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IRMÃ OTILIA E MARTA

Marta nasceu na cidade de Plauen, na Alemanha. Os pais se acomodam no extremo sul capixaba. Início do século XX, da Primeira Guerra Mundial. Carregava a vontade de ser tornar irmã de caridade. Em Cachoeiro de Itapemirim, encontrou numa antiga fazenda, no alto do morro, uma moradia que aos poucos se transformava em hospital. Com o desejo de ser aceita na irmandade, foi ficando nos corredores do nosocômio, aprendendo o oficio dos cuidadores. Mesmo sem conhecer as palavras escritas, conhecia cada remédio pedido, cada frasco solicitado, conhecia pelas cores das embalagens, aprendia sem muito esforço, devido o prazer de servir. Tornara-se uma auxiliar imprescindível no serviço de oftalmologia e otorrinolaringologia do professor Casotti. Do mundo exterior pouco conhecia. Permanecia junto da clausura, um local que acreditava estar mais próxima de Deus. Acompanhava as orações. Sentia-se feliz assim: com as irmãs, clausura e o hospital. Pensava frequentemente nos familiares. Lembrava da fruta no pé, da sombra e a brisa de suas tardes de criança. Um dia, foi levada a casa dos pais. Uma alegria ao rever os parentes. Mas acostumara-se aos corredores do hospital. Gostava da gratidão dos acamados. Dos pais, ficou com a recordação, eles sentados à beira da casa, era as- sim que recordaria um casal feliz. Voltou ao hospital. Adormeceu pelo cansaço da viagem. Uma viagem que não voltaria mais a realizar. Marta partiu há muitos anos atrás. Deixou um rastro de bondade. A caridade da irmã Otilia, com seu aspecto franzino, seu hábito branco preencheu o vazio e acompanhou os passos deixados pela Marta nos corredores hospitalar. A clausura foi desativada ainda no século XX e em seu lugar encontra-se o Centro de Estudos Edson Moreira. Com a pandemia do Coronavírus ficamos sem a presença da irmã Otilia. Na última páscoa ela retornou. Retornou o conforto e consolo para os pacientes internados, familiares e todo aquele que necessita de uma palavra amiga. Na maioria das vezes poucas palavras. O suficiente para o preenchimento espiritual. Com sensibilidade e respeito às diferenças religiosas. Na última páscoa, retornou a irmã Otilia, com seus braços abertos, um sorriso e sua face tranquila, transmitiu um convite e desejo de todo corpo clínico e funcionários da Santa Casa de Cachoeiro para um longo abraço. Uma imagem de paz pelos mais de100 anos de existência do hospital.

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