“
Metternich soube reconhecer que a democracia e o nacionalismo eram as principais forças que iriam arrasar a Europa tradicional (…) Viu o profundo encadeamento das diferentes formas de subversão que, partindo do liberalismo e do constitucionalismo, conduziriam ao colectivismo e ao comunismo.”
como simples expressão do demos. Metternich recusa-se a
contra o vírus dos chamados “princípios imortais” (o “mal
crer nas “nações”, nas quais via apenas uma máscara da
francês”, já não físico mas espiritual, para retomar a
revolução, um mito anti-dinástico. Quanto à sua criação, a
fórmula de Cecil), é a única que, se encontrar homens – e,
Santa Aliança, ela foi uma última tentativa que, se assegu-
se possível, essencialmente soberanos – à sua altura, pode
rou à Europa uma paz fecunda durante toda uma geração,
salvar aquilo que ainda pode ser salvo da nossa civilização.
não esteve à altura do seu princípio fundador. Faltou-lhe,
— Capítulo XXVII do livro “Ricognizioni: Uomini e
no fundo, uma ideia autêntica, algo que a fizesse realmen-
Problemi”
te sacra e, acima de tudo, uma unidade construtiva e não sobretudo defensiva. De qualquer forma, Cecil recorda que já De Maistre tinha dito o essencial ao afirmar que não se
1. Klemens Wenzel Lothar, príncipe de Metternich-Winneburg (17731859). Estadista austríaco que nasceu em Coblença. Durante quarenta anos foi chanceler de Francisco I e de Fernando I. Negociou o matrimónio
tratava de fazer uma “contra-revolução” mas sim “o
de Napoleão I com Maria Luísa. Em 1813, pronunciou-se contra o
contrário de uma revolução”, ou seja, proceder a uma
imperador francês e contribuiu para a sua derrota. A partir de 1815
acção política positiva a partir de sólidas bases espirituais e
constituiu, com a Rússia e a Prússia, a Santa Aliança, e tornou-se chefe da
tradicionais, através da qual a eliminação de tudo o que é
reacção absolutista na Europa, inimigo de qualquer ideia revolucionária. Reprimiu ferreamente os movimentos liberais surgidos na Itália e na
subversão e usurpação por parte das forças inferiores seria
Alemanha, e mostrou-se hostil à revolta grega contra a Turquia e aos
uma consequência natural.
movimentos revolucionários das colónias latino-americanas. Em 1848, foi
Assim sendo, não há dúvida de que uma ideia deste tipo, associada à solidariedade combativa de todas as forças que na nossa Europa ainda se mantêm firmes e reagem
destituído como consequência da revolução que ocorreu nesse mesmo ano. (NdT) 2. Nome dado ao movimento que no século XIX levou à unificação da Itália. (NdT)
Em busca da Verdade O pensamento filosófico de António José de Brito BRUNO OLIVEIRA SANTOS António José de Brito (AJB), desaparecido recentemen-
Como escreveu Alexandre Fradique Morujão, a medita-
te, foi um dos maiores pensadores portugueses. Professor
ção filosófica de AJB orienta-se no sentido de harmonizar a
catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universida-
exigência de um ponto de partida radical da filosofia, como
de do Porto, assumiu-se como doutrinador político, na
preconizara já Descartes e modernamente Husserl, com a
linha do seu mestre Alfredo Pimenta, e delineou ao longo
exigência dialéctica, de inspiração hegeliana e influência de
de várias décadas um exigente e rigoroso pensamento
Giovanni Gentile – e em permanente diálogo com as
filosófico. São de leitura obrigatória os estudos sobre a
correntes da filosofia da linguagem e da fenomenologia,
noção principal de “insuperável”, a natureza dialéctica do
entre outras.
processo da razão e da própria filosofia, a ideia de fundamentação em filosofia, a crítica do relativismo, os textos
O DOUTRINADOR
sobre o argumento ontológico, a refutação do “sentido da
Além da sua colaboração em diversas publicações, da
História” ou a sua concepção de direito natural.
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“Mensagem” à “Último Reduto”, passando pela “Tempo
Número 8, 2ª Série