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NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO

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FERNANDO BRAGA

FERNANDO BRAGA

"As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.

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TÉCNICA E VIRTUOSISMO

Presta atenção: tu cuidas que, sem tecnicidade aprimorada, é possível obter índices magnificentes de criatividade e expressividade?! Imaginas que o aperfeiçoamento de qualquer aptidão, capacidade e habilidade se alcança sem necessidade de treinamento intenso, longo e sistemático?! Em que árvore foste colher semelhantes parvoíces? Aprendeste-as ou alguém te ensinou tais asnices? Dãote jeito para justificar a atitude de indolência, não é verdade?! Tira-as da cabeça e deixa de as proclamar. A inspiração não é dom espontâneo ou gratuito, nem cai do céu como a chuva; é um fruto que nasce, cresce e amadurece na terra lavrada pela persistência da ação e regada pela abundância da transpiração. PS: Em louvor da ginasta Filipa Martins e da sua equipa técnica.

CIVILIZAÇÃO: CONTROLO DA BARBÁRIE, FEALDADE E INJUSTIÇA

O Código de Hamurábi (rei babilónico, 1810-1750 a.C.), escrito provavelmente em 1772 a. C., é o mais antigo documento legislativo e civilizacional que se conhece. Trata-se de um monumento monolítico, talhado na pedra; contém 282 leis formuladas em escrita cuneiforme ao longo de 3 600 linhas. Firmado no Princípio do Talião (‘olho por olho, dente por dente’), determina que a pena seja proporcional à ofensa. O seu propósito era o de “proteger os mais fracos dos mais fortes.” Continua atualíssimo! O esforço de controlar a barbárie, a fealdade e injustiça não tem fim.

ENTARDECER…

Passas por mim, jovem altivo, como se estivesses montado no cavalo da vida sem idade. Nem sequer me olhas; não pertenço ao teu mundo. Bem o sei e sinto, ando curvado; carrego o peso dos anos, dos conhecimentos, das experiências, alegrias e tristezas, das ilusões e dos desenganos, dos desafios assumidos, dos sonhos cumpridos e dos ideais por realizar. Mas não sou velho. Velha é a Terra que nos alimenta e a Lua que ilumina a noite, velho é o Sol que nos aquece e o Mar que nos embala, velha é a Humanidade que nos acolhe e a Sabedoria que nos alenta. Cheguei ao entardecer; também cá chegarás, se não viveres no crepúsculo e levantares voo sempre que anoitece.

REPRESENTÓRIO TRÁGICO

O país tem dois milhões de pobres. Acrescem centenas de milhar de jovens em situações de exclusão e precariedade laboral que não lhes permitem constituir família, ser fatores de regeneração social e garantes do futuro da Nação. Haverá urgência mais merecedora de atenção e esforços coerentes para a enfrentar? A política é a arte do possível. Será impossível eliminar aquelas chagas que envergonham o presente e hipotecam o porvir? Não é! Se as forças partidárias não têm sensibilidade civilizacional, humana e patriótica para combater tamanha obscenidade, sem manobras e palavras ardilosas, destinadas a manter e até reforçar o escabroso panorama vigente, então de nada servem para os cidadãos decentes. Precisamos de outras, de renovar o sentido da ‘democracia’ e as regras do jogo da representatividade. O que está em cena é trágico; fere a essência da Constituição da República.

JOGAR À POLÍTICA E ÀS NOSSAS VIDAS

Outrora a corte morava nos Paços da Ribeira. O monarca atual mora no Palácio Nacional de Belém e ostenta a patusca designação de Presidente da República. Foram os órgãos mediáticos e os jornalistas que o propuseram aos eleitores; estes elegeram-no. É na capital que se urdem os jogos de poder. Os vencedores são os herdeiros das velhas oligarquias e os membros das novas. O povão fica de fora; contenta-se em bater palmas às onzenas, figurar nas selfies e ser iludido por palavras não traduzidas em atos políticos. As vítimas da pobreza e precariedade devem esperar sentadas, porque dali não vem o milagre esperado. Tirem a venda dos olhos; verão que o rei vai nu! Quem

ÉTICA DAS CONVICÇÕES E ÉTICA DA RESPONSABILIDADE

A primeira dita os fins que me comprometo a servir e tentar realizar. A segunda aponta os passos que devo dar para lá chegar; e os que não posso dar, sob pena de inverter o sentido da marcha e trair a meta para onde quero caminhar. As duas éticas não são opostas, mas complementares. Quem, em nome da primeira, vira as costas ao possível e abre a porta ao que considera péssimo, falta à responsabilidade e ateia o fogo onde as convicções se vão queimar. Prejudica assim os que nele confiam e cava a sua ruína. Eis, a meu ver, o que fizeram o BE e o PCP na votação do Orçamento de Estado. Votaram no inseticida e estenderam a passadeira vermelha para o rececionar. Estarei enganado? É só esperar para tirar a prova dos nove.

DOS VIVOS E DOS MORTOS

Celebro os mortos que vivem e florescem na nossa recordaçação. Metem dó muitos sujeitos que cuidam estar vivos; e não estão, não! Canto os que têm a coragem de se erguer, para dar asas e voz à indignação. Pintam o céu na terra, e o sol no rosto e nos olhos com as tintas da exclamação. Reclamam a Paz e o Pão, semeiam no vento trovas de alteridade e fraternidade com palavras que rasgam a escuridão. Mas há tanta gente que prefere andar açaimada e curvada, com a vista sempre voltada para o chão! Morre um pouco todos os dias, sem dar conta, esmagada pela comiseração. É da sua cobardia que se alimentam os energúmenos e a opressão.

DOS MEUS FRACASSOS

Quando examino o caminho andado, vejo muitos fracassos. Sim, fracassei muitas vezes! Alguns deixaram mágoa e sentimento de culpa. A lembrança de outros e das posições assumidas tranquiliza a consciência. Todos eles estão vivos em mim. No último terço da carreira académica acumulei uma série de insucessos. Perdi várias batalhas. Contra o RJIES-Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior. Contra o SIADAP-Sistema Integrado de Avaliação do Desempenho na Administração Pública. Contra a passagem da Universidade do Porto a Fundação. Contra o garrote orçamental aplicado ao ensino superior. Contra o roubo do direito de a comunidade universitária eleger o Reitor. Contra a entrega dessa escolha a um Conselho Geral, de portas abertas a interesses alheios à missão da instituição. Contra a aplicação dos rankings às escolas e universidades, e contra a demência das métricas e da ‘papermania’. Enfim, fracassei na luta contra a captura e perversão da educação e formação por uma ideologia que vem empurrando o mundo para o abismo. Obviamente, lamento estes desaires, mas detestaria estar com quem me venceu.

SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER!

Os jornalistas e comentadores não apenas gostam de traçar cenários políticos; também exigem que os seus desígnios sejam seguidos pelos atores da política, tanto do governo como da oposição. Ora, é ostensivo o alinhamento da corte jornalística (e presidencial!) contra Rui Rio, visando destruí-lo. Qual a razão para esta ofensiva encarniçada? A resposta é muito simples: o político portuense não frequenta os salões mediáticos, nem vai ao beija-mão. Acresce que não é suficientemente devoto do neoliberalismo e da troika. Para os ‘cortesãos’ e lobistas Paulo Rangel é a sopa no mel!

PEDIDO

Precisamos tanto de gente viva e vibrante! Somente ela pode acender a chama daquilo que se encontra apagado em nós: o apego à beleza, à verdade e integridade, à coragem de as afirmar e exigir. Não peço aos cantores e poetas que ponham cartazes ideológicos na testa. Peço apenas que cantem e digam as ‘coisas’ que as coisas não têm. E mostrem o brilho e a felicidade que elas irradiam. Talvez consigam, assim, contagiar os que apodrecem na fealdade e indecência e os que se afundam na cumplicidade da omissão e do silêncio, Somos mortais e passageiros; logo, interessa-nos a aproximação ao belo, ao bom e justo, enquanto estamos vivos. Quando partirmos, do resto não sobra nada, a não ser má fama e reprovação.

POR LINHAS TORTAS?!

O ditado está redondamente equivocado. Por linhas tortas é impossível escrever direito, porquanto os fins não purificam e salvam os meios. Duvidas disto? A tortuosidade das linhas do nosso tempo oferece sinais claros dos caminhos ínvios, onde o mundo se meteu, e do destino aonde eles nos levam. Para o abismo.

DA CORRUPÇÃO E DA INGENUIDADE

A corrupção reveste diversas formas. A material é condenável; a moral é desprezível. Também há vários tipos de corruptos. Os piores são os que se beneficiam com a injustiça cometida contra alguém. Alarga-se, assim, o império da putrefação. Para tanto contribui a ingenuidade. Esta, sendo na medida justa, como a das crianças cheias de perguntas inocentes, conserva em nós a candura e a simplicidade, propensas a descortinar o bem, e inibidoras de ver o mal naquilo que o não contém. Mas, quando é acrítica e dogmática, leva-nos a fechar os olhos e a razão à maldade, e a pactuar com o triunfo e alastramento da perversidade.

PORQUE HOJE É SÁBADO!

O tempo vazio passa depressa. Só têm duração os dias preenchidos com a contemplação e ponderação das circunstâncias. A falta de reflexão atirou esta era para maus caminhos. O privilégio da existência não nos foi concedido para o desbaratar numa competição infrene com o semelhante. Isso não constitui justificação e finalidade bastante. Estamos aqui para compartilhar e disfrutar a vida com os outros, para agir como Pessoas, para nos ajudarmos mutuamente a tecer milagres durante a passagem pela Terra. Não corras contra ninguém; é a ti mesmo, ao melhor de quem és, que tens de chegar, pouco a pouco, devagar, parando, medindo, andando de mãos dadas com a suavidade!

TARDE ILUMINADA

Na tarde de ontem, assisti à apresentação de um livro iluminado pela leveza das palavras e pela estética das imagens. A obra é “mais uma viagem, mais um voo clandestino” da Ana Rita Gomes (professora, treinadora e comentadora desportiva). A autora incentiva-nos a “avançar e a gritar sempre pelo nome de quem mais se ama”. Recordo-a desde a Faculdade, o seu “sorriso, genuíno, honesto”, a sua propensão para “amar os livros e as viagens”, para criar “uma nova geometria poética” com “a nostalgia da partida”. Ela é um coração que corre, uma cabeça que ama; em cada etapa ela é a poesia, a sensibilidade com asas que nos elevam ao espanto da luz.

RADIOGRAFIA DA ATUALIDADE: DO SONO E DO SONHAR

O capitalismo voraz e selvagem anseia pela acumulação ilimitada: 24 horas por dia, 7 dias por semana. O tempo passado a dormir é a única barreira que lhe resiste. Mas o mercado insiste em abatê-la; almeja o

trabalhador e o consumidor sem sono. O alvo está, em parte, atingido: a internet já se apoderou de nós durante as madrugadas. Há um tipo de adormecimento que interessa sobremaneira aos tecelões neoliberais: enquanto dormimos, não acontecem só desastres naturais; também se cava a sepultura dos direitos individuais e das causas, princípios e valores sociais. Todavia, ainda nos resta uma dimensão e função do sono: a do descanso destinado a sonhar um mundo diferente e melhor. Foi isso que fizeram, em todas as eras, os pensadores e utopistas. Dos sonhos nasceu o avanço civilizacional. É urgente honrar esse legado.

A PROPÓSITO DO DERRUBE DO MURO DE BERLIM

A queda do muro de Berlim (09.11.1989) constitui prova eloquente de que a boa vontade e a lucidez conseguem triunfar sobre a insanidade. Ora a história ensina que, quando se resolve um problema, surgem outros a desafiar a atenção. Esta jamais pode entregar-se ao descanso. A euforia causada pelo fim da dita Cortina de Ferro adormeceu as consciências. O capital aproveitou para acrescentar um novo e sujo capítulo ao balancete de ardis e enganos; perdeu a vergonha, aumentou as fronteiras da exclusão, tornou-se selvagem, esfolador e esbulhador dos direitos das pessoas, sem quaisquer indícios de decência e escrúpulo. Devemos, pois, evocar e celebrar aquele evento, acordando a necessidade de regenerar a ordem social e a democracia. O paraíso hodierno da minoria está cheio de variados infernos para a maioria. Há muitos e altos muros à espera de ser derrubados.

DO ÓBVIO

Não tenho certeza de nada, apenas convicções. Somente conhecemos algo e peroramos sobre ele com exatidão e rigor, quando sabemos pouco. À medida que lemos e somamos conhecimento, aumentam as nossas dúvidas, interrogações e perguntas. É daí que nos advêm a acuidade do olhar, a segurança do caminhar e a ataraxia da alma e do pensar. E, porventura, alguma sabedoria, ou seja, a faculdade de ver o que está diante de nós e ao nosso redor, de saborear a caminhada, de compreender as margens e circunstâncias. Parece simples, mas a simplicidade é assaz difícil de enxergar; exige persistência para a alcançar, tornar fácil e naturalizar.

DO PROCESSO E DO PRODUTO

Determinante é partir. E se o plano, o roteiro e o destino não forem certos?! Parte e vai! Anda o caminho sem pressa e obsessão de chegar. Faz paragens para semear sorrisos, plantar saudades, dialogar com o entorno e rezar à Natureza. Surpreende-te com os rostos do Outro. Ignora a censura. Deita fora pesos e mágoas. Percorre a distância com lentidão e leveza, passo a passo, devagar, solto. Saboreia o aroma do tempo, do pão e do vinho. E a meta?! São os abraços, beijos e flores que colhes ao longo da caminhada. E a contemplação grátis da maravilha da Lua e do Sol iluminando o mundo.

OUTONO: ESTAÇÃO DA ALMA

A natureza tem propósitos. Oferece-nos as estações do ano para que sejam estações da alma, momentos de paragem, de admiração da diversidade e policromia da existência. Isto requer uma atitude mais ‘contemplativa’ e menos ‘ativa’. Talvez assim, sobrepondo a serenidade ao frenesim, as cores e funções da idade abracem a plenitude da vida. Esta não existe só no romper da primavera e no fulgor do verão; manifesta-se também no outono, na sua harmonia, no cobertor macio do sol, no azul do céu refulgente e límpido, nas folhas que caem e tingem a esperança da ressurreição. Nas horas crepusculares e matutinas, faz-nos bem sentir um friozinho e uma penumbra suficientes para arrefecer a euforia e nos inquietarmos com a dúvida. Durante o dia, há calor e luz ainda bastantes para nos aquecer e não ficarmos perdidos nos descaminhos e desatinos.

HISTÓRIA MAL CONTADA

Diz o Génesis (primeiro livro da Bíblia) que Deus criou o mundo em seis dias. Ao sétimo descansou. Não há registo de que, dali em diante, tenha feito algo com relevante significado positivo. Dá a impressão de que o Criador só intervém para castigar a maldade dos humanos; e, mesmo assim, apenas uma fração mínima, porquanto a maor parte campeia à rédea solta e impune, destruindo a bel-prazer a maravilha por Ele criada. Não consigo entender e acreditar nesta história, por mais fascinante que seja. Está mal concebida e pior contada. Preciso de outra, que me insufle de esperança, tire do desamparo e não entregue aos títeres do abismo.

ACORDEMOS, ENQUANTO É TEMPO!

A natureza está cansada de avisar: não precisa de nós para nada; somos nós quem precisa dela para tudo! Se continuarmos a ser hipócritas e falsos como Judas, a chamar-lhe mãe e, ao mesmo tempo, a maltratá-la, ela não acabará; continuará a prosseguir o seu destino. Mas o nosso chegará ao fim, inexoravelmente, sem remissão possível. Depois, já era!

COMERCIANTES DA FELICIDADE

Olhemos o mundo e a triste realidade que afeta a maioria da população. Não é para nos contentarmos com a nossa sorte. É para sair da indiferença e agir em favor de todos. Os ‘comerciantes da felicidade’ apregoam a busca frenética desta em nós; e apontam inúmeras vias para a alcançar: jogging, fitness, cremes, dietética, medicinas alternativas, psicoterapias várias e coisas afins. Vendem a ‘ideologia do sucesso’: qualquer um pode ser o que quiser, desde que trabalhe arduamente. A falácia tiraniza assim o espírito e o corpo: nega a efemeridade e transitoriedade das horas felizes, impõe a ilusão esgotante e patogénica, e entranha a culpabilidade por não atingir o ideal vendido e comprado. Eis a perversão: quem não conseguir é perdedor e carrega essa vergonha! Haverá alegria e felicidade para a pessoa de bem num mundo repleto de gente triste e infeliz? Voltar as costas ao entorno, ser nele eremita, será essa a fórmula sábia para procurar a vida feliz? Não será recusa de (con)viver? O ‘cuidado de si’ expõe a egolatria hodierna, tão autodestrutiva e depressiva como a fictícia felicidade individual. Expulsemos a funesta ilusão do ‘felicismo’ (Luc Ferry) e usemos a lupa da lucidez para encontrar as pontes da amizade, compaixão e solidariedade com os habitantes da Terra. A interajuda e a partilha subjazem ao amor e à ideia da felicidade.

ESCLARECIMENTO

No recanto da solidão e do pensamento ouço nitidamente os clamores e vozes do Universo, o estertor das contradições e soluções gastas, o silvo urgente da radicalidade, os gritos desesperados por justiça social, as doridas súplicas de misericórdia, os pedidos pungentes de salvação da Terra, os últimos suspiros de quem parte, o choro inicial e jubiloso de quem nasce. É essa audição que procuro plasmar nas reflexões. Movo-me por causas, não contra alguém.

QUEM QUER SER PROFESSOR?

A pergunta anda no ar, com dados inquietantes e demonstrativos de que escasseia gente com vontade de ser professor. Causa-me estranheza. Atingi a jubilação e manifestei disponibilidade para continuar a dar aulas, sem nenhuma remuneração. A oferta foi ignorada; e não foi por imperativo de qualquer legislação.

REI MAGO

Por mais que a inocência pergunte pelo comboio ou trem para um mundo melhor, ninguém lhe sabe ou quer responder. Nem os sábios da ciência, nem os detentores da verdade da religião, nem tampouco os mandarins do mercado, os corretores da bolsa e os pregadores da desinformação entendem o sentido da interrogação. A resposta está guardada, a sete chaves, na coragem de cada um de nós para dar forma à vontade e rumo decente à peregrinação.

AA PRECISAMOS DE COMEÇAR AGORA MESMO!

Não podemos pactuar mais com o negacionismo, com as mentiras, com os embustes, com as intrujices, com os mantras do crescimento, com a sujidade, com as hesitações. Ninguém pode invocar desconhecimento; as causas e as consequências estão sobejamente esclarecidas. Quem faltar à gravidade desta hora trai a humanidade, deserda os filhos, netos e bisnetos presentes e vindouros. Não há Humanidade II ou B. A insana competitividade não dá essa oportunidade.

PÔR-DO-SOL...

Quando o sol se põe, os sonhos vão para junto das estrelas. Eles precisam de luz sempre acesa, para não adormecer. Connosco ficam as dúvidas e interrogações. O que trará o dia de amanhã? Quem dera que viesse um novo começo para o mundo! Assim almejam o ânimo e a razão, mas receiam que a esperança não passe de uma ilusão.

A CEGUEIRA MAIS CEGA

A maior e mais cega cegueira é alguém ser cego e cuidar que o não é. Esta avaliação é da autoria do Padre António Vieira. Pois bem, a cegueira atingiu, faz tempo, Maria de Lurdes Rodrigues: "Perdi os professores, mas ganhei a população." Mesmo assim, não ficou satisfeita; após infernizar a escola e a função docente, quer agora ganhar a presidência do CRUP, para deitar a perder (ainda mais) as universidades públicas. Enfim, há quem procure a eternidade deste jeito.

DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO MONETÁRIO

O dinheiro não gozou sempre do estatuto ‘virtuoso’ que hoje possui. No passado remoto nunca foi ocultado o seu potencial de corrupção e dissolução. Com o capitalismo deixa de ser visto como meio e atinge a categoria de fim existencial. No presente a visão financeira sobrepõe-se à económica (ao governo da casa comum da sociedade); aquele assume o desígnio de concentração sem limite e é elevado à categoria de divindade. Surge assim um ‘novo templo’, onde tudo é comprável e vendível, e todos ajoelham aos pés dos deuses ‘dinheiro’ e ‘mercado’, duas faces da mesma entidade. Esta involução é bem visível no desporto, sobretudo no futebol. As SADs, em que foram convertidos os clubes, visando desapossá-los dos sócios, contabilizam os atletas como ‘ativos’. O capital neles investido tem que gerar dividendos. A mutação é medonha; no entanto as suas implicações passam despercebidas à maioria dos olhares.

TAMBÉM SOU PESSOA!

‘Pessoa’ provém do vocábulo latino ‘Persona’ (máscara do personagem no teatro romano). Expressa o papel atribuído ao ator e a essência do seu desempenho. Em verdade, não nascemos com qualquer essência, nem possuímos só uma. Ela depende das ‘máscaras’ da existência, da conduta e dos papéis que nela assumimos.

Esta era mantém no palco e em alta a tragédia de três personagens: as 'pessoas', as 'não-pessoas' e as 'superpessoas'. Não seria, pois, despropositado se muita gente andasse com um letreiro pendurado ao pescoço, dizendo “eu também sou pessoa”, como outrora os negros norte-americanos. Talvez isto acordasse a razão. Os sem abrigo, sem trabalho e sem segurança social, os explorados, os excluídos e os marginalizados são o quê e servem para quê? São as não-pessoas; perfazem a multidão que carrega nos ombros o andor das super-pessoas nababescas. Quando será que a sociedade se tornará uma comunidade de pessoas, somente?!

MANTRA DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

‘Crescer, crescer, crescer’; produzir riqueza, para a distribuir! Esta lengalenga parece um lema olímpico, mas é só mais uma das muitas patranhas dos onzeneiros neoliberais. Já tiveram mil oportunidades para a praticar, porém desconhecem o ato de compartilhar; aproveitam todas as crises para acumular, esbulhar e esmifrar. Sabem apenas isso e a vasta teia de artimanhas para enganar e ludibriar. A Modernidade proclamou o direito universal à felicidade, e a garantia de condições propícias à busca individual da mesma. Após esse, outros direitos tiveram consagração constitucional e originaram programas políticos de estruturação da sociedade, visando supostamente realizar aquele fim. Todos os anos são publicados relatórios e rankings de países, mostrando os índices de satisfação com a vida, em paralelo com o acréscimo do PIB. Os dados revelam que a satisfação aumenta com a eliminação das várias formas da pobreza, da injustiça e corrupção; não sobe automaticamente com a acumulação da riqueza. Ainda bem! As ‘coisas’ cruciais para a felicidade (amor e amizade, cuidar dos entes queridos, ajudar os vizinhos e os concidadãos, o reconhecimento e a estima dos colegas de profissão, a proteção contra a afronta, o desrespeito e a humilhação) não são comercializáveis; não estão à venda nas lojas, ao lado dos produtos milagrosos para as depressões e os desvarios da tara ultraliberal. Nem sequer figuram no rol dos artigos preferidos pelos edis do mercado. Hoje continua em alta o mantra do crescimento. Há mesmo necessidade de ‘crescer’? Quais os benefícios disso? À custa do quê e de quem? É tempo de parar a corrida insana, de repensar o caminho, de nos tornarmos mestres da arte de viver. O mundo pede uma nova economia, que tire da gaveta a bandeira da decência e harmonia, balize com ela o trajeto existencial, o trato inter-humano e o uso da natureza extrínseca e intrínseca.

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