BAIXO SABOR

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#1 Dezembro

Arqueologia

Baixo Sabor AHBS

Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor A construção de uma nova barragem hidroeléctrica na região de Trás-os-Montes Oriental - Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor - abarca uma vasta área do distrito de Bragança englobando a sua futura albufeira parte dos concelhos de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros. Dada a extensão do território submerso e as profundas alterações na paisagem, houve necessidade de criar um Plano de Salvaguarda do Património – PSP – com o objectivo de mitigar os impactos que a referida empreitada acometerá sobre o Património. Nesse documento orientador de todos os trabalhos arqueológicos a serem realizados no âmbito desta empreitada, foram contemplados diversos estudos específicos, recaindo os mesmos sobre diferentes áreas e categorias patrimoniais do vale do Rio Sabor. Englobando um amplo espectro cronológico, os mesmos incidem desde a Pré-história antiga até à Época Contemporânea. Desde o início da investigação arqueológica, em 2008, foram descobertos mais de mil sítios de interesse histórico e arqueológico, designados de Elementos Patrimoniais (EP). Entre eles contam-se gravuras paleolíticas, abrigos pré-históricos, forticações da Idade do Ferro, casais romanos, necrópoles medievais, sistemas agrícolas modernos e contemporâneos entre muitos outros vestígios. A newsletter que aqui se apresenta, pretende dar a conhecer o resultado dos vários trabalhos arqueológicos até hoje desenvolvidos no AHBS. Organizada pelos diferentes estudos esperamos contribuir para a comunicação e divulgação de um Património material e imaterial que é de todos.

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estudo da arte rupestre Introdução ao Estudo de Arte Rupestre no Baixo Sabor O estudo da arte rupestre (onde se inclui a pintura e a gravura) dos sítios localizados na área de afectação do Empreendimento é um dos estudos específicos a realizar nas Áreas e Categorias Patrimoniais no Vale do Sabor. O principal objectivo desta medida é o de registar todas as manifestações de Arte Rupestre identificadas na área em Estudo, bem como estabelecer a sua relação contextual com a paisagem e com o espaço que lhe é imediato, isto é, com as acções que os homens do passado aí desenvolveram segundo as suas concepções de espaço, território e cosmovisão. Tais registos e estudos deverão constituir um corpo de documentos (narrativos, gráficos e fotográficos) que permitam não somente conhecer a natureza dos sítios com arte no contexto do Baixo Sabor, mas que se possam articular, em termos de construção narrativa histórica com regiões espacialmente vizinhas.

Ribeira da Sardinha – representação de Auroque (Bovídeo)

Considera-se que o início da actividade artística na história da humanidade tenha ocorrido no Paleolítico Superior (40.000 a.C. até 10.000 a.C.). Neste grande intervalo temporal de 30 mil anos, a humanidade pintou e/ou gravou diversas superfícies rochosas no território até então conhecido. A rocha da Ribeira da Sardinha é, até ao momento, a mais antiga evidência de arte na área de afectação do empreendimento enquadrando-se precisamente no Paleolítico Superior. Neste afloramento encontramos apenas um animal representado. Trata-se de um auroque, espécie de bovídeo actualmente extinta mas cujo território, na Pré-história, se estendia até Portugal. Esta representação é em tudo semelhante às várias gravuras com auroques detectadas no vale do Côa. Ao contrário do Côa, que se constitui como a maior concentração de arte paleolítica ao ar livre conhecida no mundo, no vale do Sabor para além da rocha da Ribeira da Sardinha, apenas se encontraram mais três sítios reportáveis ao Paleolítico Superior, já fora da área de afectação. Será interessante no futuro tentar compreender a concentração de arte rupestre no vale do Côa por oposição à do vale do Sabor

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arte rupestre

Vale Figueira – Pormenores de alguns motivos da rocha.

A Idade do Ferro no vale do Sabor encontra-se bem representada através da arte rupestre. Este período, que se estende desde 1.200 a.C. até 27 a. C., caracteriza-se por uma maior complexificação e hierarquização social, por movimentos migratórios e relações comerciais de grande distância tanto atlânticos como mediterrânicos e continentais e, todo um novo conjunto de representações gráficas. Dependendo da região, a arte rupestre deste período integra rochas gravadas com covinhas, armas, representações de pés, carros, etc. No vale do Sabor, a arte rupestre deste período é comparável à do vale do Côa, com representações de animais, cenas de caça e armas. As figuras são geralmente de pequenas dimensões e gravadas com traços finos. Na rocha apresentada, vêem-se dois cervídeos e o que poderá ser um caçador ou um guerreiro associado a um cavalo. Este afloramento encontra-se no vale de Figueira (Margem direita do Escalão de Montante), que é, até ao momento, o sítio com mais rochas enquadráveis na Idade do Ferro e próximo da importante estação do Castelinho enquadrável neste período.

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estudo da pré-história

Introdução ao Estudo da Pré-História no Baixo Sabor Com o Estudo sobre a Pré-História no vale do rio Sabor pretende-se identificar a evolução da ocupação paleo-humana do território a afectar pela implantação do Empreendimento Hidroeléctrico. Como tal, a caracterização das estratégias de ocupação do espaço em estudo durante a Pré-História concretiza-se através de prospecções direccionadas, sondagens de diagnóstico e escavações arqueológicas. Tradicionalmente considera-se a Pré-História como a disciplina que estuda o Homem desde o seu aparecimento até invenção da escrita. Como não existem testemunhos escritos, a arqueologia é o único meio para reconstruir os episódios durante a Pré-História, através dos restos materiais deixados pelos povos do passado: lugares de habitação, utensílios, pequenos e grandes monumentos e as suas obras de arte. Para o seu estudo, a Pré-História divide-se em quatro grandes períodos que correspondem à própria evolução tecnológica da humanidade: o Paleolítico, o Neolítico, o Calcolítico e a Idade do Bronze. 40 000

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estudo da pré-história

O período mais antigo, o Paleolítico, estende-se desde os 2.500.000 anos até 10.000 anos atrás. O Homem era nómada, caçador e recolector, fabricava os seus utensílios e armas em pedra lascada, colocava os seus acampamentos perto de rios ou cursos de água para abastecer-se de alimentos. Também deixou vestígios de arte em rochas (como é o caso do vale do Côa) ou abrigos. No caso do rio Sabor encontramos vestígios deste tempo nos terraços fluviais.

O Mesolítico (10 000-7 000 a.C.) caracteriza-se por uma melhoria climática relativamente ao período anterior. Nesta etapa pós-glaciar o Homem explora novos territórios perpetuando o modelo económico da caça e recolecção. No Neolítico (7000-2900 a.C.), desenvolveu-se a agricultura e a pastorícia, o que o permitiu o desenvolvimento dos primeiros povoados duma maneira mais sedentária. As sociedades complexificam-se. Tecnologicamente o Homem fabrica pedra polida além da pedra lascada e desenvolve a cerâmica. No Calcolítico (2900-2500 a.C.) surgem povoados fortificados implantados em pontos altos e estruturas habitacionais mais desenvolvidas. Além da pedra lascada e polida surgem os primeiros objectos em metal – cobre. Esta etapa da evolução das sociedades foi identificada em sítios localizados na Pedreira do Escalão de Montante, onde foi recolhido, inclusive, um anel decorado e um punção em cobre.

Fragmentos de cerâmica decorada do período Calcolítico.

Na Idade do Bronze (metade do 3º milénio até 1.500 a.C.) surgem predominantemente objectos em bronze (liga metálica – cobre e estanho). O processo da metalurgia, da extracção dos minerais, da fabricação e da distribuição de ferramentas tendem à especialização por ofícios e à estratificação social. Surgiu uma classe poderosa, dedicada à exploração e comércio de jazidas metalíferas, o que suponha contar com embarcações adequadas e acondicionadas para longas travessias. Foi também a origem do urbanismo.

Anel de metal encontrado no Elemento Patrimonial 576.

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Nos trabalhos já desenvolvidos salienta-se o sítio arqueológico encontrado na Pedreira de Relvas, Quinta do Rio 14. Com a intervenção arqueológica pretendia-se a contextualização crono-cultural de um conjunto de materiais cerâmicos de cronologia pré-histórica identificados numa plataforma desta Pedreira. A intervenção arqueológica realizada, com a abertura de um total de 41m2, permitiu a identificação de dois níveis arqueológicos pré-históricos. O conjunto material enquadra-se nos contextos do 3º milénio, ou seja dentro do período Calcolítico, e apresenta fragmentos cerâmicos, indústria lítica lascada basicamente em quartzo e quartzito, um anel e um punção de metal. 6 000

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estudo da romanização Introdução ao Estudo da Romanização no Baixo Sabor O Estudo Sobre a Romanização pretende, no geral, obter o máximo de informação possível sobre o período romano no vale do rio Sabor. Tratando-se de uma região sobre a qual existe um considerável volume de informação bibliográfica, esta incide, maioritariamente, sobre trabalhos de prospecção. Por outro lado, as intervenções arqueológicas nesta região e na área do romano foram pontuais, sendo a área melhor estudada o vale da Vilariça. Assim, este estudo torna-se particularmente interessante pela oportunidade única de conhecer arqueologicamente a romanização do vale do Sabor. Poderemos conhecer o tipo de sítios implantados – casais (pequenos proprietários), granjas (pequenas quintas), villae (quintas de maiores dimensões) ou mesmo vici (aldeias), as actividades económicas, a rede de caminhos, as travessias fluviais, a cronologia e evolução de cada sítio, os objectos que utilizavam e as relações económico-sociais com a região envolvente e demais sítios.

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estudo da romanização

Até ao momento, foram realizadas sondagens arqueológicas em oito sítios aparentemente romanizados: EP 148 (Cilhades-Felgar), EP 189 (Quinta de Crestelos-Meirinhos), EP 214 (Chã-Cerejais), EP 239 (Vale da Bouça-Castro Vicente), EP 241 (Foz da Ribeira do Poio), EP 252 (Carvalhinhos-Castro Vicente), EP 529 (Cabeço da Grincha-Remondes) e EP 673 (Olival do Poço da Barca-Felgar). Apesar de o número de sítios romanizados identificados no vale do rio ser reduzido, os primeiros resultados das sondagens de diagnóstico foram bastante positivos. Ao longo do mês de Outubro foram intervencionados os EP’s 252 e 673. No primeiro caso, apesar de os vestígios à superfície apontarem para uma cronologia romana segura, as sondagens de diagnóstico não permitiram localizar o sítio. Já no EP 673, as sondagens de diagnóstico não foram esclarecedoras quanto à cronologia dos vestígios, sendo quase certo que o sítio não se enquadra no período romano.

EP 252 (Carvalhinhos-Castro Vicente).

EP 673 (Olival do Poço da Barca-Felgar).

EP 189 (Quinta de Crestelos-Meirinhos).

EP 241 (Foz da Ribeira do Poio).

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Introdução ao Estudo Etno-Arqueológico de Cilhades A par dos outros estudos aqui referidos, foi também equacionada a análise aprofundada ao nível histórico, arqueológico e antropológico de um pequeno território localizado na margem direita do Rio Sabor – Cilhades (Lugar da Freguesia de Felgar, Torre de Moncorvo, Bragança) –, atendendo-se, desde logo, à longa diacronia ocupacional ali observada. Designado por Estudo Etno-Arqueológico de Cilhades, visa o mesmo, na sua essência, dar conta de distintos aspectos dessa dilatada presença humana naquele espaço muito particular. Muito embora os vestígios antrópicos mais visíveis de Cilhades se prendam com construções directamente relacionadas com o aproveitamento sazonal dos terrenos agrícolas ali existentes, conotando-se estas com todo um conjunto de edifícios de apoio agrícola, muros 40 000

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de socalco, muros apiários, poços de captação e levadas de água, há neste pequeno lugar claras evidências de uma ocupação continuada no tempo, iniciada na II Idade do Ferro, prolongando-se pelo período romano e medieval e estendendo-se, praticamente, até aos dias de hoje. Assim, assiste-se por um lado ao estabelecimento de uma pequena comunidade proto-histórica num ponto elevado, ocupando e fortificando o topo de um esporão com amplo domínio visual, no local hoje conhecido por Castelinho, tratando a ocupação humana dos períodos subsequentes, mesmo a romana, de se fixar nas zonas mais baixas, já em pleno Vale do Sabor.

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Período de Ocupação de Cilhades


estudo etno-arqueológico de cilhades

A par com elementos arquitectónicos que denotam a presença de construções do período romano com alguma monumentalidade, sendo destes bem visíveis alguns silhares almofadados reaproveitados nalgumas das construções modernas, bem como fragmentos de colunas e soleiras em granito, é de salientar o achado ocasional, em meados do século XX, de uma inscrição – Ara votiva – dedicada a Denso. A revisão recente a esta epígrafe levou a que os mesmos investigadores a inserissem cronologicamente no século II d.C., conotando a divindade indígena ali inscrita como eventual protector de um aglomerado populacional (Prósper & Redentor, 264).

Do período medieval, a par com algumas cerâmicas entretanto identificadas, é de referir a existência num documento desse período a doação, por D. Sancho I, nos alvores do século XIII, do Reguengo de Cilhades – as terras do Rei - aos povoadores de Mós (Azevedo et al, 198). Dentro da área de Cilhades, já na zona de vale, encontra-se em curso, no sítio designado por Laranjal, uma intervenção arqueológica por uma área de necrópole, sítio este do qual já havia referências por parte de habitantes locais à sua existência e que ficou atestado pelas sondagens de diagnóstico ali realizadas. Embora não dispunhamos de um conjunto razoável de elementos para que possamos atribuir uma cronologia segura para esta necrópole, a investigação que tem sido levada a cabo com base na análise de alguns dos seus componentes, como é o caso de uma tampa de sepultura insculturada com motivos cruciformes (na posse de um particular em Felgar), assim como uma inscrição patente numa das lajes que compõem um dos sepulcros, parece corroborar a possibilidade de estarmos perante uma área cemiterial do período medieval. Cilhades manteve-se, até aos anos de 1980, como uma zona de passagem fluvial importante, sendo as margens deste lugar servidas por uma barca, que, como noutros pontos importantes próximos, estes no Rio Douro, garantia o acesso de pessoas e bens entre as duas margens do Rio Sabor. A importância deste trânsito fluvial, desde pelo menos a Época Moderna é assinalável, observando-se este lugar destacado em exemplares da cartografia da região dos séculos XVI/XVII, como Barca de Silhades. A pequena embarcação só seria suplantada em 1982, pela construção, nas proximidades do seu ponto de travessia, por um pequeno pontão. Toda a área delimitada para registo exaustivo de Cilhades, encontrando-se nela, também, o povoado fortificado do Castelinho, ficará, a breve trecho, completamente submersa pela albufeira do Escalão de Montante do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor. 40 000

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estudo dos elementos edificados de carácter etnográfico Introdução ao Estudo dos Elementos Edificados e Arquitectónicos no Baixo Sabor Este estudo pretende investigar a Paisagem Tradicional, a sua construção e transformações bem como as vivências actuais. Atende-se com igual importância aos elementos patrimoniais construídos ou edificados, como ao patrimonio imaterial, sejam memórias, representações ou vivências. Entende-se por Paisagem Tradicional o momento de organização da paisagem imediatamente anterior às profundas rupturas que no prazo de apenas meio século, entre 1950 e 2000, fariam reduzir o peso da população rural portuguesa de valores superiores a 50% para valores inferiores a 5%. Perspectivada na Longa Duração, a Paisagem Tradicional preenche o período que se estende entre a Idade Média Plena (século XI) e o auge da ocupação demográfica do espaço rural que acontece nas décadas de 1950 e 1960. No decurso desse longo intervalo de tempo são inúmeras as transformações que é possível observar na ordenação da paisagem, mas, paralelamente, identifica-se uma mesma lógica ou ordem subjacente cujo processo de afirmação, maturação e desestruturação é possível seguir.

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Paisagem Tradicional


estudo dos elementos edificados de carácter etnográfico

O EP (Elemento Patrimonial) nº 17, antes dos recentes trabalhos arqueológicos, era visível apenas como uma ruína de quatro paredes que afloravam o solo, provável curriça ou casebre há muito abandonado, sobranceiro ao rio Sabor, logo a montante da Ponte da Portela. O estudo arqueológico, porém, viria a revelar um edifício com mais de 5 m de pé direito, completamente assoreado pelas areias e depósitos do rio Sabor que hoje se identifica como a Azenha da Quinta da Portela. De planta em forma de barco, para melhor resistir às cheias, com proa ou quebra-mar maciço, tinha um açude de grandes lajes e seixos o qual conduzia a água por canais onde trabalhavam duas grandes rodas verticais, movendo cada uma o seu par de mós com metro e meio de diâmetro. Este conjunto, abandonado há pelo menos 100 anos, pois não há memória dele no local, impressiona pelas dimensões, tornando-o impar no vale do Sabor. Investigações em curso no Arquivo Distrital de Bragança estão a permitir reconstituir a história desta azenha identificada em documentos de meados do século XIX.

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gabinete de espólio O Gabinete de Espólio funciona em colaboração próxima com os Estudos Específicos a operar na área da futura albufeira criada pelo AHBS. Neste espaço são tratados todos os materiais decorrentes de Escavações Arqueológicas e de acções de Acompanhamento Arqueológico desenvolvidas no âmbito das medidas de minimização e condensação de impactes sobre o património provenientes da fase de construção do AHBS. Paralelamente são realizadas deslocações a campo para prestação de serviços de conservação in situ, ou outro tipo de apoio necessário às equipas de escavação/estudos arqueológicos. O Gabinete de Espólio está dotado de meios que possibilitam a aplicação de tratamentos gerais sobre os seguintes tipos materiais: cerâmica, vidro, líticos, metais, osteológico, madeira, entre outros. Espólio que careça de medidas especiais de estabilização e conservação será reencaminhado para laboratórios credenciados. Objectivo/ Missão: Salvaguarda de objectos provenientes de escavações arqueológicas, acompanhamento arqueológico e recolhas etnográficas. Acções desenvolvidas: Tratamento e referenciação: limpeza simples, marcação, etiquetagem, inventariação/classificação, embalagem e contentorização. Medidas de estabilização e conservação: limpeza especializada, procedimentos de estabilização, colagem de fragmentos, entre outros. Espaços Físicos: O Gabinete de Espólio compreende três espaços físicos que se inter-relacionam para cumprir com os objectivos definidos, a saber: Laboratório: são realizadas as medidas de estabilização e conservação de materiais. Área de Estudo: são realizadas todas as acções de tratamento e referenciação dos objectos. Área de Reserva: constituída pelas áreas de reserva Geral e de Metais. Local onde os objectos são armazenados, após o seu tratamento e estabilização, durante o decorrer fase de construção do AHBS. Neste espaço procura-se obter condições ambientais que permitam a estabilidade dos materiais recolhidos.

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estudo antropológico

Fotografia cedida por Sr. Carlos Seixas

No âmbito do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor, o Plano de Salvaguarda do Património considerou necessário integrar, entre os seus colaboradores, uma equipa de antropólogos culturais com experiência em estudos de cultura material. A função destes elementos prende-se com a necessidade de registar os conhecimentos, as vivências e o saber fazer das comunidades rurais que protagonizaram a ocupação e o aproveitamento económico da área directamente afectada pela construção da barragem e da sua envolvência, à escala local e regional. Convém não esquecer que dentro da Área de Arqueologia do ACE, os antropólogos são os técnicos que têm um maior contacto com a povoação local. As principais metodologias implementadas para o correcto desenvolvimento destas funções passam pela realização de inquéritos orais, o registo de histórias de vida e a observação participante. Ao longo dos dois últimos anos, a equipa de Antropologia Social fez mais de seis centenas de entrevistas, completando um total de duzentas e catorze horas de gravações em formato áudio e vídeo. As histórias de vida que foram registadas até à data ultrapassam a centena, enquanto a observação participante se tem focalizado no estudo de uma série diversificada de actividades que incluem os ciclos 40 000

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económicos tradicionais das comunidades locais. Para além do acima referido, os antropólogos têm contribuído activamente para responder aos pedidos formulados pelos coordenadores da área de Arqueologia, com especial destaque para o estudo etno-arqueológico de Cilhades e para a análise do Património Edificado do Baixo Sabor. Conscientes da importância que o contributo da Antropologia Social e Cultural pode ter na minimização do impacto do empreendimento através do já referido registo, tem-se desenvolvido numerosos estudos parciais, entre os quais se destacam: as embarcações fluviais transmontanas, publicado no número 3 da revista de investigação Etnografia, e uma análise da tecnologia tradicional de navegação interior no rio Sabor, dado a conhecer no último número da revista Brigantia. Entre os temas alvo de pesquisa que serão proximamente desenvolvidos, convém referir o levantamento da microtoponímia da freguesia do Felgar, o estudo do abandono de Cilhades, a análise dos sistemas tradicionais de moagem, a caracterização da pastorícia local e da extinta comissão de proprietários do Felgar, assim como a descrição da alfaia agrícola mais representativa do sistema tecnológico pré-moderno. 5 000

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para mais informações:

Publicações e Comunicações no âmbito do AHBS

ficha técnica Boas Festas

SANTOS, Filipe João C. e LADRA, Lois; “A cabeça antropomorfa do Castelinho” Filipe João C. Santos e Lois Ladra; Os celtas da Europa Atlântica - III Congresso internacional sobre cultura celta. SANTOS, Filipe João C.; PINHEIRO Eulália e ROCHA, Fábio; “O sítio e a laje com gravuras do Castelinho (Felgar, Torre de Moncorvo). Contributos para o conhecimento da II Idade do Ferro em Trás-os-Monte Oriental” - Artes Rupestres da Pré-história e da Proto-história 2011 SANTOS, Filipe João C.; PINHEIRO Eulália e ROCHA, Fábio; “O povoado fortificado do Castelinho (Felgar, Torre de Moncorvo, Portugal). Dados preliminares de uma intervenção arqueológica por um sítio da II Idade do Ferro em Trás-os-Montes Oriental” - I Jornadas de Jóvenes Investigadores del Valle del Duero. Del Neolítico a la Antigüedad Tardía (Zamora). FEIO, Jorge; SANTOS, Filipe João C.; PINHEIRO Eulália e ROCHA, Fábio; “A intervenção arqueológica do sítio do Laranjal (Cilhades, Felgar, Torre de Moncorvo): contributo para o estudo da topografia cristã tardo-romana e alto-medieval no conventus Bracaraugustanus” I Jornadas de Jóvenes Investigadores del Valle del Duero. Del Neolítico a la Antigüedad Tardía (Zamora). FIGUEIREDO, Sofia Soares; XAVIER, Pedro; NEVES, Dário, DIAS, Rodrigo, COELHO, Sílvia; “As teorias da arte no estudo da arte rupestre: limites e possibilidades.” Mesa Redonda Artes Rupestres Pré eProto-­História, 26 a 28 de Novembro de 2010, no Museu do Côa, em Foz Côa. COELHO, Sílvia; XAVIER, Pedro; NEVES, Dário; DIAS, Rodrigo; CARVALHO, Luís; MORAIS, Renata; FIGUEIREDO, Sofia Soares; “A rocha do Pitogaio (Ferradosa, Alfândega daFé): imagens rupestres Modernas e Contemporâneas e as suas possibilidades de estudo”, IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica – JIA 2011, Faro, 2011, no prelo. NEVES,Dário; XAVIER, Pedro; NEVES, Dário; DIAS, Rodrigo; CARVALHO, Luís; MORAIS, Renata; FIGUEIREDO, Sofia Soares; “A rocha 1 da Quinta do Feiticeiro (Cardanha,Torre de Moncorvo): contribuições para o estudo do imaginário guerreiro e cinegético da Idade do Ferro”, IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica – JIA 2011, Faro, 2011, no prelo. FIGUEIREDO, Sofia Soares; NEVES, Dário; DIAS, Rodrigo; COELHO, Sílvia; XAVIER, Pedro; CARVALHO, Luís; “Aproximação a um modelo estatístico aplicado à arte esquemática do Nordeste transmontano”, IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica – JIA 2011, Faro, 2011, no prelo. FIGUEIREDO, Sofia Soares; NUNES, Cristiana; ROSA, Lourenço e GARCIA, Joaquim; “Preservação in situ de maciços rochosos com arte rupestre. Estudos preliminares para a elaboração de um projecto” - Mesa Redonda Artes Rupestres Pré eProto-­História, 10, 11 e 12 de Novembro de 2011, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. LADRA, Lois e PINHO, Valdemar; “Embarcacións fluviais tradicionais en Trás-os-Montes: as bateiras do río Sabor”. Revista de Investigación “ETNOGRAFIA”, nº3, 2011. I.S.S.N. 1989 - 8541.

PEREIRA, Sérgio; GOMES, Hugo; COSTA, Pedro e BARBOSA, Teresa; “Estudo da Romanização no Vale do Rio Sabor: Primeira Abordagem” - I Jornadas de Jóvenes Investiga-

dores del Valle del Duero. Del Neolítico a la Antigüedad Tardía (Zamora).

coordenação: Sofia Soares de Figueiredo design gráfico: Renata Morais redacção: Sofia Soares de Figueiredo Rita Gaspar Sérgio Pereira Filipe Santos Paulo Dordio Lourenço Rosa e André Tereso Valdemar Pinho e Lois Ladra fotografia: António Martinho Baptista Adriano Borges Carlos Seixas desenhos: CNART Renata Morais distribuição: AHBS periocidade: Bimestral


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