reinventando o espaço de organização popular / tfg/tcc, 2o movimento / leonardo pequi

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reinventando o espaço de organização popular


A RELAÇÃO POLÍTICA ENTRE SUJEITO E ESPAÇO


reinventando o espaço de organização popular


A RELAÇÃO POLÍTICA ENTRE SUJEITO E ESPAÇO

reinventando o espaço de organização popular


leonardo pequi + prof. ma. letícia peruchi

trabalho final de graduação em arquitetura e urbanismo, 2º mov. universidade anhembi morumbi são paulo, jun/2019


segundo


movimento


aos quais aprendi a aprender, aos que aprendem porquĂŞ aprender


“se a minha não é uma presença neutra na história, devo assumir tão criticamente quanto possível a sua politicidade. se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas para participar de práticas com ela coerentes”. paulo freire, pedagogia da indignação, 2016.


mais gratidão

Chego ao fim desse processo de graduação com apenas três certezas, dessas certezas que abrem mão de qualquer objetividade. A primeira delas é a de que minha solidão, essa essência do ser humano, tem sido suavizada e cada vez menos só, já a segunda é de que, finalmente, aprendi... a aprender e a aprender porquê aprender, quanto a terceira, é a certeza de que tanto essa solidão-não-tão-só e o aprender a aprender, somente foram possíveis devido ao conhecer e reconhecer pessoas fantásticas no decorrer desses cinco anos, são a elas a quem: agradeço. À Cláudia Bastos, sem a qual esse trabalho não existiria, reforço minha gratidão pelas oportunidades de saber o porquê ser arquiteto que tanto me proporcionou, muitas vezes apenas por ver sua postura frente as questões. Estendo esse agradecimento aos que muito me ensinaram, junto com Cláudia, na Secretaria de Habitação, em especial, Maria Cristina Marinho, Adilson Akashi e Shedd Pégaz. À Letícia Peruchi, amiga e orientadora, agradeço por toda a atenção, disposição, reflexão e respeito à minha autonomia, como descobrimos com Paulo Freire essas são virtudes essenciais que constitui um professor.


À Cláudio Manetti, Isabela Sollero, João Mori, Larissa Soares e Thaís Gutto, queridos arquitetos -professores, faltam-me palavras para agradecê-los por nos promover uma escola, na falta delas tomem esse trabalho como uma forma de gratidão. Agradeço também a Ana Cláudia Esquiçato, Élio Batista e Flávia Santana, por sempre conferirem bom humor e conhecimento aos casuais encontros e conversas de corredor. Aos caros do DEPAVE-1, com os quais diariamente aprendo, agradeço. Em especial a Coordenadoria Regional Leste: Fabiana Lodi, Luiz Paulo Sacchetto, Gabriela Fuganholi e Lucas Lavecchia, muito obrigado por toda compreensão, bom humor, ensinamentos e pelo espírito de equipe. À querida Bárbara Yadoya, pelo carinho, preocupação e contribuição crítica no desenvolvimento dessa investigação. À Ingridy Souza e Jackson Silva, agradeço por todo interesse e proximidade no processo desse trabalho que certamente o fortaleceu. Me alegro em pensar que Diadema seguirá como pauta de discussão nos trabalhos desenvolvidos por vocês. Aos queridos amigos, que suavizam qualquer solidão, reitero minha gratidão. Agradeço à Guilherme Pacheco, parce que c’était lui; parce que c’était moi, à Anderson Silva, pela coexistência que dá alegria a existência, à Aline Dias, pela força de nossos laços, à Julia O’Donnell, pelas alucinações e delírios, à Bruno Gobi, pelo ritmo, harmonia e melodia que traz aos dias, à Samara Ferreira, pela sensibilidade em que nos reconhecemos, à Amanda Pires, pela continuidade, à Isabel Barboza, pela experiência que inspira, à Igor Casal, por trazer sentido aos vazios, à Willian Siqueira, pelas aproximações e à Leonam Gusmão, por tudo. À Roberto Borges Júnior e Valdomira Pequi (tia Vanda), por todo apoio, incentivo e amparo, sobretudo por consistirmos em uma família. E aos meus pais, Gislene e Bartolomeu Pequi: no fim, é tudo sobre vocês.


| apresentação, 14 prólogo, 16 tempos de organização, 16 5 _ práxis, 19 ato de reflexão e reflexão do ato, 20 6 _ território, síntese e relações, 25 metade ocupação, 30 metade projeto, 40 à parte, 49 longe e perto, 60 acesso, 63 vivem, 69 diversas pesssoas, 77 alargamento, 80 encolhimento, 87 defesa, 97 7 _ invenção da ação, 101 da co-laboração à síntese cultural, 102 da conscientização à tomada de decisões, 107 da educação à libertação, 116 sistema, 120 ao poder local, 124 posição, 125


8 _ reinvenção do espaço, 129 suporte, 133 centro comunitário vinícius de morais, 136 o espaço da união, da comunicação e da ação cultural, 145 centro comunitário gazuza, 156 o espaço da organização, do diálogo e da educação, 165 creche e escola municipal, 176 o espaço da organização, da reunião, e da libertação, 183 horta comunitária gazuza, 190 o espaço da co-laboração, conscientização e mutirão, 195 centro comunitário jardim alba, 202 o espaço da síntese cultural, tomada de decisões e autogestão, 213 uma outra realidade possível, 223 espaço-ação, 223 9 _ enfrentamento, 227 questões de ordem, 228 epílogo, 238 tempos de reinvenção, 238 | referências bibliográficas, 240


_ apresentação Movimento é a alteração em qualquer instância, é o ato de mudar, é o ato de passar de uma coisa à outra. Essa, dentre muitas, é uma das descobertas do texto que antecede o que se inicia nas páginas seguintes, e que denomina nossa ação. Naquele, intitulado “A relação política entre sujeito e espaço: uma investigação sobre a participação popular e os centros comunitários dos núcleos habitacionais de Diadema”, nos foi revelado que o movimento consistia na fronteira entre a conscientização e a inclinação a se fazer alguma coisa, condição da qual nos encontramos. Após estudos quanto aos processos históricos que constituíram o território diademense, especialmente quanto à organização popular em suas favelas, deparamos com um quadro aonde muitas foram as conquistas coletivas, mas grande parte delas à custo do poder, da cooptação, dos interesses partidários, do direito, e da não-emancipação dos indivíduos, impressos e possíveis pelas dinâmicas e elementos do espaço. Nesse movimento, sensíveis as descobertas, nos dedicamos ao quefazer, sobretudo, ao como, para quem, o que-fundamenta e onde fazer. Nosso quefazer predispõe-se a contribuir para a reinvenção do espaço da organização popular, frente a três assentamentos vizinhos – um loteamento, um núcleo e um bairro/conjunto – que chamaremos de


“território-síntese” por juntos reunirem processos, condições e significações próprias a produção política da cidade de Diadema. Para tanto, usaremos da teoria, essencialmente a freireana, como invenção de um sistema de ações; e também de alguns elementos espaciais – três centros comunitários, horta comunitária, creche e escola municipal – como reinvenção de um sistema de objetos, à luz das defesas de Milton Santos.

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Entretanto, isso não significa que esse movimento não diz respeito sobre a arquitetura e urbanismo, muito pelo contrário, cada palavra e cada desenho são quanto ao conhecimento acerca dela. Contudo, há sim uma sucessão de enfrentamentos em sua relação, que encarados e defendidos, nos possibilitam ter algo a dizer.

APRESENTAÇÃO

À medida em que esse movimento se dá, o desenho vem à tona como retrato dessa realidade e ilustração de “uma outra realidade possível”, se estiverem procurando por um projeto arquitetônico ou urbano, aqui não o encontrarão. Esses desenhos vão dizer sobre uma realidade aonde os sujeitos desse território são os protagonistas, percorrendo espaços que lhe são próprios e praticando ações que os fazem conscientizar-se, potencializar-se, e fundamentalmente, que lhes emancipam.


prólogo

_ tempos de organização* Ao fim do semestre anterior, com o entusiasmo mais brando e atormentado pela certeza de que deveria fazer alguma coisa frente as descobertas, o que até me levou, ingenuamente, a defender o projeto como contribuição, voltei-me inúmeras vezes a relê-las. A cada leitura se aumentava o drama visto naquele quadro, na mesma medida que os questionamentos. Como foi possível o declínio de tanta participação popular? Como pode ser tão avançada a cooptação e a supressão dos direitos? Por que os sujeitos não se emanciparam? Por que, com tantas precariedades que ainda persistem, os indivíduos não se movimentam, não se manifestam? Por que não ocupam os espaços comunitários, não retornam ali a se organizar? Qual os interesses da administração pública incentivando a inatividade? Qual minha contribuição na transformação das conjunturas? E uma sucessão de outros por quês e por quês... O cenário político nacional ampliava essa dramatização, parecia indicar que esse temeroso quadro tornaria cada vez mais comum, cada vez mais real, arriscadamente, cada vez mais compreensível... Isso fazia com que eu, que me assumi como sujeito nas últimas pa-

* Assim como no primeiro movimento, essa será uma das duas vezes que esse texto será escrito em primeira pessoa, a próxima será no epílogo, isso devido ao caráter pessoal que inicia e finaliza essa retomada. A parte disso, o trabalho, apesar de apenas um autor, é uma construção coletiva, por isso será desenvolvido e descrito na primeira pessoa do plural.

** FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 2018, p. 73.

*** Sempre Belchior!


lavras do texto para o primeiro movimento, voltasse a ser indivíduo e me reconhecesse na mesma inação. Contudo, a angústia do quefazer não cessava, apesar do desamino era preciso continuar, é isso que o compromisso faz com os que se entregam a ele. Fui buscar a mais adequada bibliografia para apoio ao novo semestre e conforto as aflições, e me encontrei com (e em) Paulo Freire, lendo Pedagogia da Autonomia ele me disse “a realidade, porém, não é inexoravelmente esta. Está sendo esta como poderia ser outra, e é para que seja outra que precisamos, os progressistas, lutar. Eu me sentiria mais do que triste, desolado e sem achar sentido para minha presença no mundo, se fortes e indestrutíveis razões me convencessem de que a existência humana se dá no domínio da determinação. Domínio em que dificilmente se poderia falar de opções, de decisão, de liberdade, de ética”**. A lição estava aí aprendida, quer dizer, apreendida. Dei-me conta de que independente do que visse a fazer, deveria ser para apontar à “uma outra realidade possível”, essa tornara-se a minha tentativa. Para tanto, percebi que era preciso se organizar e meu desejo era de que esse trabalho fosse desenvolvido com a participação popular e de forma colaborativa necessária, mas muitas são as limitações e complicações acerca disso, sobretudo a um trabalho final de graduação em arquitetura e urbanismo. Outra vez, apreendi. Compreendi que em tempos de organização, usamos do que temos nas mãos, na cabeça, no coração e vamos em frente, enfrente. Aqui reúno, principalmente os pertences quanto aos últimos cinco anos: as angústias; o que sei, o que não sei, o que me ensinaram, o que me negaram, o que me disponho e quero saber; a politicidade da minha existência; minhas utopias e minha realidade; a alteridade e empatia; o desenho; o tempo que tenho; e o amar e mudar as coisas que me interessam mais***. São tempos de organização. 16 | 17


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prรกxis


ato de reflexão e reflexão do ato Práxis. Esta é o prenúncio desse movimento e a dimensão das páginas seguintes. É enquanto práxis, isto é, ação sobre reflexão1, que retomamos nossa contribuição. O primeiro movimento2 ao investigar a relação entre sujeito e espaço, a descobriu política. Aquele movimento fora, sem dúvida, uma reflexão, no entanto, reflexão como ação, dado que o processo de refletir, além de tornar-nos sujeitos, reuniu questões, representações e compreensões suficientes para nos mover ao ato, ao ato de reflexão. Descobrimos que a arquitetura é política. Descobrimos que a ação é transformadora tanto quanto o espaço é transformável. Descobrimos a condição de primazia do espaço justaposta a supremacia da ação, sobretudo, que eles, ação e espaço, são indissociáveis; se a ação é política, o espaço é político, e assim o inverso. Descobrimos que a organização e participação popular é a mais autêntica realização que dá sentido aos sujeitos, pois ela possibilita ao passo que necessita de que se pratique a ação política para poder existir. Descobrimos que essa dita participação, que parcelou, loteou e edificou a cidade de Diadema, promoveu diversos e reconhecidos ganhos coletivos, porém, grande parte deles à custo do poder, da coopta-

Paulo Freire dimensiona a práxis como a equação: práxis = ação reflexão. (FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 2018, p. 107) 1

Ver o texto para o primeiro movimento “A relação política entre sujeito e espaço: uma investigação sobre a participação popular e os centros comunitários dos núcleos habitacionais de Diadema”. 2


Descobrimos, portanto, que deveríamos fazer alguma coisa em contraposição a esse cenário, por isso que denominamos nosso ato como movimento4. Devemos fazer, acima de tudo, porque somos sujeitos e sendo os sujeitos “seres do quefazer é exatamente porque seu fazer é ação e reflexão. É práxis. É transformação do mundo”5. Devemos fazer porque somos arquitetos, arquitetos-sujeitos, e por isso temos um compromisso com a esfera pública, com a construção política de nossos contextos, com o povo e, especialmente, com a organização do espaço. Contudo, é preciso saber onde, para quem, o que e como fazer, sobretudo, o que fundamenta o nosso fazer, isto é, “na razão mesma em que o quefazer é práxis, todo fazer do quefazer tem de ter uma teoria que necessariamente o ilumine. O quefazer é teoria e

PRÁXIS

alemã, em A Condição Humana diz que “a ação [é a] única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde a condição humana da pluralidade, ao fato de que os homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política: mas esta pluralidade é especificamente a condição – não apenas a conditio sine qua non [sem a qual não pode ser], mas a conditio per quam [condição pela qual] – de toda vida política”. (ARENDT, H. A condição humana, 2001, p. 15-16) 4 No texto para o primeiro movimento, apontamos que o “movimento é a alteração em qualquer instância, porque o ato mesmo de mudar, é o ato de passar de uma coisa à outra” (p. 94). Passamos do ato de descobrir ao ato de descobrir que devemos, para que por fim ao ato de descobrir que podemos. Assim, movimento. 5 FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 2018, p. 168.

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3 Hannah Arendt, filósofa política

ção, de interesses e de direitos, não emancipando e formando os sujeitos populares. Descobrimos que à medida em que a organização popular se desfazia, os espaços que a sustentavam se esvaziavam, se inutilizavam e se desqualificavam. Desta forma, sem ações que incitam à organização, à política e, assim, à vida comum, e sem espaços que as acolhem, as articulam e as promovem, descobrimos um impetuoso quadro de combate à cidadania e à condição humana³.


prática”6. Diante a isso, esse movimento se dedica a reflexão do ato à medida em que o ato – enquanto compreensão, invenção e organização – se dá e enfrenta nossas descobertas, questões e oposições. Já a teoria que exploramos7, além de nos fundamentar e orientar, se dispõe como uma narrativa coletiva e colaborativa de nossas ações, de nosso discurso e, essencialmente, como substrato de nosso desenho.

6

Ibidem.

Não se trata bem de teorias, mas sim de referenciais teóricos diversos, que incorporam as ações, os desenhos e o texto das páginas seguintes. Tampouco é teoria o nosso texto, ele é uma tentativa de narrativa, um discurso. 7


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PRÁXIS


6


território, síntese e relações






< 01 relação dos limites territoriais e relevâncias

legenda:

bairro/conjunto jarim alba

núcleo gazuza

loteamento vinícius de morais

córrego canalizado

nascente canalizada

trecho de risco geológico

potenciais contaminatórios


Localizados na parcela leste do município, no bairro Casa Grande, as três unidades territoriais expressam diferentes processos históricos e materiais de produção do espaço, portanto, distintos padrões de ocupação. No entanto, é comum ao entendimento local de que os três limites compõem o chamado “Bairro Gazuza”, “Jardim Gazuza” ou apenas “Gazuza”. Não que essa compreensão demonstre uma isonomia e partilha das relações entre os assentamentos, mas sim a popularidade e repercussão da constituição do espaço que sustenta hoje o núcleo habitacional. Gazuza, ajustamento para o nome “Garzouzi”, mítico proprietário fundiário da gleba ocupada em 19894, mais precisamente numa sexta-feira em 4 de agosto, teve o

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

É também comum ao saber popular local, de que a nomeação do núcleo fazia menção ao cantor brasileiro Cazuza (1958-1990), que nesse mesmo ano este lançara o álbum O Tempo Não Para com muitos de seus maiores sucessos. Também nesse ano, Cazuza declarava-se ser soropositivo e teve o avanço de sua doença, evento de comoção nacional, que fez com que associasse o nome do núcleo ao artista. Para muitos, o núcleo, originalmente, era titulado como “Favela do Cazuza”. 4

metade ocupação

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Definição franca e pragmática estabelecida por Marcelo Lopes de Souza, que adotaremos devido à abrangência própria as “relações de poder”. O autor defende que “todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países membros da OTAN” (SOUZA, M. O território: sobre espaço e poder. Autonomia e desenvolvimento. In CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. 2001, p. 11) 2 Arrisquemos a inventar essa unidade territorial “bairro/conjunto” por se tratar de um grande conjunto habitacional que sob a compreensão popular é percebida como um bairro. Oficialmente, os assentamentos pertencem ao bairro Casa Grande, de 2,738 km2, com 38.261 pessoas, de acordo com os dados municipais. 3 No subcapítulo Escolha, do texto para o primeiro movimento, A relação política entre sujeito e espaço: uma investigação sobre a participação popular e os centros comunitários dos núcleos habitacionais de Diadema, foi brevemente apresentado o território-síntese como escolha para continuação da investigação, no âmbito propositivo. Nesse capítulo, nos aproximaremos de algumas relações que nele se efetuam. 1

O território, isto é, espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder1, que reúne processos, condições e significações próprias, à medida que gerais, a produção política da cidade de Diadema, defendido como síntese, e por isso a nomeação “território-síntese”, corresponde ao agrupamento dos assentamentos: Loteamento de Interesse Social Vinícius de Morais, Núcleo Habitacional Gazuza e o Bairro/conjunto2 Jardim Alba, como anunciado no capítulo 4 do texto para o primeiro movimento3.


início do seu processo de ocupação a partir do assentamento de 300 famílias pertencentes a um dos movimentos de moradia operante no município5. Apoiados por militantes e vereadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo próprio vice-prefeito empossado, a ocupação se deu de forma organizada levando com que o núcleo possuísse traçado regular e divisão em lotes com dimensões de 5 x 10 metros6. Ocorre que, esses sujeitos em exercício nos cargos do executivo e legislativo municipal, detinham informações de que a área, de cerca de 150 mil metros quadrados, tinha sido expropriada pela prefeitura para suposta implantação de 1000 unidades habitacionais de interesse social em conjuntos de edifícios7, ainda assim, e provavelmente por isso, promoveram a ocupação.

COELHO, C. Melhorias habitacionais em favelas urbanizadas: impasses e perspectivas. 2017, p. 107. 5

Ibidem, p. 129. No entanto, lideranças comunitárias apontam que a as dimensões iniciais dos lotes eram de 4x10m. 6

IDEM. Diadema e a cidade informal. 2011, p. 31. 7

A área disputada é avizinhada por grandes empreendimentos industriais e pela Rodovia dos Imigrantes (SP-160) na altura do quilômetro 18, o que a figura como uma área de interesses. Diante a esse quadro, em 31 de agosto daquele ano, a prefeitura entrou com uma ação de reintegração de posse por meio de uma operação policial e enfrentou a resistência dos ocupantes8. A partir do uso da força, os barracos foram derrubados e homens e mulheres foram violentados. Os

8

Ibid.


Desse modo, o Gazuza teve seu processo de urbanização pobre e fragmentado ao longo dos anos11, provocando numerosos problemas quanto a precariedade das moradias, ao adensamento, à acessibilidade, a drenagem no trecho de fundo de vale – devido ao córrego e nascen-

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

DIÁRIO POPULAR. Prefeitura faz acordo com invasores do Gazuza. Página 2. 2 de setembro de 1989. Disponível no acervo da Divisão de Relações Públicas/ Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Município de Diadema. 11 COELHO, C. op. cit. p. 191. 10

O evento teve ampla repercussão na mídia local e regional, as famílias reocuparam precariamente a área e a crise partidária se acentuou. Assim, a municipalidade viu-se obrigada a negociar com os ocupantes. No processo de mediação, os sujeitos rejeitaram a proposta das 1000 casas e defenderam a continuidade do processo de organização iniciado por eles, o que demonstra o ato de negação do projeto próprio aos territórios autoproduzidos. Num acordo, estabeleceu-se a divisão dessa área, 50% dela seria destinado aos ocupantes e os outros 50% à prefeitura. A proposta também garantia a devolução dos materiais de construção (tábuas e telhas) apreendidos na reintegração de posse e também a “urbanização”, quer dizer, implantação de infraestrutura, na área destinada às famílias10.

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DIADEMA JORNAL. Invasão do “Buraco do Gazuza” abriu crise política no PT. Página 1. 24 de dezembro de 1989. Disponível no acervo da Divisão de Relações Públicas/Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Município de Diadema. 9

vereadores e o vice-prefeito envolvidos nesse processo tentaram impedir a execução, mas vieram a ser presos temporariamente e expulsos do PT, sendo acusados de radicalismo, o que iniciou uma crise no, então jovem, partido9.



< núcleo habitacional gazuza, padrão de ocupação /imagem: shdu/pmd, 2017.


> nĂşcleo habitacional gazuza, retrato

/imagem: anderson peron, 2018.



> nĂşcleo habitacional gazuza, retrato

/imagem: autor, 2018.



te canalizados no interior do núcleo; bem como a escassez de áreas livres e verdes e de equipamentos de utilidade pública. Contudo, é importante ressaltar que o mais concreto direito conquistado, em que certa medida legitima os processos históricos, foi alcançado em 1992, quando já havia ali cerca de 800 famílias. Neste ano, o assentamento obteve o título coletivo de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU)12, testemunhando o alcance da negação do projeto e a consolidação da resistência13. metade projeto Os outros 50% da área14, de posse da prefeitura, veio a ser destinado ao que chamaremos de metade-projeto. Após reverberação dos processos violentos de reintegração de posse, a municipalidade apoiou a criação da Associação de Construção Comunitária de Diadema (ACCD), arquitetada pela União dos Movimentos de Moradia, que tinha como finalidade as compras coletivas de materiais para a autoconstrução. Ainda em 1989, pessoas desempregadas ou de baixíssima renda marcharam até o centro-oeste do país, na intitulada Caravana à Brasília, organizada por esse movimento, com o objetivo de forçar a negociação de políticas públicas de atendimento às neces-

12

Ibid., p. 104.

Em menção ao conceito estabelecido por Isabel Barboza em seu trabalho final de graduação Consolidação da Resistência: Produção autogestionária da habitação, para as conquistas das lutas populares por moradia. 14 Na verdade a divisão não foi tão categórica assim. Não se sabe os limites entendidos no período do acordo, mas dada a ocupação atual a equivalência representa a 65% para a negação do projeto, ou seja, Gazuza, e os 35% para a “metade projeto” com a construção do conjunto habitacional. 13


DIADEMA JORNAL. A Prefeitura de Diadema esclarece a população. Página 1.4 de setembro de 1989. Disponível no acervo da Divisão de Relações Públicas/Assessoria de Imprensa da Prefeitura do Município de Diadema. 16

Há jornais que apontam que cabia aos moradores arcar com os custos do terreno. Porém, maior parcela das fontes de informação aponta que a prefeitura cedeu o terreno para construção do conjunto. 17

Fundada em junho de 1990 por profissionais de diversos campos de atuação como uma assessoria técnica a movimentos populares, a Usina CTAH atua no sentido de articular processos que envolvam a capacidade de planejar, projetar e construir pelos próprios trabalhadores, mobilizando fundos públicos em um contexto de luta pelas Reforma Urbana e Agrária. 18

Esse dinheiro, gerido pela ACCD e que os moradores pagariam no decorrer de 25 anos, servira apenas para a compra dos materiais de construção, assim, os sujeitos contribuíram com a mão-de-obra, em sistema mutirão, e coube a prefeitura a disponibilização do terreno17 e a implantação da infraestrutura. Dessa maneira, a autogestão tornava-se a prática, ao passo que a produção, daquele espaço. É nesse cenário que os mutirantes contratam a assessoria técnica da Usina18, que reformula o projeto proposto pela prefeitura, aproximando-o das necessidades dos populares e adequando-o a construção em mutirão. Naquele momento, toda a movimentação de terra necessária para o arruamento já tinha sido realizada, assim como as fundações de dois edifícios, o que impossibilitava qualquer alteração substancial de desenho, tanto

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

J. Lutas por moradia na cidade de Diadema (19831996): cooptação política e acomodação de conflitos do capital. 2009, p. 57-58.

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15 SANTOS,

sidades de habitação frente aos governantes15. Nessa ação, tiveram como desdobramento o inédito financiamento da Caixa Econômica Federal viabilizando recursos para a construção das primeiras 50 moradias. Essa foi a primeira vez que um banco federal financiaria um empreendimento em Diadema onde o repasse era intermediado diretamente com associações e os movimentos, ao invés da municipalidade ou empreiteiras16.


> bairro/conjunto jardim alba padrão de ocupação /imagem: shdu/pmd, 2017.




< casinhas do gazuza, retrato bairro/conjunto jardim alba

/imagem: anderson peron, 2018.


> “predinhos do gazuza� retrato, bairro/conjunto jardim alba

/imagem: anderson peron, 2018.



no urbanismo como na arquitetura19. A assessoria junto aos mutirantes substituíram os blocos de concretos previstos por blocos cerâmicos portantes, organizaram as atividades de canteiro e gestão da obra e partilharam todos os contratempos que surgiam dela. Nesse sistema, implantaram um conjunto de seis edifícios de 4 pavimentos, com 16 apartamentos cada, e 184 casas sobrepostas, ambas unidades com área de 51,0 m², além de desenvolverem um estudo preliminar para a construção de um Centro Comunitário que não foi executado20. Primeira experiência de edifícios verticais erigidos em sistema de mutirão no Brasil, o conjunto levou o nome de: Gazuza. Atualmente, o bairro/conjunto em condição fundiária insolvente é, de desconhecida origem, nomeado como Jardim Alba, entretanto, é comum a compreensão local o título de “Casinhas do Gazuza” ou “Predinhos do Gazuza”. As relações entre a metade-projeto e a negação-do-projeto são social e espacialmente frágeis, apesar de vizinhas. O Jardim Alba, teve transformações resumidas as casas sobrepostas – ampliações e descaraterizações das fachadas são comuns a quase todas as unidades –, mas mantém suas dinâmicas urbanas inertes e monofuncionais. Já o Gazuza, como veremos a frente,

CONSTANTE, P. VILAÇA, I. Usina: entre o projeto e o canteiro. 2016, p. 216. 19

20 Ibid.,

p. 215.


tem aflorados seus conflitos, usos e questões. Os dois assentamentos, em vias gerais, não mantêm vínculos e correlações. Será culpa do projeto, nesse caso a metade-de-um-projeto, que fez-se um instrumento de cerceio?

No ano de 1996, por conta de negociações não muito claras25, a prefeitura expropria uma área de 26.975,87 m² desses lotes postos a venda26. Ali, é implantando o loteamento de interesse social denominado Vinícius de Morais, com 10 ruas, 7 quadras e cerca de 190 lotes com dimensões médias de 4 x 12

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O Grupo Mazzaferro, empresa nacional fundada em 1953 por imigrantes italianos, está inscrita na categorias de industrialização de polímeros e fibras sintéticas. O Grupo se define como uma empresa que “busca agregar valor e competitividade através de inovação, tecnologia e design revolucionário”. 22 Segundo a matrícula imobiliária nº 13.113, a Mazzaferro se torna proprietária de terreno com área de 189.877,16 m2. 23 Hoje essa rua se tornou prolongamento da Avenida Fundibem e está oficializada pela municipalidade. 24 Relato das etapas da ação promovida pela prefeitura com os proprietários da empresa Mazzaferro e condôminos que culminaram na assinatura do Termo de Intenções em junho de 2008. Processo Administrativo Interno da Prefeitura Municipal de Diadema, nº. 3924 de 2007. 25 Nos processos administrativos internos da Prefeitura Municipal de Diadema e no relatório de avaliação preliminar que tivemos acesso, não se é clarificado os motivos da expropriação. Há uma inclinação a defender que a ação se dá por conta de dívidas contraídas quanto ao Imposto Territorial Urbano (IPTU), uma vez que essas práticas se repetiram em negociações entre o Grupo e a municipalidade; mas não há como se afirmar. 26 Relatório de Avaliação Preliminar para o Loteamento Habitacional de Interesse Social Vinícius de Morais elaborado pela CMA Engenharia Ambiental – Gerenciamento de áreas contaminadas, em novembro de 2015. 21

Outra forma de produção do espaço se dava à parte, mas ao lado, desses processos. Em 1980 o Grupo Mazzaferro, indústria e comércio de produtos para pesca21, se tornara proprietárias de extensa gleba no bairro Casa Grande22. Seis anos depois, em 1986, a empresa parcela e comercializa frações do terreno, para tanto, implanta irregularmente uma rua que fornece condições físicas para realizar a venda dos lotes23. Não obstante, esse loteamento à revelia, não promovera doação de áreas para uso público ao município24, sendo assim, essa condição o insere na temida categoria de “território informal”. Na atualidade, a corporação media o licenciamento ambiental e jurídico junto aos órgãos competentes.

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

à parte



< loteamento de interesse social vinícius de morais, padrão de ocupação /imagem: shdu/pmd, 2017.



< território-síntese padrões e configuração

/imagem: shdu/pmd, 2017.


> vinĂ­cius de morais, retrato

/imagem: shdu/pmd, 2010.




< ocupação em área de risco, vinícius de morais

/imagem: shdu/pmd, 2015.



v ocupação em área de risco, vinícius de morais

/imagem: shdu/pmd, 2015.


metros. Também não se é claro a qual demanda o novo loteamento correspondia e quais os meios de aquisição dos lotes. A área verde de domínio público destinada por esse parcelamento é classificada como trecho de risco geológico nos graus R2 (médio), R3 (alto) e R4 (muito alto)27, o que não impediu, no ano 2000, a ocupação de mais de 115 famílias nela. Denominado como “Bom Sucesso”, esse novo assentamento expressou-se um dos mais precários do município. Pressionada pelo Ministério Público, a prefeitura removeu parte da ocupação entre 2014 e 2015, onde o risco era eminente, e destinou as famílias ao auxílio-moradia28 até que fossem sucedidas a provisão habitacional de interesse social29. Alguns ocupantes resistiram, e avalizado e relativizado o grau de risco, permaneceram na área. Atualmente, o assentamento se insere e é reconhecido com parte do loteamento Vinícius de Morais. Avaliações recentes, apontam que todo o loteamento está em área de risco considerada “potencialmente contaminada” em função de todas as atividades industriais já desenvolvidas nos lotes ocupados e comercializados pelo precursor da produção desse espaço, o Grupo Mazzaferro30.

De acordo com o Instituto de Pesquisas Técnológicas (IPT) os critérios para determinação do grau de risco a escorregamentos se dão em relação aos condicionantes geológico‑geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos; bem como a presença de algumas evidências de instabilidade (encostas e margens de drenagens), possibilitando a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas. 28 O auxílio-moradia, popularmente conhecido como “bolsa-aluguel”, é uma modalidade de subsídio destinado a apoiar as despesas com moradia em caráter provisório, de famílias cuja residências foram afetadas por chuvas ou intervenções urbanas e/ou ambientais. 29 O reassentamento de parte dessas famílias ocorreu nos conjuntos habitacionais Mazzaferro I e II, entregues em 2014, a 450 metros da área de reintegração de posse, e no Portinari, também entregue em 2014, a 400 metros. Ambos empreendimentos subsidiados pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Contudo, muitas famílias foram removidas ao longo dos anos nas áreas mais críticas do talude e ainda se encontravam sob o auxílio-moradia, isto é, grande parte da demanda assentadas nos conjuntos estavam em situação de aluguel e não ocupavam no Bom Sucesso. 30 Segundo o relatório elaborado pela CMA Engenharia Ambiental, a pedido da Prefeitura de Diadema, a área onde localiza-se o loteamento não está contaminada, mas há risco potencial de contaminação. A avaliação aponta que três são as empresas causais, a Mazzaferro Indústria e Comércio de Produtos para Pesca Ltda. pelas atividades industriais de produtos de materiais plásticos; a Isomaster Indústria Metalúrgica Ltda pelas atividades industriais de metalúrgica e a antiga NAZCA Cosméticos Indústria e Comércio Ltda pelas atividades industriais de fabricação de produtos de perfumaria. Todas situadas em lotes parcelados e vendidos pelo Grupo Mazzaferro. 27


longe e perto Distante a 4,0 km da sede das tomadas de decisões municipais, isto é, da Prefeitura de Diadema, o território-síntese tem díspares relações de distâncias e proximidades.

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As estações metroviárias Jabaquara, distante a 10,7 km, e Sacomã, a 15,0 km, situadas no município de São Paulo, são as transferências mais demandadas pelos moradores do território-síntese para acesso a diferentes atividades, sobretudo as respeitantes ao trabalho. É possível o acesso à linha azul a partir dos trólebus que partem dos terminais de ônibus Diadema ou Piraporinha em direção ao Terminal Jabaquara, já o acesso a linha verde é permitido pelos ônibus intermunicipais de origem do terminal de ônibus Piraporinha em direção ao Terminal Sacomã. Isso se referindo ao transporte coletivo, de outro modo, cabe a Rodovia dos Imigrantes possibilitar o acesso por transporte individual.

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

Para acesso aos terminais de ônibus metropolitano Piraporinha ou Diadema é necessário percorrer 2,6 e 4,9 km, respectivamente. Esses terminais além de estarem localizados nas duas principais centralidades do município, são pontos nodais que possibilitam acessar outros modais de transporte.



Os centros das cidades de São Bernardo do Campo, Santo André e São Paulo, municípios que provocam os maiores deslocamentos dos moradores do território-síntese, estão, respectivamente, a 6,3, 12,0 e 21,2 km de distância. No entanto, há apenas uma linha – e sete pontos – de ônibus que adentra e interliga o território-síntese à essa disputa quantitativa de longe-e-perto. O micro-ônibus sustentando o letreiro “14P Terminal Piraporinha/Jardim Gazuza”, fruto de uma reivindicação popular, circula por apenas três ruas e é o único meio de transporte municipal do qual os moradores têm “acesso”.

Os três assentamentos que compõe esse território têm diferentes condições topográficas, além de sofrerem diferentes intervenções, que implicam na configuração e desenho dos seus meios de acesso e circulação. < infográfico: longe-e-perto

O loteamento Vinícius de Morais, em contraposição a área que lhe

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São limitadas as possibilidades de entrada e saída ao território-síntese, as principais, ou ao menos as mais viáveis, se dão a partir da avenida Fundibem, ao sul, das ruas Pau do Café e Tomé de Souza, ao norte, e da rua Mem de Sá, ao leste dos limites.

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

acesso






< 02 relação dos acessos e circulações

legenda:

acessos

linha de ônibus

pontos de ônibus

escadarias


Já o núcleo habitacional Gazuza ocupa um terreno com topografia acidentada em até 40 metros de desnível, tendo uma nascente e um córrego canalizado no cerne do assentamento33, o que conforma geograficamente um vale. Por essa razão, que desde o seu processo de ocupação o núcleo é conhecido como “Buraco do Gazuza”, possuindo diferentes características de circulação, onde predominam as escadarias de incontáveis e irregulares degraus, além de becos, passagens, travessas e vielas. Há apenas duas ruas que estruturam e sistematizam toda a circulação do assentamento: Rua da Ocupação e Rua do Projeto, que insinuam expressar e ironizar as relações do processo histórico e de produção desse espaço. vivem

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a população residente por setores censitários. Passados cerca de nove anos do último Censo realizado em 34

Residem no território-síntese cerca de 6,6 mil pessoas34, 1,1 mil delas no loteamento Vinícius de Morais, o que equivale a 16,67%

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

As ruas do Conjunto/bairro Jardim Alba têm caixa viária com média de 6,0 metros, sendo 1,0 m destinado ao passeio e 4,0 m para o leito. Também é comum o avanço das moradias sobre a calçada. As passagens de pedestres transversais as quadras têm largura média de 3,0 m, e muitas são sobrepostas com a ampliação das construções. 33 De acordo com Coelho, “na grota existente no interior do núcleo existe um curso d’água totalmente tamponado por canalização executada há aproximadamente 20 anos. Há ainda, neste trecho, uma nascente, onde os moradores construíram uma bica, cujo entorno encontra-se totalmente ocupado. Apesar da área ser servida por redes de abastecimento de água, a bica ainda é utilizada como fonte de água potável” (COELHO, C. op. cit. 2017, p. 107-108). 32

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As ruas do Loteamento de Interesse Social Vinícius de Morais têm caixa viária com média de 7,5 metros, isto é, 1,25 m para o passeio e 5,0 m para o leito. É grande o número de moradias que avançam sobre as calçadas. 31

foi destinada como “verde”, tem as menores acentuações geográficas, e por ser fruto de um parcelamento do solo, conta com ruas de dimensões regulares como meio de circulação31. De modo semelhante decorre o bairro/conjunto Jardim Alba, que apesar de ter maiores acentuações, teve a partir do projeto o privilégio de ruas regulares, bem como passagens de pedestres perpendiculares as quadras32.



É grande a presença de unidades construídas com 4 e até 5 pavimentos, abrigando 4 ou mais famílias. Sendo comum a construção dessas unidades familiares para fins de locação, como geração de renda. Contudo, o crescimento familiar é a causa mais recorrente para ampliações e verticalizações das casas. 36

< infográfico: habitantes e veticalização

Por este motivo, o núcleo é, entre os três, o assentamento de maior densidade, apesar de ter a maior extensão. O Gazuza suste uma densidade média de 552,31 hab/ha, mas possui setores com 724,38 e 746,62 hab/ha, uma média de 13,39 m² por habitante, expressando-se um dos índices mais altos do município35. Isso incide diametralmente em seu padrão de ocupação, quase todas as casas do núcleo são unidades multifamiliares e, em função disso, verticalizadas36. Já o Jardim Alba sustém 248,8 hab/ ha, isto é, um habitante para cada 40,19 m². Com exceção ao trecho autoconstruído, o bairro/conjunto proporciona uma área semelhante à das unidades habitacionais para cada morador, também reflexo do seu padrão de projeto, que ordenou as unidades e estabeleceu-se as circulações e áreas livres. Por seu lado, o loteamento Vinícius de Morais abriga 429,45 hab/ ha, ou seja, 23,28 m² por habitante, também demonstrando alto índice de densidade. Apesar do assentamento ter sido parcelado e contar com lotes de dimensões maiores, em comparação aos do Gazuza, as unidades multifamilia-

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

Também dados do IBGE, respeitantes ao último censo, porém sem o acréscimo estatístico. 35

do todo, 1,2 mil no bairro/conjunto Jardim Alba, correspondendo a 18,18%, e 4,3 mil no núcleo Gazuza, contando com a maior parcela populacional, 65,15%.

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2010, optamos por aplicar aos valores obtidos o acréscimo da estimativa de crescimento populacional do município de Diadema, dado pela próprio Instituto, referente a população estimada para o ano de 2018. Assim, todos os números estão acrescidos a 9,2512% das estatísticas. É necessário reforçar que não é possível afirmar o quanto os números refletem a realidade, muito por conta da dificuldade de coleta e processamento desses dados em lugares identificados pelo IBGE como “subnormais”. Sendo assim, sempre que estiver ao nosso alcance, relativizaremos os números frente a experiência obtida pelas aproximações ao território.






< 03 relação das densidades

legenda:

5-112

hab/ha

112-193

193-288

hab/ha

288-510

hab/ha

hab/ha

510-3441

hab/ha


res e verticalizadas também lhe são comuns. O entorno retrata uma realidade dúbia, ele reforça ao passo que contradiz essa condição. Entretanto, é evidente que os assentamentos vizinhos amparam expressivas densidades, sobretudo ao norte dos limites. Já ao sul, as baixas densidades se dão por conta das atividades industriais exploradas nessa área. Em todo caso, os indicadores retratam um território habitacional e populacional: denso. Quer dizer, vivem nele muitas, diversas, pessoas.

Maior parte dessas pessoas tem entre 15 e 29 anos, isto é, 2,05

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Dados do IBGE para a população residente por setores censitários com o acréscimo estatístico respeitante à 2018. 37

Dentre essas muitas pessoas, há uma certa diversidade característica a elas. 50,31% são do sexo feminino, melhor dizendo, 3,32 mil são mulheres, frente a 3,28 mil homens, 49,69%37. O núcleo Gazuza e o bairro/conjunto Jardim Alba contam com a maioria feminina, são 2,15 mil (50,31%) e 633 (50,79%) mulheres, respectivamente, ante a 2,12 mil (49,69%) e 613 (49,21%) homens. Já o loteamento Vinícius de Morais possui maioria masculina, 544 (50,25%) homens diante a 539 (49,75%) mulheres. Contudo, o quadro mulheres-e-homens expressa-se bastante equitativo.

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

diversas pessoas



Ibid.

Não foi possível o acesso aos dados de “cor ou raça” levantados para o loteamento Vinícius de Morais e para o bairro/conjunto Jardim Alba, usaremos como demonstração apenas os disponibilizados pelo IBGE para o núcleo Gazuza. 40 Dados do IBGE para a população residente por setores censitários nos “aglomerados subnormais” com o acréscimo estatístico respeitante à 2018. É preciso considerar que desde o último censo, a construção e aceitação da identidade negra teve ampla propagação pouco vista em tempos recentes, o que pode levar a um maior número de negros que assim não se identificavam. Não podemos esquecer também que a produção do espaço brasileiro levou sobretudo os negros a morarem nas favelas e periferias, não diferente é o caso do Gazuza, assim, o fato de poucas pessoas se identificarem como pretos, apontam uma fragilidade das políticas enquanto fundamento da compreensão cultural. 39

De modo especial, o núcleo Gazuza retrata a condição e relação racial do território-síntese39. 2,24 mil pessoas, equivalente a 52,33% da população do assentamento, se reconhecem como pardas, 1,77 mil delas, 41,49%, como brancas e apenas 264, isto é, 6,19%, se autodeclaram pretas40. Levando em conta o manual do recenseador do IBGE, onde “pardo” é uma mistura de cor, ou seja, pessoa gerada a partir de alguma miscigenação, o território-síntese é maiormente habitado por uma diversidade identitária, ainda que seja pequeno o número de pessoas que se

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

38

mil moradores, correspondendo a uma parcela de 31,05% da população do território-síntese. Em seguida, 1,7 mil (25,94%) delas, possuem entre 0 a 14 anos, 1,6 mil (24,33%) possuem entre 30 a 45 anos, 1,04 mil (15,83%) possuem entre 45 a 64 anos e 187 pessoas (2,84%) tem mais de 65 anos, retratando uma população predominantemente jovem38. Entre a população do núcleo Gazuza, maior número enquadra-se na faixa etária entre 15 a 29 anos, ou seja, 1,3 mil pessoas, já a minoria é de pessoas com mais de 65 anos, 75 delas. No bairro/conjunto Jardim Alba e no loteamento Vinícius de Morais, o retrato é reforçado; ambos contam com maioria entre 15 e 29 anos, 320 e 378 pessoas, respectivamente, e minoria com mais de 65 anos, 24 e 23 moradores.

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< infográfico: percentual populacional por sexo


reconhecem pretas41. alargamento Além dos fins habitacionais, muitas são as atividades e usos que dinamizam parcelas do território-síntese e sua circunvizinhança. Predominam as atividades respeitantes ao consumo e venda de alimentos, materializados em bares, mercearias e pequenos mercados varejistas. Maior parte desses estabelecimentos partilham o espaço multiuso com as moradias de seus proprietários. Apesar da inexistência dessas atividades no bairro/conjunto Jardim Alba, a metade-projeto, todo o território e envoltório devem muito de sua subsistência a esse ativo comércio. Em seguida, é ampla a presença das atividades religiosas, edificadas principalmente pelas igrejas protestantes e pentecostais; há apenas uma igreja católica dentro dos limites e uma outra no entorno, outras manifestações religiosas não foram identificadas por meio de instituições ou edificações. Essas igrejas estão dispersas especialmente no núcleo Gazuza e inexistem no bairro/conjunto Jardim Alba. Os estabelecimentos para fins de venda de produtos e de prestação de serviço incorporam essas forças atuantes no território-síntese.

Reforçamos que o levantamento do IBGE não se refere a uma classificação biológica ou física com base no genótipo, e sim a um fenótipo, onde “pardos” e “pretos” são categorias de classificação da cor da pele tomadas a partir da autoidentificação da pessoa que responde ao recenseamento. Dessa maneira, um recenseador pode julgar que a cor da pele de uma pessoa é preta, mas o próprio entrevistado pode se achar da cor parda ou branca. 41


São comuns pequenas lojas de roupa feminina, de materiais para construção, de material de limpeza, bem como salões de beleza, barbearias, assistências técnicas para informática e mecânicas de automóveis. Mais uma vez, bastante presentes entre os assentamentos, com exceção ao monofuncional bairro/conjunto Jardim Alba.

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Instituindo a estreita presença do público no território-síntese, numa acomodação quase que central a ele, têm-se o conjunto da Escola Municipal Sagrado Coração de Jesus, antiga Escola Estadual de Primeiro Grau Buraco do Gazuza, e a recém-inaugurada Creche Professor Rubem Azevedo Alves. Juntas, oferecem o ensino infantil e fundamental para os anos iniciais, isto é, proporcionam atividades educacionais para crianças entre 0 e 4 anos, 6 e 11 anos, atendendo crianças residentes em todo

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

As indústrias, apesar de não estarem dentro dos limites, causam grande impacto no território e vizinhança, entretanto empregam muitos de seus moradores. O fabrico e manufatura de cosméticos, de metais, de plásticos e de químicos, são atividades comuns desenvolvidas por elas. Todos os três assentamentos fazem fronteira com grandes dessas corporações, sobretudo o bairro/conjunto Jardim Alba e o loteamento Vinícius de Morais.






< 04 relação das atividades e esferas

legenda: instituições religiosas

bares, mercearias e mercadinhos

venda de produtos

prestação de serviços indústrias

creche e escola municipal

centros comunitários horta comunitária áreas verdes subutilizadas


o bairro Casa Grande. Cercada (e cerceada) por muros e grades, esta materialização pública das atividades do território não se dispõe a inter-relacionar-se. encolhimento

Ver capítulo 3, E os centros comunitários dos núcleos habitacionais de Diadema, do texto para o primeiro movimento, A relação política entre sujeito e espaço: uma investigação sobre a participação popular e os centros comunitários dos núcleos habitacionais de Diadema. 43

Junto a elas, têm-se a Horta Comunitária do Gazuza42 e os Centros Comunitários dos três assentamentos, revelando o o retrato das subutilizações. Como explorado e defendido no texto para o primeiro movimento43, esses espaços públicos são incontestáveis elementos de evocação da ação política. Se prestarmos atenção nesse quadro, a predominância das atividades no território-síntese, apesar de acesso coletivo, está restrita aos espaços privados. O que insinua ser reflexo da hegemônica política pública de acesso a crédito, ao contrário das políticas de acesso ao próprio fazer político

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Mas que está localizado no bairro/conjunto Jardim Alba. 42

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

Frente a todos esses usos e atividades, sobrevém muitas subutilizações e inatividades. As áreas verdes e institucionais, destinadas ao loteamento Vinícius de Morais e ao bairro/conjunto Jardim Alba, são as maiores expressões dessas não-atividades. Sem uso antrópico, qualificação e manutenção, elas deixam de cumprir suas funções, quer dizer, potentes funções de contribuição à condição pública, para além da ambiental, dentre o território-síntese.










< 05 relação possível

legenda:

elementos espaciais construídos

elementos espaciais não construídos

circulação como ligação

forças possíveis


Uma outra realidade possível nasce dessa compreensão. Acreditamos que a reinvenção desses espaços inativos, subutilizados e solitários, contribuirá para a organização e invenção de um mundo que se têm direito. Nesse sentido, as áreas livres e verdes do loteamento e do bairro/conjunto, a horta comunitária do núcleo, o conjunto que forma a creche e a escola, bem como os centros comunitários dos três assentamentos, todos esses, elementos de natureza e potência política, enlaçados pelos di-

TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES

defesa

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Marilena Chauí em evento em defesa da liberdade de expressão, realizado no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, em 2012. Disponível em <https:// bit.ly/2KqJQAg>. 44

e a condição pública, visto que que esses espaços e organizações que precisam da esfera pública ativa e operante, estão cada vez mais em situação de inação e inatividade. Assim, estamos diante ao “encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado. Economicamente, trata-se da eliminação de direitos econômicos, sociais e políticos garantidos pelo poder público, em proveito dos interesses privados da classe dominante, isto é, em proveito do capital. [...] Politicamente o encolhimento do público e o alargamento do privado colocam em evidência o bloqueio a um direito democrático fundamental sem o qual a cidadania, entendida como participação social, política e cultural é impossível”44.


versos percursos possíveis (isto é, movimentos), compõe nossa defesa para a reinvenção do espaço de organização popular à serviço da imprevisível força que essa estrutura-futura pode alcançar.


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TERRITÓRIO, SÍNTESE E RELAÇÕES


7


invenção da ação


O que é reinventar o espaço sem a comparticipação inventiva das ações? Descobrimos no decorrer do primeiro movimento1 que as ações detêm poderes transformadores enquanto o espaço a natureza transformável, firmando sua indissociabilidade. Em razão disso e tendo como propósito a reinvenção do espaço de organização popular, é preciso, antes de mais nada, ir ao encontro das ações que propulsionam e substanciam essa prática política, para que, então, possamos apreendê-las, inventá-las e, assim, desenhá-las2. Devemos ter o conhecimento de que a ação nunca é solitária, mas sim conjunta. Assim, nossa invenção será orientada para a constituição de conjuntos de ações que se relacionam.

Ver capítulo 1, Entre sujeito e espaço, do texto para o primeiro movimento. 1

Nossa intenção não é a definição ou reprodução de um modelo, mas sim a construção de narrativas quanto algumas das ações a favor da organização popular. 2

da co-laboração à síntese cultural Para tanto, nos aproximamos e defendemos a teoria freireana como substrato para nossa invenção, isso porque “o método de Paulo Freire é, fundamentalmente, um método de cultura popular: conscientiza e politiza”3. Nos interessa a chamada teoria dialógica da ação, ou apenas ação dialógica, sustentada por Freire, cuja práxis faz com que haja “sujeitos que se encontram para a pronúncia do mundo, para a sua transformação”4.

Ernani Maria Fiori sobre a pedagogia de Paulo Freire. (FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 2018, p. 29) 3

4 FREIRE,

P. Pedagogia do oprimido. 2018, p. 227.


186.

7 Ibid.

8 Ibid.,

190.

INVENÇÃO DA AÇÃO

6 Ibid.,

Essa ação antidialógica, como toda ação, configura um conjunto de ações, sendo elas: a conquista, a divisão para manter a opressão, a manipulação e a invasão cultural. De acordo com Paulo Freire, o primeiro caráter que pode ser surpreendido na ação antidialógica é a necessidade da conquista6, de modo que “todo ato de conquista implica em um sujeito que conquista o objeto conquistado. O sujeito da conquista determina suas finalidades ao objeto conquistado, que passa, por isto mesmo, a ser algo possuído pelo conquistador. Este, por sua vez, imprime sua forma ao conquistado que, introjetando-o, se faz um ser ambíguo. Um ser hospedeiro do outro”7. A divisão para manter a opressão é sua ação complementar, sendo outra dimensão da teoria da ação opressora, “na medida em que as minorias, submetendo as maiorias a seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condição indispensável à continuidade de seu poder”8. A manipulação consolida as ações precedentes, a partir dela “as elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus ob-

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5 Ibidem.

Antes de nos encontrarmos com essa defesa, apresentaremos o seu contrário, isto é, a teoria da ação antidialógica, na qual a conivência faz com que haja “um sujeito que domina pela conquista e um objeto dominado”5, em que somos oposição.


jetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam elas, tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu poder”9. Violentamente essas ações levariam a última, a invasão cultural, sendo essa “a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão”10, com isso a invasão cultural constitui em uma força duplicada, de um lado ela já é dominação, de outro, tática de dominação11. Esse esforço para expor a adversidade da ação que acreditamos, antes mesmo de descrevê-la, tem a intenção de revelar que toda ação é oposição e/ou defende-se de outra ação. Narrar a ação antidialógica retrata a vulnerabilidade das comunidades que não detém uma organização e não praticam ações de resistência, como é o caso do território-síntese. Felizmente, há a esperança na ação dialógica, que reúne a co-laboração, a união para libertação, a organização e a síntese cultural, como um conjunto de ações em defesa do bem comum. A co-laboração, que “não pode dar-se a não ser entre sujeitos, ainda que tenham níveis distintos de

9 Ibid.,

10

11

198.

Ibid., 205.

Ibid.


14 Ibid.,

234.

242.

função”12, refere-se a prática de cooperação entre as pessoas para alcance de proventos comuns. A denominação “co-laboração” ao invés de “colaboração” não é gratuita, uma vez que “labor” significa trabalho e o prefixo “co” refere-se a companhia ou concomitância, fazendo com que co-laboração seja uma companhia-trabalho antes mesmo do trabalho-em-companhia, assim, nossa companhia nos encaminha para o trabalho e o nosso trabalho colabora para a companhia de todos. A união para libertação é um “esforço incansável da união dos oprimidos entre si, e deles com ela, para a libertação”13. Com a união dos sujeitos populares, destes com suas defesas e práticas favoráveis aos interesses comuns, podem os levar a transformar a ação em realização, além de fortalecê-los frente as adversidades como são as reações de conquista e manipulação. A organização, que entenderemos como organização da organização, “jamais será a justaposição de indivíduos que, gregarizados, se relacionem mecanicistamente”14, ao contrário, é a combinação solidária de esforços e quefazeres, dados por meio da práxis, para o alcance coletivo dos objetivos populares. A síntese cultural, por seu lado, parte como “modalidade de ação com que, culturalmente, se fará fren-

INVENÇÃO DA AÇÃO

13 Ibid.,

228.

104 | 105 _

12 Ibid.,


te a força da própria cultura, enquanto mantenedora das estruturas em que se forma”15, ou seja, é a partir do reconhecimento e encorajamento de qual cultura consiste e orienta essa organização que os sujeitos serão capazes de significar e se significarem, capazes de enfrentarem a violenta invasão cultural que lhes encurralam.

15 Ibid.,

248.

Como exposto, nossa intenção não é estabelecer e, tampouco, reproduzir modelos, mas exploraremos desse conjunto de ações que constituem a ação dialógica como meio de nossa primeira invenção e como tentativa de instrumentalização da teoria freireana, de quem somos partidários. Nesse contexto, apoiados na teoria miltoniana16, da qual já nos elevou ao conhecimento quanto a associação-indissociável (além de solidária e contraditória) que são as ações e objetos que formam o espaço, tentemos assim inventar essa conjunção. Para tanto, daquele conjunto de espaços inativos, solitários e subutilizados, usaremos dos que já possuem existência material como contraponto as nossas invenções17. Nessa perspectiva, associando a co-laboração com a Horta Comunitária, ação e objeto de natureza da companhia-trabalho-companhia, sugerem uma reinvenção de um concreto espaço de indissociabilidades. Já a

Tomamos conhecimento dos termo “teoria miltoniana”, assim como “teoria freireana”, cunhados na tese intitulada Paulo Freire e Milton Santos: Fundamentos para uma Pedagogia do Espaço de Claudete Robalos da Cruz. Como é sugerido, a primeira faz menção a construção da teoria de Milton Freire, e a segunda de Paulo Freire. Ver: CRUZ, Claudete. Paulo Freire e Milton Santos: Fundamentos para uma Pedagogia do Espaço (Tese de Doutorado). Pelotas: UFPEL, 2014. 16

Não deixamos de acreditar em todo o conjunto revelado no capítulo anterior. Aquele compreende a rede necessária para que a esfera da vida pública, portanto, política, se ajuste no território a partir de suas forças e de seus espaços físicos. Escolhemos os espaços que já possuem existência material como elementos para a invenção da ação e, posteriormente, para a reinvenção do espaço, como respeito aos processos históricos. As áreas 17


verdes livres e as áreas institucionais que não comporão nosso invento, é designada a crença de que dada a organização popular, aqui incitada, os sujeitos farão as escolhas justas para como ocupá-las, para como reinventá-las...

união associada ao Centro Comunitário Vinícius de Morais, elemento que principia e/ou finda o conjunto de objetos, aponta para a constituição de um espaço-ação. A organização da organização associada ao Centro Comunitário Gazuza, de remota contribuição à organização da ocupação, bem como a Creche e Escola, de solitária atuação política, indicam para a potencialização das práticas passadas e presentes, podendo dar início a construção da relação interespaço e interações, assim superando a solitude que envolvem esse quadro. A síntese cultural associada ao Centro Comunitário Jardim Alba, elemento que também principia e/ou finda o conjunto de elementos, poderá conformar ações e objetos à condição cíclica, assim: uma estrutura.

> primeiro invento, sistema de ações: da co-laboração à síntese cultual

Nesse sentido, sensíveis a conjuntura política das relações do território-síntese, defendemos que a conscientização desencadeie mais uma estrutura de nosso in-

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Continuemos a inventar, visto que os processos históricos sucedidos em Diadema e a demonstração quanto as perversidades da teoria da ação antidialógica, desvendam que são necessárias muitas mais ações para o alcance e defesa da organização popular.

INVENÇÃO DA AÇÃO

da conscientização à tomada de decisões




vento. Isso em razão de que “conscientizar é politizar. E a cultura popular se traduz por política popular; não há cultura do Povo sem política do Povo”18. A conscientização passaria a ser um ato de reconhecer-se potente, já que “muitas vezes um grupo de indivíduos está plenamente consciente de que sofre injustiças e de que através de um trabalho coletivo e organizado poderia conquistar uma situação mais justa. E no entanto, por ignorar suas próprias possibilidades, por não saber como proceder ou por não dispor dos meios materiais indispensáveis, esse grupo não se organiza”19. A prática dessa ação também vivifica a invenção de sujeitos coletivos e a relação desses com o espaço que ocupam, já que “ninguém se conscientiza separadamente dos demais. A consciência se constitui como consciência do mundo”20. Reiteramos, conscientizar é politizar! Essa ação é um conjunto transformativo: ela é política, nos torna políticos e modifica a política, isto é, “promover a conscientização e a organização de pessoas e grupos é uma forma relevante de participação política, pois através desses trabalhos muitas pessoas poderão livrar-se da marginalização e adquirir condições para integrar os processos de decisão política”21. A favor dessa, o diálogo suscita ser a ação complementar, ora, se ninguém se conscientiza sozi-

18 FREIRE,

P. Ibid. 2018, p. 29.

DALLARI, D. O que é participação política. 1994. p. 53. 19

20 FREIRE,

P. Ibid. 2018, p. 21.

21 DALLARI,

D. Ibid. 1994. p. 54.


23 BORDENAVE,

J. O que é participação. 1994, p. 52.

24 FREIRE,

P. Ibid. 2018, p. 172.

A comunicação é a ação que pode estabelecer fundamentos para as ações precedentes. Antes de qualquer coisa, é preciso evitar a generalização entre comunicação e diálogo, acreditando sê-los uma mesma coisa. O diálogo, como conhecido, é a relação estabelecida entre os sujeitos, estes e o mundo, já a comunicação, é a ação pela qual os sujeitos se informam, conhecem, anunciam e difundem em decorrência da conscientização e do diálogo. Em termos práticos,

INVENÇÃO DA AÇÃO

P. Ibid. 2018, p. 109.

110 | 111 _

22 FREIRE,

nho e se não nos conscientizamos alheios ao mundo, será por meio do diálogo que se construirá essa relação, logo “o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”22. Enquanto prática o diálogo não significa apenas conversa, “significa se colocar no lugar do outro para compreender seu ponto de vista; respeitar a opinião alheia; aceitar a vitória da maioria; pôr em comum as experiência vividas, sejam boas ou ruins; partilhar a informação disponível e tolerar longas discussões para chegar a um consenso satisfatório para todos”23. Mais uma ação que é política ao passo que altera a política. Como inventores da ação, defensores do diálogo e consoantes à Paulo Freire, “a nossa convicção é a de que, quanto mais cedo comece o diálogo, mais revolução será”24.


“sem comunicação não pode existir a participação, [...] a participação democrática se baseia em canais institucionais. Em primeiro lugar, de informação; não há participação popular sem informação qualitativamente abundante sobre os problemas, os planos e os recursos públicos. Em segundo lugar, canais de consulta. Em terceiro lugar, canais de reivindicação e de protesto”25. Assim sendo, a comunicação é uma outra demonstração da práxis, ela é reflexão sobre a informação, que após difundida, proporciona novas reflexões. Nessa continuidade, a reunião vem ser a ação que, em nossa invenção, possibilita as anteriores. No cotidiano “quando várias pessoas querem defender ou promover certos interesses de alguma importância no meio social, uma das primeiras providências a serem adotadas será a realização de reuniões. Desse modo todos ficam mais informados a respeito do assunto, há uma troca de pontos de vista, as possibilidades e dificuldades são avaliadas e, se for o caso, podem ser traçados planos para uma ação conjunta”26. Contudo, nos interessa principalmente a reunião em sua condição essencial, do re-unir, de tornar a unir o que estava junto, de constituir conjuntos e agrupamentos, quer dizer, reunir as ações, reunir os sujeitos, reunir ações e sujeitos. Enlaçando essas ações, intuímos a

25 BORDENAVE,

68-69.

26 DALLARI,

J. Ibid. 1994, p.

D. Ibid. 1994. p. 68.


28 Ibid.,

25.

Mais à frente narraremos ao que corresponde o poder local. 29

> segundo invento, sistema de ações: da conscientização à tomada de decisões

Prosseguindo a invenção das indissociabilidades entre ação e objeto, associamos a conscientização com a co-laboração, ações essas complementares, que já relacionada com a Horta Comunitária, corroborará para que a conscientização

INVENÇÃO DA AÇÃO

21.

112 | 113 _

27 Ibid.,

tomada de decisões como decorrência do conjunto. Com base na conscientização, no diálogo e na comunicação, e todas essas em reunião, será preciso que decisões sejam tomadas para o alcance e avanço da organização, acima de tudo, para elevar essas ações à práxis. Ao que elas levam? O que nós, sujeitos, fazemos delas? Para onde vamos? Já na esfera da individualidade essa ação é inerente, “o simples fato de estar viva obriga uma pessoa, qualquer pessoa, a tomar decisões muitas vezes por dia”27, na esfera da coletividade, por sua vez, é preciso reconhecer que “um sistema político só é democrático quando as decisões são tomadas com liberdade e se respeita a vontade da maioria. Ora, quando muitos se negam a participar das decisões é inevitável que a tarefa de decidir fique nas mãos da minoria, ou seja, a omissão de muitos impede que se tenha um sistema democrático”28. No que concerne o quadro político do território-síntese, essa ação orientaria a organização para que se alcançasse a tomada de decisão em níveis estruturais mais à frente, por ora, é no âmbito do poder local em que fundamentam nossas invenções29.




floresça como ato do trabalho. O diálogo que colabora à organização será, portanto, associado ao Centro Comunitário Gazuza, na tentativa de reinventar as articulações que esse objeto e sua não-ação influenciam. A comunicação complementar à união é então associada ao Centro Comunitário Vinicius de Morais, dado o contexto vívido em que esse objeto se insere, podendo potencializar sua veiculação. A reunião, é também associada à organização, em vista do caráter completivo entre essas ações, porém no que concerne ao conjunto Creche e Escola, levando em conta a natureza multilateral desse objeto. Já a tomada de decisões está sujeita a síntese cultural, daí sua complementariedade, logo será associada ao Centro Comunitário Jardim Alba, contínua a premissa cíclica suscitada no início de nosso invento: agora, uma estrutura a favor da estrutura. da educação à libertação Inventemos de forma que as ações levem à outras ações. Esses conjuntos, quando em contínuo processo, poderá alçar ações como a educação que conferirá sentido à organização, isto é, “a educação tem sentido porque mulheres e homens aprenderam que é aprendendo que fazem e se refazem, porque mulheres e homens se puderam assumir como seres capazes de saber, de saber que sabem, de saber que não sabem. De saber melhor o que


P. Ibid. 2018, p. 97.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 2018, p. 108. 32

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 2018, p. 73. 33

Nesse segmento, a ação cultural é uma outra dessas ações-das-ações, em razão de que toda “ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, ação cultural para a liberdade, por isto mesmo, ação com eles”33. Antes de mais nada, é necessário distinguir “ação cultural” de “cultura”, no entanto,

INVENÇÃO DA AÇÃO

31 FREIRE,

A educação, do mesmo modo que a conscientização e o diálogo, fortalece a relação entre ação e sujeitos, estes e o espaço, pois “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”31. Assim, ela confere ainda mais politicidade a organização, pois “a qualidade de ser política é inerente à sua natureza. É impossível, na verdade, a neutralidade da educação”32. Reforçamos a pujança dessa ação, mesmo a educação estando intrínseca a todas ações até então inventadas, ela só se revelará quando ações e sujeitos constituírem apenas uma apreensão: estarem sendo.

116 | 117 _

FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 2016, p. 44. 30

já sabem, de saber o que ainda não sabem. A educação tem sentido porque, para serem mulheres e homens precisam de estar sendo. Se mulheres e homens simplesmente fossem não haveria porque falar em educação”30. É portanto, a partir da educação que as ações e os sujeitos que constituem essa estrutura testemunharão sua capacidade de viver em (ou viver a) práxis.


não nos arrisquemos a definir o que é cultura, quanto a outra, insinuamos que a “ação cultural tem sua fonte, seu campo e seus instrumentos na produção simbólica de um grupo”34. Essa ação promove a invenção da existência coletiva e usa-se da cultura, da síntese cultural, como meio para defesa do bem comum, “desta maneira, este modo de ação cultural, como ação histórica, se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e alienante”35. Essa invenção de nós, de nós como grupo, de nós em organização, é um processo de conhecimento e reconhecimento solidário ao que somos, de onde estamos e o que podemos produzir à frente disso, e não uma definição do que idealmente deveríamos ser, estar e fazer, pelo contrário, “o objetivo da ação cultural não é construir um tipo determinado de sociedade, mas provocar as consciências para que se apossem de si mesmas e criem as condições para a totalização, no sentido dialético do termo, de um novo tipo de vida derivado do enfrentamento aberto das tensões e conflitos surgidos na prática social concreta”36. O mutirão, mais uma ação-de-ações, vem a ser, com efeito, uma reinvenção. Os processos históricos de Diadema, especialmente nos assentamentos núcleo Gazuza e bairro/ conjunto Jardim Alba, que integram o território-síntese, revelaram a capacidade conceptiva que

COELHO, T. O que é ação cultural. 2001. p. 32. 34

35 FREIRE,

P. Ibid. 2018, p. 248.

36 COELHO,

T. Ibid. 2001. p. 42.


INVENÇÃO DA AÇÃO

A autogestão, assim como o mutirão, é uma reinvenção, por conta de sua familiaridade com os processos históricos. Essa ação é o testemunho de que as demais ações levaram a organização ao alcance do poder de conceber, orientar e gerir suas próprias ações e finalidades, sem o risco de a desapoderarem. Em termos práticos, isso significa “uma relativa autonomia dos grupos populares organizados em relação aos poderes do Estado e das classes dominantes. Autonomia que não implica uma caminhada para a anarquia, mas, muito pelo contrário, implica o aumento do grau de consciência política dos cidadãos, o reforço do controle popular, sobre a autoridade e o fortalecimento do grau de legitimidade do poder público quando este responde às necessidades

118 | 119 _

ARANTES, P. Arquitetura nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos mutirões. 2011. p. 196-198. 37

essa ação pode ocasionar. Outrora quanto a construção de moradias e implementação de infraestrutura, essa ação, no que concerne nossa invenção, deve estar orientada à sua natureza de mobilização, ou seja, movimentar e materializar as ações para que se continue firmada a práxis e, assim, fazendo com que as ações se deem e promovam transformações no espaço que as suportam. Como sabemos, o mutirão é uma das formas mais tradicionais de cooperação popular37, ele procede a partir de pessoas se ajudando mutuamente, sua ação remonta a politicidade e solidariedade coletiva.


reais da população”38. Retomamos, ao que essas ações nos levam? O que nós, sujeitos, faremos delas? Para onde vamos? Nossa invenção orienta-se para a libertação, “aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores”39. A libertação, essa ação-consecução, fruto de nossas ações inventadas, concederá à organização, aos sujeitos e ao território, a emancipação que necessitam. Os processos históricos investigados no primeiro movimento40 revelaram que as “ações-participativas” que construíram Diadema, apesar da obtenção de alguns bons resultados, não promoveram a politização dos sujeitos (portanto, indivíduos), não os dotando da capacidade de conscientizar-se, inventar e gerir suas ações comuns, isto é, não os libertando. O território-síntese, como um dos mais elucidativos exemplos desse quadro, uma vez que fora suporte das mais significativas práticas da ação-participação, deve encaminhar-se para mostrar que uma outra realidade é possível, que será possível a libertação, “libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela”41. sistema Associar esse último conjunto de ações com os objetos é um desme-

BORDENAVE, J. Ibid. 1994, p. 20-21. 38

39 FREIRE,

P. Ibid. 2018, p. 41.

Ver capítulo 2 do texto para o primeiro movimento intitulado Uma investigação sobre a participação popular. 40

41 FREIRE,

P. Ibid. 2018, p. 43.


Esse conjunto educação, ação cultu-

120 | 121 _

> terceiro invento, sistema de ações: da educação à libertação

Continuemos com as nossas associações... A educação é intrínseca à organização e o diálogo, não precisamos reafirmar o porquê, por isso sua associação com o Centro Comunitário Gazuza, já suporte dessas. Do mesmo modo, a ação cultural é correlata a união e a comunicação, assim, associando-se ao Cento Comunitário Vinícius de Morais. O mutirão requer da co-laboração e da conscientização, daí sua associação com a Horta Comunitária. A autogestão são passos dados junto a síntese cultural e pela tomada de decisões, assim associada ao Centro Comunitário Jardim Alba, num prenúncio fenomenológico. Enfim, a libertação efeito da re-união e decorrência da organização das demais ações, é associada ao cerne desse sistema, o conjunto Creche e Escola.

INVENÇÃO DA AÇÃO

dido desafio, mas assim como nas duas demais estruturas, os objetos se põem como suporte às ações. Para que elas se deem, será necessário que todo o conjunto esteja solidário a elas, isto é, que ele seja um sistema. Não conseguiremos falar dessas ações de modo isolado. O mesmo é dito para os objetos. Quando partirmos para a reinvenção do espaço, é preciso entender os cinco elementos como um – desde que respeitando suas especificidades –, mediatizados pelo contexto em que se inserem, o território-síntese.




ral, mutirão, autogestão e libertação, também manifesta que nossa invenção é para que se despertem ações e invenções outras, imprevisíveis ao nosso enxergar. Contudo, desde tenham natureza política (e por isso nossas escolhas) para inventar e reinventar a vida comunitária. ao poder local A nossa invenção é intenta ao alcance do poder local, encontra-se aí sua dimensão. Por essa razão, nosso invento não se trata de um plano ou programa, tampouco, de um projeto, mas sim de uma contribuição para que se assegurem a existência de sujeitos, de direitos e, com isso, de mais invenções. Dessa maneira, “o problema do poder local que aqui estudamos envolve, portanto, a questão básica de como a sociedade decide o seu destino, constrói a sua transformação, e, para dizê-lo de forma resumida, se democratiza”42. Tudo isso a partir da realidade reinventada, das práticas e condições materiais locais e da escala do núcleo, do bairro, do loteamento: do território-síntese. Certamente “dar a devida importância ao espaço local e à participação não significa que esse mecanismo possa assegurar o conjunto dos equilíbrios necessários ao nosso desenvolvimento”43, quando nas esferas estaduais e federais e dos poderes executivo e le-

DOWBOR, L. O que é o poder local. 2016, p. 20. 42

43 Ibid.,

p. 32-33.


45 Reforçamos

que as questões quanto as relações humanas e atendimento às necessidades elementares, como a moradia, a saúde, a educação, a cultura, o transporte e lazer, portanto, quanto aos direitos civis, sociais e políticos se não partem da esfera local são inerentes a ela. Assim, perpassar por essa escala, faz com que vivenciamos uma experiência de síntese da vida política.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 2018, p. 77. 46

posição É expresso que não há neutralidade em nosso invento, entretanto, isso não quer dizer que assumimos posições politicamente partidárias ou radicais. Nosso compromisso é com a justiça e, sobretudo, com as pessoas que vivem no território de nossas invenções. Nossa incitação é para que elas possam plenamente ser a partir de suas ações, “não se trata obviamente de impor à população espoliada e sofrida que se rebele, que se mobilize, que se organize para defender-se, vale dizer, para mudar o mundo. Trata-se, na verdade [...] de, simultaneamente com o trabalho específico de cada um desses campos, desafiar os grupos populares para que percebam, em termos críticos, a violência e a profunda injustiça que caracterizam sua situação concreta”46. Não esquecemos de que a nossa posição é enquanto arquiteto-sujeito que acreditam na indissociabilidade, solidariedade e contradição entre ações e objetos que formam

INVENÇÃO DA AÇÃO

há muitos outros sujeitos (alguns, amigos) inclinados a essa missão.

124 | 125 _

44 Felizmente,

gislativo, por exemplo, para isso outras ações, discussões e políticas são precisas44. Assim como é certo de que as ações na escala e para o poder local são indispensáveis para que esse progresso se dê45. Isto posto, revelamos que nossa invenção (e a nossa missão) está à serviço de um trabalho de base.


o espaço, por isso nossa entrega à invenção das ações ante a reinvenção do espaço. Decerto que essas ações, de qual teorizava Milton Santos, são outras mais distantes e profundas das quais inventamos47, mas, diante a problematização de nossas investigações, ao contexto em que nos encontramos e de nossas defesas, são essas ações-invenções que apontam contribuir para uma outra realidade possível, para a constituição do espaço e para o desvelo de nossa posição.

E por isso pedimos desculpas pela pretensão. 47


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INVENÇÃO DA AÇÃO


8


reinvenção do espaço




< 01 sistema de objetos, a fim da reinvenção do espaço

legenda:

centro comunitário vinícius de morais

centro comunitário gazuza creche + escola horta comunitária gazuza

centro comunitário jardim alba

movimento


suporte

Entendemos como elementaridade da espacialidade o conjunto de elementos que configura um espaço, ou seja, para os espaços edificados: acessos, circulação, planos, aberturas e coberturas; já para os espaços livres, acessos, circulação e planos. Sabemos que o desenho desses tipos de espaços requer a interface de muitas outras dimensões como parâmetros legais, infraestrutura, técnica estrutural, sistema construtivo, materialidade, ergonomia e acessibilidade, paisagística, custeio e financiamento, dentre muitas outras disciplinas que compõe o projeto, no caso específico dos conjunto de espaços aqui investigado, a necessidade de discussão popular e processo participativo é fundamental para que um projeto fosse constituído, entretanto, para a intenção de um “desenho do possível”, desenhar a elementaridade desses espaços e ilustrar possibilidades de ocupação nos é suficiente. 2

Esse desafio será atribuído ao desenho, desenho enquanto ato, desenho enquanto desígnio, que se limitará as elementaridades da espacialidade, por essa razão, não podemos entender nossa reinvenção como um projeto arquitetônico, tampouco urbano, que dispõe de outras dimensões e complexidades2. No entanto, certamente a reinvenção desses espaços será enfrentada à luz dos conhecimentos acerca da arquitetura e do urbanismo contando com representações tendente ao alcance popular. Antes de qualquer coisa, é preciso se aproximar desses cinco objetos vítimas do encolhimento do espaço público no território-síntese, objetos esses que, dentre os oito elencados para relações possíveis, foram escolhidos devido a

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

que defende que a história se dá num quadro único onde sistema de ações e sistema de objetos são indissociáveis, solidários e também contraditório, sendo assim não podendo ser considerados isoladamente, “os objetos não têm realidade filosófica, isto é, não nos permitem o conhecimento, se os vemos separados dos sistemas de ações. Os sistemas de ações também não se dão sem os sistemas de objetos.” (SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2006, p. 39)

132 | 133 _

1 Reiteramos a teoria miltoniana,

A necessidade de reinventar o espaço vem à tona como suporte para as ações inventadas, é sobre, entre e perante o espaço que elas, na qualidade de história, poderão se dar1. Assim, a reinvenção desses cinco elementos espaciais, isto é, cada centro comunitário dos três assentamentos, a horta comunitária, e os espaços intersticiais a meio da creche e escola municipal, estará orientada a torná-los um conjunto, associá-los (ou os indissociabilizar) às ações e, fundamentalmente, desvendar que sim: uma outra realidade é possível.


existência material e de residuais ações, sobretudo, pela história e/ou potência desses elementos frente as organizações populares. Conhecer, reconhecer, inventar e reinventar são práticas unificadas e possíveis pelo desenho, iremos a elas junto ao percurso, quer dizer, movimento.


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REINVENÇÃO DO ESPAÇO

> centro comunitário vinícius de morais em meio ao loteamento




centro comunitário vinícius de morais, elemento edificado

localização

área construção

rua raul seixas, 20a, loteamento de interesse social vinícius de morais 64,60 m2

2011, pela prefeitura municipal administração associação

de moradores do núcleo habitacional vinícius de morais/ presidente zulamar josé de andrade condição inativo


Dado da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania. Segundo esta, a resolução não violenta de conflitos; o ensino de escrita e leitura; a educação ambiental e sustentabilidade; a sexualidade; a autoestima; informática e tecnologia; e introdução ao mundo do trabalho, são temas discutidos no programa. 4

Administrado pela Associação de Moradores do Núcleo Habitacional Vinícius de Morais, atualmente o espaço é utilizado para serviços de informática (fotocopias, elaboração de currículos, emissão de antecedentes criminais, etc.), locação para eventos pessoais (festa de aniversário, “chá de cozinha”, “chá de bebê”, etc.) e, recentemente, sediou o Projeto de Inclusão Social, programa da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, ofertado para jovens com idades de 15 a 24 anos em situação de risco ou vulnerabilidade social, com o objetivo de combater as situações de violência urbana que atingem o segmento jovem da sociedade4.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

narra a significação do centro comunitário nos processos de mutirões autogeridos, segundo ele, esses espaos são “onde são instalados o galpão de assembleias, a cozinha coletiva, os vestiários e a administração da obra. Este edifício é especialmente significativo para o grupo de mutirantes, pois é o primeiro fruto do trabalho coletivo e, ao contrário das habitações, que serão apropriadas individualmente, é um espaço de todos, de festa e encontro. É ali que o mutirante vai para ter informações da obra, participar das decisões, almoçar, conversar e registrar sua presença quando chega e vai embora.” (ARANTES, P. Arquitetura nova: Sérgio Ferro, Flávio Império e Rodrigo Lefèvre, de Artigas aos mutirões. 2011. p. 191-192)

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3 À exemplo, Pedro Fiori Arantes

Descobrimos no transcorrer do primeiro movimento que os centros comunitários são potentes e significativos espaços de suporte à organização, dada a sua natureza coletiva3. O Centro Comunitário Vinicius de Morais, primeiro elemento de nosso percurso sugerido, fora implantado, pela prefeitura municipal em 2011, em tempos aonde o encolhimento do espaço público já era avançado. Em função disso, talvez jamais tenha alcançado essa condição, diferente dos Centros dos dois outros assentamentos, que nasceram sob outras circunstâncias e fora construídos pela mão-de-obra coletiva.



A esfera da vida privada, instituída pelas casas do loteamento, são fechadas ao público por portões e grades, poucas são as aberturas a ele, as pequenas janelas, as varandas e as lajes, intermediam as esferas entre a vida pública e a vida privada. O Centro Comunitário Vinícius de Morais, apesar de sua natureza pública, reforça essa característica ao se retrair, espacial e ativamente, a essa esfera, tanto que, dentre o meio em que se encontra, dificilmente o distinguimos ou o caracterizamos enquanto público.

> centro comunitário vinícius de morais, condição espacial interna

Reinventar esse espaço, associado as ações inventadas, deve estar orientado a constituir e ressaltar a esfera pública desse objeto.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

A constituição desse espaço é diametralmente oposta à sua potência. Ele, enquanto único espaço coletivo do loteamento, é reduzido a um salão de atividades e um sanitário, configuração característica aos demais centros comunitários do município. Esse, em especial, tem sua dinâmica espacial interna ilustrativa quanto a condição desses espaços avessos à organização política, os quatro pilares que sustentam uma cobertura de telhas em fibrocimento ocupam o centro do salão, impedindo, por exemplo, que uma roda de conversa onde todas pessoas conseguem se olhar enquanto discutem, aconteça.

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< centro comunitário vinícius de morais, quanto objeto





> reinvenção, ilustração de uma outra realidade e ocupação possível

Uma outra realidade possível parte das ações combinadas as subsistências locais. Como vimos, a união intenciona a comunhão entre os sujeitos e destes com suas práticas favoráveis aos interesses comuns, a comunicação possibilita os sujeitos se informarem, conhecerem, anunciarem e difundirem as descobertas para que coletivamente se conscientizem e dialoguem e a ação cultural consiste na produção simbólica desses sujeitos. Uma prática muito comum as autoconstruções e recorrentes no loteamento Vinícius de Morais e no núcleo Gazuza são a multiplicação de lajes e a construção de escadas sobre o viário. Por trás dessa prática, há a intenção de promover o maior espaço possível para que se una uma mesma ou mais famílias em um único lote, ação essa que seria prejudicada caso as casas se restringissem ao pavimento térreo e abrigassem uma caixa de escada no interior da edificação, dada as pequenas dimensões dos lotes5. Tanto a multiplicação das lajes e as escadas sobre o viário possibilitam a divisão de uma mesma construção entre diferentes casas e moradores, mas também as unem e as associam. Reinventar esse espaço, sensíveis a essa prática, compartilha da

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Estamos cientes do risco dessa defesa ser julgada como romantização dessas práticas e processos. Em contrapartida, também estamos cientes a quanta precariedade, risco à segurança e as condições socieconômicas que envolvem esse quadro, muito bem esclarecidas na dissertação de Cláudia Bastos Coelho intitulada Melhorias habitacionais em favelas urbanizadas: impasses e perspectivas, tendo como um dos casos de investigação o núcleo habitacional Gazuza. A intenção aqui, sobretudo, é a natureza dessas práticas, que como percebemos há princípios coletivos. 5

o espaço da união, comunicação e ação cultural

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< centro comunitário vinícius de morais, estrutura da reinvenção










multiplicação de lajes, mas com extensões diferentes que possibilitam a relação entre elas no interior da edificação, como suporte para a união e comunicação de diversos sujeitos e (e em) ações que ali estiverem. A escada sobre o viário permite a comunicação entre as lajes e, assim como devem ser as informações, ela firma a clareza de como acessá-la. Essas lajes e escadas, em nosso reinvento, ao mesmo tempo compõem a esfera pública e se volta a ela, isto é, para a rua e para o seu interior. Esta ausência de privação e de soleira junto a ampliação dos contextos, possíveis por meio da posição dos sujeitos a partir dessas aberturas nos diferentes níveis ou degraus, tendem a permitir que se produzam os símbolos vistos dali. Espaço da união, da comunicação, da ação cultural, da organização popular e também de muitas outras ações possíveis e imprevisíveis, esse objeto, sobretudo, compõe o cotidiano, dia e noite, manifestando a esfera pública de que se é.


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REINVENÇÃO DO ESPAÇO

> centro comunitário gazuza em meio ao núcleo




centro comunitário gazuza, elemento edificado

rua do projeto, 426 núcleo habitacional gazuza área 58,87 m2 construção 1989, pelos moradores administração associação dos moradores do núcleo habitacional jardim gazuza/ presidente antônio osório monteiro “toninho do gazuza” condição inativo localização


Dado da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social. São ofertados cerca de 15 litros de leite por mês para cada beneficiário inscrito, participam do programa crianças de 6 meses a 5 anos e 11 meses e idosos acima de 60 anos, a prioridade é atender famílias com renda mensal de até 1/4 de salário mínimo per capita. 8

Dado da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar. São distribuídos quinzenalmente no Centro Comunitário, geralmente, frutas, verduras e legumes, mas alimentos não perecíveis também compõe a oferta do programa. 9

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

É preciso considerar que esses espaços são utilizados para essa finalidade devido muitas das casas terem dimensões reduzidas e/ou não contar com espaços livres ou comuns, o que as impedem abrigar eventos com grande número de pessoas 7

Hoje, administrado pela Associação dos Moradores do Núcleo Habitacional Jardim Gazuza, é o Centro que mantém mais atividades entre os três presentes no território-síntese, ainda assim, o consideramos inativo quanto as ações em prol da organização popular. Dentre as atividades que lhe são comuns, o espaço é utilizado para a locação de eventos pessoais semelhantes ao que ocorrem no Vinícius de Morais7 e abriga alguns programas assistenciais: o Projeto Vivaleite, da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, que promove a distribuição gratuita de leite e tem como objetivo oferecer um complemento alimentar seguro e de alto valor nutritivo às pessoas de baixa renda8; o Banco de Alimentos, da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar, que objetiva combater o desperdício de alimentos e, como o outro, de complementar a alimentação de pessoas em situação de vulnerabilidade social, a partir da arrecadação de alimentos em empresas, principalmente, as do ramo alimentício e de companhias de abastecimentos9; e, ocasionalmente, o Curso Preparação para o Primeiro Emprego, ofertado pela Fundação Florestan Fernandes,

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Considerando o percurso sugerido, maiores ou menores distâncias são possíveis dado outros percursos escolhidos. 6

O Centro Comunitário Gazuza, quatrocentos metros adiante6 ao Vinícius de Morais e após atravessada a fronteira entre o loteamento e o núcleo, fora construído em 1989 durante a ocupação e pelos ocupantes.



> centro comunitário gazuza, condição espacial interna

Esse espaço é reduzido a um pequeno salão de atividades, copa e sanitários feminino e masculino, apesar de ter faces para duas frentes, tem acesso apenas a Rua do Projeto. O objeto também reforça as privações espaciais próprias a vida privada, por portões e grades, assim, opostas a esfera da vida pública11, o que contribui para uma inexpressão e encobrimento de sua natureza. É preciso desvelar sua condição pública ao reinventá-lo e associá-lo às ações inventadas.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Dado da Fundação Florestan Fernandes. A Fundação Centro de Educação do Trabalhador Professor Florestan Fernandes é um órgão municipal fundacional com personalidade jurídica de direito público sem fins lucrativos, regida pelo seu Estatuto, Regimento Interno e Legislação aplicável. O foco da escola é o ensino de cursos profissionalizantes, com alunos selecionados através de processos seletivo e totalmente voltados à população do município de Diadema e foi fundada em 1996. Segundo esta, o Curso Preparação para o Primeiro Emprego, se dá de forma participativa a fim de desenvolver no jovem o autoconhecimento, seu senso crítico e reflexivo, priorizando uma formação humanizada visando o desenvolvimento do protagonismo juvenil. Atende jovens entre 15 e 20 anos que estejam cursando ao menos o 9º ano do ensino fundamental. 11 Sustentamos a ideia de oposição, baseados em Hannah Arendt, que em A Condição Humana, ao narrar sobre a esfera pública e privada, revela que “segundo o pensamento grego, a capacidade humana de organização política não apenas difere mas é diretamente oposta a essa associação natural cujo centro é constituído pela casa (oikia) e pela família. O surgimento da cidade-estado significava que o homem recebera, além de sua vida privada, uma espécie de segunda vida, o seu bios politikos. Agora cada cidadão, pertence a duas ordens de existência; e há uma grande diferença em sua vida entre aquilo que lhe é próprio (idion) e o que é comum (koinon). Não se tratava de mera opinião ou teoria de Aristóteles, mas de simples fato histórico: precedera a fundação da polis, a destruição de todas as unidades organizadas à base do parentesco, tais como a phratria e a phyle.” (ARENDT, H. A condição humana. 2001, p. 33-34) 10

que tem a finalidade de preparar os adolescentes para o mercado de trabalho10. Em outros tempos, o espaço sediava o Cine Gazuza, que reproduzia filmes populares para os moradores, além de abrigar muitas reuniões quanto à articulação das ações dos ocupantes.

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< centro comunitário gazuza, quanto objeto





< centro comunitário gazuza, estrutura da reinvenção

o espaço da organização, diálogo e educação Uma outra realidade possível só pode ser sensível as subsistências locais, como aprendemos, conjunta as ações inventadas. Descobrimos que a organização da organização necessita da combinação solidária de esforços e quefazeres dos sujeitos dadas pelo diálogo, que vem a ser o encontro destes mediatizados pelo mundo como testemunho da educação, isto é, ser e saber o que se é e o que se faz disso.

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> reinvenção, ilustração de uma outra realidade e ocupação possível

A primeira ação é possibilitar que esse objeto permita o diálogo entre a rua de uma face com a travessa da outra, suprimindo qualquer ideia de frente e fundo. Reinventado essas lajes em níveis que dialoguem umas com as outras, faz com que acreditemos que as ações assim também se deem. Essas lajes são ao mesmo tempo as varandas voltadas para a esfera da

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Apesar do quadro de encolhimento da esfera da vida pública em que se encontra esse objeto, há nesse contexto alguns elementos espaciais de inerente natureza pública: as escadarias (que são as ruas da maioria das casas do núcleo), as varandas que se voltam para as ruas e as lajes usufruídas como espaço comum das habitações, são os mais significativos deles. Combiná-los é o partido de nossa reinvenção.










vida pública: as ruas, travessas e escadarias; além de enquadrar as muitas casas vizinhas, as tendo como pano de fundo da ocupação desse espaço. A organização parece ser algo parecido com essas lajes, ações que ora se sobrepõem, mas, acima de tudo, estão orientadas umas às outras, mediatizadas pelo diálogo. A educação, o estar sendo, insinua ser como a essas escadas, que percorre, ao mesmo tempo em que permite o acesso e ligação, a diferentes e colaborativa ações. É claro que não é nossa intenção que o espaço seja a própria ação, e sim que ele a suporte e a ela se associe, mas, talvez seja no se expressar que ele a possibilita. Se prestarmos atenção, esse espaço reinventado apenas amplia e expande a inerência pública que encontramos na esfera da vida privada, como são as varandas. O reinvento se faz uma uma demonstração de como o público deve se por: olhar com amplitude para fora, para o outro, para os outros e, de mesma maneira, seja dia, seja noite, ser visto.


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REINVENÇÃO DO ESPAÇO

> creche e escola entre o núcleo e as indústrias




escola municipal sagrado coração de jesus, elemento intersticial

avenida fundibem, 670, travessa são sebastião do paraíso, 169 núcleo habitacional gazuza área 2.563,95 m2 construção 1990-1992, pela prefeitura municipal administração secretaria municipal de educação condição solitária localização


+ creche municipal professor rubem azevedo alves, elemento intersticial

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

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avenida fundibem, 609 - travessa são sebastião do paraíso, 113 núcleo habitacional gazuza área 2.239,00 m2 construção 2012-2018, pelo governo federal e prefeitura municipal administração secretaria municipal de educação condição solitária localização


A dupla Escola Sagrado Coração de Jesus e Creche Professor Rubem Azevedo Alves, cem metros adiante, ambas de administração municipal, é o único elemento/conjunto de esfera pública que se encontra ativo no território-síntese, por isso sua condição solitária. A Escola, construída entre 1990 e 1992 e que levava o nome Escola Estadual de Primeiro Grau (EEPG) Buraco do Gazuza12, está à serviço do ensino fundamental 1 (anos iniciais), isto é, 1º ao 5º ano, educando crianças entre 6 e 11 anos. A instituição tem capacidade para 360 alunos por turno dividindo seu funcionamento em dois deles, conta com 9 salas de aulas, sala de diretoria, professores e leitura, cozinha, refeitório, pátio coberto e muitas outras segmentações13. A Creche, construída entre 2012 e 2018, é fruto de recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com complementação de recursos municipais, mas problemas financeiros e administrativos levaram a interrupção da obra por anos. Recém-inaugurada ela está à serviço do ensino infantil, ou seja, atividades de berçário, maternal e mini-grupo, educando criança entre 6 meses e 4 anos. Possui capacidade para 190 crianças em período integral e conta com 38 ambientes construídos, dentre eles, 18 para uso de alunos e professores – salas de aula, quadra esportiva coberta,

Em junho de 1999, a lei estadual de nº 10.323, assinada por Mario Covas, passa a denominar “Sagrado Coração de Jesus” a escola que era denominada como Escola Estadual de Primeiro Grau Buraco do Gazuza, por considerar o nome e termo “buraco” pejorativo. A escola, posteriormente, passa de administração estadual para a municipal. 12

Dado do Censo Escolar 2018 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP). 13


fraldário, berçário, sala multiuso, solário, entre outros – e oito salas para serviço administrativos e de zeladoria. A creche ocupa antigo espaço livre e área esportiva da escola, bem como o insurgente eixo “corta-caminho” realizado por moradores para acessar a Avenida Fundibem.

Reinventar esse espaço deve estar orientado à conferir sua condição e esfera pública, associá-lo aos demais objetos e ações, e, fundamentalmente, libertá-lo.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

será do âmbito de nossa investigação e reinvenção as arquiteturas desses elementos, também não temos informações e elementos suficientes para avaliá-la, mas diante a sua implantação e composição externa, julgamo-las, grosseiramente, como arquiteturas alheias e encerradas em si.

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14 Não

Esses dois elementos estão implantados de maneira que pouco se relacionam com os contextos, tampouco entre si, já que altos muros e gradis os dividem e divide-os das ruas, travessas e casas que as avizinham, para não falar de suas arquiteturas14. Nos interessa os espaços intersticiais entre esses elementos, isto é, o espaço livre entre eles e o circundante, espaços estes que suscitam ser um potente suporte as ações em defesa da organização popular. Entretanto, é inevitável a relevância desse interstício como base da atividade que já ocorre nesse quadro, que é a educação infantil.



> reinvenção, ilustração de uma outra realidade e ocupação possível

o espaço da organização, reunião e libertação

Ao livrar esse conjunto dos muros que os limitam e desvendado esse espaço intersticial, a reinvenção age como um manifesto à libertação. Contudo, libertar-se não é apenas a subtração dos limites, é preciso adicionar sentido ao entre, ao vazio, possibilitar que se acessem, que se passem e que se fiquem, é preciso trazer os contextos para si e levar-se a eles. Um conjunto de escadas, planos, arquibancadas e eixos intencionam solidificar essa tarefa, dessa maneira, são interligados os objetos construídos, estes com as paralelas ruas e travessas. Não há como conter o protagonismo da calçada e do plano central que nasce com esse reinvento, nos levando a acreditar que esse suporte poderá protagonizar os sujeitos que ali se reunirem e se organizarem, prefigurando o que é se emancipar. A politicidade basilar que se é

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Uma outra realidade possível está inclinada a descobrir esses espaços e descobri-lo de todas as privações que o cerceia, as ações inventadas corroboram a essa intenção. Já nos é conhecido os esforços que instituem a organização, que precisa de que sujeitos e ações estejam em reunião para que, mediatizados por outras ações e objetos, se alcance a libertação, isto é, a emancipação.

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< creche e escola espaço intersticial, estrutura da reinvenção






certificada à Creche e Escola, a partir dessa outra realidade, não nos é alheia, essa talvez seja a maior contribuição do desenho, lembremos que “é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por excelência, aquele em que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no mundo fosse ou pudesse ser de uma maneira neutra”15. É curioso o caráter pacificador que a reinvenção desse espaço intersticial promove, nos parece que ele, as duas arquiteturas, as árvores e até os reservatórios foram desenhados em comunhão frente aos contextos, alcance próprio aos que se libertam.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 2018, p. 96. 15


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REINVENÇÃO DO ESPAÇO

> horta comunitária gauza entre a metade-ocupação e a metade-projeto




horta comunitária gazuza, elemento não edificado

rua do projeto, 262 rua da ocupação, 792 bairro/conjunto jardim alba área 2.220,00 m2 implantação 2015, pela prefeitura localização

municipal administração secretaria

municipal de segurança alimentar condição inativo


O terreno de 2.220,00 m2 e 23 metros de desnível é grafado com área verde no processo de parcelamento do Jardim Alba, no entanto, há processos para desafetação da área para construção de habitação de interesse social. A transformação do terreno em taludes para a implantação da horta comunitária não promoveu um acesso interno a ela, os acessos se dão por portões junto aos patamares de acesso as casas vizinhas, ao cerca-la com gradis fortaleceu a divisão entre a metade-ocupação e a metade-projeto. 18

A estrutura de funcionamento da horta oferecia os 40 canteiros implantados para famílias que manifestassem interesse, essas poderiam plantar para o consumo e o excedente deveria ser destinado à venda, supostamente gerando renda para a família. Essa ação parece avessa as práticas solidárias, a horta comunitária vendia o excedente para fins de lucro, enquanto no Centro Comunitário Gazuza, quinzenalmente tinha uma fila de pessoas para receber frutas, verduras e legumes arrecadadas por empresas “parceiras” da prefeitura. Para implantação da horta, a prefeitura transformou o perfil natural do terreno acentuado18 em taludes e alguns planos inclinados para instalar os canteiros, com diferentes acessos pela escadaria paralela, pouco relacionado com o próprio espaço e com os contextos.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Relato do Secretário de Segurança Alimentar, Eduardo Minas, no evento de inauguração da horta. Disponível em CASSIN, R. Diadema implanta Horta Comunitária no Jardim Gazuza. Diadema: Site oficial da Prefeitura de Diadema. Categoria: Notícias. 23 de fevereiro de 2015. <https://bit. ly/2PZ45UD> 17

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Dada as dificuldades de organização e gestão coletiva. 16

Caminhados quarenta e cinco metros, a Horta Comunitária Gazuza, mas que está localizada no Jardim Alba, faz a fronteira entre o núcleo e o bairro/conjunto. Implantada em 2015 pela Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e desativada poucos anos depois16, a horta tinha como finalidade a interação da comunidade aliada a boa alimentação, entretanto, a implantação prestava-se, fundamentalmente, como estratégia para ocupar o terreno que servia para depósitos irregulares de lixo e entulho, além de proliferação de insetos e roedores17.



> reinvenção, ilustração de uma outra realidade e ocupação possível

Uma outra realidade possível reacende as condições outrora atribuída a esse quadro e está orientada a combater as fronteiras. Vimos que a co-laboração diz respeito a cooperação entre os sujeitos, visando alcances coletivos por meio da companhia-trabalho e do trabalho-em-companhia, efeito da conscientização, que vem a ser o ato de reconhecer, reconhecer-se enquanto grupo e por isso potentes para as práticas em mutirão que, na qualidade de mobilização e materialização das ações, se é práxis. O processo coletivo de produção de alimento, em especial a agricultura familiar19, são práticas que promovem essas ações inventadas e muitas outras mais, temos apenas de reinventá-lo. No caso desse objeto, reinventemos os planos e níveis de forma que correspondam aos patamares de acessos de algumas das casas vizinhas, planos verticais como contenção são necessários para a amplitude dos horizontais, entretanto, eles não se opõem: horizontalidade, verticalidade e inclinação são partidárias pelo desenho em gradação. Escadas enquanto eixo (também ora vertical, ora horizontal) faz com que, dentre essa outra realidade possível, as práticas estejam interli-

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Vide as práticas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que dentre uma de suas contribuições para a sociedade, produzem alimentos saudáveis fruto da organização de cooperativas, associações e agroindústrias nos assentamentos, desenvolvendo a cooperação agrícola como um ato concreto de ajuda mútua que fortalece a solidariedade e potencializa as condições de produção das famílias assentadas, e que também corrobora para a renda e as condições do trabalho no campo. 19

o espaço da co-laboração, conscientização e mutirão

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< horta comunitária gazuza, estrutura da reinvenção






gadas, una, assim como as ações. Enfrentando as fronteiras, outras escadas se voltam para o Jardim Alba, que juntas a todos os outros elementos, desfazem os limites. Agora é possível que se partem da metade-ocupação, perpassando pelo trabalho-em-companhia até que se cheguem na metade-projeto e também o oposto. Com essa reinvenção, a conscientização torna-se expressa nesse espaço quando em ação, isso porquê o escancaro da esfera pública que ele agora alcança, expõe as ações a uma outra amplitude, não esqueçamos de que “toda atividade realizada em público pode atingir uma excelência jamais igualada na intimidade”20, assim convencendo os vizinhos de que o esforço coletivo é frutífero, conscientizando-os. O caráter de que a esfera pública composta por esse espaço sirva como extensão, o quintal, da esfera privada, de qual são as casas vizinhas, não o desvaloriza, pelo contrário, assim como os outros objetos reinventados, a cotidianiza, estabelecendo relações pacificadoras entre as esferas, ainda que sustente e defenda sua preeminência pública.

ARENDT, H. A condição humana. 2001, p. 58. 20


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REINVENÇÃO DO ESPAÇO

> centro comunitário jardim alba em meio ao bairro/conjunto




centro comunitário jardim alba, elemento edificado

rua alfredo j. magalhães x rua jadeildo p. da silva bairro/conjunto jardim alba área 180,33 m2 construção 1990, pelos mutirantes administração associação de moradores do jardim alba/ presidente gilton andrade pujina condição inativo localização


A reinvenção se funda sensível aos processos históricos na tentativa de se contrapor ao quadro atual.

> centro comunitário jardim alba, quanto objeto

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O antigo barracão tem sua configuração espacial interna segregada em salas com acessos permitidos por portas voltadas para a calçada, calçada esta de dimensões incomuns, tratando-se do território-síntese, com cerca de 5 metros de largura essa esfera da vida pública é frequentemente ocupada por veículos dos vizinhos. A esquina gramada junto ao Centro, outro elemento potente dessa esfera, tornou-se ponto viciado de descarte de lixo. Também nos é curioso, que a espacialidade do objeto preserva uma horizontalidade jamais vista nesse contexto.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

Percorridos mais quatrocentos metros, o Centro Comunitário Jardim Alba encerra o nosso percurso, ao passo que possibilita a invenção de muitos outros. Construído em 1990 pelos sujeitos-mutirantes, o objeto fora o barracão da primeira obra de construção de habitações verticais em processo de autogestão do país. No presente, é administrado pela Associação dos Moradores do Jardim Alba e suas atividades são desconhecidas, o que o torna o Centro mais inativo entre os três.




>

centro comunitário jardim alba, condição espacial interna



>

centro comunitário jardim alba, condição espacial interna




perdoada a pretensão.

> reinvenção, ilustração de uma outra realidade e ocupação possível

Uma outra realidade possível dispõe-se a descortinar esse espaço para que as ações inventadas lhe assumam. Nos é conhecido que a síntese cultural concerne no reconhecimento e encorajamento de qual cultura consiste e orienta a organização dos sujeitos, decorrente de um cenário, aonde possíveis as escolhas, há a tomada de decisões para tal, capaz de conferir à organização a autonomia de conceber, orientar e gerir suas inventivas ações, como práxis da autogestão. Reinventemos esse objeto como uma tomada de consciência sobre ele. A essência espacial do antigo barracão de obras, plano e cobertura, e, sobretudo, essa exímia horizontalidade, própria de como devem, nessa outra realidade possível, se dar a autogestão, a tomada de decisões e a síntese cultural, ações fundamentalmente horizontais, faz com que retornemos às coisas mesmas, uma vez conhecido os processos históricos, ações e objeto em reinvenção. Um ato fenomenológico21. Uma insensível verticalização desse elemento implicaria em furtar das casas vizinhas o olhar para a esfera pública permitidas por suas janelas. É preciso apenas descobri-lo das privações e segregações, conferindo a esfera da vida pública da

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

21 Se

o espaço da síntese cultural, tomada de decisões e autogestão

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< centro comunitário jardim alba estrutura da reinvenção










qual é parte: acessos, planos e nível, se dedicam a essa função. A partir desse ato, acreditamos se tornar claro que a prática da reinvenção do espaço em todo o seu decorrer esteve à serviço de os revelar, ora usando de mais, ora de menos, imaginação, para além de defender que esses elementos possam realmente assim ser. Anunciar as reinvenções como uma outra realidade possível tem a intenção de conscientizar que: se essa é uma realidade possível, certamente muitas outras também o são.


espaço-ação Esses espaços assim não podem mais ser entendidos também porque não são mais programados, isto é, não foram reinventados a partir e/ou mantendo um programa de necessidades, imposição primária aos

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Ao fim do percurso, outra descoberta possível é que, a partir da invenção do sistema de ações e da reinvenção do sistema de objetos, muitas são as dissoluções. Chegado até aqui, percebemos que não se existem mais o centro comunitário do loteamento Vinícius de Morais, o do núcleo Gazuza e o do bairro/conjunto Jardim Alba, tampouco a ideia de “centralização comunitária”, não existem mais a horta comunitária do Gazuza e o espaço livre da Creche e Escola. Isso não quer dizer que com nossa reinvenção esses objetos não são mais próprios ao território-síntese, muito pelo contrário, a partir do desenho, esses só podem ser entendidos enquanto elementos indissociáveis, solidários e, por vezes, contraditórios, tanto em relação a si, quanto ao quadro em que se encontram. A associação dos objetos com o percurso (ora movimento), que transversal aos três assentamentos, os “desterritorializam”, uma vez que essa ligação faz com que eles, dada as ações, estejam onipresentes tanto no loteamento, no núcleo e no bairro.

REINVENÇÃO DO ESPAÇO

uma outra realidade possível


projetos arquitetônicos, “historicamente pensado a partir de uma perspectiva racional-utilitarista o programa, em arquitetura, sempre esteve associado a uma noção de idealidade temática. O que seria o mais apropriado, adequado, em termos de usos e atividades para determinado tema? [...] Há, no processo de definição programática, na maioria dos casos, uma utilização acrítica daquilo que permanece na histórica como o mais apropriado, o específico de cada tema, um raciocínio baseado no pertencimento”22. O uso desses espaços reinventados é desconhecido, sobretudo, para nós, e isso de certa forma nos alegra. Nos inclinamos a pensar o espaço enquanto suporte inerente à ação, portanto, espaço-ação. Com isso, essa experiência revela que a arquitetura é capaz de pôr-se em função “da ação, da manifestação concreta no espaço por parte do sujeito, e que pode ser criadora, inventiva, de engajamento livre e, por isso mesmo, paradoxal quanto à sua relação com o sujeito. Ao mesmo tempo que pode se constituir como um espaço à margem das ‘necessidades reais’ do usuário, de resposta adequada às expectativas e anseios momentâneos, devota do ‘bem-estar’, também pode se constituir como um espaço muito fértil às subjetividades do sujeito/usuário”23. Reside aí parte da nossa contribuição acerca da relação política entre sujeito e espaço.

GUATELLI, I. Arquitetura dos entre-lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. 2001. p. 74. 22

23 Ibid.,

p. 124.


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REINVENÇÃO DO ESPAÇO


9


enfrentamento


questões de ordem Em todo o processo, tanto do primeiro quanto do segundo movimento, defrontamos, confrontamos e enfrentamos diferentes questões a respeito das nossas descobertas, defesas e proposições, algumas delas mais esclarecidas outras não, algumas que nos são conhecidas, outras, futuras, que ainda estão a se desvelar, talvez por nós, talvez por outros, talvez juntos. Tentemos, na condição de encerramento de um processo que não quer se findar, clarificar e rever poucas dessas que nos foram mais sensíveis e que nos permitem ter algo a dizer. Dada a natureza desses dois movimentos, enfrentamos as limitações acerca do conhecimento da arquitetura e do urbanismo, já nos é possível entendê-lo e praticá-lo como leitura crítica do mundo. Nas palavras de Paulo Freire, “a leitura crítica do mundo é um quefazer pedagógico-político indicotomizável do quefazer político-pedagógico, isto é, da ação política que envolve a organização dos grupos e das classes populares para intervir na reinvenção da sociedade”1. Nesse sentido, a compreensão teórica e espacial do território, de suas relações, de seus processos históricos, de sua morfologia, para a invenção da ação e a reinvenção do espaço, competências essas que nos foram apreendidas, apesar de muitas

FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 2016, p. 47. 1


as limitações2, a partir do ensino da arquitetura e do urbanismo, conformando o nosso movimento e desenho, certificam sua criticidade, politicidade e capacidade de encarar ao mundo e, assim, transformá-lo.

Ainda acerca da arquitetura e do urbanismo, mais duas confrontações nos foram claras, sobretudo quanto a reinvenção do espaço. A primeira delas é a superação da ação intervencionista e “equipamentista” frente ao território de nossas investigações, isso porque são comuns às práticas arquitetônicas e urbanísticas quando à serviço de territórios periféricos e autoproduzidos, como são as favelas e os núcleos, promoverem e sobreporem grandes intervenções urbanas e/ou se reduzir a implantar equipamentos públicos, muitas vezes alheios aos processos que ali ocorrem, na tentativa de solucionar proble-

ENFRENTAMENTOS

Nesse seguimento, um enfrentamento inerente em nosso processo, mas pouco perceptível, é quanto o que é contemporaneidade em arquitetura e urbanismo. Frequentemente associada a forma, aos materiais, as tecnologias, para não dizer dos estrangeirismos como os starchitects, o parametric design e as tais urban solutions, nosso movimento questiona se não seria fundamental se essa contemporaneidade estivesse atenta, atrelada e entregue ao quadro político em que nos encontramos. Como descobrimos, são tempos de organização...

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Como, por exemplo, as limitações da ação coletiva nesse trabalho final de graduação, fragilmente enfrentadas. 2


mas e ordenar os contextos. Nos é claro que para cada caso há suas especificidades e de que as precariedades e ausências devem sim ser suprimidas, seríamos reacionários caso fossemos contra a qualificação de territórios como esses, nossa defesa é de como e a partir de quem elas devem se dar, como testemunharemos mais à frente. No caso do território-síntese, também prezando pelo seu desenvolvimento, sobretudo quanto a sua emancipação e alargamento da esfera pública, a arquitetura só pôde se dar sensível às subsistências que ali existem. O que nos leva a segunda confrontação, que fora o enfrentamento sobre a ideia de programa como exigência primária do projeto de arquitetura. É necessário esclarecer que não negamos esse paradigma, mas sim o problematizamos, ao defender que é se tomando consciência das ações que o objeto suporta ou pode vir a suportar, que será possível compreendermos, inventarmos ou reinventarmos qualquer espaço. Enfrentamos também a neutralização que envolve o discurso sobre o espaço público. Proclamado como o lugar de todos, do comum, de encontro, do convívio3, etc., e assim mesmo é, há nessas definições uma neutralidade contrária à sua natureza e potência. Por todo o processo, principalmente em nossas invenções e reinvenções, reforçamos a condição política! do espaço público: é nele em que os sujei-

A depender da coerência de quem proclama, certamente. 3


ARENDT, H. A condição humana. 2001, p. 59. 5

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Acho que já nos foi compreendido que a esfera da vida pública diz respeito tanto as ações quanto aos espaços, sobretudo, quanto a politicidade desse conjunto. 4

Pode não parecer, mas a esfera da vida privada não nos foi um enfrentamento, pelo contrário, aprendemos muito com ela, nossas invenções e reinvenções jamais intencionaram a lhe sobrepor, tampouco, a eliminar. Nossa defesa sempre se orientou pelo alargamento (contrário ao seu avançado encolhimento), aprimoramento e consolidação da esfera da vida pública4,o que foi expresso em nossos desenhos. Descobrimos, principalmente no primeiro movimento, o quanto a organização popular contribui para a manutenção dessa esfera, a partir daí ela incorporou a nossas defesas. Com isso, compreendemos que “nenhuma atividade pode tonar-se excelente se o mundo não proporciona espaço para o seu exercício. Nem a educação nem a engenhosidade nem o talento pode substituir os elementos constitutivos da esfera pública, que fazem dela o local adequado para a excelência humana”5. Desvelava-se aí nossa contribuição, na condição de arquiteto-sujeito e leitores críticos do mundo: reinventar o espaço que coerentemente proporcione as ações da organização popular.

ENFRENTAMENTOS

tos se relacionam, se organizam, se coletivizam, se reconhecem, se opõem, se expõem, se manifestam, se articulam, gritam, brigam, julgam, xingam, ofendem, trocam, roubam, devolvem, se sentem seguros, se sentem inseguros, fazem parte de todos ou são apenas mais um. Há alguma neutralidade nisso?


Tomada a consciência sobre o território-síntese e sobre o conjunto de objetos, percebemos que a reinvenção desses espaços, tinha em mãos, dentre muitas outras, uma responsabilidade bilateral: ser uma outra realidade possível para a organização popular, mas também para o cotidiano. Não queremos com isso dizer que a organização popular não seja cotidiana, mas sim que esses elementos deveriam firmar-se pertencentes aos contextos em que se encontram6. Por esse motivo, que acreditamos que o desenho desses objetos se deu como ato de revelá-los, todas as razões para a reinvenção residem no espaço de seus contextos7 e a imaginação se sustenta nas ações inventadas. Com isso, nos é oportuno se antecipar e defender-se de duas possíveis e polarizadas acusações, acima de tudo, expor nossa ciência quanto a elas. A primeira, que pode dizer sobre uma possível romantização das favelas, acreditando sermos alheios as questões socioeconômicas, as precariedades habitacionais e infraestruturais, os conflitos e as justificativas históricas, apenas por não as evidenciar a todo momento e não nos inclinarmos a “solucioná-las”8. A segunda, que pode dizer sobre uma indevida e ilegítima apropriação cultural dos processos – principalmente quanto aos da autoconstrução – como fundamento de nosso desenho apenas para tentar imprimi-lo como mais adequado, isto é,

Para fins de curiosidade, enquanto representação, os desenhos preenchidos em vermelho simbolizam o espaço de organização, tirado o preenchimento desvenda-se o espaço cotidiano em meio ao contexto. 6

Ainda que partilhamos do questionamento posto por Igor Guatelli em Arquitetura dos Entre-Lugares: “Afinal, o que seria contextualizar? Um ajustamento ao existente? De que existente estaríamos falando? O ajustamento em relação à paisagem física seria a garantia de uma contextualização adequada ao presente vivo? Apenas como reflexão, para Derrida seria impossível sermos fiéis ao contexto porque, ao falarmos de um contexto que está além de nós, ou tentarmos interpretá-lo, não estaríamos mais falando desse contexto tal como ele é, ou foi. Qualquer fala ou tentativa de interpretação de um contexto já seria um suplemento a esse contexto.” (GUATELLI, I. Arquitetura dos Entre-Lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. 2001. p. 82). 7

Como se esse quadro não fosse tão comum a muitos outros contextos. 8


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Os preconceitos e estigmas acerca das favelas e periferias é um outro enfrentamento em nosso movimento, usando-se do território-síntese, os superamos ao ressaltar a resistência de seus processos históricos, as conquistas coletivas, as potências de suas realidades e ao destacar a beleza de seus contextos, não fora à toa a construção das narrativas e as representações exploradas. Este é mais um dos aprendizados a compartilhar, “se em lugar de nos preocuparmos em ‘avaliar’ do ponto de vista

ENFRENTAMENTOS

como dominação. A resposta para essas duas possíveis recriminações, excluídas as pessoalidades, está na sensibilidade e solidariedade ao quadro de nossas investigações e, uma vez que leitores críticos do mundo, na consciência de nossa contribuição. O ato de “aprender a aprender” corrobora a essa justificativa, inclinados à investigação nos dois movimentos, é imensurável o aprendizado quanto aos processos, sabemos apenas o “porquê aprender” expressos em nossa reinvenção. Ela materializa nossa resposta porque ilustra uma outra realidade possível aonde são os sujeitos desse território os protagonistas de seus contextos percorrendo espaços que lhe são próprios e praticando ações que os fazem conscientizar-se de seus problemas, de suas potências, e sobretudo, que lhes emancipam. É sobre esta realidade que queremos dizer.


político ou estético, os feitos dados imediatamente à nossa observação, atentarmos para o fazer que lhes é subjacente, talvez compreendamos que essa é parte de um luta constante, muitas vezes explícita, pela constituição da identidade social, num processo que é dinâmico e que passa pelas artes, assim como pelas outras esferas da vida social. [...] Esse é o sentido mais profundo da cultura, ‘popular’ ou outra”9. Por tudo isso, revelamos que determinante, entre todos esses enfrentamentos, é a superação das fragilidades quanto ao direito à cidade. Frequentemente definido como direito de acessá-la, de morar ou trabalhar nela, “o direito à cidade não pode ser concebido como um simples direito de visita ou de retorno às cidades tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada, renovada”10. Nosso desenho de uma outra realidade possível corrobora para que o direito à cidade seja compreendido enquanto direito de construí-la, consisti-la, decidi-la, defini-la e orientá-la pelas ações e participação dos sujeitos. Para além disso têm-se as pretensões, uma delas é a tentativa de instrumentalização das teorias, talvez não tão bem-sucedida. A invenção da ação, em meio a muita imaginação, esforçou-se para articular a teoria freireana, em

ARANTES, A. O que é cultura popular. 1981. p. 78. 9

LEFEBVRE, H. O direito à cidade. 2008, p. 118. Lefebvre ainda continua afirmando que “só a classe operária pode se tornar o agente, o portador ou o suporte social dessa realização”. 10


ENFRENTAMENTOS

Michel Foucault (1926-1984) foi um filósofo francês contemporâneo que se dedicou à reflexão entre poder e conhecimento. Estudou vários problemas sociais. Dentre eles, o sistema penitenciário, a instituição escolar, a psiquiatria e a psicanálise praticadas de forma tradicional e a sexualidade. É autor de livros como História da Loucura (1961), A Arqueologia do Saber (1969) e Vigiar e Punir (1975). 12

Finalmente, na pretensão de ocupar a fronteira entre o utópico e o real, nos deparamos com Michael Foucault12 que, dentre muitos, já residia ali e intitulava essas terras como hetorotopias. Segundo ele, a utopia não tem “lugar real. São as alocações que mantêm com o espaço real da sociedade uma relação geral de analogia direta ou invertida. É a própria sociedade

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SANTOS, M. A natureza do espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2006. p. 39. 11

suas diversas medidas, como demonstração de que a libertação é possível. E a reinvenção do espaço, bem como em todos os dois movimentos, sacralizou a teoria miltoniana, nos cabe uma última pregação: “o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. [...] Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma”11. O desenho dos cinco objetos, a invenção das quinze ações, a consciência dos diversos percursos e a escolha de um, a relação com os contextos e, sobretudo, a dimensão acerca dessa outra realidade possível intenta testemunhar a lucidez de Milton Santos.


aperfeiçoada, ou é o inverso da sociedade; mas, de toda forma, essas utopias são espaços fundamentalmente, essencialmente, irreais”13. Em sua oposição, essa tal heterotopia diz respeito aos “lugares reais, lugares efetivos, lugares que são desenhados na própria instituição da sociedade e que são espécies de contra-alocações, espécies de utopias efetivamente realizadas, nas quais as alocações reais, todas as outras alocações reais que podem ser encontradas no interior da cultura, são simultaneamente representadas, contestadas e invertidas; espécies de lugares que estão fora de todos os lugares, embora sejam efetivamente localizáveis”14. Reconhecemos nossas reinvenções então como: heterotópicas, isto é, outra-utopia! Em nosso movimento, enfrentar cara a cara esses espaços-reais dotou de verdade todas às vezes que proclamávamos “uma outra realidade possível” – ainda que os defensores do copo-meio-vazio atestem que as ações inventadas são impossíveis de se darem – porque, e essa parece ser uma outra e óbvia relação política entre sujeito e espaço pouco dita, está no espaço (como tal ou reinventado) o poder de nos fazer existir.

FOCAULT, M. De espaços outros. Estudos Avançados, 27(79). 2013, p. 116. 13

14 Ibidem.


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ENFRENTAMENTOS


epílogo

_ tempos de reinvenção Penso que, reinventado tudo o que tinha nas mãos, na cabeça e no coração como prática de organização, como exercício da arquitetura e do urbanismo e como tentativa infinda de se formar arquiteto, reduzido as imaginações das páginas anteriores, é possível gritar aos quatro cantos: “ei! os desenhos podem, devem, ser mais populares mais empáticos, mais sensíveis!”, “e cara, temos muito que aprender a aprender e aprender porquê aprender”, “olha, sinto dizer, mas nós arquitetos somos coadjuvantes, talvez até figurantes, em todos os cenários, protagonista é o uso dos nossos saberes frente a realidade”, “mas veja bem, outra realidade é possível!”.* Reinventar parece ser isso, como eu ressignifico junto ao que sei, ao que acho que sei, ao que não sei, ao que me disseram, ao que sou, ao que estou sendo e ao que quero ser. Não sei... Entretanto, me lanço a esse instigante desafio, de me reinventar a partir de tudo que foi reinventado, escrito e desenhado aqui. Essa insinua ser a continuidade de minha formação, minha realidade possível. O que farei (e se farei) de

* Que fique expressa minha tentativa falha de ser tão bem-humorado como os que me cercam.


tudo isso daqui a uma semana, um ano, uma década ou uma vida? O que você que se sensibiliza e partidariza com essas defesas, fará? O que faremos juntos? Não sei, mas sei que provavelmente serão tempos de reinvenção.

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referências bibliográficas

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SANTOS, Joana Darc. Lutas por moradia na cidade de Diadema (1983-1996): cooptação política e acomodação de conflitos do capital (Dissertação de Mestrado). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LEFEBREVE, Henri. O Direito à Cidade. 5 ed. São Paulo: Centauro, 2008.




uma outra realidade possível aonde são os sujeitos desse território os protagonistas de seus contextos percorrendo espaços que lhe são próprios e praticando ações que os fazem conscientizar-se de seus problemas, de suas potências, e sobretudo, que lhes emancipam. é sobre esta realidade que queremos dizer.


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