8 dias com os pés no mundo. Uma lente 50mm, fixa, me fez ter de aproximar de cada personagem. Conversei. Toquei. Agradeci na língua anfitriã. Me distanciei quando tive de enquadrar uma das cidades mais antigas do mundo no visor. Andei e não cansei de andar. A relação com a foto já não é a mesma. Por querer viajar leve, sem equipamentos, voltei pra casa flutuando nas ideias. Quando entendi o que tinha ido fazer lá, já era hora de voltar.
8 days feeling the world by the feet. Because a 50mm lens, I had to approach each story. Chat with everybody. Shake hands. Walk without feel tired. Learned how to thanks in their language. I had to go far away when my mission was to frame a cenarium, with one of the most ancient cities in the world. I had to travel light, and come back with floating ideas. When I realize what the travel was about, for me, it was time to come back.
Mais do que uma simples viagem, uma busca. Dentro de um salão subterrâneo encontrei Fred, se apresentou como poeta maldito de Brasília dizendo ter se encontrado em Praga. “Eu falo tcheco, Almeida!” Aquele salão ancestral agora abrigava uma roda de amigos bebendo Ales em temperatura ambiente. Não fazia frio. Me senti aquecido. Ele falava sobre a jornada espiritual que cada pessoa tem quando faz uma viagem, questionava o uso de mapas e lamentava por aqueles que programavam a viagem antes mesmo de partir. Em algum momento a história me fez sentido, talvez a “pivo” tenha contribuído, fato é: aquilo tudo era real.
More than a trip, a quest. Drinking in an ancient tavern at the subterrains of Prague, I’ve met Fred, a brazilian poet living in that old city. Now, that old saloon listen a chat of friends drinking ales. There was no cold. I felt worm enough. He told us about the spiritual journey that each person can find during a trip, and shout about people using maps, apps, and planning their trips, months before it happens. Somehow all those words made sense to me, but I think the “pivo” helped a little bit. Just a fact: that was all real.
“Olhe pra cima!” Disse um amigo que há 7 anos vive nessa cidade ancestral. Tem dois filhos, e já nem pensa mais em voltar ao Brasil. Ele não consegue entender quando comento alguma atrocidade na política brasileira. Tampouco nós. “Olhe pra cima! Você vai ver a cidade assim.” Quando ele disse isso, num primeiro momento, não entendi ao certo se era para procurar algum código perdido, se era uma infame pegadinha. Mas não, ele disse com o coração aberto, os olhos cheios de paixão por aqueles anos todos escorrendo pelos prédios. Quando olhei finalmente pra cima, percebi a cidade me observando. As estátuas morando nas sombras, esgueirando cada turista, convivendo com cada graffiti, cada pixo, os cabo do “tram” cortando as edificações. Almas silenciosas, cochichando em nossos ouvidos transeuntes o quão antigo e forte pode ser um pensamento, uma ideia, uma cidade.
“Look up!” That was a friend, living in this city since 2006. Two children, he don’t want to come back to Brazil. He gets mad when I talk about some shit with brazilians politicians. Either we. “Look up, and you will trully see the city. ” When he told me that, I didn’t realize. Was that a trick? A hidden secret to search for? No. He told that looking into me with his eyes falling ancient aged tear drops. After hours, I looked up and felt the city watching me. Those statues living in the shadows, aiming each tourist, living with a lot of graffitis and strokes, melting their age with all their tran’s lines cutting the edifications. Silent souls, whispering our ears how long and strong can be a thought, an idea, a city.
Sincronicidade. Um lugar leva ao outro. Percebi que tinha os pés no mundo e que o mundo não era mais o mesmo. As paredes antigas respirando o novo, cheirando tecnologia. Exalavam bucolismo. Um convite ao álcool, mais barato que água. Uma hora me dei conta: era um brasileiro dentro de um bairro vietnamita comprando uma camiseta da seleção portuguesa pro meu filho carioca, falando com a mulher em inglês, agradecendo em tcheco, distante do centro de Praga, e procurando um “Pho Ga”. Naquele momento estava tudo certo. A cidade não se preparou pra receber tantos turistas, e agora convive com essa multiplicidade de línguas. “Please, you can take” murmurou o companheiro de mesa me oferecendo uma colher, olhos puxados, e logo voltou a rir com os amigos em vietnamita novamente. Com algumas poucas coroas tchecas cheguei lá sem grandes problemas, e vivi uma das experiências mais brasileiras de toda minha vida. Como era proibido fotografar dentro, tratei de olhar com carinho cada galpão de loja, cada cantinho, ver cada personagem que passava por mim. Ali fui eu e meus olhos, a lente de minhas lentes.
Sincronicity. One place take you to other. The world beneath my feet isn’t the same anymore. Those aged walls now breaths the new, the technology. I feel bucolic. A invite for an alcoholic session, in a city where the beer is sheaper than water. How come? I was a brazilian inside a vietnamic borough buying a uniform from Portugal to my carioca son, speaking in english with the lady, looking for a Pho Ga. That was THE moment. The city wasn’t planned for this high tech bossa nova world, and now itself live with all that multiplicity of accents. “Please, you can take” said a vietnam guy from the next table, giving me a soup, tiny eyes, he just got back talking and laughing with his friends in their own language again. Some few checz corouns and I got there with no problems, and lived one of the most fantastic experiences in my life as brazilian. Was forbidden to take pictures inside SAPA, so, I started to look more carefully for each alley, all details, each people passing by. Me and my eyes, the lens that see trough the lens.
O tempo existe. Olhe pras paredes. Toque as pedras. Pergunte as datas. Bata fotos mas não deixe de ver. O que te trouxe aqui? Cada graffiti que eu vi, me causou um pensamento. Por quê nessa esquininha? O que diabos esse malandro foi subir ali naquela ponte pra mandar esse pixo? Que diabos de letras é essa no pé dessa estátua? E o principal: o que gritam tantos graffitis? De que fala o povo em Praga? Já não me importava mais. Eu me senti um black block que saiu fantasiado pro carnaval, batendo fotos de lugares antigos e suas lamentações vindas das latas de spray. Poesia e tinta. Menos Prada. Mais Praga.
Time does exist. Look those walls. Touch those stones. As for history. Shoot photos but don’t forget to look. What brings you here? Each graffiti that I saw provoke me a tough. How come graf in this little corner? Why that guy climbed there to stroke? And WTF are those letters in this statue? The real quest: understand what Prague screams in those graffitis. It doesn’t even matters for me now. That was like a brazilian black block going out dressed to summer’s carnaval, shooting ancient places and their sadness born in spray cans. Poetry and paint. Less Prada. More Praha.
Uma história inusitada. Cheguei na cidade sem roteiro prévio. O quarto no hotel só ficava pronto às 13h, eram 11h. Exausto, desci a rua em direção à Praça Venceslau. Tinham me falado a respeito do respeito que esse povo tem, a despeito do desrepeito que qualquer um pode ter por qualquer outro. Eu explico, ou melhor exemplifico: Durante a Paraga Gay de Praga, a comunidade GLBTS local invade com carros de som, fantasias, pinturas, atitudes, cenas, protestos, panfletos e cartazes. Tudo em prol do entendimento de que o amor é universal. Mas sexo é sexo. E foi o único lugar que encontrei pra tomar um café da manhã ao invés de arriscar ou “goulash” de prima. Na frente de um grupo de travestis, um grupo protestando contra e gritando palavras como “blasfêmia”, “heresia” e “coisa do demônio” em tcheco. Em alto e bom som, cercado por seus séquitos. À sua frente, um homem vestia um shortinho dobrado até a metade da perna, um sapato rasteiro, uma camiseta estampada de nuvenzinha escrito “Dream”, óculos escuros e pose de barbie com barba e quepe na cabeça. Ele sorria, e ouvia. Todo mundo dizia o que queria. E eu, com meu primeiro pé no mundo achando que falar assim, jamais podia. Chupa essa, Almeida. Um ode à diversidade interplanetária! Pra que sejamos felizes. Sempre.
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Gente me faz acreditar no mundo. São as ações das pessoas que me importam mais. No Brasil a gente levanta a mão pra chamar o garçom. Em Praga tudo se faz com os olhos. Um breve menear com a cabeça, o menu do lado, o dinheiro certo da conta - com a gorjeta! - já dentro do lugar certo e levante-se para ir embora. A culpa não mora ali. Ninguém vai passar a perna em ninguém. Cuidado! Não tem ninguém querendo te roubar. Acredite, é possível morar num lugar de portas abertas. Não que Praga seja assim, pelo contrário, tranca-se tudo durante o inverno! Uma fresta de ar, uma lufada errada e a vida já era. Não imagino como deve ser fotografar essa cidade no inverno, me pareceria mais bucólica? Ou mais acolhedora ainda? Me preocupei em não retratar os rostos diretamente. A lente fez isso muito bem, me impedia de mirar errado. Quando era pra olhar nos olhos, era porquê tinha um sentido maior. Era no approach do visor que eu sentia se a foto ia puxar uma história.Vez ou outra me arrisquei, bem preocupado pra não invadir a vida de ninguém como um Facebook com Instagr.am ambulante! Mas... Sedento por ver, como não o fazer?
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