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AÇAILÂNDIA, 41 ANOS

PACIÊNCIA TAMBÉM TEM LIMITE ---- Da vida de Josimo, só sua morte foi nossa.

Domingo, 10 de maio de 2022. A morte do padre Josimo Tavares Morais completa 36 anos. Josimo não era de Imperatriz. Sua paróquia e sua igreja também não. Territorialmente, sua luta e sua causa não incluía nosso município. Seu assassino não era daqui. Os mandantes, também não. Da vida de Josimo, só sua morte foi nossa. E foi isso que ficou e (re)marcou a cidade de Imperatriz, fundada por um religioso e manchada por criminosos. Cidade que se iniciou sagrada e que continua sangrada -- sangrada ainda por alguns e (in)certos malandros com ou sem revólver, com ou sem Poder, com ou sem dinheiro. Bandidos e malandros que se vestem de roupas escuras ou com colarinhos brancos. * * *

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Puxando pela memória, eu me lembro razoavelmente daquele 10 de maio de 1986. Era um sábado. Eu me levantara lá pelas cinco horas da manhã e tinha ido ao vizinho município de João Lisboa, onde lançamos um programa de crédito agrícola para pequenos produtores rurais (“Programa São Vicente”). Éramos o gerente do Banco do Nordeste e eu, explicando a “coisa” a esperançosos agricultores joão-lisboenses. Quando voltei, fui direto para o chamado salão nobre do clube Juçara, no bairro do mesmo nome, ligado ao centro de Imperatriz. Eu colaborava com o "Jornal de Imperatriz", publicação que eu ajudara a criar junto com seu proprietário, o Zé Maria Quariguasi (Gráfica Líder). Era o primeiro jornal diário da cidade impresso em sistema "off-set". Naqueles dias eu também substituía o jornalista Jurivê de Macedo (falecido em 17/05/2010), que viajara para o Goiás (hoje Tocantins) em nova visita a familiares. (Parênteses: Sabe do que tratava a manchete da edição número 1 do "Jornal de Imperatriz"? Ela mesma, a violência: “VIOLÊNCIA PREOCUPA SARNEY”, dizia a manchete de letras brancas sobre tarja preta, dia 1º de dezembro de 1985, um domingo). Fui entrando no salão do Juçara Clube e fui logo assuntando e anotando: era a criação de uma “filial” imperatrizense da falada UDR (União Democrática Ruralista). Houve doações e leilões de gado e outros animais. (Não sei como, mas um manuscrito da ata ou de anotações para ela consta dos meus arquivos de tudo). Eu estava acompanhando o frenesi da reunião, para preparar a coluna de página inteira e outras matérias do jornal, quando o repórter Carlos Henrique Gaby Rocha, aí perto de 1 hora da tarde, me avisou que desconhecidos tinham acabado de dar uns tiros em um padre. Pois bem: saí do Juçara Clube e fui para o local do crime -- a escada (veja a foto) que levava aos altos do prédio onde localizavam-se escritórios de advogados e de entidades religiosas, além das instalações da Rádio Imperatriz, ali, na avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, esquina com a rua Godofredo Viana. É claro que, àquela altura, o corpo já tinha sido levado para um hospital, na tentativa de ver o que podiam fazer pelo padre paraense de 33 anos, nascido em Marabá. A partir desse dia e nos dias seguintes, o Coriolano (Coló) Filho, que ficara na edição do jornal, e eu virávamos noites na redação do "Jornal de Imperatriz", colhendo as informações mais recentes e consistentes e dando assistência a um mundo de jornalistas de todo canto do país que nos procuravam para alguma ajuda, inclusive na questão de laboratório fotográfico para revelação.

As manchetes daquelas edições diárias de maio de 1986 diziam muito do clima reinante. E foi nesse mesmo clima, poucos dias após o atentado fatal ao padre que viera do outro lado do rio, que escrevi o artigo “PACIÊNCIA TAMBÉM TEM LIMITE”, reproduzido abaixo. Infelizmente para a nossa cidade, muita coisa do artigo ainda continua tristemente atual. (O artigo foi publicado originalmente no "Jornal de Imperatriz", edição de 14 de maio de 1986). Anos depois, como diretor da sucursal do jornal "O Imparcial", dos Diários Associados, entrei pela madrugada cobrindo o julgamento e noticiando a sentença que o juiz Raimundo Licyano de Carvalho (falecido em 23/04/2018) proferira, condenando o pistoleiro Geraldo à prisão. O caso nunca foi de todo resolvido.

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