Boletim Evoliano
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O Estoicismo Marcos Rogério Estevam ————————————————
Introdução O Estoicismo foi uma escola filosófica fundada por Zenão em Atenas, ao redor do ano 300 AEC, com inspirações em Heráclito, Sócrates e no cínico Diógenes. Por volta do início da Era Comum, o Estoicismo é absorvido pelo Império Romano e rapidamente se torna numa das suas filosofias oficiais (juntamente com o Epicurismo). Não é difícil entendermos o porquê: o sábio estóico ideal descrito pelos textos coincide numa série de pontos com aquele perfil viril e solar que já era património dos Romanos: a claridade espiritual, a simplicidade, a objectividade, a ausência de misticismo e sentimentalismo, o valor posto sobre as virtudes (temperança, coragem, justiça e sabedoria), a lealdade ao ideal do Império e um estilo de vida desprovido de afectação encontram sua fundamentação básica nos preceitos estóicos. Tanto é assim que os estóicos serviram de modelo e inspiração para a Ordem militar que regia a Prússia: “Sabe-se que o nó original da Prússia foi uma Ordem, a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos, chamada em 1226 pelo duque polaco Konrad de Mazovie a defender as fronteiras do Leste. Os territórios conquistados e os dados em feudo formaram um Estado dirigido por essa Ordem e protegido pela Santa Sé, da qual dependia no plano da disciplina, e pelo Sacro Império Romano. O Estado englobava a
Prússia, o Brandeburgo e a Pomerânia. Em 1415, voltou aos Hohenzollern. Em 1525, com a Reforma, o Estado da Ordem “secularizouse”, emancipou-se de Roma, mas, mesmo desaparecido o laço propriamente confessional da Ordem, manteve o seu fundamento ético,
Zenão, fundador do estoicismo
ascético e guerreiro. Assim se continuou a tradição que deu forma ao Estado prussiano nos seus aspectos mais característicos. Ao mesmo tempo que a Prússia se constituía em reino, criava-se em 1701 a Ordem da Águia Negra, ligada à nobreza hereditária, que tomou por divisa as origens e o princípio clássico da justiça: Suum cuique. Interessa notar que na formação prussiana do carácter, especialmente entre o corpo de oficiais, se faz referência explícita à retomada do
estoicismo no sentido do domínio sobre si mesmo, à firmeza de alma e a um estilo de vida sóbrio e íntegro. Assim, por exemplo, no Corpus Juris Militaris, introduzido no século XVIII nas escolas militares, recomendava-se aos oficiais o estudo das obras de Séneca, de Marco Aurélio, de Cícero e de Epicteto. Marco Aurélio foi uma das leituras preferidas de Frederico o Grande. Correlativamente, alimentava-se antipatia pelo intelectualismo e pelo mundo das letras (recorde-se a propósito a atitude sarcástica e drástica de Frederico-Guilherme I, o “rei dos soldados”, que queria fazer de Berlim uma “Esparta nórdica”. A fidelidade à Coroa (liberdade na obediência) e o princípio de serviço e de honra caracterizavam a classe política que dirigia o Estado prussiano, antigamente um Estado da Ordem, conferindo-lhe forma e poder” (Evola, Fascismo e III Reich). E como dizíamos, com a introdução do estoicismo em Roma, o que antes era um traço interior torna-se passível de ser exposto e defendido de maneira lógica e filosófica. Entre os principais filósofos estóicos romanos cujos textos nos chegaram encontramos o escravo que foi liberto Epicteto (autor do “Manual” e dos “Discursos”), o cônsul romano Séneca que foi autor de dezenas de “Tratados Morais” e cartas expondo a doutrina estóica e por fim Marco Aurélio, último grande Imperador de Roma com suas “Meditações”. Ao longo do nosso texto, iremos referir-nos a todos estes textos sem nos preocuparmos com suas autorias para tornar