O poder do Hamas

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Domingo, 3 DE Agosto DE 2014

Hatem Moussa - 21.jun.2014/Associated Press

Membros do braço militar do Hamas desfilam em Gaza

EFETIVO

25 mil combatentes 5.000 reservistas

o poder do

HAMAS

TRECHOS DA CARTA DO HAMAS Preâmbulo

Artigo 6º

Israel existe e continuará a existir até ser destruído pelo islã, como outros foram destruídos antes

grupo se fortalece

O Movimento de Resistência Islâmica é um movimento palestino cuja lealdade é para com Alá, e sua meta é levantar a bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina

Citação de Hassan al-Banna (1906-1949), o fundador da Irmandade Muçulmana

ORÇAMENTO Valor em US$ milhões, segundo dados do Hamas

Sob isolamento político, econômica e

897

militarmente

894

769 630 540 428

Símbolo do Hamas

2009

2010

2011

2012

2013

2014

PRINCIPAIS LÍDERES

Ahmed Yassin > Xeque e fundador do Hamas, morto em 2004, aos 67 anos, num ataque israelense a Gaza

Mohammed Deif, 54 > Chefe das brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço militar do Hamas, desde 2002. Acusado por Israel de planejar ataques como o que matou 45 em dois ônibus de Jerusalém, em 1996

Khaled Meshaal, 58 > Físico e ex-professor, líder político do grupo desde 2004. Expulso da Jordânia em 1999, exilou-se no Qatar e depois na Síria; voltou ao Qatar em 2012, após a eclosão da guerra civil síria ESTRUTURA DO HAMAS

leonardo blecher

Conselho da Shura (maior autoridade)

de são paulo

CRONOLOGIA

AGO.1988 > Carta do Hamas, a “Constituição” do grupo muçulmano sunita, fala explicitamente em destruir Israel e defende a criação de um Estado islâmico na Palestina, no território hoje habitado pelos israelenses ABR.1994 > Hamas coordena seu primeiro ataque suicida, matando cinco israelenses em Hedera FEV.1996 > Autoridade Palestina racha com o Hamas, depois de uma série de atentados suicidas

Liderança no Qatar

Liderança na Cisjordânia

Liderança na faixa de Gaza

Delegações no exterior

Braço Militar

Braço político

Braço civil e social

Municipalidades e autoridades locais

Ministério do interior e da segurança nacional

Ministros de governo

(liderança na prisão)

(Brigadas al-Qassam)

Serviços de segurança interna

Eyal Warshavsky - 4.mar.1996/Associated Press

Para causar um impacto mais duradouro ao Hamas, seria necessário um grande prolongamento da operação, que acarretaria a morte de mais civis e, consequentemente, mais desgaste para a imagem do Estado judaico. O premiê, Binyamin Netanyahu, busca alternativas políticas para evitar uma nova recuperação, tentando emplacar um cessar-fogo que inclua o desarmamento dos militantes e um controle ainda mais forte dos produtos que entram na faixa de Gaza. Além disso, o Exército intensifica a operação para diminuir o moral dos combatentes palestinos. “Quando você combate o terrorismo, o objetivo não é

só tirar a capacidade militar, mas também a motivação para fazer ações”, avalia o brasileiro André Lajst, sargento da reserva da inteligência da Força Aérea Israelense. “Por isso Israel tem a política de bater forte quando bate.” Por outro lado, o Hamas tenta usar os avanços conquistados para sair do conflito fortalecido politicamente. A morte de outros 60 militares e a virada de boa parte da opinião internacional contra Israel são alguns dos motivos que o Hamas tem para comemorar. Também conta a seu favor o cancelamento de voos ao aeroporto de Tel Aviv, devido a foguete que caiu a pouco mais de 1 km do local. Os trunfos acumulados po-

sem apoio

A força demonstrada pelo Hamas surpreende em razão do isolamento pelo qual passa na região. O grupo perdeu o apoio de Bashar al-Assad na Síria, antes seu maior aliado, depois de ficar ao lado dos rebeldes na guerra civil. O governo iraniano e os libaneses do Hizbullah, alinhados a Assad, também se afastaram. O Egito foi outro a virar as costas ao grupo após a queda da Irmandade Muçulmana, no ano passado. Entretanto, isso não gerou uma queda significativa nas finanças do Hamas. De 2009 a 2014, o orçamento estimado do grupo passou de US$ 428 milhões para US$ 894 milhões (R$ 1,97 bilhão), crescimento de 108%. As receitas vêm de doações de países como o Qatar, de grupos muçulmanos no exterior e da Autoridade Palestina. O grupo cobra impostos a empresários de Gaza para a entrada de produtos.

CRONOLOGIA JAN.2006 Em sua primeira participação nas eleições legislativas palestinas, o Hamas ganha a maioria do Conselho Legislativo, vencendo a facção rival Fatah, chefiada por Mahmoud Abbas Hatem Moussa - 3.nov.2006/Associated Press

DEZ.1987 > Criação do Hamas, como dissidência da Irmandade Muçulmana após a primeira Intifada (revolta palestina). O nome é a sigla em árabe de Movimento de Resistência Islâmica, e a palavra “hamas” também significa “entusiasmo”

Na ofensiva contra o Hamas, Israel se depara com um grupo praticamente isolado politicamente, mas que nunca esteve tão bem armado e tão rico quanto agora. A organização palestina já sofreu danos na sua estrutura bélica. No entanto, os israelenses dizem que não há garantias de que o grupo deixará de ser uma ameaça nos próximos anos. O Exército calcula que o Hamas tenha perdido 60% dos 10 mil foguetes que tinha antes do início da atual ação em Gaza. Também estão sendo atingidos o efetivo de combatentes do grupo e a estrutura de túneis subterrâneos. O impacto pode dar calma aos israelenses por algum tempo, mas não é definitivo. “A questão é como garantir a tranquilidade da população nos próximos anos, para que daqui a dois anos eles não tenham de novo túneis e foguetes”, disse à Folha o porta-voz do Exército israelense, Roni Kaplan. “É uma possibilidade que nos preocupa muito. Não queremos esse ciclo vicioso.” Israel conhece o poder de recuperação dos militantes. O Hamas da atual incursão terrestre é mais poderoso do que o encontrado entre 2008 e 2009, na última invasão israelense. “Eles estão mais fortes, com melhores equipamentos, melhores métodos de comando e controle e se prepararam muito bem para o combate”, avalia Kaplan.

dem aumentar a legitimidade do grupo entre os palestinos, diante da incapacidade da Autoridade Palestina, de Mahmoud Abbas, para influenciar o confronto. “Em termos políticos, o Hamas não está perdendo. Não descarto que o conflito possa ter um desfecho não totalmente negativo para eles”, afirma Peter Demant, professor de história da USP, especialista em Oriente Médio. “Para eles, também é importante mobilizar uma simpatia internacional, apesar da atuação criticada”, avalia.

JUN.2007 Após diversos confrontos contra militantes do Fatah, o Hamas toma o controle de Gaza. Em resposta, Israel e Egito impõem bloqueio econômico à região MAI.2011 Hamas e Fatah anunciam acordo de reconciliação, mas a reunificação é malsucedida. Novos acordos seriam anunciados em 2012 e 2014


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