HP - Magic Words - book

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O

p r i m e i ro

l i v ro

e s c r i t o

p o r

q u e m

n u n c a

e s c re ve u .


A P R E S EN TA D O

PO R


Reinventamos a forma de escrever um livro.

No Brasil, existem mais de 13 milhões de analfabetos e, com isso, muitas histórias não seriam passadas para as próximas gerações. A HP desenvolveu uma tecnologia

inovadora que captura por voz a história, a transforma em texto e imprime, em

tempo real, na HP Ink Advantage Ultra. E assim este livro se tornou possível, reunindo relatos que fazem a cultura de um povo.


P R E FÁ C I O

Gilberto Dimenstein Jornalista, educador e coordenador do Catraca Livre. Foi diretor do jornal A Folha de São Paulo e ganhou os principais prêmios destinados

a jornalistas e escritores. É responsável por diversos projetos sociais, educacionais, como o Projeto Aprendiz, replicado ao redor do mundo pela Unicef e Unesco.


No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus – assim começa o evangelho segundo São João. Não é preciso acreditar em forças divinas para ver a verdade contida nessa

frase. Para mim, o princípio essencial da comunicação: o poder de gerar vida pela palavra. Neste instante, somos divinos, ao construir mundos, emocionar, refletir, indignar, semear.

Com o tempo, fui percebendo que apenas o jornalismo não me bastava. Eu queria mais: aventurei-me

no campo da educação, promovendo dentro e fora das salas de aula ensinamentos sobre a cidadania aplicada ao cotidiano. Nessa mistura, eu me encontrei: comunicar para educar, educar para comunicar. O mundo era minha escola, onde eu era ao mesmo tempo professor e aluno. Não basta apenas transmitir: o

conhecimento se faz quando o receptor processa a informação, transformando-a em conhecimento. É algo que faz sentido, tem utilidade. Ou seja, gera vida. Não me adianta saber juntar as palavras se não consigo extrair da sintaxe significado.

Aí está o poder deste livro: o poder mágico das palavras, dando vida ao que não teria vida. As palavras

ficariam encarceradas apenas na memória de quem nunca imaginou vê-las num papel. Muito menos num livro. Ganharam formato num encanto da criação. Fiquei apenas imaginando, saboreando, o olhar daquele ser que, ao falar, viu a palavra expressa, límpida. Palavra que ele não entenderia. Mas estava ali: autoral.

Na vida, buscamos basicamente uma coisa: sermos autores. Não é apenas autor de um trabalho. Mas autor no sentido de estarmos visíveis em qualquer situação. Podermos refletir – e ser refletidos.

A pior das violências é a violência da invisibilidade. Não somos vistos ou reconhecidos. Não somos autores. Apenas passageiros anônimos em nossa própria vida.

Daí a força do verbo e o papel da educação como essência da liberdade. Sem educação, não há liberdade. E, sem a palavra, não há educação.

O que lemos neste livro é a magia da transformação pela palavra: seres humanos percebendo uma nova dimensão de sua humanidade.

A palavra é a mais poderosa das tecnologias inventadas pelo homem. Tanto para o bem como para o mal. Tanto gera morte como o encanto pela eterna descoberta como posso ver, embora sem ver, nos olhos desses novos autores.


ÍNDICE 01 - Adão Prudêncio ........................................................................................................... 07 02 - Antônio Baptista ......................................................................................................... 25

03 - José Cícero ................................................................................................................... 29 04 - Luiza de Souza ............................................................................................................. 36

05 - Manoel Marinho .......................................................................................................... 51 06 - Julia Maria da Conceição ............................................................................................. 54

07 - Zé Macaco ................................................................................................................... 60

08 - José Milton ................................................................................................................... 72

09 - Marly Rodrigues da Silva ............................................................................................. 80 10 - Neuza Falcão ................................................................................................................ 84

11 - Eunice Santos ............................................................................................................. 100

12 - Antônio José ............................................................................................................... 103

13 - Josinaldo da Silva ....................................................................................................... 106 14 - Augusto Cardoso ........................................................................................................ 120 15 - Elias Donato ............................................................................................................... 126

16 - Maria Rabelo ................................................................................................................ 129

17 - Maria Ferreira .............................................................................................................. 139 18 - Creuza Maria ............................................................................................................... 143

19 - João Neto ...................................................................................................................... 146 20 - Ramiro Ferreia dos Santos ........................................................................................... 158

21 - José Antônio ................................................................................................................ 161

22 - Ronival Miranda Baco ................................................................................................. 164 23 - Laelson Alves de Oliveira ............................................................................................. 180 24 - Maura Gomes da Rocha ............................................................................................... 183

25 - Dona Maria .................................................................................................................. 187 26 - Rosilene de Oliveira ..................................................................................................... 197

27 - Rosangela dos Santos ................................................................................................... 200 28 - Ricardo de Souza ......................................................................................................... 204 29 - Maria José dos Santos .................................................................................................. 213

30 - Wilson José .................................................................................................................. 216


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P R U D Ê N C I O A r t e s ã o

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A tocandira sobe em uma árvore e agarra lá as duas pernas maiores dela crescem pra trás e vão crescendo e as duas anteninhas dela vão crescendo pra frente. Aí forma a mãe do cipó.


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cipó é gerado da tocandira. A tocandira sobe em uma árvore e agarra lá, as duas pernas maiores dela crescem pra trás e vão crescendo e as duas anteninhas dela vão crescendo pra frente aí

forma a mãe do cipó, é difícil ver no mato mais eu tive a oportunidade de ver umas três já;

uma tava em um lugar fácil eu queria levar repórter lá pra filmar ela. Mas na época eu não achei gente interessada, ela já tava com as perninhas desse tamanho assim ó.

A tocandira é uma formiga ela tem veneno ela causa uma dor bem incomodativa que dura no mínimo 12

horas o normal é 24 horas da ferroada dela, quem entra na floresta tem a oportunidade de ver ela lá no mato, ela se transforma em cipó, não é que o cipó nasce dela, ela se transforma ela fica aqui na árvore, ela fica assim na árvore e trava as perninhas e a outra perna dobra pra trás, aquelas grandonas dobram pra trás

e ela vai crescendo. Já vi com um palmo de tamanho, até um palmo de tamanho eu já vi no mato, mais é muito difícil de ver ó eu vou pegar outro cipó aqui, no mato tem muita coisa estranha no mato às vezes

a gente vê os antigos contarem história e fala, pensa que é história mais não é história não, acontece de verdade. Eu tive a oportunidade de conversar com muito seringueiro antigo aqui sabe, gente que conhecia aqui na região de Jaru, então eles contam muita coisa do mato e eles me falavam, eu não mexia com cipó

aqui eu só trabalhava na roça mesmo. Eles me falavam da tocandira virar cipó mais eu não acreditava mais eu acredito porque eu vi, quem vai acreditar que a tocandira vira um negócio desse? Só vendo né. A única

coisa que nunca me pegou no mato foi cobra por que o resto, cobra nunca me pegou não até hoje, dessas, graças a Deus sou livre delas mas o resto, tudo que você pensar de inseto ruim já, essa tocandira não me

incomoda muito não. Uma ferroada dessas não me incomoda muito não, eu faço de conta que não foi nada e continuo trabalhando do mesmo jeito, só larguei serviço uma vez e parei de trabalhar por causa delas, picada mais é de formiga mesmo, formiga, escorpião que pra nós é escorpião e pra o maranhense é

lacrau, mais a lacraia é uma o escorpião é outro, lacraia só a gente ir caçando pra achar uma, no Amazonas tem umas bem grandonas, até cobra de asa eu já vi, você já ouviu falar na cobra de asa né? É piramboia

o nome científico dela, mais eles chamam de cobra de asa porque ela é muito venenosa, e ela é cega ela

não enxerga, é tipo a bruxa. Essas borboletas de luz de noite essas bem grandonas assim, é idêntico a uma daquelas só que ela é clarinha é transparente, dizem que ela é muito perigosa também, eu vi ela mais não cheguei pertinho dela não porque ela só machuca a gente se ela trombar na gente, porque ela é cega, elas

ficam pousadas na árvore, eu conheço por caxeta aqui o povo conhece como marupá o nome da madeira. Eu nasci em Minas, eu vim pra Rondônia eu estava com 23 anos, 24 anos de idade, eu cheguei em Jaru em 76 eu trabalhava com roça, eu era solteiro eu casei eu tinha quase 26 anos, eu casei daí separei aí conheci essa abestada aí, a minha esposa, eu ia falar coisa que não pode aqui, acostumado a brincar né, conheci a

minha esposa essa que eu vivo com ela já tem, vai pra 36 anos. Nós nos conhecemos de 80 pra 81 nesse intervalo, de 80 pra 81 e estamos até hoje tem uns bons dias que nós vivemos juntos, filho adotivo é 3 e filho biológico é 3, uma tá lá no sítio, uma menina a outra tá em Vilela e o outro tá em Goiânia, agora os

outros 3 estão aqui no Candeias, dos filhos todos eles são pedreiros só que esse que passou aqui agora de manhã ele mexe com cabelo ele largou a profissão de pedreiro e montou uma lojinha de cabelo, mexe com cabelo, colocar cabelo, comprar, vender é o ramo dele hoje mas ele tem saudade do serviço de pedreiro.

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Eu já ouvi história estranha de gente que saiu maluco do mato, já ouvi não, conheci um homem que foi caçar e chegou em casa sem saber como, ele ficou 8 dias internado, ali em Jaru, na época era liberado caça

né, em 77 em 78 era tudo liberado, ele foi caçar e chegou lá, subiu lá na mata e matou uma paca, chegou

outra ele matou, chegou um tatu, quinze quilos, ele matou, ele falou eu vou pra Jaru amanhã vou ver se eu

mato mais um pra levar, diz ele que escutou uma voz que chegou debaixo da árvore, deu um vento aquele

ventinho e a voz chegou e perguntou pra ele, o que ele estava fazendo ali, perguntou umas 3 vezes pra ele, diz ele que não sabe como chegou em casa. Como que você sai do mato sem lanterna no escuro? Porque pra o cara ir caçar é noite sem lua, como que você sai no escuro de dentro da mata e chega na tua casa? E

longe, mais de três quilômetros dentro da mata de picadinha, pois ele chegou na casa dele sem nada sem espingarda sem nada, chegou. Na hora que a mulher dele abriu a porta que ele viu o claro da luz ele não

falou mais nada, ficou mudo, apagou-se, levaram para o hospital ele passou 8 dias internado e sem falar, foi

falar depois de 8 dias o que aconteceu com ele, a mulher dele foi lá de manhã buscar o equipamento dele, estava lá a espingarda, cartucho, tudinho lá em cima, facão, lá em cima do poleiro dentro da rede. Muitas coisas que às vezes a pessoa conta, que pensam que é mentira muitas até zombam mas não é bom não, eu

não zombo não porque tenho medo de acontecer comigo, eu ando muito no mato nunca pousei no mato perdido, mais já andei quase pousando dormindo no mato só com o facãozinho na mão.

Eu não pratico esporte eu não sou de sair muito. Mas se fosse um lugar que tivesse uma cidadezinha

cuidada bonita, se não estivesse mazelado igual tá, teria muitas áreas de setor turístico bonitas sabe, basta você cuidar. Está meio desleixado esse sistema. A cidade, praticamente abandonada né, e tá uma confusão danada aí ninguém entende, não pode criticar mais não pode aceitar também, eu não gosto de

sair eu gosto mais de estar aqui tecendo minha cestinha fazendo meu trabalho, não gosto de estar indo pra baile, não gosto de estar indo pra festa meu negócio é só aqui mesmo, dentro de casa, não tem muito

a contar sobre isso não, sobre as áreas turísticas, eu ando muito nas linhas, ando muito pra poder colher

meu material de trabalho então a gente passa por muitas áreas bonitas que deveriam ser zeladas pelo

setor turístico mais estão todas abandonadas, a minha vida é no mato, no mato a gente fica tranquilo nada

perturba a gente, eu fico mais seguro dentro do mato do que aqui na cidade, lá dentro do mato nada nada, nada vai te atacar sem você atacar antes sabe, você só é pego por uma cobra se você atacar ela se você não

atacar ela, ela não vai te perseguir, então o mato é mais seguro. Eu gosto mais do mato, eu passo às vezes 2 dias 3 dias aqui e passo 2, 3 dias no mato na semana, é 2 ou 3 dias no mato e 2 ou 3 dias em casa se

estiver um tempo limpo, bonito, eu tô no mato, a gente não sabe onde o cipó está, a gente sai caçando até achar, a gente mete a cara na mata e vai olhando até achar, na hora que acha tira, tem vezes que a gente tira o cipó e tem que marcar o rumo pra voltar porque não sabe o rumo que a gente estava pra poder

sair, tem que procurar a saída primeiro pra depois pegar o cipó pra poder sair, que a gente roda muito, é

complicado não é nada fácil não, é muito complicado, você pegar uma mata de 8 ou 10 quilômetros de

mato de um lado e do outro, você entrar no meio sem fazer pico sem cortar nada e chegar lá você achar o

seu material o seu cipó fazer o feixe jogar na cabeça, e sair até chegar na estrada, às vezes 1,5 quilômetros, às vezes 2 quilômetros, eu venho a pé arrastando ele nas costas, tropeça, cai, levanta e pega de novo,

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formiga ferroando, não é fácil mais é um negócio que a gente gosta. Eu escolhi isso aqui eu gosto de fazer

isso aqui, eu escolhi fazer isso aqui porque eu gosto, e outra porque na época que eu escolhi isso aqui a

necessidade me obrigou, eu estava em uma situação feia porque eu tinha uma área de terra ali na área da

usina da Samuel e a minha área de terra alagou, a água subiu pra cima da casa, dentro de 3 dias ninguém via a casa mais, só via a água, aí eu fui obrigado a sair, foi aonde eu comecei a trabalhar com isso aqui, eu

fui atrás de emprego eu estava com malária, estava com 10 formas de malária, eles mandaram eu esperar 3

anos pra poder voltar lá, pra poder pegar emprego pra quem tá passando fome. A necessidade me obrigou

a mexer com isso aqui, a fazer cestas, eu sou grato ao cipó, não me deu riqueza mais também não deixou

eu passar fome. O mato é bom. A gente estar lá andando no mato, a gente tá andando e tá conhecendo tá vendo coisas, você passa em um lugar todo dia, todo dia, e cada vez que você passa você vê coisas

diferentes, nunca é igual. Às vezes eu passo 10 vezes em um lugar, tem uma mudazinha bem pertinho ali, eu passo pra lá e pra cá olhando e não vejo, o mato é cheio de segredo e mistério, é igual ao cipó.

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Quando eu ia chegando os vizinho já avisaram lá vem Geroni. Porque o nome da minha mulé era Geronima mas os irmão chamava de Deromi a mãe dela chamava de Geroma e o véio chamava ela de Geronca.


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pai dela não falava comigo poque nóis tinha tido lá um bate-papo por que ele não queria que

as filha nenhuma casasse e a mãe dela num dia disse a mim vou te dizer uma coisa você não peça fulana ao pai dela que o pai dela disse que se um rapaz pedir a fia dele a casamento ele

manda pra casa da peste quem já sabe que ele não manda eu que eu não peço. Aí comprei a aliança e dei. Ó quando ele viu a fia de aliança haha achou ruim sabe porque eu dei a aliança a ela e não tinha pedido ela a casamento.

Aí quando eu tava conversando mais ela ele chegou chegou pertinho de mim assim e disse me diga uma coisa qual o interesse seu de você caminhar pra aqui pra minha casa.

Digo meu interesse é me casar com sua filha ele disse assim, você me pediu ela a casamento. Não sinhô. Disse a mim que queria casar com ela. Não sabe porque eu não disse ao sinhô porque o sinhô disse a sua

mulher que se um rapaz fosse pedir sua filha em casamento o sinhô mandava ele pra casa da peste eu

que não queria que o sinhô me mandasse pra casa da peste. Não pedi. Comprei a aliança e dei. Aí minha

sogra entrou na conversa e deu uma opinião e tinha outro irmão meu que namorava outra irmã dela. Era

dois irmão com duas irmã. Aí meu irmão disse vai pra casa da peste o sinhô mas o negócio dele era mais comigo sabe pulou bem nos meus pés porque eu que tinha dado a aliança né.

Ele disse eu não quero esse cumin aqui na minha porta toda noite eu digo e o sinhô qué que eu vá pra

onde. Disse num sei vá pra casa da peste aqui na minha porta é que eu não quero. Eu disse pra casa da peste não vou não venho é pra aqui se o sinhô não quiser me ver que fure os óio ela ainda tá viva pra contar essa história.

Ele veio falar comigo depois de eu já casado já tinha um filho de braço aí ele foi se embora pra São Brás né. Aí mandou me chamar pra comer uma canjica porque eu gosto de comida disso né. Chegou uma filha

dele cumade Bebé que eu sou padrinho de um filho dela aí disse Tônho pai mandou lhe chamar pra você ir comer uma canjica. Eu digo Bebé foi verdade ou você que vem com conversa só pra eu ir lá na casa

dele. Disse não o pai mandou chamar você pra ir comer uma canjica mermo. Digo então tá certo diga a ele que eu vou. Isso foi no início da semana eu disse diga a ele que no domingo eu vou.

Aí eu disse a minha mãe. Mãe sinhô Mané mandou me chamar pra eu ir comer uma canjica minha mãe disse meu filho você vai. Mãe eu disse que ia.

Meu fio você viu o barulho que aquele homi fez aqui sozinho nas terra dos outro. Ele quer pegar você lá pra lhe matar.

Que nada mãe ele não é doido de me matar e deixar a filha viúva com um menino de braço. Isso foi na base de uns dois anos depois de ter casado se muito dois ano.

Aí no domingo eu fui e na lancha eu já fui imaginando tomara que quando eu chegar lá ele não teja em casa porque se ele tivé em casa a obrigação é minha de ter que falar com ele né e se ele não tivé em casa quando ele chegar a obrigação é dele de falar comigo.

Quando eu ia chegando os vizinho já avisaram lá vem Geroni. Porque o nome da minha mulé era

Geronima mas os irmão chamava de Deromi a mãe dela chamava de Geroma e o véio chamava ela de Geronca. Ninguém conseguia falar o nome dela.

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O véio só sabia fazer um ó com o copo, véio ignorante não sabia ler não sabia nada.

Aí cheguei e botaram uma cadeira pra mim em frente ao corredor. Em poucos instantes ele chegou com um saco de milho nas costas ele era vermelho peitoral cabeludo olhô pra mim assim e passou calado e entrou pra dentro de casa pensei iiii já não tá prestando.

Pensei daqui a pouco vou na casa da Maria e depois pego a lancha de vorta fiquei pensando eu não devia nem ter vindo aqui. Daqui a pouco ele chegou na janela e ficou calado e eu mudo também na cadeira aí daqui a pouco ele falou assim iiii quando vorta. Ele falava estopado sabe. Eu digo vou vortá

quarta-feira. Ele disse ô rapa veio vê fogo eu digo não vim aqui porque o senhor mandou me chamar pra comer uma canjica e tenho umas criação que não posso deixar sem o alimento. Aí peguemo a

conversa e digo tá mioranu o negócio. Aí cumemo e fumo dormi quando foi na segunda-feira

acordamu e fumo toma café e ele disse vamo pra roça. Digo vamo. Aí butamo a cela nus cavalo montou-se em um e disse monte nesse outro aí.

Tinha treis inchada na roça uma dele e as duas dos filho né. Aí ele pegou a dele e pegou uma pedra e amolou eu já peguei uma pra mim. Aí ele pegou na carreira na boca do rio e eu peguei do outro lado. Aí comecemu a trabaiá e eu digo vou dá uma mela nesse véio. É hoje. Ele tava véio mas tava um véio duro

ainda num sabe. E eu tava menino novo tava com vinte e dois anos mais ou menos. Aí ele pegou por dentro

e eu peguei por fora sabe o que é trabalhar de roça não sabe limpar roça a pois. Eu limpava a minha carrera e ia rodiar e ajudar ele pra ele não me cercar sabe. Quando foi umas hora a muié dele chegou mais a minha

pra ir lá panhar feijão aí nóis só tinha enxuto os cabelo da cabeça tudo molhadinho de suor como se tivesse caído dentro d’água hahaha repeti vou dar uma mela nesse véio hoje.

Aí as muié chamou ô João Mané vem come aí quando nos cheguemo pra comer a muié dele disse escuta

João Mané tu caísse dentro d’água foi? Nóis cumemo fumo pro treino novamente dei outra mela nele. Eu sei que pra encurtar a história eu fui passar três dias passei trinta. Minha mãe já tava pesando que ele

tinha me matado hahaha e nóis limpemo a roça dele todinha aí ele ficou um amigão. Sei que quando eu fui

embora veio dois cavalo carregado de milho de cuscuz milho de cuzinha e tudo. O véio virou meu amigão.

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C Í C E R O A g r i c u l t o r

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Você namora com uma moça e você vê ela entrar ali para transar com o outro. E o namorado para casar precisa vê. Cheguei de trás de uma moita de pereiro. Ô xente, não demorou não. Lá vem a vaca.

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apaz sobre o amor é o seguinte. Eu só digo o amor do meu pai e da minha mãe. Esse é que é o amor sincero. Tanto recebi como dei.

Mué não levei sorte. Eu cuidei dela eu gostava dela e no final da história com 9 anos de casado

aí ela achou de eu não prestar mais pra ela aí não é amor mais. Ela perdeu amor meu e eu perdi o amor dela. Aí pronto enrolou tudo. Essa história de amor.

Hoje eu não sei. Tô vivendo com essa aí e não sei se ela gosta de mim. Eu gosto dela. Porque eu cheguei onde cheguei mesmo com meus erros minhas falhas porque somos pó da terra ser humano com qualquer

falho. Um dia tá bem outro dia tá pela cabeça mas já correu da vida. Eu mesmo cheguei hoje através dela. Mesmo com meus erros com minhas doidices.

Rapaz uma coisa que fiz boa na vida eu sempre falo eu acho que não posso reclamar assim da minha vida

em termo de saúde em termo de vida porque eu fiz um bocado de coisa boa. Se fosse uma história assim de cuidar de uma pessoa fazer uma caridade eu sei que ia contar umas duas.

Rapaz em jovem eu aprontei um bocado. Pra dançar forró era comigo mesmo. Pra dançar forró cumé é que nóis fazia. Eu tinha um irmão nóis somo 12. 12 irmão. 11 e 1 muié. Tão lá em Caçambinho nunca

saíram pra lugar nenhum. Acima de Palmeiras dos Índios. Nunca saíram pra lugar nenhum. Meu pai criou nóis estava no poder dele nóis nunca demos 1 hora de alugada a ninguém. Era tudo no nosso terreno. Nosso terreno era 75 tarefas a nossa propriedade. Era ali igualmente aqui. É por isso que eu cuido das minhas coisas oh. Nunca vendemos dia pra ninguém. Agora a gente foi casando fumo pegando

compromisso e agora. Eu não mandei você casar não, dizia meu pai. Porque você tá muito novo pra casar. Mas você achou que é homem casou. Tudo bem agora tem uma coisa macho daqui você só leva uma

colher de sal uma xícara de farinha se ocê pagar. E se sua mãe der e eu vê eu pego ela e coloco na pipa. Porque você quando tomou responsabilidade de casar duma família porque você aguenta o tranco, como

eu aguentei. Se eu der você num quer trabaiar cê come aquele e diz, eh também num vou trabaiar não. A

muié diz assi, e cumé? Aí você diz assim vou buscar na casa de mãe. Na casa de mãe não. Você tem que derramar o seu suor pra sustentar sua muié. Se você for buscar tem que pagar. E não tem fiado não. Leva o dinheiro. Se você não leva o dinheiro você não leva. Meu pai falava assim.

A minha mãe sabe o que ela fazia? Você sabe que mãe olha a história. O cara hoje que tem uma mãe e não zela dela toda vida eu acho que ele não é um ser humano não. O pai é rebelde ele tem que ser. Porque um pai criar 8 9 fios se ele baixar a vista os moleques pisam no cangote e quebram o cangote do véio.

Aí a minha mãe o que era que fazia comigo. O véio saía pro terreno e tal. Lá embaixo de um pé de Embu tinha um pote uma jarra véia quebrada o fundo. A boca pra baixo assim e o fundo pra cima. Aí ela ía e

fazia o que. Ela tirava um pouquinho de sal e fazia um pacotinho. Isso era as carreiras um pouquinho de açúcar um pacotinho pouquinho de café um pacotinho. Um pouquinho de farinha uma trouxinha. E

ajuntava tudo e aí butava tudo debaixo da saia. Corria chegava lá dentro da jarra véia e pum. Era assim

como a gente tava roubando. De longe ela observava se eu tava em casa. Quando era assim 4 horas ela

ficava por ali. De casa ela me via. Ela fazia um sinal. Eu já sabia que o rango tava lá dentro da jarra. A muié dizia, mas a sua mãe não tem jeito né. Faz até levar uns cascudos pra arrumar as coisas pra ocê. É mãe.

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Ela não tinha mãe. Era criada pelo padrasto. Mas ficava. Quando era umas 8 horas eu saía devagarinho

chegava lá e tava o pacotinho. Aí enrolava na camisa. Mas sem o véio vê, viu. Por longe por dentro dos matos. Nunca viu. Meus irmão viam mas ficava quieto. Tudo ficava quieto. Quando eu chegava em casa e a muié abria inté a carne ela botava um pouquinho.

Aí então quer dizer que eu casei não deu certo. Me separei da muié. Aí eu fiquei muito desesperado com

as consequências do que aconteceu comigo vim pra Sergipe. Capela. Ali pro campo da aviação. Uma irmã

minha morava lá ali na fazenda do Alvino Vassoura. Eu vim prali. Fiquei trabalhei 1 ano 1 ano e pouco. Depois essa gostou de mim. Arrumemos os pacotes e estamos até hoje.

Quando minha mãe morreu eu já tava aqui. Um dia de segunda feira 5 horas da tarde eu tava em casa aí chegou um carro aquela Caravan. Eu tinha sonhado de noite. Aí eu falei com a muié. Não vou pra feira não quem vai fazer feira é você que daqui pras 5 horas da tarde meu irmão chega aqui pra me buscar. Aí ela foi pra feira tal, tal. Aí quando foi 11:30 ela chegou da feira.

Cê acredita que naquela época eu cortava cana por ali eu não tinha nem uma Havaiana pra botar no pé. Eu fui com estas botas de borracha grande. Quando foi 5 horas certinha eu vi o carro botar pé. E eu ali. Eu já estava vestido. Ó meu irmão ali. A estrada vem saindo da Capela a pista é um corredor nosso aqui. Quando saiu da pista e botou a cara no corredor eu só fiz entrar pra dentro calça as botas de borracha pegar um lençol botar dentro de um negócio.

Quando ele chegou aqui fez virar a volta e foi abrindo a boca. Falou com meu sogro falou comigo tudo.

Respondi não diga não que eu já sei o que é. Não diga nada. Vamo embora. Entrei dentro do carro. Pau. Quando foi 8 horas da noite nóis estava dentro de Caçambinha. Agora dia 20 dia de Sra. de Santana eu completo 30 anos que vim.

Eu já me julgo Sergipano. Só tem uma coisa que eu não me acostumo aqui. É quem vai me levar de volta. Eu era jovem mas cê sabe o jovem de antigamente era muito besta. Num é como o jovem de hoje. Hoje

um menino de 11 12 anos tá mais sabido do que eu e você. Mas naquela época na minha época um menino com 14 15 anos era um mané. Era. Ele não sabia de nada. Criado no veio do pai. Naquela época

chegava uma pessoa passou de 40 anos chegasse lá na casa dos véios meu pai falava obedeça esse aqui aquele acolá.

Hoje não. Hoje não existe mais isso. Naquela época a muié vestia uma vara de pano. Anágua era uma vara usava aquele xale pra ir pra missa. Hoje a muié compra meio metro de pano faz um vestuário. O que é isso? Terrível.

Aí meu pai começava dizer quando naquela época nóis tinha 6 meses de inverno. O inverno começava

agora a partir desse mês até o mês de outubro. Agora nóis tem 3 no pau. No ano que nóis tem 3 meses ou

4 de inverno a gente pula a fogueira. Porque. Das coisas que a gente tá fazendo. É nóis que tamo fazendo. Muitos fazem com inocência e quem estudou faz porque quer. Ás vezes você tá botando uma roça você

faz um serviço corta um pé de pau e não é pra cortar e cê diz assim que nada rapaz eu ir ponhar a minha roça com esse pau. Daria o machado e pou. Taca fogo e fica só o pó. Eu já fiz isso. Hoje não faço mais.

Quando eu conheci ela nóis era vizinho de terra. Meu pai no terreno dele e meu sogro com o terreno

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encostado. O meu sogro era metido a rezador metido a macumbeiro que naquela época o povo investia. Dizia que tinham isso. Aí pequeno a namorar vai lá vai lá.

Só que naquela época eu tava chegando nos catorze e ela com 21. Era pra dá coisa feia né. Aí meu pai dia

de sábado lá eu gostava de uns forró. Nóis tudo ia drumi. Antes de nóis ir drumi meu pai dava pra cada um o seu serviço pra 8 horas da manhã todo mundo tava de pé. Aí eu deixava o velho drumi. Sabia as mania do véio. Quando o véio estava roncando eu aqui pegava o chinelo botava na mão botava a roupa e ia pro forró. Dançava farreava nessa época não bebia ainda.

Roubava o dinheiro do véio pra levar pro forró. Tirava mamona do paiol pra vender pra fazer dinheiro pra pagar cachaça pros outros. Pra ser boy. Tirava algodão 20 30 quilos do paiol pra vendê. Porque o armazém é assim perto. Aí no sábado tava abonado com dinheiro 2 mil réis 3 mil réis. Sanfoneiro pegava uma

garrafa naquela época a cachaça era Roquete. Pegava uma garrafa de Roquete e outra daquela Tubaína e botava no meio lá. Dava 11 horas 1 hora ninguém derrubava. E o sanfoneiro tocador quer beber quer

beber. Ninguém derrubava as garrafas. Era tudo liso. Não tinha 1 conto. Aí eu entrava lá abonado com o dinheiro do algodão do do véio mas também era meu. Eu trabaiava. A gente pedia o dinheiro pra ele e ele

dizia assim pai tem uma festa dá um dinheiro aí pra chupar um doce lá na festa. Ele dizia dinheiro? Cê

cria são doze se eu der a cada um 20 mil é o dinheiro da feira. E aí vai comer o quê. Dorme que é melhor. Dá o dinheiro da feira pro vagabundo lá ensina você a beber cachaça e chegar aqui em casa com corno do

cacete. Mas o meu já tava guardado. De hoje já começava a tirar de tiquinho em tiquinho botando num

cantinho. Quando era na sexta feira de noite todo mundo ia dormir eu botava o saco nas costas dentro

do mato. Chegava todo rasgado. Lá pro armazém. Deixava lá. Ninguém sabia de nada. Quando chegava as 4 horas emplacava. Ia levar a muié em casa. Quando foi um dia o véio desconfiou. Eu pegava um cepo

grande e enrolava pra ele pensar que era eu. Quando foi um dia o véio desconfiou e foi olhar e era o cepo dentro da rede. Aí o véio o que fez. Ficou de butuca lá no canto. Ele viu a janela aberta fechou a janela eu

pego. Ah Maria. O safado tá no mundo. Aí o véio ficou de butuca fechou a janela e ficou lá no pé da rede. E cadê de eu entrar. O dia claro e eu lá no pé do pau. Aí um ferrolho grande abriu a janela abriu a porta né. HÁ HÁ bichinho peguei. Entre pra dentro. E eu lá triste. Entre pra dentro e vai fazer o que eu mandei.

Minha mãe botava 10 litros de milho de molho pra fazer o cuscuz. Eu tinha que moer dentro de 2 horas

6:30 horas era pra tá o cuscuz na mesa. 5 horas ele botava o pote nas costa e ia tirar o leite. Voltava tudo ali na mesa e 6:30 todo mundo tomando café. 7 horas todo mundo chegando na roça. Se passasse 1

minuto o couro comia. Quando nóis ía drumi era tudo planejado assim. E o que aconteceu. Casei com a primeira. A moça era de boa família. A mãe dela morreu cedo ela foi criada pela madrasta. O véio metido com não sei o que. Metido a xangozinho metido a mulherengo e quando ela ficou numa fase com 19 anos

chegando nos 20 aí ela já tava de maior saia mais as colega. Eu não tinha como acompanhar os passos dela porque meu pai não deixava a gente sair. Quando eu saia era pro forró mas era escondido. Ficou ficou ficou. A gente namorando e tal e tal e tal. Aí eu fui descendo no cangote.

De domingo eu ficava com ela. Umas 8 da noite menos das 8 tava na casa dela. Isso foi rolando rolando.

Rolou 1 ano 2 anos. Na casa dos dois anos um primo dela disse fulano você tá namorando com fulana.

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Eu disse tô. Rapaz, caia fora dessa rapaz. Ali não é moça não. Fulana é assim assim assim. Eu disse é

nada rapaz. E ela não dava demonstração não. Eu disse tá bom. Ele falou, acompanha devagarinho agora

você fica quieto. Bom pra você descobrir é no dia que tivesse um forró na casa do pai do cara. O cara era sanfoneiro. Mas não é só com ele não. Tem mais alguém na área. Eu perguntei quem é o outro. Ele falou é fulano. Ah. Deixa isso comigo. Pronto rapidinho eu quero é vê. Quando foi um dia de domingo eu disse

a ela que eu ia pra lá a tarde. Ela disse não vá que eu não tô em casa não. É que eu vou sair. Aí o cara me disse e disse o lugar onde é que eles ficavam. Deixa comigo. Me ajeitei. O cara disse, você pode ir pra debaixo daquele embuzeiro assim assim e ficar de butuca. Embuzeiro caseiro. Ele cresce e fica uma casa

por baixo. Ela chega primeiro o cara vem por trás. É dois lugar um de entrar e outro de sair. Eu perguntei como você sabe. Você é um. Ele disse eu não. Aí eu fiquei. Cheguei de trás de uma moita de pereiro. Ô xente não demorou não. Lá vem a vaca.

Eu tava com um buranhento daquele na cabeça do miolo vermelho assim tava lumiando. Agora precisa você vê cara. Você namora com uma moça e você vê ela entrar ali para transar com o outro. E o namorado

para casar precisa vê. Que fia de caboclo. Eu guentei ali oh. Com uma 12 polegada na cintura deste tamanho a faca. Aí eu digo o que vou fazer. Nada. Eu toda a vida fui ousado. Num vou comer esta não.

A irmã dela gostava de mim. Eu acho que a irmã sabia. Quando ela fazia esta galera era que o peixe

tava podre. Queria derrubar o paiaço. Eu disse não vou cair nessa história não. E aquele dia o coração sangrando eu disse, fia do caboclo.

Eu voltei rodeei e fui diretamente na casa da irmã dela. Numa carreira do bode. O que foi rapaz. Vamos ali. Rápido rápido. Quero mostrar um casalzinho de coelho que está ali na moita. Vamo ficar aqui um pouco. Quando o cabra desceu que saiu de lá aí ela veio devagarzinho que nem a vaca que tá com medo

do vaqueiro. Botou a cabeça e ficou olhando pra vê se tinha alguém na área. Aí eu disse, olha aí oh. A

vaca botou o focinho. Cê conhece aquela ali, fulana. É ela mesma. E namorando comigo. Mané. Quem

nasce com o cu pra lua é assim mesmo. Eu em solteiro já levando chifre. Agora acabou. A irmã disse eu

tô sabendo porque fulano fulano e fulano me disse quem é os dono dela. E não é um ou dois ou três não. Ela virou pra mim e disse eu gosto de você. Eu falei você é uma cidadã direita e vai virar uma muié. Ela queria me laçar, o boi.

Naquela época se casava no civil e no padre. Fiquei com aquela dor de corno. E foi um borurum. O véio

dela soube e deu-lhe um cacete. E eu com aquela dor de corno até deixei de ir na feira pra não encontrar com ela. Num é que eu tinha que passar por isso mesmo? E num é que eu cheguei a casar com a infeliz mesmo sabendo. Casei no padre e no civil. Até hoje eu tenho um irmão que manga de mim. Você caiu nessa porque quis. Você sabia safado.

Eu vivi 9 anos com ela. Nos nove ela fez a mesma coisa. Aí que foi o cabrunço. E eu comi calado. A culpa todinha caiu em cima de mim. Aí depois que ela trocou outro par eu disse, agora vou matar ela. Não tem jeito não. Senão fosse minha mãe meus irmãos meu pai que me tirou pra aqui, tinha matado.

Meu intento era matar o cara primeiro pra depois matar ela. É bom a gente ter amigo. Dinheiro é bom tudo bem. Tem amigo que uma palavra de amigo tira a gente de tantos problema. Primeiramente Deus

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depois minha mãe. Chegou lá em casa e me deu um dinheiro e me tirou de lá. E chorou. Eu fui obediente. Você veja o que é o ser humano. Ela nunca gostou de mim. Ela casou comigo olhando o que eu tinha, não foi amor. E eu casei com ela por amor. Me afastei dela mas ficou a dor de corno no coração.

Eu passei uns dois mês sem ir na feira pra não vê ela. Larguei o forró. Tinha a casa da cumadre Nina a

madrinha da Rosália. O marido dela era meu amigo. E ele tinha um violão daqueles antigo. Eu lá mais ele queria aprender o violão. Eu batendo triangulo mais ele. Passava o dia de domingo de sábado lá mais

ele. Fiquei com os dedo inchado de tentar aprender violão. E a cidadã trabalhando de corretora quando eu tava lá ela fugia e ia pra lá. Quando eu pensava que não ela tava com o bico nas venta assim. Olhando pra mim que nem capeta.

Aí eu já tava com o coração ferido. Eu não quero eu não quero aquela cidadã. Ela já tava no fundo do

poço mesmo. Ela queria laçar um mané como me laçou. Ninguém queria. Só o mané mesmo. Eu caí rolei. Não tive conselho de de mãe pai nada. No final da história o que aconteceu. Todo mundo caiu em cima

de mim. Eu não disse? E eu não podia dizer nada porque o errado foi eu. O cara vê com os próprio zóio. Eu nasci pra passar por aquilo. Eu confiei. Ela pegou doença. Gastei uma fortuna. Quando ela terminou de tomar o vidro de remédio no outro mês tava grávida da minha filha. Eu falei médico da peste agora lascou. No pé da menina é que ela vai tomar tudo aquilo que tenho.

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L u i z a

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S O U Z A P e s c a d o r a

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Aí eu fui no mercado comprei um coração de boi assim ó. Queimei ele pisei bem pisado fiz um pó assim e todo dia eu fazia um chá e dava pra ele beber.

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E

u não tenho marido, quem tem marido fica amarrado em casa. Eu faço minhas coisas e venho pra

cá pescar. Minha história parece com mentira. Vocês não vão pensar que eu tô mentindo não. Eu

nasci no Maranhão, nasci na beira do rio Parnaíba. Lá minha mãe morreu, aí minha mãe morreu.

É pra eu contar do comecinho é? Minha mãe morreu, aí nós viemo pra Imperatriz do Maranhão. O meu pai tinha 10 meninos e eu tinha 7 anos quando minha mãe morreu. Qual é a mulher que quer um homem

com dez filhos. Aí eu era a mais velha e fui criar os filhos dele, fomos criar e criamos os meninos tudinho, dez, cinco homens e cinco mulheres. Os fio mais véi, os homens, iam casando, aí quando sobraram dois

caçulas foi que eu me casei pra poder largar, pra não deixar meu pai na agonia sozinho, sabe. Quando os

caçulas já estavam grande né, aí eu me casei, separei fui pra outro lugar aí fui trabalhar, criar meus fio, fui começar a ter filho né, aí tive meus filhos. Essa história aí que eu vou entrar. Tive sete filhos, nunca levei

um no médico, tu acredita. Não parece com mentira? O mais velho tem 56 anos a outra tem 52 a outra tem 44 o outro tem 49 eu não vou contar mais a idade porque já deu, já tá tudo criado, criei tudinho numa

pobreza, mas nunca roubaram, meu filhos. Eu fui casada 42 anos e nunca fui em uma festa tu acredita. Eu nunca fui numa festa meu deus do céu! É por isso que hoje eu saio de casa eu fiquei muito dentro de casa

só cuidando dos meus filho mas eduquei meus filhos do jeito que eu queria. Todo mundo é sabido. Tem

dois formado, do jeito que eu queria né, eu nunca fui em uma porta de cadeia visitar uma pessoa, um filho meu, um irmão. Nem meus irmãos tão morrendo de velho pra dizer que irmão meu nunca foi preso nunca apanharam, eu nunca vi uma pessoa das minha na frente da polícia até hoje. Nunca. Não parece mentira?

Hoje em dia um barão tem um filho e vai preso né porque tá roubando assaltando banco, mas deixa pra lá a

vida dos outros vou contar é a minha. Aí quando foi 74 meu marido foi pra Roraima visitar lá um amigo aí quando chegou lá o povo disse assim, as mulheres disse, aí quem vai pra Rio Branco não volta mais, porque lá é o Rio Branco que passa né, quem vai pra lá não volta mais aí eu disse a eu vou atrás, vendi minhas casas peguei os meninos botei dentro ônibus e me mandei pra Belém. Aí quando ele telefonou de lá pra

meu cunhado lá em Imperatriz disse que lá não prestava que lá não era lugar da gente morar. Ele disse

assim cumpadre ela já tá em Belém esperei 9 dias pra esperar encher esse navio pra nós subir pra Manaus. Aí cheguei da Boa Vista quando cheguei na Boa Vista. Ô meu pai do céu. Ô lugar. Eu digo é aqui mesmo

que eu vou ficar e fiquei morei 4 anos aí eu disse assim Antonio me tira daqui que não é Brasil, eu quero

ir é pro Brasil. Isso aqui não é Brasil não. Aí ele disse pra onde tu quer ir. Aí eu digo pra qualquer lugar me tirando daqui aí nos viemos pra Manaus, chegou em Manaus aí eu disse assim bora pra Porto Velho? Vamos. Aí cheguei aqui em 83, em 83 cheguei aqui, se eu chegasse de dia de domingo, segunda feira já

estava caçando coragem pra botar meus filhos pra estudar. Eu não sei porque eu fiz isso o meu filho mais

velho ele trabalha na justiça do trabalho e tá com 30 anos ele é formado. Aí ele disse assim mãe a senhora é uma leoa eu tô lá em cima porque a senhora me botou, ele disse isso pra mim, ainda bem que ele enxerga

né. Porque tem filho que faz é matar a mãe né. Ele enxerga e aí eu tô aqui aí sim aí quando eu cheguei aqui

aí meu pai coitadinho criou nos com todo trabalho aí minha irmã telefonou pra mim que meu pai estava morrendo no Maranhão eu digo eu vou pra lá eu vou já cuidar do meu pai lá. Aí fui. Cheguei lá disse que estava com o coração grande. Aí eu digo demora ainda. O doutor deu 3 meses pra ele viver aí eu fui no

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mercado comprei um coração de boi assim ó. Queimei ele pisei bem pisado fiz um pó assim e todo dia

eu fazia um chá e dava pra ele beber. O chá do coiso. O coração dele ficou de um menino. Ficou 3 anos. Viveu 3 anos. Aí com 3 anos ele morreu mais não foi do coração não o doutor fez o exame dele de coração disse que o coração dele estava de um menino de 15 anos. Aí morreu porque estava velho né. 89 anos aí ele

assim Luiza tu ainda vai embora pra Porto Velho eu disse assim não vou não, não vou não, vou ficar aqui mais você. Aí meus filhos já estavam casados aqui aí eu fiquei lá e cuidei dele aí quando ele morreu eu disse agora eu vou. Aí estava com um ano que meu pai morreu meu marido morreu. Disse meu Deus e agora?

Aí os meninos, mãe venha pra cá aí eu digo vou. Vou mais não vou pra Porto Velho porque eu morava

em Porto Velho lá na capital. Eu só vou pra aí se for pra o Candeias. Aí eles compraram aquela casa onde

vocês foram lá, compraram aquele terreno fizeram aquela casa quando eu cheguei estava daquele jeito eles fizeram construíram quando eu cheguei estava pronta acabou a história.

Eu nunca bati em meus meninos, não parece com mentira? E a pessoa que mora com um homem a 42 anos e nunca foi a uma festa não parece com mentira? Porque as mulheres hoje são assim, tu vai por ali pois

eu vou pra cá, não é não? Pois eu não, sabe o que o meu marido fazia, ei Luiza arrume aí uma mala que eu vou pra São Luiz pra praia, e ele ia ó, pra praia, passava 8 dias na praia e eu aqui mais o meus meninos, e é por isso que eu nunca fui em uma cadeia visitar meus filhos porque a mãe que larga os filhos e vai beber

cerveja e vai furrubiar por aí, os filhos viram bandidos, porque ela não está cuidando, é ou não é? É por isso

que tem a maioria dos bandidos é porque as mães não cuidam, eu não queria ser mãe de bandido e não fui eu bato no meu peito nunca fui mãe de bandido e não vou ser com os poderes de Deus.

Mais o que pior aconteceu comigo que eu estou querendo te contar é que eu criei meus filhos e nunca levei no médico nunca mais tu acredita que eu estou falando a verdade. Não parece com mentira? Cura de quê?

Filho meu nunca foi leproso nunca foi feridento nunca foi de jeito nenhum quando tinha uma gripezinha

eu fazia um chá e pronto, tu acredita. E outra coisa eu nunca fui no hospital visitar um filho meu doente

meus filhos não adoecem não eu tenho medo que quando adoece começa a adoecer e morre tudo. Minha irmã caçula eu dizia assim comadre Madalena nós nunca adoecemos e não morreu nenhum ainda mas

quando começar a morrer é mesmo que carrapato na lama aí meu irmão mais novo morreu de câncer de

próstata ela mora no maranhão Imperatriz ela veio bater aqui. Chegou aqui disse comadre eu vim aqui só

te dizer que tu disse que o povo ia morrer assim que começasse a morrer era mesmo que carrapato na lama. Emanuel morreu eu digo ou minha irmã nós éramos 10 ainda tem 6 morreu 4.

O nome do meu filho mais velho é Emanuel escuta essa quando eu dizia assim ei meu filho quando tu crescer, ele dizia mãe quando eu crescer eu vou passar piscando por cima da senhora disse que ia ser

aviador eu vou passar por cima piscando de dentro do avião sendo aviador digo deus te abençoe mas vou te contar uma história. Meu sonho na vida era ver um filho meu trabalhando no banco olha. Quando ele

terminou os estudos meu sonho meu Deus era ver meu filho trabalhando no banco. Aí quando eu vim

de Roraima ele ficou trabalhando em uma firma na Roraima aí eu digo vamos embora nego, eu apelidei ele nego, ele disse não mãe não vou não a senhora vai que eu vou ficar aqui não vou desempregado não

pra mim mandar dinheiro pra senhora que a senhora vai chegar lá sem. Aí eu vim né. Aí cheguei aqui eu

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caçava falava com vereador fala com tudo pra arrumar um emprego para o meu filho vir lá da Roraima né.

Aí um dia um homem disse assim dona Luiza eu arrumei um emprego pra o seu filho e onde que ele está, eu digo, está lá na Roraima. Manda buscar ele telefonei pra ele vir ele veio aí foi trabalhar no banco do

Bradesco. Trabalhou 5 anos no banco do Bradesco, tu acredita. Eu passava assim olha no banco olha. Eu ia lá e passava na porta do banco e via ele lá de gravata, eu digo, eita olha realizei meu sonho ó meu filho

está trabalhando no banco aí esse que é formado o mais velho aí tinha um homem que estava fazendo aqui

essa justiça do trabalho que veio de São Paulo não sei da onde. Ele disse assim ó menino você vai trabalhar

comigo, seu Emanuel, você é um menino muito bom. Ele chegava com saco de dinheiro e entregava pra

ele e dizia assim Emanuel deposita aqui no banco do Bradesco. Aí amanhã eu venho buscar o o resultado

buscar o comprovante né. Aí ele depositava tudinho. Aí ele dizia assim no outro dia ele ia buscar aí ele disse você é um menino bom aí botou ele na justiça do trabalho. Está com 30 anos.

O que eu faço todo dia é pescar sabe porque pra não encruar, meu amigo, porque eu fico em casa na frente da televisão ó só cochilando o corpo dói eu venho pra cá chego aqui sabe o que eu faço. Chego lá em casa eu

tô parece que eu nasci foi hoje mais dura que um tucum eu não sinto dor de cabeça não sinto febre minha pressão é 12 por 8 e estou com 78 anos tu acredita. Tá bem pertinho de interar. No dia 15 de agosto eu

entro em 78 anos e eu não sinto a idade não já pensou como uma pessoa perto dessa idade e não sente e tem gente que é novo caduca. Escuta essa um dia desse eu topei uma mulher ali ela disse assim aí minha irmã eu já vou que eu vou fazer uma faxina, eu digo, escuta menina que tu não é aposentada não. Não mulher eu

tenho 47 anos, eu digo, minha irmã quando tu estiver na minha idade tu tá é podre. Porque tu tá com 47

anos e desse jeito. Quando eu tinha 47 eu ainda era uma menina, não é, nunca bebi nada tu acredita que eu nunca coloquei um copo de cerveja na boca. Nem de cachaça nem de nada agora o doutor fica dizendo que velho tem que beber vinho de noite né. Aí eu fui e comprei um litrinho de vinho dos pequenininhos que

se chama cantinho da serra. O bicho dá uma até uma dor de estômago da dor de cabeça. Ah eu vou beber isso? Disse que velho tem que comer peixe que tem Omega3 eu não tenho Omega3 nunca comi peixe é outra coisa que tu pode acreditar que parece com mentira eu nunca botei um copo de leite na minha boca

leite de bicho nenhum não bebo leite se eu beber leite eu vomito até as tripas. Tu quer que eu te conte

uma história minha bonita que aconteceu comigo. Quando eu tinha 32 anos uma doutora disse assim pra

mim quantos filhos tu quer ter? Eu digo é dona Maria eu quero ter 10 filhos ela era doutora dos Estados Unidos ela, ela disse assim, aí mulher tu vai ter 10 filhos como tu vai criar? O mais velho eu boto no colégio e ele vai ser professor e ensina os mais novos vai ser professor dos outros aí ela sempre viajava pra lá aí ela

trouxe um comprimido naquele tempo não esses comprimidos de tal de eu não sei como é o nome não que a gente toma hoje não aí ela foi lá e trouxe ele que era novidade trouxe esse comprimido que era assim bem redondinho preto. Aí me deu 2 e eu tomei. Me deu 6 desses 6 eu tomei 2 desses 2 comprimidos virou o zebu. Fiquei doente fiquei doente doente doente, minha barriga tava, eu tinha 32 anos foi a pior doença

que eu já tive na minha vida minha barriga cresceu que Ave Maria minha barriga batia bem aqui desse tamanho. Era recostada em uma rede assim morrendo aí meu marido disse assim Luiza eu vou te levar pra o hospital Adventista de Belém aí me levou aí eu fui pra o hospital adventista de Belém cheguei lá o

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doutor me operou. O doutor disse assim pra mim Luiza tu pode acreditar eu vou te contar a única pessoa em cima desse chão que escapou com meio litro de sangue no corpo fui tu. Meu sangue virou todo pus essa

barrigona era pus ele disse uma pessoa tem 6 litros de sangue puro. Eu tomei 5 litros e meio de sangue pra poder fazer a operação. Aí o doutor perguntou um dia pra mim quando eu estava recuperando. Tu comeu urubu. Eu digo não nunca comi urubu. Fiquei pesando 35 quilos aí eu bati assim eu batia na parede batia

bem auto assim digo Deus deixa eu criar meus filhos Deus não me leva não deixar eu criar meus filhos. Eu fui criada sem mãe não quero que meus filhos fiquem sem mãe. Já criei meus filhos tudinho pois olha eu aqui contando essa história. Não criei meus filhos? Agora eu te digo assim, eu posso ser infeliz? Eu sou feliz. Eu sou a mulher mais feliz do mundo tu saber por quê. Criei meus filhos tô sadia e tô pescando. Não

é bonita a minha história? Pois então ainda criei dois netos vocês viram aquela mulher lá, que estava lá, é

minha neta ela não é minha filha não é minha neta. Tá fazendo curso de enfermagem ela e o rapaz está fazendo faculdade um tal de fonólogo sei falá não. Eu digo tu arrumou tua cabeça porque tu tá trabalhando com cabeça digo pra ele comigo é assim olha não bebe não tem que andar caçando conversa. Deixa eu

contar essa história pra vocês essa que é engraçada. Ô menino, ela tinha um menino assim desse tamanho, era madrasta ruim, eu dizia pra ela Zefinha tu é madrasta ruim. Tu é uma madrasta miserável aí o marido dela morreu se com o marido já era ruim imagina com ela. Aí eu disse assim olha Fontineli, Fontineli era

o menino dela né, fica comigo que eu vou cuidar de tu fiquei cuidando aí ele cresceu ficou um rapazinho

aí disse dona Lu eu queria estudar violão. Vai estudar violão estudou violão aprendeu e outra coisa sabe o que é. Ele foi trabalhar no correio naquele tempo menino trabalhava com 15 anos hoje não trabalha

mais. Aí ele começou a trabalhar com 15 anos no correio trabalhou no correio aí ele disse assim dona Lu o correio quer me botar pra Rolinho de Moura. Eu digo pois vai Fontineli aí ele foi trabalhou no Rolinho de Moura parece que foi 3 meses, 4 meses só sei que ele chegou com eu me lembro como hoje com 250 conto. Quer dizer não era conto era cruzeiro daí ele trouxe 250 cruzeiro. Eu digo, Fontineli compra uma

casa pra tu porque tu vai ter tua família compra tua casa aí ele foi e comprou a casa. Uma casa lá na nova Porto Velho. Naquele tempo casa aqui era barata. Aí ele comprou a casa e ele ficou aí ele tornou a voltar pra

lá. Aí quando ele ficou rapaz né, disse aí ele dona Lu eu achei uma namorada ela é crente e eu vou me casar, eu, casa, casou, aí hoje sabe onde ele tá? Ele é gerente do correio de Ouro Preto. O nome dele, eu chamo Fontineli mas o nome dele de verdade é Fransueldi, aí um dia desses eu fui lá no correio aqui procurar, eu

digo, cadê o Fransueldi? Aí o homem disse assim, o que que a senhora e dele? Eu digo, nada não sou nada

não quero saber dele cadê ele. Aonde é que ele tá. Ele era gerente do correio de Guajará Mirim, aí ele disse, a senhora é o que pra ele? Eu não sou nada eu só quero saber cadê ele, ele disse a senhora quer saber ele é gerente do correio de Ouro Preto, aí eu digo tem como me dar o telefone dele. Ele disse do. Aí eu fui falar com ele que ele não sabia que meu marido tinha morrido ainda né. Aí eu falei Fontineli quando eu liguei

pra ele. Ele disse oi dona Lu como é bom falar com a senhora. Eu digo Fontineli eu tô te ligando porque o Antonio morreu meu marido morreu. O dona Luiza o notícia ruim. Eu digo quando é que tu vem aqui? Dona Luiza eu passo aí mas eu vou aí correndo. Ele era pobrezinho macaco né, aí eu falei assim, Fontineli tu tem carro? Ele disse tem carro dona Lu. Com carteira e tudo. Criei ele também, gente boa não é não.

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Teve um pescador aqui o finado Pereba que pescou uma vez o Nego D’água.


B

em minha infância ela foi normal como deveria ser a infância de toda criança. E dela o que me

lembro com saudades é de quando era bem pequeno corria pelos campos de arroz subia em pé de manga jogava bola essas coisas sabe. Era uma criança bem ativa.

Agora o que mais me traz boas lembranças é mesmo a plantação de arroz. Ali eu vivia correndo pelos campos vendo todo mundo com a mão na massa trabalhando e colhendo todo tipo de produto. Das colheitas das plantações até a coleta de peixe era uma fartura danada ô tempo bão.

Só é uma pena sabe que hoje aqui a maioria das terras que antes tinham plantações de arroz hoje só

estão cobertas é de capim. Hoje Valadão é um lugar que está coberto de pataca e capim. Terreno todo tá coberto de capim de ponta a ponta. É uma campineira da bexiga de capim. Se não tem capim tem uma porrada de trator fazendo as coletas que antes era feita pelo povo. O que quero mesmo é dizer que antes o pobre tinha condição de trabalho. Era o trabalho de colher arroz, milho entre outras coisas na fazenda que trazia o ganha pão de todo mundo.

Então hoje em dia o povo não arruma mais trabalho tudo é no trator e no veneno. Acabô se o tempo do

trabalhador. Hoje quando tem a hora da colheita no pasto quem vem coletar mesmo é o trator e pronto. Antes o arroz era plantado no dedo já hoje ele é jogado. Me lembro bem antes a gente arrancava as plantas com a mão na terra e plantava e depois quando a terra tava bem molinha tirava a água de dentro depois no dia seguinte semeava e enchia de água. Era lindo.

Minha mãe foi uma boa prantadora de arroz e pescadora também. Rapaz quando se juntava ela mais o velho ambos saiam 3 horas da manhã.

Esse ano mesmo não foi mole não. Não me canso de ver pescador novo aqui que não sabe nem lascar

uma rede. Não sabem nem o que é um linha de mão ou uma vara pra pescar não sabem nem costurar ou

remendar uma rede e pra você ver o pior é que tiram muito mais fácil que muito pescador bom aqui. No final eu ainda tenho que escutar que são pescador. Cansei de ouvir isso aqui. Na hora que eu falo então vamos ali no rio pegar uma vara e uma rede pra pescar uns peixes na hora eles tudo corre.

Agora se eu já viu Nego D´água mas é claro. Já vi um bocado ali pescando de frente a burra da mata. Com Zezé Ramos. Nóis tava deitado na grua e aí falei Zezé repare que negão tá na porra do bote.

Zezé falou rapaz ele tá comendo peixe. Vamo reparar mas logo ele deu um mergulho pra dentro d’água. Nego d’água é um bicho que vive dentro d’água mesmo e chega é cinzento. Ele não é muito grande não é meio pequeno. Agora ele é bem grosso mesmo viu. Teve um pescador aqui o finado Pereba que pescou uma vez o Nego D’água.

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Não demorô pra um dia o dono da lavora me pegar debaixo do pé de mandioca. Ele disse agora descobri a pessoa que tá acabando com minha plantação.

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O

lha o que me lembro de minha infância era que eu e minhas irmãs a gente era tão bagunceira

e briguenta. Ninguém aguentava a gente não. Era uma turminha que só tinha sossego quando dormia ou quando estava na mesa comendo.

Uma vez tinha um viúvo que tinha 4 filhos eles moravam em uma fazenda perto de casa. Só sei que a gente vivia correndo atrás dos filhos desse viúvo sem motivo algum só pela vontade de brigar a gente ia

pra cima deles pra brigar. Os bichinhos chegam se trancavam dentro de casa pra não apanhar da gente. Naquela época não tinha fechadura na casa deles e eles escoravam com pedaço de pau pra se proteger

da gente mas isso não impedia da gente entrar não. A gente entrou nesse dia pra bater nesses meninos e no meio da briga a irmã mais velha deles chegou e ficou parada na porta olhando aquela situação. Sem entender bem ela colocô a gente pra correr no meio do milharal. A gente era terrível não era gente não.

Além disso quando tinha de nove pra dez anos eu e minha turminha formada pelos meus primos e

pelas minhas irmã aprontávamos muito no meio das roças. Era que nem lagarta e gafanhoto. Nóis saía nas roças comendo melancia das plantações. Tinha milho verde tinha melancia e tinha mandioca. Saía

todo mundo pra comer isso. Comia até as verduras crua. Um dia eu peguei uma faca e furei a tampa

de melancia só pra ver como ela tava por dentro. Se ela tivesse verde eu colocava o tampo novamente e

virava de cabeça pra baixo se tivesse vermelha eu comia ela todinha. Era um tempo tão bom. Pulava do campo de mandioca pro milharal e do milho pro de batata. Não demorô pra um dia o dono da lavora

me pegar debaixo do pé de mandioca. Ele disse agora descobri a pessoa que tá acabando com minha plantação. Vou falar pra sua mãe Julia você vai levar uma pisa danada. Cheguei em casa minha mãe disse que o dono da lavoura deu uma lista enorme das minhas aprontações. Mamãe disse que a gente tava

destruindo a plantação do homi. Olha a lista do homem. Ele disse que a gente comia as melancia disse que a gente tava roendo as espiga de milho e que a gente tava comendo as mandioca crua. Mãe perguntô

se era verdade e respondi a primeira coisa que veio na cabeça. É mãe nóis tava com fome. Bem assim eu falava e minha mãe coro em nóis.

Bom um dia eu tinha 7 anos e mãe me ensinou a caçar no mato. A gente não tinha bem o que comer e certo dia resolvi sair pro mato e fazia armadilha de arapuca. A armadilha era feita com pedaço de madeira

e colocava quatro pedaço de pau dos lados e cavava um buraco no chão. Depois pegava essa arapuca e colocava dentro do buraco. Deixava a armadilha e voltava no dia seguinte. Quando penso que não olhava

no dia seguinte tinha quatro preá e cinco nambu. O preá é um bicho que parece muito com coelho só que são mais pequenos e tem orelha pequena e nambu parece com codorna só que grande e com perna vermelha. Bom a gente voltava pra casa com os bichos na sacola.

Fui crescendo e ficando mais mocinha. Nesse tempo começou a aparecer muito filho de fazendeiro que ficava falando safadeza e minha mãe dizia Julia quando você vê um monte de homem num canto você

não passe perto não minha filha porque homem não presta não. Homem é tipo um bicho. Bom só sei

que cresci com isso na cabeça. Quando eu ia pescar ou pra colheita ia por dentro do mato. Quando penso

que não lá estava eles dentro do mato. Nessa época eu tinha um estilingue com aquelas bolinhas de barro. Eu sempre esse estilingue carregava comigo. Eu costumava a treinar muito com lata vazia e pra qualquer

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canto que ia eu carregava esse estilingue.

Eu ia andando pelo meio deles e eles falando um monte de besteira e safadeza no meu ouvido. Um dia eu não aguentei ouvir aquilo e antes de passar eu apontei meu estilingue e puxei com toda força. Quando

soltei e vi a pedra saindo eu escutei um grito. Olhei pra frente e vi um deles com a cabeça sangrando. Chega o sangue descia pelas camisa dele. Ele chamava Zé do Grogue e nesse dia ele saiu chorando pra

casa dizendo que ia correndo contar pro pai dele. Não demorou pro pai dele aparecer lá na porta de casa puxando o Zé do Grogue pelo braço. Olha aqui o que a Julia fez ele disse. Você tá criando uma mulher ou um maloqueiro. Minha mãe tratou de responder. Olha eu educo minhas filhas Maria e Julia pra nenhum filho de fazendeiro mexer com elas.

Minha mãe me ensinou um dia a responder à altura quando algum homem fosse mexer comigo. Assim a minha casa era bem na beira da estrada. Aí minha mãe ia trabalhar e me deixava em casa cuidando de

meus irmãos. Tinha um homem que todo santo dia ia em casa e falava besteira. Ele morava na frente de casa. Era todo dia ouvindo ô menina bonita. E junto falava palavrão. Falei pra mamãe que fulano vinha

todo dia falar besteira na porta. Mãe disse ah já sei o que eu vou fazer. Todo dia ele vem é Julia. Sim

mãe todo dia. Mãe foi na feira e trouxe um penico que mais parecia uma bacia de tão enorme que era. A partir de agora todo mundo vai fazer xixi aqui dentro ela disse. E depois que terminar não é pra jogar fora. Deixa aqui no canto por 4 dias.

Se tinha que ver. Essa bacia ficou por ali durante 4 dias. Chega mudou de cor de tão podre que tava. Ela

olhou um dia pro penico e disse que se esse homem vinhesse amanhã era pra tacar o mijo bem na fuça dele. Minha mãe acabou de sair pra ir pra roça. Não é que um dia ele voltou e ficô bem tranquilo com as duas mãos na porta falando cada palavrão feio de safadeza. Fiquei arretada nesse dia e não demorei pra pegar o

penico. Quando voltei toma na cara. Eita mais foi um fedor. Era mijo pra todo lado. Além dele tomar um banho de xixi a marmita que ele carregava ficou toda molhada. Só você vendo a camiseta de branca ficou amarela. Eu fiquei de ponta de pé olhando ele estender a roupa no varal. Era uma xingadeira danada. No varal tava a mochila. A camiseta e a sacola da marmita. Nunca mais ele ousou passar ou olhar pra nossa cara.

Nos meus doze anos eu conheci um rapazinho. Ele era meu namorado mas só que de brincadeira porque eu não tinha coragem de falar isso pra ele. Ele não tinha vergonha na cara e todo dia ia em casa. Quando é um belo de um dia ele chegou de nambu e amarrou as pernas do nambu. Lembro que tinha umas cinco

nambu pendurada. Ele chegou em casa todo ouriçado falando se eu deixasse ele fazer sexo ele ia me dar

aquele nambu inteiro. Fiquei vermelha e dei uma pisa de pau tão grande nesse menino. Nunca mais ele

foi lá em casa pra fazer safadeza comigo. Foi me paquerar com safadeza. Acho que ele fez isso porque viu que eu tava gostando dele.

Só fui chegar perto de um rapaz pra namorar mesmo quando eu tinha 18 anos. Sempre fui rebelde e

muito briguenta. Ninguém queria chegar perto de mim. Eu já parei um transito aqui na cidade por causa de um homem. Ele passou perguntando onde tinha um lugar pra ele trocar o óleo. Eu tomei de responder

olha só ir no posto de gasolina. O cara olhô pra mim e disse que eu não estava entendendo. Eu quero

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trocar o meu óleo ele disse. Eita mais quando o homem falo que tipo de óleo que era. Eu corri atrás desse homem. Fiquei tão doida pra pegar esse homem na porrada.

Essa história aqui que vou te falar agora é inexplicável. Eu morava no interior de Olho D’água das

Folhes. Lugar inclusive que nasci. Bom como te falei morava em uma casinha de taipa em frente a uma estrada. Nesse dia minha mãe tinha saído pra ir na feira lá na cidade junto com minha irmã Maria e meu irmão Zé. Eu fiquei sozinha em casa me preparando pra fazer o feijão. Eu peguei acendi o fogo porque

o fogão era de lenha. De repente na minha porta chegou um homem forte alto perguntando se eu podia

dar água pra ele. Eu fui pegar água pro homem e deixei ele com o copo bem na porta da sala. Voltei

pra cozinha pra ver o feijão e deixei ele na porta tomando a água dele. Na sala de casa tem um espelho. Quando eu voltei da cozinha e passei pela sala o homem tava dentro de casa se olhando no espelho e

penteando o cabelo. Quando eu vi o homem penteando o cabelo dentro da minha sala eu travei. Senti

um medo danado. Eu passei por ele e saí e fiquei no terreiro. Bom ele bebeu a água e me entregou o copo agradecendo e foi embora. Eu vi ele indo embora pela rua. Fiquei tranquila e fui pra cozinha cuidar do

feijão porque naquela confusão o fogo apagou e eu fiquei tentando acender ele novamente. Me abaixei

pra assoprar quando me levanto eu senti um homem me agarrando por trás. Me agarrou e me levantou

pra cima. Era o mesmo homem da água ele tava com uma peixeira na mão. Nessa hora eu peguei no

braço dele e lutava com ele. Nossa casa era de taipa e conforme ele me arrastava pela parede eu me cortava

as costa toda. Uma mão eu peguei no braço dele e a outra eu peguei na parte que corta da faca. Ele me puxava pra um lado e pro outro. Ele sussurrava pra mim que se eu não deixasse ele fazer sexo comigo ele

iria me matar. Eu vou matar você ele falava. Ficou aquela luta dentro de casa. Meu vestido todo rasgado por causa da luta. Fiquei desesperada gritando pro Seu Josino que era um vizinho nosso. Me acuda seu

Josino eu gritava. Ninguém me ajudou nessa hora e eu já tava roca de tanto gritar e cansada de tanto

lutar. Eu fiquei pensando assim eu sei que homem vai me estruprar. Bom ele pode até me estuprar mas só depois deu morta isso veio na minha cabeça. Sem aguentar eu fiquei pensando em Deus. Meus Deus me

ajude. Durante um tempo eu senti um formigar no meu pé. Meus pés ficaram dormente. Quando penso

que não me veio uma força inaceitável e eu me senti na altura do homem. Eu na luta consegui arrancar a faca da mão do homem e derrubei ele no chão. Me desarmei do homem e saí depois saí correndo na

estrada. Encontrei um tio meu na frente de casa. Ele tava no cavalo. E perguntou o que é isso porque você

tá toda suja de sangue e sem roupa. Eu respondi que um homem tinha tentado me matar. Vá pra casa de Sebastiana que era nossa vizinha e fique lá. Ele perguntou ainda onde é que o homem tinha corrido.

Aí foi que eu encontrei depois meu tio com esse homem amarrado pela corda. Encontramos minha

mãe e fomos correndo pra delegacia. Quando entrei lá eu vi esse homem sentado em um banco todo algemado. Eu tremi novamente. O delegado me viu só de lençol e toda arranhada. Ele perguntava pro homem o que ele tinha feito pra mim. O delegado batia nele pra cada resposta negativa do homem.

Teve uma hora que eu não entendi muito bem porque o delegado tinha falado que o homem teria que

casar comigo porque tinha me desonrado. Eu disse o que eu não vou casar com esse homem de jeito nenhum. Deus me defenda. Ele não fez nada comigo além de me ferir eu não tenho porque casar com

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ele. Depois ele foi preso e ficou 10 dias na cadeia. Soltaram ele.

Fiquei uns dez dias na casa de uma tia com medo desse homem voltar e tentar se vingar de mim. Passou um tempo eu voltei pra casa. Certo dia eu tava na porta varrendo o chão e na estrada passou um caminhão

cheio de peão. Nesse caminhão eu voltei a ver esse homem. Ele tinha uma espingarda e chegou a apontar

pra mim. Ele não atirou mais fez isso de desaforo. Dei uma carreira tão grande e falei pra minha mãe que o homem que tinha tentado me estuprar tava em cima do caminhão com uma arma. Ele vai me matar mãe eu falava. Minha mãe foi pra delegacia e falou pra o delegado que tinha visto o homem novamente

e que ele tinha ameaçado a filha dela. O delegado fez o caminhão parar e prendeu o cara de novo. Foi a última vez que eu vi esse cara.

Depois de uns anos eu arrumei um namorado e meu primeiro filho com ele. Eu tinha 23 anos. Eu queria muito ir pra São Paulo naquela época. Ele não quis e disse que se eu quisesse ele poderia ficar com esse filho cuidando e eu pudia ir pra São Paulo arrumar trabalho.

Eu aceitei e fui pra São Paulo. Deixei esse filho lá e pensei em voltar pra buscar ele. Só que quando eu voltei eles não me entregaram esse meu filho. Que tinha 3 anos na época. Voltei pra São Paulo e quase fiquei doida de saudade. Tentei de tudo mas não me deram meu filho. Ele ficou com minha sogra e o pai

dele. Hoje meu filho mora em São Paulo perto de mim. Ele chama Marcos e a gente conversando ele chegou a dizer me entende e me perdoou por eu ter ido a São Paulo.

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HP MAGIC WORDS

C a p í t u l o

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Z é

M A C A C O P e s c a d o r

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a n o s


Tubarão. Eu peguei um ali na poça. Eu botava uns alinhamento fino acordava ia lá encontrava cortado arrebentado.

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M

eu nome é José Arcanjo dos Passos. Eu sou conhecido por Zé Macaco porque eu com três dias de nascido meu tio André foi lá em casa de minha mãe foi lá me ver aí ele apontou e

disse como é o nome dele? José. Aí ele disse nasceu um macaquinho aí pronto ficou meu

apelido Zé Macaco Zé Macaco pronto. Eu nasci em Boipeba nasci em Boipeba ali naquele terreno onde é o posto médico eu nasci ali. Minha família não é muito pequena não. Irmão eu tenho cinco masculino e duas feminina. Eu já trabalhei em muitos lugares aí na cidade mas eu gosto da pescaria. Aí vim pra

aqui. Lá nos Castelianos eu fiquei um tempo bom lá nos Castelianos. Trabalhei de peia colhendo coco

e pescava também depois com muito tempo eu fui pra Guarapoá de Guarapoá eu vim pra aqui e aqui estou. Aqui era mato antigamente era um burrisao imenso aí eu fiz um barracozinho aí de lona a lona era enterrada na areia a bera da lona. Depois eu fiz um pequenininho tipo esse daí fora da lona depois fiz mais outro depois fiz mais outro depois fiz o outro que é esse daí esse que eu tô. Bom e agora tenho que fazer esse que eu comecei aí por fora esse daí agora vai ficar.

A maré nunca me tirou daí não. Tem época que no mês de março no mês de abril a maré é grande

essa areia branca que está aí dentro olha isso aí tudo foi a maré que colocou, mas o meu barraco nunca arrancou não. Eu que faço corto quando eu chego da pescaria às vezes eu trabalho aí às vezes tem que tirar madeira. É assim. Eu tiro a madeira aí no mato e pego também no mangue é assim a madeira de

mangue é boa ela tendo âmago é pra muitos anos muitos anos. Ali na parte do fundo tá vendo aquele

esteiro largo que tá lá no meio desse barraco novo. Tu tá vendo aquele lá aquele esteio ali é de somente o âmago do mangue viu. Quem me deu foi aquele Henrique quando desmanchou aquelas casas velhas

dali. No mínimo tá caminhando pra uns 50 anos aqueles estios dali. Isso foi quando Joaquim veio pra aí

foi que começou a fazer aquelas casas dali. Na época do dono daqui, Zé Pinto Velho, e tá ali o âmago. Aí Henrique me deu aquilo ali. Ali ainda dura o quê. Aquilo ali ainda dura uns 40 anos ou mais ali é somente o âmago do mangue ali não apodrece assim fácil não.

Eu gosto de morar aqui. Para mim aqui é tranquilidade essa morada aqui. Aqui eu gosto da minha

pescaria que aqui é um lugar meio que de sossego né calmo aqui pra mim eu acho importante isso aqui. As noites de lua de vez em quando eu não vou pescar eu sento aqui do lado de fora do barraco aí uso meu

leitezinho com água de coco e faço meu cigarro e assim vou vivendo. Fez 19 anos que estou aqui no dia 16 de janeiro agora de 2016 fez 19 anos que estou aqui. Às vezes vou em Boipeba às vezes no Moreré e volto. Às vezes levo até dois dias às vezes fico até duas noites lá em Boipeba.

Às vezes eu conto algumas histórias pro pessoal. Eu já comi copo de vidro. Uma época na Gamboa do Morro de São Paulo. Aí eu encontrei com um amigo meu ele era nativo daí de São Francisco chamava-se Jazum aí Jazum disse vamos toma uma pinga. Eu digo vamos. Aí chegamos na Gamboa que eu morava

lá aí eu sentei assim aí ah tá aqui a bebida. Começamos a beber eu disse óia tem tira-gosto aqui para a gente? Bom bem ele disse olha eu vou pegar um tira-gosto aqui do copo e você vai também. E o copo

vazio. Ele disse vai ou não vai? Eu disse vou. Ele disse pronto. Vou comer uma parte e você come a outra. Eu digo tá certo. Ele disse não tenha medo não. Tá certo aí traco traco traco traco ele cumeu uma parte

do copo eu comi a outra ele disse agora vamos aqui aí saímos assim. Fomos a casa dele e disse agora vou

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te ensinar o problema como é. Aí ele me ensinou. Disse vamos para lá para a banca novamente. Passou uns amigos e ele disse vamos beber aqui e ele disse não essa banca não dá para nós não porque todo o

tipo de tira-gosto que nós comêssemos ali a galera que fosse beber junto com a gente tinha que comer

também. Ele disse aqui tem um pedaço de cobra crua. Você vai comer um pedaço e eu como outro. Eu digo tá certo. E aí nós bebíamos tranquilos eu mais Jazum tinha outros tipos de tira-gosto tinha peixe

tinha carne tudo mas a galera não gostava porque tinha aquela rã né. A rã crua. Quem sentasse ali tinha que comer. E o copo eu comi por muitas vezes. Copo de vidro. Quem me ensinou foi Jazum. Jazum.

Tubarão. Eu peguei um ali na poça. Eu botava uns alinhamento fino acordava ia lá encontrava cortado arrebentado. Eu digo eu vou conseguir uma linha daquelas braba daquelas de colocar naquelas bóia mas

da grossona as linhas. Aí peguei um anzol grande. Coloquei. Aí isquei um pedaço de caramuru quando foi no outro dia estava lá. Tubarão. Mas estava morto. Com um tempo depois eu isquei ali lá perto

daquele mangue ali na poça do cais pra fora daquele mangue sozinho onde tem um canal ali. Eu ia lá no outro dia. Encontrei outro era grande ele dava na base aí o primeiro ele dava na base aí de uns uns

45 kg e o outro dava na base de uns 30. Aí depois eu coloquei a linha lá na onde chama o papagaio no

canal do papagaio aí isquei um budião num anzol grande um anzol três zero deixei lá. E a noite de lua fui

mariscar. Tinha um primo meu lá pescando chama Luiz Tel aí disse Luiz Tel minha linha tá bem aí perto

de você. Ele disse rapaz eu nem vi. Quando eu peguei que vi puxando eu digo ó Luiz Tel tem um brabo aqui um cação e aqui eu digo e agora para levar. Eu deixei lá. Quando a maré encheu eu trouxe aqui. Esse

dava na base aí de uns 60 kg. Pronto daí num matei mais nenhum cação. Agora outros tipos de peixe eu tenho pego aí. Agora no mês de setembro matei um Mero um Mero grande era grande o Mero eu passei

até para Henrique aquele dali do restaurante. Henrique tem as foto do Mero. Eu mato charel. Arraia. Pampo. Arraia eu tenho matado arraia até de 58 kg. Caranha. Robalo. Matei foi no inverno no inverno

matei um robalo de 16 kg ali na linha. Eu tenho náilon 300 e o náilon 400 mas o náilon 300 acho que é um alinhamento fino já o 400 aguenta uns tombozinhos. A pescaria aqui tem época que dá boa aqui tem época que dá ruim agora mesmo eu nunca mais peguei peixe nenhum.

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J o s é

M I L T ON A g r i c u l t o r

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a n o s


Professora você ensina mas tem que ensinar a gente a namorar que eu não sei.

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A

í sim. Aquela história. Eu já morei no Piapú um bocado de ano também antes de vir para aqui a gente já morava no Piapú né. Eu passei lá um bocado de ano no Piapú trabalhando muito lutando e a luta continua né e é aquela vida né. E foi sempre. A gente só vive assim. Sofrendo

pelo meio do mundo. Uns tempos tá bom uns tempos tá ruim. E assim vamos levando a vida como Deus quiser né.

Hoje aqui. A vida aqui. Lá também era bom. Lá também não era ruim não que a gente fraco nunca é

como a gente deseja. A gente às vezes quer ter uma coisa e não pode né. E aí a gente espera um tempo aonde a gente quer chegar né. Aqui tá ruim não aqui também tá bom aqui tem rio tem grandeza tem esses pé de árvore. Um bocado de gente em casa.

Quando eu cheguei aqui quando começaram aqui eu falei, quando eu fizer a casa a primeira coisa que eu vou fazer antes de eu fazer a casa eu vou fazer o sítio porque quando eu sair de dentro de casa eu já tô na sombra né. Para não ficar no sol.

Então foi assim que aconteceu. Nós construímos essa casinha mas meus pé de árvore eu já tinha plantado

a grandeza de Deus aí. Tem jaca manga caju jamelão tudo bom graças a Deus aí. Então onde você ver de

grandeza aí é da gente. Isso aqui eu plantei quando cheguei. Quando nós peguemo aqui peguemo assim né. Rapaz minha mãe mesmo teve vinte e seis filhos, foi uma benção sabe. Agora desses vinte e seis filhos só escapou cinco. Vinte e um Deus levou. Era nascendo e morrendo. Não demorava muito não.

Não eu não cheguei a ouvir assim ver mas ela dizia para nós né. Eu dizia, mãe só eu tive só cinco irmãos? Ela disse, é. Mas eu tive vinte e seis filhos mas só que morreu vinte e um ficou cinco. Aí que são três

mulher e dois homem mas o meu irmão mesmo homem Deus já levou. Já faleceu. Aí só ficou eu e as três mulher tendeu.

É então eu tô aí lutando até Deus quiser né. Tamo trabalhando batalhando né para ver se a gente alcança

alguma coisa boa pela frente. Quando era solteiro eu já curti muito. Antes eu era novo era coisa braba. É como você falou o negócio da escola. Eu estudei mas naquela escola chamada Mobral. E aí eu muito metido a namorador sabe.

Eu ia para a escola aí a professora chamava Carminha se não faleceu ainda chama. Aí tinha a professorinha. Aí eu ia estudar né. Antigamente tinha aquelas mesa comprida daquelas cadeirinha né. Todo mundo

pegava o seu lado né. Mas eu só queria sentar perto da professora. Agora era ela de um lado mas eu só queria chegar perto da perna dela porque ela ensinava de um lado. José é assim. E eu, tá certo. E eu prendendo as coxas dela na minha aqui dentro. E era uma sacanagem da desgraça. E ela menino eu tô

lhe ensinando você para. Professora você ensina mas tem que ensinar a gente a namorar que eu não sei. E ela dizia mas não é assim que se namora. Primeiro você tem que estudar para depois namorar. Aí não

me ligava no estudo. Como de fato que hoje eu não sei de nada. Só sei muito mal assinar meu nome. Agora assino meu nome todo. Aí se você perguntar Zé que letra é essa que nome é esse. Eu não sei. Até o pessoal mesmo do banco mesmo. Ás vezes eu vou assim no banco às vezes os meninos me chama para um negócio assim. Aí eu vou fazer o nome e pá pá pá. Aí quando eu acabo de fazer o nome a moça pergunta José que letra é essa aqui. Aí eu trato moça me desculpa agora eu não sei de nada. Tá passando no teste aí

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olha para o documento tá. E como é que você soube fazer seu nome todo e não sabe soletrar? Não sabe nem a letra que letra é essa. Eu digo moça eu tô fazendo o nome não quero nem saber não tá passando? Ela tá. Então pronto.

É o que eu sei fazer. Aí eu trabalhando.

Voltando a escola aí essa menina eu não vou lhe ensinar não. Você tá muito danado. Ela eu vou botar você

mais Carminha. Carminha já era mais sabida mais valente né. Aí botou eu mais a Carminha. Aí quando eu ia estudar ela dizia é você que é o aluno safado? Eu digo não por quê? Eu sô aluno safado não. Eu tô

sabendo que você vai para a escola prender as pernas da professora na sua. Eu digo porque ela aceita. Se

ela não aceitasse eu não ia prender a perna dela com a minha. Jamais eu ia fazer um negócio com uma pessoa se ela não aceitasse. Aí ela mas eu não aceito não. Aí eu tá bom que você não aceite mas eu vou

apertar sua perna mas se tu aceitar eu aperto também. Aí ela disse mas você é safado que nem a desgraça. Sou safado não eu sou assim mesmo. Você é moça eu sou rapaz não tem nada demais. Se você não gostou fala que eu paro. Mas aí eu sou casado e ela amigada né. Mas no momento não era nada disso.

Ah rapaz... namorada eu já tive pra mais de quinhentas. Quando eu era solteiro eu namorava demais. Eu

não passava um dia com uma namorada. Eu... eu... Naquelas linhas de Lagarto, lá do Ipiranga mesmo, aqueles interior brabo lá, eu chegava numa casa daquela ali, certa assim, aí eu acertava com uma, passava com ela, quando eu ia para outra festa, aquela eu já não queria mais. Entendeu? Já partia para outra.

E assim ia levando a vida. Vim parar um pouquinho agora, que eu já estou com uma certa idade, já

estou completando quase cinquenta. Tem que parar para pensar mais na vida né? Mas antigamente... antigamente eu era meio danado.

Não... eu graças a Deus até hoje... participar desse negócio de mulher dos outros, namorada dos outros não aconteceu comigo não. Porque às vezes, eu não vou dizer que eu não achava...

Eu sei... que é interessado né e o cabra vai quere cortar aquela imagem, num dá né?

Aí não, nunca aconteceu não. Porque eu sempre tenho aquele negócio comigo. Se você tem uma

companheira que é sua namorada, jamais eu vou perturbar ela, porque eu não quero que você venha

perturbar a minha. Entendeu? É meu ponto de vista. Eu vou pensar o seguinte: se eu for cantar a

namorada daquele amigo ali, ou que não é meu amigo, amanhã ou depois ele pode ver eu com uma

namorada e querer cantar a minha, e eu não tenho que dizer nada. Porque eu fui cantar a dele e eu tô

dando lugar. Então aí eu... entendeu... primeiramente eu perguntava: você tem namorado? Ela dizia:

não. Então dá para mim, que eu também não tenho não. E quando ela dizia que tinha, eu não queria. Muitas vezes, que nem, lá no Lagarto mesmo, tinha uma menininha que era a fim de mim e ela tinha um

namorado. Aí eu falei para ela: não vai dar certo. Você quer namorar comigo sem terminar com ele. Que

cara eu vou ficar, você e eu namorando, ele chegar e pegar nós? E aí vai fazer o que? Se ele for um cara

ciumento vai querer brigar. E eu não gosto de briga. Então nem quero mexer com esses problemas. E ela: porque você é mole, e tem medo de homem. Eu digo: não é ter medo de homem, eu tenho respeito para ser respeitado. E aí largava de mão. Agora... normal. O mundo hoje não é como era antigamente. Hoje

tá mais diferente. Hoje quando o cabra não quer, as negas “pega” a força. Né não? Conquista de qualquer

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jeito se ela for com as feições da pessoa, vai ali, luta, luta, até conseguir. Mas antigamente gente não ligava. Se tinha... sei lá... se tinha demais? Ou tinha demais ou tinha de menos né? Não sei.

Rapaz minha vida lá no Lagarto, quando eu convivia lá, minha vida lá era meia fraca.

Quando eu vivia lá em Lagarto eu era batalhador, trabalhava para os outros. Vivia sofrendo... trabalhando

pra aqui, pra acolá. Não tinha... não tinha... o conforto que eu tenho hoje. Hoje na realidade eu não sou rico, rico é Deus. Tamo fraco, mas um fraco tamo vivendo sossegado. E antigamente não... antigamente

eu trabalhava de enxada, vendendo meu dia de foice, enxadeca, entendeu? Minha vida era essa. Então

para mim, eu tô melhor aqui do que quando eu morava pra lá. Lá era uma vida pecuária do caramba lá. Era pesado.

Rapaz, e me acordei um dia, me acordei um dia... não eu tava acordado, mas também não tava dormindo, eu tava pensando um negócio aí. Aí apareceu um filho de Deus lá, a boca da noite, aí ninguém num

conhecia, ele num conhecia ninguém. Aí falou: você quer ir pro Sem Terra? Aí eu digo: eu nem sei quem

é Sem Terra. Às vezes a gente não sabe o que é um Sem Terra não. Se você quiser vai ter uma ocupação

ali, numa fazenda, se você quiser acompanha agente que a gente vai invadir e você vai melhorar de vida. Aí eu digo: como é que a gente vai melhorar de vida, se a gente vai invadir o que é dos outros? Nós vamos

é morrer, né não? Aí o cara disse: não, não morre não. Aí eu digo: rapaz... que eu não si nada. Eu tenho aqui duas tarefas de terra. Essa casinha. O cara chegar aqui e quiser invadir não vai dar certo não. Aí o

cara disse: não rapaz, não é assim não. É muita terra, e para cada um vai pegar muitas tarefas de terra. Vamo simbora com a gente. Daí, certo. Eu já tô. Vamos. Eu entrei no magode deles. Aí me chamaram. Aí nós coloquemos de lá.

Eu já era casado. Aí nos coloquemos de lá umas dez horas da noite. A mulher fala: cê vai para onde Zé? Eu digo: eu sei lá, nós vamos num Sem Terra aí. Se é Sem Terra vou nessa aí, pra ver se Deus ajuda nós

que amanhã depois, nós tem mais terra e tem como sobreviver nossa vida mais sossegado. Ela disse: então

é... vá. Eu digo: tão dizendo é pra invadir. Se eu invadir lá... eu mais eles e eu escapa ainda volto, vivo, senão se for pra morrer nós morre. Deus o livre. Isso aí vai dar certo. Então tá bom.

A gente veio pra cá, aí viemos ali pro Tombo, fiquemo ali mais uma galera. Aí enchemo o carro e

cheguemo aqui pra o Piapú. Cheguemo aqui no Piapú era doze hora da noite. Na mata lá, era doze hora da noite. Aí né... que loucura. E chovendo viu? Parou o carro assim, só via ente descendo assim, que nem

bode quando solta no mato, no escuro. E eu fiquei à toa. Aí eu disse: aonde que eu tô agora? Aí o cara: desce, desce rapaz, que o caminhão já vai embora, no caminhão. Aí nós descemos. Aí se acolhemos dentro

dos matos que nem boi brabo. E a chuva caindo sempre. Já depois, que foi que eu vim fazer. Aí depois

que clareou. Aí eu digo: vem aqui, invadir terra é assim? Os cara disse: é. Eu digo: e o dono? Não, depois o dono você vai ver. Ô amigo, quando foi com o negócio de dois dia, aí eu vi o pepino arder mesmo. Aí vi

chegar a polícia. Vi chegar outras coisa. E aí... hum, o???? vai ficar assim não. Aí ele fica vendo os olhado

pros lado do que tá aqui. Aí eu digo: mais já tô aqui, vou ficar. Aí eu sei que eu lutei, fiquemo. Aí não

deu certo logo lá, a gente foi pra Quissamâ. De Quissamâ nós rodemo, ainda viemo pra outras fazendas, que eu esqueci os nome. E tornemo a volta foi pro mesmo lugar de novo, que foi pro Piapú. E de lá foi

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desapropriado e tomemo conta das terra, entendeu?

Aí só que, eu mesmo deu problema com a família, primeira mulher, aí já tava bem lá, aí deu problema com a família, aí se separemo. Aí vim parar aqui de novo. E de aqui agora eu tô bom.

Ela foi embora. Dividimo tudo que nós tinha. Ela pegou a parte dela. Eu peguei a minha. Aí vim pra aqui. Ela foi pra Salvador. Entendeu? Eles mora tudo em Salvador.

Aí depois, vai fazer o que, uns três meis, eles alugaram tudo que tem lá, agora tão morando aqui em Lagarto. Eles tem casa aí num sabe? A família tá tudo aí. Tá minha ex-mulher, meu fios, eu tenho cinco fios com ela. Aí mora umas parte no Quilombo. E outra parte de gente minha no Rio Fundo. É tudo Lagarto sabe?

Rapaz eu vou sempre lá sabe. Agora vai fazer que eu cheguei de lá, vai fazer uns três meis que eu tive lá. Mas sempre eu vou. Eles vem aqui de vez em quando. E aí, tamo aí lutando com a vida que Deus quiser né? E é aquela história: leitura que é bom... nada! Agora eu tô aqui cê...

Não... eu tô sossegado. Cê tem esse carro, cê diz???? Tome essa chave aí vai em Salvador, vai em tal lugar assim, assim. Só em que eu nunca fui. Recife, Maceió, Pernambuco. Esse meio de mundo aí, vá lá, entrega isso que eu preciso. Eu vou sossegado. Eu tirei minha carteira, coisa incrível. Eu trabalhava de táxista. Aí

o cara disse: como é que um analfabeto vai tirar essa carteira? Eu digo: rapaz, eu sou analfabeto, mas não sou tão bronco não. Aí eu disse: pois tá certo. Engraçado é que... eu trabalhando de táxi.

Sem nada. Carro atrasado dez anos. Habilitação eu não tinha. A porta do carro, amarrada de arame. É... e eu enchia o pé. Cê sabe que tinha uns pessoal que chegava do Rio do Janeiro, Salvador. Sabe que tinha uns pessoal humilde e tinha outros metido né? Aí eu chegava: quero um táxi. Eu montava dentro do meu carro véio e ficava de lá olhando assim... E quando chegava aqui assim... esses cabras é gente de bem, não vou nem oferecer o táxi meu. Aí e ficava... Às vezes eles subia né? Que tem a parte de baixo e tem que

subir para pegar o táxi em cima né, aí eles subia e eu tava lá, na bocada. Moço cadê o táxi, aí que não tinha mais nenhum, eu digo: tem ele ali. Aí o cara olhava assim, ali um táxi. Aí eu digo: rapaz, pra mim é né, que

eu tô aqui trabalhando... é um táxi né. Placa cinza, não é placa vermeia, carro véio, todo esbagaçado. Aí eu

digo: mais importante é que o coração dele é novo. Aí viaja... Aí eu digo: então vamo. Aí às vezes, eu ia

levar né. Eu cansava de levar, quando chegava na Stella, às vezes a polícia me pegava, os guarda. Aí pedia habilitação, documento. Rapaz, aqui tá tudo errado. Tá errado o carro, e errado o dono. Errado como? O carro tá atrasado cinco anos. Eu, habilitação eu não tenho. E agora? E agora eu tô na mão de Deus e de vocês. Aí ele fala: vamos prender seu carro. E eu: rapaz, não prenda não, porque se prender esse carro

é o mesmo que tá me matando. Porque é onde eu tiro o pão de cada dia para os meus fios é aqui ó. Aí eu digo: eu tenho uma mulher e dez fios, mas eu tenho uma mulher e cinco fios. Se vocês prender esse carro eu vou morrer de fome. Então eu conquistava eles né. Conversava tal, daí quando eles...

Aí eles diz: rapaz, cê tem como deixar eu dar uma olhada nesse carro aí dentro? Eu digo: tudo bem, chefe. Eu deixo cê dar uma olhada. Eu pedia para o pessoal descer do carro, o pessoal descia. Aí quando era do meu lado. Eu passava o pessoal do meu lado, eu descia primeiro, eu abaixava o banco para o pessoal

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descer. Porque do outro lado a porta descia né. Aí vai a polícia, vai o guarda, e porque cê só abre essa porta aqui? Eu digo: porque a outra é complicada. Diz, complicada como? Vá abrir lá então. Quando ele pegou na frente, que puxou a porta... caiu nos pés. Ele: oxente, que carro é esse? Eu digo: eu falei pra

vocês que a porta do carro é complicada. Mas rapaz, você com um carro desses, ainda na BR ainda. Rapaz, preocupando... botando a vida do pessoal em perigo. Eu digo: perigo, seu guarda? É eu sacar um 38 e

botar nos seus ouvidos para matar, para assaltar. Aí que era perigo. Então eu tô com perigo nenhum não. Eu tô com a fé de Deus, tô trabalhando na honestidade para dar de comida aos meus fios sem precisar tá

assaltando ninguém. E ele lá: rapaz cê é fogo, vai embora, agora não me passe por aqui mais não. Eu digo:

eu vou passar sim, que eu não vou passar voando. Aí eu desci o pé, fui lá em Imbaúba, em Cristinapo, e tem que passar por eles. Eles estavam na estrada. Aí eu passava e para tirar onda ainda buzinava, pá, quando eles olhavam que via que era eu, eles viravam a cara.

Aí na carta foi assim. Os pessoal dizia, mas cê vai tirar a carta como? Um analfabeto desses, só sabe fazer

a letra do O quando senta no chão. Aí eu digo: pois eu vou tirar. Aí nós se ajeitemos. Aí foi Waldemar

aqui e outra galera tirando sarro de mim, querendo tirar. Aí eu vou, foi em Indiaroba, me lembro que nem agora. Ah tem um... tem que tirar a carteira em Indiaroba, aí é bom. Aí eu fui. Primeiro eu fiz os

exames né? Esse negócio de exame de saúde, de vista, eu fiz. Aí quando foi na aula de fazer baliza???? Esse carro de fazer baliza era um Chevette. Aí vai eu. Na hora de... eu passei ni tudo, Agora só, perto de

mim sentou um colega meu né. Aí na hora das prova ali, num é num sei o que, num sabia né. Aí eu... diz que num podia encarar né, é.

Aí eu, quando a moça lá perguntava eu digo, é isso e isso. Aí eu passei e passava. Passei em tudo. Aí

quando na hora de fazer exame de rua, fazer baliza, isso aquilo outro, aí tá certo. Meu amigo, aí foi onde

a macaca torceu o rabo. Foi aí agora. Quando chegou a hora de eu fazer baliza, de fazer rua, que tem que andar né? Aí disse: ói Zé é a tua vez. Aí botou o guarda. O guarda entrou no meu carro pra gente correr

a rua né. Aí quando eu entrei, aí o guarda: e por que cê não abre essa porta? Eu digo: porque essa porta... quando ele olhou, essa porta tá amarrada de arame, eu digo: é. E agora? Eu digo: agora é, se quiser que

eu abro, eu abro essa porta. Ele diz: abre aí. Aí eu abri, ele entrou eu amarrei a porta. O carro não piscava, não fazia nada. Mas só que nas entradas e saída eu ligava o pisca né. Aí ficava, tic, tic, tic e ele pensava

que ela estava piscando. Piscando o quê rapaz? Piscando nada, só tava ali o alerta, piscando sem nada, não piscava nada. Aí ele vamos por aqui. Ali em Indiaroba. Aí rodemo ali por detrás ali daquele coiso ali perto da maré. Aí vinhemo, quando cheguemo bem de frente daquele mercadinho, ele: para aqui. Aí com eu era bronco passei do mercadinho base de uns dois metros eu fui parar, ele: não... não... não. Quando

chegou bem no meio da encruzilhadinha assim, no meio de uma rua e outra, ele: para aqui. Aí eu dei sinal, quando fui parar, ele: não pode seguir. Eu sei que eu passei em tudo, até que eu tava ligado no que

a galera me ensinava né? Como era o negócio. Aí eu fiz tudinho. Tudo bem. Quando chegou na hora de fazer a baliza, aí tava assim de carro. Aí o guarda desceu né. Desamarra aqui, eu fui desamarrei, e ele

desceu. E o chefão tá lá né, que é do Detran. Dando as ordens. Aí eu encostei. Quando foi a minha vez ele disse: zé, agora é você que vai fazer a baliza. Aí quando foi o guarda disse para o outro, o chefão que

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comanda lá: aí, o carro dele é amarrado de arame. Aí o homem olhou assim, o chefão né, o que liberava

tudo para nós. Aí o cara falou: vem aqui, tá amarrado de arame? Eu digo: é. Cê não quer fazer baliza com

outro carro não? Eu digo: não chefe. Por que esse carro aqui eu já sei da manha dele toda, se eu pegar outro não vai dar certo. Não posso fazer com ele? Aí o cara olhou para mim e disse: pode. O chefão que

liberava tudo né. Aí quando chegou na minha vez... botei... Rapaz, quando Deus quer dar, só ele quem tira e mais ninguém. E a turma tudo mangando de mim. Ôxe, eu no volante não sou muito fraco não. Eu

chamei o bicho pra lá e pra cá. Botei pra lá, quando eu botei pra cá, que chamei, ele normal. Aí o cara, o marinheiro de primeira viagem quando encostei o carro na frente, aí eu vou checar: aí chefe, passei ou

não? Aí o cara: é o que cara? Eu quero que você confirme seu eu passei ou não? Você passou de primeira

rapaz. Aí eu fiquei numa alegria. Aí eu voltei né, com meu carrinho amarrado de arame. Quando cheguei

na rodoviária os caras: e aí Aratu, passou? Eu digo: rapaz, eu passei de primeira. Aí eles: como que você sabe? Eu digo: porque eu conversei com o chefe e e o chefe disse que eu passei.

Não. Ele falou em boca. Em boca logo. Ele viu que eu estava tão preocupado para tirar minha carteira,

o cara lá, ele viu que eu estava tão interessante, preocupado. Ele chegou e disse: não rapaz, cê tá liberado. Cê passou no teste mesmo. E eu: chefe, certeza? Certeza? Porque ói, eu preciso desse objeto aí, desse documento aí. Aí ficou, ele disse: ói, o mais tardar é quinze a trinta dias. Eu digo tá certo.

Aí eu não sei ler. Eles botaram a papelada na coluna da rodoviária, quem foi aprovado né. Aprovado né, pra pegar a carteira. Eu não sei, eu olhava aquele papel lá e não sabia o que que era.

Aí olhava assim e pensava: meu Deus, que papel é esse? Era meu e dos outros, é tipo um livro assim, de fora a fora, aquela página.

Isso. Olhava assim, mas não sabia, aí eu perdei a paciência, aí tinha um cara de Indiaró, mas eu queria

agora. Um cara que é muito meu amigo. Aí eu: rapaz, faz um favor? Essa lista aqui é o que? Aí ele: rapaz, essa aí é a lista do pessoal que tirou a carteira lá em Indiaroba. Aí os cabras vieram e colocaram a lista

para saber quem foi aprovado ou não. Aí eu digo: ô rapaz, então repara se meu nome tá aí? Aí ele disse: como que eu vou saber se você não sabe ler então como tirou sua carteira? Aí eu digo: olha rapaz, se meu nome tá aí ou não. Pelo amor de Deus. Olha aí se tem José Nilton, José dos Santos aí? Quando ele

olhou passou dos dois mil e seis, tinha o meu. Ói, eita rapaz. Quando eu subi lá em cima, só tinha os gritos. Ganhei, ganhei. Aí a minha mulher que era muito ignorante na época, eu ainda tava com ela: cê tirou sacanagem de nada rapaz, onde já se viu burro tirar carteira? Eu digo: burro é você que não entende de nada. Eu entendo que tirei. E vou buscar minha carteira essa semana. Vou sim. Esse mesmo colega

que olhou meu nome, amanhã nós vamos buscar tua carteira. Aí fui e peguei minha carteira. Como eu

tenho... eu tenho minha carteira aí hoje. Agora tem o quê? Quinze anos atrasada. Ói tá aí. Acho que uns quinze a dezesseis anos. Mas tá aí a carteira, não tem retrato não, é coisa antiga. Então eu sei que me foi isso.

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Sapequei o murcego na cuia e fiquei cumeno depressa pras minhas irmã num vê pra num tomá de mim.

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infância da gente era sair de casa pra ir trabaiar de roça nós nem carro num tinha num tinha

trator nessa época veio aparecer de uns tempo desse pra cá a gente tinha que está de pé quando dava treis hora da madrugada nós já ia chegando no serviço longe meu irmão no Altão na Boa

Vista. Trabaiamo muito pra ajudar meu pai e nós trabaiava e ajudava e eu nunca me arrependi.

Ói quando pensa que não chega minha sogra que ia ser a minha sogra né e foi mermo né e treis cunhada

minha lá em casa ai começaro a cunversá mais mãe nem mãe sabia quem era eles nem pai sabia. Aí ela disse eu tô sabendo dona Xiquinha quem me disse foi Marly e mãe disse e foi ela disse foi. Minha mãe

era tão boinha Deus bote ela num bom lugar que ela merece. Ela não podia ajudar nóis que também ela

não trabaiava né a gente tinha que se roçá pra pudê ajeita. Mar meu irmão quando pensô que não eu dei pra andar mais minhas irmã pra casa do rapaz antes de me casar pra saber como era lá. Eu cheguei lá a

família tudo humirde num brigava dito e feito eu me casei e nunca me arrependi. Aí eu fui me apegando assim na família e nele tumbem. Meu irmão o pior é que eu ia acabendo a casamento sem precisão.

Apareceu que nem foi uma foia de coqueiro assim no céu aí ele foi me mostrar ele já tava sentado mais eu nóis já tava noivo de aliança aí ele disse ói Marly é que nem um praneta meu irmão quando eu fiz assim

andonde. Que eu olhei o nariz dele bateu aqui no meu rosto. Meu irmão. Pra mim eu não era moça mais. Fiquei morta óia morta de vergonha. Mas num foi um beijo foi só o nariz dele. Que nem querer nem querendo ele ia me beijar né. Que ele não era doido. A gente não aceitava não.

Aí eu fui e disse a Maria minha irmã. Disse Maria eu vou terminar o casamento. Marly pelo amor de Deus cuma ela disse. Marly isso não é nada demais não se pai ou mãe perguntar proque pai agora ta

gostanu de Jésus pai num gostava no começo mas agora se apegou na família. Passei quinze dias sem

olhar na cara do rapaz ele passava pra trabaiá e olhava pra mim eu abaixava a cabeça com vergonha. Ói eu com dezessete anos eu ainda brincava de buneca ói.

Eu tenho muito mais história se eu for contar emenda com a noite.

Quando nós era menina a minha mãe tava na casa de uma molhé que tava fazendo louça panela pote

umas jarra grande pra butar água pra esfriar uns pratinho pequeno pra gente cumer e beber isso a gente

morava nos mato o dinheiro do meu pai não dava pra cumpra prato arriscado da gente quebrar né. Nós

era us menino tudo piquenin. Eita meu irmão quando pensa que não entrô se acredita entrô um murcego dos cavalo dentro de casa aí eu larguei a vassoura matei o murcego sem saber pra mim era um passarinho

de lagoa preto. Aí abri ele na taboa de minha mãe cortar carne nem tirei os fato tirei nada butei na brasa um poquinho de sal butei num pote que minha mãe butava farinha peguei uma xícara de farinha e butei

na cuia. Sapequei o murcego na cuia e fiquei cumeno depressa pras minhas irmã num vê pra num tomá de mim. Se as menina ver eu cumeno esse passarin vai tumá de mim.

Só que num era um passarim proque os passarim bibia água numa lagoa que tinha né. Aí o murcego

era dus cavalo e do dono da terra né aí eles só chupava sangue dos cavalo e eu não sabia e nós pequena né. Aí minha irmã disse eita mãe Marly tá comendo um negócio lá na cuia lá e ela nem deixou assar direito não sei o que é.

Sei que ela tá comendo e eu pedi um pedacinho e ela num me deu ói.

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Aí minha mãe chegou e disse Marly o que foi que você assou e tá comendo na cuia de farinha. Eu disse mãe foi um passarinhozinho preto de lagoa que entrô aqui dentro de casa e tava nas parede. Aí ela disse cadê as pena do passarinho eu disse num tinha. Que murcego não tem pena né hahahaha. Valei minha

Nossa Senhora minha fia isso daí é um murcego dos cavalo de cumpade Vieira eu dito eita e agora eu já comi mãe disse vai morre e eu nunca tive nada. As menina manga tanto de mim hoje. Eita que comi todinho e comi até a farinha que tava melada do sangue.

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Eu não sou lida sou corrida. O lida é quando você aprendeu só no livro e o corrido é quando você aprendeu no nosso mundão aí ó.

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eu nome é Neusa tenho 82 anos sou acreana. Eu vim pendurada em um avião da FABE é

porque eu vim escondida do meu pai. Fugi é sério porque eu tava noiva e ele não queria que

eu casasse com o cara mas eu queria casar. Já estava tudo pronto até vestido de noiva tava

pronto. Aí ele não queria que eu casasse. Pra ficar lá escutando a zuada no meu pé do ouvido todo dia

eu disse, não, vou-me embora. Não falei nem nada pra o noivo fugi de tudo entrei em contato com um

amigo que eu tinha na FABE me esconderam lá dentro da bagagem e eu voei pra Rondônia. Eu sou osso duro de roer eu era osso duro de roer agora não presto mais pra nada. Depois de um ano o noivo veio

atrás de mim. Eu já tinha casado com outro não tinha filho ainda não ele veio aqui eu já era empregada em Urupá. Eu disse, rapaz volta pra o teu canto vai cuidar da tua mãe da tua irmã que eu não preciso que ninguém cuide de mim não só Deus mesmo. Aí ele voltou. Eu já tinha outro marido já estava com o

pai desses meus filhos quando ele apareceu. Em 1954 eu tive o primeiro parto no dia 22 agosto de 1954. Eu tive 22 filhos tenho 8 vivos porque na aquela época ninguém sabia o que era remédio. Eu tinha um

médico aqui o finado doutor Lourenço ele era um médico muito bom. Ele entrou em contato não sei por

onde. Ele arranjou um comprimido pra mim tomar pra evitar a família mas aí eu fiquei passando mal. Voltei lá com ele aí ele fez uns exames e disse, você não pode tomar. Eu parei de tomar e pari até quando deus quis. Receba e tome e lhe tome é sério porque naquela época não tinha esse negócio de comprimido

não tinha camisinha não tinha coisa nenhuma. Tinha que servir o marido fosse de qualquer jeito. Tinha que servir e eu só tinha tempo mesmo lá de madrugada. Eu caçava eu pescava eu vendia eu fazia farinha fazia todo o reboliço e todo ano era um filho um no rabo do outro não tinha descanso de vida não. Só bastava espiar pra o marido já tava grávida. Quem me ajudava era Deus os mais velhos quando eu saia

ficavam. Tá aqui o leite, tá aqui, faça tal hora. Tá aqui o relógio quando o ponteiro estiver aqui é pra fazer

o leite e dar pra o seu irmão. Se eu chegar aqui e esse menino estiver com alguma coisa você apanha. E apanhava mesmo. Eu criei meus filhos foi tudo na lei dali à rédea curta. Até hoje todos me respeita. Tá lá

em Porto Velho não tá nem aí mas liga sempre pra saber como mamãe tá. Se eu disser que estou passando

mal daqui 10 minutos ele chega aqui. Tudo me respeita e muito. Ai de um filho se responder pra mim. Tudo tem barba no queixo tudo é pai de família mas não me responde. Se eu disser, é isso, acabou. Toda vida eu soube dar educação pros meus filhos graças a Deus. O que eu sei agradeço a educação que eu tive

do meu pai ele era muito rígido mas eu agradeço muito. Mas quando eu dizia que eu ia, eu ia mesmo. Ele dizia você não vai e eu dizia vou. E ia. Toda vida eu fui destemida. Resolvia fazer as coisas do meu jeito tem que ser como eu quero.

Minha mãe morreu quando eu tinha 5 anos. Meu pai teve mais mulher depois mas uma só. Aí pelos barrancos ele teve bastante mas mulher dentro de casa mesmo só minha mãe e mais uma. Essa mulher

que meu pai casou não me respeitava e eu quis detonar ela. Disse a meu pai, pra lá não quero nem saber

o que se passa ela é sua esposa mas aqui dentro dessa cozinha ela tem que me respeitar o tanto que eu respeito ela. Quando ela entrou aqui dentro de casa eu já tinha isso aqui tudinho essa barraca velha

galinha porco peru e escambau todo. Agora ela me negou um ovo pra comer e eu quebrei tudinho e mato as galinhas e jogo tudo no mato. E se ela facilitar eu detono ela na pólvora ela roda. Aí meu pai me deu

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uma surra e eu disse que se ele me batesse de novo por causa dela eu matava ela na faca na bala no que tiver ela vai. Ele disse que eu não tinha coragem e eu disse que tenho medo de mim, tô tremendo de

medo do meu gênio. Aí meu pai falou tá bom e entregou ela de volta pro irmão dela. Antigamente era

assim tinha que casar com a moça e se não desse certo entregava de novo pro pai pra família. Era doído. Depois que eu voei pra cá meu pai veio a pé a atrás de mim de um seringal pra outro seringal pra outro seringal pra outro até me achar.

Pra ser boa caçadora tem que ter coragem se não tiver coragem não é caçador. Porque na mata tem muito

o que a gente enfrentar. Quem é frouxo não enfrenta tem coisas na mata que as pessoas muitas vezes não sabem nem o que é. Eu pelo menos sei as coisas da mata é a onça é a cobra que é mais traiçoeira que a

onça. É a cobra que fica dentro da folha fica atrás do pau e você não está nem vendo pisa em cima ela, tome. Então se você tiver medo do mato você não anda. Primeiro é preciso ter visão e tino pra andar no mato porque se não souber entrar no mato é difícil de sair. Porque digamos que por exemplo um de vocês

aqui da cidade entre. Só se tiver um tal de bússola né pra andar no mato. Aí entra e sai. Hoje em dia sai

porque tem varador tem estrada tem tudo em todo canto. O primeiro tiro que eu dei pra caçar eu tinha 9 anos. No seringal com o meu pai. Fui numa juriti, ela veio voando sentou numa ingazeira que tinha e papai disse ó aí, pra tu aprender a atirar. Ele tinha uma espingarda 24 e me deu, eu tsc, ela puf.

Pra ser boa caçadora tem que ser como eu disse tem que ter coragem e saber andar no mato saber por

onde passa pra saber entrar e sair. É igual quando você chega em uma cidade você tem que saber por onde

você está andando né. Eu sou uma pessoa que tem muita experiência de vida eu não sou lida sou corrida. Você entende o que é lida e corrida? O lida é quando você aprendeu só no livro e o corrido é quando você

aprendeu no nosso mundão aí ó. A gente no mundo a gente sabendo andar no mundo a gente aprende

mais do que no livro. Eu sei de coisa que ninguém duvida sei de muita coisa. Eu faço parto. Nunca

morreu uma criança na minha mão graças a Deus eu sou parteira como diz o pessoal né. Eu sei aplicar

soro da criança ao velho gagá. Aplico injeção na égua na besta na galinha no cavalo. Eu aplico injeção em qualquer um e eu nunca errei uma veia graças a Deus. Pode perguntar aqui pros meus vizinhos Mazuzu

Mané Bento esses antigos que tinha aqui quando eu cheguei no Candeias. só aqui no Candeias eu tenho

mais de 200 partos que eu fiz daqui até na Urupá. Já fiz parto no chão. tinha um posto policial ali na frente aí chegou uma mulher lá não sei da onde. Tiraram ela do do ônibus do finado, do godóia, tiram

ela dos braços dele e entraram com ela num beco onde vendia caldo de cana do senhor Vitor. Botaram

ela lá e agora a mulher está tendo neném chega aí meu deus e o marido dela? Não dá tempo de chegar a tempo calma homem vá atrás de um pano e traga pra cá pra ela ficar no chão limpo. Ele correu lá não sei a onde e achou um lençol colocou no chão eu fiz o parto da mulher lá. Um menino homem. Então

isso é coisa que a gente aprendeu pela vida né. Andando no mundo. Primeiro parto que eu fiz eu tinha 10 anos eu não sabia nem pra onde era que ia e fiz. Deus me abençoou. Eu fiz o meu primeiro parto no

seringal de São Francisco do Iracema, no Acre. Eu não tenho medo de enfrentar serviço nenhum. Só não

sou chegada a caneta. Nunca fui. Mas se me der um machado motosserra me dá que eu destroncho tudo.

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Tem gente que joga boneca nova com preguiça de lavar. Aí joga e eu chego perto e levo.

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lha eu tenho muito cuidado com as minhas bonecas e eu não gosto de ver elas sujas não. Eu gosto de dar banho. Ontem eu até ajeitei três e ontem falei pra Simone. Mulher você não faz

nada. Você não faz as coisas que eu mando direito. Ajeite as minhas bonecas. Ela tem preguiça.

Eu tenho uma mochila só pras roupas dela.

Desde menina eu brinquei de boneca e sempre eu gostei de boneca. Só que quando eu era menina eu não tinha muitas bonecas não sabe. Porque a gente não tinha condições e mamãe fazia as bonequinhas

na mão. Aí a minha madrinha veio com um bonequinho bão desses de prastico né. Eu tenho uma boneca que se chama Dayane e ela é uma boneca grande. Ela tá lá em cima do guarda-roupa.

Aí depois que eu me casei eu truce as minhas bonecas. Aí eu ajeitei e depois era Soroquinha e a Caboça e eu fiquei sem boneca né. Aí depois que eu vim me embora praqui as minhas meninas tinham boneca e eu

comprava boneca pra elas e elas brincavam e depois elas não quiseram mais aí eu fiquei com as bonecas. Aí depois essa neta minha apareceu e ela tinha muita boneca. Tinha gente que trabalhava em casa de

família. Tinha uma colega minha que ela disse mulher por acaso a sua patroa não tem boneca pra dá não. Olha de vez em quando ela arruma umas bonequinhas. Aí arruma duas pra mim. Aí ela arrumou parece que quatro boneca.

Eu tenho acho que mais de 30 bonecas. Olhando direitinho eu acho que tenho. Pequena grande. Aí eu

faço os vestidos pra ela e às vezes as pessoas que eu conheço que têm criança recém-nascida eu vô lá e peço. Eu tenho um boneco preto que é da cor de carvão mesmo que eu comprei aí eu dei banho nele mas aí eu desmontei ele todinho e tá dentro da mochila. Depois é que eu vou ajeitar ele. Aí ele veste uma ropinha

de menino homem. Tem a toquinha e a meinha. Ele tali guardado. Eu faço as roupas e as pessoas que têm criança pequena eu peço.

Essa menina minha comprou dois conjuntinhos pra dar pra uma sobrinha minha que ganhou gêmeos

sabe. Aí nóis nunca foi lá e ela pensou que não as meninas já tinha mais de dois anos. Aí não dava mais. Aí eu vesti na minha boneca. Eu pensei olha não vamos dar mais essas roupas pra ninguém não. A gente não tem menino pequeno. Aí eu vou vestir na minha boneca.

Eu gosto de ter bonecas porque eu arrumo elas e acho elas todas bonitinhas. Aí eu boto e enfeito minha

cama. Quando o povo joga os lixos eu vou lá e pego as bonecas do lixo. Aí chego em casa e dou banho e

ajeito bem ajeitadinha e ela fica bem bonitinha. Tem gente que joga boneca nova com preguiça de lavar. Aí joga e eu chego perto e levo.

Uma vez meu menino achou uma boneca bem grande que tá com uma roupa de recém-nascido. Aí ele

disse olha mamãe uma boneca que eu achei. Ele disse que ia passando lá debaixo do viaduto e jogaram essa

boneca e eu apanhei que eu sei que a senhora gosta de boneca. Aí vixi Maria eu ajeitei a boneca e botei

logo uma roupa nela e coloquei uns vestidinhos aí que a minha comadre tinha me dado de recém-nascido. Eu já até vesti na minha boneca um vestido de noiva toda branca.

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Naquela época quando aparecia um avião diziam que era o satanás né corria o pessoal.


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apaz, o seguinte é esse, quando Lampião morreu eu não era nascido ainda entendeu eu sou de cinquenta e um né nascido e criado aqui em Propriá.

Agora minha família toda lá de Canindé no São Francisco meu pai conheceu Lampião minha

mãe também conheceu porque era em Canindé mesmo onde ele vivia né. Meu pai contava que o pessoal temia ele né.

Na época Lampião era respeitado né hoje eu acredito que não se cria mais cangaceiro porque hoje tem muito exército e tem muito armamento avião a pegá. Como que o cabra vai se esconder.

Naquela época quando aparecia um avião diziam que era o satanás né corria o pessoal. Assim eu ouço contar né pessoal corria dizendo que ali era o satanás.

O transporte naquela época era transporte de animal quando via um carro dizia chega que lá vem o satanás pois é né meu cumpade.

Eu fiz esse grupo de cangaceiro através dos filmes que via aqui em Propriá não sei se você já viu. Lampião

o Rei do Cangaço, O Cangaçeiro aí eu assistia e achava bonito e aqui em Propriá tinha um grupo de cangaceiro que quem fundou primeiro foi o Adalberto era um negão que trabalhava na fábrica então fundou esse grupo cangaceiro né, ele contava muitas histórias de Lampião porque ele palestrava com Lampião. Lampião não cantava nem nada mas meu grupo sim isso aí já foi um enfeite nosso.

Quando eu fundei esse grupo de cangaceiro eu fiz uma música porque o pessoal tinha muito medo. A música que era assim.

Algum dia anos atrás eram grande assombração na cidade de Propriá estremecia até o chão. Com a polícia atrás dos cabra de Lampião com a polícia atrás dos cabra de Lampião.

Agora em setenta e dois começou a confusão com o jovem Antônio José que é o novo Lampião.

Está correndo o Nordeste fazendo assombração está correndo o Nordeste e fazendo assombração.

E o sargento com medo já pediu um batalhão já chegou metralhadora e fuzil só não chegou o canhão. Tudo que ele pediu já esta nas suas mão pega pega pega pega mas ninguém não pegou não. Vamo ver se pega logo esse novo Lampião.

Foi música feita por mim mesmo sabe que eu fiz na base de umas seis músicas.

Fiz outra essa era tipo na base de um baião né, aí fiz otra que é tipo um xotezinho que era assim. Ô que vida corrida sofrida é a vida danada deste novo Lampião. Ô que vida corrida sofrida é a vida danada deste novo Lampião.

De Sergipe a Alagoas todo mundo já conhece esse novo Lampião que se chama Antônio José da cidade de Propriá aí vai tirando verso sabe.

O pessoal já aplaudiu muito a nossa brincadeira e até hoje toamo continuanu.

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Se eu fosse escrever uma carta eu escreveria pra minha mãe que é a única muié que não trai a gente.

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u vim pra cá em noventa e dois lá eu só trabalhava na roça quando eu vim pra cá eu fui trabalhar em restaurante quem me trouxe foi minha irmã eu vim pra poder ganhar o meu suor sem depender de ninguém lá eu dependia do meu pai e da minha mãe. E nem sempre eles tinha pra dar.

Em noventa e dois quando eu cheguei eu fui morar lá na Santa Tereza e era bom. Tinha violência também depois eu sai de lá e vim morar aqui no Macaco.

Continua as violência e tô aqui até hoje o meu dia a dia eu trabalho normalmente pratico pouco esporte que minha vida é mais trabalhar final de semana também trabalho porque se não também não dá que as coisas aqui também tudo são caro.

Tenho família pra manter a família também. Inclusive a gente trabalha pra nossa família não trabalha pra gente quem tem filho e não é fácil a vida não é fácil. Eu tenho um casal Leonardo e Júlia. Minha mulher é a Maria ela mora comigo mas ela é do Ceará. Conheci ela no restaurante foi colega de serviço. Ah foi o

destino né a gente como homem eu querendo ensinar ela que eu também entrei lá eu não sabia de nada. Pra passar o álcool na mesa eu pegava na mão dela pra ensinar ela e dai já tem doze anos que eu tô com ela. A violência aqui é normal quando era demais a gente se escondia que a gente não tem peito de aço né

procurava o lugar da casa que dava pra se esconder era muita coisa dava pra estremecer minha esposa se tremia de medo né eu como já era acostumado com o barulho eu não me assustava só não vou botar a

cara. Mas hoje tá tranquilo com UPP aí tá cem por cento melhor não tem mais aquelas guerras que tinha. A gente desce com nosso filho pra creche não vê mais aquelas pessoas armadas que não seja um policial que antigamente via tudo.

Eu só olhava não falava não dava nem um bom dia nem nada porque não é bom pegar intimidade com essas pessoas. Tecnologia tá avançada né só eu que tô atrasado. Meu caso é que eu não tive oportunidade

de estudar quando eu ia ia revoltado porque meu pai segurava muito a gente na roça aí eu não aprendi nada mas eu tinha vontade de escrever uma carta manda uma carta pra alguém mas eu não consigo escrever.

A gente passava nosso tempo no roçado de que no colégio a gente ia pro roçado cinco hora da manhã

pra sair quatro da tarde e ele queria que a gente estudasse a noite por causa que ele sozinho também não

ia dar conta do serviço. Aí a gente trabalhava pra poder ajudar pra poder comer o pãozinho de cada dia. A gente plantava feijão milho arroz e era muita coisa tinha que plantar e ter uma fé de colher porque era muita coisa.

Como eu fui um filho mais rebelde quase todo dia eu tomava uma porrada o dia que eu não tomasse uma

porrada dele não era um dia pra mim e os outros não foram mais tranquilos. Só eu que gostava de responder

aí ele não gostava ah eu respondi pra ele que como eu queria estudar e queria estudar durante o dia porque a noite eu tinha pobrema de vista que até hoje eu tenho eu não uso óculos porque eu tenho vergonha e aí

ele falava que pra estudar a noite era melhor porque tinha mais tempo porque durante o dia era pra gente trabalhar. Aí eu respondi pra ele que ele não mandava em mim daí ele já começava a bater as vezes eu corria

pra não apanhar quando eu voltasse apanhava mais que ele falava que se correr vai apanhar mais. Mas eu

não tenho nenhuma revolta deles não se eles fosse vivo hoje não tinha revolta nenhuma não. Era de mim mesmo que eu não gostava de ser mandado só quem era mais carinhosa era a mãe sempre é a mãe né.

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A primeira vez que eu fui lá eu passei oito anos sem ir lá aí quando eu fui que foi depois que meu pai

faleceu por causa que meu patrão ele queria que eu fosse na época que ele faleceu aí eu pensei pra mim mesmo um pai com ele morto eu não vou era pra eu ir com ele vivo. Aí eu fui depois do enterro porque

se eu fosse no dia do enterro era mais tristeza porque eu ia pro enterro ia ser mais triste ainda quando eu saísse dela minha mãe ia ficar mais triste aí eu preferi não ir. Eu até me sinto culpado de ele ter morrido

e eu não ter visto ele que eu me relaxei passei oito anos aqui e não consegui ir lá que eu não consegui ajuntar dinheiro.

Se eu fosse escrever uma carta eu escreveria pra minha mãe que é a única muié que não trai a gente.

“Mãe, estarei com muita saudade de você eu queria poder tá muito perto da senhora mas eu não posso porque não tem como eu ganhar meu pãozinho de cada dia aí perto da senhora. Também não quero

depender do que a senhora ganha. Eu precisava muito tá perto da senhora. Eu não sou médico mas queria

estar perto da senhora para dar uma força nos problema de saúde que a senhora tem. Não queria que a senhora sofresse longe do seu filho. Queria sempre tá perto de você. Com todo carinho poder te abraçar dar valor a senhora. Que tem filho aqui que não dá valor à mãe.

Eu quero amostrar para a senhora que eu sou um filho eu fui rebelde mas eu sempre vou dar valor à

senhora como a senhora sempre deu valor a gente. Não guardo magoa de vocês e tô com muita saudade de vocês. Esperei que um dia eu estarei perto de vocês aí cheio de carinho e amor pra dar pra senhora. Muita saudade da minha mãe.”

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Na minha vista tinha um tipo uma alma uma pessoa em pé uma coisa assim né. Eu fiquei olhando olhei olhei. Não era com medo era cismado.

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ugusto Cardoso. Só isto mesmo, 73 anos. Eu fazia de um tudo. Eu pescava, trabalhava de

enxada, trabalhava de foice, trabalhava no campo. No campo diretamente. Batia arroz. Naquele

tempo não existia máquina. Batia era no cacete. Plantava de dedo, o dedo e cortava na faca,

ajuntava no terreiro. Tinha um terreiro grande. Ajuntava, fazia aquela rumona pra bater no cacete.

Batia a semana todinha e ensacava 40 50 sacos 60 dependendo do arroz e do trabalho que a pessoa desse. Nem existia estas máquinas que existem hoje colhem imediatamente 400 600 800 sacos. Tem máquina

de colher até 800 sacos. E eu acompanho isto diretamente que tenho um bifizinho crio um gadinho e

sustento muito com aquilo que sobra do arroz. Colhe e fica aquela palha aí eu alimento o gado. Trago e boto aí. Se fosse cedo cê inté tirava a foto aí e tudo.

Trabalhei muito em fábrica de arroz 20 anos. Pra divertir era difícil. Antigamente não existia tempo e

também porque a criação tinha uma grande diferença da de hoje. Antigamente eu quando era criança

como vamo botar assim uma pessoa com idade de 16 17 18 entrando na maioridade respeitava os pais. Hoje ninguém respeita.

Um menino de 14 15 anos já quer andar por ele mesmo à toa fazendo tudo. Uns ainda fazem alguma coisa mais ou menos e outros só fazem o que não presta.

Hoje o que eu vejo os meninos aí fazendo é fumando maconha. Pedem até o fosforo a mim pra acender o cigarro. E a pessoa tem que dar. Se não der é pior. Se não der eles vão ficar com ódio da pessoa inté aprontar. Fazer alguma coisa. O que mais acontece na região da gente é isto.

Praticamente se eu ainda tivesse meu pai e ele me mandasse chamar eu parava tudo e ia embora. Hoje um

filho meu não faz. Mando ele fazer qualquer coisa e eles não querem fazer não. Faz quando dá vontate. Quando não tapeia faz uma coisa e outra e pronto. E vai embora.

Meu pai era brabo. Eu cansei de sair daqui a 12 km numa roça daqui a 12 km e chegar numa fazenda

Breve Coqueiro. Eu nasci lá mais me criei aqui em Propriá. Então saía com 7 anos. Saía daqui de Propriá

pra essas roças que meu pai fazia e vinha de lá pra cá com um pau grande nas costas assim com 2 metros e

tanto quase 3. Nas costas melado de carvão. De lá pra cá, de modo de pinicar no outro dia fazia a comida

pra voltar de novo pra roça. Distância de 12 km. E eu fiz isto muito. Muitas vezes eu vim todo melado de carvão da roça.

Chorando atrás do pai. Não podia chorar pra ele ouvir não. Chorando calado atrás dele. Com distância

de 4 a 5 metros atrás dele no escuro. Já saía de lá na boca da noite. Quando eu caminhava assim 1 km de lá até em casa já ia chorando no escuro aos sopetões. Com o pau nas costas. Pro modo de pinicar em casa pro modo de no outro dia fazer o café e aprontar alguma coisa e voltar pra roça. Isto aconteceu muito

muito. E se chorasse na vista dele apanhava na hora. Tinha que chorar caladinho. A lágrima descendo sem ele pressentir que estava chorando. Engolindo o choro.

Eu tenho um terreninho aqui em Alagoas. Aí na cabeceira da ponte, do outro lado. Crio um gadinho lá e crio outros aqui em casa porque tiro uns litrozinhos de leite. E esses litrozinhos de leite são para família

comer. Vendo uma parte e outra a família come. Sustento da família. Tem vez que eu mando um ir lá só pra olhar os de lá que eu não tenho que ir porque tem os daqui e eles não querem ir. Diz que vai e às vezes

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não vai. Outras vezes vai achando ruim. E a gente não pode fazer nada. E antigamente podia isso não.

Antigamente ninguém podia namorar como hoje namora. Hoje não namora. Hoje quando se ajunta

pronto já tá casado. Antigamente não era assim. Os pais ficavam um de um lado e outro do outro. Aí

o camarada conversava pouco e quando dava o horário certo de ir embora ia. Fazer o que. Namoro de

antigamente era assim. Não era agarrado que nem hoje. Hoje entra dentro da casa e usa até a cama do pai. Hoje eu vejo isso aqui. Mudou muito.

Fui falar com os pais da Terezinha com vergonha e tudo mas antigamente as coisas só andavam se assim fizesse. Tinha que falar. Pra que veio que queria era isso que falava. Fui e falei. Perguntei se ele aceitava e ele disse que aceitava. Pronto resolvemos este problema. Namoramos 3 anos se prevenindo pra casar. Eu

não tinha nada na época como ainda hoje não tenho grandes coisas mais quando casei com 21 anos e ela com 16 fiz uma barraca uma casa pra morar. Aqui mesmo onde nós estamos. Era muito fraquinha. E os

de hoje faz isso? Espera pelo governo. Eu vejo isto quase direto. Difícil eles hoje querem fazer uma casa. As casas são mais dada pelo governo. O governo faz casa e mais casa.

E o no arrochado que é arrochado mesmo. Se o camarada cair doente não tem remédio porque diz que não

tem. Quando tem é um remédio barato desgraçado que as vezes não serve pra nada. É o que eu vejo hoje. Melhorando umas parte melhora. Não vou dizer que não melhora. Vamos relatar mais atrás um pouco nesta época que eu vivia na roça mais pai. A família vivia disso da agricultura atrasada.

Que hoje é tudo adiantado. Hoje pra antigamente é uma diferença grande. O camarada ia trabalhar na roça era com um pedaço de fardo de boi farinha feijão e a pé. Hoje o cara vai numa moto carro. Tudo

diferente. Antigamente era 2 léguas pra lá e 2 pra cá que era 12 km. Ia de pé saía de madrugada e voltava na boca da noite que chegava em casa 8 horas da noite. Agora pega uma moto e vup ligeirinho. Num instante volta.

A facilidade é grande. Na parte da comida também hoje é um povo que não anda com tanta fome não. Eu

não vejo esta fome como antigamente. Hoje é tudo fácil e antigamente era tudo difícil. Pra sobreviver o

camarada tinha que dar um duro danado pro modo de arrumar o pão de cada dia era duro. Hoje eu vejo o povo sem trabalhar comendo bem vestido.

Eu não tenho medo de besteiras. Escuto os outros falarem. Eu nunca acreditei nestas coisas. Já andei

muito de noite. Tanto por água no rio pescando como também por terra. Andei muito e nunca vi estas

coisas não. Eu não digo que não existe. Não discuto com ninguém isso. Agora acreditar também não acredito. Ando de noite qualquer canto.

Era definido. Fazia um ranchinho e dormia na roça. E lá vivia a semana todinha. As vezes vinha pra casa no final de semana. Quanto tava no tempo da colheita que não podia se arrastar pra aqui. Aí ficava juntando lá no rancho. Era algodão abóbora. Tudo pra armazenar naquela casinha de taipa que

fazia na roça. E também não podia sair porque alguém chegava lá e levava. Era mei difícil levar. Mas a desconfiança do povo antigo era mais prevenido. O povo era mais prevenido.

Hoje o povo rouba e ninguém tá ligando não. Se rouba e vive no meio da sociedade. Rouba vai preso e

no outro dia vem de lá pra cá. Tá solto. Aí fulano já soltou. Taí no meio do povo. Antigamente existia

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isto? Não existia. Se dissesse assim fulano roubasse uma galinha a vizinhança inteirinha botava aquilo

na mente. Fulano não presta é um ladrão. Hoje rouba dinheiro casa tudo e no outro dia está no meio da sociedade. É todo mundo sorrindo pra ele. Ninguém tá ligando pra nada.

Uma ocasião olhe eu tina uma média de 11 anos. E nós fomos fazer farinha. Arranquemos as mandioca e fomos fazer farinha. E tudo que tamo lá fazendo passamos 3 dias 4, pra fazer aquela farinha que arranda

era muita, né. Praticamente não era no caminhão porque não existia. Existia aquela malona grande que

botava no burro. Puxava em burro. Botava os malões um do lado do outro. Aí chegava lá, despejava, voltava de novo. Aí deu a boca da noite já de tardezinha já escurecendo epa não tem querosene. Painho já era um homem de meia idade e pouco e era frentista do serviço lá. Mexer farinha pra lá pra cá e coisa

e tal. Eba quem é que vai quem é que vai? Eu digo eu vou. De lá 12 km pra cá. Saí de lá já boca da noite. Vim pra aqui e voltei com esta idade de 11 anos. Quando eu cheguei no meio de um pasto que tinha

numa fazenda chamada Cabo Verde tinha a estradinha. Estreitinha da gente andar assim. Vereda. Eu vim de lá para cá e não olhei o que tinha. Quando eu voltei no escuro mesmo umas 7 e tanto eu olhei pra frente e parei assim. Na minha vista tinha um tipo uma alma uma pessoa em pé uma coisa assim né. Eu

fiquei olhando olhei olhei. Não era com medo era cismado. O que era aquilo. E fiquei olhando olhando. Depois tratei eu não vou olhar mesmo tinha que passar por perto porque só tinha aquela estrada beirando

o que eu estava vendo. Aí chegando lá era um toco. Do tamanho de uma pessoa. Não era uma alma. Caiu a casca e ficou uma madeira branca. Era um jenipapeiro. Se eu não enfrento eu ia contar que era uma alma que eu tinha visto. Eu não acredito em negócio de alma. Saio em qualquer hora e vou pra qualquer canto 2 léguas de pé. Não tenho este negócio. O que a alma vem fazer aqui? Assustar pessoa aqui.

Aqui de pescaria e de tudo eu já pesquei no meio desse rio São Francisco aí. Eu conheço esse rio de

piranhas em cima até derradeira cidade que é Piapabuçú dum lado e Brejo Grande do outro. Eu conheço tudo desse rio São Francisco. Nesse pedaço do rio. Não é para cima que eu nunca andei para cima. Agora onde a canoa andava pra se pescar eu conheci. Tudo tudo. Saía com 2 sacos de sal.

Ó eu gastei tanto com este negócio. Depois uma mué, uma doutora lá que tava com raiva que eu cheguei

meio atrasado lá em Aracaju né. Aí me deram lá um papel. Aí estava no derradeiro e fiquemos lá aguardando eu mais um genro meu. Quando saiu aí eu fui logo coisando. Logo vi na feição dela que ela

achou ruim. Aí perguntou eu disse o que era coisa e tal aquilo outro e ela com raiva mesmo. Os outros nunca disse nada. Mas ela disse. Sabe o que o senhor tem? O senhor não fica bom nunca. É refluxo e não

sei que pé que é. Ela disse isso né. Com raiva que eu conhecia na voz dela. Porque eu cheguei na hora que

ela se ía embora. Derradeiro. Aí um genro meu fiquei calado olhou pra ela e disse, doutora mas não fica bom nunca? Aí ela disse, é não fica bom nunca, vai morrer desse jeito assim ó. Tenho que tomar remédio

sem parar. Foi a pessoa que disse a verdade mesmo com essa ignorância. Ave Maria. Queima meu irmão. Tem hora que queima. Se eu comer uma comida que dê errado um pouco olhe não é mole não. Uma vez

peguei um pedaço de queijo. Eu como queijo não vou dizer que não como. Todo dia quase eu como. Agora

uma pilepinha da grossura desse dedo aqui ó. Pego um pão com um pedacinho de queijo da grossura desse dedo mesmo quando acabar. O café se eu tomar, hã. Se eu tomar café queimou o infeliz por dentro.

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Pronto toda vida eu gostei de beber muito. Eu bebia muito. Era direto. Não era de viver bebo mas meio com a cabeça meia tonta. Gostava não só não digo que gosto porque não estou usando. Mas me falta paciência. Já umas 3 a 4 vez. A cada ano 1 ou 2 vez eu vou beber essa peste. Eu bebia muito quente

cachaça quente né. Essas bebidas quentes. Não era cerveja. Agora eu não bebi mais por causa disso que

estou com este incomodo desgraçado. Cerveja aqui passou do limite eu vejo os outros bebendo e dá uma

vontade da peste. Pera aí. Aí eu começo em uma e acabo em 10 5 6. Já aconteceu de se arrepender da hora que nasceu. Enquanto tá bebendo tá mais ou menos mas quando passa no outro dia é um mal estar da peste e aquilo queimou o infeliz.

Qualquer remédio nenhum serve. Pra mim foi das doenças que eu tive de quando eu nasci até hoje só

foi a única que me dominou. Porque eu já tive febre com doença de rua diabo a quatro. Tomava banho pintei a peste não me arriava não trabalhando e tudo. Agora essa vou dizer uma coisa foi de botar o sal na moleira.

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Caipora é que nem um vento só que você não vê. Você só vê o negócio cantando nas suas costas e você pula de um lado e de outro e sem ter pra onde ir.

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u namorava muito no meu tempo de pequeno. Eu namorei muito no interior. Já cheguei a morar no interior brabo. Chama Mata Vermelha.

Bom antigamente tinha um rádio de madeira. Aí quando ouvia o rádio falar todo mundo ia olhar.

Aquele bucado de gente. Nóis ia pra aquele barraco de noite pra ouvir aquele rádio falar. Porque a gente não sabe como vem essa fala desse rádio né.

Aí depois apareceu a televisão e aí a gente ia de noite. Uma andada da porra. De noite num escuro só pra olhar aquela televisão preto e branco.

No interior tinha uma única televisão. E não tinha energia. A gente ligava essa única televisão em uma

bateria. Meu sobrinho veio aqui pra cidade e nunca tinha visto nada. Nem carro TV e nem nada. Aí quando ele viu um trem ele pegou na mão do pai e da mãe. Foi só o trem sair e dar uma buzinada que ele deu uma carreira no meio do mato. Eu fui atrás dele. Pra pegar esse menino deu trabalho viu. Ele

nunca viu nada daquilo. O menino morava numas grotas brabas. A gente andava muito no mato. E tinha caipora. E quando via caipora ao invés de ir pra casa a gente ia pra outro canto. Ela deixava a gente todo

atrapaiado. A gente caçava à noite com os cachorros. Eu e o meus 3 irmãos a gente ia caçar tatu à noite nessa dita mata que nóis morava. Aí os cachorros acuavam num canto e se fosse um tatu a gente pegava

e se não fosse a gente pegava um caramujo num buraco aí se não fosse era uma caipora. Outra vez nóis falamos bora pra casa. De nóis andar pra casa nóis passamo na mata e andemo errado heim. Quando

amanheceu era como que a gente estivesse dormindo. Eu pensei onde estamos aqui. Se a nossa casa era pra cá a gente tava indo pra lá. E andando ela distraia a gente direto. Ela foi é enganou e atrapalhou a viagem da gente. Nesse dia a gente não pegava nada.

Uma vez um finado meu avô ele vinha da roça e fazia um negócio com as caiporas. Ele colocava umas capas de fumo no pau pra ela. Numa vez que ele não botou a capa de fumo ela aceito e deu-lhe uma pisa nele. Só via o cipó comê.

Ele chegou em casa e eu ainda era bem pequenino. Acontece que se você dizer que vai bota o fumo e não coloca ela fica brava. É a mesma coisa do cara que leva uma pisa de cipó sem fazer nada.

Caipora é que nem um vento só que você não vê. Você só vê o negócio cantando nas suas costas e você pula de um lado e de outro e sem ter pra onde ir.

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Alagação. Inundou tudo. Dá pra ver a altura que ficou nas casas aí. Foi quase 3 metros né.


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eu nome é Maria Rameiro tenho 79 anos e moro aqui há 53 anos tenho 8 filhos todos nasceram aqui. Eu nasci em Nazaré e vivi até os 14 anos lá em Nazaré aí viemos pra cá em

62 me casei aqui construí família. Quando eu cheguei aqui não tinha ninguém quase tinha

umas 3 casas no máximo quando nós viemos morar aqui. Aí de lá pra cá foi chegando mais famílias mais famílias e tá essa vila né maravilhosa.

Cinco horas da manhã já estou acordada. Fico na cama esperando dar seis horas para levantar. Levanto

faço minhas orações primeiro né. Isso é de obrigação que eu faço todas as noites e todos os dias todas as manhãs quando eu levanto peço a Deus por todos meus filhos. Irmãos. Sobrinhos. Netos. Que Deus

proteja eles todos né. Principalmente os que trabalham fora como esse que mora comigo ele trabalha aqui na usina aqui. E lá é muito perigoso para trabalhar. Só Deus mesmo para ter compaixão né. Cuidar

deles. E graças a Deus meu Deus eu tenho o filho que tenho. Cuida muito bem de mim. E a gente vai vivendo até o dia que Deus quiser.

Minha riqueza é minha família que eu tenho. Minha riqueza. Tem meus netos que gostam muito de mim eu tenho uma base de eu acho que mais ou menos uns 30 netos juntando com bisneto. Tudo isso eu já tenho. Bisneto. Antes de ontem mesmo nasceu uma. É bisneta. Ainda não chegou mas acho que

só amanhã que ela vai chegar. Mas tá tudo bem com ela no hospital graças a Deus. Me casei nova com

16 anos graças a Deus tive 9 filhos. Meus filhos tudo trabalham e nunca me deram preocupação de coisa errada. Tive sorte com meus filhos e meus netos também. Já tenho neto de 30 anos já.

Depois que eu faço as orações para todo mundo. Que demora. Demora. É demora mesmo. Aí vou fazer meu café para meu filho ir trabalhar. Ele toma o café dele e vai embora trabalhar. Aí eu vou cuidar dos

meus bichinhos que eu tenho. Dar minha comida. Cuidar das louças lavar. Fazer comida e é assim passo o dia assim fazendo uma coisa e outra né. Aí de tarde eu assisto novela. Novela das 5 né. Hahaha. Que eu

não perco né que eu gosto demais de assistir. Aí quando acabei minha novela eu vou caminhar lá naquela

estradinha lá caminho até seis horas seis e meia. E vou para casa. Esperar meu filho. É assim todo santo dia. Só que em 2014 teve uma enchente aí desbandou todas as famílias que moravam aqui. Tinham 63

famílias e agora só resta essas que estão aqui todo mundo saiu. Eu saí fui lá pra trás construí minha casinha com ajuda de Deus. Construí e tô lá agora graças a Deus tá tudo bem.

Essa enchente tava normal enchendo normal a gente não esperava que ia acontecer. De um dia pra o outro alagou tudo todo mundo saiu daqui não ficou ninguém alguns foram pra o colégio lá na agrovila

no engenho novo e engenho velho foi pra casa de farinha foi família que não tinha pra onde ir. Aguentar até passar o que deu né. Alagação. Inundou tudo. Dá pra ver a altura que ficou nas casas aí. Foi quase

3 metros né. A minha casa eu abandonei né. Ou saia ou morria junto só era eu meu filho e minha mãe

que morava nessa casa. Minha mãe foi com a outra minha irmã pra o outro lado do rio pra cidade e eu fui pra casa da minha filha lá onde eu moro. É a casa dela lá ela é casada né. Daí eu fui lá pra a casa dela

levei minhas coisinhas. Deu pra salvar algumas coisas. Outras ficaram dentro da igreja quando eu vim

pra tirar já não tinha mais jeito. A água já tinha tomado conta de tudo guarda-roupa sofá-cama estante

tudo. Acabou tudo aí a gente ficou nessa né. Esperando que Deus mostrasse um milagre pra a gente né.

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E melhorasse nossa situação. Mais graças a Deus ele ouviu meus pedidos. Tenho duas filhas que moram

aqui ainda uma mora aqui nessa casa a outra lá naquela casa passando essa aqui. A de lá. Minha filha essa que mora aqui é bem dizer parente minha né que minha filha é casada com o irmão dela. A Raimundinha

é essa que mora aqui do lado. É assim os que restaram estão aí ainda. Nunca tinha tido uma enchente

assim. Nunca. O mais que subia não chegava a meio metro do chão né. Que antes dessa casa que acabou

aqui agora nós tínhamos uma de assoalho. Mais nunca alagou para a gente sair de dentro de casa. A gente ficou o tempo todo ninguém saiu ficamos o tempo todo nessa casa agora essa que deu foi mesmo

pra sair todo mundo. No começo de abril a água já começou a baixar aí pronto. Não saiu ninguém das suas casas e essa agora saiu todo mundo. Aqui todo mundo sobrevivia de pesca os que não trabalhavam

na cidade pescavam aqui. Tinha seus motores de pesca pra sobreviver então a gente vivia bem. Muito bem graças a Deus. Tinha gente que plantava roça. Verdura pra vender lá no mercado e assim a gente ia vivendo. Alguns trabalhavam e os que não trabalhavam na cidade cuidava das lavourinhas aqui. Mesmo trabalhando era muito bom era todo mundo feliz todo mundo vizinho aqui trabalhando tudo junto. Esse olho azul vem do meu pai. Meu pai tinha o olho meio agateado era assim. E minha avó também por parte de mãe pois é eu sei que a vida era essa. A gente era muito feliz aqui e os que ainda restam aqui estão

ainda na mesma situação que Deus um dia vai mostrar uma luz que vai dar tudo certo vai dar tudo certo

tudo mudou por causa do que aconteceu. Cada um foi pra os seus cantinhos se separaram. É que isso aqui tudo é uma família só mudou por causa disso. Mas as amizades os amigos continuam. Sábado e domingo a gente se junta faz aquela festinha de churrasco essas coisas né. E a gente vai levando pois é. Eu acredito

que sou uma mulher muito forte, muito corajosa porque tudo isso que aconteceu nessa algação. Eu tinha minha mãe de 93 anos. Morava comigo né cuidava dela e meu marido morreu. Faleceu né aí eu voltei para morar junto com ela de novo. Morar junto com eles dois. Aí meu pai faleceu. Muito anos atrás tá

com vinte e poucos anos já e eu fiquei com minha mãe. Cuidando dela. Meu irmão que mora na cidade e eu a gente atravessava o rio aqui com ela né levava ela para o médico e era assim.

E aí o que aconteceu né. Ela saiu de perto de mim foi para o outro lado para a cidade e ela nunca gostou de cidade. Nunca. E eu acho que devido ao que aconteceu ela ficou preocupada. Não resistiu. Eu aqui e

ela lá do outro lado junto com a outra minha irmã e ela não gostava de estar em cidade porque ela achava

que era muito abafado. Num saía para canto nenhum. Porque ela gostava era de estar passeando né. Nas caminhadinhas dela. E minha mãe faleceu vai fazer 2 anos agora em junho. O que atingiu mais ela foi

o que aconteceu né. Essa alagação perdi minha mãe. Mas graças a Deus me recuperei né. Deus me deu forças. E estou vencendo. A gente tem que ter muita fé. Ter muita fé em Deus para a gente reconstruir tudo de novo né. Mas a Deus a gente está recuperando. E hoje estou morando só com meu filho de 29

anos. Com meu filho e mora nós dois e nós dois é só nós dois mesmo as outras irmãs todas têm suas casas seus filhos e seus maridos para cuidar né. Elas me ligam perguntando como é que eu tô que eu não tô e a gente vai vivendo.

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Eu só fui ver meu rosto no espelho pela primeira vez quando eu tinha 10 anos.


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asci em Alagoas em uma cidade chamada Palmeiras dos Índios. Minha infância foi muito boa

e graças aos meus irmãos eu pude ter uma infância feliz. Te falo isso porque eu brincava muito com eles em um sítio que morava. Eu era a menorzinha da turma. Éramos em 10 irmãos e a

gente era muito bem unido não brigava. As brincadeiras que eu me lembro nessa época era de balanço e pega pega. Brincava de boneca e de casinha. Um monte de coisa.

Éramos muito pobre e não tinha TV e rádio em casa pra passar o tempo só tinhas as brincadeiras em casa

mesmo. A gente morava num sítio daqueles com fogo de lenha e panela de barro. Não tinha geladeira e não tinha espelho. Não tinha nada. Opção pra brincar era cachoeira e gangorra de madeira.

A gente costumava deitar na grama e ficar admirando o céu. Vendo aquelas 3 Marias era a coisa mais

linda. Via tanta estrela no céu. Minha vó sabia o nome de todas as constelações já eu fui mais desligada. Não conseguia decorar sabe era muito difícil.

Eu só fui ver meu rosto no espelho pela primeira vez quando eu tinha 10 anos. Antes eu não imaginava como era meu rosto. Fiquei curiosa durante muito tempo. E como não tinha espelho em casa eu ficava

tentando ver ele no rio que tinha perto de casa. Mas ali só via meu rosto todo embaraçado. Só servia pra dar risada mesmo.

Depois que vi meu rosto pelo espelho pela primeira vez eu fiquei imaginando como seria esse rosto

quando eu atingisse uma idade mais avançada. Tipo seria esse rosto aos 50 anos de idade. Antes eu pensava que uma pessoa não podia passar dos 50 anos. Eu pensava muito e chega a chorar. Meu pai no

dia que ele completou 50 anos fizeram uma festinha pra ele lá em casa aí meus irmãos falaram nossa papai tá completando 50 anos. Enquanto elas ficaram comemorando eu fiquei no meu canto chorando

pra daná. Eu não parava de chorar e meus irmãos perguntaram o por que eu tava chorando. Eu respondia que era porque eu achava que ele tava muito velho e por fazer 50 anos ele iria morrer. Engraçado é que hoje eu tenho 56 anos e tô aqui falando com você me achando supernova linda e maravilhosa.

Nunca presenciei algum lobisomem mas eu já escutei o barulho dele. Era como se fosse o barulho de um

porco. Lá na nossa casa bem cedinho cerca de 10 horas. Meus irmãos iam pra escola. Aí ficava eu e meus outros irmãos. Eu escutava muito esses barulhos. Como se ficasse arranhando a porta de casa. Eu morria de medo. E como não abria a porta de maneira nenhuma eu ficava em casa esperando meus irmãos chega pra mode botar esse lobisomem pra correr.

Meu irmão uma vez pegou uma arma do meu pai que ficava em casa e deu um tiro no lobisomem. A gente foi seguindo o rastro de sangue dele mas não achamos o corpo porque ele correu pro matagal.

Não demorou muito pra aparecer um senhor com um pé machucado dizendo que foi o cavalo que tinha pisado no pé dele. A gente suspeitou desse homem depois que uma benzedera ter ido lá na casa dele pra

tentar curar essa ferida. Ela disse que quando mexeu no pé dele viu rastro de chumbo no pé. Aí você pensa ele tinha falado uma coisa e na hora tinha aparecido outra. Não demorou muito pra gente juntar os pontos. Esse senhor morreu e o lobisomem nunca mais apareceu. Eu me lembro que ele chamava Luis e eu tinha 8 anos de idade na época. O povo conta muito que quem vira lobisomem é as pessoas que não

obedeceram seus pais. Gente marrenta mesmo sabe que aprontou muito na vida. Bom é o que eu acredito

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por isso que quando era pequena eu nunca procurei desobedecer meus pais.

E vim pra São Paulo com 17 anos de idade. Eu vim pra morar em SP pra ter uma qualidade de vida melhor porque lá não tinha emprego. Tinha uma seca danada. Aí como não tinha lavoura acabei sem condições de trabalhar. Uma seca total.

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Se for sete fio homi, o primeiro tem de batizar aquele que nasce por derradeiro, o mais velho batiza o mais novo. Se não batizar, VIRA BICHO.


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epois que eu cheguei aqui, tava numa infância que tinha um homi que corria bicho, corria bicho, corria bicho, todo mundo via ele, mar eu nunca vi ele não. Ele se transformava num

bicho, como num porco, ou que nem uma criação de bode, assim que nem um cachorro, ele

chegava e entrava assim nas casa do povo, e o pessoal pensava que era cachorro, cai fora cachorro, cai fora

cachorro e ele corria ia simbora, no outro dia dizia, tive na casa de fulano, e fulano disse assim. E todo mundo dizia foi ele que foi na sua casa e você tocou pensando que era um cachorro.

Isso foi já depois que nos cheguemo aqui. Pois é esse cabra corria bicho tem muito tempo. Ele já morreu e a famía dele se mudou daqui. Sim era isso mesmo seu Valentin, eu tinha um fío meu que mais tarde da noite ele ia pra Sítios Novos. Ele pegava um animal que ele tinha um cavalo e ia pra Sítios Novos

aí quando ele vinha de lá pra cá acho que acompanhava um cachorro preto que era bem assim. Grande aquele cachorro agora ele já sabia já comprava um pacote de bulacha. Agora era ele muntado num cavalo e o cachorro duma banda assim óia. Aqui acolá ele soltando uma bulacha e o cachorro pegando aqui

acolá ele sortando e o cachorro pegando. Vinha bater em casa quando chegava aqui ele amarrava o cavalo

no pau, tirava a cela e ele duma banda e quando ele entrava pra dentro que fechava a porta, ele corria

e ia se embora. Quando era no outro dia ele dizia, óia Emanuel, eu fui mais tu de noite até na tua casa lhe potregenu. Não tinha quem chegasse perto de você, pra bulinar vc que eu não deixava. E comi suas bulacha todinha, num foi!? Hahahaha. E com você não tem quem bula não, viu.

Tinha outra cumade minha que morava acolá numa casa aí quando foi uma noite ela tava com a cabeça doendo aí na boca da noite ela saiu fora. O marido dela disse, ó Zefa, tu vai pro Monte Alegre amanhã?

Ela disse, eu num vou não que eu tô com a cabeça duenu. Ele disse, tá certo. Quando foi no outro dia ela amanheceu boa e disse, ó Luiz, me dá o dinheiro que eu vou pra Monte Alegre. Ela já morreu meu Deus que Deus bote ela num bom canto. Aí ela foi pra Monte Alegre. Quando ela chegou lá e tava em uma

tolda comprando não sei o que aí ele encostou o homi encostou, e disse, oxente, tu tas aí é, onti a noite tu não disse que tava com a cabeça doendo e como tá aí comprando essas coisas ? Aí ela espiou pra ele

e disse, oxente, e eu lhe conheço? Ele disse, nem eu lhe conheço, nem você me conhece. Aí pronto. Esse

homi dizia que corria bicho mas eu nunca vi ele não. Diz que ele virava no meio da rua, nas festa lá em

Monte Alegre, no meio da rua, sacudia e virava. João Valentin era danado. E eu não sei se eles nasce já

virando bicho, mas diz que já pega eles se virando, vira num gatinho, num cachorrinho um porquinho, vira té num calanguinho hahaha sim, quando tá com uns 8 dias já, uns 8 ou 15, um mês. Se for sete fio

homi, o primeiro tem de batizar aquele que nasce por derradeiro, o mais velho batiza o mais novo. Se não batizar, VIRA BICHO. Se for sete fia muié, a primeira tem de batizar a derradeira, se não batizar vira

bicho também se for assim tudo aneixa, tudo, tudo, só muié, agora se parecer um homi no meio, não vira não, já corta a sina. Eu tenho quatorze, nove homi e cinco muié, mas foi tudo misturado, graças a Deus.

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Acho que tem muita coisa pra saber se é amor. O gostar entendimento confiança o respeito.

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F

oi a minha cunhada que me trouxe a primeira vez se eu gostasse eu ficava se eu não gostasse ela

mandava eu de vorta aí eu passei dois ano achei muito bom até hoje. Fui todos os anos de férias mas pra morar não tem como ficar lá não muito ruim de dinheiro lá não tem como a pessoa

sobreviver lá não tem que ser aqui memo.

Eu vim com dezoito ano lembro de ficar cinco dias dentro do ônibus duas noite e três dias muito ruim a viagem muito longo muito cansativo.

Foi dia vinte de abril de 85 que nós cheguemo aqui. Em agosto de 87 voltei lá de férias me acostumava lá não mermo que tem condições de morar lá é muito quente mosquito sem água muito ruim. Já trabaiei em padaria lancheiro fazendo salgado bolo tudo.

Fazia pão fazia tudo que mandava eu fazer me ensinava e eu aprendia e fazia.

Depois trabaiei na casa de suco fui pra uma obra trabaiei num butiquim depois vim pra cá tá com oito anos que eu tô com aquela barraquinha lá.

Tô muito bem com ela feliz. Dá pra sobreviver legal sobra dinheiro pros meu compromisso tudo se eu fosse de empregado não dava tava passando precisão.

Minha mãe vinha pra cá chorava todo dia querendo ir embora não gostava daqui meu pai não consegue

viajar tá em casa quando vem pro Rio adoece ele não se dá com o clima do sul né. Minha mulhé. Nome dela é Lucieleta eu conheci ela quando eu vinha do trabalho e ela vinha do colégio. Namorava escundido aqui pra ninguém num saber foi assim uma maravilha tudo escundido é bom né meu filho.

Fiquei assim mais de um ano. Pessoal veio saber quando fui pro norte depois vortei novamente. Aí depois

fumo morar junto escundido eu arrumei uma moradia ela foi lá e pronto tivemo na base de um acordo todo mundo aí deu tudo certo.

Desde 91 nós estamo junto de 87 até 91 foi namorando escondido foi levando mas pra morar junto

mesmo pra ter família foi em 91 e meu filho mai velho nasceu em 92. Raí. Raí Rodrigo nesse tempo o Raí do São Paulo tava novinho fazendo sucesso naquele tempo que só dava Raí tudo. Fui pro cartório lá sem ninguém saber do nome nem mulher nem nada cheguei lá no cartório lá Raí aí deu tudo certo. Aí ficou tudo é treis mulhé Raiana Raiza e Raika muito bom.

Acho que tem muita coisa pra saber se é amor. O gostar entendimento confiança o respeito. Muito de

isso aí faz parte do amor porque eu vejo uns amor por aí que pra mim não é amor de repente tão brigando é aquilo que me diz que não me disse.

Eu acho ridículo isso aí é por causa da bebida que agora poucos dias mermo teve a maior palhaçada o cara anda abraçado e tudo a mulher desceu braba mermo porque o marido não chegava em casa pô aquilo pra mim eu achei muito feio roupa suja se lava em casa.

Nunca briguei com minha esposa na rua brigo em casa ela nunca me fez motivo pra brigar com ela só quando eu chegava meio dia ela tava dormindo e a comida não tava pronta pô me dava maior desgosto

tô trabalhando como é que pode. Deixa pra lá. Se não quer brigar com a pessoa ou paga uma pessoa pra fazer ou faz. Pra num ter reclamação.

Ela me ama e eu amo ela também senão eu já tinha arrumado outra não ficava sozinho aqui não tá com

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treis ano que ela tá lá homi. Quando eu quero ver ela eu tenho que ir lá nesses treis anos ela não veio aqui ainda me ver ela tá pensando de vir agora passar o resguardo da fia aqui.

Eu gosto muito dela mas não sinto ciúme dela não. Único ciúme meu com ela é assim eu não gosto dela dormir na casa de ninguém e se ela sair cedo de casa e marcar a hora de vim e não vim na hora que ela vai pra um lugar e esquecer a hora de voltar. Eu reclamava com ela e ela achava ruim aí eu evitei de reclamar aí que você faça de uma tal maneira que seja bom pra você.

Pro certo mesmo não era pra ela tá lá não. Tá lá faz três anos ela foi pra passar um mês dois mês. Ela falou que enquanto a mãe dela tiver vida ela tá lá cuidando da mãe dela. Minha alegria é trabalhar ficar sem trabalhar é muito ruim.

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Ele tinha uma peixeira e tentô furar o lobizome mas o bicho pulô em cima dele e puxou a peixeira da mão dele.

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N

a minha infância eu não tive muito tempo pra brincar. Desde pequeno já trabalhava no campo com meu pai. Desde muito cedo lutando pra ganhar o pão de cada dia.

Se vi algum mito como lobisomem ou bicho de perto. Olha eu nunca vi nada com esses meus

olhos aqui. Mas o povo conta muita história né. Ver ao vivo que é bom eu não vi não.

A gente chegou a escutar muita história de pessoas mais antiga. Até hoje a gente encontra alguém mais

velho falando sobre essas história. Hoje a maioria dos adultos amadureceram e esse pessoal mais novo não está ligando muito pra essas coisas aí fica difícil de acreditar ou ver porque a gente tem a luta diária né. Os tempos mudaram muito.

O que me alembro muito de ouvir durante época de plantação era orientações dos mais velhos sobre

sinal dos tempos. Sinal dos tempos é a época de você plantar seguindo as estações da lua. Quando a lua tá cheia ou minguante e em quarto crescente. O que diferencia essas estações nas plantações é só questão

do tempo mesmo. Por exemplo se você plantar algo durante a lua minguante o tempo de crescimento será maior quando plantar na lua cheia. Essas coisas sabe é só uma questão de desenvolver.

Meu pai por exemplo me contava que caçava muito e saia sempre muito cedo da noite assim 2 horas ou

meia-noite. Naquela época não tinha transporte ou o transporte era a perna ou o animal. Segundo ele fala que o bicho sente se o homem tem coragem ou se tem medo. Meu tio já me falou também que uma vez

voltando da estrada a meia noite o lobisomem pegou ele e lhe deu uma merra nele e rasgou ele todinho

de unha. Ele que tinha uma peixeira e tentô furar o lobizome mas o bicho pulô em cima dele e puxou a peixeira da mão dele. Bom minhas histórias de bicho são essas aí. Eu como não vivi muito minha infância foi em outro povoado eu acabei não vendo nada.

Minha família é por parte de Pernambuco e sobre a convivência do dia a dia eu fiquei acompanhando

meu pai até os 12 anos. Após os 12 anos eu fui pro Paraná pra ficar na casa de um tio meu. Casei-me em

1984 e já fui morar em São Paulo em 1988. Fiquei por um lá e depois vim morar no Nordeste novamente. Antes de casar eu me divertia e brincava em época de festa e de carnaval. Solteiro e aproveitando a vida se sabe né. Aí meu eu fui conhecer uma menina e depois de 3 meses de namoro eu casei. Tive um casal de filho com essa minha mulher. Eles vivem hoje um em São Paulo e outra em Aracaju.

Resolvi me separar de minha mulher logo após umas enciumadas sabe. A gente se separou porque a

mulher era muito ciumenta e pra eu evitar escândalo na rua eu resolvi me separar dela. Acontece que ia muito viajar e ficava uns 5 a 15 dias fora. E quando chegava a mulher se abestava na minha. Queria

porque queria que eu confessasse algo que não tinha feito. Como pegar mulher na cidade essas coisas sabe. Ela chegou a pedir divórcio. Eu respeito o lado dela então disse tudo bem. O problema é que separação é sempre complicado quem sofre com isso é sempre os filhos.

Depois que saiu a decisão do juiz eu vendi a casa e dei a parte dela de direito né e dividi o resto com meus dois filhos.

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Quando nos peguemo a nadar a cobra segurou um e o cabra botou a boca no mundo e quem é que foi lá pra tomar o cara da cobra. Ninguém foi.


E

scute bem eu servi o exército saí do exército fui transferido pra choque da choque fui passado pa

civil e da civil minha mãe me tirou porque os vagabundo era atirando ni mim e eu me livrando. Me virava pra não receber bala.

Você sabe que tem esse tipo dessa ocorrência aí só botava eu com minha dupla pra pegar ladrão, então o

seguinte eu sofri um pouco né mas Deus acho que me queria e me defendia eu nunca tomei um tiro de vagabundo. Escute bem eu sou predeiro sou classificado se você quiser ver lhe mostro minha classificação

tenho a profissão de guindasseiro e sou classificado tomem outra coisa sou motorista ninguém pensa que eu só trabalho com trator de pneu você já me viu no trator de pneu aqui. Pois então porque eu odeio trator de pneu porque eu sofri e o trator de estera nem se fala porque uma vez não sei como foi eu enjetei

um pau aqui pra derrubar e no fim da conta o pau me enganou e caiu por cima do capuz. Outra vez foi

uma cobra que não tinha mais tamanho caiu aqui ó no meu colo veio lá de cima eu não sabia se eu saía. A bicha era uma bicha dessa grossura não sabia se eu ficava e deixava o trator andar ou se eu saía no fim das contas peguei o facão e dei um pulo assim pra trás e o trator saiu andando.

Já passei por cada uma meu rapaz e vou lhe contar outra quando eu fui servir o exército eu tava fazendo os treinamento você sabe que os comandante sai pra treiná a gente nas áreas né.

Você sabe pra onde a gente foi. Nós tivemo um treinamento na cidade de Amazona lá na mata Amazona lá. Sabe o que é que foi que aconteceu?

Primeiro lugar nós tava andando de dentro de uma mata o índio fez uma armadilha lá e lá vai eu passei aqui mais os outros e ficou um atrás nos passemo quase tudo o derradeiro quando vimo aquele grito. Quando vimo tava lá em cima que nem um morcego de cabeça pra baixo de pendurado. Eu passei bem encostado na armadilha e não dei fé óia.

Foi Deus que me defendeu e o outro veio atrás e caiu na armadilha. Aí subimo num galho e corto a armadilha em cima e ele caiu em baixo.

Aí rapaz saimu dessa. Lá vai lá vai quando cheguemo no rio era pra nós passa pro outro lado e o comandante mandanu que era pra nós passar. Rapaz cumé que nós vamo passar nesse rio.

Mas é pra passar todo mundo fardado carçado de bota e tudo. Ordem é ordem e lá vamos nós passar. Quando nos peguemo a nadar a cobra segurou um e o cabra botou a boca no mundo e quem é que foi lá pra tomar o cara da cobra. Ninguém foi.

Aí desapareceu com ele o rio era fundo e agora nós fiquemo numa confusão brigando com o comandante porque curpado foi ele que deu a ordem pra nós todo mundo passar já tava todo mundo nadando dentro do rio pra passar pro outro lado.

A rapaiz não presto não essa daí não presto não.

Sei que nós passemu uma faze triste e viemo de lá. Tenho um retrato fardado na casa de minha irmã faz mais de ano que não vou na casa dela pra não ver esse retrato e não lembrar dessa história.

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Se a pessoa falar o nome dela Piatata ela vira um fogo gigante e queima as pessoas.

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s caranguejos graúdos são mais difíceis de pegar do que os pequenos, são mais malvados eles. Quando ele morde é igual alicate, dá trabalho a gente se livrar dele, o guanhamum dentro da toca, em um dia, se tiver com vontade mesmo, pego 5 ou 6 dúzias. Não é o dia inteiro não, 3

horas de trabalho mais ou menos. Há mais de 30 anos que eu pesco aqui nesse mangue, às vezes eu venho com alguém às vezes venho só.

Eu tenho algumas histórias de pescador, eu tenho várias. Por exemplo, uma que eu tomei uma carreira

com uma tarrafa na mão, a tarrafa pegou na pedra, eu fiquei preso com uma mão presa na tarrafa, sem poder correr, aí eu tive que ser rápido safar minha mão da corda da tarrafa, já fui invadindo a casa, a

casa era pertinho da maré, fui invadindo a casa se a casa tivesse uma porta fechada acho que eu tinha

levado ela na frente, acho que teria levado a porta na frente. Sorte que a porta estava aberta, porque eu

senti o cabelo arrepiar mesmo, parecendo que o cabelo estava virando espinho de tanto que arrepiou, o arrepio foi tão forte com aquela coisa que eu vi, que eu só identifiquei que era uma imagem tipo um

cachorro, mas não era um cachorro daquela cor naquela madrugada, naquele lugar. Não tinha como ter

um cachorro. Eu consegui sair de boa dessa. Outra vez fui eu com meu pai pescando. Nós vimos alguns peixes, parecia que era um peixe de 100 quilos querendo levar a rede. Aí nos tivemos que ir lá ver esse peixe e quando chegou lá o peixe desapareceu. Nós não conseguimos nem ver o peixe e nenhum vestígio dele, aí nós caímos na real que era uma visagem, a gente nem conseguiu tirar a rede nessa noite de tanto

medo que a gente ficou. Nós fomos embora deixamos rede lá nós chegamos com nenhum peixe em casa. Mas algumas outras histórias também que, a Piatata ela é uma luz pequena tipo uma luz de uma vela, mas ela cresce e diminui o tempo todo, se a pessoa falar o nome dela, Piatata, ela vira um fogo gigante

e queima as pessoas, queima canoa ou do contrário, se a pessoa tiver muita velocidade pra correr, ser

mais rápido do que ela, porque se não souber, não tiver velocidade pra correr vai ser queimado por ela, ela aparece na praia nos corais aparece em vários lugares na noite escura, noite de lua não aparece, ela só

aterroriza em noite escura. Ela fica crescendo e fica diminuindo, saindo faísca de fogo como se fosse uma

bomba estralando, uma coisa muito feia muito estranha e a gente sabe que é letal pra nossa saúde aquilo ali, a gente tem que sair logo onde ela estiver. Tem que procurar fugir logo antes que ela resolva vir à nossa

procura, eu já vi várias vezes, muitas, aqui os pescadores, todos esses, já viram. Só não podemos falar o nome dela que a gente sabe o que pode acontecer. Mas aqui no inverno aparece muitas, aqui ela anda em

velocidade. Nem uma lancha rápida consegue pegar ela, é muito rápida. Depois ela para, fica num sobe

e desce, fica rente com a água, aquela luzinha bem azulzinha, se a pessoa falar o nome dela, pode estar a distância que for, se você falar o nome dela, Piatata, pode ter certeza alguma reação vai ter ou você vai

correr ou ela vai vir e lhe queimar. Todos têm medo, não é uma coisa que só eu vi, só Zé das Dores viu não, todos os pescadores veem ela, com frequência às vezes, agora só que a gente sabe que não pode falar o nome dela, procure desocupar a área dela também, vá saindo, pra poder preservar nosso corpo porque se não ela pode queimar mesmo qualquer pessoa. Desde quando eu era pequeno, os meus avós todos sempre

falaram esse caso que se chegar a ver a Piatata não pare pra falar o nome dela o pessoal visa muito isso,

todo mundo é avisado aqui na região e ninguém brinca. Acho que é a pior coisa que temos aqui no mar,

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viu, é o mais perigoso, nós temos muito medo dela, se eu ver uma Piatata e eu estiver indo pescar eu volto

pra casa. Se ela crescer aquele fogo ali eu volto pra casa, não encaro ela não, ninguém pode encarar um negócio daquele ali não, é uma coisa da natureza mesmo, são um conjunto de coisas que formam aquelas luzes de coisa ruim. Disse que tinha um pessoal que xingava muito o mar, aí foi criado aquele negócio da

energia negativa, entendeu? Ela foi gerada pelos xingamentos, então ela é muito perigosa, a gente tem mesmo é que sair do lugar onde ela estiver não pode ficar perto dela não.

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Depois apareceu um colega me chamando pra fazer uma visita na casa dele. Cê não acredita mas essa visita foi uma pedra no meu caminho.

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u me chamo Laelson Alves de Oliveira e eu tenho 51 anos e tenho mais ou menos 32 anos que

trabalho como carregador aqui na feira da cidade. Já trabalhei em firma como carregador também. Além de carregador eu sou pescador faço mergulho pra pegar uma moqueca pra fortalecer o

coração e a barriga e o que vim é lucro. Posso te dizer que com essa idade eu sou uma pessoa bem ativa. Nessa minha vida o que mais carreguei foi comida.

Nessa vida se a gente não se cuidar o nosso corpo é levado sabe. E eu tenho um sentimento de impotência quando vejo isso acontecer e não posso fazer nada. Só por Deus mesmo.

Como sendo um carregador que sou eu tenho uma história pra lhe falar de ter visto com esses olhos que a terra há de comer. Eu já vi um corpo sendo levado.

Bom mais o que tenho pra te contar é que lá em Aracaju na capital eu passei 10 anos detido. Em 1987 eu passei por um momento difícil. Eu quando era jovem eu me misturei com pessoas nada boas. Passei

esses momentos lutando contra o diabo se é que você me entende. Então foram longos anos lutando pra voltar à sociedade outra vez.

Até minha mãe se ofereceu pra vender a casa pra me ajudar a sair daquela situação mas eu falei mãe se eu nasci pra viver aqui eu vou morrer aqui só que eu vou morrer como uma pessoa homem. Então não venda

mãe essa sua casa porque se eu cai aqui com essas pessoas eu vou sair daqui um dia de cabeça erguida. Então falei pra ela fique tranquila mãe que se eu entrei nessa situação eu vou ficar. Então tive pessoas que queriam o meu mal mais também tinha pessoas que estavam lado a lado pra o que der e vier. Então

paguei e cumpri minha pena e voltei a sociedade. Confesso que foi difícil mas eu superei. Com Deus a gente supera tudo.

Bom isso aconteceu quando eu tinha 21 anos na época e com 15 dias que eu estava trabalhando em um ambiente com gente boa. Bom foi só começar a beber e tal eu me lembro que bebia até aguardente

caranguejo. Depois apareceu um colega me chamando pra fazer uma visita na casa dele. Se não acredita

mas essa visita foi uma pedra no meu caminho. Eu fui lá e acabei presenciando um assassinado da vizinha

desse cara. Ele matou a vizinha e me incriminei junto com outro colega e foi assim que eu passei 10 anos da minha vida cumprindo uma pena por algo que eu não fiz. Esse cara matou a vizinha com um travesseiro no rosto dela e deixou ela sufocar até a morte. Bom eu estava com ele então por este motivo eu estava envolvido.

Bom hoje eu sou outra pessoa e vivo tranquilamente sem peso na consciência porque paguei minha divida. Então o que mais prezo nessa vida é a gente viver honestamente na sociedade e sempre procurar trabalhar direito pra conquistar o que precisamos na vida.

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Saía di manhã e dizia que ia pescar. Mas pescar era uma mintirinha porque eu ia mesmo era tomar banho.


E

u tinha 8 anos quando minha mãe faleceu. Naquela época ficou eu papai e meu outro irmão de 9 anos. Pra você ter uma ideia esse meu irmão ele teve que ir trabalhar com papai na roça.

Bom como era muito pra eles sustentar eu tive que ir logo pra roça pra ajudar na colheita.

Chegando lá era comum ouvir os patrões chiando. Eita mais essa menina acabou de sair do peito agora ela não vai saber trabalhar. E não sabia mesmo mas aí fui aprendendo com os dois. Então a oportunidade que eu tive de estudar foi lá na roça mesmo.

Trabalhei até os 28 anos e só fui sair dali quando comecei a trabalhar como empregada doméstica. E olha porque foi faltando trabalho de roça mesmo. Tive que achar outro meio de ganhar um dinheiro.

Não casei mas sou mãe solteira. Meu casamento não chegou a dar certo. Hoje em dia pra gente encontrar

um parceiro é difícil sabe. Eles só querem que a gente entenda eles mas eles precisam entender a gente também. E fica nisso. Pra um casal dar certo eles tem que ter confiança um no outro. Tem que terem compreensão e entendimento. Não pode ser um pensar pelos dois. Então o casamento não deu muito certo porque não tinha isso que falei pra você.

Então desses casamentos mal resolvidos eu tive 3 filhos. Uma menina e dois meninos. Um dos meus filhos moram com uma tia. Que foi um filho de outro relacionamento.

Então não tive muita oportunidade de estudar foi só trabalhando mesmo e foi assim. Eu sempre procuro

incentivar eles no que for possível. Tudo que eu não tive no passado eu busco dar pra eles. Minha filha já terminou os estudos.

Namorar na minha época de mais nova era assim. Não existia essa vergonha de ficar aqui ou acolá. Os

pais ficavam olhando e ficavam em cima mas nem por isso a gente ficava sem andar de mãozinha e já trocava até selinho. Já era tudo danado. A televisão tem um pouco de culpa também né rs. Tem gente que fala que na outra época era um tal de namorar escondido um longe um do outro. Mas aqui comigo foi

totalmente diferente. Já era tudo pertinho. A liberdade nossa era controlada na medida do possível né. Mas quando os pais tiravam a vista da gente eu aproveitava pra roubar um selinho. Era assim.

Vontade de sair pelo mundão e sair daqui eu tenho. Porque assim é um lugarzinho bom de viver mas com

quem tem com o que viver. Mas pra quem assim que vive como doméstica e de roça tá difícil. Eu tenho muita vontade de sair pra trabalhar fora mas pra sair tem que levar meus filhos e eles já me falaram que daqui não sai. Aí fica difícil porque pra pessoa sair e deixar.

Tenho um irmão que mora em Campinas em São Paulo e a gente sempre se fala. Escuto sempre ele falando que lá em São Paulo é bom e já chegou até a comprar um terrenozinho com um salãozinho que já da pra viver. E fez convite falando que se a gente for pra lá a gente se arruma e se ajeita né. Mas são meus filhos que não querem e não saem de jeito nenhum.

Acho que pros meus filhos saírem daqui seria muito melhor pra eles. Por conta da idade né e pelo

costume deles. Mesmo eles achando que viver aqui é melhor eu acho que os estudos de lá são melhores. Agora aqui assim tem a vantagem de ter um sossego danado. Os quintais são abertos. Eles dormem tarde. Tem vezes que eu abro a porta e deixo numa boa. A gente vive sem medo sabe.

Bom quando fecho os olhos e penso em alguma coisa da minha infância a primeira coisa que me vem a

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cabeça é dos tempos do circo em frente a igreja. A gente adorava ir pro circo. Pra não pagar a entrada a

gente passava por dibaixo dos panos. Eles tiravam a gente de lá de dentro mas a gente ia de novo. Coisa de muleque né.

Era só o circo chegar na cidade que era uma festa. E como não tinha outra coisa pra se divertir aí era

cheio de gente. E criança é criança né então a gente passava por debaixo da lona. Uma vez eles até falaram pra mim assim olha moreninha você é danada heim.

Do circo eu me lembro de rir sempre daqueles palhaços. Era bom e eu gostava dos palhaços. Só não gostava

quando eles mexia de mais. Mexia com a cor e com o cabelo. Na época eu tinha um cabelo bem cheião. Grosso aí eles ficaram mexendo com aquela música da nega do cabelo duro. Eita que eu ficava doida quando eles falavam isso. Ficava muito irritada e gritava um monte de palavrão. Era muito prezeteira.

Outra parte boa da minha infância era quando enchia aqui o rio Ipanema. Era bom porque era o nosso rio. Todo mundo ia pra lá tomar banho. Em dia de domingo parecia até praia ia muita gente mesmo. Era

todo mundo tomando banho. Saía di manhã e dizia que ia pescar. Mas pescar era uma mintirinha porque eu ia mesmo era tomar banho. Mas era bom e essas são as coisas eu que tenho como boas lembranças.

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Dizem que o Santo Antônio é do namoro. Eu não sei porque eu nunca vi ele namorar.


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eu nome é Maria Benedita da Conceição, de Monte Alegre, sou nascida e criada aqui, meu

pai não é filho daqui, meu pai é filho de um lugar chamado Cebaúna, eu não conheço esse lugar. Depois ele veio pra cá e informaram a ele que tinha aqui um arraiazinho se ele queria

comprar. Ele veio, olhou, gostou, e comprou esse arraiazinho aqui. O nome disso aqui não era Monte

Alegre, o nome dessa fazendinha aqui era, Bambucu, mas um guia que ele tinha chamado, Caboclo Gentil, não gostou. É um índio, não gostou, aí botou Monte Alegre. Só tinha 3 casinhas aqui, os moradores

desse lugar ficaram aqui mesmo que meu pai tinha um coração que Deus abençoou, não botou pra fora, eles ficaram até morrer. Daí pra cá, meu pai trabalhou, fez uma casa de farinhazinha, foi plantando na rocinha, e aí a gente foi. Ele foi sobrevivendo, as coisas foram melhorando com suas rocinhas. A gente foi

crescendo e quando eu fiquei de 7 pra 8 anos, ele já tinha a casa de farinha dele. Tinha um engenhozinho pra fazer azeite, aí a gente ia lutar ia catar dendê ia arrancar mandioca ia raspar e fazer farinha. A gente

fazia muito beiju, pra o tempo das festas dele de São Cosmo e São Damião. Era muito lindo aqui e eu sinto saudade porque não tá sendo como hoje em dia. Naquele tempo não existia água encanada, não tinha energia, não tinha nada, as brincadeiras eram de tambor era de pandeiro, cavaquinho, violão e

radiola. Os meninos e as meninas se reuniam e iam pro mangue tirar lambreta pra vender pra comprar

bateria pra radiola pra dançarem de noite. Não era essas danças de hoje em dia, era baião era bolero era caminho de roça era esses negócios. Brincava-se. Brincavam bastante e existia muito respeito qual não tá

existindo hoje, não tinha lambança todo mundo brincava todo mundo bebia todo mundo comia, tudo na paz de Deus e hoje em dia qualquer coisinha é uma lambança. Eu sinto essa saudade. Hoje em dia tem

energia tem água encanada tem lâmpada dentro de casa, mas não tem aquela beleza. meu pai festejava muito Santo Antônio, São João, mês de Maria, ele batia candomblé, ele era um curandeiro que aqui fazia

prazer. Não faltava gente aqui quando ele quisesse. Ele era diabético. Primeiro o diabetes atacou as vistas e ele ficou cego, depois atacou o nervo das pernas ficou é paralítico, não podia andar, ele só levantava pra

andar quando os guias pegavam ele e colocavam ele em pé. Quando saía sentadinho em uma cadeira

pra ir pra os lugares quando vinham chamar, eles levavam ele na cadeira, pra levar pra aqueles lugares que queria ir pra fazer alguma reza alguma coisa e foi assim até quando Jesus mandou buscar. Eu tenho

muita saudade, muita muita mesmo. Nas festas de Santo Antônio, meu pai mandava buscar uns músicos que vinham tocar na festa. Ele fazia leilão, o pessoal dançava bastante, tinha cavaquinho e o pessoal

tocando violão, acompanhando com o pandeiro, tamborim, era muito bonito. Ele festejava todas as 13 noites de Santo Antônio, terminava e emendava com o São João. Agora São João era tambor a noite toda até de manhã. Saía todo mundo às quatro horas da manhã. Todo mundo bem vestido pra ir pra fonte

tomar o banho de São João, muito fogos, todo mundo cantando naquela passeata bonita até em casa. Era

muita beleza. Ele fazia a festa de Iemanjá botava o presente nas águas, hoje em dia não tem mais nada disso não. Meu pai foi muito presente pra mim foi, tem feito muita falta mesmo, meu pai, meu pai não tocava tambor, ele brincava, os meninos que batia tambor. Era Clóvis, meu marido, que batia e os outros que viviam aqui com ele que batiam tambor, e meus filhos quando foram crescendo. Josoel aprendeu a

bater, Roque meu filho aprendeu a bater, Davi aprendeu a bater o tambor, só quem não bate é Genival

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e Caetano. Meu marido era filho de Barra de Carvalho e a mãe dele morava aqui, um lugarzinho que chamava, um riacho que chama Cachoeirinha, lá na frente, ele morava. A mãe dele morava aqui e um

dia ele veio passar um tempo de São João com a mãe. Quando foi na hora de ir que foi bater o tambor, ele veio e tomou um pouquinho do tambor pra o menino descansar a mão um pouquinho, aí gostou do tambor, e meu pai gostou também de ver ele saber bater um tambor bonito. Ele, tem um som bonito e daí ficou. Pronto a gente se gostou, ele pediu a papai e a gente casou e pronto. O namoro de primeira não

é como esse namoro de agora não, o namoro de primeira era muito diferente, era no público em vista de

pai de mãe de tio de avô de avó, e hoje em dia os namoros é escondido, era com muito respeito e hoje em dia não tem mais isso não, ele vinha pra cá, pronto aí todo mundo tava desocupado. Aí vinha todo mundo pra varanda fica todo mundo ali conversando até tantas horas, quando dava um sono meu pai dizia, tá

na hora de todo mundo dormi, pronto cada qual ia pra as suas casas, ele ia embora e a gente ficava, ele beijava a minha mão eu beijava a dele e pronto.

A casa tá cheia, minha casa fica cheia em dia de festa, só alegria, a festa que eu mais gosto é de Santo Antônio, Santa Bárbara e São João, porque são santos alegres, que da força, traz muita energia boa pra

gente, quer dizer todos os santos trazem né, São Cosmo e São Damião também o caruru dele é muito bonito é muito bom são santos fortes, dizem que o Santo Antônio é do namoro, eu não sei porque eu

nunca vi ele namorar, a Santo Antônio meu pai, é comum das mulheres que estão querendo arrumar um

marido, dizem que é, com promessa com ele né, pra arranjar um namorado um marido bom, muito bom, quando eu era jovem eu não pedi, quer dizer quando Deus tem que dar não precisa ninguém pedir, não é isso, as gente pede às vezes os santos se aborrecem às vezes mostra uma coisa boa, às vezes bota um que não serve portanto deixar ver a vontade do pai.

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E eu por ser a gajeira era a única do grupo que se apresentava cantando. É uma coisa bem antiga e um costume do nosso povo.


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inha infância sempre foi lutar pela vida né. Trabalhava muito né. Trabalhava alugado

plantando arroz na roça. Trabalhar alugado é pra poder ganhar o dia de serviço e pra poder comprar um chinelo uma roupa uma coisa assim. Desde os meus 16 anos eu vivi assim

trabalhando. Minha vida sempre foi assim. Eu pescava e quando chegava em casa torrava as aratanhas porque uns dizem que chama essa saburica e outras chamam de aratanhas mais o que significa que é uns

camaranzinhos bem pequeno que pega com rede de calão. Aí sempre que eu pegava a tarde tipo umas 4 e meia assim já saia nas portas e com a bacia na cabeça olha a saburica e quando eu terminava de vender

já ia no mercado comprar algumas coisas que estavam faltando em casa. Eu não gosto de ficar parada sempre fui assim.

Mas aí pra eu me divertir quando era mais nova eu costumava sair pra forró ou uma discoteca e brincava

muito de chegança. Pra você ter uma ideia eu já fui uma gajeira da chegança. Vou te explicar chegança é uma festa dessas folclórica que usa barcos pra transportar um grupo de canto. É como uma aventura e a gente fica tudo de branco fazendo visitas em praças e casas do povoado. E eu por ser a gajeira era a única do grupo que se apresentava cantando. É uma coisa bem antiga e um costume do nosso povo.

Como faz muitos anos que eu participei eu acabei esquecendo das letras. Só lembro um pouquinho e vou cantar pra você.

“Eu avistei. Meu comandante eu avistei. Em Portugal eu avistei. Terra terra meu mar de guerra. Olha as gajeiras ali estão ali estão pela boas terra.”

Parecia teatro sabe porque tinham várias pessoas que tinham suas partes na apresentação. Tinha um general e seus guardas que prendiam outras pessoas ao seu comando. Era outra pessoa só pra fazer café.

Tinham dias que o vereador da cidade pedia pra gente se apresentar porque era comum visitas de outras

pessoas na cidade. Então na casa desse vereador. Ou de outras pessoas. A gente costumava se apresentar pra um montão de gente. Então era o Edinho que organizava a gente com as roupas e tudo que precisasse pra cantar e se apresentar.

Era um momento de muita felicidade e hoje eu infelizmente não tenho as letras das músicas que cantava na cabeça. Mas mesmo assim o pouquinho que me lembro já me faz sentir uma imensa saudade. Parece

que foi ontem eu em cima daquele palco toda de branco. Soltava a voz e ficava assistindo as pessoas tudo me olhar. Eita emoção que me dava moço.

Bom sobre minha família a minha mãe teve 18 filhos mas dos 18 só se criou 7 porque os outros tudo

morreram. Eu mesmo só fui me casar com 18 anos e só fui ter uma filha quando completei 22 anos. Tive essa menina que hoje ela tem 24 anos. Luto pelos meus filhos pra nunca faltar nada a eles. Tento sempre

ensinar o que me foi ensinado e como eu disse que não gosto de ficar parada. Sempre procuro trabalhar e me manter em movimento. Parada é que eu não fico e procuro sempre ensinar isso aos meus filhos.

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Ocê tinha que ver a gente tudo de vestidinho feito na mão pela mamãe andando pras festinhas com as bonecas debaixo do braço.

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enho 47 anos e a primeira coisa que me vem a cabeça na minha infância era de passar tempo

brincando daquele jogo das pedrinhas sabe. Aqui eu conheço por esse nome mas tem muito

lugar por aí que o povo chama de “cinco marias” ou “jogo do osso” jogando pedra “onente” tem

“bato” e “arriós”. Cada cantinho tem um jeito diferente de chamar. O jogo era bem simples e nóis pegava

5 pedrinhas e ficava jogando pra cima. A gente tinha que primeiro deixar as cinco pedrinhas no chão e depois tinha que pega uma delas e jogar pro alto aí ia fazendo até não ter mais nenhuma pedrinha no

chão. Era uma coisa tão simples né filho mais na hora que a gente brincava batia uma tremenda felicidade. Já brinquei muito de boneca de pano e de plástico e fazia até vestidinho pra modi buta nelas. Quando

minha mãe fazia as roupas pra modi a gente ir pras festinhas no povoado eu aproveitava resto de pano

e botava nas minhas bonequinhas. Era cada vestidinho lindo viu. Ocê tinha que ver a gente tudo de vestidinho feito na mão pela mamãe andando pras festinhas com as bonecas de baixo do braço.

Às vezes a gente chegava dessas festinhas de São João tão cansada mas mesmo assim a primeira coisa que

fazia quando entrava na casa era brincar com essas bonequinhas debaixo do pau. Aí no quintal se a gente visse que tava sujo o terreiro a gente varria e fazia de conta que era nossa própria casinha. Naquela época a

gente até conversava com as bonecas. Me lembro de sempre ajeitar elas e também cantar pra elas dormir. Forrava um pano nelas e falava vamo dormi aí pronto. Tinha dia que a gente até imaginava e falava eita que amanheceu o dia vamo levantar.

As nossas brincadeiras era bem simples e naquele tempo não tinha essa coisa de namorar ou falar pras

bonecas pra namorar. Não tinha essas fuluências de hoje em dia. Hoje em dia tudo é mais mudado né e só se fala em namorar e ter filho. Pense como era bom quando tinha festinha pra ir. Mamãe comprava

as vezes umas ropinhas pra gente ir e quando chegava lá era uma felicidade tão grande que parecia que a

gente tava no paraíso. Nessas festas tinha parque que os homens traziam pra gente andar. Eu me alembro que tinha roda gigante e barquinho. Tinha doces e algodão doce que a gente sempre pedia pra papai e ele

comprava. Essas festas eram muito boas. Eu tinha um medo danado de andar no barquinho que subia e descia preso num ferro. Eu tinha medo porque a gente sentava um do lado do outro e ele saculejava muito pra cima e pra baixo. Dava um frio danado na barriga. Deus me livre.

Eu morava em um interior bem pequeno e todo mundo ali se conhecia então quando a gente andava pra um lado e outro era bem difícil de se perder. Principalmente nessas festinhas. Em geral elas eram feitas em dia de lua cheia e as ruas eram iluminadas com candeeiro e as vezes o povo gostava de iluminar

com lampião. Isso nos tempos de festa né. Só tu vendo mesmo filho pra tu ver. As festinhas linda tudo iluminada e cheio de gente feliz. Era uma visão linda e tinha uma catedral bem no meio das festas.

Hoje a gente come umas comidas que não presta né por causa das drogas que vem na comida. A gente

compra e come uma coisa e de repente se acaba. Bem assim é a gente e é por isso que tem muita gente

que não vive mais tanto anos né. Aí na minha infância as comidas eram uma delicia. Pense como era bom quando a gente fazia até a cuzinhada. Ah cuzinhada é quando a gente pega uma galinha de capoeira e

virava as tripas pra modi botá numa panela. Galinha de capoeira é aquelas galinha criada solta no nosso terreno. Então enquanto uma virava as tripa as outras iam fazendo verdura.

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Hoje em dia eu enjoei de festa e pra mim nem existe mais festa mas acho que é porque eu já curti um

pouquinho né. Namorei muito e agora já faz 3 anos que eu moro mais um rapaz. Depois dos meus 45 anos fui arrumar uma pessoa pra viver. Casa hoje ou casa amanhã ele sempre fala eu digo depois nóis vê

haha. Não sou casada no papel mais como moro com ele posso dizer que sou casada né. Mas pode ser que nesse ano nóis casa.

Eu tive um acidente na firma que trabalho. Machuquei minha mão e se não fosse por isso já tinha casado a alguns dias. Problema é que nem sei quando vou voltar a trabalhar. Porque lá a gente trabalha com faca e essa faca cortou meu dedo e eu perdi o movimento desse dedo. É por isso que eu tô afastada.

Eu trabalho num frigorifico chamado Nutrial e a gente lá trabalha cortando com faca né. Eu fico num setor onde os homens desossa e eu limpando as carnes. E botando nas esteiras e elas vão levando. Outras

mulheres já pegam as carnes e já embala com a etiquetazinha. Traga uma etiqueta pra esse coxão mole

alguma mulher grita. Tem de tudo lá dentro. Coxão mole, file mignon, contra-filé, patinho, coxão duro, contra-filé, coxão mole. Eu pego as carnes com um gancho e às vezes só de olhar a carne eu já sei identificar. Eu conheço carne. Eu até nunca me meti de desossar a carne mais se eu for eu desosso numa boa.

Cê pode me perguntar qualquer coisa sobre carne que eu acho que vou conseguir te responder. Por exemplo tem lugar que eles usam uma carne diferente né. Tem quem usa carne de segunda e carne de

primeira. A carne de segunda ela vem da dianteira do boi. Essa carne vem da parte da mão do boi e é

a pior carne que tem porque ela é bem dura. Mas se você buta em uma panela de pressão fica gostosa. É uma carne pra quem não gosta de gordura e assim isso é bom né porque tem gente que não pode comer muita gordura. Agora o coxão mole, patinho, contra-filé e alcatra é tudo carne de primeira. O filé-

mignon não porque é só na hora que a gente tá limpando. A picanha a gente tira da alcatra e o coxão mole e o patinho a gordura dele só é em cima da carne. O de baixo é só carne maciça. Dependendo do boi tem picanha que até passa de dois quilos. De tanto trabalhar com carne eu fiquei especialista.

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Foi aí que eu abri minha visão. Porque o mundo só te dá só coisa ruim e se você esquecer o mundo você só vai achar coisas boas tendeu.

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apo reto brother se você procurar uma carioca você vai passar fome quando você sair pra trabalhar

você vai arrumar o Ricardão lá na tua casa. Agora se você arrumar uma paraibana ela vai te dar

valor pô meu irmão essa vai lutar por você eu tiro pela minha esposa ela é paraibana pô arrumei

uma carioca que eu sou carioca pô mano só decepção aí arrumei uma paraibana só amor na minha vida. Ó hoje em dia eu tenho uma casa tenho dois casal de filho com ela supermaravilhoso a melhor coisa da minha vida que eu encontrei foi essa minha esposa.

Se eu tivesse com a primeira mulher da minha vida eu estava morto. Hoje em dia é Deus no céu e essa paraibana na terra eu dei o tiro certo na mulher certa ela mudou minha vida.

Por isso na comunidade tá cheio de paraibana como dizem lá no linguajar deles só mulher arretada só mulher casca grossa.

Como eu posso falar pra você. Você não teve seu estudo digno eu não tive um estudo igual a você hoje em dia se você falar pra mim assim pô vamo voltar a estudar vô te falar pô cara obrigado pelo conselho mas

eu não tenho mais paciência então pô cara o que eu tenho hoje em dia eu prefiro dar pro meu filho se eu tenho que ensinar eu vou ensinar meus filho.

Eu entro numa escola e lembro do que aconteceu foi o primeiro dia de aula um amigo que sentava na minha frente ele pegou um papel de bolinha que todo colégio tem isso voo na professora o que que aconteceu disso tudo. A professora na vez de dar exemplo ela veio com pau e pedra e agarrou na minha

orelha. Virô a minha orelha. Eu falei pô na mesma hora eu pensei eu era rebelde né pensei como que eu vou estudar numa escola dessa olha o mal exemplo que a professora dá.

O que eu fiz com ela eu dei uma cadeirada nela ué ela me deu um exempro feio se ela me desse um exempro bunito ela não ia ganhar uma cadeirada. Tomei um cartão vermelho que agora não posso entrar

em colégio nenhum. Pô cara eu vim a acordar quando eu tive minha primeira filha que eu perdi uma filha

aí foi onde que eu acordei pra vida minha filha nasceu quando foi com seis meses minha filha faleceu né. Aí eu fiquei com raiva voltou aquele ódio de fazer coisa erra e eu falei. Aí prometi pra mim mesmo igual

aquela música do Racionais era a última vez eu só tenho dezesseis e chega desse mal maluco esquece isso o que morre morreu. Nós nunca vai esquecer uma vida mais aí foi da onde nasceu minha segunda filha que é a coisa mais linda se chama Raiane também tem os olhos maravilhosos de filha.

E daí cara daí pra frente foi só vitória consegui vários empregos mudei minha vida hoje em dia eu através de botei minha família em primeiro lugar e daí cara eu consegui de tudo o que eu quis na vida.

Hoje em dia eu trabalho pra mim mesmo vivo do meu esporte às vezes eu tô trabalhando faço uma pintura mas pensando naquilo pô tenho que ir no Jiu-Jitsu que ali que é o foco tendeu.

Ali que você pode botar qualquer criança que você pode falar você quer ser melhor que alguém na vida. Seja você mesmo. Você vai ser tudo o que você precisa na vida. Foi aí que eu abri minha visão. Porque o mundo só te dá só coisa ruim e se você esquecer o mundo você só vai achar coisas boas tendeu.

Aí foi o que eu fiz na minha vida larguei tudo que tinha larguei amigo hoje em dia meus amigos é minha própria família. É meu filho minha esposa e dinheiro no bolso. Que te deixa rino te deixa alegre e vários trabalhos.

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Eu não queria me misturar por causa da classe e da vida dele que era diferente da minha que só sabia da roça né e plantando arroz.


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e eu já ouvi falar em história de botija. Olha eu já ouvi falar mais nunca vi não. O que eu ouvi falar foi que a pessoa que não gastava o dinheiro né e que guardava todinho o dinheiro embaixo do coxão né. Tem gente botava o dinheiro todin em uma panela de barro e enfiava debaixo da

terra né. Então se essa pessoa morresse e não gastava esse dinheiro. Quando morria vinha dados que alguma pessoa ir lá tirar. Mais aí a pessoa ia lá tirar o dinheiro mandada desse espírito né. Essa coisa

dizia que o dinheiro tá em tal lugar vai lá ver. Mas a pessoa ia lá tentar tirar o dinheiro mas antes de conseguir acontecia muita coisa né. Vinha muito bicho umas coisas que nunca existiu e a pessoa corria

e não conseguia tirar o dinheiro. A pessoa que morria ela vinha pra alguma pessoa contando onde esse dinheiro estava. Não sei se era em sonho ou se era acordado né. Olha sou uma pessoa religiosa e nunca vi

essas histórias de mula ou de bicho sem cabeça. Só sei que todo domingo eu vou à missa. Sou uma mulher

devota e não acredito nessas coisas. Perdi meu pai muito cedo e já com dez anos já trabalhava com minha mãe no campo. Levantava de manhã cedo e tomava aquele café. Fazia aquela comida e colocava na vasilha

né e se largava no mundo. Trabalhava no arroz e arrancando planta. Plantação mesmo sabe. Passava o dia

inteirinho plantando. Eu conheci meu esposo trabalhando justamente no terreno dele. Esses terrenos de arroz era a maior parte da lavora era dele. Eu conheci ele lá. Eu tinha lá na base de uns 15 pra 16 anos por aí. Ele ficou viúvo e veio me perguntar e perguntar pra minha mãe se eu queria casar com ele. Eu na hora

disse que não. Minha mãe veio falar que isso não era com ela e que eu que teria que responder pra ele né. Eu disse pra ele que não queria. E vou te contar que lá no tempo ele era de família rica e branca. Desses

tempos de coronéis sabe. Hoje se você olhar tem umas casas aí perto da igreja. Essas são tudo da família

dele. Bom dando seguimento na história te falei que eu não queria de maneira nenhuma me casar com ele. Eu não queria me misturar por causa da classe e da vida dele que era diferente da minha que só sabia da roça né e plantando arroz. Bom pra cada vez que falava pra ele que não queria casar ele me respondia que

não tinha nada a ver com isso. Cansei de falar pra ele ir na cidade que o que não faltava era pretendente. O que não faltava era moça ali. E ele como era rico né e viúvo. Aí ele disse não queria outra mulher. Que só queria eu. Durante um tempo eu fiquei falando pra ele que os filhos dele podia ficar sabendo e tentar atrapalhar o relacionamento né. Ele ficou calado quando ouviu isso e não disse mais nada.

Nesse tempo não tinha essa coisas aqui de telefone pra gente se comunicar. Ele então escreveu uma carta

pros filhos dizendo que eles me conheciam porque eles já tinham vindo aqui na cidade e já viram ela. E completou falando que iria se casar comigo. Os filhos escreveram de volta pedindo pra deixar eu ver essa carta. Nessa carta tava escrito assim que se eu fosse trazer essa felicidade pra ele e ele pra mim ninguém

seria contra ao casamento. Os meninos escreveram uma coisa muito linda. Falaram que esse véio tinha sido um pai tão bom pra eles e soube criar com muita educação o que teriam pra agradecer era mesmo esse

senhor. Eita não demorou pra ele mostrar a carta pra mim com um orgulho danado no peito. Foi a carta que me fez ceder a essa paixão. Graças a Deus eu fui muito mais muito feliz mesmo com ele. Vivi muito bem. Eu fui morar com ele em Recife e depois de muitos anos ele envelheceu e pediu pra voltar pra terra dele. Lugar onde ele tinha vivido a maior parte de sua vida. Antes de morrer ele queria muito voltar pra esse canto. Ele não queria viver lá em Recife.

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Minha mãe teve treis filho todos treis interesseiro um deu pra tocar piano ôto pra tocar pandeiro e eu para beijar moça que é um serviço maneiro.

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apaz eu nasci em Brejo Grande né no lugar que eu nasci tudo era praia naquela época e então

tinha o rio cheio todo ano tinha enchente de rio que aí enchia as casa d’água tudo. A gente amanhecia o dia dentro d’água andava quinem porco dentro d’água.

E nesse lugar que eu andava dentro d’água hoje a gente anda com o pé no sapato sabe.

E então o rio secou ficou lá em baixo cá onde a gente morava não tem mais água. Então. Pra tudo Deus dá um jeito. A cobra grita na serra o tatu sai ao passeio. Só se vê rio bem cheio quando cai chuva na terra.

Já pesquei de jereré pesco de rede de fio com a força da natureza treis piaba enche um rio. O rio de São Francisco corre que faz um remanso o corpo que tem coceira as unha não tem discanso. A ponte de Propriá foi feita com dois mourão por baixo passa canoa pro cima caminhão rico precisa de pobre no dia da eleição.

Todos voceis sabe contar quero que você me diga quantos peixe tem no mar. Os peixe que tem no mar eu cubro com meu gibão.

Quero que voceis me diga quantos boi tem no sertão.

Os boi que tem no sertão eu conto de quatro em quatro. Quero que você me diga quantas pena tem um pato.

As pena que tem um pato eu conto de cinco em cinco.

Quero que voceis me diga quantas pena tem um pinto. As pena que tem um pinto eu conto para não errar.

Quero que voceis me digam quantos peixe tem no mar.

Rapaz tudo isso é pela memória né não sei ler nem nada mas tem que gravar quarquer coisa e completava né e assim por diante.

Minha mãe teve treis filho todos treis interesseiro um deu pra tocar piano ôto pra tocar pandeiro e eu para beijar moça que é um serviço maneiro.

Há quatro coisa no mundo que eu acho már empregado um cavalo bom de cela passar a noite celado um cachorro bom de caça passar a noite acuado e uma moça bonita casar com cabra safado.

Há quatro coisa no mundo que aturmenta o cristão uma casa goterenta um cavalo russo ciótão uma mulhé ciumenta e um menino chorã.

Pra tudo Deus dá um jeito diz a casa se arreteia o cavalo niguceia o menino se acalenta e a mulhé se mete a pia.

Vou me casar pra possuir quatro mulé. Uma pra deitar galinha outra pra deitar guiné. Uma cozinha o feijão e outra faz o café.

Minha mãe quando eu morrer não quero mortalha branca nem preta nem azul. Na tampa de meu cachão uma garrafa de pitu.

Aí eu acho que já chega né porque tem outros pra falar né. Hahaha

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INS TA GRA M

@ M A G I C W O R D S P R O J E C T No perfil do projeto, você poderá ver um ponto de vista diferente, através dos olhos do fotógrafo @JoseCabaço, embaixador do Instagram.

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C r é d i t o s :

Equipe AlmapBBDO, Equipe Bando Studio, Equipe Mosh Post, Salete Martins - Favela Santa Marta

A g r a d e c i m e n t o s :

Projeto Amadurecer com Bem Estar, Porto Real do Colégio,

Dôrinha da cidade de Batalha - AL, CREAS / Batalha - AL,

CREAS / Propriá - SE, Ana Catarina, Sandra Regina, Juliana Souza, Carolina Mendonça, Helder Leite.


www.hpmagicwords.com.br Livro impresso na HP Deskjet Ink Advantage Ultra 4729. Capa impressa com a tecnologia HP Indigo. N ยบ

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