Brochura exposição Paula Buschinelli

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Paula Buschinelli “Tem alguém aí?” 30 setembro»»»13 de outubro 2017 1


20 anos a trabalhar com a Arte pela Inclusão Social A vida é feita de ciclos e hoje o Espaço t fecha mais um. 20 anos a trabalhar com a Arte pela Inclusão Social. Em 20 anos vivemos momentos mágicos, de sonhos, momentos utópicos, momentos reais, momentos de falta de espaço e momentos de excesso de ideias para concretizar. Vivemos 20 anos com toda uma força emocional que uma equipa pode ter. Podemos, afirmar, que valeu mesmo a pena! Contribuir, através da Arte, para transformar “Homens em Príncipes” e com eles fomos mais longe, difundimos a Cultura do Espaço t para além dos espaços físicos conquistados e assumidos como pontos de partida do trabalho do Espaço t. Hoje, ao fim de 20 anos, sabemos que valeu a pena ter momentos de crise, angústias, dúvidas e de muita resiliência… Mas sabemos que valeu a pena criar espetáculos de Teatro e Dança inclusivos, produzir revistas em negro, braille e áudio, realizar exposições para invisuais e para os outros, realizar congressos com temáticas tão complexos e simultaneamente tão simples como a Morte, o Desejo, o Sonho… Milhares de pessoas passaram pelo Espaço t e estamos certos que irão continuar a passar com a mesma vontade de encontrar caminhos para uma vida, onde a Felicidade é o sonho maior e essa é quase sempre tão singular e difícil de entender. No Espaço t não temos a pretensão de mudar o Mundo, temos apenas a vontade de contribuir para um Mundo melhor, mais inclusivo, mais emocional, onde a Arte tão bem consegue materializar esses desejos e sentimentos da subjetividade humana. Por isso, com a Quase Galeria, criamos um espaço de arte contemporânea, onde a Arte se funde com a essência da Casa da Felicidade. Com o Espaço Intercultural “ O Meu País no Teu” e a Galeria Espaço t(eu) iniciamos uma nova dinâmica socio cultural, para que os imigrantes, oriundos de países terceiros, e a residir em Portugal possam sentir-se menos imigrantes, através da Arte. No Cercar-te E6G continuamos a dotar meninos/as do bairro do Cerco de competências sociais, relacionais e outras, para poderem ser melhores Homens e Mulheres no futuro. Continuamos a realizar exposições, projetos de Arte Pública e tudo aquilo que nos possa fazer sonhar, tendo sempre como protagonistas os/as nossos/as alunos/as, pois são eles/as que nos fazem ver o Mundo de outra forma. São muitos os projetos que queremos concretizar e sonhar, mas sabemos que precisamos de mais 20 anos para os concretizar… Obrigado a todos/as os/as que desde a fundação do Espaço t nos ajudaram a chegar até aqui! Jorge Oliveira

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O MEU PAÍS NO TEU – Espaço Intercultural O Projecto Espaço t, “O Meu País no Teu” – Espaço Intercultural, na área da imigração, dinamiza um espaço expositivo - Galeria de arte visa a promoção e divulgação da cultura imigrante na comunidade local e no país de acolhimento. Promove diferentes culturas e usa a arte como processo de integração. Incrementa as sociabilidades locais e de proximidade na ótica da interculturalidade através da realização de iniciativas de carácter cultural. Promove ações de sensibilização que visam a valorização da diversidade cultural. Promove a tolerância, o respeito mútuo e o enriquecimento individual, através do diálogo intercultural. Implementa ações de formação não formal. Em 2017 com o cofinanciamento do FAMI - Fundo Asilo, Migração e Integração e através das parcerias estabelecidas através do CCI - Conselho Consultivo Para a Interculturalidade, teremos 6 exposições de artistas nacionais de países terceiros (extracomunitários), 6 palestras / workshops que abordarão diferentes culturas, costumes e tradições e os Dias/Festa da Interculturalidade. Galeria de Arte A Galeria do projeto “O Meu País no Teu” pretende ser um espaço de convergência de diferentes formas de Arte, de diferentes origens, culturas e nacionalidades. Este é um laboratório de experimentação artística, tendente à criação de novos conceitos de Arte, nomeadamente da arte como forma de comunicação transversal entre diferentes públicos e de integração de grupos, numa sociedade cada vez mais segregada e segregadora. Uma oportunidade para os imigrantes de países terceiros exporem, mas também para toda a comunidade interessada poder ter contacto e conhecer diferentes tipos de arte e cultura. Workshops Dar Expressão às Artes e Culturas Direcionados para uma audiência de imigrantes de países extracomunitários, e para o público em geral, estes workshops teórico-práticos são realizados por convidados especialistas e abordam temas como a diversidade cultural, direitos culturais, a arte como processo de integração, bem como conversas com os artistas que expõem na Galeria.

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Tem alguém aí? Recente moradora do Porto, Paula Buschinelli foi convidada a compartilhar seu olhar delicado através deste projeto que aborda questões sobre o nosso conceito de "lar" e a visão que cada um tem para si do real significado da palavra "habitar".

Essa iniciativa, que começou como uma terapia pessoal, retrata a fascinação da artista pela quase inalcançável ideia de aconchego que só uma casa plena pode nos proporcionar.

O "Tem alguém aí?" surgiu como uma busca de respostas para essas questões, onde cada casinha pintada de aguarela representa, na visão da criadora, o símbolo máximo de conforto e acolhimento.

E, para interpretar a poesia presente em cada pincelada, amigos e conhecidos foram convidados a criarem histórias lúdicas para cada uma das suas casinhas, tornando este um projeto colaborativo e ao mesmo tempo intimista." “Desde pequena casas me fascinam. Eu andava pelas ruas e olhava aquelas janelinhas com uma luz amarelada vindo de dentro, as sombras da TV piscando no ambiente, como se alguém tivesse dormido enquanto assistia…Cada casa ou cada parte dela significava uma história pra mim, um momento de aconchego e conforto que só um lar poderia oferecer. O mundo está lá fora, acontecendo. As portas abrem e fecham, chaminés estão sempre funcionando, as casas tem vida! Mas qual será a história que a minha casa conta? Será que minhas luzes e sombras contam histórias? Transmitem paz e satisfação como as janelas alheias? Não vejo minha janela pelo lado de fora e, sozinha, jamais saberei porque carrego minha vida mundo afora, todos os dias, pela porta da frente. Para desvendar esse mistério resolvi bater na porta de algumas pessoas e convidá-las a me emprestarem sua imaginação e relatarem essa história, me ajudando a construir um conceito de lar; letra a letra, tijolo por tijolo, até que eu descubra esse tão sonhado retrato do aconchego”. “Busco inspirações por aí.... com água, tinta e amor construo casinhas.... e elas ganham vida com histórias escritas por amigos queridos”. Paula Buschinelli

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Construa uma casa, chame-a de lar e você verá. Um amor que só se manifesta quando estamos dispostos a abraçar esse conceito maluco e pleno de morada. Ele se esconde em cada detalhe e se revela quando a gente menos espera. Abra sua mente, feche os olhos e você verá. A felicidade correndo pelos corredores, a ternura te recebendo de braços abertos e o carinho te convidando a olhar pela fechadura da vida, espiando lembranças que ainda serão. Abdique do material, construa ideias e você verá. Por vontade, ou por acaso, elas virão acompanhadas de um sentimento de pertencer a si mesmo que nos liberta e, ao mesmo tempo, nos permite. Permite perceber que o chão da nossa casa está grudado na sola do pé e vai com a gente mundo afora; que o reflexo das janelas é feito das coisas que aprendemos por aí e que o barulhinho do vento entrando pela fresta da porta, nada mais é do que um sussurro das histórias que iremos contar, pedindo licença para entrar na nossa vida. Construa uma casa, chame-a de lar e você verá. Ilustração By Paula Buschinelli Texto by Lucas

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“No começo, tudo era terra. Húmida, sombria e aconchegante terra. Então, um sopro de ar trouxe o céu e iluminou a vida. Conforme a dança do tempo, um tapete esmeralda se estendeu bem aqui, no meio do nada e por todos os cantos, cobrindo o solo e trazendo consigo a diferença. A grama ao lado sempre foi mais verde, mas precisávamos proteger a nossa. Assim, surgiram as primeiras paredes. Prego a prego, madeiras maciças da cor do céu nos protegeram de qualquer coisa e nos camuflaram no horizonte. Por inveja ou para ensinar uma lição, o céu veio nos castigar com chuva e sol. A reação foi imediata. “Precisamos tomar uma atitude. Retaliação” "E como pretende contra-atacar esse um punhado metido de vento?” "Estamos desamparados.” Sob a chuva forte, no limiar da existência, fez-se um telhado. Nasceu, como um urro. Vigas, telhas e, só para provocar, uma chaminé. "A vida é bela, sim senhora” Mas espere, o que seria isso? “Silêncio. Escutem. Há algo lá fora, mas não consigo enxergar” "Ninguém consegue, temos de conter a curiosidade e continuar…” “Vamos abrir um buraco, só um pedacinho!” De pouco em pouco, cavaram-se duas janelas e eis o vislumbre do homem. “É uma pessoa” “Sim, o problema é dela” “Parece perdido…” “Será que deveríamos deixá-lo entrar?” “Não seja estúpida!” “Por que não? Afinal, o que seria uma casa senão um convite para existir?” E essa porta se abriu para nunca mais fechar.” Texto by Lucas Frischeisen Ilustração by Paula Buschinelli 6


“As cores das primeiras impressões Ela parecia estar fechada há muito tempo e até hoje não sei o que me chamou atenção. Por fora, era até bonita e tinha estilo. Mas contava com uma fachada de pedras cinzas, mal cuidada e até um pouco sombria, que parecia mandar um recado: “por favor, não me escolha”. Abri a porta e logo fui impactado: por dentro, era cheia de cores! A sala era revestida de um azul-claro-cor-de-olhe-para-o-céu-de-manhãzinha - desculpe pela cartela pouco comum, mas é impossível definir de outra forma. Dei alguns passos e logo encontrei a cozinha, que trazia nas paredes um tom laranja-vamos-tomar-muitos-vinhos-aqui. Dei um sorriso genuíno. Subi as escadas e cheguei no quarto, com cor verde-esperança-de-viver-grandes-emoções. Uma janela imensa por onde entrava uma luz que deixava o ambiente ainda mais confortável. Cômodo com o sentimento de paz, sabe como é? Logo ao lado, o outro quarto trazia nuances de roxo-especialpara-criar-um-ser-humano-feliz. O banheiro, o ponto mais sóbrio: bege-cuide-sempre-do-seu-bemestar. Desci entusiasmado e agradeci por ser teimoso e ter coragem de vencer as resistências das primeiras impressões. Ali fiz minha morada. E nunca fui tão feliz.” Texto by Raissa Coppola Ilustração by Paula Buschinelli 7


Casinha nº 12! <3 “Meu pai já contou essa mesma história umas quinze vezes, mas eu sempre dou risada na mesma parte, em que ele diz que foi viajar de avião na lua de mel mas não tinha nem onde cair morto. É engraçado pensar que o cara que te educou 8


também já foi jovem e fez umas loucuras. Às vezes a gente pensa que nossos pais já nasceram com quarenta anos. Mas a verdade é que ele já tinha onde cair morto, sim. Talvez não tivesse muito juízo, mas tinha uma casa, ou pelo menos já tinha dado entrada nela com o salário do banco. Pouco tempo depois ele se demitiu e abriu uma locadora, mas a casa continuou lá, e eu assisti muitos filmes nela. Na frente dessa casa, dei meus primeiros passos com a ajuda de um tal de Gil, amigo da minha tia. Eu não sei quem é ele até hoje, e olha que já faz uns 25 anos que eu ando, mas dizem que ele era magrinho e usava camisas estampadas. Imagino ele tipo o Augustinho da Grande Família, mas negro. Alguém me contou que ele era negro, ou eu que inventei isso. Dentro dela, queimei o dedo na vela do meu primeiro aniversário, comi formiga, falei que nunca queria ter um irmão e corri até o portão pra chorar quando meu pai saiu pra trabalhar muitas vezes. As pessoas adoram-me contar isso morrendo de rir e eu respondo com um sorriso amarelo. Quando eu ainda era criança a gente se mudou, a casa continuou lá e minha avó foi morar nela. Na mesa da cozinha consegui escrever meu nome inteiro pela primeira vez (é quase uma missão quando você se chama Nathalye), com cinco anos cheguei choramingando e deitei na cama da minha avó dizendo que homem não prestava, falei pra rua inteira que eu ia ser desenhista e que, pra isso, bastava eu levar meu caderninho pro cara de bigode dos filmes ver, um tal de Walt Disney. Escolhi meu irmão pra ser meu melhor amigo, comi mais um pouco de formiga e perguntei pra muitos adultos como as sereias faziam pra respirar embaixo d'água. Só um amigo bêbado do meu pai respondeu, mas não fez muito sentido nem pra mim. Eu mudei de cidade, de cabelo, de gosto musical, ganhei um cachorro e menti que já tinha perdido o BV pro pessoal da escola não me achar idiota. Nas férias eu voltava pra visitar minha família e a casa, onde vi muitos filmes de terror, tive mais medo da TV estalando de madrugada do que do próprio Freddy Krueger, passei horas sentada no quintal com o meu avô sem falar uma palavra, e com ele aprendi que não tem problema você ser um pouco na sua. Eu já morei em umas seis casas depois daquela, e até hoje ela continua lá, servindo de lar pra uma parte da minha família e das minhas lembranças. Talvez seja esse o papel das casas: ser um lugar pra você viver muitas histórias e rir sozinho se lembrando delas (antes de cair morto). ” Ilustração By Paula Buschinelli História By Nath Araújo

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Tempo de morangos “- Oi, cheguei! - Esse passeio de bike até que foi longo e produtivo, viu?Consegui passar na vendinha para comprar morangos (estou morrendo de vontade de tomar um suco de morango), comprei também um peixinho na barraca do seu Antônio e ainda consegui dar uma volta naquele parque aqui perto… Como é nome mesmo? Ah, o Parque das Fontes. - Acredita que estava cheio de cachorrinhos lá? - Acho que a vizinhança combinou um encontro dos dogs nessa praça. Tinha de tudo quanto é tipo. -Acho que pode ter sido uma ação também, sei lá… Porque tinha umas pessoas distribuindo uns biscoitinhos para os cachorros, só que eram todos naturebas, hahah, achei legal! -Enfim… Cheguei em casa! Pego o liquidificador começo a separar os morangos para o meu suco. -Vou deixar a porta aberta que tá muito calor, tá? Abro a geladeira e me vem a dúvida: “Faço um suco de morango com leite ou com água”? “Aqui em casa o pessoal gosta mais com água. Então vamos lá.” Pico os morangos e quase desisto do suco para comer todos com um pouco de chantilly. “Huummm!” Mas não, volto a focar no suco… “Não era isso que você estava com vontade? - Pergunto aos meus pensamentos. ”‘Era ué, mas não posso mudar de idéia? De vontades?” “Pode, mas você falou para os outros que ia fazer suco de morango, então não seria gentil com eles se comesse todos os morangos com chantilly (nossa, que delícia) SOZINHA”. -Concluo sozinha. “Ok! Foco no suco. Está calor! Vai ser uma delícia tomar um sucão de morango bem gelado”. Abro o freezer, ainda pensando nos meus morangos com creme de leite, e vejo que acabou o gelo. É um sinal para desistir do suco e fazer esses morangos do meu jeito. “Não! É só fazer o suco, não tomar agora e esperar resfriar na geladeira! Ok, faz sentido.” Bato tudo no liquidificador. “Hum! Está com uma cara ótima!” - penso eu. - Você acredita que comprei as ultimas caixinhas de morango? - Hein? ACREDITA? - Ué, cadê todo mundo dessa casa? Subo até os quartos, a janela de um deles está fechada. “Acho que ele saiu” Vou até o outro quarto e…ninguém também! Desço a escada, desapontada. Não por estar falando sozinha há 15 minutos (que louca), ou porque não tem ninguém para tomar o suco comigo. - Não me importo de tomar o suco sozinha, não. O problema é que eu queria OS MORANGOS COM CHANTILLY… Ps.: Até que o suco não estava ruim.“ 10


Artista Plástica natural do Brasil, com formação académica em Belas Artes. Vive e trabalha no Porto. FORMAÇÂO Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP (Brasil- São Paulo) > Bacharelado em Artes Plásticas. (Jan 2006/Dez 2009) Flinders University Adelaide - (Austrália) > English for business. (Certificado de proficiência) (Março 2011/Fev 2012) > Inovação e Branding - Ideaaz (Workshop) 2014 > Desenho de observação - Curso do Dalton 2008 - 6 meses de duração > Arte Comtemporânea - Instituto Tomie Ohtake 2008 - 6 meses de duração

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Entidade Promotora: Espaço t Designação do Projecto: O Meu País no Teu - PT/2016/FAMI/051 Cofinanciamento: FAMI – Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração Autoridade Delegada: ACM – Alto Comissariado Para as Migrações

O MEU PAÍS NO TEU – ESPAÇO INTERCULTURAL GALERIA Espaço t(eu) Rua do Sol, 14 2º Andar Escola EB1 do Sol 4000-527 Porto Contactos: Telemóvel: 914098777 dci@espacot.pt www.espacot.pt Horário: De Segunda a Sexta das 9.00h às 18.00h Inaugurações e Workshops aos Sábados das 15:00h às 19:00h

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