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GUERRA DOS SETE ANOS
TOMO I
Os castelhanos, depois de tomada a cidade, fizeram voar grande parte das muralhas que a explosão havia poupado, marchando em seguida sobre Moncorvo que, devido a outra fatalidade, igualmente lhes caiu nas mãos, sendo saqueada e devastada em Julho de 1762, bem como Bragança, que lhes abriu as portas sem resistência alguma. Aqui destruíram o forte de S. João de Deus, vulgarmente chamada «Forte de cavalaria», e parte das muralhas da Cidadela (260). Igualmente tomaram Outeiro e Freixil. Marchou depois O’Reilly para a província da Beira, cuja raia devastou indo reunir-se às tropas do marquês de Sarria, que se formavam junto a Castelo Rodrigo, havendo mandado o governador de Galiza Mr. de Lacroix, guarnecer a praça de Chaves também caída em poder dos espanhóis (261). Esta guerra terminou pelo tratado de Paris de 10 de Fevereiro de 1763 pelo qual a Espanha restituía a Portugal tudo o que lhe havia tomado. Camilo Castelo Branco (262) narra, sob a epígrafe «A rival de Brites de Almeida», um episódio interessante sucedido nesta guerra durante o cerco de Miranda, o qual tem por assunto a morte, com um espeto, dada por uma mulher desta cidade a um sargento espanhol. Eis a descrição do desastre de Miranda do Douro, segundo um documento coevo: «Aos 8 de maio de 1762, pelas sete horas e meia da tarde, tempo em que todo este reino de Portugal estava bloqueado em roda pelas armas hespanholas, esta provincia invadida e cercada esta cidade por um exercito de trinta mil homens, estando a atirar a artilheria do castello e revelins ao sovredito exercito inimigo, logo que descarregou um canhão, mais contiguo á torre grande, passados quatro ou cinco minutos rebentou o armazem da polvora, arruinando quasi todo o castello e fazendo duas brechas exteriores, uma para a parte do norte, por onde bem cabiam quinze homens, e outra para a do meio dia em correspondencia por onde cabiam nove, arruinando tambem a maior parte do castello para o oriente que entrava para a cidade e metade da torre grande, dando em terra com todo o edificio e officinas que dentro d’elle havia, em cujas ruinas falleceu muita gente, que a maior parte d’ella se não pôde averiguar quem era por se acharem queimadas do fogo que se alimentou com mais de mil e quinhentas arrobas de polvora.
(260) LOPO, Albino dos Santos Pereira — Bragança e Benquerença, p. 93, 103. Ver o que dizemos ao tratar da Capela de Santiago; CÂMARA, Paulo Perestrelo — Dicionário Geográfico e Histórico; LEAL, Pinho — Portugal Antigo e Moderno, artigo «Moncorvo». (261) CHAGAS, Pinheiro — História de Portugal..., vol. 7, p. 42. (262) CASTELO BRANCO, Camilo — Noites de Insónia, p. 562.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA