45 minute read

SECRETARIA DE ESTADO DO ESPORTE E LAZER – SEDEL - TROCA DE SEIS POR MEIA-DÚZIA

Quem sai

Secretário: ROGÉRIO RODRIGUES LIMA CAFETEIRA Endereço: Av. Dom Pedro II, nº 220, Centro- CEP.: 65010-070 – Edf. João Goulart – São Luís-MA, 7º Andar E-mail: chefiagabinetesedel@gmail.com Horário de atendimento:8 às 19h Site: http://www.sedel.ma.gov.br/ Competências da SEDEL: A Secretaria de Estado do Esporte e Lazer tem por finalidade formular, implementar, coordenar, acompanhar, supervisionar, avaliar e controlar políticas públicas, programas, projetos e ações voltados para o desenvolvimento do desporto e do lazer bem como administrar e conservar as praças de esporte, promover, assessorar e defender, sob a ótica educacional e comunitária, formas de produções esportivas, de lazer e recreativas, a partir da realidade local, estimulando a incorporação de hábitos na população, visando à melhoria da qualidade de vida. (Redação dada pela Medida Provisória nº 184, de 02 de janeiro de 2015). Perfil do Secretário: Rogério Rodrigues Lima Cafeteria nasceu no dia 03 de janeiro de 1969, em São Luís, no Maranhão. Casado, o empresário exerceu o cargo de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Maranhão em dois mandatos, sendo 2010 a 2014 e de 2014 a 2018, de Sub- Chefe da Casa Civil do Governo do Estado do Maranhão de 1987 a 1990, de chefe de Gabinete do Secretário Municipal de Planejamento e Desenvolvimento da Prefeitura de São Luís (MA), de 1995 a 1996, de assessor Especial do Senado Federal de 1997 a 1999 e assessor Técnico do Senado Federal de 2007 a 2009. Em fevereiro de 2019 assumiu o cargo de Secretário da Secretaria de Esporte e Lazer (Sedel).

Advertisement

Nadir Vale é indicação do deputado estadual Fàbio Macedo… A secretaria de Estado do Esporte e Lazer – SEDEL terá como titular Naldir de Jesus Vale Lopes, indicação do deputado Fábio Macedo para o cargo. Natural do município de Arari, Nadir Vale, é bacharel em Ciências Contábeis e funcionário da Assembleia Legislativa do Maranhão há nada menos que 23 anos. Ele também é assessor espacial de Macedo. Nadir substituirá o ex-deputado estadual Rogério Cafeteira que se desincompatibilizou do cargo para concorrer ao mandato na Assembleia Legislativa. Naldir Lopes assume Secretaria de Estado do Esporte e Lazer | Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (sedel.ma.gov.br)

O contador e assessor parlamentar, Naldir de Jesus Vale Lopes, foi empossado, na noite dessa quarta-feira (06), como o novo secretário de Estado do Esporte e Lazer (Sedel). Aos 44 anos, Naldir se dedicará ao projeto do esporte no Maranhão à frente da pasta estadual.

“Assumo o compromisso em elevar o projeto que já vinha sendo desenvolvido na gestão do ex-governador Flávio Dino. Entro para somar e contribuir com o esporte e o lazer do nosso estado. Acredito que posso trazer a experiência do trabalho social que já desempenho há

alguns anos para fazer um trabalho diferenciado no esporte”, disparou o secretário. Durante sua posse realizada no Palácio Henrique de La Rocque, Naldir agradeceu a Deus, ao governador Carlos Brandão e a indicação do deputado estadual, Fábio Macedo e falou sobre responsabilidade e transparência para encarar o novo desafio profissional.

“Estou muito feliz com essa missão. Teremos muitas ações para serem desenvolvidas e implementadas que fomentarão o esporte e o lazer. Nossa principal missão é fazer com que o

Estado seja um propulsor desses setores”, destacou Naldir. O governador do Maranhão, Carlos Brandão, falou sobre a escolha dos novos secretários. “Nossa escolha teve alguns critérios. Alguns secretários saíram pois são pré-candidatos e houve vacância dos cargos. Nós, naturalmente, dialogamos com várias pessoas do nosso campo político. Escolhemos pessoas que eu considero capacitadas e comprometidas para que possamos dar continuidade ao governo. Tivemos vários avanços nos últimos sete anos e queremos mais, focando sempre a qualidade de vida do povo”, declarou o governador. Brandão explicou ainda que as mudanças “oxigenam a gestão”. “Mudanças aconteceram nos últimos anos, isso é normal, oxigena o governo, dá mais resultados. Ao fim, nosso desejo é trabalhar sempre em equipe e apresentar excelentes resultados”, completou.

Setores Administrativos Ed. João Goulart - 7º andar Av. Dom Pedro II, n° 220 Centro - São Luís - MA CEP: 65010-070

Setores Esportivos Ginásio Costa Rodrigues Av. Gomes de Castro, s/nº Centro - São Luís - MA CEP: 65020-230 gabinete@sedel.ma.gov.br

SAEL – SECRETARIA ADJUNTA DE ESPORTE E LAZER

Neto Azevedo adj.esporte@sedel.ma.gov.br

Neto Azevedo

- Sec. Adjunto na SEDEL-MA - Ex-CIO da Assembleia Legislativa MA - Oficial da Ordem dos Timbiras - Pós Graduando em Gestão de TI - Cristão na IPCalhau Experiência como gestor público por mais de 10 anos e gestor de empresas privadas.

Secretário Adjunto de Esporte Educacional

Secretaria de Estado do Esporte e Lazer MA

mar. de 2019 - o momento3 anos 2 meses São Luís, Maranhão

Consultor de TI

Agnus Engenharia & TI

jan. de 2011 - o momento11 anos 4 meses São Luís e Região, Brasil Formação acadêmica • Universidade Estácio de Sá Pós Graduação em Gestão Estratégica da Tecnologia da InformaçãoGestão de Sistemas de Informação

2015 - 2017

Universidade Ceuma

Graduado em Tecnologia da InformaçãoTecnologia da Informação

2000 - 2003

Reconhecimentos e prêmios

• Oficial da Ordem dos Timbiras Governo do Estado do Maranhão

dez. de 2014 A medalha, no Grau de Oficial, é um reconhecimento a personalidades que se distinguiram por relevantes serviços prestados ao Estado do Maranhão, concorrendo para o bem-estar social e grandeza material e espiritual do seu povo. https://www.youtube.com/watch?v=mG06FIfrdWw

SAAD – SECRETARIA ADJUNTA ADMINISTRATIVA

Gardênia Canavieira de Carvalho Garrido adj.administrativo@sedel.ma.gov.br

Gardênia Canavieira de Carvalho Garrido Archives - Luís Pablo | Blog sobre política, com crítica da mídia e informação alternativaLuís Pablo | Blog sobre política, com crítica da mídia e informação alternativa (luispablo.com.br)

CAPEI – COMISSÃO DE ANÁLISE DE PROJ. ESPORTIVOS INCENTIVADOS

Rafael Sousa Oliveira capei@sedel.ma.gov.br

CSL – COMISSÃO SETORIAL DE LICITAÇÃO

Mariano Paulista de Azevedo Neto csl@sedel.ma.gov.br

ASCOM – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

Dyego Fernando Rodrigues Almeida assessoria.sedel@gmail.com

ASPLAN – ASSESSORIA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

José Ribamar S. Fróes Filho asplan@sedel.ma.gov.br

ASSEJUR – ASSESSORIA JURÍDICA

Fábio Elias de Medeiros Mouchrek juridico@sedel.ma.gov.br

SESP – SUPERINTENDÊNCIA DE ESPORTES

Fernando Donatan Viegas Braga superint.esporte@sedel.ma.gov.br

SPES – SUPERINTENDÊNCIA DE PROGRAMAS ESPECIAIS

Ronaldo dos Santos Baldez superint.programas@sedel.ma.gov.br

UGAM – UNIDADE GESTORA DE ATIVIDADES MEIO

Afonso Ary de Medeiros Peixoto ugam@sedel.ma.gov.br

SRH – SUPERVISÃO DE RECURSOS HUMANOS

Elisa Helena Nascimento Macedo Leda srh@sedel.ma.gov.br

SUAFIN – SUPERVISÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA

Milena Apolônio de Barros Rahbani suafin@sedel.ma.gov.br

SAPE – SUPERVISÃO DE ADM. E CONS. DE PRAÇAS ESPORTIVAS

Francisco Rufino Oliveira Sobrinho sape@sedel.ma.gov.br

SMP – SERVIÇO DE MATERIAL E PATRIMÔNIO

Higor Emanoel Sousa Silva material@sedel.ma.gov.br

SGT – SERVIÇOS GERAIS E TRANSPORTE

Arlino Serra Martins Menezes Neto transporte@sedel.ma.gov.br

STI – SERVIÇO DE INFORMÁTICA

Israel Rodrigues de Menezes supinf@sedel.ma.gov.br

POLÍTICA E CULTURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE E LAZER

ANDREYSON CALIXTO DE BRITO, ANTÔNIO ULISSES JUNIOR, BASÍLIO ROMMEL ALMEIDA FECHINE, DANIEL PINTO GOMES E SAMARA MOURA BARRETO DE ABREU

livro_politicasifce.pdf

PREFÁCIO

LINO CASTELLANI FILHO

Andreyson Calixto de Brito, Antônio Ulisses Junior, Basílio Rommel Almeida Fechine, Daniel Pinto Gomes e Samara Moura Barreto de Abreu, organizadores do livro que ora, envaidecido e honrado, prefacio, nos presenteiam com uma coletânea de artigos elaborados por docentes de instituições de ensino superior que possuem dentre seus interesses de intervenção profissional, estudos e pesquisas, o universo das políticas públicas em educação/educação física, esporte e lazer. Assim como em outros setores da vida social brasileira, foi ao apagar das luzes da presença militar à frente dos destinos da vida social e política brasileira – estou me reportando ao final da década de 1970 e início da década de 1980 – que se avivou na área acadêmica “Educação Física”, àquela altura dando seus primeiros sinais de vida, o interesse por estudos no campo das políticas públicas. É dessa época o hoje conhecido como Movimento Renovador da Educação Física, que em linhas gerais colocou em xeque a relação paradigmática da educação física com o parâmetro da aptidão física, abrindo as portas para a de índole histórico-social permissionária de estudos como os encontrados nessa coletânea. Foi no advento do primeiro processo eleitoral para presidência da República brasileira no período pósditadura, que o interesse em saber das propostas dos candidatos para a área da educação/educação física, do esporte e do lazer ganhou destaque junto a comunidade acadêmica da Educação Física/Ciências do Esporte. Não que no Governo Sarney (1985/89), conhecido como Nova República, nada tivesse acontecido nesse setor de políticas públicas, muito pelo contrário. É desse período a constituição, pelo Ministro da Educação, Marco Maciel, de comissões de notáveis para traçar rumos para os distintos setores das políticas públicas brasileiras. Da comissão constituída para balizar as ações no campo do esporte/lazer brasileiros, presidida pelo militar da reserva (Capitão-de-Fragata) e professor de educação física Manoel José Gomes Tubino – que também à época assumira a presidência do Conselho Nacional dos Desportos, CND e, bem ao final daquele Governo, a Secretaria de Educação Física e Desportos – SEED/MEC -, saiu o documento “Esporte – Questão de Estado”, referência única, arrisco dizer, para a formulação do capítulo “Do Desporto” da Carta Magna brasileira de 1988. Todavia, não se pode atribuir ao campo acadêmico da Educação Física as ações mencionadas, e sim ao livre trânsito do referido professor junto ao Governo eleito à revelia da participação popular. No próprio período militar, em 1969, outro professor de educação física com passagem pela caserna, Lamartine Pereira da Costa, foi incumbido de coordenar a realização do Diagnóstico da Educação Física, tornado público em 1971. Se avançarmos um pouco mais na linha do tempo, mas sem nos afastarmos da presença militar à frente do destino brasileiro, nos depararemos com a lei que instituiu normas gerais sobre o esporte nacional, Lei nº 6251 de 1975, regulamentada dois anos depois pelo Decreto nº 80228. Se, ao contrário, recuarmos no tempo, iremos encontrar, também em período de governo de exceção – Estado Novo -, o Decreto-lei nº

3.199, promulgado em 1941, voltado à disciplinarização do campo esportivo, segundo expressão utilizada na exposição de motivos daquele documento legal, pelo ministro da justiça à época, João Lyra Filho. Com o estado democrático de direito voltando a nortear o ordenamento societário brasileiro e, em especial, com a configuração de governos municipais e estaduais de natureza progressista, popular-democrático, viuse o desenvolver do interesse nos estudos de políticas e gestão públicas de educação/ educação física, esporte e lazer por parte da comunidade acadêmica vinculada – não só, mas preponderantemente – à Educação Física. Grupos de estudos e pesquisas se multiplicaram a olhos vistos, e sociedades científicas – como é o caso do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, CBCE – se constituíram espaços privilegiados de produção e difusão de conhecimento sobre o tema em questão. Pois foi na conjunção das ações e simetria dos interesses presentes na área acadêmica e no setor progressista da gestão pública de educação/educação física, esporte e lazer que pude viver momento especialíssimo em minha vida profissional, quando me vi na condição de Secretário Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer, junto ao Ministério do Esporte, por ocasião do primeiro Governo do presidente Lula. Foi naquela ocasião que pude coordenar seleto grupo responsável pela elaboração e desenvolvimento do programa orçamentário “Esporte e Lazer Da Cidade”, que continha como um de seus projetos o da “Rede Cedes – Centros de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer”. Não cabe aqui estender-me sobre sua gênese e razão de ser, até porque já tive oportunidade de fazê-lo em outras ocasiões. Fato é ser a Rede Cedes que fornece as condições objetivas para a publicização dos trabalhos presentes na maioria dos capítulos configurativos desta coletânea que guarda, ainda, a singularidade de se constituir de estudos e pesquisas desenvolvidas por docentes pesquisadores vinculados a instituições nordestinas de educação superior, predominantemente, mas não exclusivamente, cearenses. Falo do nordeste e me recordo ter sido o Rio Grande do Norte e sua capital, Natal, o anfitrião em setembro próximo passado, da XXI versão do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Conbrace, organizado pelo CBCE nos anos ímpares e ininterruptamente, desde 1979. Falo do nordeste e não deixo de pensar ser o Ceará quem, ao lado de outros Estados nordestinos, se apresenta, neste atual momento, como não coadunado aos desmandos que grassam dia sim, outro também, das ações emanadas do Governo Federal que, ainda não esgotado seu primeiro ano de gestão, dá mostras incontestes das suas intenções – já traduzidas em ações –de seguir com os ataques aos direitos sociais dos brasileiros e brasileiras, iniciados pelo seu antecessor, fruto, como ele, de golpe ao estado democrático de direito brasileiro, anunciado tão logo divulgado o resultado do pleito eleitoral à presidência da república, em 2014, e concluído com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016.

Ceará que, de forma semelhante àquela presente (não só) no Maranhão e Rio Grande do Norte, dá mostras incontestes de ter deixado para trás sua história prenha de evocações à famigerada tradição coronelista, tão presente na cultura política brasileira. Sim! Hoje, mais do que nunca, somos todos nordestinos! Em muita boa hora, pois, este livro é trazido ao conhecimento tanto da comunidade acadêmica estudiosa do tema, quanto daqueles que possuem na gestão pública da educação física, esporte e lazer seu espaço de intervenção profissional. Como traduz em seu título (“Política e Cultura em Educação Física, Esporte e Lazer”) e em ementa (“Relação com estudos teóricos, metodológicos e práticos de compreensão e delineamento das políticas, programas e projetos sociais no campo da educação física, esporte e lazer; Análise da educação física, do esporte e do lazer através das diferenças de classe, das relações étnico-raciais, do sentido estético, do consumo e produção de sua diversidade cultural”), mapeia com lucidez os caminhos trilhados pelas mencionadas políticas públicas, como também sinaliza para os que carecem ser abertos para dotar o povo nordestino –cearense em particular -, de condições de acesso, de fato, a essas práticas sociais.

Em tempos de militarização da sociedade brasileira, de políticas educacionais caricatas, de índole privatista, e das esportivas e de lazer rebaixadas ao nível de secretaria especial, e das Forças no Esporte ganhando vulto, os olhares dos que se opõem às nuvens cinzentas que pairam em Brasília, desejosas de se espraiarem por nosso território, voltam-se para céus arejados por sentimentos e vontade política de tratarem a educação/educação física, o esporte e o lazer como direitos sociais voltados a fazer deste nosso país, terra irrigada por sementes de justiça social.

Campinas, SP, Unicamp, Dezembro de 2019.

ATLETA PARAIBANENSE CONFIRMADA NA SELEÇÃO BRASILEIRA DE HANDEBOL FEMININO.

(9) Facebook

O técnico Cristiano Rocha da Seleção Brasileira Adulta Feminina de Handebol convocou 21 atletas para compor a seleção que irá participar da fase de treinamentos (Semana Internacional da IHF) em Rio Maio em Portugal, agora nos dias 16 a 24 de abril. Entre as convocadas a paraibanense AnnaClaraFjellheimarmadora que joga no G Jerpen da Noruega. Anna é filha de AldenoraFjellheimAldeno, ambas nascidas em Paraibano Maranhão. O Paraibanonews já fez várias matérias sobre a atleta. Desejamos sucesso. (9) Facebook

MÃE ANDRESA (CASA DAS MINAS) MÃE DUDÚ (CASA DE NAGÔ)

CÍCERO CENTRINY

As duas mães mais cotadas respectivamente em suas épocas das duas Casas matrizes do Tambor de Mina do Maranhão. Devo dizer que quando falo de casa matrizes devo abrir um parêntese para explicar que: A Casa das Minas Jeje é única. Não possui casas lhe sejam filiadas, não havendo também outras que se assemelhem a ela ou dela descendam. Por outro lado, já a Casa de Nagô Abioton, entretanto, implantou um modelo de organização mais difundido nas principaiscasas de tambor de Mina na ilha de São Luís. Fala-se que a Casa das Minas foi aberta primeiro e depois os fundadores ajudaram a organizar a Casa de Nagô, (se as datas de fundação de ambas as casas estiverem corretas, a fundação do Terecô de Codó é mais antigo que elas (1794). Fala-se também que alguns voduns dos jejes estão assentados na Casa de Nagô, como alguns orixás são assentados, na Casa das Minas, embora estes lá permaneçam mudos. Mãe Andresa chefiou a Casa das Minas Jeje por 40 anos (1914 -1954) e Mãe Dudu chefiou a Casa de Nagô por 20 anos (1967 -1988). O culto aos voduns jejes, realizado na Casa das Minas, é diferente do culto aos orixás tanto do Candomblé, quanto aos orixás iorubás cultuadas na Casa de Nagô Abioton. O Vodum de Mãe Andresa era Toi Poliboji, da família de Acossi Sapaktá. Mãe Andresa faleceu numa quinta-feira Santa, 20 de abril de 1954, e seu tambor de choro (rito fúnebre do tambor de Mina) foi tocado após o sábado de aleluia. As filhas do Vodum Poliboji colocaram luto por um ano. Mãe Dudu era pertencente a orixá Yemanjá. Ela dançou pela primeira vez na Casa de Nagô em 1912, que embora sendo filha de Yemanjá, anos depois ela recebeu o Vodum Lego Xapanã. Vitorina Tobias Santos, a Mãe Dudu faleceu no dia 28 de janeiro de 1988, com 101 anos, e seu corpo, conforme sua vontade, foi levado para Casa de Nagô, onde houve tambor de choro a noite toda , o enterro foi muito concorrido, com a participação dos membros do Bloco Afro Akomabú do Centro de Cultura Negra do Maranhão que lhe prestou homenagens. Digo em síntese que sempre houve semelhanças e diferenças entre a Casa das Minas e a Casa de Nagô fizeram com que essas duas casas afro-religiosas sajam próximas e distantes, opostas e complementares. Viva Mãe Andresa, viva Mãe Dudu!

NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO

"As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.

ESPERANÇA TRAÍDA

Quero acreditar. Desejo e preciso mesmo de crer religiosamente na vinda de um mundo melhor. Porém o olhar, por mais que procure no horizonte, não o consente. Vejo todos os dias a esperança ser enfraquecida e traída. Terei que arrancar os olhos?!

RECOMENDAÇÃO

Recomendo vivamente a frequência de cursos de ‘coach’ e de qualquer religião afim. Tenho razões para este conselho. Estava a ficar muito irritadiço, de mal com tudo e com todos. Decidi, por isso, matricular-me num curso de autocontrolo e meditação. Para me enquadrar melhor no espírito da coisa comprei e passei a usar a indumentária de monge budista. Logo após a primeira aula senti progressos notáveis e os olhos alumiados por um clarão. Agora, quando tropeço em imbecis, já não lhes atiro pedras nem dirijo palavrões; sorrio e faço um gesto carinhoso e suave com o dedo grande da mão.

ACUSAÇÃO

Não bastava o desfavor da geografia: colocada longe de Deus e próxima do diabo (para agradar aos paladinos da dicotomia dos bons e dos maus). Um canzarrão serviu-se dela para afrontar outro de tamanho semelhante e com fauces ávidas de carniça e sangue. Resultado: cidades arrasadas e milhões de vidas destroçadas. Até quando irá a tragédia? Até que os canzarrões deixem de se morder por interpostos dentes. O Padre Vieira estava cheio de razão: o maior mal deste mundo é não haver de quem fiar. Muitos corresponsáveis pela situação, que podia e devia ter sido evitada, continuam a praticar jogos de dissimulação; mas não faltará o dia em que o protesto dos cidadãos, hoje adormecidos, será ensurdecedor. A Humanidade também os julgará.

DESPORTO: ARQUITETURA METAFÍSICA

Enquanto não nos tornarmos pós-humanos, vivemos sob a forma de condição corporal. O desporto modelaa e reveste-a de modo singular. Perfaz uma arquitetura funcional de potencialidades biológicas, psíquicas, lúdicas. motoras, racionais e relacionais. Conjuga-as e desenvolve-as na exercitação de capacidades e habilidades transcendidas. Deste jeito o corpo sobe até onde lhe é possível, atingindo desempenhos metafísicos, situados acima dos imperativos quotidianos. No desporto corpo e mente atingem um estado de frutífera imbricação, intimidade e cumplicidade. Para marcar um golo não basta o primeiro, nem a segunda chega; ambos são necessários em igual medida. Ambos se casam, em perfeita harmonia, para gerar e celebrar a maravilha exaltante da humana competência. O ato desportivo é essencialmente espiritual, anímico e volitivo; só é físico na aparência da sua execução. Nele as mãos e os pés tentam realizar por fora aquilo que antes foi idealizado e feito por dentro, pela alma, pelo coração e pela vontade. Encerra, pois, um sentido abrangente; e sobreleva a pobreza de significado das expressões que andam por aí à rédea solta, desprovidas de freios epistemológicos e espicaçadas pelas esporas da ignorância. Para ver isto são requeridas as acuradas lentes da filosofia.

EXAME AXIOLÓGICO DOS FACTOS

A verdade jamais feriu alguém; cumpre-nos procurá-la e fugir da mentira. Temos direito à diversidade e ao engano das opiniões, mas não a recusar e deturpar os factos. Ora uma das maiores cegueiras da humanidade é domesticar e partidarizar a razão, fechar oolhar à maldade e repetir no presente os erros agravados do passado. Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704) estava carregado de razão: “Deus ri-se dos que se queixam das consequências, mas persistem nas causas que as provocaram.” Esperar que surja um novo normal, sem

arredar os agentes predadores do sentido civilizacional, da casa comum e convivial da Natureza e da Sociedade, é próprio de burros trágicos! Precisamos, pois, de mentes abertas, de espíritos livres e disponíveis para: • Questionar eticamente as ocorrências, os sistemas económicos e políticos e os seus atores e organizações. • Denunciar os fanatismos de todo o tipo. • Examinar, com as lentes da axiologia, a realidade e as suas contradições, teorizar a partir delas e não as meter na betesga da falsidade ideológica. Isto constitui matéria de aprendizagem na escola e na universidade. Teremos docentes suficientes para a ensinar?

DA GUERRA

Esta guerra desacredita a Europa e as suas proclamações civilizacionais e culturais, aos olhos atónitos do mundo. A situação é medonha, mas pode piorar, embora vencedores e perdedores estejam já definidos. O grande vencedor são os EUA, sem se envolverem diretamente nos campos de batalha. Não é necessário explicar, tal o grau de obviedade dos ganhos em toda a linha, inclusive as televisões e jornais. Não teço juízos de valor; apenas constato que cuidam bem dos seus interesses. Os perdedores também são óbvios. A Rússia desencadeou a bárbara invasão, derrotada no plano económico, político e até militar; sairá dela reduzida a cadáver moral. A Ucrânia fica materialmente destruída, com milhões de vidas destroçadas e com eventual perda de território. A UE vê apoucada a credibilidade de intermediação e arrasta a população para uma grave crise existencial. Convinha que enchêssemos as praças e ruas, para exigir o fim do conflito e manifestar repúdio pela corrida às armas. Antes que a ferocidade, o ódio e a raiva nos modelem por dentro e por fora.

Jorge Bento A guerra “É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro: - o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro.” Padre António Vieira, 1668

NO DIA MUNDIAL DA ATIVIDADE FÍSICA

É totalmente inadequada a expressão, mas salvam-se a mensagem e a intenção. Celebremos a condição corporal! O corpo gímnico sublima a dificuldade em leveza e a dureza em graciosidade. Com pesos e resistências aprende a desenhar coreografias e a interpretar sinfonias de espantosa plasticidade. Sem a transcendência performativa, seríamos outro ser, ínfimos e aquém de nós. Sim, a Humanidade também se realiza através de proezas corporais, praticadas pelos membros da família humana e universal. “Deus é demasiado perfeito para poder pensar noutra coisa senão em Si próprio”, disse Aristóteles. Ele não Se ocupa com as nossas imperfeições. Somos nós que temos de cuidar de as diminuir. Somos nós os autores do ‘oitavo dia da criação’: o da reinvenção do Humano nesta terra donde os deuses se afastaram. Ninguém, a não ser nós, assume esse empreendimento e nos fornece o manual de instruções. Mais alto e belo, mais longe e veloz! Um apelo ao absoluto. Uma promessa a Prometeu: buscaremos o que ainda não somos; e faremos de cada ‘menos’ um ‘mais’, em todos os palcos da vida!

DO HORROR E DA BANALIZAÇÃO DO MAL

O horror não possui graduação, nem meio termo. Nasce sempre do ventre fértil e sujo da maldade. Horríveis somos nós, quando temos dificuldade de o denunciar e repudiar, independentemente de quem o pratica. Horrorosos são estes dias, nos quais invocar a paz é estar do lado errado, e defender as armas e a guerra coloca na margem certa. Há algo profundamente anormal e doente no cerne da sensibilidade, quando hesitamos e perguntamos se é oportuno apontar e condenar o horror. Não se trata só de cobardia, mas de abjeta cumplicidade com a monstruosidade. À violência animal os humanos acrescentaram a crueldade e naturalizaram-se nela. Ainda nos chocam os cenários de morte matada, por serem exaustivamente exibidos pelos órgãos mediáticos. Pouco ou nada nos incomodam as outras formas da selvajaria que enchem o quotidiano. A norma cívica e ética aluiue deu lugar ao relativismo moral. Desaprendemos de ver, estranhar e interrogar a perversidade e a sordidez. Vivemos anestesiados e imersos na banalização do mal; e sentimo-nos bem assim, desde que nenhum acontecimento perturbe o fechado mundo da nossa comodidade. Sobejam, pois, motivos para desconfiarmos de nós mesmos e avaliarmos, com bitolas exigentes e severas, os descaminhos dos nossos sentimentos.

DESINTEGRAÇÃO DA UCRÂNIA

Este texto foi escrito e postado no Facebook em 07.04.2014, há precisamente oito anos. Se o redigisse hoje, mudaria o título e mais alguma coisa em relação aos criminosos invasores da Ucrânia, porém não o essencial no tocante aos dirigentes da UE. “O processo de desintegração da Ucrânia está em curso, cada dia mais acelerado. Os políticos e órgãos de comunicação ocidentais criticam a Rússia e Putin e fazem-lhes pseudoameaças. Mas... quem é que ofereceu esta oportunidade aos apetites russos? Os políticos, que lideram a União Europeia, são altamente responsáveis por este cenário. Enganaram os ucranianos com promessas de ilusões, que afinal não passam de traições. Enquanto Berlim e Bruxelas não restaurarem o primado da dignidade humana sobre o submundo dos mercados e negócios, a praça Maidan e todas as outras estarão condenadas ao abandono, ao engano e frustração.”

NOVA CRIATURA

Nasceu ontem numa maternidade de Lisboa. Oportunamente convidarei os meus amigos para a cerimónia de apresentação pública à sociedade, convicto de que abençoarão generosamente o ente recém-nascido. Estou muito grato ao Comité Olímpico de Portugal por ter apadrinhado a vinda da criança ao mundo.

PRAGA ROGADA A PUTIN

(Segundo a tradição transmontana) "Assim como tens cara de herege, O vento te leve, O fogo te queime, O rio te afogue, Cães sarnentos te mordam, Um gato te arrebunhe E na forca te peles Com um molho de silvas no rabo. E, depois de pelado, Que te leve o diabo!"

REFORMAS ESTRUTURAIS

A expressão não sai da boca de comentadores e jornalistas, alinhados com o espectro político rotulado de direita. Do que se trata, afinal? A resposta é simples: cortes nos direitos fundamentais, destruição de serviços públicos, privatização do que dá lucro e estatização dos prejuízos, reduções nas aposentadorias e salários, precarização de contratos laborais, aumento de anos e horários de trabalho e coisas quejandas. Como não têm coragem para expor, de modo sincero, aquilo que os move (o arraso do estado social), os pregoeiros usam o ardil e mantra das ‘reformas estruturais’. Estou enganado? Então corrijam-me, por favor, sem delongas e voltas ao bilhar grande! A hipocrisia é tanta que empregam o termo ‘nós’, quando se referem aos obrigados a suportar os custos decorrentes da crise em curso. Não, os sacrifícios não são para todos! Há até quem enriqueça à conta deles. Os sacrificados são os burros de carga de sempre. Mais, o resultado das ditas reformas, adstritas às políticas neoliberais, está à mostra: o crescendo de excluídos e marginalizados, deixados ao desespero e tornados presafácil da hidra da extrema-direita que se estende pela Europa. Aqui ainda resistimos; mas, se a receita reformista não for revogada, teremos uma grave agitação e engrossaremos a onda neofascista. Do que precisamos é de um novo contrato civilizacional, que regenere o sentido da vida e os laços da humanidade e comunidade, não de iníquas reformas estruturais.

DO EXCESSO VIRTUOSO

Temos noção da finitude; esta desafia-nos. Somos seres ‘excessivos’. Queremos encher de sentido a vida. Por isso excedemo-nos, transpomos limites, vamos além do suficiente para sobreviver, fazemos coisas maiores e melhores do que nós, acrescentamos palmos de ilusão ao nosso tamanho. É através do ‘excesso imaginativo, ético e estético’ que sobrepujamos a animalidade; é devido a ele que criamos as diferentes modalidades da cultura e ciência, e um mundo simbólico. E é também assim que nos tornamos humanos, emtodas as dimensões. Podíamos proceder como os outros animais, por exemplo, comer os alimentos tal como a natureza os oferece. Mas não comemos só para nos alimentarmos; criamos a culinária, confecionamos a comida como obra de arte, investida de sabores, rituais e significados. Agimos de igual modo com o organismo; bastaria dar-lhe oportunidades de movimento. Era pouco; tiramos partido da capacidade de se movimentar, edificamos o corpo como palco de sublimação e transcendência, sujeitando-o a ideais, exigências, normas e alvos inscritos nas várias formas de cultura somática. Este axioma preside a todos os domínios culturais e científicos. Todos servem o mesmo fim; todos bebem na mesma fonte; todos desaguam no mar da humana ansiedade pela impossível eternidade. É o ‘excesso virtuoso’ que nos civiliza, humaniza e salva!

APRENDIZ

Desaprender constitui um pressuposto indispensável para a aprendizagem. Os que não desaprendem ficam aquém das exigências do estatuto de aprendiz e da realização plena dessa possibilidade. A sua mente encontra-se atafulhada de coisas relhas e gastas, não havendo espaço para apropriar algo novo.

Aprender é um ato de desconstrução, esvaziamento e substituição; de deitar fora o que pede renovação e impede o crescimento dos pés e das asas da progressão e elevação.

METAMORFOSES AMBULANTES

Somos viajantes em trânsito permanente. Estamos na vida sempre a caminho; fazemo-lo, e ele e tudo e todos quantos passam por nós também nos fazem, como uma colcha ou mosaico de muitos retalhos e ladrilhos, de variadas cores e figuras. Somos metamorfoses ambulantes, sem certezas apodíticas e formas definitivas. Temos tão-somente convicções, obrigadas à alteração e substituição, quando a sua insuficiência e a perda de luz não bastam mais para alumiar a caminhada. Estamos sujeitos à condição de incompletude e ao imperativo de a assumir. Em comunhão e partilha com o nosso semelhante, com o OUTRO que é o marco geodésico orientador da ascensão do EU. Eis a nossa riqueza, bem pouca, mas preciosa e suprema.

SEMANA SANTA

Esta semana convida ao recolhimento. A inundar a vida com a ânsia e busca da verdade. Como é que ela se procura? Talvez enfrentando as circunstâncias com a vontade. Talvez recusando a falsidade e mentira, e não calando as palavras da indignação. Talvez não acorrentando as atitudes e os gestos contra a indecência e prepotência. Talvez não se deixando tomar pelo medo de ser apontado como ovelha negra e voz incómoda. Talvez não fechando os olhos à progressão da fealdade e maldade. Talvezassumindo a coragem de apontar os abutres e de estar ao lado dos humildes e injustiçados. Talvez empunhando a espada e combatendo a perversidade a que nos habituamos. Talvez cortando o arame farpado da indiferença que circunda a consciência, e povoando esta de poesia e bondade. Talvez acendendo a luz dentro de nós. Talvez assim a alma se redima, adquira beleza e santidade, ressuscitemos e cantemos salmos de felicidade.

ECCE HOMO!

Na cabeça puseram-Lheuma coroa de espinhos. E nas costas uma cruz de lenha áspera. Peso demasiado e dor indizível. O sangue escorre do rosto e inunda o chão, como um rio abundante. O caminho é árduo e longo. As forças, a respiração e o equilíbrio falham a todo o instante. Tropeça nos próprios pés e nas pedras da ladeira. Levanta-se sob o chicote que agrava o Seu estado agonizante. Chegado ao cimo do Gólgota, pregam-Lhe as mãos e os pés no madeiro; e este ergue-se sobre a terra dura. O suplício é inumano. Como sempre, na assistência estão os cobardes e cúmplices com a injustiça e barbárie. Escárnios saem das bocas da turba execrável que presencia o espetáculo degradante. O corpo recebe mais uma lançada, não aguenta o tormento e exala o último suspiro. Mas o Espírito vai ressurgir sublimado. Conquista o império romano; e espalha-se pelo mundo como um padrão lusitano e iluminado. Hoje estão vivos o Seu nome e legado. O Evangelho de Jesus tornou-se utopia e irradia a esperança de um dia ser concretizado.

AGRADECIMENTO

Após um longo voo (Maputo – Lisboa – Porto), cheguei a casa pelas 23,30 horas de ontem. No Email, Facebook, Messenger, Telefone e WhatsApp esperavam-me inúmeras e afetuosas mensagens a propósito do aniversário. A todos agradeço, profundamente comovido, a cordialidade, a generosidade e nobreza do gesto. Mais, correspondendo a muitos pedidos, prometo que nos continuaremos a encontrar neste espaço, tentando enfraquecer a doença do pensamento único, melhor dizendo, da falta de pensamento (porquanto este para o ser tem que ser divergente), que escurece o mundo e as nossas vidas nesta era tão crepuscular. Bem hajam! Recebam um empático, forte e solidário abraço, expressão da elevada consideração e dos melhores votos de bem-estar que endereço a todos vós. Até sempre!

A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM FRANÇA

Enquanto o insaciável monstro do ultraliberalismo, falsa e hipocritamente designado de neoliberalismo, continuar em cena, a democracia verá aprofundado o seu descrédito. A promessa de acréscimo da liberdade e do liberalismo não passa de refinado cinismo ementira deslavada. O projeto neoliberal trouxe, sim, o regabofe económico para poucos e a pauperização da maioria, bem como a servidão da política mundial perante o capital financeiro. O ressurgimento dos privilégios e dos apetites imperialistas de outrora, agora envernizados com linguagem libertária, constitui uma farsa macabra e uma regressão abominável. O número das vítimas, excluídos e marginalizados, abandonados à sua sorte pelo cruel, inumano e predador sistema vigente, tende a aumentar inevitável e drasticamente. Como se diz sem qualquer pudor, trata-se de danos colaterais, necessários à realização dos obscenos objetivos do empreendimento ultraliberal. Deste jeito não tardará que a extrema-direita colha ainda mais no terreno da desilusão e do desespero, domine a Europa e o património civilizacional desta perca em definitivo a credibilidade aos olhos dos outros povos. É isso que desejam os partidos europeus do arco do poder, ditos democráticos? Assim parece. Recusam-se a entender e reconhecer que o ultraliberalismo é uma hidra real e selvática, não fictícia; fagocita a política e a democracia. Será que agem em nome dele? Seja como for, a cumplicidade é criminosa. Péricles não merecia esta involução; ao invés, esperaria dos cidadãos de hoje, sobretudo dos jovens, maior empenho no aprofundamento e defesa da Cidade genuinamente livre e democrática.

ESPERAS

Os humanos são seres de espera e videntes de antemão. Cultivam e semeiam no hoje a terra da vida, esperando vir a colher os frutos correspondentes à sua conduta e labor. Os justos esperam em estado de confiança e pré-festa. Os injustos com o inferno e medo na alma. Os primeiros aguardam alegres e, por vezes, impacientes, a vinda do amanhã. Os segundos sentem sempre a noite e o oficial de justiça a rondar-lhes a porta.

EVOCAÇÃO E BALANÇO: DE BRAGADA À U. PORTO

No passado dia 25 fez seis anos que atingi a jubilação, após mais de cinco décadas de serviço público. Iniciei este aos 18 anos de idade, como escriturário de segunda classe da Direção-Geral dos Combustíveis, delegação do Porto, sita na Rua Padre Cruz. Nasci em Bragada, aldeia escondida num estreito vale, no município de Bragança. Foi de lá, de família pobre e numerosa, que vim para Vila Nova de Gaia frequentar o seminário dos Redentoristas, dos 11 aos 17 anos. Sosseguem, não vou contar a história da minhavida! Direi apenas que a origem era de condição a menos e sem futuro a mais. Tinha tudo para ser gasta na penumbra. Mas, ao invés, o itinerário conheceu etapas de júbilo. Refiro algumas: licenciatura, doutoramento na Alemanha, carreira universitária da base ao topo, vivência ímpar do 25 de abril de 1974, sem olvidar o casamento e o nascimento dos filhos e da neta. Enfim, o trajeto, balizado pelo encontro de Pessoas maravilhosas e pela celebração de Amizades genuínas, aquém e além-mar, teve bons princípios e meios e um final adoçado pelo religioso sentimento do dever cumprido. Nesta hora é inevitável que, no coração e na mente, passe o filme da participação ativa no ressurgimento e internacionalização da U. Porto, e na criação de novas Faculdades, sob a batuta do preclaro Reitor Alberto Amaral. Sinto-me feliz por ter dado o melhor de mim na edificação de uma obra coletiva: • O ISEF, então anónimo, tornou-se Faculdade com identidade singular, respeitada nacional e internacionalmente (em todas as partes do mundo). • Elevação do desporto (no plural: polissémico e polimórfico) a objeto de estudo universitário. • Criação da área das Ciências do Desporto e de cursos de mestrado e doutorado, sem necessidade de os procurar no estrangeiro, como foi o meu caso. • Elaboração e aprovação ministerial do quadro de professores. • Construção do novo edifício, do parque desportivo e dos laboratórios. • Formação de milhares de licenciados, de mestres e doutores que honram a instituição e dignificam a função.

• Êxito na árdua luta, travada há alguns anos, para que a Faculdade não fosse engolida por uma Escola de Saúde sob a tutela da Medicina, o que lhe permite continuar a ter autonomia e órgãos de gestão próprios, etc. E ainda arranjei tempo para pensar, dizer e escrever umas quantas coisitas. Desejo que os protagonistas de hoje acrescentem muito ao que foi feito no passado. E agora? São dias de saudade. Porém não vazios; outro espírito os ilumina e preenche. Muita gente, a multidão, desertou e secou. Os Amigos de verdade mantêm-se presentes nas cumplicidades, solidariedades, projetos e sonhos que persistimos em tecer. Deles recebo o soro anímico que anula o veneno da insídia, vinda donde menos se esperaria. O tempo é ótimo selecionador: dispensa o que não presta, fica com o que irradia valor.

ACONTECENDO...

A PRIMEIRA ESTUDANTE BRASILEIRA/MARANHENSE EM COIMBRA CHAMAVA-SE AMÉRICA DO SUL

Nascida no Maranhão, tinha 19 anos quando entrou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde hoje encontramos a bisneta.

VILMA REIS

Coimbra Coolectiva | A primeira estudante brasileira em Coimbra chamava-se América do Sul

Domitila de Carvalho é um nome incontornável na História das mulheres portuguesas pelo seu pioneirismo no Ensino Superior. Em 1892, tornou-se a primeira aluna da Universidade de Coimbra (UC). Ela com 20 e a academia com 602 anos de idade. Frequentou os cursos de Matemática, Filosofia e Medicina. Mas enquanto

Domitila estudava, ainda sem traje académico que na época era proibido às mulheres, nascia no Brasil outra vanguardista.

No dia 30 de julho de 1898, nasce em casa, no Largo do Carmo, em São Luís do Maranhão, a menina América do Sul Fontes Monteiro (sim, isso mesmo). Não existe registo de como foi a vida desta nordestina brasileira até Setembro de 1917 mas, em Outubro desse ano, América assina um documento onde pede: «Exmo. Sr. Reitor da Universidade de Coimbra. América do Sul Fontes Monteiro, filha de Bernardino Monteiro e Maria de Jesus, natural do Maranhão, Estados Unidos do Brazil, pretende matricular-se e inscrever-se em todas as disciplinas do primeiro ano da Faculdade de Letras – secção de Filologia Germânica – para o que junta os documentos exigidos no referente edital. Pede a Vossa Excelência se digne deferir.»

Este documento, guardado no Arquivo da UC, é hoje a confirmação do pioneirismo desta brasileira para o estudo das populações universitárias. América do Sul foi a primeira mulher do Brasil a vir para Portugal

estudar na Universidade de Coimbra, mudando o género de uma longa lista que começou em 1586 com

Manuel Cabral, que se licenciou em Leis. Ou seja, o Brasil demorou 331 anos para enviar uma aluna e acrescentar o feminino na lista de brasileiros estudantes.

Na Faculdade de Letras, América do Sul frequentou Língua e Literatura Inglesa e Alemã, Curso prático de Inglês e Alemão, Filologia Portuguesa, História de Portugal, História Geral da Civilização, Filosofia, História Medieval e ainda Geografia de Portugal e Colónias. Era para ter concluído o Curso em 1920, mas cancelou a matrícula um ano antes. O que fez uma mulher como América desistir da empreitada? A família acredita que a culpado se chamava Sebastião: «Não conheci a minha avó América, sei que teve três filhos, todos já desaparecidos e que abandonou o curso para casar com o meu avô que, entretanto, tirou o curso de Direito em Coimbra», explica a neta Maria Hermínia Quintela, professora em Lamego. Quando América transitou para o seu segundo ano do Curso de Letras, Sebastião se tornava caloiro de Direito, os dois nomes aparecem juntos na documentação dos matriculados em 1918. Casaram dois anos depois e foram viver para Vila Real. Foi a história de amor entre América e Sebastião que desviou a

maranhense dos estudos, mas este amor só tirou o diploma à brasileira, Sebastião concluiu o curso e

tornou-se doutor. Viveram relativamente pouco tempo como casal, ele morreu aos 45 e América com 61. Perderam uma filha adolescente e criaram dois rapazes. Os seus descendentes retomaram fortemente os laços com Coimbra: dos 10 netos, seis formaram-se aqui e entre os 18 bisnetos, quatro já passaram pela mais antiga universidade portuguesa.

Maria Beatriz Claro da Fonseca Cid de Oliveira é um destes frutos nascidos a partir da semente de América

do Sul. A mestranda na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação reconhece sua importância: «A história dela é repassada de geração em geração na minha família e motivo de muito orgulho. Candidateime para Coimbra por realmente querer estudar nesta cidade e talvez o passado de América me tenha influenciado. É um privilégio estudar aqui tendo em conta o exemplo da minha bisavó», diz Beatriz. As mulheres na Universidade de Coimbra podem ter demorado para adentrar no mundo académico mas, uma vez inseridas, trataram de esgarçar o espartilho das barreiras. A partir dos anos 60, a evolução acontece muito rapidamente e a viragem dá-se em 1983, quando o número de alunas suplanta o de alunos na universidade. Hoje, os brasileiros representam a maior comunidade de estudantes internacionais na UC,

são 15% do total discente e destes, as mulheres são maioria e tudo começou na jovem América do Sul Fontes Monteiro.

AMÉRICO AZEVEDO NETO

Fernando querido Era para ser um brinde. Era para ser um abraço. Era para ser um reencontro de jovens que, embora o tempo os tenha desgastados, mantinham a mesma luz que os iluminara outrora. Era para ser uma gargalhada, mas a surpresa fez, do riso, após o espanto, a lágrima imprevista. Era para ser recepção, mas é despedida. Era para ser uma ode mas será um réquiem. Era para ser uma explosão de afeto ...e continua sendo. Quando da tua posse na Academia, eu seria teu receptor. O discurso, cujo início já alinhavara, fugia da praxe, esquivava-se das regras e se atirava, inconsequentemente, nos braços de uma amizade antiga e de um carinho fraternal. Descia da poltrona e ia sentar-se novamente na beira de uma das calçadas da Rua do Trapiche. O discurso começava assim:

Senhoras, senhores

Era madrugada. E eu era jovem. Começava o dia e eu começava. São Luís, embora, à época, seus quase quatrocentos anos, não conseguira ainda envelhecer. São Luís era jovem. E eu, madrugada. Época em que se sabia fazer amigos. Sem conveniências, sem interesses, sem outras intenções além a de ser amigo. São Luís era madrugada. E eu, amanhecer. Esta Academia era, então, um desconhecido e não ambicionado porto. Vagávamos os dois, Fernando Braga e eu, ao sabor de ondas que sabíamos amigas. Perdidos entre poesias e putas, perambulávamos, despreocupadamente, entre os muitos versos e os poucos anos. São Luís nos abraçava em grades e nos acalantava em pedras. São Luís sussurrava tranquilidades e as angústias que hoje proliferam, espalhando e entulhando tempo, cidade e gente, eram vagas narrativas de lugares distantes. Aqui, na provinciana aldeia de então, pacata cidade só de calma feita, conversava-se nas madrugadas que pareciam proteger aqueles que as buscavam. Sorvia-se a noite. E nos embriagávamos de alvoradas. Éramos amigos. E sabíamos. Éramos poetas. E reconhecíamos. Aquela juventude não desperta saudades. Descobri agora, Fernando, a jovem maldade que transforma os anos a serem vividos numa ameaça trágica e dolorosa. Ah que a velhice é uma mentira que a juventude nos conta apenas para engrandecer-se. Juventude é a idade em que se escreve, se inventa, se cria. Isto acontece nesta casa. Aqui há o escrever, o inventar, o criar. Portanto, a juventude mora aqui. E eu saúdo a centenária juventude desta academia. Esta cadeira em que agora tomas posse, será como foram as anteriores mesas de bar onde, Waldemiro, tu e eu atravessávamos a madrugada a conversar cervejas e beber poesia. Ah infeliz daquele que nunca se embebedou de versos, que nunca sentiu a madrugada morrer num copo e nunca reverenciou a aurora com olhos ensopados de sono e a alma lavada de estrofes.

Ah que, se viver não é sonhar, sonhar é, com certeza, exercitar a vida. Sonhei e sonho. Vivi e vivo. Misturei ambos – vida e sonho – com tamanha eficiência que nunca percebi quando se distanciavam um do outro e, principalmente, se isso era possível. Poeta, meu poeta, quem te saúda é o sonho. É ele quem te abre a porta desta casa e te indica a cadeira onde sentarás. Eu sou, apenas, o arauto desse sonho. Sinto-me como o inverso de Caronte pois arrepio a travessia fatídica e te devolvo para a vida e te reponho no planejado. Quantas vezes tentaste? O que sofreste? Que de indecisões te atormentaram nesta última tentativa? Quanto de hesitações sofreste? Faltava oportunidade? Faltava cadeira? Waldemiro, irmão nosso, na sua imensa generosidade, tomou a iniciativa, te deu a cadeira que faltava e realizou a sonho em que te embalaste. O mérito de tua candidatura é dele. Foste o candidato de Waldemiro. E se teus méritos legitimaram tua vitória, a saudade dele legitimou tua candidatura. Ah Fernando, meu irmão Fernando, o quanto me grada te chamar irmão. O quanto me engrandeço quando intitulo de irmão o que deveria ser apenas confrade. Ah senhores, que uma academia de letras, às vezes perdida entre densas nuvens de vaidade e arrogância, perde a doçura da convivência fraternal e tolhe o elogio que nasceu sincero mas é assassinado por uma inveja sem nome e sem origem. E o pronome nosso, intimidado, desaparece. Fernando, esse era o início do discurso, do discurso que nunca será dito, que permanecerá inédito. Mas se o discurso não será oficializado, se tua posse, fisicamente, não acontecerá, isso não significa silêncio, até porque, o silêncio em que agora te tornaste, não será mais, como confessaste, um Silêncio Branco. Agora, Fernando, esse silêncio deixou de ser branco e se tornou, definitivamente, luminoso. Um grande abraço.

FERNANDO BRAGA: O ADEUS À JOIA RARA DA LITERATURA MARANHENSE

ROGÉRIO ROCHA

Fernando Braga dos Santos nasceu em São Luís do Maranhão em 29 de maio de 1944. Formou-se pela Faculdade de Direito do Distrito Federal, com pós-graduação em Ciência Política na Universidade de Brasília (UnB), tendo feito estágio em Direito Penal Comparado na Universidade de Paris-Sorbonne. Publicou em poesia: Silêncio Branco, 1967; Chegança, 1970; Ofício do Medo, 1977; Planaltitude, 1978; O Exílio do Viandante, 1982; Campo Memória, 1990; O Sétimo Dia 1997 e Poemas do tempo comum, 2009; O Puro Longe, 2012; Magma, 2017. Após fixar-se no DF, passou a integrar-se dentre os autores que firmaram suas marcas literárias por aquelas terras, fato que o levou a figurar na obra Antologia dos Poetas de Brasília, publicada em 1971 e que incluía nomes como Abgar Renault, Antonio Carlos Scartezini, Clemente Luz, Lenine Fiuza, bem assim a participar, no ano de 1982, da obra Brasília na Poesia Brasileira, da Editora Cátedra, ao lado de Affonso Romano de Sant Anna, Cassiano Ricardo, Domingos Carvalho da Silva e outros mais. O panorama de imersão na riqueza de seus versos pode ser ampliado tanto com a leitura de seus livros dos anos 70 e 80 quanto com de seus dois últimos trabalhos, onde os versos transcritos não nos deixam dúvidas quanto ao fato de estarmos diante de alguém que compreendeu muito bem o poder da palavra (até mesmo de sua leveza), avançando àquele ponto onde vemos somadas a experiência de vida e o amadurecimento do escritor, no que tange à compreensão de sua técnica e estilo, em consonância com a fluidez singular que lhe deu a exploração dos caminhos da forma livre. Muito presentes no temário de Braga, as ideias de finitude e morte andam lado a lado com sua lírica refinada, o sentimento de aproximação e descortino de uma verdade íntima que assiste aos acontecimentos do mundo com a intencionalidade da angústia. Sentimento este que moveu seu olhar crítico em direção a tudo aquilo que é humano, tendo sido tocado muito fortemente pela visão atenta aos meandros da existência social, já observáveis em poemas de seus primeiros livros. Fernando foi daqueles escritores que, embora detentores de grandes virtudes, acabam por se tornar ilustres desconhecidos em suas próprias terras. Nesse sentido, em que pese a inegável qualidade literária, que lhe rendeu não só prêmios, mas também a estruturação de uma obra de perceptível densidade, com lançamentos que surgiam um tanto quanto espaçadamente, dentro da linha temporal integrada pelos seus livros, o poeta não conseguiu alcançar junto ao público maranhense a visibilidade que merecia, sobretudo dentre os leitores deste século. Razão que, penso, deva impor, nos próximos anos, a necessidade da sua verdadeira descoberta e, igualmente, a obrigação da leitura dos textos e reedição de tudo o que produziu essa joia rara de nossa literatura. O que mais posso dizer acerca dele? Afirmo que Fernando Braga exerceu o ofício de escritor com a alta qualidade de sua poesia, herdeira da grande tradição lírica portuguesa e tributária de momentos tão tocantes e sinceros quanto os de um outro Fernando: o Pessoa. Some-se a isso o belo itinerário realizado com o trabalho de burilamento de reminiscências, feito nas envolventes histórias do seu “Conversas vadias” (antologia inédita de textos em prosa), verdadeira máquina do tempo para quem sofre da nostalgia de uma São Luís que não existe mais, como ele mesmo disse em um de seus belos poemas (Poema Insulano, in: Poemas do Tempo Comum, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura, 2009), e em suas crônicas, achadas aqui e ali, em postagens esparsas na internet e em páginas de jornais. Passando ao capítulo final de sua vida, chego ao momento em que, depois de quatro tentativas, o poeta conseguiu ser eleito, no ano passado, para ocupar uma vaga dentre os membros da Academia Maranhense de Letras. Confesso que comemorei o resultado da escolha, afinal a AML precisa de escritores dessa estirpe. Mas tal regozijo desintegrou-se com a notícia da morte do talentoso poeta, tornando um verdadeiro pecado o fato

de haver sido escolhido muito tardiamente (já na casa dos setenta e sete anos de idade) e lutando para recuperar-se dos malefícios a ele provocados por duas infecções da Covid-19. E o que é pior, além do pecado imperdoável na demora da Casa de Antônio Lobo em acolhê-lo, encerrou-se de vez a possibilidade de colaborar com a vida daquela instituição, antes de sua partida. Não custa nada esclarecer aos leigos em matéria de Direito, desconhecedores das leis constitucionais e administrativas, que o autor de “Silêncio branco” e “Ofício do medo” não chegou a tomar posse no cargo de membro da AML. Razão pela qual, os membros da AML precisaram encontrar uma forma de homenageá-lo com essa deferência, tendo a instituição, por reconhecimento público e mobilização de alguns, declarando-o membro “post-mortem”, ao arrepio das normas estatutárias que regem a entidade. O fato é que o poeta nos deixou sem ter participado efetivamente da Academia sequer um único segundo. Ainda assim, prefiro abraçar-me à lembrança imortal dos versos vívidos, intensos e pulsante de Fernando Braga, recordando o que dissera Quintana: “o poema continua sempre.” Ou mesmo ouvir voz poética do próprio autor, acompanhando o que nos deixou escrito: “Voltar não é preciso/ lá fora o mundo me esperava/ com suas mandíbulas pesadas/ abertas e retesadas/ querendo mastigar-me.” *Rogério Rocha é filósofo e poeta.

This article is from: