcleo precede o pioneirismo da ferrovia (MELO, 2017). Nesse contexto surgiu a cidade de Regente
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presidente epitรกcio
caiuรก presidente venceslau piquerobi
santo anastรกcio presidente bernardes
รกlvares machado
presidente prudente
martinópolis
indiana
rancharia joão ramalho
quatá
regente feijó
paraguaçu paulista
02_ Situação de Regente Feijó no trecho da ferrovia Alta Sorocabana. Autor sobre Google Earth
assis
Feijó, assim como suas cidades vizinhas Rancharia, Martinópolis, Indiana, Presidente Prudente, Álvares Machado e Presidente Bernardes. Embora o trem alcançasse a região apenas em 1919, a exploração da área já acontecia desde 1906 a cargo da Companhia Viação São Paulo-Mato Grosso, chefiada pelo Coronel Diederichsen, a companhia foi responsável pela abertura da estrada boiadeira, rota que procurou minimizar as distancias entre o polo produtor de carne no Mato Grosso do Sul com as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro (MOREIRA e RUIVO, s/d). Quando EFS alcançou onde hoje se encontra a cidade de Regente Feijó, o que existia era uma pousada de peões e algumas fazendas até então chamado de memória, porém, em 1922, o coronel Francisco Whitacker diretor da CVSPMG juntamente com os fazendeiros Antônio e Augusto Vieira e Joaquim Lúcio, fundaram um núcleo urbano junto a estação ferroviária. (EMUBRA, 2003) Atualmente, um século após a ocupação da região, vemos uma rede de cidades que cultivam um elo dado pela herança ferroviária e origem agrícola. Dentre as cidades citadas, Presidente Prudente alcançou maior desenvolvimento físico, urbano e populacional, encontrando-se hoje como a maior cidade da Alta
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Sorocabana e capital da 10° Região Administrativa do Estado de São Paulo. Seus mais de 200 mil habitantes servem como parâmetro da identificação da cidade como um polo regional, cuja atratividade abrange diversos municípios da região que não passam de 50 mil habitantes, entre eles, Regente Feijó. Mesmo num contexto de heranças comuns, cada cidade apresenta particularidades inseridas num contexto próprio que devem ser examinadas individualmente. Nas próximas seções desdobraremos alguns assuntos que, or vezes particulares à área de estudo em Regente Feijó,
também
são
comuns
em
diversas
cidades
brasileiras surgidas no início do XX, principalmente do interior paulista, que são: os centros iniciais, as praças centrais como palco da vida pública, a ferrovia e sua influência nos espaços da cidade e por fim uma reflexão quanto aos fatores que ameaçam a vida nesses locais com caráter históricos nas cidades.
um centro, seus espaços e a vida
Lefebvre (1999, p. 93) em uma emblemática reflexão diz que “Não existe cidade, nem realidade urbana sem um centro”. Os centros sempre foram lugar de encontro, representam um grande simbolismo e importância na sociedade, fazendo-se local de trocas, comércio e de circulação, sendo seus espaços públicos o palco para esses encontros e reuniões de pessoas, lugar onde
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eventos importantes foram encenados e onde trocavam informações sobre a cidade e a sociedade (GEHL e GEMZOE, 2002). Para Castells: “Centro é o espaço que permite, além das características de sua ocupação, uma coordenação das atividades urbanas, uma identificação simbólica e ordenada destas atividades e, daí a criação das condições necessárias à comunicação entre os atores”. CASTELLS, 2009, p. 311.
De modo geral, os locais considerados centros de uma cidade são na maioria das vezes aqueles no qual englobam atividades de comércio e serviços (BOVO e OLIVEIRA, 2014). Alguns elementos como a convergência dos meios de transporte, a predominância de edifícios antigos e a localização de algumas áreas importantes do ponto de vista funcional, como as estações ferroviárias, ou do ponto de vista simbólico (praças), ajudam a afirmar o caráter de centro e identificá-los (PARENAI, 2006). Acrescentando a esse pensamento, Spósito ainda afirma que:
03_ Rua José Bonifácio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil.
O centro não está necessariamente no centro geográfico, e nem sempre ocupa o sítio histórico onde esta cidade se originou, ele é antes de tudo o ponto de convergência/divergência, é o nó do sistema de circulação, é o lugar para onde
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todos se dirigem para algumas atividades e, o ponto de onde todos se deslocam para a interação destas atividades aí localizadas com as outras que se realizam no interior da cidade ou fora dela. SPÓSITO, 1991, p.6.
Bovo e Oliveira (2014) relaciona o desenvolvimento das áreas centrais ao atendimento das demandas espaciais do capital expressas pela vantagem a qual essas áreas adquirem em relação a outros locais da cidade. Utilizando de Corrêa (1999), o autor diferencia processo e forma espacial de centro identificados como centralização e área central, respectivamente, sendo o primeiro gerador de atividades e, a segunda, suas materializações. Ainda para Corrêa: Desta forma, Área Central como decorrente forma espacial do processo de centralização, surge como produto do capitalismo. Foi a partir da revolução industrial que as ligações entre a cidade e o mundo exterior foram otimizadas e intensificadas, sobretudo após a segunda metade do século XIX, quando o sistema ferroviário tornou-se o mais eficiente meio de transporte inter-regional [...] Assim, em razão de sua enorme inflexibilidade, esses meios exerceram um papel centralizador, na medida em que a proximidade ou a acessibilidade a esses locais, significando diminuição de custos. CORRÊA apud ALMEIDA, 2006, p.18
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Tal fato pode ser presenciado em Regente Feijó, assim como na demais cidades da Alta Sorocabana, onde o espaço identificado como centro estabelece uma relação próxima com as estações ferroviárias. No caso de Regente, a área entendida como centro ocupa as primeiras linhas de quadras, paralelas à estação e a linha férrea. Diferentemente de uma cidade de maior porte, a paisagem das cidades pequenas contraria a visão do senso comum de um centro com arranha-céus e edifícios verticais, mas sim se apresenta mantendo um gabarito de altura limitado, e com a forte presença de prédios antigos que remetem ao início da cidade. O local de convergência e fluxo criado pelos centros contribuem para a instalação dos primeiros equipamentos urbanos. Castells (2009) identifica o comércio, gestão administrativa, financeira e política como atividades fundamentais.
Ainda
trata
de
outra
condicionante
presente principalmente nas pequenas cidades que são as atividades religiosas, representadas, principalmente, pela igreja católica. Nessa perspectiva, Dizeró (2006, p.11) ainda afirma que “no Brasil, o centro de uma cidade comumente é associado à praça principal e à Igreja Católica, elemento referenciais urbanos da área central”.
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Frugoli (apud BENEDET, 2012, p.20), destaca que essas relações dadas a partir do mercado, da dimensão política, da vida pública juntamente com outras dimensões simbólicas e práticas fundamentais como as instituições religiosas, as apresentações artísticas, as relações de encontro e sociabilidade e o ócio “verificam-se, acentuamse, tornam-se visíveis em seus centros públicos que são espécies de corações da cidade, onde se intensificam seus pulsares”. Isso predispõe a fazer da área, além de centro comercial geralmente entendido, também centros políticos, culturais, religiosos. Nas cidades mais antigas e de grande porte estas relações vão se modificando, enquanto nas cidades mais jovens e de pequeno porte as relações ainda permanecem. (SILVA, 2006) De fato, em Regente tais relações são vistas, embora algumas vem se perdendo. A zona central como “centro religioso” está presente desde o início da cidade. Como abordado por Castells e Dizeró, Marx (1991) aponta a relação entre desenvolvimento inicial dos núcleos urbanos na região da Alta Sorocabana na qual no sistema tradicional de formação de cidades tinham como uma das bases a constituição inicial de um patrimônio religioso que se estabelecia como elemento central no desenho e na dinâmica da cidade. É possível perceber isso com a Igreja 04_ Vista da estação, centro e igreja matriz de Regente Feijó, 1929. Acervo de Wander Sidnei Gil
Matriz ocupando a cota mais alta da área central.
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A
comunidade
católica,
maioria
da
população,
contribuíram para a vitalidade urbana central por meio das manifestações religiosas tradicionais, embora aconteçam periodicamente, principalmente nos finais de semana e feriados. Além da igreja católica, hoje a área central conta com igrejas de diferentes ramificações protestantes. As atividades religiosas conduziram a uma tradição presenciada na cidade, mas que aos poucos vem se perdendo, se deve as atividades pós-cultos, na qual muitos dirigiam-se aos estabelecimentos comerciais (lanchonetes e sorveterias) ou a espaços de lazer próximos às igrejas. O principal ponto de encontro era próximo ao antigo Cine Eden localizado na avenida José Bonifácio, no seu auge, dos anos 50 a 70, jovens ocupavam as calçadas para conversar, além de ser um ponto de paquera. “Aquelas ocasiões propiciavam olhares, namoricos, noivados e resultaram em muitos casamentos”2. Além da calçada, era comum os espectadores do cinema se dirigirem aos bares existentes no centro para comer, beber e conversar, entre um dos que merecem destaque foi o “Buraco da Onça”, que se localizava na mesma rua do cine. O desinteresse por parte da população e novas formas 2 Comentário de morador local 05_ Desfile próximo igreja matriz, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
de entendimento que surgiam levaram o Cine a encerrar suas atividades. Por outro lado, um outro local ganhou destaque e se tornou o novo ponto de socialização: a praça
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Nove de Julho, mais conhecida como Fonte Luminosa, foi ocupada por jovens que migraram das calçadas do centro para as dependências da praça. O antigo “jardim”, embora inaugurado em 1933 ainda quando era distrito de Presidente Prudente, apenas décadas depois se tornou o principal palco de encontros e trocas sociais na cidade, principalmente no período da noite, conferindo ainda indiretamente vitalidade ao centro. A construção da Fonte ao centro da praça na década de 1960 foi um dos fatores que atribuiu atratividade ao novo público que veio ocupar o lugar. Esse fato nos demonstra num primeiro momento o papel público da rua, que como já mencionado, ora negligenciado na categorização de lugares públicos, mas de grande importância nos sistemas livres da cidade; e em outro, exalta o caráter público da praça como local e encontro e socialização. Benedet (2012, p.38) ainda demonstra que “a praça, juntamente com a rua, consiste em um dos mais importantes espaços públicos urbanos das cidades brasileiras, tendo desempenhado um papel fundamental no contexto das relações sociais em desenvolvimento”. O papel das praças urbanas no contexto central de uma cidade constitui um signo de referência onde se realizam os encontros. Sua forma arquitetônica e localização tornam-se referência para habitantes e visitantes graças à legibilidade 06_ Cine Eden, sem Acervo de Wander Sidnei Gil
data.
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e à história, fazendo de si um espaço que organiza o tecido urbano a partir de um centro. (VAZ, 2003) Nesse sentido, podemos observar em Regente Feijó quatro praças centrais que são marcos e interagem com o tecido urbano e a história: a já citada Praça Nove de Julho, Praça da Matriz, Praça dos Pioneiros e Praça Lourenço Pícolo. Pode se ainda estabelecer um elo com a herança histórica das praças no Brasil através da praça da Matriz, assim como os adros abertos junto das igrejas durante a colônia ao qual reunia os fiéis em dias de celebração, ou, num segundo momento, a construção de Jardins de contemplação (MARX, 1991; LAMAS, 2010), como inicialmente fora a praça Nove de Julho. Se por um lado as praças da matriz e da Fonte se relacionam com a tradição dos espaços abertos constituídos junto com a história do país, a Praça dos Pioneiros e a Praça Lourenço Picolo estabelecem um elo direto com a memória e a origem da cidade, ambas situadas no espaço da antiga esplanada da estação ferroviária. Os casos dessas duas praças representam uma síntese das discussões de espaços públicos, diferentemente da Praça da Fonte que se destaca 07_ Antigo jardim da praça Nove de Julho, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
como local de lazer e contemplação, a Praça dos Pioneiro, tendo seu nome em homenagem aos pioneiros fundadores da cidade, este espaço transcendeu o simbolismo e foi palco
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de diversas manifestações públicas, sejam elas políticas, culturais ou sociais. No início, promovia reuniões políticas e administrativas, eventos, e até rodeios ocorriam no local, a população se reunia na praça para tratar de questões acerca da cidade e ouvir propostas dos representantes da mesma. Dentre
as
quatro
centralidades
anterior
elencadas
(comercial, política, religiosa e cultural), o caráter do centro político no sentido administrativo é o mais ausente, atualmente a maioria dos edifícios administrativos se encontram segregados do centro e até mesmo da cidade, restando algumas secretarias, embora em décadas remotas tivesse a sede administrativa em um edifício junto com a câmara municipal, hoje sede da secretaria da cultura. Mas são os comércios e serviços que melhor caracterizam uma área central, sendo por vezes o principal fator da vivacidade da área, criando uma relação intima entre o exercer das atividades e a procura por parte das pessoas. Muitos dos estabelecimentos comerciais instalados se encontram nos antigos prédios que ainda conservam suas características históricas da arquitetura art deco, embora haja um gradual processo de demolição e 08_ Praça dos Pioneiros durante realização de rodeio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
descaracterização de edifícios, entre eles, a fachada do antigo cinema e a demolição do mercadão localizado junto à antiga rodoviária.
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Os
estabelecimentos
comerciais
sempre
foram
um
grande atrativo de uso do centro, porém, sempre restrito ao período de funcionamento durante o dia. Alguns estabelecimentos são memoráveis como contribuinte para o uso e ocupação dos espaços públicos centrais no período noturno, atuando também como impulsionadores de outros estabelecimentos. Além do já citado Cine Éden que atuou por quase 40 anos, numa aproximação mais recente e marcante na memória local, se tem a lanchonete Aquarius como ponto principal ponto de lazer por anos. O local que sucedeu o também popular bar Buraco da Onça, era atrativo principalmente para o público jovem nos finais de semana e feriado. O sucesso proporcionado por este ponto comercial fez com que demais estabelecimentos estendessem seu funcionamento no período noturno, e assim, criando um ciclo virtuoso para ocupação noturna central. No entanto, não viram da mesma forma os poucos moradores do 09_ Antigo edifício da prefeitura e posteriormente câmara municipal, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil 10_ Antigo estação rodoviária e lojas, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
centro, os quais se juntaram em “prol” da não ocupação das ruas e calçadas, consideradas distúrbios ao sossego dos residentes. Mesmo com a dispersão imposta, os centros demonstram através de seu caráter intrínseco de atratividade e polarização na qual molda a dinâmica social e de mercado. Nesse sentido, passa se a observar tipos de ocupações não
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formais, sendo um dos casos frequentemente presenciado são os comércios itinerantes, assim, no momento que tais atividades informais se ocupam dos espaços livres urbanos, traz consigo uma série de debates quanto as apropriações e territorialidades geradas. O entendimento de território aqui se constitui a partir de Raffestin (1993), o qual diz se formar a partir do espaço, sendo resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível, ao se apropriar de um espaço concreto ou abstratamente (por exemplo, pela representação) assim, ”territorializa” o espaço. No caso de Regente, um exemplo marcante são as ocupações de caráter gastronômico instaladas em praças, principalmente na área central, que utilizam dos espaços desta para desenvolver suas atividades e fazendo de tal seu território. As quatro praças presentes na área central da cidade contaram com algum tipo de comércio que estabeleceu bases concretas, alguns até mesmo com instalações de infraestrutura. A grande maioria das ocupações se faziam por lanchonetes de uso noturno que desempenhavam um importante papel na vivacidade urbana central, sendo um 11_ Edifícios comerciais localizados na rua José Bonifácio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
dos principais atrativos no período noturno, atuando como contraponto do esvaziamento da área no qual grande parte dos comércios fechavam após o horário comercial.
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O funcionamento dessa rede de comércios informais inseridas no espaço urbano, assim como o caso presenciado dos estabelecimentos anteriormente citados, refletem a visão de Hertzberger (1999) de que o comércio sempre foi a razão mais importante para as interações sociais, suas lojas, restaurantes e cafés colaboram para o fluxo e uso de visitantes, sendo assim um fator determinante da vida urbana, mesmo quanto a função principal do local estiver inativa. Após decreto da Administração da cidade que se pautou numa visão de “embelezamento” das praças, todas as instalações presentes tiveram seu funcionamento anulado e determinação para retirada. A consequência desse ato tomou duas vertentes distintas no que se refere a vida urbana. A primeira foi a dispersão das lanchonetes para diferentes partes da cidade, algumas em bairros afastados e outras formalizaram e se estabeleceram no próprio centro. Embora os estabelecimentos dispersos pela cidade nos trazem a ideia de criação de novos pontos de atratividade noturna espalhados, na realidade alguns fecharam as portas, e os que se mantiveram próximo ao centro estabeleceram um 12_ Praça dos Pioneiros e ocupações de lanchonetes, 2011. Google StreetView
monopólio pelo qual se viam sem a ampla concorrência antes inserida na área.
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A segunda e mais marcante consequência foi em relação ao uso de locais após a remoção, principalmente na Praça dos Pioneiros, como abordaremos mais profundamente adiante, sua vivacidade se esmaeceu ao ponto de gerar a sensação de insegurança em determinados momentos. O esvaziamento gerado a partir da retirada do elemento de atratividade reflete o que Pontes afirma no qual estes espaços: transformam-se praticamente em áreas residuais em busca de uma nova finalidade, um novo objetivo na cidade [...] Este “esquecimento” ou “desuso” que se traduz em áreas abandonadas, degradadas e perigosas, traduz-se também por ocupações irregulares não pré-estabelecidas, isto é, ocupações que surgem a partir de uma necessidade premente de sobrevivência da comunidade que, excluída do trabalho formal, encontram nesta descaso uma alternativa de vida. PONTES, 2006, p.26
O esvaziamento central no sentido da desmaterialização dos espaços públicos, ou seja, a disseminação de espaços desertificados sem a presença de pessoas ou que se constituem apenas como passagem, sem promover 13_ Praça dos Pioneiros atualmente usada durante o dia, 2017. Autor
permanências, se promovem com a negligencia política de tratar dos vazios. No cenário de Regente Feijó, se tem a esplanada da estação como um grande vazio junto ao centro, esta que, devido a sua representação e os últimos
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posicionamentos tomados pela administração municipal, apresenta uma ambiguidade de possibilidades, pró e contra a vitalidade urbana. Nas próximas seções desse trabalho, apresentaremos uma abordagem da área, assim como sua importância e representatividade histórica e as ameaças presentes.
uma ferrovia no tempo contínuo
Dentre os locais presentes no centro de Regente Feijó, um merece destaque por se aproximar dos lugares tratados por Leite (capítulo 1) e simbolizar um saudável expoente de espaço público: a esplanada da linha férrea. As esplanadas são os espaços localizados junto às estações ferroviárias. Ocupando uma área de pelo menos 200m lineares por 70m de largura, reservava-se espaço suficientemente amplo para construções de apoio à ferrovia, como casa para funcionários, depósitos ou futuras ampliações. (GHIRARDELLO, 2002) Morfologicamente apresentam um formato de retângulo
14_ Manifestação religiosa nas ruas da região central, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil 15_ Transeuntes na avenida José Bonifácio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
alongado, na qual era necessário para garantir a observação dos efetivos de trabalho no local, e, “como sugere o próprio nome, deveriam ser absolutamente planas. Seu preciso nivelamento garantiria que os vagões não se movimentariam quando desengatados”. (GHIRARDELLO, 2002, p.55)
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No caso de Regente, a esplanada deleita se por 460m, ficando a maior parte voltada defronte à estação em direção ao centro. O retângulo da esplanada foi o elemento base de onde saiu o traçado da cidade, apresentado como uma malha em tabuleiro de xadrez de onde, paralela e ortogonalmente, assim como em diversas outras cidades da cidade ferroviárias na Alta Sorocabana (MELO, 2017). Essa tomada de decisão no traçado inicial da cidade superava uma tendência do século XIX, na qual o mesmo se estabelecia obedecendo os pontos cardeais (GHIRARDELLO, 2002). O autor ainda reitera o empenho de constituir núcleos urbanos adjacentes às estações. O processo começava com a obtenção do chão para formação do patrimônio e como segundo passo, o seu arruamento. A esplanada constituiu o primeiro espaço aberto e de certa forma, espaço de socialização da cidade. Era o primeiro local ao qual as pessoas se deparavam após o desembarque na estação, Daves (apud FONSECA, 2016a, s/p) ilustra a chegada de um dos fundadores da cidade “Ele chegou em um trem e desceu na estação de Regente 16_ Núcleo original da cidade de Regente Feijó, 1939. Acervo Público do Estado de São Paulo
Feijó [...] anunciou que uma cidade seria construída e se chamaria ‘Memória’. Tudo começou ali”. Na cidade de Regente este espaço foi um constituinte sempre
presente
da
paisagem
urbana,
mesmo
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caracterizando se como um vazio, estabelecendo um intervalo na malha dado entre o local de “origem da cidade” simbolizado pela estação; e urbanização que se consolidava na malha a seguir. O local passou por diversas transformações contiguamente ao crescimento da cidade. Inicialmente foram construídos dois barracões, casas de operários e outras instalações de infraestrutura. Em 1939, a esplanada se apresentava subdividida em 4 quadras configuradas a partir do alongamento das ruas das quadras já definidas, das quais uma avança até a entrada da estação ferroviária. Das duas quadras divididas por tal, em uma é construído a estação rodoviária com várias salas comerciais, e a outra, transforma se num jardim. Na década de 1960 a estação ferroviária seria reconstruída, porém ocupando o mesmo local do original. (MELO, 2017) O jardim que se instalava é a já citada Praça dos Pioneiros, local que por tempos foi ponto de encontro, discussões e lazer para os citadinos. Na década de 90, outros equipamentos vieram ocupar o local. Logo à frente da praça, um ginásio de esportes foi construído e a rodoviária 17_ Construção do ginásio de esporte e casas operárias demolidas, década de 1990. Acervo de Wander Sidnei Gil
transferiu-se da rodoviária para outra quadra, mantendo o antigo edifício como um mercadão comportando comércio e serviços diversos. Ao lado da rodoviária ainda seria instalado a praça Lourenço
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Picolo. Por anos essa foi a configuração da paisagem da área, porém, aos poucos se esmaeceu diante das políticas que inferiram sobre tal, e junto consigo, levando parte da história guardada no patrimônio arquitetônico materializado naquele espaço, transformando vivencias em apenas memórias e lembranças, no entanto, vivas dentro de parte dos cidadãos regentenses. Indo além da cidade de Regente Feijó, as ferrovias têm grande importância para o Oeste Paulista, sua representação
da
chegada
do
desenvolvimento
econômico, político e cultural, as fazem patrimônio histórico e cultural, simbolizando uma referência ao passado, e por isso importante preservar sua memória (DUMCZUK e MONASTIRSKY, 2010). Entretanto, esse entendimento é comumente confrontado num duelo que persiste entre administrações públicas e as cidades, desmerecendo de forma, muitas vezes ignorantes, aquilo que se constitui simbolicamente importante para a história, negando as gerações anteriores e ameaçando as cidades à dinâmicas capitalistas que se utilizam dessas fragilidades para tomar os espaços como mercadorias, reciclando-as sem pudor em busca do lucro. 18_ Antiga estação ferroviária. Acervo de Wander Sidnei Gil
A esplanada guarda uma continuidade temporal dada desde o início da cidade. Suas relações desenvolvidas
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ao longo das décadas refletiram sobre seus espaços, como afirma Silva (2016, p.4) “a expressão espacial dos processos sociais são reflexos de uma sociedade dinâmica e mutável, que possui uma complexa estrutura que traz em si marcas tanto do passado quanto do presente”. As relações presentes no local nos levam a verificar condicionantes que aproximam a área como um lugar. O caráter público, envolto numa demarcação física dada pelo centro e linha férrea e ao mesmo tempo simbólica devido as significações e memórias sociais e físicas, inseridas no passado comum e no inconsciente das pessoas conduzem o entendimento de tal como um espaço diferenciado, vivenciado ao longo da história, e com esta, transformando e acompanhado a efemeridade da vida e ao mesmo tempo, construindo uma bagagem de significações atemporais, benemérito de ser preservado, e consigo, reforçar sua virtuosidade pública, social, de memória e identitária.
19_ Estacão ferroviária, 2018. Autor
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Os estudos na área de geografia e sociologia urbana levantam diversas questões e problemáticas que atingem os núcleos urbanos, embora a maioria retrate a realidade de uma cidade grande assim como seus contextos e processos históricos, nas cidades de menor porte, também podem ser notados alguns problemas, mesmo que numa menor complexidade. Esta seção tem como objetivo fazer uma síntese dos problemas elencados ao longo do trabalho, assim como discutir algumas ameaças existentes e potenciais aos espaços públicos centrais da cidade de Regente Feijó. Os acontecimentos recentes ocorridos chamam atenção para o pensar das cidades, e, assim como na sociedade humana, a história é uma das bases para se atentar aos acontecimentos passados em locais diversos ao qual ocasionaram alguma espécie de problemática que ronda a atualidade. Esses fatos possibilitam iniciar diversas frentes de discussões que transcendem as relacionadas à história como patrimônio, memória, identidade, relações sociais, etc, e passam então a se desdobrar em questões mais profundas como políticas urbanas, interesses do capital sobre as áreas centrais, o esvaziamento do centro e de seus espaços públicos e, por consequência, a criação de
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um lugar a se perder na memória?
cenários à criminalidade. A demolição da quadra histórica que continha o antigo mercadão e casas dos operários foi a de maior visibilidade e indignação perante a sociedade de proteção patrimonial. No entanto, em posse da prefeitura desde 1980 (FONSECA, 2016), as primeiras demolições na área ocorreriam na década seguinte, no qual duas antigas residências operárias foram demolidas para dar lugar ao ginásio de esporte que seria construído, porém, mesmo com as demolições, o ginásio não ocupa a área onde as casas se inseriam Demolições do patrimônio arquitetônico são uma triste realidade presente no contexto urbano, principalmente em cidades em crescimento. Não é preciso ir muito além de Regente Feijó para encontrar situações semelhantes. Presidente Prudente, cidade e polo regional localizada ao lado de Regente, apresenta situações de negação do passado se sujeitando à interesses imobiliários, havendo até mesmo demolição de edifícios históricos no período noturno, despistando qualquer possibilidade legal de preservá-lo. (FLOETER; HIRAO, 2012) Um exemplo notório de Presidente Prudente foi a demolição quase completa do SANBRA na qual e implantou no local diversos edifícios de apartamentos de uma incorporadora imobiliária. “Assiste-se, assim a destruição constante de
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obras representativas da história da cidade, instituições ligadas a memória não tem atuação, e uma nova cidade é construída sobre a existente. ” (FLOETER; HIRAO, 2012, p.63) A cidade de Regente ao longo dos últimos anos apresenta exemplos de despreocupação com o patrimônio. Estando a maioria localizado na área central, cabe mencionar outros dois exemplos que sucumbiram aos interesses do capital próximos à esplanada, sendo um deles a demolição do edifício que abrigava o SANBRA, hoje no qual se ergue um supermercado. Mesmo não havendo nenhuma política preservacionista, a ignorância arquitetônica por parte da população é outro fator que dificulta a manutenção e preservação do patrimônio arquitetônico, ficando esta tarefa a cargo de docentes de universidades próximas e simpatizantes da causa, como ocorreu no caso dos edifícios das esplanadas. Duas
historiadoras
UNESP
de
Presidente
Prudente
foram quem abriram a frente contra a determinação da administrativo da cidade em fazer a demolição nas áreas. Baron e Faccio ainda demonstram a indiferença da população perante os acontecimentos: o tombamento se faz necessário tanto para que seja conservada viva a história edificada nesse conjunto, quanto para fazer com
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que ele seja mais percebido e valorizado pela população local, que, de acordo com os questionários que foram aplicados nos cidadãos regentenses, se mostrou indiferente quanto a sua importância, não tendo conhecimento da significância dessas e de outras edificações na cidade BARON e FACCIO apud FONSECA, 2016a, s/p
Em 2014 a Prefeitura não hesitou em voltar a fazer demolições na área, desta vez, foi do antigo terminal rodoviário, ainda que houvesse um pequeno levante popular e manifestação dos comerciantes instalados, não foram suficientes para deter. Mesmo com a atuação de acadêmicos junto à Promotoria e Ministério Público o qual demonstravam que a área era reconhecida como patrimônio histórico-cultural reconhecido no Estado de São Paulo pelo Condephaat e Iphan, em 2017 após liminar, o lugar se tornou um vazio em meio a memória da população (FONSECA, 2016a; FONSECA, 2016c; ROBERTO, 2017). As alegações dadas pelo executivo em meio ao processo se ocupam de um padrão e demonstram num primeiro momento a ignorância quanto a questões patrimoniais, e em seguida, utilizam do discurso de segurança e embelezamento da área, e por fim, do pseudo-progresso da cidade ao ceder lugar a investimentos imobiliárias comerciais. Podemos notar isso nas palavras da assessoria do Executivo da administração que vitimou os edifícios na
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época: [...] aludidos bens nunca pertenceram, não pertencem e jamais pertencerão ao patrimônio cultural ferroviário. FONSECA, 2016c, s/p O patrimônio que era da ferrovia foi restaurado. Onde era a sede da estação antiga, atualmente, funciona um Programa de Saúde da Família [PSF]. Está em sua originalidade e com as características preservadas. Ao lado, tem um armazém da ferrovia, completamente restaurado e preservado [...] Essas casas tinham sido invadidas por pessoas que não estão relacionadas à ferrovia. Além disso, foi atestado pela engenharia que os prédios podem cair [...] Ali, em toda essa área, tínhamos a presença indesejável de alcoólatras, usuários de drogas e andarilhos que causava transtornos à população [...] os investimentos que serão aplicados no perímetro visam a promover a segurança e a melhoria da imagem da cidade, que tinha nesse ponto um aspecto ruim, por ser mal frequentado por gente de conduta suspeita [...] Quando concluir a desocupação do local, vamos com nosso Legislativo e Jurídico procurar criar uma parceria público-privado
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para um projeto de magnitude. FONSECA, 2016b, s/p [...] existe um projeto para o local, que deverá dar lugar a um grande empreendimento imobiliário. ROBERTO, 2017, s/p
Se por um lado as alegações da Prefeitura tentam justificar a intenção de demolir edifícios históricos, por outro, abrem a possibilidade de discussão das problemáticas existentes que ameaçam as cidades brasileiras. É essencial se ter em vista os problemas para poder gerar planos. A questão que podemos formular diante dessa situação se refere as causas e abrangências de tais problemas, seria ele intrínseco ao local ou provem de um cenário externo? Caso seja externo, até onde atinge, e o mais importante, de que modo prejudica os espaços públicos e a vitalidade urbana? No caso de Regente e da área em questão, estão envoltos num aglomerado de vazios urbanos dado por praças, equipamentos urbanos abertos e ferrovia, formando um grande interstício em meio a malha sólida edificada. Frente a esse vazio se configura o centro comercial. As zonas centrais, historicamente são marcadas pela função comercial e carregam consigo uma problemática: a monotonia de usos. A homogeneidade funcional provoca um fenômeno de esvaziamento da área em determinados
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períodos do dia e da semana, ou seja, durante a noite, finais de semana e feriados. Dentro dessa questão, Alomá afirma: A monofuncionalidade que foram condenados muitos centros históricos e áreas centrais em geral, somado ao esvaziamento de habitações, gerou uma distorção perversa: o desequilíbrio polarizado de uso em horários. Durante o dia tornam-se centros caóticos, saturados de odores e ruídos, de uma animação extrema, mas quando fecham os estabelecimentos com atividades terciárias, os lugares voltam a ser solitários e geram insegurança ou a percepção dela, que é quase igual de nocivo. ALOMÁ, 2013, s/p
Gehl (2015) ao tratar do esvaziamento central faz alusão à uma “rosquinha”, no qual os edifícios e escritórios sem uso durante a noite fazem do centro um vazio. Jacobs (2011), uma das maiores críticas a monotonia funcional, defende a heterogenia de usos como uma medida em prol da vitalidade urbana e segurança. Com as zonas urbanas mescladas entre habitação e comércio, se tem circulação de pessoas em todos os períodos do dia, além da população residente contribuir de forma passiva para a segurança com o que a autora chama de “olhos para a rua” que funcionavam como forma de vigilância dos espaços públicos próximo a sua residência.
92
Villaça (1998) aponta outro fator que contribui para o esvaziamento dado pela tendência de as pessoas de classe social mais alta em ser distanciar do centro, passando este a ser ocupado pelo comércio e serviços destinados ao atendimento das camadas populares. Embora não seja um fato integralmente verificado na cidade de Regente, isso demonstra uma tendência presente em cidades mais desenvolvidas no qual os centros ficam destinados a classes mais baixas. Em concordância, Alomá (2013) afirma que esses são os locais no qual serão ocupados por cidadãos potencialmente perigosos, enquanto as classes mais abastadas envoltas num sentimento de “agorafobia” buscam formas isoladas de morar espaço urbano. O excerto exposto pelos autores encontra um elo com os argumentos dados pela prefeitura ao afirmar a existência de “alcoólatras, usuários de drogas e andarilhos” na área da antiga esplanada, por outro lado, nos auxilia na compreensão da Fonte do problema que transcende a área. De fato, tais atores sociais são comuns nos espaços urbanos. Gomes (2002) identifica tal cenário na maioria das cidades brasileiras, a tendência é de que os espaços públicos se transformem num local agregador das classes de
menor
poder
aquisitivo,
comércios
ambulantes,
prostituição, mendicância, sendo os centros e as praças os palcos de tal ocupação.
93
Vieira (2002) considera que o ambiente físico é um fator estritamente ligado à sensação de segurança, a percepção da possibilidade de ocorrer um crime é o gerador do sentimento de insegurança, assim, o indivíduo só se faz confiante ao perceber que nada adverso pode lhe ocorrer. Nessa perspectiva, os espaços públicos podem estar sujeitos a um ciclo vicioso no qual um lugar pouco usado agrega usos impróprios, transpassando sensação de insegurança, acabam por afastar ainda mais as pessoas. Ao tratar da questão de segurança urbana, Zanotto (2012) expõe duas variáveis: contextuais e composicionais. A primeira se refere as características morfológicas e fisioespaciais do lugar, como o tipo de ocupação, conexões visuais, possibilidade de refúgio, iluminação, entre outros. Já a variável composicional se relaciona as características dos indivíduos que frequentam o local. Assim como as variáveis contextuais, Alomá (2013) considera alguns fatores intrínsecos aos espaços urbanos que contribuem para a sensação de insegurança, como, edifícios abandonados ou deteriorados, sendo a própria imagem do lugar um fator de afastamento das pessoas dos espaços públicos. Um exemplo comum é o vandalismo, Voordt e Wegen (1986) destacam que áreas isoladas com menos movimentação de pessoas são mais
94
20_ Um senhor sentado numa praça ameaçada, 2015. Acervo de Wander Sidnei Gil
propícias, sendo seus atores principalmente crianças e adolescentes. Reis (1997) ainda destaca que a falta de equipamentos para esse público se relaciona com a existência do vandalismo. Esses fatores servem para demonstrar a complexidade ao qual os espaços públicos estão condicionados, ao qual, uma simples demolição não irá impedir que cenas de crime e a sensação de insegurança seja resolvida. Os espaços que tinham vida por serem palco para a expressão cultural, agora começam a desaparecer por sua falta de identidade com o indivíduo (PALLAMIN e LUDEMANN, 2002). Serpa (apud SILVA, 2006, p.36) ao citar o sociólogo Lucius Buckhardt ilustrando a situação atual dos espaços de lazer nas grandes cidades brasileiras, quando este considera que “não faltam espaços livres, o que falta é a chance de utilizá-los” Os espaços públicos dão lugar ao perigo e medo, de forma que a população se refugia em shopping centers, clubes e condomínios fechados Nossa reflexão se encerra ao olhar para os espaços e contribuir para convertê-los em lugares, reforçar a memória e a vida em oposição ao medo, construindo assim uma cidade saudável, viva e acessível a todos e sempre se reforçando para tal.
95
interpretações ato II a malha e a linha
101
vista do todo
101
interstícios, artérias e órgãos
103
parte de um todo
111
vazios, cheios e usos
115
indivíduos locais
127
meio natural
131
ao nível dos olhos
137
transitar 139 afecções e barreiras
159
novos olhares
171
repertório 183 cenografia urbana
188
recipiente desmontável
203
objeto de um ambiente transitório
217
No
capítulo
anterior
focou-se
levantar
problemáticas,
discussões e embasamentos teóricos, numa abordagem dentro de um recorte histórico e de perspectivas dadas a partir de experiências observadas junto à evolução das cidades, as quais nos deparamos na área de estudo. Antes de suceder à análise da área tratada em seus atributos e elementos materializados e vivenciados, inicialmente vale uma abordagem de NorbergSchulz quanto sua visão sobre espaço e lugar. Para o autor (apud REIS-ALVES, 2007) o lugar é mais do que uma localização geográfica ou um simples espaço. Nele se encontra a manifestação do habitar humano. O “habitar” referido indica a relação estabelecida entre indivíduo-meio, ou seja, quando se habita, se loca no espaço e expõe a um determinado caráter ambiental. O habitar também tem uma significação que transcende a do abrigo, e passa a ser um “suporte existencial”, este que se configura o objetivo da arquitetura, sendo conferido ao indivíduo através da relação entre este e o seu meio através da percepção e do simbolismo. A compreensão desse espaço existencial se divide em dois elementos: o espaço e o caráter – que numa analogia à mitologia grega e as teorias existencialistas de Heidegger o autor também confere a denominação de Terra e Céu, respectivamente – que sendo analisadas pela percepção e pelo simbolismo permitirão o suporte existencial, ou seja, a capacidade de habitar. (REISALVES, 2007)
98
O espaço (terra) se caracteriza como um elemento estável embora suscetíveis a mudanças, enquanto o caráter (céu) demonstre maior instabilidade por questões do tempo e do clima. Ao analisar o elemento espaço, aborda-se características morfológicas como: elementos constituintes (descrição e caracterização); relação interior x exterior (relação entre o lugar e o seu entorno); extensão (topografia); limites (fechamentos horizontais e os verticais, forma e volume do espaço); escala/ proporção (macro, média, micro); direções (orientação solar, sentidos horizontal e vertical) e ritmo (tempo, caminhos, centro e domínio). (REIS-ALVES, 2007, s/p) Já o elemento caráter (céu) embora dividida entre atributos qualitativos e quantitativos, sua definição aborda características pertencentes não somente ao céu, propriamente dito, mas também à caracterização climática do ambiente.
3 Genius loci é um conceito originário do latim cujo significa Espírito do lugar. Segundo os gregos cada ser “independente” tinha o seu genius, o seu espírito-guardião, que dava vida às pessoas e aos lugares, os acompanhava desde o nascimento até a morte e determinava as suas características e essência.
As reflexões de Norberg-Schulz nos direcionam ao entendimento do lugar como único, ou seja, ao genius loci3, onde cada um preserva um conjunto de características e especificidades na qual devem ser averiguadas e entendidas em escalas variadas para sua compreensão. Dentro dessa perspectiva, as abordagens a seguir devem averiguar os atributos espaciais, ambientais e humanos além de buscar exaltar a essência do lugar, ou seja, seu sentido originário identitário de modo a contribuir para a instalação de um “suporte existencial” que responda as problemáticas e dinâmicas da área.
99
100
formação original
1970
1985
2000
2005
2010
2013
2015
atual
vista do todo
a malha e a linha
Como já tratado, o surgimento de Regente Feijó estabelece relação íntima com a chegada da linha férrea. Ao que se refere à ferrovia, a cidade se moldou e ainda demonstra ser influenciada pela marca que os trilhos deixaram no Oeste Paulista. Ao falar de malha urbana, Lamas (1993) afirma que o traçado estabelece a relação mais direta de assentamento entre a cidade e o território. Embora o autor se refira ao traçado das ruas, podemos criar um elo com a ferrovia no contexto analisado. Ao considerarmos a dimensão da rua como gerador da malha, verificamos a afirmação de Lamas (1993, p.100) de que “a rua ou o traçado relaciona-se diretamente com a formação e crescimento da cidade de modo hierarquizado, em função da importância funcional da deslocação, do percurso e da mobilidade de bens, pessoas e ideias” na qual o crescimento da cidade se deu perpendicular à linha férrea, mais especificamente à estação e esplanada, dispondo uma malha quadriculada inicialmente delimitada pela ferrovia, já quando ultrapassada, toma variadas formas.
21_ Evolução da malha de Regente Feijó. Autor
urbana
101
102
interstícios, artérias e órgãos
Ao longo da última década, a cidade passa por um processo de crescimento da malha e junto consigo um espraiamento da mancha urbana. Embora a maioria dos loteamentos seja adjacente a malha, a região nordeste é a que mais se desvincula, local no qual instalaram se dois condomínios fechados e um loteamento margeando uma rodovia. Esse fato demonstra a materialização dos interesses imobiliários, aliados falta de um plano diretor e a facilidade de acesso à cidade de Presidente Prudente através da rodovia, tornam a área um cenário perfeito para a especulação fazer da cidade uma mercadoria. A real ocupação atual só é possível ver ao isolar se das quadras, ao qual através dos cheios e vazios marcados pela não edificação. Nesse cenário a malha, as vias e o vazio deixado seguindo o traço da linha férrea, ao passo que se acentuam no centro e esmaecem nas áreas periféricas.
linha férrea
Na bibliografia comumente autores buscam analogias 500m
N
com o corpo humano ao tratar de urbanismo e arquitetura, até mesmo nesse presente trabalho os já citados conceito de interstícios de Guerreiro ou o conjunto de espaços livres que Loboda diz articular os
22_ Projeção de construções tecido urbano. Autor
organismos urbanos. sobre
Numa cidade como Regente, a morfologia ao qual se
103
104
constituiu nos permite considerar alguns elementos. O primeiro e sempre presente se deve a linha férrea transpassando a cidade, assim como uma espinha dorsal que a sustenta. Dos vazios que extrapolam os espaços intersticiais delimitados
pelas
quadra,
são
revelados
veios
e
artérias, locais de fluxo, mobilidade e interligação de todo o organismo urbano. A leitura desses vazios nos revela ainda mais sobre a cidade, ao identificar os veios de ligação do tecido urbano, chegaremos ao mais importante setor da organização urbana - o centro sendo este como um coração da cidade. As relações espaciais do centro da cidade integram, ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unindo-as em um conjunto tradicionalmente articulado (CORRÊA, 1989). Embora haja uma dispersão das ocupações mais
linha férrea
recentes, a cidade ainda apresenta certa ocupação e 500m
N
adensamento. Para melhor compreensão da escala da cidade, numa projeção das distâncias percorridas a pé e por bicicleta num espaço de 5 minutos, nota-se a abrangência ocupada pelo raio.
23_ Deslocamento num espaço de tempo de 5min. Autor sobre dados do Google Maps
Ao chocar a linha férrea com as ocupações existentes e com as recentes, percebe-se o papel de demarcação,
105
av. cle me nte av pe .b rei av r i ra ga .b av de ar av .t ão iro eó . ju fil do to lio o bi rio m ot as es on br qu i an ita co r. lu i
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ar an
go
os r. j
cis
ran r. f
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go
m
es
ni
r ke ita
w co
106
sobreposição e possibilidade de interligação entre as variadas partes da cidade, virtude que pode ser investigada numa possível intervenção. É no centro onde tudo se liga, para onde tudo se destina e de onde tudo sai. As principais vias, acessos e rotas passam ou são adjacentes ao centro. Na construção hierárquica viária da cidade podemos destacar algumas vias que demonstram essa relação: ▪▪
Avenida Clemente Pereira e sua continuação através da subdividida rua José Gomes, sendo o elemento que transpassa a cidade e liga às rodovias;
▪▪
Avenidas Brigadeiro Tobias, Barão do Rio Branco,
Teófilo
Otoni
e
Júlio
Mesquita;
linha férrea
perpendiculares à estação e principais vias
região central
de ligação entre centro e bairro do núcleo
principais vias
margeado pela ferrovia e ao norte;
500m
N
▪▪
Avenidas
Regente
Feijó,
José
Bonifácio
e Martins Francisco; paralelas à estação, principais ruas do centro e de ligação aos novos bairros à oeste; ▪▪ 24_ Principais eixos viários. Autor
Rua São Bento, Moacyr Marangoni e avenida Fuad Abbud Faddul; ligação entre bairros desenvolvidos após a ferrovia, paralelo a esta,
107
108
e principal ligação do centro aos bairros ao leste; ▪▪
Rua capitão Francisco Witaker, ligação com bairros ao sul após a linha férrea;
▪▪
Avenida João Honorato de Barros e rua Luiz Mazzali, ligação com bairros à oeste após a linha férrea.
Se as vias ajudam a afirmar o centro como um coração da cidade, os demais equipamentos urbanos como escolas, edifícios administrativos, esportivos e culturais educacional
se espalham constituindo órgãos no corpo urbano.
viário saúde
Embora espraiados, atendendo a demanda dos bairros,
esportivo
a rede constituída pelos equipamentos ora permeia o
cultural
centro ligados por um fio invisível, sendo tal hospedeiro
biblioteca
de equipamentos culturais e esportivos, fazendo uma
eventos
extensão das atividades educacionais ou do habitar nos
mercado
bairros. 500m
N
Entre os equipamentos presentes no centro, conforme mostraremos adiante numa outra óptica, pode-se destacar o ginásio de esportes que concentra maior parte dos eventos esportivos e de outras áreas; e o
25_ Principais equipamentos urbanos. Autor
terminal rodoviário responsável pela movimentação de centenas de pessoas diariamente.
109
110
parte de um todo
111
112 praça lourenço pícolo galpões da ferrovia rodoviária
estação ferroviária
praça dos pioneiros
ginásio de esportes
A dinâmica de uma cidade é algo a ser observado em diferentes escalas. Numa mesma cidade é possível encontrar áreas antagônicas de tipologias, morfologia e relações sociais materializadas fisicamente. Esta é uma característica mais facilmente identificada nos maiores centros urbanos, porém nas menores, assim como os demais problemas, é algo que se faz presente mesmo que numa escala mais esmaecida. Ao aproximar esta análise no centro de Regente, poderemos notar contrastes espaciais e sociais inscritos no recorte de abrangência, assim como verificar dinâmicas que nos ajudam entender o espaço no qual estamos tratando, não só num contexto de significação histórica, de identidade e memória como já abordado, mas social e funcional no contexto da cidade. linha férrea área de intervenção
Para a realização das análises a seguir, o recorte definido a
equipamentos existentes na área de estudo
partir da área delimitada pela antiga esplanada ferroviária se estende para ambos os limites da linha férrea,
100m
N
englobando parte das quadras da formação original e demais zonas na qual sucedeu o crescimento da cidade.
26_ Recorte central: quadras. Autor
113
114
vazios, cheios e usos
A leitura da compoição morfológica é um instrumento interessante para compreensão das dinâmicas e problemas a serem tratadas. A partir da projeção ocupada do solo urbano, nota-se a densidade de ocupação da área, seja no limite anterior ou posterior à demarcação da ferrovia. Embora seja a área mai antiga da cidade, o centro apresenta uma rede de vazios, poucos sendo lotes urbanos, a maioria são interstícios que constituem espaços urbanos públicos. Entre esses vazios podemos destacar algumas praças na qual ocupam a totalidade ou parcialmente algumas quadras entre as quais estão a Nove de Julho e da Igreja Matriz
linha férrea
No entando, o vazio de maior destaque espacial e
área de intervenção
morfológico se deve ao conjunto formado pela área non
equipamentos existentes na área de estudo
aedificanti da ferrovia e o grande espaço positivo ao qual ela se abre ao se confrontar com a estação ferroviária, ou
100m
N
melhor dizendo, o vazio da antiga esplanada ferroviária, área para qual o presente trabalho procura abordar questões que auxiliem na proposta para uma possível intervenção.
27_ Recorte central: quadras e projeção de ocupação. Autor
115
116
Embora a análise parta de um recorte da área central, a configuração física de uma cidade pequena se materializa de forma contrastante, muito comumente oscilando zonas. Nesse sentido podemos observar ao longo de menos de 1000 metros a variação da ocupação de um uso misto até outro prioritariamente comercial seguido de um vazio e uma área quase exclusivamente residencial. O levantamento da ocupação nos demonstra também a influência da ferrovia na cidade. Como já mostramos, os institucional
bairros ao sul da ferrovia se constituíram posteriormente
comércio
ao núcleo inicial, e atualmente se caracterizam quase
serviços
exclusivamente residenciais, sendo o contraste de uso
misto
dado pelos poucos estabelecimentos e instituições
residencial
localizadas nos principais eixos viários.
abandonado/outro
A heterogeneidade de ocupação da área em questão linha férrea
incide também sobre a dinâmica do uso da mesma.
área de intervenção
Quanto mais monótona uma área, mais sua tendência de ter uso apenas em horários específicos. O caso mais
100m
N
marcante desse contraste pode ser presenciado no centro, cuja homogeneidade das quadras comerciais inferem radicalmente no uso da área. Ao longo do dia, o fluxo de pessoas nas ruas e calçadas
28_ Recorte central: uso e ocupação dos edifícios. Autor
varia de bem distinta, porém dentro de padrões divididos entre horários de pico e o período ao qual está inserido. De
117
118 escolas pré e fundamental
rodoviária supermercado
principal rua de comércio e serviços
futuro centro comercial
escola undamental/ médio privada
escola fundamental/ médio pública
maneira geral, podemos identificar as seguintes situações: ▪▪
Horário de pico da manhã (06-07h) – Fluxo intenso de veículos nas avenidas que faceiam as quadras centrais (Clemente Pereira, Regente Feijó, Francisco Witacker E São Bento) e reduzido nas avenidas que interseccionam as quadras centrais. Fluxo intenso de transeuntes nos sentidos bairro centro (em direção à rodoviária) e leste-oeste/norte-sul (direção às escolas próximas ao centro) e reduzido nas quadras centrais;
▪▪
Período matutino (08-11h) – Fluxo médio de veículos nas avenidas que faceiam as quadras centrais (Clemente Pereira, Francisco Witacker E São Bento) e fluxo intenso de veículos nas
linha férrea
avenidas que interseccionam as quadras centrais
área de intervenção
(José Bonifácio, Regente Feijó). Fluxo médio de
pontos de interesse e fluxo 100m
transeuntes sentido bairro-centro e intenso nas quadras centrais.
N
▪▪
Horário de pico do meio-dia (12-13h) – Fluxo intenso de veículos nas avenidas que faceiam e interseccionam as quadras centrais. Fluxo
29_ Recorte central: pontos de interesse de fluxo - dia. Autor
intenso de transeuntes nos diversos sentidos e dentro das quadras centrais;
119
120
06 - 07h
08 - 11h
12 - 14h
15 - 17h
18 - 19h
20-23h
▪▪
Período vespertino (14-17h) – Fluxo médio de veículos nas avenidas que faceiam as quadras centrais (Clemente Pereira, Francisco Witacker E São Bento) e fluxo intenso de veículos nas avenidas que interseccionam as quadras centrais (José Bonifácio, Regente Feijó). Fluxo médio de transeuntes sentido bairro-centro e intenso nas quadras centrais.
crianças
▪▪
jovens
Horário de pico da tarde (18-19h) – Fluxo intenso de veículos nas avenidas que faceiam
adultos
as quadras centrais (Clemente Pereira, Regente
idosos
Feijó, Francisco Witacker E São Bento) e médio nas avenidas que interseccionam as quadras centrais. Fluxo intenso de transeuntes nos sentidos centro-bairro e médio nas quadras centrais;
linha férrea área de intervenção
▪▪
Período noturno (20-00h) – Fluxo reduzido de veículos nas avenidas que faceiam as quadras centrais
200m
N
(Clemente
Pereira,
Regente
Feijó,
Francisco Witacker E São Bento) e fluxo nulo de veículos nas avenidas que interseccionam as quadras centrais. Fluxo reduzido de transeuntes próximo às avenidas que faceiam as quadras
30_ Recorte central: fluxos ao longo do dia - segunda a sexta. Autor
centrais e nulo nas quadras centrais.
121
122
O centro durante o dia cumpre o papel de coração da cidade, dificilmente questionado a quem o vivencia, porém, após o horário comercial os papéis se invertem. Comércios fechados, ruas vazias, ausência de residências: o resultado é percebido no fluxo de pessoas que circulam pela área. Os pontos de maior movimentação se dão próximo aos estabelecimentos de funcionamento noturno, principalmente aqueles ligados ao ramo gastronômico. Assim como o fluxo pedonal, a circulação de veículos pela área também reduz, além de se restringir prioritariamente para as vias principais. Embora o padrão possa ser notado ao longo dos dias comerciais, os final de semana apresentam um dinâmica
linha férrea área de intervenção bancos, auto postos, farmácias e igrejas comércios de atendimento noturno
diferenciada, embora assemelhem entre si. O uso das áreas centrais durante o sábado e domingo restringem-se no período da manhã, cujo há a presença do comércio aberto num dia e a feira aberta no outro. Entre as particularidades desses dois dias está a redução do fluxo nos horários de picos, embora ainda existam, e por fim, o fluxo reduzido
100m
N
no período da tarde, principalmente no domingo, cujo os atrativos se reduzem. Já os períodos noturnos se destacam até mesmo em relação aos demais dias da semana, no entanto, os pontos são os estabelecimentos
31_ Recorte central: pontos de interesse de fluxo - noite. Autor
gastronômicos os responsáveis pela vivacidade central. Assemelhando o período matutino do sábada aos do resto da semana, podemos considerar:
123
124
sábado manhã
sábado tarde
sábado noite
domingo manhã
domingo tarde
domingo noite
▪▪
Domingo: Período matutino (08-11h) – Fluxo médio de veículos nas avenidas que faceiam as quadras centrais (Clemente Pereira, Francisco Witacker E São Bento) e fluxo reduzido de veículos nas avenidas que interseccionam as quadras centrais. Fluxo médio de transeuntes sentido bairro-centro, reduzido nas quadras centrais e intenso aos arredores da feira localizada na avenida. Regente Feijó.
▪▪
crianças
Final de semana: Período vespertino (14-17h)
jovens
– Fluxo médio de veículos nas avenidas que
adultos
faceiam as quadras centrais e fluxo reduzido
idosos
de veículos nas avenidas que interseccionam as quadras centrais (José Bonifácio, Regente Feijó). Fluxo reduzido de transeuntes sentido bairro-centro e reduzido nas quadras centrais.
linha férrea área de intervenção
▪▪
Final de semana: Período noturno (20-23h) – Fluxo reduzido de veículos nas avenidas que faceiam e interseccionam as quadras centrais.
200m
N
Fluxo reduzido de transeuntes sentido bairrocentro e reduzido nas quadras centrais.
32_ Recorte central: fluxos ao longo do dia - final de semana. Autor
125
33,32 hab/ha
24,89 hab/ha
22,61 hab/ha
73,46 hab/ha 60,00 hab/ha
30,09 hab/ha
126
43,25 hab/ha
75,61 hab/ha
indivíduos locais
Sendo um dos focos dos planos urbanísticos, a densidade populacional de uma área é um dos importantes fatores para vitalidade urbana. Como demonstrado, as quadras que compreendem a zona central de Regente Feijó apresentam
uma
dicotomia
de
ocupação,
gerando
inclusive áreas monótonas cujo efeito é a inexistência de uso durante certo período do dia. Ao confrontar o mapa de densidade populacional com os fluxo apresentados podemos verificar a conformidade de uso nas zonas residenciais e mistas. Já em relação ao 0,00-8,00 hab/ha
centro, esta mostra-se de menor densidade da área, o
8,01-25,00 hab/ha
que ajuda a entender seu esvaziamento em determinados
25,01-35,00 hab/ha
períodos. O que ocorre com essa área é o que hilariamente
35,01-45,00 hab/ha
Gehl (2015, p.13) tomando exemplo de Melbourne chama
45,01-90,00 hab/ha
de efeito “rosquinha”, é ocupada em toda parte, porém vazio no centro
linha férrea região central
Ao fazer uso de dados censitários podemos compreender ainda algumas relações sociais especializadas na área em
100m
N
questão. Ao passo que notamos uma maior densidade fora do centro nos setores ao sul da linha férrea, os mesmos também apresentam um maior índice de vulnerabilidade social (figura 33 - esquerda).
33_ Recorte central: densidade populacional. 2010. IBGE adaptado pelo Autor
A discrepância socioeconômica também pode ser vista ao confrontar a renda per capta dos residentes da região
127
128
próxima ao centro. O que notamos novamente é um melhor índice nos setores cuja delimitação engloba o centro. Com isso podemos entender o perfil dos usuários próximo à área, embora haja poucos residentes na região entendida grupo 2 - vulnerabilidade muito baixa
como centro, estes possuem um padrão socioeconômico
grupo 4 - vulnerabilidade média
superior as regiões adjacentes, principalmente aquelas que extrapolam o limite dado pela linha férrea, onde reside
0,00 - 10,00% 10,01 - 15,00% 15,01 - 25,00%
um maior número de famílias e estas em situações menos favoráveis do que as localizadas nas áreas cujo formaram o núcleo original da cidade. Verificar tais estatistísticas se fazem importante para
linha férrea
entender o grau de intervenção ao qual a área pode se
região central
sujeitar, enquanto revitalizações ao molde da gentrification
100m
N
34_ Recorte central: vulnerabilidade social. 2010. SEADE adaptado pelo Autor
(LEITE, 2002) geram enobrecimento urbano, também expõe o território à práticas de mercado cujo consequência pode afetar residentes próximos da área, principalmente das classes com menor poder aquisitivo.
35_ Recorte central: razão entre domicílio particulares com rendimento nominal mensal domiciliar per capta. 2010. IBGE adaptado pelo Autor
129
130 485
480
475
470
485 480 475 470
490
495
500
505
475
480 510
485 505
500
490 495
495 490
485
495
500
505 510
505
500
495
490
485
480
475
meio natural
Compreender a configuração física da cidade nos faz novamente voltar no tempo e compreender sua historias e os fatores que condicionaram para tal. No caso de regente como já referido se tem a gênese ligada a linha férrea, e esta, no trecho da Alta Sorocabana apresenta-se seguindo pelos pontos mais altos da topografia, (GHIRARDELLO, 2002). Esse fato conciliado ao surgimento da cidade a frente da estação nos dão base para presumir a localização do centro na cota mais alta, ainda confirmado pela presença da igreja matriz na região (MARX, 1991). Embora a linha férrea esteja numa cota alta, o ponto mais alto da área se encontra próximo à igreja ao longo das avenidas José Bonifácio e Regente Feijó. No entanto, um ponto que merece destaque na configuração do sítio topográfico se refere ao trecho ao sul da ferrovia, que apresenta na forma de um talude seguido de uma gradual depressão do terreno que avança sentido bairro.
linha férrea região central
O acidente não natural do terreno dado pelo talude feito 100m
N
durante a construção da ferrovia contribui para criar uma segregação dada entre centro e bairro, reforçando e ao mesmo tempo justificando o contraste antes notado entre as áreas divididas pela linha férrea.
36_ Recorte central: topografia. adaptado pelo Autor
IGC
131
132 ventilação predominante
4 A cidade não possui estações meteorológicas, assim sendo não comporta uma base de dados contundente e disponível no INMET (Instituto Nacional de Meteorologia). Os dados obtidos são de Fonte do site CLIMATE-DATA.ORG, que cria tabulação estabelecendo médias para a cidade, que se apresentam próximas aos dados do município vizinho, no caso, Presidente Prudente.
Do mesmo modo que a compreensão das especificidades
5 Dados da cidade Presidente Prudente.
Caracterizada num clima tropical chuvoso (CEPAGRI,
vizinha
físicas do terreno nos revelam elementos importantes para um projeto, ao tratar de espaços públicos e vazios urbanos, as questões climáticas se fazem um ponto de análise, visto sua influência nas questões de conforto e concomitantemente no uso dos espaços, assim como uma base para as soluções de projeto tais como escolhas de materiais e espécies paisagísticas e sua devida manutenção devido às intempéries.
2018), apresenta um clima quente e chuvoso no verão e frio e seco no inverno. Embora apresente uma temperatura média anual de 21,5°C4 , a sensação térmica presenciada na maior parte do ano é de um clima muito quente, mesmo no período de inverno onde se nota uma grande dilatação térmica, com temperaturas baixas pela manhã e noite, e elevadas durante a tarde.
linha férrea área de estudo
A sensação de calor aliada as mais de 2500 horas de sol 100m
N
anuais5 faz com que seja comum a procura de abrigos junto à sombra de árvores, marquises e edifícios ao circular pela cidade.Além do alto índice de insolação e sensação de calor, a outra variável climática é a precipitação. Tendo uma
37_ Recorte central: insolação e
média anual de 1227mm dividida principalmente no verão,
ventilação. Windfinder adaptado pelo Autor
e ensolarados.
pode haver períodos chuvosos seguidos de períodos secos
133
134
Como referido inicialmente, as condições climáticas são um dos fatores que podem afastar o uso dos espaços públicos. Partindo desta premissa, procurou se levantar pontos usados ou com potencial para abrigar programas voltados a utilização dos espaços públicos centrais. Nos daqui por diante a esses pontos como abrigos e subdividiremos em: ▪▪
Abrigo temporário: zonas cobertas abertas de pequena dimensão física de curta permanência em casos de chuva ou para se abrigar do sol;
▪▪
Abrigo aberto: toda zona sombreada aberta seja por meio vegetal ou construído que possibilitem convivência e outros programas de uso em dias não chuvosos;
abrigo temporário abrigo aberto abrigo fechado
▪▪
Abrigo fechado: zonas cobertas abertas de grande extensão e ou áreas cobertas fechadas
linha férrea
que possibilitem convivência e outros programas
área de estudo
de uso em dias com ou sem chuva.
100m
N
Embora haja muitos pontos de rápida estadia, aqueles que possam abrigar permanências independente da condição climática se restringem à parte dos equipamentos públicos inseridos na área, dentre tais, merece destaque um dos barracões junto à ferrovia, atualmente subutilizado na
38_ Recorte central: pontos de abrigo. Autor
confecção de artesanatos com materiais recicláveis, disponibilizando ainda espaço para demais atividades ao público
135
136
ao nível dos olhos
Ao decorrer do trabalho, muito das análises apresentadas até aqui ficaram restritas dentro de uma linguagem bidimensional dada através de plantas e diagramas. Embora faça parte da metodologia adotada, temos a consideração da importância de inserir o leitor no meio discutido. Nessa terceira escala de aproximação temos como objetivo a apresentação ao nível dos olhos, isto é, abordar a área do ponto de vista pedonal, vivido e presenciado, verificar as relações desenvolvidas dentro do objeto urbano. Como diria Zevi (2009), arquitetura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha. Embora a afirmação do autor se refira ao espaço arquitetônico, o cerne da questão se refere a experiência espacial dada pela utilização dos indivíduos, na qual dentro da arquitetura não fica restrita as três dimensões da perspectiva, mas se tem uma dimensão primordial que as diferencia de outras artes: o tempo. É no deslocar e caminhar que o usuário tem a experiência do espaço, que não se restringe ao edifício, mas se estende 39_ Vista do local no qual antigamente pertencia ao mercadão e rodoviária para um dos barracões junto à linha férrea. 2017. Autor
ao urbano, às ruas e às praças. É dentro desta dimensão que esta seção do trabalho pretende levar o leitor, embora não tenha a mesma excelência de uma experiência in loco numa escala 1:1, mas contribuir para o reconhecimento espacial do lugar assim como suas especificidades.
137
138
transitar
Transitar
por
centros
geralmente
engloba
algumas
questões, a começar pelo seu caráter polarizador na qual diversas possibilidades são oferecidas e até onde as pessoas se locomovem com quase certeza de encontrar devida atividade. Essa pluralidade é um dos fatores chaves da vida central e revela sua configuração histórica que constitui um dos principais elementos da construção de uma cidade. A influência do comércio e serviços sobre a rotina da área levam as ruas e edifícios certo fluxo de pessoas durante o horário no qual funcionam. É durante o dia que acontece as diversas manifestações de vivências urbanas proporcionadas necessariamente pela presença de pessoas. Seja para as breves experiências no comércio local, seja para apenas transitar, a área demonstra o melhor expoente de vivacidade urbana.
40_ Vivências urbanas ao calçada. 2018. Autor
Embora o sucesso diurno se faça referência de vitalidade, nível
da
41_ Centro como local de transitar. 2018. Autor 42_ Transeunte em meio ao vazio noturno. 2018. Autor
o esvaziamento noturno deixa a vitalidade restrita a pontos bem específicos de comércios de funcionamento noturno, na sua maioria gastronômicos. Sendo articulador urbano, o centro mantém seu caráter de transição, se tornando local de passagem, sem convites urbanos ao permanecer.
139
140
O comércio como contribuinte à atração de pessoas pode ser melhor presenciado aos domingos, que revelam um tipo de urbanidade envolta numa tradição do comércio nas ruas: a feira livre. Se estendendo por mais de 200m, barracas com múltiplas variedades se deleitam sobre uma das principais avenidas da cidade, e trazendo consigo centenas de pessoas. O sucesso da feira transborda a vivacidade urbana ao seu redor. Os comércios situados nos edifícios defronte a feira se abrem, as duas praças ganham uso. A oportunidade ainda é aproveitada para realização de eventos como os de música ao vivo na praça. Embora haja um palco e 43_ Feira livre aos domingos reúne variedade de produtos além de
escadaria que serve como arquibancada, as estruturas para realização de tais eventos são efêmeras ao ambiente.
tornar ponto de encontro. 2018. Autor
Novamente se voltando a Gehl (2015, p.63-65), “por si só, a
44_ Vista da feira livre por uma cota mais alta da avenida Regente Feijó ao lado da Praça da Matriz. 2017. Autor 45_ Realização do programa “manhã sertaneja” que ocorre todo primeiro domingo do mês na Praça dos Pioneiros. 2017. Autor
pena [...] as pessoas vão aonde o povo está”. A verificação
presença de outras pessoas sinaliza quais lugares valem a desse ciclo demonstra mais uma vez a importância de reforçar a vida urbana através de espaços para que ela aconteça.
141
142
Transitar no centro também é transitar pela história. Os numerosos edifícios dito antigos revelam lições de arquitetura e história, resgatando um pouco do passado rico de memória dos citadinos. Exemplares da arquitetura art deco, neo-colonial, neo-gótico e moderno podem ser vistos e contrastados numa mesma rua. Não ficando restrita ao centro, o caminhar pela cidade ajuda revelar a história e compreender a sociedade que ali se insere e constatar as a mescla social do ponto de vista econômico, mas também de tradição e de produção 46_ Grande parte dos edifícios ocalizados defronte área de estudo na avenida Regente Feijó preservam características Art Deco. 2017. Autor 47_ Ao longo do centro as fachadas Deco são predominantes. 2017. Autor 48_ Contrastes entre novos edifícios e antigos são cada vez mais comum, como no caso do barracão comercial ao lado do prédio do correio que conserva caracteristicas modernistas. 2017. Autor
arquitetônica. Discrepâncias sociais coincidentes com os mapas. “As cidades reproduzem edilicamente sua história; inscrevem no território a condição humana de seus habitantes; narram espacialmente a realidade social que contém” (GIROTO, 2010, s/p). A história, entretanto, é mutável, assim como a cidade, esta que passa a refletir suas transformações, algumas severas como as lojas que preservam as características deco banhadas de cores e complementadas por toldos e marquises, já outras, desvinculam do passado e dão lugar ao novo. A cidade está viva, o centro está vivo, transformandose dia após dia. Embora a consideração do patrimônio
143
144
seja negligenciada muitas vezes como muito debatido no trabalho, a mescla e heterogeneidade de edifícios como defendido por Jacobs (2011) e Alomá (2013) também é fundamental para a sensação de segurança e consequentemente à vivacidade urbana. Ainda assim, a consideração de quais edifícios oferecem importância histórica e arquitetônica se faz fundamental e estabelecer uma rede de preservação. “Elas deveriam ser tratadas não como objetos isolados, alvos de substituições pontuais segundo interesses difusos, mas como a continuação da paisagem geográfica, seus elementos constitutivos. A cidade não é a somatória de individualidades” (GIROTO, 2010, s/p). O melhor ponto a se notar a mutabilidade da cidade no 49_ Edifício demolido na avenida Brigadeiro Tobias. 2018. Autor 50_ Edifício em processo de demolição na avenida Brigadeiro Tobias. 2018. Autor 51_ Um dos pouco edifícios exclusivamente residenciais localizado na avenida José Bonifácio também fora totalmente demolido. 2018. Autor
centro de Regente Feijó está nas quadras que abrangem a antiga esplanada. Em menos de cinco anos, a paisagem se alterou de forma drástica. Embora a remoção dos trailers beneficiasse a paisagem urbana, proporcionaram um esvaziamento de duas praças, aliado com a demolição dos edifícios primórdios na quadra entre eles, exaltou-se a solidão espacial agora apenas viva na memória de quem presenciou.
145
146
Mas estaria essa área morta? Como poderia um espaço no qual numerosos transeuntes circundam e transpassam ser abandonada e vazia? A questão da presença de pessoas na verdade constitui duas vertentes, em uma se tem a circular, já outra a construção de lugares. Os locais de apenas passagem são aqueles que Sennett (1988) veio chamar de “mortos”. No entanto, embora o vazio seja público por excelência, a materialização do espaço público e do lugar ocorre apenas com a sociabilidade, os cruzamentos e encontros, o parar e vivenciar o espaço (LEITE, 2002; PONTES, 2006). De fato, o fluxo de pessoas durante o dia é frequente, porém o parar no espaço público para socializar 52_ Vista da estação ferroviária para quadra na qual localizavam as antigas casas dos operários demolidas em 2017. 2018. Autor 53_ Quiosque é um dos pontos de encontro mais frequentados, principalmente por idosos, porém apenas durante o dia. 2018. Autor 54_ Ao longo de toda a área existem 4 transposições pedonais ao nível da ferrovia as quais se revelam rápido local de passagem. 2018. Autor
fica restrito a pontos específicos como o banco do supermercado, as mesas de dominó das praças da matriz e o quiosque próximo à rodoviária, fazendo desses dignos lugares. O espaço é transitado, porém, não vivenciado. Embora a fator humano esteja presente junto aos atributos espaciais fisicamente
presentes
envoltos
num
determinado
ambiente, os pontos de comércio, mercado, rodoviária, hotel e os demais espaços de rápida circulação não são capazes de constituir lugares (AUGÉ, 1994).
147
148
55_ O banco junto ao mercado é uma das melhores analogias para o esvaziamento central e da área em horários não comerciais. 2018. Autor
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150
56_ Embora atrelado ao mercado, a falta de mobiliários de qualidade nos espaços próximos tal como a repulsa que esses espaços geram, o banco caracteriza omo gentileza urbana que colabora para fazer daquele espaço da calçada um lugar. 2018. Autor
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152
A desvinculação dos fluxos e vivencias fora dos espaços públicos faz com que esses não se materializam, dando espaço à proliferação de não-lugares. Mas o que proporcionaria sua vivência? Embora as pessoas transitem por tais espaços, são raros os que se arriscam a ficar. Entender o não uso desses espaços instiga, num primeiro instante, identificar a que estaria ligado as atuais situações de uso e o que dificultam tal, e posteriormente, procurar saber quais espaços 57_ Ocupações gastronômicas efêmeras e itinerantes quando presentes garantem considerável contribuição ao espaço público na qual se instala. 2018. Autor 58_ Dispor cadeiras junto ao caminhar embora demonstre inicialmente uma barreira, mas o que poderia ser um simples comércio enclausura, cria um contato com as pessoas e uma extensão ao espaço público. 2018. Autor 59_ Cenas como de crianças brincando a noite geralmente estão ligadas a fatores que incrementaram uso da área. 2018. Autor
semelhantes abrigam uso. Como já referido algumas vezes, outrora as duas praças inseridas na área abordada continham razoável uso que se davam como uma extensão do convívio para quem frequentava as lanchonetes. Embora ainda existam estabelecimentos semelhantes adjacentes à área, esta parece não receber mais esse público, principalmente no período noturno durante a atividade desses comércios. No entanto, como notado em momentos ao longo da análise, propostas efêmeras de ocupação ligada a gastronomia se mostram conseguir atrair pessoas e consigo uso. Demais ocupações efêmeras também demonstrar ter o
153
154
mesmo efeito das ligadas à alimentação. Embora sejam raros os dias as quais possam ser presenciadas, ao longo do trabalho pode se observar três distintas cujo fomentou a maior presença de pessoas na área, principalmente por crianças: cabine foto instalada na praça dos pioneiros, trem iluminado com funcionários caracterizados de super-heróis que conduzia curtos passeios pela cidade 60_ Os espaços adjascentes ao ginásio de esportes são comumente procurados para instalação de circos e parques, o que criam atrativos temporários para tais áreas segregadas. 2018. Autor 61_ Demais atividades efêmeras contribuem para atrair pessoas até as praças, na imagem, uma cabine de inserção 6D chamou a atenção e crianças, as quais utilizavam a praça como espaço de espera. 2018. Autor 62_ Eventos no ginásio de esporte sempre levam um grande número de pessoas, porém para muitos, a extensão dessa vivência aos espaços públicos geralmente se resumem ao trajeto entre o edifício e o local no qual o veículo está estacionado. 2018. Autor
e um parque. Além
das
ocupações
particulares
provisórias
do
espaço público, uma outra condicionante de atividades demonstrou influenciar na quantidade de pessoas presente nas praças, no caso, os eventos que ocorrem principalmente no ginásio de esporte inserido dentro da área. Este equipamento urbano se caracteriza como uma das maiores áreas cobertas que podem receber pessoas, aliado a boa localização central, é responsável por abrigar distintos eventos que vão de celebrações religiosas, quermesses, atividades escolares, exposições, atos de civismo e é claro, eventos esportivos, que rompem a escala de centro e abrangem cidade como um todo. O resultado se concretiza fisicamente pelas dezenas de veículos estacionados ao longo da área central nas avenidas Regente Feijó e Vicente Perini. Embora a premissa de existência de pessoas nos assestam a ideia
155
156
de um posterior uso dos espaços públicos adjacentes ao ginásio, a realidade observada contém o uso apenas próximo ao local polarizador da área, fazendo dos demais espaços, novamente, meros locais de passagem. “O que importa não são os números, multidões ou o tamanho da cidade, e sim a sensação de que o espaço da cidade é convidativo e popular; isso cria um espaço com significado”. A afirmação de Gehl (2015, p.63) talvez seja a que melhor ajuda compreender a problemática da qual estamos diante, um espaço público, transitado, de valor histórico, mas que não consegue se tornar um lugar. Gehl (2015, p.22) ainda dá premissas de como atingir o status de sucesso urbano, para o autor “se a vida na cidade é reforçada, criam-se as pré-condições para fortalecer todas as formas de atividade social no espaço urbano”. Hertzberger (1999) também salienta que é importante destacar a natureza pública e romper as barreiras que condicionam a aceitação das pessoas. É preciso dar aos espaços uma forma na qual a comunidade se sinta 63_ Utilização de calçadas no lado oposto da existência de praças. 2018. Autor
responsável por tal, incentivando a contribuição de cada indivíduo na construção da identidade do ambiente, tornando essas áreas o mais atraente possível.
157
158
afecções e barreiras
Se o espaço não é usado, ele está criando barreiras que repelem sua ocupação. Enquanto discutimos os fatores que conferem vida à área, cabe aqui também indagar-se quanto aos fatores reversos, ou seja, as afecções e barreiras impostas contra permanências. O
caminhar
pelo
espaço
nos
revelam
variadas
barreiras de diferentes naturezas. Embora a área seja um espaço transitivo, sua fluidez e interligação acaba se constituindo em pontos específicos e ainda estabelecendo tipos de relação transitar-edifício no qual alguns elementos, ora combinados, contribuem para acentuar ou atenuar a sensação de impedimento. Consideraremos
quatro
categorias
de
barreiras
encontradas: ▪▪
Elementos edilícios: quando a edificação é
responsável
por
dar
a
sensação
de
impedimento ao outro lado do recinto ou que de fato cria uma segregação entre ambos; ▪▪
Elementos
não-edilícios:
construções
de
menor porte que não caracterizam abrigo; 64_ Diagrama dos elementos-barreira. Autor
▪▪
Elementos naturais: atuando mais como um complementar aos dois anteriores, quando
159
160
65_ Identificação barreira. Autor
dos
elementos-
161
162
elementos
naturais
criam
barreiras
ou
contribuem para aumentar essa sensação, seja
pelo
terreno
(topografia,
taludes,
desníveis) ou vegetais (árvores de copa baixa, arbustos, etc); ▪▪
Elementos ambientais: dado por grandes contrastes, partes não interligadas, falta de
iluminação,
desagrado
sensorial
(má
aparência, odor, altos ruídos, etc). Na primeira categoria de bloqueios, pode-se notar a quebra espacial em 3 pontos: o conjunto de barracões, a estação ferroviária e o ginásio de esportes, sendo os dois primeiros no sentido centro-bairro e o ultimo 66_ Topografia e edifícios combinados
restrito à área de análise. Se por um lado sua presença
criam um tipo de barreira à área. 2018. Autor
barracões conseguem estabelecer uma relação de
67_ Recintos criados no meio do edifício criam relação com o antes e depois. 2018. Autor 68_ Posuindo aberturas alinhadas, quando ambas as portas abertas, o edifício se torna permeável. 2018. Autor
física constitui uma barreira, ambos a estação e os continuidade espacial por suas aberturas penetráveis que possibilita o observador vivenciar o outro lado. Combinados
a
essa
barreira,
outros
tipos
de
construções e a topografia ajudam a exaltar a segregação espacial das áreas. No caso da estação, a quebra espacial se alonga pelos muro e grades paralelos a ferrovia, limitando poucos espaços de passagem. A partir do momento que extrapola essa
163
164
barreira, a topografia se define como o contrapasso final distingue ambas as áreas. Semelhante a esta configuração, o ginásio esportes combinado a um talude formam uma barreira no sentido centro-bairro paralelo à ferrovia. Além da combinação do edifício-barreira e topografia, o eixo de circulação perpendicular à ferrovia apresenta ainda muros e grades na maior parte de sua extensão, estes ainda combinados com árvores baixas e arbustos criam o impedimento físico e à paisagem. Paralelo à estação, a Praça dos Pioneiros demonstra um comportamento interessante entre seus setores divididos pelo palco ao centro, este que infere nas zonas usadas da praça que são aquelas próximas à avenida Clemente Pereira defronte ao ginásio e no 69_ Muros e vegetação combinados criam uma pausa espacial. 2018. Autor 70_ O impedimento espacial entre praças se dá pela quadra vazia entre ambas. 2018. Autor 71_ O palco da Praça dos Pioneiros pode ser um dos fatores a segregar a própria praça. 2018. Autor
perímetro fronte avenida Regente Feijó. Uma das barreiras mais evidentes no âmbito espacial da área cujo leva a essência da antiga esplanada se deve a quadra na qual os edifícios históricos de moradia dos operários da EFS e o antigo mercadão deram lugar a um vazio, caracterizando um grande contraste
e
descontinuidade
no
ritmo
espacial,
criando desconexão entre as duas praças e dada
165
166
ao permanecer dos carros, estes que só se fazem presentes durante o dia. A última observação encontrada se deve ao campo sensorial e psicológico, talvez uma das mais marcantes para o ocupar da área. Embora cada um dos elementos gere certo sentimento de repulsa para o explorar, ver além ou permanecer, as afeições sensoriais podem ser a confirmação final. No caso da área, podemos notar situações de abandono, vandalismo e falta de iluminação em alguns pontos, principalmente atrás dos galpões e ao longo da ferrovia, além de material de construção acumulado na praça ou todas suas características de depredada.
72_ Durante o dia, um dos barracões demonstra-se em estado de depredação e vandalismo. 2018. Autor 73_ Já a noite, a escuridão impede a permeabilidade visual ao longo da ferrovia. 2018. Autor
167
168
74_ Vista da avenida SĂŁo Bento para o barracĂŁo histĂłrico depredado. 2018. Autor
169
170
novos olhares
As observações levantadas nos levam a questionar a
existência
mínima
de
suportes
à
permanência,
combinados as demais barreiras físicas e espaciais são fatores marcantes que contribuem a entender por que o espaço se constitui “morto”, no qual sua vida se restringe à circulação de pessoas e não se eleva a um lugar. A região central possui dois outros espaços públicos expressivos
que
são
as
praças
Nove
de
Julho
(praça da Fonte) e a da Matriz na qual merecem ser confrontados com o objeto de estudo. Em decorrência das transformações e mutabilidade sofrida na área de estudos, a base de análise se resume às praças, sendo num contexto histórico a Praça dos Pioneiros e em sua configuração atual podendo abranger ambas as praças. Semelhanças
e
diferenças
são
notadas
concomitantemente, ao iniciar pela origem de ambas que se deu em datas próximas. Como já comentado anteriormente, a praça da Fonte se estabeleceu como o principal centro de encontro e sociabilização da cidade, embora em momentos ofuscada por outros espaços, hoje ainda expressa sua soberania como notado nas análises 75_ Praça Nove de Julho luminosa). 2018. Autor 76_ Praça da Matriz. 2018. Autor
(Fonte
de fluxo central na seção anterior. Já a praça da matriz apresenta significação histórica, esta que muito e liga à presença da instituição religiosa
171
172
instalada que estabelece relação com parte do uso. Tradicionalmente é a praça que demarcou alguns territórios e lugares, como por exemplo as mesas de dama e domino abaixo da copa das árvores. Como em ambas as praças, durante o dia capta parte dos transeuntes centrais, já durante a noite sofre esvaziamento, exceto em dias de cultos ou datas religiosas, na qual milhares de pessoas ocupam praça e arredores. A relação com a religiosidade infere até mesmo no comportamento da sociedade em relação à praça, que mesmo não havendo a mesma quantidade de residentes ao seu redor, demonstram zelo pelo local. Até o momento de realização deste trabalho, a praça juntamente com a igreja sofre reformas, o que não garante bases sólidas para os usos atuais. 77_ Praça da Matriz - mesa de jogos de dominó. 2018. Autor
Essa relação com a população é um fator também presente na praça da Fonte, havendo residentes em
78_ Praça da Matriz - apropriação de muretas. 2018. Autor
todas as faces que a delimitam, estes que também de
79_ Praça da Fonte - momentos de lazer. 2018. Autor
com a segurança e usos perturbadores. Esta é uma das
80_ Praça da Matriz - momentos de apreciação. 2018. Autor
certa forma tomam zelo pela praça ao direcionar os “olhos para rua” e verificar seus usos, contribuindo diferenças mais marcantes entre as praças com a área de estudo. Outro fator chave é a permeabilidade e fluidez espacial, além da menor existência de barreiras, essas geralmente dadas à topografia resolvidas com escadas
173
praça nove de julho (fonte luminosa) usos: passagem permanência encontro componente presentes: mobiliário em bom estado wifi arborização muretas escadas água banheiro componentes subjetivos: permeabilidade visual tradição vizinhança no entorno
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praça da matriz
usos: passagem permanência componente presentes: mobiliário em bom estado arborização mesas muretas escadas componentes subjetivos: tradição zelo pela comunidade católica vinculação à instituição religiosa permeabilidade visual
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ou rampas. Se internamente se demonstram permeáveis, cabe ressaltar que em sua borda ambas apresentam delimitação em forma de muretas, porém estas acabam sendo utilizadas como bancos e locais de apoio. Embora cada espaço tenha suas particularidades, as análises nos dão base para avaliar alguns aspectos. O primeiro se deve à qualidade ambiental dos ambientes, seja
do
estado
dos
mobiliários
e
equipamentos,
iluminação, as barreiras e fluidez. O segundo ponte se deve à sua dinâmica, a julgar pela praça da Fonte – esta que inegavelmente serve como melhor modelo de exemplificação de um lugar cujo usos vão do simples sentar e apreciar até a busca da socialização com o diferente – o que podemos levantar ao longo de toda a análise fora uma multiplicidade de usos que ocorreram/ ocorrem concomitantemente ao simples deslocar. O ocupar o espaço, desde a realização de rodeios, de esperar o trem ou o ônibus ou de ir uma lanchonete abaixo da copa das árvores, em eventos musicais ou feiras livres, dos galpões de produtos agrícolas à oficinas de costura, da estação de trem ao posto de saúde, de casas e mercado a um vazio que se abre na paisagem; revelam a multifuncionalidade e mutabilidade do espaço. O espaço “morto” na verdade se comporta como um lugar
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em sua essência, e de uma dinâmica singular na cidade. Revelar essa essência caracteriza o desafio aqui presente, que parte não de restaurar sua vida, mas identificar suas manifestações e dar suporte a sua existência e isocronamente considerar o fator da imprevisibilidade como forma de se alterar, adaptar e contribuir com a criação de lugares próprios de seu tempo. A configuração a ser tomada revela então uma relação com funcionalidade e diversa expressa pelo espaço de modo que se faça um amparo à vida. Diante disso deparamos com o conceito de hipertelia, no qual: traz como seu corolário o reverso: a especificidade do arranjo, que lhe permite resolver melhor uma dada tarefa, lhe retira versatilidade em resolver outras tarefas [...] O reverso da dedicação exclusiva é a abertura para outras possibilidades, aquilo que permite uma multiplicidade de ações. À essa possibilidade de desempenhos diversos Herman Hertzberger chama de performance PAZ, 2008, s/p
O autor ainda revela que uma das formas de modificação da hipertelia de um lugar de modo a incrementarlhe outra atividade se dá através do emprego de uma arquitetura temporária. Ao considerar o objeto instalado como artefato e o lugar como configuração, Paz (2008)
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observa que “a configuração do lugar pode favorecer o curso de tais atividades – aumentando sua hipertelia – mas não podem realizá-las per si nem determinar que aconteçam”. O fato do autor constatar isso reforça o fator imprevisibilidade que acomete aos espaços. Compartilhando da visão de eficiência da arquitetura temporária como forma de propiciar uma restauração do espaço, Fontes (2014) define um atributo no qual chama de Amabilidade, que facilita a proximidade, opondo-se ao individualismo comumente presente no convívio urbano: O espaço público submetido a uma intervenção temporária revela uma qualidade urbana específica que denomino como amabilidade. Trata-se de um atributo espacial que se manifesta através de conexões e interações entre pessoas e espaço, opondo-se ao individualismo que por muitas vezes caracteriza as formas de convívio coletivo contemporâneo [...] A amabilidade, portanto, é uma qualidade física e social ao mesmo tempo: poderia considerá-la como resultado da soma do contexto físico [espaço potencialmente atraente] com o contexto social [pessoas], que se unem através da presença da intervenção temporária FONTES, 2014, p. 69-73 81_ Diagrama de Amabilidade. Fontes (2014)
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A amabilidade seria um atributo complementar à hipertelia, onde ambos representam uma resposta positiva à vivacidade de um local condicionado à determinado contexto físico ou configuração e submetidos à uma intervenção ou inserção de um artefato. A diferenciação dos termos se dá ao considerar a relação entre objeto físico com a objeto social presente, enquanto hipertelia é a revelação de possibilidades permitidas pela presença de pessoas atraídas, a amabilidade é um fator de aproximação de pessoas não só com o objeto mas entre si, “ao mesmo tempo em que a intervenção interage com as pessoas, faz também com que estas interajam entre si, aproximando-as” (FonteS, 2014, p.74). Ambos os conceitos apresentados são interessantes ao pensar intervenções no espaço urbano. Embora a efemeridade tratada, as intervenções “podem ser de impacto duradouro, pois é o poder da experiência, mais que sua duração, o importante para que se meça seu efeito na cidade” (FonteS, 2014, p. 95). Embora as extensivas observações e inquietações levantadas
dentro
da
preocupação
da
vivacidade
e vitalidade urbana intrínseca num contexto muito específico e de profunda significação para a cidade, em meio a barreiras negativas e potenciais fatores ao desuso, o que pode-se constatar até então é uma multiplicidade
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de ocupações da área que conduzem a uma visão não só do caráter de usos efêmeros mas também da imprevisibilidade da vida. Se as investigações anteriores contribuíram para levantar uma ideia do contexto da área tratada, cabe a seguir buscar projetos que contribuam para direcionar uma visão quanto aos métodos de intervir, ou seja, construir repertórios a partir de contextos que se assemelhem ou representem ideais para uma valorização da vida e dos espaços públicos.
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repertório
Levantado na seção anterior, o uso de estruturas efêmeras são um contribuinte para restaurar a vivacidade da área assim como despertar suas possibilidades indeterminadas. Mas o que seriam essas intervenções efêmeras e como elas se relacionaram com a área de intervenção? Não estabelecendo origens sólidas, seu surgimento confunde desde o surgimento das ocas e tendas nômades de povos da antiguidade, na qual buscavam soluções não convencionais de fácil montagem. Seu apogeu, no entanto, se deu junto às grandes feiras universais do século XIX e XX, cujo no resplandecer de novas tecnologias, grandes edificações se ergueram explorando materialidades. (ALONSO, 2017) Carentes de discursos que conciliassem arquitetura e necessidades dos usuários, a pós-modernidade revelou pensamentos críticos e incorporou nas discussões os 83_ Palácio de Cristal de John Paxton, realizado para a Grande Exposição de 1851 durou por 84 anos. Repositório Ulusiada 82_ Instant city do Archigram propunha uma arquitetura móvel coberta por uma lona hasteada por balões cujo interior localizava uma estrutura para eventos que pudesse deslocar para fora das metrópoles. ArchiNed
conceitos de flexibilidade e adaptação. Nesse contexto se destaca o grupo inglês Archigram, cujo projetos utópicos discutiram, entre outras coisas, as possibilidades futuras de morar com habitações móveis, transportáveis e não fixas a um lugar. (PAZ, 2008) Mas o que caracterizaria uma arquitetura efêmera? Para Paz (2008, s/p), “a grosso modo, toda construção é efêmera. Inútil é precisar o período de duração de algo para qualificálo como temporário ou não. Entendemos que quanto menor o tempo de estadia de uma construção no espaço, maior a sensação de sua efemeridade”.
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O autor alonga o caráter de efêmero a qualquer tipo de construção, no qual sua efemeridade se liga aos métodos de como ela deixa de pertencer ao lugar: Um objeto arquitetônico está temporariamente em um lugar quando ele é destruído pelo homem, quando ele se destrói por processos naturais ou quando ele é retirado do local. Então, para a configuração ser transitória, ou o objeto é provisório em sua própria constituição (para além de sua mera situação) ou ele é nômade. PAZ, 2008, s/p.
Devemos considerar ainda a materialidade empregada a essas construções, este que não necessariamente é capaz de determinar o tempo de permanência de um artefato. De um lado se tem grandes pavilhões em feiras construído dentro de um método rígido que poderia abrigar uso por diversos anos, porém fora pensado numa lógica desmontável; e de outro vastas habitações precárias em métodos provisórios presenciadas em diversas partes do mundo, dessa forma, Paz (2008, s/p) expõe que o “critério não é a gênese da peça, 84_ Grandiosidade efêmera: Pavilhão da humanidade - Carla Juaçaba e Bia Lessa. Leonardo Finotti 85_ Precariedade duradoura: Fernando Stankus
mas a maneira como ele se constitui em algo temporário no lugar”. O entendimento que temos é de que o uso temporário é de duração limitada, mas não necessariamente curto, porém,
favela.
dentro da lógica construtiva e racionalista ao qual exige ser pensado em prol do dinamismo e mobilidade, tanto do objeto quanto para sua influência sobre lugar, permite que
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uma gama de possibilidades seja testada e consigo criando uma relação múltipla desde o objeto com o espaço até as relações entre pessoas. A construção de ambientes efêmeros se dá em diferentes escalas podendo até mesmo inserir elementos não-arquitetônicos, mas que abrigam em si atividades humanas. Sua 86_ Intervenção park(ing) day do grupo Transformatiori utilizou de peças desmontáveis (andaime) para criar um espaço de lazer num estacionamento . Transformatiori 87_ Pavilhão street cinema de Omri Revezs propôs um contato a nível da rua com uma estrutura articulável e compactável para projeção de filmes durante 74° Festival de Cinema de Veneza/It, realizado para a Grande Exposição de 1851 durou por 84 anos. Omri Revezs 88_ Vagón del Saber do Al Borde Arquitectos propõe uma estrutura multifuncional dentro de um vagão de trem que pode ser transportado integralmente. Cyrill Nottelet
configuração
apresenta
pisos,
semi-fechamentos,
coberturas e criação de recintos abertos ou fechados. (PAZ, 2008) Tratar do efêmero liga-se à mobilidade que um objeto oferece. Embora sua lógica de construção se faça desmontável, sua capacidade de ser móvel está condiciona aos meios de como o objeto pode ser retirado do lugar. Nesse sentido, Paz (2008) define três táticas: ▪▪
Partição - faz a divisão do objeto em peças menores;
▪▪
Compactação – reduz o objeto à uma configuração mais compacta;
▪▪
Solidez - o objeto mante-se como peça inteiriça.
As discussões apresentadas servem como base para as análises a seguir de três obras em três escalas: cenografia urbana, objeto sólido e objeto dinâmico.
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A primeira escala a abordar se deve à urbana. Ao falar de intervenções efêmeras nos esbarramos constantemente com as expressões artísticas. Nessa visão que encontramos a cenografia. Embora tratada dentro do teatro, a cenografia expressa um ideal metaforicamente ligado à cidade, conforme Monteiro (2015, p.66) “o teatro é matéria em constante mutação, é uma estrutura estética e social onde várias pessoas podem participar [...]. Deste modo, o teatro assemelha-se ao processo urbano, demonstrando as estruturas sociais e de poder”. Argan (1993) expressa que a arte é um fato histórico intrinsecamente vinculado à compreensão da cidade. Nesse aspecto, Monteiro mostra a importância de entender os aspectos sociais da arquitetura bem como a contribuição da cenografia para a criação de um imaginário essencial à vida humana. a cenografia, tal como a Arquitectura, opera no domínio do simbólico e a cidade é, não mais do que, um vigoroso e complexo palco onde inúmeros actores se reúnem, munidos de diferentes olhares, perspectivas e culturas a fim de questionar a definição do que é a própria realidade. MONTEIRO, 2015, p.66
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cenografia urbana
Antes da analogia do campo simbólico, vale ressaltar que o maior elo entre arquitetura e cenografia se deve ao espaço, tema no qual ambos trabalham, só a partir de então oferecendo suporte à suas instalações que buscam expressar um ideal simbólico ou imaginário. “A Cenografia é a expressão visual do teatro, podemos considerar que é uma linguagem não-verbal que tem a capacidade de comunicar através de um discurso dialéctico espacial. É o espaço físico mutável em que se desenrola a representação do texto dramático” (MONTEIRO, 2015, p.66). É dentro do espaço mutável e efêmero que se insere sua materialização, espaço esse melhor compreendido como a atual cidade contemporânea. Uma boa demonstração de intervenção cenográfica que compreenda a relação do usuário com o lugar pode ser percebida através da obra the gates de Christo e JeanneClaude na qual se instalou de centenas de pórticos junto aos caminhos do Central Park em Nova York. A intervenção estruturada em pórticos e tecidos alaranjados criou-se um contraste, primeiramente com a paisagem vegetal do parque, além de estimular o usuário a explorar o espaço e os caminhos muitas vezes tomados como uma tarefa monótona e automática. (BRAVO, 2018) Ao descrever sobre a instalação, Christo e Jeanne-Claude demonstram a importância da característica efêmera da
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obra, na qual o valor vem em decorrência da valorização que esta ganha pelo tempo de permanência no espaço: A qualidade temporária dos projetos é uma decisão estética. Nossas obras são temporárias para dotar as obras de arte com um sentimento de urgência para serem vistas, e o amor e ternura trazidos pelo fato de que não durarão. Esses sentimentos são geralmente reservados para outras coisas temporárias, como a infância e a nossa própria vida. Estes são valorizados porque sabemos que não durarão. Queremos oferecer este sentimento de amor e ternura às nossas obras, como um valor acrescentado (dimensão) e como uma qualidade estética adicional. CHRISTO e BRAVO, 2018
Embora
diversas
JEANNE-CLAUDE
manifestações
artísticas
apud
efêmeras
possam nos dar base quanto a relação espaço-usuário na qual faça uma contribuição não só de percepção, mas de apropriação, este trabalho procura estabelecer vínculos com referenciais arquitetônicos e urbanos que apresentem modos de resolução de problemas em contextos ou ideais que possam ser observados na área de estudo. A primeira obra de análise se deve a uma intervenção de requalificação numa escala urbana que gerou um parque, 89_ Instalação “the gates”. 2005. Christo e Jeanne Claude
embora a proposta não demonstre curta temporalidade, elementos marcados na paisagem criam uma aproximação com intervenção cenográfica urbana.
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Parque Ribeiro do Matadouro | Oh!Land Studio Dentro de um contexto urbano e um espaço cheio de possibilidades, o parque Ribeiro do Matadouro trouxe à cidade a materialização de um lugar, de passagem, encontro, convívio e contemplação, respondendo as problemáticas e especificidades intrínsecas, que fora possibilitado pela leitura da área. Envolto no centro urbano da cidade portuguesa de Santo Tirso, o projeto faz parte do plano denominado “Inventar a Cidade” promovido pela administração municipal cujo buscou-se estratégias para o desenvolvimento da cidade, e concomitantemente para a regeneração de uma área urbana. (DELAQUA, 2015) Para
o
entendimento
do
projeto,
pode-se
levantar
duas escalas de abrangências, e com isso, os fatores e especificidades cujo condicionaram a tomada de decisões do projeto. A compreensão da morfologia da cidade deleita diretrizes quanto a espacialidade da área e sua funcionalidade. Fundada no século XIX, Santo Tirso apresenta um traçado com características medievais não geométricas. Em meio à 90_ Parque Ribeiro do Matadouro. Victor Esteves
malha constituída, uma grande gleba se contrasta criando um cinturão verde que circunda o centro. É dentro deste
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URBANO/ CENTRO
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RURAL/ BAIRRO
espaço verde que o projeto se constitui, ocupando parte dos terrenos que integram a antiga “Quinta do Tapado”, uma unidade agrícola encaixada num vale denominado “do Matadouro” juntamente com a área pertencente a um mosteiro e outro vale, do Rio Ave. Todas as redes de vazios, no entanto, fazem adjacência à área central e a maior parte do núcleo urbano que se constitui ao oeste. Nesse cenário, a área ocupa um papel que transpassa ao vazio rural, mas passa a ser entendida como articulação do centro, como possível área de expansão ou de transição entre as duas zonas urbanas, além de ser um limitador espacial entendidos pelos obstáculos topográficos do terreno, pelo canal aquático que corre o fundo do vale e também pela composição da paisagem vegetal contrapondo a paisagem da zona urbana vizinha à área transições divisão centro x bairro
O entendimento desse princípio urbano levou ainda buscar
área de implantação do parque
compreender as dinâmicas das áreas. Ocupando cerca de 15.400m2 no centro da cidade, o local visto como um “não-
300m
N
lugar” se mostra uma pausa no ritmo do contexto urbano, passível de se tornar um espaço de transição entre centro e bairro, aliado a estrutura ecológica presente e a falta de locais de convívio no centro, o espaço se mostrou viável a
91_ Parque Ribeiro do Matadouro. situação urbana. Google Earth adaptado pelo autor.
ser destinado ao uso da população, sendo uma extensão central de lazer cujo em seu entorno se estrutura pelos equipamentos culturais e esportivos da cidade.
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tipologia territorial
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fluxo de pessoas
ritmo dos fluxos
A resposta ao cenário enfrentado consiste em “converter um ‘não-lugar’ num espaço qualificado no contexto social, urbano e natural da cidade” (DALAQUA, 2015, s/p). Essas foram as premissas base do projeto que buscou além da construção de um espaço público democrático de lazer, também utilizar de tal como uma vertente pedagógica e ecológica, criando uma integração à natureza local. O projeto ainda é dividido em quatro componentes estruturantes: Componente viva: dada pela integração à natureza através da água e vegetação. Utilizando da topografia da área, o projeto procurou evidenciar as áreas alagadiças; cidade consolidada
Malha ativa: dado pelos traçados e caminhos, os percursos
área rural/bairro
criados fazem a conectividade do parque assim como
área comercial
uma interpretação dos ritmos. Partindo de uma praça, os
equipamento esportivo
caminhos se dividem entre a ciclovia e um caminho elevado
equipamento cultural
do solo - também como uma resposta ao terreno;
monastério São Bento escola infantil
Esculturas interpretativas: associado ao movimento, uma
área de fusão
série de elementos se elevam do solo num tom azul turquesa,
transição
contrastando com o verde do parque e os tons escuros dos caminhos, dobrando-se como origami, sendo além de contemplativo, abriga a funcionalidade de integração
92_ Parque Ribeiro do Matadouro Condicionantes locais. Oh-land Studio adaptado pelo autor
dos equipamentos do parque, assim como criar zonas de apropriação do espaço; Utilizadores: um dos fatores mais importantes são os usuários
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desse espaço, pois nasce para tal, assim, “esculpem” a forma como o parque é usado, vivenciado e percebido. O projeto é uma resposta a dinâmica da cidade e de seus usuários assim como a compreensão do espaço como intermédio. O recuperar da área não se fez com grandiosidades, apenas respondeu ao lugar de forma sintética. Os caminhos que compreendem o ritmo dos usuários, também se eleva do solo alagadiço e cria uma aproximação com os indivíduos arbóreos ali presentes - estes que são as estrelas do lugar. Os ritmos são contrastados, caminhos retilíneos demonstram pressa, caminhos recortados pausa e apreciação, e junto consigo escultura se levantam na paisagem, sem deixar de respeitar a escala humana, além da beleza, demarcam pontos de apropriação e vivencia, (DELAQUA, 2015). Assim como a área de foco no trabalho, o parque ribeira do matadouro apresenta algumas semelhanças e também serve de base norteadora das decisões de projeto voltadas as especificidades locais, tanto na esfera espacial, de uso, físicas e ambientais quanto tradições, culturas e simbolismos. O projeto demonstra uma resposta a um problema, cujo fora compreendido tendo em consideração ao entendimento do lugar, assim, a localização central, as dinâmicas de fluxo, a falta de espaço de convívio e a vertente ambiental 93_ Parque Ribeiro do Matadouro esquemas em croqui. Autor
condicionaram um projeto de parque, fluido e penetrativo. O partido tomado pela compreensão do espaço transitivo e
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da importância ecológica traçou caminhos elevados do piso. A intencionalidade de criar um lugar deve romper o simples local de passagem, dessa forma, o projeto pontua espaços de ocupações destacados por cor e formas plásticas, criando setores de uso estacionários. Criar zonas de convívio e destaca las no meio inserido além de buscar uma contribuição com a materialização de um lugar também é uma resposta à imprevisibilidade do uso, os equipamentos constituindo como suporte, seja a quem caminha e quer sentar, a quem precisa se alongar, ou aos demais usos de um parque na qual o indivíduo busca alternativas para o seu inserir e ocupar do espaço. No caso de regente, além de uma área urbana pública de transição e ligada a uma rede de atrativos fazendo de tal passiva de uso, há também uma serie de condicionantes que remetem à história, memória e identidade, não só delimitada ao lugar, mas de abrangência à cidade. Embora haja diversas outras especificidades próprias de cada lugar, a relação com a história se faz uma das mais importantes para a intervenção a ser proposta. Dessa forma, os referenciais abordados a seguir buscam criar vínculos com seu contexto histórico, assim como funcionalmente se articulam nesse meio perante a paisagem. 94_ Parque Ribeiro do Matadouro. Victor Esteves
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recipiente desmontável
A segunda escala considerada para o levantamento de referenciais se deve ao objeto inserido num contexto de forma sólida e inteiriça, mas que apresente possibilidade de mobilidade e por isso uma lógica de montagem e desmontagem. A solidez de um objeto aqui entendida se deve a forma com que se insere na paisagem sem demonstrar ser articulável manualmente - embora possibilite ser modificado internamente conforme os programas e necessidades atendidas – porém pensado dentro de uma lógica construtiva que possa ser deslocada ou transferida de local caso seja necessário. Um bom expoente dessa arquitetura desmontável e de contato com a sociedade são os pavilhões de iniciativa da fundação Solomon R. Guggenheim e BMW Group. Os laboratórios móveis e experimentais se inserem em espaços públicos com atividades à toda sociedade. O tema da proposta foi a exploração de como os ambientes urbanos podem ser mais responsivos às necessidades das pessoas e como encontrar um equilíbrio entre o individual e coletivo em meio à satisfação
95_ BMW Guggenheim Lab em Nova York. Guggeinheim 96_ BMW Guggenheim Lab em Berlim. Guggeinheim
da urgente necessidade de responsabilidade socioambiental. (BMWGUGGENHEIMLAB, 2018) As instalações duraram de 2011 a 2014 passando por Nova York, Berlim e Mumbai. O lab se inseriu como um “think tank
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urbana, centro comunitário e espaço público de encontro, o objetivo do laboratório era a exploração de novas ideias, experimentação e, finalmente, a criação de visões e projetos inovadores para a vida da cidade. Através das lentes dos temas Confrontando Conforto, Confecção e Privacidade e Espaço Público, este projeto global explorou como as pessoas se relacionam com as cidades e o espaço público hoje. (BMWGUGGENHEIMLAB, 2018) No caso de Nova York, o projeto veio ocupar um terreno vazio entre construções, em frente uma rua movimentada que divide dois bairros. Assim como os demais, o espaço deveria ser pensado por meio de uma estrutura temporária, leve e itinerante, na qual deveria comportar os programas desenvolvidos que variavam de teatros, oficinas, conferências, exposições, exibição de filmes, debates, performances, experimentos e palestras. 97_ BMW Guggenhein Lab Nova York - espaço multiuso interno. Guggenheim 98_ BMW Guggenhein Lab Nova York - lote antes da construção. Kristopher McKay 99_ BMW Guggenhein Lab Nova York lote depois da construção. BIA-AR
Assim como os demais Lab’s, o partido buscou uma solução modular na qual concebeu um pavilhão leve e compacto com planta totalmente livre e flexível no térreo, no qual o pé direito duplo consegue comportar as instalações complementares ao uso, como móveis, telas, iluminação e os cenários, sendo fornecidos de acordo com as atividades desenvolvidas no térreo. (BIA-AR, 2014)
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Não é tanto a sua estrutura de fibra de carbono pequena e leve que define esse espaço, mas sim o ritmo dos programas em curso e do comportamento humano, que é o que determina que um espaço público difere muito dos outros. BIA-AR, 2014, s/p, tradução do autor
A estruturação de tal solução se deve à solução estrutural adotado, um sistema leve metálico possibilita poucos pontos de apoio junto ao solo, facilitando a configuração dos vários programas do Lab. Já a parte superior da estrutura abrigava um sistema de amarração flexível e envolvida por uma malha semitransparente cujo jogo de cheio e vazios exalta ainda mais a leveza do edifício (BMWGUGGENHEIMLAB, 2018). Estação Ciência | UNA Dentro de uma linguagem industrial e montável e inserida num contexto urbano com significação histórica, a café estação ciência é uma maneira de estender o programa de um conjunto arquitetônico de patrimônio histórico de forma leve e contrastante com a paisagem. Situado no bairro da Lapa, em São Paulo, o edifício se insere junto a antiga ferrovia e um conjunto de dois galpões quase paralelos, no qual em um abriga um importante centro de 100_ Estação Ciência - UNA arquitetos. Bebete Viégas
difusão científica, além de situar-se num contexto urbano movimentado próximo ao mercado municipal e terminais de ônibus e trem.
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O edifício se insere no pátio arborizado formado entre os dois galpões, lindeiro à passarela de 140m a qual antes abrigava a rotina de embarque e desembarque de mercadorias do trem. “A qualidade desta paisagem interna definiu o partido de uma nova construção leve, cujo volume respeitasse, e ao mesmo tempo, buscasse destacar a delicadeza do local” (MARQUEZ, 2012, s/p). Numa lógica construtiva limpa e racional, o volume se insere no lugar interferindo o menos possível na paisagem. A caixa de 17 metros de comprimento por 3,40 metros de largura e 2,40 de altura usa apenas dois pontos de apoio da qual se ergue uma estrutura metálica formando um conjunto totalmente independente às pré-existências, apoiando uma viga central na cobertura que sustenta outra viga de piso. Internamente, a configuração espacial se faz também simples, adaptada para atender o programa ao qual se destina, com um balcão linear e áreas de convívio nos extremos. 101_ Estação Ciência - planta. UNA
Embora as duas obras tiveram seu uso manejado de forma diferente, a discussão se deve a materialização e lógica
102_ Estação Ciência - corte longitudinal. UNA
construtiva. Paz (2008) relaciona o pensamento de montagem
103_ Estação Ciência - croqui de inserção urbana. Autor
necessariamente precisa de desfazer.
com a sua desmaterialização, ou seja, desmontagem, ainda demonstra que embora o objeto pensado nessa lógica, não
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104_ Estação Ciência - corte esquemático. Autor 105_ Estação Ciência - permeabilidade visual no contexto histórico. Bebete Viégas
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106_ Estação Ciência - corte esquema construtivo. Autor 107_ Estação Ciência - perspectiva esquema construtivo. Autor
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viga superior estruturação do teto perfis metálicos
estrutura central
vedação com paineis de vidro + brise tipo persiana metálica
vigamento transversal viga inferior bloco de fundação eleva o volume do terreno
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O metal na estrutura e o vidro na vedação de uma construção se fazem por procedimentos de montagem, mas o resultado não será obrigatoriamente algo pensado para desmontar [...] as peças recorrerão a junções não-solidárias, que não amalgamam a matéria nem deformam as peças. Assim, o estado de solidez não é dado por alteração das propriedades dos componentes iniciais, formando uma nova matéria. PAZ, 2008, s/p
O pensar na [des]montagem leva também a entender a lógica da [re]montagem, na qual condiciona a integralidade das peças a serem levantadas até outro lugar: o processo de junção pode danificar os elementos, ou alterar sua conformação de modo que inviabilize seu emprego novamente. Esta distinção é importante, porque há uma gama de construtos não-solidários que implicam em danos nas peças: é a diferença entre o parafuso e o prego PAZ, 2008, s/p
Nessa situação se aproxima o Lab, cujo o artefato teve de se desmontar, transportar e remontar em outro local. Embora a lógica empregada em ambas as obras vem em prol de uma arquitetura transitória. “Trata-se de reduzir as partes componentes da arquitetura em questão, para ganhar leveza 108_ Estação Ciência - corte transversal e detalhe construtivos. UNA
e rapidez na montagem, por conta de sua simplicidade” (PAZ, 2008).
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objeto de um ambiente transitório
A última escala na qual tratamos se deve aos ambientes efêmeros. A sua constituição é dada por objetos de portes variados e materialidades distintas, tais como pré-fabricados e painéis industrializados. A concepção do objeto pode ter um caráter unitário (desmontado, compactado ou inteiriço) ou concebido a partir de arranjo momentâneo de um sistema construtivo de fácil montagem. (PAZ, 2008) O caráter de um sistema não rígido e articulável é fundamental por permite a construção de diferentes tipos de recintos, fechados ou abertos, na qual programas diferentes podem locar e combinar entre si. Ao se falar em um sistema combinável, cujo sua concepção racional utiliza de padrões industriais que facilitem a montagem e articulação, nos leva a entender um atributo fundamental a materialização desses objetos: a modulação. Esse princípio geométrico racional consiste na adoção de uma unidade de medida para estabelecer dimensões, proporções que vão ordenar a composição do objeto arquitetônico (BREGATTO, 2005) que além de mero atributo compositivo, estabelece uma relação com os princípios de estandardização da produção industrial e o processo construtivo. Ao utilizar uma malha ou um módulo de forma a ser
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replicado, o pensar arquitetônico se pauta na composição de
espaços
que
respondam
a
uma
determinada
intencionalidade a ser instalada ou abrigada, embora esta esteja condicionada à materialidade aplicada, seja por princípios estruturais, de dimensão comercializada, de exposição à condições ambientais ou intempéries, etc. “criei uma arquitetura translúcida, um terreno que encoraja as pessoas a explorarem o local de diversas maneiras novas. No contexto bucólico de Kensington Gardens, a vegetação viva ao redor da área se mistura com a geometria construída do Pavilhão. Um novo tipo de ambiente foi criado, onde o natural e o artificial se unem” FUGIMOTO apud PORTILLA, 2013, s/p
Um bom exemplo que podemos considerar quanto ao uso de módulos para constituir um objeto arquitetônico no seu princípio funcional e volumétrica é o Pavilhão Serpentine de Sou Fugimoto, o edifício de natureza efêmera se molda a partir de uma grelha modulada em 40x40cm, cujo arestas verticais de 40cm formam uma composição de cubos se erguendo do piso e compondo espaços e numa volumetria orgânica. Dos 357m2 ocupados, 142m2² se abrem num recinto interno, já do lado externo, os módulos compõe espaços de convívio em níveis formando uma espécie de arquibancada. O volume cúbico estruturado somente em suas finas arestas na cor branca proporcionou também a permeabilidade do edifício que cria uma relação direta
109_ Pavilhão Serpentine - Sou Fugimoto. 2012. Daniel Portilla 110_ Módulação do Pavilhão Serpentine 2012. Autor
com o lugar no qual se insere. Ainda dentro do partido da permeabilidade, os demais componentes do pavilhão como assentos e coberturas são de vidro, eliminando a presença de planos opacos.
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Enquanto a materialização do Serpentine Pavilion se dá pela leveza estruturada por uma composição modular combinando volumes de pequenas dimensões, a escala da modulação pode ser definida de acordo com demais condicionantes. Para exemplificação dessa vertente, utilizamos do projeto ComúnUnidad do grupo Estúdio de Arquitectura, cujo partido adotado atua em prol da criação de espaços multifuncionais para reabilitação de um espaço público. Inseridos nos pátios de um conjunto habitacional San Pablo Xaipa na Cidade do México, o projeto buscou a criação de espaços multifuncionais e de convívio da comunidade num ambiente que antes se condicionava em meio a cercamentos, barreiras físicas além de instalações precárias e provisórias que destinados ao lazer infantil e eventos comunitários. O fato que nos cabe atentar aqui se deve a estruturação do objeto numa grelha composta por 12 módulos, onde cada 111_ Común-Unidad - composição modular. Sandra Pereznieto 112_ Común-Unidad - interação com as funcionalidades estabelecidas. Sandra Pereznieto 113_ Común-Unidad - anteparos funcionais de lazer infantil. Sandra Pereznieto
qual pode abrigar uma função específica (no caso para as instalações de lazer infantil), quando mas combinados formam um espaço de convívio polivalente no qual transcende a função de playground, mas constituem um pavilhão aberto e permeável para o diversos usos da comunidade. Para tal configuração, a modulação adotada no projeto reflete a intencionalidade do uso, nesse caso, insere a escala humana dentro de si, e consequentemente sua materialização reflete
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a este fato. No caso o objeto se estrutura em peças de maior dimensionamento em perfis de aço soldado, além de travarse no piso cujo pilares exaltam a grelha utilizada em sua concepção. Embora o objeto demonstre leveza estrutural e fluidez espacial, este constitui caráter unitário e rígido, fixado no terreno e não demonstrando facilidade ou intencionalidade desconstrutiva, porém, justamente o emprego do módulo permite a possibilidade desta configuração expandir ou reduzir. Cabe então verificar referenciais cujo objeto se materialize de forma a contribuir com a mobilidade. Dentro desta lógica que apresentamos nossa última referência, no qual a partir de pequenos volumes pode se construir espaços de funcionalidades diversas manuseáveis pelos próprios usuários ou comunidade que faz sua manutenção. XYZ OPEN CITY | N55 Criado pelo grupo dinamarquês que explora possibilidades criativas para o viver comtemporâneo, o XYZ OPEN CITY é um sistema modular e de baixo custo que foi desenvolvido com a proposta de incrementar funções nos espaços públicos. O projeto não possui instalação fixa em um determinado 114_ Común-Unidad - composição modular. Autor
local, porém se materializa em intervenções temporárias e workshops, além de estar disponível à comunidades de modo a usá-lo na sua gama de possibilidades.
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A ideia é através do módulo formar espaços funcionais concebidos através da combinação de seus blocos de forma dentro de um sistema ortogonal em todas as direções. Ao todo, o coletivo propõe nove espaços funcionais pré-definidos, embora o grupo reconheça as possibilidades não exploradas. As funções pré-definidas que o OPEN CITY pode alcançar são: ▪▪
OPEN HOME – funções básicas do morar (comer, dormir, descansar);
▪▪
OPEN FACTORY – para instalação de pequeno negócio local;
▪▪
OPEN POWER STATION – utilizando de painéis solares inseridos no módulo, fomentar pequena geração de energia;
▪▪
OPEN URBAN GARDENS – construir jardins e hortas urbanas;
▪▪
OPEN BAR – instalação de bares e cafés;
▪▪
OPEN KITCHEN – instalação de cozinha com cooktop, forno e pia;
▪▪
OPEN BAKERY – instalação de padaria;
▪▪
OPEN BRIDGE – estruturação de pontes e espaços de circulação elevados;
115_ XYZ OPEN CITY. N55
▪▪
OPEN THEATER – estado de uso coletivo para
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encontros, palco para músicos, exibição de filmes, etc. As funções propostas direcionam o objeto como meio de construção de um artefato arquitetônico de modo aberto e integrado à cidade, estabelecendo um contato mais próximo com a comunidade na qual se insere. A intencionalidade da proposta revela seu atributo de amabilidade, onde, a partir das intervenções inseridas no espaço público cujo a finalidade excede as funções de um edifício (padaria, pequenos negócios, etc) e até mesmo da moradia, contribui para a criação de uma rede entre indivíduos e objetos, que então, se este for configurado de modo a atuar em prol dos relacionamentos coletivos, exerce uma função social, além de criar lugares em meio aos espaços urbanos. Uma questão importante ao se inserir nos espaços urbanos 116_ XYZ OPEN CITY - módulo multifuncional. N55 117_ XYZ OPEN CITY - módulo de lazer. N55 118_ XYZ OPEN CITY - construção de jardins urbanos. N55 119_ XYZ OPEN CITY - geração de energia no local. N55
se deve a materialidade. Como anteriormente já explorada, o caráter de transitoriedade e mobilidade são características importantes para constituir ambientes efêmeros, embora suas manifestações ocorram de formas variadas. No caso do XYZ, a materialidade considera não apenas sua mobilidade, mas consegue conciliar com durabilidade e manuseio das peças. Para atingir tal feito, os módulos são construídos em alumínio, cujo a relação de resistência, leveza e durabilidade formam a tríade ideal para intervenção em ambientes urbanos. A
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composição do módulo se insere dentro de um volume cúbico de dimensões 1,00x1,00x1,00m, com 6 barras de alumínio perfil tubular retangular de 25x25mm com 2mm de espessura interna. Para conseguir tal eficiência estrutural, o grupo desenvolveu um sistema – no qual é utilizado em outra gama de projetos próprios – denominado XYZ NODES, este que consiste em unir as peças dos cantos uma sobreposta à outra, fazendo a união por parafusos, fazendo dos cantos mais rígidos e flexíveis quando expostos a forças que quebrariam outros métodos de junção. Já a união entre módulos é feita também com parafusos, estes que se inserem nos furos pré-fabricados nas peças ´de cada aresta de alumínio. Após a montagem estrutural, o último procedimento da construção do ambiente é a inserção de planos e acessórios ao qual seu uso se destina. Conforme especificações da equipe de projeto, podemos identificar e dividir em três: vedações, infraestrutura e equipamentos. ▪▪
As vedações se caracteriza pelos fechamentos a ser realizados, compensado 12mm para os opacos e superfícies, e policarbonato 3mm para os
120_ XYZ NODES - detalhe. N55 121_ XYZ NODES - croqui do detalhe. Autor
translúcidos. ▪▪
A infraestrutura se deve principalmente aos painéis solares instalados para alimentação de
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equipamentos e o sistema de iluminação em LED. ▪▪
por fim, os equipamentos se devem aqueles destinados a abrigar determinada função, como por exemplo, pia e cooktop para cozinha, ou redes para um ambiente de descanso.
O XYZ OPEN CITY é o referencial final na reflexão quanto ocupação efêmera e multifuncional de espaços públicos. Mesmo que e constitua a menor escala apresentada, a proposta demonstra a partir de um atributo modular a adaptabilidade que pode exercer, embora por ora os conceitos discutidos rondeiem utopias, o projeto demonstra a possibilidade de entender as funções de dentro do edifício e encará-las a nível do espaço público, aberta a uma rede de pessoas e consequentemente ao convívio público e sociabilidade, esta qualidade que é a maior busca deste trabalho visto os desafios e ameaças dos espaços públicos, mais especificamente neste caso, da área de intervenção junto à antiga esplanada da cidade de Regente Feijó. A essência da proposta harmoniza ainda com questões de ocupação do espaço e paisagem, assim como demonstrado no projeto do café do Estação Ciência, a proposta se distingue do contexto no qual está inserido, neste caso propiciado por uma intervenção cuja composição apresenta natureza geometrizada, facilmente distinguível, não 122_ XYZ OPEN CITY - redes de descando. N55
só aos edifícios de natureza patrimonial e histórica, mas na paisagem dos espaços abertos ao qual se incorpora.
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suporte ato III um módulo como partido
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manifestações da vida
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o artista e o artesão
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a tecnica
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cubo 291 palco 303 apreciar 315 espaço de possibilidades
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um diálogo contínuo
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Quais elementos participam da construção de um Lugar?, seria o último de nossos questionamentos. Um espaço possui seus elementos físicos e estes têm uma relação entre si, mesmo que aleatória. Pensemos em uma paisagem. Eis o cenário: ela está lá, com todos os seus elementos, o céu, a terra, o mar, a vegetação, as montanhas, flores, etc., ou seja, todos os seus elementos físicos relacionados espacialmente. O clima também está presente, o Sol forte, as nuvens, as chuvas, etc., enfim, todos os elementos e fatores climáticos globais e locais. Contudo, este espaço não pode ser definido como um lugar, pois ele não está ocupado, não está habitado pelo homem. O clima e os elementos daquele espaço estão interagindo, porém ele não é um lugar, mas sim apenas um espaço. No momento em que o homem nele é inserido, esta paisagem é transformada em um Lugar. A simples presença do homem modifica e qualifica-a. REIS-ALVES, 2007, s/p
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Nos encontramos aqui no último ato que tange a confecção desse trabalho na busca de encontrar respostas a uma área. Numa breve recapitulação, nos dois atos anteriores divididos dentro de recortes temporais do passado e do atual, pode-se compreender num primeiro momento a representatividade que o espaço tratado oferece à história da cidade; e num segundo momento, as problemáticas presenciadas indagam quanto o destino desse espaço. A citação de Reis-Alves na página anterior simboliza parte dos objetivos desse trabalho: a construção de um lugar. O espaço existe, em meio a ameaças que se constituem mais centrifugas – dadas pelos gestores urbanos – do que por agentes externos. Questionar sobre a vida do espaço e sua ascensão a um “lugar” possibilitou também identificar diversas manifestações de vida na área; pequenas e múltiplas, por vezes frágeis, persistem acontecer em meio a um ambiente composto por barreiras. Mesmo que a não-permanência seja algo que o ambiente demonstre, o espaço possui importantes atributos contribuinte para que existam pessoas passando por tal, a começar pela inserção junto ao centro, provocando ao longo do dia no um intenso ir e vir sobre o espaço urbano, em meio a realização de tarefas e compromissos
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cotidianos, além da presença de equipamentos que condicionem a rotina de parte da população, como terminal de transporte, locais de consumo, centro educacionais, entre outros. As pessoas existem, e essa é a condição essencial ao lugar, cabe então dar condições para que ela se expresse nas suas diversas facetas, ou seja, um suporte de amparo às manifestações da vida. Essa é a primeira consideração para a definição da proposta. Compreender as dinâmicas da área possibilitou também identificar a diversidade de usos que ela apresentou ao longo de sua história, seja aqueles ligados ao comércio itinerante, feiras, trailer gastronômicos, ou aos eventos - escolares, musicais, teatros e apresentações diversas, abertos na praça ou no ginásio, além de instalações de lazer temporárias como parques e circos, a área demonstra uma ampla gama de usos, não premeditadamente definidos, mas que demonstram ser o melhor lugar para acontecer. Assim como um teatro, a cidade se constitui um grande palco, na qual as manifestações da vida encenam e se modificam dia a dia. Aqui cabe identificar outros atributos essenciais a definir o partido: a multifuncionalidade regida pela imprevisibilidade da vida.
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um módulo como partido
Ao reconhecer a cidade como palco onde as diferentes formas de manifestações da vida se materializam, cabe então oferecer um meio no qual possa não só abrigá-las, mas também provocar um sentimento de “despertar” para que ela ocorra. O modo como esse objeto de amparo deve se materializar é a questão a discutir nesse momento. O primeiro fator a definir se deve aos usos. Embora possamos elencar alguns exemplares, esse é o fator mais flexível e até mesmo indeterminado, podendo se alterar, inexistir ou surgir novos em meio ao tempocontínuo, cá então mais uma vez evoca-se o fator da imprevisibilidade. Deparar com um fator de multiplicidade evoca a preocupação
de
não
criar
um
enrijecimento
da
proposta, e para tal, algumas identificações de usos serão necessárias como base para definição de um objeto arquitetônico que consiga conciliar diferentes atividades. A compreensão desse fator assoma ainda uma indagação quanto aos modos de intervir na paisagem. A inserção junto a um local de memória, parte materializada e refletida pelo patrimônio envolto direciona a pensar na valorização do contexto histórico, sua não sobreposição e contraste da proposta.
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Na leitura do repertório apresentado anteriormente, algumas
possibilidades
são
demonstradas
quanto
ao modo de ocupar um espaço e manter harmonias. Assim, intervenções leves e reversíveis demonstram ser um eficiente modo, não só de manter um diálogo de respeito com a paisagem, mas de implementar funções no espaço. Pensar em intervenções de valor efêmero, multifuncionais e reversíveis, além de corresponder as necessidades de uso, de inserção e de leitura a uma sociedade do imediato como um todo, ao fazer a compreensão da realidade econômica do município, descarta-se aqui a idealização de um edifício construído dentro da convencionalidade. Desse modo, a busca se deve ao coeficiente comum que consiga abrigar as diversas manifestações da vida urbana, seja desde o parar e sentar até apropriações que envolvam um número maior de indivíduos em eventos diversos, ou seja, cabe identificar um módulo que corresponda a multiplicidade de usos A consideração de um módulo suporte destinado aos diversos atores urbanos
deve criar um elo na qual
não se restrinja ao uso executado, mas que permita a aproximação do público, isto é, a materialização numa escala que conduza a uma acessibilidade de pertencimento, ou seja, estabelecer um elo entre uma
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pequena que possa restringir usos, ou grande que intimidam usos menores Abrigar diferentes usos exige também a proposição de um objeto articulável, flexível e adaptável. Se o objeto necessita de adaptações, deve se mostrar acessível para que possam ocorrer da forma mais livre e independente possível, proposta e executava pelo próprio usuário. Para tal, a escala do objeto e a técnica empregada se fazem um importante fator. Ainda considerando a liberdade de apropriação dada à imprevisibilidade dos usos a serem desenvolvidos, o não enrijecimento no espaço também se faz um fator essencial. Nesse quesito, a escala e a técnica devem também atuar em prol do uso indeterminado, possibilitando a mobilidade do objeto Por fim, a consideração dos fatores anteriores que visam princípios de articulação, acessibilidade para intervir e mover, aliado a uma técnica que responda a um princípio modular, a utilização do objeto permite a combinação e divisão das funções, isto é, além de replicar o objeto suporte de modo que cada qual possa atender a uma função desejada, direciona se aqui a não criação de um único núcleo que concentre todas as funções numa área determinada do terreno, na qual
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abrigue diversos usos lado a lado – a não ser que os usos indeterminados conduzam a uma configuração como tal, mas as diretrizes visam permitir a dispersão de módulos ao longo de toda a área de intervenção, a e até mesmo extrapolando. Assim, permite se construir núcleos
menores
ou
através
do
próprio
módulo
isolado, implementar funções em locais específicos, ou simplesmente se postar a espera de um uso como reflexo de uma necessidade. A definição da modulação – elemento base do projeto – parte de uma conciliação, não só dos usos, mas dos demais princípios necessários ao projeto, principalmente a técnica e acessibilidade aos usuários. Dentro das possibilidades de mercado e padronagem de bitolas em indústrias, a modulação de 120cm costuma ser utilizada com frequência, seja como largura de algumas peças, ou como divisor comum em outras de maior dimensão longitudinal. Ao investigar a escala do módulo, procura conciliar espaço mínimo à locação de um programa com uma escala de pertencimento à apropriação do usuário. Além da ocupação espacial no plano horizontal, direcionar um objeto de amparo ao uso humano exige considerar 123_ Diretrizes do partido. Autor
a inserção do indivíduo em tal, ou seja, extrapolando o plano bidimensional para a constituição de um abrigo.
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aresta 120
242
120x120
120x240
240x240
inserção do indivíduo
módulo cubico 240x240x240
Nessa lógica, parte para a verificação das possibilidades geradas a partir da matriz dada pela dimensão de 120cm, seus espaços de uso, a possibilidade de interação e transição através do objeto e sua ocupação na paisagem. Enquanto minimalista
120x120cm na
apresenta
paisagem
e
uma
espaço
inserção
mais
usos
mais intimistas e privativos, com menor área para interação dos indivíduos, ao dobrar para 120x240cm, a possibilidade de usos se estende, assim como a
capacidade
de
abrigar
usuários
secundários
e
espectadores. Novamente dobrando a 240x240cm, as possibilidades alcançam um elo de equilíbrio entre o espaço necessário para desenvolvimento de diversos usos e a capacidade de engajar usuários a interagir com o módulo, além de manter uma harmonia com o local de inserção. Visando a inserção do indivíduo, 240cm também é capaz de satisfazer as necessidades antropométricas na constituição de um abrigo, dessa maneira, obtém a partir da modulação de 120cm, um cubo de aresta 240cm usado como base para a investigação de usos, ou das manifestações de vida, como já referido. Embora condicionem dentro de uma infinidade de possibilidades, a investigação identifica 124_ Diretrizes da modulação. Autor
e aloca os usos em 10 categorias comuns ao espaço público: abrigar, permanecer, interligar, performar, exibir, apreciar, recrear, consumir, infraestrutura e armazenar.
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manifestações da vida
abrigar
Embora o módulo como um todo seja um abrigo, consideramos aqui sua funcionalidade na forma mais essencial, como um simples amparo à diversidade funcional. O abrigo inicialmente compreendido como uma demarca ção de um ponto ou lugar em meio a paisagem, e se destaca perante tal. Sua interação com o local e os usuários se dá como local para pausa no ritmo urbano, ou como ponto de encontro e espera. Responde também as necessidades de abrigo perante o clima, fazendo um local de espera em dias de muito sol ou chuvosos, ocais esses defasados na área, se restringindo a marquises de lojas, muitas não oferecendo nenhuma proteção às intempéries.. Este módulo dá suporte também a quem necessita esperar ônibus, embora haja um ponto destinado aos transportes intermunicipais, o ponto para os usuários dos transportes oferecidos pelo município (transporte escolar, municipal e de saúde) localizado defronte ao ginásio, se expõe à imprevisibilidade do clima, nem oferecendo quipamentos de espera como bancos, por exemplo. Demais manifestações de uso que necessitem do abrigo, porém menos frequentes, se deve a eventos de serviços, informativos ou de algum tipo de arrecadação cujo locam tenda, mesas e cadeiras sobre os espaços da área.
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permanecer
Uma das importantes e mais necessárias manifestações no espaço, Embora o permanecer possa se dar de diversas maneiras e junto as demais manifestações urbanas, considera-se nessa categoria de uso os momentos de deleite junto ao espaço público, toda ocupação, seja de curta estadia ou intermediária, mais do que um local de pausa e descanso. O principal ator a se considerar são os assentos e bancos no qual se façam superfície ao permanecimento. Embora haja em alguns pontos restritos às praças existentes na área, proporcionar um modo que suceda a rigidez condiciona a um projeto, em meio às necessidades de usos indeterminadas que possam ocorrer no local, se faz fundamental. Compreender que a área está sujeita a possibilidades de permanência que se façam além dos pontos onde há bancos, conduz a procurar uma maneira de explorá-las, na qual um módulo que combina atributos de abrigo e permanência podem proporcionar.
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performar
Visto as manifestações artísticas que periodicamente ocorrem, este módulo se compõe como um amparo a essas expressões, constituindo um palco que pode ser usado tanto para apresentações musicais, quanto coreografias de danças ou peças de teatros, seja de iniciativa de alguma instituição ou pela própria comunitárias. Embora atualmente exista um palco, como demonstrado, ele cria uma barreira na praça, além de estar desprovido de proteção solar. Fato interessante é que até mesmo em eventos musicais realizados na Praça dos Pioneiros seu uso é extinto, fazendo instalação de estruturas provisórias montadas temporariamente. Além de proporcionar uma continuidade para usos cotidianos, a instalação do módulo pode ser aproveitada em demais áreas cujo necessidade ou determinado organização de eventos determinar. A existência de escolas no entorno além de um projeto de ensino musical são outras premissas a se utilizar do módulo uma extensão do ambiente de ensino, transformando apresentações antes restritas à instituições, abertas à comunidade.
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exibir
Enquanto um módulo serve para apresentações artísticas que envolvem performance e expressões corporais, este compreende um suporte as artes ou demais manifestações sem a presença humana. Nesse sentido, o módulo compreende fechamentos e planos de vedação lateral nos quais podem fazer uso para instalação de artes e comunicações visuais tais como anúncios, cartazes, pinturas, além de ser um suporte de expressão dos artistas de rua e grafiteiros. A combinação modular com as devidas vedações necessárias pode conferir ao módulo duas funções com espaços ausentes na cidade no ponto de vista cultural, como galerias para artes. Outra possibilidade de uso, e de certo modo uma necessidade de lazer à cidade, é a projeção de filmes crianco um cinema público e urbano, podendo ser realizado no interior (com a combinação de módulos e para um menor número de público) como projetar nas faces externas e abranger toda comunidade que queira apreciar.
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apreciar
Este módulo é um suporte às apresentações artísticas e exibições pretendidas, sendo uma variação entre o interligar e o permanecer, constituindo arquibancadas ou espaços de sentar em níveis. Os atuais usos já demonstram a necessidade de algo que proporcione permanências em níveis, como por exemplo os dias de músicais na praça no qual cadeiras são instaladas provisoriamente no período enquanto o evento durar. Se a intenção de manter as instalações perdurando aos usos cotidianos, os suportes demais suportes a eles também devem permanecer. O apreciar, ou permanecer em níveis como também podemos nos referir, também cria vínculo com a paisagem, no qual a apreciação não fica restrita a uma determinada manifestação artística, mas da cidade. A localização da área no espigão da topografia proporciona vista inexploradas devidos as barreiras, cujo apreciação requer convites para permanecer.
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interligar
Embora a maior parte da área de intervenção seja plana, este modo articula-se de modo a proporcionar interligações, tanto em níveis quanto entre níveis. No que se refere aos desníveis existentes, se tem a topografia e taludes em determinados pontos. Embora haja transposição por meio de escadarias em alguns pontos, outros requerem a criação de caminhos adequados. No entanto, devido a descondormidade do terreno (ao tratar de topografia), cada Além
de
desníveis
topográficos,
a
existência
de
plataformas faceando a ferrovia, se constitui o ponto de maior utilização deste módulo, não só interligando, mas também criando uma extensão da plataforma que possa ser implementada com novos usos.
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recrear
Uma das manifestações de uso observadas que menos oferece suporte a tal, a recreação, mesmo em meio a falta de equipamentos, ocorre de forma tímida, em raros dias onde crianças brincam entre os materiais de construção acumulados na praça e o palco que não oferece condições de segurança, ou nas áreas livres e planas ao lado do ginásio cujo oferecem condições ideais para esportes com bola. Embora haja uma densidade populacional elevada nos setores próximos à área, apenas uma praça apresenta instalações para recreação. Não querendo romper com as vivencias de bairro, o modulo é um suporte para que tal se estenda ao centro e contribua com sua vitalidade. Além dos usos recreacionais mais comumente encontrados, ao entender a atividade como lazer, é possivel identificar uma diversidade de atividades, algumas que podem ser potencializadas, já outras, os usos podem se apropriar do módulo como ponto de apoio ou afirmação. As atividades abrangem todas as faixas etárias: atividades com bola, escalada, equipamentos infantis (balanço, gangorra, etc), entre outras para o público infantil ; skate, patins, corrida, atividades com bola em jovens e adultos; academia ao ar livre, artesanato, jogos de tabuleiro e cartaz para o público idoso.
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consumir
Um dos usos mais presenciados e possíveis de apropriações se deve às atividades comerciais. A proximidade com a área comercial central é um dos impulsionadores para que aconteça. Atualmente e ao longo da história, a área é palco de ocupações comerciais temporárias, entre as quais, podese citar a feira que ocorre todos os domingos pela manhã. Outros usos não programados ou presente na cultura e dinâmica da área também podem ser identificados, como vendedores ambulantes itinerantes, situados na área com o apoio de algum veículo. A cultura gastronômica aos níveis da rua presente na cidade e na região se expressa também na área, através de Food Trucks e outros veículos itinerantes. Comércios do entorno (espetaria, lanchonete e sorveteria) também se abrem para a rua, embora se restrinjam aos limites de seu lote.
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infraestrutura
Esta categoria se deve à existência de provisões técnicas e de suprimentos de apoios à permanência e demais usos, como por exemplo, água para beber, instalação de energia, banheiro, além de alguns recursos de atratividade como instalação de wi-fi e tomadas, estes como uma resposta também a sociedade do efêmero, da era digital e da comunicação. Outra provisão necessária de infraestrutura se deve à iluminação pública, neste caso, utilizando do módulo como suporte, criando pontos de convívio noturno e anulando a barreira psicológica causada por pontos escuros. O fato de necessitar de instalações torna esse o mais restrito dos módulos em relação à flexibilidade para sua implantação, embora a utilização de alguns recursos como painéis fotovoltaicos para geração de energia possibilite certa autonomia durante o dia.
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armazenar
Este módulo que implementa funções ou apoio à demais usos. Inicialmente constitui-se como um módulo para armazenamentos temporários que se façam necessários no local. Além da função de armazenagem e estocagem (produtos de um comércio itinerante ou abrigo às intempéries.) ou manutenção (recursos de montagem ou de implementação de uma função ao módulo, utensílios de manutenção pública), o entendimento de armazenagem não deve ficar restrito a uma forma fechada, mas podendo assumir demais formas para determinadas tarefas de estoque ou apoio, como por exemplo, para um paraciclo. Ainda
se
utilizando
da
configuração
fechada
e
complementando com outras necessidades de uso que exijam privacidade, a adaptação do suporte podem gerar espaços de espera, camarim, ou até mesmo banheiros públicos.
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ginásio de esportes
praça dos pioneiros
estação ferroviária
galpões
terminal rodoviário
Mesmo que haja reconhecimento e a projeção da diversidade de usos, a cidade continua sendo um grande palco cujos os atores se revezam no ir e vir cotidiano, encenando uma grande peça que é a vivencia do espaço público. Embora haja um reconhecimento da imprevisibilidade e indeterminação dos usos ou modo como os usuários possam se apropriar ou interagir com o artefato de intervenção desse espaço, alguns reconhecimentos se fazem importantes na definição da proposta. Reafirmando discussões já apresentadas anteriormente, A situação de abandono e desuso da antiga esplanada, reflete a dinâmica do centro comercial, sua ocupação monótona e esvaziamento noturno. A esplanada composta por grandes vazios desqualificados de usos ou sem atrativos para gerar permanências, acentua as problemáticas. No entanto, a situação no encontro de eixos de circulação faz do espaço um interligador entre diferentes zonas, entre elas, zonas densamente residências segregadas por barreiras presentes no espaço. Pensar numa intervenção cujo o suporte possa ser elemento catalisador de usos por parte da população, principalmente da residente no entorno, demonstra ser uma projeção interessante no balanceamento do esvaziamento causado pelo centro. 125_ Isométrica da área de intervenção equipamentos. Autor
Propiciar a ocupação do espaço é o elemento essencial na construção de lugares, e consigo, o resgate se significações, no
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muro e grade
palco
muro e arbustos
caso da esplanada, a continuidade da criação de significações propiciada por esse espaço presente desde a gênese da cidade de Regente Feijó. A leitura de fluxos possibilita compreender possíveis áreas de intervenção, na qual permita criar um contato entre intervenção e usuário em locais de passagem existentes, ou criar interligações e instigar novos caminhos nos pontos desqualificados e preteridos. Criar interligações conduz também para a eliminação de barreiras, no caso, a eliminação de muros, grades, entulhos, depósito de materiais de construção, ou no âmbito psicológico, provisão de iluminação adequada. Já barreiras de maior complexidade como a topografia, cabe a intervenção possibilitar modos de ocupação e interação dos usuários com a área. Desse modo, as únicas modificações físicas do espaço serão demolições: do palco situado na praça dos pioneiros, mantendo a delimitação circunferente e resgatando a integração entre os dois lados da praça; e a eliminação do muro e gradil que circundam a ferrovia, na busca de maximizar a continuidade espacial entre centro e zona residencial, esta delimitada pela topografia na presença de um talude. Identificado os fluxos e eliminadas as barreiras, cabe identificar algumas áreas propícias de intervenção. Para melhor visualização, 126_ Isométrica da área de intervenção Demolições. Autor
divide se a área em 4 partes, que, embora haja uma continuidade, cada qual conta com algumas particularidades
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áreas planas ponto de espera interligação
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O primeiro trecho caracteriza pela maior quadra da antiga esplanada, situada entre uma zona residencial e uma zona de transição às quadras majoritariamente comerciais. No âmbito físico, há a presença do ginásio de esportes, equipamento utilizado para diversos finalidades e eventos de grande aglomeração de pessoas das cidades. No espaço circundando o ginásio, há duas grandes áreas planas: uma na cota mais baixa e adjacente a residências, que por vezes é utilizada para abrigar eventos itinerantes de grande porte, ou, apropriado como gramado de futebol por jovens locais; e na cota mais alta entre ginásio e linha férrea, um espaço pouco utilizado. Embora haja uma separação por talude entre ambas, a necessidade de transição pelos residentes do entorno, criou-se caminhos do desejo que vencem a falta de escadas entre as duas cotas do terreno. Este trecho compreende diversas possibilidades de apropriação dado aos usos, entre as quais, suporte as atividades que ocorrem no ginásio ou as itinerantes, até mesmo utilizando do módulo como meio de extensão. Quanto as manifestações de uso cotidianas, o lugar pede por elementos de transição e interligação e de lazer, dado a proximidade com zona residencial e a presença 127_ Isométrica da área de intervenção trecho 01. Autor
de crianças e jovens. Nesse sentido, a intervenção atua como uma extensão das atividades de lazer que possam ser abrigadas no ginásio.
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áreas sombreadas interação com trajetos áreas sombreadas áreas sombreadas provocar novos usos
marquise coberta
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O segundo trecho contempla a Praça dos Pioneiros e um recorte da estação e margem da linha férrea. Sua situação já se dá entre uma quadra inteiramente comercial com um trecho ocupado por galpões no lado posterior à ferrovia, entre os quais, um novo centro comercial que pode ser novo articulador de fluxos na região. Ambas as áreas contam com atributos em comum, primeiro quanto a utilização do local como transição, criando atalhos no percurso entre bairro e centro. A massa vegetativa presente é outra característica entre as duas áreas. Ambas também possuem barreiras que inferem seus fluxos. Para criar a reconexão e comunicação espacial, além da exclusão das barreiras (palco na praça, muro e gradil da estação), a intervenção dos suportes pode contribuir para tal, implementando usos junto aos fluxos ou evocando novas possibilidades em locais não transitados. Os indivíduos arbóreos também contribuem como atrativo a implantação. Por fim, a presença da marquise da estação – sendo um dos únicos locais abertos e cobertos do centro – é 128_ Isométrica da área de intervenção trecho 02. Autor
um potencial espaço para ocupações e estabelecer um diálogo entre os dois lados do edifício.
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marquise coberta
รกreas planas
รกreas planas ao sol รกreas sombreadas
276
O terceiro trecho talvez seja o mais indeterminado no que se refere as possibilidades de intervenção. Contempla a quadra na qual os edifícios históricos foram demolidos, e na metade que margeia a linha férrea, a topografia apresenta maior desnível da esplanada. O trecho situa-se entre dois extremos no que se refere ao uso, majoritariamente comercial no lado do centro, e, residencial no lado posterior a ferrovia. Seguindo a dinâmica do trecho anterior, esta conta com a outra metade da estação, cujo marquise também se apresenta como local de possibilidades. Os fluxos margeando a esplanada também assemelham, acompanhando a marquise e, proveniente das escadarias que estabelecem a ligação entre bairro e centro. Já na quadra frente ao centro, o espaço vazio transformado em estacionamento de veículos faz inexistir fluxos, e muito menos permanências. A ausência de arborização acentua tal afastamento de transeuntes. Pensar em modos de intervir nesse ponto provendo meios de atrair e implementar ocupações demonstra essencial ao diálogo de vitalização e ressignificação da esplanada. A eliminação das barreiras também nesse ponto 129_ Isométrica da área de intervenção trecho 03. Autor
contribuem
para
extensão
das
possibilidades
de
transição e uso do espaço como meio de integração com as demais partes.
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qualificar praça
instigar trajetos interação com trajeto
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O terceiro trecho talvez seja o mais indeterminado no que se refere as possibilidades de intervenção. Contempla a quadra na qual os edifícios históricos foram demolidos, e na metade que margeia a linha férrea, a topografia apresenta maior desnível da esplanada. O trecho situa-se entre dois extremos no que se refere ao uso, majoritariamente comercial no lado do centro, e, residencial no lado posterior a ferrovia. Seguindo a dinâmica do trecho anterior, esta conta com a outra metade da estação, cujo marquise também se apresenta como local de possibilidades. Os fluxos margeando a esplanada também assemelham, acompanhando a marquise e, proveniente das escadarias que estabelecem a ligação entre bairro e centro. Já na quadra frente ao centro, o espaço vazio transformado em estacionamento de veículos faz inexistir fluxos, e muito menos permanências. A ausência de arborização acentua tal afastamento de transeuntes. Pensar em modos de intervir nesse ponto provendo meios de atrair e implementar ocupações demonstra essencial ao diálogo de vitalização e ressignificação da esplanada. A eliminação das barreiras também nesse ponto 130_ Isométrica da área de intervenção trecho 04. Autor
contribuem
para
extensão
das
possibilidades
de
transição e uso do espaço como meio de integração com as demais partes.
279
280
o artista e o artesão
Esta seção dedica-se a tratar do usuário que irá se beneficiar/interagir/apropriar/vivenciar as possibilidades do suporte. Ao entender a intervenção como uma investigação da amabilidade, ou seja, do espaço com a intervenção, da intervenção com o usuário, e por fim, o produto final do usuário com o espaço e entre outros usuários, ou seja, evocando as relações coletiva; identifica-se 3 fatores – intervenção, espaço e usuário. Sendo o suporte – intervenção – destinado aos usuários, estes que são atores urbanos e ocupantes da área. Além de procurar entender os autores e suas ações no espaço dentro do campo de estudos e análises, é indispensável na proposição da intervenção engajar o usuário com seu controle, avaliação, e também, na sua produção e manutenção, criando assim um projeto que se faz colaborativamente, rompendo hierarquias entre autor e instituição idealizadora da intervenção com o usuário. Dessa maneira, não se restringe o usuário como mero ator urbano, mas engaja no processo de discussão e produção, sendo assim seu próprio autor, artesão e artista que intervirá na paisagem urbana. Pode-se entender essa relação com base nas seguintes etapas: oficina, comunidade, intervenção e manutenção.
281
282
oficina
O primeiro tópico se deve a um espaço de discussão e construção do módulo, no qual possa ser local de encontro entre usuários com um corpo técnico. A esplanada de Regente Feijó possui uma qualidade intrínseca e perfeitamente adequável a essa necessidade, dada pela presença de dois barracões que serviram de apoio às atividades ferroviárias. Atualmente, ambos possuem uso para oficinas – de artesanatos e costura. Mesmo que haja utilização, a amplitude dos galpões fazem deste serem o local ideal para manufatura do módulo e armazenagem de maquinários, equipamentos e materiais necessários para sua construção. A própria relação que o edifício estabelece com o local de intervenção e sua história já conduzem a entender esse local como fundamental para tal função.
comunidade
Definido o local de encontro e manufatura, a produção dos suportes de intervenção é uma possibilidade para inserir a comunidade, não só na sua manufatura, mas principalmente nas discussões quanto à necessidades a serem implementadas. A existência das oficinas abrigadas nos galpões, sua utilização seria um modo de criar uma extensão dos programas sociais educativos abertos a
131_ Isométrica da área de intervenção oficina e comunidade. Autor
comunidade, engajando sua produção junto com a do módulo ou de suas adaptações.
283
284
intervenção
Produto da discussão e produção colaborativa junto à comunidade, parte-se para a implantação do suporte. Embora se tenha os galpões como “sede de controle” da intervenção e sua abertura à comunidade, é essencial considerar os atores urbanos que dispensem fazer parte das discussões junto à comunidade, seja pelos mais diversos motivos que tangem a vida e rotina cotidiana; mas que se beneficiarão das intervenções, não só como usuários de alguma atividade específica implantada, mas como apropriadores de um suporte.
manutenção
A etapa final se deve à avaliação e respaldo da intervenção implantada, dada pela própria comunidade usuária. Novamente pode-se utilizar os galpões como ponto de discussão e solicitação de adaptações, manutenção de componentes deteriorados, modificação de lugar, criação ou extinção de um uso, ou as mais diversas composições que atendam a uma necessidade. Dessa maneira, segue um ciclo virtuoso continuo que engaja necessidades da comunidade com espaço de produção e novamente uma intervenção.
132_ Isométrica da área de intervenção intervenção e manutenção. Autor
285
286
a tecnica
A proposição de um projeto que responda a direcionamentos de usos efêmeros e até mesmo indetermináveis, ao criar uma vinculação com a comunidade, os processos e meio de produção devem visar a acessibilidade dos atores sociais na sua interação cotidiana com a intervenção. Desse modo, a técnica deve responder a uma solução estrutural simples, que possa ser usada pela mão de obra local, assim como sua materialidade deve responder aos recursos locais disponíveis, sua fácil trabalhabilidade e que corresponda a proposta do efêmero, ou seja, a finalidade dos materiais após sua desmaterialização, além, é claro, cujo custos se enquadrem na realidade econômica. Assim, encontra-se a madeira como elo entre os anseios das diversas diretrizes, por ser um material de fácil acesso (visto a quantidade de madeireiras na cidade), que possui boa resposta estrutural, baixo custo, facilidade manuseio e afinidade por parte do público e comunidade (diferentemente de peças metálicas). Definido a materialidade, a técnica a constituir o módulo fora proposta visando o menor número de operações do material. O resultado é um sistema simples onde uma mesma 133_ Diagrama do processo de amarração estrutural. Autor
amarração de três arestas em cada vértice será o gerador do módulo suporte base, ou cubo como trataremos.
287
parafuso sextavado
288
parafuso sextavado
arruela lisa
parafuso atarraxante rosca soberba cabeรงa chata
A madeira adotada é o pinus, mais especificamente a espécie pinus elliotti. O comercio da madeira de pinus – pelo seu baixo custo - costuma voltar-se para construção civil, sua relação entre bom comportamento estrutural e trabalhabilidade, possibilita seu uso como suporte à obra, em estruturas efêmeras para concretagem ou com em finalidades diversas, possivelmente descartada após sua utilização. No projeto de intervenção, a madeira mantém sua relação de suporte, desta vez para criação de estruturas abrigadoras da vida, no entanto, que reconhecem sua efemeridade. A seção adotada é de caibro 5x5cm, tanto para as arestas horizontais (vigas) quanto para as verticais (pilares). A fixação entre as peças se dá via parafusamento, garantindo sua reversibilidade e facilidade de manutenção e adaptações. O método de união consiste em parafusar peças horizontais nas verticais em dois pontos diagonais, unidos com parafusos sextavados rosqueados. Entre duas peças verticais, adota-se parafusos atarraxantes com cabeça chata, evitando sobresalências na superfície da madeira para possíveis instalação de placas ou revestimentos da estrutura. No caso da fixação de placas que venham constituir planos horizontais ou verticais, 134_ Fixadores estruturais. Autor
também deve ser feita com parafuso atarraxante.
289
Define-se três módulos-base como artefatos e amparo às manifestações de vida urbana e moldados por seus usos: o Cubo, o Palco e o Apreciar.
cubo
O Cubo é a materialização do suporte aliado com as questões técnicas, materiais e de dimensionamento para o abrigo de funções. O módulo consiste inicialmente num “cubo” formado por 10 arestas de caibro com comprimento de 2,40m unidos através de parafusamento. Assim como os demais módulos, apesar de apresentar uma proposição inicial, todos poderão passar por modificações conforme a adaptação necessárias para o uso ou composição espacial - como mostraremos em algumas projeções de possibilidades adiante. O cubo é o módulo mais sujeito a intervenções e adaptações, e assim se constitui, no qual, através da adição de arestas, implementa suportes e apoio para fechamento de planos. A utilização desse recurso também se faz essencial para resolução estrutural, visto que os diferentes usos podem solicitar diferentes cargas de esforços que o módulo base pode não suportar, por outro lado, mesmo visasse dimensionar de modo a suportar o maior dos esforços possíveis, implicaria tanto na questão de custo, estética e atua como um não-diálogo com a
135_ Perspectiva: Cubo. Autor
imprevisibilidade ao qual o objeto esta sujeito.
291
292
293
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
DET. 6
DET. 5
DET. 7
294
CUBO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/30
DET. 1
DET. 3
DET. 2 DET. 4
DET. 6
DET. 5 DET. 7
CUBO - ISOMÉTRICA DETALHE ESCALA 1/15
295
2.40 .10
2.20
.10 det. 2
det. 3
det. 4
2.20 .10
2.40
.10
det. 1
CUBO - VISTA SUPERIOR ESCALA 1/20
296
5
5
5
5
5
5
5
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ARRUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
det. 3
det. 4
5
5
5
det. 2
5
det. 1
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ARRUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
CUBO - VISTA LATERAL DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
297
det. 2
det. 3
det. 4
2.25 .05
2.40
.10
det. 1
CUBO - VISTA FRONTAL ESCALA 1/20
298
5
5
5
5
5
5
5
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ARRUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
5
5
5
5
5
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ARRUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
CUBO - VISTA FRONTAL DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
299
det. 2
det. 3
det. 4
2.25 .05
2.40
.10
det. 1
CUBO - VISTA LATERAL ESCALA 1/20
300
5
5
5
5
5
5
5
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ARRUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
5
5
5
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ARRUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
CUBO - VISTA LATERAL DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
301
palco
A segunda proposição de módulo-base é o Palco. Este módulo consiste numa adaptação do Cubo, no qual decresce à altura de 40cm (altura da estrutura acabada). A redução da estrutura vem em função da aplicação de um fechamento superior, formando uma superfície elevada do piso - como um palco - e aberta a possibilidades: Um palco de fato para artistas de rua que queiram se expressar, ou a combinação de vários para maiores eventos de música, dança, teatro, etc; um grande banco que abriga desde uma pessoa que queira uma pausa, ou a um grupo inteiro; o nível elevado do piso também pode ser um atrativo para vendedores exibirem melhor seu produto. O fato de receber um tampo e constituir uma plataforma de pisoteio, a estrutura para tal recebe reforço com adição de arestas de apoio da placa que fará o fechamento do módulo.
136_ Perspectiva: Palco. Autor
303
304
305
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
PALCO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/30
306
DET. 1
DET. 2
DET. 3 DET. 4
PALCO - ISOMÉTRICA DETALHE ESCALA 1/15
307
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
PALCO - ISOMÉTRICA EXPLODIDA ESCALA 1/30
308
DET. 1
DET. 2
DET. 3 DET. 4
PALCO - ISOM. EXPLODIDA DETALHE ESCALA 1/15
309
2.40 1.10
.10
1.00
.10
det. D1
det. D2
det. D3
det. D4
.70 .10
.70
.05
2.40
.05
.70
.10
.10
PALCO - VISTA SUPERIOR ESCALA 1/20
310
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ADUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
5
5
5
det. 2
det. 3
det. 4
5
det. 1
PARAFUSO ATARRAXANTE ROSCA SOBERBA CABEÇA CHATA
PALCO - VISTA SUPERIOR DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
311
5
5
FIXAÇÃO DO TAMPO PARAFUSAMENTO DA PARTE INFERIOR
det. 1
det. 2
PALCO - VISTA LATERAL DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
.40
det. 01
PALCO - VISTA LATERAL ESCALA 1/20
312
det. 02
FIXAÇÃO COM PARAFUSO CABEÇA CHATA ESCARIADA NA MADEIRA
det. 1
det. 2
PALCO - VISTA FRONTAL DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
det. 02
.40
det. 01
PALCO - VISTA FRONTAL ESCALA 1/20
313
apreciar
O terceiro módulo-base é o Apreciar. Aqui ocorre uma variação do Palco com a adição de um novo plano horizontal, elevado e desvinculado do anterior. Embora se faça como uma arquibancada e remeta a um apoio as atividades artísticas que possam ser realizadas no palco, o módulo visa dar suporte a qualquer atividade que se faça necessário uma superfície. Nisso, pode se considerar atividades sentadas assumindo o papel de banco, arquibancada; atividades em pé como uma redução do palco ou expositor de produtos por comerciantes que se apropriem de tal; além de poder assumir um papel de interligação entre níveis, que, com as devidas adaptações pode suprir as necessidades de transposição em alguns pontos específicos, como na plataforma da estação, seja do lado voltado à linha férrea, como o oposto, no qual com a demolição dos muros que acompanham a plataforma, cria-se alguns pontos de desnível.
137_ Perspectiva: Apreciar. Autor
315
316
317
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
318
APRECIAR - ISOMÉTRICA ESCALA 1/30
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
APRECIAR - ISOMÉTRICA DETALHE ESCALA 1/15
319
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
320
APRECIAR - ISOMÉTRICA EXPLODIDA ESCALA 1/30
DET. 1
DET. 2
DET. 3
DET. 4
APRECIAR - ISOMÉTRICA EXPLODIDA DET. ESCALA 1/15
321
2.40 1.20
1.20 det. 2
det. 3
det. 4
.70 .10
.70
.05
2.40
.05
.70
.10
det. 1
APRECIAR - VISTA SUPERIOR ESCALA 1/20
322
5
PARAFUSO PASSANTE SEXTAVADO + ADUELA LISA + ROSCA SEXTAVADA
5
5
5
det. 2
det. 3
det. 4
5
det. 1
PARAFUSO ATARRAXANTE ROSCA SOBERBA CABEÇA CHATA
APRECIAR - VISTA SUPERIOR DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
323
det. 1
det. 2
APRECIAR - VISTA LATERAL DETALHES
.40
ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
.40
det. 1
APRECIAR - VISTA LATERAL ESCALA 1/20
324
det. 1
det. 2
det. 2
5
5
A ESTRUTURA QUE APOIA O TAMPO DEVE SER FIXADA COM PARAFUSO CABEÇA CHATA ESCARIADO NA MADEIRA
det. 1
det. 2
APRECIAR - VISTA FRONTAL DETALHES ESCALA 1/5 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
det. 2
.40
.40
det. 1
APRECIAR - VISTA FRONTAL ESCALA 1/20
325
326
espaço de possibilidades
Embora a proposta de um equipamento de amparo aos usos tenha dado o direcionamento de três módulos, sua concepção como uma resposta aos anseios da contemporaneidade,
sociedade
imediatismo,
proporcionar
visa
do
efêmero
e
do
adaptabilidade
e
possibilidade de intervir aos moldes do usuário. Esta seção representa de forma técnica alguma das possibilidades de modificação e implementação de equipamentos no módulo. Visar um objeto dado à imprevisibilidade carece a definição de um recorte, visto a multiplicidade de possibilidades ao qual pode estar sujeito. Assim, toma-se como objeto de estudo o módulo Cubo. Define-se também um recorte quanto a espécie da intervenção. Demonstraremos de modo genérico alguns itens fundamentais que tangenciam a discussão da técnica e do abrigo, divididos entre: ▪▪
vedos opacos, assentos e aberturas - materiais rígidos na constituição de planos e fechamentos;
▪▪
vedos translúcidos - fechamentos não rígidos;
▪▪
infraestrutura - instalações elétricas, iluminação e água;
▪▪
equipamentos
especiais
-
implementações
diversas que possa ocorrer.
327
1,2
1,2
0m 0m
2,4
painel sanduĂche de placa cimentĂcia com miolo sarrafeado de madeira
328
1,2
0m
0m
0m
2,4
painel osb
0m
2,4
painel de madeirite plastificado
assentos, vedos opacos e aberturas
Subdivide-se os sistemas e materiais de fechamentos em dois grupos: vedações opacas e translúcidas. Embora haja diversas possibilidades, não só ligadas ao fechamento e criação de planos do módulo, mas da vicissitude que o mesmo apresenta, os demonstrativos também definem um recorte quanto a materialidade pretendida. Desse modo, toma-se três materiais como base, ambos escolhidos pela disponibilidade industrial e ajuste à modulação utilizada - fatores que contribuiram com a concepção dos módulos-base, Os materiais destacados apresentam três características distintas e complementares conforme o uso: ▪▪
painel de placa cimentícia com miolo de madeira - alto desempenho estrutural, mas custo elevado;
▪▪
painel osb – custo baixo/moderado, resistência mecânica moderada, resistência contra intempéries moderada, possibilidade de customização
▪▪
painel madeirite plastificado - custo baixo/ moderado,
resistência
mecânica
moderada,
resistente contra intempéries e possibilidades de customizar reduzida. Além de fechamentos, toma-se partido das placas para projeto de aberturas e assentos. Embora haja a citação dos materiais possíveis de usar, os detalhamentos não fazem nenhuma especificação.
329
A
A
BANCO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
330
.10 1.90 .40
BANCO - CORTE A ESCALA 1/20
331
A
A
MESA - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
332
.10 1.60 .30 .05 .30 .05
MESA - CORTE A ESCALA 1/20
333
FECHAMENTO PISO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
334
FECHAMENTO PISO - EXPLODIDA ESCALA 1/50
335
10
FIXAÇÃO DO TAMPO A CADA 20cm
110 det. 2
5 48.75
120
48.75
10
det. 1
110
det. 4
5 .10
48.75
120
48.75
15
det. 3
FECHAMENTOS PISO - PLANTA ESTRUTURA ESCALA 1/20 MEDIDAS EM CENTÍMETRO
336
10
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
ADIÇÃO ESTRUTURA DE APOIO DO TAMPO
FIXAÇÃO DE ESTRUTURA DO TAMPO COM PARAFUSO ESCARIADO NA MADEIRA
FECHAMENTOS - PLANTA ESTRUT. DETALHES ESCALA 1/5
337
FECHAMENTOS LATERAIS - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
338
FEC. LATERAIS - EXPLODIDA ESCALA 1/50
339
2.40 .10
2.20
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
FECHAMENTOS LATERAIS - PLANTA ESCALA 1/20
340
.10
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
FECHAMENTOS LATERAIS - PLANTA DETALHES ESCALA 1/5
341
FECHAMENTO COBERTURA - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
342
FECHAMENTO COBERTURA - EXPLODIDA ESCALA 1/50
343
2.40 .10
1.10
1.10 det. 2
det. 3
det. 4
.15 .10
1.03
2.40
1.03
.10
det. 1
FECHAMENTO COBERTURA - PLANTA ESCALA 1/20
344
.10
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
ADIÇÃO ESTRUTURA DE APOIO DO TAMPO
FIXAÇÃO DE ESTRUTURA DO TAMPO COM PARAFUSO ESCARIADO NA MADEIRA
FECHAMENTO COBERTURA - PLANTA DETALHES ESCALA 1/5
345
EL
ABERTURA VERTICAL - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
346
BATENTE EM CANTONEIRA DE AÇO 1x1" #3mm
e=LARGURA DO PAINEL UTILIZADO
e
DOBRADIÇA DIMENSÃO CONFORME PAINEL UTILIZADO
5
e
LARGURA
LARGURA
det. 1
5 det. 2
ABERTURAL VERTICAL - PLANTA DETALHES ESCALA 1/5
LARGURA
det. 1
det. 2
ABERTURA VERTICAL - PLANTA ESCALA 1/20
347
det. 2
.05
det. 1
2.40
det. 3
.05
det. 4
ABERTURA VERTICAL - ELEVAÇÃO ESCALA 1/20
348
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
POSSIBILIDADE DE INSTALAÇÃO DE MAÇANETA E FECHADURA
ABERTURA VERTICAL - ELEVAÇÃO DETALHES ESCALA 1/5
349
A
A
ABERTURA HORIZONTAL - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
350
2.5
5
.10
det. 1
ABERTURA
ABERTURA
DOBRADIÇA DE ABRIR
det. 1
det. 2
5 PEITORIL
2.5 PEITORIL + 2.5
BATENTE EM CANTONEIRA 1x1"
PLACA DE FECHAMENTO
PERITORIL
.05
ABERTURA
det. 2
ABERTURA HORIZONTAL - CORTE E DETALHES ESCALA 1/20 unidades em milímetros
351
0,9
1/1
1,0
,50 m
m ,00
10
5m
352
0m 0m
0m
2,5
3,0
policarbonato alveolar
1,2
tecido resistente Ă intempĂŠries
chapa perfurada
vedos translúcidos
A segunda opção de fechamentos também recorta disponibilidade industriais. No entanto, diferentemente das vedações rígidas e opacas, os materiais utilizados para fechamentos translúcidos e permeáveis não se adequam com exatidão na modulação, embora possuam artifícios de reaproveitamento e junção de diferentes partes. Entre as opções elencadas, também há diferentes características que podem ser combinadas conforme as necessidades de uso: ▪▪
policarbonato alveolar - material semi-rígido, resistente contra intempéries, custo moderado/ elevado;
▪▪
tecido - material moldável, resistência contra intempéries variável, custo baixo;
▪▪
chapa perfurada - material permeável, permite filtragem de sol e aproveitamento de ventilação. Requer mão de obra mais especializada e possui custo elevado.
Vale destacar o fator de mão de obra, no caso do tecido, a existência de oficinas na região da esplanada possibilita a integração para concepção de aparatos para os módulos. O tecido ainda é um material que melhor representa o caráter efêmero, moldabilidade e imprevisibilidade do módulo, além do baixo custo, sendo um material interessante de ser explorado
353
A
A
TECIDO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
354
det. 2
TECIDO - ISOMÉTRICA EXPLODIDA ESCALA 1/50
355
det. 2
det. 1
TECIDO - CORTE A ESCALA 1/20
356
det. 3
TECIDO COSTURADO ENVOLVIDO NO MONTANTE
POSSIBILIDADE DE APOIO DO TECIDO: GANCHO + CORDA
det. 1 det. 2
TECIDO COSTURADO ENVOLVIDO NO MONTANTE
PITÃO FIXADO DA MADEIRA
TECIDO - CORTE E DETALHES ESCALA 1/5
357
A
B
POLICARBONATO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
358
B
A
FIXAÇÃO DE PERFIL U NO PISO A CADA 20cm PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM BUCHA EPDM
PERFIL H ACRÍLICO FIXAÇÃO NOS MONTANTES SUPERIOR E INFERIOR DO MÓDULO
PERFIL U DE ARREMATE FIXAÇÃO COM PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM BUCHA EPDM A CADA 20cm
POLICARBONATO - PLANTA DETALHE ESCALA 1/5
det. 1
POLICARBONATO - PLANTA ESCALA 1/20
359
det. 1
det. 2
det. 3
POLICARBONATO - CORTE A ESCALA 1/20
360
FIXAÇÃO LATERAL COM PERFIL F PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM ARRUELA EPDM
det. 1
PERFIL H ACRÍLICO FIXAÇÃO PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM ARRUELA EPDM
det. 2
det. 3
PERFIL U DE ARREMATE FIXAÇÃO PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM ARRUELA EPDM A CADA 20cm
POLICARBONATO - CORTE A DETALHES ESCALA 1/5
361
det. 1
det. 2
POLICARBONATO - CORTE B ESCALA 1/20
362
det. 3
ARREMATE COM PERFIL F
PERFIL U FIXAÇÃO PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM ARRUELA EPDM
det. 1 det. 2
det. 3
PERFIL U FIXAÇÃO PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM ARRUELA EPDM
POLICARBONATO - CORTE B DETALHES ESCALA 1/5
363
A
A
EL
CHAPA PERFURADA - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
364
det. 1
det. 2
CHAPA PERFURADA - ELEVAÇÃO ESCALA 1/20
365
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
CHAPA PERFURADA - CORTE A ESCALA 1/20
366
COMPRIMENTO
FIXAÇÃO COM PARAFURO AUTOATARRAXANTE 35mm SEXTAVADO COM PORCA EPDM
DOBRA DE CHAPA PARA FIXAÇÃO NA PARTE SUPERIOR DO MONTANTE
det. 2
det. 3
det. 4
COMPRIMENTO
det. 1
DOBRA DE CHAPA PARA FIXAÇÃO NO MONTANTE INFERIOR
CHAPA PERFURADA - CORTE A DETALHES ESCALA 1/5 unidades em milímetros
367
368
infraestrutura e equipamentos especiais
Esta modalidade de intervenção requer maiores detalhes quanto sua implantação, já que a implementação de equipamentos de infraestrutura (água, energia elétrica, esgoto) requer a realização de serviços para as devidas provisões. Uma alternativa para as provisões elétricas é a utilização de painéis solares, embora haja uma restrição de funcionamento diurno. No entanto, a existência de equipamentos (ginásio, rodoviária, galpões, estação) aliado às antigas edificações não mais existentes, a perspectiva é de que haja uma rede de infraestrutura que atravessa toda a área da esplanada, não necessitando de grandes execuções de serviço para resgatá-la. Quanto
aos
equipamentos
especiais,
estes
devem
materializar conforme as necessidades, anseios e o caráter participativo da comunidade junto a sua concepção, além da imprevisibilidade das intervenções dos diversos atores sociais. Demonstra-se aqui um equipamentos de caráter lúdico e recreacional (balanço).
369
A B
BEBEDOURO LOC ESCALA 1/20 alturas conforme ABNT/NBR 9050 unidades em milímetros
A B
BEBEDOURO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
370
950
CAÇÃO - CORTE A
125 125
1075
750
1075
BEBEDOURO LOCAÇÃO - CORTE A ESCALA 1/20 alturas conforme ABNT/NBR 9050 unidades em milímetros
371
75 65
250
75 65
INST. ESGOTO Ø3/4"
520
620
INST. ÁGUA Ø1/2"
BEBEDOURO CONEXÕES - CORTE A ESCALA 1/20 medidas conforme catálogo técnico do produto produto especificado: Purificador IBBL PDF 100 300 2t unidades em milímetros
372
1.15 .58 .62
PONTOS HIDRÁULICOS h=0,62cm OU CONFORME FABRICANTE
BEBEDOURO - CORTE B ESCALA 1/20
373
A
A
EL
INSTALAÇÕES ELÉTRICAS - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
374
1150
CONDULETE C PONTO ELÉTRICO DE ESPERA PARA ILUMINAÇÃO
CONDULETE LB MUDANÇA DE DIREÇÃO
1100
1100
CONDULETE LB MUDANÇA DE DIREÇÃO
1150
CONDULETE C 2 TOMADAS h=1,20m
1200
1200
CONDULETE C 2 TOMADAS h=1,20m
LIGAÇÃO COM REDE ELÉTRICA VIA SUBSOLO
INST. ELÉTRICA - ELEVAÇÃO ESCALA 1/20
375
det. 1
det. 2
CONDULETE LB MUDANÇA DE DIREÇÃO
CONDULETE LB MUDANÇA DE DIREÇÃO
CONDULETE LB MUDANÇA DE DIREÇÃO
1100
1100
1100
ILUMINAÇÃO EMBUTIDA ENTRE ESTRUTURA
det. 4 CONDULETE C 2 TOMADAS h=1,20m
INST. ELÉTRICA - CORTE A ESCALA 1/20 unidades em milímetros
1200
1200
1200 det. 3 CONDULETE LR LIGAÇÃO COM REDE ELÉTRICA VIA SUBSOLO
376
CONDULETE C 2 TOMADAS h=1,20m
CONDULETE C INTERRUPTOR h=1,20m
CONDULETE T MUDANÇA DE DIREÇÃO TRIPLA
CONDULETE LL MUDANÇA DE DIREÇÃO
CONDUÍTE GALVANIZADO 3/4" MANTER PARALELO À ARESTA SUPERIOR
INSTALAÇÃO DE LÂMPADA ENTRE A ESTRUTURA DO MÓDULO. ISOLAMENTO SUPERIOR COM CHAPA DE ACRÍLICO DOBRADA. FECHAMENTO INFERIOR COM CHAPA DE ACRÍLICO LEITOSO
CONDULETE LB
det. 1
det. 2
det. 3
det. 4
CONDULETE C 2 TOMADAS 2P + T h=1,20m
CONDULETE LR
120
DUTO CORRUGADO FLEXÍVEL EMBORRACHADO PARA LIGAÇÃO COM REDE ELÉTRICA SUBTERRÂNEA
CONDUÍTE GALVANIZADO 3/4" AS LIGAÇÕES ELÉTRICAS AO LONGO DO MÓDULO DEVEM SER REALIZADAS CONFORME NECESSIDADES
INST. ELÉTRICA - CORTE A DETALHES ESCALA 1/5
377
A
A EL
BALANÇO - ISOMÉTRICA ESCALA 1/50
378
BALANÇO - ELEVAÇÃO ESCALA 1/20
379
det. 1 FIXAÇÃO LATERAL COM PERFIL F PARAFUSO AUTOATARRAXANTE COM ARRUELA EPDM
det. 2
BALANÇO - CORTE A ESCALA 1/20
380
MECANISMO DE ROLDANA SUPORTE DO BALANÇO FIXADO NA VIGA DE CHAPA METÁLICA
CHAPA DE AÇO DOBRADA PARA REFORÇO DO VÃO
det. 1 det. 2
CORDA NÁUTICA
BALANÇO EM TECIDO MARÍTIMO COSTURADO
BALANÇO - DETALHES ESCALA 1/5
381
um diálogo contínuo
previsibilidades previsíveis
Um módulo leve. 10 arestas que se inserem no espaço criando um contraste. Em meio a imensidão da área – visto a densidade do centro e dos arredores residenciais – o módulo pousa de forma leve sobre os vazios, demarcando pontos, instigando a curiosidade, possibilitando usos, e acima de tudo, mantendo um diálogo: primeiramente espacial, sua imposição na paisagem é simbólica, apenas um cubo de arestas. Um cubo permeável, conversando continuamente com a paisagem e seus arredores. Esta conversa até então entre objeto-espaço passa a inserir as pessoas. O que um módulo cubico inserido num vazio central possibilita fazer? O que “nós” podemos fazer com este mesmo módulo?
imprevisibilidades previsíveis
A cidade é múltipla. Os diferentes atores urbanos a manipularem o suporte, aplicarão a ele um modo de apropriação, não só do ponto de vista funcional ou estético, mas do modo de ver o mundo. E a primeira modificação dada após a apropriação por algum desses atores, se deve à implantação. Manter-se-á no local? Deslocará para um outro ponto de melhor visibilidade para sua função? Ou se isolará de vez dos pontos de maior fluxo? Visto tal imprevisibilidade, a definição de uma implantação concisa e definições de funções específicas logo demonstra ser ineficiente.
imprevisibilidades imprevisíveis
Questionado todas as possibilidades, locação, usos, funções, os atores que usufruirão e o modo como farão, cabe aqui levantar a dúvida que não se responde nesse momento: o projeto alcançou suas virtudes de amparo à vida urbana ou se configurou como completo fracasso? O insucesso é uma possibilidade assumida aqui, embora assim como a completa apropriação do suporte, sua utilização em prol das manifestações de vida cotidianas e criação de uma identidade com o lugar harmonizado com a paisagem; ambos são postos à indeterminação conduzida por diversos fatores que definirão a imprevisibilidade da vida. Por hora, inicia-se um diálogo. As proposições ficam no campo da imaginação.
Onde não há nada, tudo é possível [...] o vazio tem o significado de um estágio mutável da vida humana. KOOLHAS, 1985, s/p
394
considerações finais
Estar diante de problemas de uma cidade é uma oportunidade para estabelecer um diálogo com o espaço e verificar que nem sempre as constatações preliminares se satisfazem. É no discurso dialético com o tal que podemos verificar de fato os problemas nos seus diferentes pontos de vista no qual revelam suas qualidades intrínsecas, assim como a compreensão de suas afecções. No caso de Regente, estabelecer um diálogo com o espaço possibilitou compreender uma área localizada no coração da cidade, que mesmo em meio a descasos públicos e infortúnios espaciais, demonstra abrigar diversas manifestações urbanas de vida. Identificar tais usos e oferecer suporte, assim como compreender sua mutabilidade é fundamental para desenvolver condições de vitalidade urbana e convívio coletivo. Em meio a uma sociedade do efêmero, intervenções flexíveis são uma boa maneira de responder às necessidades e manifestações urbanas além de manter o diálogo em aberto para situações além do agora, ou seja, de prover condições de amparo à imprevisibilidade. Assim, colocar as pessoas a frente das discussões não é apenas uma atitude em prol de um espaço, mas à vida de uma cidade como um todo.
395
lista de siglas CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, IPHAN Artístico e Turístico Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional EFS Estrada Férrea Sorocabana SANBRA Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas CVSPMG Companhia Viação São Paulo – Mato Grosso
396
lista de figuras 01_Espaço aberto moldado pela morfologia urbana observado em Roma/Itália. Guerreiro, 2008
27
02_Situação de Regente Feijó no trecho da ferrovia Alta Sorocabana. Autor sobre Google Earth
51
03_Rua José Bonifácio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil.
55
04_Vista da estação, centro e igreja matriz de Regente Feijó, 1929. Acervo de Wander Sidnei Gil
59
05_Desfile próximo igreja matriz, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
61
06_Cine Eden, sem data.Acervo de Wander Sidnei Gil
63
07_Antigo jardim da praça Nove de Julho, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
65
08_Praça dos Pioneiros durante realização de rodeio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
67
09_Antigo edifício da prefeitura e posteriormente câmara municipal, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil 69 10_Antigo estação rodoviária e lojas, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
69
11_Edifícios comerciais localizados na rua José Bonifácio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
71
12_Praça dos Pioneiros e ocupações de lanchonetes, 2011. Google StreetView
73
13_Praça dos Pioneiros atualmente usada durante o dia, 2017. Autor
75
14_Manifestação religiosa nas ruas da região central, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
77
15_Transeuntes na avenida José Bonifácio, sem data. Acervo de Wander Sidnei Gil
77
16_Núcleo original da cidade de Regente Feijó, 1939.Acervo Público do Estado de São Paulo
79
17_Construção do ginásio de esporte e casas operárias demolidas, década de 1990. Acervo de Wander Sidnei Gil 81 18_Antiga estação ferroviária. Acervo de Wander Sidnei Gil
83
19_Estacão ferroviária, 2018. Autor
85
20_Um senhor sentado numa praça ameaçada, 2015. Acervo de Wander Sidnei Gil
94
21_Evolução da malha urbanade Regente Feijó. Autor
101
22_Projeção de construções sobre tecido urbano. Autor
103
397
23_Deslocamento num espaço de tempo de 5min. Autor sobre dados do Google Maps
105
24_Principais eixos viários. Autor
107
25_Principais equipamentos urbanos.Autor
109
26_Recorte central: quadras. Autor
113
27_Recorte central: quadras e projeção de ocupação. Autor
115
28_Recorte central: uso e ocupação dos edifícios. Autor
117
29_Recorte central: pontos de interesse de fluxo - dia. Autor
119
30_Recorte central: fluxos ao longo do dia - segunda a sexta. Autor
121
31_Recorte central: pontos de interesse de fluxo - noite. Autor
123
32_Recorte central: fluxos ao longo do dia - final de semana. Autor
125
33_Recorte central: densidade populacional. 2010. IBGE adaptado pelo Autor
127
34_Recorte central: vulnerabilidade social. 2010. SEADE adaptado pelo Autor
129
35_Recorte central: razão entre domicílio particulares com rendimento nominal mensal domiciliar per capta. 2010. IBGE adaptado pelo Autor 129 36_Recorte central: topografia. IGC adaptado pelo Autor
131
37_Recorte central: insolação e ventilação. Windfinder adaptado pelo Autor
133
38_Recorte central: pontos de abrigo. Autor
135
39_Vista do local no qual antigamente pertencia ao mercadão e rodoviária para um dos barracões junto à linha férrea. 2017. Autor 137 40_Vivências urbanas ao nível da calçada. 2018. Autor
139
41_Centro como local de transitar. 2018. Autor
139
42_Transeunte em meio ao vazio noturno. 2018. Autor
139
43_Feira livre aos domingos reúne variedade de produtos além de tornar ponto de encontro. 2018. Autor
141
44_Vista da feira livre por uma cota mais alta da avenida Regente Feijó ao lado da Praça da Matriz. 2017. Autor 141
398
45_Realização do programa “manhã sertaneja” que ocorre todo primeiro domingo do mês na Praça dos Pioneiros. 2017. Autor 141 46_Grande parte dos edifícios ocalizados defronte área de estudo na avenida Regente Feijó preservam características Art Deco. 2017. Autor 143 47_Ao longo do centro as fachadas Deco são predominantes. 2017. Autor
143
48_Contrastes entre novos edifícios e antigos são cada vez mais comum, como no caso do barracão comercial ao lado do prédio do correio que conserva caracteristicas modernistas. 2017. Autor 143 49_Edifício demolido na avenida Brigadeiro Tobias. 2018. Autor
145
50_Edifício em processo de demolição na avenida Brigadeiro Tobias. 2018. Autor
145
51_Um dos pouco edifícios exclusivamente residenciais localizado na avenida José Bonifácio também fora totalmente demolido. 2018. Autor 145 52_Vista da estação ferroviária para quadra na qual localizavam as antigas casas dos operários demolidas em 2017. 2018. Autor 147 53_Quiosque é um dos pontos de encontro mais frequentados, principalmente por idosos, porém apenas durante o dia. 2018. Autor 147 54_Ao longo de toda a área existem 4 transposições pedonais ao nível da ferrovia as quais se revelam rápido local de passagem. 2018. Autor 147 55_O banco junto ao mercado é uma das melhores analogias para o esvaziamento central e da área em horários não comerciais. 2018. Autor 149 56_Embora atrelado ao mercado, a falta de mobiliários de qualidade nos espaços próximos tal como a repulsa que esses espaços geram, o banco caracteriza omo gentileza urbana que colabora para fazer daquele espaço da calçada um lugar. 2018. Autor 151 57_Ocupações gastronômicas efêmeras e itinerantes quando presentes garantem considerável contribuição ao espaço público na qual se instala. 2018. Autor 153 58_Dispor cadeiras junto ao caminhar embora demonstre inicialmente uma barreira, mas o que poderia ser um simples comércio enclausura, cria um contato com as pessoas e uma extensão ao espaço público. 2018. Autor 153 59_Cenas como de crianças brincando a noite geralmente estão ligadas a fatores que incrementaram uso da área. 2018. Autor 153
399
60_Os espaços adjascentes ao ginásio de esportes são comumente procurados para instalação de circos e parques, o que criam atrativos temporários para tais áreas segregadas. 2018. Autor 155 61_Demais atividades efêmeras contribuem para atrair pessoas até as praças, na imagem, uma cabine de inserção 6D chamou a atenção e crianças, as quais utilizavam a praça como espaço de espera. 2018. Autor 155 62_Eventos no ginásio de esporte sempre levam um grande número de pessoas, porém para muitos, a extensão dessa vivência aos espaços públicos geralmente se resumem ao trajeto entre o edifício e o local no qual o veículo está estacionado. 2018. Autor 155 63_Utilização de calçadas no lado oposto da existência de praças. 2018. Autor
157
64_Diagrama dos elementos-barreira. Autor
159
65_Identificação dos elementos-barreira. Autor
161
66_Topografia e edifícios combinados criam um tipo de barreira à área. 2018. Autor
163
67_Recintos criados no meio do edifício criam relação com o antes e depois. 2018. Autor
163
68_Posuindo aberturas alinhadas, quando ambas as portas abertas, o edifício se torna permeável. 2018. Autor 163 69_Muros e vegetação combinados criam uma pausa espacial. 2018. Autor
165
70_O impedimento espacial entre praças se dá pela quadra vazia entre ambas. 2018. Autor
165
71_O palco da Praça dos Pioneiros pode ser um dos fatores a segregar a própria praça. 2018. Autor
165
72_Durante o dia, um dos barracões demonstra-se em estado de depredação e vandalismo. 2018. Autor
167
73_Já a noite, a escuridão impede a permeabilidade visual ao longo da ferrovia. 2018. Autor
167
74_Vista da avenida São Bento para o barracão histórico depredado. 2018. Autor
169
75_Praça Nove de Julho (Fonte luminosa). 2018. Autor
171
76_Praça da Matriz. 2018. Autor
171
77_Praça da Matriz - mesa de jogos de dominó. 2018. Autor
173
78_Praça da Matriz - apropriação de muretas. 2018. Autor
173
79_Praça da Fonte - momentos de lazer. 2018. Autor
173
400
80_Praça da Matriz - momentos de apreciação. 2018. Autor
173
81_Diagrama de Amabilidade. Fontes (2014)
179
83_Palácio de Cristal de John Paxton, realizado para a Grande Exposição de 1851 durou por 84 anos. Repositório Ulusiada 183 82_Instant city do Archigram propunha uma arquitetura móvel coberta por uma lona hasteada por balões cujo interior localizava uma estrutura para eventos que pudesse deslocar para fora das metrópoles. ArchiNed 183 84_Grandiosidade efêmera: Pavilhão da humanidade - Carla Juaçaba e Bia Lessa. Leonardo Finotti
185
85_Precariedade duradoura: favela. Fernando Stankus
185
86_Intervenção park(ing) day do grupo Transformatiori utilizou de peças desmontáveis (andaime) para criar um espaço de lazer num estacionamento . Transformatiori 187 87_Pavilhão street cinema de Omri Revezs propôs um contato a nível da rua com uma estrutura articulável e compactável para projeção de filmes durante 74° Festival de Cinema de Veneza/It, realizado para a Grande Exposição de 1851 durou por 84 anos. Omri Revezs 187 88_Vagón del Saber do Al Borde Arquitectos propõe uma estrutura multifuncional dentro de um vagão de trem que pode ser transportado integralmente. Cyrill Nottelet 187 89_Instalação “the gates”. 2005. Christo e Jeanne Claude
191
90_Parque Ribeiro do Matadouro. Victor Esteves
193
91_Parque Ribeiro do Matadouro. - situação urbana. Google Earth adaptado pelo autor.
195
92_Parque Ribeiro do Matadouro - Condicionantes locais. Oh-land Studio adaptado pelo autor
197
93_Parque Ribeiro do Matadouro - esquemas em croqui. Autor
199
94_Parque Ribeiro do Matadouro. Victor Esteves
201
95_BMW Guggenheim Lab em Nova York. Guggeinheim
203
96_BMW Guggenheim Lab em Berlim. Guggeinheim
203
97_BMW Guggenhein Lab Nova York - espaço multiuso interno. Guggenheim
205
98_BMW Guggenhein Lab Nova York - lote antes da construção. Kristopher McKay
205
401
99_BMW Guggenhein Lab Nova York - lote depois da construção. BIA-AR
205
100_Estação Ciência - UNA arquitetos. Bebete Viégas
207
101_Estação Ciência - planta. UNA
209
102_Estação Ciência - corte longitudinal. UNA
209
103_Estação Ciência - croqui de inserção urbana. Autor
209
104_Estação Ciência - corte esquemático. Autor
210
105_Estação Ciência - permeabilidade visual no contexto histórico. Bebete Viégas
210
106_Estação Ciência - corte esquema construtivo. Autor
213
107_Estação Ciência - perspectiva esquema construtivo. Autor
213
108_Estação Ciência - corte transversal e detalhe construtivos. UNA
215
109_Pavilhão Serpentine - Sou Fugimoto. 2012. Daniel Portilla
219
110_Módulação do Pavilhão Serpentine 2012. Autor
219
111_Común-Unidad - composição modular. Sandra Pereznieto
221
112_Común-Unidad - interação com as funcionalidades estabelecidas. Sandra Pereznieto
221
113_Común-Unidad - anteparos funcionais de lazer infantil. Sandra Pereznieto
221
114_Común-Unidad - composição modular. Autor
223
115_XYZ OPEN CITY. N55
225
116_XYZ OPEN CITY - módulo multifuncional. N55
227
117_XYZ OPEN CITY - módulo de lazer. N55
227
118_XYZ OPEN CITY - construção de jardins urbanos. N55
227
119_XYZ OPEN CITY - geração de energia no local. N55
227
120_XYZ NODES - detalhe. N55
229
121_XYZ NODES - croqui do detalhe. Autor
229
122_XYZ OPEN CITY - redes de descando. N55
231
402
123_Diretrizes do partido. Autor
241
124_Diretrizes da modulação. Autor
243
125_Isométrica da área de intervenção - equipamentos. Autor
269
126_Isométrica da área de intervenção - Demolições. Autor
271
127_Isométrica da área de intervenção - trecho 01. Autor
273
128_Isométrica da área de intervenção - trecho 02. Autor
275
129_Isométrica da área de intervenção - trecho 03. Autor
277
130_Isométrica da área de intervenção - trecho 04. Autor
279
131_Isométrica da área de intervenção - oficina e comunidade. Autor
283
132_Isométrica da área de intervenção - intervenção e manutenção. Autor
285
133_Diagrama do processo de amarração estrutural. Autor
287
134_Fixadores estruturais. Autor
289
135_Perspectiva: Cubo. Autor
291
136_Perspectiva: Palco. Autor
303
137_Perspectiva: Apreciar. Autor
315
138_Corte transversal - centro/galpões/bairro. Autor
384
139_Corte longitudinal - centro. Autor
386
140_Corte transversal - centro/estação/bairro. Autor
388
141_Corte longitudinal - esplanada. Autor
390
142_Perspectiva renderizada - módulo iluminado. Autor
392
143_Perspectiva renderizada - palco na ferrovia. Autor
394
144_Perspectiva renderizada - cinema no ginásio. Autor
396
145_Perspectiva renderizada - apreciação na plataforma da estação. Autor
398
403
referências bibliográficas AFONSO, Sonia; MACEDO, Silvio Soares. Urbanização de encostas: crises e possibilidades. O Morro da Cruz como um referencial de projeto de arquitetura da paisagem. 1999. 645 f. Tese (Doutorado) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo - SP. ALMEIDA, Cecília Calhau. Centro urbano e centralidades do município de Viçosa-MG. 2006. 57 f. Monografia (Mestrado) - Departamento de Artes e Humanidades, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa - MG. ALOMÁ, Patricia Rodríguez. O espaço público, esse protagonista da cidade. 2013. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-162164/o-espaco-publico-esse-protagonista-da-cidade>.
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índice remissivo A ágora 27 agorafobia 93 alta sorocabana 54, 57, 61, 78, 133 amabilidade 185, 186 antigo mercadão 169 área central 56, 59, 61, 69, 71, 73, 119, 159, 203 áreas residuais 75 área verde 38 art deco 69, 147 B barreiras 161, 163, 167, 169, 177, 179, 182, 186, 231, 244, 251, 252, 254, 255 C cenografia 196 centralidade 49, 67 centro 18, 32, 54, 55, 56, 57, 59, 77, 78, 85, 86, 91, 92, 93, 99, 105, 107, 111, 115, 117, 119, 125, 129, 131, 133, 143, 147, 149, 159, 201, 203, 244, 256 cidade média 48, 50 cidade pequena 48, 59 coletivo 33, 44 contemporâneo 27, 32, 185 continuidade temporal 42 criminalidade 86 CVSPMG 53 D densidade populacional 129
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E efemeridade 32, 34, 85, 145, 157, 186, 191, 193, 195, 227, 237, 246, 257, 258, 261 EFS 51, 53, 169 espaço coletivo 33 espaço comum 33 espaço público 24, 25, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 40, 41, 43, 44, 45, 55, 65, 67, 69, 77, 78, 86, 91, 92, 93, 94, 95, 135, 137, 151, 157, 159, 161, 185, 205, 213, 215, 217, 231, 233, 237, 241 espaços livres 30, 37, 39, 40, 71, 95, 105 espaços públicos fortes 34 espaços públicos fracos 34 espaço urbano 33 esplanada 67, 78, 79, 83, 103, 117, 149 estação ferroviária 53, 55, 57, 67, 77, 78, 79, 81, 114, 117, 167, 169, 182 esvaziamento 73, 75, 77, 86, 92, 129 F feira livre 145, 182 ferrovia 78, 83, 103, 117, 133, 167, 171 G galpões da ferrovia 81, 114, 137, 167, 171, 182, 217, 219 gentrification 131 ginásio de esportes 81, 87, 111, 114, 159, 161, 167, 169, 245, 250, 256 H habitar 98, 111 hipertelia 183, 185, 186
I identidade 18, 42, 86, 95, 115, 161, 209, 245 industrialização 29 interstícios 35, 37, 91, 107 L linha férrea 78, 103, 105 lugar 25, 37, 41, 42, 43, 44, 63, 98, 151, 161, 183, 193 M materialidade 36 memória 18, 32, 43, 53, 79, 81, 83, 85 mobilidade 103, 107, 193, 195, 213, 233, 237 modernismo 27, 29, 30, 147 monotonia funcional 92 morte dos espaços 30, 31, 151, 177, 182 mutável 83
praça lourenço pícolo 65, 67, 81, 114 praça nove de julho (fonte luminosa) 63, 65, 67, 117, 177, 179, 180, 182 privado 24, 30, 31 propriedade privada 33 pseudo-espaços públicos 32 público 24, 30, 31, 63 R renascimento 28 revolução industrial 28, 56 rodoviária 69, 81, 114, 120, 121, 151 rua 27, 30, 33, 35, 37, 38, 63, 103 S
não-lugar 42, 157
segurança 32, 89, 92, 94, 95, 179, 256 sociabilidade 30, 31, 33, 39, 40, 41, 59, 151, 241 sociedade 25, 28, 29, 31, 32, 34, 45, 55, 83, 179, 213, 257, 258, 261 suporte existencial 98
O
T
ocupações particulares 159 oeste paulista 50, 83, 103 olhos para a rua 92 organismo urbano 35, 105, 107
temporário 193
N
P parque 29, 30, 33, 35, 37, 38 patrimônio 88 praça da matriz 61, 65, 117, 133, 151, 177, 181 praça dos pioneiros 65, 67, 75, 81, 114, 159, 177, 251, 252
V vitalidade urbana 14, 18, 36, 61, 63, 77, 91, 92, 129, 143, 186, 256, 261 vivacidade 14, 69, 73, 75, 125, 143, 145, 149, 186, 191
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2002. 161 f. Dissertação (Mestrado) – PROPUR/UFRGS, Porto Alegre – RS