Performance Urbana- ativação do entremeio

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Leonardo Carvalho Tomazeli

Centro Universitário Barão de Mauá

Orientadora profª Ana Lúcia Machado de Ferraz


Performance urbana Ativação do entremeio

Ribeirão Preto

2020


MÁ SU APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO

DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO III.I ação [ocupação cine] III.I.I ativação entre meio

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III.I.II re[programação] espacial

PERFORMANCE URBANA I.I temporalidade

PROCEDIMENTO

I.II. performance, desvio, evento

[elementos+ associações]

APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

III.II.I materialidade

II.I simbiose

III.II.II elementos e associações

II.II interface

II.III alternância

III.II.III situ[ações]

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Á

RIO CONSIDERAÇÕES FINAIS BIBLIOGRAFIA

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v.t.d. 1. Promover ativação de; 2. Tornar ativo ou mais ativo; 3. Tornar-se ativo, intenso, intensificar-se. (Dicionário Aurélio)


Performance urbana

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Ativação



APRE SENT AÇÃO Performance urbana

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Esse conjunto de aspectos apresentados na pesquisa parte da vivência, da subjetividade e afetividade. Por participar dessa dinâmica de busca por oportunidades de lazer, das caminhadas pelo centro, da ida ao banco, ao supermercado, à praça, pela imaginação de um estudante de arquitetura, de olhar para um espaço e imaginar o que poderia ter/ acontecer ali, e caminhar na infinitude de possibilidades. Fica aqui uma tentativa de abrir os olhos, olhar de novo, se colocar à disposição dessas possibilidades, entremeadas banalmente nos espaços presentes no cotidiano,


APRESENTAÇÃO

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s.f. 1. Parte da mecânica que estuda o comportamento dos corpos em movimento e a ação das forças que produzem ou modificam seus movimentos; 2. Movimento interno responsável pelo estímulo e pela evolução de algo. (Dicionário Google)


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Dinâmica


A cidade contemporânea apresenta uma grande sobreposição de usos e está marcada por diversos espaços residuais e áreas ociosas. Nesses espaços amorfos ocorrem ocupações, que por vezes se apresentam mais por acontecimentos, do que por formas (espaços ou edifícios direcionados para certas atividades), o que caracteriza uma nova dinâmica urbana, marcada por um caráter temporário, com um aspecto de evento. Estes espaços e dinâmicas, permitem perceber o papel da arquitetura efêmera como espaço de ressignificação do sedentário, com seu papel de manter vivos espaços e configurações que possuem usos específicos, gerando dinâmicas novas, flexibilizando espaços já bem definidos e assim inovando. Várias intervenções urbanas na escala do objeto têm estabelecido com a cidade diferentes experimentações no sentido de repensar as relações do homem e da cidade. Na escala do urbanismo, o objeto pode ter um grande impacto, pensando especificamente neste contexto, ele pode ser responsável por (re)ativar espaços ociosos, atribuindo uma inovação programática aos mesmos. A pesquisa tem como objetivo explorar a efemeridade da arquitetura como potencial solução para pensar a capacidade de alternância do significado do espaço urbano. Abrir a possibilidade de promover suporte à sobreposição de atividades temporárias na cidade, com foco na problemática do lazer e da cultura. Demonstrar como os espaços ociosos podem trazer dinamismo para a cidade, se aproveitados e pensados para as pessoas. A proposta visa tornar legíveis os espaços que apresentam inativida-


INTRODUÇÃO

de temporal e utilizar desta característica como solução arquitetônica alternando as noções de espaço público e privado. Em cidades onde as necessidades básicas da população não são atendidas com qualidade, o lazer e a cultura ficam em segundo plano, muitas vezes esquecidos. Diante deste quadro, a população acaba tendo que achar soluções próprias, ou muitas vezes, soluções particulares, que negam a cidade e o encontro. Em cidades de pequeno porte a escassez de espaços para lazer e cultura, obriga os jovens a buscarem alternativas fora dessas cidades, por vezes em cidades maiores próximas na região necessitando do deslocamento em autoestradas ou em eventos que acontecem longe da esfera pública em espaços particulares. A experiência de Morro Agudo, cidade onde vivo, não se diferencia de muitas outras tantas cidades que apresentam este cenário, e permite estabelecer uma problemática que se estende para além de uma vivência pessoal e arraigada. Essa dinâmica urbana volátil de encontros noturnos, em locais públicos, sem uma estrutura específica para estes usos, cria nas cidades uma ideia de pertencimento mas também são índices de demandas urbanas. Sem infraestrutura específica esses grupos portam o necessário para a proposição dos “eventos”: bebidas, caixas de som, iluminação, entre outros Esta dinâmica que, enriquece a ocupação noturna da cidade, deflagra também conflitos entre o espaço público e o privado, conflitos que às vezes culminam no fim desses encontros de maneira forçada, acabando com a possibilidade encontrada pela população, retornando ao estado inicial, mantendo o lazer e a cultura sem prioridade nenhuma,

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ou seja, a prefeitura (poder político) impede uma solução encontrada e nada faz para dar uma alternativa condizente. Um equipamento urbano que pode deflagrar a migração dos espaços de lazer e cultura coletivos para espaços privados e longe da dimensão urbana são os cinemas [motivadores de deslocamento de jovens entre cidades] . Em cidades de porte médio e grande esses equipamentos antes de rua migraram para grandes praças de shoppings centers, nas cidades de porte pequeno eles dão lugar a outros usos bem mais pragmáticos sendo substituídos por agências bancárias por exemplo Com grande potencial transformador e responsável por disseminar cultura infelizmente também se encaixa no cenário de abandono como comentado. Enquanto essa dinâmica acontece, outra questão a se levar em conta é a migração pendular, que ocorre no centro, que se esvai no período noturno, então por que não levar essa dinâmica para o centro e aproximar esses dois procedimentos de uma vez? Em uma cidade pequena, a centralidade é mais acessível a todos, fazendo a solução nesse local ser mais democrática. Ainda no centro existe a presença de espaços ociosos, que hoje representam vazios, por não serem usados em prol de nenhuma atividade, além de serem propriedade privada que visam lucro através da especulação, estes espaços poderiam também fazer parte da solução, parte da cidade, pois possuem potencial para articular a vida urbana, devido suas características físicas, o que amarra essa tríade de dinâmica urbana, migração pendular e espaços ociosos.


INTRODUÇÃO

Juntando todas essas problemáticas este trabalho busca utilizar dos espaços ociosos no centro da cidade, uma vez que é visível o empenho da população em criar situações para que o lazer aconteça, além da existência de uma migração pendular em torno deste centro, que possui espaços potentes, que poderiam contribuir para a permanência das pessoas, o aparecimento de novas dinâmicas e manter o centro vivo no período noturno.

Para isso o trabalho se organiza a partir de três capítulos: No primeiro capítulo ‘PERFORMANCE URBANA’ abrimos a discussão sobre temporalidades e performance urbanas, em qual contexto eles se inserem e como se relacionam e esboçam soluções que conversam com a atualidade. No segundo capítulo ‘APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE’, as referências projetuais permitem compreender procedimentos importantes de projeto: simbiose, interface, alternância são categorias de estudo para a proposição projetual. No capítulo três, ‘DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO’, discorre-se sobre o projeto em si Em ‘Ação [ocupação cine]’ são apresentadas as situações e em ‘Procedimentos [elementos+ associações]’ como o nome já indica são apresentados os procedimentos e elemento de construção do projeto.

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“Se um lugar pode ser definido como identidade, relacional e histórico, um espaço que não pode ser definido nem como identidade, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar.” (Augé, 1994)


Performance urbana

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NĂŁo-lugar


F


PER FORMA NCE URB Performance urbana

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I.I temporalidade As cidades se desenvolveram, e assim continuam, com base no capitalismo, gerando uma série de deficiências, somado a tecnologia e no conceito de que a cidade não é mais medida fisicamente e sim temporalmente, ou seja, medida pelo tempo que se leva nos deslocamentos formaram-se espaços que o antropólogo Marc- Augé denomina de “não-lugares”, um espaço de transição onde não se cria nenhum tipo de identidade, como, por exemplo, aeroportos, supermercados, estacionamentos, vias, “já que usamos esses locais de forma contratual, isto é, estabelecemos uma relação com data e hora para começar e terminar.” (Balthazar, 2016, pág. 16), mas para o autor os lugares nunca se extinguem, assim como os “nãolugares” nunca se consolidam totalmente, podendo um lugar se tornar um “não-lugar” e vice- versa, dependendo do uso que as pessoas dão, estabelecendo uma relação de sentido (Augé, 1994). Ocorre que essas características da cidade contemporânea e esses espaços também abrem possibilidades, ou seja, formações urbanas deficientes as vezes podem criar alternativas criativas (Wisnik; Mariutti, 2018). Como exemplo, temos os viadutos sendo usados como moradia por sem- tetos, estacionamentos sendo usados como espaço de festa, entre outros. Segundo Brissac (2003), apud por Wisnik (2018, pág. 21), “vastos espaços residuais que” [...] vêm a “ser ativados por inovação programática”, voltando a questão do uso que se faz do espaço, mudando seu valor, defendido por Augé, um espaço que se faz mais por acontecimento, do que por formas, dando assim também um aspecto de evento. Crawford (1999) citada por Fontes (2011)


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aponta que as atividades temporárias que acontecem no espaço cotidiano, dão novos significados por meio dos grupos e dos indivíduos que dele se apropriam, e por não serem determinadas, produzem seus próprios ciclos, “aparecendo, desaparecendo e reaparecendo em função do ritmo da vida cotidiana”. Caso não exista uma identidade no espaço, estes costumam ser reformalizados temporariamente através do uso que se faz dele. “Portanto, Crawford defende a cidade formada mais através das forças do “urbanismo cotidiano” [experiência vivida] do que através do desenho formal e dos planos oficiais [espaço construído]”. (Fontes, 2011, p. 23). Sobre a Post it City, termo cunhado por La Varra (2008, apud Fontes, 2011, p. 25): Como um texto cheio de “post-it”, a cidade contemporânea está ocupada temporariamente por comportamentos que não deixam rastro – como tampouco o deixam os “post-it” nos livros – que aparecem e desaparecem de modo recorrente, que têm suas formas de comunicação e de atração, mas que cada vez são mais difíceis de ignorar. Assim essas ocupações temporais por atividades distintas revelam um sensor de qualidade urbana, de espaços abertos a dinâmicas diversas. Por estas ocupações acontecerem de forma espontânea e informal, o autor “as considera como formas de resistência à normatização dos padrões de comportamento público na cidade contemporânea, ao espetáculo e ao consumismo da cidade opulenta”. (Fontes, 2011, p. 25).

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O espaço público hoje é um conjunto de comportamentos que cristalizam em um lugar que não tem necessariamente uma natureza jurídica pública, embora tenha a capacidade de oferecer a seus habitantes potenciais o marco para um ato de compartir coletivo, mesmo que temporário. (La Varra, 2008, apud Fontes, 2011, p. 59) Ou seja, a cidade se altera o tempo todo, quando um espaço é apropriado por um grupo, quando um artista se apresenta e as pessoas se juntam para vê-lo, quando uma feira ocupa a rua, quando cai a noite, assim um bairro, uma praça, uma rua, uma calçada, um beco pode ser de uma maneira agora e mais tarde de outra, como também um “não lugar” pode se tornar um lugar temporariamente. O centro pode esvaziar durante a noite e outros espaços na cidade cumprem o papel de dar suporte aos usos que as pessoas fazem, a migração pendular pode ocorrer se houver áreas de usos estritos, espaços cheios de vida podem se tornar vazios e assim, por conseguinte. A cidade então vem sendo palco de acontecimentos, uma sobreposição de usos e dinâmicas em permanente processo de reconfiguração, mudando de acordo com o que as pessoas fazem e quando fazem, seguindo diferentes ritmos e temporalidades, tornando o tempo um importante elemento de leitura do urbano. Além disso, a tecnologia e as mídias sociais possuem um papel importante nessa cidade, já que encurtam distâncias e é o meio de divulgação e comunicação, que acontece com grande velocidade, obtendo respostas, e favorecendo ainda mais a mobilidade, como exemplifica Wisnik (2018), temos


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os grupos de adolescentes de Tóquio, que realizam um “deriva” contemporânea, marcando encontro em lugares inusitados, uma espécie de situacionismo de jovens japoneses. Para entendermos ainda mais a condição da sociedade contemporânea, Bauman (2000, apud Fontes, 2011), denominou essa condição de modernidade líquida, um estágio mais dinâmico da modernidade, baseado na relação espaço e tempo, contribuída pela revolução tecnológica, na qual a velocidade se reduziu a instantaneidade. Essa modernidade líquida representa a “desterritorialização”, retornando ou aproximando do nomadismo. Possuindo as relações contemporâneas um caráter descartável devido a uma condição de incertezas. Esse desapego e as relações sociais superficiais refletem no espaço urbano, que converge mais para hostilidade do que para amabilidade. Poderia existir um urbanismo inserido no cotidiano e na escala do objeto com capacidade de abraçar essa cidade múltipla e simultânea, que também atribui identidade e noção de pertencimento, mesmo que seu uso seja efêmero?

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“visa modificar a hipertelia de um lugar a dada atividade, e incrementar-lhe para outra atividade. O reverso da dedicação exclusiva é a abertura para outras possibilidades, aquilo que permite uma multiplicidade de ações. À essa possibilidade de desempenhos diversos Herman Hertzberger chama de performance.” (Paz, 2008)


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Performance


I.II performance, desvio e evento A respeito de intervenções temporárias, Temel (2006, apud Fontes, 2011, p.53), diz, “ferramenta que permite ações de tentativa e erro, oferecendo a oportunidade de se aprender com os primeiros passos e, se necessário, voltar atrás para trilhar diferentes caminhos”. Vivemos em uma sociedade de consumo de objetos e de imagens, que busca constantemente por novidades, que possui uma mobilidade inquietante, não apenas de corpos no espaço, mas também espaços em movimento, não um movimento físico, mas uma habilidade de mudança, de variação, implicando também um movimento no tempo, e como compreender essa questão do tempo, em formas já consolidadas (Bógea, 2006). Aqui se faz presente a performance e uma de suas qualidades/ características de manter viva no tempo essas formas estáveis (espaços consolidados), além de abastecer a busca incessante por novidades, se apresentando assim como solução. Como Paz diz: Chamamos tradicionalmente de funcionalidade a uma correspondência da forma construída com as ações a que se destina abrigar. Podemos ampliar isso a toda categoria de artefato, no que recaímos no conceito de hipertelia, que traz como seu corolário o reverso: a especificidade do arranjo, que lhe permite resolver melhor uma dada tarefa, lhe retira versatilidade em resolver outras tarefas. O emprego de uma arquitetura temporária visa justamente modificar a hipertelia de um lugar a dada atividade, e incrementar-lhe para outra atividade. O reverso da dedicação exclusiva é a abertura para outras possibilidades, aquilo que permite uma multiplicidade de ações. À essa possibilidade de desempenhos diversos Herman Hertzberger chama de performance. (Paz, 2008, on-line)


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O uso do solo e a própria arquitetura aponta para as atividades que acontecem em determinado lote, suportados por uma forma física “permanente”, essa forma e sua configuração podem favorecer certas atividades, o que indicaria um grau de hipertelia, mas não significa que o uso está esgotado, cabendo à arquitetura efêmera (ações e ativações) a vontade de qualificar a “um dado espaço papéis distintos dos usuais, e o confronto com aquilo que a preexistência impede, permite, sugere e apoia” (Paz, 2008, n.p.). A arquitetura efêmera deve levar em consideração a diferença entre “duração potencial e a duração real” (Paz, 2008, n.p.). Isto não quer dizer que ela não possa ser construída de maneira convencional, porém, atualmente devido ao avanço tecnológico, estruturas mais leve estão sendo empregadas com cada vez mais frequência, além de permitirem um desmonte facilitado e o reaproveitamento dos seus materiais, estando de acordo com o aspecto efêmero e a relação com o fim. Paz (2008) encontra três táticas de como um objeto arquitetônico pode ser retirado de um lugar, ressaltando que elas não são “puras”, sendo empregadas em conjunto na maioria das vezes e não são extremamente distintas, sendo elas: “participação, compactação e rigidez”. Na partição, o objeto é dividido em peças menores, passíveis de transporte dentro da escala admitida antes. Na compactação, o objeto assume uma configuração mais compacta, sem os espaços vazios que constituem a área de vivência do homem. Na rigidez, o objeto ganha solidez, sendo peça inteiriça. (Paz, 2008, n.p.)

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Posteriormente Paz (2008) discorre a respeito das questões que implicam cada uma dessas classificações, a partição, implica no conceito de desmontagem do objeto, onde as peças se juntarão de uma maneira não solidária, não unindo a matéria, nem deformando as peças. Caindo também no conceito de remontagem, onde o processo não pode danificar os elementos, ou alterar sua conformação: “é a diferença entre o parafuso e o prego.” Essas definições são importantes a fim de afunilar as características desse gênero de construção. Existem duas modalidades tecnológicas empregadas neste gênero: “A primeira decompõe o espaço em vários elementos unitários: piso, teto, estrutura, janela. [...] A segunda adota o princípio do invólucro, do tecido dando a forma arquitetônica, ancorado em uma estrutura tênue” (Paz, 2008, n.p.). Como exemplo temos o pavilhão Itinerante da IBM, de Renzo Piano, de 1982, criado para apresentar as transformações do futuro tecnológico em vinte cidades europeias, os componentes eram autoportantes e, ligados entre si, formavam o arco estrutural do pavilhão.

Figura 1- Pavilhão Itinerante da IBM, de Renzo Piano, de 1982. Foto: Gianni Berengo Gardin.


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A compactação consiste na eliminação do espaço existente entre os elementos que forma a arquitetura, esta substância impalpável, deixando conceitualmente de ser arquitetura no momento em que é compactado. A compactação pode se dar por duas táticas, a dobradura e a inflação, na dobradura existem duas variações, a casca, que importa mais o vinco que permite seu manuseio (é um caso mais raro) e a armação, como os sistemas pantográficos (estrutura que pode se expandir e contrair), já na inflação se faz uso de materiais com características elásticas onde “todo o conjunto atua como um corpo”, não havendo o vazio conceitual (Paz, 2008). Como exemplo temos o Ark Nova, de Arata Isozaki e Anish Kapoor, a primeira sala de concertos inflável, de 2013.

Figura 2- Arata Isozaki: Ark Nova – exterior Foto: More Than Green.

Na rigidez, devido o volume não se alterar, o transporte se torna um problema e por este motivo o projeto e a forma da arquitetura sofre interferência. Aqui temos o espaço mesclado com o meio de locomoção, o colocando na classe de veículos.

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Do ponto de vista da constituição física do objeto, o ideal é aproximar-se do monobloco automobilístico, a fim de ganhar maior resistência e de permitir-se manusear melhor. A análise e proposição arquitetônica com estes objetos requer um conhecimento da operação do veículo – presente no objeto ou contíguo a ele, no transporte próprio, ou a conectar-se na locação e na retirada, para o objeto transportado. (Paz, 2008, n.p.) É comum nessa técnica o uso de contêineres, uma vez que a arquitetura se torna “carga”, por exemplo, a PUMA City, do escritório LOT- EK, 2008, a loja pop-up é formada por 24 contêineres, é transportada e montada rapidamente.

Por fim, existe um último recurso dos ambientes transitórios, as unidades de infraestrutura portáteis, uma rede técnica, “e sua definição está mais no manejo de matéria

Figura 3- PUMA City, Shipping Container Store / LOT-EK, 2008. Foto: Danny Bright


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e energia”. Esta divisão, “objetos arquitetônicos, sistemas construtivos e unidades de infraestrutura portátil”, são os elementos que constroem os ambientes efêmeros. Os espaços de performance estão presentes em diversas culturas e aparece presente durante toda a história, é comum, como as feiras de rua presentes no nosso cotidiano, como diz Paz (2008, n.p.): Defendemos apenas que ela exige algumas adaptações sutis dentro de procedimentos usuais no pensamento do espaço construído. [...] Que nele, alguns desafios são ainda maiores que os habituais. E que, por sua vez, outros dilemas não fazem sentido nessas circunstâncias. Sendo a arquitetura efêmera a ferramenta para ampliar a eficiência de um espaço, antes inadequado para certa atividade pretendida, ao mesmo tempo em que mantém o espaço preexistente conservado, permitindo sempre a flexibilidade da condição original. A construção transitória é, então, a contraparte que reforça a condição e durabilidade da arquitetura permanente. Aquilo que lhe dá sobrevida e permite, de fato, que perdurem ainda mais. (Paz, 2008, n.p.)

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É o “desvio de elementos estéticos pré-fabricados” (DEBORD; WOLMAN, 1956) com vistas a promover um deslocamento dos seus significados e propósitos originais. Recontextualizar e subverter signos e objetos preexistentes com fins políticos” (Barbosa; Filho, [2011?]).


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Desvio


O détournement (desvio) empregado pelos Situacionistas também pode ser visto de uma perspectiva de performance, já que consiste na subversão de elementos estéticos preexistentes para a materialização de um novo arranjo, ou seja, recontextualizar e subverter signos e objetos, com objetivo de promover um deslocamento dos seus significados e propósitos originais (com fins políticos). Os Situacionistas acreditavam que por meio da construção de situações se chegaria à revolução da vida cotidiana, as situações seriam como momentos, existindo dois componentes fundamentais “o cenário material da vida; e os comportamentos que ele provoca e que o alteram”, como defendia Guy Debord, apud Jacques (2003, n.p.): “A construção de situações começa após o desmoronamento moderno da noção de espetáculo. É fácil ver a que ponto está ligado à alienação do velho mundo o princípio característico do espetáculo: a não-participação. Ao contrário, percebe-se como as melhores pesquisas revolucionárias na cultura tentaram romper a identificação psicológica do espectador com o herói, a fim de estimular esse espectador a agir, instigando suas capacidades para mudar a própria vida. A situação é feita de modo a ser vivida por seus construtores. O papel do “público”, se não passivo pelo menos de mero figurante, deve ir diminuindo, enquanto aumenta o número dos que já não serão chamados atores mas, num sentido novo do termo, vivenciadores” Em “Um guia prático para o desvio”, Guy Debord e Gil Wolman definem duas categorias de elementos desviados, os desvios me-


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nores, onde o elemento desviado não possui relevância própria e por isso toma todo o significado do novo contexto aplicado, e os desvios enganadores, onde o elemento é inerentemente significativo, tomando uma dimensão diferente no novo contexto. Uma obra desviada pode ser composta por uma série de desvios menores e enganadores. Além disso estipulam normas para a utilização do desvio: 1. O elemento que contribui mais decisivamente para a impressão geral é o elemento mais distante, e não os elementos que determinam diretamente a natureza da impressão. [...] 2. As distorções introduzidas nos elementos desviados devem ser as mais simples possíveis, já que o impacto de um desvio é diretamente proporcional à memória consciente ou semiconsciente dos contextos originais dos elementos. [...] 3. [...] se torna menos efetivo à medida que se aproxima de uma resposta racional. [...] Quanto mais o caráter racional da resposta é aparente, mais difícil fica distinguí-lo de uma réplica ordinária, que também usa as próprias palavras do oponente para atacá-lo. [...] 4. O desvio pela simples inversão é sempre o mais direto e o menos efetivo. [...] ( DEBORD, WILMAN, 1956, n.p.) Por último mencionam o que chamam de “ultradesvio”, um desvio que intervém na vida cotidiana, a partir do deslocamento da linguagem, da vestimenta e do ambiente.

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“Evento é da ordem do indecidível, uma suplementação completamente imprevisível da situação; é uma ruptura imanente, uma multiplicidade que age na e para a situação (e não acima ou exterior a ela), pela “criação de novos instrumentos de racionalidade”“. (Badiou, apud Sperling, p. 135).


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Evento


Além disso o evento também pode ser visto como performance, devido sua própria natureza, segundo Tschumi (apud Sperling, p. 41) consiste no que “simplesmente acontece, uma ocorrência, um incidente- é imprevisível e não programável” e altera o espaço onde acontece dentro de um tempo. Dentro da teoria de Bernard Tschumi, o evento funciona como base da experienciação da arquitetura, operando através da diferenciação de três campos, que interferem entre si, sendo eles “espaço, tempo e sujeito”. O primeiro age desconstruindo a ideia comum de espaço na arquitetura, uma entidade rígida e geométrica, para uma definição de espaço como campo “instaurado de relações em processo, espaço político e social”. O evento rompe a ideia de espaço como lugar rígido e já determinado, transformando-o em articulação entre “posição e movimento”. O segundo desconstrói o tempo como permanência, perduração no decorrer do tempo, em prol do tempo como “presente da ação”, tempo processual. O evento deixa de ser apenas a relação espaço-tempo genérica, e se sensibiliza com a imprevisibilidade de acontecimentos que tomam lugar em um espaço estabelecido durante um tempo definido. Sendo assim “o espaço se temporaliza e o tempo se espacializa”. A noção de tempo se torna: “a criação de sequências abertas para a experienciação do sujeito, para a sucessão de instantes-eventos que compõem a experiência arquitetural.” (Sperling, 2006, p. 46). No terceiro campo, ocorre a desconstrução do sujeito, de usuário e espectador da arquitetura, para o sujeito participativo, vivencia-


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dor e ativo. Sendo esse sujeito “o ponto de partida e ponto de chegada da arquitetura” (Tschumi, 1994, apud Sperling 2006, p. 47). Para Tschumi, o evento, como experiência arquitetural, é o momento em que o corpo pela “ação com reflexão” transgride a lógica do espaço e se diferencia como corpo experienciador. (Sperling, 2006. P. 48). Para que o evento seja estimulado, propõe o projeto como estratégia, partindo do ponto que não se tem controle sobre os eventos, e por isso através do controle dos “elementos maquínicos” que se estimula a ocorrência deles. A arquitetura, portanto se torna meio, objeto que fomenta o evento. Neste ponto, insere o movimento como terceiro termo, entre o espaço e o evento, mas não o movimento como mecânica, mas o contato entre os corpos e dos corpos entre o espaço, e através deste dinamismo a probabilidade da ocorrência do evento se torna maior, devido a este fator, Tschumi dá ênfase ao “entre”, situado entre espaços com programas bem definidos, sendo assim espaços de circulação e interação, espaço onde este movimento acontece. Por isso o projeto do espaço é feito através de ações de montagem de sequências de movimentos e de superposições, esta que realiza a convivência de dois ou mais sistemas distintos, tendo como objetivo “substituir a unicidade de uma fala pela diversidade em potência”. A respeito do programa, Tschumi traz a estratégia comentada anteriormente dos Situacionistas, o détournement (desvio), preten-

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dendo através de “colisões programáticas” provocar desprogramação e a repetição do programa para incentivar a ocorrência de eventos. Havendo três tipos de organização que denomina como crossprograming que utiliza uma organização para um uso não planejado para ela, por exemplo, utilizar um auditório como pista de skate, transprograming que combina dois programas desconsiderando suas incompatibilidades, como criar um parque de ski em uma fábrica de metais, e o disprograming que também une dois programas, mas aqui ocorre uma contaminação entre eles, por exemplo, uma estação de metrô, junto a um centro cultural e restaurante, onde os programas se fundem, formando um novo programa, onde compartilham a configuração espacial. Os espaços, mesmo que disjuntos em relação aos eventos, são prévios a eles. Vinculados, espaços, movimentos e programas podem fomentar a ocorrência dos eventos [...] A objetualidade da arquitetura não é vista como finalidade última e adquire o estatuto de mediadora de processos. (Sperling, 2006, p. 52).


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A


APROPRI AÇÃO E PERFOR MANCE Performance urbana

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A busca pela ativação de espaços ociosos no centro sugere uma preexistência, por este motivo foram selecionados projetos que se preocupam com a relação com o espaço construído, onde são inseridos e possuem, portanto uma relação. Essa preexistência leva em consideração a potencialidade do espaço “entre” de criar possibilidade de eventos, defendida por Tschumi, em razão disto elegeu-se projetos que pudessem dialogar com o limite que delimita este espaço entre. Foi levado em conta também as questões discutidas até aqui a respeito da temporalidade e da performance, por isso buscou-se projetos que demonstrassem a capacidade de mudar de acordo com a hora ou o uso que se faz do objeto, e a capacidade de realização de um uso, anteriormente indisponível, além é claro, da preocupação com as finalidades, usos, programas que estas referências possuem, estando de acordo com o interesse do trabalho. Devido a diversidade de questões que estes projetos deveriam abordar, optei por uma categorização, contribuindo para a melhor compreensão dos projetos e suas abordagens, desenhos e funcionamento, além de compreender cada questão isoladamente, já que cada projeto trata melhor de uma ou outra questão. Esta categorização foi guiada de acordo com as questões comentadas, portando a preexistência formulou a categoria simbiose, o espaço entre formulou a interface, e a temporalidade e a performance deu origem a categoria alternância.


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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II.I simbiose Aqui retomo uma qualidade da arquitetura efêmera defendida por Paz, em que cabe a ela a vontade de qualificar a “um dado espaço papéis distintos dos usuais, e o confronto com aquilo que a preexistência impede, permite, sugere e apoia” (Paz, 2008, n.p.). Na simbiose o objeto se aproveita das estruturas existentes, fundindo-se, mesclando-se ou camuflando-se, ao mesmo tempo em que contribuem com os elementos préexistentes, atribuindo novos usos e dinâmicas, claro que aqui se optou por apenas uma possibilidade de confronto com a preexistência, já que o que Paz está defendendo é mais amplo, havendo diversas maneiras de serem realizadas, sendo cada caso um caso.


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Stairway Cinema

OH.NO.SUMO

The Cineroleum

Assemble

Andaimes

Recetas Urbanas


Stairway Cinema Experimenta a arquitetura e a maneira como ela pode se envolver com o público de maneiras únicas e interessantes. Este projeto se inspira no local e em seus habitantes. Ele está localizado entre duas universidades e é um local de espera. Paradas de ônibus e lavanderias criam um cenário difícil e disperso que resulta em vários casos de espera de baixa qualidade, enquanto falha em fornecer espaço de qualidade para a interação social. As pessoas recuam individualmente na mídia oferecida em seus smatphones. Com o projeto a experiência individual é trocada pela comunitária e social, levando a uma experiência compartilhada, divertida e ativa através da arquitetura.

Arquitetos: OH.NO.SUMO Ano: 2012 Tática: Partição Local: Nova Zelândia, Auckland

Figura 4,5,6 e 7- Stairway Cinema Foto: Simon Devitt


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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The Cineroleum

Figura 8 e 9- Desenhos The Cineroleum, Fonte: Assemble


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

Arquitetos: Assemble Ano: 2010 Tática: Partição/ compactação Local: Inglaterra, Londres

Figura 10 e 11- The Cineroleum Foto: Zander Olsen

Cineroleum foi um projeto de iniciativa própria dos arquitetos, um experimento para o reaproveitamento de postos vazios do Reino Unido, aqui o posto de gasolina foi transformado em um cinema. A obra ocorreu toda no local, com a ajuda de mão de obra voluntária e com a ajuda de manuais escritos na cria-ção dos protótipos. Cineroleum celebra a experiência social de ir ao cinema, por estar na rua, na cidade e não fora dela, no final do filme a tela é alçada, junto com a cortina, “convidando à audiência a sair do mundo imaginativo do filme ao teatro de todos os dias da rua.”

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Andaimes O cidadão queria aplicar um sistema de expansão de moradias populares, compatível com a Lei do Patrimônio e que permitisse um crescimento urbano espontâneo liderado pelos próprios cidadãos, e não pelos promotores imobiliários. No nível técnico, os andaimes ofereciam uma solução barata e reversível e, portanto, compatível com as necessidades da cidade velha. Você pode imaginar uma “cidade” construída sobre a atual, com leves estruturas efêmeras que respeitam o patrimônio da cidade e, ao mesmo tempo, desenham uma nova paisagem em constante mudança.

Arquitetos: Recetas Urbanas Ano: 1998 Tática: Partição Local: Espanha, Sevilha


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Figuras 12 a 15Andaimes Fonte: http://www. recetasurbanas. net/index1.php Acesso em: 2020


II.II interface Essas intervenções aproveitam as interfaces de edifícios, se tornando uma espécie de extensão dos mesmos, mas que pode cumprir funções bem diferentes ou também dar continuidade e estender o programa já existente. Criando uma nova dinâmica, ou interação entre os dois espaços já estabelecidos, no caso a rua e o edifício, ou seja, retomando o espaço “entre” de Tschumi, como potencialidade para a ocorrência de “eventos”, trabalhando neste caso com os limites que definem este espaço.


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Level UP

Figuras 16 a 19- Level UP Fonte: https://www. archdaily.com/911991/ level-up-brett-mahon Fotos: Rahul Palagani


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

O projeto teve como objetivo readaptar um telhado em desuso ao lado do Canal Morto, na área do Delta de Rijeka, dando vida a ele como um espaço de reunião e evento Arquitetos: Brett Mahon para os habitantes locais. Cada nível forma um espaço íntimo, porém conectado, para Joonas Parviainen pequenos grupos se reunirem e, ao mesSaagar Tulshan mo tempo, fornece uma fachada pública Shreyansh Sett e conscientização da regeneração cultural em andamento do edifício, a Level Up Ano: 2018 celebra o urbanismo efêmero, convidando Tática: Partição todos a refletir sobre a impermanência Local: Croácia, Rijeka material e espacial.

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Terrazario O Terrazario baseia-se na premissa de que essa extensão externa deve ser capaz de produzir um bem comum, não apenas ganhos econômicos ou comerciais, mas também valores ambientais, urbanos, cívicos e públicos. Uma mistura de usos através da introdução de três tipos de espaços públicos urbanos e um aumento de densidade através da sobreposição são as principais estratégias usadas para liberar o espaço no nível da rua e promover uma interação e intensidade de uso mais altas. Essas áreas sobrepostas são espaços híbridos que combinam pequenos usos comerciais (o mercado), estabelecimentos públicos (a praça) e áreas de descanso e verdes (o terraço).


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

65 Arquitetos: PKMN Ano: 2013 Tática: Partição Local: Espanha, Madrid

Figuras 20 a 23Terrazario Fonte: http://afasiaarq. blogspot.com/2014/06/ pkmn-architectures. html?m=1#more


Prótese Institucional Materializa e serve como um preâmbulo para uma reflexão mais ampla que o Espaço de Arte Contemporânea de Castelló deseja fazer sobre o museu, seus limites e também sobre suas novas capacidades para estabelecer vínculos com o quadro urbano, social e político: com a cidade e suas paisagens associadas. A reflexão sobre os usos e disponibilidades de um centro de arte foi traduzida em um espaço funcional - um lugar de trabalho aberto a todos que o necessitem um laboratório cidadão que funciona independente do museu e de qualquer controle institucional.

Arquitetos: Recetas Urbanas Ano: 2013 Tática: Partição/ rigidez Local: Espanha, Castelló


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Figuras 24 a 26Prótese Institucional Fonte: http://www. recetasurbanas.net/ index1.php acesso em: 2020


II.III alternância Na alternância os objetos possuem a capacidade de serem usados de formas diferentes, através da mudança de sua forma, ou alterarem sua dinâmica para que usos diversos ocorram. Esta categoria é feita em favor das questões de tempo e de performance já discutidas, mas também em prol da problemática da migração pendular em torno dos centros urbanos, que demonstra que a cidade se altera de acordo com a hora, o uso e os interesses, e apesar de trazer um problema para os centros, essa capacidade é trazida como uma qualidade dentro destes projetos, ou seja, aqui busco utilizar dessa ferramenta, invertendo-a para criar solução.


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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alternância por uso


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Pabellón FAV Localizada na Plaza Sotomayor de Valparaíso patrimônio da humanidade, de dia será uma praça lúdica com 200 árvores nativas, onde as pessoas poderão se reunir, caminhar, brincar e mergulhar em um ambiente sonoro sutil. À noite, funcionará como uma grande lâmpada urbana, onde serão exibidas as obras de artistas audiovisuais.


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Arquitetos: República Portátil Ano: 2014 Tática: Partição Local: Chile

Figuras 27 a 31- Pabellón FAV Fonte: https:// www.metalocus. es/es/noticias/ pabellon-fav-porrepublica-portatil Fotos: Gino Zavala Bianchi


White Extension A instalação cria um espaço semi-íntimo, onde pequenos grupos de pessoas podem se reunir para trabalho, discussões e projeções. Além disso, serve como um ponto atraente para eventos externos, como o festival de verão de música realizado no Hostel. Arquitetos: Bilyana Asenova Sasa Ciabatti Ano: 2014 Tática: Partição Local: Ítalia, Lecce- San Cataldo


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Figuras 32 a 36- White Extension Fonte: https://divisare.com/ projects/299058sasa-ciabattibilyana-asenovaarchistart-whiteextension


He- MAXXI

Figuras 37 a 40- He, no museu MAXXI Fonte: https://www.archdaily. com.br/br/01-129221/ yap-2013-bamestreia-he-no-maxxi Fotos: Cortesia MAXXI para o Site archdaily


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

Empregando uma sombra amarela hipnotizante na grama e uma plataforma de madeira, He tem proporcionado um refúgio sem estruturas para os visitantes. Durante o dia, água escorre lentamente das quinas do volume para proporcionar uma névoa que refresca e delineia o espaço público abaixo. À medida que cai a noite, a água é substituída por luz para criar uma “lanterna evocativa e luminosa” capaz de abrigar uma grande gama de eventos externos. Arquitetos: Bam! Bottega di Architettura metropolitanSasa Ciabatti Ano: 2013 Tática: Partição/ Compactação Local: Ítalia, Roma

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alternância por forma


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Just a black box


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

Desafia e combina os conceitos de quiosque e mobiliário urbano, usando colunas hidráulicas simples, o objeto é capaz de elevar sua camada externa e se tornar um espaço personalizável, com usos que variam de cafeteria, oficina de reparo de bicicletas, biblioteca e bilheteria, a uma pequena loja de varejo ou até um minicinema, quando fechado, oferece uma série de espaços sentados íntimos, que oferecem abrigo contra os fortes ventos e o sol forte do verão.

Arquitetos: Tomaso Boano Jonas Prismontas Ano: 2015 Tática: Compactação Local: Espaço público

Figuras 41 a 44- Just a black box Fonte: https:// www.designboom. com/architecture/ just-black-box-kiosklondon-09-23-2015/ Imagens: Tomaso e Jonas

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Street Cinema O cinema de rua ajustável do arquiteto israelense repousa levemente ao lado de um canal em Veneza, Itália, expandindo, contraindo, abrindo e fechando conforme o programa muda. A flexibilidade do cinema permitiu uma variedade de atividades sendo a primeira uma performance da artista russa Olga Jitlina como parte da Space Force Construction. Mas dada a inspiração do cinema, o filme foi o foco principal.

Arquitetos: Omri Revesz Design Studio Ano: 2018 Tática: Compactação Local: Venice Fondazione delle Zattere


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

83 Figuras 45 a 48- Street Cinema Fonte: https:// www.archdaily.com.br/ br/880980/pop-in-popout-pop-up-cinemade-rua-retratil-emveneza Fotos: Nicollò Zanatta


Como comentado anteriormente um dos motivos da categorização de referências se deu pela diversidade de questões abordadas e pretendidas, após analisar as ações projetuais de cada projeto, dentro de sua categoria, é possível condensa-los, mescla-los, e assim como Tschumi, esse trabalho irá buscar a ocorrência do evento em vários lugares, além de pretender atender as necessidades de uma cidade contemporânea, marcada por “acontecimentos”, onde seus espaços se alteram constantemente, sem altera-los fisicamente. Estas questões e os projetos de referência apontam para uma solução que requer um sistema de fácil concepção, utilizando um elemento genérico, resgatando aqui também a questão dos desvios menores trazido pelos Situacionistas, um sistema que permita a fluidez do uso, do programa e da forma para que assim crie maiores probabilidades para que o evento aconteça. No fim, o projeto tentará trazer as qualidades de todas as categorias, utilizando de soluções aqui apresentadas, pretendendo criar um sistema que pode ser aplicado em lugares diversos, respeitando suas particularidades.


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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D EV


DESVIO VENTO SITU AÇÃO APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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s.m. 1 Aquilo que está de permeio; intermédio; 2. Espaço, ou espaço de tempo, entre dois extremos; intervalo. (Dicionário Aurélio)


APROPRIAÇÃO E PERFORMANCE

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Entremeio


III.I Ação [ocupação cine] III.I.I Apropriação e dinâmicas urbanas Analisando algumas das dinâmicas urbanas existentes na cidade de Morro Agudo, observa-se as características de comportamento contemporâneo faladas anteriormente. A população jovem se apropria de “não-lugares”, mais especificamente de estacionamentos usando estes espaços para o lazer, fazendo assim um evento que torna estes espaços momentaneamente “lugares”, momentaneamente com identidade.

Figuras 49Sobreposição de usos, dinâmica urbana Fonte: compilação do autor Figura 50- Mapa dinâmica urbana Fonte: compilação do autor


DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

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Essas dinâmicas ocorrem em estacionamentos e possuem a mesma natureza noturna. Mas o que mais pode haver em cada um deles, para que isso aconteça?


Tomando o primeiro ponto de encontro para análise, ali existe um espaço muito aberto, sendo o encontro de duas avenidas, havendo a presença do centro de lazer da cidade (não funciona a noite), que contribui para esta abertura física e visual, além de um posto de gasolina com um bar/ restaurante que pode dar certo suporte a este uso, é um espaço tranquilo no que diz respeito ao trânsito e movimento em geral, além dessas características do entorno, também possui uma questão física, já que possui um recuo considerável entre a rua e o edifício (uma escola), junto a isto existe uma pequena cobertura da entrada e uma plataforma elevada onde ficam as bandeiras da escola, que também dão suporte a esta dinâmica. No segundo ponto também existe uma abertura espacial e visual, já que acontece em frente a uma rotatória, em um estacionamento de uma pequena praça, o posto de gasolina ao lado, certamente dá suporte a este uso aqui o trânsito já é muito maior, talvez por este motivo neste espaço a dinâmica não acontece com tanta frequência, sendo um espaço mais ligado a certas datas ou acontecimentos, como natal, ano novo, copa e finais de campeonatos onde a torcida vai para festejar. O terceiro ponto fica em frente a praça da Matriz, e talvez pela presença dos guardas alguns jovens preferem ir para este estacionamento para não se sentirem controlados. O terreno possui um desnível que cria uma espécie de mobiliário, aproveitado por estes jovens, além da presença da escada e um plataforma elevada utilizada para permanência.

Figuras 51Dinâmicas urbanas e seus espaços Fonte: Compilação do autor


DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

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Pensando nessas dinâmicas, propõe-se o uso de espaços ociosos e banais, no centro cidade, que sofre um esvaziamento devido à migração pendular, espaços com grande potencial de articulação da vida urbana, como solução para as questões do lazer e cultura existentes (em grande parte das cidades brasileiras). Contribuindo assim, tanto para o suporte as dinâmicas que já ocorre, quanto para a questão existente no centro. Aqui, retomam-se os Situacionistas, que possuem uma relação direta com o cotidiano, e defendem que “o lazer seria o tempo livre para o prazer e não para a alienação, o lazer poderia passar a ser ativo e criativo através da participação popular” (Jacques, 2003, n.p.). Em Lotes Vagos, Silva e Ganz (2009), enxergam nos lotes vazios potencialidades de usos, que se estendem por toda a cidade, como uma proposta de reconfiguração do espaço urbano, que altera as noções de espaço público e privado, e possibilita as pessoas de participarem ativamente da formação do espaço da cidade , sendo as atividades e usos determinantes do grau de privacidade de um espaço (dando mais uma característica que o uso determina). Lembrando que os lotes utilizados são privados, portanto a ação acontece a partir de uma negociação com o proprietário do lote [apropriação] uma ação delicada de negociação e colaboração, onde os arquitetos e profissionais envolvidos são mediadores da esfera privada com a comunidade permitindo o mútuo favorecimento das partes envolvidas, estando ambas comprometidas em torno de uma confiança. Alguns exemplos desse trabalho são 100 m² de grama, Cabeleireiro e Topografia. A

Figuras 52- Cabeleireiro Figura 53- Topografia Figura 54- 100 m² de grama Fonte: Louise Ganz (2005)


DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

proposta do primeiro foi plantar 100 m² de grama em um terreno de 500 m², sendo um catalisador para outras atividades, no segundo criaram um dia de spa, no terceiro adaptaram a topografia de um terreno com vista da cidade, para criar o que chamaram de “sofás topográficos” e no quarto exemplo, fizeram um quadrado de areia, onde colocaram uma piscina plástica e cadeiras, criando uma praia.

Lotes Vagos representa principalmente a abordagem da relação pública e privada que se espera neste trabalho, tanto na ideia de alterar as noções entre estas duas esferas, quanto da utilização de espaços privados para uso público, a diferença aqui é que serão ativados espaços ociosos construídos e não espaços vazios, sem que tenha existido um uso ou uma forma prévia. Praças e parques são espaços já projetados para o encontro, para as coisas acontecerem, seria possível nos “não-lugares”, nos “espaços residuais”, nos “espaços colaterais” também existir as potencialidades

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vistas em Lotes Vagos? Espaços que são campos de escolhas táticas e projetos íntimos de modernidade, permeáveis às possibilidades óbvias de habitar o cotidiano. [...] Espaços que problematizam a conflituosa geografia contemporânea entre o público e o privado, dissolvendo temporariamente os seus limites, denunciando a precariedade das fronteiras e a volatilidade política das barreiras. Espaços que nascem pontuais, mas são raciocínios sistêmicos. E, uma vez que emergem de e por entre estruturas genéricas (e provavelmente globais), estão sempre à espreita da próxima oportunidade. Espaços que estão por toda parte e em cada agenda pessoal. (Cançado, 2008) Espaços que remetem a ideia de lugar sem relevância histórica, banal, o mais cotidiano possível, espaços que em 1921 os dadaístas adotaram, junto com uma “atitude de exploração e descobrimento” levando-os a encontrar “realidades e situações presentes em qualquer parte da cidade” (Silva; Ganz 2009, pág. 20). Essa motivação guiará as propostas de situação futuras no projeto.

Figuras 55- Ativação do espaço Fonte: complilação do autor


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DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

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DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

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Um “momento da vida, concreta e deliberadamente construído pela organização coletiva de uma ambiência unitária e de um jogo de acontecimentos”. (Jacques. 2003)


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Situação


III.I.II Re[programação] espacial A ideia de trazer o cine + ocupação como programa, possui a intenção de criar um espaço de permanência, cultura, lazer e expressão, trazendo o mínimo necessário para que este programa aconteça. Por este motivo, somado a estrutura, utiliza-se a luz e a projeção para possibilitar esses usos e nortear os espaços. Esse programa foi escolhido partindo da premissa de que muitas das cidades pequenas não possuem um cinema, um equipamento urbano muito importante na nossa sociedade, que é capaz de influenciá-la, de contribuir com mudanças, de gerar pensamento crítico, entre diversos outros papéis que o cinema pode cumprir, como defende Guy Debord e Gil Wolman, em “Um guia prático para o desvio” (1956, n.p.): “É obviamente no reino do cinema que o desvio pode alcançar a sua maior eficácia e, para os que se preocupam com este aspecto, a sua maior beleza. Os poderes do filme são tão amplos, e a ausência de coordenação de tais poderes é tão evidente, que virtualmente qualquer filme [...] pode fornecer material para polêmicas infindáveis entre expectadores ou críticos profissionais. Apenas o conformismo dessas pessoas as impede de descobrir encantos igualmente sedutores e defeitos igualmente óbvios mesmo nos piores filmes.” Ainda pelo fato, de que a cidade em questão (Morro Agudo) já possuiu um cinema, chamado Cinema Nacional (fundado em 1958), onde hoje funciona a Caixa Federal, demonstrando como a cultura e o lazer não são valorizados como deveriam, além


DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

de mostrar a passagem que ocorreu dos cinemas, antes presentes nas ruas, para os ambientes fechados e controlados, como os shoppings centers, um acontecimento visando sempre o lucro, ambientes que não se encontra em todas as cidades, por ser mais comuns em cidades maiores, contribuindo com não presença do equipamento cinema em mais cidades. Por fim, diante do atual estado de pandemia do coronavírus e da quarentena, agora chamada de lockdown, ou popularmente “coronavida” devido à extensão deste período e a nova forma de viver nesse tempo, faz com que arquitetos e urbanistas pensem a respeito do ambiente em que vivemos, das relações entre público e privado, o isolamento e o como responderemos às novas dimensões propostas ao espaço urbano. As cidades estão vazias e o urbanismo focado em interação, espaços compartilhados, na vida cotidiana, parece estar obsoleto, ao menos neste período, e enfrentarão desafios pós covid-19, o que nos leva a pensar a respeito da condição desse trabalho diante a essa nova condição. O primeiro ponto a ser levantado é o de que nunca sentimos tanta falta do espaço público, tanto por estarmos “presos” em casa, onde algumas pessoas não possuem muito espaço, quanto pela falta que faz a interação. Somos seres sociais, buscamos conversas, contato, afeto, comunicação e mesmo a internet não dá conta de nos abastecer disso. Agora percebemos a falta que faz andar na cidade, ir a lojas, praças, até mesmo ao supermercado e ao banco de forma tranquila, existindo uma grande valorização de pequenos atos cotidianos presente até

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pouco tempo. Utilizando de empenas de edifícios, projetores e mensagens, nasceu o projeto #projetemos, onde qualquer pessoa pode transmitir sua mensagem em tempo real, nas mídias sociais marcando a hashtag, esse tipo de mobilidade não é novo, porém é uma nova forma de usá-la. Para Beiguelman, trata-se de um marco na história da projeção na escala urbana: “Nunca houve uma ação em rede deste porte, isso é inédito, mas o mais relevante é que tem um projeto ‘pedagógico’ que é a capacidade de agregar muitas vozes e fazeres neste processo”, disse na conversa promovida pelo IAB/SP. (Bobsin, 2020, n.p.) Nos EUA está ressurgindo a cultura dos cinemas “drive- in”, com um número limitado de carros, para que se mantenha uma distância segura, e no Brasil vem surgindo algumas iniciativas na criação de espaços com esta finalidade (Ribeiro, 2020, n.p.). Na Alemanha, uma casa noturna adaptou um drive-in para fazer shows, criando as primeiras “raves drive- in”, limitado o número de pessoas, permitindo apenas duas pessoas em cada carro e sem a permissão para vender bebidas, tudo para manter a segurança, o evento foi um sucesso e outras “raves drive- in” estão surgindo, inclusive para público infantil (Vidon, 2020, n.p.).

Figuras 56- Rave drive- in Fonte: HaukeChristian


DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

Todas essas possibilidades envolvendo as projeções, cinema, e festas, podem ocorrer de maneira participativa, gerando identidade e sentimento de pertencimento para a cidade, tornando “não-lugares” em lugares (além de estarem dentro da temática dos acontecimentos da dinâmica urbana existente na cidade em questão), tendo assim uma relação direta com o que o projeto irá buscar. O programa do cinema + ocupação se torna então uma possibilidade de retorno à vida urbana, retornando o cinema para a rua, mas agora, um cinema aberto, sem espaços fechados e escuros, uma preocupação com a questão da higiene que será constante daqui para frente. O nome “+ ocupação” vêm do motivo pelo o qual o cinema será o programa principal, aquele que funcionará como mantenedor e alimentador de todo o projeto, e o único programa realmente em evidência, deixando as questões de permanência, lazer e expressão sugeridas, ou seja, o cinema se tornará um sinalizador de possibilidade de ocupação noturna, no momento em que o cinema não estiver em funcionamento as pessoas poderão utilizar desse espaço como desejarem, tentando assim criar a possibilidade de que a “situação” aconteça, partindo da vontade da população, que se torna ativa e não alienada, ou seja a desprogramação do projeto se torna o estopim para o acontecimento da situação.

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DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

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PRO CEDI MEN DESVIO, EVENTO E SITUAÇÃO

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III.II.I materialidade

A proposta de trabalhar com a flexibilização do programa para a ocorrência do evento solicitou a utilização de um sistema que possibilitasse uma fácil adaptação, assim como a facilidade de montagem e de transporte. Por este motivo utiliza-se o andaime como corpo estrutural, através da tática de partição o transporte é facilitado, e por ser um sistema modular, que permite a multiplicação, adição e subtração, consegue-se a adaptação. Além disto, esse sistema traz consigo o aspecto genérico, e os espaços construídos com ele remetem a elementos usuais do dia a dia, elementos que a população utiliza de maneira informal, como muretas, escadas, cercas, entre outros, como se fossem mobiliários, como é visto nas dinâmicas urbanas (onde esses elementos contribuem para um suporte), ou seja, a capacidade do ser humano em transformar aquilo que o cerca para atender suas necessidades. Para complementar os andaimes formam espaços de permanência, que dão suporte ao programa, criando uma “topografia” (através dos níveis criados), que pode ser usada para assistir filmes, servir como espécies de camarote, e permitir uma diversidade de possibilidades, para contribuir com essa alternância do programa, é incorporado a estrutura de andaimes, infláveis em formato de cubo, seguindo a modulação da estrutura, estes serão responsáveis tanto por sinalizar, quanto por criar espacialidades de acordo com o uso que se deseja fazer, podendo servir de iluminação, de tela para o cinema, ou mesmo criando sombra para permanência.


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

Todos estes aspectos conduzem à luz como protagonista, sendo o elemento mais simples para a construção deste programa e espacialização do mesmo. A projeção aqui é articuladora do programa, uma vez que ela possibilita a tela do cinema, os telões que ambientalizam e iluminam festas, além de atualmente, ser forma de expressão nas cidades em tempos de isolamento, como mostra o projeto #projetemos, que utiliza empenas de edifícios para mandar mensagens, trazendo assim estes três programas, cinema, festas e expressão.

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III.II.II elementos + associações


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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módulos de topografia Os módulos de topografia seguirão uma modulação de 2,07 metros, as alturas de piso seguem uma modulação de 0,50m, desrespeitando essa regra apenas no piso mais alto, que terá 2,07 metros, formando assim um cubo, podendo ter de altura final 4,14 metros ou 6,21 metros, ou seja, dois ou três cubos “empilhados” respectivamente, além de possuir opção de rodizíos ou sapatas ajustáveis, para adaptaçao dos desníveis dos terrenos.


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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mรณdulo escada


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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módulo cubo A modulação dos modulos de topografia permite que o inflável possa de movimentar dentro da estrutura, umas vez que estes serão um cubo de 1,85 metros, os infláveis serão presos nos pisos do andaime ou em contrapesos quando saem do corpo da estrutura, possuirão um kit de iluminação interna que funciona a bateria e pode ser controlados individualmente, de acordo com o interesse do programa e da espacialidade.


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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módulo volante O módulo volante possui uma modulação de 1,57 metros, para se encaixar entre as estruturas da “topografia”, podendo portanto se movimentar. É o módulo que controla o som, a imagem e a iluminação, possuí um fechamento em grade, que se abre no segundo pavimento, podendo se tornar assim uma cabine de DJ.


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

A energia deste módulo é obtida através do próprio local onde ela se insere, através de cabos presos no piso. Durante o cinema o módulo volante projeta e emite som, mas também possui opção de conecção via rádio FM, no caso de drive-in. Durante o dia e durante a festa permite a reprodução de músicas via bluetooth, contribuindo assim com a apropriação das pessoas, umas vez que elas escolhem o que gostariam de ouvir .

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adj. 1. Que dura só um dia; 2. De pouca duração; passageiro, transitório. (Dicionário Aurélio)


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Efêmero


III.II.III situ[ações] Espaços escolhidos através da subjetividade, e da vivência na cidade, em todos acontece um ócio temporal, além de haver uma espécie de convite nesses espaços, como uma extensão da rua (espaço físico), talvez por seu caráter aberto (vazio), talvez por alguns serem de esquina ou mesmo pelo motivo de terem sido feitos para o carro (espaços sem identidade, genéricos, “não- lugares”). Claro que aqui, quando se fala em extensão da rua, converte-se a rua, do sentido de materialidade para a experiência da rua, como lugar de suporte a sociabilidade, espaço que resgata a diversidade (Magnani, 2010), ou seja, para fins arquitetônicos e urbanísticos enxerga-se a rua como um articulador das vivências urbanas e transporta esse sentido para estes espaços particulares, que assim como em lotes vagos, faz necessário uma negociação, pelo empréstimo do local, esse empréstimo, por possuir caráter temporário, também conduz para o uso da arquitetura efêmera, que fica responsável por dar performance a estes espaços e assim dar a eles o sentido de rua. Figuras 57- Leitura gráfica dos locais Fonte: compilação do autor


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

Outra característica presente nesses três pontos são a de “espaços intermediários, entre dois cenários supostamente estáveis” (Guardiet, 2018, n.p.), mas que possuem potencial para criação de situações, projetos e soluções. Estes espaços se encaixam em toda a discussão anterior, sendo espaços que condizem com a definição de “não-lugares”, de “espaços colaterais”, “espaços ociosos” e espaços “entre”, além de serem particulares e trazer a tona as questões entre público e privado, como já dito anteriormente foi uma escolha de vivência da cidade, subjetiva e afetiva, o que se pretende é a criação de situações, importando mais as ações que ali ocorrem e que se pretendem no projeto. Se tornando assim um procedimento, diante dessa dinâmica existente, para os espaços com essas características na cidade, sejam eles quais forem.

Figuras 58- Mapa das situações Fonte: compilação do autor

A partir disso serão analisados os três espaços escolhidos, as três situações, a fim de entendê-los e estuda-los e assim propor ações.

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Figuras 59- Praรงa da Matriz de Morro Agudo Foto: Edgard Issy


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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situação 1 Na primeira situação encontra-se o posto de gasolina, que hoje funciona como depósito para o proprietário, mas que mantém a parte aberta para a rua livre de qualquer uso, estando essa área ociosa. Localiza-se em um lote de esquina, o que contribuí ainda mais para o aspecto de extensão da rua, além disso, sua cobertura oferece sombra, e possui uma estética interessante, diferente das coberturas dos postos atuais, os cheios e vazios do lote e o fato de não possuir calçada faz o posto se tornar a própria esquina. Estando em uma das principais ruas que corta a cidade e um dos principais acessos ao centro, também se torna um local interessante devido o fluxo de pessoas. Além de residências, há no entorno supermercados, lojas, oficina e agora está sendo construído o primeiro edifício comercial da cidade. No período noturno funciona na mesma rua do posto um bar que também é um prostíbulo. São esses usos que mantém a área com um fluxo constante no período em que as atividades do centro funcionam.

Figuras 60 a 65mercados e lojas no etorno da situação 1 Figura 62- oficina vizinha à situação 1 Figura 63- Prostíbulo no entorno Fotos: Leonardo Tomazeli


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Figuras 66 a 69- Local da situação 1 Fotos: Leonardo Tomazeli


diagrama local da situação 1


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Planta festa

sem escala

Planta permanência

sem escala

Planta de situação- cinema Escala: 1:150


Corte 1


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Escala 1:100


Corte 2

Escala 1:100


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Corte 3

Escala 1:100


Corte 1


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Escala 1:100


Elevação 1


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Escala 1:100


Elevação 2


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Escala 1:100


Elevação cinema sem escala

Elevação festa sem escala


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Elevação permanência sem escala


IsomĂŠtrica festa


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Isométrica permanência


IsomĂŠtrica cinema


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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situação 2 Na situação 2 existe um recuo que fica entre edifícios, funciona como um estacionamento de grande fluxo no período diurno, além de dar acesso a salas comerciais, mas que fica ocioso a noite, junto ao esvaziamento do centro, esse recuo é o resquício de uma antiga concessionária de tratores, tanto que seu piso é de paralelepípedos, devido a materialidade e essa abertura contrastante com os edifícios vizinhos, também se torna uma área atrativa, convidando a rua a entrar neste espaço. Localizado entre os quarteirões mais movimentados do centro, rodeado principalmente de lojas e bancos, a área particular é tomada como estacionamento público, como se fosse literalmente uma extensão da rua, já que as pessoas não pagam para estacionar ali. Pelos uso do entorno, é a área em que as pessoas mais caminham no centro e por isso a situação que se propõe aqui é a utilização desse espaço em prol das pessoas, demonstrando alternativas para as áreas ocupadas pelo carro.

Figuras 70 a 74Entorno da situação 2, lojas Fotos: Leonardo Tomazeli


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Figuras 75 a 78- Local da situação 2 Fotos: Leonardo Tomazeli



PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Planta permanência sem escala

Planta festa sem escala

Planta de situação- cinema Escala: 1:150


Corte 1

Escala 1:100


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Corte 2

Escala 1:100


Elevação 2

Escala 1:100


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Elevação 1

Escala 1:100


Elevação cinema sem escala

Elevação festa sem escala


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Elevação permanência sem escala


IsomĂŠtrica festa


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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Isométrica cinema


IsomĂŠtrica permanĂŞncia


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

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situação 3 A situação 3 consiste em um estacionamento de um supermercado que não está mais em atividade, estando ocioso a mais de um ano, possuindo uma grande dimensão e localizado em uma esquina, aqui existe uma certa hierarquia de acesso dos carros, mas por ser “fechado” por grades não perde a conexão com a rua, também sendo, como nas outras situações, muito convidativo. Devido à somatória dessas questões físicas (esquina, fechamento em grande, dimensão) o espaço permite que a visão se torne permeável, podendo ver as duas ruas que se cruzam ao mesmo tempo, em uma dessas ruas temos uma boa visão de parte da cidade devido a topografia, permite também uma maior circulação do ar, e ouvir os sons oriundos das duas ruas, ativando assim nossos sentidos, mas em certa hora barrados pela empena do mercado e o muro de divisa. O entorno aqui consiste além de residências, na praça da Matriz, onde se encontra também a igreja Católica, de onde emite o sino, alguns serviços e o que mais chama atenção é uma distribuidora de bebidas de frente ao estacionamento, que já funciona no período noturno e que poderia dar suporte à dinâmica urbana existente.

Figuras 79 a 82- Entorno da situação 3 Fotos: Leonardo Tomazeli


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

181



PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

183



PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

185 Figuras 83 a 85- Local da situação 3 Fotos: Leonardo Tomazeli



PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

187



PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

189

Planta de situação- cinema Escala: 1:200


Planta permanĂŞncia sem escala


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

191

Planta festa sem escala


Corte 1

Corte 2 sem escala


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

193

Escala 1:100


Elevação 1

Elevação 2


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

195

Escala 1:100

Escala 1:100


Elevação 1

Elevação 1


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

197

Escala 1:100

Escala 1:100


Elevação cinema sem escala


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

199

Elevação festa sem escala

Elevação permanência sem escala


IsomĂŠtrica festa


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

201

Isométrica cinema


IsomĂŠtrica permanĂŞncia


PROCEDIMENTOS [elementos + associações]

203


C

A


CONSI DER AÇÕES CONSIDERAÇÕES FINAIS

205


A utilização desses espaços possui a proposta de mostrar alternativas, mostrar como espaços dessa natureza podem contribuir com o urbanismo, se pensado para as pessoas e no cotidiano, mudando a maneira como olhamos para eles, invertendo a visão de lugar abandonado, sujo, escuro, para lugares potenciais, onde podemos imaginar diversas situações que poderiam ocorrer ali, contribuindo com o entorno e se apresentando como soluções de problemas existentes na cidade. Procurando ao fim, trazer o conceito de amabilidade para estes espaços ociosos, conceito definido por Fontes (2011, p. 14) como: “uma qualidade física e social ao mesmo tempo: poderia considerá-la como resultado da soma do contexto físico [espaço potencialmente atraente] com o contexto social [pessoas], que se unem através da presença da intervenção temporária.” Além de promover a interação e a apropriação nesses espaços, dando sentimento de pertencimento, identidade e a participação ativa das pessoas, combatendo o alienação, como defendiam os Situacionistas.

Figuras 86-Amabilidade Fonte: Fontes, 2014


CONSIDERAÇÕES FINAIS

207


B


BIBLIO GRA FIA CONSIDERAÇÕES FINAIS

209


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211


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BIBLIOGRAFIA

213



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