ETNOGRAFIA
289 TOMO IX
tando, recitavam versos antigos, que no tempo de Horácio já poucos entendiam e no Quintiliano nem os próprios sacerdotes (677). Igualmente nelas perduraram ritos das festas Megalesianas, celebradas pelos Galos, sacerdotes de Rhea, no dia 5 de Abril, tocando tímpanos e címbalos, correndo agitados, quase enfurecidos, por toda a parte, pronunciando seus vaticínios e castrando-se no auge do furor (678). Baco, Deus do vinho (que também tinha festas especiais Meditrinales a 30 de Setembro, em honra do vinho novo), aparece ornado pelo tirso enramalhado de hedras, porque este arbusto impele à embriaguez, segundo criam os antigos, e de cornos na cabeça, porque o vinho impele a audácia, a qual é simbolizada por aqueles apêndices cornígeros (679). As Bacanais, também chamadas Dionisíacas, de Dionísio, nome de Baco, eram celebradas pelas bacantes, sacerdotisas deste Deus, que desgrenhadas, vestidas de peles de tigres, panteras e outros animais, tochas acesas na mão, cercadas de hedra e parras, empunhando tirso armado, como fica dito, corriam de noite pelas ruas, acompanhadas de tocadores de címbalos e clarins, soltando gritos horríveis. No cortejo ingressavam homens vestidos de sátiros, montados em burros e levando bodes para o sacrifício (680). Passemos agora a resenhar os vestígios destes cultos existentes na região bragançana. A FESTA DOS RAPAZES [152] Em muitas aldeias do concelho de Bragança, como Baçal, Sacoias, Aveleda, Varge, França e outras, os moços solteiros de dezasseis anos para cima, juntam-se no dia 26 de Dezembro, festa de Santo Estêvão (em Baçal a reunião é a 6 de Janeiro, festa dos Reis), chamam gaiteiro para os acompanhar na estúrdia; comem uma vitela comprada com o produto de trabalhos agrícolas, geralmente malhadas (debulha de centeio); percorrem a povoação mascarados e vestidos de fatos felpudos de variadas cores, em algazarra louca de gritaria ensurdecedora, soltando estrídulos hi, gu, gus (681) durante esse dia e seguinte, inclusas as respectivas noites, tendo previamente man-
(677) NIEUPOORT – Rituum..., p. 346. (678) Ibidem, p. 276 e 350. (679) Ibidem, p. 287. (680) MORERI – El Gran Dicionario, onde se apontam vários autores gregos e romanos referentes ao assunto. (681) Não há em português som igual; semelha o da palavra espanhola hijo. Possivelmente relaciona-se com o tal ululantem de Sílio Itálico, atrás citado, pois mesmo de quando em vez dizem u, lu, lu em lugar de hi, gu, gu.
MEMÓRIAS ARQUEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO DISTRITO DE BRAGANÇA