Ano I - nº 1 Dezembro 2011
FocAia
em Revista
Edição especial
Economia Universitária
FocAia
Cursos | Nutricionista ainda é novidade na região Pág. 08
em Revista
Perspectivas 3 | Caminhos O desafio da escolha
Alimentação | Lugar escolhido interfere em saúde e bolso do universitário Pág. 33
5 | Tecnologia De olho no futuro 10 | Direito revela quadro de saturação 12 | Farmacêutico: sua medicação em boas mãos 14 | Enfermagem: prestação de serviço ao ser humano
Transporte | Dos comuns aos alternativos Pág. 37
16 | Mercado de trabalho A difícil missão
Fonte de renda 19 | Carreira Ter curso superior faz aumentar salário 21 | Bolsas Investimento em conhecimento
Malhação | Universitários representam 80% dos frequentadores de academias Pág. 49
23| Dificuldades financeiras Casamento que nem sempre dá certo 25 | Renda Universitários garantem expansão da economia
Serviços 28 | Locação Estudantes são público alvo de setor imobiliário 31 | Moradia Pensões: praticidade, conforto e gasto reduzido 35 | Alimentação O preço do prato X o lanche barato 39 | Transporte intermunicipal Maratona diária
Vida Social 42 | Viagens Universitários movimentam setor de transportes 45 | Interação Vida social ativa pode afetar orçamento 47 | Gastos Universitários evangélicos destinam renda para se socializar 55 | Festas Vale do Araguaia é carente de eventos culturais 2 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Turismo | Universitários agitam o turismo de Barra do Garças Pág. 52
EXPEDIENTE
FocAia em Revista é um projeto interdisciplinar realizado pelos discentes do 6º semestre do Curso de Jornalismo da UFMT/Campus Araguaia (2011/2). Disponível em: focaia.blogspot.com
Equipe (edição de texto e diagramação):
Adilson Chinna Alail Abadia Ana Carolina Vilela Andressa Alves Atila Cezar Curso de Comunicação Social-Jornalismo Carolina Pizzatto (UFMT/Campus Araguaia) Cristiane Gomes Coordenação: Profª. Patrícia Kolling Franciele C. Strege Francisco José FocAia em Revista - Coordenação: Graziely Moessa Prof. Gibran Luis Lachowski Ivan de Jesus ( Jornalismo Especializado I/ Edição e Cobertura Jornalística) Prof. Leandro E. Wick Gomes (Planejamento Gráfico) Lohanna C. de Souza
Lorrana Carvalho Lucas Iglesias Luiz Carlos Bezerra Maxmyllyanne Morais Mirian Barreto Nathan Sampaio Panmella Oguido Paula Nonato Thaís Helena Tonny D. V. Lopes Tuili Freitas
Caminhos
O DESAFIO DA ESCOLHA
Fotomontagem: Atila Cezar
Adilson Chinna
3 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Caminhos
Na hora de escolher a carreira, é bom se informar, planejar a longo prazo e não temer o futuro. Qual caminho devo seguir?
P
ressão, medo, insegurança. Esses são alguns dos fantasmas que assustam muitos adolescentes na hora de escolher uma carreira. E a variedade de cursos disponibilizados atualmente só faz crescer, ainda mais, a incerteza na escolha do curso superior. Isso não significa que o jovem tenha que acertar “de primeira”. Segundo o especialista em desenvolvimento de carreira da NeoConsulting, Rubens Gimael, em entrevista à revista Veja “A faculdade deve ser encarada como a escolha de uma plataforma, um alicerce para a construção da vida profissional”. Gimael afirma que é comum encontrar profissionais formados em uma determinada área, atuando em outra totalmente diferente de sua graduação superior.
4 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Uma boa dica é buscar informações sobre os mais de 150 cursos oferecidos pelas inúmeras instituições de ensino superior espalhadas pelo país. É importante saber se a faculdade ou universidade é credenciada e autorizada junto ao Ministério da Educação-MEC. Para isso, o órgão disponibiliza um endereço eletrônico na internet (http://www. educacaosuperior.inep.gov.br) e uma linha direta (0800616161) para consulta gratuita. O site sejabixo (http://www.sejabixo.com.br) realizou uma avaliação com o objetivo de classificar os cursos mais procurados e respectivas concorrências por vaga oferecida. Foram escolhidas 46 instituições de ensino em todo o Brasil, sendo avaliados os seus vestibulares e selecionados os 5 cursos mais procurados. Em seguida, os dados foram tabulados e calculada a concorrência média. Ao final, foram ranqueados os 10 cursos mais disputados no Brasil. Atualmente em Barra do Garças, há 5 instituições de ensino superior, sendo uma pública e quatro particulares. São
ofertados, ao todo, mais de 30 cursos, divididos entre bacharelados, licenciaturas e tecnológicos. Dos 10 cursos mais procurados no Brasil, 5 deles estão disponíveis na cidade. Os cursos de Ciência da Computação, Direito, Enfermagem, Farmácia e Nutrição, trazem um verdadeiro batalhão de novos universitários todos os anos para estudarem e alavancarem a economia da cidade e da região. Segundo o pró-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), José Marques Pessoa, “Barra já se consolidou como pólo de Educação, porque atrai alunos de outras regiões do entorno e mais de 40% das matrículas atuais são jovens de todos os recantos do país”. A equipe de reportagem da UniVERSO foi em busca de informações e conversou com alunos, professores, coordenadores e diretores das instituições. O objetivo foi avaliar a relação custo benefício, confrontar esses dados com a realidade dos profissionais que atuam no mercado e obter uma análise mais detalhada sobre estas carreiras.
Buscar informações sobre o cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior é uma ótima forma de começar a decidir.
Tecnologia
DE OLHO NO FUTURO s a i g o l o as te c n
m ê t n a m e m e v l o v n . e s s a e d i d v s s a e s s o El n m a t i l i qu e f a c á t s e e d a d i s r e v i n Ag or a , a u preparada para atender suas expectativas? Atila Cezar 5 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
S
Tecnologia
em nem notarmos, eles tornam o dia a dia de pessoas e empresas mais ágeis com todas as facilidades do mundo moderno. É deles a responsabilidade de manter em funcionamento redes de globalização, grandes empresas e são capazes até de resolver pequenos problemas como uma tela azul [quem nunca passou por isso?]. Mas o que isso tem a ver com você? Simples. Sabe o sistema de saque de dinheiro que você usa no caixa eletrônico, os jogos instalados no seu computador, o programa de controle de estoque do supermercado da esquina? E aquele celular/calculadora/câmera que se carrega no bolso? Todos eles foram projetados por profissionais de Ciência da Computação. Esse tipo de trabalhador pode ser considerado como um “clínico geral do computador”, pois aprende a ter o conhecimento geral da máquina, analisa as necessidades dos usuários, gerencia equipes de criação e instala sistemas de computação. Ele é capacitado para desenvolver desde softwares simples aos mais complexos. Henrique Augusto Germano Esteves, de 21 anos, acadêmico de Ciências da Computação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT\cam-
“É necessário estar ciente de que o curso subentende bem mais do que afinidade com jogos, MP3 ou computadores.”
6 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
pus Araguaia) conta que optou pelo curso por já trabalhar, antes, na área da informática no interior de São Paulo e pela afinidade com o setor. Muitos universitários também estão nesta situação, e isto é visto com bons olhos pelos professores, já que os alunos gostam do que fazem. Antes de escolher a carreira em Ciências da Computação é necessário estar ciente de que o curso subentende bem mais do que afinidade com jogos, MP3 ou computadores. Para ter êxito o candidato a profissional precisa de criatividade, comunicação, dinamismo, capacidade de abstração, concentração, organização, resolução de problemas práticos, pesquisa, raciocínio lógico, habilidades com matemática. “A formação básica é composta essencialmente por lógica e matemática pura”, destaca Henrique. É preciso ter habilidade com ciências exatas. Afinal, os dois primeiros anos do curso possuem várias disciplinas que envolvem elementos de matemática, cálculo, geometria, álgebra e lógica, o que pode assustar os alunos e causar evasão. E isso realmente ocorre. Uma percepção geral aponta que cerca de 10% dos acadêmicos desistem do curso ainda no primeiro semestre, e ao final somente em torno de 25% se formam.
MERCADO DE TRABALHO O Brasil possui, em média, 17 mil vagas em aberto para engenheiros e cientistas da computação, e o mercado de trabalho para o profissional de informática estará sempre em expansão e com vagas a serem ofertadas. Além disso, a expansão do uso de redes de computadores e de softwares nas áreas médica e educacional aumenta o mercado de trabalho para o graduado em Ciências da Computação. Grande parte das vagas ofertadas está concentrada em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis e Manaus, onde há alta produtividade de softwares. Em estados como Pernambuco e Paraíba a demanda
Tecnologia
“A formação básica é composta essencialmente por lógica e matemática pura”
Henrique Germano Esteves, acadêmico de Ciências da Computação da UFMT.
7 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
é crescente, indicando a região Nordeste como mercado em expansão. A absorção de profissionais no setor público ocorre em menor escala, pois o ingresso se dá por meio de concursos para trabalhar na instalação e no gerenciamento de infraestruturas de informática, que são essenciais para qualquer área do governo funcionar. Podem ainda montar suas próprias empresas, nas quais desenvolvem sistemas para companhias maiores. O analista em Tecnologia da Informação (TI) da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (Secitec), Gleinner Queiroz Lino, 29 anos, relata que começou sua carreira graças à universidade, que lhe abriu a portas do mercado de trabalho. Para o profissional, a região não possui muitas vagas disponíveis e os recém-formados emigram. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que entre as 40 profissões com os melhores salários, o cientista da computação está na 36ª colocação com um salário médio de R$ 3, 3 mil. Henrique é realista e afirma que não pretende ser o empregado, mas sim o empreendedor, e planeja investir numa área ainda deficiente na região, o e-commerce. Como a tecnologia estará cada dia mais presente em nossos lares, carros e locais de trabalho, certamente esta é a profissão do futuro. Para ser um bom cientista da computação basta aprender a gostar de estudar. Goste do que você faz e faça o que você gosta.
Cursos
Nutricionista ainda é novidade na região
O
Tonny Davison Villar Lopes
curso de Nutrição das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (UNIVAR) começou em 2009 na cidade de Barra do Garças. Um dos primeiros do interior do estado de Mato Grosso, segundo informação da própria instituição. Conta atualmente com três turmas em andamento e 150 acadêmicos matriculados. De acordo com a coordenadora do curso, a professora mestre Márcia Leopoldina Montanari Corrêa, a escolha pela área se deu após uma observação no aumento da demanda por estes profissionais na região do Vale do Araguaia. Essa formação anteriormente era oferecida somente em Cuiabá, e isso, dificultava o ingresso de estudantes do interior do estado. A professora enfatizou que a aceitação superou as expectativas iniciais, “a cada vestibular vemos a procura aumentar”. A área de atuação dos nutricionistas, segundo a Revista Vestibular 2011/UNIVAR, são hospitais, clínicas, ambulatórios, consultórios. Também existem os Núcleos de Apoio à Saúde da Família, restaurantes in8 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
dustriais e comerciais, academias, escolas públicas e particulares. E ainda, programas de alimentação e nutrição dos municípios, saúde indígena, indústrias de alimentos, bancos de alimentos, bancos de leite humano. Quanto a questão da estrutura oferecida, a coordenadora do curso relatou que o quadro docente está completo e é formaFormandos em nutrição da UNIVAR vão gastar do por professores mestres e doutores. No mais de R$ 24,7 mil para se formar. tocante a laboratórios, são seis, sendo dois específicos para o curso de nutrição. Segun- A REALIDADE DOS FUTUROS do ela, existem pesquisas, tais como: de NUTRICIONISTAS A Univar oferece 13 cursos superiores aleitamento materno; avaliação nutricional das crianças que freqüentam as creches do para seus alunos. Dentre os proporcionamunicípio e avaliação nutricional dos frutos dos está o de nutrição. A primeira turma do cerrado. Além de uma pesquisa em par- de nutricionistas estará apta a ingressar ceria com o município de Primavera do Les- no mercado de trabalho no final de 2012. Nada mais justo e pontual do que ouvir os te, com adolescentes. Quando questionada sobre a capacida- principais interessados: os alunos. Entre os de da região absorver os futuros profissio- futuros formandos encontramos duas pernais de nutrição, a professora Márcia abor- sonagens: Jucirley Bernardes da Costa e dou novamente a questão da amplitude da Juracy Castro Gomes. Ambas residem em área de atuação da profissão e, da falta de Bom Jardim, município de Goiás, sendo que profissionais na região, como fatores que Jucirley reside um pouco mais distante, na auxiliam a absorção dos recém-formados. zonal rural, a cinco quilômetros da cidade.
Cursos melhores remunerações. Quando questionadas sobre a estrutura oferecida pela Univar, as duas se mostraram satisfeitas. De acordo com elas, as instalações físicas são de boa qualidade, os laboratórios bem montados. Uma cozinha, indispensável ao curso, ficou pronta este ano, lembrou Jucirley. Ela também ressaltou o fato de a turma ser a primeira, “o grupo teve que abrir espaços, conseguir laboratórios e material didático, fator que acabou por beneficiar as turmas vindouras”. Quando questionada sobre a qualidade técnica dos professores a aluna Jucirley enfatizou que a instituição conta com um bom quadro docente. Uns mais interessados que outros como encontramos em qualquer instituição completou ela. Um mercado que pode dar algum lucro, lembrado pelas duas entrevistadas, é o de análises nutricionais de pequenas fábricas de doces, farinheiras, laticínios, etc. Pode-se realizar essa atividade em casa, com custo bem baixo e poucos recursos, bastando estar regularizado no Conselho Regional de Nutrição (CRN), completaram.
9 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Arquivo do Curso
Foi relatado por elas que a mensalidade do curso é de R$ 416,25, isto já com um desconto oferecido pela faculdade. O valor sem desconto é de R$ 513. O transporte fica em torno de R$100. Sem computar, então, roupas e calçados próprios para o curso (necessariamente brancos), apostilas, livros e lanches, cada uma vai gastar aproximadamente R$ 24,7 mil para se formar. No entanto, elas estão animadas quanto à futura profissão. A estudante Jucirlei tem a pretensão de abrir um restaurante logo após concluir o curso, e a formanda Juracy tem planos de se mudar para uma cidade maior. As duas entrevistadas acreditam por fazerem parte da primeira turma (que começou com 85 alunos e atualmente têm 22 estudantes) que encontraram vagas sem muita dificuldade, já que o mercado ainda não está saturado. O piso salarial do nutricionista gira em torno de R$ 1.350,00 a R$ 1, 6 mil, depende da região, ressaltou Jucirley. No entanto, os proprietários de clínicas podem faturar bem mais. A estudante Juracy Castro acredita que profissionais que se aventurarem por outros estados (Pará, Rondônia, Roraima, foram citados como exemplo), onde são escassos os nutricionistas, têm a possibilidade de encontrar
Alunos de nutrição mantêm boas esperanças quanto a possibilidade de vagas para trabalhar.
MEC corta 2.794 de vagas em cursos superiores Punição afeta área de Saúde e é decorrência de baixo desempenho. O Ministério da Educação (MEC) anunciou a redução de 2.794 vagas em 153 cursos de nível superior de Fisioterapia, NUTRIÇÃO e Biomedicina, cuja qualidade foi avaliada como insatisfatória. A área de NUTRIÇÂO tem 50 Centros Universitários e Universidades sofrendo medidas cautelares preventivas. A punição ocorreu devido as notas abaixo de 3(três) obtidas no Conceito Preliminar de Curso (CPC). O critério de avaliação é a nota dos alunos no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) além de outros pontos a serem obsrvados como, infraestrutura e nível do corpo docente.
Fontes: O Globo, Notícias UOL e Diário Oficial da União.
Sobram profissionais
Direito revela quadro de saturação Recém-formados em Barra do Garças mostram preocupação quanto ao futuro
H
Lohhana Claro de Souza
á oito anos era implantado em Barra do Garças (MT) pela Faculdade Cathedral o primeiro curso de Direito da cidade. A primeira turma deu início às atividades no segundo semestre de 2003 e, hoje, a instituição possui 18 turmas em andamento, com 841 alunos regularmente matriculados. Segundo o coordenador de Direito da Cathedral, professor Dr. Ronny César Camilo Mota, o curso era um anseio da região, pois aqueles que desejavam fazê-lo tinham que se deslocar da cidade para cumprir os créditos da graduação. Mas essa não foi a primeira experiência do município. Em 1994 a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT/campus Pontal do Araguaia) abriu inscrições para o vestibular de uma turma especial de Direito. O curso teve duração de quatro anos e formou profissionais que hoje atuam nas diversas 10 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
áreas da profissão, desde magistrados a professores, como o Dr. Odorico Ferreira Cardoso Neto, popularmente conhecido como Kiko (vereador do PT), que fez a graduação atualmente ministra aulas na mesma instituição. No ano passado, Direito foi implantado, definitivamente, no ensino público superior em Barra do Garças. A UFMT possui duas turmas em andamento, sendo mais de 100 alunos matriculados, segundo informações da coordenação. O curso de Direito está entre os 10 mais concorridos do país. O site Mundo Vestibular mostra que há uma estimativa de que hoje existam mais de 500 mil estudantes da graduação espalhados em todo o Brasil. TRAMPOLIM PARA CONCURSOS Barra do Garças se tornou um grande pólo educacional. A cidade conta com várias faculdades particulares e uma universidade federal. Indagado sobre o mercado de trabalho da região para esses profissionais, Mota afirma que Barra do Garças tem capacidade para absorver a demanda formada anualmente, pois a maioria dos alunos é de fora e ao término da graduação retornam às suas origens. Para Paolo Diego Dias Moura Gomes, de 22 anos, que está no último semestre de
Direito da Cathedral, a cidade está saturado para advogados. “Escritório de advocacia está quase igual boteco; em cada esquina você encontra um”, avalia. Embora o foco do acadêmico seja ministrar aulas de Direito para a graduação ou até pós-graduação, seu maior medo é ficar parado, já que só pensa em exercer a profissão em último caso. Questionado se faria o exame da Ordem dos Advogados Brasileiros (OAB), Paolo respondeu que sim, pois para ele a prova, atualmente, funciona como um requisito a mais no currículo. Afirma ainda que para concurso público, seu outro foco, é essencial ter a carteira da entidade. Para ele, um profissional só será considerado um advogado se a OAB tiver atestado isso. Conforme Paolo, o exame é como se fosse uma “grande peneira”, capaz de selecionar os “bons e esforçados”.
A maioria dos alunos é de fora da cidade. Isso faz com que muitos não fiquem na cidade após concluírem o curso
Foto: Lohanna Claro
Sobram profissionais
Dica
“Nunca pense que você é melhor que outra pessoa só porque você tem ensino superior. Nunca pense que porque você é um bacharel, um advogado ou porque você passou em um concurso público para juiz que você é um Deus. Você é tão ser humano quanto aquele que precisa de você ou de seus serviços.Você não pode ser um mercador selvagem, ao contrário, você tem o dever de ser um construtor de uma sociedade melhor. Tenha ética, tenha responsabilidade. Não tenha o nariz na testa. Tenha o pé no chão, respeito e ética porque assim se vai longe. Tenha sempre em mente que nós não vivemos de forma isolada, tudo está interligado e o mundo é redondinho, redondinho, tudo o que um dia vai, volta”. (Ronny César, coordenador do curso de Direito) Dar aulas de Direito pode ser uma alternativa ao mercado saturado da região.
O acadêmico informa que em outros países para um advogado subir na hierarquia numa corte judicial deve fazer uma prova que funciona como a da OAB. “Nos Estados Unidos, por exemplo, cada instância que você quer subir, é um exame da Ordem que você tem que fazer”. A estudante de Direito da UFMT Alana Cristina Lacerda Lopes, de 21 anos, conta que escolheu o curso primeiramente por influência da família e também pela sua ampla possibilidade de atuação. Mas, assim como Paolo, não pretende atuar como 11 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
advogada. Ela menciona que o motivo maior pelo qual optou por fazer Direito é por se tratar de uma “ótima opção” para concurso. “Minha família me influenciava bastante, meu irmão também fazia e eu vi que era um ótimo curso para concurso público”, comenta. Questionada sobre onde pretende ficar ao terminar o curso, Alana diz que não sabe. “Eu quero estudar, independentemente de que lugar seja, ‘na Barra’ ou não”. A estudante tem como prioridade, quando terminar a faculdade, fazer concurso
público, já que seu curso lhe oferece um conhecimento amplo em várias áreas, como civil, penal e tributária. De acordo com ela, um advogado recém-formado só terá um emprego garantido quando conseguir condições de montar um escritório ou se sua família já possuir um há alguns anos. A acadêmica é contra a nãoobrigatoriedade de se fazer o exame da OAB para poder exercer a atividade. Para Alana, a prova impede que “maus profissionais e despreparados” entrem no mercado de trabalho.
Foto: www.shutterstock.com
Carreira profissional
Farmacêutico: sua medicação em boas mãos O desafio da profissão é pesquisar novos medicamentos e ser aceito pela sociedade Maxmyllyanne Morais
O
principal objetivo do farmacêutico é estudar vacinas, medicamentos e substâncias químicas, bem como sua relação e ação nos organismos vivos. Nesse sentido, esses profissionais colaboram com o desenvolvimento de novos cosméticos e remédios, gerando produtos eficientes, que são testados e avaliados em laboratórios. Quanto à carreira, o profissional pode optar por três caminhos principais: o comércio, instituições privadas ou a pesquisa. No primeiro, ele atuará em farmácias e drogarias, além de clínicas e hospitais, desempenhando a função de farmacêutico responsável. Já na carreira de pesquisa, o profissional trabalha especificamente em um laboratório, desenvolvendo medicamentos e novas substâncias para atender a população. A estudante do sexto semestre de Farmácia da Universidade Federal 12 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
de Mato Grosso (UFMT/campus Araguaia), Karla Fernanda Ferreira de Souza, de 21 anos, pretende seguir a carreira de pesquisadora. “Pretendo continuar estudando, fazer mestrado e depois doutorado, para seguir a profissão de docente-pesquisadora. Aqui mesmo na UFMT de Barra do Garças já tem algumas áreas de mestrado que eu me interesso, por isto pretendo ficar e atuar na cidade”, explica. O estudante Pablo Henrique Delmontes, de 20 anos, cursa o terceiro ano de Farmácia nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar) e desenvolve pesquisa na área de medicamentos manipulados. O aluno diz se identificar com o curso desde a adolescência, pois “sempre foi bom” nas matérias de Química e Biologia. “Faço Farmácia na Univar pela manhã e, à noite, Química na UFMT. Para mim esse universo é incrível.
Pretendo atuar na área de desenvolvimento de novos medicamentos. O laboratório da faculdade é a minha segunda casa”, brinca. Desafios do mercado de trabalho A recém-formada em Farmácia, Laruze Garcia de Oliveira, de 24 anos, se graduou em 2009 pela UFMT e trabalha em uma drogaria em Barra do Garças. De acordo com ela, o contato direto com os clientes nem sempre é fácil. “Quando uma pessoa chega à drogaria com a receita e traz os medicamentos indicados pelos médicos cabe a nós orientá-la a como usá-los e mencionar alguns efeitos colaterais que podem ser ocasionados. Mas nem sempre o cliente entende e segue as nossas orientações”, reclama. Segundo Laruze, o mercado de trabalho da cidade não está tão saturado como se pensa, todavia os estabelecimentos co-
merciais não pagam o que é de direito. O piso salarial no município gira em torno de R$1,9 mil. Conforme a farmacêutica, em certos casos alguns locais não pagam os direitos trabalhistas, como férias e décimo terceiro. Questionada sobre por que escolheu a profissão, conta: “Escolhi o curso inspirada em um primo meu que fazia na UFMT. Na verdade, quando prestei o vestibular para Farmácia não era bem o que eu queria, mas aprendi a gostar da profissão”.
des (caixas) vendidas, 7,2% inferior a 2002. Já em 2004 o Brasil conquistou a 8ª posição, apresentando um faturamento de R$ 19,9 bilhões, o correspondendo a 1,65 bilhões de unidades de medicamentos vendidos. Em 2005, o país caiu para a 10ª posição, com rendimento de R$ 22,2 bilhões, valor equivalente à comercialização de 1,61 bilhões de caixas. Segundo a estimativa da IMS Health, o faturamento industrial de medicamentos foi superior a US$ 830 bilhões em 2010, sendo que 12% desta quantia diz respeito à vendagem de produtos cardiovasculares. A indústria farmacêutica nacional tem uma característica peculiar, pois no país existem 18 unidades públicas filiadas à Associa-
“Quanto mais experiências se obtém, melhor para você se destacar no mercado de trabalho. É preciso querer fazer o diferencial durante a faculdade para quando assumirem o papel de profissional estarem mais que preparados para isso”, diz recémformada
Foto: www.shutterstock.com
Indústria farmacêutica De acordo com a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), em 2003 o mercado brasileiro ocupava a 11ª posição no ranking do ranking mundial com 1,498 bilhão de unida-
ção dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob). Dessa junção, o Ministério da Saúde criou, em dezembro de 2005, a Rede Brasileira de Produção Pública de Medicamentos. O objetivo central é tornar os laboratórios mais organizados, buscando atender assim as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), no que se refere à oferta de remédios, bem como na melhor distribuição dos produtos à população. Arquivo pessoal
O estudante Pablo Henrique Delmontes, pretende seguir carreira como pesquisador em indústrias farmacêuticas
Piso Salarial (Farmácias e Drogarias) nos 14 principais estados do país: São Paulo: R$ 1,800 Paraíba: R$ 1,489 Paraná: R$ 1,700 Mato G. do Sul: R$ 1,508 Mato Grosso: R$ 1,712 13 13 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
Rio G. do Sul: R$ 1,315 Goiás: R$ 2,556 Minas Gerais: R$ 2,350 Distrito Federal: R$ 2,926 Espírito Santo: R$ 871,00 Santa Catarina: R$ 1,589 Tocantins: R$ 2,220 Rio de Janeiro: R$ 1,712 Bahia: R$ 2,093 FONTE: pfarma.com.br – Portal voltado para o público farmacêutico.
Futuro profissional
Enfermagem
prestação de serviço ao ser humano
Profissionais apontam espaço no mercado de trabalho, porém desrespeito ao pagamento do piso salarial Thaís Helena
E
nfermeiro é aquele que está habilitado a efetuar as atividades do ambulatório médico, posto de saúde ou clínica que visa à melhoria do atendimento ao paciente. Abrange desde primeiros socorros, ajuda nas consultas médicas diárias, colhe material para exames preventivos, aplica vacinas, elabora fichas de pacientes, registra ocorrências e faz encaminhamentos. Realiza tratamentos simples no próprio hospital, faz curativo, afere pressão, aplica injeções e administra remédios sob orientação médica. Observa o estoque de medicamentos para que esteja sempre no nível adequado (já que não há a obrigatoriedade de um farmacêutico em posto de saúde) e toma as devidas providências para manter o local em boas condições de higiene e limpeza. É um profissional de nível superior da área da saúde e está capacitado para atuar em todas as áreas da saúde: assistencial, administrativa e gerencial. Como se pode ver, trata-se de um trabalhador de inúmeras colocações, mas que no momento compete com um contingente de pessoas menos gabaritadas. Dentro da Enfermagem, encontra-se o auxiliar (nível fundamental) o técnico (ní14 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Foto: Welves Queiroz
vel médio) e ambos são confundidos com o enfermeiro, entretanto, possuem funções distintas e qualificações específicas que auxiliam no dia a dia de um ambulatório, clínica ou posto de saúde. Existe muita carência de mão-de-obra qualificada nessa área. As entidades de classe lutam para impedir que empregadores substituam o enfermeiro graduado por técnicos ou auxiliares, que são profissionais de formação de nível médio e com salários inferiores. Segundo a técnica de enfermagem MaEnfermeiros em mutirão atendem e orientam população em Aragarças-GO ria Paes Cardoso, de 42 anos, “A única diferença é que um tem o diploma e o outro não tem. pois auxilia a saber o porquê de todos os A teoria é mais valorizada que a prática”. procedimentos terapêuticos para que sejam A teoria tem fundamental importância para evitadas possíveis reincidências de doenças aqueles que trabalham na área da saúde, ou a propagação das mesmas.
Quem faz enfermagem irá estudar anatomia humana, bioquímica, fisiologia, genética, embriologia, psicologia da saúde, microbiologia, enfermagem na saúde mental, na saúde da mulher, no cuidado do idoso etc. As perspectivas para quem optar por esse curso são as de que a profissão ainda é valorizada no interior do estado. “A área de enfermagem tem um amplo campo de trabalho e pode te dar uma estabilidade. Aqui, na região, não há muita opção, porque o campo é pequeno e ainda existem muitos enfermeiros vindos de São Paulo e Rio de Janeiro. Vamos ver agora com as instituições de ensino superior aqui (Faculdades Unidas do Vale do Araguaia-Univar e Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT). Minha perspectiva é fazer concurso para buscar a estabilidade. Meu desafio, estudar, estudar e passar”, conclui Lázaro Renato Miranda, de 33 anos, formando em Enfermagem pela Univar. Os estudantes têm um vasto campo de trabalho na área, visto que o profissional pode atuar em diferentes frentes de trabalho. Entre elas estão a enfermagem geral, geriátrica, médico-
cirúrgica, obstétrica, pediátrica, psiquiátrica e do trabalho. Além de assessoria e consultoria, atendimento domiciliar, ensino, gestão da qualidade e de projetos e pesquisa clínica. Segundo a enfermeira Gisele Parada, de 38 anos, “as ofertas de emprego neste mercado estão em ascensão devido ao aumento da expectativa de vida da população brasileira e às necessidades de assistência”. Mas ainda assim essa atividade não é valorizada no seu dia a dia. “Valorizada no Brasil ela não está. Como tem muitos novos profissionais na área sobrecarregou o mercado e aí acaba que quando você tem mais mão de obra desvaloriza a classe. A área pública ainda é mais rentável que a particular. Mas a profissão ainda está em ascensão”, diz a profissional. Piso De acordo com o texto original do Projeto de Lei 4924/09, o piso salarial do enfermeiro é de R$ 4.650,00. No entanto, pode-se observar em pesquisas feitas em sites e com profissionais da área em Barra do Garças que este valor não é pago e que cada local tem seu próprio ordenado, conforme o fluxo de oferta e procura. Conforme o Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Barra do Garças e Região (Sintesbre), a “média” gira em torno de R$ 1, 3 mil, variando apenas para quem é concursado.
As 10 primeiras melhores profissões até 2015 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
A aferição de pressão é uma das atividades do dia a dia do enfermeiro. 15 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Fonte: www.mundovestibular.com.br
Mercado de Trabalho
A difícil MISSÃO
Hoje, brasileiros recém-formados se perguntam o que fazer após o término do curso de graduação. Dilema vivido por quem estabeleceu metas e prioridades, mas que agora se vê envolto na difícil luta por um lugar ao sol 16 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Carlos Fraissat
Mercado de Trabalho
A
o sair dos portões da faculdade, o recém-formado, na sua maioria vira estatística do governo: “desempregado”. Tem um canudo na mão, o que não lhe garante nada, na difícil concorrência no mercado de trabalho atual. Você é um profissional agora, mas o atual e exigente mercado de trabalho seleciona só os melhores, ou os mais “indicados”. Pessoas que investiram tudo em um sonho da graduação, ao verem-no realizado descobrem que só estavam começando a viver. Parte dessa culpa vem do ensino fundamental e médio, que em hora nenhuma preparam o aluno para uma das escolhas mais difíceis de sua vida. Deve ser por isso que para alguns terminar a faculdade seja desesperador. O ciclo termina ali, você cresce, adquire novas responsabilidades, acabam-se aquelas velhas desculpas, como: “agora estou estudando”. O trabalho é inevitável, o sustento material e psicológico torna-se indispensável para uma carreira sólida. Mas nem tudo está perdido. Saber o que “não fazer” corresponde ao primeiro passo ao sair da faculdade. Ter em mente o alvo principal da formação é o que vai direcionar seu sucesso.
“Mercado pra todo mundo, tem. O que ocorre em nossa região são nossos serviços pouco valorizados. Parece que há uma cultura impregnada na população, em que o prestador de serviço local não presta”. Paulo Renato, advogado.
17 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Colocar em prática toda a experiência vivida na universidade, desde a entrega dos trabalhos até os estágios praticados. Aos concursos é sempre bom ficar atento, assim como em relação aos estágios em empresas que oferecem planos de carreira. Há um aquecimento do mercado de trabalho com muitas ofertas de emprego. Redigir um bom currículo e entregar no lugar certo é básico para o “marinheiro de primeira viagem”. Invista em você, uma boa pós-graduação vai ajudá-lo a diferenciar-se e eliminar parcela da concorrência. Um curso técnico na área vem de bom grado, já que a faculdade quase sempre o faz ver mais teoria do que a prática. MERCADO DE TRABALHO LOCAL Apesar de ser uma região onde se concentram três municípios (Aragarças-GO; Pontal do Araguaia-MT; Barra do Garças-MT), nossa promissora cidade, a teoria fica distante da realidade atual. Segundo a assessoria da CDL (Câmera dos Dirigentes Lojistas) o comércio varejista de nossa cidade, movimenta grande parte da nossa economia, embora a agricultura também ajude, em pequena parte a fazer esse “bolo econômico”. Hoje em nossa cidade existe uma “leva de recém-formados” ociosos e angustiados por uma oportunidade de emprego. Mas a culpa não se resume apenas aos nossos aspirantes a trabalhadores. Uma grande parcela recai sobre o empresariado local. Com uma cultura arcaica de oferecimento de emprego, os empresários, movidos pelo “superávit” de mão de obra local, se acham no direito de fazer o que bem entendem. Segundo a assessoria da Central dos Sindi-
Mercado de Trabalho
catos Locais, trabalhadores recebem salários iguais ou bem abaixo da média nacional, e com uma carga horária estafante. Além das 48 horas semanais, eles complementam com algumas horas extras, para completar suas rendas. O poder legislativo só se preocupa com politicagem, influenciado pelo poder municipal, que não se move para ajudar esses profissionais que lutam para poder sobreviver nesse campo de batalha. Isso sem falar da importação de mão de obra, que ora se diz “qualificada”, só porque foi formada fora de nossa região. Isso acentua ainda mais a discriminação quanto aos profissionais locais.
“Mato dois leões por dia”, afirma Nilva Maria.
DÚVIDAS, DESCASOS, CONHECIMENTO É fato que além da tão sonhada “graduação”, o profissional tem que falar no mínimo mais uma língua. Isso além de conhecer muito bem a nossa própria. Dominar a informática é requisito básico para ingressar em qualquer empresa. A ansiedade pode atrapalhar numa boa entrevista de emprego. Mesmo se conseguir, nem que seja um estágio, parar no tempo, nem pensar. Se você não tiver uma boa “carta na manga”, como um “padrinho”, por exemplo, pode ver a sua vaga escorrer pelos dedos, para um profissional menos capacitado como você. O “cruel mundo capitalista” às vezes pode fazer de você um estrangeiro em um país distante. Uma das soluções mais viáveis é o simples e puro “conhecimento”. No ramo escolhido, de pessoas, de empresas e negócios. Só com um bom conhecimento de causa e um ótimo relacionamento, um profissional simples pode ser classificado como um excelente profissional.
18 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Alguns profissionais conseguem o tão almejado primeiro emprego após a faculdade. Nilva Maria de Oliveira, farmacêutica formada há cerca de um ano pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT/Araguaia) trabalha em sua área de formação, no comércio local: “Com muito esforço consegui. Mas não foi e nem está sendo fácil a batalha para conseguir e continuar nesse emprego. Todo dia alguém deixa o currículo aqui na farmácia, com pretensão salarial mais baixa que a minha. É complicado”, argumenta sobre a alta concorrência. Já o advogado Paulo Renato é um pouco mais otimista, mas se queixa dos baixos valores pagos pelos seus serviços.
Carreira
Ter curso superior faz aumentar salário Pesquisa da OCDE aponta que investir em formação e ensino superior é garantia de bonificação salarial
A
Alail Abadia
nos de estudos a mais é garantia de bonificações salariais e investir em uma formação de ensino superior resulta em ganhos futuros. Trata-se de uma afirmação que encontra respaldo num estudo realizado pela Organização de Cooperativas e de Desenvolvimento Econômico (OCDE). A instituição internacional foi criada em 1948 na França e reune 30 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. É possível observar nos últimos sete anos um crescimento no número de pessoas que se interessa em ter em seu currículo o nível superior ou uma especialização. Hoje, a facilidade e as maiores possibilidades para ingressar em um curso de terceiro grau colaboram para o aumento na quantidade de universidades e faculdades criadas no país. O estudo OCDE aponta que o Brasil é o que melhor bonifica quem tem maior nível educacional. Isso resulta em aumento de 156% nos rendimentos e o coloca na frente de nações como Espanha, França e Canadá. Corresponde ao mais alto índice entre os países pesquisados. No geral, a OCDE conclui que o aumento de ordenado de quem tem curso superior é de 50% em relação às pessoas que apenas terminaram o ensino
19 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
médio. Um salário mínimo, de R$ 545, seria elevado para quase R$ 1,4 mil, por exemplo. O de R$ 2 mil passaria a R$ 5, 1 mil. Além da oferta de cursos superiores, existe o estímulo por parte dos Planos de Carreira e Cargos e Salários (PCCSs), que criam bonificações de acordo com a qualificação do profissional. EM BARRA DO GARÇAS O município de Barra do Garças conta hoje com oito instituições de nível superior entre públicas e particulares, presenciais e virtuais. São elas: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar), Universidade Norte do Paraná (Unopar), Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas do Araguaia (Cathedral), Universidade Paulista (Unip), Anhanguera, Faculdade de Estudos Sociais de Barra do Garças (FESB) e Faculdade de Tecnologia do Vale do Araguaia (Fatev). Essas entidades geram cerca de 60 opções de graduação e mais de 3 mil vagas anuais para ingressantes. Entre os que buscam o
nível superior estão aquelas que já possuem uma carreira em andamento e esperam elevação de nível com a conclusão do curso. A importância do PCCS para os funcionários da prefeitura de Barra do Garças está no fato de que, quando implantado, vão depender apenas de seus esforços para crescer economicamente. Os que não forem amparados serão “nivelados por baixo”, independentemente do grau de instrução ou de tempo de serviço. O anteprojeto do PCCS, que tramita na Câmara de Vereadores, preconiza na horizontal uma progressão para escolaridade do funcionário e, na vertical, para o tempo de serviço. Segundo a Secretaria de Planejamento, o plano iguala todos os pisos salariais de todas as categorias do serviço público municipal. O valor inicial é de R$ 450 a R$ 550 para quem tem o curso médio e
O reajuste salarial para quem tem curso superior é de 50% a mais em relação a quem apenas concluiu o ensino médio
Foto: Alail Abadia
Carreira
Com o plano de carreira: Uma pessoa que recebe R$ 545 passaria a receber R$ 1,4 mil. Um salário de R$ 2 mil viraria R$ 5,1 mil com curso superior.
“O curso superior vai melhora meu lado profissional e ajudar a elevar meu salario”, afirma Eliziane Barbosa. R$ 1.650 aos que possuem o superior. Essa perspectiva de melhoria salarial e aumento de conhecimento é apontada pelas funcionárias públicas e universitárias Elizane Barbosa, de 45 anos, e Maria Valci Ribeiro, de 66 anos, que cursam Serviço Social, respectivamente, na Unopar e na Anhanguera.
20 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
“Cursar Serviço Social foi um desejo que surgiu por dois motivos. O primeiro é pelo material de trabalho, o ser humano, que precisa de um auxilio, de uma ajuda. E o outro, é claro, poder contar com a possibilidade de ter um cargo de nível superior”, conta Elizane. Elas acreditam que, além do conhecimento
que a citada graduação disponibiliza, terão possibilidade de mudar para um cargo em que possam aplicar as técnicas e os conteúdos apreendidos e, por consequência, aumentar os ganhos salariais. Maria Valci dá seu depoimento. “Com o estudo em um nível superior, mesmo ainda cursando, já pude ter melhoras dentro da área em que trabalho, que é na Saúde. Trabalhava com auxiliar de serviços gerais e hoje eu estou como auxiliar administrativo no Cecap (Centro de Referência)”. Sua graduação é garantida por meio de uma parceria entre a instituição de ensino, a prefeitura e a Câmara.
Foto: Luiz Carlos Bezerra
Bolsas Universitárias
Investimentos pretendem valorizar o conhecimento Universidades e faculdades estimulam acadêmicos por meio de bolsas, descontos em mensalidades matrículas e programas do governo federal Luiz Carlos Bezerra
C
ursar o ensino superior já não é inacessível, porém a permanência e posterior conclusão desta etapa esbarram em um quesito: os custos, que se referem a fotocópias de livros, elaboração de materiais para apresentação de trabalhos acadêmicos e outros, que pesam no orçamento e até desestimulam os estudantes. Mesmo que em rede pública, em que o aluno fica isento do pagamento da matrícula e das mensalidades, demais serviços são de sua responsabilidade. Acrescentam-se os custos com viagens a congressos e estudos de campo. Dessa forma, algumas instituições de ensino superior em Barra do Garças adotam políticas financeiras que auxiliam nas despesas de seus discentes. O intuito é incentivar os estudantes de baixa renda a produzirem conhecimento e vivenciarem o espaço acadêmico de maneira plena. “Parte-se da ideia de que estudar e tra21 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Rose Silve é formanda do 4º ano de Letras na UFMT, trabalha de dia para pagar os custos. balhar é cansativo e desgastante, o que inviabiliza o desenvolvimento das capacidades integrais do graduando”, explica a psicopedagoga Cármen Beatriz. De acordo com a Supervisora de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT\campus Araguaia), professora Lívia Lopes de Azevedo, existem duas categorias referentes a políticas de incentivos financeiros aos estudantes. São elas as assistências, que correspondem a auxílios, e as bolsas (de cunho de produção de conhecimento e vivência acadêmica). Segundo a supervisora, para concorrer a um auxilio assistencial é necessário que o candidato comprove a baixa renda por meio de documentos estabelecidos em edital. Já as bolsas de pesquisa, de extensão e outras
são destinadas, por meio de seleção com prova escrita e entrevista, aos concorrentes que tenham um coeficiente de rendimento satisfatório e que sejam aprovados neste processo, que é realizado pela universidade. Bolsista do Projeto de Extensão “Pés de Valsa” desde abril de 2011, Leydiane Vitória, acadêmica do 4º semestre do curso de Educação Física da UFMT, diz que o valor recebido é de R$ 360, e configura-se como “importante” na contabilização dos gastos que tem na graduação. “Minha mãe biológica não tem condições de ajudar com essas despesas. Meu pai é professor contratado e paga minha pensão, mas é pouco em relação aos custos, sem contar que minha madrasta tem uma doença crônica e gasta com remédios e o tratamento”, relata a universitária.
Bolsas Universitárias
Para bolsista Leydiane, projeto ‘Pés de Valsa’ é uma de suas principais fontes de renda BOLSAS De outro lado, há o dilema dos alunos da rede privada de ensino, em que a realidade é semelhante aos da UFMT no que diz respeito aos custos. A Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar) proporciona ações de acesso ao terceiro grau, como o Programa Universidade para Todos (Prouni, do governo federal). Destaca-se também o Probol, uma bolsa de auxilio criada pela instituição e que concede descontos que variam de 5% a 20% no pagamento das mensalidades a quem se enquadre em requisitos estabelecidos pela entidade, essencialmente relativos à condição socioeconômica. E ainda existe a Ação Pró-Educar, 22 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
um plano de acesso facilitado para aqueles que escolheram um dos cursos de licenciatura (História ou Pedagogia). Na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas do Araguaia (Cathedral) os incentivos financeiros aos estudantes são semelhantes. A instituição é participante do Prouni e mantém convênio com empresas da cidade, concedendo descontos nas mensalidades. Sebastião Rodrigues da Silva Neto, de 33 anos, estudante do curso de Gestão em Agronegócios, trabalha em uma firma conveniada, o que lhe assegura 50% de abatimento na quitação do pagamento mensal. O acadêmico afirma que não tem conhecimento da existência de outras bolsas e auxílios dentro da faculdade. Seu custo mensal é em torno de R$ 300, valor que cobre a quitação da mensalidade, do transporte, das despesas com materiais de estudo e alimentação. Quando indagado sobre sua rotina, Sebastião conta que é “cansativo trabalhar de dia e estudar à noite”, mas que não encontra outra forma para solucionar a situação. “Acredito que minha produtividade acadêmica podeFoto: Luiz Carlos Bezerra
Maykon Diego Nascimento Brittes, de 20 anos, colega de classe de Leydiane, faz o 4º semestre do curso de Educação Física na UFMT e também participa de projeto de extensão. Ele recebe o auxílio alimentação no valor de R$ 150 e fala que o dinheiro é utilizado para custear materiais universitários e a própria alimentação dentro da universidade. O graduando alega que depende financeiramente da avó e que sua mãe não tem condições de ajudá-lo com as despesas do curso.
ria ser mais bem desenvolvida, caso eu tivesse me dedicado integralmente aos estudos”, afirma.Danielle Teixeira, de 25 anos, iniciou o curso de Administração pela Faculdade Anhaguera. A princípio conseguiu concluir um período, mas teve que trancar a matrícula por não conseguir tempo para estudar e fazer os trabalhos solicitados pelos professores. A ex-universitária é micro-empresária em Barra do Garças e hoje confirma que ingressar em uma graduação corresponde a algo “fácil” do ponto de vista financeiro, contudo a permanência e a conclusão constituem-se numa “outra questão”.
Dificuldades Financeiras
Escola & Casamento que nem Trabalho sempre dá certo Mesmo com novas políticas para viabilizar o ingresso a uma universidade, permanência e conclusão é trajeto caracterizado por adversidades
O
Paula Nonato
processo educacional faz parte do desenvolvimento do ser humano. O homem, como ser sociável, estará sempre envolvido de alguma maneira com a educação. Uma pesquisa feita no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) mostra que estudantes pobres que conseguem entrar no ensino superior têm dificuldades financeiras e pedagógicas de se manter no curso, mesmo recebendo bolsa de estudos. As organizações de educação são responsáveis em criar mudanças que implicam na quebra de paradigmas. Cabe à escola formar o aluno com conhecimentos, valores e formas de pensar e agir. Diante de inúmeros desafios, a educação surge como um meio que pode conduzir a pessoa a um desenvolvimento harmonioso, capaz de reduzir as desigualdades existentes na sociedade. Sendo assim, o ensino teria o papel de construir uma ampla comunidade mais 23 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
justa, cabendo a ela a missão de fazer com que todos os indivíduos frutificassem os seus talentos e potencialidades, que permitissem atuações enquanto agentes sociais. Realizar um curso superior em universidade pública no Brasil não é fácil tarefa. Que o digam os alunos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), especialmente para os provenientes da rede pública de ensino. Além da grande concorrência enfrentada, o desinteresse e a falta de direcionamento e informação em inúmeras escolas da rede pública fazem com que muitos alunos nem almejem fazer um curso superior. A necessidade de se ingressar no mercado de trabalho e a falta de incentivo por parte
Novos acadêmicos passam por maratona para seguir vida universitária. de professores agravam ainda mais esse quadro. Os que concluem a escola pública enfrentam o vestibular, ou, agora, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma das principais formas de ingressar na universidade. Encontram pela frente uma forte competição, especialmente pelo menor preparo que apresentam em relação aos
Dificuldades Financeiras
alunos provenientes das escolas particulares e cursinhos pré-vestibulares. Os cursos de maior concorrência são os que oferecem as carreiras mais promissoras. Nesse caso, os estudantes com melhor formação têm mais chances de aprovação. A problemática tem ainda maior visibilidade quando analisamos o acesso dos jovens, principalmente os mais carentes, ao ensino superior. Eles precisam 24 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
passar por uma “verdadeira maratona” para continuarem a vida acadêmica. Necessitam conciliar trabalho e estudo. No entanto, várias faculdades particulares aceitam as notas do Enem como média para a aquisição de bolsas de estudo. Segundo Patrícia Oliveira de Jesus, de 28 anos, formada em 2006 em Contabilidade pelas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar), “Na sociedade atual, o Estado deve assegurar as políticas globais e articuladas como moderadoras das desigualdades sociais e econômicas e responder ao aumento das demandas no contexto de uma maior divisão do trabalho e expansão do mercado”. Para enfrentar as dificuldades, uns reduzem as despesas de alimentação ao mínimo, abdicam de livros, recorrem a trabalhos extras. Além de há as despesas pessoais. No caso de Patrícia, o pai a ajudou na conclusão do curso, pois sozinha não teria conseguido. ”Hoje, depois de tantas dificuldades, se tornou gratificante ver o fruto do meu serviço. Atualmente, sou sócia de um escritório de contabilidade conceituado na cidade. Todos os esforços valeram”. No entanto, um dos principais desafios referentes à permanência e bom desempenho dos estudantes das classes baixas é conciliar os estudos com o exercício de uma profissão. Reverter esse quadro exige uma transformação estrutural e conjuntural. Estruturalmente, a jornada de trabalho deveria ser reduzida de 44 para 40 horas semanais. ”Pela dificuldade de conciliar em-
Com ajuda dos pais Alexandre Marques se mantém firme nos estudos. prego e estudo iniciamos uma turma com 38 alunos e 29 se formaram”. O acadêmico Alexandre Marques Santos, de 28 anos, do curso Ciência da Computação da UFMT, tem o apoio financeiro dos pais, já que o curso é integral. “Pensei em Ciência da Computação com uma visão no futuro, pois se trata de uma área ampla. Posso, assim retribuir o apoio familiar”. Já o ex- aluno de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Software (TADS) da Univar, David Francisco Guimarães, de 23 anos, parou o curso apesar da insistência da família. “Não houve uma identificação com a área. Não tive minhas expectativas correspondidas”.
Renda Universitária
Universitários garantem expansão da economia de Barra e região Com o aumento de estudantes no Vale do Araguaia, diferentes segmentos comerciais foram beneficiados, como o de móveis, lavanderia e escola de idiomas
Mirian Barreto
O
Censo da Educação Superior\2009 aplicado pelo Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa (Inep) aponta que a região Centro-Oeste tem o terceiro maior crescimento no número de instituições de graduação do Brasil. Trata-se do levantamento mais recente feito pela instituição. O Centro-Oeste, conhecido pelo turismo e o agronegócio, identificado na mídia nacional como “celeiro do Brasil”, tem hoje seu cenário modificado, apresentando-se como localidade promissora no ramo da educação superior. A característica é apontada pelo surgimento de novos segmentos de mercado e áreas antes pouco exploradas que começam atingir o público universitário.
25 25 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
Serviços terceirizados ganham força com público universitário
Renda Universitária Realidade facilmente confirmada no Vale do Araguaia, região compreendida entre os estados de Goiás e de Mato Grosso e que abrange, entre outros, os seguintes municípios: Barra do Garças, Araguaiana, General Carneiro, Novo São Joaquim, Pontal do Araguaia, Ribeirãozinho, Torixoréu, Água Boa, Campinápolis, Canarana, Cocalinho, Nova Nazaré, Nova Xavantina, Querência, Aragarças/GO, Britânia/GO. Especialmente em Barra do Garças, registra-se entre 1997-2008 a abertura de cinco centros educacionais de ensino superior (Faculdades Cathedral, Universidade do Norte do Paraná\Unopar, Faculdade Anhanguera, Universidade Paulista\Unip, Faculdade de Estudos Sociais de Barra do Garças\FESB e Faculdade de Tecnologia do Vale do Araguaia\Fatev). Com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e as Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar), essas unidades oferecem anualmente cerca de três mil vagas entre instituições públicas e privadas. As maiores mudança do ensino superior nesse período, de dez anos, foram o aparecimento da oferta de ensino à distância e dos cursos superiores de tecnologia. Mato Grosso passa por um processo de expansão e o crescimento no setor de educação superior deve-se aos seguintes fatores: implantação do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e investidores interessados em regiões ainda pouco exploradas.
26 26 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
O primeiro, iniciativa do governo federal, proporcionou ao Vale do Araguaia a abertura econômica, social e geopolítica, caracterizada pelo “intercâmbio” intra-regional de estudantes. “A vinda de alunos oriundos de diversos lugares do país faz com que cresçam as demandas como moradia e lazer, movimentando a economia da cidade, surgindo assim uma nova dinâmica social”, costuma dizer José Marques Pessoa, pró-reitor da UFMT, o que fez novamente durante a comemoração dos 30 anos da instituição, em maio deste ano. A acadêmica Maria Carla Rezende, de 19 anos, é um exemplo. Veio de Presidente Venceslau, município do interior de São Paulo, para cursar Direito na UFMT. Conta que desde pequena quer ser juíza federal e sabe que precisa estar bem preparada para assumir o cargo. Ficar longe da família, cuidar de si mesmo, administrar as economias e administrar uma casa com tão pouca idade são dificuldades enfrentadas por muitos
estudantes como Maria. Os pais são os que mais apoiaram sua vinda para Mato Grosso, mesmo tendo que apertar o orçamento para investir nos estudos dela. “Tive que montar uma casa. Comprei móveis e eletrodomésticos. Os gastos são grandes, mas vejo que no final tem sua compensação. Estou cursando uma graduação gratuita em uma universidade de qualidade”, avalia. Os comerciantes locais de bens semiduráveis confirmam que no início do ano as vendas de artigos aumentaram em cerca de 10%. Fabio José de Souza é proprietário de loja de móveis usados e informa que “principalmente no início do ano, quando estão começando os cursos, os pais e alunos que estão montando quitinetes procuram por geladeira, mesa, fogão, cama e outros”. O comerciante diz também que as vendas são, na maioria das vezes, à vista. “Com o dinheiro no bolso a gente pode até fazer um preço melhor para eles. A gente sabe como é vida de estudante”.
“Com o dinheiro no bolso, a gente pode até fazer um preço melhor para eles. A gente sabe como é vida de estudante”. Fácio Souza, empresário.
Renda Universitária
Evolução: A pesquisa do Inep constatou que as matrículas no Ensino Superior cresceram 3,8% em um ano e o número de estudantes nesta etapa chegou a 5,95 milhões em todo o Brasil. E as instituições privadas são responsáveis por 74,4% das matrículas, com 4,43 milhões de alunos.
27 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA 27
OUTROS SERVIÇOS Há ainda outros segmentos que também estão em evidência, como o de ensino de idiomas. As empresas fizeram uma reestruturação de atendimento para captar os consumidores desse mercado e hoje oferecem aos acadêmicos horários alternativos, preços e planos diferenciados. “De olho no público universitário, a escola divide os cursos em 12 vezes, além de conceder desconto de 50% nas parcelas. Isso facilita para os pais, que colocam este investimento entre as despesas mensais fixas como aluguel, transporte, alimentação etc”, explica Tania Moraes, diretora do Centro de Ensino Fisk. Outro setor que registra aquecimento é o ramo de lavanderia e limpeza. Atualmente é comum ver diaristas em casas de estudantes. Contratada para lavar e passar roupas, Cícera dos Santos, de 40 anos, trabalha como doméstica há 15 e há dois faz serviços para repúblicas. A clientela – 100% masculina – cresce a cada mês e são os próprios universitários que fazem a “propaganda” da Tia Ci, como é conhecida. “Graças a Deus não falta serviço. Cuido das roupas dos meninos, lavo e passo toda semana. Coitados! É difícil pra eles, já que tão estudando o dia inteirinho”, fala a diarista. As estatísticas do Censo do Inep que apontam aumento das instituições de ensino superior no Centro-Oeste encontram respaldo nas alterações vivenciadas pela em Barra do Garças, dando mostras positivas de um “boom universitário”. Nesse sentido, comprova-se que educação e geração de renda andam juntas.
Locação
Estudantes são público alvo de setor imobiliário
Além de crescer em número de prédios, os aluguéis também estão mais caros, aponta pesquisa
Foto: Arquivo
Tuili Freitas
B
arra do Garças a cada dia se torna um pólo universitário. Isso é resultado dos programas de Apoio de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e Universidade para Todos (ProUni). Com isso, vários estudantes de outras partes do país vêm estudar na cidade. Graças a eles, o município se desenvolve em vários setores. Um deles é o imobiliário. Com o aumento da demanda, cresce o número de quitinetes e apartamentos e o aluguel, tanto destes quanto das residências, ficam mais caros. É o que aponta Hidelberto de Souza Ribeiro, doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em pesquisa intitulada “Crescimento do setor universitário e exigências por novas demandas socioespaciais e políticas em Barra do Garças – MT”. O estudo teve participação, como bolsista, do aluno Lucas Antonio Luz Iglesias, que cursa o 6º semestre de Comunicação Social (habilitação Jornalismo) da UFMT\campus Araguaia. As modalidades de estudantes morado28 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Moradoras da República Tcheca aproveitam horário vago. res são diversas. Há aqueles que já moraram em repúblicas, mas hoje residem sozinhos e vice-versa. Existem os que partilham a moradia com amigos que conhecem há anos. Há os que preferem a solidão e os
que precisam de companhia. Alguns ficam de república em república. Têm aquelas só de meninas, outras apenas de rapazes e as mistas. E, claro, existem os estudantes que moram com os pais.
Locação ALUGUÉIS
Mas, também tem o lado ruim, pois quando morei com amigas sempre tinha companhia”, conta. Há também os que já moraram sozinhos e não viviam satisfeitos e, atualmente, residem com outras pessoas. Outros, logo de cara, preferem morar sozinhos porque sabem que a vida em conjunto não daria certo.
“É curioso como por diversas vezes, justamente no momento em que eu ia colocar a placa de aluga-se, uma pessoa interessada parava e ali mesmo fechávamos o negócio”, conta dono de residencial
O residencial mais famoso entre os estudantes, de acordo com a pesquisa, é o América, que fica na rua Carajás, nº 1581, centro. O local é propício para quem deseja morar sozinho, porque possui apartamentos pequenos, de três peças (cozinha americana, quarto e banheiro). O valor do aluguel é de R$ 335 (isenção de conta de água). O residencial possui 24 apartamentos e, ainda assim, a fila de espera é grande. “É curioso como por diversas vezes, justamente no momento em que eu ia colocar a placa de ‘aluga-se’, uma pessoa interessada parava e ali mesmo fechávamos o negócio. De fato, a procura é grande”, comenta Luciano Rangel, dono do América. As imobiliárias oferecem aos estudantes várias casas e apartamentos maiores para quem deseja morar com outras pessoas e, assim, são formadas as repúblicas. A primeira questão a ser resolvida quando se muda de cidade é decidir se vai morar sozinho ou conviver com outras pessoas. Alguns dos entrevistados, como Carolina de Oliveria Pizzatto, que veio de Água Boa - MT e faz o 6º semestre de Comunicação, que já residiu com outras meninas, conta que não se adaptou e hoje mora sozinha. “Morar sozinha se resume em ter mais privacidade, fazer o que quiser na hora que quiser. 29 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
NAS REPÚBLICAS
você mora trazem colegas que se tornam seus camaradas também”, completa. Uma dificuldade que eles enfrentam são os diferentes gostos musicais. “Eu não tenho mais medo, porque se fico sozinha entro em crise, mas aqui sei que alguém, a qualquer hora, vai chegar”, fala Fabíola. A República Tcheca é composta por cinco meninas do interior de Mato Grosso. São elas Alana Patrícia Ribeiro Abreu e Lorena Priscila Oliveira Rocha (ambas com 19 anos e vindas de Confresa), Anara da Silva Oliveira Freitas (21, de Porto Alegre do Norte), Jackelinne Homera Costa e Silva e Magna de Paula Farias (respectivamente com 23 e 25 anos, de Canabrava do Norte). Jackeline faz Nutrição e as outras, Enfermagem, todas no 2° ano dos cursos das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar). Elas pagam R$ 450 na casa em que moram.
Entre os moradores da República Zica está um trio que estuda na UFMT: Arthur Martins, de 19 anos (de Cuiabá, 2° semestre de Engenharia Civil), João Caetano Taveira de Souza, de 19 anos (Ilha Solteira\SP, Engenharia de Alimentos) e Fabíola Scarlety, de 18 anos (Rio Branco\AC, 2° semestre de Farmácia). Eles pagam R$ 1,2 mil no aluguel da casa, situada no centro de Barra do Garças. Cada um tem o seu quarto. Os três concordam que a vantagem de morarem juntos é que dividem as despesas. “Quando se mora sozinho num apartamento pequeno é triste”, diz João. “Agora, na república você pode ter muitos amigos, República Zica, no centro de Barra do Garças, abriga três estudantes. porque as pessoas com quem
Locação Vida universitária: principais custos 1º nível Alimentação, aluguel/ condomínio, água, luz e gás.
2º nível Xérox, telefone, internet, roupas, gasolina/transporte, TV a cabo e celular.
3º nível Imprevistos: um remédio, um chuveiro queimado, um carro quebrado.
anos e vieram de Água Boa – MT para Barra do Garças a fim de estudar na Faculdade Cathedral. Eles moram num apartamento de três cômodos, no centro. Pagam R$ 300 de aluguel. “É bom morar com alguém que você já conhece, porque assim você diminui os gastos e tem companhia”, expõe João. NAS QUITINETES
Ana Flávia Bigaton, de 19 anos, que veio de Guaíra – PR, faz o 6° semestre de Bionimento. medicina na UFMT\campus Araguaia. Ela menciona que morar sozinha é bom porque há privacidade e liberdade. “O ruim é que toda a despesa fica com você e a limpeza também”. Flávia Lorraine Santos, de 19 anos, de Torixoréu – MT, cursa o 4º semestre de Direito na Cathedral. Seu aluguel é de R$ Para não passar sufoco Bigaton no Congresso Nacional 380. Ela acha a casa arrumada e com bom de Biomedicina em Botucatu-SP. tamanho, além de ser próxima à faculdade em que estuda. “É muito •Negocie: Busque apartabom morar sozinha, a única mentos vagos diretamente nos •Antecipe: Tenha todos os desvantagem é a grande resprédios é opção para quem quer documentos em mãos para ponsabilidade que temos que negociar com o proprietário e fechar negócio. As imobiliter”, explica. flexibilizar regras contratuais. árias exigem RG, CPF, comDaniela Araújo, de 18 •Procure: No mural das provante de renda, de resianos, também veio de Água universidades há anúncio dência, cópia da escritura e Boa, mora no residencial Aude vagas em apartamen- matrícula do imóvel do fiador. gustos, no centro de Barra do tos de outros estudantes. •Fique atento: As imobiGarças, e paga R$ 360 de •Pesquise: Os preços são liárias evitam alugar aparmais baixos nos bairros mais tamentos para mais de três aluguel. A acadêmica diz que distante do centro da cidade. estudantes para evitar proas vantagens de se morar •Avalie: Apartamentos sem blemas com a vizinhança. sozinha é que não há aborvaga na garagem têm preços •Fiança: As imobiliárias exirecimentos dentro de casa, menores. Os mobiliados são gem que o fiador tenha um que pode sair e entrar sem mais caros, mas o custo pode imóvel na Capital, mas alguse preocupar com ninguém. compensar o valor e a dor de mas aceitam que a propriedaDesvantagem: às vezes, a cabeça de comprar móveis. de seja em cidades próximas. solidão.
4º nível Lazer, “baladas”, festinhas, entrete-
Fonte: (site Economia e Negócios)
O bairro, Sena Marques, fica mais afastado do centro da cidade, porém perto da instituição de ensino. A casa tem três quartos, sala, cozinha, banheiro e espaçosa área. Lorena fala sobre as vantagens e desvantagens de se morar com outras meninas. “Nós dividimos todas as despesas, por isso fica mais em conta. Mas, acaba que isso é ruim também, como somos cinco e temos todas os mesmos direitos, não temos muita privacidade e não podemos reclamar se a outra pessoa fizer algo que você não goste”, conta Lorena. João Luiz Diesel, de 18 anos, do 1° semestre de Direito, e Gabriel Lucas, de 17 anos, da mesma turma, se conhecem há vários
30 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Moradia
PENSÕES: PRATICIDADE, CONFORTO E GASTO REDUZIDO Uma nova opção de moradia que os universitários estão aderindo
B
runo Nunes acorda cedo, se prepara para mais um dia de estudos no campus II Universitário da UFMT, universidade federal de mato grosso, ele faz o curso de engenharia civil e quando vai pra faculdade sua única preocupação é estudar, pois na pensão onde mora as roupas são lavadas e passadas, e quando ele chega para o almoço está tudo pronto, “Sem dúvidas a pensão salva a minha vida”, diz. As pensões ou pousadas, não são novidade em nenhum lugar, porém em Barra do Garças e Pontal do Araguaia vem se destacando, pois o pólo universitário cresce a cada dia em nossa região. Foram aprovados mais de 10 cursos em menos de sete anos na UFMT, e segundo as Universidades Cathedral e Univar, mais de cinco novos cursos nos últimos cinco anos. A busca por solução e prática nas tarefas do
dia a dia, na alimentação é o melhor para jovens que focam o estudo, não tem tempo para os afazeres domésticos e procuram gastar o menos possível. Assim como Bruno, Hugo Henrique Rodrigues da Costa é universitário da UFMT, estudante de ciências biológicas, veio do interior do Goiás e também optou por morar em uma pensão, “Além da praticidade é extremamente mais barato”, disse, e quando morava em uma república, tinha que lavar suas roupas e fazer almoço ou janta certos dias da semana, além de dividir com os outros moradores os gastos mensais com produtos e alimentos e ajudar a pagar o aluguel e contas, claro. “Hoje eu pago um valor menor, tenho roupa lavada e passada, almoço pronto e um lugar para dormir, sem precisar gastar mais de R$ 450,00 por mês, sem dores de cabeças e com mais tempo para fazer o que realmente gosto: estudar”, disse.
“No começo era só o aluguel, mas percebi que poderia oferecer mais, atrair mais clientes, e sem aumentar tanto o preço”, diz Dona Geralda.
31 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Nathan Sampaio
DIVULGAÇÃO DAS PENSÕES PELAS UNIVERSIDADES Pra quem procura pensões não é difícil encontrar, nos próprios murais dos campi, tanto da UFMT quanto das Faculdades particulares Cathedral e Univar, há avisos especificando o que há, o que oferece e quanto custa. A “pensão das moças”, por exemplo, Foi divulgada em papéis espalhados pelos murais dos campi e continha suas características, preços e telefone para contato. Em entrevista com a proprietária Dona Geralda Marques da Silva ela comenta como a idéia surgiu, “No começo era só o aluguel, mas percebi que poderia oferecer mais, atrair mais clientes, e sem aumentar tanto o preço”, ela diz, também, que a procura por mais vagas é grande e que a tendência é só aumentar. Dona Geralda optou por fazer uma pensão onde apenas garotas se hospedam e se contenta com o resultado, “Não é nada con-
Moradia
Com as pensões os jovens deixam a bagunça, má alimentação, falta de tempo e dão lugar aos estudos e a uma vida saudável.
tra os homens (risos), mas para ter mais cuidado e poder atender melhor os clientes foi preciso limitar essa questão, e sei que os homens também são mais desorganizados.” Em Barra do Garças e Pontal do Araguaia podemos considerar como físicas 3 universidades, e quatro campi, como comentado antes. Existem as faculdade particulares Cathedral e Univar e a UFMT com dois campi, um em Barra do Garças e outro em Pontal do Araguaia. Ao entrar em contato com responsáveis por divulgar informações não foi possível obter nenhuma pesquisa efetiva que fosse relacionada à porcentagem de estudantes que moram em pensões que oferecem quartos, roupa lavada e comida pronta. Pesquisas como essas precisam ser rea32 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
lizadas pelas universidades, afinal são informações que servirão para muitas pessoas, tanto em áreas na comunicação local como para novos moradores que fazem conta de tudo para escolher o que é mais prático, funcional e barato. Ainda mais para jovens ou os pais dos jovens que estudam em universidade particulares onde qualquer gasto a menos pode fazer a diferença na colação de grau. Definitivamente, comparado por valores e praticidade, pensões são mais atraentes do que hotéis ou casas de aluguel, seja morando sozinho ou em repúblicas. Além de uma excelente opção para quem quer mais tempo para estudar, não se ocupar com afazeres domésticos e, claro, descansar mais, para um próximo dia cheio de provas, trabalhos ou uma festa quem sabe.
Alimentação Diária
Lugar escolhido interfere em saúde e bolso do universitário
Franciele Carolina Strege
E
les são uma legião estimada em dois mil acadêmicos que saíram das suas cidades de origem para estudar na região do Vale do Araguaia, que conta com duas unidades de ensino público, uma em Pontal do Araguaia e outra em Barra do Garças, além de instituições particulares como a Cathedral e as Faculdades Unidas do Vale do Araguaia Univar). No primeiro caso, em relação à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), enquanto o Restaurante Universitário (RU) não abre as portas, muitos de seus alunos são obrigados a gastar fora de casa com comida, representando para os estabelecimentos locais um importante nicho de mercado. A correria da vida universitária é usada como justificativa pela maioria dos acadêmicos que utiliza esse recurso. Como ponto fa33 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Foto: Reprodução
Alguns cozinham em casa, mas outros não têm tempo ou não querem preparar comida e optam por cantinas e restaurantes
vorável, segundo eles, está a praticidade de ter o alimento pronto todos os dias à mesa sem precisar recorrer aos supermercados e ao fogão. Mas a comodidade pode custar caro tanto à saúde quanto ao bolso, pois, além do preço, fica difícil ter total controle sobre a origem do que é ingerido. O resultado são problemas de saúde e um orçamento cada vez mais apertado. A universitária Panmella Candido Oguido, de 20 anos, acadêmica do 6° semestre de Comunicação Social (habilitação Jornalismo) da UFMT\campus Araguaia, faz praticamente todas as refeições fora de casa. Ela disse que a escolha se deu não por ser proveitoso,
e sim pela falta de tempo em preparar o alimento. “A minha jornada dupla [emprego e faculdade] me impede de comer em casa, o que é muito ruim, pois depois de pagar as contas, como de água, luz e aluguel, o restante vai quase todo para comida”, diz. Em pesquisa no mercado local, a reportagem perceber que um estudante universitário pode gastar de R$ 120 a R$ 200 por mês para almoçar fora de casa, de segunda a sexta-feira – as marmitas e marmitex variam de R$ 6 a R$ 9. Arthur Martins, de 19anos, de Cuiabá (MT), faz o 2° semestre de Engenharia Civil na UFMT\campus Araguaia e conta que gasta de R$ 15 a R$ 20 por dia com alimentação. Na sua rotina, o café da manhã é pão com presunto e queijo e iogurte. O almoço, marmita. O lanche da tarde e a janta se alternam entre sanduíches com filé de frango e ovo e frutas. Essas últimas ele compra uma vez por semana. Ainda há acadêmicos que, como Thiessa Lorenzon, de 27 anos, de Água Boa, último semestre de Enfermagem na Univar, optam por cozinhar todos os dias em seus lares. A aluna conta que já recorreu às marmitas para se alimentar, mas afirma que chega a economizar de 20% a 30% cozinhando em casa, uma vez que, ao fazer as compras, pode pesquisar com critério e adquirir o mais barato. “Dessa forma gasto cerca de R$ 50 por semana, quando comendo fora eu chegava a gastar de R$ 70 a R$ 80 entre café, almoço e janta”, relata ao afirmar que, mesmo pagando pela água, energia e gás, ainda compensa comer em casa. Para quem prefere escolher todos os itens e a quantidade que vai compor o prato, a cidade está repleta de restaurantes self-service onde o quilo varia entre R$ 19 a R$ 25, mas esta opção pode sair bem mais cara ao bolso
Foto: Franciele Carolina Strege
34 34 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
Segundo Paulo Henrique Peres Silva, primeiro coordenador de Assuntos Estudantis do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMT, a estimativa é de que até o final deste ano o RU seja uma realidade no campus de Barra do Garças. De acordo com ele, os acadêmicos pagariam cerca de R$ 1 por refeição. “Não é todo mundo que pode custear a alimentação todos os dias em um restaurante particular. Também não podemos ficar nos alimentando de salgados. Com o RU, esse problema seria solucionado e os estudantes teriam o direito à permanência na UFMT com comida boa e barata”, argumenta.
Por outro lado
Estudantes almoçam na cantina “Vale do Araguaia”, da UFMT/Campus Pontal do Araguaia. do estudante. Já as alternativas de alimentação oferecidas pelas universidades continuam a ser as cantinas espalhadas pelos campi. A maioria das instituições oferece de lanches rápidos a refeições completas. Tanto a UFMT quanto as particulares mantêm a média de R$ 2 a R$ 3 o salgado e de R$ 5 a R $6 a marmita. A maior demanda dessas cantinas, no entanto, é sem dúvida no almoço, horário no qual ficam lotadas de estudantes, professores e funcionários. “Mesmo com o fato de termos apenas três cursos nesta unidade (Farmácia, Educação Física e Engenharia de Alimentos) servimos de 25 a 30 refeições por dia, no valor de R$ 6 o prato,” conta Joana Ramos, responsável pela cantina “Vale do Araguaia”, na UFMT\campus Pontal do Araguaia.
Perspectivas
Rubeni Marinho, estudante do 3º semestre de Ciência da Comunicação da UFMT\Araguaia, precisa almoçar no local pelo menos uma vez por semana. Nesses dias, o acadêmico opta por refeições “de verdade”, que encontra nos “pratos feitos” da cantina . “Eu tento que comer mais ou menos o que como em casa”, diz ele, que além de considerar que os preços cobrados não condizem com a realidade de boa parte dos estudantes, reclama da falta de variedade nos alimentos oferecidos. A tendência é que, com a inauguração do RU, do qual se espera valores que condigam com a situação financeira dos alunos, este tipo de serviço desapareça das cantinas da UFMT. “Se o RU de fato agradar ao público do campus, a preferência será óbvia, devido ao contraste excessivo nos preços”, afirma dona Joana.
Assim como boa parcela dos alunos sente-se obrigada a gastar fora de casa com comida, as cantinas e restaurantes também dependem deles. Para a comerciante Noeli Barbosa Magalhães, dona do restaurante “Comer Bem”, situado no centro de Barra do Garças, o aumento no fluxo de estudantes foi fundamental para o funcionamento do estabelecimento. “Ainda somos dependentes desse público, tanto que o movimento nos meses de janeiro e fevereiro cai drasticamente”, informa, referindo-se ao período de férias. Eliamara Freitas Gomes, encarregada do restaurante e lanchonete do mercado “Super Mendonça” também confirma a queda de ritmo de vendas no citado períodos. “O movimento cai em mais da metade” A encarregada ainda revela que devido ao aumento de clientes o restaurante do mercado terá suas instalações ampliadas. “Ainda no final deste ano estaremos disponibilizando dois ambientes onde serão servidos os almoços”.
Gastos em Alimentação
O PREÇO DO PRATO
X
O LANCHE BARATO A média diária, semanal e mensal de gastos feitos pelos universitários Panmella Oguido
G
astar com alimentação é inevitável, todos nós precisamos nos alimentar, o alimento gera a força para andar, falar, olhar, trabalhar e estudar. Em Barra do Garças e Pontal do Araguaia são inúmeras as opções para se alimentar, como em qualquer cidade há padarias, restaurantes, lanchonetes e supermercados, porém o gasto dos estudantes universitários com alimentos não depende só da escolha do que comer, mas também da sua rotina, a situação financeira e os locais mais acessíveis para cada um. Em entrevistas com estudantes de diferentes cursos e universidades foram considerados cálculos dos gastos médios com alimentos e o que os universitários preferem. 35 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
PARA A ESTUDANTE MILANI AMORIN Milani Amorin Pinto faz o 4º semestre, tem 21 anos e é acadêmica do curso noturno de enfermagem da Univar. Além de estudar, também trabalha no período diurno do dia, como vendedora em uma loja de confecções e calçados, o que torna sua rotina bastante agitada. Milani dá preferência aos restaurantes e as panificadoras perto do seu local de trabalho, pois mora sozinha e não considera o tempo do seu almoço suficiente para chegar a sua casa e fazer o almoço. A universitária gasta por média R$ 1,75 no café da manhã, R$ 5,50 no prato feito na hora do almoço e R$ 3,25 no intervalo da aula, média de R$ 53,00 reais por
semana e R$ 231,00 por mês, fora os finais de semana que a estudante falou que acaba gastando um pouco a mais, então por média ela acaba gastando R$ 260,00 mensais em sua alimentação. O ESTUDANTE E BOSISTA Hugo Jesus de Brito, estudante de Biologia da Universidade Federal de Mato Grosso, também tem 21 anos, e mora com mais duas pessoas. É bolsista de extensão da instituição vai todos os dias da semana á universidade, fazendo sua primeira refeição no próprio campus, gastando em média R$ 3,25 no café da manhã, enquanto as outras refeições ele faz em casa durante a semana e nos finais de semana gasta em média de R$ 40,00 reais. A compra do mês custa em torno de R$ 450,00 ficando R$ 150,00 para cada um, um total de R$ 206,25 por mês. Há uma diferença de R$ 60,00 reais a menos no gasto dele com o da outra estudante que mora sozinha.
Gastos em Alimentação JÚLIA E O CURSO DIURNO
reais nos dias que ela não volta para casa no almoço. Gastando em torno de R$250,00 reais, considerando gastos adicionais nos finais de semana. Nas entrevistas com os universitários e considerando o que gastam com alimentos, a média é de R$ 200,00 a 250,00 por mês. Para conferir os dados passados por eles, foram pesquisados alguns estabelecimen-
Foto: Panmella Oguido
Também estudante da UFMT, Júlia Eli Frigo tem 20 anos e faz o 4º semestre de engenharia de Alimentos. Divide as suas despesas com mais três pessoas, contribuindo R$120,00 nas compras do mês. Porém como o curso é integral, as refeições dela não são regulares, em média Júlia tem três vezesaula de manhã e a tarde no campus, fazendo com que ela lanche no horário do almoço gastando em torno de R$5,25 nos dois salgados e no refrigerante para passar o período inteiro na universidade, “é um gasto alto para um alimento que não é saudável e que não dá energias suficientes para um dia de estudos”. Por mês R$63,00
Comer na faculdade é um gasto alto para um alimento que não é saudável e que não dá energias suficientes para um dia de estudo
Numa cena cada vez mais comum de se ver, a cantina do Campus II da UFMT, completamente vazia. 36 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
tos para ter referências de custos das refeições. Dentre as opções do centro os mais próximos foram: a Panificadora Pão de Milho para termos a base do custo do café da manhã do estudante, o salgado custa R$ 2,00 reais, cada pão de queijo é 0,35 centavos, o leite com “toddy” num copo americano é R$0,75 centavos, e o maior R$1,25, já o copo de suco de laranja custa R$ 2,25 e com leite é R$2,75. Maria Corina, dona do estabelecimento diz que o cliente gasta em média de R$ 4,75 no café da manhã. Gastando R$100,00 reais por mês se o cliente frequentar todos os dias úteis do mês. No restaurante Pimentinha que fica no centro da cidade e é um dos mais frequentados pelos universitários, o prato executivo que vem completo com e um pedaço de carne, custa R$5,00 reais, já um prato executivo com dois pedaços de carne sai por R$6,50 e a cada acréscimo de carne aumenta R$1,00. O preço do refrigerante é tabelado, a maioria tem apenas as garrafas de 290 ml (Coca-cola, Kuat, Sprite, Fanta) que custa R$1,25 e o suco de laranja R$1,25. Então o custo mínimo de um universitário que almoça todos os dias no Restaurante Pimentinha é de R$137,50. Somando a panificadora e o restaurante, um estudante tem um custo de R$237,50 por mês com as refeições do café da manhã e o almoço, confirmando assim os dados que os universitários nos forneceram, gastando em média de 250,00 por mês na alimentação. Considerando que nem sempre os estudantes dos cursos integrais se alimentam bem, pois a falta dos restaurantes universitários é uma realidade e faz falta aos estudantes que não tem escolha a não ser comer lanches que não contém a quantidade adequada de nutrientes para suprir um dia de estudos.
Transporte Universitário
Dos comuns aos alternativos Universitários de Barra do Garças e Pontal do Araguaia optam por diversos meios de transportes para poderem participar das aulas
o ingressarem na universidade os alunos enfrentam uma questão que pode ser um problema quando se trata de economia: o transporte. Devido à localização das faculdades em Barra do Garças e Pontal do Araguaia, os estudantes, por na maioria das vezes morarem distante das instituições, têm que usar os mais diversos meios. Há acadêmicos que vão duas ou três vezes para a universidade, em apenas um dia, porque fazem cursos integrais, por participarem de alguma atividade extracurricular (como projeto de extensão e bolsa monitoria) ou para usar a biblioteca. Diante dessa realidade, os gastos com transporte se tornam empecilho na organização eco-
nômica dos alunos. O jeito é tentar poupar. Existem várias possibilidades de transporte, entre elas: ônibus, moto-táxi, carona, carona fixa (que é quando se combina um preço por mês com o motorista) e o “Pequizão” (nome dado pelos estudantes ao coletivo disponibilizado pela Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT, que faz o trajeto entre as unidades de Barra do Garças e Pontal do Araguaia). Alguns alunos optam por morar perto da instituição de ensino e longe do centro da cidade para economizar. Prova disso são os vários acadêmicos que vivem em condomínios próximos das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar) e da Faculdade Cathedral.
“O bom de usar o ônibus da ‘facul’ é a economia que a gente faz porque, por exemplo, ano passado mesmo tendo o passe e pagando metade da passagem, eram aproximadamente R$ 100,00”, diz estudante
37 37 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
Foto: Reprodução
A
Ana Carolina Vilela
Ônibus “Pequizão” oferecido gratuitamente ao alunos da UFMT nos períodos integral e noturno.
Transporte Universitário A discente Flávia Lorraine Santos, que vivia em Torixoréu - MT, de 19 anos, cursa Direito na Cathedral e escolheu morar perto do local em que estuda. Segundo ela, é mais prático por não depender de condução e por economizar com o transporte, já que vai poucas vezes por semana ao centro de Barra do Garças. Lorraine mora com as amigas Jessica Oliveira Guimarães (de Torixoréu) e Jaqueline Pereira Sousa (Bom Jardim de Goiás- Go), que cursam Enfermagem na Univar, local também próximo do condomínio. Atualmente, a UFMT disponibiliza o “Pequizão” para os alunos irem aos dois campi da instituição, com horários pela manhã, tarde e noite e pontos fixos. Em razão de o transporte ser gratuito, se tornou a ferramenta mais usada pelos acadêmicos. Nota-se que todos os dias o ônibus está lotado na maior parte de seus horários. Carolina Miranda Danelli, de 19 anos, que tem família em Paracambi - RJ, faz Comunicação Social (habilitação Jornalismo) na UFMT\campus Araguaia e utiliza o “Pequizão” praticamente todos os dias. “O bom de usar o ônibus da ‘facul’ é a economia. Ano passado, mesmo tendo o passe e pagando metade da passagem, eram aproximadamente R$ 100 com coletivo por mês”, lembra. A acadêmica complementa, apontando as desvantagens: “Geralmente a gente chega atrasado às aulas, porque o ônibus chega à faculdade por das 7h10 da noite. Além disso, a gente tem que sair mais cedo, já que o horário é 10h40 da noite, e por isto perde 40 minutos de aula por não ter como voltar depois. Só se for de carona. Até o 38 38 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
ultimo ônibus de linha passa 10h30 da noite”. Caronas A escolha da condução interfere diretamente nas despesas dos estudantes. Com isso, muitos optam por meios de transporte alternativos, como as caronas. Devido aos horários fixos do “Pequizão”, os alunos que chegam atrasados e não conseguem pegar o coletivo ficam nos pontos estratégicos do trajeto, entre as instituições de ensino, esperando que algum conhecido passe de carro e leve-os. A carona fixa é mais uma das alternativas usadas pelos alunos. Eles escolhem esse meio por ser mais confortável e prático, mesmo tendo que pagar uma quantia “x” por mês. De acordo com Hyanne Martins, de 21 anos, que vive em Nova Xavantina - MT, e cursa Farmácia da UFMT/campus Pontal do Araguaia, existem prós e contras de se usar a carona fixa, como em todos os outros meios. “O preço é bom”, afirma a estudante, se referindo ao valor de R$ 40 por mês. Além disso, há o conforto de ir de carro todos os dias e a comodidade de pegar a carona na porta de casa. “Esses são os fatores que me fizeram escolher a carona fixa como opção para ir à universidade”. A acadêmica ressalta,
Foto: Ana Carolina
no entanto, que o único ponto negativo é que quando a amiga (dona do veículo) falta aula, ela tem que ir de ônibus ou pegar carona com outra pessoa. Custos Além do transporte gratuito oferecido pela UFMT, para os estudantes que não são da instituição e até aos que preferem outros meios, existem também os particulares, com custos variados. O preço de uma “corrida” de moto-táxi, do centro de Barra do Garças até as universidades UFMT, Univar e Cathedral custa R$ 5, em média. É o dobro de uma passagem de ônibus circular (R$ 2,50) e quatro vezes mais caro para quem tem o ‘passe’ (R$ 1,25), confeccionado pela empresa de ônibus GarçasTur e válido somente em dias e horários de aula.
Intermunicipal
Maratona diária Acadêmicos enfrentam a distância e o cansaço, todos os dias, para concluírem o curso
Foto: Ana Carolina Paiva
Carolina Pizzatto
Ônibus de Bom Jardim (GO) chegando à Universidade Federal do Mato Grosso, Campus Araguaia. 39 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA 39
Intermunicipal
C
erca de 1 milhão de alunos se formam anualmente no Brasil. O numero de matrículas aumentou de 3,5 milhões para 5,9 milhões em sete anos, conforme o Censo da Educação Superior\2009), o mais recente realizado no país. Entre a totalidade dos universitários estão os de Barra do Garças, situada no interior de Mato Grosso e que faz divisa com Goiás. É a maior cidade do Vale do Araguaia e, por conseqüência, a única que possui extensões da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O município também tem unidades particulares de ensino superior, como as Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar) e a Cathedral. PONTOS DE VISTA Tonny Deyvisson Villar, de 36 anos, estudante do 6º semestre de Comunicação Social da UFMT\campus Araguaia, se desloca do município de Bom Jardim de Goiás (GO) todos os dias para estudar no período noturno, percorrendo 40 km. Ao ser questionado sobre como funciona o transporte de sua cidade até Barra do Garças, ele afirma que são três ônibus que trazem os estudantes às universidades. “Na hora de sair, geral-
40 40 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA
mente são três ou quatro pontos principais. Quando chegamos a Aragarças (GO) o pessoal da UFMT de Pontal do Araguaia desce e pega carona com o ônibus de Piranhas (GO) e depois o de Bom Jardim de Goiás segue até a Univar, Cathedral e, por último, para o Campus Araguaia da UFMT, em Barra. No retorno, os ônibus deixam os alunos próximos de suas casas”, detalha. Tonny paga R$ 95 por mês por esse serviço, valor que considera “relativamente baixo”, porque a prefeitura de Bom Jardim de Goiás fornece ajuda de custo de aproximadamente R$ 1, 5 mil para os proprietários dos coletivos. Sobre as dificuldades enfrentadas em relação ao deslocamento, o universitário lamenta o fato de não ter um colega de curso morando no mesmo município, pois isto o auxiliaria na realização dos trabalhos acadêmicos. E ele acrescenta: “Minha esposa leciona à noite três vezes na sema-
na, por isto preciso deixar minhas filhas na casa da minha sogra. Quando chego da faculdade, por volta de 23h30, ainda tenho que buscá-las”. O acadêmico fala sobre a distância entre as cidades: ”Os 40 km até a UFMT demoram uma hora de viagem devido às paradas que o ônibus faz nas outras faculdades”. Karita Carvalho, de 20 anos, estudante do 4º semestre de Comunicação Social da UFMT, reside em Nova Xavantina, cidade situada a 160 km de Barra do Garças. A universitária explica que não existe transporte intermunicipal para o trajeto. Por causa disso precisa contratar um serviço particular e pagar R$ 350 por mês. “A maior dificuldade é em relação aos trabalhos em grupo, pois quase sempre são fora do horário de aula”, ressalta. Karita diz que a viagem dura cerca de duas horas, sendo 320 km entre ida e volta, sem paradas.
“E só haverá esse tipo de ajuda quando tivermos recursos que venham da União e do Estado destinados ao setor.”
Intermunicipal Blenda Souza Vilela, de 24 anos, estudante de Serviço Social na Univar, mora em Torixoréu, a 76 km de Barra do Garças. “Saímos de Torixoréu às cinco da tarde para chegarmos a tempo para as aulas”. A acadêmica paga R$ 75 mensais por esse serviço, que leva aproximadamente uma hora e meia entre ida e volta, e diz ser a única maneira de freqüentar a faculdade. “As maiores barreiras para mim são os trabalhos feitos em horários diferentes dos de aula ou quando há algum curso ou palestra, porque fica difícil participar”, ressalta. APOIO DAS PREFEITURAS Algumas prefeituras do Vale Araguaia fornecem apoio ou ajuda de custo aos estudantes, mas nenhuma das contatadas (de Nova Xavantina e Bom Jardim de Goiás) possuem projetos para que haja garantia de transporte diário de forma gratuita aos universitários. A Secretaria de Educação de Bom Jardim de Goiás expõe que não oferece tal serviço por receber institucionalmente verba para a educação básica e não para a superior. A assistente administrativa da Secretaria Municipal de Educação de Nova Xavantina, Carla Beatriz, informa que a prefeitura não possui nenhum recurso que financie esse tipo de transporte. E complementa que “Por enquanto não há projetos, até porque não é responsabilidade do município. E só haverá esse tipo de ajuda quando tivermos recursos que venham da União e do Estado destinados ao setor”. 41 || DEZEMBRO DEZEMBRO 2011 2011 || FOCAIA FOCAIA EM EM REVISTA REVISTA 41
Programa de Transporte Em julho deste ano a deputada estadual Ana Lúcia Falcão (PT/Sergipe) enviou à Assembléia Legislativa uma moção de apelo à presidenta Dilma Rousseff e ao ministro de Educação, Fernando Haddad, para que arquitetem um programa de transporte para estudantes universitários.
Foto: Cristiane Gomes
Viagens Acadêmicas
Universitários movimentam setor de transportes Mais de dois mil estudantes de outras cidades são atraídos para Barra do Garças e Pontal do Araguaia por programas de expansão, desenvolvidos pelo Mec e que trazem crescimento ao setor de empresas de ônibus interestaduais Cristiane Gomes 42 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
B
arra do Garças e Pontal do Araguaia apresentam quatro instituições presenciais de ensino superior. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que possui dois campi, e as faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar) e Cathedral. Juntas somam cerca de dois mil estudantes, que vêm de localidades próximas de Barra do Garças. Esse fator atrai universitários do interior leste de Mato Grosso e sudoeste de Goiás, além de outros estados, tais como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. De acordo com o Ministério da Educação (Mec), o Programa de Foto: Cristiane Gomes Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) visa ampliar o ensino superior no país por meio da expansão do acesso e permanência na educação superior. O órgão desenvolveu o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), pelo qual as instituições públicas selecionam candidatos pela nota obtida no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Os estudantes de todo o Brasil consultam as vagas disponíveis, pesquisa as instituições e os seus respectivos cursos participantes. O estudo “Crescimento do setor universitário e exigências por novas demandas socioespaciais em Barra do Garças (MT)”,
Fluxo universitário movimenta a economia do município com uma injeção mensal de R$ 1,2 mil ao mês por estudante, em média.
Foto: Arquivo
realizado pelo professor pós-doutor Hidelberto de Sousa Ribeiro e que teve colaboração do bolsista Lucas Antonio Luz Iglesias, do curso de Comunicação Social\UFMT Araguaia, aponta o aumento de fluxo de estudantes de 2008 para cá por causa do Reuni. A pesquisa aponta que a chegada de novos universitários a Barra do Garças movimenta a economia do município com uma injeção mensal de aproximadamente R$ 1,2 mil ao mês por estudante. Moradores do citado município, de Pontal e Aragarças (GO) recebem em média um salário mínimo. Para a acadêmica do curso de Comunicação Social, Carolina Pizzato, de 20 anos, seus principais gastos, com aluguel, luz, internet e alimentação, consumem por mês, em média, R$ 1,2 mil. O pai é que mantém o padrão de vida da estudante. A família de Carolina mora em Água Boa, município distante 234 km de Barra do Garças. Os setores que Acadêmica Carolina respondem a essa Pizzato sempre que entrada de capital possível visita pais em são o imobiliário, Água Boa (MT). gastronômico, se43 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
guidos por entretenimento, alimentação, bens semiduráveis (móveis, eletrodoméstico e eletrônico), esportes, vestuário, transporte e viagens. É o que aponta o levantamento científico. Carolina informa que dificilmente se desloca para outros municípios e estados para participar de eventos acadêmicos. A maior razão de suas viagens é a saudade que sente dos pais, o que ocorre geralmente durante as férias. No final do ano ela vai para Santa Catarina, estado onde nasceu. A estudante é um exemplo dos jovens que saem de suas cidades e apresentam dificuldades em se adaptar ao novo estilo de vida. Sentem-se sozinhos, a saudade da família e dos amigos é crescente a cada dia. Para diminuir a distância, quando podem, realizam viagens por determinado período de tempo, com mais freqüência no período das férias e feriados. Época em que cresce a demanda por uma vaga junto às empresas de transporte da cidade aos mais variados destinos. DIFICULDADES Por outro lado, o jovem universitário vê a necessidade de também realizar viagens com objetivo de buscar conhecimento, trocar experiências com outros grupos sociais e culturais. As viagens realizadas com fins de de-
Foto: Cristiane Gomes
Viagens Acadêmicas
Viagens de universitários movimentam setor de transporte. senvolver pesquisas, participação em congressos, seminários, simpósios, que fazem parte da formação acadêmica são consideradas ações extracurriculares. O estudante, no caso da UFMT, recebe ajuda de custo, que varia de acordo com a duração da viagem e o transporte, em alguns casos cedidos pela própria instituição, tendo o viajante de se preocupar com a diária do motorista, quando se trata de evento realizado fora da universidade. Para o acadêmico do curso de Letras Daniel Leite Almeida, de 20 anos, seus maiores gastos são cotados com viagens universitárias realizadas para participação de eventos. Ele não costuma viajar muito, a não ser para eventos do próprio curso. Este ano já participou de cinco aulas de campo envolvendo viagens, e fechará o ano com previsão de mais duas.
Viagens Acadêmicas
Foto: Arquivo
Fonte: ANTT
Daniel Almeida em encontro nacional de estudantes de letras em Goiânia (Go).
exemplifica dizendo que em algumas destas viagens ganhou “auxílio evento”, pelo qual a instituição garante a passagem de ida e volta. Não existe a preocupação de nos manter lá, afirma o acadêmico. Outra questão que aparece como empecilho é quando os estudantes viajam em grupos com ônibus da universidade. O auxílio oferecido pela instituição é o combustível, e neste caso são os acadêmicos que custeiam a diária do motorista, diz Daniel. Segundo o estudante, há outro problema: o dinheiro da passagem só chega depois do evento. Para garantir a participação nas viagens é preciso pegar dinheiro emprestado com o pai ou amigos. Existe um prazo estabelecido pela instituição para apresentar um relatório contendo todos os comprovantes com os gastos da viagem. “Eles querem um prazo para comprovar que fomos à viagem, mas não têm um prazo para entregar esse dinheiro”, afirma o estudante. 44 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Entretenimento Econômico
Foto: Patrícia Kolling
Vida social ativa pode afetar orçamento Universitários não poupam esforços nem gastos para se manterem integrados
A
Andressa Alves
tualmente os jovens empregam diversas formas para se socializar, entre elas estão a internet, reuniões em casa de amigos, seja para assistir a filmes, conversar ou tomar tereré. Mas todas essas atividades geram custos e com os universitários não é diferente, eles investem parte de sua renda para se integrarem e interagirem com os demais. Dados do REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, mostram que em Barra do Garças existem cerca de 2 mil alunos que se deslocaram de diversas cidades apenas para estudar, muitos moram sozinhos. Iniciam-se novas jornadas, estudar, fazer amizades, muitos trabalham para se manter ou até mesmo para complementar a renda obtida através dos pais. A lista de gastos de um universitário é bem extensa, entre eles os que são destinados a vida social, a qual todos procuram manter bem agitada, com idas à baladas, reuniões na casa de amigos, internet para
45 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Reunião de acadêmicos para troca de informações e conhecimento atualizar seus perfis no Orkut, Facebook, Twitter, MSN, Baddoo, Netlog e muitos outros. Depoimentos Aline Aparecida de Souza, 20 anos, acadêmica do 4º semestre de Agronegócio das Faculdades Cathedral, utiliza de todos os meios para se socializar no meio acadêmico. Ela vai a festas e reuniões na casa de amigos até sete vezes por semana. Segundo ela, são reuniões divertidas onde conversam, comem, algumas vezes ingerem bebidas alcoólicas. Ela estima os gastos em
torno de R$ 30,00 por encontro. Dependendo da finalidade dos encontros, Aline nos conta que algumas vezes não há gastos, pois consomem o que o dono da casa possui e que se fosse possível haver esses eventos sem gastos seria o ideal, pois eles acabam por estourar o orçamento no final do mês. Outro meio utilizado por ela é a internet em seu notebook. Possui perfis em diversas redes sociais, acreditando ser essencial para se manter atualizada dos acontecimentos do dia-a-dia, trocar informações sobre atividades desenvolvidas por seus colegas na universidade e fora dela e afirma que a falta de internet prejudicaria
Entretenimento Econômico ria sem ele, utilizando outras fontes para complementar seus conhecimentos. Ademilia Gomes de Rezende, 42 anos, acadêmica do 2º ano do curso de Teologia à distância, oferecido pela FATAD - Faculdade Teológica das Assembléias de Deus, diz que sua vida social é bem “sossegada”, pois parte de seus trabalhos são realizados individualmente, então não há necessidade de reuniões na casa de colegas. Ela utiliza a internet para fazer novas amizades nos sites de relacionamentos e pesquisas para expandir seus conhecimentos, o que gera poucos gastos, já que sua internet móvel é uma promoção na qual paga apenas R$ 25,00. Ela afirma não ver necessidade de gastar dinheiro com reuniões em que somente se faz farras. Os provedores de internet locais, Info Barra e Briw, não souberam informar sobre a quantidade de clientes que são universitários. As empresas disseram não exigir informações sobre a profissão ou ocupação de seus fregueses. Disseram existir também o caso de pais que fazem o cadastro para seus filhos, dificultando a identifi-
Universitários gastam em torno de R$ 20,00 a R$ 30,00 por encontro, afirmam que pode afetar o orçamento, mas que é um mal necessário
46 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Fonte: Arquivo de internet
cação, o que não interfere nos valores de prestação dos serviços, já que não há descontos para universitários. Os acadêmicos entrevistados confirmam que estão dispostos a gastar para manter suas vidas sociais ativas, seja em festas, bares, reuniões, com internet e redes sociais. Dizem que todos são gastos válidos. Gastam em torno de R$ 20,00 a R$ 30,00 por encontro, afirmam que pode afetar o orçamento, mas que é um mal necessário. As irmãs entrevistadas são naturais de Torixoréu-Mt e parte de suas despesas são feitas por seus pais. Elas também trabalham para complementar a renda e se manterem integradas aos eventos universitários, seja para estudo ou diversão.
Usuários das redes sociais & tempo utilizado diariamente
160
Quantidades de usuarios em milhões
a sua interação com outras pessoas. O gasto de R$ 50,00 mensais da jovem universitária é tido por ela como um investimento essencial. Já sua irmã Alaine Maria de Sousa, 18 anos, também acadêmica do 1º ano no curso de Serviço Social da Faculdade Univar, não participa de muitos eventos e disse também não dar tanta importância. Reuniões em casa de amigos somente em vésperas de provas com grupos de estudo, onde fazem algum lanche, bolo, sanduíches, refrigerantes, sucos e cafés, o que só gera custos a quem recebe os colegas em casa, algo em torno de R$ 30,00. Ela nos conta também que se fosse possível não faria esses tipos de gastos, mas não os vêem como prejuízos, já que as reuniões são para estudo e trás benefícios a todos. Alaine utiliza a internet para fazer pesquisas em sites recomendados por seus professores e como passatempo possui perfis no Orkut, Facebook, MSN e Twitter. Ela tem um gasto mensal R$ 50,00 com internet, que considera ser um bem necessário, mas que passa-
140 120 ORKUT
100
FACEBOOK TWITTER
80
FLICKR 60
LINKEDIN MY SPACE
40 20 0 1
2
Tempo diario dedicado em horas Fonte: Google Ad Planner 2010
Interação
Universitários evangélicos destinam até 20% de sua renda para se socializar Gastos são com lanches, retiros e congressos. Evento recente em Cuiabá custou R$700 por pessoa
J
Ivan de Jesus
ovens, alegres, inteligentes, ligados em tudo que é novo. Esse seria um retrato de grande parte dos universitários de Barra do Garças. O que os diferencia é que muitos deles são membros ativos da igreja Assembleia de Deus. Uma nova geração que encontra um aliado para seu crescimento pessoal e profissional. A pesquisa DNA BRASIL, realizada pelo Observatório de Comportamento e Consumo do Senai/Cetiqt e publicada recentemente, confirma a tendência cultural do brasileiro em se relacionar e se posicionar na sociedade por meio de suas relações e da vontade de falar e fazer amigos. Com os universitários de Barra do Garças não é diferente. Inseridos nos diversos segmentos da comunidade, contribuem culturalmente e economicamente para o desenvolvimento do município. Segundo o pastor da igreja Assembleia de Deus do bairro Santo Antônio, André Luís de Jesus, de 32 anos, existem 11 universitários membros na unidade. Ele diz que em 47 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Grupo de Jovens da Igreja Assembléia de Deus – Madureira. sua congregação os jovens são incentivados a fazerem o ensino superior e cursarem a Educação de Jovens e Adultos (EJA), por meio do projeto “Vou voltar a estudar”. “Esta é uma idade de tomada de decisões no mundo profissional e compete à igreja auxiliá-los nesta tarefa. Eles (jovens) são grandes potenciais para o nosso ministério, suas habilidades bem lapidadas serão fun-
damentais para o Reino de Deus e para o mundo em que vivemos”, explica o pastor. Além desse projeto, a igreja sede da Assembleia de Deus possui cursos preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares, cursos de locução, seminários, congressos e oportunidade de estágio na rádio web “Canaã Gospel” e no programa de tv “Momento com Deus”.
Interação CUSTOS Mas essa interação, mesmo com benefícios para ambos os lados, possui custos. Alguns universitários chegam a destinar 20% de sua renda ao convívio social na igreja. Wilclesley Alves Tavares, de 19 anos, estudante de Administração das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia (Univar), confirma que reserva parte de sua renda mensal. “Meus únicos gastos são com os dízimos e os lanches que faço com o pessoal, o que não passa de R$100 por mês. Às vezes a gente faz retiros, viaja para congressos e acaba gastando um pouco mais, mas a média é essa”, informa Wilclesley.
“Os nossos jovens não bebem, não fumam, não vão pra baladas, o que eles gastam é lanchando com o pessoal, indo a congressos, ou seja, aprendendo e se divertindo de modo sadio” Francisco José Silva de Souza, de 19 anos, estudante do curso de Comunicação Social (habilitação Jornalismo) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT\campus Araguaia), participa do grupo de jovens da Assembléia de Deus no bairro Jardim Amazonas e sai com os colegas para lanchar nos finais de semana. “Meus gastos não são muitos, só uns lanchinhos no final de semana, um pouco de gasolina da moto e, às vezes, algum salgado ou outra coisa que o pessoal vende na congregação. Somando tudo acho que devo gastar cerca de R$ 40 por mês”. 48 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
As igrejas, hoje, apostam nos jovens e usam diversas estratégias para fazer com que eles interajam. “Nós temos programas de rádio e de tv, cultos direcionados, congressos e diversos outros eventos para chamar a atenção dos universitários para a necessidade de buscarem a Deus. Mas a estratégia que mais dá frutos são os grupos familiares, muitos deles formados apenas por jovens. Nesses grupos cria-se um círculo de amizade entre os membros, eles passam a falar a mesma língua e acabam por conquistar outros jovens para o Reino de Deus”, relata o pastor da Assembléia de Deus do bairro Jardim Araguaia II, Wezinton Souza Lopes, de 40 anos.
Marcos Paulo, estudante de Biologia da UFMT e freqüentador da igreja Assembléia de Deus
Grupos familiares, às vezes chamados de “grupos de convivência
ou células”, se reúnem nos lares, num ambiente informal e descontraído. Cada um tem um líder ou facilitador, um anfitrião (que oferece sua casa) e, dependendo do tamanho da equipe, outros podem estar à frente da oração e demais atividades. Eles proporcionam um “clima” propício ao diálogo, no qual se pode fazer perguntas e pedidos de oração. Segundo o pastor Wezinton Souza Lopes, da Assembléia de Deus do bairro Jardim Araguaia II, o valor que se gasta na igreja é igual ou até mesmo menor que em outras instituições. “Os nossos jovens não bebem, não fumam, não vão pra baladas. O que eles gastam é lanchando com o pessoal, indo a congressos, ou seja, aprendendo e se divertindo de modo sadio.” Conforme ele, foi o que ocorreu recentemente na celebração do centenário da igreja Assembléia de Deus no Brasil, realizado em Cuiabá, onde cerca de cinco mil fiéis, entre jovens e adultos, comemoraram pelas ruas com shows, desfile com carros alegóricos e bonecos gigantes. Houve custo com as passagens (que puderam ser divididas em prestações), estadia e alguns passeios. Algo em torno de R$ 700 por pessoa.
Foto: Graziely Moessa
Malhando
Universitários representam 80% dos frequentadores de academias em Barra do Garças A procura dos estudantes é motivada pelo prazer, lazer, ocupação do tempo livre, garantia de boa saúde e interação social
Graziely Moessa 49 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
N
a cidade de Barra do Garças-MT o panorama econômico se altera com a presença da instituição de ensino superior pública – a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – os estabelecimentos particulares, como as faculdades Cathedral e a Unidas do Vale do Araguaia (Uni-
var). De acordo com Hidelberto de Sousa Ribeiro, professor doutor em Sociologia da UFMT\campus Araguaia, o que mudou na economia local está ligado diretamente ao processo de expansão da infraestrutura da universidade. Em relação às instituições privadas, houve aumento da procura por conta do Programa Universidade para Todos do (Prouni). Isso impacta o desenvolvimento do setor de serviços, como bares e restaurantes, na reestruturação do sistema de trânsito, mas principalmente no setor imobiliário. Outra área beneficiada com presença massiva de universitários são as empresas de academia de ginástica, que ganham novos adeptos. Segundo o professor, com a falta de investimentos de indústrias, que gerariam empregos e movimentariam o setor de serviços, as unidades de ensino superior procuram contribuir com o desenvolvimento regional. “Se pensarmos que a maioria dos estudantes da UFMT, principalmente dos cursos diurnos, são de famílias de classe média, que gasta por volta de R$ 1,5 mil por mês, isto está suprindo esta necessidade local”, diz. Para Carlos Alexandre Habitante, coordenador do curso de Educação Física da UFMT/Pontal do Araguaia, o aumento das doenças crônicas degenerativas, como obesidade e hipertensão, obriga as pessoas a abandonarem o estilo de vida sedentário que o crescimento da cidade impõe. Uma forma de evitar ou controlar esse Porém, aí há outro problema. Os espaços para prática de esportes estão escassos em Barra do Garças. Isso ocorre, segundo o sociólogo, por dois fatores: a especulação
Malhando imobiliária, que acaba com as áreas de lazer, sobretudo quadras poliesportivas e campos de futebol; e o pequeno investimento do setor público em áreas de lazer. Com isso, as academias surgem como alternativa. Lazer e lucratividade Nos anos 80, as academias eram procuradas por pessoas com boa forma física, por questão de estética. Hoje, conforme pesquisa realizada em 2010 com frequentadores de academias de ginástica de Campo Grande (MS) desenvolvida por Habitante, 50% das pessoas que procuram tais locais tomam esta decisão em razão de algum problema de saúde. Estar dentro de uma academia significa controlar a hipertensão, diabetes ou perder peso. A procura dos estudantes por essas localidades têm como razões principais o prazer, o lazer, a ocupação do tempo livre e a preservação do estado de saúde e a interação social com outros grupos sociais. Barra do Garças possui 11 academias cadastradas na prefeitura. Os preços das mensalidades para estudantes variam entre R$ 45 a R$ 70, com alguns descontos para indicações e pagamento em dia. A taxa de matrícula se alterna de R$ 10 a R$ 20 que inclui uma avaliação corporal. As medidas são tiradas pelo instrutor de três em três meses. Os
períodos com maior número de matriculados são antes e depois da temporada de praia (junho e julho), ou seja, no início das aulas, em abril, maio, agosto, setembro e outubro. Para Luana Lorrene Gonçalves Freitas, de 19 anos, estudante do 2º semestre de Biomedicina da UFMT/campus Araguaia, realizar atividade física é importante para a saúde e na academia se conhece novas pessoas. Ela trabalhava antes de ingressar na universidade, mas agora, em razão de o curso ser integral, dedica-se unicamente aos estudos. Com tempo vago depois de sair da faculdade, ela malha pelo menos uma hora todos os dias. O dinheiro gasto com a academia é dado pelos pais. “As provas nos deixam muito nervosas, ficamos muito dentro de casa estudando. A academia é uma forma de você não estar tão desligada da sociedade. Mas principalmente, é um meio que eu tenho para diminuir o foco da faculdade”, fala Luana. Na escolha da academia a aluna analisou a estrutura, o estado físico dos aparelhos e os preços (com descontos que variam de 10 a 15%). No começo, gastou com roupas apropriadas para malhação, mas confessa que sua alimentação pouco se alterou e que exagera nas guloseimas. A empresária Ilma Rodrigues da Cruz conta que os estudantes representam 80% dos frequentadores de sua empresa. “Para
Aumento das doenças crônicas degenerativas, como obesidade e hipertensão, obriga as pessoas a abandonarem o estilo de vida sedentário.
50 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
nós, o aumento do número de universitários movimenta economicamente a academia e se torna muito lucrativo”. De acordo com a gerente administrativa Laura Luiza Hemming, os estudantes são responsáveis por 40% da entrada de arrecadação da academia onde atua. Mas geralmente o aluno “nunca tem dinheiro”, informa. Eles gastam em academia como forma de lazer e ganham descontos com a indicação de amigos. “Vêm aqui malhar, desestressar, sair do ambiente acadêmico e estão na companhia dos amigos. A maioria é formada por pessoas entre 17 a 24 anos”, menciona. As academias oferecem diversas modalidades de atividades físicas como luta, spinning, jump, pilates e musculação. Gean Fernandes Moreira, empresário, afirma que a musculação é a mais procurada, pois a maioria busca o “corpo perfeito” e manter a saúde. Frequentar academia facilita também a socialização, a interação com outras pessoas. “Nesse ambiente cria-se um vínculo de amizade, já em eventos sociais muitas vezes não existe a oportunidade de
Malhando conhecer melhor as pessoas e de se fazer amizades”, comenta. Fernando Neres Santos Silva, formado em Educação Física pela Faculdade Albert Einstein, de Brasília, há três anos instrutor de academia, afirma que o aluno procura interação social, qualidade de vida e boa forma para estar melhor perante seu grupo social. Alguns buscam paqueras e há estudantes de outras cidades que se socializam com pessoas de diferentes cursos e tornam-se amigos. Neres alerta que, além de fazer uma atividade física, é importante ter uma boa alimentação, evitar bebidas alcoólicas, dormir e acordar cedo, pois isto influenciará no resultado pretendido. “A musculação trabalha a parte cardiovascular e o fortalecimento muscular, vai melhorar todo componente fisiológico do corpo, musculatura e diminuir o percentual de gordura. Esteticamente fica muito melhor”, argumenta. Alexandre Tomasi, de 21 anos, estudante do 7º semestre de Ciência da Computação da UFMT, campus Araguaia, conta que malha por questão de saúde e para ficar com um corpo “mais bonito e forte”, e que fez várias amizades na academia. Sai da faculdade e exercita-se por volta das 22h de segunda à sexta. Faz musculação e gasta por mês em torno de R$ 100 a R$ 110 (R$ 60 de mensalidade e o restante com suplementação). A alimentação continua a mesma. O rapaz é monitor na universidade e a ajuda dos pais contribui com os custos da musculação. Alexandre acha impor51 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Foto: Graziely Moessa
Alexandre Tomasi, 21 anos, escolheu a musculação para relaxar.
tante a academia ter uma boa quantidade de aparelhos, mas entende que o auxílio do instrutor é essencial. “Você consegue mais resultados com alguém te ajudando e assim alivia o estresse, aumenta o estimulo”.
Turismo
Universitários agitam o turismo de Barra do Garças Cidade tem “boom” no setor mesmo sem programas específicos da prefeitura
D
Lucas Iglesias
esde a inclusão da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) no Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Prouni) em 2009, Barra do Garças tornou-se um pólo de ensino superior. Com isso, atraiu estudantes de todas as partes do país, com seus 16 cursos de graduação, incluindo o campus de Pontal do Araguaia, na cidade vizinha, de mesmo nome. Apesar de a UFMT ser a grande responsável pela vinda de novas pessoas para a região, as faculdades particulares, como a Unidas do Vale do Araguaia (Univar), a Cathedral e a Anhanguera, também contribuem com isto, via Prouni ou pelos cursos oferecidos. A estimativa, de acordo com os Centros Acadêmicos cursos das instituições de ensino da localidade, é que haja mais de dois mil estudantes oriundos de outras cidades 52 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
ou estados do país. Isso movimenta toda a economia de Barra do Garças e não apenas o “mundo dos campus”. A maioria dos novos personagens mora sozinha sem conhecer praticamente ninguém no município. Assim, precisa de lazer, e Barra do Garças proporciona uma gama de opções para os novatos. Exemplos: Parque Municipal das Águas Quentes, cacho-
eiras, serras e rios. Isso torna a cidade um atrativo turístico. De acordo com o secretário de Turismo do município, Claudio Picchi, o “boom” era nos meses de junho e julho (temporada de praia), porém, agora, como a cidade concentra um grande número de jovens, os pontos turísticos passaram a ter visitação freqüente.
Parque das Águas Quentes carece de cuidados.
Turismo Tanto é que graças a isso muitos bares, restaurantes e opções similares para de lanches abriram as portas na cidade. Afinal, o turismo chama pessoas e, consequentemente, elas consomem. Logo, a lógica do mercado se fortalece. Festas de segunda a segunda tornam-se normais. Porém, a juventude que vem de estados como São Paulo, Goiás e Tocantins é atraída também pela beleza que o município possui, expressa por paisagens natu-
Ana Flávia veio de Nova Xavantina e se encantou com as belezas naturais de Barra do Garças. 53 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
rais, com destaque para a Serra do Roncador e os rios Garças e Araguaia. Muitos jovens reúnem-se nos finais de semana ou feriados para aproveitar o que a cidade oferece. Fazem passeios até mesmo sozinhos. Ana Flávia Bigaton, de 19 anos anos, estudante de Biomedicina da UFMT, Campus Araguaia, veio de Nova Xavantina (MT) e desde que chegou a Barra do Garças procura visitar os principais pontos turísticos, principalmente as cachoeiras. “São lindas”. Ela acredita que a cidade tem “ótimas opções para todos” no que diz respeito ao turismo e que desde antes de vir para a região já conhecia suas principais atrações naturais.
Um dos locais mais visitados no município, o Parque Municipal das Águas Quentes, sofre com o descaso. De acordo com Claudia, de 18 anos, acadêmica de Comunicação Social (habilitação Jornalismo) da UFMT, Campus Araguaia, o local está “muito sujo”, o que afasta as pessoas. “Precisam cuidar mais do local. O cheiro insuportável de urina impede os visitantes de ficarem mais tempo por lá”. Ana Flávia também acredita que o ponto turístico precisa de mais cuidados, afinal, “é pago” (R$ 5 por pessoa; estudante desembolsa “meia”). Picchi responde que cuidar do local é “responsabilidade de todos” e não apenas da prefeitura e seus funcionários. Para ele, o cheiro forte e o lixo deveriam ser tratadas
Cachoeiras: belezas naturais visitadas pelos universitários.
Turismo DISCOPORTO
O SONHO QUE MORREU
Em 1990, o historiador Valdon Varjão, quando vereador de Barra do Garças, conseguiu aprovação legal para a instalação uma pista de pouso para discos voadores sob a alegação de que o município era pródigo em visitas de extraterrestres. Durante toda a década de 90 esse fato atraiu milhares de turistas para a região, que tiravam fotos no local, e inclusive levou o parlamentar à TV Globo para uma entrevista no “Programa do Jô”. Na ocasião, Varjão reafirmou a existência de extraterrestres em Barra do Garças. O fato, é claro, tornou a cidade conhecida no Brasil pelo misticismo. Atualmente, o discoporto está abandonado, praticamente do mesmo jeito desde sua inauguração, sem nenhum tipo de comércio no local. Picchi menciona que o ponto turístico continua a atrair muitas pessoas e que por enquanto não há planos da prefeitura para reformá-lo. Deixa, assim, implícito que a velha pista de pouso não sofrerá modificações, mesmo desgastada, contrariando “o sonho de Varjão”.
Não se tornou realidade o sonho de Valdon Varjão 54 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
também como prioridade para os visitantes. Por outro lado, várias cachoeiras localizadas na Usina de Barra do Garças são elogiadas pelos acadêmicos entrevistados. Para Claúdia, “com esse clima, com certeza passar mais tempo nas cachoeiras refresca mais”. Ana Flávia reforça: “São muito bem cuidadas”. Picchi também se rende à beleza das cachoeiras: “Muito lindas”. PONTOS TUIRÍSTICOS “PRENDEM” OS UNIVERSITÁRIOS A cidade, por ser pequena (população de 56.423 habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE) não possui shoppings, teatros, cinemas ou outro atrativo do tipo. Isso não impede que os estudantes de fora se divirtam e tenham o que fazer, tornando assim a adaptação mais rápida, exatamente por causa das opções naturais que o município possui. Rafael Brito Menezes, de 20 anos, estudante de Ciência da Computação na UFMT, Campus Araguaia, já morava em Barra do Garças antes do “boom” do Reuni. “Com tantas opções, como cachoeiras, o Porto do Baé, a Serra Azul, fica mais fácil para quem vem de cidade grande gostar daqui. Ter o que fazer ajuda.” Picchi aponta que os elogios são devido ao trabalho que a prefeitura realiza não só para os acadêmicos de fora, mas para a população como um todo, a fim de que possa usufruir do melhor da cidade. “Barra do Garças é belíssima, toda essa beleza natural que você encontra aqui não se encontra
“Barra do Garças é belíssima, toda essa beleza natural que você encontra aqui, não encontra em outros lugares, ainda há todo misticismo natural que a cidade tem. Para continuar assim, com certeza vamos precisar da colaboração de todos.” em outros lugares. Ainda há o misticismo natural que a cidade tem. As pessoas acabam deixando tudo mais bonito. Para continuar assim, com certeza vamos precisar da colaboração de todos.” Perguntado sobre se a prefeitura planeja realizar algum evento voltado aos universitários, o secretário responde que isto pode ser feito se as instituições de ensino apresentarem propostas. “Com certeza, iremos dar todo apoio necessário”. Picchi complementa dizendo que a economia local “cresceu muito” com a vinda de novos moradores e a tendência é aumentar com implantação de mais cursos. Acesse: http://anormal-anm.com
Festas
Vale do Araguaia é carente de eventos culturais Barra do Garças é chamada de cidade universitária, mas esse público tem como única fonte de entretenimento as festas semanais com bebida na faixa
A
Franscisco José
estrutura econômica de Barra do Garças mudou drasticamente após a chegada dos universitários. De acordo com o projeto de iniciação científica orientado pelo professor Hidelberto de Sousa Ribeiro (UFMT), Após o novo Enem a UFMT recebe inúmeros universitários de várias partes do país todos os anos. A vida universitária não é apenas estudo, mas também exige entretenimento. Barra do Garças ou Farra do Garças como é chamada por muitos, proporciona festas que em sua maioria utilizam a palavra “universitário” a fim de atrair esse público. 55 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Através de eventos como esse, os acadêmicos começam a procurar entretenimento, uma festa com o nome de universitária, 100% open bar (bebida na faixa) onde o público alvo são os chamados “nerds”. Agora os acadêmicos não dominam mais a sua faculdade apenas, eles também dominam as festas, que anteriormente eram feitas para outros públicos. Mas será que esse pessoal que está buscando formação acadêmica só se interessa por festas com as chamadas “bebedeiras”? Quais são as outras formas de entretenimento? Por que não trazer eventos diferenciados para a cidade? Por que não trazer eventos culturais? Conversei com Gracielle Soares, estudante de Comunicação social/habilitação em jornalismo na Gracielle Soares, universitária migrante de UFMT. Ela veio da cidade de Ilhéus – BA. Ilhéus - BA.
Festa universitária com bebida na faixa. Segundo Gracielle faltam eventos culturais na cidade, “eu era acostumada com Ilhéus, onde tinham peças de teatro toda semana, teatro de rua, aqui não vejo essas coisas. Leandro Nery é coordenador de cultura nas faculdades Cathedral, para ele, essa maneira única de se fazer eventos em Barra do Garças não mudará de uma hora para outra. Existe uma acomodação, “eles fazem, o público aceita, da retorno, então não é necessário fazer algo diferente”, afirma. “A palavra criar vem de crise, para que um desses produtores vai querer passar por uma crise se eles já tem tudo que querem?
Festas É preciso que outras pessoas que estejam dispostas a enfrentar essa crise para que um dia esse quadro venha mudar”, disse. Ele afirmou que o público para eventos culturais existe, os universitários não querem só as bebedeiras, mas eles ficam calados, consomem aquilo e ninguém fala nada, então é difícil mudar alguma coisa. “Não estou dando uma de santinho, mas, por favor, entretenimento não é apenas maneira de diversão, é através dele que as pessoas formam opiniões, ele é influente. O que o entretenimento aqui está trazendo para os jovens é: Beba até morrer e seja o mais promíscuo possível”. Sua análise continua com a produção de um evento cultural fazendo perguntas como: “Será que as empresas da cidade vão patrocinar algo diferente? Público tem, mas eles vêem isso? Nós temos um aeroporto aqui? casa de shows? O maior espaço é o Anfiteatro Fernando Perez de Farias (Prefeitura) capacidade para 290 pessoas. Local pequeno gera pouca venda de ingressos, se não tem aeroporto aqui, o artista vai descer em Brasília ou Goiânia, depois disso, você tem que pagar o ônibus dele ou deles. Poucas empresas patrocinando. Isso tudo faz com que no final o
preço dos ingressos fique bem mais caro que o normal, o que pode se tornar inacessível se o público a ser atingido é o universitário”, explica. A análise feita por Leandro foi uma forma de mostrar que a primeira coisa a ser feita é ter iniciativa do setor público, assim, eventos com conteúdo de qualidade poderão ficar mais acessíveis. Segundo ele é possível ter eventos culturais que sejam ao mesmo tempo “legais”. Está cheio de coisas boas e interessantes por aí, mas para que algo aconteça é preciso que o poder público olhe para a
56 | DEZEMBRO 2011 | FOCAIA EM REVISTA
Foto: Arquivo.
“Entretenimento não é apenas maneira de diversão, é através dele que as pessoas formam opiniões”.
Leandro Nery: Coordenador de cultura das Faculdades Cathedral.
cultura, mas ele afirma entender porque isso não acontece. “Não pode mexer com cultura, isso faz com que as pessoas pensem, reflitam, analisem, isso abre a mente do povo, cultura é altamente perigoso, por isso o poder público sempre a deixa de lado”, acusa. Leandro finaliza afirmando que o segundo passo seria trabalhar na mente das pessoas, os eventos culturais não emplacam do dia para a noite. “Com o tempo elas vão entendendo que isso é algo bom e os empresários percebem que existe outro ramo para se investir”, disse. Como diria Arnaldo Antunes. “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte.