10 julho 2016 n .1259
ENTREVISTA EXCLUSIVA CARMINHO & MARISA MONTE ANTES DOS CONCERTOS, UMA CONVERSA COM FADO, SAMBA, SAUDADE E AMIZADE
SEMANAL, ESTA REVISTA FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS N.º 53 773 E DO JORNAL DE NOTÍCIAS N.º 39/129. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE
NM1259_01_01_Capa LB.indd 1
05-07-2016 21:20:11
NM1259_03_Sumรกrio AP.indd 2
05-07-2016 21:11:52
10 de julho de 2016
CAPA JORGE SIMÃO
histórias da semana
Carminho e Marisa Monte
Uma fadista portuguesa e uma cantora brasileira juntam-se para uma conversa e dois concertos em Portugal.
Samurais urbanos
Rigor, disciplina, concentração, autoconhecimento. Em Lisboa, há quem ensine a via do guerreiro aos samurais modernos.
Perigo à beira da piscina
Obsessão com a alimentação
Cursos de sobrevivência para bebés de meses ou crianças até 6 anos. Objetivo: sobreviver a um afogamento.
Quando é que um estilo de vida saudável deixa de o ser? Quando a preocupação com o que se come vai longe demais.
22
34
40
58
Inácio Dias é mestre da única escola em Portugal que segue os preceitos originais dos antigos samurais. PÁGINA 34
e ainda OPOSTOS
HOBBY
LIÇÕES DE VIDA
MOTORES
BELEZA
BEM-ESTAR
RECEITAS
Em dia de final do Euro 2016, um fã fervoroso de futebol à conversa com um alérgico ao jogo.
Miguel Stanley é dentista, mas a paixão pela música pode vir a ser mais do que um hobby.
O fotógrafo Carlos Ramos e o que a vida lhe ensinou em 30 anos atrás da câmara.
Estes são os descapotáveis mais pequenos do mercado. No tamanho e no preço.
O que diz o seu cabelo de si? E os gestos que faz com ele, o que denunciam?
As melhores aplicações de smartphone para este verão. É só descarregar.
Em vez de salada de fruta, que tal salada com fruta. Receitas originais.
10
14
16
47
50
54
56
CRÓNICAS MANUEL JORGE MARMELO 8; ANA SOUSA DIAS 20; PAULO FARINHA 62; FERREIRA FERNANDES 66
www.no ticiasmagazin e .com NOTÍCIAS MAGAZINE 3
NM1259_03_Sumário AP.indd 3
05-07-2016 21:16:33
EDI TORIAL
Portugal moderno nos relvados do Euro
Uma equipa misturada como sempre, representada como nunca. O Portugal do futuro e efeito da nossa história. Qualquer que tenha sido o resultado. CATARINA CARVALHO DIRETORA NOTÍCIAS MAGAZINE
N Na altura em que escrevo não sei ainda se esta é uma crónica de despedida ou alegria. Andava para fazê-la desde o jogo de preparação para o Euro 2016, aquele em que ganhámos por 7-0 à Estónia, e vi pela primeira vez esta seleção nacional ao perto. Vi o jogo entre americanos, de visita a Portugal. «So much diversity in the field», disse-me um deles. Tanta diversidade no campo. Sendo eles americanos, de Washington, e jornalistas, eles estavam porventura com o olhar mais atento a este tipo de questões. Expliquei-lhes, então, a origem de todos. E dei por mim a contar nada mais nada menos do que a história do Portugal contemporâneo. Contei-lhes como esta equipa é o
resultado das forças centrífugas e centrípetas que fizeram de nós o que somos. Os que ganhámos, pela força de 500 anos comuns com os países deles ou dos pais deles: o filho de são-tomenses e cabo-verdianos, Renato Sanches, o filho de cabo-verdianos Eliseu, os guineenses Danilo e Éder, o portuense com origem moçambicana João Mário, o luandense William Carvalho, o cabo-verdiano Nani… O naturalizado português Pepe – esse que grita o hino nacional mais alto do que todos os outros. A origem cigana de Quaresma, cuja comunidade é tão fechada como sempre foi, mas deu uma família de jogadores de truz. Falei-lhes também das ilhas, de onde vem Cristiano Ronaldo, da Madeira. De como ele começou a jogar na rua em Santo António, bairro paupérrimo do arquipélago, do menino pobre com família forte e tão portuguesa – sobretudo a mãe, matriarca, essa Dona Dolores força da natureza, que lhe deu a rede, os laços e que o apoiou até chegar ao lugar de melhor do mundo, sem «o largar da mão», como ela própria diria na sua arrevesada pronúncia. Das outras ilhas, de onde vem Eliseu, um açoriano sui generis, mulato. A mãe é cabo-verdiana. Néne, ou Isabel Furtado é outro exemplo: vive em Angra desde 1980, tem um
restaurante a que chamou A Africana, e dedica-se a enviar contentores de ajuda para as suas ilhas – lava ela própria os bonecos de peluche que depois arranja para os meninos cabo-verdianos. Envolveu-se na vida da comunidade de tal maneira que, nas famosas marchas sanjoaninas da Terceira, a sua marcha chama-se A Marcha dos Amigos da Néne. Já a levou ao Carnaval do Mindelo, em São Vicente. Terminei a minha explicação com os portugueses filhos de emigrantes, esses que Portugal mandou embora e que regressaram pelo futebol e por esse estranho sentimento que se chama Pátria e resiste a muito. Cédric, Adrien e Raphaël Guerreiro. Um alemão e dois franceses que escolheram Portugal e nos dão oportunidade de reconhecimento à diáspora tantas vezes esquecida. O futebol é também fantástico por isto: porque põe este Portugal misturado, que aparece tão pouco nas notícias, nos relvados. Felizmente. Gostava muito de ser mosca e estar por dentro dos estágios da seleção, de ouvir do que falam, de os observar. Das bancadas, ou da televisão lá de casa, o que vejo é um Portugal moderno. Misturado como sempre, representado como nunca. O Portugal do futuro. Quer hoje seja um dia de felicidade, tristeza, sorte ou inevitabilidade, por isso lhes agradeço.
4 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_04_CronicaCatarina RB.indd 4
05-07-2016 21:24:24
NM1259_04_CronicaCatarina RB.indd 5
05-07-2016 19:52:51
LUGAR ES POUCO COMUNS
ISTO PODIA SER UMA SELFIE, MAS NÃO É Uma selfie com a mulher de corpo pintado em tons de floresta, evocando o imaginário encantatório dos contos de fadas, pode parecer irresistível num mundo que vive dentro das redes sociais. Mas para estes dois visitantes do World Bodypainting
Festival, em Poertschach, no lago Woerthersee, na Áustria, não foi. Preferiram que a artista que faz do corpo tela lhes tirasse um retrato. E um fotógrafo da Reuters apanhou o momento insólito. O World Bodypainting Festival
junta, desde 1998, no início de julho, artistas e amantes de pintura corporal de cerca de 50 países, a que acrescenta música, moda, criatividade e natureza, em três dias de celebração (e também competição) da
espetacular arte de pintar o corpo, num evento que atrai muitos milhares de visitantes. ONDE? Poertschach, Áustria. Texto Catarina Pires Fotografia Heinz-Peter Bader/Reuters
6 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_06_07_Lugares_LB.indd 6
05-07-2016 21:01:27
LUGAR ES POUCO COMUNS
NOTÍCIAS MAGAZINE 7
NM1259_06_07_Lugares_LB.indd 7
05-07-2016 19:20:33
crónica ilustrada MANUEL JORGE MARMELO escri tor
Psiquiatria
O
FOTOGRAFIA MANUEL JORGE MARMELO
defeito será meu, que os tenho em barda, mas não encontro nenhuma diferença substancial entre o sujeito que mata gritando um patético «Alá é grande» e o indivíduo que, após cometer um homicídio, profere uma frase tão ridícula quanto «O meu nome é morte aos traidores e liberdade para a Grã-Bretanha», conforme sucedeu com o patriótico assassino da deputada britânica Jo Cox. Nada que seja essencial distingue o norte-americano recalcado que atacou um bar em Orlando, o norueguês paranoico autor da matança num acampamento de jovens na ilha de Utoya, o japonês que planeava asfixiar os utentes do metropolitano com gás sarin e o francês que participou no massacre do Bataclan. O ex-soldado norte-americano Timothy McVeigh, responsável por 168 mortos e 850 feridos no atentado de 1995 em Oklahoma City, não é melhor nem pior terrorista do que os dois belgas que se fizeram explodir no aeroporto de Bruxelas – McVeigh foi apenas mais mortífero; e não tinha raízes muçulmanas nem usava o Corão para se justificar. Os assassinos do Charlie Hebdo e os assassinos do metro de Maelbeek partilham duas características fundamentais
com os anteriores: viram-se privados do traço racional de humanidade que impede os homens de se matarem uns aos outros; e não foram internados a tempo num manicómio. Como o Hamlet de Shakespeare ou o lavrador que abre a cabeça do vizinho à sacholada, o desvairado indivíduo que comete um ato terrorista é acima de tudo um louco que, em vez de receber os cuidados da psiquiatria, passou a contar nos últimos anos com o enquadramento institucional do ideal retorcido e doentio, de horror e morte, proclamado pelo chamado Estado Islâmico. É um pouco inquietante, por isso, que os terroristas islâmicos partilhem com o assassino de Jo Cox a mesma ideologia de ódio, intolerância, isolamento e xenofobia que a maioria dos ingleses expressou no recente referendo sobre a União Europeia. Entre o grupúsculo celerado que se propõe reconstituir o Al-Andalus, o Reino Unido orgulhosamente só, a Europa defendida por cercas de arame farpado e os EUA presididos por uma cabeça extravagante e misógina que reclama não haver ninguém melhor do que ele a construir muros – venha o diabo e escolha. A estupidez e a doença mental alastram como os fogos florestais nas tardes de verão.
NAS PRÓXIMAS SEMANAS: AFONSO CRUZ, ANA BACALHAU E JOSÉ LUÍS PEIXOTO
8 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_8_CronicaMJMarmelo RB.indd 8
05-07-2016 19:22:27
2016 Um prémio para apoiar pessoas com deficiência.
Candidaturas até 31 de Julho.
CAPAZES DE TUDO
Francisco tem uma deficiência mental e motora mas prova todos os dias que é capaz de tudo. Estuda, toca guitarra, nada, canta o fado e brinca, mas a sua maior capacidade é a de superar a própria deficiência. É para ajudar pessoas como o Francisco que o Prémio BPI Capacitar existe. Um prémio para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência ou incapacidade permanente. O Prémio BPI Capacitar destina-se a instituições privadas sem fins lucrativos, com sede em Portugal. O valor anual dos donativos a atribuir é no mínimo de € 500.000. Toda a informação sobre regulamentos e formulários de candidatura em bancobpi.pt
Vá ao facebook BPI Solidariedade e conheça a história de Francisco.
NM1259_8_CronicaMJMarmelo RB.indd 9
05-07-2016 19:22:27
OPOSTOS
Ver ou não ver esta final do Euro 2016... … eis a questão. Quer dizer, João Gonçalves e Rodrigo Nogueira não têm grandes dúvidas. O primeiro, informático, doente da bola, vai de certeza ver. O segundo, jornalista, não terá dificuldade em arranjar programa melhor. Texto Rui Pedro Tendinha Fotografia Leonardo Negrão e Jorge Amaral/Global Imagens
E JOÃO GONÇALVES
Informático de formação, é um rosto conhecido da Benfica TV, responsável pelo blogue clubista Red Pass. Durante o Euro escreveu para o blogue Parque dos Príncipes e fez comentários para a Rádio Euro. Além do futebol, faz a cobertura de festivais musicais no site Disco Digital.
stivemos um mês em frente à televisão a ver os jogos do Europeu de futebol e a ver mil e uma reportagens sobre os fait-divers da grande prova da UEFA. As análises, as entrevistas, os golos, os resumos, os festejos… Estivemos? Nem todos. Rodrigo Nogueira, jornalista, não tem particularmente orgulho em passar completamente ao lado do fenómeno do futebol, mas também não tem problemas em afirmar que hoje não vai estar colado a uma televisão para ver a final do Campeonato da Europa – mesmo que a equipa nacional esteja no Stade de France. Do outro lado, João Gonçalves é o típico aficionado de futebol. Para ele, o desporto é uma perdição, daquelas em que não há nada a fazer. Sabe tudo sobre táticas, jogadores e historial do desporto que considera o mais belo. Apesar de ser um benfiquista dos sete costados, garante que aquilo que o move é a paixão pelo futebol como um todo. Nas últimas semanas, viu todos os jogos da Copa América e do Euro. É fanático a ponto de dizer: «Olho para pessoas como o Rodrigo e penso que poderia ser tão mais feliz se não gostasse tanto de futebol. É como se fosse uma doença, ou melhor, é mais um modo de vida. Tudo na minha vida é em função do futebol. A minha vida são intervalos entre os blocos de noventa minutos de cada jogo. O que quero é ter saúde para chegar ao dia do jogo bem-disposto. Depois de acabar um jogo é uma chatice: temos de viver e esperar até ao próximo.» Rodrigo sorri e não se desmancha. Jura não ter clube e só uma vez foi a um estádio ver um desafio. E não
SUPERADEPTO DE FUTEBOL V 10 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_10_11_Opostos RB.indd 10
05-07-2016 21:03:26
percebeu o que por lá se passava. Não entende mesmo nada dessa coisa de 22 homens de calções atrás de uma bola.Diz que não tem pena de ser excluído nas conversas futebolísticas (o telemóvel, garante, salva-lhe agora a vida...) e que não decora nenhum nome de jogador (só mesmo o de Ronaldo por razões óbvias). «Não me sinto, ainda assim, ostracizado perante os outros. Aliás sinto é que ostracizo os outros quando falo de um nome de uma banda ou de um ator que desconhecem...» A paixão de Rodrigo é precisamente o cinema e a cultura pop musical. Mas... nem os jogos da seleção nacional? Nem com a companhia dos amigos e uns copos? «Não consigo mesmo ter concentração para olhar para aquilo. E se for para estar a beber copos, não resulta porque bebo rápido e, depois, tenho de ir buscar mais um. E também não festejo quando há golos... Sinto aquela vibração da dúvida se a bola entra ou não, mas depois não me faz diferença nenhuma.» A prova disso: no jogo Hungria-Portugal foi ao barbeiro – que também não gostava de futebol. E, na prática, isso resulta em dificuldades em estar com os amigos? Depende. «Eu não sou de jantar tarde e em dias que há bola eles marcam jantares para às 11h00. Vou lá ter depois! O facto de não perder tempo a ver jogos faz-me ganhar muito tempo de qualidade de vida.» Só não tem é paciência para os festejos ruidosos. «Ajuntamentos no Marquês de Pombal, ainda vá. Não posso é com pessoas a buzinar e a dizer “o meu clube ganhou”. Ok, está bem, fixe! Mas não me chateiem com isso”.» João solta uma gargalhada, divertido. Para ele, é mesmo estranho ouvir tudo aquilo, embora também se queixe do protagonismo que o Euro 2016 teve em termos mediáticos. «Todas essas reportagens e curiosidades sobre os bastidores da provam o que sempre penso: o pessoal que só liga ao Euro é pessoal que não gosta, afinal, de futebol. Quem gosta de futebol não quer saber se o autocarro da seleção já partiu.» João Gonçalves é um amante honrado desta modalidade. O facto de nunca perder um jogo do seu Benfica é coisa que a namorada já percebeu ser regra do jogo. Dele. Rodrigo, por seu turno, garante que todas as namoradas percebiam mais de futebol do que ele. Uma garantia dita com orgulho por alguém que nunca vibrou com golos. No final do encontro, Rodrigo não ficou com nenhum cachecol de clubite do João. E, tanto quanto sabemos, este não conseguiu convencer o primeiro a ver o jogo de hoje.
RODRIGO NOGUEIRA
Jornalista especializado em showbizz, ganhou alguma notoriedade como autor de um podcast intitulado Até Tenho Amigos Que São, onde convida várias figuras da cultura pop para conversar... Ocasionalmente é DJ em eventos especiais.
À data de fecho desta edição, terça-feira passada, não sabíamos ainda se a seleção nacional venceria a meia-final contra o País de Gales e se se apuraria para a final de hoje.
L VS. ALÉRGICO AO FUTEBOL NOTÍCIAS MAGAZINE 11
NM1259_10_11_Opostos RB.indd 11
05-07-2016 19:37:49
ALMANAQU E
PEDRO M A RTA S A N T O S A N A L IS A MOD A S E T ENDÊNCI A S D A SEM A N A
O VERÃO DO NOSSO C O N T E N TA M E N T O NO ATLANTIS THE PALM, NO DUBAI, AS JANELAS DO WC SÃO AS DA LAGOA PRIVADA DO HOTEL.
A CASA DE BANHO DO HOTEL Os WC em verão pode ser um pesadelo. Nem todas! As casas de banho do Ritz de Paris têm torneiras em folha de ouro e forma de cisne, roupões fofinhos e cordas majestosas junto à banheira que eram usadas para pedir um Martini ao mordomo. Mas nenhuma banheira/jacuzzi rivaliza com a Underwater Suite do Atlantis The Palm, no Dubai (atlantisthepalm.com/pt), cujas janelas do WC são as da lagoa privada do hotel, com mais de 65 mil espécies marinhas – é possível tomar banho enquanto contempla raias e tubarões. Em Portugal, poucas banheiras rivalizam com a de imersão de cobre, decorada a pétalas de rosa da Suite Bacchus do The Yeatman, em Gaia, encostada a uma lareira em terraço coberto privado com fonte e cama giratória. Há um extenso «programa romântico», com preços a partir de 1400 euros/noite.
OS ÓCULOS DE SOL Para o necessário style estival, um bom par de óculos de sol é obrigatório, mesmo que não veja um boi à frente e tropece na toalha da primeira loira sexy ou do moreno espadaúdo que pretende impressionar. Um bom princípio (ou fim, já que lhe custam os olhos da cara que tentava encobrir) é a edição especial dos novos Tom Ford, banhados de ouro rosa, com as lentes produzidas em Itália e protecção 1005 UV. Serão seus pela ridícula soma de 1750 euros. Pode também desistir de alugar um T0 para a família e dormir em parques de estacionamento. É uma questão de escolha.
A DISCOTECA
OS MAIS JOVENS, OU OS MAIS LOUCOS (AQUELES SUB-50 QUE SE JULGAM SUB-21), PODEM PROSSEGUIR A QUENTÍSSIMA SOIRÉE EM ALGUMAS DAS MELHORES DISCOTECAS À FACE DA TERRA. PARA A LUXATIC, REVISTA DIGITAL DEDICADA A INSANIDADES CONSUMISTAS DE TODA A ORDEM E FEITIO, OS CLUBES NOTURNOS DE TOPO INCLUEM O LENDÁRIO SPACE, EM IBIZA, O GIGANTESCO HAKKASAN, EM LAS VEGAS – FAZ PARTE DO COMPLEXO DO MGM GRAND HOTEL & CASINO –, E O GREEN VALLEY (GREENVALLEYBR.COM), EM CAMBORIÚ, NO ESTADO BRASILEIRO DE SANTA CATARINA. JÁ OS VERDADEIROS ESPECIALISTAS, OS DA DJMAG, ELEGEM TAMBÉM O SPACE E O GREEN VALLEY, MAS ACRESCENTAM OUTRO HISTÓRICO DA NOITE DE IBIZA, O AMNESIA, NÃO SE ESQUECENDO DE UM TAL LUX, A DISCOTECA LISBOETA QUE SUBIU 36 LUGARES NO RANKING DA ESPECIALIDADE PARA UM MAIS DO QUE HONROSO 58.º POSTO.
12 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_12_13_Almanaque_AP.indd 12
05-07-2016 19:18:56
PUBLICIDADE
O restaurante
CHIADO TEATRO S. LUIZ
Depois dos daiquiris, das margueritas, dos burritos ou dos gins em copos redondos do tamanho de vasos que vai emborcando à dúzia no bar do areal, poderá sempre arrastar-se até ao duche, vestir a melhor camisa que sobrou do verão passado e aventurar-se num restaurante ao ar livre – comer fora em destinos turísticos durante julho ou agosto é uma epopeia digna dos heróis gregos. Mas, ao contrário desse génio da literatura lusófona, Pedro Chagas Freitas, será incapaz de falhar caso opte pelo SIERRA MAR, O RESTAURANTE DO POST RANCH INN, EM BIG SUR, costa norte da Califórnia – a vista é de morrer e ir para o céu das mesas panorâmicas (postranchinn.com). O La Chèvre d’Or (chevredor.com), no topo de uma colina da vilazinha de Eze, Côte D’Azur, França, oferece comida estrelada por todos os guias e uma enorme varanda despojada sobre o Mediterrâneo. Num caso ou outro, leve vários cartões de crédito ou peça um empréstimo ao banco.
BILHETES: NORMAL 20€ - ESTUDANTE 5€
ENCONTROS DA FUNDAcAO
QUE democracia?
7/10/2016 A PRAIA
Que tal um roteiro por algumas das melhores praias do mundo? Podemos começar por Lanikai, um dos mais belos areais do planeta, na ilha havaiana de Oahu. O Panamá também fica longe, mas com tendas de aluguer a 15 euros/noite e quartos duplos a 60 euros no Palmar Tent Lodge (www.palmartentlodge.com), o paraíso da Starfish Beach em Isla Cólon fica dentro do budget. Em alternativa, há cerca de cinquenta praias do outro mundo (com o sol e a água deste) em El Nido, Palawan, nas Filipinas. Para os que ficam pelo Algarve, experimentem, no Barlavento, a praia da Salema ou, no Sotavento, os areais entre Cacela Velha e a Praia do Barril.
NM1259_12_13_Almanaque_AP.indd 13
MARIO VARGAS LLOSA IAN SHAPIRO Chantall Mouffe O DEBATE SAI A RUA 8 Conferências - 14 oradores
BILHETES A VENDA EM:
WWW.FFMS.PT Parceiros
Media Partner
Apoios
Apoios Institucionais
05-07-2016 19:18:57
HOBBY
Miguel Stanley O dentista rocker prendeu os primeiros acordes com 9 anos, quando veio com a família da África do Sul para Portugal. Filho de pai português e mãe inglesa, Miguel Stanley começou a compor os primeiros temas com 13 anos. Aos 17 anos, viveu alguns meses em Paris e tocava guitarra nas ruas para ganhar algum dinheiro. A paixão pela profissão de dentista chegou depois. Hoje com 43 anos, o dono da White Clinic raramente vai a casa de amigos «e não pego na guitarra». Além da cozinha, garante, é a forma de descansar e tirar a cabeça do que faz. Nas palestras e eventos internacionais relacionados com medicina dentária, costuma animar os colegas com a sua música. Em 2010, Stanley gravou em Londres um álbum de originais, ainda sem nome, que promete «mostrar ao mundo em breve». Mas viver da música não está nos planos do dentista. «Acho que ainda é cedo para pensar nisso.» As inf luências musicais são distintas. De Pink Floyd a Bruce Springsteen, de Bob Dylan a AC/DC, da «velha guarda», aos mais recentes, como Coldplay, Foo Fighters ou mesmo Lady Gaga. «Gosto de tudo o que me faça dançar, mas as letras [das canções] são muito importantes.»
COLEÇÃO
Com a primeira guitarra que comprou com o seu dinheiro, uma Palmer que lhe custou 15 contos (75 euros) em 1987. Atualmente tem sete.
TEXTO LUÍS SANTOS CASTELO FOTOGRAFIA LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS
A
14 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_14_Hobby_LB.indd 14
05-07-2016 18:15:31
NM1259_14_Hobby_LB.indd 15
05-07-2016 18:15:31
LIÇõ ES D E VIDA
Carlos Ramos
«A fotografia ensinou-me a observar as pessoas. A olhar verdadeiramente para elas. É quase como captar a alma dos outros.»
«
E
u gostava era de rua. De andar nas bicicletas, nos triciclos, jogar à bola.» Nascido e criado em Lisboa, Carlos Ramos, 52 anos, aprendeu desde cedo a observar tudo o que estava à sua volta. A paixão pela fotografia surgiu quando recebeu a primeira câmara, aos 15 anos. «Foi o meu pai que ma ofereceu, quando passei para o décimo ano.» No início, a fotografia era apenas um passatempo. Carlos queria ser arquiteto. «Mas como a média de arquitetura era altíssima, enquanto esperava para entrar, tive que fazer 18 meses de tropa.» Mas precisava de mais alguma coisa. «Inscrevi-me num curso de fotografia no IADE. Acabei por ficar como assistente e, um dia, quando uma aluna que eu fotografei foi chamada para uma agência de modelos, quiseram saber quem era o autor das fotos. Foi a minha primeira grande oportunidade: fotografar modelos e fazer books.» Hoje Carlos Ramos é uma referência na fotografia de moda em Portugal. Pelo estúdio com vista para o Largo do Carmo – onde, em tempos, viveu Fernando Pessoa – já passaram
64
LIVRO Número de páginas do livro 2013: Personal Works, com retratos de Diogo Infante, Catarina Furtado, Zé Pedro, Sofia Ribeiro, Dalila Carmo, Leonor Poeiras, Bárbara Guimarães, entre outros.
4 17
CÂMARAS Máquinas fotográficas que já teve. A primeira foi-lhe oferecida pelo pai, aos 15 anos.
FILHA Idade da filha única.
18
MORADA Número do apartamento no Largo do Carmo onde está instalado o seu estúdio. Alugou-o em 1997 e esteve anos sem saber que o espaço chegou a ser ocupado por Fernando Pessoa.
20
VIAGENS Já visitou vinte países. Só este ano, esteve no Brasil, nos Emirados Árabes Unidos e na Turquia.
TEXTO CAROLINA MORAIS
dezenas de figuras públicas. Com 25 anos de carreira, tem noção de que «é difícil ser-se fotógrafo em Portugal. Sempre foi. Agora qualquer um pensa que o pode ser, com uma máquina digital, um smartphone e o Photoshop. Isso preocupa-me.» Cuba, Caraíbas e Paris fazem parte dos seus destinos habituais para sessões fotográficas. Mas as viagens, por mais aliciantes que sejam, não são o que Carlos Ramos mais retira da profissão. «A fotografia ensinou-me a observar as pessoas. A olhar verdadeiramente para elas. É quase como captar a alma dos outros.».
16 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_16_LicoesVida LB.indd 16
05-07-2016 19:33:05
Crédito Automóvel
5.000€ a 50.000€ / 24 a 120 meses TAN desde 7,30% / TAEG desde 8,9% Para veículos novos
0€
de entrada e de comissão de abertura.
No Cetelem.
10.000€ 707 200 346
2ª a 6ª feira, das 9h às 20h.
cetelem.pt
(0,10€/min. redes fixas | 0,25€/min. redes móveis. Faturação ao segundo após 1º minuto. Acresce IVA à taxa em vigor.)
156,46€1 / 96 meses TAN: 7,79% TAEG: 9,2% MTIC: 13.914,48€2
Um crédito claro. No Cetelem. 1 2
O valor da mensalidade inclui seguro de crédito facultativo de 13,08€, não estando este valor refletido no MTIC e na TAEG. Montante Total Imputado ao Consumidor. Crédito sujeito a aprovação pelo Cetelem - marca do Banco BNP Paribas Personal Finance S.A.
NM1259_16_LicoesVida LB.indd 17
05-07-2016 19:33:05
FLASHBACK
1929 É antigo o amor dos portugueses ao futebol
Em dia de final do campeonato da Europa, memória de um Portugal-Espanha de 1929. Antes da invenção da televisão, a Avenida da Liberdade encheu-se de gente que acompanhou as jogadas num quadro elétrico do Diário de Notícias. Texto Catarina Pires Fotografia Arquivo DN
A
seleção portuguesa enfrentava em campo a vizinha Espanha. O resultado foi um fracasso para Portugal – 5-0 –, mas o «senscional acontecimento» que juntou dezenas de milhares de pessoas na Avenida da Liberdade, em Lisboa, assim como no Porto e em Faro, para verem a «reprodução» do jogo através dos quadros elétricos do jornal, constituiu um «exito jornalístico sem precedentes». «Devido ao nosso jornal, o país inteiro teve com fulminante rapidez,
conhecimento das fases principais da grande batalha desportiva que ontem se travou em Sevilha. Centenas de telegramas de todas as províncias disseram-nos do extraordinário entusiasmo com que, por toda a parte, o nosso esforço foi coroado.» A notícia prossegue em tom entusiasmado, dando conta da enorme multidão que se juntou na avenida e do júbilo com que assistiu às movimentações da bola, que o jornalista relata, quase indiferente ao desastroso resultado nacional. Mais do que o jogo de futebol, que todos
MULTIDÃO A «colossal assistência» foi filmada por um operador cinematográfico. Para a posteridade.
«viram» e ouviram com emoção, a exaltação provinha do «quadro elétrico», onde se iam desenhando as movimentações da bola e dos jogadores em campo (os televisores estavam ainda em processo de invenção e desenvolvimento). «O quadro electrico obteve ontem uma das suas maiores consagrações, o que nos leva a formular, com alegria incontida, o nosso agradecimento à população de Lisboa pela verdadeira apoteose que ontem promoveu ao nosso esforço e ao nosso sinceríssimo desejo de a bem servir.»
18 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_18_Flashback_LB.indd 18
05-07-2016 21:09:40
NM1259_18_Flashback_LB.indd 19
05-07-2016 18:18:50
o fator humano ANA SOUSA DIAS jornalista
«
É
E agora tenho de voltar lá
uma daquelas coisas do Siza, ele já me explicou três vezes vontade de ir a Santo Tirso, mas era de noite e havia mais coisas e ainda não consegui perceber.» Na fotografia, um por- para ver no nosso plasma. menor do exterior do Museu Internacional de Escultura Portanto, no dia seguinte rumei a Santo Tirso. Queria ver a arContemporânea de Santo Tirso, uma coisa tão ligeira que eu não queologia, as esculturas contemporâneas, os dois museus e, cladaria por ela se não fosse a divertida conversa de Eduardo Souto ro, aquele pormenor de que Souto de Moura falou com tanta grade Moura na última noite da apresentação internacional da Casa ça. A estrada estava quente, o ar condicionado a equilibrar no inda Arquitetura, no fim de semana passado, em Materior, e num instante cheguei. Tinha ido antes ver a tosinhos. A sala estava cheia de arquitetos, só faltaexposição de Álvaro Siza em Serralves, no meio das É COMO SE SANTO vam os três italianos que tinham ficado diante do muitas pessoas que faziam esse mesmo passeio, até TIRSO FOSSE UM plasma gigante do restaurante a sofrer com o jogo porque era o primeiro domingo do mês e portanto a contra a Alemanha. Nós espreitávamos os telemó- MUSEU A CÉU ABERTO, entrada era gratuita. Lembrei-me da frase que ouveis à espera de notícias que tardavam. Vão a penál- A CIDADE QUE SEMPRE vi no dia anterior, dita pelos arquitetos – peço destis, o que nos fazia lembrar a Polónia uns dias antes culpa, não me lembro de qual, mas havia consenso: IMAGINEI COM e o voo de Rui Patrício. inacreditável em Siza é que ele foi precoce a vida FÁBRICA DE TÊXTEIS otoda. Adiante. Estava no plasma ainda mais gigante Desde que, ainda estudante, imaginou a Caà frente dos nossos olhos aquele pormenor do mu- A PRODUZIR TECIDOS. sa de Chá da Boa Nova, felizmente hoje por ele recuseu concebido por Álvaro Siza e Souto de Moura, perada e a funcionar, até agora, às sucessivas obras AGORA JUNTOU não propriamente a quatro mãos porque cada um que cria pelo mundo fora. A ESCULTURA fez uma parte e juntaram-se no ponto onde as duas E isso percebe-se na pequena exposição de SerCONTEMPORÂNEA ralves, alas se ligam. O conjunto foi inaugurado em maio, onde vemos sobretudo moradias feitas desde NUM DOIS EM UM mas a história começou há 25 anos, quando o esos anos 1960 e também os desenhos para o edifício cultor Alberto Carneiro propôs à Câmara de Sanda própria fundação. Os primeiros esboços, os deseCOM O MUSEU DE to Tirso fazer um simpósio de escultura. E agora nhos no meio de cálculos, os recantos, as janelas, as ARQUEOLOGIA. é como se Santo Tirso fosse um museu a céu aberescadas, os espaços de jardim, a dimensão humana. to, aquela cidade que sempre imaginei com fábrica de têxteis a Os pormenores. Como o que me levou a Santo Tirso naquele doproduzir quilómetros de tecidos. Agora juntou a escultura con- mingo de calor intenso e sufocante, no domingo passado. No fim temporânea num dois em um com o museu de arqueologia Aba- de contas, a única coisa que vi, naquele volume encostado ao Mosde Pedrosa. Souto de Moura mostrou imagens das vitrinas sus- teiro de São Bento onde a missa decorria, foi o pormenor, aquele pensas onde cerâmicas antiquíssimas repousam e se mostram, ressalto, não sei como chamar-lhe, aquele gesto talvez. Mas estanaquela noite em que os alemães conseguiram ultrapassar os vam 35 graus à sombra e o museu só abria às duas da tarde. E o reitalianos. Só a ideia das vitrinas suspensas, mágicas, dava logo gresso a Lisboa era necessário. E agora tenho de voltar lá.
20 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_20_CronAnaSousaDias_AP.indd 20
05-07-2016 19:31:06
NM1259_20_CronAnaSousaDias_AP.indd 21
05-07-2016 19:31:06
EXCLUSIVO
"A GENTE SE A DOR A"
22 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 22
05-07-2016 21:10:34
No final do mĂŞs, a fadista Carminho e a cantora brasileira Marisa Monte sobem ao palco juntas para dois concertos em Portugal.
NOTĂ?CIAS MAGAZINE 23
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 23
05-07-2016 20:46:19
C&M EXCLUSIVO
O QUE UNE O FADO AO SAMBA? CARMINHO E MARISA
MONTE GARANTEM
QUE JÁ DESCOBRIRAM. DESDE QUE SE CONHECERAM, EM 2013, NÃO MAIS SE LARGARAM. PELA PRIMEIRA VEZ ESTARÃO JUNTAS EM PALCO, NO EDP COOL JAZZ FEST, EM OEIRAS, DIA 27, E NO PORTO, DIA 30. VÃO CANTAR MAIS TEMAS DO QUE ESTAVA PREVISTO E GARANTEM QUE SERÃO MOMENTOS ÚNICOS. FALARAM, EM EXCLUSIVO PARA A NOTÍCIAS MAGAZINE, DO TRABALHO EM CONJUNTO, DO QUE AS UNE E SEPARA, DA INFÂNCIA, OS ESPETÁCULOS QUE FAZIAM PARA OS PAIS, INÍCIO DAS CARREIRAS E PROJETOS. MARISA GOSTAVA DE CANTAR COM ZAMBUJO, CARMINHO LANÇA EM DEZEMBRO UM NOVO DISCO DE TOM JOBIM. Entrevista
Catarina Guerreiro e Margarida Brito Pais Fotografia Jorge Simão
24 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 24
05-07-2016 20:46:19
M
As fotografias desta entrevista foram feitas no encontro relâmpago que as duas tiveram, em casa de Carminho, em março, quando Marisa esteve em Portugal para o concerto com Seu Jorge.
1Falta pouco para cantarem juntas ao vivo. O que esperam deste concerto? Marisa Monte: Vai ser lindo e emocionante para nós e para o público. Porque a gente andou se encontrando, cantando juntas, a gente se adora. Vai ser um grande prazer estar com a Carmimho no palco. Carminho: É uma alegria fazer parte deste concerto. E a junção será uma surpresa a quem já gosta do repertório da Marisa Monte. Vai haver qualquer coisa de diferente. Vai ser um momento de muita alegria, muita emoção, muito amor partilhado e de boa música – eles são músicos inacreditáveis. E espero fortalecer ainda mais as relações que tenho com a Marisa. 1Conheceram-se em 2013. Como é que isso aconteceu? Marisa: A Carminho foi no meu show no Rio de Janeiro, depois encontrámo-nos várias vezes em minha casa para cantar, para ouvir música.
Carminho: Fui ter com a Marisa num concerto no Vivo Rio e disse-lhe que era superfã e que gostava de a conhecer melhor. Convidou-me para almoçar em casa dela. Quando cheguei estava lá um músico, o César Mendes, que fez parte dos Tribalistas, e começámos a cantar músicas. Começámos a ver coisas que ela tinha no «baú». Algumas inéditas que não tinham saído e outras por acabar. Foi de uma generosidade como artista que me comoveu e me fez adorá-la. Foi um sentimento recíproco e desde aí não parámos de nos ver. Quando estou no Brasil costumo ir a casa dela, até já conheço os filhos, que também cantam. Fazemos uns saraus de música, estamos juntas, cantamos, rimos. Marisa: Sempre que a Carminho vem ao Brasil ou eu vou a Portugal a gente tenta se encontrar. Já tem dois anos que nos temos encontrado constantemente. 1Quantas músicas vão cantar? Marisa: Temos várias músicas que gostamos de cantar juntas, que naturalmente
vão estar no palco. Uma das preferidas é a que a gente cantou junto no disco da Carminho, Chuva no Mar. Carminho: A Marisa pediu para eu escolher e apareci com uma lista de duas ou três músicas de que eu gostava. Mas depois começámos a dizer: «E se cantássemos esta e mais esta...» 1Agora que vão cantar juntas, que existe esta fusão, quais sentem que são as diferenças e as semelhanças entre a música portuguesa e a brasileira? Marisa: Têm muita coisa em comum. Muita da música brasileira tem uma influência grande da música portuguesa, através da própria presença do violão como instrumento central. E depois há toda a influência moura, uma certa melancolia que existe na música brasileira e que eu identifico também na música portuguesa, uma coisa sentimental. Carminho: O fado e o samba de raiz, o samba mais antigo, são dois estilos musicais que NOTÍCIAS MAGAZINE 25
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 25
05-07-2016 20:46:23
EXCLUSIVO
NA CASA DE CARMINHO, EM LISBOA, AS DUAS TRAUTEARAM MÚSICAS: VILAREJO E O FADO SAUDADES DO BRASIL EM PORTUGAL.
26 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 26
05-07-2016 20:46:37
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 27
PUBLICIDADE
se podem ligar por terem temáticas e acordes em comum. Além disso, o mar condiciona muito estas músicas. E há instrumentos acústicos, como o bandolim, que, apesar de não ser igual à guitarra portuguesa, tem uma coisa mais aguda, mais melancólica, mais chorada, como a guitarra portuguesa. Eles usam o violão, nós usamos a viola com cordas de aço, mas é o mesmo instrumento. A sonoridade tem alguma coisa que ver. Depois, a forma como as letras são cantadas: há a língua que nos junta e há qualquer coisa em termos geracionais, dos anos 30, 40 e 50, que fez que a escrita tivesse uma temática parecida. Até porque os dois géneros nasceram em bairros pobres. 1E qual é a principal diferença? Carminho: São dois estilos diferentes. Aliás, não estão a ligar-se, a fundir dois tipos de música. Não é misturar fado. Trata-se de interpretar vários estilos musicais diferentes. Mas, como nasci no fado, de alguma maneira, intuitivamente e inconscientemente interpreto outras canções com algo que nasceu comigo. A forma como eu canto é que dá a entender que haverá algum fado por trás, mas não estou a cantar fado, estou a cantar outros estilos musicais e outras canções. Não tenho pretensão de mudar o fado. O tempo é que diz o que é que muda o fado. Marisa: O tamanho dos países. A diversidade da música brasileira pelo tamanho geog ráfico. É difícil falar da música brasileira sem falar da diversidade, da variedade. É um país grande, com muitas influências internas, desde os africanos, os indígenas e os povos locais até aos estrangeiros todos que chegaram ao Brasil. Além disso, é um país muito aberto a influências externas e sabe processá-las e criar géneros originais. É diferente, até porque é um país mais jovem, mais novo, Mas a tradição de Portugal é admirável, o facto de ser mais tradicional. São coisas diferentes mas igualmente belas. 1É a diversidade do Brasil e o lado tradicional de Portugal que tornam o samba alegre e o fado triste? Marisa: Mas vocês também têm músicas portuguesas felizes, têm alguns ritmos bem animados, também. Carminho: Há o samba canção, e a Marisa tem essa cultura do samba de raiz, que trata de coisas mais melancólicas. O fado nos tons maiores é mais nostálgico, mas não deixa de ter uma carga emocional. Eu costumo dizer que os portugueses cantam a alegria em tom menor e os brasileiros a tristeza em tom maior.
05-07-2016 20:46:44
1Marisa, tem alguma música portuguesa preferida? Marisa: O fado. Acho lindo. Acho interessante porque é um género sempre em evolução, em que as pessoas vão fazendo novas letras, a maneira como o próprio intérprete se relaciona com os temas tradicionais, podendo interferir, criando novas letras. Acho isso fantástico. 1E a Carminho, qual a música brasileira de que mais gosta? Carminho: Essa é uma questão muito difícil. Mas gosto muito, por exemplo, de Folhas Secas, de Nelson Cavaquinho, que é maravilhoso. Ou As Rosas não Falam, do Cartola. Há também uma música ótima, que eu e a Marisa vamos cantar, que se chama Carinhoso, do disco Coleção. 1Há algum fado da Carminho de que a Marisa goste especialmente? Marisa: Eu fui no show dela e gostei de tudo, achei-a maravilhosa. 1E que canção da Marisa mais aprecia, Carminho? Carminho: Há uma, Verdade, Uma Ilusão... E o Infinito Particular. E o Primeira Pedra, que vou cantar também com ela. Gosto de muitas. 1Com quem gostariam de fazer um dueto que ainda não fizeram? Marisa: Com o António Zambujo. Gosto de uma coisa que ele e a Carminho têm, que é uma clareza, o canto deles é confortável. Carminho: Eu já cantei com Milton Nascimento, Chico Buarque, Caetano Veloso e Nana Caymmi. E agora estou a fazer um disco só do Tom Jobim. Foi um convite da família Jobim para fazer um disco com o repertório dele. E terá a participação de elementos que eram da banda dele antes de morrer, incluindo o Jaques Morelenbaum, o Daniel Jobim (neto) e o Paulo Jobim (filho). Além disso, o disco tem três convidados que são dos maiores artistas do Brasil, mas ainda não posso revelar. O disco sai cá no Natal e em janeiro no Brasil. Mas neste momento ainda estou a gozar o que me está a acontecer e a aproveitar. 1Qual é o palco em que mais gostam de cantar? Marisa: Em teatros, onde as pessoas veem o show de frente. No Brasil tem uma tradição muito grande de casas de show com mesas, mas eu prefiro muito mais teatros. Também gosto de lugares em que as pessoas estão em pé, mas não tenho muito uma preferência por um palco específico. Já cantei em tantos lugares tão lindos. É claro que quando a acústica é boa e quando o lugar tem uma atmosfera boa para escutar música,
RUI MANUEL FONSECA/GLOBAL IMAGENS
«O FADO NOS TONS MAIORES É MAIS NOSTÁLGICO, MAS NÃO DEIXA DE TER UMA CARGA EMOCIONAL. EU COSTUMO DIZER QUE OS PORTUGUESES CANTAM A ALEGRIA EM TOM MENOR E OS BRASILEIROS A TRISTEZA EM TOM MAIOR.» CARMINHO
Carminho passa praticamente metade do ano a dar concertos no Brasil.
melhor, mas a gente aprende a fazer em qualquer lugar. Carminho: Lisboa e Portugal, são sempre lugares especiais. Lá fora não esqueço três salas: Vienna Concert House, que dizem ser uma das mais espetaculares da Europa em termos acústicos, a Filarmónica de Colónia, onde foi gravado o The Köln Concert, um dos meus discos favoritos, do Keith Jarret, um pianista de jazz, e agora mais recentemente uma das salas mais espetaculares onde cantei foi no CCK na Argentina. 1Lembram-se da primeira vez que cantaram ao vivo?
28 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 28
05-07-2016 20:46:48
EXCLUSIVO
Carminho: Fado do Embuçado, no Coliseu dos Recreios, quando tinha 12 anos, numa festa de angariação de fundos para o Jardim Zoológico. Pedi aos meus pais para ir, mas antes tive de passar por uma audição com o músico Paquito, guitarrista da casa de fados dos meus pais. Ele deu o aval, disse que eu era afinada, e lá me deixaram cantar. Marisa: Foi Águas de Março, nos anos noventa, com o projeto Red Hot Project, que existe até hoje, de prevenção e pesquisa da sida. Esse foi o primeiro projeto, o último foi o da Carminho. Há cerca de um ano e meio saiu no disco dela uma música minha e do Arnaldo [Antunes], Chuva no Mar.
Por isso, tem um espaço de tempo de 25 anos, entre a primeira e a última música. 1E qual foi a sensação de estar no palco do Coliseu com 12 anos? Carminho: Foi muito, muito importante. Tive algum medo, não de cantar em cima do palco, mas relacionado com coisas que não interessavam nada, como a roupa e as sabrinas que eu não queria calçar porque me apertavam os pés. Mas essas eram as coisas que eu entendia. Além disso, cantar era o que eu sabia fazer. Hoje vejo que aquele momento me marcou, me inspirou e me fez perceber que o palco era o lugar onde queria estar.
1Na infância, o que gostavam de ouvir? Marisa: Os Novos Baianos, Roberto Carlos, Secos e Molhados, que era uma banda de que Ney Matogrosso fazia parte, que tinha muito sucesso no Brasil nos anos setenta. Ouvia também Caetano e Gil, muito samba, muito jazz e muita música clássica, o que os meus pais ouviam. Carminho: Lembro-me que ouvia imenso, com os meus irmãos, o disco A Kind of Magic, dos Queen, e também o Sultans of Swing, dos Dire Straits. E depois ouvia fados da minha mãe [a fadista Teresa Siqueira], como O Vento Agitou o Trigo. Na época, eu ouvia essas músicas sem perceber que NOTÍCIAS MAGAZINE 29
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 29
05-07-2016 20:46:51
EXCLUSIVO
eram diferentes, eu não percebia que Queen era diferente de fado, achava que tudo era música. Depois comecei a ouvir músicas brasileiras por causa das novelas. 1E já em crianças atuavam em casa para os vossos pais? Marisa: Os meus pais não são músicos, mas gostam muito de música. Nós sempre estudámos música em casa, eu e as minhas irmãs fazíamos umas brincadeiras de teatro ou de música, mas era mais uma coisa lúdica, que toda a criança faz. Carminho: Fazia saraus. Era uma coisa normal na minha família. No Natal e na Páscoa havia sempre números musicais e
artísticos com irmãos e primos. Era superdivertido. A primeira música que cantei na vida foi um fado. Tinha 6 anos. Os meus pais dizem que fui à cama deles e cantei um fado tradicional que ouvia na rádio… Marisa: Eu não lembro a primeira música que cantei. 1Sempre souberam que queriam ser cantoras? Marisa: Não… mais ou menos. Dos 14 até aos 19 anos estudei música. Com 16 eu tive uma confeção de bijutaria, coisas em couro. Sempre fui muito trabalhadora, muito produtiva. Mas a música me escolheu muito cedo. Comecei a trabalhar
muito jovem: desde que aos 15, 16 anos, subi no palco pela primeira vez, as pessoas começaram a pedir para eu cantar. E estão pedindo até hoje. Então não tive muita opção na vida, porque a música se impôs para mim de forma muito decisiva e definitiva desde cedo. Eu tenho a sensação de que poderia trabalhar com outras coisas, numa área criativa. Eu gosto muito de costura, trabalhos manuais. Talvez artes plásticas, talvez moda, não sei. Carminho: Não pensei ser cantora. Pensei ser marketeer ou jornalista. Mas depois dei a volta ao mundo durante um ano [em 2007], fiz voluntariado, andei sozinha,
30 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 30
05-07-2016 20:46:56
PEDRO CORREIA/GLOBAL IMAGENS
Marisa Monte é presença assídua nos palcos portugueses. Aqui apresentou todos os seus últimos álbuns.
o que serviu para descobrir que ser cantora podia ser a minha profissão. Quando era criança sabia que ia cantar toda a vida, mas não como profissão. 1Então também acha, como a Marisa, que foi a música que a escolheu a si? Carminho: Sim, também acho que foi a música que me escolheu. Eu cantava de forma natural e as pessoas começaram a dizer que eu tinha alguma coisa. No fado, quando surgem novos cantores, os fadistas mais velhos começam logo a definir se aquela pessoa vai cantar bem ou não, se vai ter estilo próprio ou apenas imitar outros e eu tive um bom feedback.
1Qual foi a sua música que acha que mais tocou as pessoas? Carminho: Talvez o Escrevi Teu Nome no Vento seja a que mais me representa, porque é tradicional e houve uma forma de a interpretar à minha maneira. Já era cantada pela minha mãe e eu tentei que fosse minha. Há coisas mais expansivas, como o Perdóname, fenómeno de popularidade e chegou a toda a gente por causa do Pablo Alborán. 1Além de cantarem, compõem. Marisa: Eu comecei a cantar e depois diversifiquei a minha atividade. Comecei a compor, a produzir os discos, a produzir discos de outros, fazendo diálogos com artes plásticas, cinema. Fui ampliando a minha própria maneira de fazer a música. Carminho: Eu tento compor... 1E do que é que gostam mais hoje em dia? Cantar? Compor? Carminho: São áreas muito diferentes. E que são muito gratificantes. Agora estou a descobrir essa área da composição. Marisa: Gosto de tudo. De fazer coisas diferentes. Gosto de cantar, de produzir, de compor, de estar no palco, das parcerias, eu faço isso tudo com muita felicidade. 1É diferente compor para nós próprios e para outros músicos? Marisa: Quando eu estou a produzir para outro músico tenho que procurar entender, ouvir, interpretar os desejos e ser uma referência estética. É um trabalho diferente porque você tem que ouvir um artista e colocar-se em segundo plano, você é a produtora do disco, você está ao serviço de um outro artista. Carminho: Eu ainda só compus para mim, mas entretanto ofereci um tema meu a um artista português. 1Que canção é essa? Carminho: Não posso dizer. Ainda não. 1O que é que as inspira para escrever? Marisa: A vida. As coisas mais simples da vida e às vezes as coisas mais sofisticadas. Tudo, nada especificamente. Às vezes uma coisa que a gente vê no meio da rua, às vezes uma coisa que a gente está sentindo, às vezes um momento do coletivo, às vezes um momento pessoal. Carminho: Acontece estar a caminho de um sítio, na rua, e componho a andar. Uso muito o gravador do telemóvel: quando sinto, gravo logo. 1Qual é o vosso som preferido? Marisa: O silêncio. O silêncio é o começo de tudo, no silêncio você tem vontade de preencher com música, com verbo, o que quer que seja, o silêncio é muito bom para
«O FADO É UM GÉNERO SEMPRE EM EVOLUÇÃO, EM QUE AS PESSOAS VÃO FAZENDO NOVAS LETRAS. ACHO FANTÁSTICA A MANEIRA COMO O PRÓPRIO INTÉRPRETE SE RELACIONA COM OS TEMAS TRADICIONAIS, PODENDO INTERFERIR, CRIANDO NOVAS LETRAS.» MARISA MONTE
NOTÍCIAS MAGAZINE 31
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 31
05-07-2016 20:47:02
EXCLUSIVO
«OS BRASILEIROS USAM O VIOLÃO, NÓS USAMOS A VIOLA COM CORDAS DE AÇO, MAS É O MESMO INSTRUMENTO. A SONORIDADE TEM ALGUMA COISA QUE VER», DIZ CARMINHO. «DEPOIS, A FORMA COMO AS LETRAS SÃO CANTADAS: HÁ A LÍNGUA QUE NOS JUNTA E HÁ QUALQUER COISA EM TERMOS GERACIONAIS, DOS ANOS 30, 40 E 50, QUE FEZ QUE A ESCRITA TIVESSE UMA TEMÁTICA PARECIDA.»
UM CONCERTO EM OEIRAS E OUTRO NO PORTO O primeiro grande ensaio deste concerto onde Carminho canta com Marisa Monte decorreu em casa da fadista em Lisboa, em março, deste ano, onde a Notícias Magazine esteve, em exclusivo. Foi aí que começaram a escolher as músicas: já escolheram sete ou oito canções, em vez das duas ou três inicialmente previstas. Depois daquele ensaio em Lisboa estive-
ram no Brasil, em duas ocasiões: primeiro em casa de amigos, onde fizeram uma tertúlia, depois num ensaio mais formal. A ideia de cantarem juntas em palco surgiu depois de Marisa ter escrito, em conjunto com Arnaldo Antunes, Chuva no Mar, que cantou com Carminho no último álbum da fadista, Canto. Desde então foram cantando entre amigos, com a ideia de um dia
estarem as duas em palco. A oportunidade surgiu e Marisa convidou a amiga para participar no seu espetáculo ao vivo em Portugal. Serão dois concertos este mês. No no dia 27 de julho, no EDP Cool Jazz Fest, nos Jardins Marquês de Pombal, em Oeiras – com o apoio delas.pt. Os bilhetes ainda estão à venda. O outro no dia 30, no Museu Serralves, no Porto.
o pensamento. O pensamento nunca fica em silêncio. Carminho: O violoncelo e o acordeão. São parecidos com a voz. 1O silêncio é um som muito importante para as cantoras? Marisa: É uma página em branco. O silêncio dá vontade de ouvir músicas, de cantar, de tocar. No barulho, no ruído, não dá, não dá para pensar numa música ouvindo outra. O silêncio é muito generoso, no sentido de permitir que a gente possa ter as possibilidades todas. Carminho: Eu preciso do silêncio. Tenho até intolerância a certos ruídos, como o bater de um pauzinho no saquinho, por exemplo. A falta de silêncio incomoda-me imenso. 1A Marisa compõe há imensos anos. Houve algum momento em que não fosse capaz de escrever? Marisa: Claro, tem fases mais férteis, fases menos férteis. Mas acho que é cíclico, depois passa. Geralmente, são fases em que eu estou com muito trabalho, estou preparando uma tournée e aí não tem nem tempo para fazer música nova, porque o cansaço e o esforço te tira tempo para fazer outras coisas. Por isso é que o vazio, o silêncio, é bom e é ótimo para compor. 1E quando está barulho? Que barulho é que aprecia para compor? Marisa: Barulho de chuva, barulho do mar, barulho do vento, de uma folha de coqueiro. 1Além da voz, que instrumentos tocam? Marisa: Toco violão, ukulele, um pouquinho de piano, um pouquinho de bateria, pouco desses dois. Mas o instrumento mais forte mesmo é a voz. Carminho: Cheguei a tocar piano e às vezes toco guitarra, tento tocar para compor. 1Porque escolheram ambas cantar em português? Marisa : Porque é a minha língua natal, a língua que eu falo bem, o sotaque de brasileira é bom e é uma música linda, uma letra linda. Eu acho que tive sorte de nascer num país que tem uma língua bonita e com uma música poderosa. Carminho: Eu o que fiz foi não ter medo de cantar um género de que ninguém da minha geração gostava. Quando comecei, aos 12 anos, o fado era associado a uma coisa antiga e ultrapassada. Foi um crescimento, quando assumi o que gostava. Tive de decidir que não ia esconder mais dos meus amigos que gostava de fado. Porque nenhum deles gostava. Eu era a única.
32 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 32
05-07-2016 20:47:04
NM1259_22_32_Carminho_Marisa_rui LB.indd 33
05-07-2016 20:47:04
JOÃO LAMAS
34 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_34_39_samurais_APi.indd 34
05-07-2016 21:14:55
R EPOR TAGEM
Samu ainda há
Há uma escola em Lisboa que ensina a via do guerreiro, à maneira dos antigos samurais. Aqui, todo o conhecimento tem de ser validado uma e outra vez, para se ajustar às batalhas da vida atual. Texto
Ana Pago
NOTÍCIAS MAGAZINE 35
NM1259_34_39_samurais_APi.indd 35
05-07-2016 21:32:28
R EPOR TAGEM
N
o filme O Último Samurai (2003), o momento em que o capitão Nathan Algren (Tom Cruise) cai nas mãos dos homens de espadas e carrapitos que se propunha derrotar é tramado. Os americanos querem contratos lucrativos com o imperador do Japão, que pretende modernizar o exército imperial com armas de fogo. Mas ambos os lados têm de reprimir antes a rebelião dos samurais, guerreiros
devotados à tradição do bushido, que acabam por desviar Algren para a sua causa. «Os samurais não são pessoas comuns. Desde que acordam dedicam-se à perfeição no que fazem, nunca vi tal disciplina», dizia o capitão, rendido ao significado de ser samurai: «É devotar-se a uma série de princípios morais. É buscar a tranquilidade da mente e ser mestre no domínio da espada.» Por cá, ainda há samurais. Na escola Jisei Dojo, em Lisboa, continua a seguir-se a via do guerreiro.
«Hoje não faria sentido andarmos por aí de sabre, mas o enriquecimento pessoal que eles cultivavam chega-nos através do método do jisei budo – ou jiseido – e mantém-se atual diante das adversidades que a vida levanta no presente», diz o mestre Inácio Dias. Aos 39 anos, 26 dos quais a desenvolver-se no jiseido, foi ele o fundador (em março de 2013) do único jisei dojo português, um dos 16 espalhados pelo mundo. «O budo é um conceito samurai. Traduz a ideia de se fazer sempre um bocadinho mais para um
36 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_34_39_samurais_APi.indd 36
05-07-2016 21:15:07
HÉLIO SILVA
Inácio Dias, 39 anos, dedicou 26 à procura do desenvolvimento interior através das artes marciais. Em 2013 fundou este jisei dodo – escola de samurais –, respeitando as tradições dos antigos.
dia ser alguém nobre, sábio, capaz.» O método poderá ser considerado o mais completo e o que melhor se soube adaptar aos tempos, bebendo diretamente dos guerreiros antigos para se ajustar aos modernos. «Uma das disciplinas fundamentais do jiseido é o kikô, a prática da consciencialização da nossa rede energética pessoal, da qual as artes marciais se têm vindo a desligar desde que chegaram ao Ocidente», explica o professor. Outra é o tai ji, matriz técnica que converte essa energia em movimento: a execução harmoniosa de sequências técnicas ativa em profundidade cada parte do corpo, gerando energia vital e eficácia em todas as idades. O jisen, dança da energia, é a expressão do movimento espontâneo. O combate faz uma síntese do método: somos eficazes tendo um equilíbrio dinâmico de técnica, energia, sensibilidade e presença de espírito. «E depois há a disciplina do kenjutsu, a esgrima japonesa, em que o sabre é uma extensão visível do trabalho interior do corpo de que falei, e nos remete para a ideia de vida e morte. A arte de enfrentar e de viver, não a arte de matar.» Foi há cerca de 40 anos que o mestre japonês Kenji Tokitsu, doutor em Sociologia a viver em França desde 1971 e reconhecido mundialmente como investigador das artes marciais, criou o jiseido. «Ninguém sabe quando começou, mas a dada altura vai buscar o que lhe parece importante trazer para os nossos dias, testa esse conhecimento para validar a eficácia e cria o seu método segundo o princípio do budo, que significa “a via do guerreiro”.» Traduzindo jisei como «o autoaperfeiçoamento do ser humano», temos um formar-se a si mesmo pela prática das artes marciais, num caminho próprio, contínuo, que nos permite fazer frente à adversidade hoje – a guerra pode ser muita coisa – e assim se mantém intemporal. Ricardo Salgado, engenheiro de 39 anos, é o praticante mais graduado da Jisei Dojo
Formar-se a si mesmo pela prática das artes marciais, num caminho contínuo que permite enfrentar adversidades – a guerra pode ser muita coisa. (recebeu em março o cinto negro). «Pratico jisei budo há dez anos. Mantemos vivo o espírito dos samurais ao trazer para o presente os métodos e as técnicas, em evolução desde então, e parte da sua filosofia: “Tudo o que fizeres faz de forma suprema.” Só não trazemos tudo porque a guerra era algo muito real para esses nossos antepassados e o contexto feudal que lhes ditava a existência desapareceu há muito. Hoje temos desafios que exigem novas abordagens.» Acima de tudo, a ideia de haver constantemente forma de melhorar, sem patamar máximo, é central na prática. «Neste ponto, até o Cristiano Ronaldo podia ser considerado um samurai urbano.» Ricardo acredita que os valores que guiavam os antigos samurais – justiça, coragem, benevolência, respeito, honestidade, honra, lealdade – continuam presentes. E continuam a ser importantíssimos para a nossa cultura. «Sou menos conhecedor de outras correntes, mas um ponto fundamental distingue o jisei budo: apesar de assentar fortemente na base prática dos nossos antepassados, não é revivalista e integra o valor muito moderno de que todo o conhecimento tem de ser experimentado continuamente,
CARLOS MANUEL MARTINS/GLOBAL IMAGENS
NOTÍCIAS MAGAZINE 37
NM1259_34_39_samurais_APi.indd 37
05-07-2016 21:15:23
e validado uma e outra vez para comprovar que o que fazemos é eficaz», diz o praticante. Se não for, deve ser de novo estudado. «Só assim se pode eliminar deturpações introduzidas pelo tempo (como a cristalização de técnicas), regras artificiais (como as de competição) ou conceitos obsoletos que surgem quando já não se sabe por que razão é assim em vez de assado.» Rui Coelho, juiz de direito, 44 anos, também reconhece no jiseido uma prática saudável, de bem-estar e eficácia – tudo o que define a essência da arte marcial, no seu entender. «Ensina-me a ser paciente, trabalhador, crítico, criativo e a enfrentar o treino como uma descoberta.» Ensina-o a não esperar a recompensa do resultado imediato, mas a saborear o percurso, consciente de que esse é já o prémio por contribuir para uma vida melhor. «O mestre Tokitsu, fundador do método, repete amiúde que não nos ensina nenhuma fórmula mágica.» Não dá soluções, mas abre as portas a muitos e diferentes caminhos. Existem outros métodos de budo, como o aikido, o jujutsu tradicional (de que derivaram o jiu-jitsu ou o judo), o kendo, o kyudo (tiro com arco), o naguinata-do (artes marciais que utilizam a arma naguinata). «O jiseido é o mais completo, mais equilibrado e mais próximo de nós. Não ficou preso a formalismos que teriam razão de ser noutra época. Mas não perdeu nada da essência antiga.» Com João Gonzaga a descoberta foi uma pedrada no charco. Lia tudo o que lhe vinha às mãos – budismo, taoismo, meditação, yoga, tai chi, A Arte da Guerra, de Sun Tzu, O Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi, vários sobre bushido. Era o início de
JOÃO LAMAS
R EPOR TAGEM
Paciência, trabalho, criatividade, enfrentar os treinos como descoberta do mundo e de si próprio. Estas são algumas vantagens em ser «samurai urbano».
uma busca pessoal, experimentou tudo. Aos 16 lançou-se nas artes marciais: taekwondo, karate shotokai com passagem pelo shotokan, workshops de tudo e mais alguma coisa. Nunca era bem o que queria. «Encontrar esse rumo com o jiseido. Fez a ponte entre o espiritual em mim, o corpo e a mente», diz o engenheiro informático de 47 anos, praticante desde 2014. «Ao início só fazia kenjutsu, mas após umas semanas conciliei com o budo e tenho pena de não ter começado há muitos anos e não ter tempo para me dedicar mais a cada área do método.» A espada, como expressão externa de um trabalho interno completo, dá-lhe um bom equilíbrio que se reflete na sua vida. Como dá a Rui Coelho, de resto: «O uso do sabre exige um refinamento do movimento. A espada não se move porque a mão ou o braço a agitam, move-se como extensão, num trabalho de músculos que, na nossa vida corrente, deixámos de mobilizar e esquecemos que existem.» Para a espada cortar, explica, o corpo tem de cortar primeiro. O método agarrou Rui há oito anos, ao ver um cartaz que aludia à prática de sabre japonês. Pensou que a expressão «samurai urbano» fosse coisa para miúdos, mas fez uma aula e rendeu-se. «Tinha muitas dores devido a uma hérnia discal. Chegava ao fim do dia em baixo, sem postura, mas após os primeiros meses de prática o abatimento diário deixou de aparecer.» Ao longo dos anos, aumentou consideravelmente os níveis de saúde, bem-estar e eficácia. «Quero continuar este caminho do autoaperfeiçoamento, ciente de que poderei sempre ser melhor até depois de velho.» Fazê-lo com uma katana na mão é, sem dúvida, elevar a exigência da viagem.
O CÓDIGO DE HONRA DOS SAMURAIS GI JUSTIÇA, HONESTIDADE E RETIDÃO Para um samurai não existem tons de cinzento relativamente à honestidade e à justiça – a sua própria justiça, não a que lhe é ditada por outros ou sujeita aos deleites de terceiros. Há o certo e o errado.
YUU CORAGEM Fazer o que está certo é o principal propósito do samurai, por isso ele avança com firmeza de espírito, sem vacilar diante dos perigos nem subestimá-los. A bravura heroica não é cega, antes inteligente e forte.
JIN COMPAIXÃO A nobreza de sentimentos é dos maiores atributos da alma e o samurai tem-na de sobra. Dá mais importância à dor dos outros do que à sua e por isso mantém-se vigilante para atuar a favor deles quando mais precisam.
REI RESPEITO, EDUCAÇÃO O samurai rege-se pelo respeito e a cortesia diante de todos os seres, incluindo o inimigo. Não é cruel ou arrogante, não exibe a sua força e não lesa a dignidade de ninguém, qualquer que seja o seu estatuto.
MAKOTO SINCERIDADE ABSOLUTA Quando um samurai diz que fará algo, é como se já estivesse feito. Os outros podem confiar cegamente naquilo que veem, mas mais importante é que ele próprio possa fazê-lo. A sua palavra é sagrada.
MEIYO HONRA O samurai não se esconde de si mesmo, não diz nem faz o que os outros esperam que diga ou faça se for contra os seus princípios, não se desonra. É feito do melhor tecido e não deixa que ali caia a mais pequena nódoa.
CHUU DEVER, LEALDADE Acima de tudo, um samurai é leal àqueles por quem se tornou responsável. Por eles vive e morre com dignidade. Sabe haver vida em cada respiração, em cada copo de chá, e isso faz parte do caminho do guerreiro.
38 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_34_39_samurais_APi.indd 38
05-07-2016 21:15:32
Publicidade
Respirar
com qualidade, é possível Fatores genéticos e ambientais contribuem para que seja cada vez maior, no nosso país, o número de pessoas alérgicas, crianças inclusive. Mas há uma marca nacional que inova na pesquisa e desenvolvimento de produtos que representam soluções…
O
problema das alergias, designadamente a rinite e a asma, afeta em qualquer época do ano a qualidade de vida dos pacientes. No outono e inverno, porque o aumento da humidade dentro das casas traz o desenvolvimento de mofos e bolores; na primavera, com os agentes sazonais (tais como grãos de pólen), responsáveis pela rinite alérgica sazonal, também conhecida como “Febre dos Fenos”… E no verão com os dias quentes, ensolarados e secos, que originam grandes quantidades de pólenes em suspensão, piorando o desconforto dos pacientes, sobretudo nos dias ventosos. Obstrução nasal, irritação da mucosa do nariz, espirros consecutivos, escoamento nasal incontrolável e, por vezes, irritação da garganta e olhos são sintomas incómodos, responsáveis pela diminuição da qualidade de vida. Sem esquecer a perda de produtividade no trabalho e na escola, devido à insónia e à fadiga, e o recurso a medicamentos utilizados para controlar a alergia, frequentemente dispendiosos e com efeitos colaterais.
NM1259_34_39_samurais_APi.indd 39
Tratar o ar dos ambientes internos
A missão da Airfree é desenvolver produtos que contribuam para a melhoria da qualidade de vida em ambientes internos, nas casas, escolas, nos escritórios e edifícios públicos. Para a marca, que já exporta os seus purificadores de Ar para 60 países, é fundamental, na prevenção e alívio das alergias, tratar o ar que se respira, já que 80% das crises de asma e crises respiratórias e alérgicas são causadas pelos alérgenos dos ácaros e pelo mofo. Através do sistema patenteado TSS - Airfree Sterilization System, os purificadores da marca promovem a limpeza do ar nos ambientes internos, de habitação ou local de trabalho, reduzindo drasticamente a quantidade de alérgenos de ácaros, fungos, bactérias e vírus. São também seguros, silenciosos e económicos, não requerendo manutenção.
À medida de cada habitação…
05-07-2016 21:15:32
R EPOR TAGEM
ÁGUAS
PERIGOSAS BASTA UM SEGUNDO. UMA PEQUENA DESATENÇÃO E JÁ ESTÁ, CRIANÇA NA PISCINA. A DIFERENÇA ENTRE A VIDA E A MORTE PODE ESTAR EM SABER DAR A VOLTA, FLUTUAR E RESPIRAR, USANDO UMA TÉCNICA DE SOBREVIVÊNCIA QUE JÁ SE ENSINA EM PORTUGAL. NOS EUA HÁ 450 INSTRUTORES CERTIFICADOS EM INFANT SWIMMING RESOURCE. PORTUGAL TEM DOIS E FOI PIONEIRO NA EUROPA. E NÃO, OS ACIDENTES NA ÁGUA NÃO OCORREM SÓ COM OS FILHOS DOS OUTROS.
RUI OLIVEIRA/GLOBAL IMAGENS
Texto Ana Pago
40 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_40_44_infant_AP.indd 40
05-07-2016 19:51:21
RUI OLIVEIRA/GLOBAL IMAGENS
NOTÍCIAS MAGAZINE 41
NM1259_40_44_infant_AP.indd 41
05-07-2016 19:51:26
R EPOR TAGEM
FOTOGRAFIAS DE ARTUR MACHADO/GLOBAL IMAGENS
M
adalena Machado tinha a bebé de 6 meses na água, em Lisboa, quando se dava a tragédia no Porto: Gonçalo Pereira, de 2 anos, acordou da sesta, iludiu a vigilância dos avós que o julgavam a dormir e caiu na piscina. O bebé morreu. Foi a 5 de abril deste ano. Quando soube, Madalena teve vontade de interromper a aula que estava a decorrer, pegar na filha ao colo e agradecer à formadora Estela Florindo por esta, um dia, ter ido aos EUA tirar o curso de Infant Swimming Resource (ISR), uma técnica de sobrevivência aquática que previne afogamentos de crianças entre os 6 meses e os 6 anos. «Decidi fazer o curso em 2008 depois de o meu filho mais velho, hoje com 10 anos,
«POR MAIS VEDAÇÕES, ALARMES, CADEADOS E PROTEÇÕES QUE PONHAM NAS PISCINAS (E É FUNDAMENTAL CONTINUAREM A PÔ-LOS), É IMPORTANTE PERCEBER QUE A CRIANÇA PODE CHEGAR À ÁGUA SOZINHA», DIZ ESTELA FLORINDO. «NÃO PODEMOS JURAR QUE NÃO VAI ACONTECER AOS NOSSOS FILHOS.»
ter caído como um parafuso à piscina, todo vestido», diz Estela. O marido tirou-o logo da água, mas não se poupou na descrição de como afundara e não reagira para voltar acima. «Eu não estava presente, mas o episódio marcou-me. Na altura, por acaso, recebi um vídeo de ISR com um bebé americano a simular um acidente. Fiquei a pensar nisso.» O facto de ser diretora técnica e comercial numa empresa de construção de túneis não a demoveu da ideia. Fez as malas e foi para Miami durante dez semanas, determinada a aprender tudo naquelas aulas intensivas: três horas teóricas, mais quatro dentro de água com crianças, todos os dias. Ainda conciliou ambas as ocupações durante algum tempo, mas há um ano que se dedica à ISR a tempo inteiro. É ela a pioneira em Portugal e na Europa, a ensinar desde 2010.
NOS ÚLTIMOS 13 ANOS, EM PORTUGAL, HOUVE 215 AFOGAMENTOS COM DESFECHO FATAL E 512 INTERNAMENTOS NA
CAMPANHA DE PREVENÇÃO DE AFOGAMENTOS, EM 2003, A MÉDIA DE 27 MORTES POR ANO PASSOU PARA NOVE. AIN 42 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_40_44_infant_AP.indd 42
05-07-2016 19:51:31
«Os EUA têm cerca de 450 instrutores certificados, oito milhões de aulas dadas e cinquenta anos de experiência desde que Harvey Barnett, doutorado em Psicologia Infantil e salva-vidas, criou a técnica em 1966, na Florida.» Nada que ver com o vazio com que se deparou quando constatou que, na Europa, apenas uma alemã tirara o curso de ISR e nunca dera uma aula. «Durante cinco anos fui a única na ISR Portugal – única na Europa –, antes de o Diogo Santos se juntar, em 2015, a ensinar em Faro.» Os filhos foram as primeiras cobaias, ele com 3 anos, ela com 2. Agora nota que os pais estão mais cientes de que os acidentes na água acontecem em qualquer altura, não apenas no verão, e procuram outras medidas. «Por mais vedações, alarmes, cadeados e proteções que ponham nas piscinas (é fundamental continuarem a pô-los), é importante perceber que a criança pode chegar à água sozinha. Não podemos jurar que não acontece aos nossos filhos.» Madalena pensa muitas vezes que o filho Vicente era pouco mais velho do que o menino do Porto quando aprendeu a ISR. «Vi um vídeo de um bebé a fazer a técnica e soube que, tendo casa com piscina, faria tudo para que os meus filhos a aprendessem.» Vicente e Alice tiraram o curso em 2013, ele com 3 anos, ela com 1. Caetana fê-lo em abril deste ano, aos 6 meses. «Tornou-se a maneira lúdica de os três entrarem na água e eu fico tão mais descansada.» Também Fernanda Santos chorou o pequeno Gonçalo, em dor pelo casal que conhecia pessoalmente. Só de imaginar a quantidade de acidentes registados nos últimos 13 anos – 215 afogamentos com desfecho fatal e 512 internamentos na sequência de afogamento, segundo dados da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) –, dá graças pelo curso a decorrer no Porto. «Tinha oferecido um à minha sobrinha-neta lisboeta de 24 meses, Mercedes, que entretanto adoeceu e vem cá acabá-lo nas férias. Mal soube que a Estela ia estar aqui no Clube Fluvial Portuense a partir de junho, inscrevi o meu outro sobrinho-neto, Guilherme, de 2 anos e 3 meses. Já vi o bastante para saber que num instante de distração o pior pode acontecer.»
Desde 2010 que Estela Florindo ensina infant swimming resource, a técnica de sobrevivência aquática que previne afogamentos de crianças entre os 6 meses e os 6 anos.
AS DÚVIDAS DOS PAIS O MEU FILHO VAI ESQUECER O QUE APRENDEU NAS AULAS?
Não. Tal como quem aprende a andar de bicicleta não esquece. Ainda assim, as técnicas de sobrevivência aquática podem ser mais difíceis de executar se o seu filho tiver crescido demasiado ou estiver numa situação aquática diferente – cair num rio ou num lago, por exemplo, quando está habituado a reagir na piscina. Daí serem importantes as aulas de refrescamento: uma ou duas a cada três meses, até ao ano de idade, e a partir daí um refrescamento a cada seis a doze meses.
DEVO TRABALHAR ESTAS TÉCNICAS COM ELE FORA DAS AULAS?
Só depois de o formador o instruir a fazê-lo e lhe mostrar como desenvolver a boa prática. Antes disso, nunca. Trabalhar fora do ambiente de aulas pode ser contraproducente – pode estar a reforçar as técnicas erradadamente.
É NORMAL A CRIANÇA CHORAR QUANDO ESTÁ NA ÁGUA?
Na água, a instrutora ajuda Guilherme a boiar, rodar e avançar submerso para a parede – o normal é que crianças de 1 a 6 anos, ao fim de seis a oito semanas, sejam capazes de nadar uma curta distância, flutuem para respirar/descansar e depois se virem de barriga para baixo e nadem mais um pouco, até alcançarem um ponto de segurança ou serem salvas por um adulto. «Boa, Gui! Vamos só descansar um bocadinho e repetir?» Bebés dos 6 aos 12 meses, sem tanta maturidade, levam geralmente entre quatro e seis semanas a aprender a flutuar. Fernanda aproveita o momento de enrolar Guilherme na toalha para contar a Estela a novidade: há uns dias, Mercedes caiu na piscina e os adultos presentes garantem que se desembaraçou sozinha. Nuno Guerra, pai do Martim, de 10 meses, fica impressionado.
TOS NA SEQUÊNCIA DE AFOGAMENTO. DESDE QUE A APSI LANÇOU A PRIMEIRA
VE. AINDA ASSIM, CONTINUA A HAVER ACIDENTES GRAVES.
Sim. Não significa que tenha medo da água, esteja em pânico ou traumatizada. Tem que ver com o facto de estar a ser contrariada e a fazer coisas que não quer no momento, por cansaço, sono, por não lhe apetecer ou por preferir que a deixassem sossegada a brincar.
O MEU FILHO É PORTADOR DE DEFICIÊNCIA. PODE FAZER O CURSO?
O fundador da ISR, Harvey Barnett, trabalhou com crianças portadoras com diversas deficiências físicas e mentais e muitas concluíram o curso com êxito. Contacte a ISR Portugal (www.isrportugal.com) e forneça informações medicas detalhadas, para poderem informá-lo com conhecimento de causa e indicar-lhe os instrutores da sua área mais qualificados para ensiná-lo.
QUANTO CUSTA O CURSO?
Custa 500 euros. Dura quatro a seis semanas (dos 6 aos 12 meses) ou seis a oito semanas (dos 12 meses aos 6 anos), em aulas diárias de dez minutos. Estela Florindo (Grande Lisboa): 916 168 270; e.florindo@ infantswim.com. Diogo Santos (Algarve): 964 425 895; d.santos@infantswim.com www.isrportugal.com www.facebook.com/IsrPortugal
FONTE: ASSOCIAÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA SEGURANÇA INFANTIL (APSI)
NOTÍCIAS MAGAZINE 43
NM1259_40_44_infant_AP.indd 43
05-07-2016 19:51:37
R EPOR TAGEM
«Os acidentes nestas idades acontecem num ápice: eles são imprevisíveis e nós falíveis», diz o nadador federado, ligado ao Clube Fluvial Portuense. «Como caem em casa num piscar de olhos, caem numa piscina, numa poça, num lago.» Nuno coordena-se com a mulher para levarem Martim àquelas aulas de dez minutos, de segunda a sexta-feira, sem falhas. «A água é a minha vida, acaba por ser também a dele. Precisava de lhe garantir esta mais-valia de sobrevivência.» Claro que o programa não exclui a sua própria responsabilidade, mas dá-lhe os dois segundos que podem fazer a diferença entre a vida e a morte. «Sempre que os pais percebem que o filho consegue salvar-se numa queda acidental, é uma alegria para eles e para nós, instrutores», diz Diogo Santos, terapeuta ocupacional no ativo e o segundo elemento da ISR Portugal. Sem contar com os pequenos do curso de dois meses que tirou na Florida, num ano teve 15 crianças (pelas mãos de Estela passaram à volta de 200). «Dei o primeiro curso em março de 2015, com o meu filho e duas filhas de amigos como alunos. Cada vez a procura é maior.» No futuro, pondera deslocar-se pelo Algarve e até adaptar a ISR a crianças com deficiência. Para já assegura a zona de Faro. Ana Champallimaud também tem um filho a frequentar o curso. «Tive um irmão que morreu afogado numa piscina aos 2 anos e meio. Cresci com o pânico de haver crianças que se afogam e, quando não morrem, ficam com lesões para o resto da
NO FIM DO CURSO, AS CRIANÇAS FAZEM UMA AULA VESTIDAS PARA APRENDEREM A AJUSTAR A TÉCNICA AO PESO DO CORPO COM ROUPA ENSOPADA. AO FIM DE SEIS A OITO SEMANAS, AS CRIANÇAS DE 1 A 6 ANOS DEVERÃO SER CAPAZES DE NADAR UMA CURTA DISTÂNCIA, FLUTUAR PARA RESPIRAR/DESCANSAR E VIRAR-SE DE BARRIGA PARA BAIXO PARA NADAR UM POUCO ATÉ ALCANÇAREM UM PONTO DE SEGURANÇA OU SEREM SALVAS. BEBÉS DOS 6 AOS 12 MESES LEVAM QUATRO A SEIS SEMANAS A APRENDER A FLUTUAR.
vida.» Vasco, tem 12 meses, é o terceiro a seguir a uma menina de 5 anos e a outro rapaz de 3. Ana não desespera se eles caem, batem com a cabeça, arranham os joelhos. Mas passa os verões a gritar, com o pavor das piscinas. «É mais forte do que eu este medo. O meu marido insistiu em fazer piscina e foi uma luta, nem durmo bem.» Desde os mais velhos que tentava conciliar a agenda no Porto com a de Estela em Lisboa, mas só Vasco teve essa sorte. «Claro que haverá redes, alarmes, coletes, tudo e mais alguma coisa. Mas a última barreira de segurança é ele próprio e tranquiliza-me imenso saber que nunca se deu uma fatalidade com crianças que fizeram a ISR.»
A haver um contra – e Vanda Palmeiro não lhe lhe chama isso – será o compromisso de manter a rotina diária. «A Carlota só tinha 8 meses e eu levantava-a às sete da manhã para poder ir com ela», recorda a mãe de Lisboa, disposta ao mesmo quando tiver o próximo filho. «É um esforço compensado, nem se discute.» Rita Aleixo concorda, depois de ter posto a bebé Sofia sob os cuidados de Estela, numa primeira fase para rodar e flutuar (com 10 meses) e mais tarde para aprender a sequência completa de nadar-flutuar-nadar (aos 14). «Moramos num condomínio com piscina, preocupava-me que a minha filha começasse a andar e a chegar às coisas sem ter uma ferramenta de sobrevivência na água.» Helena Sacadura Botte, técnica de segurança infantil da APSI, diz que a associação concorda com «este tipo de ensino, nunca descurando as estratégias de prevenção tradicionais que, infelizmente, ainda são pouco valorizadas e nem sempre de fácil acesso a todas as famílias». O decréscimo no número de mortes foi significativo desde que lançaram a primeira campanha de prevenção de afogamentos em 2003: de uma média de 27 óbitos por ano entre 2002 e 2004, passou-se para nove mortes anuais entre 2011 e 2014. Ainda assim, continua a haver acidentes graves. «Os adultos deixam as crianças sozinhas na banheira ou em piscinas insufláveis "só por uns segundos", para atenderem o telefone ou abrirem a porta; não despejam os recipientes logo após a utilização, incluindo baldes e alguidares; não colocam tampas nos poços, apesar de ser obrigatório por lei; não vedam piscinas e tanques em casas particulares.» Helena crê que o vazio na Europa no que toca à ISR se prende com falta de informação e de formadores – algo que Estela Florindo pretende resolver indo aos EUA em breve tirar o master para poder formar (já tem 200 interessados). Outro receio da APSI – o de saber até que ponto a eficácia é total, dado que cair à água vestido e calçado não é o mesmo que em fato de banho – é rebatido pela instrutora: «No fim do curso fazemos uma aula com roupa de verão – com sapatos, chucha e fralda, que na água pesa mais dois a três quilos – e outra com roupa de inverno, para aprenderem a ajustar a técnica que aprenderam ao peso do corpo.» Há relatos, em Portugal e nos EUA, de crianças que caíram à água e foram encontradas vestidas a boiar. «A ISR é boa até aos 5/6 anos, idade em que terão maturidade para aprender a nadar e assegurar a sua própria sobrevivência.»
44 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_40_44_infant_AP.indd 44
05-07-2016 19:51:44
NM1259_40_44_infant_AP.indd 45
05-07-2016 19:51:44
GRANDE CONFERÊNCIA EUROPA
PÁTIO DA GALÉ Praça do Comércio 1100-148 Lisboa
21 JULHO DAS 09H00 ÀS 13H30 INSCRIÇÃO OBRIGATÓRIA E GRATUITA EM WWW.GRANDECONFERENCIA.DN.PT
PROGRAMA 09H00
RECEÇÃO AOS CONVIDADOS
09H30
BOAS-VINDAS
DANIEL PROENÇA DE CARVALHO | PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA GLOBAL MEDIA GROUP
SESSÃO DE ABERTURA
MARCELO REBELO DE SOUSA | PRESIDENTE DA REPÚBLICA
10H00
DEBATE: O FUTURO DA EUROPA
11H00
PAUSA PARA CAFÉ
11H20
DEBATE DE EMPRESÁRIOS: SOBRE O ENQUADRAMENTO EUROPEU
12H20
NM1259_40_44_infant_AP.indd 46
MARIA LUÍS ALBUQUERQUE | VICE-PRESIDENTE DO PSD FRANCISCO SEIXAS DA COSTA | EMBAIXADOR NUNO MELO | EURODEPUTADO DO CDS MARIANA MORTÁGUA | DEPUTADA DO BE
ENTREVISTA
CARLOS MOEDAS | COMISSÁRIO EUROPEU
13H00
ENCERRAMENTO
13H15
MOMENTO MUSICAL (APROX. 10 MIN.)
ANTÓNIO COSTA | PRIMEIRO-MINISTRO (A CONFIRMAR)
05-07-2016 20:48:49
MO TOR ES
Pequenos descapotáveis a preços mínimos
Por 14 mil euros já pode ter um cabriolet
NOTÍCIAS MAGAZINE 47
NM1259_47_49_Motores_AP.indd 47
05-07-2016 21:27:51
MO TOR ES
MINI COOPER CABRIO A MARCA PERTENCE AO GRUPO BMW. NOTA-SE NOS ACABAMENTOS DOS INTERIORES E NOS MOTORES.
PREÇOS
Os cabrios mais baratos do mercado
O MINI OSCILA ENTRE 24 MIL EUROS (GASOLINA) E 29 MIL EUROS (DIESEL). O DS3 É A DIESEL E CUSTA 24 800 EUROS.
Estilo a preço acessível? Sim, é possível num descapotável. O Mini Cooper Cabrio e o DS3 Cabrio são dois desportivos compactos com preços de base abaixo dos 25 mil euros. Texto Bruno Contreiras Mateus
O
Mini Cooper Cabrio é um sedutor. Quando baixamos a capota de lona temos um puro descapotável para desfrutar. O DS3 Cabrio goza do argumento de nos deixar de cabelos ao vento, num misto de agilidade e excitação. Pena não nos conseguimos livrar dos pilares laterais, mas é uma questão de gosto, até porque este é um dos compactos mais bonitos do mercado. O Mini prima pelo prazer de condução, mas é preciso algum aperto para sentar dois adultos nos lugares traseiros – quanto maior a viagem,
O Mini Cooper é um puro descapotável. Além do mais a posição de condução é excecional.
48 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_47_49_Motores_AP.indd 48
05-07-2016 20:08:04
ALTERNATIVAS
FIAT 500C
DS3 CABRIO
A MARCA AFIRMOU A «INDEPENDÊNCIA» DA CITROËN TENDO POR BASE ESTILO, TECNOLOGIA, QUALIDADE E CONFORTO.
mais se nota – e para usar a bagageira (120 litros apenas!). O DS3 é mais generoso, com 280 litros de capacidade para as malas e com cinco lugares, o que joga a favor de quem procura um carro para o ano inteiro. No interior, ambos perdem total visibilidade traseira quando circulam com a capota aberta. Nos acabamentos, o Mini marca pela qualidade de construção excecional. O DS3 só peca, pontualmente, por alguns plásticos de menor qualidade. Debaixo do capô, o DS3 vem equipado apenas com o motor 1.6 diesel de 98 cavalos. É eficaz e económico – gasta 3,6 litros/100 km, segundo a marca. A sensação é a de um cabrio com ADN de carro de cidade – o que é positivo. Já o Mini tem um vasto leque de opções de motorização: dos 98 aos 211 cavalos a gasolina; e dos 112 cavalos (4 l/100 km)
O ambiente a bordo do DS3 Cabrio é mais próximo do modelo fechado por causa dos pilares laterais.
aos 143 cavalos (4,5 litros) a diesel. No Cooper S (a unidade ensaiada), os 184 cavalos notam-se no «ronco», nas acelerações e no prazer de condução. É viciante. O suficiente para escolher sempre o percurso mais longo para a praia.
O mítico Fiat 500C é apelativo por fora e por dentro, especialmente após este último restyling, que se alongou a motorizações mais eficientes. Tem quatro lugares e 185 litros de bagageira. É pequena, é certo. Mas justa para as dimensões deste citadino. Os preços começam nos 17 350 euros e vão até pouco mais de 19 000 na versão a diesel de 105 cavalos. Económico, potente e divertido. www.fiat.pt
SMART FORTWO CABRIO É o mais pequeno dos cabrios. Tem apenas dois lugares mas é uma opção válida para quem o utiliza para deslocações mais curtas, dentro da cidade. Permite circular em três versões: fechado, com a capota toda recolhida ou apenas o teto aberto. Com motores de 71 a 90 cavalos e caixa de dupla embraiagem, custa entre 13 400 e 16 350 euros. www.smart.pt NOTÍCIAS MAGAZINE 49
NM1259_47_49_Motores_AP.indd 49
05-07-2016 20:08:11
B ELEZA
OLÁ JEITOSO
O que o FBI diz sobre o seu cabelo 50 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_50_52_Beleza_rui_LB.indd 50
05-07-2016 19:00:47
Enrolar os dedos no cabelo, brincar com as pontas, tirar a franja dos olhos em movimentos repetidos. Estes e outros hábitos associados ao cabelo podem dizer muito de nós… e da mensagem que queremos passar. Nomeadamente se estamos a falar verdade ou a dizer alguma mentira. Um ex-agente do FBI especialista em linguagem corporal ajudou uma marca de produtos capilares a interpretar alguns dos principais gestos que fazemos. Texto Catarina Vasques Rito Fotografia Campanha Hair Nutritive Kérastase
U
ma conversa entre amigas, uma entrevista de trabalho, um momento de sedução, um susto. O cabelo – e o que fazemos com ele – representa um papel importante, muitas vezes sem termos consciência disso, na mensagem que passamos quando estamos a ser observados. Há gestos, conscientes ou inconscientes, que são associados a tiques ou subterfúgios para minimizar a timidez, a ansiedade ou o stress.
Se tivermos em conta que mais de metade da comunicação interpessoal é veiculada de forma não verbal (gestos com as mãos, expressões faciais, postura e outras informações corporais) e que há milhares de combinações musculares no rosto que reforçam ou contradizem o que está a sair da boca, percebemos melhor o peso que o nosso cabelo pode ter na informação que chega ao recetor. Nunca tinha pensado no cabelo como acessório de comunicação? Não está só. A maior parte das pessoas não tem consciência disso,
ESTOU INTERESSADA
PÕE-TE A MILHAS
HÁ MILHARES DE COMBINAÇÕES MUSCULARES NO ROSTO QUE REFORÇAM OU CONTRADIZEM O QUE ESTÁ A SAIR DA BOCA. SE JUNTARMOS ISSO AOS GESTOS QUE FAZEMOS COM O CABELO, PERCEBEMOS MELHOR O PESO QUE ESTE PODE TER NA INFORMAÇÃO QUE CHEGA AO RECETOR.
VOLTO JÁ NOTÍCIAS MAGAZINE 51
NM1259_50_52_Beleza_rui_LB.indd 51
05-07-2016 21:25:25
B ELEZA
Há coisasque se podem dar a entender aos outros sem ser necessário recorrer à linguagem verbal. Só com as mãos, cabelo e expressões faciais podemos dizer mais do que muitas palavras. QUERO-TE
VAI-TE EMBORA
CONFUSA
o que, de certa forma, facilitou o trabalho de Joe Navarro no Federal Bureau of Investigation (FBI), nos EUA. Durante vinte anos, o ex-agente estudou a relação direta entre palavras e gestos com o cabelo: por vezes conjugam-se, outras contrariam-se. Agora, Navarro foi convidado pela Kérastase para ajudar a interpretar alguns dos gestos mais frequentes que as mulheres fazem. O trabalho deu origem a uma campanha da marca francesa, especialista em cuidados e tratamentos capilares, que visa chamar a atenção para a hidratação capilar – quando o cabelo está seco, as mulheres tocam-lhe menos e perdem expressividade. «Vamos a isso», «põe-te a milhas», «estou sem jeito», «estou interessada», «deixa-me pensar» ou «estou aborrecida» são algumas das coisas que se podem dar a entender, só através das mãos e do cabelo. «O cabelo transmite as emoções que sentimos em determinada ocasião, sejam de felicidade, de nervosismo, de alegria, de tristeza ou de profissionalismo», diz Navarro. «E também simboliza saúde, vitalidade, estilo de vida. Por isso não pode ser ignorado na forma como nos damos a conhecer.» A forma como se cuida o cabelo é, antes de mais, uma boa referência. O brilho e a hidratação são reflexos da atenção pela saúde. Além disso, a suavidade das mãos e dos dedos a passar pelo cabelo revela que uma mulher quer ser notada e tem
consciência disso mesmo. «Brincar com o cabelo enquanto se conversa com outra pessoa, quer dizer que se está contente e a usufruir do momento.» Joe Navarro aprendeu a estudar pessoas pela qualidade do cabelo, «que nos pode contextualizar sobre alguém e o seu estado mental: se tem alguma patologia como depressão ou esquizofrenia, por exemplo. Ou se tem dificuldades de integração social.» Segundo
JOE NAVARRO Durante vinte anos estudou a relação entre o cabelo e as palavras e gestos.
o especialista, por se tratar de doenças que destroem a autoestima, fazem que possa deixar de haver vontade para cuidar do bom aspeto do cabelo. «Usar o cabelo como escudo também é um bom indicador: revela que se está a esconder alguma coisa, gesto muito comum nas crianças.» E tentar alterar – ou reforçar – o que se transmite por palavras mudando o corte, penteado ou cor não adianta muito.
VAMOS A ISSO!
52 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_50_52_Beleza_rui_LB.indd 52
05-07-2016 19:01:11
ZEN
PVP 99€
LUSH
Watch Planet SA - 21 342 83 08
PVP 130€
NM1259_50_52_Beleza_rui_LB.indd 53
be sexy
www.onewatchcompany.com facebook.com/onewatchcompany
05-07-2016 19:01:11
B EM- ESTAR
As melhores apps para o verão Pegue no telefone e abra o GooglePlay ou o iTunes… Estas são algumas das aplicações que vai querer instalar no smartphone, agora que começa o verão. Umas são mais úteis, outras são mais divertidas. Todas valem a pena. Texto Sofia Teixeira
VERÃO SEM FILAS Se anda de férias pelo interior do país, o trânsito não deve ser um problema, mas quem estiver no Algarve ou na Costa de Caparica numa tarde de sábado deve saber que tipo de trânsito enfrentará antes de dar por si enfiado numa fila da qual não vai sair tão cedo. Uma das aplicações com mais downloads e melhores avaliações dos utilizadores para este efeito é a Waze uma app colaborativa que o deixa a par do estado do trânsito em tempo real, com base nas informações de trânsito e alertas de outros condutores. Tem também uma funcionalidade, «rotas programadas», que, com base nas informações de trânsito e numa hora desejada de chegada, lhe envia um lembrete para sair a horas. Está disponível para iOS e Android e é grátis.
SEMPRE INFORMADO SOBRE RAIOS UV Os raios UV são responsáveis por um bronzeado bonito e saudável mas também, em excesso, por queimaduras solares, alergias, envelhecimento precoce e cancro cutâneo. É útil ter noção do índice destas radiações para se proteger convenientemente, já que níveis diferentes de radiação implicam proteção diferente. Na altura de instalar uma aplicação sobre o estado do tempo, opte por uma que também forneça esta informação. Uma das hipóteses é o meteo@IPMA, a aplicação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, disponível para iOS e Android, gratuita, que além da previsão do tempo e do mar para 9 dias, o informa sobre estes índices.
MAPAS DO CÉU Já tem o Google Maps no smartphone? Então instale o Google Sky Maps, a aplicação que lhe permitirá navegar pelo céu e perceber o que está a ver cada vez que olha para cima nas noites de verão. Se vir um ponto brilhante que lhe chama a atenção e não sabe se é uma estrela ou um planeta, basta apontar o telefone ao céu para a aplicação lhe apresentar o mapa do que vê. A app usa os dados do GPS e da bússola para se localizar. Grátis, mas apenas disponível para Android. No entanto, no iTunes vai encontrar aplicações semelhantes para iOS.
VAI-TE EMBORA Ó MELGA Espantar mosquitos através da emissão de um som de ondas de alta frequência que não são ouvidas pelo ouvido humano? Os cientistas dizem que a promessa é um disparate, o próprio fabricante esclarece o mesmo, no texto de descrição da app (razão pela qual muitas têm a seguir ao nome «brincadeira» ou «prank»), mas alguns utilizadores garantem que passam noites mais tranquilas e acordam menos picados quando deixam a app ligada. Basta uma pesquisa para encontrar dezenas de aplicações do género. Um destes «placebos» é a Anti Mosquito Prank cujo download é gratuito. Experimente – mas sem se fiar muito em bons resultados.
COMBUSTÍVEL AO MELHOR PREÇO Anda em viagem pelo país e não sabe onde abastecer? O VivaGas diz-lhe. A partir das informações relativas ao preço dos combustíveis da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGGE), a app permite encontrar os postos de abastecimento mais próximos e mais económicos. Também tem algumas informações adicionais relativas ao tipo de serviços de suporte, como lojas de conveniência, multibanco ou postos abertos 24 horas por dia. Está disponível para Android e iOS e é gratuita.
54 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_54_55_BemEstar Apps_LB.indd 54
05-07-2016 18:46:23
PUBLICIDADE
PRAIAS LONGE DO MAR Quem não aprecia multidões e quer ir a banhos, pode instalar a iPraiasFluviais no smartphone. Basta escolher a zona onde está (apenas disponível para a região centro do país) para lhe surgir a lista de praias fluviais disponíveis com respetiva informação adicional que vai da qualidade da água aos restaurantes e alojamentos nas imediações. Grátis e disponível tanto para iOS como para Android.
NM1259_54_55_BemEstar Apps_LB.indd 55
FAZER AS MALAS SEM ESQUECIMENTOS Talvez a parte mais chata de uma viagem seja fazer as malas. Pior, só mesmo chegar ao destino e perceber que metade do que precisava ficou em casa a milhares de quilómetros de distância. Esta aplicação faz praticamente as malas por si. O PackPoint – um organizador e planificador da lista de bagagem para viajantes frequentes – ajuda-o a compor a lista da bagagem depois de introduzir o destino, a data de partida, o número de noites de estada, as atividades que planeia fazer e até se terá acesso ao não a uma lavandaria. Que nunca mais lhe falte um par de meias… Grátis e disponível para Android e iOS.
05-07-2016 18:46:23
R ECEI TAS
Fruta na salada Quem disse que morangos não combinam com frango e ceb Texto Adriana Freire Fotografia Leonardo Negrão/Global Imagens
Ovos com framboesas e amoras
Manga e abacate 2 mangas, 1 abacate, 1 cebola roxa, 2 limas, 1 pimento vermelho, coentros, 1 malagueta, sementes de papoila (fac.) , sal
C
orte a manga em cubos. Depois de limpar as sementes e os filamentos, corte o pimento em tirinhas. Corte o abacate em pedaços e regue-os de imediato com sumo de lima para não oxidarem. Pique a cebola e a malagueta. Misture tudo com cuidado e regue com o sumo de lima.
2 PESSOAS
20 MINUTOS
ECONÓMICO
1 alface, 2 ovos, 100 g de framboesas e amoras, 4 tiras de bacon, maionese de alho
P
repare a alface e coza os ovos. Frite o bacon numa frigideira antiaderente, sem gordura, assim que ficar crocante, coloque-o em papel absorvente e em seguida corte-o em pedacinhos. Misture a alface e o bacon com um pouco de maionese de alho e junte os ovos cozidos em pedaços e os frutos vermelhos.
2 PESSOAS
20 MINUTOS
ECONÓMICO
56 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_56_57_Receitas_rui RB.indd 56
05-07-2016 18:52:12
go e cebola? Junte os frutos preferidos à salada, para uma refeição ou entrada leve e saudável.
Frango com morangos
Salmão e mirtilos
2 peitos de frango, 1 alface verde, 1 alface roxa, 1 cebola roxa, 80 g de miolo de noz, 1 requeijão, 150 g de morangos, sal e pimenta preta. Molho: 3 c. de sopa de azeite, 2 c. de sopa de vinagre de framboesa, 1 c. de sopa de mel, 1 c. de sopa de mostarda de Dijon
100 g de salmão fumado, 1 cebola roxa, 1 embalagem de espinafres, 100 g de mirtilos, 1 queijo feta, sementes de sésamo. Molho: 4 c. de sopa de azeite, 2 c. de sopa de vinagre de cidra, sal e pimenta
G
relhe o frango depois de o temperar com sal e pimenta e corte-o em cubos de cerca de dois centímetros. Prepare as alfaces e ripe-as (pode usar mistura de alfaces ou outra a seu gosto das que se vendem já lavadas, prontas a usar). Depois de bem lavados, corte os morangos em fatias. Misture os ingredientes do molho e envolva bem com a alface e o frango grelhado. Por fim junte o requeijão em pedacinhos, os morangos e as nozes grosseiramente picadas.
2 PESSOAS
20 MINUTOS
ECONÓMICO
C
orte o salmão em tirinhas e o queijo feta em cubinhos. Pique a cebola. Misture bem os ingredientes do molho e envolva com os espinafres e a cebola. Junte o queijo e os mirtilos e polvilhe com as sementes de sésamo.
2 PESSOAS
15 MINUTOS
ECONÓMICO
NOTÍCIAS MAGAZINE 57
NM1259_56_57_Receitas_rui RB.indd 57
05-07-2016 18:52:16
COMPOR TAM EN TO
Alimentação saudável Cuidado com os exageros ORTOREXIA. JÁ OUVIU FALAR? SE CALHAR ATÉ SOFRE DISTO, MAS NÃO LHE CONHECIA O NOME. TRATA-SE DE UM TRANSTORNO DE COMPORTAMENTO ALIMENTAR CARATERIZADO PELA OBSESSÃO DE COMER APENAS O QUE É ADEQUADO À SAÚDE. QUANDO O EXAGERO DÁ LUGAR AO BOM SENSO, É PRECISO UM POUCO DE MODERAÇÃO E EQUILÍBRIO. DE VEZ EM QUANDO, AQUELE BOLO DE CHOCOLATE NÃO TRAZ MAL AO MUNDO. Texto Cláudia Pinto Ilustração Filipa Viana/Who
A
lém dos vários benefícios, a alimentação saudável passou a ser moda. Mais: nalguns casos passou a ser uma obsessão. Perante a enchente de informação na comunicação social, tornou-se difícil saber o que é isso de comer saudavelmente. Proliferam receitas, blogues dedicados ao tema, informações aqui e ali sobre os alimentos melhores, piores e mais ou menos para a nossa dieta. Como distinguir o correto do exagero? Há muitos anos que ouvimos falar em anorexia, mas podemos agora juntar um outro termo ao vocabulário associado aos distúrbios alimentares: a «ortorexia» é «uma perturbação, um transtorno, que surge quando a pessoa se torna obsessiva quanto aos padrões daquilo que come», diz Júlia Machado, psicóloga do Hospital Lusíadas Porto. O termo foi divulgado pela primeira vez pelo médico norte-americano e especialista em medicina alternativa, Steven Bratman, em 1997, no Yoga Journal, e deriva das palavras gregas orthos (correto) e orexia (apetite). A partir do momento em que a preocupação com a alimentação saudável começa a tomar grande parte do dia, e quando existe «uma interferência acentuada na vida diária, poderá ser necessário procurar ajuda especializada», diz Júlia Machado. As consequências negativas deste comportamento podem mesmo ditar a necessidade de apoio médico para tratar o transtorno. «Podemos encontrar quadros de carência nutricional graves, como anemia, carências vitamínicas e grande perda
de peso, não acarretando apenas danos físicos como também repercussões a nível social, provocando na maioria das vezes isolamento social e psicológico», acrescenta a especialista. O excesso de informação na área de nutrição à distância de um clique e vulgarmente ampliado nas redes sociais, associado a uma enorme pressão relacionada com o culto do corpo, pode também levar a este novo comportamento. Artistas, pessoas com grande exposição mediática, profissionais de ginásio, frequentadores e até mesmo os nutricionistas. «Tendencialmente, são pessoas que têm de ter, à partida, um maior cuidado relativamente à alimentação», diz a nutricionista Ana Rita Lopes.
Rita (nome fictício) vai ao ginásio todos os dias, faz uma alimentação rigorosa e restritiva, não come fora de casa, em festas leva as suas próprias refeições para não quebrar a dieta e contabiliza todas as calorias do que consome.
58 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_58_60_Comportamento RB.indd 58
05-07-2016 18:11:38
UMA COISA BENÉFICA PARA A SAÚDE PODE TRANSFORMAR-SE NUM TRANSTORNO,SE ENVOLVER FATORES EMOCIONAIS E SE TORNAR FÍSICA E PSICOLOGICAMENTE NOCIVA. Não é fácil assumir que se está a passar por este problema. A alimentação deverá ser um ato ligado ao prazer e ao bemestar e não à tristeza, isolamento, ansiedade e diminuição da qualidade de vida. «É frequente serem os pais, amigos ou companheiros a identificar mais precocemente estes sinais», diz a coordenadora da unidade de nutrição clínica do Hospital Lusíadas Lisboa. Também não é incomum serem eles a marcar consulta antes da pessoa que sofre deste transtorno.
Danos físicos e psicológicos
Foi o caso de Rita (nome fictício) de 21 anos. Foi a uma consulta com Ana Rita Lopes por insistência da mãe, que detetou a obsessão da filha pela alimentação saudável, apesar de ter um peso normal. Vai ao ginásio todos os dias da semana e ao sábado. «Faz uma alimentação muito rigorosa e restritiva. Não se permite fazer refeições fora de casa e em festas de aniversário leva as suas próprias refeições, para não quebrar a dieta. Contabiliza todas as calorias daquilo que consome, tendo estipulado como ingestão máxima diária 1500 kcal», revela a nutricionista. E este não é um problema tipicamente feminino. Também João (nome fictício) é acompanhado na mesma consulta. Tem 30 anos, pratica musculação todos os dias e, ao fim de semana, duas vezes ao dia. Foi obeso na infância e na adolescência «tendo sofrido de bullying. Atualmente tem peso normal. Ingere diariamente vários suplementos alimentares para aumentar a produção de massa muscular». Foi a namorada que o incentivou a procurar ajuda por NOTÍCIAS MAGAZINE 59
NM1259_58_60_Comportamento RB.indd 59
05-07-2016 18:11:44
COMPOR TAM EN TO
Consequências da ortorexia? «Anemia, carências vitamínicas e grande perda de peso, não acarretando apenas danos físicos mas também repercussões a nível social, provocando isolamento social e psicológico.» JÚLIA MACHADO, PSICÓLOGA
dos alimentos bem como o uso da alimentação como busca de identidade.» Uma das dificuldades na identificação deste transtorno prende-se com o autorreconhecimento: admitir que há, de facto, um problema que deve ser resolvido e que o estilo de vida praticado é nocivo. É estranho pensar-se que uma coisa que pode ser benéfica para a saúde se pode transformar num transtorno. Steven Bratman explica que a «ortorexia não é a mesma coisa que escolher conscientemente ter uma alimentação saudável. Quando a mesma envolve fatores emocionais pode tornar-se física e psicologicamente nociva».
Falar com quem percebe considerar que a preocupação com a alimentação saudável é excessiva. Evita sair com os amigos para não ter de fugir ao planeamento alimentar e sente-se «irritado sempre que alguém o tenta incentivar a ser mais flexível na dieta». Dois exemplos, anónimos, de quem sente este problema no dia-a-dia mas não tem coragem de dar o seu testemunho na primeira pessoa. A rigidez é a marca deste comportamento. «Geralmente, as pessoas que o manifestam são de tal forma restritivas, que se sentem culpadas quando não o cumprem, punindo-se com uma alimentação ainda mais rígida quando cometem um deslize (que varia entre jejuns, restrição alimentar ou excesso de exercício físico), o que aponta para um caráter obsessivo-compulsivo no comportamento», explica Júlia Machado. Não se permitem – em circunstância alguma – desviar do seu programa de alimentos autorizados. «Em Portugal, ainda não existem dados sobre a prevalência da ortorexia, mas alguns especialistas consideram que a tendência está a aumentar», defende a psicóloga. Relacionado com este transtorno estão algumas motivações ligadas à saúde: «Medo de ter uma doença, fuga de determinadas fobias, compulsão por ter o controlo completo de uma determinada situação e até uma busca de espiritualidade através
Torna-se útil discutir com um psicólogo, ou psiquiatra, o que originou este problema e que questões emocionais poderão ter levado a esta obsessão, sendo também essencial a intervenção de um nutricionista para ajudar a utilizar a alimentação de forma equilibrada. «As pessoas estão cada vez mais conscientes e preocupadas com este tema. No entanto, apesar da imensa informação disponível, um terço dos portugueses continuam a fazer apenas três refeições por dia e o fator que rouba mais anos de vida aos portugueses continua a ser a alimentação incorreta», dia Ana Rita Lopes. O facto de se comer ocasionalmente sem ficar demasiado preocupado com a qualidade dos alimentos que se ingere é um dos primeiros passos para reverter a situação. Da mesma forma, recomenda-se que a pessoa «gaste mais tempo» em atividades que lhe deem prazer e menos com a preocupação com a alimentação. «Não permitir que a vida seja controlada só por aquilo que come, ou seja, apenas pelos alimentos saudáveis, e dedicar mais tempo ao trabalho, amor, diversão, aos amigos e à família, etc.» são formas de reverter a obsessão aconselhadas pela psicóloga Júlia Machado. «A chave é a moderação, pois comer mais saudavelmente tem efeitos positivos na saúde, exceto se deixar de desfrutar da vida ou se o seu relacionamento com os outros ficar afetado.»
SAIBA MAIS _www.orthorexia.com _www.nutrimento.pt _www.apn.org.pt _www.eufic.org/article/pt/saude-e-estilo-de-vida/actividade-fisica/artid/OrtorexiaNervosa-quando-comer-saudavelmente-esta-longe-de-ser-saudavel/ _rotasaude.lusiadas.pt/ortorexia-obsessao
10 SINAIS DE ALERTA
1 Ocupar uma grande parte do tempo e de atenção com a preocupação de ter uma alimentação saudável.
2 Afastar-se de amigos e familiares por não terem as mesmas opções alimentares. 3 Sentir-se culpado e angustiado por consumir alimentos não tão saudáveis ainda que o faça esporadicamente. 4 Utilizar a alimentação para enfrentar ou fugir de alguns problemas da sua vida. 5 Perder peso a seguir uma dieta de forma programada e consciente. 6 Cozinhar apenas para si próprio. 7 Contabilizar regularmente as calorias que são ingeridas. 8 Demorar muito tempo nas compras de supermercado para poder verificar todos rótulos e contabilizar as calorias dos produtos. 9 Recusar participar em almoços e jantares de família ou em eventos sociais porque se perde o controlo daquilo que se come. Isto leva a um isolamento e à tendência de a pessoa comer habitualmente às escondidas, para que possa fazer as suas escolhas sem ter nenhum tipo de julgamento por parte dos outros. 10 Ficar muito ansioso por não conseguir cumprir as refeições planeadas.
60 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_58_60_Comportamento RB.indd 60
05-07-2016 18:11:45
NM1259_58_60_Comportamento RB.indd 61
05-07-2016 20:51:08
vida em comum PAULO FARINHA jornalista
Q
Esse e-mail que acaba de abrir não tem vírus. Tem germes
uantas respostas automáticas tem recebido ao enviar que, se não for bem utilizado, funciona como agente infiltrado e-mails de trabalho ultimamente? Em plena época de fé- dentro da nossa privacidade. Uma escuta. Dir-me-ão que é turias, a probabilidade de encontrar alguém «ausente do es- do uma questão de bom senso, que quem não quer não usa e pode critório até ao dia x» é bem mais elevada do que a hipótese de ar- chegar a casa e pousar o aparelho. Pois claro. E depois tem o cheranjar lugar para estacionar à sombra, sem parquímetro, no centro fe a perguntar porque não respondeu logo às sete da manhã ao de Albufeira (ou em Tavira, que o Sotavento também já está cheio). e-mail enviado às três, ou o cliente a dizer que mandou uma encoAs «out of office replies» são coisa antiga. O que é novo – ou só se menda à meia-noite e que se não viu, azar, já encomendou a outro. começou a massificar há três ou quatro anos – é a frase seguinte É que parte do problema reside justamente no facto de isto ser nesses e-mails. «E com acesso limitado à internet.» Já não basta contagioso. Estamos tão habituados a estar sempre disponíveis dizer que não estamos lá para responder àquele e-mail muito ur- que esperamos que os outros estejam também. A toda a hora. Mesgente por estamos a gozar de um direito legalmenmo naquelas íntimas. De cada vez que recebo um te salvaguardado. Temos de dizer que não estamos e-mail cuja assinatura revela que foi enviado de um NESTA ÂNSIA DE lá e não podemos responder porque estamos no cu dispositivo móvel, não consigo deixar de pensar em ESTARMOS SEMPRE que circunstâncias é que estaria o remetente. Estaria de Judas, ou onde o diabo perdeu as botas, onde só há rede móvel quando o vento sopra na direção cer- LIGADOS, DISPONÍVEIS, nu? Estaria na cama, com a mulher ou com o marido ta. E não, também não há restaurantes com wi-fi. ao lado? Estaria na casa de banho? Sentado na saniCONECTADOS AO E mesmo que haja, não sou obrigado a logar-me ta (não uso a palavra «retrete», tenham paciência)? MUNDO E AOS porque estou nas minhas férias, se querem que as Não digam que isso são detalhes. Que estou a exainterrompa para ajudar, paguem-me mais. Pronto. COLEGAS E AO CLIENTE gerar. Eu não quero que vistam um smoking ou calE AO BACKOFFICE E À cem saltos altos para me escreverem mensagens, Na ânsia de estarmos sempre disponíveis, sempre atentos, sempre conectados ao trabalho e aos coleCENTRAL DE VENDAS, mas, com tanta conectividade, imagino sempre ongas e ao backoffice e à central de vendas e à redação de terá andado aquele e-mail antes de chegar a mim. TALVEZ TENHAMOS IDO Há e ao mercado e ao cliente e ao serviço pós-venda e estudos que o comprovam (sim, há gente a estuLONGE DEMAIS. ao chefe e à equipa que precisa de nós, somos capadar isto): o ecrã de um telemóvel é a superfície mais zes de ter ido longe demais. E a grande rede global suja que podemos levar para uma casa de banho que nos quer dar um abraço fofinho para garantir que não perde- – e sair de lá ainda pior –, tal a quantidade de germes que se acumumos absolutamente nada do mundo, mesmo que estejamos desli- lam naquele vidro manuseado por mãos que andaram por todo o gados, acabou por se tornar, às vezes, um polvo fedorento e mete- lado. Se um em cada seis telemóveis está contaminado com uma diço, com tentáculos pegajosos que nos ligam o telemóvel quan- bactéria fecal, garante a London School of Hygiene & Tropical Medo insistimos em mantê-lo no silêncio. dicine, eu tenho razão para ficar a pensar. É que já não é só a minha De acordo com a Marktest, haverá em Portugal, hoje, mais de privacidade e o meu direito ao sossego. É também a nossa saúde. cinco milhões de utilizadores de smartphone. Sessenta por cento Caramba, já que não vou ter sossego, ao menos lavem as mãos dos portugueses com mais de 10 anos têm um aparelho esperto antes de me enviar um e-mail que acham que é urgente.
62 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_62_CronFarinha RB.indd 62
05-07-2016 19:47:12
HORÓSCOPO POR PAULO CARDOSO
WWW.PAULOCARDOSO.COM
D E 10 A 16 D E JULHO
W W W.NOTICIASMAGAZINE.PT W W W.FACEBOOK.COM/NOTICIASMAGAZINE
Diretor Diário de Notícias André Macedo Diretor Jornal de Notícias Afonso Camões Diretora Catarina Carvalho Editor executivo Paulo Farinha Editora Catarina Pires Direção de arte Rui Leitão, Pedro Botelho (adjunto) Redação Ana Pago, Ricardo J. Rodrigues Arte Ana Faleiro, Carla Oliveira, Rute Cruz, Miguel Vieira Assistente editorial Madalena Marques Pinto Cronistas: Ana Bacalhau, Ferreira Fernandes Nesta edição: Adriana Freire, Ana Carreira, Laura Patrício, Maria Botelho, Pedro Marta Santos, Sofia Teixeira (texto), Fernando Marques, Mário Ribeiro (fotografia), Helena Ferreira, Rita Bento (copy desk), Paulo Cardoso (Horóscopo) Copy desk Elsa Rocha
CARNEIRO
TOURO
GÉMEOS
CARANGUEJO
21 de março a 20 de abril Terá necessidade de uma paragem interior para repensar os assuntos importantes para a família, tentando ajudar alguém que possa precisar mais de si. Ao mesmo tempo, faça uma pausa para refletir e restruturar todas as ideias e ações que tem vindo a ter nos últimos tempos.
21 de abril a 21 de maio As suas experiências emocionais estão em evidência e poderão ter impacto, provocando insatisfação ou ansiedade. Neste momento de alguma tensão, lembre-se que também depende de si evitar situações que levem a conflitos ou mal-entendidos. Use a energia de forma positiva.
22 maio a 21 de junho Nesta altura, devido à facilidade que tem de comunicar aos outros as suas ideias, verá favorecida a concretização de um negócio ou de um projeto para melhorar a sua situação financeira. Este é um período em que serão importantes para si tanto os valores de ordem material como espiritual.
22 de junho a 23 de julho A energia e o entusiasmo que sente poderão ser canalizados para o desporto ou mero divertimento. O que quer que faça agora será com empenho e entusiasmo. A nível amoroso nada será morno. A agitação que sente irá exigir de volta a mesma intensidade e paixão.
LEÃO
VIRGEM
BALANÇA
ESCORPIÃO
24 de julho a 23 de agosto A meditação e a espiritualidade vão ajudá-lo a planificar a vida e a conhecer-se melhor, mas não se feche demasiado, inconscientemente poderá estar a fugir da realidade. Apesar de não sentir vontade de conviver faça-o, numa conversa ocasional poderá encontrar alguém especial.
24 de agosto a 23 de setembro A sua cabeça está a mil por hora. O ritmo do seu pensamento só se iguala ao seu imparável ritmo de trabalho. Aproveite esta altura para levar a cabo trabalhos intelectuais exigentes. Tenha atenção ao seu sentido crítico, que está agora mais aguçado e tende a gerar atritos e mau ambiente à sua volta.
24 de setembro a 23 de outubro Este é um bom momento para trabalhar planeando cuidadosamente uma ideia. Nestes dias consegue transmitir com maior facilidade o que tem em mente devido a estar mais seguro e exato na forma de se expressar. Esta poderá ser uma boa altura para melhorar a sua imagem social e profissional.
24 de outubro a 22 de novembro Sentirá grande força interior e personalidade. Embora não tente obter qualquer posição de destaque, se seguir as suas ideias com independência e vontade sentirá que se está a realizar. Deverá entregar-se ao trabalho com afinco, mas sem interferência dos outros – agora não aceitará bem opiniões alheias.
SAGITÁRIO
CAPRICÓRNIO
AQUÁRIO
PEIXES
23 de novembro a 22 de dezembro Fase propícia a encontros com pessoas que poderão vir a ter um efeito profundo e transformador na sua maneira de pensar. É possível que sinta um aumento de tensão ou sensação de irritação, tal como uma menor capacidade de dominar os instintos. Tente controlar a agressividade e a ironia.
23 de dezembro a 20 de janeiro Neste momento o mais importante para si são as relações com os seus amigos. Poderá mesmo através deles conseguir desenvolver projetos que lhe trarão benefícios. Tente perceber se o que quer hoje é o que quer amanhã, para assim aprofundar os seus objetivos.
21 de janeiro a 19 de fevereiro A sua vida intelectual e o trabalho estarão em evidência neste período. Boa altura para planear com pormenor uma atividade ou para uma troca de impressões com colegas relativamente a problemas de trabalho. A discussão dos vários pontos de vista será importante para uma resolução.
20 de fevereiro a 20 de março Altura propícia a organizar aspetos legais da sua vida familiar e profissional. Através de uma viagem, poderá ter oportunidade de expandir negócios, em acordos com o estrangeiro. Altura de sucesso e sorte nas especulações e até em jogos de azar, mas não exceda o razoável.
Diretor de qualidade Diogo Gonçalves Ed. digital de imagem Nuno Espada (coordenador), Pedro Nunes Diretor-geral comercial Luís Ferreira Direção comercial Paulo Pereira da Silva, Susana Azevedo (Lisboa), Vítor Cunha (Porto) Sandra Morgado (diretora de conta), Paula Duarte (gestora de conta) Publicidade (SUL) Edifício DN, Av. da Liberdade, 266, 1250-149 Lisboa, Tel.: 213187400. (NORTE) Edifício Jornal de Notícias R. Gonçalo Cristóvão, 195, 4049-011 Porto Tel.: 222096172. Cristina Carvalho (gestor de conta), Elsa Canha (assistente) Direção de Marketing e Comunicação Ana Marta Heleno (diretora), Joana Machado (diretora adjunta) Direção de Prod. e Distrib. António Carvalho Impressão Lisgráfica, SA – Est. Consiglieri Pedroso, Casal de Santa Leopoldina. 2745-553 Barcarena Distribuição Vasp, Distribuidora de Publicações Lda. MLP, Quinta do Grajal, Venda Seca – 2739-511 Agualva Cacém; Tel.: 214337000/ Fax: 214326009 Depósito legal n.º 55418/2001 Tiragem deste número 150 000 exemplares Propriedade Global Notícias, Publicações, SA – Sede na Rua Gonçalo Cristóvão, 195-219, 4049-011 PortoTel. 222096111/Fax: 222006330 Filial na Avenida da Liberdade, 266, 4.º 1250-149 Lisboa/Tel. 213187500 / Fax: 213187506 Capital social 6 334 285 euros NIPC 500096791 Conservatória do Registo Comercial do Porto
Conselho de Administração Daniel Proença de Carvalho (presidente), Vítor Ribeiro, José Carlos Lourenço, Pedro Coimbra, Rolando Oliveira, Luís Montez e Jorge Carreira (administradores) Detentora de mais de 5% do capital da empresa Global Notícias - Media Group, S.A.
Suplemento dominical do Jornal de Notícias e do Diário de Notícias Não pode ser vendido separadamente.
NM1259_63_Horoscopo AP.indd 63
Informação cedida pelo canal de astrologia do Sapo http://astrologia.sapo.pt
NOTÍCIAS MAGAZINE 63
05-07-2016 18:23:58
PRAZER D E CONSUMIR
•
PUBLICIDAD E
Estilo único
Verão e anéis são uma combinação que resulta em looks perfeitos. A Pandora quer descobrir qual é o seu.
«
Grandes vinhos, grandes conquistas O ano de 2016 tem sido sem dúvida um ano de grandes conquistas para a Adega do Cartaxo, tendo conquistado pelo segundo ano consecutivo o prémio Empresa Excelência e Enólogo do Ano atribuído pela Gala de Vinhos do Tejo. Para além destes grandes reconhecimentos, a Adega neste ano já soma um total de mais de meia centena de medalhas em diversos Concursos Nacionais e Internacionais, uma medalha de grande ouro, 16 medalhas de ouro, 28 medalhas de prata, 13 medalhas de bronze, sete medalhas Commended e ainda conquistou o prémio Melhor da Região no concurso de vinhos Uva de Ouro 2016. Na génese destes inúmeros reconhecimentos está uma atitude orientada para o mercado com forte aposta na qualidade e na irreverência dos seus vinhos e assente numa estratégia de diversificação de produtos e mercados.
C
ompleta o teu look» é o mote para o desafio de criar e combinar vários looks com a coleção de anéis da marca. Rock and Romance, Pop of Color, Flower Power ou Modern Chic são as sugestões da marca, que garantidamente se vão adaptar aos vários estilos da mulher moderna. Pode aceitar o desafio da Pandora e criar o seu estilo único com as infinitas combinações de anéis entre os dias 24 de junho a 10 de julho nas lojas Pandora.
IDEIA ESSENCIAL A marca ALEX AND ANI realiza até 8 de julho uma campanha de apoio à Associação Animais de Rua.
A ALEX AND ANI , marca de produtos eco-friendly, oferece um desconto de 30%, em artigos selecionados, na cadeia Boutique dos Relógios e nos pontos de venda autorizados da marca. Uma percentagem das vendas resultante desta Campanha Solidária será doada à Associação Animais de Rua com o objetivo de apoiar o seu trabalho na área de proteção de animais em risco.
NOVA LOJA ROCKPORT A inauguração da nova concept store no Almada Forum assinalou oficialmente a época de saldos com promoções até 50%. A Rockport, empresa americana pioneira em calçado cosmopolita com tecnologia desportiva integrada, reforça a sua aposta em Portugal ao inaugurar uma nova concept store no Almada Forum. São cerca de 40 metros quadrados onde o conceito da marca pode ser experienciado. Baseado na estética de American Loft, o espaço possui um ambiente descontraído, luminoso, confortável e tecnológico. A inauguração da loja aconteceu no passado dia 1 de julho, dia em que a Rockport iniciou oficialmente a época de saldos, com descontos até 50% na coleção de primavera-verão em todas as concept stores da marca. Todos os sapatos Rockport possuem um design contemporâneo de inspiração clássica e são desenhados para acompanharem o quotidiano vivido de homens e mulheres citadinos.
Licoreira Portuguesa
A Licoreira Portuguesa recupera e reinventa receitas ancestrais de licores que remontam ao século passado. Com o crescimento e inovação da marca surgem novos sabores, existindo atualmente uma linha de seis licores, que se distinguem pela sua qualidade, fruto da utilização de ingredientes de elevada qualidade, num processo de produção natural e artesanal, sem adição de corantes nem conservantes. Disponíveis em garrafeiras, lojas gourmet e mercearias típicas.
64 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_64_PrazerConsumir AP.indd 64
05-07-2016 18:41:54
DO LEI TOR
PRÉMIO GAZETA 2015 Ricardo J. Rodrigues é um jornalista do mais fino quilate. O autor de «Um milagre na guerra», Prémio Gazeta 2015 do Clube dos Jornalistas, está de parabéns. Não é fácil o abraço com o leitor. Mas o talento dele fez dos substantivos, verbos e adjetivos as flores do mais belo jardim onde despontam a literatura e o jornalismo. Guardo a revista com a reportagem premiada em memória de todos aqueles que não puderam contar a sua vivência durante e após a Guerra Colonial. Ademar Costa, PÓVOA DE VARZIM
CRISTIANO RONALDO Na crónica de Catarina Carvalho «Uma obsessão chamada Cristiano Ronaldo» [28 de junho], há que distinguir entre o cidadão Cristiano e o jogador de futebol. Oriundo de uma família e sociedade pobres, tem feito pelos seus e não só aquilo que muitos com mais bases não fazem. Quanto a jogador de futebol dos melhores do mundo, senão o melhor, quem é que não seria um pouco vaidoso nestas circunstâncias? Sobre a atuação na seleção nacional de futebol: num torneio deste tipo, as seleções nacionais nada têm que ver, por razões várias, com as «seleções» dos clubes. Carlos Leal, LISBOA
DÉCADAS A FAZER RIR Camilo Oliveira pulverizou décadas de cinzentismo em Portugal através dos teatros de revista e do seu humor reconfortante. Foi padre, pendura, coronel, merceeiro, presidente, aventureiro, prisioneiro, tudo aquilo que queria ser pois dominava as artes do palco e da comédia. Sem piadas fáceis, sem ser brejeiro, insultuoso, nunca escondeu a admiração pelo sexo feminino e pela sátira que continua atual: um país tocado a vinho, que perdeu o tino, armado ao fino, onde está tudo grosso e em crise. Emanuel Caetano, ERMESINDE
INSTRUÇõ ES D E U TILIZAÇÃO Esta página é para os leitores. Para que protestem, deem ideias e opiniões, refilem e se façam ouvir. Mas há condições: é preciso que não excedam as 200 palavras ou os mil carateres. E tendo consciência de que a revista se reserva o direito de editar as cartas de forma a que fiquem mais curtas e mais claras. Escrevam muito. Ficamos à espera. Os materiais enviados não serão devolvidos.
CORREIO
Edifício Diário de Notícias Av. Liberdade, 266, 5.º – 1250-149 Lisboa
NM1259_65_Ouvir AP.indd 65
PUBLICIDADE
faca.ouvir@noticiasmagazine.com.pt
05-07-2016 18:36:40
ÚLTIMA PÁGINA
FERREIRA FERNANDES Latas de cerveja e um noturno de Chopin
O
rio da minha aldeia chama-se Monongahela. O problema com ele não é só o nome, impronunciável. Um dia, era eu garoto, um B-25 da Força Aérea americana caiu no Monongahela. Era inverno, os seis homens da tripulação sobreviveram à queda, mas dois não aguentaram o frio da água. Mas olhem para o mistério: o avião era uma bisarma, que as águas mal podiam cobrir e, no entanto, o bombardeiro nunca mais apareceu. Nem uma pá dos dois motores, nem um assento, nada – até hoje. A minha aldeia tem buracos negros, vive disso, das minas de carvão.
A
minha aldeia chama-se Clairton. No oeste da Pensilvânia, onde, no próximo novembro, os votos conservadores dos operários farão bascular o estado, ou não, para a direita, se compensarem os votos democratas dos funcionários de Filadélfia. Lembro-me da tabuleta de entrada – na única rua da aldeia, atravessando-a – que dizia: “Bem-vindos a Clairton, Cidade da Oração.” Estava escrito “city”, que dá para cidade ou aldeia, o que quiserem. Na verdade, a tabuleta nunca lá esteve, só foi posta por causa de um filme. O importante é que foi lá que conheci os meus.
R
obert de Niro, Christopher Walken, John Cazale, John Savage, operários da siderurgia, e, claro, a namorada do Christopher, Meryl Streep, acho mesmo que foi ele que ma apresentou. Eles eram todos, ou quase todos, de origem russa, iam à igreja ortodoxa e eu, português (português bizarro, mas português), entendia-me com eles por sermos da mesma aldeia. Definição da minha aldeia: jovens, fim dos anos 60. Por favor, não me emendem, sei que The Deer Hunter, O Caçador, foi realizado dez anos depois (1978), mas quem vos está a falar de um filme? Eu estou dentro de Clairton, fim dos anos 60, como disse.
C
E
les bebiam como filhos de russos, dançavam como filhos de russos e falavam uma linguagem universal, pois iam para a guerra. Naquele tempo a palavra pronunciava-se assim: “Vietname.” Num dia de bebedeira, um forasteiro vestido de soldado e que já conhecia a tal “vietname”, sabendo que alguns dos meus amigos iam partir para lá, disse: “Fuck it.” Acho que foi a primeira vez que ouvi a expressão.
D
epois, fui com os meus amigos caçar veados. Os carros eram espadas, longos, muita chaparia, com a pintura gangrenada pelo sal deitado ao gelo das estradas. O grupo era de jovens sem compreender o que começavam e começavam numa encruzilhada que não o era. Iríamos para onde já estava decidido irmos. Ou talvez não. Quase todos queriam caçar em algazarra, menos Robert, que era metódico. Matou o veado limpamente. Depois fomos beber para o bar da nossa aldeia. Abriam-se as latas de cerveja e era um chuveiro de espuma. Bebíamos mais e gritávamos. O dono do bar calou-nos sentando-se ao piano. É o que tem de bom receber emigrantes do Leste europeu, são bêbados mas têm música dentro deles. O homem tocou um noturno de Chopin sobre a nossa bebedeira.
O GRUPO ERA DE JOVENS SEM COMPREENDER O QUE COMEÇAVAM E COMEÇAVAM NUMA ENCRUZILHADA QUE NÃO O ERA. IRÍAMOS PARA ONDE JÁ ESTAVA DECIDIDO IRMOS.
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
N
ão sei se vocês sentiram isso quando viram o filme. Eu, de dentro, senti. Estávamos no início da nossa amizade e percebi o que ia acontecer-nos nas três horas que ela durou. A vida é uma roleta russa, e ela não tem nada a ver com o exotismo de Saigão, que, aliás, é uma rua de Banguecoque. Tão falso como a ilusão de que somos nós a rodar o tambor e premir o gatilho. Não somos nem isso, somos muito mais. Talvez um grupo de amigos bêbados e um piano, como me disse, um dia, um amigo da minha aldeia, que nunca conheci. Adeus, Michael Cimino.
66 NOTÍCIAS MAGAZINE
NM1259_66_Cronica FerFer LB.indd 66
05-07-2016 21:17:10
NM1259_66_Cronica FerFer LB.indd 67
05-07-2016 21:17:10
10189 Mar Shopping Concertos Noticias Magazine 210x270.pdf
NM1259_66_Cronica FerFer LB.indd 68
1
01/07/16
14:13
05-07-2016 21:17:10