Boletim Evoliano, núm. 8 (2ª série)

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Discurso de fundação da Falange JOSÉ ANTONIO PRIMO DE RIVERA Quando em Março de 1762, um

era preciso respeitar escrupulosa-

homem nefasto, que se chamava

mente o que de lá saía, como se a

Jean Jacques Rousseau, publicou o

ele nada lhe importasse. Quer

Contrato Social, a verdade política

dizer, os governos liberais não

deixou de ser uma entidade per-

acreditaram sequer na sua própria

manente. Anteriormente, noutras

missão: não pensavam estar lá

épocas mais longínquas, os Estados

para cumprir um dever respeitável,

que eram os executores de missões

mas pensavam sim que, fosse

históricas, guardavam, como que

quem fosse que pensasse o contrá-

escritas à sua frente, e mesmo

rio deles próprios e se propusesse

acima deles, a Justiça e a Verdade.

atacar o Estado, por boas ou más

Jean Jacques Rousseau veio dizer-

razões, tinha tanto direito de o

nos que a justiça e a verdade não

fazer como os guardiões do mesmo

eram imperativos da razão, mas

Estado tinham o direito de o de-

sim o resultado, em cada instante,

fender.

das decisões da vontade.

Daí veio o sistema democrático,

Jean Jacques Rousseau, pensava que o conjunto daque-

que é, antes de tudo, o mais ruinoso sistema de

les que formam uma Nação possui uma alma superior,

esbanjamento de energias. Um homem dotado para a

diferente de cada uma das nossas e que este “eu” superior

altíssima função de governar, que é sem dúvida a mais

está dotado duma vontade infalível, capaz de definir, em

nobre das funções humanas, devia consagrar noventa ou

cada instante, o justo e o injusto, o bem e o mal. E como

noventa e cinco por cento do seu tempo a apoiar as

esta vontade colectiva, esta vontade soberana, não se

reclamações administrativas, fazer a propaganda eleitoral

exprime senão pelo sufrágio – o que quer dizer que o

e a dormitar nas cadeiras da Assembleia Nacional. Ele

grupo mais numeroso leva a melhor sobre o minoritário,

devia ainda adular os eleitores, aguentar as suas imperti-

na tarefa de adivinhar esta vontade superior – resultava

nências, pois era deles que ia receber o poder, suportar as

que o sufrágio, essa farsa de papeluchos a entrar numa

humilhações e os vexames daqueles que, por causa da sua

urna, tinha o dom de nos dizer, em cada instante, se Deus

função quase divina de governar, eram obrigados a obede-

existia ou não existia, se a verdade era ou não era a

cer-lhe. E se, depois de tudo isto, lhe restavam algumas

verdade, se a Pátria devia permanecer, ou se valia mais

horas, pela madrugada, ou alguns minutos roubados a um

que, num dado momento, se suicidasse.

sono intranquilo, só então podia pensar seriamente nas

Como o Estado liberal foi um servidor desta doutrina,

suas funções de governante.

veio a constituir não já o executor resoluto dos destinos da

Depois veio a perda da unidade espiritual dos povos

Pátria, mas o espectador de lutas eleitorais. Para o Estado

porque, como o sistema funcionava sobre o engano das

liberal, uma única coisa contava: que às mesas de voto se

maiorias, todos aqueles que queriam aproveitar-se do

sentassem um determinado número de senhores, que o

sistema, deviam esforçar-se por conquistar a maioria dos

escrutínio começasse a tal hora e terminasse a uma outra,

sufrágios. E era preciso procurá-los roubando-os, aos

e que não se violassem as urnas, como se o serem violadas

outros partidos: e para isso não se hesitava em caluniá-los,

não fosse o mais belo destino de todas as urnas. Depois,

em despejar sobre eles as piores injúrias, em faltar delibe-

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